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Profa. Ma. Tânia Trajano UNIDADE I Livro-reportagem e Jornalismo de Revista O objetivo é estimular o conhecimento e o entendimento das especificidades e características de dois dos principais gêneros jornalísticos da atualidade: o livro-reportagem e o jornalismo de revista. Para isso, vamos tratar dos formatos, da linguagem e do processo de produção teórica e prática desses produtos jornalísticos. O que eles têm em comum? O texto aprofundado e humanístico, com publicação e transmissão por meio físico ou digital. Além de oferecer conhecimento teórico e embasamento para análise e discussão sobre o mercado atual, a proposta do nosso conteúdo é proporcionar ao aluno técnicas de produção de livros e revistas, desde o planejamento de pauta, passando pela definição de fontes, entrevistas, apuração e checagem, assim como o desenvolvimento do próprio texto, sua edição e publicação. Sobre a nossa disciplina Para iniciarmos, uma informação importante: O mercado para livro-reportagem nunca foi tão atrativo como produto jornalístico. É um dos conteúdos transmídia mais assertivos no campo do jornalismo. E as revistas têm vivenciado um novo momento de crescimento e efervescência com a possibilidade das publicações digitais. Diante da tendência de segmentação e personalização do conteúdo, característica marcante da era digital, as revistas aparecem como uma possibilidade para a exploração dos interesses específicos de grupos, tornando o jornalismo especializado de revista um nicho em potencial para os novos profissionais no mercado atual. Sobre a nossa disciplina Não há como explicar a existência do livro-reportagem sem fazer referência direta à reportagem. Como podemos defini-la? Se a notícia é o relato do fato jornalístico, a reportagem seria a narrativa que aborda as origens, as implicações e os desdobramentos de um fato, assim como apresenta os personagens envolvidos nele, humanizando-os. Partindo dessa linha de raciocínio, podemos situar como um importante marco histórico para o livro-reportagem o ambiente do início do século 20. Foi nos Estados Unidos, neste período, que começaram a ser desenvolvidas as grandes reportagens, como as conhecemos hoje. As origens do livro-reportagem A imprensa passava por um período de profissionalização e, diante do desenrolar da Primeira Guerra Mundial (1914 e 1918), o jornalismo assumia a missão de informar as pessoas sobre um evento mundial. O episódio, por sua complexidade, revelou que uma guerra não poderia ser entendida a partir de inúmeros fatos isolados. Ou seja, seria preciso ter uma abordagem mais aprofundada. A reportagem, então, passou a ganhar espaço não apenas nos jornais e veículos diários, mas também nas revistas semanais de informação geral, que caracterizaram a década de 1920. Revista Time (1923). As origens do livro-reportagem Sobre a grande reportagem, é importante considerar: A proposta é ampliar os fatos para uma dimensão contextual e colocar para o receptor uma compreensão de maior alcance, proporcionando um mergulho de fôlego nos fatos e em seu contexto e oferecendo ao seu autor maior liberdade para “quebrar” padrões e fórmulas convencionais de tratamento da notícia. No caso do livro-reportagem, ele pode ser resultado da simples compilação de reportagens já publicadas com uma proposta clara e objetiva – por exemplo, o acompanhamento de um único assunto ou reportagens de autoria de um único profissional. Também pode ser resultado de uma proposta desenvolvida para um livro, pensado como tal produto e que contenha características específicas jornalísticas. As origens do livro-reportagem Este foi o caso de A Sangue Frio. Nos Estados Unidos, o livro de Truman Capote é considerado o ápice do livro-reportagem. Apesar de não ser o primeiro lançado, especialistas apontam-no como um clássico do gênero no mundo. As origens do livro-reportagem Capa do livro A sangue frio, de Truman Capote Fonte: Capote (2003, capa). No Brasil, um dos casos que devem ser registrados é o de Os sertões, de Euclides da Cunha, apontado como o primeiro livro-reportagem nacional. A obra-prima escrita pelo autor completou 120 anos em 2022 e também é um clássico do gênero. Surgiu de uma cobertura intensa de Euclides da Cunha da Guerra de Canudos, entre 1896 e 1897, para o jornal O Estado de S. Paulo. Ele foi enviado como correspondente de guerra, aceitando o convite do jornalista Júlio de Mesquita, proprietário do jornal. As origens do livro-reportagem Capa da segunda edição corrigida do livro Os sertões: campanha de Canudos, de Coelho Neto, que reúne as primeiras resenhas de Cunha e está disponível em PDF da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin Fonte: Coelho Netto (1904, capa). Sobre este livro, ele também é representativo em razão da linguagem. Euclides da Cunha escreveu Os sertões ao longo de cinco anos, de 1897 a 1902. A obra é considerada o primeiro livro-reportagem do Brasil, pois procura ser mais do que literatura, já que busca ser uma obra de não ficção, um livro jornalístico-literário. Euclides da Cunha relatou fatos, mas fez isso de forma literária. Esta é uma das características deste tipo de publicação. O livro-reportagem se distingue dos demais tipos de livro por três condições essenciais: conteúdo, tratamento e função diferenciadas. Sobre conteúdo, seu objetivo de abordagem corresponde a um acontecimento ou a vários fatos reais. Nunca um livro- reportagem trata de histórias fictícias. Portanto, todo o seu conteúdo obedece aos mesmos procedimentos jornalísticos que uma matéria comum e é estritamente baseado em fatos reais. As origens do livro-reportagem Quanto ao tratamento, sua linguagem é jornalística. Preserva, portanto, o equilíbrio entre a comunicação objetiva e eficaz, evidenciada