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Prévia do material em texto

2017
Prof. Graciela Márcia Fochi
Prof. Thiago Rodrigo da Silva
Contexto HistóriCo-
FilosóFiCo da eduCação
Copyright © UNIASSELVI 2017
Elaboração:
Prof. Graciela Márcia Fochi
Prof. Thiago Rodrigo da Silva
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
370.1
F652c 
 Fochi; Graciela Márcia
 Contexto histórico-filosófico da educação / Graciela Márcia 
Fochi; Thiago Rodrigo da Silva: UNIASSELVI, 2017.
 225 p. : il.
 ISBN 978-85-515-0056-9
 1.Educação - Filosofia. 
 I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
Impresso por:
III
Apresentação
Prezado acadêmico!
Com grande satisfação apresentamos mais um caderno, que com zelo 
preparamos para que ele possa lhe ser referência e fonte de consulta na jornada 
de estudos que aqui se inicia. Trata-se do Caderno de Estudos da disciplina 
de Contexto Histórico-filosófico da Educação. Com isto, compreendemos 
que o papel social de educar e aprender apresenta diferentes características e 
que sofre alterações conforme o contexto histórico, filosófico, político e social 
de cada sociedade com que se está lidando. 
Na primeira unidade de estudos, leremos sobre o desenvolvimento 
das práticas educativas em contextos sociais distintas das nossas, mas que ao 
mesmo tempo, possuem uma relação primordial com o ensino ministrado e 
aprendido no presente, pois estudaremos a educação da invenção da escrita 
até o surgimento das universidades. A importância da temática é quase 
“autoexplicativa”, pois, estamos num contexto de ensino superior e temos 
consciência da importância da escrita para o desenvolvimento do intelecto 
humano, do registro escrito à transmissão dos conhecimentos.
Porém, como parte intrínseca das organizações sociais, mesmo 
em culturas humanas sem escrita (as sociedades ágrafas), existem práticas 
educativas que foram e são fundamentais para a manutenção, unidade e 
renovação de inúmeros grupos tribais. Enfatizaremos também como a filosofia 
grega e o pensamento cristão medieval motivaram o desenvolvimento de 
pedagogias inovadoras. 
 
Na Unidade 2 do Caderno de Estudos, contemplaremos um segundo 
momento da história da educação no ocidente, no qual tivemos um aumento 
da preocupação das sociedades com o ato de ler, escrever e realizar as quatro 
operações matemáticas básicas (somar, subtrair, dividir e multiplicar). Tal 
preocupação das sociedades possui motivações religiosas, como a leitura da 
bíblia para os protestantes, assim como motivações econômicas, nas quais 
podemos pensar nos exemplos dos contratos comerciais e políticos realizados 
na época das grandes navegações ibéricas e as aferições dos lucros durante a 
época da Revolução Industrial. 
Neste mundo que se transformou de majoritariamente agrário para 
amplamente urbanizado, artesanal para industrial, sagrado a laico, de 
religioso a científico, tivemos uma grande quantidade de pensadores que 
buscaram formas criativas e humanistas de educar a juventude, começando 
por Comênio, passando por Froebel, Jean Piaget e outros pedagogos. 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
Por fim, na terceira unidade de estudos, abordaremos questões 
relativas à educação no Brasil. Faremos uma digressão histórica, que se 
inicia ainda nos tempos do Brasil Colonial e a educação dos padres jesuítas, 
passando pela formação de instituições educacionais ao longo do Brasil 
Imperial (Colégio D. Pedro II, Faculdades de Medicina, Engenharia e Direito), 
chegando até a República, que teve como um dos seus principais marcos a 
criação de universidades e o Manifesto dos Pioneiros da Nova Educação de 
1932. 
Em relação aos pensadores que refletiram e buscaram abrir novos 
caminhos para aumentar a qualidade da educação nacional, conheceremos 
um pouco da vida e do pensamento de homens como Anísio Teixeira, Paulo 
Freire e Rubem Alves. 
No desejo de uma ótima jornada de estudos, um abraço afetuoso dos 
conteudistas.
Graciela Márcia Fochi 
Thiago Rodrigo da Silva
UNI
V
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
Sumário
UNIDADE 1 – DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES .... 1
TÓPICO 1 – A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA 
ESCRITA NA ANTIGUIDADE ............................................................................................................ 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3
2 AS SOCIEDADES ÁGRAFAS ........................................................................................................... 3
3 A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS .......................................................................... 9
 3.1 O PAPEL EDUCACIONAL DO CHEFE TRIBAL ...................................................................... 11
 3.2 O PAPEL EDUCACIONAL DAS MÃES E DOS PAIS ............................................................... 12
 3.3 O PAPEL EDUCACIONAL DO XAMÃ ...................................................................................... 12
 3.4 O PAPEL EDUCACIONAL DOS HOMENS MAIS VELHOS .................................................. 12
 3.5 AS VISÕES SOBRE A INFÂNCIA NAS SOCIEDADES TRIBAIS ........................................... 12
4 AS SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE .................................................................................. 13
5 AS SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, AS INSTITUIÇÕES E O 
PENSAMENTO EDUCACIONAL ....................................................................................................... 18
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 21
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 22
TÓPICO 2 – O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAISqual lutavam os gladiadores. 
TÓPICO 2 | O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL
29
FIGURA 13 - COLISEU ROMANO
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2016.
Um dos principais clássicos da história do cinema de Hollywood foi o filme 
Spartacus. Dirigido por Stanley Kubrick, retrata a vida de um escravo romano, que se revolta 
em relação à sua condição social, buscando a liberdade. 
Aos poucos, os bárbaros foram invadindo as fronteiras do Império Romano. 
Os principais grupos bárbaros, como os ostrogodos, visigodos e vândalos, foram 
conquistando antigas possessões coloniais romanas. No século IV, Roma foi 
conquistada completamente pelos bárbaros, sendo este um dos fatos que marcaram 
o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média. 
 
Assim como os gregos, os romanos também possuíam sua mitologia, sendo 
ela muito próxima da mitologia dos gregos. O principal mito romano é o da fundação 
da cidade imperial. Segundo uma antiga lenda, dois irmãos, Rômulo e Remo, eram 
ainda bebês e foram criados por uma loba, que os amamentou. Posteriormente, os 
dois foram os fundadores da principal cidade do mundo. Com relação à proximidade 
com os gregos, a mitologia romana também possuía seus deuses específicos para as 
distintas atividades humanas, em grande parte, versão latinizada dos antigos deuses 
gregos. Vejamos alguns exemplos: Baco (versão latina de Dionísio) era o deus do 
vinho; Marte (versão latina de Ares), era o deus da guerra. 
UNI
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
30
Uma importante inspiração que a mitologia grega possibilitou para o 
desenvolvimento das ciências no século XX se relaciona à psicanálise. O seu principal 
formulador, Freud, criou seus conceitos científicos, como o Complexo de Édipo, com forte 
inspiração na mitologia grega.
Apesar da presença destes deuses da mitologia, popularizados pelos 
romances, pelo cinema e pela psicanálise, o principal culto cotidiano dos gregos 
e romanos não era sobre estes “afamados” deuses da mitologia. A principal 
forma de culto entre os gregos e romanos era o culto aos fogos nos lares. Para ser 
considerada uma família e ter o status e prestígio social, advindo de ser membro de 
um clã, deveria a casa ter um fogo que sempre era mantido aceso e nunca deveria 
se apagar. Era o fogo que tinha como nome lar, responsável pelo aquecimento da 
casa, como também estava presente nos rituais de casamento, que simbolizava a 
continuidade do mesmo fogo em outro domicílio. 
A sociedade greco-romana também teve em comum um mesmo sistema 
produtivo, marcado pelo expansionismo militar e pela escravidão. Um dado 
interessante é que em determinadas regiões do Império Romano não se falava o 
latim, mas sim o grego, em especial na Ásia Menor. Isto explica por que grande parte 
da Bíblia, em especial o Novo Testamento, foi escrito em grego, mesmo fazendo 
parte do Império Romano. Com a cristianização do Império, em 395, quando o 
cristianismo deixou de ser perseguido, grandes alterações na mentalidade ocidental 
ocorreram. Posteriormente, o Império Romano se dividiu em duas partes. A região 
que falava latim viveu um processo de ruralização, e Roma acabou se tornando a 
sede da Igreja Católica Apostólica Romana. Por sua vez, Constantinopla se tornou 
a sede do Império Bizantino, sendo sede da Igreja Católica Cristã Ortodoxa.
3 A FILOSOFIA GREGA E O PENSAMENTO ROMANO
Apesar da grande popularidade e da presença da mitologia, a Grécia foi um 
dos primeiros locais do mundo no qual se desenvolveu um modo não mitológico 
de estruturar o pensamento sobre a natureza e a sociedade. Por isso, o destaque que 
devemos dar à presença da filosofia grega. A palavra filosofia tem sua raiz etimológica 
(isto é, sua origem) em duas palavras gregas, Filos e Sofia, que juntas podem ser 
traduzidas como “amante da sabedoria”. A ideia de se cultuar o pensamento humano 
na busca de se tentar compreender a natureza e a sociedade não apenas através 
dos mitos, como também através da especulação, foi uma verdadeira revolução na 
forma de o ser humano conceber a vida na Terra (JAEGER, 1995). 
Podemos citar vários nomes do pensamento grego. Em geral, a filosofia 
grega antiga é dividida em dois períodos: socrático e pré-socrático. Isto devido à 
importância da figura de Sócrates para o desenvolvimento do pensamento grego. 
UNI
TÓPICO 2 | O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL
31
Sócrates foi um cidadão ateniense amante do saber, e dono de uma profunda 
capacidade de compreender a natureza humana e suas contradições. Filho de uma 
parteira, desenvolveu um método denominado maiêutica, cujo principal intento é 
possibilitar aos seres humanos “dar luz a novas ideias!”. 
Um interessante livro que trata da história e do desenvolvimento da filosofia foi 
escrito pelo norueguês Jostein Gaarder, de título O Mundo de Sofia. Obra que vale a pena 
ser lida pelos estudantes que sonham em atuar como professores. 
Sócrates foi o principal nome (símbolo) da vida intelectual da Grécia antiga. 
As suas formulações intelectuais têm grande importância para o desenvolvimento 
intelectual do Ocidente. Vivia perambulando pela cidade, refletindo sobre a 
existência humana, tendo muitos ouvintes. Sócrates apontava que era papel do 
filósofo ser uma espécie de mosca a avivar as consciências individuais. Teve como 
seu principal discípulo Platão. O seu pensamento foi considerado subversivo 
pelas autoridades, o que lhe acarretou sérios problemas. Sendo julgado, se negou 
a abjurar (desdizer) o que havia afirmado. Ao invés de ser punido, propôs para 
a corte que o julgava que deveria ser tratado como um deus no Monte Olimpo. 
Assim, ao “debochar” dos que o julgavam, acabou sendo punido, sendo obrigado 
a se envenenar. Assim, morto de maneira trágica, se tornou um marco histórico de 
pensador libertário morto pelo poder instituído. 
Mesmo antes de Sócrates, podemos observar o início do desenvolvimento de 
um pensamento original, e de alguns pensadores que possibilitaram o alargamento 
da compreensão que o ser humano possui sobre a natureza e sobre si mesmo. Alguns 
nomes podem ser lembrados, como Tales de Mileto, Arquimedes, entre outros. 
Um dos primeiros nomes ligados à cultura grega foi Homero. Não 
sendo considerado um filósofo, seu nome deve ser lembrado como personagem 
importante ao escrever as obras fundantes da cultura grega, que foram Ilíada e 
Odisseia. No entanto, outros nomes são em geral lembrados pelos historiadores 
da filosofia. Um dos sempre lembrados é o de Tales. Oriundo da cidade de Mileto, 
foi um importante nome no desenvolvimento dos cálculos matemáticos. Buscando 
saber a distância das embarcações em relação à terra, foi o criador do denominado 
Teorema de Tales, até hoje ensinado nas escolas para os estudantes do ensino básico. 
Outro nome importante para o desenvolvimento da filosofia foi Arquimedes, o 
descobridor da máxima: “Dois corpos, que possuem massa, não podem ocupar o 
mesmo lugar no espaço, ao mesmo tempo”. O desenvolvimento da hidráulica teve 
em Arquimedes um dos seus pioneiros. Uma história que se conta afirma estar 
Arquimedes em uma banheira, e ter feito uma descoberta, tendo saído nas ruas nu 
e gritando “Eureka!”, isto é, descobri (na língua grega). 
UNI
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
32
Todavia, mesmo com a presença de vários personagens intelectuais, os 
principais nomes da filosofia grega clássica são os de Sócrates (já citado), Platão 
e Aristóteles. Platão foi discípulo de Sócrates, tendo sido o principal divulgador 
das ideias de seu mestre. Suas ideias são consideradas relevantes para o 
desenvolvimento da filosofia até o tempo presente. Seus principais livros são A 
República e O Banquete. O livro A República é uma crítica à ação dos demagogos, 
na Ágora. Por demagogos podem ser considerados os políticosque possuem 
bela retórica, porém, são construtores de um discurso vazio, sem ação prática 
nas palavras que dizem. Por isso, Platão defendia a ideia de que apenas os sábios 
deveriam ter cargos políticos. Uma de suas principais formulações é o denominado 
mito da caverna (CHAUÍ, 1993). 
 
 FIGURA 14 - SÓCRATES
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 15 
set. 2016.
O mito afirma que existia uma comunidade formada por pessoas que 
viviam acorrentadas no interior de uma caverna e que enxergavam a realidade 
através das sombras que uma parca iluminação projetava sobre uma parede 
da caverna. Próximo à caverna existiam algumas estátuas, que formavam as 
principais sombras. Assim, as pessoas acorrentadas foram nomeando as sombras 
observadas. Todavia, caso alguém conseguisse se desamarrar e sair do interior da 
caverna, veria que a realidade não era aquela que havia sido ensinada. No entanto, 
ao voltar para a caverna, a probabilidade de as pessoas acreditarem no que foi dito 
pelo homem que saiu da caverna era muito pequena, sendo mais provável que os 
colegas ridicularizassem as afirmações do primeiro homem a sair da caverna. Neste 
sentido, podemos pensar que estamos por vezes acorrentados em uma caverna 
TÓPICO 2 | O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL
33
marcada pelas convenções que aprendemos. Uma tarefa importante é tentarmos 
sair da caverna e nos libertar das amarras que prendem nosso intelecto. 
Além de Platão, Aristóteles também é rememorado como importante 
filósofo. Ele foi o mestre de um dos principais líderes da história da antiguidade, 
Alexandre “O Grande”. Suas capacidades intelectuais elevadas o fizeram ser 
pioneiro em várias áreas do conhecimento humano. Uma delas foi a taxonomia, 
isto é, a classificação dos diferentes seres vivos. Uma de suas principais obras foi A 
Política, na qual apontou uma polêmica ideia na qual existiam almas que nasceram 
para serem livres, e outras que nasceram para a escravidão. Outros livros nos 
quais apontou questões importantes foi em um conjunto de obras denominado 
Metafísica, em que aponta questões sobre o estudo do ser. 
Dentre as escolas filosóficas desenvolvidas na Grécia antiga, se destacaram o 
estoicismo e o epicurismo. Por estoicismo se considera uma escola filosófica fundada 
por Zenão de Cítio, e que teve em Sêneca um de seus principais elaboradores. Em 
geral, afirmava que a resignação era uma das principais características do sábio. 
Os estoicos pregavam um controle das emoções. Por sua vez, o epicurismo foi uma 
doutrina filosófica desenvolvida pelo filósofo Epicuro. Em geral, apontava a busca 
moderada pelos prazeres como um caminho para a paz (CHAUÍ, 1993). 
Um dos nomes lembrados por ser um personagem especial no interior da 
vida grega antiga é o de Diógenes. Teve como principal propósito viver da forma 
mais simples possível. Morava nas ruas, tendo como único objeto uma caneca. No 
entanto, ao ver uma criança bebendo água com auxílio direto das mãos, resolveu 
jogar fora sua caneca. Outra feita ele foi observado pelas pessoas andando à 
noite, com uma lanterna acesa na mão. Perguntado sobre o que fazia, respondeu 
que estava à procura de um justo. Quando Alexandre “O Grande” foi falar com 
Diógenes, lhe perguntou o que poderia fazer por ele. A resposta de Diógenes foi 
simples e sincera, pedindo que ele saísse da frente de seu banho de sol. A escola 
filosófica que Diógenes fundou ganhou o nome de Escola Cínica. 
Houve uma grande influência do pensamento grego na cultura romana. 
Alguns dos professores gregos foram trazidos para Roma, com o intuito de educar 
os filhos das famílias abastadas. Alguns destes mestres tiveram a condição de 
escravos, porém, eram reconhecidos como importantes para as famílias em que 
trabalhavam. 
Dentre os educadores romanos, um teve grande destaque na história 
da pedagogia; Quintiliano. Ele foi professor durante mais de 20 anos na escola 
de retórica em Roma, como também defendeu princípios importantes para o 
desenvolvimento dos seus educandos. Em especial, por defender que leitura e 
escrita deveriam ser aprendidas de maneira conjunta, além de defender a presença 
de exercícios físicos para os educandos. 
Com relação à vida intelectual romana, uma das funções mais valorizadas 
era a capacidade de oratória. Isto porque a maior parcela dos patrícios e demais 
homens de poder eram membros do Senado, importante instituição que tinha 
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
34
poder de comando nas questões políticas. Dentre os oradores romanos, um dos 
mais destacados foi Cícero, um nome constantemente lembrado no que tange 
à capacidade oratória. Outros intelectuais romanos importantes foram Ovídio 
e Plotino. Ovídio foi autor de um livro sobre o amor romântico entre homens 
e mulheres, denominado A Arte de Amar. Outro intelectual importante para o 
desenvolvimento da filosofia ocidental foi Plotino, ao recuperar as ideias de Platão. 
Tanto na Grécia quanto em Roma, se desenvolveu a História enquanto 
disciplina do conhecimento humano. Heródoto de Halicarnasso foi o primeiro a 
utilizar o conceito, em um livro de título História. Plutarco, por sua vez, foi autor 
de um dos mais importantes textos históricos da Antiguidade, o livro História da 
Guerra do Peloponeso. Em Roma, foi destaque Caio Suetônio, autor do livro A 
Vida dos Doze Césares. 
4 A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA: A CRIAÇÃO 
DE INSTITUIÇÕES
A educação na antiguidade clássica greco-romana possuiu modelos 
diferentes, e até contraditórios no tocante aos modelos educacionais elaborados 
pelos membros deste mundo cultural greco-romano que estamos contemplando 
nesta unidade. Assim, uma das principais diferenciações possíveis são os modelos 
educacionais formulados em Atenas, em Esparta e em Roma. 
 
O modelo de educação espartana está em grande parte vinculado à 
possibilidade do Estado em reger a vida dos indivíduos. Assim, uma inculcação 
ideológica de grande monta era necessária para convencer os indivíduos de que 
era a função de sua vida matar e morrer por Esparta. Tal possibilidade de forma de 
organização da educação só é possível de ser compreendida se tivermos em mente 
rígida e hierárquica a estrutura social que os espartanos vivenciaram (JAEGER, 
1995).
 
Por volta dos seis anos de idade, o menino espartano era retirado de 
sua família, para que pudesse se transformar, na vida adulta, em um soldado 
que servisse aos interesses do Estado espartano. Portanto, uma das primeiras 
características que a educação forjava na mentalidade do futuro homem espartano 
era a que o Estado como entidade é mais importante que a família, pois não tinham 
os meninos espartanos um contato prolongado com os seus pais, mas, sim, com os 
instrutores militares, que buscavam transformar os meninos em guerreiros. 
 
A função de soldado era uma das principais a ser desenvolvida. Assim, 
desde a infância, os meninos eram designados a atividades como longas marchas, 
acampamentos, além de obviamente serem incentivados a atitudes violentas, com 
as quais eram testados em suas capacidades belicosas. Um dos principais ritos de 
passagem de um menino espartano, quando então ele passava a ser considerado 
um homem, e não mais um menino, era assassinar um hilota, que era um habitante 
de Esparta, mas considerado de uma classe social inferior. 
TÓPICO 2 | O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL
35
As mulheres também recebiam uma educação em Esparta. No entanto, o 
poder político e o maior investimento eram realizados em função dos rapazes, 
pois os futuros homens teriam destaque social, ao liderar a polis espartana. 
Todavia, no caso espartano, havia uma certa valorização da figura feminina, pois 
como poderiam dar à luz a novos guerreiros, as mulheres eram valorizadas pelo 
corpo social. Todavia, na vizinha Atenas, a mulher não recebia nenhum tipo de 
valorizaçãono corpo social. 
A educação ateniense possuía como principal objetivo algo muito distinto 
da educação espartana. Ela tinha a principal função de educar o membro da polis, 
que vivia em um regime democrático. Assim, se pode compreender que a educação 
entre os atenienses tinha a função de capacitar os indivíduos a assumir funções 
públicas, desenvolvidas na praça pública, na Ágora, o local das principais disputas 
políticas. 
 
Dois filósofos gregos fundaram duas das instituições que nomeiam, até o 
presente, instituições de ensino: O Liceu e a Academia. Platão está relacionado 
à fundação da academia. Seu aluno e discípulo, Aristóteles, foi o criador do 
Liceu. Mais que isto, Aristóteles fundou uma metodologia de ensino denominada 
Peripatética. O termo provém da palavra peripatus, que em grego quer dizer 
passeio. Deste modo, ao invés de manter os alunos trancados em uma sala fechada, 
Aristóteles ensinava aos seus discípulos passeando pela cidade, observando as 
diferenças e semelhanças entre os homens, como também contemplando a natureza 
e observando a multiplicidade da vida animal e vegetal. 
O ideal da educação na Grécia pode ser resumido em uma máxima 
denominada Mens sana in corpore sano, no qual se pode concluir que o cuidado 
com a saúde e o bem-estar físico são tão importantes quanto o desenvolvimento 
intelectual dos seres humanos. Tal perspectiva foi também importante para a 
educação romana. 
A educação em Roma é didaticamente definida em três grandes períodos. 
A educação latina, termo pelo qual se designa a educação em um período anterior 
à influência grega. Um segundo momento, no qual tivemos a influência dos 
educadores trazidos da Grécia. E, por fim, o terceiro período, no qual se denomina 
educação greco-romana, pois ocorreu uma síntese entre a educação latina, já 
realizada, e a educação grega. Ao pensarmos a formação de instituições na 
Roma antiga, podemos lembrar que existiram Escolas de Retórica. Isto porque a 
formação de um tribuno, de um homem capaz de bem falar no Senado, era uma 
das principais funções educacionais. 
 
À guisa de conclusão, podemos pensar que a educação greco-romana teve 
aspectos distintos, extremamente evoluídos, ao possibilitar o desenvolvimento 
intelectual da humanidade, e ao mesmo tempo restritos, ao excluir a maior parte da 
população, que era composta por escravos, assim como as mulheres que também 
não eram educadas em sua maioria. 
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
36
A educação do mundo greco-romano sofreu profundas alterações quando 
a sociedade ocidental foi influenciada pela cultura judaico-cristã, com o período 
denominado Idade Média. 
37
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu que:
• A sociedade grega era dividida em cidades-estado, sendo as duas mais 
importantes Atenas e Esparta. 
• Atenas possuiu uma vida cultural intensa, enquanto Esparta era vinculada ao 
militarismo. 
• Roma formou um dos principais impérios da antiguidade. 
• A educação ateniense tinha como função formar um cidadão. 
• A educação espartana tinha como função formar um soldado. 
• A educação em Roma tinha como uma das principais funções formar um bom 
orador. 
• A filosofia se desenvolveu na Grécia antiga, cujos principais destaques foram 
Sócrates, Platão e Aristóteles.
38
1 Como podemos compreender as diferenças existentes entre os 
modelos educacionais espartano, ateniense e romano? 
AUTOATIVIDADE
39
TÓPICO 3
IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E 
O NOMINALISMO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico vamos contemplar o processo de formação da educação na 
sociedade judaico-cristã ocidental. O cristianismo revolucionou as estruturas sociais 
do Império Romano. Os valores do cristianismo, entre os quais a solidariedade social 
é o ponto alto, se opuseram aos valores greco-romanos, antropocêntricos e belicosos. 
Neste sentido, a educação na Idade Média se relaciona em grande parte 
às questões da teologia cristã. Por Idade Média compreendemos um período da 
História do Ocidente, que se iniciou com o fim do Império Romano e terminou 
com o fim do Império Bizantino. 
Muitos historiadores consideram o dia de hoje como o marco da queda do 
Império Romano do Ocidente, no ano de 476. Nesta data, foi deposto o usurpador 
Rômulo Augusto, forçado a abdicar do poder pelo chefe germânico Odoacro. Não 
se deve esquecer, contudo, que o Império Romano do Ocidente ainda sobreviveria 
por mais um milênio - a divisão em duas partes do império foi feita por Diocleciano 
em 286 d.C.. O depois chamado Império Bizantino seguiu até 1453, quando ocorreu 
a Queda de Constantinopla. Com o fim do Império Romano do Ocidente, muitos 
historiadores aproveitaram o fato para demarcar o fim da Antiguidade e o começo 
da Idade Média.
Podemos afirmar que a Idade Média também é subdividida em algumas 
periodizações, segundo uma tradição dos historiadores medievalistas franceses. 
Alta Idade Média (Séculos V-X): período também denominado Antiguidade 
Tardia, no qual o processo de formação da sociedade medieval ainda se fazia em 
contato com a desagregação das instituições romanas.
Idade Média Central (Séculos XI-XIII): período de auge de um sistema 
social denominado feudalismo.
Baixa Idade Média (Séculos XIV-XV) desagregação do mundo feudal 
com o surgimento de novas instituições, como os Estados Nacionais. Período 
de expansão territorial da cristandade latina, que irá culminar com a descoberta 
da América, em 1492. Período em que temos o fim do Império Bizantino, com a 
conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453. 
 
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
40
Em geral, os cursos de Idade Média abordam três sociedades principais. 
A sociedade ocidental, denominada como Cristandade Latina, a sociedade cristã 
ortodoxa do Oriente, denominada Império Bizantino, e, por fim, as sociedades 
muçulmanas, no chamado Império Árabe. Estas três civilizações surgiram às 
margens do Mar Mediterrâneo. Outras formações culturais existiram no período, 
como o Império Mongol, na Ásia, comandado por Gengis Khan, ou mesmo os 
Vikings, do norte europeu. No entanto, foi a cristandade latina que gerou as 
instituições escolares que temos no presente. Por isso, daremos destaque às 
instituições latinas, e também discorreremos sobre Bizâncio e sobre o mundo 
muçulmano, sociedades nas quais os ocidentais estavam em permanente diálogo, 
seja através do comércio, das guerras ou das disputas teológicas. 
 
Podemos afirmar que a Idade Média é, acima de tudo, um conceito 
historiográfico surgido por volta do século XVII. O pensador alemão Cellarus criou 
o termo Medieval (JÚNIOR, 2001). Este conceito é deveras preconceituoso, pois 
os idealizadores da Renascença consideravam a Idade Média uma noite de mil 
anos, na qual os ideais gregos e romanos seriam retomados. Alguns consideram 
a Idade Média como a Idade das Trevas, ou Noite de Mil Anos, na qual os ideais 
científicos e o conhecimento dos seres humanos sobre o seu próprio corpo e sobre 
a natureza como um todo eram obscurecidos pela fé católico-romana. Um período 
no qual o cristianismo seria o único conhecimento válido. Concomitantemente, 
um período no qual o conhecimento sobre a Bíblia era negado aos fiéis, e em que o 
analfabetismo era uma constante. 
 
Nos últimos 40 anos, as visões sobre o período medieval se renovaram. 
Muitos pesquisadores de diversos aspectos da cultura medieval, como os filósofos, os 
historiadores e os teólogos contemporâneos, buscaram expandir o conhecimento sobre 
o período medieval sem o olhar preconceituoso da Idade das Trevas. A historiadora 
francesa Regine Pernot, no livro O Mito da Idade Média, provocou a intelectualidade a 
repensar o período. Muitas das transformações nas técnicas de pesquisa que a história 
enquanto disciplina passou foi uma das principais contribuições dos medievalistas, 
como o holandês Joahn Huizinga, ou os franceses Henri Pirrene e Marc Bloch. 
 
Neste tópico, o enfoqueserá o Ocidente latino. No entanto, veremos sobre 
as sociedades bizantinas e muçulmanas, com as quais a intelectualidade ocidental, 
formuladora da educação cristã latina, estava em perene diálogo. Como vivemos em 
um país ocidental de maioria cristã católica, estudaremos com maior profundidade 
o cristianismo no Ocidente. Para um alargar de consciência sobre diferentes culturas, 
analisaremos, com respeito e interesse científico, alguns dos principais aspectos da 
sociedade, cultura religiosa e educação entre ortodoxos e maometanos. 
2 O MUNDO BIZANTINO
O denominado Império Bizantino pode ser encarado como uma típica 
teocracia. Isto é, um governo no qual o chefe político é considerado o representante 
de Deus na face da Terra. (RUNCIMAN, 1978, p. 13). A Teocracia Bizantina durou 
TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO
41
perto de mil anos, sendo o seu início a mudança da capital do Império Romano 
para a antiga cidade de Bizâncio, remodelada pelo imperador Constantino e 
renomeada Constantinopla. O fim do Império Bizantino ocorreu em 1453, quando 
turcos otomanos tomam militarmente Constantinopla, rebatizando a cidade como 
Istambul. 
 
Para a compreensão da formação de Constantinopla, antes devemos 
compreender o processo de declínio do Império Romano, pois Roma foi um império 
no qual a cultura grega permaneceu, vindo ainda como resquícios do império de 
Alexandre, “O Grande”. Assim, muitas regiões do Império Romano tinham o 
grego como principal idioma (LE GOFF, 2007, p. 51). Esta região foi o palco de um 
processo de cristianização, iniciado ainda no período dos apóstolos, relatado nos 
livros do Novo Testamento bíblico, alguns deles escritos em grego, como as cartas 
do apóstolo Paulo. Nos séculos posteriores, o cristianismo se arraigou na cultura 
popular, sendo ele um vetor de disputas políticas e teológicas em uma organização 
social romana que apresentava acentuada decadência. 
 
Em 395 D.C., Constantino, imperador romano, além de alterar a capital do 
Império para Bizâncio, ofertou liberdade de culto aos cristãos. No entanto, mais do 
que dar a liberdade de culto, convocou um Concílio Ecumênico, que tinha como 
principal pressuposto evitar disputas doutrinárias entre os cristãos que pudessem 
motivar motins ou rebeliões contra o governo imperial. 
 
A economia em Bizâncio girava em torno do comércio marítimo. As costas 
do Mar Egeu foram importantes pontos de trânsito de mercadorias, pois este era um 
entreposto entre os produtos orientais e Roma. Com a queda do Império Romano 
do Ocidente, em 476, quando Odoacro tomou Roma definitivamente, destronando 
o último imperador romano, Rômulo Augusto, Constantinopla se tornou a mais 
importante cidade do mundo de então. 
A vida em Bizâncio em grande parte girava em torno do cristianismo. A 
Catedral de Hagia Sofia, que em português significa “Santa Sabedoria”, é 
um símbolo do poder eclesiástico e temporal. Tratava-se do local no qual 
o patriarca de Constantinopla celebrava as missas e, também, o local no 
qual o imperador bizantino era coroado (RUNCIMAN, 1978, p. 75). 
Até 1054, existiam concomitantemente o papa em Roma e o patriarca em 
Constantinopla, em uma unidade de fé. No entanto, a partir do século XI ocorreu o 
chamado cisma greco-oriental. Devido a este cisma, isto é, a esta divisão teológica e 
político-eclesiástica entre o Catolicismo Romano e a Igreja Ortodoxa, o cristianismo 
passou por sua primeira divisão em sua unidade (OLSON, 2001). Tanto a Igreja 
Romana quanto a Ortodoxa consideram-se católicas, isto é, universais. Outra 
questão que ambas consideram ter é a descendência direta dos apóstolos. No 
entanto, podemos observar que as culturas grega e latina eram muito distantes em 
diversos aspectos da fé, o que somado a intenções políticas e econômicas, explica a 
divisão entre o cristianismo do Oriente e do Ocidente. 
 
Bizâncio foi uma civilização que era organizada em uma teocracia. Assim, 
muitos dos preceitos educacionais da sociedade bizantina seguiam os ditames da 
42
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
fé. O mundo helenístico da denominada Ásia Menor foi fecundo em produções 
intelectuais nos campos da filosofia, da teologia e da náutica. 
Com relação à náutica, os bizantinos desenvolveram o famoso fogo grego, 
uma arma de guerra naval capaz de propelir incêndios sobre as águas do Mar 
Egeu. As preocupações navais do Império Bizantino eram justificáveis devido ao 
fato de ser uma nação formada por diversas e pequenas ilhas e pontos litorâneos 
cobiçados pelos europeus latinos e pelos árabes muçulmanos. Nesta sociedade as 
funções marítimas eram desempenhadas por homens que aprendiam no cotidiano 
da faina naval a arte de navegar. No entanto, no que tange à História da Educação, 
o ensino em Bizâncio seguia os ditames da fé. 
 
A região que compreendia o Império Bizantino em seu início era formada 
por diversas escolas teológicas de renome na história da Igreja Cristã. As cidades de 
Antioquia, Alexandria e Constantinopla possuíam uma rivalidade em disputas 
teológicas na época da Teologia Cristã denominada patrística, que compreende o início 
das discussões teológicas nas quais os princípios da fé cristã estavam sendo elaborados. 
 
A teologia da trindade teve nos chamados Pais Capadócios seus principais 
formuladores. Por esta alcunha eram conhecidos os teólogos Gregório de Nissa, 
Gregório de Nazianzo e Basílio de Cesareia. Foram estes os formuladores da tese 
segundo a qual Deus é compreendido como Pai, Filho e Espírito Santo, como três 
pessoas distintas. Comum a muitas denominações cristãs no Ocidente e no Oriente. 
 
No Egito surgiu um grupo de cristãos denominados coptas. Até o presente, 
os coptas formam uma minoria religiosa respeitada. Os cristãos coptas não 
aceitavam a autoridade do patriarca de Constantinopla, aceitando por sua vez as 
ideias do patriarca de Alexandria. No entanto, para alguns, os coptas eram grupos 
de hereges. Algumas heresias foram consideradas importantes para a compreensão 
das disputas entre os cristãos no interior do Império Bizantino. Uma das mais 
importantes foi a de Ário, um pensador e líder cristão que questionou a divindade 
do Cristo, se opondo às ideias trinitarianas (OLSON, 2001). 
A principal discussão teológica e social foi a chamada questão iconoclasta 
do século VIII, no qual se punham os cristãos favoráveis e os contrários à 
veneração de imagens. As disputas entre os favoráveis e aqueles que se 
mostravam contrários se acirraram a ponto de se conclamar o Segundo 
Concílio de Nicéia, no qual as ideias favoráveis ao culto às imagens de 
Maria Santíssima se tornaram vencedoras, em grande parte devido às 
ideias do sacerdote João Damasceno (OLSON, 2001, p. 306-309). 
Alguns nomes da teologia bizantina são importantes de serem mencionados. 
São João Crisóstomo, conhecido pela alcunha Boca de Ouro. Sua eloquência era 
um dos fatores de liderança de revoltas e contestações contra o luxo em que viviam 
os patriarcas e imperadores. Orígenes foi um grande e importante místico, capaz 
de reflexões profundas sobre a natureza da alma humana. 
A formação dos letrados era em grande parte vinculada à Igreja, por isso, a 
principal fonte de conhecimento dos bizantinos sobre os diversos assuntos que pautam 
TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO
43
a realidade humana eram vinculadas à teologia. O sacerdócio na religião ortodoxa 
segue a princípios distintos daqueles que segue a Igreja Romana. Uma das principais 
diferenças é com relação ao celibato. No Ocidente latino era (pelo menos do ponto de 
vista formal durante a Idade Média) obrigatório. No entanto, para a Igreja do Oriente 
grego, o celibato é opcional. Os sacerdotes podem escolher em constituir uma família 
ou apenas se dedicar à Igreja. Todavia, os cargos eclesiásticos de mais alta hierarquia 
são comumente designados apenas para os celibatários. 
A formação como teólogo para a Igreja bizantinatambém não segue 
diretamente a tradição latina, pois para os bizantinos a função principal do sacerdote 
é estar em serviço do povo, não tendo uma distinção entre os mais capacitados 
intelectualmente (teólogos) e os demais sacerdotes (padres ou pastores). Assim, 
podemos concluir que a vida bizantina teve na religião cristã ortodoxa o centro 
ideológico principal do seu sistema educacional e de organização política. 
 
No presente, existem alguns preconceitos contra a civilização e cultura 
bizantina. Existe inclusive a pecha “discussão bizantina” para debates de temas 
pouco relevantes. Uma das críticas aos teólogos e educadores bizantinos era em 
relação a alguns debates de pouca importância instrumental, como quantos anjos 
cabiam na “ponta de uma agulha” ou “qual a cor dos olhos de Santa Maria”. Apesar 
deste preconceito, podemos afirmar a importância dos pensadores bizantinos. 
A Igreja Ortodoxa possui maioria entre as populações eslavas, sendo a religião 
mais tradicional e importante da Rússia. Os pensadores bizantinos influenciaram 
sobremodo a civilização ocidental, porém, não foram os únicos que estavam em 
contato com os europeus ocidentais. Os muçulmanos também estavam em um 
misto de diálogo e confronto com a “cristandade latina”. 
3 O MUNDO ÁRABE MUÇULMANO
A sociedade muçulmana foi formada no século VII após o nascimento de 
Cristo. Maomé foi o fundador da religião muçulmana. Segundo a crença islâmica, 
ele teve um profundo contato com Deus, denominado pelos maometanos como 
Alá. Após este contato pessoal, sua vida se transformou de maneira radical. 
Homem que era casado com uma viúva de um rico comerciante, sua vida se 
transformou após esta experiência mística, com a qual se tornou um dos principais 
líderes carismáticos da história das religiões proféticas mundiais. 
A Arábia no tempo de Maomé era um local de grande miscigenação 
cultural, em que conviviam homens e mulheres com convicções religiosas cristãs, 
judaicas e de antigos ritos politeístas. Este sincretismo social entre pessoas de 
diferentes convicções de fé demonstra algumas características básicas que a religião 
muçulmana possui. Em uma comparação com o cristianismo ocidental católico 
ou oriental ortodoxo, pode-se afirmar que a religião muçulmana é radicalmente 
monoteísta, pois não acreditam na trindade ou na veneração a imagens de santos. 
 
44
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
Maomé foi o homem que formulou as suras, textos que eram ditados aos 
seus seguidores, que os compilaram no livro sagrado denominado Alcorão. O 
Alcorão possui narrativas sobre a vida humana. Muitas das crenças judaicas e cristãs 
permaneceram entre os maometanos. O nascimento de Cristo, anunciado pelo Arcanjo 
Gabriel para Maria, que seria a mãe de Jesus. Noé é outro personagem presente no 
Alcorão, como também na Bíblia cristã e na Torah Judaica. Os maometanos acreditam 
em Jesus como um profeta e não como Deus encarnado entre os homens. Noé também 
é um personagem bíblico que está constantemente presente no Alcorão. 
 
A formação de religião tem como marco a Hégira, período no qual Maomé 
se desloca de Meca para Medina. Entre as características básicas dos muçulmanos 
está a de cumprir cinco obrigações ao longo de sua existência enquanto ser. Entre 
elas, está uma vez na vida se deslocar até Meca. Nesta cidade se encontra a Caaba, 
um meteorito, o qual os seguidores da religião acreditam ter algum poder especial. 
Outra característica da religião muçulmana é o jejum no mês do Ramadã, no qual 
os adeptos da religião não consomem alimentos no nascer até o pôr-do-sol. 
 
Existem três vertentes majoritárias na interpretação da fé islâmica. Os 
xiitas, os sunitas e os sufis. Os xiitas recebem esta denominação, pois formam um 
grupo ligado à tradição aos escritos do Alcorão. Os sunitas, por sua vez, possuem 
um maior apreço pelas palavras escritas no Alcorão, as sunas - a forma encontrada 
por Maomé para disseminar, ensinar e aplicar o Islã. Os sunitas são os adeptos 
majoritários entre os islamitas. O grupo minoritário é composto pelos sufis. Os sufis 
possuem uma maior liberalidade nos costumes em comparação com os demais 
grupos citados. Um exemplo é a permissão do consumo de bebidas alcoólicas 
entre os sufis, algo terminantemente proibido pelos muçulmanos xiitas e sunitas. 
 
A religião muçulmana esteve em diálogo constante com a formação do 
pensamento ocidental. Como nós veremos, os comentaristas árabes da obra de 
Aristóteles, Averróis e Avicena, influenciaram o Ocidente medieval a partir do 
século XII (LIBERA, 1999). A Península Ibérica, território no qual se encontram 
Portugal e Espanha, durante a Idade Média era um território árabe, que compunha 
o afamado Califado de Córdoba. Naquela época, os intelectuais árabes compuseram 
importantes técnicas e formas do comércio, da cultura e das artes. Os números que 
utilizamos são influência dos árabes, assim como técnicas de navegação e comércio. 
Por vezes, os muçulmanos são questionados como cultores das ciências, das 
artes e das letras. Em especial, por terem destruído o farol de Alexandria, uma das 
sete maravilhas do mundo antigo. A torre do farol era composta por uma biblioteca 
com milhares de pergaminhos, depósito de toda a cultura helenística, isto é, dos 
povos de fala grega que habitavam a Ásia Menor. No entanto, os maometanos são 
acusados de terem queimado todos os pergaminhos, para esquentar as caldeiras 
dos chamados banhos turcos. Este fato pode ser apenas uma lenda, mas é um 
retrato da visão do Ocidente sobre a relação dos árabes com o conhecimento. 
O sistema educacional árabe era muito semelhante ao do Ocidente, no sentido 
de que a pedagogia seguia os ditames da fé. No entanto, enquanto o Ocidente medieval 
apresentou uma decadência nos aspectos intelectuais, os muçulmanos apresentaram 
TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO
45
centros educacionais e universitários de grande renome. Um dos destaques das 
sociedades árabes durante a Idade Média foi o centro universitário de Bagdá. Um local 
no qual grande parte de textos da antiguidade clássica greco-latina era traduzida para 
o idioma local, facilitando o estudo e se transformando em uma das principais regiões 
do mundo no que tange à produção de conhecimento acadêmico (LIBERA, 1999).
Uma das principais razões para se estudar a História da Educação é a 
de desmistificar preconceitos. Em especial a mídia ocidental, nos últimos 30 
anos, apresenta a religião islâmica e o mundo árabe de uma forma deturpada. 
Fundamentalismo, totalitarismo e ignorância são apresentados como sinônimos 
dos árabes muçulmanos. Todavia, como podemos observar nesta breve visão 
panorâmica sobre o mundo medieval islâmico, a presença de grandes centros de 
pensamento, além da inconteste influência intelectual dos árabes na formação 
da escolástica, a principal corrente da teologia Católica Apostólica Romana, nos 
permite afirmar que a vida ocidental é influenciada pelos árabes muçulmanos. 
A religião islâmica é uma das principais formas religiosas do mundo. Após os 
atentados terroristas aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, as informações sobre 
a religião e cultura árabe e maometana são tendenciosas e negativas. Vale a pena pesquisar 
em sites da internet sobre a religião islâmica em seus múltiplos aspectos, assim como 
diferentes questões culturais árabes.
4 A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA OCIDENTAL
O processo de desenvolvimento da educação na Alta Idade Média sofria 
uma radical transformação com relação ao processo educativo nos tempos do 
Império Romano, pois se em Roma o valor da valentia e da competitividade era 
considerado grande virtude, após a instituição do cristianismo, em 395, como uma 
religião permitida, e após o Édito de Teodósio, considerando a religião oficial do 
Império Romano, as ideias da compaixão e da piedade, contrárias à antiga ordenação 
social, acabaram por se transformar em virtudes sociais (LIERRARD, 1982).Com 
a alteração dos valores sociais, a sociedade na qual os mestres ensinavam a seus 
discípulos também foi alterada. 
Acima de tudo, o cristianismo prega uma ideia de igualdade social, sem 
distinções entre bárbaros e romanos, judeus, latinos ou gregos, como afirmam as 
cartas paulinas do Novo Testamento (Gálatas: 3: 28). Todavia, com a rotinização 
do carisma cristão, a ideia de um mundo onde todos são iguais perante Cristo 
se transformou para uma sociedade profundamente desigual (GOMES, 1997). É 
comum designar a sociedade medieval como sociedade estamental. Isto é, uma 
UNI
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UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
sociedade na qual a posição social do indivíduo não é marcada pelo dinheiro que 
possui, mas, sim, pelo seu status, em geral vinculado à posse de terras. O estamento 
pode ser definido como um grupo social garantido por convenções e leis, mantido 
através da honra social e de um estilo de vida diferenciado (WEBER, 1982.). 
Na Idade Média existiam três grandes grupos sociais: os servos, os sacerdotes 
e a nobreza guerreira. De modo esquemático e reducionista, apresentamos os 
seguintes tópicos explicativos: 
• Servos: trabalhavam nas terras de um senhor. Para este estamento, a educação 
ocorria no interior das famílias, com as quais as crianças aprendiam o trabalho 
com a terra.
• Nobreza: eram proprietários rurais. Os jovens ingressavam na cavalaria e 
possuíam uma educação para a guerra. Outros filhos da nobreza possuíam um 
“professor particular”, o preceptor. No fim do período medieval surgiram as 
universidades.
• Sacerdotes: a Igreja foi a principal instituição educacional da Idade Média. Para 
os membros das ordens religiosas, a educação servia para a elevação do espírito. 
A educação dos servos era realizada no interior das famílias, onde 
aprendiam a duras lidas lavrar a terra, realizar as orações e acompanhar as missas. 
Tratava-se de uma camada que não possuía acesso à educação institucionalizada. 
Em geral eram analfabetos, tendo um duro cotidiano de trabalho rural. Uma vida 
em contato direto com a natureza hostil de um ambiente rude e de cotidiana 
exploração. Os servos possuíam uma série de obrigações para com os senhores, 
devendo trabalhar nas terras senhoriais, pagando com uma porcentagem das 
colheitas (SILVA, 1982). 
As duas camadas sociais que possuíam uma melhor formação escolar eram 
os membros da nobreza e os clérigos. A nobreza possuía como instituição social e 
educacional a cavalaria. Eram os membros da nobreza formados por suseranos e 
vassalos. Os suseranos eram os donos das terras. Por vezes, os suseranos concediam 
glebas de terras para vassalos, que, devendo proteção militar aos seus senhores, 
deviam estrita obediência a eles (JÚNIOR, 2001). Os sacerdotes formavam um dos 
estamentos mais privilegiados e a Igreja possuía um poder temporal (econômico) 
muito vasto, além do poder espiritual de influenciar a mentalidade dos fiéis 
(SILVA, 1982.). A elite intelectual medieval era composta por membros do clero, 
que aprendiam latim, grego e conhecimentos teológicos nas ordens religiosas às 
quais pertenciam. 
 
