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Prof. Ronald Sclavi UNIDADE II Jornalismo Investigativo Nessa Unidade II – trataremos especificamente da execução do plano de investigação. Que métodos devem ser utilizados para lidar com as fontes e como melhor avaliá-las para os propósitos da reportagem. Aqui iremos compreender as diferenças entre fontes humanas e não humanas, e estudaremos o método mais apropriado para seguir o rastro dos documentos. Em seguida, na Unidade III – nos aprofundaremos na estruturação e montagem da matéria investigativa, nas diversas modalidades possíveis (textual, visual etc.). Começaremos com a análise das provas obtidas durante o processo de apuração. Em um segundo momento, veremos como elaborar o texto propriamente dito. A realização da reportagem Vamos analisar o caso a seguir: Angelique Kimoko trabalhava para um jornal pequeno e particular num país da África Central assolado pela guerra. Chegaram-lhe aos ouvidos boatos de que as forças internacionais de paz que se encontravam no país estavam abusando das mulheres deslocadas pela guerra: exigiam favores sexuais em troca de alimentos. Angelique indagou por toda a parte, e, por fim, encontrou uma mãe e sua filha de 14 anos que estavam dispostas a falar sobre a experiência por que passaram nas mãos das forças de manutenção da paz. A história que lhe contaram era arrepiante. Ambas afirmaram terem sido violadas por membros das forças internacionais quando tinham ido buscar rações de arroz para a família. Quando chegou à redação, o redator-chefe não se mostrou muito entusiasmado. Trabalhar as fontes “Como é que podemos ter a certeza de que essas mulheres não são agitadoras pagas pelos rebeldes? Que crédito elas têm?”. Angelique entregou a ele a informação que tinha sobre a família para que pudesse verificar a veracidade da narrativa. Para horror dela, quando a notícia saiu, o nome completo das mulheres, e o campo onde se encontravam, tinham sido incluídos. Quando Angelique se encontrava na sala do redator apresentando a sua queixa, a mãe entrou na redação, chorando histericamente e gritando o nome de Angelique: “Sua traidora! Você nos traiu! Agora todas as pessoas sabem o que se passou e esta manhã a polícia de segurança levou a minha filha!” (ANSEL, 2011d, p. 2). Trabalhar as fontes É importante ter em mente, em primeiro lugar, que a importância de uma fonte para a reportagem depende não apenas de suas características intrínsecas (o que a qualifica, em si, para ser uma boa escolha), mas também na relação apropriada que o jornalista deve estabelecer com elas. Isso inclui os vínculos de confiança entre as duas partes e a capacidade de elaborar boas perguntas e registrar as respostas com a máxima fidelidade possível. Nesse sentido, é imprescindível determinar um sistema que permita o registro e a manutenção das informações fornecidas por essas fontes. Isso vai muito além de simplesmente anotar superficialmente tudo o que se diz em um encontro. A partir das listas de fontes que se pretende utilizar, o repórter deve planejar meticulosamente como deve proceder às entrevistas. Novamente, é necessário distinguir os diversos tipos de fontes humanas de que vai dispor. Como identificar as fontes Normalmente, são as melhores e mais confiáveis fontes de informação, e ajudam a conferir à matéria um alto grau de autenticidade. Contudo, mesmo que pareçam convincentes, o repórter deve se certificar se o que dizem corresponde rigorosamente à verdade. O próprio jornalista pode ser uma fonte desse tipo se, ao realizar uma reportagem ele tiver de ir até uma determinada localidade e presenciar, com os próprios olhos, as condições de vida das pessoas ali. Apesar da tentação de começar a reportagem por esse tipo de fonte, já que elas são as mais valiosas, a melhor estratégia talvez seja deixá-las para uma etapa posterior. Depois que tiver se assegurado das informações básicas mais relevantes e tiver uma percepção melhor do que busca e do contexto geral, será bem mais proveitoso entrar em contato com as testemunhas primordiais. As testemunhas Talvez a forma mais correta de iniciar uma apuração seja abordar as pessoas ou entidades de alguma maneira conectadas ao personagem principal da investigação. Isso inclui desde maridos e esposas a amigos, colegas de trabalho, sócios etc. Um bom ponto de partida é tentar entrar em contato com as pessoas que trabalham no mesmo lugar que a testemunha. Uma tarefa mais complicada, mas muitas vezes necessária, é tentar encontrar pessoas com as quais o personagem manteve alguma relação no passado, como ex-parceiros, colegas de escola, antigos funcionários etc. Mais ainda do que no caso anterior, os depoimentos que essas pessoas fornecerão estarão carregados de subjetividade e os seus pontos de vista certamente serão contaminados tanto pelas emoções quanto pelas lembranças, que podem ser imprecisas em graus variáveis. Relacionamentos atuais e passados Por vezes, o jornalista se depara com a tarefa aparentemente impossível de entrar em contato com uma fonte inacessível. Um método que pode ser bastante satisfatório para obter informações confiáveis que permitam ao jornalista chegar até esse tipo de fonte é iniciar a investigação por um contato que esteja à mão, ou por um especialista no assunto, que possa indicar outras pessoas que tenham informações mais qualificadas para fornecer. A partir dessas novas fontes, é possível solicitar outras tantas indicações e assim formar uma corrente relativamente extensa de investigação. Em algum momento no processo, o jornalista pode chegar a alguém que seja realmente próximo da personagem que se pretende alcançar. Correntes de investigação De todas as fontes de informação de que se pode dispor para uma reportagem, os especialistas são as mais fáceis de obter, mas também aquelas que exigem um cuidado maior de verificação. Isso porque, como diz o antigo ditado, existem especialistas e especialistas. É possível localizar nomes válidos em varreduras na internet ou na leitura de reportagens anteriores sobre o tema que está sendo tratado. Muitas pessoas se apresentam como entendidas em assuntos técnicos que nem sempre dominam com a precisão necessária. Assim, não é qualquer médico que pode fornecer explicações adequadas sobre tratamentos contra o câncer, apenas um oncologista tem os conhecimentos necessários para fornecer as informações corretas. Nem todos os que atuam nessa área específica estão qualificados para informar corretamente a respeito de determinado caso. Por intermédio de um especialista, é possível obter a indicação de outro nome que seja mais apropriado para a matéria. Especialistas Um problema relacionado à consulta de mais de um especialista em relação a determinado assunto é que as informações que eles fornecem podem ser divergentes e, em alguns casos, até contraditórias. Para minimizar esse problema, a