pelo registro formal e o registro coloquial, possibilitando ao autor deixar sua marca autoral pelas descrições detalhadas de ambientes, de características físicas dos personagens, de situações e mesmo das percepções do ambiente, caso essas informações sejam pertinentes e contribuam para o entendimento e a compreensão do leitor. Já em sua função, o livro-reportagem serve a distintas e variadas finalidades com o objetivo de informar, orientar e explicar, abarcando diversos gêneros jornalísticos, como o interpretativo, opinativo, investigativo, policial e mesmo diversional ou entretenimento. As origens do livro-reportagem Segundo Lima (2004, p. 4), O livro-reportagem cumpre um relevante papel, preenchendo vazios deixados pelo jornal, pela revista, pelas emissoras de rádio, pelos noticiários da televisão, até mesmo pela internet quando utilizada jornalisticamente nos mesmos moldes das normas vigentes na prática impressa convencional. Mais do que isso, avança para o aprofundamento do conhecimento do nosso tempo, eliminando, parcialmente que seja, o aspecto efêmero da mensagem da atualidade praticada pelos canais cotidianos da informação jornalística. Devemos compreender o livro-reportagem como um produto jornalístico que se aproxima da história, o que não acontece de forma acidental, pois o exercício do jornalismo literário como suporte ao livro dialoga diretamente com diversos recursos das ciências humanas e sociais. Vamos falar sobre essa associação com o jornalismo literário. As origens do livro-reportagem Livro-reportagem e jornalismo literário: a relação realidade/ficção no jornalismo A aproximação entre jornalismo e literatura é bem antigo. É na literatura que o jornalismo finca suas raízes originárias e formadoras do campo, já que a própria história do jornalismo se confunde com a da literatura. Num primeiro contato, pode-se dizer que o jornalismo aproveita os recursos literários para compor sua imagem de campo específico. Antes de 1930, os jornais utilizavama literatura para entreter o leitor por meio de suas histórias. Não à toa, grandes nomes da literatura em todo o mundo atuaram em grandes jornais. No Brasil, literatos como Machado de Assis, Euclides da Cunha e Graciliano Ramos foram alguns nomes com atuação reconhecida em jornais com circulação nacional. As origens do livro-reportagem A partir do momento em que se insere na área da cultura mercadológica, o veículo passa a vender histórias. O jornalismo articulava a literatura enquanto produto de consumo e não mais como um “mero” caderno literário. A literatura, por sua vez, encontra no jornal uma notoriedade diferente e uma maior proximidade com o público. Para Lima (2004), esse é o principal fator que atrai os escritores até as redações de jornal e, consequentemente, transporta a literatura para as páginas impressas do jornalismo. Há algo que esses dois gêneros não podem negar, que é a diluição de ambos no emprego da criatividade e habilidade narrativa para descrever e relatar situações do cotidiano, no caso do jornalismo, e imaginárias, no caso da literatura. Apesar das caraterísticas distintas, ambos têm muito a contribuir entre si. A relação realidade/ficção no jornalismo O new journalism é considerado o movimento que marcou essa mudança nos veículos periódicos tradicionais. Surgido nos Estados Unidos em meados da década de 1960, foi uma alternativa ao jornalismo de estilo objetivo e distanciado dos fatos, que caracterizava a imprensa americana até então. A reportagem deixava de ser um simples relato para se transformar num texto quase literário, que reconstruía os acontecimentos a partir da vivência do repórter. Considerado um “jornalismo de autor”, o new journalism abandonava dogmas do jornalismo tradicional, como neutralidade, distanciamento e narrativa sempre na terceira pessoa, para valorizar a figura do repórter no meio dos acontecimentos, dando a ele liberdade para criar e ousar a partir do registro de detalhes como gestos, hábitos, decoração e vestuário. A relação realidade/ficção no jornalismo O new journalism chegou no Brasil em 1966, com o lançamento, em São Paulo, da revista Realidade e do Jornal da Tarde, ambos trazendo reportagens que se aproximavam da literatura e que abrigaram toda uma geração de jornalistas-escritores. A Realidade circulou de abril de 1966 até março de 1976. Ela tinha características inovadoras para a época, com matérias em primeira pessoa e fotos que deixavam perceber a existência do fotógrafo. A publicação ganhou destaque por suas grandes reportagens, permitindo que o repórter “vivesse” a matéria por um mês ou mais. Foi inspirada nas revistas Life, Look e Paris Match, mas tinha uma pauta mais revolucionária do que elas. A relação realidade/ficção no jornalismo – Novo jornalismo no Brasil Primeira capa da revista Realidade, publicada em abril de 1966. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/5/54/Realidade.jpg. O livro-reportagem está exatamente “no meio do caminho” entre os gêneros jornalístico e literário. É marcado por características de ambos os gêneros – jornalismo e literatura –, preservando a realidade no relato dos fatos, mas que se utiliza de recursos como descrição, pesquisa e linguagem envolvente, inclusive com emprego de adjetivos, para atrair e manter a atenção do leitor. Todo processo de produção do livro-reportagem obedece a regras e procedimentos jornalísticos – desde a pauta, a entrevista, a apuração e a checagem até a redação. A esse tipo de produto cabe uma linguagem mais informal, descritiva e até o texto em primeira pessoa. Tudo depende da função e da proposta do produto em desenvolvimento. Algo, porém, é bem característico desse tipo de conteúdo jornalístico: a profundidade e a complexidade das informações, que contam com dados e pesquisas que