Vejamos algumas características e instituições educacionais e sociais da 
Idade Média no Ocidente latino. 
TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO
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4.1 A CAVALARIA 
A cavalaria foi uma instituição permanente e marcante no mundo medieval. 
Naquela sociedade existiam as Ordens Militares Cristãs, surgidas em geral durante 
as Cruzadas, como a Ordem de Santiago (espanhola), a Ordem dos Cavaleiros 
Teutônicos (alemã) e a Ordem dos Templários (francesa). As Cruzadas foram o 
esforço da cristandade latina em expulsar de Jerusalém os muçulmanos. Apesar 
de militarmente derrotadas, as Cruzadas possibilitaram um forte intercâmbio 
comercial e cultural do Oriente Médio com o Ocidente romano-germânico 
(JÚNIOR, 1987). 
A guerra era uma ocupação cotidiana para a nobreza, que treinava com 
afinco para os combates. Todavia, as batalhas na Idade Média seguiam uma ética 
(ethos) própria. A principal diferença com os conflitos militares da atualidade é que 
a maior parte da população não participava. Apenas os que possuíam armadura 
e cavalo poderiam ser guerreiros. O que ocorria eram as batalhas denominadas 
justas, nas quais dois cavalarianos lutavam, buscavam derrubar ao chão ou matar 
seu oponente. Em geral, o prêmio pela vitória militar era o recebimento de um 
feudo, gleba de terras que também poderia ser conquistada através de casamentos 
arranjados (JÚNIOR, 1986). 
Para iniciar como um membro da Cavalaria, o jovem deveria iniciar seu 
trajeto como escudeiro de um cavaleiro mais antigo. Com ele aprendia as técnicas 
do trato com as armas e os cavalos. A cavalaria foi uma escola para a nobreza 
guerreira, na qual os jovens aprendiam regras hierárquicas, equitação e as leis dos 
combates medievais (MONROE, 1979). Por vezes, estas são denominadas guerras 
intestinas, que recebiam este nome por se realizar disputas no interior de territórios 
que obedeciam ao papa. Os confrontos entre a nobreza armada motivaram aos 
papas decretarem leis que as limitavam, como a Paz de Deus, que proibia batalha 
nos domingos, e a Trégua de Deus, que proibia combates em dias santos. 
4.2 PRECEPTORIA: A EDUCAÇÃO DA NOBREZA NA IDADE 
MÉDIA E NA IDADE MODERNA
Enquanto os servos possuíam sua educação com a família, aprendendo as 
lidas da terra, e parte da nobreza se dedicava à cavalaria, existiu um tipo específico 
de educação, a preceptoria. Esta era uma espécie de ensino particular, em que 
um professor se dedicava a ensinar os filhos de uma família rica. O preceptor era 
um tipo específico de professor particular, pois morava na mesma casa que o seu 
educando. Em geral, não era apenas um professor que deveria ter predisposição 
para ensinar os rudimentos das chamadas sete artes liberais, como também ser 
uma espécie de exemplo, na vida cotidiana, para seus pupilos.
 
As sete artes liberais eram conhecidas como Trivium e o Quadrivium. 
Nestas, os alunos tinham contato com as disciplinas de gramática, retórica e 
dialética, no Trivium. O Quadrivium era composto pelas disciplinas de geometria, 
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UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
aritmética, astronomia e música (ARANHA, 1996). Em geral, o ensino das sete 
artes liberais ocorria nas escolas catedrais. A função do preceptor era a de preparar 
os filhos da nobreza para o ensino médio (trivium) e superior (quadrivium). 
A principal característica da educação com base na preceptoria é a ausência 
de uma institucionalização da educação primária. Ao invés de as crianças passarem 
a frequentar um ambiente distinto do seu cotidiano e extrafamiliar para aprender a 
ler e escrever, o sistema de preceptoria possibilitava que a educação ocorresse sem 
a necessidade de ser mediado por outra organização que não a família.
 
Os preceptores eram, em geral, homens que tiveram uma formação 
sacerdotal. Esta formação enquanto padres, monges ou freis se explica por ser a 
Igreja a principal instituição a zelar pelo conhecimento, ao serem os mosteiros os 
depositários das mais distintas obras da antiguidade clássica (NUNES, 1979). A 
educação realizada pelos preceptores extrapolou os limites cronológicos da Idade 
Média, em especial nos países católicos, nos quais a formação de um sistema 
público de ensino foi posterior aos países de idioma protestante. 
4.3 A PATRÍSTICA
Por Patrística é compreendida a teologia cristã surgida após a morte dos 
apóstolos e findada com o desenvolvimento da Escolástica, no Ocidente, por 
volta do século XI. Os teólogos e demais líderes cristãos na época da perseguição 
do Império Romano foram chamados Pais da Igreja ou Pais da Fé, por isso a 
denominação Patrística.
Com o fim da perseguição romana aos cristãos com o imperador Constantino 
em 395 D.C., e com o Concílio de Niceia, no qual se teve o credo dos apóstolos, o 
cristianismo se torna doutrina oficial do Império. Certas questões teológicas,como 
a definição das doutrinas cristãs, em especial a trindade, no qual se estabeleceu a 
figura do Deus que é pai, filho e espírito santo, ganham não somente um cunho 
religioso, como uma aplicação social e política. A institucionalização da fé pode 
ser medida na delicada e profunda diferença em considerar que Jesus é o caminho, 
a verdade e a vida, para compreender que fora da Igreja não existe salvação 
(GOMES, 1997). Esta alteração pode ser encarada como uma forte relação da 
Igreja com o Estado, sendo o ideal cristão profundamente modificado dos tempos 
da igreja primitiva dos apóstolos Pedro, Tiago e Paulo, expresso nas epístolas 
neotestamentárias. 
 
A Patrística, enquanto movimento intelectual, foi fecunda em diversos 
sábios que buscaram aliar o conhecimento advindo com a filosofia grega de Platão 
aos ditames da fé. Muitos dos intelectuais patrísticos eram antigos professores de 
filosofia grega, convertidos ao cristianismo por considerar a mensagem de Jesus 
o ponto culminante da história humana, ou simplesmente porque encontraram 
descanso para as suas almas (LUCA, 1988). Alguns nomes, tanto os da Igreja grega 
quanto da latina, são importantes para a compreensão deste período da história 
cristã. Santo Ambrósio, bispo de Milão, foi um importante doutrinador da Igreja 
TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO
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Romana, por justamente ser colocado no hall de grandes nomes da intelectualidade 
cristã. Orígenes, grande místico da Europa Bizantina, também teve destaque em 
suas reflexões espirituais. Todavia, o principal nome da Patrística no Ocidente foi 
um discípulo de Santo Ambrósio: Agostinho de Hipona ou Santo Agostinho. 
 
Aurélio Agostinho nasceu em Tagaste, na província romana da Numídia 
(atual Souk Aras –Marrocos). Seu pai era um pagão que se deixou batizar cristão 
perto da morte, como era usual no cristianismo romano do século IV. Sua mãe, 
Santa Mônica, era uma cristã que buscava a conversão da família para a fé nos 
ensinamentos de Jesus. No início da sua vida, Agostinho não compreendia 
o cristianismo como uma doutrina racional, se dedicando a práticas pagãs e 
intelectualmente sendo influenciado pelo maniqueísmo, uma doutrina igualmente 
pagã. Possuiu em sua vida um certo destaque como professor de retórica para 
membros da juventude romana. Com 32 anos de idade, após uma grave crise 
existencial, se converte. Esta conversão, após muita reflexão, foi um dos principais 
lumes do cristianismo. Sua principal contribuição intelectual foram os livros As 
Confissões, no qual, de forma autobiográfica, narra detalhes de sua conversão, e 
A Cidade de Deus, no qual defende o cristianismo contra as acusações pagãs que 
culpavam a queda de Roma à pouca combatividade de uma religião que pregava 
a paz universal. Ao refletir sobre a tomada de Roma pelos soldados do bárbaro 
Alarico, Agostinho ponderava que uma das poucas construções que foram 
respeitadas pelos bárbaros foram as igrejas cristãs. Em parte, Agostinho apontava 
que as virtudes cristãs eram os valores romanos (OLIVEIRA, 1987). 
 
A principal obra de Agostinho de Hipona sobre a Educação foi o De 
Magistrum, em uma tradução literal, O mestre. Trata-se de um diálogo de Agostinho 
com um discípulo, no qual o autor aponta sua visão de educação, onde havia a 
necessidade de uma iluminação divina para que o processo educativo pudesse ser 
desencadeado. A ideia de um mestre ensinando discípulos, e em especial a obra 
De Magistrum, revelam o quanto o cristianismo foi a base da educação no Ocidente 
durante vários séculos. 
Agostinho de Hipona é um dos principais intelectuais da história do cristianismo. 
O seu retrato autobiográfico “As Confissões” é uma das obras clássicas da literatura universal. 
Como se trata de um retrato biográfico, é uma agradável leitura que vale a pena ser feita.
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UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
FIGURA 15 - SANTO AGOSTINHO
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2016.
4.4 A REFORMA EDUCACIONAL CAROLÍNGIA
A expansão dos muçulmanos pelo Ocidente foi avassaladora. Conquistaram 
a Península Ibérica e não conseguiram conquistar a Europa devido à vitória dos 
soldados comandados por Carlos Martel da Batalha de Poitiers. Seu filho Pepino 
“O Breve” foi um importante líder. Carlos Magno, filho de Pepino, foi o líder 
maior de um império que surgiu no norte europeu no século VII e que foi uma das 
últimas tentativas de manutenção de um governo politicamente unificado. Com o 
fim do Império Carolíngio, temos a ampliação do feudalismo na Europa. No campo 
político e militar, o Império Carolíngio obteve uma unidade política na região da 
Europa central. A imponência imperial atingiu tanto os aspectos políticos, quanto 
os militares, econômicos e culturais (NUNES, 1979).
 
Do ponto de vista político, houve uma união territorial que possibilitou 
uma maior estabilidade social, e fez com que o Rei Carolíngio pudesse estender 
sua liderança não apenas no campo militar, mas também nas questões culturais. 
Por isso, é comum a utilização do termo Renascimento Carolíngio, para expressar 
este novo momento de incentivo às artes e à cultura. Mesmo sendo analfabeto, 
Carlos Magno contratou professores e realizou diversos investimentos em 
questões culturais e educacionais. O grande nome de destaque do Renascimento 
Carolíngio, no que tange às questões educacionais, foi o britânico Alcuino de York, 
líder educacional a quem Carlos Magno doou a Abadia de Tours, local que foi 
transformado em um centro de saber e erudição. 
TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO
51
O Império Carolíngio foi dividido entre os filhos de Carlos Magno, que 
fragmentaram ainda mais as posses territoriais. Após o fim do Império Carolíngio, 
a Europa passou por um processo de fragmentação de poder. No entanto, não 
apenas com consequências no tocante à política e à economia, que se tornou 
menos monetária, como também com relação à educação, que ficou ainda mais 
dependente dos ensinamentos da Igreja, não apenas nos ditames teológicos ou 
devocionais, como, acima de tudo, do ponto de vista político. 
4.5 OS MOSTEIROS E A EDUCAÇÃO MEDIEVAL: O 
MOVIMENTO CENOBITA E AS ORDENS MENDICANTES
 
As ordens religiosas compreendem o chamado clero regular, no qual os 
sacerdotes católicos passam as suas vidas em contemplação e dedicação exclusiva à 
instituição religiosa à qual pertencem. O clero secular é aquele formado por padres 
diocesanos, isto é, sacerdotes que vivem em contato direto com o povo cristão, nas 
paróquias que estão sob a jurisdição de um bispo de uma região determinada. 
 
As ordens religiosas foram fundadas em um período histórico de êxodo 
urbano no Império Romano do Ocidente. Muitos dos moradores das cidades 
romanas abandonavam a cidade buscando uma vida mais tranquila em pequenas 
cidades rurais. Assim, cristãos também faziam parte desta tendência migratória 
interna ao Império. Todavia, no caso cristão, ao invés de serem movidos apenas por 
uma busca de vida melhor longe dos conglomerados urbanos, os mesmos possuíam 
um ideal místico de salvação das almas. Este movimento cristão de formação de 
comunidades de fé foi denominado movimento cenobita (PIERRARD, 1982). 
Santo Antão e outros precursores buscavam a vida no deserto do norte 
africano como um modo de atingir um ideal de pureza espiritual, fugindo das 
tentações. No entanto, o marco inicial da vida monástica no Ocidente foi a ordem 
religiosa formada na Europa por Bento de Núrcia. A Ordem de São Bento, como 
até hoje existente e conhecida, apresentou para o mundo cristão instituído a 
novidade de uma Regra de Vida Comum. A regra de São Bento, primeira a existir 
no cristianismo, foi uma das propulsoras da multiplicação de mosteiros de irmãos 
de vida comum. Assim como São Bento, Santo Agostinho também formulou uma 
regra de vida no cenóbio, a conhecida Regra de Santo Agostinho (BOFF,2009).
 
Um outro momento, além do século IV, na formação de ordens religiosas, 
foram os séculos XII e XIII. Naquele período, a sociedade europeia passou por 
profundas transformações sociais, como as Cruzadas e as formações de cidades. Estas 
transformações se refletiram nas sensibilidades religiosas. Naquele século surgiram as 
chamadas ordens mendicantes: franciscanos e dominicanos (COMBY, 1993). 
As ordens mendicantes recebem este nome pela forma como os irmãos de 
fé se comprometem antes de entrar nelas. Ter uma vida de pobreza, obediência e 
castidade. Este triplo compromisso é simbolizado na Ordem Franciscana com o 
TAU, símbolo que o franciscano carrega em seu peito, assim como três nós em uma 
52
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
corda pendurada ao lado direito do corpo do irmão de fé. Os franciscanos seguem 
o carisma do fundador São Francisco. 
Este foi um nativo da cidade italiana de Assis. Filho de um comerciante 
que enriqueceu com as transações financeiras de um sistema de trocas de produtos 
que crescia na Europa do século XII e que resolveu abandonar a riqueza da família 
e um possível casamento com a jovem Clara, para seguir um ideal religioso de 
pobreza. O ideal de vida proposto por Francisco de Assis perpassa não somente 
por um elogio à pobreza como uma forma de vida, mas também uma possibilidade 
de vida em maior contato com a natureza. 
São Francisco afirmava que a vida dos homens e dos animais possuía a 
comum origem divina, pois no Gênesis bíblico a criação é apresentada tanto dos 
animais quanto do ser humano, por isso, uma das histórias que perpassam o 
fundador da ordem é a da pregação que São Francisco realizava para os seres da 
natureza, como as plantas e os animais selvagens. 
Os dominicanos foram outra importante ordem surgida no Ocidente latino. 
Eles têm este nome em homenagem ao seu fundador, Domingos de Gusmão. 
Nascido no País Basco, São Domingos foi um dos principais defensores da fé 
católica contra um grupo de hereges denominados Cátaros. Com o ideal de pregar 
a verdadeira fé proposta nos evangelhos, Domingos funda uma ordem religiosa. 
Todavia, os dominicanos não possuem uma regra de vida comum original. 
Utilizam da Regra de Santo Agostinho, com comentários adicionais realizados 
pelo fundador da ordem. Principal carisma da Ordem Dominicana é pregar o 
evangelho. Também são conhecidos como Ordem dos Pregadores, e têm como 
distintivo a abreviatura O.P. (Ordem dos Pregadores). Os dominicanos surgiram 
em um ambiente de defesa da fé cristã católica contra uma heresia. Também são 
conhecidos pela alcunha de cães do senhor, ou em latim, domini cani. Os papas os 
encarregavam do tribunal da Santa Inquisição, uma instituição punitiva da Igreja 
Católica e que teve como intenção enquadrar pessoas que não andassem de acordo 
com os mandamentos da Igreja, como os judeus ou os acusados de bruxarias ou 
feitiçarias. Os dominicanos não foram apenas inquisidores, mas também muitos 
deles se transformaram nos principais professores das universidades europeias, a 
partir do século XIII (BEDOUELLE, 1997). 
4.6 OS MONGES COPISTAS
Os monastérios foram os principais repositórios da cultura antiga grega 
e romana durante todo o período medieval. Isto porque as bibliotecas eram 
presentes nas instituições religiosas, sendo, por isso, verdadeiros locais de 
formação do conhecimento. Entre as diversas ocupações com as quais os monges 
passavam seu dia a dia, como cuidar da horta ou das orações, existiram monges 
que tinham uma função específica: realizar cópias dos antigos livros nos quais 
se encontravam explicações sobre as ciências, sobre a teologia e sobre as normas 
sociais da antiguidade grega, romana e patrística. Também bíblias, em especial da 
vulgata de São Jerônimo, eram copiadas em sua versão em latim. 
TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO
53
Um dos principais filmes que retratam a vida intelectual na Idade Média é “Em 
Nome da Rosa”. Baseado no livro homônimo do intelectual italiano Umberto Eco, é uma 
obra que vale a pena ser lida e vista em filme. 
4.7 A ESCOLÁSTICA
O termo Escolástica se refere à teologia cristã formulada a partir do século 
XI no Ocidente (cristandade latina). A origem etimológica latina é scolarum (escola). 
Isto porque os principais intelectuais escolásticos trabalhavam em instituições de 
ensino. Podemos afirmar que a principal influência da Escolástica foi o pensamento 
aristotélico, e a principal rivalidade intelectual com os intelectuais árabes Averróis e 
Avicena (LIBERA, 1999). 
Um dos primeiros autores escolásticos foi Santo Abelardo. Monge da Ordem 
de São Bento, autor de importantes escritos que visavam casar a fé cristã com a razão 
filosófica. No entanto, São Tomás de Aquino foi o principal formulador das teses 
escolásticas. Monge da Ordem Dominicana, seu primeiro livro foi a Suma Contra 
os Gentios, no qual combatia argumentativamente contra os intelectuais árabes 
maometanos da Península Ibérica (Averróis, Avicena). Contudo, seu principal livro 
foi a Suma Teológica, um tratado no qual o autor reflete sobre múltiplas questões 
da vida nas esferas cultural, econômica e social, como a guerra, a paz, os lucros 
nas transações financeiras, a sexualidade, entre tantos outros, sempre com uma 
dupla lente, formada pelo cristianismo e o aristotelismo. Sua base racionalista o fez 
formular cinco vias que levam até Deus. 
 FIGURA 16 - DOUTOR ANGÉLICO - SÃO TOMÁS DE AQUINO
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2016.
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UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
4.8 O NOMINALISMO 
Não existiram apenas a Patrística e a Escolástica como modos de pensamento 
durante a Idade Média. No norte da Europa, a Escolástica não teve grande 
relevância. O Nominalismo, corrente de pensamento que teve em John Duns Scot e 
Guilherme de Ockham seus principais formuladores, foi uma das principais fontes 
de reflexão nas universidades do norte europeu, chegando inclusive a influenciar o 
reformador da Igreja, Martinho Lutero, leitor de um pensador nominalista, Gabriel 
Biel (FEBVRE, 2012, 25-49). 
O Nominalismo baseava-se na ideia dos universais. Os universais podem 
ser considerados como os conceitos que os homens utilizam para pensar. Os 
universais passavam a ser o ponto principal das reflexões filosóficas e teológicas, 
não mais sendo a tentativa de junção entre a fé e a razão, como na Escolástica. 
 
Tanto John Duns Scott quanto Guilherme de Ockham eram oriundos 
da Universidade de Oxford e tiveram anos de vivência como irmãos da Ordem 
Franciscana. O Nominalismo baseava-se na chamada Navalha de Ockham. Isto 
seria uma das formas de pensar em que a pluralidade e as diferenças deveriam 
ser crivadas através de alguns critérios. Para o nominalista, “Não se deve anunciar 
uma pluralidade sem a isso ser obrigado por uma necessidade: razão, experiência, 
autoridade da Escritura ou da Igreja” (LUCA, 1988, p. 85). Esta afirmação é de 
profunda dialética, isto é, revela um pensamento original baseado em ideias 
contrárias, pois visava excluir todas as ideias supérfluas de uma argumentação. 
 
Com relação às ideias políticas, na disputa entre o papado e o império, 
Ockham tomou posição intelectual para o segundo. Sua teologia discordava de 
uma submissão do imperador para o papado. Talvez por sua rebeldia ou pela sua 
originalidade intelectual e teológica, Ockham foi excomungado em 1328. Todavia, 
suas reflexões ficaram como uma das bases do pensamento do homem ocidental. 
DIALÉTICA: Por dialética é compreendida uma forma de alcançar conhecimento 
baseado em pensamentos contraditórios. Uma tese é contestada por uma síntese, que por 
sua vez, com a junção de tese mais antítese, se formaria uma síntese. Em suma, podemos 
definir dialética como um modo depensar que valoriza a polêmica, o debate entre ideias 
contrárias.
4.9 A FORMAÇÃO DAS CIDADES E AS
CORPORAÇÕES DE OFÍCIO
Durante a Idade Média Central desenvolveram-se trocas comerciais, 
nas feiras, essas tratavam-se de locais nos quais o excedente da produção dos 
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TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO
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feudos era comercializado. Os produtos orientais trazidos pelas Cruzadas eram 
comercializados nos chamados burgos fortificados, locais em que havia a presença 
de uma ordem monástica-militar, como a dos Cavaleiros Teutônicos ou dos 
Cavaleiros Templários. 
Estas feiras periódicas se transformaram em constantes, sendo deste período 
a formação de uma classe social responsável por este comércio, os burgueses 
(habitantes do burgo). O surgimento da vida urbana prescindiu a formação de 
uma gama de profissionais que pudessem adequar as cidades a uma qualidade 
mínima de vida. Profissões antes não existentes nos feudos começaram a surgir no 
chamado Outono Medieval. 
São alguns exemplos os padeiros, os alfaiates, os sapateiros e os pedreiros, 
que eram artífices importantes para a manutenção de uma vida digna em um 
ambiente urbano. Com o aumento da monetarização, outras profissões se tornaram 
importantes, dentre elas a de advogado, que buscava estabelecer justiça entre 
os antagônicos interesses presentes, e a de médico, que buscava a cura para as 
mais diferentes doenças sem apelar para os rituais tradicionais, que poderiam ser 
considerados demoníacos pela Santa Inquisição (NOVINSKI, 1988). 
 
A monetarização foi uma das principais características das cidades 
medievais, pois as moedas de ouro e prata passaram a ter cada vez maior 
espaço, declinando, de forma lenta, as trocas naturais de produtos por outros 
produtos. Entre os produtos vendidos nas cidades estavam aqueles fabricados nas 
denominadas corporações de ofício (PIRRENE, 1968). 
As corporações de ofício eram instituições de artesãos que fabricavam 
produtos manufaturados, como tecidos ou sapatos. As corporações formavam uma 
espécie de sistema de aprendizagem entre os artesãos. Iniciavam ainda crianças 
como aprendizes, galgavam posto como oficial e poderiam chegar a mestre, 
posição que os possibilitaria abrir uma corporação própria (JÚNIOR, 2001). 
As corporações possuíam um rígido sistema hierárquico, no qual os 
candidatos a mestre deveriam ter a capacidade de realizar uma obra-prima. 
Este sistema se manteve durante séculos em muitos países europeus, até ser 
transformado pela Revolução Industrial. 
 
4.10 AS UNIVERSIDADES
As corporações de ofício foram uma inovação social, surgida pouco antes 
das universidades, e em grande parte as inspiraram. Todavia, eram corporações 
muito distintas das usuais. A Igreja teve uma importante participação no fomento 
das universidades. Em grande parte, por questões de honra estamental, isto é, pelo 
prestígio que concedia a uma ordem ter um de seus membros participando como 
catedrático de uma universidade. Um prestígio tanto no interior do clero, quanto 
na representação dos religiosos com relação à comunidade na qual estavam 
inseridas (CARDINI, 1997). 
56
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
A Igreja foi uma fomentadora, porém, diversas outras instituições sociais 
e estratos da população apoiavam a criação destas instituições de ensino. Entre os 
diversos fatores, podemos citar o fomento à economia das cidades nas quais elas 
se encontravam, pois uma grande gama de pessoas migrou para algumas cidades, 
como Coimbra, Salamanca ou Paris, tornando-se um mercado consumidor para os 
produtos produzidos pelas corporações de ofício e revendidos pelos comerciantes 
locais. 
 
Outra camada social que estimulou a criação de universidades foi o Estado 
Nacional em processo de criação na Europa da Baixa Idade Média. Das universidades 
saíram os principais administradores da burocracia dos governos dos distintos 
países. A vinculação do Estado com as universidades pôde ser relacionada ao 
verdadeiro símbolo nacional de alguns países em algumas instituições, como é 
o caso de Salamanca na Espanha, Oxford na Inglaterra, Sorbonne na França e 
Coimbra em Portugal. A grande autonomia que as universidades possuíam no fim 
da Idade Média revela a importância que estas instituições ganharam na sociedade 
europeia de então. 
Por vezes, o título de bacharel ou “letrado” era assemelhado (se não 
equivalente) a um título nobiliárquico. Esta equiparação de status servia como 
um incentivo para jovens que buscavam ascensão social. As universidades foram 
instituições surgidas com o apoio do clero e que visavam o ensino de jovens para 
profissões liberais, como o direito e a medicina. Estas profissões passaram a ter um 
forte status social, sendo também buscadas por filhos da nobreza.
Durante a Idade Média, o curso superior de maior prestígio era o de 
Teologia. Ele formava o quadro dirigente da Igreja, principal instituição medieval. 
A Teologia era reconhecida como a Rainha das Ciências. Em especial devido ao 
trabalho intelectual de Pedro Abelardo, intelectual responsável por divulgar o 
termo “Teologia” (JÚNIOR, 1997). 
No decorrer dos séculos, as universidades conseguiram se afirmar como a 
principal instituição do sistema de ensino, ao serem as formuladoras das reformas 
educacionais e propositoras de novas ideias científicas. As proposições dos 
intelectuais universitários se fazem com uma nova possibilidade de compreensão 
dos homens no Ocidente com relação à importância do conhecimento para o 
desenvolvimento político, social e econômico das sociedades. 
Pedro Abelardo foi um interessante personagem medieval. Sua vida foi retratada 
no filme Em Nome de Deus, no qual foi contada sua romântica história com a jovem 
Heloísa. Um romance que deveria ser mantido em segredo devido ao compromisso do 
celibato do teólogo Abelardo. 
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TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO
57
LEITURA COMPLEMENTAR
Os primórdios da arqueologia histórica
O arqueólogo brasileiro e professor da Unicamp conversou com Leituras da História 
sobre esta modalidade eurocêntrica e fala sobre as origens e o campo de atuação no Brasil.
Por definição, a chamada arqueologia histórica 
é uma modalidade que estuda sociedades por meio 
de registros escritos. É, assim, disciplina bastante 
abrangente e considerada uma das mais eurocêntricas, 
ou seja, que coloca a Europa como centro da constituição 
da sociedade moderna. O objetivo de seus estudos 
é justapô-los com os outros que investigam e grupos 
mais antigos e até mesmo pré-históricos. Por vezes se 
concentra nas atividades de classes operárias, mulheres 
e até mesmo de crianças.
Como uma modalidade tão específica pode 
encontrar um campo de trabalho em nosso país? 
Para tanto, fomos em busca de um nome nacional que discute as aplicações da 
arqueologia histórica há algum tempo. Pedro Paulo Funari é, além de professor, 
pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam/Unicamp). 
Participa do conselho editorial de pelo menos 30 revistas científicas nacionais e 
14 estrangeiras. Dentre estas últimas, destacam-se publicações como o “Public 
Archaeology”, o “Journal of Social Archaeology” e o “International Journal of 
Historical Archaeology”. É autor de mais de 330 artigos publicados em revistas 
de todo o mundo e escreveu ou coescreveu mais de 80 livros na área de História e 
Arqueologia.
O professor, que hoje é também assessor do reitor da Unicamp, apresentou 
alguns resultados obtidos com o Grupo de Pesquisas que coordena junto com o 
professor André Chevitarese. Dentre os artigos científicos já publicados, estão 
aqueles que saíram em revistas de renome, como “World Archaeology”, “Journal of 
Roman Archaeology”, “Journal of Social Archaeology” e “Current Anthropology”. 
Vários dos estudantes que já passaram pelo crivo de Funari tornaram-se professores 
de universidades como a UFMG, UFPR, Unifesp e UFRJ, entre outras.
Na entrevista a seguir, Funarifala sobre as definições de arqueologia 
histórica e suas aplicações práticas.
Arqueólogos participam de 
escavações no Fórum Romano 
LEITURAS DA HISTÓRIA – O que vem a 
ser arqueologia histórica e qual a diferença desta 
modalidade para a arqueologia convencional? 
PEDRO PAULO FUNARI – A arqueologia 
histórica pode ser definida de duas maneiras. 
Para alguns especialistas, ela estuda a cultura 
material das sociedades modernas, resultantes 
da expansão do capitalismo, a partir do século 
XV. Desta perspectiva, a arqueologia histórica 
58
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
estaria centrada na globalização e na modernidade. Para outros, dentre os quais 
me incluo, a disciplina está centrada no estudo da cultura material das sociedades 
que utilizam a escrita, desde o Egito antigo, até os dias atuais. Portanto, esta 
definição não é cronológica, mas epistemológica, ao enfatizar a convivência de 
discursos escritos sobre a sociedade e a cultura material dessas sociedades. Em 
ambas definições, contudo, a arqueologia histórica é uma disciplina especializada 
da Arqueologia que se diferencia, em primeiro lugar, da arqueologia pré-histórica, 
que estuda a cultura material de sociedades que não se utilizaram da escrita.
LDH – Como e quando surgiu cronologicamente a arqueologia histórica? 
PPF – A arqueologia histórica, com esse nome, surgiu nos Estados 
Unidos, na década de 1960, voltada para o estudo da cultura material associada 
aos fundadores da nação, os protestantes anglo-saxões brancos, cujo acrônimo 
é WASP (White Anglo-Saxon Protestant). Nas duas décadas seguintes, com o 
crescimento dos movimentos sociais, a disciplina passou a incluir outros grupos 
constitutivos americanos, como os católicos, os afroamericanos, os irlandeses e 
as mulheres. De toda forma, a disciplina surgiu voltada para a modernidade. O 
livro clássico que apresenta esta abordagem foi escrito por Charles E. Orser, “A 
Historical Archaeology of the Modern World” (1996). A partir da década de 1990, 
estudiosos de outras partes do mundo, em particular da América Latina, África, 
Europa e Ásia, propuseram uma definição mais ampla da disciplina, voltada para 
o estudo da cultura material de todas as sociedades, no passado e no presente, 
que conhecem a escrita, tal como apresentado no volume “Historical Archaeology, 
Back From the Edge”, organizado por mim, Martin Hall e Sian Jones em 1999.
LDH – Qual é a contribuição de um arqueólogo histórico para a melhor 
compreensão das civilizações do passado? 
PPF – As sociedades com escrita produziram informações de diferentes 
tipos: documentos escritos transmitidos pela tradição literária e uma imensa e 
crescente quantidade de objetos, alguns com escrita e imagens, provenientes da 
pesquisa arqueológica. Graças à Arqueologia, conhecemos uma grande quantidade 
de textos do Egito antigo, assim como temos imagens, estátuas e edifícios inteiros 
escavados. Tudo isso nos fornece informações únicas sobre a vida dos faraós, 
mas também das pessoas comuns. Sabemos mais sobre as sociedades da antiga 
Mesopotâmia por vestígios arqueológicos, do que sobre períodos recentes, mas 
menos estudados, o que pode parecer um paradoxo, mas demonstra a importância 
de estudarmos a materialidade. “Tradicionalmente, a formação dá-se numa graduação 
de História ou outra ciência (Ciências Sociais, Geografia, Biologia), seguida de mestrado e 
doutoramento focado no tema arqueológico”.
LDH – Há algum exemplo da atuação da arqueologia histórica para uma 
melhor compreensão das eras mais modernas? 
PPF – Dentre os exemplos mais recentes e relevantes está o estudo 
arqueológico dos períodos ditatoriais. Por meio da arqueologia histórica, tem sido 
possível identificar pessoas que foram assassinadas e enterradas sem identificação. 
TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO
59
Na Europa, hoje, há escavações em curso na Espanha, referentes ao período da 
Guerra Civil (1936-1939). Na América Latina, em particular, essa recuperação da 
memória tem sido muito importante em diversos países, inclusive no Brasil. Não 
se trata, apenas, da possibilidade de identificação de corpos de desaparecidos, 
mas também do estudo das prisões clandestinas e de outros temas, como atesta 
o livro recém-lançado “Memories from Darkness, Archaeology of Repression and 
Resistance in Latin America” (Nova Iorque, Springer, 2009), organizado por mim, 
Andrés Zarankin e Melisa Salerno e que havia sido publicado, em versão anterior, 
no Brasil (“A Arqueologia da Repressão e da Resistência na América Latina”, São 
Paulo, Annablume, 2008).
LDH – Como é a formação do arqueólogo histórico? Quais os cursos para 
se obter esta especialização?
 
PPF – Há diversas possibilidades. Tradicionalmente, a formação dá-se numa 
graduação de História ou outra ciência (Ciências Sociais, Geografia, Biologia), 
seguida de mestrado e doutoramento focado no tema arqueológico. Nos 
últimos anos, surgiram cursos de graduação em Arqueologia e isso abre novas 
oportunidades na formação acadêmica de alto nível. O estudo da arqueologia 
histórica, em particular, tem crescido muito nos últimos anos no Brasil, pois cada 
vez mais se valoriza o patrimônio histórico.
LDH – Qual o campo de atuação no Brasil de um arqueólogo histórico? 
PPF – Há dois grandes campos de atuação: acadêmico e de mercado. No 
primeiro caso, existem cursos que congregam arqueólogos históricos no corpo 
docente e, neste caso, o arqueólogo histórico pode atuar e ser remunerado pela 
pesquisa. Este é o caso de arqueólogos históricos renomados, professores de 
instituições de prestígio, como Andrés Zarankin (UFMG), Gilson Rambelli (UFS) 
ou Fábio Vergara Cerqueira (UFPel). Também museus e outras instituições 
patrimoniais podem abrigar arqueólogos históricos. Em seguida, existe o crescente 
mercado de trabalho em empresas privadas. Devido à legislação de proteção 
ambiental e patrimonial, multiplicaram-se as firmas voltadas para o segmento e 
há, portanto, empregos para arqueólogos em diversas funções.
LDH – Fala-se muito sobre arqueologia de cunho filológico. Pode explicar 
melhor este termo?
PPF – A arqueologia histórica, entendida como aquela que estuda os 
egípcios, mesopotâmicos, gregos, romanos, medievais e modernos, surgiu a 
partir do estudo das línguas e da escrita. Para estudar a cultura material desses 
povos, é necessário conhecer também as línguas e as escritas usadas por aqueles 
que construíram as pirâmides, os zigurates ou o Parthenon. Já por este aspecto, a 
arqueologia histórica liga-se ao estudo das línguas. Mais do que isso, o próprio 
sistema de classificação dos objetos, por meio de tipologias, inspirou-se na Filologia. 
Assim como se classificam as línguas, as palavras e os modos de falar, também se 
pode classificar os artefatos.
60
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
LDH – Nesse meio fala-se muito sobre 
o Congresso Mundial de Arqueologia. Pode 
explicar melhor o que vem a ser? 
PPF – Esse órgão congrega arqueólogos 
do mundo todo. Ele foi fundado em 1986, 
com o objetivo de permitir que estivessem 
representados todos os continentes e mesmo os 
grupos estudados pelos arqueólogos, como os 
indígenas. Foi uma iniciativa muito importante 
para mudar os rumos da disciplina. A Arqueologia 
surgiu como uma atividade militar ligada ao 
imperialismo das grandes potências ocidentais. A 
Antropólogo forense ajuda arque-
ólogos em escavações na Ilha 
Wake, no norte do Oceano Pacífico.
introdução de arqueólogos da América Latina, África e Ásia no Congresso Mundial 
de Arqueologia permitiu, pela primeira vez, que todos tivessem voz. O mesmo 
vale para a inclusão dos representantes indígenas, pois os arqueólogos ligados 
ao imperialismo contribuíram para a exploração dos povos colonizados, do Egito 
ao continente americano. Não se pode, portanto, subestimar a relevância política 
e epistemológica do Congresso Mundial de Arqueologia, para democratizar a 
disciplina.
LDH – Qual períodoDA 
SOCIEDADE OCIDENTAL .................................................................................................................. 23
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 23
2 O PROCESSO DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DA SOCIEDADE GRECO-ROMANA ........ 23
3 A FILOSOFIA GREGA E O PENSAMENTO ROMANO ............................................................ 30
4 A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA: A CRIAÇÃO DE INSTITUIÇÕES ......... 34
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 37
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 38
TÓPICO 3 – IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO ..... 39
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 39
2 O MUNDO BIZANTINO ................................................................................................................... 40
3 O MUNDO ÁRABE MUÇULMANO ............................................................................................... 43
4 A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA OCIDENTAL ...................................................................... 45
 4.1 A CAVALARIA ................................................................................................................................ 47
 4.2 PRECEPTORIA: A EDUCAÇÃO DA NOBREZA NA IDADE MÉDIA E NA IDADE 
 MODERNA ...................................................................................................................................... 47
 4.3 A PATRÍSTICA ................................................................................................................................ 48
 4.4 A REFORMA EDUCACIONAL CAROLÍNGIA ........................................................................ 50
 4.5 OS MOSTEIROS E A EDUCAÇÃO MEDIEVAL: O MOVIMENTO CENOBITA E AS 
 ORDENS MENDICANTES ............................................................................................................ 51
 4.6 OS MONGES COPISTAS ............................................................................................................... 52
 4.7 A ESCOLÁSTICA ............................................................................................................................ 53
 4.8 O NOMINALISMO ......................................................................................................................... 54
 4.9 A FORMAÇÃO DAS CIDADES E AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO ..................................... 54
 4.10 AS UNIVERSIDADES .................................................................................................................. 55
VIII
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 57
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 63
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 64
UNIDADE 2 – ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL 
MODERNO E CONTEMPORÂNEO .................................................................................................. 65
TÓPICO 1 – O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO 
HUMANISMO MODERNO ................................................................................................................. 67
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 67
2 O IMPACTO DAS GRANDES NAVEGAÇÕES E DA PRENSA DE GUTTEMBERG NO 
CENÁRIO EDUCACIONAL, POLÍTICO E SOCIAL ...................................................................... 69
3 ELEMENTOS DO CONTEXTO FILOSÓFICO E CIENTÍFICO DA RENASCENÇA ............ 72
 3.1 AS UNIVERSIDADES, AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO, AS GRAMÁTICAS E O DECLÍNIO 
 DO LATIM ....................................................................................................................................... 74
 3.2 IMPLICAÇÕES DA REFORMA PROTESTANTE E DA CONTRARREFORMA NO 
 CAMPO RELIGIOSO E EDUCACIONAL .................................................................................. 76
4 PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS E FILOSÓFICOS DA ÉPOCA MODERNA ............................... 82
 4.1 ELEMENTOS DO CONTEXTO EDUCACIONAL MODERNO: A EDUCAÇÃO 
 REALISTA DO SÉCULO XVII ....................................................................................................... 88
 4.2 OS MANUAIS DE ETIQUETA E DE BONS COSTUMES ......................................................... 92
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 93
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 99
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 100
TÓPICO 2 – A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE 
CONTEMPORÂNEO ............................................................................................................................. 101
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 101
2 A SUPERAÇÃO DO ANTIGO REGIME E DO SISTEMA COLONIAL E AS 
IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO ....................................................................................................... 101
3 OS PRINCIPAIS INTELECTUAIS E O PENSAMENTO DOS EDUCADORES LEIGOS .... 103
4 O EXEMPLO DE HEGEL .................................................................................................................... 106
5 O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DE DESENVOLVIMENTO DAS CIÊNCIAS E 
DISCIPLINAS AUXILIARES ............................................................................................................... 107
 5.1 SOCIOLOGIA: A CIÊNCIA DA SOCIEDADE ........................................................................... 108
 5.2 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO ............................................................................................... 115
 5.3 O IMPASSES DO PROCESSO DE LAICIZAÇÃO E DA RACIONALIZAÇÃO .................... 116
 5.3.1. O MOVIMENTO DO ROMANTISMO .............................................................................. 116
 5.3.2 O exemplo de Friedrich Nietzsche ....................................................................................... 117
 5.4 TRANSFORMAÇÕES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO CONTEXTO 
 EDUCACIONAL ............................................................................................................................. 118
 5.5 OS IMPACTOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO ENSINO SUPERIOR ....................... 121
 5.6 A EDUCAÇÃO NOS PAÍSES AUTORITÁRIOS: O COMUNISMO E O NAZI-
 FASCISMO ....................................................................................................................................... 121
 5.7 O EXEMPLO DA ESCOLA DE FRANKFURT ............................................................................ 123
 5.8 O EXEMPLO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO ..................................................................... 123
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 124
RESUMO DOhistórico possui mais arqueólogos históricos em 
atividade? 
PPF – Nos Estados Unidos, predominam os arqueólogos históricos voltados 
para o estudo do mundo moderno, a partir do século XV. Na Europa, são mais 
numerosos os estudiosos do mundo greco-romano. No Brasil, o período histórico 
mais estudado refere-se à época colonial, em parte pela valorização, por parte dos 
órgãos patrimoniais, dessa época, mas cresce muito o interesse por períodos mais 
recentes e pelas civilizações como a romana, a grega e a egípcia, também com 
pesquisas arqueológicas originais de brasileiros.
LDH – Qual a diferença entre um arqueólogo histórico e um historiador?
PPF – O historiador, em geral, estuda documentos escritos, enquanto o 
arqueólogo volta-se para o estudo de artefatos, edifícios, estátuas, inscrições, ossos, 
tudo o que é material e foi usado pelo ser humano. Essa diferença de objeto de 
pesquisa, contudo, não impede o diálogo, ao contrário. Todo arqueólogo histórico 
deve conhecer a documentação escrita e a historiografia sobre determinado tema, e 
isto facilita bastante o diálogo e a cooperação. Os historiadores interessam-se, cada 
vez mais, por aspectos da cultural material, mas falta uma maior ênfase na formação 
do historiador, no conhecimento de aspectos materiais da cultura. Contudo, nos 
últimos anos muitos departamentos de História passaram a incluir disciplinas de 
Arqueologia em seu currículo, com a respectiva contratação docente. O mesmo 
deverá ocorrer com os cursos de Arqueologia implantados no momento, o que 
facilitará a cooperação. “Nos últimos anos muitos departamentos de História passaram a 
incluir disciplinas de Arqueologia em seu currículo, com a respectiva contratação docente”.
TÓPICO 3 | IDADE MÉDIA: A PATRÍSTICA, A ESCOLÁSTICA E O NOMINALISMO
61
LDH – O que é o Grupo de Pesquisa Arqueologia Histórica? 
PPF – O Grupo de Pesquisa Arqueologia Histórica, sediado na Unicamp e 
liderado por mim e pelo professor André Leonardo Chevitarese (UFRJ e Unicamp), 
procura coordenar as atividades de pesquisa de diversos doutores, espalhados 
pelo Brasil, estudiosos da cultura material em sociedades com escrita. Destacam-
se os estudos sobre o mundo romano, mas também sobre a modernidade e os usos 
do passado.
LDH – Quais as universidades nacionais que mais ajudam na formação e 
pesquisa das atividades ligadas à arqueologia histórica?
PPF – Há pesquisas de arqueologia histórica e formação de quadros em 
diversas instituições, com destaque para a USP, UNICAMP, UFMG, PUCRS, 
UFPel, UFS, UFRJ, sendo as duas primeiras aquelas que mais formaram estudiosos 
da cultura material das sociedades com escrita. Nos últimos anos houve uma 
diversificação e interiorização dessa formação e, hoje, há oportunidades em muitas 
universidades, como UFMA, UFPR, entre outras.
LDH – No que a arqueologia pré-histórica difere, em termos de 
metodologia, da arqueologia histórica?
PPF – A arqueologia pré-histórica estuda sociedades sem escrita e, por 
isso mesmo, está muito atenta às discussões da Antropologia, da Etnologia e 
dos modelos antropológicos. Para estudar objetos sem ter informações escritas, 
o pré-historiador recorre aos modelos interpretativos e à analogia com povos 
contemporâneos, como os indígenas brasileiros. Já a arqueologia histórica não pode 
prescindir do conhecimento da informação das fontes escritas e da historiografia. 
Mas ambas têm em comum o estudo detalhado e atento da cultura material, dos 
objetos em sua concretude.
LDH – Qual a diferença entre a arqueologia histórica e a de conservação?
PPF – A conservação é uma atividade específica, ligada ao estudo da 
cultura material histórica, mas específica. A conservação e a restauração de 
edifícios são ações para as quais o arqueólogo histórico contribui, ao colaborar 
com os especialistas conservadores e restauradores. De todo modo, a experiência 
internacional e brasileira mostra que essa cooperação é importante, para que 
não se percam informações relevantes ao restaurar um edifício sem um estudo 
arqueológico prévio.
LDH – Qual é o futuro da arqueologia histórica no Brasil?
PPF – As perspectivas para a arqueologia histórica no Brasil são muito 
promissoras. Em poucos anos, a disciplina floresceu, formou quadros qualificados, 
publicou livros e artigos no Brasil e no estrangeiro. A inserção internacional dessas 
pesquisas também já ocorre. Tudo isso indica a vitalidade atual da disciplina e as 
62
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
possibilidades adiante. O mercado de trabalho tende a crescer, tanto na iniciativa 
privada como na área acadêmica. As oportunidades de pesquisa conjunta com 
instituições e pesquisadores estrangeiros, já existentes, tendem a aumentar e se 
diversificar.
Literatura Arqueológica
O professor Funari é autor e coautor de mais de 80 livros nas áreas de 
História e Arqueologia. Muitos deles tratam de várias facetas do setor, como 
patrimônio histórico e o turismo. 
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 5 out. 2016.
63
RESUMO DO TÓPICO 3
 Neste tópico vimos que:
• Bizâncio foi uma importante civilização medieval.
• Maomé foi o fundador da religião muçulmana, importante no contexto cultural 
da Idade Média.
• O movimento cenobita e as ordens mendicantes estruturaram os mosteiros e o 
modo de ensino medieval.
• As universidades surgiram por volta do século XII, sob o patrocínio da burguesia 
e da Igreja.
• A Patrística foi uma corrente teológica predominante na primeira metade da 
Idade Média e teve como principal expoente intelectual Santo Agostinho.
• A Escolástica foi uma corrente teológica surgida entre a Idade Média Central 
e a Baixa Idade Média, buscava conciliar a fé e a razão, tendo como principal 
teólogo São Tomás de Aquino.
• O Nominalismo foi uma corrente teológica do final da Idade Média e teve como 
principais nomes os teólogos Guilherme de Okham e Duns Scotto. 
• O denominado Renascimento Carolíngio foi um dos importantes momentos de 
fomento educacional na Idade Média.
• A Cavalaria era uma destinação de alguns dos filhos das famílias nobres.
• A Idade Média não merece a pecha de Idade das Trevas, pois foi um período 
rico em diversos campos das artes, letras e ciências.
64
1 Por que não devemos considerar a Idade Média como a Idade 
das Trevas?
AUTOATIVIDADE
2 Por que podemos considerar a Idade Média como o período de 
formação do modelo ocidental cristão de educação?
65
UNIDADE 2
ELEMENTOS DO CONTEXTO 
HISTÓRICO-FILOSÓFICO 
EDUCACIONAL MODERNO E 
CONTEMPORÂNEO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• reconhecer o contexto histórico e filosófico no qual os principais pensa-
dores da época renascentista e do Iluminismo formularam e defenderam 
suas ideias e teorias; 
• identificar o impacto de instituições como as corporações de ofício, univer-
sidades, o movimento da reforma religiosa, a formação do Estado laico e a 
Revolução Industrial ao contexto educacional;
• relacionar as principais concepções teórico-filosóficas e metodológicas que 
passaram a ser defendidas e legitimadas em meio à comunidade científica, 
nas instituições políticas e educacionais da época moderna;
• abordar as principais escolas e pensadores da educação do século XX, bem 
como o contexto político, econômico e sociocultural que propiciaram as 
condições para que as mesmas se desenvolvem.
Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles são feitas su-
gestões de filmes, sites, leituras para que você enriqueça seus conhecimentos, 
aprofunde e contextualize de forma mais completa e ampla seus estudos.
TÓPICO 1 – DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECI-
MENTO DO HUMANISMO MODERNO
TÓPICO 2 – A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCI-
DENTE CONTEMPORÂNEO
TÓPICO 3 – OS DESAFIOS EDUCACIONAIS NO CONTEXTO DA PÓS-
MODERNIDADE
66
67
TÓPICO 1
O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃOE O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO 
MODERNO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Os fundamentos do processo educativo no contexto 
histórico e filosófico que transcorreram entre o Renascimento e o Iluminismo 
podem ser compreendidos cronologicamente como baixa Idade Média, que 
transcorreu entre os anos finais do século XV e que se estendeu até os últimos anos 
do século XVIII. 
Algumas alterações e invenções ocorridas nos últimos 400 anos foram 
responsáveis por uma nova forma dos seres humanos viverem. Antes do século XV, 
vivíamos num mundo encravado, isto é, não havia trocas humanas e comerciais 
perenes entre os diversos continentes. Porém, no século XV, as viagens de Cristóvão 
Colombo, encontrando em sua rota o continente americano, e Vasco da Gama, 
achando um novo caminho marítimo para alcançar as Índias, são os reflexos de um 
mundo que se transformou, iniciando um processo de ocidentalização do mundo 
(CHAUNU, 1978). 
Em outras palavras, a partir do século XVI, os países da Europa Ocidental 
começaram a impor as suas formas de organização social para os demais povos 
da Terra, em um sistema de exploração colonial. Porém, outras transformações 
ocorreram também nos campos político, religioso, artístico e cultural. No campo 
político, tivemos o fim do Império Bizantino com a queda de Constantinopla 
em 1453, tomada pelos turcos otomanos, o que significou um avanço da religião 
islâmica nas fronteiras da Europa Ocidental.
 