melhor estratégia é buscar nomes que tenham alta credibilidade a partir de recomendações confiáveis de outros profissionais ou de colegas jornalistas. Nesse sentido, é imprescindível proceder a uma verificação prévia antes de estabelecer um contato. Se, mesmo após esses cuidados, o desacordo se mantiver, o jornalista tem de tomar uma decisão baseada na lógica e no bom senso. Caso a maioria das pessoas consultadas sustente determinado ponto de vista, é nessa linha que a matéria deverá seguir, sem deixar de mencionar a opinião divergente. Quando houver um empate entre os dois lados, a reportagem deverá expor essa situação ao público e apresentar ambas as versões. As divergências nos depoimentos Normalmente, órgãos pertencentes ao Estado, como ministérios, instituições de pesquisa científica ou instituições supranacionais, como as Nações Unidas, costumam ser fontes de informação confiáveis com relação a determinadosassuntos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, é reconhecidamente uma entidade séria e respeitável no que se refere a dados estatísticos envolvendo diversos aspectos da realidade socioeconômica brasileira. Nunca se deve prescindir dos dados divulgados por esse tipo de organização, pois eles costumam ser apurados com extremo rigor e analisados com ferramentas já amplamente desenvolvidas e testadas com sucesso. Relatórios científicos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) são outro bom exemplo de documentos imparciais e criteriosos que podem ser utilizados em uma investigação jornalística sem restrições. Órgãos estatais ou instituições supranacionais Na maioria dos casos, o trabalho de investigação jornalística deve seguir uma linha de discrição. No entanto, em algumas situações, é aceitável emitir sinais de fumaça para fazer com que alguns contatos importantes apareçam. A estratégia é plantar algum tipo de deixa para que se saiba que uma determinada história está sendo investigada para uma reportagem. Há diversas maneiras de fazer isso. A mais simples é recorrer às redes de contatos e solicitar que divulguem a informação. Outra possibilidade é empregar as redes sociais para divulgar, da maneira mais discreta possível, o objeto de investigação, do qual falaremos adiante. Há, ainda, uma terceira via: publicar uma matéria pequena e de repercussão limitada a respeito do tema que está sendo abordado, de forma a despertar a atenção dos possíveis envolvidos. Emitir sinais de fumaça Um jornalista profissional tenderá a desenvolver, através dos anos, uma ampla rede de contatos, que lhe será útil em várias ocasiões. Durante o trabalho em determinada pauta investigativa, ele deve agir com critério ainda maior para compor uma rede específica do assunto que está sendo tratado. Se o repórter estiver trabalhando em uma matéria que envolva os membros de determinado sindicato, por exemplo, deve tentar se aproximar deles de diversas maneiras. Pode frequentar suas reuniões e falar com alguns dos líderes e membros da organização e assim entrar em contato com pessoas que estejam dispostas a falar e que se sintam confiantes em transmitir o que sabem. Outra fonte são os colegas de profissão. Os jornalistas devem sempre manter uma relação de cordialidade e apoio mútuo uns com os outros, mesmo quando trabalhem para veículos diferentes e até concorrentes. O contato de uma fonte de informação é um artigo valioso, que pode ser compartilhado com outros profissionais em troca de indicações. Internet e redes sociais Quando se necessita de acesso a altos escalões do governo ou de empresas particulares ou entidades, jamais se pode negligenciar o auxílio dos chamados gatekeepers, os “porteiros”. Entre outras utilidades, essas pessoas podem poupar tempo ao jornalista e fornecer informações extremamente valiosas. Estamos nos referindo, aqui, a indivíduos que costumam exercer papéis discretos na hierarquia de uma organização, como motoristas, recepcionistas, secretárias e, literalmente, porteiros. Essas figuras são importantes pelo simples fato de que conhecem, por dentro, a rotina de funcionamento de uma instituição. Sabem os horários de trabalho, os hábitos e os procedimentos elementares. É um equívoco pensar que apenas os nomes de grande relevância é que podem substanciar uma matéria investigativa. Gatekeepers Essa atividade só adquire esse contorno quando o jornalista passa a escamotear a natureza de sua investigação, a espreitar a vida particular de um indivíduo sem que ele saiba, a se fazer passar por outra pessoa para ter acesso a uma entidade ou empresa. Também se inclui nessa categoria o uso escondido de câmeras, gravadores ou o uso de perfis falsos na internet. O jornalista só deverá lançar mão de alguns desses métodos, e ainda assim de forma extremamente limitada, nas seguintes situações: quando todas as outras formas de obter a informação necessária falharam; sem intuito de incriminar deliberadamente alguém; depois de refletir profundamente a respeito dos desdobramentos éticos de suas ações; em casos de extrema importância, quando o seu uso se justificará em nome de um bem maior, como a revelação de um caso de corrupção que envolva um ministro de Estado ou o próprio presidente da República. Agir clandestinamente É importante ter em mente, em primeiro lugar, que a importância de uma fonte para a reportagem depende não apenas de suas características intrínsecas (o que a qualifica, em si, para ser uma boa escolha), mas também: a) na relação apropriada que o jornalista deve estabelecer com elas. b) na relação apropriada que a fonte estabelece com o jornalista. c) na relação apropriada entre o jornalista e o segmento que a fonte representa. d) na relação possível que o jornalista deve estabelecer com elas. e) na relação clandestina que o jornalista deve estabelecer com elas. Interatividade É importante ter em mente, em primeiro lugar, que a importância de uma fonte para a reportagem depende não apenas de suas características intrínsecas (o que a qualifica, em si, para ser uma boa escolha), mas também: a) na relação apropriada que o jornalista deve estabelecer com elas. b) na relação apropriada que a fonte estabelece com o jornalista. c) na relação apropriada entre o jornalista e o segmento que a fonte representa. d) na relação possível que o jornalista deve estabelecer com elas. e) na relação clandestina que o jornalista deve estabelecer com elas. Resposta Antes de utilizar as informações fornecidas por uma fonte, o jornalista deve avaliar alguns aspectos importantes sobre ela no que diz respeito à sua autenticidade. Em primeiro lugar, cabe averiguar se a fonte é realmente quem ela diz. Às vezes, é necessário fazer um levantamento prévio de seus dados elementares, como nome completo, endereço residencial, carreira etc. É sempre interessante se assegurar de que a fonte não possua históricos de violência ou problemas mentais. Uma verificação