apoiam e embasam o texto. Vamos entender melhor isso na sequência, ao falarmos das funções do livro-reportagem. Agora, nossa interatividade. A relação realidade/ficção no jornalismo – Novo jornalismo no Brasil Com relação ao livro-reportagem, leia as afirmativas abaixo: I. O livro-reportagem pode cumprir um relevante papel, na medida em que preenche vazios deixados pelos demais veículos jornalísticos ou aprofunda a compreensão sobre assuntos já tratados pela imprensa. II. O livro-reportagem possibilita ao jornalista não ficar preso ao factual, mas voltar-se à compreensão do contexto dos acontecimentos, pois é um veículo que não tem periodicidade. III. Em um livro-reportagem, é possível mesclar realidade e ficção, até porque é necessário contemplar na sua produção características do jornalismo e da literatura. Está correto o que se afirma somente em: a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) I e III. Interatividade Com relação ao livro-reportagem, leia as afirmativas abaixo: I. O livro-reportagem pode cumprir um relevante papel, na medida em que preenche vazios deixados pelos demais veículos jornalísticos ou aprofunda a compreensão sobre assuntos já tratados pela imprensa. II. O livro-reportagem possibilita ao jornalista não ficar preso ao factual, mas voltar-se à compreensão do contexto dos acontecimentos, pois é um veículo que não tem periodicidade. III. Em um livro-reportagem, é possível mesclar realidade e ficção, até porque é necessário contemplar na sua produção características do jornalismo e da literatura. Está correto o que se afirma somente em: a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) I e III. Resposta Diferentemente dos textos jornalísticos comuns, com um lead objetivo e imparcial, o livro- reportagem explora uma certa subjetividade. Suas páginas contam uma história com uma escrita detalhada e extensa, o que não é característico nos meios de comunicação convencionais. Nesse tipo de texto, os personagens do cotidiano recebem grande atenção, e o ordinário se torna extraordinário, seja por uma história triste, de superação, de um evento emocionante ou de uma grande perda. O personagem se torna um grande objeto de pesquisa para o jornalista. Funções do livro-reportagem Apesar de utilizar-se desses aspectos, o jornalista mantém durante todo o tempo um compromisso com a precisão factual, pois, embora trate de assuntos subjetivos e delicados, ele deve se ater ao compromisso com a ética jornalística. Lima (2004) define o livro-reportagem como um veículo de comunicação jornalística que desempenha um papel específico: prestar informação ampliada sobre fatos, situações e ideias de relevância social, visando abraçar uma grande variedade de temas. O livro-reportagem ocupa um espaço importante no mercado editorial, preenchendo as lacunas deixadas pelos jornais, revistas, emissoras de rádio, noticiários e redes sociais, já que apresenta um panorama mais completo, analítico e profundo dos acontecimentos. Funções do livro-reportagem Conforme explicado por Lima (2004), para realizar um bom livro-reportagem, o jornalista deve se ater a três principais conceitos baseados na Teoria Geral dos Sistemas: 1. Contextualizar o fenômeno analisado e estudado, objetivando detectar a realidade em torno dele e as características intrínsecas que possam afetar seu comportamento. 2. Mapear o fenômeno relacionando-o ao tempo, buscando definir suas particularidades e antecedentes e procurando inferir possíveis desdobramentos no futuro. 3. Identificar a função que o sistema desempenhou, desempenha e possa vir a desempenhar. Funções do livro-reportagem Assim, segundo o autor, o livro-reportagem é um subsistema do jornalismo e a função que ele exerce o precede, essencialmente, bem como os recursos técnicos utilizados para escrevê-lo. Dessa maneira, o livro-reportagem é fruto da inquietude do jornalista que não encontra espaço para fazê-lo em seu âmbito regular de trabalho na imprensa cotidiana, que preza pela objetividade e pela velocidadeda reprodução da notícia ou hard news. Categorias para classificar o livro-reportagem: livro-reportagem-perfil; livro-reportagem-depoimento (action-story/ testemunha privilegiada); livro-reportagem-retrato (não focaliza uma figura humana, mas um objeto em questão); livro-reportagem-ciência (divulgação científica); livro-reportagem-ambiente (interesses ambientais/ ecossistemas/não foca no humano); Funções do livro-reportagem livro-reportagem nova consciência (novas correntes: comportamentais/sociais/culturais e outras); livro-reportagem-instantâneo (fatos recém-concluídos/atualidade; não é efêmero; livro- reportagem da história imediata); livro-reportagem-atualidade (seleciona os temas atuais, mas cujos desdobramentos finais ainda não são reconhecidos); livro-reportagem-antologia (reportagens agrupadas); livro-reportagem-denúncia (propósito investigativo de denunciar escândalos); livro-reportagem-ensaio (ponto de vista evidenciado do autor/foco narrativo); livro-reportagem-viagem; livro-reportagem-história. Funções do livro-reportagem – Categorias Sobre essa classificação, importante destacar algumas questões: O livro-reportagem de perfil busca evidenciar o lado humano e a personalidade do personagem retratado. Nessa classificação, o perfil ganha cada vez mais espaço no jornalismo, pois é com esse gênero que se pode conhecer a realidade de um artista ou de uma pessoa pública, revelando a vida privada ou profissional dos personagens. O livro-reportagem-depoimento tem algumas semelhanças com o texto de perfil, porém, nesse caso, as informações são relatadas pelo próprio personagem. Ele é quem relata os fatos ocorridos, carregados por sua subjetividade e pelo seu ponto de vista. O livro-reportagem-retrato não focaliza numa figura humana, mas busca