No campo religioso, a Reforma Protestante, simbolizada pelos líderes 
Martinho Lutero e João Calvino, rompeu com a autoridade do papa em todos 
os países europeus, autoridade mantida apenas nos países da Europa no qual 
a Reforma não prosperou, como nas penínsulas ibérica e itálica. No tocante aos 
aspectos artísticos e culturais, o maior símbolo destes novos tempos no mundo 
ocidental foi o Renascimento artístico e cultural, que teve como principal local a 
Itália dos Bórgia e dos Médici, as principais famílias que patrocinavam as artes, o 
denominado mecenato artístico. 
A partir do movimento do Iluminismo, somado às transformações que 
ocorreram a partir do século XVIII, ou da chamada Idade Moderna, caracterizada 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
68
especialmente pelos eventos da Revolução Francesa e a Independência dos Estados 
Unidos da América e a Revolução Industrial, eis que se instaura uma nova forma 
de pensar a vida em comunidade e de produzir o saber. Agora a composição do 
Estado é laica, ou seja, ausente de integrantes do clero. A produção do conhecimento 
deixou de ser tutelada e financiada pela Igreja, posição que vai ser ocupada pelos 
grupos econômicos da burguesia, que vai favorecer que os estudos de cunho 
científico e não mais sobre os dogmas religiosos e as questões teológicas. 
Segundo Ghiraldelli Jr. (1999), a filosofia da educação moderna consistiu em 
uma aliança entre a filosofia do sujeito e a educação humanista, cuja preocupação 
residiu em que o processo educativo garantisse a formação do sujeito racional, 
autônomo e consciente, o que, por sua vez, foi forjado por meio de uma educação 
monológica, verticalizada e autoritária, que valorizava métodos e concepções 
teóricas frente à experiência e prática cotidiana.
Ao longo de mais de quase três séculos ocorreram muitas transformações 
do ponto de vista político, econômico, social e cultural, assim como no que diz 
respeito à mentalidade e ao imaginário, dos modos de viver, de morrer, de 
transformar e elaborar as matérias-primas, o transportar, negociar e consumir os 
produtos, de explicar os fenômenos da natureza e as questões da origem, sentido 
e da finitude humana.
No campo das ideias pode-se relacionar a invenção da imprensa e as práticas 
de leitura: Trovadorismo, Renascença, Reforma, Contrarreforma, a superação 
dos regimes de monarquia (antigo regime) pelos de repúblicas democráticas, 
os primeiros processos de independência de colônias de metrópoles (E.U.A), a 
Revolução Francesa, a Declaração dos Direitos Humanos, a laicização do Estado, a 
secularização da sociedade (enfraquecimento das explicações sagradas/religiosas), 
fortalecimento das ideias racionais, o princípio da dúvida, as investigações, os 
métodos científicos, a abordagem dialética, as concepções de tese, antítese e síntese.
No contexto filosófico registrou-se o recuo do pensamento escolástico e o 
avanço de um pensamento menos especulativo e contemplativo. A partir da época 
moderna, o campo filosófico dedicou-se às questões práticas e almejava aplicação 
em meio à sociedade daquele tempo, o que fez com que a teologia e a filosofia 
tradicional passassem a considerar outras áreas do conhecimento, tais como as 
ciências exatas e naturais. A partir da época moderna, os experimentos científicos, o 
uso de métodos, os processos de observação, a formulação de hipóteses e registros 
de deduções se fizeram cada vez mais presentes na produção do conhecimento, ou 
seja, prevaleceu a visão científica e mecanicista do mundo.
Caro acadêmico! Ao longo desta unidade de estudos ilustraremos 
e teceremos maiores definições e exemplificações sobre este quadro que foi 
brevemente apresentado. Prossiga na leitura com atenção e concentração.
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
69
2 O IMPACTO DAS GRANDES NAVEGAÇÕES E DA PRENSA 
DE GUTTENBERG NO CENÁRIO EDUCACIONAL, POLÍTICO E 
SOCIAL
Nas áreas técnicas e científicas ocorreram mudanças significativas, como no 
campo da navegação, o processo de manufatura e industrialização da produção, a 
substituição do trabalho servil pelo trabalho assalariado, a troca natural e escambo 
pelo comércio financeiro, a gradual migração para as cidades da população que 
residia no campo. 
Por outro lado, pertencem ao mesmo período as práticas de colonização 
por parte das nações europeias em regiões como a América, regiões ainda mais no 
interior da África e Ásia, que, por sua vez, forneceriam matérias-primas e artigos de 
luxo. Um dos processos de transformação do mundo ocidental durante a ruptura 
da Idade Média para a Idade Moderna foi o perene desenvolvimento de contatos 
entre os europeus e os povos americanos, africanos e asiáticos. Uma das razões 
apontadas seria a existência, no sul de Portugal, de uma escola de navegadores, a 
afamada “Escola de Sagres”. 
É atribuída ao infante português D. Henrique (1394-1460) a idealização da 
escola. Não se tratava de uma escola formal, foi uma escola que levava o lema 
de “O talento de bem-fazer”. No estaleiro de Lagos, região de Algarve, se dava 
a construção de embarcações. Toda vez que uma expedição era feita, relatórios 
e registros deveriam ser redigidos a fim de servir de referência a melhorias e 
ampliações ao que já existia em Sagres.
Chaunu (1978) apresenta que ocorreu forte especulação sobre a existência 
da Escola propriamente dita e cogitava-se que tal escola não tenha existido, pois 
acredita-se que as navegações foram possíveis pelo desenvolvimento empírico 
(experimental) dos navegadores. A ideia de escola, porém, pode ser compreendida 
de um modo amplo, isto é, um modo próprio dos portugueses em navegar pelos 
oceanos. 
As navegações ibéricas constituíram uma ação social que envolvia 
aprendizado constante entre aprendizes-marinheiros e mestres de navegação. 
Em geral, este aprendizado, na época, não era feito em uma escola de aprendizes-
marinheiros, mas sim no cotidiano de bordo em alto-mar. Além destes personagens, 
podemos destacar os cosmógrafos, autores dos mapas que representavam as 
descobertas marítimas.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
70
1492 - A Conquista do Paraíso. Ridley Scott, França/Espanha,1992.
Filme que retrata a era das grandes navegações, a corrida marítima entre Portugal e Espanha, 
os investimentos das cortes daqueles países na descoberta, conquista e exploração de novas 
terras. A produção ilustra, em especial, a trajetóriade Cristóvão Colombo, o contato com as 
populações no novo mundo e os choques e encontros culturais. 
Johannes Guttenberg, por volta dos anos de 1450, foi responsável pela 
invenção da imprensa, que superou os problemas que haviam até então para com 
as atividades de registro e comunicação de informações, documentos e demais 
conhecimentos. Gumbrecht (1998) explica que a invenção da prensa possibilitou a 
produção e a reprodução de livros em maior quantidade, em menor tempo, além 
de descentralizar esta tarefa que antes somente era feita por copistas, domínios 
que se resignavam no interior de mosteiros e igrejas.
 
Outras consequências podem ser deduzidas ainda, como a confecção das 
bíblias que foram utilizadas na difusão da Reforma Protestante, agora traduzidas 
e impressas fora dos domínios católicos. Por outro lado, logo a prensa foi utilizada 
na emissão de notas bancárias, cédulas, cartas de crédito, normas, leis, salvo-
condutos, entre outros.
A prensa de Guttenberg a que a história atribui o mérito principal, não só 
pela ideia dos tipos móveis, “a tipografia”, mas também pelo seu aperfeiçoamento, 
já era conhecida e utilizada para cunhar moedas, espremer uvas, fazer impressões 
em tecido e acetinar o papel. Pode ter sido na Casa da Moeda do arcebispo de 
Mogúncia, onde tanto o pai como o tio eram funcionários, que Gutenberg aprendeu 
a arte da precisão em trabalhos de metal. 
Nos primeiros documentos impressos e produzidos contam-se várias 
edições do “Donato” e bulas de indulgências concedidas pelo Papa Nicolau V. No 
início da década de 1450, Guttenberg iniciou a impressão da célebre Bíblia de 42 
linhas (em duas colunas), publicada cinco anos mais tarde. Das cerca de 300 cópias 
da Bíblia então produzidas, ainda existem cerca de 40.
Com a ocorrência de guerras, a imprensa se difundiu amplamente. O 
primeiro livro impresso por Guttenberg foi uma Bíblia em latim, em uma versão 
impressa da Vulgata de São Jerônimo, tradutor da Bíblia Católica ainda no século 
IV. Porém, não foram apenas livros religiosos que passaram a ser publicados. 
As possibilidades de se reproduzir diversos compêndios sobre as mais variadas 
questões, nos campos do Direito, da Teologia e da Medicina, eram incalculáveis. 
Outra questão importante que significou uma profunda alteração no modo do 
homem ocidental lidar com o conhecimento era relacionada à forma de se instruir. 
DICAS
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
71
A forma de as autoridades civis e eclesiásticas lidarem com os livros 
também foi sendo alterada. Isto porque a difusão de conhecimento proporcionada 
através dos livros poderia abalar os pilares ideológicos da sociedade ocidental. 
Instrumentos organizacionais de censura foram desenvolvidos nas diversas 
monarquias. Este órgão em Portugal tivera o nome de Mesa de Consciência e 
Ordens, e visava impedir a publicação ou circulação de livros subversivos à ordem 
pública tanto no reino quanto nas colônias. O Vaticano criou uma relação de livros 
que os fiéis não deveriam ler. O Índex papal era um dos símbolos máximos de 
intolerância do catolicismo em relação à liberdade de pensamento e fé. Liberdade 
esta que também não era presente nos países protestantes. 
A resposta da Igreja Católica diante do movimento de impressão de livros 
e compêndios fora de seu controle foi lançar mão de algumas estratégias de 
censura que visavam impedir a publicação e a circulação de livros considerados 
subversivos aos dogmas religiosos e à ordem pública. Uma das formas de controle 
foi a publicação do Index Librorum Prohibitorum (Índice de Livros Proibidos), 
mais conhecido como Index, lista expedida pelo Vaticano, pelo papa Paulo IV, no 
ano de 1559, em que constavam os livros considerados proibidos.
A lista foi modificada ao longo do tempo, mas já estiveram inscritas 
nela obras de pensadores e cientistas como Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, 
Giordano Bruno, Nicolau Maquiavel, Erasmo de Roterdã, Baruch de Espinosa, John 
Locke, Denis Diderot, Blaise Pascal, Thomas Hobbes, René Descartes, Rousseau, 
Montesquieu, entre outros escritores e romancistas. 
CURIOSIDADE: INDEX
O Index deixou de existir no ano de 1966, com o Papa João Paulo VI, mas até hoje é prática 
do Vaticano publicar uma notificação quando determinado livro fere os principais dogmas 
da instituição. Dentre as obras que recentemente foram notificadas pelo Vaticano tem-se os 
livros dos escritores Dan Brown e J. K. Rowling.
A título de síntese, cabe ressaltar que um dos principais benefícios que a 
imprensa trouxe foi a maior circulação de conhecimento através dos livros. Com 
isto, se processou, no Ocidente, uma alteração nas práticas de leitura. Pois, com os 
antigos pergaminhos, as leituras em geral eram feitas em voz alta, sendo o ato de 
ler uma ação comunitária. Com a imprensa, a ideia de uma leitura individualista 
ganhou corpo. Pois, em grande parte, o livro passou a ser lido de forma silenciosa. 
UNI
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
72
3 ELEMENTOS DO CONTEXTO FILOSÓFICO E CIENTÍFICO 
DA RENASCENÇA 
A Renascença corresponde ao momento histórico, intelectual e artístico que 
se desenrolou entre as épocas medieval e moderna. Alguns estudiosos estabelecem 
em termos cronológicos o período transcorrido entre os anos de 1300 e 1650. Como 
o nome já sugere, tratou-se do renascimento dos antigos valores e modelos de 
civilização que foram hegemônicos no passado, no passado da Grécia e Roma 
clássica. O retorno aos padrões da antiguidade clássica significa a invocação e 
valorização dos ideais do humanismo (Homem) e da natureza, em detrimento das 
concepções dogmáticas do teocentrismo, do divino e sobrenatural.
Corvisier (1976) explica que o teocentrismo almejava justificar pela vertente 
religiosa e divina as atividades e pesquisas científicas e eruditas ao longo da Idade 
Média. A nomenclatura de teocentrismo comporta a nominação de Theo, que 
significa Deus (Theo – em latim) era o centro de todas as preocupações intelectuais. 
A partir do renascimento, entre os séculos XIV-XVII, os intelectuais passaram a se 
preocupar com o entendimento cada vez mais natural do homem, como um ser, 
uma espécie da natureza. 
Foi neste período que as escolas filosóficas cada vez mais estabelecem 
suas teses e demarcam suas fronteiras, passando a exercer hegemonia em relação 
às demais vertentes do pensamento; em especial, o tomismo e a escolástica 
passam a ser criticados. No interior do pensamento religioso católico ocorria 
o enfraquecimento do domínio papal, e, se não bastasse, no seio da própria 
Igreja ocorriam divergências, como foi o caso dos impasses entre franciscanos e 
dominicanos.
Aquino (2013) aponta que na baixa Idade Média a filosofa aristotélica já 
se difundia em meio à Inglaterra, sendo que Roger Bacon (1214-1294) foi um dos 
primeiros a manifestar simpatia. Bacon defendia que teologia e conhecimento 
científico deveriam ser vistos como indissociáveis, e que, por sua vez, se fazia 
necessário demonstrar interesse sistemático, total e absoluto, observação direta 
da realidade, acompanhada de raciocínios, o que posteriormente possibilitou a 
formulação de métodos experimentais.
 Fatores históricos podem ser elencados como favorecedores deste cenário 
de mudanças no campo filosófico, tais como os impasses entre França e Inglaterra 
que foram levados a cabo por meio da Guerra dos Cem Anos, epidemias como a 
da peste bubônica e uma série de transformações políticas e econômicas, entre elas 
o renascimento comercial.
Os “homens do Renascimento” reuniam interesses e preocupações para 
com muitas áreas do conhecimento, tais como engenharias, astronomia, física, 
anatomia, artes, filosofia e política, ou seja, um indivíduo que percebia a natureza e 
a realidade e a procurava compreender e explicar pelo viés da interdisciplinaridade, 
por meio da associação de conhecimentos das mais diferentes áreas, a título de 
TÓPICO 1| O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
73
exemplo é possível citar o italiano Leonardo da Vinci, que atuou e deixou projetos 
na pintura, escultura, arquitetura, na engenharia, recursos de guerra, entre outros. 
Uma das condições para que o Renascimento ocorresse foi o fato da prática 
do mecenato. No caso italiano, o mecenato foi empreendido especialmente pela 
Igreja católica. A Igreja Católica Apostólica Romana foi responsável por patrocinar 
os artistas tais como Rafael, Leonardo da Vinci, Michelangelo, que produziram 
obras para a decoração e preenchimento dos espaços no interior das Igrejas, 
capelas, mosteiros e conventos em diversas cidades da Itália. Quando a hegemonia 
dos dogmas católicos foi contestada, os patrocinadores das artes foram a nobreza 
e a burguesia.
 
 Burg, Fronza e Silva (2013) explicam que entre os séculos XV e XVI surgiu 
uma nova espiritualidade e relação para com as coisas visíveis e não visíveis, os 
fenômenos da natureza e do espírito. Um dos estudiosos que se destacou nesta 
perspectiva do conhecimento e da ciência foi Giordano Bruno, que por meio do uso 
de um microscópio, conseguiu propor que o planeta terra possuía forma redonda. 
Porém, foi vítima da perseguição dos sensores da Igreja Católica, pois as teorias de 
Giordano Bruno, contestavam os dogmas católicos, e estes o julgaram no tribunal 
da Santa Inquisição e condenaram à morte na fogueira.
Nicolau Maquiavel foi outro grande nome do Renascimento italiano, foi 
responsável por escrever a obra O príncipe, que discorre sobre as maneiras mais 
adequadas pela qual um príncipe deve conduzir, administrar e manter o poder. 
Trata-se de uma obra que ultrapassou a época renascentista e seguiu ao longo da 
época moderna e contemporânea como um dos principais documentos acerta da 
política e governabilidade de estados laicos.
Entre as principais teses contidas na obra de Maquiavel encontra-se a de 
que um príncipe e/ou um governante devem estar atentos aos adversários, aos 
companheiros e aliados, pois estes sem distinção, possuem ambições pelo poder e 
facilmente podem conspirar contra o príncipe; uma guerra jamais deve ser adiada 
e que em nome dos fins, dos benefícios que são oferecidos, os meios não serão 
questionados, pois todos compreendem e perdoam os custos que possam ter 
exigido.
Aranha (1996) destaca também o francês Michel de Montaigne, que viveu 
ao longo do século XVI. Também é reconhecido como um dos grandes nomes do 
Renascimento. Em suas obras foi responsável por refletir sobre a natureza humana 
e deixou três escritos sobre os temas educacionais que são: da afeição dos pais 
pelos filhos, da pedantia e da educação das crianças. A autora relaciona também os 
escritos de Erasmo de Roterdã, que foi responsável por escrever Elogio da loucura 
e Manual do soldado cristão, obras em que exercitava seu pensamento crítico 
com relação à sociedade feudal. Fez críticas ferrenhas ao clero e às hierarquias no 
interior da Igreja, e advogava a favor dos valores humanistas, e na compreensão 
do homem não meramente como um pecador, mas como um ser em processo de 
conscientização e capaz de melhoramentos. 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
74
Curto (1993) explica que os estudos e escritos de Erasmo ganharam 
amplos alcances e adeptos. Martinho Lutero foi um dos leitores de Erasmo de 
Roterdã, mesmo tendo rompido com seu pensamento anos depois. Em Portugal, 
o pensamento de Roterdã se fez presente por meio de alguns intelectuais no 
Colégio das Artes em Coimbra, que sem demora foram descobertos e rapidamente 
foram censurados e expulsos do local. A substituição dos sacerdotes erasmistas 
foi procedida com sacerdotes oriundos da ordem jesuítica recém-criadas a fim de 
difundir os ideais religiosos católicos. 
Outro estudioso renascentista, amigo de Erasmo de Roterdã, foi Thomas 
Morus, intelectual inglês responsável por redigir a obra A utopia, na qual descrevia 
uma sociedade imaginária desprovida de desigualdades sociais. A partir de a 
A utopia foi possível designar como ‘utópicas’ ideologias, crenças, sociedades, 
correntes de pensamento que almejavam alcançar estágios de sociedade e posturas 
do ser humano diferentes dos registros históricos de guerra e das experiências 
de injustiça, ignorância, opressão e dominação. No caso específico da educação 
é possível reconhecer como utópicas as propostas educacionais que foram feitas 
pelos pensadores do século XVI, em que estava presente as concepções de virtude, 
bondade, justiça, equidade, liberdade, tolerância, amor e ética. 
3.1 AS UNIVERSIDADES, AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO, AS 
GRAMÁTICAS E O DECLÍNIO DO LATIM 
As universidades e as corporações de ofício revelam quanto o processo 
educativo medieval era estanque. Existia uma forte divisão entre o trabalho 
braçal e o trabalho mental, assim como uma forte divisão entre as classes sociais. 
Com as preceptorias ou nas antigas corporações de ofício, a relação de ensino-
aprendizagem era autoritária, pois de um lado tínhamos um personagem detentor 
do saber – o mestre – e de outro lado um receptor de instruções – o aprendiz. O 
exemplo cotidiano do mestre era a principal forma de o aprendiz poder aprender o 
seu ofício. Porém, com a imprensa, a relação de saber começou a ser alterada, pois 
os livros poderiam auxiliar os professores na tarefa educacional.
 
Teixeira (1977) explica que as corporações eram destinadas ao trabalho 
manual. As universidades, ao trabalho intelectual. Porém, estas duas instituições, 
separadas, se uniram em uma nova forma de pensar a universidade e a produção 
de conhecimento. Este processo de união entre o saber mecânico e o conhecimento 
acadêmico ocorreu no movimento intelectual conhecido como Renascimento. 
Na Renascença ocorreu o declínio do latim e o fortalecimento das línguas 
nacionais nas universidades e instituições governamentais dos países nascentes. 
Em grande parte, os países surgem do declínio da frágil unidade representada pelo 
Sacro Império Romano Germânico. Porém, as diversas regiões dos distintos países 
falavam diferentes dialetos. Por isso, o fato de se ter um único idioma nacional foi 
também uma disputa política entre as províncias. 
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
75
Burg, Fronza e Silva (2013) explicam que no final do século XV e meados do 
século XVI foram redigidas gramáticas significativas na Península Ibérica, como 
por exemplo a Gramática da Língua Castelhana, escrita por espanhol Antônio 
Nebrija, em 1492, e a Gramática da Língua Portuguesa escrita por Fernando 
Oliveira em 1536. A publicação e a difusão das gramáticas nacionais foram 
responsáveis pela retomada do ensino nas línguas nacionais, e por outro lado pelo 
desprestígio e detrimento do latim. Nos países protestantes, o declínio do latim foi 
também agravado pelas questões teológicas e dogmáticas. Como já explicamos, 
as alterações e influências religiosas no ensino ocorridas nos séculos XVI e XVII 
ocorreram devido às transformações nas diretrizes religiosas oriundas da Reforma 
Protestante.
 O latim foi a língua oficial do papado e de toda a ritualística católica 
enquanto a Igreja católica era hegemônica no campo das ideologias religiosas. O 
latim foi utilizado em cerimônias religiosas até o século XX, especialmente nos 
países católicos. No chamado Antigo Regime, era comum o chamado direito 
divino dos reis. Portanto, nos campos do direito e da administração, o latim se 
tornara um idioma ainda muito solicitado, especialmente com uso de conceitos e 
termos jurídicos e administrativos. 
TERMOS LATINOS 
Modus operandi: modo de operar, modo de proceder
Sine qua non: condição sem a qual, indispensável, essencial
Curriculum vitae: carreira de vida
In loco: no próprio local 
In natura: de acordo com a natureza
Status quo: situação das coisas, estado atual
Tabula rasa: falta de experiência.
Como pudemos estudar, o conceito de Renascimentoremete à ideia de 
retomada dos valores greco-romanos da época clássica, porém agora, no que 
diz respeito às línguas em que os conhecimentos eram ministrados, ocorreu a 
substituição do latim e do grego, tidas como línguas universais até então, pelas 
línguas dos países europeus emergentes da Idade Média, como o francês, o alemão, 
o inglês, entre outras. Assim, pode-se interpretar que ocorria todo um movimento 
político de valorização das línguas nacionais e que desabilitava a ideia de uma 
única língua que tendia ao internacionalismo como idioma e língua oficial.
DICAS
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
76
PARA REFLETIR:
Caro acadêmico! Nos tempos atuais, em meio à sociedade globalizada, 
observa-se o enfraquecimento das línguas nacionais e/ou regionais e, em 
contrapartida, o fortalecimento do idioma inglês como ferramenta de inclusão 
e acesso dos indivíduos à internacionalização; porém, em outras sociedades e 
épocas históricas o panorama se apresentava de forma diferente, outras línguas 
foram hegemônicas. No caso do latim, pode-se dizer que ele permanece presente 
no campo da teologia católica e do direito, que muito se utilizam ainda de 
expressões deste idioma.
3.2 IMPLICAÇÕES DA REFORMA PROTESTANTE E 
DA CONTRARREFORMA NO CAMPO RELIGIOSO E 
EDUCACIONAL
A Reforma Protestante foi um movimento religioso que ocorreu na Europa 
do século XVI. Para melhor compreendermos este evento ligado às questões da 
fé, devemos compreender o contexto social que possibilitou a alteração das ideias 
dos indivíduos em relação às suas crenças. As principais questões conjunturais 
ocorreram décadas anteriores. Trata-se da invenção da imprensa por Johannes 
Gutemberg, que permitiu uma maior circulação de livros, da queda do denominado 
Império Bizantino, conquistados pelos turcos otomanos, a conquista de Granada 
pela Espanha e a Descoberta da América, o que possibilitou aos europeus uma 
nova consciência em relação a sua presença no mundo. 
Como já apresentamos anteriormente, a imprensa foi inventada por 
Johannes Guttenberg, que desenvolveu uma máquina tipográfica que republicava 
diversas folhas impressas, não sendo assim mais necessárias as ações dos copistas 
medievais, que reproduziam os escritos com a sua caligrafia pessoal. Em um 
universo de mentalidade fortemente cristã é simbólico que o primeiro livro 
publicado por Guttenberg tenha sido justamente a bíblia. A impressão possibilitou 
uma maior e mais ágil circulação de informações na Europa da segunda metade 
do século XV. 
Assim, as formas pelas quais os europeus passaram a compreender o mundo 
estavam se alterando de forma rápida. Esta alteração das sensibilidades, porém, 
não foi acompanhada por uma profunda alteração na teologia da cristandade 
latina. No ocidente, grande parte do ensino ministrado pela Igreja continuava o 
mesmo que em séculos anteriores. Com isto, novas formas de teologia e filosofia, 
para além da escolástica e do nominalismo foram criadas ao longo dos séculos XVI 
e XVII. 
O evento principal a desencadear a Reforma foi a publicação, pelo monge 
agostiniano Martinho Lutero, de 95 teses, na qual ele criticou alguns postulados 
católicos romanos, em especial a venda de indulgências. O contexto para tal crítica 
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
77
se relaciona à visita de um representante papal aos territórios de língua alemã, 
Tetzel, que vendia o perdão dos pecados, a indulgência. Neste debate sobre a 
salvação das almas, se desencadeou um processo de profunda alteração da vida 
social, política e econômica de todo o mundo. 
Em relação à Reforma Protestante, temos alguns vetores explicativos. O 
mais popular, do lado católico, afirma ter sido a Reforma uma revolta cometida 
por um padre que desejava fugir do voto de celibato, causando grande desonra 
ao ocidente cristão. Por sua vez, explicações de senso comum, do lado protestante, 
afirma ter sido a Reforma uma ação comandada por um servo de Deus, Martinho 
Lutero, contra a corrupção e luxúria da igreja católica, cujo principal símbolo de 
degradação seria o Vaticano e sua vida suntuosa. Tais explicações de senso comum 
nos impedem de compreender as motivações da Reforma Protestante assim como 
da Reforma Católica ou Contrarreforma.
 
Um segundo vetor explicativo indica a Reforma como um processo que é 
explicado apenas pelo viés econômico e político da formação e fortalecimento de 
Estados Nacionais ao longo do século XVI. Tal vetor explicativo é frágil, pois os 
principais países envolvidos na Reforma e Contrarreforma, a Itália e a Alemanha, 
tiveram sua unidade política apenas quatro séculos após o movimento reformador. 
Portanto, a melhor compreensão da Reforma, segundo alguns especialistas 
católicos, como Jean Delumeau (DELUMEAU; 1989), ou protestantes, como 
Timothy George (GEORGE 1993), é compreendermos a teologia proposta pelos 
reformadores e suas consequências políticas, sociais e econômicas.
 
Quatro foram os principais reformadores. Martinho Lutero, João Calvino, 
Ulrico Zwinglio e Meno Simons. Duas foram as principais formas de relação 
com o Estado: a reforma Radical e a Reforma Magisterial. E quatro as famílias de 
igrejas que surgiram do movimento reformador: luteranos, anglicanos, calvinistas 
e batistas.
 FIGURA 17 - MARTINHO LUTERO FIGURA 18 - JOÃO CALVINO
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 13 fev. 2017.
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 13 fev. 2017. 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
78
 FIGURA 19 - ÚLRICO ZWINGLIO FIGURA 20 - MENO SIMONS
FONTE: Disponível em: . 
FONTE: Disponível em: . 
Acesso em: 13 fev. 2017.
Começando nossa narrativa pelos reformadores, Martinho Lutero foi 
o principal líder a iniciar o movimento. Sua principal proposição teológica está 
exposta no pequeno livro Da Liberdade Cristã (LUTERO, 2001). Nele, apontou 
as principais proposições teológicas seguidas pelas principais correntes do 
protestantismo. Infalibilidade da bíblia, sacerdócio de todos os crentes, justificação 
pela fé e salvação pela graça. Isto é, a bíblia, e não a tradição da igreja, deve ser o 
guia de fé dos fiéis, deste modo, todo o cristão é capaz de compreender a bíblia, e 
não somente os sacerdotes. 
A salvação é uma graça imerecida concedida por Deus, sendo impossível 
o homem chegar próximo a Deus se não tiver fé. Estes postulados teológicos são, 
até o presente, as principais características das doutrinas das igrejas protestantes 
ao redor do globo. Também todo o aspecto exterior da fé foi abolido, como as 
rezas decoradas, a intercessão pelos santos, a realização de jejuns periódicos e 
peregrinações a lugares santos, que não são presentes no protestantismo. 
João Calvino foi um reformador que atuou na França e na Suíça, mais 
especificamente na cidade de Genebra, da qual foi um dos principais líderes 
ao longo de sua vida. Calvino escreveu uma das principais obras da teologia 
protestante do século XVI, As Institutas da Religião Cristã. 
Sua principal formulação foi a denominada teologia da predestinação. 
Por ela Calvino afirmou que alguns cristãos foram escolhidos por Deus para a 
salvação, devido a Deus tudo conhecer. Deste modo, a graça irresistível de Deus 
seria a principal diferença entre os escolhidos e os rejeitados pela cólera divina. Em 
oposição à teologia de Calvino, no século XVII, surgiu o teólogo Jacob Armínio, 
para quem a predestinação não ocorreria do modo explicado por Calvino, pois 
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
79
Deus dotou o homem de livre-arbítrio. O debate entre calvinistas e arminianos se 
estende através dos séculos. 
Ulrico Zwinglio e Meno Simons são dois grandes nomes na formulaçãoda 
teologia protestante, porém, não tiveram o mesmo destaque que Lutero e Calvino. 
Zwinglio era suíço e foi contemporâneo de Lutero. Suas teologias eram próximas, 
porém discordaram no que tange à Ceia do Senhor, sendo a presença real de Cristo 
no pão e vinho da celebração litúrgica o ponto crucial do debate. 
Meno Simons era holandês e esteve vinculado ao movimento anabatista. 
Para os anabatistas, a principal discordância com Lutero e Calvino era em relação 
ao batismo de crianças, fato pelo qual os menonitas e demais grupos anabatistas 
discordavam, afirmando que apenas adultos poderiam ser batizados. Porém, a 
principal diferença entre os anabatistas e os demais reformadores estava vinculado 
à relação com o Estado.
A relação igreja Estado é fundamental para uma aprofundada compreensão 
da Reforma, pois o termo protestante foi cunhado na Dieta de Espira, em 1529, na 
qual os príncipes alemães protestaram à perseguição de Lutero. Assim, a relação 
igreja e Estado é importante para a compreensão da Reforma, que foi dividida em 
dois grandes grupos pelo erudito George Willians: reforma magisterial e reforma 
radical. Pela reforma magisterial se compreendem os reformadores que tinham 
apoio dos magistrados. Isto é, dos juízes e em grande parte dos príncipes. Neste 
grupo estão Lutero e Calvino. 
Para a reforma radical, cujo grupo mais simbólico foram os dos anabatistas, 
tivemos uma oposição radical ao Estado, sendo o grupo de reformadores radicais, 
liderados por Tomaz Munzer, responsável por ações violentas nos principados 
alemães, buscando efetivar o fim dos privilégios feudais. O movimento anabatista 
teve dura perseguição dos príncipes, que apoiados por Lutero, dizimaram a espada 
os radicais anabatistas. Mesmo Meno Simons, que vivia nos Países Baixos e era 
pacifista, sofreu forte perseguição. 
Além destes grupos, outro importante polo da Reforma Protestante foi a 
Grã-Bretanha. Nela tivemos o anglicanismo, o presbiterianismo, o metodismo e o 
denominado puritanismo. A fundação da Igreja Anglicana está ligada ao fato do 
rei inglês Henrique VIII desejar o divórcio de Catarina de Aragão, não autorizado 
pelo papado. Em grande parte, a Igreja Anglicana manteve os rituais próximos da 
igreja católica, com o diferencial dos padres contraírem matrimônio. 
Na Escócia, um líder religioso, John Nnox, coordenou a fundação da Igreja 
Presbiteriana, profundamente inspirada nos escritos de João Calvino. Entre os 
povos de língua inglesa se destacou um grupo especial, os puritanos, que devido 
à perseguição religiosa imigraram para os Estados Unidos da América. No século 
XVIII, no interior do anglicanismo, surgiu um grupo reformador liderado pelos 
irmãos John e Charles Wesley, que foram os inspiradores da igreja Metodista. 
Também da Inglaterra, um grupo de refugiados ingleses partiu para a Holanda 
em 1608, fundando a Igreja Batista.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
80
O movimento de reforma cristã teve um profundo impacto na história e na 
filosofia da educação. Isto porque a teologia da infalibilidade bíblica e do sacerdócio 
universal, além da ampla divulgação das sagradas escrituras gerou um impulso por 
alfabetização nos países europeus que aderiram à Reforma. Deste modo, Lutero 
afirmou ser dever do príncipe garantir a educação de todos os cidadãos. Com isto, 
a alfabetização das massas ganhou um grande impulso. Outro impulso ocorreu 
em relação ao ensino universitário, em especial nos países de língua inglesa. Pois, 
parte das principais universidades dos Estados Unidos da América, como o caso 
da prestigiada Universidade Harvard, surgiu como centro de estudos na área de 
teologia. Deste modo, os países de maioria protestante tiveram um maior capital 
cultural na disputa com os países que não passaram pelo movimento reformador. 
Contudo, a afirmação acima não implica afirmar que os povos de 
maioria católica não se preocuparam com as questões educacionais. Todavia, as 
preocupações eram teologicamente motivadas em um sentido oposto. Para melhor 
compreender a relação dos católicos com a educação, se faz necessário compreender 
o catolicismo que foi formulado no Concílio de Trento. 
A Igreja Católica Romana respondeu teologicamente às proposições dos 
reformadores. Em relação à proposição da infalibilidade da bíblia, os teólogos 
católicos apontaram que as escrituras deveriam ser interpretadas pelo magistério 
da igreja. Assim, não havia sentido em se traduzir a Vulgata de São Jerônimo (versão 
da bíblia católica) do latim para os idiomas nacionais. Em relação à salvação como 
fruto da graça mediante a fé, a igreja compreendeu que graça e fé deveriam ser 
acompanhadas de obras. Tal compreensão de vida de fé fora seguida de algumas 
reformas, como a instituição de seminários para a formação do clero, além do 
estabelecimento da primeira comunhão enquanto rito de iniciação da criança nas 
lides da fé. 
 
As principais articulações da relação entre fé e educação estavam ligadas às 
ordens religiosas, pois foram as ordens dos agostinianos, beneditinos, franciscanos, 
dominicanos e jesuítas as principais divulgadoras dos ideais religiosos católicos 
ao redor do mundo nos séculos subsequentes ao Concílio Tridentino, os jesuítas, 
ordem fundada por Santo Inácio de Loyola, com grande destaque na América 
Portuguesa, em especial na catequização dos Indígenas.
 A principal cidade brasileira, São Paulo, surgiu como um colégio jesuítico 
fundado para catequizar os indígenas. Não apenas na América Portuguesa os 
Jesuítas tiveram grande destaque na educação. Também grande parte da elite dos 
países europeus tivera educação jesuítica. Dentre estes, podemos nos lembrar que 
René Descartes foi aluno de escola jesuíta na França do século XVII (SEBE, 1982). 
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
81
FIGURA 21 - SANTO INÁCIO DE LOYOLA
FONTE: Disponível em: . Acesso 
em: 13 fev. 2017.
Ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII surgiram novas ordens religiosas 
na Europa. Algumas, como reformulação de antigas ordens, como os capuchinhos, 
reformadores da ordem franciscana, e os agostinianos recoletos, reformadoras da 
Ordem de Santo Agostinho. Também é deste período a Ordem do Oratório.
 
Entre os principais educadores católicos ligados à educação temos o nome 
de João Batista de Lassale. Sacerdote francês, que fundou escolas para alfabetizar 
crianças pobres, sendo considerado o padroeiro dos professores primários.
 
Em análise comparativa, tanto os países católicos quanto os países 
protestantes investiram em educação. A principal diferença está na ênfase. 
Enquanto países católicos investiram apenas na educação das elites, os países 
protestantes investiram em educação para todos os indivíduos. Com isto, o número 
de analfabetos entre os protestantes tendia a ser menor que dentre os católicos, 
com repercussões grandes no desenvolvimento social e político dos países. 
As disputas entre católicos e protestantes na Europa fora intensa ao 
longo dos séculos XVI e XVII. Estas disputas, porém, se tornaram menores com 
a denominada Pax de Wetsphalia, na qual encerraram as Guerras de Religião na 
Europa. Também as disputas entre católicos e protestantes foram questionadas 
pelo pensamento iluminista.
Caro acadêmico! No sentido de aprofundar os conteúdos e contextualizar 
a trajetória de Lutero enquanto reformador religioso, procure assistir ao filme que 
sugerimos a seguir:
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
82
SUGESTÃO DE FILME:
LUTERO. Eric Til. Estados Unidos: 2004. 124 min
Disponível em: . Acesso em: 2 out. 2016.
4 PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS E FILOSÓFICOS DA ÉPOCA 
MODERNA
Burg, Fronza e Silva (2013) explicam que mesmo diante de um quadro 
desanimador com relação ao acesso e a real democratização do ensino que 
perdurou até o século XIX, as transformaçõessociopolíticas ocorridas a partir do 
século XVI, forneceram as condições necessárias para que a escolaridade média da 
população fosse ampliada, uma vez que boa parte da população analfabeta, agora 
pode ter acesso à alfabetização. 
Durante os séculos XV a XVIII, a humanidade passou por uma verdadeira 
revolução do conhecimento, pois, em grande parte, os principais paradigmas 
que o homem do Ocidente medieval se utilizava como verdades absolutas foram 
desmentidos. Uma visão mítica do mundo se transformou de uma visão teocêntrica 
em uma visão antropocêntrica. Isto é, ao invés de enxergar a presença divina em 
todos os campos de atuação humana, os pensadores passaram a considerar apenas 
a razão como forma máxima de se alcançar a verdade dos fatos. 
Podemos afirmar que houve um primeiro momento pelo qual o homem 
ocidental passou a questionar as verdades estabelecidas pelos eruditos medievais. 
Durante os séculos XV e XVI, alguns eruditos questionaram algumas verdades 
cristalizadas. Podemos citar alguns homens que realizaram algumas façanhas. 
Harwey e Miguel Servetto foram estudiosos pioneiros da anatomia humana, ao 
dissecarem alguns cadáveres e descobrirem o processo de funcionamento da 
corrente sanguínea humana. Servetto foi perseguido na Espanha por suas crenças 
religiosas. Fugiu para Genebra, na Suíça, onde foi condenado à pena de morte por 
João Calvino, devido à sua crença antitrinitariana. Isto é, Servetto não acreditava 
na ideia de trindade. 
Nicolau Copérnico e Galileu Galilei afirmaram que a Terra era redonda. O 
que estes cientistas revelaram eram afirmações científicas contrárias às ideias de 
Lactâncio, erudito do século IV, para quem a Terra era plana. Com a Viagem de 
Circunavegação de Fernão de Magalhães, se teve uma comprovação empírica de 
que a Terra era uma esfera. 
Em relação à astronomia, um dos principais cientistas foi Kepler, autor da 
lei de gravitação dos planetas. Isto é, este astrônomo compreendeu que alguns 
planetas giram em torno de outros, formando elipses, e muitos dos diversos 
UNI
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
83
planetas das distintas galáxias giram em torno de diversas estrelas. Um exemplo 
é a Lua, que gira ao redor do planeta Terra, que por sua vez, assim como outros 
planetas, gravita ao redor do Sol, que por sua vez é uma estrela que irradia a luz 
que mantém a vida em nosso planeta. 
A ciência moderna se desenvolveu e consolidou ao longo dos séculos XVII, 
XVIII e XIX, tratou-se de um conhecimento obtido de forma natural, independente 
e desarticulado das dimensões sobrenaturais, mitológicas, mágicas e fantásticas da 
realidade. É quando se acentua o distanciamento entre o campo da fé, do espiritual, 
do religioso, do sagrado e do eterno (poder invisível) e o campo do temporal, do 
método, do racional, do profano e do leigo (poder visível).
A ciência acabou por se tornar uma ideologia dominante – o cientificismo, 
uma forma de saber superior, criada pelo positivismo no século XIX. A ciência 
resumia-se na busca pela verdade a qualquer custo, almejava extrair todos os 
segredos que houvesse na natureza, e para tanto deveria proceder a uma rigorosa 
observação empírica, lançando mão da imaginação, dos sentimentos e das emoções 
quando investigava tanto os seres da natureza como os fatos e acontecimentos 
humanos.
A obra que ocupa o posto de marco-fundante da ciência ocidental sem 
sombra de dúvidas foi o Discurso do método, redigida por René Descartes, que 
foi educado em um colégio jesuíta e foi membro oficial do exército francês. Nesta 
obra, o autor trata da forma como se deve proceder quando que se quer alcançar 
a verdade através dos recursos da razão. A obra de Descartes trata em especial 
de como o homem pode ser sujeito responsável pela resolução dos próprios 
problemas, agora sem precisar recorrer as explicações divinas e bíblicas. Discurso 
do método foi publicado no século XVII e até os dias atuais permanece como sendo 
a célebre obra do pensamento racional e científico ocidental. 
Caro acadêmico! No sentido de identificar de forma sistematizada o 
pensamento de René Descartes, observe com atenção o quadro a seguir:
QUADRO 1 - SÍNTESE DO PENSAMENTO DE RENÉ DESCARTES
OBRA PRINCÍPIOS
RENÉ DESCARTES 
(1596-1650)
DISCURSO SOBRE O MÉTODO
F R A G M E N TA R , F R A C I O N A R , 
PARTES, REDUZIR, DIVIDIR.
O MÉTODO
VERIFICAR: se existem evidências reais e 
indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada.
ANALISAR: dividir ao máximo as coisas, em suas 
unidades mais simples e estudar essas coisas mais 
simples.
SINTETIZAR: agrupar novamente as unidades 
estudadas em um todo verdadeiro.
ENUMERAR: as conclusões e princípios utilizados, 
a fim de manter a ordem do pensamento.
Fonte: Os autores
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
84
Talvez o principal personagem da Revolução Científica que a Idade Moderna 
vivenciou foi Isaac Newton. Assim como Miguel Servetto, Newton possuía profunda 
fé religiosa e era antitrinitariano. Seu principal livro sobre questões religiosas trata 
sobre as profecias de Daniel e do Apocalipse sobre o final dos tempos. Porém, não 
foram as suas reflexões teológicas as principais contribuições ao pensamento no 
Ocidente, mas sim suas reflexões sobre a natureza (CORVISIER, 1976). 
Uma das lendas sobre a descoberta da lei da gravidade indica que Newton 
estava debaixo de uma macieira e uma fruta madura havia caído sobre a sua cabeça. 
Este fato havia funcionado como um despertar para a elaboração de suas descobertas 
científicas: as leis da física. A palavra física significa em grego “natureza”. O que 
Newton observou foi que a natureza possui mecanismos que se repetem. A estes 
eventos repetitivos denominou lei. A lei da gravitação é uma das mais conhecidas, 
assim como a lei de ação e reação. 
Alguns movimentos sociais, políticos e religiosos foram responsáveis pela 
valorização da educação no mundo ocidental. Entre estes, já abordamos a Reforma 
Protestante. Outro movimento que motivou alterações sociais e educacionais foi o 
Iluminismo. De maneira geral, o Iluminismo, ou século das luzes ou da ilustração, 
foi um movimento intelectual e cultural do século XVIII, que almejava libertar o 
homem das crenças mitológicas e de toda herança dogmática da época medieval. 
Defendia os princípios da razão crítica, do progresso, da autonomia dos indivíduos 
e da liberdade de pensamento. 
O Iluminismo não foi uma invenção da sociedade de sua época propriamente 
dita, sustentava-se em bases teóricas que já haviam sido defendidas ainda na 
Antiguidade e também na época da Renascença, porém encontrou no século 
XVIII o melhor momento de alcance e amplitude. Dentre os principais intelectuais 
iluministas, podemos nos lembrar de alguns nomes, como Voltaire, Rousseau, 
Diderot, entre tantos outros pensadores. 
Abbagnano (2007) descreve que é possível entender o Iluminismo como 
uma linha filosófica que defende a razão como crítica e guia a todos os campos da 
experiência humana. Kant (1724-1804) defende que o Iluminismo contou com o 
empirismo como um grande aliado, ambos garantiram a abertura do domínio da 
ciência e, em geral, do conhecimento, que por sua vez favoreceu à crítica da razão, no 
sentido de que toda verdade poderia e deveria ser colocada à prova, e eventualmente 
modificada, corrigida ou abandonada.
Os fundamentos teóricos que favorecem a ancoragem do movimento 
do Iluminismo podem ser encontrados na física e sistematizados na obra de I. 
Newton (1643-1727), ‘Princípios matemáticos de filosofia natural, publicada em 
1687; nas pesquisas de Boyle (1627-1691), que encaminham a química como ciência 
positiva; na obra de Buffon (1707-1788) e de outros naturalistas, que assinalam 
as ciências biológicas como responsáveis por explicar as etapas fundamentais de 
desenvolvimento.
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
85
O empirismo foi oponto de partida e o pressuposto da filosofia defendida, 
por exemplo, por Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784) e D'Alembert (1717-
1783). A Enciclopédia continha o pensamento contrário aos privilégios que foram 
reclamados posteriormente na Revolução Francesa, defendia a felicidade ou o bem-
estar do gênero humano, alcançados e desfrutados através de práticas tolerantes e 
com fé no progresso. Estas noções enfraqueceram a ideia de fatalidade histórica que 
impedia qualquer iniciativa de transformação da realidade.
Em relação às questões ligadas à educação, podemos compreender que o 
autor que possuiu maior destaque dentre os filósofos iluministas foi Rousseau. Este 
destaque se deve ao seu principal livro relacionado à temática educacional, Emílio 
(GADOTTI, s.d., p. 87-89). Uma das principais teses defendida por Rousseau é a de 
que o homem nasce bom, porém o meio o corrompe. Esta ideia, a de que o homem 
nasce bom e é corrompido pelo meio foi uma das maiores influências do iluminismo 
para as ideias pedagógicas nos séculos posteriores. 
Isaac Newton, físico, matemático, filósofo e teólogo inglês, ficou amplamente 
conhecido com os três volumes de ‘Princípios matemáticos da filosofia natural’, nos quais 
constam as famosas Leis de Newton, que compõem os princípios da mecânica e de 
todo o pensamento moderno. As Leis de Newton contêm o princípio de ‘inércia’, 
em que todo corpo continua em seu estado (repouso ou movimento) a menos que 
seja forçado a mudar; o princípio de ‘dinâmica’, em que a mudança é proporcional 
à força atribuída; e o princípio de ‘ação e reação’, em que para toda ação há sempre 
uma reação oposta e em igual proporção.
Immanuel Kant (1724-1804) tem sua produção intelectual e filosófica 
denominada de filosofia crítica, idealismo transcendental, que tinha como finalidade 
estabelecer um método cognitivo e uma doutrina da experiência pelo uso da razão 
que suplantasse a metafísica racionalista dos séculos XVII e XVIII, que ele chamava 
de sono dogmático. Kant foi leitor de Isaac Newton (1643-1727), John Locke (1632-
1704), Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) e David Hume (1711-1776).
 