preliminar pode esclarecer se essa pessoa esteve envolvida em algum processo por corrupção, fraude ou outra atividade similar. Um indício de irregularidade é quando a fonte apresenta resistência em revelar detalhes sobre o seu passado. Se ela demonstrar algum comportamento hostil com perguntas desse tipo, o jornalista deve ponderar se deve utilizar as informações fornecidas ou simplesmente ignorá-las. Avaliação das fontes Diante de uma declaração potencialmente importante, o jornalista deve questionar a fonte para obter uma explicação mais bem ordenada, que faça sentido dentro do contexto da investigação. Uma vez de posse de uma informação fornecida por alguém, é necessário empregar o raciocínio dedutivo e a lógica para inseri-la dentro do quadro mais amplo do tema pesquisado. Somente se ela fizer sentido e for capaz de oferecer esclarecimentos a respeito de certos tópicos é que poderá ser útil, caso contrário, terá de ser descartada. O que o repórter deve buscar, nesses casos, são as falhas de raciocínio, aquilo que parece não se encaixar direito na história que ele procura reconstituir. A plausibilidade é elemento fundamental em uma boa reportagem. No exemplo anterior, se descobrirmos que o dono de uma mecânica mantém relações obscuras com contraventores, e se isso contribuir para reforçar a hipótese da matéria, então poderá ser usado. Análise da informação Existem inúmeras razões para que uma pessoa se disponha a revelar informações que sejam potencialmente valiosas. Dificilmente alguém correria riscos para denunciar alguma irregularidade apenas por altruísmo ou o desejo de fazer o bem. Quase sempre, os seres humanos são movidos por paixões bastante conhecidas e corriqueiras, como ambição, desejo de vingança, inveja etc., e não é diferente comas fontes. Uma pessoa movida pelo ódio contra alguém que a prejudicou profissionalmente, por exemplo, pode distorcer os fatos, exagerar elementos da narrativa ou simplesmente omitir o que não lhe interessa. Também pode agir assim apenas para conquistar a confiança do repórter e falar o que pensa que ele deseja ouvir. Naturalmente, é preciso ter cautela em todas as ocasiões e não confiar em ninguém sem antes verificar os antecedentes. Buscar as motivações Um dos problemas recorrentes e que pode inviabilizar uma investigação jornalística é a recusa das fontes em falar, ou a exigência de manterem o anonimato. É importante sempre lembrar que ninguém é obrigado a dar informações de qualquer espécie, e cabe ao jornalista ter a sensibilidade e a perspicácia para compreender e aceitar as suas razões. A questão básica que deve ser levantada é o que poderia acontecer à fonte caso a sua identidade fosse revelada ao público. Na maioria dos casos, o sigilo deriva essencialmente do medo de sofrer represálias. O funcionário de uma empresa poderá ser demitido ou processado, um agente policial infiltrado em uma organização criminosa poderá ser assassinado, e assim por diante. Por outro lado, há casos em que o emprego de pseudônimos simplesmente não é suficiente para fornecer a credibilidade que uma matéria de grande alcance exige. É preciso dar nome aos bois, para que a opinião pública possa confiar na história que está sendo contada. Sigilo da fonte A principal vantagem de contar com uma fonte anônima é a possibilidade de que forneça informações vitais, que de outra maneira seriam inacessíveis ou muito complicadas e demoradas para serem obtidas. Também podem servir para confirmar provas sobre as quais recai uma dúvida razoável, ou para conseguir evidências importantes, como documentos e arquivos. Todas essas situações variam a cada caso. Nenhuma reportagem é igual à outra, o que exige do jornalista uma boa dose de criatividade e versatilidade. Seja como for, uma vez acordado o anonimato, é interessante deixar bem claro como ele será efetuado, de que maneira a fonte será nomeada na matéria etc. Nesse sentido, é importante ser o mais criterioso possível dentro dos limites propostos. Sigilo da fonte É importante precaver-se contra os manipuladores, aqueles elementos que agem por interesse próprio ou de terceiros para desvirtuar a verdade. Algumas vezes, esses personagens recebem vultosas quantias para difundir uma informação errada ou, no mínimo, tendenciosa. Naturalmente, essas pessoas agem de forma extremamente discreta, o que torna difícil desmascará-las. Mesmo alguns jornalistas atuam veladamente na intenção de promover causas políticas ou como testas de ferro de alguns partidos ou determinados grupos. Mais fácil é identificar aqueles indivíduos que são pagos por uma entidade ou empresa para defender seus interesses e produtos. A regra de ouro é desconfiar sempre e sistematicamente daquilo que as autoridades afirmam e jamais aceitar passivamente uma explicação sem verificar se ela é procedente. Manipuladores Em hipótese alguma o jornalista deve tomar a iniciativa de pagar para que uma fonte forneça qualquer tipo de informação. Da mesma forma, deve descartar de imediato alguém que peça dinheiro em troca de informação. Tanto em um caso como em outro, a matéria perderá toda a credibilidade caso o público tome conhecimento desse tipo de acerto. Em primeiro lugar, sobre o repórter que fizer isso recairá a desconfiança de que a informação obtida por esse meio é, no mínimo, tendenciosa e, portanto, longe de ser confiável. Isso também pode acarretar um processo na justiça por manipulação de dados. Alguém que pede dinheiro ou aceita pagamento para dar um depoimento comete um profundo desvio de conduta e revela uma incorrigível falta de ética. Uma pessoa que age dessa maneira não teria escrúpulos em mentir ou ocultar dados. Pagamentos das fontes A integridade, física ou moral, da fonte é responsabilidade direta do jornalista. Cabe a ele ressaltar todos os riscos a que o informante estará suscetível ao colaborar com a investigação jornalística, na mesma medida em que deve esclarecer a contribuição que estará dando para a causa. Contudo, nem sempre é fácil convencer alguém da necessidade de expor a sua identidade. Persuadi-la requer esforço, tempo e paciência. O repórter deve sempre tomar alguns cuidados no que diz respeito aos contatos com as suas fontes, para evitar que elas sejam rastreadas e descobertas. Quaisquer conversas devem ser realizadas em ambiente seguro, onde ninguém poderá escutar ou gravar clandestinamente. Se houver uma troca de mensagens por celular, o melhor procedimento é utilizar um aplicativo seguro, o mais seguro possível contra hackers. O mesmo vale para e-mails em computadores ou laptops. Protocolos para proteger as fontes O jornalista investigativo deve conhecer em profundidade a legislação pertinente à comunicação, para evitar as armadilhas de que pode ser vítima, sobretudo no que diz respeito às questões envolvendo o direito à honra. Deve tomar as seguintes precauções: registrar com rigorosa