explorar um objeto específico, como um local, um evento ou um fenômeno natural. Essa categoria busca transformar algo simples e ordinário em uma reportagem complexa e aprofundada. Funções do livro-reportagem – Categorias Livro-reportagem de divulgação científica: trata de um estudo com informações aprofundadas sobre pesquisas e estudos de cunho científico e acadêmico; Livro-reportagem-ambiente: aborda temáticas como ecossistemas e meio ambiente; Livro-reportagem-viagem: trata de maneira objetiva e clara o tema sem utilizar figuras humanas como personagem; Livro-reportagem-história: trata de uma narrativa com foco em explorar eventos históricos. Um exemplo dessa categoria é o já mencionado livro Os sertões, de Euclides da Cunha. Funções do livro-reportagem – Categorias Os livros-reportagens com temáticas como atualidades, o instantâneo – que retrata acontecimentos que ocorreram há pouco tempo e que possuem grande valor para a sociedade – e de denúncia participam de um mesmo enfoque: acontecimentos relevantes social ou culturalmente e que merecem uma pesquisa aprofundada. Há também uma classificação para os livros-reportagem de antologia, que reúnem diversas reportagens significativas agrupadas por temática, autor ou ano. Por fim, há o livro-reportagem-ensaio, que possui enfoque no ponto de vista do autor e tem um grande foco narrativo. Funções do livro-reportagem – Categorias Exemplos de grandes livros-reportagem nacionais: Olga, de Fernando Morais; Xingu: uma flecha no coração, de Washington Novaes; Conversas com Vargas Llosa, de Ricardo Setti; 1968 – O ano que não terminou: a aventura de uma geração, de Zuenir Ventura; Holocausto brasileiro, de Daniela Arbex; O olho da rua, de Eliane Brum; Rota 66, de Caco Barcelos; Presos que menstruam: a brutal vida das mulheres – tratadas como homens – nas prisões brasileiras, de Nana Queiroz. Funções do livro-reportagem – Referências Exemplos de grandes livros-reportagem internacionais: A sangue frio, de Truman Capote; Hiroshima, de John Hersey; Vozes de Tchernóbil, de Svetlana Aleksiévitch; Repórter: memórias, de Seymour M. Hersh; Notícia de um sequestro, de Gabriel García Márquez; Todos os homens do presidente, de Bob Woodward e Carl Bernstein; Gomorra, de Roberto Saviano. Funções do livro-reportagem – Referências internacionais Diferenciais dos veículos pertencentes aos campos jornalístico e editorial: No que diz respeito aos diferenciais existentes no campo jornalístico e editorial, é relevante ressaltar que o jornalismo tem um compromisso ético com a sociedade e com a notícia, buscando sempre ser o mais objetivo e claro possível com seu leitor. Dessa forma, o jornalismo, como segmento de comunicação de massa, exerce a função de informar, explicar e orientar, porém possui outras funções subjacentes importantes, como a econômica, ideológica, educativa e social. Nilson Lage (2013): jornalismo é uma prática social que se baseia na ideia da evolução da sociedade e na fragmentação de conhecimentos e funções da vida social, além de ter um compromisso ético com a realidade e com os fatos, sendo papel do jornalista selecionar o que interessa ao público da maneira mais imparcial possível. Campos jornalístico e editorial A objetividade jornalística é um conceito que já foi amplamente estudado no meio acadêmico, e a sua orientação serve como parâmetro para a prática dos jornalistas e para seu público no consumo diário de notícias. A notícia é a ação de um sujeito com interesses (o jornalista) sobre uma realidade inacessível (o fato puro). Ou seja, o trabalho do jornalista na produção de notícias já afeta a objetividade do fato em si. Por isso, o bom jornalista deve seguir rituais estratégicos que buscam minimizar a interferência subjetiva dos acontecimentos. Assim, cabe ao jornalista selecionar o que é útil ao público, ter comprometimento com a verdade, ser fiel às ideias que transmite e interpreta, aceitar diferentes versões de um mesmo fato e ser fiel a seus compromissos éticos. Campos jornalístico e editorial Nesse sentido, o jornalista deve ser fiel aos fatos e divulgar honestamente as informações, pois seu compromisso é com o público, mesmo que este possa ter reações adversas ao jornalista, implicando conflitos de interesse. A objetividade no jornalismo é um dos seus diferenciais, pois, segundo Pena (2007), é impossível atingir 100% de objetividade no jornalismo, que é uma aproximação da realidade e participante ativo da construção social da realidade, sendo feita a partir da enunciação do trabalho do jornalista. A substituição do jornalismo opinativo pelo jornalismo factual, juntamente com criação do lead e da pirâmide invertida, garantem um método objetivo ao jornalista: “o método é que deveria ser objetivo, não o repórter” (Traquina, 2004, p. 134). o profissional mantém suas características, mas aplicando tais métodos para garantir às suas matérias a maior proximidade possível com a realidade. Campos jornalístico e editorial Os métodos e técnicas de redação que buscam afastar a subjetividade e aplicar a objetividade priorizando os fatos devem ser almejados pelos profissionais do jornalismo: “As normas jornalísticas têm muito mais importância do que preferências pessoais na seleção e filtragem de notícias. [...] a objetividade surge porque há uma percepção de que os fatos são subjetivos, então também podemos concluir que eles são mediados por indivíduos com interesses, carências, preconceitos e, inclusive, ideologias (Pena, 2007). Dessa forma, as condutas éticas e a busca pela objetividade que o profissional estabelece como diferenciais de veículos do campo jornalístico e editorial podem ser consideradas. Campos jornalístico e editorial O que caracteriza fundamentalmente o livro-reportagem? a) O foco na ficção, em razão da liberdade que