Nos estudos de Kant percebe-se o forte afastamento da noção de que a 
Providência divina representava um fator determinante da História, a ampla defesa 
da ideia de racionalidade e de télos (fim/alvo) e de progresso, de que, se há passos 
contínuos, conduziriam a humanidade à emancipação plena. A história, guiada pela 
razão, seria a fonte maior a partir da qual se alcançaria a liberdade e a perfeição 
humana. Estas intenções contagiariam a humanidade e se realizariam em escala 
universal. A ideia de uma história universal se realizaria na conjugação das forças 
do homem de posse e uso da razão apoiado nas disposições da natureza.
Martinazzo (2010) explica que para Kant o sujeito, por meio da educação, 
pode sair da menoridade na qual se encontra, e a educação seria a arte de transformar 
homens em homens. Pelo processo educativo o “homem torna-se homem” com 
capacidade reflexiva e autônoma para decidir com liberdade e sem depender 
de condições exteriores para tal. Segundo Kant, a educação deveria durar “até o 
momento em que a natureza determinou que o homem se governe a si mesmo” 
(KANT, 1999, p. 32).
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
86
A finalidade da educação moderna esteve centrada na construção de 
sujeitos livres, autônomos e responsáveis, com plena capacidade de poder escolher 
racionalmente os fins adequados e, de forma livre e consciente, submeter-se aos 
mesmos. Nas concepções modernas de educação, a busca da autonomia seria o 
objetivo máximo da educação, e esta deveria ser fundamentada na razão.
 
Um dos mitos criados ao redor dos cientistas dos séculos XVI, XVII e XVIII é 
que eles fossem ateístas. O que podemos observar nos seus escritos e nas suas ações 
sociais é que possuíam profunda fé em Deus e em geral eram cristãos convictos. 
A que por vezes se opuseram foi contra o obscurantismo das elites eclesiásticas, 
universitárias e políticas, que enxergavam nas descobertas do processo de 
funcionamento do corpo humano ou da natureza que os circundava uma oposição 
ou mesmo um risco ao poder que possuíam. 
Estas mesmas elites eclesiásticas eram capazes de condenar diversas pessoas 
à pena de morte por motivos fúteis, como se apresentou em muitos autos de fé da 
Santa Inquisição. Muitos outros homens e mulheres foram acusados de bruxarias ou 
de práticas diabólicas, mas se tratavam apenas de pessoas com pensamento distinto 
do que os dispositivos de poder ensinavam como correto. 
O contexto filosófico que diz respeito à época moderna compreende pouco 
mais de 200 anos, pode-se dizer que está circunscrito ao intervalo de tempo entre 
os séculos XVI e XVIII. Franciotti (2009) argumenta que as formulações filosóficas 
que foram propostas neste período acabaram de ultrapassar a cronologia e o 
próprio campo da filosofia, tais como ‘penso, logo existo’, de Descartes; ‘o homem 
é naturalmente bom, é a sociedade que o perverte’, proposta por Rousseau; e ‘o 
coração tem razões que a própria razão desconhece’, formulada por Pascal. 
No campo da compreensão e da postura do ser humano forja-se o conceito de 
subjetividade como dimensão epistêmica do sujeito, como uma forma de consciência, 
capaz de constituir as certezas, as verdades em todas as instâncias:
 A subjetividade pode ser descrita por meio de “formas de consciência”: 
o eu, a pessoa, o cidadão e o sujeito epistemológico. O eu é a identidade, 
formada das vivências psíquicas; é a forma de consciência mais singular, 
pois as vivências psíquicas são o que se tem de menos compartilhável. A 
pessoa é a consciência moral; é o sujeito como juiz do certo e do errado, 
do bem e do mal. O cidadão é a consciência política; o sujeito como o 
juiz dos direitos e deveres da vida na cidade. O sujeito epistemológico é a 
consciência intelectual. O sujeito como juiz do verdadeiro e do falso; o 
detentor da linguagem e do pensamento conceitual; trata-se da forma 
de consciência mais universal (GHIRALDELLI JR., 1999, p. 23). 
Entre os principais conceitos defendidos pelos pensadores modernos 
pode-se relacionar a razão matemática, na condição de proporção e da relação das 
grandezas entre si; a visão científica e mecanicista do mundo. Entre as preocupações 
dos pensadores da época moderna estava a ideia de como conhecemos as coisas, a 
realidade e o mundo; e, por sua vez, o limite das faculdades e sentidos humanos, 
que poderia ser sanado com o uso de métodos rigorosos e a razão no campo do 
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
87
raciocínio explicativo, que foram consolidados por meio das escolas filosóficas do 
empirismo e do racionalismo.
Observe no quadro a seguir como as duas escolas filosóficas que perpassaram 
o contexto educacional da época moderna podem ser sistematizadas: 
QUADRO 2 - SÍNTESE DAS PRINCIPAIS CORRENTES FILOSÓFICAS MODERNAS
PRINCÍPIOS PRINCIPAIS REPRESENTANTES
EMPIRISMO
(Sec. XVII e XVIII)
O conhecimento advém das experiências.
São consideradas as evidências, 
descobertas por meio de experiências.
Almejava resultados práticos, úteis e que 
pudessem ser aplicados no domínio da 
natureza.
John Locke
George Berkeley
David Hume 
Immanuel Kant
RACIONALISMO
(Sec. XVII e XVIII)
O raciocínio é a principal operação 
mental e o principal caminho à verdade.
Tudo que existe possui uma causa 
inteligível.
Privilegia a razão diante da experiência, 
e a dedução como o principal caminho 
das investigações filosóficas.
René Descartes
Baruch Spinoza
Gottfried Wilhelm Leibniz
Fonte: Os autores
Outra vertente dos pensadores foi a dos contratualistas, porém agora com 
preocupações mais específicas do campo jurídico, político e da organização da 
sociedade propriamente dita, no sentido de que a sociedade moderna, o Estado 
civil, as constituições, as leis, os contratos forneciam as condições necessáriasque garantiriam a vida pacífica, sem discórdia, em justiça e liberdade entre os 
indivíduos e as sociedades. Observe que a seguir procuramos relacionar de 
maneira esquemática o pensamento contratualista e quais foram os principais 
simpatizantes:
QUADRO 3 - SÍNTESE DO PENSAMENTO CONTRATUALISTA
PRINCÍPIOS PRINCIPAIS REPRESENTANTES
CONTRATUALISMO
(Séc. XVII e XVIII)
NATUREZA: guerra, violência, vitória do 
mais forte, incertezas e insegurança.
CONTRATO: fundamento do poder 
político e dos governos;
LEIS: capazes de garantir a liberdade 
e a justiça.
PACTO SOCIAL: reconhecimento dos 
governos, do conjunto das leis, e dos 
regimes políticos como fundamentais 
à vida em sociedade.
ESTADO CIVIL: reconhecimento de 
uma autoridade absoluta.
T. Hobbes
John Locke
Jean-J. Rousseau
Fonte: Os autores
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
88
Thomas Hobbes (1588-1679) parte do conceito do Direito natural (Jus 
naturalismo), cujo preceito ensina que todo homem tem direito à vida e ao que 
é necessário para mantê-la, também (principalmente) à liberdade. Para ele, todos 
são livres, ainda que uns sejam fracos e outros fortes. Um contrato social, conforme 
o Direito Romano, só tem validade se ambas as partes forem livres e iguais e, por 
vontade própria, consentem ao que está contratado, pactuado.
Para Hobbes, há três motivações intrínsecas no ser humano: a competição, 
a desconfiança e a glória (a vaidade). O estado natural de guerra é porque todos 
se imaginam poderosos, perseguidos e traídos, para tanto o Estado Civil moderno 
regulamentaria a vida, as regras do jogo/guerra e da liberdade, permitindo a todos 
condições iguais na competição.
Caro acadêmico! Os autores das duas correntes filosóficas modernas 
ainda serão analisados com maior profundidade ao longo desta unidade. Para 
potencializar seu conhecimento, esteja atento e reúna o maior número de elementos 
e argumentos possíveis sobre cada um deles.
4.1 ELEMENTOS DO CONTEXTO EDUCACIONAL MODERNO: 
A EDUCAÇÃO REALISTA DO SÉCULO XVII
Brug, Fronza e Silva (2013) explicam que a partir do século XVI, teólogos 
católicos e os protestantes, teceram profundos debates, todavia foi o momento 
em que os intelectuais idealistas entram no debate e passam a fundar escolas sob 
sua orientação educacional. O italiano Vitorino Feltre, em 1428, foi convidado a 
ministrar aulas junto à universidade de Veneza e Pádua, pelo príncipe de Mântua, 
na qual pode fundar uma escola e permanecer nela até o seu falecimento. 
Monroe (1979) descreve que Vitorino Feltre não chegou a deixar seus 
ideais educacionais e pedagógicos registrados, porém é reconhecido como um 
dos educadores renascentista pioneiros. Algumas das escolas que foram fundadas 
na época da renascença destinavam-se especialmente à nobreza e podiam ser 
encontradas nas cidades de Pádua, Veneza e Florença. Em outras regiões da 
Europa como a Alemanha, passaram a existir escolas infantis que eram tuteladas 
diretamente pelas cortes, leia-se: escola às elites; por outro lado ocorriam também 
os ginásios, cujo fundador foi João Sturn. 
 
A Idade Moderna foi o momento histórico de muitas transformações no que diz 
respeito ao cenário político, econômico, científico, intelectual e educacional. Em meio 
a este contexto as primeiras escolas de alfabetização e educação primária, que eram 
novidade no cenário educacional europeu, não passaram ilesas. As primeiras escolas, 
nas quais a maior parte da elite europeia se alfabetizou, contavam com preceptores, 
que supervisionavam, orientavam e acompanhavam as atividades escolares.
 
O século XVI no campo intelectual é conhecido como humanista-
renascentista, já no campo artístico é reconhecido como o período barroco, já no 
campo educacional se desenvolveu a tendência do realismo pedagógico. 
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
89
Caro acadêmico! Não se esqueça de que os pensadores do Renascimento 
foram chamados de ‘utópicos’, ou seja, que lançavam e almejavam teorias 
idealizadas e de difícil realização. Logo o século seguinte, o século XVII, foi de 
compensação pelo aspecto racional, metódico e realista, embasado pelo pensamento 
dos pesadores como John Locke, João Amós Comenius e Francis Fenelon. 
John Locke (1632-1704), filósofo e pensador britânico, preceptor dos 
filhos do conde de Shaftesburg, foi um estudioso que contribuiu na produção 
do conhecimento que pretendia superar a tradição medieval. Se destacou nas 
áreas da filosofia, da economia, política, religião e educação. Seus estudos se 
inserem no contexto histórico e filosófico do pensamento pedagógico moderno 
e seus pensamentos ganharam importância, pois foi o estudioso que defendeu 
o empirismo, ou seja, que acredita que o conhecimento seja consequência da 
experiência, que não existem ideias inatas, ou seja, ideias com as quais nós já 
nascemos; ao invés disso, propôs que o que sabemos aprende-se tudo pelo caminho 
da experiência. Criticou enfaticamente as ideias medievais, o descaso atribuído às 
línguas vernaculares e aos cálculos, e ênfase atribuída ao latim.
Na obra de quatro volumes ‘Ensaio sobre o entendimento humano’, pensamentos 
sobre a educação, apresentou a expressão latina pela qual ficou muito conhecido, 
que é a de tábula rasa, que procurava explicar que o ser humano nasce como um 
papel em branco e que vai sendo preenchido ao longo de sua vida. Foi defensor da 
separação de poderes entre Igreja e Estado, ou seja, defendeu o Estado laico. 
CONCEITO: ESTADO LAICO:
Casanova (1994) refere-se, histórica e normativamente, à emancipação do Estado e do 
ensino público dos poderes eclesiásticos e de toda referência e legitimação religiosa, à 
neutralidade confessional das instituições políticas e estatais, à autonomia dos poderes 
político e religioso, à neutralidade do Estado em matéria religiosa (ou a concessão de 
tratamento estatal isonômico às diferentes agremiações religiosas), à tolerância religiosa e 
às liberdades de consciência, de religião (incluindo a de escolher não ter religião) e de culto. 
Cambi (1999) explica que Locke teoriza sobre uma educação que se 
destinava tanto a homens como a mulheres e que tinha por objetivo endurecer, 
regular e moldar a delicadeza e os demasiados cuidados, que seria obtida por 
meio de uma espécie de “educação do corpo”, este entendido como um vaso de 
argila (como se exprime Locke), que impunha ajustes desde os modos de vestir, 
que deveriam parecer nem leves nem pesados, ao mesmo tempo a robustez e a 
possibilidade da vida "ao ar livre", válida tanto para os rapazes como para as 
moças” (CAMBI, 1999).
UNI
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
90
Para Locke, as capacidades e as competências do ser humano são inatas, 
mas o conhecimento e as habilidades são construídos. Defendendo estas ideias, 
colocava-se contrário às noções de dom artístico.
 
Para Locke, o pensamento e a memória humana consistem em uma espécie 
de tábula rasa a ser preenchida e o corpo como um vaso de argila, passível de 
moldagem. Os estudiosos apontam que seus estudos e teorizações no campo 
da educação destinam-se à Educação Física e recebe diversas críticas, pois seu 
pensamento sugeria uma espécie de controle e atos de mutilação com relação ao 
corpo com justificativa educativa.
QUADRO 4 - SÍNTESE DO PENSAMENTO DE JOHN LOCKE
OBRA PRINCÍPIOS
JOHN LOCKE
(1632-1704)
Ensaio sobre o entendimento 
humano (1690).
Alguns pensamentos sobre a 
educação (1693).
A conduta do entendimento (1706).
Homem: sujeito.
Natureza: fonte de conhecimento.
Conhecimento: por empirismo e 
experiência.
Verdade: processo histórico.
Fonte: Os autores
Francis Fenelon (1567-1622) foi um bispo católico francês. E, assim como 
Locke, trabalhou como preceptor de uma família nobre. No caso, Fenelon foi o 
responsável pela instrução de um dos netos de Luiz XIV, o “Rei Sol”. Seu destaque 
foi propor uma pedagogia para as mulheres.Como retrato da mentalidade da 
época, acreditava que as moças deveriam se dedicar a conhecimentos religiosos 
e morais, que as capacitassem para bem desenvolver suas funções sociais como 
esposas e mães de famílias. As escolas para mulheres foram desenvolvidas na 
França, sendo a de Saint-Cry um símbolo da educação feminina da monarquia 
francesa antes da Revolução Francesa (ARANHA, 2006).
 
Outro importante pensador presente na história da educação ocidental é o 
tcheco João Amós Comenius (1562-1670). Formado em Teologia, não conseguiu ser 
ordenado sacerdote devido aos problemas políticos oriundos na Europa durante 
a Guerra dos Trinta Anos, um dos conflitos militares oriundos das disputas 
territoriais entre príncipes católicos e protestantes.
 
As suas reflexões sobre educação são marcadas por sua perspicácia em 
relação ao amadurecimento dos seres humanos. Seus principais livros foram 
Pródomus da Pansofia, no qual propunha a organização e ampliação do acesso ao 
ensino como um modo de pôr fim às guerras. Em Porta aberta às línguas, propôs uma 
inovadora metodologia para o ensino do latim. Porém, sua principal contribuição 
para a tarefa educacional foi a Didática magna (1657) ou Grande didática. Comenius 
compreendia o homem e suas fases de desenvolvimento da seguinte forma:
Portanto, o que é inicialmente o homem? Uma massa informe e bruta. 
Depois, assume o contorno de um pequeno corpo, mas sem sentidos e 
movimento. A seguir, começa a movimentar-se e por força da natureza 
vem à luz; pouco a pouco manifestam-se os olhos, os ouvidos e os 
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
91
outros sentidos. Após um certo tempo manifesta-se o sentido interno, 
quando ele percebe que vê, ouve e sente. A seguir será manifestado 
o intelecto, apreendendo as diferenças entre as coisas; finalmente, a 
vontade, dirigindo-se a alguns objetos e fugindo de outros, assume papel 
de governante (COMENIUS, 1997, p. 44).
Para Comenius (1997, p. 58), “nossa mente não apreende só as coisas 
próximas, mas também aproxima de si as distantes (em lugar e tempo), alça-se 
às mais difíceis, indaga as ocultas, descobre as veladas, esforça-se por investigar 
também as imperscrutáveis: é algo infinito e sem limite”. Portanto, dedicou-se 
em formular um método universal que facilitaria o ensino do maior número de 
conteúdos e conhecimentos, ensinar tudo e a todos (Omnes Omnia Omnimo), em 
que os objetivos e os resultados seriam alcançados rápida e solidamente e de modo 
satisfatório, e que se destinaria a um amplo público de interessados. 
Criticava as formas enfadonhas e tortuosas de ensino e aprendizagem, 
bem como a especialidade e restrição a determinados saberes e ofícios, assim 
como as restrições de sexo (homens e mulheres), de classes sociais (agricultores, 
comerciantes, operários, administradores) e aos que apresentavam sinais de 
deficiências (mental e outras debilidades), que acompanhavam as instituições 
escolares da época. Enfatizava a necessidade de se subdividir o processo de ensino 
em níveis e graus mediante a faixa etária dos estudantes, bem como abordava 
questões de falta de interesse e motivação por parte dos estudantes. 
Para Comenius (1997), a educação deveria observar os seguintes preceitos: 
I. Começar cedo, antes da corrupção das inteligências. 
II. Fazer a devida preparação dos espíritos. 
III. Proceder às coisas gerais para as coisas particulares. 
IV. Proceder às coisas mais fáceis para as mais difíceis. 
V. Não sobrecarregar ninguém com demasiados trabalhos escolares.
VI. Proceder de forma lenta. 
VII. Não constranger os espíritos a fazer aquilo que não desejam, permitir que seja 
de forma espontânea, tendo em vista método e a idade ideal. 
VIII. Ensinar todas as coisas, colocando-as imediatamente sob os sentidos. 
IX. Dar ênfase à utilidade imediata dos conhecimentos.
X. Utilizar sempre com um só e o mesmo método.
XI. Prezar por um andamento suave e agradável das atividades.
Comenius defendia que se devia saber tudo, mas não nos aspectos 
superficiais e vulgares dos saberes, antes os fundamentos, os princípios, as razões 
e os objetivos dos principais conhecimentos da natureza e daqueles que o homem 
foi responsável. Para tanto, classificou as coisas em três naturezas: objetos de 
observação: o céu, Sol, Lua, as rochas, as estrelas, os fenômenos naturais, entre 
outros; objetos de imitação: a ordem que rege o mundo, a natureza e o homem; 
objetos de fruição: o não palpável, o metafísico, o imaterial, o divino, de natureza 
simbólica e espiritual.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
92
O que podemos compreender nestes pensadores realistas é a ideia da 
importância da educação para o desenvolvimento humano. Porém, não apenas do 
ponto de vista da utopia, do sonho de se viver em uma sociedade marcada pela 
perfeição. A ideia educacional principal era um pouco mais prática, uma noção 
da necessidade da educação na alteração de comportamentos e pensamentos no 
cotidiano dos discentes. Muito mais que um sonho de sociedade, os autores em 
análise tiveram em suas experiências pessoais a principal motivação para escrever 
seus livros.
 As experiências pessoais de Fenelon e Locke como preceptores os motivaram 
a pensar uma educação para as moças e de melhor qualidade. As dificuldades de 
vivenciar uma guerra motivaram Comenius a escrever sobre a paz universal. Estas 
são as razões principais de as reflexões destes intelectuais não serem teóricas, mas, 
sim, metodológicas. Isto é, o método de ensino, as faixas etárias apropriadas para 
o ensino de determinados conteúdos e quais os conteúdos a se ensinar foram os 
pontos principais das reflexões dos pedagogos seiscentistas. 
4.2 OS MANUAIS DE ETIQUETA E DE BONS COSTUMES 
Burg, Fronza e Silva (2013) explicam que os manuais de etiqueta, as dietas 
e cardápios variados e refinados representam uma novidade aos homens do 
Renascimento, mas a partir de então fazem parte das preocupações da vida pública 
e privada da sociedade ocidental até os dias atuais. Por meio das expressões, 
comportamentos e posturas nos momentos festivos, em meios aos baquetes e no 
cotidiano no interior dos palácios, as elites econômicas e políticas afirmavam-se 
por meio da demonstração de modos refinados, sofisticados e elegantes.
 
Elias (1993) explica que os autores renascentistas que já mencionamos antes 
nesta unidade, Leonardo da Vinci e Erasmo de Roterdã foram, além de outras 
coisas, já mencionadas anteriormente, autores de manuais de etiqueta e cardápios 
gastronômicos. Nos manuais constavam desde noções de como os nobres deveriam 
se portar e apresentar à mesa assim como cuidados higiênicos que deveriam ser 
observados no cotidiano. A título de exemplo tem-se que não era de bom tom 
escarar na mão direita e usar a mesma mão para pegar algum pedaço de carne. 
Neste contexto não se pode negligenciar a informação de que os artefatos de garfo 
e faca representavam utensílios raros, que muitas vezes eram objetos de disputas 
em heranças de pai para filho. 
Ribeiro (1990) explica que além das questões de etiqueta e bons costumes, 
havia também segregações e distinções sociais que eram obtidas pelas questões de 
honra, ou melhor pelas noções de status quo, ou seja, que se baseava na importância 
e no reconhecimento que a família obtinha em meio à sociedade. O status era 
obtido pela demonstração de boa apresentação nos bailes, cafés, museus e 
galerias, por meio do uso de trajes elegantes, perucas, vestidos e demais acessórios 
enobrecedores.
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
93
Burg, Fronza e Silva (2013) explicam que foi nas confrarias duelistas, que 
funcionavam nos castelos e palácios da nobreza, que as regras de etiqueta e bons 
costumes eram aprendidas; destinavam-se especialmente aos integrantes da elites 
e nobres praticantes de esgrima. Além das atividades de esgrima, a montaria 
representavaTÓPICO 2 ....................................................................................................................... 127
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 128
TÓPICO 3 – CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL 
CONTEMPORÂNEO ............................................................................................................................. 129
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 129
IX
2 A FILOSOFIA NO CONTEXTO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO .............................. 130
3 O CONTEXTO EDUCIONAL EM TEMPOS DE GLOBALIZAÇÃO: DO CÓDEX À TELA ...... 131
4 IMPLICAÇÕES DA PÓS-MODERNIDADE NO CONTEXTO EDUCACIONAL ................. 133
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 138
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 141
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 142
UNIDADE 3 – O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO 
BRASILEIRA ............................................................................................................................................ 143
TÓPICO 1 – CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO 
COLONIAL E IMPERIAL ..................................................................................................................... 145
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 145
2 O EXEMPLO DE PORTUGAL .......................................................................................................... 146
3 FUNDAMENTOS DO MODELO E MÉTODO JESUÍTICO DE ENSINO ............................... 150
4 FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO NA ÉPOCA 
IMPERIAL ................................................................................................................................................ 153
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 160
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 161
TÓPICO 2 – CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL NOS PRIMEIROS 
ANOS DA REPÚBLICA ........................................................................................................................ 163
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 163
2 ELEMENTOS EDUCACIONAIS DO BRASIL IMPÉRIO ........................................................... 164
 2.1 DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA APÓS OS ANOS DE 1930 .............................. 169
 2.2 O LEGADO DE ANÍSIO TEIXEIRA: O DEFENSOR DA ESCOLA NOVA NO BRASIL ..... 175
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 178
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 179
TÓPICO 3 – CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL DA SEGUNDA 
METADE DO SÉCULO XX ................................................................................................................... 181
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 181
2 A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL – LDB ................................ 181
3 ORGÃOS E INSTITUIÇÕES DE ENSINO NO BRASIL: O ENSINO MILITAR ................... 184
4 EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA ......................................................................................... 186
 4.1 MARGINALIZADOS E DESVALIDOS TUTELADOS PELO ESTADO .................................. 188
 4.2 O ENSINO TÉCNICO NO BRASIL .............................................................................................. 188
5 FUNDAMENTOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS E FILOSÓFICOS PRESENTES NOS 
PCN ............................................................................................................................................................ 191
 5.1 HISTÓRIA DA ÁFRICA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA: A LEI Nº 10.639, DE 2003 ..... 194
 5.2 AS POSSIBILIDADES DOS ESPAÇOS NÃO ESCOLARES ...................................................... 195
6 PRINCIPAIS PENSADORES DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA DO SÉCULO XX .................. 196
 6.1 PAULO FREIRE (1921- 1997) ......................................................................................................... 196
 6.2 RUBEM ALVES (1933-2014) ........................................................................................................... 200
 6.3 DERMEVAL SAVIANI (1943) ........................................................................................................ 201
 6.4 JOSÉ CARLOS LIBÂNEO (1945) .................................................................................................. 202
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................. 203
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 205
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 210
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 211
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 213
ANOTAÇÕES .......................................................................................................................................... 232
X
1
UNIDADE 1
DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À 
FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• ter elementos para a compreensão do processo de formação da educação 
nas sociedades sem escrita.
• relacionar a tradição greco-romana como uma das raízes da educação oci-
dental.
• compreender o processo de formação do sistema ocidental cristão de edu-
cação.
• avaliar diferentes formas de educação antes da invenção da imprensa.
Esta unidade está dividida em três tópicos, para facilitar a compreensão 
das temáticas abordadas. Ao final de cada tópico existem atividades que 
facilitarão a compreensão dos temas históricos abordados. 
TÓPICO 1 - A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O 
SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE 
TÓPICO 2 - O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES 
EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL
TÓPICO 3 - IDADE MÉDIA: PATRÍSTICA, ESCOLÁSTICA E 
NOMINALISMO
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS 
E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA 
ANTIGUIDADE
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico entraremos em contato com a formação dos primeiros tipos 
de modelos educacionais surgidos na humanidade. A educação tribal pode ser 
denominada também como educação difusa, pois nela não está presente a figura 
da instituição escolar. Também analisaremos a presença da educação e o seu 
desenvolvimento nas primeiras sociedades letradas da história humana, como 
os mesopotâmicos, egípcios, hebreus, fenícios e persas. Seguindo a cronologia, 
iniciaremos nossa narrativa contemplando a presença daoutra atividade, quem quisesse se distinguir deveria apresentar 
conhecimentos e demostrar habilidade.
Caro acadêmico! Observe com atenção o texto "Escolas Filosóficas: um 
panorama", escrito pelo professor Kevin Daniel dos Santos Leyser, pois contempla 
explicações sobre as correntes filosóficas que compõem a matriz do pensamento 
ocidental e o pano de fundo filosófico em que se desenvolveram os autores que já 
foram mencionados até aqui e que ainda serão mencionados ao longo das próximas 
unidades. Mas, para saber mais, prossiga na leitura.
LEITURA COMPLEMENTAR
ESCOLAS FILOSÓFICAS: UM PANORAMA
Kevin Daniel dos Santos Leyser
As escolas filosóficas podem ser sistematizadas em quatro correntes de 
pensamento, que são o idealismo, o realismo, o pragmatismo e o existencialismo. 
O idealismo e o realismo derivam dos pensamentos e escritos dos antigos filósofos 
gregos, Platão e Aristóteles, que por sua vez já foram discutidas na Unidade 1. 
As outras duas são mais contemporâneas, o pragmatismo e o existencialismo. No 
entanto, os educadores que compartilham um desses conjuntos distintos de crenças 
sobre a natureza da realidade atualmente aplicam cada uma dessas filosofias 
gerais em salas de aula. Vamos explorar cada uma dessas escolas metafísicas de 
pensamento:
1- Idealismo: é uma abordagem filosófica que tem como princípio central que as 
ideias são a única realidade verdadeira, a única coisa que vale a pena conhecer. 
Em busca da verdade, beleza e justiça que é duradoura e eterna, o foco está 
no raciocínio consciente na mente. Platão, pai do idealismo, abraçou esta visão 
cerca de 400 anos A.E.C., em seu famoso livro A República. Platão acreditava que 
havia dois mundos. O primeiro é o mundo espiritual ou mental, que é eterno, 
permanente, ordenado, regular e universal. Há também o mundo da aparência, 
o mundo experimentado através da visão, do toque, do cheiro, do gosto e do 
som, que está mudando, imperfeito e desordenado. Esta divisão é muitas vezes 
referida como a dualidade da mente e do corpo. Reagindo contra o que ele 
percebia como um foco excessivo na imediação do mundo físico e sensorial, 
Platão descreveu uma sociedade utópica na qual a educação para o corpo e a 
alma seria toda a beleza e perfeição da qual são capazes como um ideal. Em sua 
alegoria da caverna, as sombras do mundo sensorial devem ser superadas com 
a luz da razão ou da verdade universal. Para compreender a verdade, é preciso 
buscar o conhecimento e identificar-se com a Mente Absoluta. Platão também 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
94
acreditava que a alma está totalmente formada antes do nascimento e é perfeita 
e em harmonia com o Ser Universal. O processo de nascimento verifica essa 
perfeição, de modo que a educação exige que à consciência sejam trazidas ideias 
latentes (conceitos totalmente formados). 
No idealismo, o objetivo da educação é descobrir e desenvolver as 
habilidades e a excelência moral de cada indivíduo para melhor servir à sociedade. 
A ênfase curricular é assunto da mente: literatura, história, filosofia e religião. 
Os métodos de ensino centram-se no tratamento de ideias através de palestra, 
discussão e diálogo socrático (um método de ensino que utiliza o questionamento 
para ajudar os alunos a descobrir e clarificar o conhecimento). Introspecção, 
intuição, insight e lógica são usados para levar à consciência as formas ou conceitos 
que estão latentes na mente. O caráter é desenvolvido através da imitação de 
exemplos e heróis.
2- Realismo: Os realistas acreditam que a realidade existe independentemente 
da mente humana. A realidade última é o mundo dos objetos físicos. O foco 
desta perspectiva está no corpo/objetos. A verdade, portanto, é objetiva – aquilo 
que pode ser observado. Aristóteles, um estudante de Platão que rompeu com 
a filosofia idealista de seu mentor, é chamado o pai do realismo e do método 
científico. Nesta visão metafísica, o objetivo é compreender a realidade objetiva 
através do escrutínio diligente e imparcial de todos os dados observáveis. 
Aristóteles acreditava que, para compreender um objeto, sua forma última 
deveria ser entendida, aquilo que não mudava. Por exemplo, uma rosa existe 
se uma pessoa está ou não consciente dela. Uma rosa pode existir na mente 
sem estar fisicamente presente, mas em última análise, a rosa compartilha 
propriedades com todas as outras rosas e flores (sua forma), embora uma rosa 
pode ser vermelha e outra amarela. Aristóteles também foi o primeiro a ensinar 
a lógica como uma disciplina formal, a fim de ser capaz de raciocinar sobre 
eventos e aspectos físicos. O exercício do pensamento racional é visto como o fim 
último da humanidade. O currículo realista enfatiza o assunto do mundo físico, 
particularmente a ciência e a matemática. O professor organiza e apresenta o 
conteúdo sistematicamente dentro de uma disciplina, demonstrando o uso de 
critérios na tomada de decisões. Os métodos de ensino centram-se no domínio 
dos fatos e das competências básicas através da demonstração e da recitação. 
Os alunos também devem demonstrar a capacidade de pensar criticamente 
e cientificamente, usando observação e experimentação. O currículo deve ser 
abordado cientificamente, padronizado e baseado em disciplina distinta. O 
caráter é desenvolvido através da formação nas regras de conduta.
3- Pragmatismo (Experiencialismo): Para os pragmáticos, apenas as coisas que são 
experimentadas ou observadas são reais. Nesta filosofia americana do final do 
século XIX, o foco está na realidade da experiência. Ao contrário dos realistas 
e racionalistas, os pragmatistas acreditam que a realidade está em constante 
mudança e que aprendemos melhor através da aplicação de nossas experiências 
e pensamentos aos problemas, à medida que surgem. O universo é dinâmico e 
evolutivo, uma visão do mundo "tornando-se". Não há uma verdade absoluta 
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
95
e imutável, mas sim, a verdade é o que funciona. O pragmatismo deriva do 
ensinamento de Charles Sanders Peirce (1839-1914), que acreditava que o 
pensamento deve produzir ação, em vez de ficar na mente e levar à indecisão. 
John Dewey (1859-1952) aplicou a filosofia pragmatista em suas abordagens 
progressivas. Ele acreditava que os aprendizes deviam adaptar-se uns aos outros 
e ao seu ambiente. As escolas devem enfatizar o assunto da experiência social. 
Toda aprendizagem depende do contexto de lugar, tempo e circunstância. 
Diferentes grupos culturais e étnicos aprendem a trabalhar em cooperação e 
a contribuir para uma sociedade democrática. O objetivo final é a criação de 
uma nova ordem social. O desenvolvimento do caráter baseia-se na tomada de 
decisões de grupo à luz das consequências. 
Para os pragmatistas, os métodos de ensino se concentram na resolução 
de problemas práticos, experimentação e projetos, muitas vezes fazendo com 
que os alunos trabalhem em grupos. O currículo deve reunir as disciplinas para 
se concentrar na resolução de problemas de forma interdisciplinar. Ao invés de 
passar corpos de conhecimento organizados para novos alunos, os pragmatistas 
acreditam que os alunos devem aplicar seus conhecimentos a situações reais por 
meio de pesquisas experimentais. Isso prepara os alunos para a cidadania, vida 
diária e carreiras futuras.
4- Existencialismo: A natureza da realidade para os existencialistas é subjetiva e 
está dentro do indivíduo. O mundo físico não tem nenhum significado inerente 
fora da existência humana. A escolha individual e os padrões individuais em vez 
de padrões externos são centrais. A existência vem antes de qualquer definição 
do que somos. Nós nos definimos em relação a essa existência pelas escolhas 
que fazemos. Não devemos aceitar o sistema filosófico predeterminado de outra 
pessoa. Em vez disso, devemos assumir a responsabilidade de decidir quem 
somos. O foco é sobre a liberdade, o desenvolvimento de indivíduosautênticos, 
tal como fazemos o significado de nossas próprias vidas.
Existem várias orientações diferentes dentro da filosofia existencialista. 
Sören Kierkegaard (1813-1855), ministro e filósofo dinamarquês, é considerado 
o fundador do existencialismo. Sua orientação era cristã. Outro grupo de 
existencialistas, em grande parte europeu, acredita que devemos reconhecer a 
finitude de nossas vidas neste pequeno e frágil planeta, em vez de crer na salvação 
por meio de Deus. Nossa existência não é garantida em uma vida após a vida, 
então há tensão sobre a vida e a certeza da morte, da esperança ou do desespero. 
Ao contrário das abordagens europeias mais austeras onde o universo é visto 
como sem sentido quando confrontado com a certeza do fim da existência, os 
existencialistas americanos têm se concentrado mais no potencial humano e na 
busca de significado pessoal. O esclarecimento de valores é uma consequência 
desse movimento. Após o período sombrio da Segunda Guerra Mundial, o filósofo 
francês Jean-Paul Sartre sugeriu que, para a juventude, o momento existencial 
surge quando os jovens percebem pela primeira vez que a escolha é deles, que eles 
são responsáveis por si mesmos. Sua pergunta se transforma em "Quem sou eu e 
o que devo fazer?”
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
96
Em relação à educação, o tema das aulas existencialistas deve ser uma 
questão de escolha pessoal. Os professores veem o indivíduo como uma entidade 
dentro de um contexto social em que o aluno deve confrontar os pontos de vista 
dos outros para esclarecer o seu próprio. O desenvolvimento do caráter enfatiza 
a responsabilidade individual pelas decisões. Respostas reais vêm de dentro do 
indivíduo, não de autoridade externa. Examinar a vida através do pensamento 
autêntico envolve os alunos em experiências de aprendizagem genuínas. Os 
existencialistas se opõem a pensar nos alunos como objetos a serem medidos, 
rastreados ou padronizados. Esses educadores querem que a experiência 
educacional se concentre na criação de oportunidades para autodireção e 
autorrealização. Eles começam com o aluno, e não com o conteúdo do currículo.
Observe no quadro abaixo como estas escolas podem ser sistematizadas e 
quais foram os principais estudiosos que as seguiram:
ESCOLA 
FILOSÓFICA
IMPLICAÇÕES 
EDUCACIONAIS
O QUE 
DEVEMOS 
ENSINAR?
COMO 
DEVEMOS 
ENSINAR?
EXEMPLOS 
HISTÓRICOS
IDEALISMO
(Séc. V a.C; XVIII, 
XX)
Considera ideias 
ou conceitos como 
a essência de 
tudo o que vale a 
pena conhecer. O 
mundo espiritual 
é eterno e não está 
sujeito a mudanças 
porque é perfeito 
(metafísica). Ênfase 
no raciocínio, mas 
não na investigação 
científica.
O idealismo é 
centrado na ideia 
ao invés de no 
sujeito ou na 
criança porque o 
ideal, ou a ideia, 
é o fundamento 
de todas as 
coisas. O idealista 
acredita que a 
aprendizagem 
vem do interior 
do indivíduo, e 
não do exterior. 
Portanto, o 
verdadeiro 
crescimento 
mental e espiritual 
ocorre quando é 
autoiniciado.
As crenças 
educacionais dos 
idealistas incluem 
uma ênfase no 
estudo de ideias 
ou grandes obras 
que persistem ao 
longo do tempo. 
Eles também 
enfatizam a 
importância 
de grandes 
líderes para nós 
imitarmos. Para 
os idealistas, o 
professor é um 
modelo para o 
aluno.
Os idealistas 
enfatizam 
os métodos 
de leitura, 
discussão e 
imitação. Eles 
acreditam 
que pensar 
com clareza 
e precisão é 
fundamental 
para descobrir 
as grandes 
ideias que 
explicam o 
universo. Há 
uma ênfase em 
questões que 
despertam o 
pensamento.
· Platão
· Sócrates
· Immanuel 
Kant
· Jane Roland 
Martin
TÓPICO 1 | O DECLÍNIO DO PENSAMENTO CRISTÃO E O FORTALECIMENTO DO HUMANISMO MODERNO
97
REALISMO
(Séc. IV a.C. XVII e 
XIX)
Sustenta que 
a realidade, o 
conhecimento e 
o valor existem 
independentemente 
da mente humana. 
O realismo contrasta 
com o idealismo. 
Realistas endossam 
o uso dos sentidos 
e a investigação 
científica (razão) 
para encontrar a 
verdade no mundo 
físico.
Realistas 
reconhecem 
leis universais. 
Enfatizam a 
investigação e o 
desenvolvimento 
científico. O 
currículo realista 
irá utilizar testes 
padronizados, 
livros-textos e 
currículo em que 
as disciplinas são 
áreas separadas de 
investigação.
Os realistas 
acreditam que 
o objetivo final 
da educação 
é o avanço 
do raciocínio 
humano. O 
currículo 
seria centrado 
no sujeito e 
encorajaria o 
aprendizado 
através da 
observação e 
experimentação. 
Os professores 
teriam 
conhecimento 
extenso sobre um 
assunto.
Importância 
é colocada 
sobre o papel 
do professor. 
O professor 
apresenta 
conteúdo 
de forma 
sistemática e 
organizada. 
Os professores 
realistas 
enfatizam a 
importância 
das técnicas 
experimentais e 
observacionais. 
Os realistas 
sustentam testes 
cuidadosos do 
conhecimento 
dos alunos.
· Aristóteles
· John Locke
· Alfred North 
Whitehead
PRAGMATISMO
(Séc. XIX, XX, XXI)
Desenvolvido nos 
Estados Unidos 
no final de 1900. 
O pragmatismo 
enfatiza a evolução 
e a mudança ao 
invés do ser, a 
crença em um 
universo aberto 
que é dinâmico, 
em evolução e em 
estado de tornar-se.
Os pragmatistas 
acreditam que 
aprendemos 
melhor através da 
experiência, mas 
que a experiência 
muda tanto o 
aluno como 
o mundo. O 
professor ajuda os 
alunos a aprender 
a questionar o 
que é e a resolver 
problemas 
como ocorrem 
naturalmente. 
A abordagem é 
interdisciplinar e 
reúne disciplinas 
curriculares 
para resolver 
problemas.
Os pragmatistas 
favorecem a 
resolução de 
problemas através 
da interação com 
o ambiente de 
forma inteligente 
e reflexiva. 
Ensinar os alunos 
a usar métodos 
de investigação 
científica é uma 
alta prioridade.
Os pragmatistas 
enfatizam a 
aplicação de 
ideias de uso do 
conhecimento 
como 
instrumentos 
para a resolução 
de problemas 
(epistemologia). 
Os pragmatistas 
veem a escola 
como uma 
comunidade 
de aprendizes. 
Como o 
processo de 
resolução de 
problemas é 
mais importante 
do que ensinar 
assuntos 
específicos, 
o uso de 
problemas 
centrados no 
aluno como um 
foco de ensino é 
preferido.
· Charles 
Sanders Peirce
· William 
James
· John Dewey
· Richard 
Rorty
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
98
EXISTENCIALISMO
(Séc. XIX, XX e XXI)
Centra-se na 
importância do 
indivíduo em vez 
de nos padrões 
externos. A 
realidade nada mais 
é do que a existência 
vivida. Não há 
nada absoluto, nem 
mesmo a mudança. 
Não há princípio ou 
significado último.
A filosofia 
existencialista 
sustenta a 
importância de 
os seres humanos 
desenvolverem 
suas identidades 
pessoais e 
determinarem 
o que é e não 
é significativo 
e digno. Os 
existencialistas 
acreditam que a 
maioria das escolas 
são como símbolos 
corporativos que 
transformam 
os indivíduos 
em objetos a 
serem medidos, 
quantificados e 
processados.
Os existencialistas 
acreditam que a 
educação deve 
ser um processo 
centrado nos 
estudantes 
se tornarem 
autoatualizados. 
A discussão é 
encorajada, uma 
vez que todos 
estamos na 
mesma situação 
sem sentido, para 
que possamos 
aprender com as 
preocupações, 
perguntas e 
escolhas dos 
outros.
O estudante 
existencialista 
teria uma 
atitude 
questionadora 
e estaria 
envolvido em 
uma busca 
contínua pelo 
eu e pelas 
razões da 
existência. 
O professor 
existencialista 
iria oferecer 
projetos que 
incentivam 
os alunos a se 
tornarem o que 
eles próprios 
querem se 
tornar. O valor 
chave é que os 
seres humanos 
são livres para 
fazer escolhas 
(Axiologia).
· Jean-
Paul Sartre
· 
Friedrich 
Nietzsche
· 
Maxine 
Greene
99
RESUMO DO TÓPICO 1
Ao longo do Tópico 1, você estudou que:
• O renascimento consistiu na retomada dos valores e padrões estéticos, filosóficos 
e culturais da antiguidade clássica greco-romana, que por sua vez colocavam o 
homem no centro das preocupações.
• Entre os antecedentes que propiciaram as mudanças nos fundamentos do 
pensamento pedagógico ocorridasna época renascentista e moderna estão as 
invenções técnicas da prensa e da era das grandes navegações.
• A invenção da imprensa por Guttenberg impactou a cultura letrada, facilitando o 
acesso a livros e proporcionando melhorias nos campos educacionais, assim como a 
leitura individualizada e não mais intermediada e guiada por uma terceira pessoa. 
• As grandes navegações possibilitaram o contato com regiões, matérias-primas e 
culturas que até então não haviam sido exploradas e colonizadas.
• A Reforma Protestante estimulou a alfabetização da população europeia, bem como 
a tradução de documentos nas línguas regionais e que até então somente eram 
conhecidos nas línguas latinas e gregas.
• Os principais nomes da Reforma Protestante foram Martinho Lutero e João Calvino.
• A Contrarreforma, que foi empreendida pela Igreja Católica, prestigiou novas 
ordens religiosas ligadas à educação, como a Companhia de Jesus, a Ordem do 
Oratório e as iniciativas educacionais de Jean Batista de La Salle.
• Os intelectuais do século XVI pensavam a educação de um modo utópico, 
idealista; já os intelectuais do século XVII pensavam a educação de modo realista, 
demonstrando uma profunda preocupação metodológica.
• Entre os teóricos do realismo pedagógico estava Comenius, que com seus estudos 
e teorias almejava fornecer um método universal que facilitaria o ensino do maior 
número de conteúdos e conhecimentos, transmitidos de forma sólida e que 
alcançaria o maior número de pessoas possível.
• John Locke defendeu em seus estudos que o homem constitui um sujeito, que a 
natureza é fonte de conhecimento e que este deve ser adquirido por meio do 
empirismo e da experiência.
• René Descartes, enquanto cientista e estudioso, propunha que um método deveria 
ser seguido para obter a verdade na ciência, que, por sua vez, compreendia os 
passos de ‘verificar’, ‘analisar’, ‘sintetizar’ e ‘enumerar’.
100
AUTOATIVIDADE
1- De que maneira é possível associar a Reforma Protestante e o 
processo de alfabetização em massa de setores da população 
europeia? 
2- É correto afirmar que no contexto de transformações de 
mudança da sociedade feudal em sociedade moderna se deu a 
substituição dos discursos religiosos pelos científicos e racionais 
em meio às concepções e mentalidades e no imaginário da época; 
ao mesmo tempo, ocorreu o fenômeno de laicização do Estado. Quais foram 
as implicações da composição de Estado laico na formação dos governos? 
Analise as sentenças atribuindo V para as verdadeiras e F para as falsas: 
( ) A laicização consistiu na separação, emancipação política, institucional e 
jurídica entre religião (Igreja) e política (Estado).
( ) O Estado passou a atuar de forma neutra, como um juiz de fora, o que por 
sua vez não governa nem de forma favorável nem em prejuízo a qualquer 
tradição religiosa. 
( ) A laicização possibilitou a livre prática religiosa e de culto, e assim a prática 
da religião católica deixava de ser obrigatória nos espaços escolares.
( ) O processo de laicização do Estado consistiu na criação de feriados, festas 
e comemorações a partir da organização religiosa cristã.
 Agora assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
a) V – V – V – V.
b) V – F– V – V.
c) V – V – F – V.
d) V – V – V – F.
e) F – V – V – V.
101
TÓPICO 2
A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO 
NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
A ideia de Estado sem religião oficial se estruturou e legitimou a partir 
as revoluções liberais ocorridas ao longo do século XVIII. Burg, Fronza e Silva 
(2013) explicam que quando o fato de o Estado ser laico significa que Igreja 
não compõe mais o governo, outras esferas e instâncias da sociedade como a 
educação, permaneceram sob o controle e tutela da Igreja, o que mudou a partir 
da época moderna é que a Igreja não possuía mais o monopólio hegemônico 
sobre a educação. O que passa acontecer também é que as instituições religiosas 
precisavam se adaptar às exigências e normas do governo, que prescreviam os 
conteúdos mínimos que deveriam ser ministrados. Isso implicava que as escolas 
mesmo sendo confessionais deveriam ministrar os conteúdos de caráter científico, 
ou seja, escolas religiosas ensinar sobre a Teoria da Evolução das Espécies proposta 
por Charles Darwin. 
O século XVIII foi um dos principais períodos em que a sociedade humana 
viveu transformações profundas, verdadeiramente revolucionárias: o Iluminismo, 
uma revolução no campo das ideias; a Revolução Industrial, uma verdadeira 
transformação no campo da economia; a Revolução Francesa, uma transformação 
no campo da política; e a Revolução Americana, que simbolizou uma alteração na 
relação entre os países do mundo. 
A sociedade estamental e o antigo sistema colonial eram os dois principais 
pilares da dominação econômica e social. Por sua vez, a ideia de um direito divino 
dos reis em comandar a plebe, e os resquícios de dominação feudal, com a maioria 
da população vivendo nos campos, explicam quão revolucionários foram os eventos 
que estudaremos. Pois teremos, com a Revolução Francesa, o fim da Sociedade 
Estamental, com a Revolução Americana o fim do Antigo Sistema Colonial e, com 
o Iluminismo, o fim da legitimação divina do poder real. 
2 A SUPERAÇÃO DO ANTIGO REGIME E DO SISTEMA 
COLONIAL E AS IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO
Uma primeira importante revolução existiu no campo das ideias e 
a conhecemos por Iluminismo. Este influenciou a Revolução Francesa e a 
Independência dos Estados Unidos da América.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
102
Uma das principais revoluções sociais ocorreu quando os Estados Unidos 
da América se tornaram uma nação independente da Inglaterra. Tal revolução 
é explicada pelo fim do Antigo Sistema Colonial. Isto é, as colônias americanas 
deveriam ser submissas às metrópoles, sendo elas fornecedoras de lucros aos 
europeus. Com o exemplo norte-americano, as antigas colônias espanholas e 
portuguesas também se tornaram independentes das suas metrópoles, o que 
ocasionou uma grande consequência para a história da educação. Pois, estes 
Estados Nacionais que surgiram na América Latina tiveram de implantar um 
sistema nacional de educação. Pela primeira vez, as elites políticas ibero-americanas 
tiveram de se responsabilizar pela instrução de sua população. 
A Revolução Francesa teve incomensurável importância para 
compreendermos as transformações educacionais. A mesma se iniciou em 1789, 
quando da Queda da Bastilha, um símbolo do Antigo Regime Monárquico e 
termina quando Napoleão Bonaparte assume o poder francês e expande algumas 
das ideias revolucionárias para os demais países europeus. 
FILME
Um filme interessante sobre a Revolução Francesa é Darton – o processor da revolução. 
Estrelado pelo principal ator francês de sua geração, Gerard Depardieu, trata-se de uma 
visão sobre a revolução tendo como protagonistas seus principais e opostos líderes: Darton 
e Robespierre.
Uma das principais questões da Revolução Francesa que alterou a forma 
de organização social foi o fim do sistema estamental do Antigo Regime, no qual a 
sociedade era dividida em três estados. O primeiro, composto pelo clero, o segundo, 
pela nobreza e o terceiro, pelos demais membros da sociedade, independente da 
renda que possuíam. Mesmo que alguém fosse rico, teria menos direitos políticos 
e sociais que os membros dos estamentos superiores. A Revolução Francesa aboliu 
com este sistema de organização social, estabelecendo um processo de igualdade 
de todos os indivíduos perante a lei, o que ficou explicitado no Código Civil 
Napoleônico. 
O fato de todos os seres humanos serem considerados iguais foi uma 
revolução político-social de grande tamanho, com óbvios reflexos no campo 
educacional, pois todos teriam direito de ter acesso à educação formal, não apenas 
os que possuíssem dinheiro ou fossem membros da nobreza e clero. Deste modo, 
após a Revolução Francesa se observa a construção deuma sociedade na qual o 
acesso às carreiras de Estado, como o magistério, a justiça, as forças armadas e a 
diplomacia, é tido através de méritos educacionais, simbolizados nos concursos 
públicos. A Revolução observou grande importância à educação. Liderados por 
DICAS
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
103
Condorcet, os revolucionários estabeleceram comitês de educação pública. Após a 
Revolução, se observou o aumento da oferta de educação para todos os cidadãos, 
tanto na França quanto nos demais países do mundo. 
Uma das revoluções já citadas foi a Revolução Industrial. Iniciada na 
Inglaterra do século XVIII e originalmente ligada à indústria têxtil, a mesma se 
expandiu ao longo dos séculos XIX e XX aos demais países do mundo, açambarcando 
outras áreas da produção de objetos e máquinas, como a indústria metalúrgica, 
avançando no presente momento a áreas tecnológicas de extrema complexidade, 
como a informática e a nanotecnologia. A Revolução Industrial também possuiu 
fortes implicações educacionais. Isto porque ela acabou por alterar a vida cotidiana 
da maior parcela da população ocidental, pois, anteriormente, a mesma vivia 
majoritariamente no campo, tendo um contato direto com a natureza. Nestes tipos 
de comunidades rurais, a aprendizagem para o trabalho era mimética, ocorrendo 
em contato com os pais e demais parentes que ensinavam às crianças as lides rurais. 
As escolas, em geral ligadas às paróquias das igrejas, tinham como principal função 
ensinar a ler e escrever, além de instruir as quatro operações matemáticas básicas.
 
