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ATIVIDADE DE APLICAÇÃO - CICLO IV LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 5 8 9 11 16 INTRODUÇÃO QUAIS OS PRINCIPAIS PONTOS E AS PRINCIPAIS PROVOCAÇÕES QUE CADA UM DOS TEXTOS APRESENTA? EM QUE PERSPECTIVA OS AUTORES E AUTORAS DOS TEXTOS DA BIBLIOGRAFIA CONCEBEM A LEI DE DROGAS, A POLÍTICA CRIMINAL BRASILEIRA ANTIDROGAS E A SUA EFICÁCIA OU INEFICÁCIA? OS AUTORES E AS AUTORAS CONVERGEM QUANTO À PROBLEMÁTICA OU DIVERGEM? QUAL A PERCEPÇÃO DO SEU GRUPO A RESPEITO DOS TEMAS PROPOSTOS? 2 BIBLIOGRAFIA 1 15 CONSIDERAÇÕES FINAIS Í ND ICE I NTRODUÇÃO A Lei nº 1 1 .343/2006, conhecida como Lei de Drogas, marca um ponto de inf lexão nas pol í t icas cr iminais brasi le i ras , ao buscar equi l ibrar a repressão ao t ráf ico de entorpecentes com a implementação de medidas mais brandas e vol tadas ao t ratamento de usuár ios , Le i esta que buscava ser mais humanitár ia e efet iva na repressão ao cr ime organizado, sem negl igenciar o suporte necessár io aos usuár ios . Com as reformas introduzidas pela Le i 13 .840/2019 , o foco fo i ampl iado, t razendo um olhar mais integral sobre o t ratamento do usuár io de drogas e uma tentat iva de evi tar o encarceramento em massa, ao mesmo tempo em que fortalece as medidas de combate ao tráf ico . 2 Contudo, o debate sobre a ef icácia da legis lação permanece, pr incipalmente quando se observa a desconexão entre a punição severa ao t ráf ico e a cr iminal ização do usuár io , muitas vezes ignorando as causas sociais que al imentam o mercado i legal de drogas. Ass im, a pol í t ica cr iminal brasi le i ra ant idrogas cont inua sendo um campo de intensos quest ionamentos , especialmente no que diz respeito à sua capacidade de promover just iça social e saúde públ ica. Este t rabalho v isa real izar uma anál ise cr í t ica da Lei nº 1 1 .343/2006, observando suas impl icações , tanto no aspecto penal quanto social . A part i r da ref lexão sobre as reformas promovidas pela Le i 13 .840/2019 , pretende-se discut i r as pr incipais abordagens da legis lação, ident i f icando suas fa lhas e avanços, à luz de t rês textos cient í f icos que exploram as dimensões jur íd icas , sociais e pol í t icas da Lei de Drogas. 3 Será abordado, a inda, o impacto dessa legis lação no combate ao tráf ico e as pol í t icas de prevenção e t ratamento do uso de substâncias psicoat ivas , considerando a ef icácia das medidas adotadas e a re levância de uma abordagem mais ampla que contemple , a lém da repressão penal , estratégias de saúde públ ica, educação e re integração social . A anál ise cr í t ica que se segue buscará não apenas compreender as bases e os objet ivos da Lei de Drogas, mas também examinar suas l imitações e os efe i tos de sua apl icação no contexto social brasi le i ro , t razendo à tona uma ref lexão necessár ia sobre os rumos das pol í t icas ant idrogas e seus reais impactos na v ida dos indiv íduos e na sociedade. 4 Q U A I S O S P R I N C I P A I S P O N T O S E A S P R I N C I P A I S P R O V O C A Ç Õ E S Q U E C A D A U M D O S T E X T O S A P R E S E N T A ? Os três textos abordam pontos bem comuns em relação ao ponto de v ista de cada autor . No pr imeiro texto , nota-se que um dos pr incipais pontos que é abordado é da Defensor ia Públ ica na pol í t ica cr iminal de drogas no Brasi l , buscando uma maior importância ao proteger os mais vulneráveis , especialmente aqueles acusados de t ráf ico . Outro ponto importante , é que a obra aborda como as c lasses mais baixas são as mais at ingidas e est igmatizadas, aumentando a desigualdade na apl icação das le is de drogas. 