o jornalista tem neste tipo de publicação. b) O foco na relatividade das informações que serão trabalhadas. c) O que se destaca é o predomínio da opinião do autor.d) A atenção à veracidade. e) O distanciamento dos recursos literários. Interatividade O que caracteriza fundamentalmente o livro-reportagem? a) O foco na ficção, em razão da liberdade que o jornalista tem neste tipo de publicação. b) O foco na relatividade das informações que serão trabalhadas. c) O que se destaca é o predomínio da opinião do autor. d) A atenção à veracidade. e) O distanciamento dos recursos literários. Resposta A pauta no jornalismo é o início de todo o processo da elaboração da notícia, funcionando como uma espécie de planejamento. Roteiro sistematizado e detalhado dos procedimentos necessários, um passo a passo para o jornalista obter o resultado daquilo que pretende apresentar como produto final, isto é, o texto revisado, diagramado e pronto para ser apresentado e consumido como informação jornalística. No caso do livro-reportagem, é um roteiro estabelecido em longo prazo. Detalha desde o enfoque, os personagens a serem entrevistados, os documentos e fontes oficiais a serem consultadas, assim como os procedimentos técnicos a serem executados, apurados e checados. Tudo para obedecer uma ordem logística, com prazos e recursos necessários para execução. Construção de projeto de livro-reportagem – Pauta Sobre a origem: a pauta foi instituída pelas revistas, chamadas de magazines. Necessidade de selecionar quais seriam tratados em suas páginas, escolhendo alguns entre vários disponíveis. Nos diários brasileiros, a pauta foi introduzida juntamente com a reforma editorial, iniciada pela mudança gráfica na década de 1950, do jornal de Samuel Weiner, o Última Hora, que fazia parte do conglomerado Diários Associados, de Assis Chateaubriand. A partir da década de 1970, em São Paulo, no entanto, a pauta passou a fazer parte do processo de produção jornalístico junto com as técnicas de redação, como a programação gráfica das páginas e os procedimentos gerenciais que caracterizam a imprensa industrial moderna. O modelo escolhido foi a cópia dos jornais americanos. Construção de projeto de livro-reportagem – Pauta Sobre a pauta: Ao longo do processo de pesquisa, entrevista e apuração, o “roteiro” pode ser alterado. O êxito de uma pauta depende essencialmente de quem a executa, no caso, o repórter. Lage (2001): “Como qualquer projeto de pesquisa, envolve imaginação, insight: a partir dos dados e indicações contidos na pauta, a busca do ângulo (às vezes apenas sugerido ou nem isso) que permita revelar uma realidade, a descoberta de aspectos das coisas que poderiam passar despercebidos” (p. 35). Construção de projeto de livro-reportagem – Pauta Sobre a pauta do livro-reportagem: Adotar o mesmo procedimento, porque o profissional de imprensa vislumbra a possibilidade de trabalhar de forma muito mais profunda e complexa assuntos que, muitas vezes, são tratados de maneira corriqueira pelos veículos de imprensa diários, como jornais, sites de notícia e mesmo os telejornais. A diferença da pauta do livro-reportagem para os veículos diários é que para o livro, a pauta é extensa, deve ter um planejamento em longo prazo e com espaços para mudanças e descobertas, ainda que o essencial esteja previsto. Construção de projeto de livro-reportagem – Pauta Um exemplo de como a pauta para o livro-reportagem é desenvolvida pode ser observado nos trabalhos do jornalista e escritor Fernando Morais, que tem grandes títulos do gênero biografia. Morais (1994) acredita que uma boa pauta pode surgir sem pesquisa prévia. É o olhar jornalístico, atento aos detalhes e oportunidades, que pode fazer a diferença na decisão de iniciar e conduzir um projeto. Ele revela ainda que encontrar uma pauta, muitas vezes, também é questão de sorte, um acaso. Exemplos: as histórias de Olga e de Corações Sujos – históricas encontradas em suas pesquisas. Dica do autor: ter bom relacionamento com as fontes que abram portas; prestar atenção a assuntos que não estejam na pauta da imprensa e olhar os fatos com outros olhos, além de ter uma certa dose de sorte. Construção de projeto de livro-reportagem – Pauta Fonte: Morais (1994, capa). e Fonte: Morais (1985, capa). Atenção: apenas a partir da definição do plano, com a transcrição de um roteiro, é que as pesquisas e entrevistas com as fontes podem levar a novas descobertas que podem interessar ou mesmo mudar o rumo do planejamento inicial. O olhar atento e observador do jornalista, mais uma vez, fará toda a diferença nesse momento, porque é a percepção da importância de novos fatos ou mesmo a inexistência de outras informações que vão determinar os rumos e, claro, o resultado final do projeto. Construção de projeto de livro-reportagem – Pauta O jornalismo é uma atividade que se destina e se dirige a atender ao direito à informação do cidadão. Sem o atendimento ao direito à informação, a democracia simplesmente não funciona. Só há democracia quando as informações de interesse público se encontram amplamente compartilhadas entre os cidadãos. “Portanto, não se concebe democracia sem o compartilhamento das informações de interesse público, sem a liberdade de expressão e a sua outra face que é exatamente o direito à informação” (Bucci, 2019, p. 106). O jornalismo cidadão apoia-se na difusão de ideias sob a ótica da filosofia de publicação aberta. Isso significa reforçar a função máxima do jornalismo a favor do exercício da cidadania. Construção de projeto de livro-reportagem – Produção Porém, há dificuldades... Os veículos de comunicação enfrentam ostensivas pressões de mercado para noticiar o “noticiável”. E é justamente esse cenário que tem impulsionado ainda mais o mercado editorial no jornalismo. Livre das