exatidão tudo o que a fonte testemunhou; descobrir de que maneira ela adquiriu as informações de que dispõe; conhecer as razões que movem a fonte a dizer o que sabe; preservar o depoimento textual da fonte, palavra por palavra, e não uma versão dele, preferencialmente mantendo uma gravação com bom áudio da conversa ou entrevista; guardar em local seguro todos os eventuais documentos que comprovem os contatos que manteve com a fonte, de trocas de mensagens por aplicativos, ligações telefônicas e e-mails a registros de despesas de qualquer espécie. Protocolos para proteção do jornalista O jornalismo investigativo exige uma carga muito grande de autocontrole e sacrifício pessoal, sem falar na ameaça constante à integridade física do jornalista, o que pode ter um custo elevado em termos psicológicos. Deve tomar particular cuidado com os seguintes tópicos: Compartilhar com as pessoas mais próximas em quem tem extrema confiança as suas preocupações e os detalhes a respeito da reportagem em que está trabalhando, e esclarecer os riscos que ela pode representar para eles. É preciso alertá-los para a necessidade de estabelecer um “plano de contingência” caso alguma coisa aconteça. Sempre que necessário, recorrer às entidades de proteção aos jornalistas, como as mencionadas ABI, Abraji e os Repórteres sem Fronteiras, e não se intimidar em denunciar eventuais ameaças que tenha sofrido. Contar com o auxílio de um profissional da área de psicologia para ajudá-lo a superar medos, anseios e inseguranças que possam surgir em decorrência de sua atuação jornalística. Protocolos para proteção do jornalista Geralmente, boa parte das informações necessárias para desenvolver o pano de fundo de uma reportagem está disponível em locais de acesso ao público, como bibliotecas, tabeliães e tribunais ou mesmo em livros e sites na internet. Mesmo que sejam de conhecimento público, os documentos em questão podem ter caído no esquecimento ou simplesmente não terem sido lidos por um grande número de pessoas. Certas informações dizem respeito, por exemplo, a apenas um grupo específico, e não ao público em geral. A reportagem que está sendo produzida pode utilizar esses documentos sob uma nova perspectiva, até então não explorada. Novas informações levantadas junto a testemunhas ou outras fontes podem fazer com que esses documentos adquiram um significado diferente, que muitas vezes pode contradizer o que eles afirmam. Uma fotografia aérea que comprove a extensão de uma área desmatada, por exemplo, pode ser extremamente valiosa. Fontes documentais/arquivos públicos Um procedimento que pode ser bastante útil é pesquisar o que jáfoi levantado em reportagens anteriores a respeito do mesmo assunto que está sendo investigado. Isso inclui as matérias que tenham sido feitas no passado. Elas podem indicar os documentos certos a serem buscados e até o nome de possíveis testemunhas, daí a importância da leitura prévia, que deve ser feita na fase de planejamento da reportagem. Diversos órgãos governamentais, das mais diversas esferas, como secretarias, ministérios e autarquias, podem também ser excelentes locais para conseguir documentos importantes. A Lei de Acesso à Informação pode ser útil para a obtenção dos seguintes documentos: certidões dos mais diversos tipos, como nascimento, óbito, casamento etc.; acórdãos de julgamentos; laudos referentes a causas de morte; registros comerciais e de propriedades; relatórios de fiscalização de diversas naturezas, ambientais, trabalhistas, industriais etc.; atas de reuniões etc. Reportagens antigas e órgãos governamentais Qualquer documento que se obtenha, onde quer que seja, deve ser submetido a uma rigorosa verificação. Antes de tudo, o jornalista deve sempre ficar atento às seguintes questões: Nomes, assinaturas, datas. Se ele contiver algum dado incongruente, por exemplo, isso pode ser indicação de que se trata de uma falsificação. Também é importante verificar se o documento está completo e se não há páginas ou trechos faltando ou omitidos. Assegurar que a informação contida no documento continua válida ou já se tornou ultrapassada. O mais importante, naturalmente, é confirmar a exatidão das informações que estão no documento. Assim como faz com as fontes humanas, o jornalista deve sempre confrontar com outros documentos os dados levantados, como estatísticas ou a narração precisa de acontecimentos. Como avaliar os documentos A partir de um documento, é possível rastrear o seguinte e assim por diante. Vejamos, a seguir, quais são as melhores metodologias que podem ser empregadas para esse fim: proceder a varreduras na internet, em quantos sites for possível; se o documento se relacionar a uma pessoa, entidade ou instituição, buscar todos os registros de acesso público que se referem a ela, de certidões a contratos comerciais; fazer o mapeamento de dados dos documentos, conforme o procedimento descrito anteriormente; esquadrinhar com atenção cada documento obtido para identificar qualquer omissão ou incongruência, sobretudo, verificar se eles fazem sentido no contexto da investigação; a partir desse ponto, determinar que outros documentos serão necessários para cobrir as omissões e iniciar a busca por eles empregando os mesmos procedimentos. Rastrear documentos No decorrer da investigação, o jornalista deve reconstituir, pelas documentações levantadas e das entrevistas realizadas, a ordem de sucessão dos eventos. Mesmo que a matéria final não siga essa mesma sequência temporal, o repórter deve ter em mente essa cronologia, de maneira bem definida, para não se perder. À medida que avançar no rastreio da documentação, o profissional terá condições de traçar um panorama mais claro de como os fatos se sucederam. Vamos supor, por exemplo, que um entrevistado afirme que estava em viagem ao exterior quando uma reunião da qual ele deveria ter participado aconteceu no país. Contudo, ao averiguar detidamente a ata da reunião, foi possível descobrir que a pessoa estava presente naquela data, inclusive a assinatura dela constava na lista. Se o jornalista não houvesse estabelecido corretamente a ordem de sucessão dos acontecimentos, essa contradição teria escapado a ele. Reconstituir uma cronologia O jornalista investigativo deve conhecer em profundidade a legislação pertinente à comunicação, para evitar as armadilhas de que pode ser vítima, sobretudo no que diz respeito às questões envolvendo: a) o direito do consumidor. b) o direito à honra. c) o direito internacional. d) o direito criminal. e) o direito administrativo. Interatividade O jornalista investigativo deve conhecer em profundidade a legislação pertinente à comunicação, para evitar as armadilhas de que pode ser vítima, sobretudo no que diz respeito às questões envolvendo: a) o direito do consumidor. b) o direito à honra. c) o direito internacional. d) o direito criminal. e) o direito