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Resenha Texto 02: Lidiane N. Leão 
 
VIANA, Ana Luiza D’Ávila; MACHADO, Cristiani Vieira. Proteção social em saúde: um 
balanço dos 20 anos do SUS. Physis, 2008. 18 (4): 645-84. 
 
O artigo tem como problema central: em que medida as mudanças observadas no sistema 
de saúde nos últimos vinte anos transformaram efetivamente as características da proteção social 
em saúde no Brasil? Para tentar responder a essa questão, a pesquisa tem como objetivo geral 
realizar um balanço dos 20 anos do SUS a partir da análise das mudanças e continuidades 
observadas em quatro relevantes eixos selecionados pelas autoras para a caracterização do 
sistema de proteção social em saúde brasileiro. As quatro dimensões selecionadas foram: 
organização institucional; financiamento; mix público-privado e modelo de atenção em saúde. 
No que diz respeito ao referencial teórico utilizado, com a finalidade de situar o debate 
histórico e teórico a respeito da temática proteção social em saúde, as autoras analisam as 
correntes de pensamento que se propõem a explicar as políticas de proteção social. Para que 
fosse possível apresentar o balanço do SUS proposto, as autoras fizeram um levantamento das 
características histórico-estruturais do sistema de proteção social brasileiro conformado até os 
anos 1980, com ênfase nas suas expressões na saúde. Nesse sentido, observou-se a elaboração 
de uma análise cuidadosa das características do sistema de saúde que se mostram incompatíveis 
com uma lógica de proteção social abrangente, tal como havia sido defendida pelo movimento 
sanitário. Ademais, constatou-se que os fatores histórico-estruturais e conjunturais identificados 
influenciaram a situação atual da política pública de saúde no país. Tais fatores em cotejo com o 
proposto pela Constituição de 1988 (que erige o direito à saúde a categoria de direito fundamental 
social e dever do Estado) demonstram nitidamente a contradição e os caminhos opostos seguidos: 
extrema centralização política e financeira no nível federal das ações sociais do governo; 
fragmentação institucional; princípio do autofinanciamento do investimento social; princípio 
da privatização e a exclusão da participação da população nos processos de decisão. No que 
diz respeito às quatro dimensões do sistema de proteção social em saúde brasileiro, as autoras 
apresentam os seguintes argumentos principais: a) Nos vinte anos de implementação do SUS 
houve mudanças organizacionais importantes na condução da política, expressas em dois 
movimentos simultâneos: a unificação horizontal do comando sobre a política nacional e a 
descentralização político-administrativa; b) O financiamento da política de saúde sofre 
mudanças e o gasto público em saúde passa a ser financiado por impostos dos três níveis de 
governo e contribuições sociais arrecadadas pelo nível federal e repassada para os ministérios 
da área da seguridade social. Entretanto, os pequenos ganhos em termos de estabilidade não 
significaram um aumento substantivo no aporte de recursos para o setor da saúde. c) O Brasil 
continua a apresentar um peso importante dos gastos privados na composição do gasto 
setorial, fato que é pouco condizente com o modelo universal representado pelo SUS. Outro 
aspecto relevante diz respeito às novas modalidades de articulação entre público e privado no 
âmbito dos serviços de saúde, expressas nos novos modelos de gestão e de contratação dos 
profissionais que proliferam a partir dos anos 1990, principalmente nos hospitais públicos. d) 
A partir da criação do SUS foi dada ênfase crescente nas ações de atenção básica, com a 
emergência do Programa de Saúde da Família, entretanto ainda hoje na prática o maior 
volume de investimento ainda é direcionado para as ações curativas e de maior complexidade. 
Quanto à análise crítica do texto, destacam-se como pontos positivos a preocupação 
conceitual e teórica das autoras em trabalhar o tema proposto, bem como a eleição de 
prioridades/dimensões para a realização do balanço do SUS. Como ponto crítico, aponta-se o 
pouco espaço reservado para análise dos quatro eixos propostos e, portanto, para o balanço 
objetivado. Acredita-se que os desafios apontados quanto à expansão da proteção social em 
saúde são pertinentes e atuais, mas a questão da terceirização dos serviços públicos de saúde, 
ainda, constitui-se em um ponto polêmico em vista dos princípios estruturais do SUS.

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