5 Suas pr incipais provocações tencionam exatamente esses pontos , como por exemplo , a pol í t ica de drogas realmente v isa combater o tráf ico ou serve para marginal izar e controlar as c lasses mais pobres? E , se realmente a Defensor ia Públ ica tem recursos suf ic ientes para combater de f rente à selet iv idade penal? No segundo texto , observa-se que o autor d iscute as “disfuncional idades” na legis lação de drogas, destacando como a própr ia Le i de nº 1 1 .343/06 não atende aos cr i tér ios de racional idade legis lat iva , que é outro ponto bastante discut ido durante a narrat iva , onde tal teor ia é usada para aval iar a le i em cinco níveis : ét ico , te leológico, pragmático , jur íd ico-formal e l inguíst ico . As narrat ivas provocadas pelo autor são de, como as penas apl icadas ao tráf ico são proporcionais ao dano causado? E se é possível cr iar uma legis lação que seja mais equi l ibrada e racional no t ratamento do tráf ico? 6 Já no terceiro e ú l t imo texto , também há cr í t icas à Le i nº 1 1 .343/06, porém, nele se destaca seu al inhamento com convenções proibic ionistas e como elas interferem e geram efei tos negat ivos , como a cr iminal ização antecipada e a v io lação de pr incípios legais , como a proporcional idade e a isonomia. Outro ponto que se evidencia no texto é a defesa do autor quanto ao proibic ionismo que v io la di re i tos fundamentais e que a cr iminal ização do uso pessoal inf r inge a l iberdade indiv idual e a pr ivacidade. A l g u m a s p r o v o c a ç õ e s d i s p o s t a s p e l o a u t o r é o q u e s e r i a n e c e s s á r i o p a r a q u e a p o l í t i c a d e d r o g a s i m p o s t a n o p a í s r e s p e i t a s s e m a i s o s d i r e i t o s h u m a n o s ? E a i n d a , e x i s t e u m a b a s e j u r í d i c a e é t i c a p a r a a c r i m i n a l i z a ç ã o d o c o n s u m o p e s s o a l ? 7 E M Q U E P E R S P E C T I V A O S A U T O R E S E A U T O R A S D O S T E X T O S D A B I B L I O G R A F I A C O N C E B E M A L E I D E D R O G A S , A P O L Í T I C A C R I M I N A L B R A S I L E I R A A N T I D R O G A S E A S U A E F I C Á C I A O U I N E F I C Á C I A ? E les argumentam que a abordagem repressiva e punit iva da legis lação não resolve o problema das drogas, mas, ao contrár io , exacerba questões de desigualdade social e racismo estrutural . A cr iminal ização de usuár ios de drogas e a ênfase na repressão pol ic ia l em áreas per i fér icas são v istas como medidas que não atacam as causas profundas do uso de substâncias , como a pobreza, a fa l ta de acesso à saúde mental e a educação. Para esses autores , a ef icácia da Lei de Drogas é l imitada, uma vez que ela não oferece soluções para a recuperação e tratamento de dependentes químicos e ignora a necessidade de pol í t icas públ icas vol tadas para a prevenção, educação e re integração social . A lém disso , a al ta taxa de encarceramento, especialmente de jovens negros e pobres , é v ista como uma consequência direta da apl icação da le i . 8 O S A U T O R E S E A S A U T O R A S C O N V E R G E M Q U A N T O À P R O B L E M Á T I C A O U D I V E R G E M ? Os três textos convergem quanto a problemática em diversos pontos , expondo que a pol í t ica cr iminal de drogas é selet iva , já possuindo um estereót ipo quanto aos indiv íduos e uma et iqueta quanto a e les . Perseguindo os mais vulneráveis e deixando passar os que realmente são responsáveis pelo t ráf ico . E s s e é u m t e m a q u e e x i g e m u i t a d i s c u s s ã o , s e n d o n e c e s s á r i o u m a v i s ã o m a i s a m p l a , n ã o s e l i m i t a n d o a v i s õ e s s i m p l i f i c a d a s v o l t a d a s p a r a g r u p o s v u l n e r á v e i s . 9 Conforme muito bem abordado pelos textos , o d iscurso proibic ionista esconde diversos problemas. Afetando a democracia , impactando de forma negat iva a saúde públ ica ao di f icul tar o controle , incent ivar o consumo i r responsável e aumentando a v io lência . Se faz necessár ia uma nova abordagem quanto ao tema e essa mudança deve pr ior izar a proteção da saúde públ icae o respeito aos dire i tos e ao bem-estar das pessoas, sem a interferência punit iva do sistema penal . E n t r e t a n t o , h á p o n t o s d e d i v e r g ê n c i a q u a n t o a o t e m a , j á q u e o t e x t o 1 ( u m ) a b o r d a o p a p e l d a D e f e n s o r i a P ú b l i c a ; o t e x t o 2 ( d o i s ) f a z u m a a n á l i s e m a i s t e ó r i c a e c r í t i c a , e n o t e x t o 3 ( t r ê s ) f o c a m a i s n a s f a l h a s d a c r i m i n a l i z a ç ã o e n a n e c e s s i d a d e d e l e g a l i z a ç ã o e r e g u l a ç ã o . 