administrativo. Resposta A entrevista é um elemento fundamental no processo de investigação jornalística. O êxito de uma reportagem depende, em grande parte, das informações que tenham sido obtidas por uma conversa franca e direta com as fontes. Naturalmente, a entrevista não é um fim em si mesmo, mas um meio de acesso à verdade. O jornalista deve dominar com maestria essa ferramenta para obter o que procura. Isso envolve habilidades bem desenvolvidas de convencimento e persuasão, e o estabelecimento de um vínculo mínimo de confiança entre entrevistador e entrevistado. O repórter deve planejar estratégias que permitam extrair tudo de que necessita para construir a sua reportagem. Quando uma entrevista se transforma em uma batalha, com lances de desrespeito e incontinência verbal, o trabalho já começa perdido. A técnica da entrevista De acordo com o estudioso Carl Rogers (2009), há dois tipos de entrevistas: as extensivas, que consistem em questionários com perguntas e respostas pré-elaboradas, e as intensivas, em que a conversa é mais aberta, não direcionada. O filósofo francês Edgar Morin (1973) considera que existem quatro espécies de entrevista intensiva: Entrevista-ritual: consiste na mera obtenção de uma frase de efeito, ou declaração formal de um entrevistado, normalmente sem grande profundidade, e que pode servir para as chamadas de primeira página ou até títulos, como as respostas dadas pelos jogadores de futebol em uma coletiva de imprensa. Entrevista anedótica: pertence mais ao jornalismo sensacionalista ou de celebridades, pois se limita a extrair algum comentário engraçado e banal do entrevistado, sem nenhum grau de comprometimento, como o que se vê em talk shows. Modalidades de entrevista Diálogo: ocorre uma interação maior entre entrevistador e entrevistado, e ambos estabelecem uma conversa quase descontraída a respeito de determinado assunto, com uma troca mais ou menos intensa de informações. Nas mãos de jornalistas experientes, a entrevista-diálogo pode conduzir a bons resultados e render matérias interessantes em termos de aprofundamento e pertinência. Naturalmente, o êxito dessa modalidade depende tanto da qualidade do entrevistador quanto do entrevistado. Neoconfissão: deriva da entrevista dialogada e envereda por uma espécie de sessão de psicanálise informal, em que o entrevistador se sente seguro para revelar o que normalmente não faria com qualquer um. Esse estágio só é possível quando o entrevistado compartilha com o entrevistador grande confiança. Na entrevista investigativa são tratados temas de grande relevância com profundidade. Muitas vezes, como veremos adiante, esse tipo de entrevista ocorre em off, quando se mantém a confidencialidade da fonte. Modalidades de entrevista Mesmo quando não está produzindo uma reportagem, o jornalista deve sempre se preocupar em estabelecer contatos e compor o seu book de fontes. As seguintes recomendações podem contribuir para aprimorar a quantidade e a qualidade dos registros: As redes de contatos podem ser construídas com pessoas que participam de eventos, como cursos, seminários ou reuniões de qualquer espécie de que o jornalista participe. O book pode ser tanto físico quanto digital. É importante indexar o nome dos contatos de maneira que eles sejam fáceis de encontrar. Nesse sentido, a melhor sugestão é organizá-los segundo as áreas de atividade. Além dos nomes completos, os contatos devem conter telefone, e-mail e, se possível, endereço. Eles devem ser atualizados com frequência e, quando não foremmais necessários, eliminados para não ocupar espaço. Essas regras valem tanto para as fontes quanto para os colegas de profissão que possam ajudar nas investigações. Planejamento da entrevista Antes de agendar uma entrevista, o repórter deve averiguar cuidadosamente a trajetória profissional dela e os aspectos principais de sua vida pessoal que sejam disponíveis ao público. Quando se trata de indivíduos de certo renome, é ainda mais difícil ter uma segunda chance para entrevistá-los e, por isso, o jornalista deve se precaver para não deixar de lado nenhum aspecto relevante. Primeiramente, o repórter deve acessar tudo o que estiver disponível, onde quer que seja, sobre seu futuro entrevistado. É imprescindível conhecer de antemão a sua formação, o que ele pensa, de maneira geral, a respeito dos tópicos fundamentais para a investigação, e que tipo de contribuição poderá fornecer. Essa contextualização é essencial para que se possa formular as perguntas apropriadas e identificar os nervos expostos que a pessoa provavelmente relutará em abordar. O histórico da fonte Um primeiro passo a ser tomado antes de contatar uma fonte-chave é proceder ao reconhecimento da região ou localidade da história. Nenhuma leitura ou vídeo substitui uma acurada pesquisa de campo. A partir desse ponto, é interessante estabelecer o maior número de contatos que puder, no intuito de ampliar o escopo da investigação e a sua representatividade. Quanto mais fontes dispuser para fazer a reportagem, menos dependente o jornalista ficará de um único contato, sobretudo se ele se mostrar arisco ou inalcançável. Ainda nessa etapa, o repórter deve proceder ao cruzamento de dados entre aquilo que viu ou ouviu pessoalmente, tanto para confirmar as premissas de sua hipótese quanto para contradizê-las. Pode também traçar paralelos com situações similares ocorridas em outros locais, o que contribuirá para desenhar um pano de fundo mais abrangente. Esses elementos também podem ajudá-lo a preparar algumas perguntas da entrevista. Reconhecimento do palco de ação Uma etapa crucial do trabalho investigativo é conseguir convencer as pessoas a falarem e a concederem uma entrevista. Há várias técnicas de persuasão e um repórter iniciante pode desenvolvê-las, de maneira informal, abordando pessoas que encontre aleatoriamente em eventos variados, como cerimônias ou conferências. Sempre é interessante trabalhar a fonte, passando a conhecê-la com mais intimidade em áreas que podem ser úteis. A ideia é tornar esse indivíduo um potencial contato para futuras reportagens. Obviamente, o jornalista deve ficar atento a certos detalhes durante uma entrevista. Embora não deva nutrir ideias preconcebidas e estereotipadas a respeito de pessoas de classes sociais distintas da sua, as formas de abordagem devem ser diferentes, assim como a linguagem empregada e o teor da própria conversa. Sobretudo, deve conceber estratégias para convencer seus entrevistados a falarem a respeito do assunto que lhe interessa abordar. O trabalho de convencimento A pauta básica que norteia toda reportagem sugere que perguntas essenciais devem ser formuladas em uma entrevista. Esse trabalho deve ser feito na fase preparatória, para saber com mais precisão o que se pretende obter do entrevistado. Mas é importante ressaltar que esse planejamento é apenas um ponto de partida, não um