A Revolução Industrial modificou a estrutura educacional do ocidente, 
desde a pré-escola até o ensino de pós-graduação. Isto porque, antes da Revolução 
Industrial, a educação da elite era realizada por preceptores (professores 
particulares) em seu nível elementar, e nas universidades, ao longo do ensino 
superior. Porém, a educação das elites foi profundamente alterada, com a 
popularização de escolas elementares e colégios secundaristas. Ao mesmo tempo, 
a educação das massas também foi alterada, com a criação de institutos de ensino 
técnico, que visava à formação de mão de obra para as indústrias. A Revolução 
Industrial também criou empregos de classes médias ligados diretamente às 
fábricas, como técnicos industriais e engenheiros mecânicos. 
Como podemos observar, as denominadas revoluções atlânticas foram as 
principais propulsoras da alteração da relação do Estado Nacional com a educação, 
pois, tiveram o impacto de forçar aos países ofertar educação para todos os cidadãos, 
independente do credo religioso, posição social ou situação econômica. 
3 OS PRINCIPAIS INTELECTUAIS E O PENSAMENTO DOS 
EDUCADORES LEIGOS 
Com a implantação do Estado moderno se instaurou todo um contexto de 
políticas de fomento à popularização da arte e da cultura, que estas fossem de 
fácil assimilação, circulação e consumo, bem como democratizar os espaços de 
arte e cultura, museus, galerias, exposições, no sentido de aproximar o público dos 
artistas, os produtores dos consumidores, ou oportunizar que a arte e a cultura 
fossem de acesso ao maior número possível de indivíduos. Durante o século XVII, 
coleções de curiosidade, difundidas por toda a Europa, receberam espaços em 
museus, gabinetes ou câmaras de curiosidades. Nesses locais, que não pertenciam 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
104
mais somente à nobreza, encontravam-se quadros, esculturas, livros, instrumentos 
científicos, objetos vindos de terras que estavam sendo exploradas, peças do 
mundo natural, curiosidades em geral.
Um dos principais sinais do processo de laicidade da formação dos 
sistemas educacionais das diferentes nacionalidades foi a exclusão de intelectuais 
ligados diretamente a igrejas cristãs. Como afirmamos, temos a presença de 
intelectuais leigos, isto é, não sacerdotes, porém, muitos dos pensadores da 
educação nos séculos XIX e XX eram pessoas que tinham fé cristã. O fato de não 
serem sacerdotes possibilitou a eles uma maior liberdade, por poderem inovar 
em matéria educacional sem o perigo de sofrerem punições pelas hierarquias 
eclesiásticas das igrejas que professavam suas crenças. 
O princípio de uma divisão entre a Igreja e o Estado foi uma ampla 
tendência no século XIX, pois a religião, que no Antigo Regime deveria ser expressa 
publicamente pelos indivíduos, em rituais nos quais o poder político era legitimado 
pelos clérigos, deixou de ser uma obrigação social. Por sua vez, a educação, que era 
algo reservado à esfera privada e que não era considerada uma obrigação, passou 
a ser uma das preocupações dos dirigentes sociais. 
O amplo desenvolvimento das distintas ciências durante os novecentos 
possibilitou uma nova forma de pensar o ser humano e suas relações sociais. 
O evolucionismo, o socialismo, além do desenvolvimento da sociologia e da 
psicologia enquanto ciências, possibilitaram aos homens uma nova forma de 
pensar a realidade, uma nova sensibilidade em relação à infância e a possibilidade 
do desenvolvimento de uma ciência voltada ao progresso educacional dos 
indivíduos, materializada em escolas que seguiam novos conceitos educacionais. 
 
Podemos compreender o surgimento de intelectuais que trabalharam com 
temas educacionais como um indício da emergência histórica do laicismo, de uma 
separação radical entre as questões da fé e as questões da política. Os intelectuais 
a seguir citados não são gênios isolados, mas professores que souberam adequar a 
tarefa educacional aos desafios de suas épocas. 
Ao longo dos séculos XIX e XX, muitos intelectuais refletiram sobre as 
transformações que a sociedade estava passando. Alguns destes pensadores 
refletiram, sobre a importância da educação se adequar à nova sociedade que estava 
sendo formada após as grandes transformações simbolizadas pela Revolução 
Industrial e Francesa. Dentre os vários pensadores, neste momento, iremos destacar 
três que tiveram maior relevância nos últimos duzentos anos: Froebel, Pestalozzi e 
John Dewey (GADOTTI, s.d.). 
Froebel foi um dos importantes teóricos da educação moderna. As 
suas ideias tiveram reflexos até o presente no que se concebe sobre as políticas 
educacionais do ocidente. Froebel partiu do princípio que todo o ser humano nos 
primeiros anos de vida é uma semente, que deve ser regada e fortificada para 
poder crescer e ser um bom indivíduo. Por isso, ele foi o criador dos jardins de 
infância, as unidades de educação infantil no qual as crianças têm a possibilidade 
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
105
de serem socializadas protegidas pelos adultos, sem interferências do mundo 
externo, que poderiam ser a elas uma má influência. Assim, o jardim de infância 
é uma das principais ferramentas para a construção de um futuro melhor para 
toda a sociedade, ao proteger as crianças das influências maléficas e possibilitar a 
formação de pessoas com melhor saúde, caráter e inteligência. 
Outro importante intelectual da educação do século XIX foi Pestalozzi, 
educador suíço de grande destaque entre os intelectuais da educação. Uma 
importância da revolução que Pestalozzi produziu na história da pedagogia foi sua 
insistência em afirmar que mais importante que a acumulação de conhecimentos, a 
educação deve ser capaz de formar indivíduos de forte caráter. (ARANHA; 1996) 
O que hoje é um dado comum, porém, isto significou uma verdadeira revolução 
em sua época. 
 FIGURA 22 - FROEBEL PESTALOZZI 
JOHN DEWEY
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 13 fev. 2017.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
106
No Século XX, tivemos vários intelectuais de destaque que pensaram as 
questões educacionais.O destaque maior cabe ao estadunidense John Dewey. 
Este intelectual foi o formulador do denominado escolanovismo. Este movimento 
educacional tinha como uma das principais bandeiras o ensino integral. Isto é, 
em um momento da história humana na qual os pais e as mães faziam parte do 
mercado de trabalho, as crianças poderiam ficar o dia inteiro em escolas nas quais, 
além da educação formal, receberiam atenção de educadores que forneceriam 
alimentação, práticas esportivas e o contato com a tecnologia desenvolvida pelos 
homens. 
O escolanovismo teve uma preocupação justa com a qualidade da educação 
e sua popularização, mas também em utilizar dos inventos do século XX nas escolas, 
como o gramofone, o cinema e as projeções eletrônicas de imagens, como os slides. 
Isto é, ao invés de se ter a tecnologia como uma inimiga das tarefas pedagógicas 
cotidianas, os escolanovistas tiveram a percepção que estes inventos poderiam ser 
utilizados como aliados no ato de ensinar às novas gerações o conhecimento. 
John Dewey também se destacou como importante filósofo, ao propor uma 
nova forma de pensar a realidade, o denominado pragmatismo. Para os filósofos 
que seguem tal perspectiva de análise, as ideias deveriam ter sua relevância medida 
por sua possível utilização prática. Na atualidade, Richard Rorty é o principal 
seguidor no campo da filosofia das teorias pragmáticas. 
4 O EXEMPLO DE HEGEL
Georg W. Friedrich Hegel (1770-1831), filósofo alemão, foi influenciado 
pelas obras de Heráclito (353 a.C - 475 a.C), Espinoza (1632-1677), Kant (1724-
1804) e Rousseau (1712-1778), assim como pela Revolução Francesa e Napoleão 
Bonaparte. Dedicou-se aos estudos do Idealismo Absoluto, procurou investigar 
a relação entre mente e natureza, sujeito e objeto do conhecimento. Para tanto, 
empreendeu estudos em história, arte, religião e filosofia. 
Com a obra “Fenomenologia do espírito”, pretendeu mostrar que a ideia não 
é seguir o acumular do desenvolvimento histórico da humanidade na dimensão 
do tempo, mas de colher os momentos estratégicos, de vicissitudes e ideais 
que são responsáveis por conferir desenvolvimento ao espírito. Para Hegel, o 
desenvolvimento da realidade passa por três momentos fundamentais: o da ideia, 
o da natureza e o do espírito.
O espírito é o absoluto, o complemento de todas as coisas, o ponto extremo 
de síntese para a qual tende toda filosofia, ciência, religião e cultura. O espírito não 
é transcendente em relação ao mundo, mas constitui seu complemento interno e 
sua essência que é a liberdade. Para Hegel, o espírito subjetivo e o espírito objetivo 
são a via pela qual se vai elaborando o espírito absoluto, cujas formas são a arte, a 
religião e a filosofia. 
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
107
Hegel apresenta também a unidade dos opostos, como princípio fundador 
de uma nova lógica, no sentido de que esta é imanente, de modo que aquilo que 
é real deve ser caracterizado pela unidade dos opostos. Para Hegel, o homem se 
apresenta como um animal que não tem uma natureza determinada, mas que se 
forma incessantemente. Seguindo este raciocínio, a história do passado não é capaz 
de ensinar alguma coisa de útil ao momento presente, o que coloca Hegel distante 
da doutrina “Historia magistra vitae”, que foi proposta desde os historiadores da 
época antiga, como Heródoto, Tucídides e Cícero.
A história apresenta uma racionalidade própria, mas não deve apresentar 
uma tendência na direção de um telos (fim, alvo) específico. Para Hegel, os ‘meios’ 
são mais importantes que os ‘fins’; ou seja, o navio, o automóvel e o trem são 
mais importantes do que alcançar e chegar do outro lado do oceano, na cidade, e 
qualquer destino traçado. Uma vez que se conta com tais recursos, pode-se trilhar 
novos caminhos, percorrer outras distâncias, chegar a diferentes lugares.
A grande tese de Hegel reside na defesa de que o finalismo “ad usum 
hominis” (para uso humano) não existe na natureza e, que quando existe na história, 
não é por virtude da Divina Providência, mas unicamente pelos feitos das ações 
humanas. E o fato de propor a relação de prioridade dos meios diante dos fins 
distanciava-se do pensamento que havia sido proposto desde Maquiavel (1469-
1527), Voltaire (1694-1778) até Herder (1744-1803).
Para Hegel, a racionalidade está por trás de tudo no mundo e a filosofia 
tem o poder de compreender a racionalidade da história. O pensamento capta 
a racionalidade, mas substitui a noção de progresso linear por uma filosofia da 
contradição, da dialética. O percurso dialético que resulta disso pressupõe uma 
visão unitária e uma síntese do espírito por meio de suas múltiplas concretizações.
5 O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DE 
DESENVOLVIMENTO DAS CIÊNCIAS E DISCIPLINAS 
AUXILIARES
A partir da época moderna, a ciência alcançou uma autonomia e 
emancipação nunca observadas em outros tempos históricos. As revelações, 
verdades e metáforas religiosas, ou de senso comum ou mitologias e folclores que 
desfrutavam de prestígio e autoridade no interior das sociedades, passam a ser 
abordadas a partir do princípio da dúvida, do questionamento e das hipóteses 
formuladas no campo da ciência e da racionalidade.
O percurso metodológico foi instaurado como o único procedimento 
básico para alcançar a verdade, ou seja, o caminho do laboratório, da observação, 
da análise, da descrição, da dedução, da comparação, da interpretação, da síntese, 
da antítese e da tese seria o garantidor da veracidade dos novos conhecimentos 
que estavam sendo produzidos.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
108
Os testes, os experimentos, tratamentos e medicamentos preventivos, 
simulações, supervisionamentos, monitoramento, o isolamento e o controle em 
laboratório, as cirurgias, as amputações, as incisões, as transfusões, as combinações, 
os enxertos, os hibridismos, a criação de ambientes artificiais, as induções, o uso 
de paliativos, isto tudo foi possível a partir da ciência moderna e possibilitou a 
verificação específica, profunda e restrita tanto de objetos, fatos e fenômenos.
 
Como resultado deste cenário, obtiveram-se as descobertas e as invenções 
do termômetro clínico, lentes de A. Fresnel (1788-1827), a anestesia, a teoria da 
evolução das espécies de Charles Darwin (1808-1882), teoria microbiana de L. 
Pasteur (1822-1895) e P. V. Gautier (1846-1908), teoria atômica de J. Dalton (1766-
1844), e a teoria psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939).
As interpretações estatísticas e demográficas foram responsáveis por 
servir de base de dados e desencadear ações e práticas aos estados em termos de 
saneamento básico, como oferecer água encanada, canalização de esgotos, controle 
de epidemias e doenças, construção de hospitais, laboratórios, escolas, orfanatos, 
asilos, cemitérios, entre outros.
O desenvolvimento de ciências auxiliares para a educação foi um dos sinais 
que ganhou importância e prestígio social, em especial no final do século XIX e 
na primeira metade do século XX. Duas delas são de importância incalculável 
para o desenvolvimento de melhores formas de educar os jovens: a sociologia e a 
psicologia da educação.
 
O termo “ciências auxiliares”, por vezes, é criticado, pois alguns autores 
observam que existe uma multiplicidade de temas educacionais e que somente uma 
abordagem interdisciplinar poderia realmente ser capaz de vencer os diferentes 
desafios da educação na contemporaneidade. Todavia, o que se pretende ao ainda 
utilizarmos o conceito “ciências auxiliares”, é observar a importância da educação 
como forma de estudo para diferentes áreas das ciências humanas e sociais. 
5.1 SOCIOLOGIA: A CIÊNCIA DA SOCIEDADE
O surgimento da sociologia enquanto ciência ocorreu no século XIX. Augusto 
Comte, formulador da filosofia positivista, foi o autor da ideia de uma nova ciência 
de estudar a sociedade, o “sócio-logos”, que em sua origem etimológica define sua 
função, pois logos,no grego, quer dizer justamente conhecimento, estudo ou ciência 
sobre algum tema. Todavia, os estudiosos reconhecem três grandes fundadores da 
sua especialidade: Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim.
 
Augusto Comte (1798-1857) foi politécnico organizador, bem como hostil ao 
pensamento socialista/marxista e de quem fosse inimigo da propriedade privada. 
Possuía como objetivo fundar uma ciência social, que deveria ser chamada de 
física social ou sociologia. No pensamento de Comte, somente com a síntese das 
ciências e com a criação de uma política positiva se daria conta de analisar conflitos 
e as contradições sociais e propor reformas e soluções.
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
109
O principal ponto de partida residia no próprio século XIX, que almejava 
superar a tradição teológica e favorecer a transição a uma sociedade científica 
e industrial. Os principais temas que interessaram a Comte foram a filosofia da 
História, a classificação das ciências e física social ou sociológica. Para tanto, 
escreveu as obras Curso de filosofia positiva – seis volumes (1830-1842), Discurso 
preliminar sobre o espírito positivo (1844) e Sistema de política positiva – quatro volumes 
(1851-1854).
Comte defendeu a lei dos três estados os quais o espírito humano percorre 
em seus estágios de desenvolvimento: estado teológico ou fictício (fenômenos 
sobrenaturais); estado metafísico ou abstrato (fenômenos da natureza); e o estado 
científico ou positivo (fatos e leis que determinavam a realidade): maneira de 
pensar positiva. Vamos analisar com mais detalhes como funcionava a filosofia 
histórica das ‘leis dos três estados’ que Comte formulou e procurou explicar.
O conhecimento positivo se caracterizou pela previsibilidade; o “ver para 
prever” que funcionou como lema da ciência positiva. A previsibilidade científica 
permitiria o desenvolvimento da técnica e, assim, o Estado corresponderia ao pleno 
desenvolvimento industrial, no sentido de exploração da matéria-prima (recursos 
naturais) e do trabalho do homem. Neste estado, Comte determinou que o poder 
do conhecimento passaria para os sábios e cientistas e o poder material para as 
indústrias e os industriais, configurando assim o desenvolvimento científico e 
tecnológico.
No pensamento positivista de Comte, a civilização material só poderia 
se desenvolver se cada geração produzisse mais do que o necessário para sua 
sobrevivência, transmitindo assim à geração seguinte um estoque de riqueza maior 
do que o recebido da geração anterior.
Comte foi um organizador que desejava manter a propriedade privada e 
transformar seu sentido, para que, embora exercida por alguns indivíduos, tivesse 
também uma função social (catolicismo social).
Para Comte, as ciências libertavam o espírito humano da tutela exercida 
sobre ele pela teologia e pela metafísica, e que a partir de então tendia a se prolongar 
indefinidamente. Consideradas no presente, elas deveriam servir, seja pelos seus 
métodos, seja por seus resultados gerais, para determinar a reorganização das 
teorias sociais. Consideradas no futuro, constituiriam a base espiritual permanente 
da ordem social, enquanto durar a atividade da nossa espécie no planeta.
Karl Marx (1818-1883) foi um dos mais influentes pensadores surgidos 
no século XIX, a ponto de surgir um Estado nacional, a União Soviética, que foi 
desenvolvida em torno de suas ideias. A principal obra de Marx foi o livro "O 
capital", no qual demonstrou o desenvolvimento da economia capitalista. Outro 
livro importante foi o "Manifesto do Partido Comunista", no qual revelou seu ideal 
de sociedade, no qual as diferenças entre as classes sociais não mais iriam existir.
 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
110
O marxismo inspirou grandes pedagogos em diversos lugares no mundo. 
No caso específico do Brasil, podemos citar os nomes de Paulo Freire e Darcy 
Ribeiro, como profissionais da educação influenciados pelo ideal do denominado 
materialismo dialético. A principal ideia de Marx é que a história humana se 
transforma através da luta de classes. No tocante à educação, a ideia de que a 
educação escolar nos países capitalistas está a serviço do poder político-econômico 
foi a grande denúncia marxista em relação à área educacional (GADOTTI, s.d). 
O centro do pensamento de Karl Marx reside em compreender e denunciar 
as contradições do regime capitalista. As principais influências teóricas de Marx 
são as do idealismo alemão de Hegel e seus seguidores, os estudos de economia 
política inglesa feitos por Adam Smith (1723-1790), Jean-Baptiste Say (1767-1832) 
e David Ricardo (1772-1823), o socialismo utópico francês representado por Saint 
Simon (1760-1825), Jean-Baptiste Fourier (1768-1823) e Robert Owen (1771-1858).
Quando Marx entra na universidade, o universo acadêmico e científico 
da época era dominando pelas ideias de Hegel. Foi da tese de Hegel de que “a 
consciência é que determina a existência”, que Marx retirou a sua principal chave 
de entendimento e explicação do seu momento histórico, mas agora, com Marx, na 
perspectiva inversa, a de que é “a existência que determina a consciência”.
Para Hegel, a racionalidade está por trás de tudo no mundo e a filosofia tem 
o poder de compreender a racionalidade da história, ou seja, o pensamento capta a 
racionalidade da história. Para Marx, Hegel e todos os filósofos estavam alienados 
e poderiam ser chamados de a-históricos, e, segundo suas teses, as características 
da história seriam sempre as mesmas em todas as épocas, a natureza humana 
era somente crítica; procuravam mudar, transformar o mundo com filosofias e 
teorias. Marx, em contrapartida, defendia que o mundo não se transforma com 
o pensamento, com críticas, o mundo se transforma pela ação politicamente 
orientada, que ele preferiu chamar de práxis, e que se faziam necessárias tanto a 
explosão como a revolução das antigas estruturas. 
Marx, ao longo da vida intelectual e financeira, contou com a ajuda de 
Friedrich Engels (1820-1895). No livro "A ideologia alemã", de 1846, ambos abordam 
as bases do materialismo histórico e procuram, ao longo da obra, defender que o 
homem é fruto do seu trabalho e das relações de produção, e não da vida espiritual 
e intelectual que leva. Para Marx, o trabalho é o que diferencia e distingue os seres 
humanos de outras espécies.
A concepção de História defendida por Marx e Engels residia no fato de 
que estão na vida material, no modo de produção e na estruturação da sociedade 
civil as chaves de entendimento de todo o processo histórico, e que ao invés de 
resultar em ‘emancipação e autonomia’ do homem, como foi defendido pelos 
iluministas e idealistas, o que ocorre é a exploração e a ‘alienação’ dos indivíduos. 
Com a defesa destes termos, Marx e Engels foram responsáveis por tecer as críticas 
mais expressivas às teorizações defendidas anteriormente tanto por Kant como 
por Hegel.
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
111
SÍNTESE
De forma resumida, o paradigma marxista apresenta a seguinte perspectiva de história:
• a realidade social é mutável;
• a mudança está submetida a leis que se encaixam em outras leis históricas;
• as mudanças tendem a momentos de equilíbrio relativo.
Platão (428-347 a.C) e Aristóteles (384-322 a.C) já discutiam a noção de dialética, 
sob a nomenclatura de a ‘arte da conversação’, mas restringiam-se ao universo 
especulativo e idealista que trata do movimento universal e de transformação 
constante das coisas, que já havia sido contemplado nos estudos de Hegel.
A concepção de ‘materialismo dialético’ que Marx e Engels desenvolveram 
é oriunda dos estudos de Ludwig Feuerbach (1804-1872) presentes nas obras 
“Essência do cristianismo” e “Pensamentos sobre a filosofia do futuro”, escritos entre 
1841-1843; que, somada à tradição de antagonismo social latente desde a Revolução 
Francesa, ao contexto de industrialização,da formação dos movimentos operários 
(cartismo e ludismo), forneceu a base de referências para que Marx e Engels 
desenvolvessem a questão com propriedade. 
Marx e Engels aproveitam os elementos racionais da dialética de Hegel, 
negam a dimensão idealista e a adaptam à práxis social, reconhecem a vida cotidiana 
e o modo de produção como responsáveis pela transformação da consciência e 
da subjetividade dos indivíduos. Os fenômenos materiais e mecanicistas passam 
a ser entendidos como os verdadeiros responsáveis pelo desenvolvimento das 
atividades humanas; tendo em conta estes pressupostos, acabavam por refutar 
tanto a tradição idealista como a tradição moral religiosa, que visavam meramente 
observar e constatar os fenômenos sociais.
 A pauta da discussão do materialismo dialético residiu na proposta de 
que o método utilizado para compreender os fenômenos da natureza e gerar 
conhecimento deveria ser o dialético, e a interpretação, a base conceitual de 
verificação deste conhecimento, de natureza materialista. A noção central residia 
no fato de que o desenvolvimento de qualquer atividade humana se dava a partir de 
contradições. No caso dos estudos do marxismo, os elementos que protagonizavam 
esta contradição foram o proletariado e o capitalista/burguês.
Para ilustrar esta abordagem da realidade, Marx e Engels partiam do 
raciocínio de que o homem tem necessidade de comer e beber, ou seja, de sobreviver 
antes de filosofar ou expressar-se artisticamente; o restante (Estado, instituições 
civis, religiões, cultura...), se desenvolveria no prolongamento. Primeiro os homens 
almejavam satisfazer suas necessidades básicas: a vida material determina a vida 
intelectual; o ser social determina a consciência social; o material determina o 
espiritual e os assuntos sociais.
UNI
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
112
A sociedade, os fatos e os acontecimentos sociais deveriam ser tomados 
na sua totalidade; a economia entendida como a responsável por organizar as 
estruturas básicas da sociedade; a política e a cultura estabeleciam as formas 
históricas de gestão econômica. Em meio a este contexto de determinações, o 
materialismo dialético serviria como referência tanto como categoria de análise, 
como de orientação teórica à ação prática da política revolucionária.
Outro intelectual alemão a ser considerado cofundador da sociologia foi 
Max Weber, autor de dois livros basilares no tocante à sociedade contemporânea. 
Segundo Weber (1982), cada indivíduo age levado por um motivo e se orienta 
pela tradição (conduta social orientada pelas tradições), o que quer dizer que cada 
indivíduo mobiliza suas ações e interesses racionais e se realiza pelo campo da 
emotividade e da subjetividade. Logo, um pesquisador deveria lançar mão do que 
é de natureza particular, daquilo que permite identificar na sua peculiaridade na 
configuração panorâmica da cultura, e para tanto deveria lançar mão do método 
compreensivo, isto é, um esforço interpretativo que percebe as tradições e sua 
repercussão nas sociedades contemporâneas.
Em A ética protestante e o espírito do capitalismo, relaciona o ideal de 
salvação das igrejas protestantes, vinculadas à vida sóbria, ligadas a ideias como 
moral elevada e trabalho, que estão em afinidade com os valores do capitalismo, 
dependente de funcionários competentes, pontuais e ordeiros. Este aspecto foi 
denominado por Weber como ascese laica ou ascetismo intramundano, pois, se o 
catolicismo pregava que para ter uma vida santa, longe dos prazeres pecaminosos, 
o cristão deveria se isolar do mundo, vivendo em um convento, o protestantismo 
afirmava que o ideal de santidade deveria ser perseguido no confronto cotidiano 
com o mundo. 
Outras duas questões apontam afinidades do cristianismo protestante com 
o capitalismo. O primeiro é: para o catolicismo, o lucro é um pecado denominado 
usura. Para o protestantismo, este pecado não existe, pois, como afirmava Calvino, 
as relações comerciais que envolvem lucro não são conquistadas através de 
coação, mas sim através da troca. Também, para o protestantismo, a prosperidade 
econômica não era um sinal de contradição com a fé, mas sim o sinal de uma 
bênção divina.
 
Em relação à educação, a principal contribuição weberiana foi o estudo 
sobre a burocracia. Pois, para Weber, é a burocracia um dos sinais da sociedade da 
modernidade, pois o racionalismo que a burocracia emprega depende em muito 
da formação escolar de uma classe de técnicos capacitados para gerir os bens 
públicos ou privados. Uma classe gerencial, que Weber definiu como Estamento 
Burocrático, é a principal camada dirigente das instituições privadas ou estatais 
contemporâneas. Isto em parte explica a importância que as classes dirigentes 
ofertam para a educação, pois será entre os que receberam maior instrução, os 
melhores cargos. Esta perspectiva formou um verdadeiro ethos educacional nas 
sociedades do Ocidente. 
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
113
O último dos sociólogos que iremos citar, neste tópico, foi um dos mais 
importantes para o estabelecimento da sociologia da educação como disciplina do 
conhecimento humano. Émile Durkheim foi o principal formulador da sociologia 
como ciência, ao possuir uma cátedra desta ciência na Universidade de Paris-
Sorbonne e ser o escritor do livro As regras do método sociológico. Sua importância 
para a história da educação se mede ao ser Durkheim o principal formulador 
da sociologia da educação enquanto ciência humana. Hoje, jamais se pensaria 
a educação apartada das realidades nas quais as famílias e as escolas estão 
presentes. Porém, a influência iluminista e cristã de alguns teóricos do século IX 
não compreendia que as diferenças sociais são parte importante ao se pensar a 
educação na contemporaneidade (GADOTTI, s.d. 113-115).
Para o autor, o indivíduo na fase da infância nada mais é do que uma tábula 
rasa e diante disto a escola, as instituições de ensino e o sistema educacional devem 
atuar no sentido de preencher aquela criança de forma adequada ao convívio em 
sociedade de forma mais integrada e adequada possível. Estudiosos analisam estas 
ideias de Durkheim e o nominam de conservador, no ponto em que compreendia 
a escola como simplesmente uma instituição de ajuste e não de transformação da 
sociedade.
A disciplina de sociologia da educação tem contribuído de forma 
significativa no sentido do reconhecimento e da importância do fazer educacional. 
Os estudiosos da sociologia se esforçam em fazer análises e trabalhos críticos 
que indicam os limites e impasses no campo educacional. Na atualidade têm-se 
os trabalhos do estudioso argelino Pierre Bourdieu, que se dedica a denunciar os 
mecanismos e modelos de ensino que tendem a tornar a escola um mero local 
reprodução dos conteúdos 
 