10 Q U A L A P E R C E P Ç Ã O D O S E U G R U P O A R E S P E I T O D O S T E M A S P R O P O S T O S ? Ao longo da anál ise real izada sobre a Le i nº 1 1 .343/2006 e suas impl icações , nós , como grupo, percebemos a complex idade e os desaf ios que a legis lação representa, tanto no que diz respeito ao combate ao t ráf ico de entorpecentes quanto à abordagem do usuár io de drogas. A Le i de Drogas, embora tenha s ido ideal izada com a intenção de equi l ibrar os aspectos prevent ivo e repressivo da pol í t ica cr iminal , revela uma sér ie de contradições e l imitações que merecem uma ref lexão cr í t ica e mais aprofundada. Em pr imeiro lugar , consideramos que a introdução das reformas pela Lei 13 .840/2019 , que v isa à mit igação do encarceramento para usuár ios de drogas e o incent ivo a pol í t icas de re integração social e t ratamento, não representa uma mudança substancial no paradigma proibic ionista . Apesar das intenções declaradas de t ratamento e de re integração social , a cr iminal ização da posse de drogas para consumo pessoal cont inua a ser uma das pr incipais fontes de problemáticas jur íd icas e sociais . 11 Entendemos que a cr iminal ização do uso indiv idual de substâncias psicoat ivas , mesmo com penas mais brandas, não ref lete adequadamente a natureza dessa conduta, que não afeta diretamente bens jur íd icos de terceiros e , portanto , dever ia ser tratada de maneira mais condizente com os di re i tos fundamentais e a l iberdade indiv idual . Também ref let imos sobre a bi focal idade da pol í t ica cr iminal brasi le i ra , que, ao mesmo tempo em que endurece as punições para traf icantes , propõe soluções mais suaves para o usuár io . Esse aparente equi l íbr io , que se t raduz em uma proposta de segregação penal para t raf icantes e t ratamento para usuár ios , não encontra uma apl icação uni forme e ef ic iente . A percepção comum entre nós é de que, apesar dos avanços pontuais , a Le i a inda falha em l idar com a or igem estrutural do tráf ico de drogas e as condições socioeconômicas que o al imentam, como a desigualdade social , a fa l ta de acesso à educação e a marginal ização de amplos setores da população. 12 Discut imos também a questão da ef icácia das pol í t icas públ icas propostas pela Le i , especialmente no tocante ao t ratamento e à reintegração social . Embora a Le i de Drogas tenha estabelecido mecanismos para internação voluntár ia e involuntár ia em unidades de saúde, bem como o acesso a programas de re inserção social , a ausência de um s istema de apoio ef icaz e a fa l ta de recursos para garant i r essas medidas em grande escala resultam em um cenár io onde os objet ivos da Lei não são amplamente at ingidos . Nesse sent ido, sent imos que a legis lação padece de um suporte inst i tucional robusto que dê conta das reais necessidades dos usuár ios , como acompanhamento psicológico cont ínuo e pol í t icas de educação e conscient ização. Outro ponto que destacamos fo i a pers istente di f iculdade em conci l iar a repressão ao t ráf ico com a necessidade de pol í t icas públ icas mais abrangentes que incluam ações sociais e de saúde públ ica. Em vez de focar apenas na punição, acreditamos que ser ia necessár io invest i r em estratégias que envolvessem a prevenção, o apoio à famí l ia e a cr iação de al ternat ivas de t rabalho e educação para as populações mais vulneráveis . 