amarras do tempo, do espaço e, principalmente, comerciais, o livro proporciona mais autonomia e liberdade aos jornalistas que buscam ir além da cobertura óbvia e superficial dos diários, sejam impressos, eletrônicos ou on-line. Isso porque, além de uma linguagem mais solta e opinativa, característica do jornalismo literário, o livro-reportagem explora elementos que não podem ser tratados com a mesma importância ou profundidade nos veículos factuais – seja pelos motivos que acabamos de descrever ou por falta de interesse do público leitor. Construção de projeto de livro-reportagem – Produção O jornalista Percival de Souza, que ganhou quatro prêmios Esso, considerado o mais importante do jornalismo no país, faz questão de frisar que seus livros não são mera reprodução das reportagens originalmente publicadas na imprensa, mas uma forma de lançar um olhar mais aprofundado e contextualizado sobre os temas: A reportagem sai publicada no jornal, conforme combinado com a chefia de redação, “mas como nem tudo que se apura pode, por limitação de espaço do jornalismo diário, ser publicado, costumo construir uma outra história, que nada tem a ver com a reportagem” (Maciel, 2017, p. 10). Entre as principais obras de Souza, estão algumas das mais importantes do livro-reportagem no Brasil: A prisão (1979) - histórias dos presos da Casa de Detenção de São Paulo; O crime da rua Cuba (1989) - repercute seu trabalho de repórter policial; Eu, cabo Anselmo (1999), com depoimentos-chave desse nome controverso da história; Autópsia do medo (2000), sobre o delegado Sérgio Fleury; e Narcoditadura (2002), que trata do assassinato do repórter investigativo Tim Lopes na mão de narcotraficantes. Construção de projeto de livro-reportagem – Produção Percival faz parte, juntamente com Fernando Morais, da primeira fase de crescimento do livro-reportagem no país. No entanto, foi a partir da década de 1980 que o produto foi encarado como é hoje: um espaço muito mais aprofundado para o exercício da reportagem. Foi a partir desse momento que as editoras passaram a investir em repórteres que apresentam projetos exclusivosde reportagens para livros, principalmente na modalidade biografias, tornando ainda mais variada e consistente a produção de livros-reportagem após os anos 1990. Com isso, a dedicação e o trabalho de campo do profissional de imprensa tornaram-se ainda mais intensos. As técnicas de observação foram ainda mais aprimoradas. Livros como os da jornalista gaúcha Eliane Brum, um dos ícones do livro- reportagem da atualidade, são extremamente ricos em detalhes e observações. Construção de projeto de livro-reportagem – Produção Eliane Brum Considerada uma das maiores jornalistas brasileiras da atualidade, só são possíveis graças às técnicas de imersão e vivência do repórter, que se desloca para observar e averiguar os acontecimentos in loco. Prática cada vez mais abandonada nas redações nos dias de hoje – em que o jornalismo é feito por redes sociais, com entrevistas em áudio, o que contribui com a redução do número de jornalistas e o custo do deslocamento deles às fontes ou aos locais dos acontecimentos –, a observação, a descrição e a ambientação pelo repórter são alguns dos principais elementos nos livros-reportagens. Construção de projeto de livro-reportagem – Produção Eliane Brum usa em todos os seus livros uma linguagem envolvente e literária. Nesta obra, que reúne algumas das principais colunas de Eliane Brum e que se transformou em um fenômeno de audiência, tem como proposta proporcionar ao leitor uma fotografia do tempo atual, visto pelo olhar de quem observa as ruas do mundo com um olhar que vai além, para desacomodar o olhar de quem a lê. O livro ganhou o prêmio Açorianos de Literatura 2013. Construção de projeto de livro-reportagem – Produção Capa do livro que reúne artigos e crônicas da jornalista Fonte: https://m.media- amazon.com/images/I/5105jvdNHDL.jpg Como desenvolver esse tipo de projeto? Para conseguir atingir esse nível de profundidade, o jornalista tem de oferecer um contexto na informação, já que o livro-reportagem explora a literatura da realidade, um trabalho que ele considera autoral, já que oferece soluções inovadoras, como observação, análise e expressão. Nesse sentido, a entrevista em profundidade é fundamental. Não é como fazer uma entrevista corriqueira para uma cobertura factual. A entrevista do livro-reportagem exige tempo e paciência. Serão horas de conversa, encontros e desencontros. Há necessidade, muitas vezes, de entrevistar pessoas próximas ao convívio do personagem principal. A proposta é ter uma dimensão maior de sua vida e sua rotina. Para isso, muitas vezes, é necessário participar inclusive como observador de seu dia a dia. O livro-reportagem é um projeto de fôlego que exige investigação, empenho, envolvimento, apuração de dados. Construção de projeto de livro-reportagem – Produção Por que a definição da pauta em livro-reportagem é realizada de uma forma diferente dos demais veículos jornalísticos impressos? a) Porque não é necessário elaborar uma pauta em livro-reportagem. b) Porque aqui não cabe ao jornalista definir a pauta. c) Porque no livro-reportagem a pauta deve ser mais detalhada em função da complexidade e da extensão da apuração, da redação e da edição. d) Porque no livro-reportagem a questão da periodicidade é fundamental e condiciona toda a produção. e) Porque é necessário estabelecer quais editoras poderão se interessar pelo trabalho antes de começar a desenvolver o projeto. Interatividade Por que a definição da pauta em livro-reportagem é realizada de uma forma diferente dos demais veículos jornalísticos impressos? a) Porque não é necessário elaborar uma pauta em livro-reportagem. b) Porque aqui não cabe ao jornalista definir a pauta. c) Porque no