Como os estudiosos da filosofia foram responsáveis por formular escolas 
filosóficas que ultrapassam os tempos históricos, os estudiosos da sociologia 
também contribuíram com a formação de correntes sociológicas que perpassam o 
pensamento filosófico, social, histórico e educacional. Para facilitar o entendimento 
das principais correntes sociológicas e a relação que possuem com as demais áreas 
do conhecimento, atente para o quadro a seguir:
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
114
CORRENTES 
SOCIOLÓGICAS PRESSUPOSTOS PRINCIPAIS 
REPRESENTANTES
POSITIVISMO/
FUNCIONALISMO
(Séc. XIX)
* Toda sociedade é um sistema constante e estável 
de elementos (hipótese de estabilidade).
* Toda sociedade é um sistema de equilíbrio de 
elementos (hipótese de equilíbrio).
* Cada elemento dentro da sociedade contribui ao 
funcionamento dela (hipótese do funcionalismo);
* Cada sociedade se mantém graças ao consenso 
de todos os seus membros acerca de determinados 
valores comuns (hipótese do consenso).
* Valoriza as instituições, as funções, a estrutura, a 
ordemsocial.
Augusto Comte
Émile Durkheim
Talcott Parsons
Niklas Luhmann
Louis Althusser
MARXISMO-
SOCIOCRÍTICA
(Séc. XIX e XX)
* Visão dialética que privilegia o aspecto da 
mudança histórica, dos processos sociais.
* Toda sociedade e cada um de seus elementos 
serão submetidos em todo o tempo à mudança 
(hipótese da historicidade).
* Toda sociedade é um sistema de elementos 
contraditórios em si e explosivos (hipótese da 
explosividade e revoluções).
* Cada elemento dentro da sociedade contribui 
para sua mudança (hipótese da disfuncionalidade).
* Toda sociedade se mantém graças à coação que 
alguns de seus membros exercem sobre os outros 
(hipótese da dominação).
Karl Marx
Friedrich Engels
Antonio Gramsci
Karel Kosik
Georges Snyders
COMPLEXIDADE
(Séc. XX e XXI)
* A realidade consiste em uma totalidade inter-
relacionada, interdependente, multidimensional, 
que propõe a conquista de uma nova percepção 
sistêmica, pós- cartesiana, ainda em gestação.
* O universo é uma totalidade integrada na qual 
tudo está conectado, e onde o todo é mais que o 
conjunto das partes que o compõem.
* Superação da dicotomia entre as ciências 
naturais/sociais; observador e objeto observado.
* O homem como ser indiviso, multidimensional 
cérebro/espírito/mente e corpo.
* Todo conhecimento visa constituir-se em senso 
comum, principalmente com aquele construído no 
cotidiano, que busca orientar e dar sentido à vida.
* O senso comum integra ação e intencionalidade; 
é prático, transparente, interdisciplinar.
* O senso comum reinterpretado pelo 
conhecimento científico pode ser a porta para a 
nova racionalidade.
Anthony Wilden
Edgar Morin 
Isabelle Stengers
Fritjof Capra
Humberto Maturana
FONTE: Os autores
QUADRO 5 - PRINCIPAIS CORRENTES SOCIOLÓGICAS
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
115
5.2 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
De acordo com Fernanda G. de Oliveira (2014), há muitos anos, psicólogos e 
educadores procuram descobrir como se aprende. Várias observações foram feitas 
e surgiram diversas teorias, na tentativa de explicar o processo de aprender. O ideal 
seria se as teorias repercutissem na educação, tornando mais eficiente o trabalho 
dos educadores e influindo na prática escolar. Felizmente, alguns pesquisadores da 
aprendizagem têm apresentado conclusões que falam diretamente aos educadores.
Podemos descrever que a psicologia contribui na educação, no estudo das 
diversas fases de desenvolvimento dos seres humanos, no estudo da aprendizagem 
e das condições que a tornam mais eficiente e mais fácil. Em nossos dias, tal é 
a importância da Psicologia da Educação e da Aprendizagem que todos na área 
da educação precisam refletir sobre o seu significado. No entanto, a indagação 
que você mesmo deve estar se fazendo é a seguinte: afinal, o que é Psicologia 
da Educação e da Aprendizagem? Antes de explorarmos este conceito, vamos 
compreender o que é aprendizagem.
Atualmente existem diversas teorias sobre a aprendizagem, sendo estudadas 
pela psicologia da educação. A aprendizagem integra os elementos cognitivo, 
biológico, social, psíquico e cerebral, sendo, portanto, um fenômeno, um processo 
bem complexo que ocorre num determinado momento histórico e dentro de uma 
cultura particular. Aprender é bem mais do que absorver uma informação, pois 
se pode saber tudo, por exemplo, a respeito de dentes: a sua estrutura, a causa de 
suas cáries e de suas moléstias e, ainda assim, nada disso alterar a conduta prática.
A aprendizagem é considerada como um processo contínuo, no qual o ser 
humano desde a vida uterina começa a aprender e permanece durante toda a vida, 
pois o caminho para atingir o crescimento, a maturidade e o desenvolvimento 
como pessoas, num mundo organizado, cujas interações com o meio nos permitem 
a organização do conhecimento, é a aprendizagem. E a psicologia da educação 
busca empregar os princípios e as informações que as pesquisas psicológicas 
oferecem acerca do comportamento humano, para tornar mais eficiente o processo 
ensino-aprendizagem.
A contribuição da Psicologia da Educação abrange dois aspectos 
fundamentais, conforme descreve Piletti (1994):
• Compreensão do aluno: compreensão de suas necessidades, suas características 
individuais e seu desenvolvimento, nos aspectos: físico, emocional, intelectual 
e social. O aluno não é um ser ideal, abstrato. É uma pessoa concreta, com 
qualidades e preocupações.
• Compreensão do processo ensino-aprendizagem: para o professor, não é 
suficiente conhecer o aluno. É necessário que ele saiba como funciona o processo 
de aprendizagem, quais os fatores que facilitam ou prejudicam a aprendizagem, 
como o aluno pode aprender de maneira mais eficiente, além de outros aspectos 
ligados à situação de aprendizagem, envolvendo o aluno, o professor e a sala de 
aula.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
116
Assim a psicologia da educação estabelece um conjunto de relações 
estáveis entre sujeito e objeto. A ação do sujeito, estruturada por dados internos e 
externos, constitui e determina o motivo da observação, isso significa que o estudo 
do homem se viabiliza quando consideramos a mediação recíproca entre sujeito e 
objeto, isto é, quando consideramos estes aspectos em interação constante. É útil 
aos professores conhecer as teorias predominantes desenvolvidas pelos psicólogos 
da aprendizagem, para que entendam a orientação do ensino nas escolas atuais e 
optem pela prática escolar que desejarem.
5.3 O IMPASSES DO PROCESSO DE LAICIZAÇÃO E DA 
RACIONALIZAÇÃO
O processo de implantação das ideias iluministas, modernas, laicas e 
racionais não se deu de forma pacífica e de aceitação unânime, e formas de 
resistência podem ser registradas tanto em países católicos como em países 
protestantes. O século XIX foi um momento histórico em que diversas formas de 
resistência à modernização e racionalização foram registradas, um exemplo pode 
ser o do sacerdote católico Dom Bosco (1815-1888), que contribuiu na formulação 
da rede salesiana de ensino, que visava atender crianças e jovens que origem 
humilde e que se encontravam em condições de abandono e violência na Itália.
Nas regiões de maior presença das tradições protestantes, ocorreram 
conflitos no campo escolar onde se dava o ensino da origem do homem, sendo que 
as unidades escolares ministravam as teorias evolucionistas de Charles Darwin. 
Nos Estados Unidos da América, cuja articulação religiosa era forte e politicamente 
legitimada, ocorreu um caso peculiar, o professor de ciências John Scopes sofreu 
processo por ensinar as teorias onde atuava. Neste caso, o professor obteve a vitória 
e seu exemplo foi utilizado como inspiração em outras nações (OLSON, 2001). 
O processo de laicização do Estado e da sociedade foram responsáveis 
para contribuir no sentido de ampliar o alcance da educação e da alfabetização. 
Na atualidade, este modelo apresenta limites, e as questões religiosas não são o 
centro dos debates e sim como melhor ensinar, as melhores formas de promover 
aprendizagem, pois os desafios são muitos, em especial os que são oriundos 
do mundo do trabalho, que se encontra em constante transformação, as novas 
realidades sociais, as diferentes configurações de família entre outras questões.
5.3.1 O Movimento do romantismo
O Romantismo, ao se expressar, utilizou-se de metáforas que eram 
oriundas do campo da natureza, da poesia, do fantástico e do encantado, do 
folclore e do místico. Com estes recursos procurava denunciar o rigor da razão, 
do academicismo, do classicismo, dos regulamentos, normas, condutas, das 
demais regras e imposições que vinham ganhando espaço desde o Iluminismo e a 
Revolução Industrial.
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
117
Conforme Abbagnano (2007), o significado comum do termo "romântico", 
que significa "sentimental", valorizou o sentimento, que fora ignorado na 
Antiguidade Clássica e que foi reabilitado pelo Iluminismodo século XVIII, no 
sentido de que se fazia necessário conciliar razão e fé, conteúdo e forma, matéria e 
espírito, experiência e sentido. O movimento do Romantismo estava relacionado ao 
sentido de valorizar os aspectos do inconsciente, os instintos, o lirismo, o melódico, 
o dramático, a liberdade criativa, a paixão, o desejo por ideais e pelo inatingível, do 
misticismo, indianismo, da boemia, vida noturna, entre outros hábitos.
Esta corrente artística foi inserida em um momento em que ocorreram outras 
mudanças no contexto da sociedade dos séculos XVIII e XIX, entre elas, o processo 
de massificação da leitura e da palavra escrita. As produções de intelectuais – como 
Karl Marx – apresentavam novas formas de compreender e denunciar a realidade 
social, numa perspectiva de preencher o ambiente crítico e que tendeu proceder 
a uma leitura crítica e dialética da sociedade, e esta foi feita contra a promessa de 
progresso e felicidade pura e simples contida na modernidade. O Romantismo 
reuniu adeptos das mais diversas áreas do conhecimento, da literatura, da música, 
das artes plásticas. Enquanto Marx descobria o socialismo, na Paris de 1840, T. 
Gautier (1811-1872) e Flaubert desenvolviam sua mística da “arte pela arte”.
5.3.2 O exemplo de Friedrich Nietzsche
A laicização no campo político e público afetou as relações humanas, com 
a natureza e as dimensões espirituais, que por sua vez favoreceu o processo de 
secularização da sociedade, que consistiu no movimento da distinção, separação, 
distanciamento entre o campo da fé, do espiritual, do religioso, do sagrado e do 
eterno (poder invisível) em relação ao campo do temporal, do método, do racional, 
do profano e do leigo (poder visível e palpável). O pensador Friedrich Nietzsche 
(1844-1900) procurou definir como “a morte de Deus” e “o advento do niilismo”. 
Nietzsche (2012, p. 125) afirma que:
Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! 
Como haveremos de nos consolar, nós, os algozes dos algozes? O que o 
mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu 
exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse 
sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, 
que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste ato 
não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios 
deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu ato mais 
grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, 
mercê deste ato, de uma história superior a toda a história até hoje! 
Nietzsche (2012) discutiu que sentimento de niilismo deve ser entendido 
juntamente com as noções de “desvalorização dos valores” e “a morte de Deus”, que 
foi ocasionada pelo afastamento dos valores sagrados e espirituais das explicações 
e formulações humanas, e em especial a dissociação entre o mundo visível e 
sensível, com a supervalorização do primeiro diante do segundo, produzindo 
assim uma espécie de vazio existencial. 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
118
CONCEITO
O Niilismo está relacionado aos sentimentos de descrença e desengajamento diante da 
promessa de progresso e realização/felicidade humana, contidos no interior dos projetos 
modernos globalizantes/totalizantes ou grandes narrativas que se pretendiam e apresentavam 
como atemporais e universais, nos esquemas de verdade, liberdade e igualdade, história, 
progresso e felicidade, razão, revolução e redenção, ciência, industrialismo e bem viver. Que 
por sua vez desabilitavam as experiências históricas contidas no passado e reconheciam 
somente como campo e horizonte do presente e do futuro como o terreno de realização 
humana primordial.
Nietzsche empregou o conceito também para qualificar sua oposição radical aos valores 
morais tradicionais e às tradicionais crenças metafísicas, na qual o niilismo não é somente 
um conjunto de considerações sobre o tema “tudo é vão”, não é somente a crença de que 
tudo merece morrer, mas consiste em colocar a mão na massa, em destruir. E o filósofo 
aponta que as gerações que sucederam a geração da modernidade nasceram em meio a 
esta noção de sociedade. 
A noção de niilismo causava certo deslocamento nas formulações mentais de sentido do 
ser humano, causando certa secura espiritual e existencial. 
5.4 TRANSFORMAÇÕES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO 
CONTEXTO EDUCACIONAL
Com relação ao contexto histórico desta época, pode-se afirmar que a 
Revolução Industrial foi marcada pela produção capitalista, que introduziu a 
máquina a vapor, a modernização dos métodos de produção, desintegrou costumes 
e introduziu novas formas de organização da vida social. Por outro lado, ocorreu 
a transição da produção artesanal para a manufatureira e desta para a produção 
fabril, a migração do campo para a cidade; o fim da servidão; o desmantelamento 
da família patriarcal; a introdução do trabalho feminino e infantil. O crescimento 
demográfico das cidades sem a devida infraestrutura básica favoreceu a formação 
de cortiços e favelas, o aumento das condições degradantes de vida, da prostituição, 
suicídio, alcoolismo, violência, epidemias. O aparecimento do empresário 
capitalista, que concentrou as máquinas, as terras e as ferramentas de trabalho; e 
do proletariado, que foi submetido a severa disciplina, como novas classes sociais.
Observe no quadro abaixo, outras invenções que acompanharam o processo 
de revolução industrial: 
DICAS
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
119
QUADRO 6 - INVENÇÕES E INVENTORES DE TECNOLOGIA
ANO APROX. INVENTOR INVENÇÃO
1855 Isaac Merritt Singer Patenteia a máquina de costura
1855 Georges Audemars Inventa o Rayon
1866 Alfred Nobel Inventa a dinamite
1868 Christopher Latham Sholes Inventa a máquina de escrever
1868 George Westinghouse Inventa o freio a ar
1868 Robert Mushet Inventa o aço
1873 Levi Strauss Inventa a calça jeans
1869 Dmitri Mendeleyev Monta a Tabela Periódica
1876 Alexander Graham Bell Telefone
1877 Eadweard Muybridge Inventa a câmera de filmagem
1879 Thomas Alva Edison Lâmpada Elétrica – inventa a lâmpada 
com filamento de carbono incandescente
1881 Louis Pasteur Vacinas – produz vacina contra o antraz 
e a raiva
1888 Heinrich Hertz Produz as primeiras ondas de rádio
1900 Ferdinand von Zeppelin Primeiro dirigível de estrutura metálica
FONTE: Os autores
CURIOSIDADE: MUSEUS
O primeiro museu público, o Asmoleum Museum, foi aberto em 1683, na Inglaterra e 
encontrava-se vinculado à Universidade de Oxford, mas possibilitava visitação somente a 
artistas e estudiosos. Foi a partir da Revolução Francesa, no século XVIII, que os museus 
ganharam caráter popular propriamente dito, em especial surgem os grandes museus 
nacionais, voltados à educação e esclarecimento do povo. O Museu do Louvre foi aberto na 
França em 1793. Em 1810, surge o Altes Museum, de Berlim, na Alemanha, o Museu do Prado, 
na Espanha, em 1819, e o Museu Hermitage de Leningrado, na Rússia, em 1852.
As manifestações de revolta dos trabalhadores foram da destruição das 
máquinas, sabotagem, explosão de algumas oficinas, roubos e crimes, formação 
de sindicatos. Nesta trajetória, produziram jornais e literatura, exercendo a crítica 
à sociedade capitalista e inclinando-se para o socialismo como alternativa de 
mudança. A tarefa dos pensadores deste período foi a de racionalizar a nova ordem, 
encontrando soluções para o estado de ‘desorganização’ existente, conhecendo as 
leis que regem os fatos sociais.
Determinados pensadores da época estavam imbuídos da crença de que era 
necessário introduzir uma certa ‘higiene’ na sociedade e fundar uma nova ciência. 
A sociologia assumia como tarefa intelectual repensar o problema da ordem social, 
UNI
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
120
enfatizando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia 
social, destacando a sua importância teórica parao estudo da sociedade.
Sabe-se que a capacitação intelectual não cessou de avançar ao longo dos 
últimos 200 anos, quando carrega um processo de declínio das ocupações única e 
exclusivamente braçais e, em contrapartida, a legitimação do processo produtivo 
mecanizado, automatizado e robotizado (ARANHA, 1996). Foi no contexto 
da Revolução Industrial que cada vez mais foi dada ênfase à educação técnica. 
Durante o denominado Antigo Regime Europeu, período que inicia na baixa Idade 
Média e finda com a Revolução Francesa, os objetos eram produzidos através das 
corporações de ofício. 
Portanto, algumas profissões tradicionais existiam, como as de sapateiros, 
relojoeiros, carpinteiros etc. Com o incremento da produção industrial destes 
objetos fabricados por estes artífices citados, como sapatos, relógios e móveis para 
o lar, o aprendizado para o ingresso em uma indústria passa a ser realizado não em 
corporações, nas quais aprendizes aprendiam com mestres mais antigos no ofício, 
até que se especializavam e, deixando de ser aprendizes, se tornavam oficiais e 
posteriormente mestres. 
A formação necessária à preparação do trabalhador da indústria solicitava 
a realização em escola técnica, na qual o aluno aprende as rotinas industriais, 
até ser capaz de atuar como técnico qualificado para determinada função, pois a 
mecanização da produção é uma tendência constante no capitalismo, sendo assim 
presente a necessidade de técnicos que cuidem das máquinas, que substituíram a 
tração animal ou o braço humano na confecção dos mais distintos produtos. Em 
geral, o ensino técnico é voltado para as camadas mais baixas da população dos 
diferentes países industrializados, pois muitos observam no trabalho industrial 
especializado uma chance de ascensão para a classe média.
LITERATURA
Para melhor compreender o contexto histórico das mudanças na sociedade, nas áreas política 
e cultural, iniciadas na época moderna, observe as sugestões de livros e filmes que fazemos 
abaixo:
Os miseráveis, escrito por Victor Hugo (existe em filme também)
Germinal, de Emile Zola (existe em filme também)
Madame Bovary, de Gustave Flaubert (existe em filme também)
Senhores e camponeses, de Leon Tolstoi (existe em filme também).
DICAS
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
121
5.5 OS IMPACTOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO ENSINO 
SUPERIOR
O ensino superior sempre representou um ponto de grande disputa entre os 
mais diferentes indivíduos da sociedade, por ser uma das condições pelas quais o 
indivíduo consegue galgar outras posições sociais. Em especial, quando os índices 
de abandono escolar são registrados no ensino médio, e quando o ensino médio é 
concluído de forma satisfatória mediante de custeio familiar. Outro fator agravante 
reside no fato de que os estudos universitários são oferecidos em horários como o 
matutino e vespertino o que inviabiliza que trabalhadores os frequentem. Diante 
disto, eis que o ensino superior acaba sendo uma condição acessada somente 
por pessoas oriundas de grupos sociais abastados. Diante da necessidade de 
especialização da mão de obra no interior das fábricas e indústrias, em especial nas 
áreas da engenharia, surgem núcleos de inovação e desenvolvimento tecnológico. 
INSTITUIÇÕES
No Brasil, a educação técnica é presente em diversos Estados, tanto com Institutos Federais 
e estaduais, que formam técnicos nos mais diversos ramos da indústria e dos serviços, como 
o sistema “S” (SESI, SENAI, SENAC etc.), que primam pela qualificação da mão de obra. 
Inclusive, um ex-presidente da República, Lula, frequentou uma destas escolas de formação 
profissional. 
5.6 A EDUCAÇÃO NOS PAÍSES AUTORITÁRIOS: O 
COMUNISMO E O NAZI-FASCISMO
O século XX foi marcado por inúmeras situações que colocaram em xeque 
o processo de desenvolvimento que se havia alcançado, entre elas encontram-se as 
guerras mundiais e as péssimas condições de vida das populações em determinadas 
regiões do mundo. As dificuldades também alcançaram as instâncias políticas e 
econômicas, em que diversas crises abalaram governos e sociedades inteiras. 
Os modelos de política e sociedade autoritários acabaram se aproveitando 
do contexto de crise de determinados países de se instalar e para se manter no 
poder se utilizaram de estratégias que restringiam o acesso às informações, em 
especial alterando as formas de ensinar e censurando conteúdos de disciplinas que 
possuíam potencial crítico-reflexivo diante da realidade.
A título de exemplo, o modelo comunista de educação é pouco conhecido, 
porém bastante mencionado, tanto em situações positivas como negativas, mas o 
que se pode reconhecer como prioridade é a ampliação de vagas no ensino básico, 
o que conseguiu melhorar os números de analfabetismo que eram registrados 
DICAS
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
122
naqueles países. No que diz respeito ao ensino superior, em algumas universidades 
dos países, como Cuba e Rússia, os estudos e pesquisas nas áreas médicas e da 
saúde foram responsáveis por encontrar inúmeros tratamentos e curas a doenças 
que até então pareciam invencíveis. A crítica a estes países ainda recai sobre os 
aspectos da liberdade de expressão dos cidadãos, em especial, quem se manifestava 
contrário à adoção do regime. 
Mas não foram os únicos países e nações que impuseram a restrição à 
liberdade de pensamento e expressão a seus cidadãos, o fascismo de Mussolini 
na Itália, de Franco na Espanha, de Salazar em Portugal, o nazismo de Hitler 
na Alemanha, não foram diferentes. Ao ponto que professores universitários 
fugiam de seus países de origem ou cometiam suicídio a fim de não colaborar 
com o governo imoral que havia se instalado. A título de exemplo podemos citar 
Albert Einstein (1879-1955), notório pelos seus estudos e pesquisas no campo da 
física, que em fuga das perseguições religiosas que o governo nazista empreendia, 
refugiou-se nos Estados Unidos (ARANHA, 1996).
PARA REFLETIR:
Einstein (1981), em seus escritos e reflexões sobre ciência e conhecimento, tecia as seguintes 
orientações: 
Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Por que se tornará assim uma máquina 
utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso 
prático daquilo que vale a pena ser aprendido, daquilo que é belo, do que é moralmente 
correto. A não ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a 
um cão ensinado do que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida.
Deve aprender a compreender as motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias 
para determinar com exatidão seu lugar em relação a seus próximos e à comunidade.
Estas reflexões essenciais, comunicadas à jovem geração graças aos contatos vivos com os 
professores, de forma alguma se encontram escritas nos manuais. É assim que se expressa 
e se forma de início toda a cultura. Quando aconselho com ardor “as humanidades”, quero 
recomendar a cultura viva e não um saber fossilizado, sobretudo em história e filosofia. 
Os excessos do sistema de competição e de especialização prematura, sob o falacioso pretexto 
da eficácia, assassinam o espírito, impossibilitam qualquer vida cultural e chegam a suprimir 
os progressos nas ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma 
educação, desenvolver o espírito crítico na inteligência do jovem. 
Ora, a sobrecarga do espírito pelo sistema de notas entrava e necessariamente transforma a 
pesquisa em superficialidade e falta de cultura. O ensino deveria ser assim: quem o receba o 
recolha como um dom inestimável, mas nunca como uma obrigação penosa.
Adaptado de: Einstein, Albert. Como vejo o mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
As ideologias nazistas e fascistas transformaram o sistema escolar 
em mecanismos cujos valores e preceitos eram deturpados, que condenavam 
indiscriminadamente o povo judeu, homossexuais, ciganos e outras minorias. 
Nos países latino-americanoseducação nas sociedades 
ágrafas.
2 AS SOCIEDADES ÁGRAFAS
Podemos compreender por sociedades ágrafas as comunidades humanas 
que não possuem formas de escrita. Em geral, uma visão linear da história classifica 
que o homem “entra na história” deixando a pré-história após o desenvolvimento 
da capacidade de escrita. Porém, não temos como, em pleno século XXI, continuar 
a reproduzir uma visão tão estreita das sociedades humanas, pois até na atualidade 
existem grupos humanos, com formas de organização social complexas, que não 
possuem a escrita como forma de mediação de conhecimento e memória. 
Assim, neste primeiro tópico vamos contemplar um pouco das sociedades 
ágrafas. Não é pela ausência da escrita que as sociedades teriam uma ausência de 
funções sociais, além de uma preocupação educacional constante por parte das 
lideranças grupais. Em geral, as sociedades ágrafas são estudadas por diferentes 
profissionais das ciências humanas e naturais. Quando se trata do estudo das 
sociedades sem escrita que já desapareceram há milhares de anos, seu estudo fica 
a cargo de arqueólogos. Quando se trata do estudo de sociedades contemporâneas, 
seu estudo fica a cargo dos antropólogos e, por vezes, sociólogos e historiadores. 
Os arqueólogos são profissionais que estudam os vestígios fósseis de 
civilizações pré-históricas, ou de civilizações perdidas há milhares de anos. 
Portanto, seu trabalho se realiza nos denominados sítios arqueológicos, nos quais 
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
4
são encontrados os restos de cultura material de alguma civilização pretérita 
(BRAIDWOOD, 1988). Os paleontólogos estudam os fósseis da vida na Terra, não 
obrigatoriamente vinculados aos seres humanos. O seu método analítico é plural, 
devido aos diferentes tipos de fósseis que o paleontólogo analisa: de animais 
invertebrados, de vertebrados, de plantas, entre outras possibilidades de vida 
humana fossilizada. 
Os antropólogos, por sua vez, utilizam uma metodologia de trabalho 
completamente diferente dos arqueólogos e paleontólogos. Os antropólogos em 
geral realizam o denominado trabalho de campo. Isto é, passam meses em uma 
tribo, buscando compreender sua língua e seu modo de funcionamento, anotando 
suas observações em um diário de campo. Posteriormente, realizam o relato 
etnográfico, no qual apontam as características da população por eles analisada. 
Em grande parte, é com base nos diferentes dados disponibilizados pelos 
antropólogos, arqueólogos, paleontólogos e demais profissionais das ciências 
humanas, que iremos realizar a caracterização das sociedades ágrafas na presente 
unidade deste caderno de estudos. Um primeiro e importante dado a pensar 
é que, mesmo estando vivendo em um período da história do mundo no qual 
temos acesso a diversos mecanismos tecnológicos para a comunicação entre as 
pessoas, passando pela televisão e o rádio, chegando aos computadores e telefones 
celulares, hoje, no momento em que estamos lendo este texto, existem milhares 
de pessoas vivendo em formas de organização social na qual não existem estas 
mediações tecnológicas, e a vida segue em um contato direto com a natureza. 
Estas populações, em geral, não possuem escrita formal. Assim, contemplaremos 
algumas destas sociedades. 
As sociedades ágrafas mais próximas aos brasileiros são as comunidades 
indígenas. O termo índio provém do eurocentrismo dos primeiros navegadores 
europeus que atingiram as costas litorâneas do continente americano e 
denominaram os nativos índios por acreditarem estar pisando nas Índias, isto é, na 
Ásia. As sociedades indígenas têm uma tradição secular na América. Em geral, se 
acredita terem os nativos americanos migrado da Ásia, atravessando o Estreito de 
Bering, no extremo norte do continente. Assim como entre os europeus ocidentais, 
que têm sua divisão cultural marcada pela origem dos idiomas (latino, eslavo, 
saxão, escandinavos), os indígenas da América também são classificados conforme 
a sua diferente forma de fala. Quatro são os principais troncos linguísticos dos 
indígenas americanos: Tupi-guarani, Arauaque, Jê e Caribe. Isto é, estes quatro 
troncos linguísticos apontam que vários grupos têm uma matriz cultural comum, 
que ganhou maior variedade devido ao processo de migração pelo continente 
(OLIVEIRA; FREIRE, 2006).
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE
5
FIGURA 1- MENINA INDÍGENA
Uma visão estereotipada dos indígenas aponta como menos desenvolvidos, 
andando nus pelas matas, realizando o canibalismo e vivendo em poligamia, 
isto é, um homem tendo várias esposas. Tal visão estereotipada é reforçada 
pelos manuais didáticos de história, pois estes apresentam apenas os indígenas 
de 500 anos passados, quando da vinda dos europeus para a América. Todavia, 
deveríamos ter uma relação e visão completamente diferentes das tribos existentes 
na atualidade. Se nos últimos 500 anos o homem branco mudou de forma radical, 
os indígenas também mudaram. 
Até mesmo considerar as tribos indígenas como pertencentes a sociedades 
sem escrita pode ser considerado uma visão estereotipada. Desde o século XVI, 
parte das línguas nativas passou a ter alguma forma de escrita. No atual momento 
da história brasileira, temos alguns indígenas alcançando os graus universitários, 
sendo também comum a presença de alfabetizadores dentre as principais tribos 
brasileiras. Todavia, apenas por força da tradição, mantivemos os indígenas 
brasileiros como exemplos de sociedades ágrafas. 
Um dos principais estudiosos da presença indígena na sociedade brasileira foi o 
antropólogo Darcy Ribeiro. Em relação às suas obras, é interessante ler alguns de seus livros, 
como Os Índios e a Civilização, assim como O Povo Brasileiro e O Processo Civilizatório.
UNI
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 15 ago. 2016.
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
6
Não apenas as tribos indígenas presentes no Brasil e nos demais países 
americanos são exemplos de sociedades sem escrita (com as ressalvas realizadas 
no parágrafo anterior). Na África e na Ásia ainda encontramos algumas formações 
culturais que não precisaram do desenvolvimento da escrita. Podemos citar os 
aborígines australianos, as populações isoladas das ilhas do Oceano Pacífico, assim 
como algumas tribos africanas, com destaque para os povos pigmeus. 
Em geral, denominam-se aborígines os nativos da Austrália, local em que 
grande parte das tribos sofreu com o processo de colonização empreendido pelos 
ingleses, assim como o preconceito racial marcou a vida de muitos destes nativos 
da Oceania durante grande parte da presença europeia na Austrália. Na atualidade, 
o governo australiano buscou formas de integrar os aborígines, sem utilizar da 
violência como a principal forma de linguagem. Também em pequenas ilhas do 
Oceano Pacífico, outras comunidades existem e são formadas por sociedades sem 
escrita. Como já afirmado, na África, dentre as populações sem escrita, uma das 
mais tradicionais são os pigmeus. Caracterizados pela baixa estatura, possuem 
uma forma peculiar de vida. 
As sociedades sem escrita possuem algumas características comuns. Em 
geral, as trocas econômicas são naturais, isto é, não possuem as moedas como 
símbolo econômico. Outra importante característica das sociedades ágrafas é a 
ausência de uma divisão de classes. Grande parte da divisão do trabalho é sexual. 
Determinadas tarefas cotidianas são destinadas aos homens, e outras destinadas 
FIGURA 2 - INDÍGENA UNIVERSITÁRIO
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 15 ago. 2016.
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE
7
às mulheres. Questões ligadas à caça e pesca de animais para a alimentação, assim 
como a guerra, em geral, são atividades masculinas. Por sua vez, o preparo do 
alimento, assim como a coleta de frutos e grãos, são atividades majoritariamente 
femininas. 
Uma dasocorreu algo semelhante nos anos de 1970, quando 
se instauraram as ditaduras militares que passaram a perseguir estudantes e 
UNI
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
123
professores que manifestavam pensamento crítico diante a realidade política do 
país. Foi o momento também em que pesquisadores e professores das áreas da 
física, química, sociologia e antropologia foram fazer estudos, ministrar aulas 
e participar de projetos científicos em instituições e universidade de países de 
primeiro mundo. 
Os países que passaram por períodos em que formas autoritárias de poder 
foram implantadas também foram países nos quais a educação sofreu fortes projetos 
de sucateamento e desvalorização em termos estruturais e no reconhecimento 
social e profissional dos professores. 
5.7 O EXEMPLO DA ESCOLA DE FRANKFURT
Foi um grupo de estudiosos que na primeira metade do século XX 
encontrava-se congregado ao Instituto de Pesquisa Social da Universidade de 
Frankfurt, na Alemanha. Possuem forte influência marxista, mas não se resumiam 
aos dogmatismos e ao marxismo tradicional do século XIX, atuaram como críticos 
tanto das ideologias do capitalismo e liberalismo internacional como do socialismo 
soviético. E o que os identificava com mais coerência era lançar mão de alternativas 
que promovessem o desenvolvimento e o bem-estar social, para tanto dedicaram-
se em proferir análises e críticas às mais diversas áreas, como a educação, a ciência, 
o Estado, o cinema, a música, o sistema de produção e consumo.
Na primeira leva de integrantes da Escola estavam Max Horkheimer, 
Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Friedrich Pollock e Erich Fromm. Na segunda 
geração participaram Jürgen Habermas, Franz Neumann, Albrecht Wellmer. 
Outros estudiosos, como Walter Benjamin, Siegfried Kracauer, Karl A. Wittfogel, 
participaram associando-se temporariamente ao Instituto. Os estudiosos da Escola 
de Frankfurt inspiravam-se nas concepções teórico-filosóficas e metodológicas 
legadas nos escritos de Immanuel Kant, Hegel, Karl Marx, Sigmund Freud, Max 
Weber e George Lukács.
5.8 O EXEMPLO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
Tratou-se de um movimento religioso cristão originado do Concílio 
Vaticano II, realizado na cidade de Medellín, na Colômbia, no ano de 1968, mas 
é atribuído ao padre peruano Gustavo Gutiérrez o pioneirismo do movimento. A 
Teologia da Libertação priorizava o trabalho aos pobres e desvalidos e defendia 
toda uma reinterpretação analítica e antropológica da fé cristã, ou seja, a viabilidade 
prática dos princípios e valores cristãos. Tal orientação ideológica da Teologia da 
Libertação foi responsável por provocar críticas de caráter político, que por sua vez 
interpretavam o movimento como uma vertente marxista de organização político-
social.
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
124
O movimento foi reprovado nos pontificados de João Paulo II e Bento XVI, 
porém recentemente recebeu reconhecimento favorável do Papa Francisco. Entre 
os integrantes da Teologia da Libertação pode-se relacionar os brasileiros Leonardo 
Boff e Rubem Alves, Jon Sobrino de El Salvador, o equatoriano Leônidas Proaño e 
o uruguaio Juan Luis Segundo.
 
O movimento seguiu aos anos de 1970 e 1980 com grandes ações e 
movimentos em meio à sociedade, porém, a partir dos anos de 1990 passou a 
declinar, em especial pela falta de renovação das lideranças, tanto em meio às ações 
de base no interior das comunidades como na esfera de orientação intelectual. 
No filme A VIDA É BELA, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, existe 
uma bela sátira das intervenções dos funcionários fascistas no sistema escolar, feita por um 
observador da vida social e personagem principal do filme, que por fim acaba sofrendo as 
agruras de um campo de concentração ao lado da esposa e do seu filho.
A VIDA É BELA. Roberto Benigni. Itália/EUA. 1997. 116min. Cor
LEITURA COMPLEMENTAR
A FRAGILIDADE DOS LAÇOS HUMANOS: AMOR LÍQUIDO
Os tempos modernos e, agora, os tempos contemporâneos são marcados 
por um estado de fusão líquida da sociedade humana, e a transformação se deu 
do estado sólido para o líquido. A metáfora “líquido mundo moderno” evidencia 
um dos principais conceitos propostos pelo pensador e pode ser entendida como 
sendo oriunda de um contexto semelhante ao da frase que foi proposta por Marx: 
“tudo o que é sólido desmancha no ar”, proposta ainda no século XIX, quando a 
modernidade estava em pleno curso. Esta mesma serviu de base interpretativa a 
Bauman (1925-2017), que foi utilizada ao longo desta obra. 
O livro Amor Líquido reúne uma reflexão crítica do cotidiano do homem 
moderno, e preocupa-se em analisar a sociedade contemporânea e ressaltar 
“a fragilidade dos laços humanos”. Encontra-se dividido em quatro capítulos: 
Apaixonar-se e desapaixonar-se; Dentro e fora da caixa de ferramentas da 
sociedade; Sobre a dificuldade de amar o próximo; convívio destruído. Ao final das 
análises e reflexões, o autor pontua que o “cidadão da líquida sociedade moderna” 
constitui um homem sem vínculos e inserido em um quadro e esboço imperfeito 
e fragmentado.
DICAS
TÓPICO 2 | A FORMAÇÃO DO SISTEMA LAICO DE ENSINO NO OCIDENTE CONTEMPORÂNEO
125
Nos dois primeiros capítulos, Bauman (2004) analisa a fragilidade que o 
“líquido mundo moderno”, de certa forma, impôs ao relacionamento humano. Em 
“Apaixonar-se e desapaixonar-se”, o autor atrela amor à cultura consumista e de 
mercado. O sentido de que amar tornou-se como um passeio no shopping center, 
visto “tal como outros bens de consumo”; neste contexto a vida deve ser consumida 
instantaneamente, despreocupadamente (não requer maiores treinamentos nem 
uma preparação prolongada); é usada uma só vez, sem preconceitos, receios e 
critérios, a experiência da vida deve ser fluida e deliberadamente flexível.
A cultura consumista do amor, então, serve de cenário para o segundo 
capítulo, “Dentro e fora da caixa de ferramentas da sociedade”. Neste momento, o 
autor discute que o sentimento do imediatismo e rapidez oferece consequências e 
custos à “líquida, consumista e individualizada sociedade moderna”, e o resultado 
de intensificação da velocidade globalizante é o de que a dimensão da solidariedade 
da vida e das relações humanas perde valor, e sobre estas passa a ocupar espaço e 
a triunfar o mercado consumidor’. 
Quem seria, portanto, o responsável por este contexto de mudanças? De 
acordo com Bauman (2004), é o próprio homem, mediante a (des)configuração que 
este sofreu diante das exigências competitivas do mundo moderno. Hoje, mais 
do que nunca, o homem necessita de produtos pré e/ou fabricados, e em função 
destes são programadas as demais necessidades do homem, como o tempo livre, 
os horários de intervalo, as refeições, as férias, entre outras.
Em “Sobre a dificuldade de amar o próximo”, o autor remonta a atmosfera 
que ronda os relacionamentos humanos e a interpreta à luz do conceito bíblico 
de amar ao próximo como a si mesmo. Segundo Bauman (2004), o amor próprio 
é construído a partir do amor que é oferecido e atribuído por outros. Ou seja, a 
construção de amar a si mesmo somente é possível quando o mesmo sentimento 
é manifestado pelos outros, que “devem nos amar primeiro para que comecemos 
a amar a nós mesmos”. Assim, o amor e o cuidado de si e autovalorização e 
autoestima, bem como o amor gratuito e incondicional que poderia ser oferecido 
aos outros, não fazem mais sentido neste contexto. 
No quarto e último capítulo de “Amor líquido”, o autor reflete sobre a 
vertiginosa indústria do medo que criou um novo espectro: o da xenofobia, ou 
seja, a aversão ao estrangeiro. Os imigrantes passam a ser acusados como sendo 
os principais causadores da epidemia financeira do líquido mundo moderno, que 
estas ainda fornecem à sociedade atual as ameaças reais aos Estados-nação. Assim 
instaura-se uma indústria do medo com relação aos imigrantes, entendidos como 
criminosos, configurandoum cenário favorável ao sensacionalismo e à especulação 
aos meios de comunicação. A pauta, dentro dessas redações, é e continuará 
sendo a mesma. Roubos, assassinatos, e principalmente, atentados terroristas são 
reflexos da invasão imigratória de indivíduos oriundos de países periféricos e/ou 
miseráveis.
Atualmente e cada vez mais os seres humanos buscam contatos com 
seus pares numa espécie de irmandade, construída a partir do mundo virtual, e 
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
126
procuram substituir e compartilhar fracassos, frustrações, desequilíbrios e solidões 
com a agilidade, praticidade e velocidade da internet. 
Bauman (2004) utiliza como reflexo da metamorfose da relação humana o 
testemunho de um universitário polonês que afirma categoricamente que dentro 
do líquido mundo moderno tudo se resolve na base do delete, do bloqueio – um 
simples toque no mouse é tal como um passe de mágica, os problemas desaparecem. 
Basta limpar a lixeira, ocultar as ações e alterar as configurações de privacidade e 
tudo estará resolvido. É nítido e avassalador o contato físico e em especial o recuo 
dos momentos e espaços de real sociabilidade. O resultado não poderia ser outro 
e está anunciado no subtítulo do livro de Bauman (2004): “a fragilidade dos laços 
humanos”. 
A partir do momento em que os verdadeiros cidadãos perceberem o 
tamanho do labirinto onde se encontram, e moverem-se no sentido de buscarem 
saídas, alternativas e soluções ao problema real e complexo que os envolve, é que 
se poderá avançar rumo à retomada da vida humana na sua dimensão individual, 
social, integral ao universo. Caso contrário, permanecerá aprofundando o 
isolamento, confundindo coisas/produtos/mercadorias com seres/existências/ 
experiências/histórias e multiplicando os ambientes virtuais.
FONTE: Adaptado de: FERNANDES, Jorge Marcos Henriques. A fragilidade dos laços humanos. 
Revista Ciências Humanas, Taubaté, v. 11, n. 2, p. 173-174, jul./dez. 2005. Disponível em: . Acesso em: 29 set. 2016.
127
RESUMO DO TÓPICO 2
Ao longo desta unidade de conteúdos você pôde estudar que: 
• A época moderna foi forjada em meio à desagregação da sociedade feudal, à 
consolidação da civilização capitalista, política imperialista das nações europeias 
sobre as demais nações e povos do mundo.
• A cidade passou a ocupar o status de excelência em termos de espaço e da 
sociabilidade e realização de modernidade, e diante disto, ocorreu o gradual 
abandono das regiões agrícolas e a subsequente concentração da população nas 
imediações das cidades e centros industriais.
• Os movimentos de independência dos Estados Unidos da América, a Revolução 
Francesa, a Revolução Industrial, a revolução da técnica e tecnologia, a 
urbanização da população, os estudos da sociologia e da psicanálise, os regimes 
autoritários, as guerras mundiais compõem o contexto no qual se desenvolveram 
o pensamento, a ciência e a educação da época contemporânea.
• A educação técnica, científica e laica passa a ser favorecida por políticas de 
governo, e estas almejavam formar mão de obra às indústrias e aos setores do 
governo, agora denominado de Estado Laico.
• Pestalozzi foi um pedagogo iluminista, influenciado pelo pensamento de 
Rousseau, em especial no que diz respeito à influência do meio e da sociedade 
sobre a formação do homem.
• Froebel foi um pedagogo que se inspirava na natureza e no desenvolvimento 
natural para compreender e explicar o cuidado e a forma como se deveria 
conduzir a educação das crianças, que, conforme compreendia, necessitavam 
de cuidados e proteção especial.
• Dewey foi um pensador norte-americano que propôs a chamada ‘Escola Nova’, 
que defendia a importância da escola integral, cuja organização de currículo e 
conteúdos deveria contemplar os conhecimentos específicos e experiências de 
sociabilidade.
128
AUTOATIVIDADE
1. Construa um texto explicando como é possível afirmar que a 
educação no Ocidente é predominantemente laica e qual foi 
o principal ponto de divergência que ocorria em relação aos 
conteúdos ministrados pelas instituições religiosas. 
2. Construa um texto apresentando o que caracteriza o pensamento 
de cada um dos pensadores da educação moderna: Pestalozzi e 
Froebel:
129
TÓPICO 3
CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO 
EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
No decorrer da época Moderna e Contemporânea, dentre as ações de 
governos foram elencados como prioridade os problemas e fatos sociais modernos, 
como erradicação do analfabetismo, doenças, epidemias, que representavam 
pontos nevrálgicos ao desenvolvimento. O fortalecimento e a realização destes 
projetos foram alcançados com a colaboração de entidades, instituições, centros 
educacionais e profissionais, universidades, laboratórios de pesquisas.
Em 1789 ocorreu a publicação da Declaração dos Direitos do Homem e 
do Cidadão, que foi resultante do processo da Revolução Francesa. Trazia em 
seu conteúdo os ideais de liberdade e igualdade; delegava ao homem moderno 
uma relação de deveres e de direitos, que seriam responsáveis por conduzi-lo 
à categoria de cidadão e indivíduo emancipado. Implanta-se a democracia, na 
qual homens e mulheres, independentemente de cor, raça, classe social, venham 
a requerer condições de concorrer, apoiar, eleger e ser eleito no campo político, 
econômico e social. 
Martinazzo (2010) explica que o paradigma moderno concebeu a estrutura 
do universo como algo estável, linear, simétrico e previsível e que, pela via dos 
métodos hipotético-dedutivo e indutivo-experimentalista, o homem pode acessar 
à realidade e representar mentalmente suas leis e funções. Conhecer é representar 
o real, onde a consciência de si, como sujeito epistêmico, é condição sine qua non 
para a apreensão e consciência do objeto.
Desde a época moderna instauraram-se as ideias de progresso, de 
democracia, de inclusão, de liberdade, na capacidade do homem em intervir em 
seu meio e destino. Para alcançar estas pretensões, empreendeu suas ações obtendo 
o suporte do industrialismo, com emprego de novas técnicas e tecnologias; de 
teorias, métodos, invenções, máquinas, ferramentas, utensílios, entre outros. Os 
campos teórico e material combinaram-se para que a modernidade se cumprisse. 
(DIEHL; TEDESCO, 2001).
Os meios de comunicações foram responsáveis por anunciar os novos 
inventos e descobertas e comunicar às demais regiões que se encontravam distantes 
das metrópoles modernas. E nesse sentido, o rádio conseguiu superar, não tornar 
obsoleto ou deslegitimar o alcance da imprensa tradicional, que era representada 
pelos jornais e folhetins, muito em voga nos séculos XVIII e XIX.
130
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
Agora acabamos de nos despedir do século XX e assistimos ao descortinar 
do século XXI e nos encontramos, no exercício de qualidade de humanidade, 
diante de um acúmulo de problemas sociais, políticos, econômicos e ambientais, 
que nos deixam um tanto perplexos, desorientados e, em especial, desconfiados 
com o que nos aguarda caso não repensarmos e mudarmos nossos valores, hábitos 
e costumes enquanto indivíduos e sociedade.
2 A FILOSOFIA NO CONTEXTO EDUCACIONAL 
CONTEMPORÂNEO
Severino (1990) descreve que o campo da filosofia, ainda na Grécia clássica, 
apresentava forte preocupação e intenção pedagógica e com a formação do ser 
humano. Observe a citação que apresentamos:
Ela já nasceu Paideia! Para não citar senão o exemplo de Platão, 
em momento algum o esforço dialético de esclarecimento que 
propõe ao candidato a filósofo deixa de ser simultaneamente um 
esforço pedagógico de aprendizagem. Praticamente todos os textos 
fundamentais da filosofia clássica implicam, na explicitação de seus 
conteúdos, uma preocupação com a educação (SEVERINO, 1990, p. 19).
Porém, chegamos aos dias atuais e nos deparamos com o fato de queas 
áreas da educação, da filosofia, da história, da sociologia e das demais disciplinas 
reflexivas encontram-se desprestigiadas, são anunciadas como campos menores 
do saber. Para Severino (1990), os caminhos da filosofia da educação na nossa 
época são preocupantes, pois:
Parece ser a primeira vez que uma forte tendência da filosofia se 
considera desvinculada de qualquer preocupação de natureza 
pedagógica, vendo-se tão somente como um exercício puramente 
lógico. Essa tendência desprendeu-se de suas próprias raízes, que se 
encontravam no positivismo, transformando-se numa concepção 
abrangente. Denominada neopositivismo, que passa a considerar a 
filosofia como tarefa subsidiária da ciência, só podendo legitimar-se 
em situação de dependência frente ao conhecimento científico, o único 
conhecimento capaz de verdade e o único plausível fundamento da 
ação. Desde então, o qualquer critério do agir humano só pode ser 
técnico, nunca mais ético ou político. Fica assim rompida a unidade do 
saber (SEVERINO, 1990, p. 19).
No campo social supervalorizam-se as sociedades que apresentam alta 
urbanização, arsenal metalúrgico, industrial, científico, bélico, os regimes políticos 
com maior tempo de experiência política de república e democracia, ou seja, as 
sociedades/nações que circundam o Mar Mediterrâneo e a costa norte do Oceano 
Atlântico, que recebem o status de “nações civilizadas”.
Por outro lado, desvalorizam-se os indivíduos e as sociedades/comunidades 
tradicionais, as quais se encontram regidas por princípios milenares, que estão 
TÓPICO 3 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
131
fixadas em regiões rurais, sustentadas em atividades agrícolas, artesanais e 
manufatureiras; que apresentam coesos sistemas morais e religiosos, que se 
localizam no Oriente Médio ou no interior dos continentes da Ásia e África e 
América, que acabam por ser interpretadas e traduzidas como ‘bárbaras e/ou 
incivilizadas’, retrógradas.
Em meados dos séculos XXI, a crise econômica nos Estados Unidos e na 
União Europeia, os regimes totalitários na Coreia do Norte e na China, a perpetuação 
das situações de fome, miséria, a exploração humana pelo sistema econômico, 
entre outros, atestam que os descaminhos do progresso da humanidade do século 
passado ainda não foram superados, fazendo com que uma sensação e sentimento 
de mal-estar, desconforto e até mesmo de desencanto se instaure no imaginário e 
nas expectativas dos indivíduos do tempo presente.
Eis que o campo da filosofia da educação pode contribuir na identificação 
e solução profunda de tais contextos e realidades, em especial, no ponto em que 
Severino (1990) afirma que a educação precisa estar comprometida com a finalidade 
de atribuir sentido à existência cultural da sociedade histórica.
3 O CONTEXTO EDUCACIONAL EM TEMPOS DE 
GLOBALIZAÇÃO: DO CÓDEX À TELA 
O códex consistiu nos manuscritos gravados em madeira no formato de 
livro, que foram muito utilizados no final da Idade Média, a partir do século XV. 
Significou a superação dos antigos pergaminhos, e em contrapartida o códex foi 
substituído pelos livros em papel, e agora, mais recentemente, os livros impressos 
em papel passaram a ser substituídos pelos e-books e demais versões de livros 
digitais.
Uma das principais alterações que a humanidade vivenciou no fim do século 
XX e início do século XXI foi a ampliação do acesso à informação proporcionado 
pelos computadores, em especial, pela internet, que possibilitou uma melhoria 
em vários aspectos do desenvolvimento intelectual humano, pois as informações 
científicas e o acesso a bibliotecas e museus pode ser viabilizados de forma virtual. 
Um estudante no Brasil, por exemplo, pode acessar a seção de obras raras da 
Biblioteca de Lisboa. Todavia, esta alteração na relação do conhecimento que foi 
provocada pela internet nos posiciona a outra questão: a autoridade do professor.
 
Durante os últimos séculos, o professor era considerado o dono do 
conhecimento. Hoje, os educadores não mais possuem este papel, pois as alterações 
e descobertas científicas provocam questões nas quais as verdades científicas 
são questionadas diariamente nos periódicos, das mais distintas disciplinas 
do conhecimento humano. Neste sentido, os professores são muito mais os 
mediadores das relações educacionais, despertando curiosidades e desenvolvendo 
determinadas sensibilidades dos educandos em relação ao mundo que os rodeia. 
132
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
Com relação aos acúmulos alcançados pela ciência, bem como os alcances e 
formas de acesso ao conhecimento, leia com atenção as reflexões que Durant (2000, 
p. 9) tece:
O conhecimento humano tornou-se incontrolavelmente vasto; cada 
ciência gerou uma dúzia de outras, cada qual mais sutil que as demais; 
o telescópio revelou estrelas e sistemas em número tal, que a mente do 
homem não consegue contá-los ou dar-lhes nomes; a geologia falou 
em termos de milhões de anos, quando os homens, antes dela, haviam 
pensado em termos de milhares; a física descobriu um universo no 
átomo, e a biologia encontrou um microcosmo na célula; a fisiologia 
descobriu um mistério inesgotável em cada órgão, e a psicologia, em 
cada sonho; a antropologia reconstruiu a insuspeitada antiguidade 
do homem, a arqueologia desenterrou cidades e estados esquecidos, 
a história provou que toda história é falsa e pintou uma tela que só 
um Spengler ou um Eduard Meyer podia ver como um todo; a teologia 
desmoronou, e a teoria política rachou; a invenção complicou a vida e a 
guerra, e as doutrinas econômicas derrubaram governos e inflamaram 
o mundo; a própria filosofia, que antes havia convocado todas as 
ciências para ajudá-la a formar uma imagem coerente do mundo e fazer 
um retrato atraente do bem, achou que sua tarefa de coordenação era 
prodigiosa demais para a sua coragem, fugiu de todas essas frentes 
de batalha da verdade e escondeu-se em vielas obscuras e estreitas, 
timidamente a salvo dos problemas e das responsabilidades da vida. 
O conhecimento humano tornara-se demasiado para a mente humana.
 
O ensino a distância também passou por profundas transformações nos 
últimos anos, graças às inovações da informática, pois uma primeira geração de 
ensino a distância acontecia com os cursos por correspondência. Uma segunda 
geração, pelos cursos que utilizavam o rádio e a televisão como mediadores do 
ensino. Hoje, com os computadores, a facilidade do acesso à informação possibilitou 
uma nova forma de ensino, com cursos a distância de graduação em diversas áreas 
do conhecimento humano. 
No que tange à educação em todos os níveis, o que os computadores estão 
proporcionando são alterações nos hábitos de leitura (CHARTIER, s.d). Pois, temos 
uma geração que está se formando que não são migrantes digitais, mas nativos 
digitais. Isto é, ao invés de leitores de livros que passam a se habituar à internet, 
existem jovens que já possuem na internet seu principal hábito de leitura. Um 
aspecto interessante e revolucionário foi a do fim da leitura de jornais impressos, 
que passam por dificuldades para se manter. Alguns jornais importantes não mais 
circulam em meios impressos, como o Jornal do Brasil. 
Outra prática de leitura que se transformou foi a utilização de enciclopédias, 
hoje substituídas pelos sites de busca. O declínio de livros impressos não é 
necessariamente um problema educacional, porém, as atuais gerações não possuem 
uma carga de leitura considerável comparada a gerações anteriores. 
A internet e os computadores ainda são, muitas vezes, concorrentes dos 
professores em seu cotidiano escolar. Cabe às atuais gerações de educadores, que 
se formam nas universidades, vencer o desafio de transformar a tecnologia em 
uma poderosa aliada da educação no Brasil. 
TÓPICO 3 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
133
As universidades, em sua origem etimológica, significam justamente 
pensamento universalizado.Como podemos observar, as universidades, desde o 
seu surgimento na Idade Média, estão relacionadas às relações de poder no interior 
das fronteiras dos Estados Nacionais. Isto porque o conhecimento sempre foi uma 
arma poderosa nas relações de poder. 
As diversas ciências que surgem com o desenvolvimento secular das 
universidades nos apresentaram para a humanidade melhorias incalculáveis na 
qualidade de vida cotidiana, no desenvolvimento das condições de saúde das 
pessoas. Também são frutos do desenvolvimento técnico-científico em geral, 
relacionados às universidades, os terríveis armamentos que podem dizimar a vida 
humana por diversas vezes.
4 IMPLICAÇÕES DA PÓS-MODERNIDADE NO CONTEXTO 
EDUCACIONAL
As reflexões de Fromm (1987) se fazem pertinentes no ponto em que ele 
discute que a técnica nos tornou onipotentes (pode-se tudo); a ciência nos fez 
oniscientes (sabe-se tudo). O homem moderno e contemporâneo encontra-se 
ávido e sedento por mais, e alcançar cada vez níveis mais específicos, profundos 
e complexos; a partir de então, a natureza, os corpos e os materiais tinham de ser 
‘acossados em seus descaminhos’, ‘obrigados a servir’ e ‘escravizados’. O comando 
foi o de ‘reduzir à obediência’, e o objetivo do cientista foi de ‘extrair da natureza, 
sob tortura, todos os seus segredos’ (CAPRA, 1982).
A visão do mundo e da vida moderna e que ainda prevalece nos tempos 
contemporâneos foi conduzida a partir de duas distinções fundamentais, entre o 
conhecimento científico e o conhecimento do senso comum, por um lado, e entre 
a natureza e a pessoa humana, por outro, ambos completamente dissociados 
(SANTOS, 1995).
No campo metodológico da construção do conhecimento foi observada 
uma espécie de aversão à dúvida, a precipitação nas respostas, o pedantismo 
cultural, o receio de contradizer, a parcialidade, a negligência na pesquisa social, o 
fetichismo verbal, a tendência a dar-se por satisfeito com conhecimentos parciais, 
o que impediu o entendimento humano de estabelecer uma relação profunda e 
conciliadora com a natureza das coisas, e foram, em vez disso, responsáveis por 
constituir uma ligação com conceitos fúteis, amorais e experimentos não planejados 
(ADORNO; HORKHEIMER, 2000).
Na modernidade, o objetivo da ciência era o domínio e o controle da 
natureza, afirmando que o conhecimento científico podia ser usado para tornar 
o homem o senhor e dominador da natureza. O rigor científico encontrava-
se fundado no rigor matemático, um rigor que quantifica e que, ao quantificar, 
desqualifica, um rigor que, ao objetivar os fenômenos, os objetualiza e os degrada, 
que, ao caracterizar os fenômenos, os caricaturiza (SANTOS, 1999).
134
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
Nestes termos, o conhecimento ganhou em rigor, mas perdeu em riqueza, 
relevância e justificativa social; por outro lado, a retumbância dos êxitos da 
intervenção tecnológica escondeu os limites da nossa compreensão do mundo, e 
reprimiu a pergunta pelo valor e sentido humano e científico. 
A pós-modernidade é um conceito em debate nas ciências humanas e 
pretende classificar o mundo da atualidade, no qual as antigas estruturas sociais, 
com o Estado, as indústrias, as famílias, que eram instituições sólidas, verdadeiros 
pilares na sociedade ocidental, vêm sendo profundamente questionadas. Alguns 
teóricos apresentam o mundo atual como um processo de transformação rápida 
e veloz das estruturas sociais, no qual a pluralidade de ideias, ações e práticas se 
revela uma realidade presente. 
É difícil estabelecer uma data de início da pós-modernidade. Mas, de toda 
forma, o pós-guerra e as transformações nos costumes vivenciadas nos anos 1960 
nos demonstram um mundo que não mais crê nos valores iluministas, pois uma 
ideia universalizante, na qual o Estado é tripartite como no modelo de Montesquieu, 
mostra limites devido à descrença nos políticos, devido aos constantes escândalos 
de corrupção.
 
As tendências pós-modernas trouxeram em sua essência aspectos que 
tratam da heterogeneidade, fragmentação, subjetividade e relatividade, que 
podem ser entendidos como o estágio e a metamorfose mais sublime da época 
moderna (DIEHL; TEDESCO, 2001).
No campo cultural, a pós-modernidade se caracterizou por projetos 
que revisitaram outras épocas e períodos históricos; de onde trouxeram para o 
momento presente e de forma atualizada estilos, conceitos; outro projeto também 
foi o de repaginar um determinado cenário e contexto, muito distante e diferente 
do que foi e como existia no original. Muitas vezes, neste processo, o que ocorre é 
a perda da essência, a coerência e a capacidade de originalidade das manifestações 
artísticas atuais.
No campo dos movimentos sociais é possível relacionar, dos anos de 1960, 
o feminismo, os panteras negras e movimentos ecológicos, os chamados “novos 
movimentos sociais”, juntamente com as revoltas estudantis, de contracultura 
e antibelicistas, que reclamavam pelo retorno às lutas pelos direitos civis, os 
movimentos revolucionários do terceiro mundo, as questões pela paz, entre outros.
Nestes movimentos pode-se indicar que o feminismo contribuiu para 
o reconhecimento de outros grupos no interior da sociedade e da política, mas 
também favoreceu diretamente a fragmentação conceitual do sujeito, nas relações 
que se estabeleciam do campo público ao privado, do trabalho ao lar, da vida 
profissional à vida pessoal, divisão doméstica do trabalho; no campo de atuação 
política, da família, da sexualidade, ao cuidado das crianças, entre outros aspectos, 
no ponto em que tomou para si a luta específica das mulheres, desarticulado de 
uma luta maior de melhoria das condições e dignidade humana; bem como o 
movimento ambientalista, que tem suas ações pautadas somente nas questões que 
TÓPICO 3 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
135
dizem respeito à natureza, desarticuladas de uma preocupação maior para o ser 
humano que também compõe o mesmo meio.
 