ponto de chegada, de uma entrevista. Naturalmente, no decorrer de uma conversa, novos assuntos podem ser tratados e questionamentos sobre eles podem precisar ser feitos. Se houver tempo e disposição, o jornalista deve estruturar sua entrevista de fora para dentro: Iniciar o contato com uma conversa informal preliminar, sobre assuntos variados, que não tenham necessariamente a ver com o tema da entrevista. Introduzir o assunto a partir das perguntas mais suaves, ou menos pesadas. Deixar para o final as perguntas mais sensíveis e delicadas, centrais para a entrevista. São aquelas questões em que normalmente o entrevistado apresentará mais resistência. As perguntas essenciais As seguintes sugestões são úteis para se formular perguntas de maneira mais eficiente: As perguntas precisam ser formuladas de maneira clara e direta e serem de imediata compreensão, para evitar mal-entendidos. Perguntas longas costumam ser prejudiciais ao andamento da entrevista, pois a pessoa pode ficar confusa a respeito do que está sendo questionado. É preciso evitar também as perguntas compostas, formadas por pequenas questões encadeadas, umas depois das outras. Além de confundir o entrevistado, esse tipo de formulação pode dar oportunidade a ele de escolher o que convém responder. O ideal é mesclar na entrevista perguntas fechadas, próprias de questionários, aquelas que não exigem uma resposta complexa, mas uma simples opção entre duas ou mais alternativas, dirigidas para um objetivo bem definido, com perguntas abertas, mais elaboradas, que estimulam o entrevistado a refletir com mais profundidade a respeito do assunto em questão. As perguntas essenciais Um dos requisitos essenciais para qualquer jornalista ser bem-sucedido em sua profissão é a capacidade de se precaver contra os problemas. Ao se dirigir para o encontro com a fonte, é sempre importante se assegurar de que está levando todos os apetrechos necessários, como baterias sobressalentes, canetas etc. Também deve preparar de antemão todas as declarações que julgar necessárias que o entrevistado assine, como aquelas que o autorizam a utilizar a informação levantada na matéria ou os Contratos de Cessão de Direitos de Imagem (CCDI) ou de Áudio (CCDA). O jornalista deve sempre se mostrar polido e educado, se apresentar, dizer qual é a reportagem que está realizando e o objetivo da entrevista. Outro recurso que pode ser empregado é o envio de e-mails ou o estabelecimento de um contato em redes sociais, como o Facebook ou Instagram. É importante agir com bom senso. Dependendo da situação, o repórter talvez tenha apenas alguns minutos para a entrevista, então, deverá repensar sua estratégia e selecionar com mais atenção as perguntas que vai fazer. Preparação da entrevista Por vezes, um entrevistado pode solicitar que o jornalista envie previamente o briefing das perguntas que serão feitas. Ceder a essa exigência não é recomendável. A pessoa pode rejeitar as questões que considerar impertinentes ou arriscadas e selecionar apenas aquelas que convém a ela responder. Isso pode permitir a ele se preparar de antemão para o que vai dizer e aparecer na entrevista o que resultará em uma conversa fria e protocolar. Por essa mesma razão, é sempre bom evitar entrevistas por e-mail ou aplicativos de mensagens. O elemento-surpresa de uma conversa presencial é sempre mais interessante para obter informações espontâneas do que uma estratégia preconcebida. Quando muito, o jornalista poderá enviar uma relação genérica dos pontos que serão abordados. O envio de perguntas previamente só se justifica no caso de contatos com especialistas, em que a entrevista tem mais o caráter de uma consulta técnica. Envio prévio de perguntas Se houver lugar na casa, no escritório do entrevistado ou em outro local em que se sinta à vontade, isso pode conferir a ele certo domínio sobre o processo. Em contrapartida, esses ambientes podem contribuir para deixar o entrevistado relaxado e disposto a falar mais do que pretende. O oposto pode ocorrer se o local escolhido for no território do jornalista. A fonte pode se sentir insegura e se retrair, evitando dizer mais do que o necessário. O ideal é que a conversa ocorra em um local público, de comum acordo entre as partes. Antes de tudo, é preciso certificar-se de que o lugar escolhido seja discreto e afastado o suficiente para evitar que outras pessoas escutema conversa. A segurança das duas partes é fundamental para que a entrevista se desenrole sem percalços. Também é necessário ficar atento a outro aspecto. Se o ambiente for muito barulhento, o ruído pode interferir na captação do som e prejudicar o andamento da entrevista. A escolha do local apropriado É sempre interessante confirmar, um dia antes, no mínimo, a entrevista e as condições em que ela será realizada. Nesse sentido, o envio de mensagens de texto por aplicativos como o WhatsApp é o melhor recurso, já que ligações telefônicas ou e-mails podem ser facilmente ignorados. Não se deve confiar demais em secretárias para a confirmação das entrevistas. O melhor procedimento é aguardar tempo suficiente e depois voltar a entrar em contato. A persistência, assim como a paciência, é um dos atributos mais importantes de um jornalista investigativo. Confirmações Tão importante quanto evitar enviar as perguntas com antecedência é resistir a todo custo à solicitação do entrevistado em ler a matéria antes da publicação. O principal inconveniente desse tipo de pedido é a tentação de editar a reportagem final, no esforço de eliminar os trechos em que tenha se arrependido do que falou. Aqui, também, a exceção fica por conta das entrevistas com especialistas. Sempre é interessante verificar se as informações técnicas que foram fornecidas estão redigidas da maneira correta, sem imprecisões. Principalmente, o jornalista deve se assegurar que esses tópicos foram perfeitamente compreendidos e transmitidos para o público em geral. Envio da matéria antes da publicação Deriva da entrevista dialogada e envereda por uma espécie de sessão de psicanálise informal, em que o entrevistador se sente seguro para revelar o que normalmente não faria com qualquer um. Esse estágio só é possível quando o entrevistado compartilha com o entrevistador grande confiança. Edgar Morin define esse tipo de entrevista como: a) Diálogo. b) Ritual. c) Neoconfissão. d) Anedótica. e) Coletiva. Interatividade Deriva da entrevista dialogada e envereda por uma espécie de sessão de psicanálise informal, em que o entrevistador se sente seguro para revelar o que normalmente não faria com qualquer um. Esse estágio só é possível quando o entrevistado compartilha com o entrevistador grande confiança. Edgar Morin define esse tipo de entrevista como: a) Diálogo. b) Ritual. c) Neoconfissão. d) Anedótica. e) Coletiva. Resposta Tão importante quanto os antecedentes da entrevista (pesquisa de base, contato, agendamento, localização