livro-reportagem a pauta deve ser mais detalhada em função da complexidade e da extensão da apuração, da redação e da edição. d) Porque no livro-reportagem a questão da periodicidade é fundamental e condiciona toda a produção. e) Porque é necessário estabelecer quais editoras poderão se interessar pelo trabalho antes de começar a desenvolver o projeto. Resposta Escrever um livro não é tarefa fácil, exige bastante do jornalista. Projeto longo, com uma série de critérios e procedimentos específicos. Habituados com tarefas rápidas e curtas, características da instantaneidade da era digital, profissionais de imprensa costumam ter dificuldade para desenvolver um projeto como o livro-reportagem. Atenção: a publicação do livro-reportagem exige disciplina, organização e muito empenho do autor. Nem sempre o plano inicial flui de acordo com o cronograma e os recursos definidos previamente. Redação em livro-reportagem Por essa razão, há uma série de dicas que podem ser elencadas para quem está produzindo um livro. 1º ponto: a habilidade com a escrita é fundamental para o sucesso de um bom texto. Apesar do caráter jornalístico, com base em entrevistas, pesquisa documental e declarações de fontes qualificadas, o livro-reportagem tem uma linguagem literária. Isso permite ao autor empreender estilo próprio, com percepções e opiniões pessoais, baseadas sempre em fatos e informações, sejam declarações ou mesmo observações. Nada pode ser inserido no livro que não seja fiel à realidade, ainda que seja uma percepção pessoal do autor. Redação em livro-reportagem O que queremos dizer com isso? É claro que todo esse processo tem uma carga um tanto quanto subjetiva, pois um mesmo fato visto por diferentes pessoas pode ser interpretado de maneiras diferentes. Contudo, é preciso considerar que os livros-reportagens, ainda que tenham funções diversas e possam ser explorados de formas diferentes dependendo do autor, têm características comuns, em especial na escrita. Por ser um produto de comunicação que informa em profundidade, uma das dicas para o desenvolvimento de sua escrita é apresentar o texto quando já tiver o domínio de toda a sua história ou pelo menos de boa parte dela; Devemos ter a “coluna vertebral” do texto = ela que conduz o desenrolar do livro e pode dar abertura para outras histórias secundárias ou de menor importância, por exemplo. Redação em livro-reportagem Olga, lançado em 1985, é uma boa referência. “Uma história triste, mas ao mesmo tempo exemplar, de uma pessoa que dá a vida em defesa de ideias” (Sanches, 2022). Trata da história da companheira do líder comunista Luís Carlos Prestes e foi escolhida pelo autor – ele a tornou protagonista numa história em que ela era apenas coadjuvante. O livro começa com um episódio de sua primeira juventude, quando ela entrou no tribunal que julgava seu namorado, Otto Braun, por traição à Alemanha e ligações com a União Soviética. “Olga era revolucionária desde o começo. Correu riscos, inclusive o risco que acabou levando-a à câmara de gás, para mudar o mundo, num país do outro lado do planeta”, explica Morais (Sanches, 2022). Redação em livro-reportagem – Referências Ainda sobre Olga: O livro foi base de um filme e, mais recentemente, a produção de uma ópera. A produção cinematográfica, que ganhou inclusive as telas de cinemas no país, não contou com a participação do autor do livro-reportagem, Fernando Morais. “Apenas me comprometi com a Rita (Buzzar), assim como tinha feito com Guilherme Fontes no 'Chatô', a fazer uma leitura da versão final para evitar alguma derrapagem histórica”. Para Morais, a produtora e roteirista Rita Buzzar fez uma “adaptação exemplar”. “Apesar de algumas fusões de personagens, algo inevitável num filme assim, ela conseguiu o prodígio de dar tratamento dramatúrgico à história sem trair os fatos”. Morais considera natural a opção de Buzzar e Jayme Monjardim de concentrar o filme em Olga Benário, deixando em segundo plano o contexto político e a história de Prestes. Redação em livro-reportagem A linguagem trabalhada em um livro-reportagemtambém é um item fundamental para ser analisado e pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma obra. A escolha da forma como se desenvolve um texto não é aleatória, diferentemente do que muitos podem até pensar. Deve ser cuidadosa e ter como base o público, o objetivo e a própria característica do autor. Para ter ideia, há obras escritas em primeira pessoa, enquanto outras, na terceira. Há autores que optam por uma história mais descritiva, narrativas mais poéticas ou formais, enquanto alguns preferem uma linguagem mais coloquial e menor envolvimento do narrador, utilizando-se muito mais dos recursos literários, como travessões e pontos de exclamação, como se a história se desenrolasse sozinha. Redação em livro-reportagem Apesar de não haver regras claras e impostas, o importante é ressaltar que o livro- reportagem deve ter uma linguagem fluída, com encaixe de histórias umas nas outras. As descrições de cenas, ambientes, personagens e épocas também são fundamentais nesse tipo de obra. Redação em livro-reportagem Queda livre, de Otávio Frias Filho, é um desses exemplos em que a linguagem foi pensada para quebrar uma das regras número um do jornalismo diário: a escrita em primeira pessoa. O livro, que reúne sete reportagens com experiências de Frias Filho em “investigações participativas”, foi lançado pela editora Companhia das Letras em 2017. As experiências de Frias Filho serviram não apenas para testar os seus próprios limites físicos e psicológicos, mas como pretexto para explorar temas e sentimentos definidores de qualquer subjetividade (o medo, a alucinação, o prazer, a consciência da finitude etc.). Para que o experimento funcionasse, ele teve que lançar mão de uma dose