O desenvolvimento das máquinas artificiais rumo à autonomia crescente 
e à auto-organização e o desenvolvimento futuro das inteligências artificiais 
fazem-nos imaginar a era das metamáquinas que, associadas às micromáquinas 
nas nanotecnologias, liberariam os seres humanos de todas as obrigações 
secundárias e tarefas subalternas, permitindo-lhes viver poeticamente, dedicar-se 
ao desenvolvimento moral e espiritual. Mas percebe-se a permanência de sistemas 
totalitários, a concentração de renda e riqueza, a exploração do trabalho, a violação 
dos direitos humanos, intolerâncias religiosas, questões raciais e de gênero cada 
vez mais acirradas (MORIN, 2007).
Ideias e valores absolutos são relativizados. O relativismo é uma das 
principais marcas do nosso tempo, no qual os valores sociais, como o trabalho 
e a família, já não são considerados absolutos, mas, por vezes, preteridos por 
valores como o lucro fácil e a fama, a popularidade. Estes valores relativistas a que 
muitos estudantes foram formados revelam um choque com os antigos conceitos 
educacionais. 
O modelo de educação escolar tradicional vem sendo criticado nos últimos 
30 anos por diversos intelectuais, das mais distintas correntes teóricas. Uma espécie 
de mal-estar docente invade as salas de aula pelo país. Em grande parte, devido às 
distintas formas de ensinar em um mundo em que a velocidade de informação é 
maior que as atualizações curriculares. 
Um dos primeiros intelectuais a diagnosticar este problema foi o sociólogo 
marxista francês Louis Althusser. No livro "A ideologia e os aparelhos ideológicos 
de estado", afirmava a escola como um local no qual os professores eram os 
propagadores das ideias que mantinham o Estado como um agente da classe 
burguesa, ao inculcar ideias de submissão dos seres humanos. Uma submissão 
ao patrão, ao padre da paróquia, ao oficial do serviço militar, que nasceu de uma 
submissão incontida aos professores nas escolas. 
Um sociólogo argelino, PierreBourdieu, com base na tese de Althusser, 
buscou ampliar sua percepção. No livro A reprodução, afirmava não ser a escola 
um lugar pensante, mas um mero centro reprodutor de informações aos quais os 
alunos deveriam apenas memorizar, sem a ela apresentar reflexão. Esta excessiva 
memorização não levaria à construção de cidadãos conscientes, mas de homens e 
mulheres obedientes aos ditames do Estado. 
As temáticas abordadas por Foucault favoreceram contemplar a 
subjetividade, os modos de viver e fazer, os hábitos, os costumes, os valores e 
as tradições; deixando de lado a partir de então os grandes temas/pesquisas da 
História política, econômica e/ou as grandes sínteses da História Social (DIEHL, 
1993).
136
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
Na obra de Foucault encontra-se uma forte crítica aos processos de 
modernização da sociedade, bem como as estruturas dos governos que procuravam 
racionalizar de forma esmagadora os indivíduos. Diante disto, pesquisou a história 
do ensino, do saber, a epistemologia das palavras, a hermenêutica; a história da 
loucura, as teorias psiquiátricas, os espaços de manicômios, asilos, hospitais; as 
teorias penais e a arquitetura de prisões, o nascimento da biopolítica, o Estado 
regulador, o controle sobre o território e a população, do final do século XVIII e 
início do XIX, e as apresenta como instituições disciplinares das condutas e dos 
comportamentos sociais. 
Para o filósofo Michael Foucault, a escola era um local, assim como os 
quartéis, que visavam à construção de corpos dóceis. Por corpos dóceis busca-
se compreender a relação de submissão que os homens possuem perante as 
instituições do Estado, um dos fatores a explicar a convocação para os exércitos, 
ou mesmo, a relação de entrega de um paciente perante um médico. A função 
da escola enquanto instituição, de formar corpos dóceis, seria a de internalizar a 
disciplina, não apenas como valor abstrato, mas como uma expressão cotidiana 
dos homens e das mulheres quando adultos.
 
Entre os pensadores da escola podemos destacar Perrenoud, que escreveu 
o livro "As 10 novas competências para ensinar". Buscou este educador suíço lembrar 
a importância do professor como um agente que lidera o desencadeamento do 
processo educativo. 
Em Portugal, por meio da Escola da Ponte, na Vila das Aves, surgiu uma 
proposta educacional diferenciada, tendo como formulador o professor José 
Pacheco, que buscou criar, na Escola da Ponte, uma nova fórmula de ensino, na 
qual os estudantes possuem maior liberdade na escolha dos conteúdos e temáticas 
a serem desenvolvidos, ou seja, em que a autonomia dos estudantes foi levada a 
cabo. 
 
O fato de vivermos uma verdadeira revolução em matéria de informações, 
mais um problema, se torna um salutar desafio aos docentes das mais distintas 
disciplinas, pois, ao invés de se trabalhar com a excessiva memorização, o acesso 
a informações permite ao professor construir e incentivar atitudes reflexivas nos 
educandos. Como veremos, estas transformações atingem diversos níveis de 
ensino. 
TÓPICO 3 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
137
EDUCAÇÃO INTEGRAL
Para maiores informações sobre o projeto de José Pacheco, acesse o site que indicamos 
a seguir:
Centro de referência em Educação Integral: 
Disponível em: . 
FILME 
 AO MESTRE COM CARINHO é um clássico do cinema de Hollywood e retrata o cotidiano 
de um professor comprometido com os seus alunos. Obras cinematográficas como esta 
nos revelam a noção de quanto o engajamento de um educador pode mudar a realidade 
de muitos estudantes. 
LIVRO
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. 22. ed. São Paulo: Cultrix, 1992. 447 p.
Capra é um estudioso da física, ciência e das questões ambientais contemporâneas. Nesta 
obra, o autor discute a crise dos paradigmas modernos, os modelos de Newton e Descartes, 
as concepções mecanicistas da sociedade, os problemas econômicos mundiais, o lado 
sombrio do crescimento, as concepções alternativas de vida e sociedade.
O livro encontra-se na íntegra e em pdf disponível em: 
.
FILME
O ponto de mutação/Mindwalk. Bernt A. Capra, Estados Unidos, 1990. Cor
O longa-metragem é dirigido por Bernt A. Capra, irmão de Fritjof Capra, autor do livro de 
mesmo nome, que foi publicado em 1982. 
Através dos personagens de um poeta (angustiado com o sentido e a falta de sentido da vida 
humana), um político liberal (que experimenta uma crise por não ter vencido as eleições) 
e uma física (que se encontra frustrada por ver suas experiências e conhecimentos sendo 
pervertidos e utilizados para fins militares e de destruição), o filme aborda a trajetória e 
as implicações do conhecimento humano a partir das teorias científicas do século XV no 
âmbito da física, economia, política, psicologia, ecologia etc., que serão implementadas na 
modernidade e que se encontram ainda em voga na atualidade.
O filme encontra-se disponível com legenda em português em: . 
DICAS
DICAS
DICAS
DICAS
138
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
Caro acadêmico! Atente para a leitura complementar. Trata-se de um 
texto que contempla as principais abordagens que se encontram no pano de 
fundo do fazer educacional. As abordagens filosóficas educacionais encontram-
se relacionadas com as filosofias gerais, que foram apresentadas na leitura 
complementar do Tópico 1 desta unidade. As abordagens filosóficas educacionais 
são colocadas em prática no momento de transpor o conhecimento científico para 
a realidade das salas de aula. Para tanto, vamos conhecer melhor cada uma delas, 
reforce a atenção e prossiga na leitura:
LEITURA COMPLEMENTAR
ABORDAGENS FILOSÓFICAS EDUCACIONAIS
Kevin Daniel dos Santos Leyser
Dentre as abordagens filosóficas educacionais prevalecem o Perenialismo, o 
Essencialismo, o Progressismo e o Reconstrucionismo. Essas filosofias educacionais 
fornecem elementos essenciais do que se deve ensinar e são fundamentais no que 
diz respeito aos componentes curriculares escolares. Vamos estudar e aprofundar 
cada uma delas:
1- Perenialismo
Para os perenialistas, o objetivo da educação é garantir que os alunos 
adquiram compreensão sobre as grandes ideias da civilização ocidental. Essas 
ideias têm o potencial para resolver problemas em qualquer época. O foco é ensinar 
ideias que são eternas, para buscar verdades duradouras que são constantes e não 
mudam, como os mundos naturais e humanos em seu nível mais essencial não 
mudam. Ensinar esses princípios imutáveis é crítico. Os seres humanos são seres 
racionais, e suas mentes precisam ser desenvolvidas. Assim, o cultivo do intelecto 
é a mais alta prioridade de uma educação que vale a pena. O currículo exigente 
centra-se na obtenção de alfabetização cultural, enfatizando o crescimento dos 
alunos em disciplinas duradouras. As realizações mais sublimes da humanidade 
são enfatizadas – as grandes obras da literatura e da arte, as leis ou os princípios da 
ciência. Advogados dessa filosofia educacional são Robert Maynard Hutchins, que 
desenvolveu o programa Grandes Obras em 1963, e Mortimer Adler, que avançou 
ainda mais este currículo baseado em 100 grandes obras da civilização ocidental.
2- Essencialismo
Os essencialistas acreditam que há um núcleo comum de conhecimento 
que precisa ser transmitido aos alunos de forma sistemática e disciplinada. A 
ênfase nesta perspectiva conservadora é sobre padrões intelectuais e morais que 
as escolas devem ensinar. O núcleo do currículo é conhecimento e habilidades 
essenciais e rigor acadêmico. Embora essa filosofia educacional seja semelhante, 
TÓPICO 3 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO
139
de certa forma, ao perenialismo, os essencialistas aceitam aideia de que esse 
currículo pode mudar. A escolaridade deve ser prática, preparando os alunos para 
se tornarem membros valiosos da sociedade. Ela deve se concentrar em fatos – a 
realidade objetiva lá fora – e "o básico", a formação dos alunos para ler, escrever, 
falar e calcular clara e logicamente. As escolas não devem tentar definir ou 
influenciar as políticas. Aos alunos devem ser ensinados o trabalho, o respeito pela 
autoridade e a disciplina. Os professores devem ajudar os alunos a manter seus 
instintos não produtivos sob controle, como a agressividade ou a insensatez. Esta 
abordagem desenvolveu-se em reação às abordagens progressistas prevalentes 
nas décadas de 1920 e 1930. William Bagley desafiou as abordagens progressistas 
no periódico que ele inaugurou em 1934. Outros proponentes do essencialismo 
são: James D. Koerner, H. G. Rickover, Paul Copperman e Theodore Sizer.
3- Progressismo
Os progressistas acreditam que a educação deve se concentrar em toda a 
criança, e não no conteúdo ou no professor. Esta filosofia educacional enfatiza que 
os alunos devem testar ideias através da experimentação ativa. A aprendizagem 
está enraizada nas questões dos alunos que surgem ao experimentar o mundo. 
É ativa, não passiva. O aluno é um solucionador de problemas e pensador que 
faz sentido através de sua experiência individual no contexto físico e cultural. 
Professores eficazes fornecem experiências para que os alunos possam aprender 
fazendo. O conteúdo do currículo é derivado dos interesses e perguntas dos alunos. 
O método científico é usado por educadores progressistas para que os alunos 
possam estudar a matéria e os eventos sistematicamente e em primeira mão. A 
ênfase está no processo – como se conhece. A filosofia da educação progressiva foi 
estabelecida na América desde meados da década de 1920 até meados dos anos 
1950. John Dewey foi seu principal proponente. Um de seus princípios era que a 
escola deveria melhorar o modo de vida dos nossos cidadãos através da experiência 
da liberdade e da democracia nas escolas. A tomada de decisão compartilhada, o 
planejamento de professores com alunos, os tópicos selecionados pelos alunos são 
todos aspectos desta abordagem. Os livros são ferramentas, e não autoridade.
4- Reconstrucionismo/Teoria Crítica
O reconstrucionismo social é uma filosofia que enfatiza o tratamento de 
questões sociais e uma busca para criar uma sociedade melhor e uma democracia 
mundial. Educadores reconstrucionistas se concentram em um currículo que 
destaca a reforma social como o objetivo da educação. Theodore Brameld (1904-
1987) foi o fundador do reconstrucionismo social, em reação às realidades da 
Segunda Guerra Mundial. Ele reconheceu o potencial para a aniquilação humana 
através da tecnologia e crueldade humana ou a capacidade de criar uma sociedade 
beneficente usando a tecnologia e a compaixão humana. George Counts (1889-
1974) reconheceu que a educação era o meio de preparar as pessoas para criar essa 
nova ordem social.
Os teóricos críticos, como os reconstrucionistas sociais, acreditam que os 
Highlight
140
UNIDADE 2 | ELEMENTOS DO CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL MODERNO E CONTEMPORÂNEO
sistemas devem ser mudados para superar a opressão e melhorar as condições 
humanas. Paulo Freire (1921-1997) foi um brasileiro cujas experiências vivendo 
na pobreza o levaram a defender a educação e a alfabetização como veículo de 
mudança social. Em sua opinião, os seres humanos devem aprender a resistir 
à opressão e não se tornar suas vítimas, nem oprimir os outros. Para isso são 
necessários o diálogo e a consciência crítica, o desenvolvimento da consciência 
para superar a dominação e a opressão. Ao invés de "ensino bancário", no qual 
o educador deposita informações nas cabeças dos alunos, Freire viu o ensino e a 
aprendizagem como um processo de investigação em que a criança deve inventar 
e reinventar o mundo.
Para os reconstrucionistas sociais e teóricos críticos, o currículo concentra-
se na experiência dos alunos e na ação social em problemas reais, como a violência, 
a fome, o terrorismo internacional, a inflação e a desigualdade. As estratégias para 
lidar com questões controversas (particularmente em estudos sociais e literatura), 
inquérito, diálogo e múltiplas perspectivas são o foco. A aprendizagem baseada na 
comunidade e a inserção do mundo na sala de aula são também estratégias.
141
RESUMO DO TÓPICO 3
Ao longo do tópico, você pôde compreender que:
• Entre os principais desafios educacionais da época contemporânea estão os de 
erradicar o analfabetismo, doenças e epidemias, atuar na garantia dos direitos 
humanos, na emancipação e realização humana.
• Os espaços considerados formadores e de referência em educação são governos, 
autoridades, unidades escolares, instituições de ensino nos mais diferentes 
níveis, instituições não escolares, organizações não governamentais, entidades e 
a sociedade civil.
• Os ideais de progresso, democracia, inclusão, liberdade são traduzidos como 
resultantes do trabalho, consumo e do domínio de tecnologias.
• A realidade dos primeiros anos do século XXI é de concentração de renda, 
desigualdades sociais, exploração humana, destruição da natureza, crises 
econômicas e problemas políticos.
• Ocorre ampla valorização dos modelos científicos. A matéria e a tecnologia são 
valorizadas como saberes populares, dissociação com a natureza e o homem, em 
que o homem é responsável por predar, dominar e extrair da natureza tudo o 
que é necessário. 
• Os governos, as indústrias, as famílias e a Igreja deixaram de ser referências 
sólidas e, em contrapartida, novas estruturas e movimentos sociais têm 
emergido, tais como movimentos étnicos, feminista e ambientalista.
• O relativismo de valores culturais e sociais, e a legitimação dos princípios de 
lucro fácil, sucesso financeiro e material, prestígio midiático e fama.
• Para Michael Foucault, a escola contribuiu para a formação de corpos dóceis, 
semelhante à disciplina no interior de quartéis e da relação entre pacientes e 
médicos.
• Os computadores, a internet e os aparelhos telefônicos móveis estão muito 
presentes no cotidiano escolar, porém ainda não foram implementadas soluções 
eficientes de ensino e aprendizagem com eles.
142
1- Na época contemporânea, vários fatos marcam a luta de sujeitos, 
grupos e categorias que até então não haviam tido vez e voz 
no interior da sociedade e das instituições políticas. Os novos 
grupos que agora alcançaram representatividade são indicados 
como responsáveis por promover uma espécie de ‘política das identidades’ 
e acabaram por formar guetos, redutos, separatismos e unidades específicas 
e circunscritos a uma causa somente. Que grupos/movimentos são estes?
a) ( ) Movimentos pacifistas, ambientalistas, antirracistas e feministas.
b) ( ) Grupos de peregrinos e romeiros que almejam difundir os dogmas 
religiosos.
c) ( ) Movimentos que se expressam por meio das mídias eletrônicas e 
aplicativos em celulares.
d) ( ) Grupos de guerrilheiros e comandos armados que detém o controle de 
determinada região e população.
AUTOATIVIDADE
2 A pós-modernidade foi responsável por atribuir inúmeras 
transformações ao contexto da educação e do ensino da nossa 
época. A pós-modernidade é interpretada como um período que 
ganhou expressão a partir dos anos de 1960, ficou marcada por 
promover mudanças e fazer problematizações às explicações e instituições 
da época moderna, que ainda se perpetuam em meio à sociedade atual. 
Diante disso, disserte sobre as repercussões e os impactos das concepções 
pós-modernas no campo educacional contemporâneo.
143
UNIDADE 3
O CONTEXTO HISTÓRICO-
FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO 
BRASILEIRA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• analisar o espaço da educação brasileira como local de continuidade e des-
continuidade, ou rupturas e permanências em termos de teorias, modelos, 
explicações, métodos, normas e leis educacionais;• estudar o contexto histórico e as estruturas educacionais do período colo-
nial brasileiro, em especial o sistema de ensino da Companhia de Jesus;
• conhecer as condições históricas e sociais do período político denominado 
de Brasil Império, no que diz respeito a instituições políticas e políticas 
públicas em educação para a época;
• analisar as principais diretrizes educacionais que se instalaram no Brasil a 
partir da Proclamação da República e nos primeiros anos do século XX;
• identificar e compreender os novos rumos e tendências que se configura-
ram na educação brasileira a partir da Constituição de 1988.
A Unidade 3 deste caderno está dividida em três tópicos de conteúdos. Ao 
longo de cada um você encontrará sugestões de filmes, de leitura, resumos e 
atividades de fixação dos conteúdos estudados.
TÓPICO 1 – CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL NO 
PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL
TÓPICO 2 – CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO EDUCACIONAL A 
PARTIR DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA E NOS PRI-
MEIROS ANOS DO SÉCULO XX
TÓPICO 3 – CONTEXTO HISTÓRICO E INTELECTUAL DA SEGUNDA 
METADE DO SÉCULO XX
144
145
TÓPICO 1
CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA 
EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL E 
IMPERIAL
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Agora chegou o momento de analisarmos em linhas 
gerais como se deu a estruturação do ensino e das instituições educacionais no 
Brasil. Isso significa reconhecer o que adaptamos de outras regiões e países, como 
a Europa e os Estados Unidos, e o que desenvolvemos de forma genuína, ou seja, o 
que a intelectualidade brasileira foi capaz de pensar e realizar a partir do contexto 
de desafios da realidade que se apresentava.
Antecipamos que o Brasil, em termos de políticas de governo em educação, 
por muito tempo não se preocupou em pensar uma estrutura educacional coesa e 
sólida que envolvesse ensino, pesquisa e extensão. Isto passou a ser uma realidade 
somente a partir do século XX e, hoje, no descortinar das primeiras décadas 
do século XXI, ainda não representa uma prática sólida e autônoma, ainda nos 
encontramos numa posição de dependência no que diz respeito a matrizes teóricas 
e metodológicas do que é produzido no exterior.
Gostaríamos que estas reflexões não sejam responsáveis por desmerecer 
toda a jornada e luta que foi travada pelas gerações anteriores, pois sem o trabalho 
deles não estaríamos hoje aqui, revisitando e refletindo o seu legado, e muito menos 
teríamos o ponto de partida no qual nos situamos; assim como não desestimulem 
ou desmotivem as superações que você, sua turma e sua geração podem fazer 
pelo contexto educacional atual, seja em meio à sua comunidade, região, país e/ou 
mundo.
Neste momento, nos dedicaremos mais a descrever e explicar as estruturas 
políticas, as instituições e os movimentos educacionais, os métodos e os principais 
idealizadores de teorias pedagógicas brasileiras. Fique atento aos tópicos que 
compõem esta unidade, procure identificar as continuidades e semelhanças que 
perpassaram cada época e, em especial, as mudanças e rupturas que possibilitaram 
a renovação do pensamento pedagógico no Brasil.
O que compreendemos por período colonial brasileiro se refere a uma 
temporalidade iniciada em 1500, quando da viagem de Pedro Álvares Cabral, 
até a Independência do Brasil, em 1822. Todavia, estes marcos cronológicos da 
história brasileira não correspondem, necessariamente, aos períodos de maior 
UNIDADE 3 | O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
146
intensidade nas transformações sociais que permitiram ao Brasil sua composição 
socioeconômica presente; de modo sistemático e cronológico, a história política 
brasileira se divide em três períodos: período colonial, período imperial e período 
republicano (FAUSTO, 2000).
Votos de uma boa leitura e apropriação de conhecimentos pela frente!
2 O EXEMPLO DE PORTUGAL 
 
A educação brasileira, no período colonial, se relaciona às dinâmicas 
educacionais da metrópole; na colônia obrigatoriamente vigoraria a confissão 
religiosa da metrópole, portanto, muitas das decisões relativas às questões 
educacionais durante o período colonial brasileiro se relacionam às políticas 
portuguesas em relação às suas colônias. Por isso, devemos, antes de compreender 
o Brasil, analisar os antecedentes portugueses na educação. 
Portugal surge como nação por volta do século XIII, quando se tem no 
poder os reis da dinastia afonsina. Durante a chamada Revolução de Avis, de 1385, 
surge uma nova dinastia homônima ao movimento revolucionário. Com os reis 
da Dinastia Avis temos o auge das grandes navegações portuguesas. Expansão 
ultramarina iniciada em 1415, quando os lusitanos, liderados pelo infante D. 
Henrique, conquistaram a cidade de Ceuta, no norte da África. Depois tivemos 
as chamadas grandes viagens de Gil Eanes, que ultrapassou o Cabo Bojador; de 
Bartolomeu Dias, que descobriu o Cabo da Boa Esperança, e Vasco da Gama, que 
descobriu o caminho marítimo para as Índias. Dois anos após, as embarcações 
comandadas por Pedro Álvares Cabral alcançaram as praias de Porto Seguro, 
sendo a data “oficial” da primeira chegada dos portugueses ao Brasil (MATOSO, 
2001). 
Portugal confessava-se cristã católica, sendo assim o modelo antropológico 
e cosmovisão tomista, cuja matriz encontra-se nas obras de São Tomás de Aquino. 
Segundo Lauand e Sproviero (1999), a doutrina de São Tomás centra-se na noção de 
participação, no sentido de que os indivíduos comungam dos ideais, congregam, 
fazem parte do grupo ou do movimento. O que nos leva a interpretar que os novos 
adeptos e convertidos da fé católica deveriam ser catequizados e posteriormente 
demonstrá-la e professá-la de forma íntegra e convincente.
Lauand e Sproviero (1999) acrescentam que o pensamento de São Tomás 
de Aquino foi responsável por sustentar filosoficamente as alianças que a Igreja 
Católica realizou com as instituições políticas e econômicas ao longo da era das 
grandes navegações, descobertas, colonização e catequização do Novo Mundo.
A relação das grandes navegações portuguesas com a educação é um 
ponto de discórdia entre diversos historiadores, pois, para alguns, existiu 
uma instituição formada com o objetivo de educar jovens marinheiros para a 
TÓPICO 1 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL
147
“faina marítima”, isto é, para as lidas cotidianas navais. A escola teria como 
local de sede o promontório de Sagres, no sul da Península Ibérica. Teria como 
principal diretor o infante D. Henrique, que seria o principal responsável 
pela fundação e manutenção de uma instituição de ensino para a Marinha. 
Todavia, existem outros historiadores, que não concordam com a existência 
de tal “escola de aprendizes-marinheiros”. Isto porque as navegações, em seus 
aspectos de maior materialidade, como a construção naval, ou teóricos, como a 
navegação astronômica, tiveram seu desenvolvimento ligados a uma empiria no 
trato com o mar, e da tradição de povos que habitam a Península Ibérica e que 
possuíam o hábito tradicional de contemplar as estrelas, como os judeus e árabes. 
Uma instituição de ensino que pode ser considerada um ponto de concórdia 
entre os historiadores da educação em língua portuguesa foi a Universidade de 
Coimbra. Fundada ainda no período medieval, a universidade foi formada para 
ser um centro intelectual do reino português. 
Enquanto Guimarães e posteriormente Lisboa foram as capitais políticas 
de Portugal, Coimbra foi a sua capital cultural, pois está nesta cidade a mais 
antiga universidade. Não apenas por sua tradição, mas também por sua condição 
enquanto universidade, Coimbra se destacou. Em geral, a principal carreira a ser 
seguida era a de Direito. Os letrados de Coimbra eram as principais figuras da 
burocracia do Império Marítimo Português. Com isso, podemos compreender 
algumas questões ligadas às instituições educacionais do Brasil Colonial. 
No Brasil, ao contrário da América Espanhola, não havia universidades 
(HOLANDA,1995). Isto é, ao invés de investir em universidades no ultramar, o 
governo português centralizava a educação superior em uma única instituição. O 
Império Espanhol, ao contrário, instituiu universidades em diversos pontos de sua 
colônia americana, sendo a mais antiga a Universidade de São Marcos, no Peru. 
Tal política de educação superior da realeza lusitana possuiu pontos 
positivos e negativos. Os pontos negativos podem ser enumerados na dificuldade 
de acesso ao Ensino Superior aos súditos lusitanos na América Portuguesa, além 
da pouca produção intelectual, algo que a presença de uma universidade pode 
fomentar, porém, entre os pontos positivos, está a de uma mentalidade uniforme 
entre os burocratas do reino português, pois alguns homens teriam de exercer, em 
uma mesma existência, cargos de poder em pontos distintos do globo, como na 
Ásia, na África e no Brasil. 
A educação desde os tempos mais longínquos consiste em um dos principais 
vetores na divulgação de novas ideias políticas, filosóficas e científicas. Por isso, 
os Estados nacionais, durante o Antigo Regime, possuíam um profundo controle 
não apenas nas instituições universitárias, como também sobre todas as produções 
intelectuais. Em Portugal existiu a denominada Mesa de Consciência e Ordem, 
órgão responsável pela censura de livros, peças teatrais e demais obras a serem 
publicadas no reino e nos domínios de ultramar. Todavia, para se estabelecer 
UNIDADE 3 | O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
148
o “certo” e o “errado” do ponto de vista intelectual, temos de compreender as 
disputas intelectuais no interior do reino português quinhentista. 
No Portugal dos Quinhentos, dois grupos sociais lutavam pela hegemonia 
das ideias: os erasmianos e os neoescolásticos. Os erasmianos eram os intelectuais 
ligados às ideias de Erasmo de Roterdã. Tal postura intelectual era ligada a 
influências agostinianas e humanísticas, típicas do Renascimento europeu: o 
pensamento neotomista.
 
A concepção erasmiana era influenciada pelo platonismo agostiniano, 
enquanto os neoescolásticos eram ligados ao pensamento de São Tomás de Aquino. 
O pensamento erasmiano foi fecundo em Portugal na primeira metade do século 
XVI. Damião de Góis foi um dos principais intelectuais erasmianos portugueses. 
O termo erasmiano é oriundo de Erasmo de Roterdã, intelectual importante no 
século XVI, autor de um clássico do pensamento ocidental chamado Elogio da 
Loucura.
Os erasmianos realizaram uma obra educacional interessante no afamado 
Colégio das Artes de Coimbra. Todavia, são expulsos e colocados sob suspeita. Em 
Portugal, assim como na Espanha, se debateu qual é o melhor método filosófico, e os 
neoescolásticos ganharam a disputa. Os jesuítas eram os principais neoescolásticos 
e foram os religiosos que substituíram os erasmianos no colégio coimbrão. Esta 
substituição é um marco na mudança de rumos da educação durante a Idade 
Moderna portuguesa.
Um dos marcos da colonização portuguesa nos trópicos da América foi a 
instalação do Governo Geral em 1550. Este foi acompanhado por religiosos jesuítas, 
que se instalaram no Brasil e marcaram profundamente a história brasileira nos 
séculos XVI e XVII, a ponto de se atribuir uma máxima ao historiador Capistrano 
de Abreu, cuja História do Brasil dos dois primeiros séculos é a história da 
Companhia de Jesus.
Na tentativa de explicar a instauração dos modelos de civilização, educação 
e aculturação da metrópole na colônia, Saviani (2004, p. 123) colabora descrevendo 
que “[...] no caso da educação instaurada no âmbito do processo de colonização 
tratava-se, evidentemente, de aculturação, já que as tradições e costumes que se 
busca inculcar decorrem de um dinamismo externo, isto é, que vai do meio cultural 
do colonizador para a situação objeto de colonização”. 
Segundo Paiva (1978), havia o projeto de transformação de costumes, que 
deveria alcançar e sensibilizar desde as organizações familiares, a estrutura de 
governo, a geografia das aldeias e as relações no interior das mesas, entre outros 
aspectos, almejando a superação dos costumes autóctones sob o pretexto de obter 
a salvação das almas. Em outras palavras, os hábitos selvagens dos povos nativos 
deveriam ser suprimidos e em seu lugar cultivados os valores da civilização, 
aqueles ainda da antiguidade clássica de Aristóteles e Platão, de superar os vícios 
por meio do hábito constante das virtudes.
TÓPICO 1 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL
149
BEDEL: ou disciplinador; nome dado ao responsável por aplicar a disciplina 
no interior dos espaços escolares, é comum também o nome ser utilizador para referir e 
denominar os profissionais que são responsáveis pelas atividades burocráticas. 
Tobias (1987) explica que, além da finalidade de aculturar e converter os 
nativos brasileiros, a educação desenvolvida no Brasil almejava formar padres, e 
que a estrutura familiar do Brasil, que se caracterizava por ser numerosa, fornecia 
condições favoráveis para tal, sendo que: “o primeiro filho tinha que ser o herdeiro 
da herança material do pai; o segundo, o intelectual da família; o ‘terceiro filho’ 
‘entrava para a Igreja” (TOBIAS, 1987, p. 80).
DICAS
Segundo Saviani (2007, p. 41), diversas ordens religiosas, tais como 
franciscanos, beneditinos, carmelitas, mercedários, oratorianos e capuchinhos 
desenvolveram ações educativas e religiosas em terras brasileiras, mas foram os 
jesuítas que as consolidaram ao longo da maior parte do período colonial. Logo, se 
faz necessário aprofundar os conhecimentos sobre elas. 
A Companhia de Jesus foi fundada por volta de 1530, por Inácio de Loyola, 
um basco que, desejando se tornar cavaleiro, ficou ferido e, se tratando em um 
mosteiro, solicitou ler sobre aventuras da cavalaria, mas acabou lendo a única 
literatura disponível no mosteiro, as hagiografias, isto é, a escrita sobre a vida de 
santos. Inspirado por esta literatura religiosa, acabou por fundar uma Companhia 
de Soldados de Cristo. Possuem os mesmos o lema Ad Majorem Gloriam Dei (Para a 
Maior Glória de Deus), como sigla as letras SJ, além de uma regra de vida comum 
própria. Dois livros são marcas do pensamento inaciano: Os exercícios espirituais e a 
Ratium Studiorum (SEBE, 1981). 
 
A Companhia de Jesus tinha como finalidade traduzir em ações a fé que 
professava; não lhe bastando meditar e orar, daí o fervor missionário, de caráter 
militante e combatente, que moveu os seguidores a considerar a cruz e a espada 
como faces de uma mesma moeda.
A Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu (Plano e Organização de 
Estudos da Companhia de Jesus) foi publicada no ano de 1599, continha as regras 
que orientavam todas as atividades dos agentes diretamente ligados ao ensino. 
Abrangia desde as regras do Provincial, passando pelas do Reitor, do Prefeito de 
Estudos, dos professores de modo geral e de cada matéria de ensino, abrangendo 
as regras da prova escrita, da distribuição de prêmios, do bedel, chegando às regras 
dos alunos e concluindo com as regras das diversas academias.
UNIDADE 3 | O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
150
3 FUNDAMENTOS DO MODELO E MÉTODO JESUÍTICO DE 
ENSINO
Os portugueses que gradualmente chegaram ao Brasil traziam os modelos 
e concepções que estavam em voga em Portugal e na Europa medieval. Os jesuítas 
se instalaram em diversos pontos do país. Dois dos mais afamados jesuítas que 
atuaram no Brasil colonial foram os padres José de Anchieta e Antônio Vieira. 
A importância da educação jesuítica para a história brasileira é incontável, 
pois foram eles os fundadores do Colégio de São Paulo de Piratininga, que deu 
origem à atual cidade de São Paulo, a maior metrópole brasileira.
Os jesuítas possuíam como método de estudo o Ratium Studiorum, pelo 
qual os estudantes eram disciplinados, ligando as ideias de Inácio de Loyola com 
o cotidiano dos alunos. Na colônia, as principais instituições eram as vinculadas 
ao idealjesuítico. O Colégio de Salvador possuiu grande qualidade acadêmica, a 
ponto de as autoridades coloniais solicitarem uma equiparação do Colégio Jesuíta 
de Salvador com a Universidade de Coimbra. Equiparação esta que não ocorreu 
por questões políticas. 
Quanto aos indígenas, a ação jesuítica foi muito intensa. Eles organizaram 
sua ação com relação às maneiras de catequizar através das reduções, formas de 
atrair os indígenas e nelas também explorar sua mão de obra, em especial nas 
denominadas “drogas do sertão”, isto é, as especiarias brasileiras, como castanhas. 
No interior da América do Sul, entre os territórios do Paraguai, Paraná e Rio 
Grande do Sul, a ação dos jesuítas com os indígenas foi grande, nas chamadas 
missões, nas quais os jesuítas influenciaram a cultura. Os padres traduziram as 
histórias bíblicas para o idioma guarani, até hoje a língua oficial dos paraguaios, ao 
lado do espanhol. Em relação ao idioma, em muitas localidades do Brasil Colonial, 
a chamada língua geral, uma forma de tupi-guarani padronizado pelos jesuítas, 
era língua corrente.
As reduções que foram edificadas no interior do Rio Grande do Sul, quando 
da expulsão dos jesuítas do Brasil, passaram por um longo período de declínio e 
decadência e hoje restam apenas ruínas das estruturas edificadas, que abrigavam 
as unidades de educação, trabalho e moradias. As edificações mais expressivas 
encontram-se na cidade de São Miguel das Missões, que foi reconhecida como sítio 
arqueológico de São Miguel Arcanjo e, em 1983, declarado patrimônio mundial 
pela Unesco. Observe a imagem a seguir da estrutura que a redução possuía, bem 
como uma imagem do local na atualidade:
TÓPICO 1 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL
151
FIGURA 23 - ESTRUTURA DA REDUÇÃO DE SÃO MIGUEL ARCANJO, SIMULAÇÃO DA 
ESTRUTURA ORIGINAL
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 30 out 2016.
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 29 out. 2016. 
FIGURA 24 - REDUÇÃO DE SÃO MIGUEL DAS MISSÕES-RS, IMAGEM ATUAL
UNIDADE 3 | O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
152
Silva (2012) procura explicar que:
A didática dos jesuítas era fiel aos fundamentos de sua pedagogia, 
reproduzindo, quase que completamente, o modelo medieval escolástico. 
Conteúdos e formas de ensino, assim, manteriam os professores e os 
estudantes sob a tutela magisterial da igreja, principalmente porque a 
livre interpretação das escrituras e a salvação pela fé eram bandeiras 
protestantes que atribuíam liberdades exageradas aos fiéis, do ponto de 
vista católico.
Se nos séculos XVI e XVII os jesuítas se destacaram nos aspectos educacionais 
da colônia, tal assertiva não corresponde ao século XVIII, no qual a ordem inaciana 
perdeu grande parte de seu prestígio, e em 1759 os jesuítas foram expulsos do 
Brasil. 
Por reformas pombalinas ou reformas ilustradas são denominadas as 
transformações político-sociais empregadas por um conselheiro do rei D. José 
I, José Sebastião de Carvalho Mello, que tinha o título de nobreza Marquês de 
Pombal. De maneira geral, possuíam caráter iluminista, racionalista e defendiam o 
estado laico, ou seja, o governo político sem a influência da Igreja. A partir daquele 
momento foram organizadas as aulas régias, avulsas e que seriam ministradas por 
um professor pago pela Coroa portuguesa.
Ao tentar modernizar o Estado português, Pombal influiu em diferentes 
campos da sociedade, com reflexos na educação, pois uma de suas medidas em 
relação ao contato do Estado português com os indígenas brasileiros foi instituída 
em um dispositivo legal, o Diretório dos Índios do Grão-Pará e Maranhão. 
Nesta lei, Pombal instituiu que as reduções deveriam ser comandadas não mais 
por religiosos, mas por funcionários do Estado. Com isto, o poder dos jesuítas 
diminuiu. Este poder jesuítico acabou com a expulsão desta ordem religiosa dos 
territórios portugueses (FAUSTO, 2000). 
 
Para substituir os Soldados de Cristo foram denominados irmãos da Ordem 
do Oratório, como substitutos dos inacianos nas instituições religiosas. Em grande 
parte, pela similaridade do carisma das duas ordens em pregar o evangelho, 
além dos interesses econômicos por parte da monarquia portuguesa, que via na 
Companhia de Jesus uma concorrente comercial. A expulsão dos jesuítas significou 
uma profunda alteração, pois eles eram os principais promotores da educação 
brasileira.
PARA REFLETIR:
Caro acadêmico, ao longo de todo o período do Brasil Colonial não 
existiram universidades em nosso país. Até que ponto esta característica de 
nossa colonização nos prejudicou no que diz respeito ao desenvolvimento 
educacional? 
TÓPICO 1 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL
153
O período colonial foi um tempo de forte controle sobre a estruturação e o 
desenvolvimento do Brasil; o país não era impedido somente de criar universidades, 
como também de estruturar atividades industriais.
Para compreender o grau de controle que Portugal exercia sobre o Brasil e 
os alcances do domínio que exercia, observe a passagem a seguir, que ilustra uma 
das determinações da rainha Maria I, que governou o Brasil e Portugal entre os 
anos de 1777 e 1815: 
O Brasil é o país mais fértil do mundo em frutos e produção da terra. 
Os seus habitantes têm, por meio da cultura, não só tudo quanto lhes é 
necessário para o sustento da vida, mais ainda artigos importantíssimos, 
para fazerem, como fazem, um extenso comércio e navegação. Ora, 
se a estas incontáveis vantagens reunirem as das indústrias e das 
artes para o vestuário, luxo e outras comodidades, ficarão os mesmos 
totalmente independentes da metrópole. É, por conseguinte, de 
absoluta necessidade acabar com todas as fábricas e manufaturas no 
Brasil (Alvará de 05.01.1785 in Fonseca, 1961- D. Maria I- A louca).
Tendo em vista as implicações destas determinações ao processo histórico 
de desenvolvimento do Brasil, passam a fazer sentido muitos dos problemas em 
termos de desenvolvimento e justiça social que ainda se apresentam em nossa 
época. 
Caro acadêmico! Vamos adiante nos estudos. O cenário histórico, social, 
político e filosófico passa por significativas alterações a partir da mudança do 
sistema colonial ao sistema monárquico. Prossiga na leitura.
4 FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO 
NA ÉPOCA IMPERIAL
 
Nos mais de 80 anos em que o Brasil foi governado pelo regime de monarquia 
(1808-1889), o sistema educacional atuava em três níveis: o ensino elementar (ou 
primário), o ensino secundário e o ensino superior. Piletti (2006) destaca que o ensino 
no Brasil Império era fragmentado em aulas avulsas (e dispersas), caracterizando 
conteúdos totalmente desconexos para o ensino elementar e o ensino secundário. 
Deve-se considerar ainda que não havia exigência de conclusão de uma forma de 
ensino para alcançar a outra fase, ou seja, mesmo sem concluir o ensino elementar, 
o ensino secundário poderia ser acessado. 
 
A configuração social do Brasil no século XIX não favorecia investimentos 
à educação primária. A Constituição, outorgada em 1824, destacava que “A 
instrução primária é gratuita para todos os cidadãos [...]”, mas o número de escolas 
era reduzido. Foi somente em 15 de outubro de 1827 que a Assembleia Legislativa 
aprovou a primeira lei sobre a instrução pública nacional do Império Brasileiro. 
Esta lei estabelecia que “em todas as cidades, vilas e lugares populosos 
haverá escolas de primeiras letras [ler, escrever, contar] que forem necessárias” 
UNIDADE 3 | O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
154
(WEREBE, 1994, p. 63). A Constituição do Brasil também determinava os 
conteúdos das disciplinas a serem ministradas nas escolas primárias e secundárias. 
Destacavam-se os princípios da moral cristã e de doutrina dareligião católica e 
apostólica romana. A preferência acerca dos temas, para o ensino de leitura, era 
para a Constituição do Império e História do Brasil (AZEVEDO, 1971).
O Ato Adicional, de 6 de agosto de 1834, instituiu as Assembleias Legislativas 
Provinciais, com o poder de elaborar o seu próprio regimento, desde que não 
ferissem as imposições gerais do Estado. Cada província passava a responder 
pelas diretrizes e pelo funcionamento das suas escolas de ensino elementar e 
secundário. Dificuldades surgiram quanto aos moradores dos lugares distantes, 
devido à falta de escolas e de professores. Outro Ato Adicional, em 1835, instituiu 
as Escolas Normais, que objetivavam formar docentes. Embora houvesse muitas 
leis, na prática os investimentos na área educacional por parte do governo eram 
mínimos e atendiam somente a população elitizada (NASCIMENTO, 2004). 
O surgimento das Escolas Normais (em Niterói, Bahia, Ceará e São Paulo) 
ampliou um pouco a formação docente. No entanto, o título de bacharel, necessário 
para acessar o Ensino Superior, só era frequentado pela sociedade abastada, que se 
formava para manter a elite como dirigente social. 
Em 1840 existiam 441 escolas primárias, sendo o Colégio Pedro II considerado 
escola modelo no país (AZEVEDO, 1971). O governo imperial estabeleceu, em 
1854, algumas normas para o exercício da liberdade de ensino e de um sistema 
de preparação do professor primário, bem como a criação do ensino para cegos e 
surdos-mudos. A iniciativa privada foi responsável pela criação do Liceu de Artes 
e Ofícios, em 1856. Embora essas normas tivessem sido ideias produtivas e que 
geraram avanços na área educacional, não produziram resultados satisfatórios 
(NASCIMENTO, 2004). 
 A partir de 1843, mesmo sem permissão oficial, a Companhia de Jesus 
retoma a missão no Brasil e funda o Colégio Catarinense, em Florianópolis, e a 
Escola de Latim, em Porto Alegre. No Recife, em 1873, um colégio jesuíta é fechado 
pela hostilidade da maçonaria e do imperador D. Pedro II. Com o passar do 
tempo, a Companhia de Jesus fundou novos colégios e faculdades em todo o país 
(WEREBE, 1994).
Em 1879, a reforma de Leôncio de Carvalho instituiu a liberdade de ensino, 
possibilitando o surgimento de colégios protestantes e positivistas, além de 
colégios privados. Ainda assim, o período do governo imperial brasileiro terminou 
deixando muitas lacunas quanto à acessibilidade, qualidade e interesse no sistema 
educacional, pois a população analfabeta ultrapassava 67% dos brasileiros 
(NASCIMENTO, 2004). 
Embora a educação sempre tenha sido pensada no Brasil como instrumento 
de domínio, desde que os jesuítas foram expulsos pelo Marquês de Pombal, a 
educação teve como característica a simplificação e abreviação dos estudos. O 
ensino secundário deixou de ser organizado em cursos e passou a ser aplicado em 
TÓPICO 1 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL
155
FONTE: Disponível em: . 
Acesso em: 30 out. 2016.
Tais diretrizes foram adaptadas ao Brasil, por meio de aulas régias, nas quais 
usava-se o Método Lancaster (1789), em que as crianças tinham noção de leitura, 
cálculo, escrita e catecismo. Devido à falta de professores, um professor atendia 
cerca de 100 alunos e escolhia seus melhores discípulos para auxiliar outros dez 
alunos (chamado de método decúria, em que o ajudante era um decurião). Apesar 
das evidentes dificuldades e falhas, considerando-se que a aprendizagem girava 
em torno do conhecimento de colegas da própria classe, esse método prevaleceu 
por 15 anos no país (FÁVERO, 2002).
Com professores mal preparados e mal remunerados, com a dificuldade 
de locomoção dos alunos e com o total desinteresse do governo, a educação 
permaneceu estagnada. As aulas régias foram extintas em 1857 por não abrangerem 
as disciplinas necessárias para acessar o Ensino Superior (latim, comércio, 
geometria, francês, retórica e filosofia) (AZEVEDO, 1984). Como alternativa a este 
cenário existiam, desde 1835, os liceus provincianos, que funcionavam nas capitais 
brasileiras e que tinham como objetivo reunir todas as aulas avulsas em um mesmo 
lugar, construindo assim os primeiros currículos seriados. 
aulas avulsas, ou seja, um processo rápido e básico de ensino, em que o aluno ia até 
o professor para obter conteúdos para sua formação (HAIDAR, 1972). 
Em nível mundial, em 1827 ocorreu a criação da escola das primeiras letras, 
idealizada por Andrew Bell, pastor anglicano, e Joseph Lancaster, pastor Quacker. 
De maneira geral, ambos propunham uma metodologia em que prevalecia a 
disciplina e hierarquização do espaço, no qual o professor supervisionava a classe 
e indicava o estudante mais avançado para auxiliá-lo; além disso, as preocupações 
e os objetivos das atividades restringiam-se em silabar e soletrar, e o método 
avaliativo centrava-se no aproveitamento e no comportamento do estudante.
 FIGURA 25 - JOSEPH LANCASTER
UNIDADE 3 | O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
156
Os liceus atendiam aos alunos de 10 a 18 anos, pertencentes ao ensino 
secundário, que hoje corresponde à faixa etária que vai do sexto ano ao Ensino 
Médio. Receberam este nome para diferenciar-se dos colégios que ofereciam o 
ensino primário. Nos liceus, o aluno poderia escolher a ordem e a quantidade de 
disciplinas que quisesse cursar ao mesmo tempo, formando uma reunião de aulas 
avulsas, mas que atendiam às disciplinas exigidas nos exames preparatórios para 
o Ensino Superior (HAIDAR, 1972).
Muitos liceus surgiram e se tornaram importantes, mas no Rio de Janeiro 
foi criado, em 1837, o Colégio Pedro II (também chamado de Colégio Imperial 
Pedro II e de Ginásio Nacional), considerado o liceu modelo em todo o país. 
 FIGURA 26 - COLÉGIO D. PEDRO II, DESENHO DE 1856
Disponível em: . Acesso em: 
5 nov. 2016.
De 1835 até 1959 foram criadas 21 instituições de ensino secundário, e destas, 
17 foram chamadas de liceu (FÁVERO, 2002). Nos liceus, sobretudo no Colégio 
Pedro II, após estudar por sete anos conteúdos variados, embora fragmentados, o 
estudante (masculino, pois as mulheres não podiam cursar o ensino secundário, a 
profissão de professor era exclusivamente masculina) recebia a carta de bacharel 
em Letras.
Depois de prestar juramento perante ao Ministro do Império, o estudante 
tinha o direito de lecionar para o primário. Estas escolas tinham a intenção de 
disponibilizar mão de obra que aceitasse os salários pagos pelo Estado. No entanto, 
TÓPICO 1 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL
157
embora sanasse a carência de professores, começaram a faltar alunos devido ao 
alto preço dos materiais didáticos, que não eram gratuitos (AZEVEDO, 1984).
Proibidas de criarem cursos de nível superior, prerrogativa exclusiva do 
governo nacional, as províncias passaram a tentar estabelecer liceus técnicos, 
dando ênfase a disciplinas como Química, Física, Botânica e Agricultura. Assim, 
efetivaram-se as escolas técnicas voltadas a mercados como enfermagem, 
contabilidade, agricultura, pedagogia, desenho, artífices, costura, prática manual, 
música, artes plásticas etc. (HAIDAR, 1972).
O retorno dos jesuítas ao Brasil em 1842, ainda que sem autorização do 
governo, proporcionou a fundação de vários colégios particulares de ensino 
secundário (para meninos, e mais tarde para meninas). Diante disso, criou-se 
rapidamente uma rede amplamente disputada pela elite brasileira e seguida por 
outras instituições que também investiram na formação particular. Assim, essas 
instituições supriram parte da necessidade de formação educacional que deveria 
ser atribuição do Estado (HAIDAR, 1972). 
Data deste contexto a criaçãoclassificações gerais das sociedades ágrafas é a divisão entre 
nômades e sedentários. Não é ausência de casa, mas sim de agricultura, a principal 
característica a diferenciar os dois grupos humanos. As sociedades nômades se 
caracterizam pala ausência de agricultura, sobrevivendo da coleta de frutos e 
raízes. Por sua vez, as comunidades sedentárias são aquelas que possuem grande 
produção agrícola e a existência de excedente, o que permite, como consequência, 
a fixação de residência em um local determinado, por não existir a necessidade de 
se migrar para a busca de alimentação (BRAIDWOOD, 1988). 
 