etc.) é a maneira como o repórter deve conduzi-la. Antes de tudo, é preciso ficar atento a certos aspectos relacionados à atitude, postura, maneira de falar e outros elementos que analisaremos a seguir. A (má) reputação dos jornalistas os precede. O senso comum e a mídia ajudaram a construir uma imagem não inteiramente falsa desses profissionais. Falta de educação e escrúpulos, presunção, maledicência e intromissão em assuntos alheios são algumas das acusações mais comuns. Cabe aos próprios jornalistas se esforçarem para mudar esse conceito negativo. Enquanto continuarem se comportando como se as fontes tivessem a obrigação de falar com eles, o estado de espírito hostil contra esse grupo persistirá. A maneira mais eficaz de desfazer essas impressões é adotando uma postura ética e cordial e procurando se conduzir pelo bom senso e a máxima polidez. Realização da entrevista Quanto mais o repórter demonstrar, com clareza e transparência, suas sinceras intenções para alcançar a verdade, tanto mais admirável ele será diante dos olhos de suas fontes. Como diz o velho ditado, “não basta ser honesto, é necessário parecer honesto”. Se prestar atenção a isso, o jornalista conseguirá cimentar ainda mais a relação de confiança com o seu informante, o que é essencial para extrair dele as informações que deseja. Uma boa medida da conduta do repórter é se esforçar para se pôr no lugar da pessoa com quem está falando. Ele deve procurar ver a si mesmo pelo olhar do outro. Isso o ajudará a compreender os receios e as reticências que o entrevistado pode demonstrar durante a entrevista. Esse exercício também funciona para que o jornalista entre na mente da outra pessoa e procure entender suas motivações para agir da maneira como age. Isso lhe dará uma perspectiva mais nuançada da pessoa com quem está mantendo um diálogo. Realização da entrevista Uma péssima maneira de começar uma entrevista é se atrasar para o encontro marcado. Isso transmitirá ao entrevistado uma impressão de descuido, negligência e falta de consideração, que afetará o vínculo de confiança que se pretende firmar com ele. O jornalista deve sempre se vestir com sobriedade, para passar um ar de responsabilidade e seriedade. Uma roupa inapropriada pode simplesmente arruinar qualquer esforço de construir uma aura de credibilidade. A posição em que o repórter se colocará diante do entrevistado é um aspecto estratégico que não pode ser ignorado. Em primeiro lugar, deve manter contato visual, sem que seja obrigado a se virar a todo momento para falar com ele ou vice-versa. Não é aconselhável se colocar frente a frente com a pessoa. Não se trata de um interrogatório. É mais interessante sentar-se de lado, em um ângulo de cerca de 30º. Entrevistador e entrevistado devem procurar se posicionar ao mesmo nível. Se um dos dois se sentar mais alto que o outro, criará uma incômoda sensação de superioridade e intimidação. Pontualidade, roupas e local Em vez de ir direto ao ponto, é sempre de bom tom iniciar a entrevista com uma breve conversa trivial (se dispuser de tempo para isso). Além de ganhar tempo para organizar o pensamento, isso permite que o entrevistado baixe a guarda. Nada é mais desagradável do que conversar com alguém que não olha para nós. Isso é particularmente grave durante uma entrevista. Embora tenha de ocasionalmente baixar os olhos para escrever, o jornalista deve procurar manter contato visual. Um dos principais equívocos que um jornalista pode cometer é ler as perguntas. Essa atitude demonstra, entre outras coisas, despreparo, insegurança e até arrogância. Quando muito, deve dar uma olhada rápida na lista de tópicos que levantou para a entrevista. Procure dar à entrevista o feitio de diálogo de que falou Edgar Morin (1973), estabelecendo uma interação com o interlocutor, o que permitirá a troca de ideias, em vez do mecânico pingue-pongue, que produzirá uma entrevista inerte e sem vida. Conversa inicial e contato pessoal Tão fundamental quanto as perguntas que estão sendo formuladas e as respostas que serão dadas, é prestar atenção à postura corporal, tanto do próprio repórter quanto da pessoa com quem se está conversando. O entrevistado pode manifestar aquilo que se esforça em esconder por pequenos gestos e expressões. Cabe ao jornalista interpretar esses sinais dentro do contexto da entrevista. Se, por exemplo, o entrevistado apertar as mãos repetidas vezes sempre que alguma questão é levantada, ou se suar em profusão, isso pode ser a indicação de que o entrevistador tocou em um ponto nevrálgico que merece mais aprofundamento. É fácil perceber, pelo olhar ou por determinados movimentos faciais, quando o indivíduo se mostra cansado ou irritado. Postura corporal Antes de dar início à entrevista, o jornalista deve confirmar com a sua fonte as regras anteriormente estabelecidas. É imprescindível repassar os pontos que serão abordados, para evitar quaisquer mal-entendidos. Também deve ficar claro para ambos se as informações serão em off ou não. Caso positivo, é necessário esclarecer de que maneira isso será mencionado na reportagem. Mesmo com o gravador ou uma câmera, o repórter jamais deve deixar de anotar em um bloco de papel aquilo que está sendo dito no decorrer da conversa. Em primeiro lugar, isso é uma medida de segurança, caso a gravação fique inaudível ou inutilizada por qualquer razão. É também um recurso para registrar detalhes não verbais, como os gestos e expressões da pessoa, sua postura corporal, aspectos da cena etc. Regras do jogo e o uso de gravadores ou câmeras Depois de acertados os pontos preliminares, o jornalista deve iniciar a entrevista com a confirmação de alguns dados essenciais a respeito do entrevistado, mesmo aqueles que já conhece, como o nome completo, local de nascimento, idade, formação, ocupação etc. Um dos hábitos mais irritantes de alguns jornalistas é o de falar mais do que o entrevistado. Isso é ainda pior quando eles se põem a divagar sobre o que está sendo discutido. Sempre se deve ter em mente que o leitor está interessado no que a fonte tem a dizer, não naquilo que o repórter pensa. É importante também evitar interrupções, para não truncar o raciocínio da pessoa e dispersá-la, mas deve-se fazê-lo sempre que a pessoa se desviar demais do assunto tratado. Caso não tenha entendido alguma coisa do que foi dito ou a pergunta não tenha sido respondida apropriadamente, o jornalista deve repetir a questão quantas vezes for necessário. Condução da entrevista Mesmo nos momentos em que a entrevista ficar tensa, o jornalista deve procurar manter a calma a todo custo e nunca se mostrar hostil ou provocador, mesmo quando o entrevistado agir com grosseria. Às vezes, a agressividade é uma tática usada para desestruturar o entrevistador e servir como pretexto para encerrar uma conversa ou mudar o rumo dela. O repórter tem de ficar atento para não sucumbir a essa armadilha. A confrontação direta nem sempre é a estratégia mais apropriada para obter as informações que se deseja. Na maioria dos casos, a melhor rota a ser seguida é a da contenção. O repórter deve procurar formular perguntas neutras, não dogmáticas, e muito menos acusatórias, ao menos, não de forma explícita. Em vez de indagar se o entrevistado desviou dinheiro de fundos de pensão, por exemplo, seria mais construtivo proceder da seguinte forma: “O Ministério Público acusou o senhor de desviar uma quantia substancial de fundos de pensão. O que o senhor tem a dizer a respeito dessa acusação?”