incomum de franqueza e honestidade intelectual na descrição das próprias reações e pensamentos. É um exercício de equilíbrio: se não fosse capaz de tratar a si mesmo e a suas experiências com a mesma objetividade e rigor com que tratava outras pessoas e fatos – ou pelo menos tentar fazer isso –, a narração em primeira pessoa perderia força e cumpriria de maneira manca o seu papel no relato jornalístico (Cariello, 2020). Redação em livro-reportagem – Exemplo Estilo, construção de narrador, construção de cena, descrição detalhada, diálogo. Assim como ocorre na linguagem, a construção do narrador deve ser algo planejado no desenvolvimento. Há diferentes formas de contar uma história, seja pelo ponto de vista de um personagem, seja pela própria condução do conteúdo apresentado. No jornalismo narrativo (ou literário), o procedimento é outro. A hierarquização explícita do conteúdo e da apresentação mais ou menos telegráfica das informações dá lugar a um texto que depende de um arco narrativo (ou seja, que deve ser lido do princípio ao fim para fazer sentido), com tramas e subtramas – à maneira de um conto ou de um romance, embora comprometido com a verdade e com a precisão factual (Cariello, 2020). Redação em livro-reportagem – Estilo Vejamos outro exemplo: O olho da rua, de Eliane Brum Repórter em busca da literatura da vida real. O livro traz dez reportagens – cinco delas urbanas, quatro na Amazônia e uma sobre a geografia íntima da autora, que começa por um nascimento nos confins da Amazônia, pelas mãos de parteiras da floresta, e se encerra com uma morte em São Paulo, quando Eliane testemunha os últimos 115 dias de vida de uma merendeira de escola. Essas reportagens sobre diferentes temas foram produzidas em vários lugares do Brasil para a revista Época entre os anos de 2000 e 2008. Ao término delas, a autora faz comentários sobre o processo da organização das viagens, os lugares e pessoas com quem conviveu mais diretamente, e dá outras informações sobre a elaboração dos textos, desvelando um pouco mais sobre o processo de escrever. Redação em livro-reportagem – Estilo Considerando que o livro-reportagem é o resultado mais latente da união entre jornalismo e literatura, é possível dizer que o produto é uma espécie de romance que busca uma linguagem aprofundada e tem como objetivo intensificar a utilização de elementos narrativos para estruturar seu relato. Não à toa, teóricos apontam o livro como um subsistema híbrido, que incorpora procedentes operacionais do jornalismo – pauta, temática, redação e edição – com condicionamentos literários e editoriais – elementos narrativos, mercado, público, esquemas de distribuição. “O livro-reportagem atinge, desse modo, um território que mergulha no fato e conta uma história. É daí que emana a sedução e emoção desta obra jornalística, e, ao mesmo tempo, literária. Ampliam-se não só as páginas escritas, mas também o contato entre a reportagem, o jornalista e o leitor” (Oliveira, 2019). Redação em livro-reportagem – Estilo O livro-reportagem é uma publicação não periódica, que tem como principal função informar o leitor com profundidade fatos não abordados ou explorados com superficialidade pela imprensa diária, seja por tempo, espaço ou por razões financeiras ou editoriais que impedem que o jornalista mergulhe em um assunto específico. É no livro que a reportagem tem encontrado a extensão e a autonomia necessárias para garantir um conteúdo em profundidade, já que tal produto não requer publicidade e não possui concorrência que interfira na escolha de suas temáticas. Outra característica deste veículo de comunicação é a linguagem. Ainda que este seja um produto jornalístico, especialistas acreditam que o livro-reportagem está exatamente “no meio do caminho” entre os gêneros jornalístico e literário. Outra questão: a importância do planejamento, que tem início pela pauta. Desde a pesquisa, o projeto deve ser minuciosamente esquematizado, levando em conta que é um projeto de longo prazo. Pensar em todas as etapas: recursos, redação, revisão, diagramação, publicação, distribuição e divulgação. Considerações finais O primeiro passo para desenvolver um livro-reportagem é: a) Ler uma bibliografia mínima sobre o assunto, buscando identificar possíveis lacunas no mercado editorial. b) Mergulhar na realidade e escolher personagens. c) Escolher a melhor metodologia de trabalho, levando em conta a pesquisa qualitativa e quantitativa que deverá ser realizada. d) Elaborar uma pauta completa (projeto), identificando, pelo menos, o tema a ser abordado, os objetivos e as formas de apuração que serão empregadas. e) Acompanhar a cobertura da grande imprensa diariamente para identificar as lacunas existentes, buscando temas que não apareceram na mídia. Interatividade O primeiro passo para desenvolver um livro-reportagem é: a) Ler uma bibliografia mínima sobre o assunto, buscando identificar possíveis lacunas no mercado editorial. b) Mergulhar na realidade e escolher personagens. c) Escolher a melhor metodologia de trabalho, levando em conta a pesquisa qualitativa e quantitativa que deverá ser realizada. d) Elaborar uma pauta completa (projeto), identificando, pelo menos, o tema a ser abordado, os objetivos e as formas de apuração que serão empregadas. e) Acompanhar a cobertura da grande imprensa diariamente para identificar as lacunas existentes, buscando temas que não apareceram na mídia. Resposta BUCCI, Eugênio. Existe democracia sem verdade factual? São Paulo: Estação das Letras e Cores Editora, 2019. Disponível em: https://tinyurl.com/38euz8p3. Acesso em: 21 mar. 2024. CARIELLO, Rafael. O editor da revista Piauí Rafael Cariello indica cinco livros para entender o que é jornalismo narrativo. Nexo, 2020. 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