Podemos compreender, a partir desta explicação, que os indígenas 
brasileiros têm como principal característica o seminomadismo. Isto porque as 
comunidades possuem agricultura, porém, não possuem a figura do excedente. 
Com isto, essas comunidades possuem processos migratórios. Devido a isto, 
podemos compreender como é complexa a solução encontrada pelo Estado 
brasileiro ao longo do século XX, que é a da criação de reservas indígenas. 
A grande pergunta a se responder com relação às sociedades tribais é a 
seguinte: por que, mesmo com o grande desenvolvimento tecnológico da sociedade 
ocidental, as sociedades tribais continuam a existir em pleno século XXI? 
A principal resposta é a eficiência econômica. Para compreendermos esta 
eficiência, devemos analisar a formação das sociedades ágrafas desde o período 
pré-histórico. Pois, partindo do pressuposto de que a necessidade básica da 
manutenção da vida humana é a alimentação, nós podemos compreender que a 
denominada Revolução Agrícola, ocorrida há mais ou menos 10 mil anos, teve 
como legado uma eficiência na produção de alimentos que se manteve até o 
presente.
Um dos mais destacados pesquisadores da Pré-história foi o australiano 
Gordon Childe. Suas pesquisas relativas ao período neolítico foram revolucionárias para a 
compreensão que temos sobre a vida humana, em especial pelos termos criados por ele, 
como Revolução Neolítica e Revolução Urbana. 
Por pré-história se compreende o estudo do passado da humanidade, do 
surgimento dos homens na Terra até a invenção da escrita. Portanto, podemos 
compreender a pré-história como um dos principais períodos da história humana, 
UNI
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
8
porque ele é o mais longo. Todavia, não devemos afirmar, por exemplo, que os 
indígenas brasileiros vivem na pré-história, mas sim que possuem um modo tribal 
de organização econômica que surgiu na pré-história. 
Uma das principais classificações sobre a pré-história é a divisão tripartite 
do período em paleolítico, mesolítico e neolítico. O paleolítico, período mais 
antigo, se caracteriza pelo período no qual os homens eram nômades. Por sua vez, 
o mesolítico é um período intermediário, que desemboca no neolítico, que tem 
como principal característica o processo de sedentarização. De modo esquemático, 
podemos compreender estes três períodos como: 
Paleolítico: Período anterior ao domínio do fogo. 
Mesolítico: Período no qual o homem conseguiu dominar o fogo. 
Neolítico: Período da Revolução Agrícola. 
 
A principal revolução tecnológica vivida durante o período da pré-história 
foi o desenvolvimento da agricultura, há aproximadamente 10 mil anos. Pois, 
tivemos um início da possibilidade de se utilizar o reino vegetal a favor dos seres 
humanos. Por isso, este processo, um dos mais importantes para a história humana, 
é denominado de Revolução Agrícola. Esta possibilitou aos seres humanos uma 
melhor utilização do meio ambiente. Pois, além de se utilizar a força dos animais 
para o desenvolvimento humano, também se passou a utilizar das sementes, 
plantas, flores e frutos, para a alimentação, cura de doenças, além de perfume e 
embelezamento estético nas diferentes sociedades humanas. 
Com relação à importância da pré-história e das sociedades ágrafas, alguns 
filmes foram criados. Dentre eles, podemos citar alguns que se tornaram clássicos. Com 
relação à pré-história, o filme A Guerra do Fogo, dirigido pelo cineasta francês Jean-Jacques 
Annaud, é destaque. Outro filme interessante é Rappa-Nui, produção norte-americana que 
retrata a vida na Ilha de Páscoa, antes da chegada dos colonizadores europeus.
Uma das principais transformações sociais que a sedentarização 
(possibilitada pela revolução agrícola) vivenciou foi o surgimento do excedente. 
Isto é, o surgimento de uma produção de alimentos maior que a necessidade de 
consumo do grupo. Assim, surge uma das primeiras preocupações sociais, a de 
se ter a capacidade de guardar o excedente de modo a possibilitar a alimentação 
da tribo em momentos de intempéries climáticas, como secas. Em função da 
agricultura, sistemas irrigados tiveram de ser criados, visando à utilização de 
vastas áreas para a produção de alimentos. 
UNI
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE
9
Também o excedente gerado pela agricultura teve como um dos efeitos 
o aumento da rivalidade entre as tribos, pois uma disputa pelas terras que 
apresentavam melhores condições de plantio se tornou uma das principais 
ambições dos grupos humanos. O excedente estimulou, nas diferentes sociedades, 
uma incipiente divisão do trabalho. Todavia, a divisão era regida pela forma de 
organização social, em que se pesava a faixa etária, a hereditariedade e o gênero. 
Como já afirmamos, em geral, o papel de caça e pesca era masculino, assim como a 
ação de guerreiros nas violentas disputas tribais. Para as mulheres eram reservadas 
as funções ligadas à agricultura. As crianças, por sua vez, eram estimuladas a 
auxiliar os adultos nas tarefas da tribo que eram, em geral, divididas conforme o 
sexo. No entanto, é importante salientar que existiam funções especiais, como a do 
líder político (entre os indígenas comumente denominamos cacique) e os xamãs, 
os chefes espirituais das tribos (entre os indígenas, denominados pajés). 
Este sistema socioeconômico demonstrou grande eficiência, ao possibilitar 
a manutenção da vida nos mais diferentes locais do mundo. Dois pontos são 
importantes para a compreensão da educação nas sociedades ágrafas. Um primeiro 
é o da ausência de instituições. Uma segunda questão é a compreensão mítica do 
universo. Estes dois elementos explicam o modo difuso de educação praticado 
nestas sociedades. 
3 A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS
Uma das principais características das sociedades ágrafas é a ausência de 
instituições formais. Esta ausência de instituições pode ser compreendida segundo 
a teoria de um importante antropólogo francês da segunda metade do século XX, 
Pierre Clastres, autor da relevante tese A Sociedade Contra o Estado (CLASTRES, 
2003). 
Segundo a observação deste antropólogo, a figura do chefe político das 
tribos indígenas da América do Sul não é tão relevante quanto a dos chefes de 
Estado da atualidade. O chefe possuía algumas regalias, como a possibilidade 
da poligamia, porém, as obrigações do chefe guerreiro são maiores que seus 
privilégios. Assim, deve o chefe ter grande capacidade oratória, ao mesmo tempo 
em que deve demonstrar generosidade com relação aos demais membros da 
tribo. O poder é mais aparente do que eficaz, pois não consegue o chefe impor 
aos demais membros da tribo obrigações, como impostos, privação de liberdade 
ou recrutamento militar compulsório. Este fato demonstra um maior controle da 
sociedade sobre os seus chefes. No Ocidente, por conseguinte, ocorre o contrário, 
sendo a principal característica o controle do Estado sobre a sociedade, tendo os 
chefes políticos um efetivo controle e poder sobre a população por eles dominada. 
Clastres aponta que o Estado existe nas sociedades ágrafas em sua forma 
latente, porém, as formas de controle da sociedade contra o poder instituído são 
melhores que as apresentadas pelo Ocidente, no qual o Estado possuiu um poder 
maior sobre os indivíduos que nas sociedades tribais. 
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADESde instituições como o Colégio Caraça de 
1820, em Minas Gerais; o Colégio Mackenzie, de 1870, na cidade de São Paulo; 
o Colégio São Luís, que iniciou as atividades em Itu, em 1867, e que em 1919 foi 
transferido para São Paulo; o Colégio Internacional, de 1873, em Campinas; o 
Colégio Americano, de 1885, em Porto Alegre, entre outros. 
O desprezo que a elite nutria pelo trabalho, sobretudo pelo trabalho 
manual que estava bem de acordo com a estrutura social e econômica vigente, 
explica em parte o abandono do ensino no primário e o total desinteresse pelo 
ensino profissional. A repulsa pelas atividades manuais levava essa elite a 
considerar vis as profissões ligadas às artes e aos ofícios. Só mesmo o descaso com 
que o ensino primário era tratado e a falta de visão na busca de soluções para os 
problemas educacionais permitem entender a adoção por tanto tempo do método 
lancasteriano nas escolas brasileiras. (WEREBE, 1974, p. 369).
A fundação de escolas particulares não garantiu um ensino de qualidade 
ao Brasil Imperial, pois o objetivo da iniciativa privada era o êxito financeiro. Sem, 
no entanto, se preocupar em discutir ou tentar melhorar as condições econômicas 
e sociais do país ou ajudar no desenvolvimento nacional (FÁVERO, 2002). O 
Ensino Médio gratuito para as mulheres só foi conquistado no fim do Império, 
antes, somente as escolas particulares ofereciam a modalidade. Ainda assim, 
no setor privado, as mulheres eram mantidas em escolas ou salas separadas, 
com ensinamentos diferenciados, voltados à vida doméstica, à maternidade e à 
religião. O conteúdo intelectual e científico ainda era exclusivamente masculino 
(NASCIMENTO, 2004).
Vale destacar ainda que a chegada de imigrantes ao país também fez 
surgir escolas voltadas aos imigrantes. Algumas eram comunitárias, outras eram 
particulares, geralmente mantidas por entidades religiosas do país de origem ou 
laicas. No entanto, essa iniciativa não ocorreu com todos os imigrantes. Destacaram-
se, nesse sentido, alemães, italianos, poloneses e japoneses (TRAVERSINI, 1998). 
UNIDADE 3 | O CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
158
ENSINO SUPERIOR: No período colonial, existiam no Brasil apenas cursos 
superiores de Filosofia e Teologia, oferecidos pelos jesuítas, pois Portugal impedia o 
desenvolvimento do Ensino Superior nas suas colônias, temendo contribuir com os 
movimentos de independência. 
Com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, a partir de 1808, o 
Ensino Superior passou a existir em instituições formais. Foram criadas as escolas 
de Cirurgia e Anatomia em Salvador (hoje Faculdade de Medicina da Universidade 
Federal da Bahia), a de Anatomia e Cirurgia, no Rio de Janeiro (atual Faculdade de 
Medicina da UFRJ) e a Academia da Guarda Marinha, também no Rio de Janeiro. 
Dois anos depois foi fundada a Academia Real Militar (atual Escola Nacional 
de Engenharia da UFRJ). Seguiram-se o curso de Agricultura em 1814 e a Real 
Academia de Pintura e Escultura.
 
Foram propostos 24 projetos para criação de faculdades [e não 
universidades] no período 1808-1882, mas nenhum deles foi aprovado. Ao Brasil 
não interessava formação superior, que não trazia mais que formação a poucos 
profissionais liberais e prestígio social. Depois de 1850 observou-se uma discreta 
expansão do número de instituições de Ensino Superior, mas a capacidade de 
investimentos dependia do governo central e de sua vontade política (inexistente). 
Até o fim do século XIX existiam somente 24 estabelecimentos de Ensino Superior 
no Brasil, com cerca de 10 mil estudantes, em que se destacava a Faculdade de 
Medicina (CUNHA, 2007). 
Em 19 de abril de 1879, o ministro do Império, Leôncio de Carvalho, propôs 
a reforma do ensino primário e secundário no município da Corte, e do Ensino 
Superior em todo o Império, publicando o Decreto de nº 7.247/1879. Todavia, o 
decreto somente reafirmou a liberdade de criação de escolas particulares quanto à 
oferta de Ensino Superior no país. Cabia ao Império a fiscalização para a garantia 
de moralidade e de condições de higiene nesses cursos (MOROSINI, 2005).
As faculdades privadas que funcionassem regularmente pelo período 
consecutivo de sete anos, com outorga de grau acadêmico para 40 alunos no mínimo, 
receberiam do governo o título de “faculdade livre”, com todos os privilégios e 
vantagens outorgadas às escolas oficiais (BRASIL, 1879), § 1º, art. 21 do Decreto 
7.247). Conforme Morosini (2005), a criação de cursos superiores no Brasil Império 
foi marcada por cursos isolados e profissionalizantes, desvinculando teoria e 
prática. Os principais cursos eram voltados ao ensino médico, engenharia, direito, 
ATENCAO
TÓPICO 1 | CONTEXTO HISTÓRICO-FILOSÓFICO DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL E IMPERIAL
159
agricultura e artes. A revisão e valorização do Ensino Superior só teve amplitude 
no país após a Proclamação da República. Ressalta-se ainda que essas instituições 
não eram universidades, estas só foram criadas a partir do século XX (CUNHA, 
2007).
Caro acadêmico! Apresentamos acima como se deu a formação das primeiras 
faculdades e universidades do Brasil; estas nomenclaturas são muito ouvidas em nossa 
época e, muitas vezes, não se sabe ao certo o que cada uma significa; agora, neste momento, 
aproveitamos para diferenciar no que consiste uma instituição de Ensino Superior que é 
denominada de ‘Universidade’, a que é chamada de ‘Faculdade’ e o que leva o nome de 
‘Centro Universitário’.
UNIVERSIDADE: oferece atividade de ensino, pesquisa e extensão à comunidade; não 
precisam de autorização do MEC (Ministério da Educação) para abrir cursos; precisam ter 
1/3 do corpo docente de mestres e doutores, 1/3 dos docentes com carga horária integral e 
pelo menos quatro cursos de pós-graduação stricto sensu.
CENTRO UNIVERSITÁRIO: possui curso de graduação em várias áreas do conhecimento e 
autonomia para criar cursos no Ensino Superior, 1/3 do corpo docente de mestres e doutores 
e 1/5 dos docentes com carga horária integral.
FACULDADE: instituições que oferecem um número mais reduzido de cursos e em uma 
determinada área do saber, não possuem autonomia para criar cursos sem a autorização do 
MEC e o corpo docente precisa ter pelo menos pós-graduação lato sensu.
Agora lançamos o desafio para que você pesquise as diferenças que existem no que diz 
respeito às modalidades de pós-graduação, que são lato sensu e stricto sensu. Para tanto, 
acesse o site do Ministério da Educação, disponível em: . 
DICAS
160
 Neste tópico você viu que: 
• A educação que prevaleceu na época colonial era oriunda do modelo institucional 
da Companhia de Jesus, idealizado por Santo Inácio de Loyola, por volta de 
1534, a fim de expandir os dogmas e converter fiéis à Igreja Católica.
• Os integrantes da Companhia de Jesus eram chamados de jesuítas e o método 
que utilizavam foi o da catequese, no qual a função social da educação era de 
caráter religioso, sendo os clérigos os principais educadores. 
• Com a expulsão dos jesuítas e o cumprimento das reformas pombalinas foram 
implantados, no Brasil, os modelos de educação que se encontravam em voga 
na época na Europa, que eram os dos pastores Andrew Bell e Joseph Lancaster, 
que haviam formulado uma modalidade de ensino que previa a indicação e a 
participação de estudantes mais avançados para atuar como tutores em meio às 
atividades pedagógicas realizadas pelos professores.
• As reformas pombalinas estavam alinhadas aos valores iluministas, racionalistas 
e advogavam em defesa do Estado laico.
• A estrutura educacional da época imperial pode ser sintetizada no modelo de 
aulas régias e liceus; as aulas régias correspondiam ao ensino primário, e os 
liceus ao ensino secundário; havia pouco interesse e investimento por parte do 
governo, pois as elites enviavam seus filhos para estudar na Europa.
• Na época imperial formaram-se diversas instituições de ensino, porém 
extremamente elitistas, que desvalorizavam os trabalhos manuaisÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
10
 FONTE: Disponível em: . Acesso em: 
12 ago. 2016.
Deste modo, o poder nas sociedades ágrafas é difuso. Isto é, ele não se apresenta 
da forma racional e hierarquizada como na sociedade ocidental. Por isso, o poder 
permanece difuso. Neste caso, podemos compreender que em uma sociedade na qual 
o poder permanece difuso, a educação é igualmente difusa. Um dos dados importantes 
para a compreensão das sociedades ágrafas é a ausência de instituições. Isto é, não existe 
nela marinha, exército, igreja, congresso nacional ou poder judiciário. No que tange 
às instituições educacionais, estão ausentes creches, escolas, colégios, universidades e 
faculdades, porém, podemos compreender a ausência destas instituições educacionais 
pela ausência das primeiras instituições citadas, pois, em grande parte, a educação tem 
como principal meta adequar os indivíduos ao meio social. Em um meio social no qual 
o poder é difuso, os processos educativos por eles realizados também são difusos. Em 
locais nos quais a relação de poder não é institucionalizada, não existe a necessidade 
de se institucionalizar o processo educativo. 
 
Mesmo com o pouco grau de institucionalização do processo educacional 
nas sociedades analisadas, podemos compreender que não eram grandes as 
liberdades dos indivíduos nas sociedades tribais. Isto porque, em grande parte, 
podemos observar que as funções sociais são muito rígidas, marcadas pela idade 
e sexo do indivíduo. No entanto, a ausência de liberdade, em geral, se relaciona 
também à compreensão do universo, que é de base mítica. Assim, a relação do 
indivíduo com o seu meio se caracteriza por uma mentalidade marcadamente 
vinculada aos mitos fundadores das tribos.
 
Os mitos possuem uma função pedagógica fundamental para a compreensão 
das sociedades tribais. Eles são uma forma de se passar o conhecimento dos 
antepassados, dos ancestrais, para as populações contemporâneas. Assim, a 
mitologia tinha uma relação clara com o processo educacional. Contudo, como 
podemos relacionar os mitos e suas implicações educacionais? 
Primeiramente, temos que compreender os mitos, e suas diversas funções: 
a de estabelecer uma explicação sobre o surgimento dos seres humanos, sobre a 
natureza, a contagem do tempo e as condutas individuais. 
FIGURA 3 - INSCRIÇÕES RUPESTRES
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE
11
Com relação ao surgimento do universo, a função dos mitos possuiu uma 
clara e fundamental função explicativa. Muitos mitos existem ao redor do mundo, 
relacionando o surgimento do planeta a elementos da natureza, como a água, a 
terra, ou então, com fábulas relacionadas a demiurgos, isto é, a deuses criadores. 
Assim como para explicar o mundo, os mitos também são importantes para 
a compreensão do surgimento dos seres humanos sobre a Terra. Temos, assim, 
uma grande quantidade de mitos que apontam a presença dos seres humanos 
vinculados à natureza, ou como descendentes de antigos deuses. 
Como principal efeito dos mitos, temos uma visão sacralizada da natureza. 
Deste modo, os seres humanos têm uma visão de que a natureza deve ser preservada 
em seus principais aspectos, para que se possa ter um melhor aproveitamento do 
que ela oferta para o homem. Isto é, a visão principal das comunidades tribais é a 
da natureza como uma mãe, que com o seu seio possibilita a saciedade da fome de 
seus filhos. 
Assim, podemos compreender que a mitologia tem um papel fundamental 
no estabelecimento das condutas individuais das pessoas que vivem nas sociedades 
tribais, pois o mito, além de impulsionar algumas ações, também tem a capacidade 
de limitar as ações individuais e coletivas que causariam a ruína da coletividade. 
 
O papel de educador cabe a qual indivíduo nas sociedades ágrafas? O papel 
de professor é difuso, diluído entre os diversos personagens sociais que compõem 
a tribo. Deste modo, podemos pensar no papel educacional exercido pelos vários 
membros das comunidades tribais (ARANHA, 1996). 
3.1 O PAPEL EDUCACIONAL DO CHEFE TRIBAL
Podemos compreender que o chefe tribal possui alguma função educacional 
com os mais jovens. Sendo o líder, deveria ser ele um exemplo de coragem, carisma 
e astúcia com relação à superação das dificuldades cotidianas, que poderiam ser 
causadas tanto pela ação da natureza, como secas e estiagens, assim como cheias 
dos rios ou excesso de chuva, ao mesmo tempo que poderiam ser ocasionadas 
pelas ações belicosas de tribos rivais. Assim, ao observar a postura do chefe 
tribal, que liderava as ações de caça e guerra, os meninos iam aprendendo sobre 
a importância das habilidades com arco, flechas e pedras para a manutenção da 
tribo enquanto organização social. 
3.2 O PAPEL EDUCACIONAL DAS MÃES E DOS PAIS
 Uma figura que possuiu uma posição social diferente com relação à 
sociedade judaico-cristã ocidental no tocante ao papel de educar está na figura 
dos pais e das mães. Em nossa sociedade, cabe a estas figuras o papel de primeiro 
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
12
educador, porém, nas sociedades tribais, o principal papel da mãe, o de amamentar, 
poderia ser compartilhado com outras mulheres em processo de lactação. 
Por vezes, o papel que caberia ao pai, de ser um exemplo de masculinidade 
para a prole, era desempenhado pelo líder tribal, que possui, neste tipo de 
organização social, em geral, um papel de maior prestígio que o do progenitor. 
 
3.3 O PAPEL EDUCACIONAL DO XAMÃ
Uma das principais figuras educacionais era desempenhada pelo líder 
religioso. Isto porque os líderes religiosos tinham função de grande destaque nas 
tribos. Em especial, por serem os principais guardiões do conhecimento tribal com 
relação ao universo mítico, como também com relação à utilização medicinal dos 
elementos da natureza. Os xamãs, por sua vez, educavam seu sucessor, escolhido 
em geral dentre os meninos mais habilidosos da tribo. 
3.4 O PAPEL EDUCACIONAL DOS HOMENS MAIS VELHOS
No lugar do pai, um dos principais vetores de educação entre as sociedades 
ágrafas eram os anciãos e as anciãs. As mulheres e os homens mais velhos possuem 
uma grande importância para a tribo, pois a experiência no contato com a natureza 
permitia a eles uma grande vantagem na luta cotidiana pela sobrevivência. 
3.5 AS VISÕES SOBRE A INFÂNCIA NAS SOCIEDADES TRIBAIS
Nas sociedades tribais, as crianças tinham uma posição diferente em 
comparação com nossa sociedade. Sobre isto, podemos pensar em duas possibilidades 
de compreensão. A compreensão utópica e a compreensão funcionalista. A 
compreensão utópica aponta que as crianças gozavam de grande liberdade em 
sociedades como as tribais ou ágrafas. Isto porque a ausência de uma instituição 
disciplinadora, como a escola, garantiria às crianças um espaço de liberdade que 
elas não teriam em uma sociedade como a ocidental, na qual grande parte da vida 
infantil é regrada e disciplinada pela uniformização de condutas e castração de 
impulsos com os quais as sociedades ocidentalizadas tratam a infância. 
 
Tal visão é, em grande parte, uma utopia, uma visão sonhadora da vida 
nas comunidades tribais. Os funcionalistas nos lembram que em grande parte, 
assim como no Ocidente, as crianças observam uma rígida disciplina, porém, 
vinculadas não a trabalhar em indústrias ou repartições governamentais, mas, sim, 
em atividades ao ar livre. Muitos rituais que envolvem violência, como torturas 
físicas, fazem parte do universo indígena, em especial nos rituais de passagem 
que simbolizam o fim da vida infantil e o início da idade adulta. Com isto, 
podemos considerar que mais importante que julgar ser boa ou má a forma como 
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE
13
as sociedades ágrafas educam suas crianças, é buscar compreender como estas 
sociedades lidam com a infância.
4 AS SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE
Por sociedadesdo antigo Oriente Próximo são denominadas algumas das 
civilizações que existiram no denominado Crescente Fértil, terras que hoje são 
nomeadas como Oriente Médio e parte do norte da África. Dentre elas, podemos 
elencar algumas civilizações, como o antigo Egito, a Mesopotâmia, os hebreus, os 
fenícios, além dos persas, que formaram posteriormente aos babilônicos um dos 
primeiros impérios da história do mundo. O sistema produtivo destas sociedades 
era baseado em uma servidão coletiva, na qual o Estado era o principal gestor e 
proprietário das terras. Vamos conhecer um pouco sobre estas civilizações?
 
Sociedade egípcia: a sociedade egípcia é comumente lembrada como a terra 
das pirâmides, construídas ao longo dos séculos. Também fazem parte da memória 
social do antigo Egito as múmias. Em geral, se tratavam dos corpos dos antigos 
membros da nobreza, que passavam por este tipo de processo de manutenção física. 
Este se relacionava à religião, que tinha como uma das principais características a 
ideia de reencarnação. Assim, os corpos eram mumificados para novamente retornar 
à vida. Como se tratava de uma sociedade politeísta, tinham os egípcios uma 
organização teocrática, na qual o faraó, líder político daquela civilização, tinha também 
responsabilidades religiosas, sendo adorado como um deus (CARDOSO, 1990).
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 17 ago. 2016.
FIGURA 4 - PIRÂMIDE EGÍPCIA
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
14
A base da pirâmide social era composta pelos servos, que trabalhavam na 
produção agrícola, bem como nas grandes obras de irrigação, fundamentais para a 
manutenção da vida, pois eram as cheias e os vazantes do rio Nilo que garantiam 
a fertilidade do solo, fundamental para a produção de alimentos. Também existia 
uma camada de burocratas (funcionários públicos), bem como de militares, escribas 
e sacerdotes; no topo da pirâmide, a nobreza, composta pelo faraó e suas famílias. 
 
Dentre o principal mito egípcio temos a contenda entre Set e Horos, bem 
como a presença de Ísis e Osíris. Os deuses do panteão egípcio tinham características 
antropomórficas (humanas), zoomórficas (culto aos animais), antropozoomórficas 
(deuses metade humanos e metade animais). 
 
Sociedade mesopotâmica: o termo Mesopotâmia quer dizer “Terra entre 
Rios”. Tal nome se deve à importante presença dos rios Tigre e Eufrates na 
constituição desta sociedade, marcada pela presença de alguns povos, como os 
sumérios, os babilônicos e os caldeus. Os povos que habitavam a Mesopotâmia 
possuíam uma religião politeísta, marcada também pela compreensão mítica das 
cheias dos rios e do poder civil. A sociedade, assim como a egípcia, era marcada 
pela desigualdade social, sendo as relações de trabalho vinculadas pela servidão 
(REDE, 2007). 
 
Apesar de menos famosa que o Egito, no tocante à religião, alguns dos 
mitos e práticas surgidas na Mesopotâmia deixaram um legado na sociedade 
ocidental. O horóscopo, prática até hoje presente, surgiu entre os mesopotâmicos. 
Tinham como uma de suas principais características a ideia de poder adivinhar 
o futuro dos indivíduos com a observação das estrelas. Visando à observação 
astronômica, os povos mesopotâmicos criaram enormes torres, que se chamavam 
zigurates. Ainda com relação à religião mesopotâmica, podemos nos lembrar de 
alguns mitos e deuses. Um dos principais era o deus Marduk. Entre os mitos, o 
principal era o mito do dilúvio, uma grande inundação de água, capaz de destruir 
a maior parte dos seres humanos. 
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE
15
FIGURA 5 - MAPA DA MESOPOTÂMIA
Sociedade israelita: outra importante sociedade existente no antigo Oriente 
Próximo eram os israelitas. Grupo fundado pelo patriarca Abraão, que fora 
chamada por Deus, na cidade mesopotâmica de Ur, habitada pelo povo caldeu, 
para formar um povo escolhido. Os israelitas tinham como principal diferença 
com relação às demais sociedades do antigo Oriente o monoteísmo, isto é, a crença 
em um único Deus. 
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 11 ago. 2016.
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
16
FIGURA 6 - MAPA DO ANTIGO ISRAEL
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 30 ago. 2016.
A história política do povo israelita possuiu várias fases. Uma primeira, 
na qual o povo era organizado em tribos. Posteriormente, com Saul, formou-se 
uma monarquia, que contou com os famosos reis Davi e Salomão, responsável pela 
criação do templo de Deus, denominado pelos israelitas como Jeová (YAWEH). 
Uma divisão política fez com que o povo fosse dividido em dois reinos, Israel, 
ao norte, que teve como capital Samaria, e Judá, ao sul, que tinha como capital 
Jerusalém. Um dado marcante da história do povo de Israel foi o momento em que 
foram escravizados pelos egípcios, dos quais foram libertos com a liderança de 
Moisés, que guiou o povo pelo deserto até Canaã, a terra prometida. Posteriormente, 
um segundo período foi caracterizado pelo denominado Cativeiro Babilônico, 
no qual Israel foi dizimado, sendo Judá, ao sul, preservada, mas teve parte de 
sua população cativa na Babilônia (CARDOSO, 1990). Posteriormente, também 
dominados pelo Império Romano, os judeus foram dispersos pelo mundo em 70 
D.C., com a denominada Diáspora, na qual a região de Jerusalém deixou de ser 
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE
17
uma área de posse exclusiva dos judeus, tendo retornado a Jerusalém apenas no 
século XX, após a Segunda Guerra Mundial. 
 
Sociedade fenícia: dentre os grupos humanos importantes para a 
compreensão da dinâmica socioeconômica do mundo da antiguidade, um destaque 
foram os fenícios. Grupo humano que se caracterizou pelo comércio marítimo, 
tanto ao longo do Mediterrâneo, quanto ao longo do Mar Vermelho. Os fenícios 
possuíam uma forma de organização política na qual a presença forte das cidades, 
com autonomia, era a principal característica. Assim, algumas das cidades-estado 
fenícias tiveram grande destaque, como Sídon, Tiro, Biblos e Cartago, no norte da 
África. 
 
Com relação à religião, os fenícios possuíam uma religião politeísta, 
na qual alguns deuses possuíam grande destaque no panteão, como Baal, além 
de Yam, o deus do mar, de grande destaque em uma sociedade marcada pela 
grande presença de marinheiros. A estrutura social era semelhante às das demais 
sociedades asiáticas. Todavia, possuía uma diferença fundamental: a presença 
do comércio de longa cabotagem, isto é, de longas distâncias através da costa, o 
que permitiu o enriquecimento das principais cidades-estado vinculadas ao povo 
fenício. Uma das cidades fenícias, Cartago, chegou a rivalizar com Roma o domínio 
do Mediterrâneo. No entanto, com a derrota do general Aníbal, Cartago acabou 
sendo dominada pelo Império Romano. 
Império Persa: um dos primeiros impérios surgidos no mundo foi o Império 
Persa. Teve como seus mais célebres líderes Sargão e Ciro, o Grande, conquistador 
de grande faixa de terra ao longo do Mar Mediterrâneo. Uma das principais 
conquistas do Império Persa foi o domínio sobre o antigo Império Babilônico. A 
sociedade persa viveu grande apogeu cultural, sendo desenvolvida pelo povo persa 
uma das primeiras religiões monoteístas do mundo, o zoroastrismo. O modelo de 
sociedade persa entrou em rivalidade com o mundo grego, sendo um dos mais 
importantes eventos da história grega as denominadas Guerras Médicas, nas quais 
os gregos venceram os persas na Batalha de Salamina, garantindo o domínio dos 
gregos no Mar Mediterrâneo (CARDOSO, 1990). 
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
18
FIGURA 7 - ARTE PERSA
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 1 
ago. 2016.
As sociedades do antigo Oriente Próximo deixaram um grande legado 
cultural a todo o mundo. Grande partedas populações, atualmente, segue religiões 
como a cristã ou muçulmana, que tiveram como uma das suas principais bases o 
judaísmo, uma das religiões criadas por um dos povos do antigo Oriente Próximo, 
porém, como podemos observar no texto já descrito, ocorreu um domínio da 
sociedade greco-romana sobre as civilizações do antigo Oriente Próximo. 
5 AS SOCIEDADES DO ANTIGO ORIENTE PRÓXIMO, AS 
INSTITUIÇÕES E O PENSAMENTO EDUCACIONAL
As diferentes sociedades do antigo Oriente Próximo, brevemente descritas 
nos parágrafos acima, têm grande importância na análise do desenvolvimento da 
educação. Por vezes, alguns dos inventos produzidos pelas antigas sociedades do 
Oriente são rememorados pelos professores de História, como as obras hidráulicas, 
responsáveis pela irrigação nas margens dos rios Nilo, Tigre e Eufrates, assim 
como os zigurates e as pirâmides. 
Podemos considerar que uma das mais importantes invenções destes povos 
está relacionada à questão educacional. Os mesopotâmicos inventaram o primeiro 
sistema de escrita da história, a denominada escrita cuneiforme. Em uma visão linear, 
progressista da história, se diria que com este invento a humanidade deixou de estar 
na pré-história e adentrou para a história. A denominada escrita cuneiforme era 
realizada em cunhas, por isso o nome que possui. A invenção da escrita possibilitou 
um grande desenvolvimento social, econômico, político, como também nas questões 
de inteligência e sentimentos portados pelos homens, pois o registro de ideias, 
sentimentos, pensamentos, além de propriedades, heranças, dívidas e dividendos, é 
parte fundamental nas sociedades humanas (ARANHA, 1996). 
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO NAS SOCIEDADES ÁGRAFAS E O SURGIMENTO DA ESCRITA NA ANTIGUIDADE
19
FIGURA 8 - TÁBUA DE ESCRITA CUNEIFORME
FONTE: Disponível em: . Acesso 
em: 17 set. 2016.
O desenvolvimento da escrita possibilitou aos homens o desenvolvimento 
de normas escritas de conduta, como o Código de Hamurábi, na Mesopotâmia, 
assim como os Dez Mandamentos, as tábuas da lei de Moisés, presente entre os 
hebreus. Tais leis alteraram a forma de organização das sociedades. Se antes o mais 
forte possuía legitimidade social para impor sua vontade através da violência, 
com o desenvolvimento da escrita tivemos a possibilidade do desenvolvimento da 
lei como forma de se resolver os conflitos entre os indivíduos pertencentes a um 
mesmo grupo humano. 
Outro povo que deixou um importante legado no que se refere às 
questões educacionais foram os fenícios, pois foram os inventores do alfabeto, 
que influenciou as civilizações posteriores de Grécia e Roma, e, por consequência, 
a sociedade ocidental. Antes, as palavras eram formadas de modo inteiro, os 
ideogramas. No entanto, com a formação do alfabeto, temos a possibilidade da 
ampliação da expressão escrita pelos seres humanos. 
 
Também entre os fenícios, tivemos uma ampliação da possibilidade da 
realização de cálculos numéricos, pois, como grandes comerciantes, eles tiveram 
a necessidade de ampliar a eficiência da matemática (todavia, ainda não realizada 
com os números hindu-arábicos). Os fenícios também foram os responsáveis pela 
criação do termo biblioteca. Foi na cidade de Biblos, na antiga Fenícia, o local onde 
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
20
se produziam os papiros, utilizados para o registro da palavra escrita em toda 
a sociedade do mundo mediterrânico e do antigo Oriente Próximo (ARANHA, 
1996). 
 
Podemos compreender que uma das principais funções da educação é 
adequar os indivíduos ao meio social. Assim, a educação está sempre, de forma 
indelével, relacionada à estrutura da sociedade na qual pertencem. Assim, 
podemos compreender que, mesmo com o processo de desenvolvimento da escrita, 
a educação escolar institucionalizada era destinada a poucas pessoas dentre os 
indivíduos que compunham as sociedades que até aqui estudamos. A grande 
massa permaneceu analfabeta, porém, ela era educada por algumas instituições 
sociais, como a família, em especial a figura dos pais, como também tinham papel 
de educadores os sacerdotes destas sociedades. 
Em algumas delas existia uma classe profissional específica na qual o 
sustento dependia da alfabetização: os escribas. Esta categoria ocupacional era 
presente entre os egípcios, e tinha alguns privilégios sociais. Com isto, podemos 
medir o quanto ser alfabetizado é uma das principais formas de se ter poder em uma 
sociedade. E que a ampliação da alfabetização representa um aumento de práticas 
democráticas no corpo social. Todavia, como na antiguidade, as principais formas 
de trabalho não envolviam tecnologia, mas sim a força física, as sociedades eram 
compostas por massas analfabetas e pequenas parcelas letradas, que compunham 
a classe de privilegiados desta mesma sociedade. 
21
Neste tópico você viu que:
 
• A educação nas sociedades ágrafas é difusa. Isto é, não existe uma instituição 
formal que se responsabiliza pela educação, sendo ela responsabilidade de toda 
a tribo.
 
• Não podemos ter uma visão evolucionista, desconsiderando a presença de 
comunidades culturalmente ágrafas ainda no presente, em várias partes do 
mundo. 
• A primeira possibilidade de expressão escrita da humanidade foi inventada na 
Mesopotâmia, e tem o nome de escrita cuneiforme. 
• As principais sociedades da antiguidade oriental, que já possuíam uma cultura 
letrada, foram os egípcios, mesopotâmicos, hebreus, fenícios e persas.
RESUMO DO TÓPICO 1
22
1 Por que podemos dizer que a invenção da escrita foi uma grande 
conquista da humanidade? 
AUTOATIVIDADE
23
TÓPICO 2
O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS 
BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE 
OCIDENTAL
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, contemplaremos algumas das principais questões sobre a 
formação da sociedade grega e romana. Vamos compreender a influência cultural 
que a antiga Grécia exerceu sobre o Império Romano, assim como as especificidades 
culturais destas duas distintas civilizações. 
Estas questões são importantes para a compreensão da educação na 
sociedade ocidental. O importante historiador francês Fernand Braudel afirmava 
que o Ocidente possui uma dupla raiz cultural: judaico-cristã e greco-romana. 
Deste modo, entendendo a importância do tema, abordaremos um breve 
resumo histórico do mundo greco-romano, as questões da filosofia grega e as 
instituições sociais responsáveis pela educação no universo cultural greco-romano. 
2 O PROCESSO DE FORMAÇÃO HISTÓRICA DA SOCIEDADE 
GRECO-ROMANA
A Grécia antiga foi uma civilização surgida na denominada Península do 
Peloponeso, que possui o istmo de Corinto, banhada pelo Mar Egeu, que compõe 
o Mar Mediterrâneo. Sua história é didaticamente dividida em cinco grandes 
períodos: Pré-Homérico, Homérico, Arcaico, Clássico e Helenístico. Os períodos 
têm grande relação com os escritos de Homero, autor de obras clássicas da 
antiguidade, como a Ilíada e a Odisseia, em que são relatadas histórias fabulosas, 
como a do cavalo de Troia. 
A Península no Peloponeso foi habitada por populações denominadas 
aqueus, jônios, dórios e eólios. Populações estas que estão na origem do povo grego, 
que na antiguidade se organizava em cidades-estado, isto é, cidades que possuíam 
autonomia administrativa. Dentre estas unidades político-administrativas, duas se 
destacaram e organizaram dois tipos antagônicos de sociedade: Atenas e Esparta. 
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
24
FIGURA 9 - MAPA DA GRÉCIA ANTIGA
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 18 set. 2016.
A sociedade ateniense tinha como principal característica o desenvolvimento 
cultural. Era formada por três classes sociais. Os escravos, os cidadãos atenienses, 
além de um grupo de homens livres, mas sem direito à cidadania, os metecos. Uma 
das principais questões que envolvem a sociedade ateniense foi o desenvolvimento 
da democracia. Isto é, de uma forma de organizaçãopolítica na qual os cidadãos 
possuem direitos iguais, a denominada isonomia legal. O local no qual ocorriam 
os debates políticos em Atenas era denominado Ágora. Nela, os denominados 
demagogos, isto é, os políticos daquele período, utilizavam-se do talento retórico 
para poder defender suas ideias e interesses. A palavra democracia é uma 
justaposição de duas palavras gregas: demos, que quer dizer povo, e cracia, que 
significa governo (FUNARI, 2000). 
 
Uma das principais formas de conseguir ter direitos políticos na sociedade 
ateniense era a participação no exército. Este era organizado em unidades 
militares que eram denominadas de falanges. Os guerreiros gregos utilizavam um 
tipo de escudo chamado hoplom. Aqueles que detinham condições financeiras 
para comprar este escudo poderiam ingressar nas fileiras militares. Este ingresso 
possibilitava participar ativamente dos debates da Ágora, ingressando assim 
no mundo da política ateniense. Todavia, a democracia na Grécia possuía uma 
grande limitação, pois as mulheres eram excluídas do debate político. O machismo 
era legitimado pelo fato de as mulheres não ingressarem nas fileiras militares.
TÓPICO 2 | O MUNDO GRECO-ROMANO: UMA DAS BASES EDUCACIONAIS DA SOCIEDADE OCIDENTAL
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 FIGURA 10 - DISCURSO POLÍTICO EM ATENAS
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 17 set. 2016.
 
Enquanto Atenas seguia o modelo democrático de gestão do poder político, 
sua vizinha Esparta seguia um modelo autocrático de relações sociais, pois em 
Esparta tínhamos um exemplo de sociedade militarizada e profundamente 
hierarquizada. Ela era formada por três categorias sociais: os espartanos, que 
compunham o topo da pirâmide social, os periecos e hilotas, duas outras classes 
sociais que compunham Esparta. A principal lei a reger a vida em Esparta foi a 
constituição de Licurgo, que segundo alguns estudiosos, teria durado seis séculos 
(FUNARI, 2000).
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
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FIGURA 11 - SOLDADOS ESPARTANOS
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 19 set. 
2016.
Duas guerras marcaram a história grega. As Guerras Médicas e a Guerra 
do Peloponeso. Por Guerras Médicas ficaram conhecidas as disputas entre os 
gregos e os persas pelo domínio da navegação em partes do Mar Mediterrâneo. 
Ela terminou com uma vitória grega, na Batalha Naval de Salamina, que decretou 
uma hegemonia ateniense, o que possibilitou um imperialismo grego em algumas 
regiões mediterrânicas. Por sua vez, a Guerra do Peloponeso foi travada entre 
Esparta e Atenas. A guerra acabou por enfraquecer os dois principais modelos 
de cidade-estado da antiguidade. Com um enfraquecimento militar causado pela 
guerra interna, Felipe II, rei da Macedônia, conquistou a península grega. Seu filho, 
Alexandre “O Grande”, que fora aluno do filósofo Aristóteles, foi um dos principais 
líderes a expandir a cultura grega por diversos locais em que Alexandre liderou 
a conquista militar. Assim, tivemos, com o império de Alexandre, o denominado 
Período Helenístico. 
 
A mitologia é um dos importantes elementos culturais para a compreensão 
da mentalidade dos antigos habitantes da Grécia. Os gregos eram politeístas, 
isto é, acreditavam em vários deuses. Estes, em geral, tinham características 
antropomórficas, isto é, tinham os antigos deuses formas humanas. Também eram 
os mesmos dotados dos mesmos sentimentos que os homens possuem, como 
amor, ciúmes, inveja, raiva. Todavia, a grande diferença é que os deuses gregos 
eram imortais. O local de morada era o Monte Olimpo, no qual esses deuses eram 
cultuados. As cidades possuíam seus deuses fundadores, como é o caso de Palas 
Atena, a fundadora de Atenas. 
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Os gregos se diziam descendentes do deus Heleno. Com relação à vida 
após a morte, os gregos acreditavam que deveriam ter uma moeda após morto 
para pagar o barqueiro Caronte, responsável pelo trajeto da alma morta até o 
paraíso. Deste modo, colocavam nos olhos dos cadáveres duas moedas. Assim, 
tinham os gregos uma relação diferente com a morte dos demais povos que até 
aqui estudamos. Em especial, por separarem o corpo do espírito, separação não 
presente entre os povos da antiguidade oriental (FUNARI, 2000). 
 
Os principais deuses do panteão grego tinham características específicas. 
Zeus era o deus dos deuses e Hera, a sua esposa, juntos moravam no Olimpo 
com as demais divindades. Ares era o deus da guerra, que protegia nas batalhas; 
Poseidon, o deus do mar; Hades, deus dos mortos e cemitérios; Afrodite, a deusa 
da Beleza, entre outros exemplos de deuses que poderiam ser citados. 
Além dos deuses, o imaginário da Grécia antiga era povoado pelas musas: 
Calíope, da poesia; Clio, da História; Érato, do casamento; Euterpe, das festividades; 
Melpômene, do canto e teatro; Polímnia, da retórica; Talia, da comédia; Terpsícore, 
da dança; Urânia, da astronomia. Estas musas se relacionavam a diferentes 
atividades, consideradas artes pelos antigos gregos. 
 FIGURA 12 - ESTÁTUA DE POSEIDON
FONTE: Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2016.
UNIDADE 1 | DAS SOCIEDADES ÁGRAFAS À FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
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Um dos principais festivais realizados pelos gregos eram as Olimpíadas, 
quando eram cultuados os deuses em competições esportivas. Também faziam 
parte do universo cultural grego algumas belas artes, com destaque para o teatro 
e as esculturas. O Teatro de Dionísio (cultuado como o deus do vinho) foi uma das 
principais casas de espetáculo, na qual se destacavam as tragédias e comédias. Por 
sua vez, as esculturas gregas possuíam características de grande beleza, ao buscar 
retratar o corpo humano em toda a sua potencialidade estética. Como se poderá 
observar, a cultura grega influenciou sobremaneira a sociedade romana. 
 
Roma foi fundada por algumas tribos latinas e sabinas, que foram 
dominadas pelos invasores etruscos. Roma, em sua história, teve três grandes 
períodos marcados por diferentes formas de legitimação das relações de poder. A 
Monarquia, a República e o Império. A monarquia foi substituída por uma forma 
menos autoritária de poder, a Rex Publica (isto é, a “coisa pública”). No entanto, o 
expansionismo militar gerou dificuldades administrativas, e uma das soluções foi 
a instituição do Império. 
 
Uma das principais características da vida romana foi o expansionismo 
militar. Este se iniciou como uma forma de aumentar a produção agrícola, graças 
à ampliação das terras destinadas ao cultivo do trigo, das oliveiras e das parreiras 
de uva, bases da produção de três dos principais produtos da dieta romana: 
pão, azeite e vinho. Para tanto, se escravizavam as populações dominadas pelos 
romanos através da guerra. O exército romano, um implacável empreendimento 
militar, tinha como uma de suas principais características a rígida disciplina. Ao 
contrário de Atenas, não necessariamente a presença no exército garantiria direitos 
políticos, pois em 111 A.C., Mário institui o soldo, isto é, o pagamento de salário 
aos militares. 
Assim, o exército romano era organizado em legiões, que eram organizadas 
em centúrias e decúrias, contando com um inovador sistema de estradas que 
ligava a capital ao interior das possessões coloniais, proporcionando uma contínua 
expansão de seus domínios, pela rápida mobilidade de soldados que o sistema de 
estradas possibilitava. Uma máxima afirmava que “todos os caminhos levam para 
Roma”. 
 
As legiões romanas possibilitavam um aumento produtivo, ao ampliar 
o número de escravos em Roma, que eram capturados dentre os prisioneiros de 
guerra. Com uma grande quantidade de escravos, Roma chegou a ter centenas de 
milhares de pessoas desocupadas, que eram entretidas com a denominada Política 
do Pão e Circo, em que a maior parte da população ociosa se dirigia ao Coliseu, um 
grande estádio romano, no

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