. Equilíbrio e neutralidade Questões pessoais, por exemplo, como traumas ou perda de entes queridos, podem provocar uma reação de desconforto. O repórter deve ter a sensibilidade para compreender esses momentos e respeitá-los. Isso também pode ocorrer quando a fonte precisa de uma pausa para pensar o que vai responder. Alguns instantes de silêncio em situações como essas ajudam o entrevistado a recuperar o controle e a prosseguir com a conversa. O jornalista deve sempre prestar atenção àquilo que o seu interlocutor está dizendo, para não deixar dúvidas pendentes. Raramente um entrevistado dará as respostas exatas que o repórter espera, nem é desejável que isso ocorra. Se a pessoa, por exemplo, enveredar por revelações bombásticas a respeito de um tópico que se mostrar até mais interessante ou importante do que o tema da entrevista em si, o repórter deve estar preparado para aproveitar a oportunidade e ir fundo nessa direção, o que pode até render um furo de reportagem. Silêncios, pausas e pontos obscuros Por mais envolvente que seja uma entrevista, o jornalista jamais deve descuidar do tempo que tem à disposição. É preciso ficar de olho no relógio a todo momento, e, caso o prazo termine antes que tenha levantado todas as informações que desejava, deve ser educado e indagar se o entrevistado ainda dispõe de alguns instantes para responder a mais uma ou duas perguntas. No encerramento da entrevista, é interessante confirmar com a fonte como e quando a matéria deverá ser publicada ou transmitida e, como já foi mencionado, evitar a todo custo mostrá-la de antemão. Ainda que a conversa tenha sido nervosa, o jornalista nunca deve deixar de agradecer o tempo disponibilizado e a boa vontade do entrevistado. Imediatamente após a conversa, é imprescindível certificar-se de que a gravação, em áudio ou vídeo, ficou satisfatória, e revisar as anotações, sobretudo para refazer possíveis registros que ficaram ilegíveis e que podem ser difíceis de decifrar horas ou dias depois. Jamais se deve confiar na memória. De olho no relógio O material obtido na entrevista deve ser empregado com o máximo de exatidão na matéria que será preparada. O jornalista deve ser fiel ao espírito do que foi dito, não à letra. Isso significa que ele pode alterar as palavras, cortar ou parafrasear o que foi dito, desde que não mude absolutamente o seu sentido. Se um entrevistado, por exemplo, tiver usado muitas gírias ou expressões de baixo calão, ou repetido termos em excesso, o redator tem o dever de corrigir isso. É importante manter a oralidade de uma conversa, mas somente até o ponto em que ela comprometer o entendimento do que está sendo falado ou o ritmo do texto. Deve-se registrar o jeito de falar de uma pessoa, com todos os seus tiques e erros gramaticais apenas se isso contribuir para desenhar mais o perfil socioeducativo dela. Agora, se a informação for mais importante do que o linguajar ou o estilo de falar, o jornalista tem o dever de retificar o discurso. Ser fiel ao espírito, não à letra Perguntas fechadas, ou seja, aquelas que não admitem respostas pessoais nem exigem a elaboração de raciocínios complexos, mas uma simples escolha entre várias alternativas, são a base dos questionários. Tanto quanto a entrevista investigativa, que busca a interação e o diálogo, os questionários têm uma técnica própria para serem elaborados. Como já foi explicado, eles devem ser aplicados alternadamente com as questões abertas e são particularmente úteis quando se trata de números, levantamentos estatísticos etc. Sobre o emprego de questionários, vale a pena observar as seguintes regras: Ao mencionar quantidades, é importante não ser genérico e vago. Os números e a fonte de onde eles foram extraídos devem ser mencionados com rigorosa exatidão. Em vez de se referir, por exemplo, à exportação de “uma carga imensa de grãos de soja”, deve-se dizer “10 milhões de grãos de soja, segundo dados do Ministério da Agricultura”. Estruturação de questionários Utilizar a técnica do pinning down ao elaborar as questões relativas a dados quantificáveis, que exigem respostas precisas. Não basta dizer que algo é superior a outro, é necessário especificar em que medida. Se não for possível fornecer uma quantidade exata, ao menos o valor aproximado, “cerca de 10 milhões de grãos”. A propósito, termos como “cerca de” ou “aproximadamente” só podem ser aplicados a quantidades redondas, não fracionadas. Por exemplo, “cerca de 150 mil” ou “aproximadamente 20 milhões”, nunca “cerca de 149 mil” ou “aproximadamente 19,9 milhões”. As perguntas referentes a cada aspecto devem ser feitas isoladamente e não agrupadas em uma só frase. Por exemplo, “Qual é a quantidade de grãos exportados?”; “Em que medida a safra foi superior à do ano passado?”; “Quanto isso significa em termos de dinheiro?”. Estruturação de questionários Mesmo com o gravador ou uma câmera, o repórter jamais deve deixar de anotar em um bloco de papel aquilo que está sendo dito no decorrer da conversa. Em primeiro lugar, isso é uma medida de segurança, caso a gravação fique inaudível ou inutilizada por qualquer razão. É também um recurso para: a) Registrar algum fato que possa acontecer no entorno. b) Registrar questões relevantes para a edição. c) Registrar apenas as frases relevantes do entrevistado. d) Registrar detalhes não verbais, como os gestos e as expressões da pessoa. e) Registrar ideias sobre novas fontes que possam surgir durante a entrevista. Interatividade Mesmo com o gravador ou uma câmera, orepórter jamais deve deixar de anotar em um bloco de papel aquilo que está sendo dito no decorrer da conversa. Em primeiro lugar, isso é uma medida de segurança, caso a gravação fique inaudível ou inutilizada por qualquer razão. É também um recurso para: a) Registrar algum fato que possa acontecer no entorno. b) Registrar questões relevantes para a edição. c) Registrar apenas as frases relevantes do entrevistado. d) Registrar detalhes não verbais, como os gestos e as expressões da pessoa. e) Registrar ideias sobre novas fontes que possam surgir durante a entrevista. Resposta MORIN, E. A entrevista nas Ciências Sociais, no rádio e na televisão. In: MOLES, A. A. et. al. A linguagem da cultura de massa. Petrópolis: Vozes, 1973. Referência ATÉ A PRÓXIMA!