13 O foco excessivo na repressão penal ao t ráf ico de drogas pode, portanto , ser v isto como uma medida l imitada e de curto prazo, que não ataca as raízes do problema. Dessa forma, concluímos que, embora a Le i nº 1 1 .343/2006, com suas reformas, represente um avanço em alguns aspectos , a ef icácia de suas disposições ainda está longe de ser a lcançada. A legis lação precisa ser revisada para, de fato , superar os l imites do proibic ionismo e integrar abordagens mais amplas , que incluam desde a prevenção até o t ratamento e a re integração social dos indiv íduos afetados pelo uso de drogas. A percepção unânime entre nós é de que a pol í t ica ant idrogas no Brasi l a inda carece de uma abordagem mais justa , equânime e centrada nos dire i tos humanos, que reconheça as condições sociais que al imentam o tráf ico e as necessidades de saúde dos usuár ios , em vez de se l imitar a uma abordagem punit iva . 14 C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S P o d e m o s c o n c l u i r q u e a p o l í t i c a c r i m i n o s a d e d r o g a s n o B r a s i l é m a r c a d a p o r u m a s e l e t i v i d a d e p e n a l q u e a t i n g e , d e f o r m a d e s p r o p o r c i o n a l , a s c a m a d a s s o c i a i s m a i s v u l n e r á v e i s . E s s e c a r á t e r s e m a n i f e s t a n o e l e v a d o e n c a r c e r a m e n t o d e p e s s o a s a c u s a d a s d e t r á f i c o d e d r o g a s , m a j o r i t a r i a m e n t e p e r t e n c e n t e s a g r u p o s e x c l u í d o s , c o m o n e g r o s e p o b r e s . N e s t e c o n t e x t o , a a t u a ç ã o d a D e f e n s o r i a P ú b l i c a s u r g e c o m o e s s e n c i a l p a r a r e d u z i r o s e f e i t o s d e s s a c r i m i n a l i z a ç ã o s e l e t i v a , s e n d o r e s p o n s á v e l p e l a d e f e s a d o s d i r e i t o s f u n d a m e n t a i s d a s p e s s o a s m a i s v u l n e r á v e i s . A i d e i a d e u m j o v e m p o b r e , n e g r o e m o r a d o r d a f a v e l a é a u t o m a t i c a m e n t e l i g a d o a o t r á f i c o d e d r o g a s , e s s e e s t e r e ó t i p o a c a b a s e r v i n d o c o m o u m a j u s t i f i c a t i v a p a r a a ç õ e s v i o l e n t a s e g e n o c i d a s . A p o p u l a ç ã o c a r e n t e v ê a s d r o g a s c o m o u m a s o l u ç ã o f i n a n c e i r a e n ã o h á a j u d a p a r a e s s a s p e s s o a s , a p e n a s o r e p r i m e m , t o d o s d e v e r i a m t e r d i r e i t o s s o c i a i s b á s i c o s p a r a q u e c o m i s s o , a s p e n a l i d a d e s s e j a m d i m i n u í d a s . 15 B IB L IOGRAF IA h t t p s : / /www .p l ana l t o . gov . b r / cc i v i l _03 /_a to2004-2006 / 2006 / l e i / l 1 1 3 4 3 . h tm ; h t t p s : / /www . j u sb ra s i l . c om .b r /a r t i go s /a- se l e t i v i dade-pena l -na-ap l i cacao-da- l e i -de-d rogas / 1 5650 1 1 6 7 3 ; h t t p s : / /www . ne xo j o r na l . c om .b r / e xp l i cado / 20 1 7 / 0 1 / 1 4 / l e i -de-d rogas-a- d i s t i n cao-en t r e -u sua r i o -e - t r a f i can t e -o- impac to -nas -p r i s oe s -e-o-deba te -no- pa i s ; h t t p s : / /www . s c i e l o . b r / j / e s t p s i / a /5 Z kQbqp t Kc T z XKRQ5Fg L r 3 R / ; h t t p s : / / g 1 . g l obo . com/po l i t i c a /no t i c i a / 2024 /06 / 26 /dec i sao-do- s t f - x -pec-das- d rogas-o-que-muda-pa ra-o-u sua r i o . gh tm l ; h t t p s : / /www . unae rp . b r / r e v i s t a -c i en t i f i c a - i n t eg rada /ed i coe s - an t e r i o r e s / vo l ume-4-ed i cao-2 / 33 73 - r c i -a - i n t e r nacao- i n vo l un ta r i a -uma- abo rdagem-a- l u z -da- l e i - n - 1 3 -840-20 1 9 -06-20 1 9 / f i l e ; h t t p s : / /www . c f e s s . o r g . b r /a rqu i vo s /No ta- t ecn i cal e i 1 3 840-20 1 9 - . pd f ; h t t p s : / /www .d i z e r od i r e i t o . c om .b r / 20 1 9 /06 /b r e ve s -comen ta r i o s - l e i - 1 3 84020 1 9 - que . h tm l . 16 J u l i a F e r r e i r a d o s S a n t o s - 2 0 2 2 2 0 7 8 0 J u l i a L i m a F a r i a - 2 0 2 2 0 3 7 2 2 V i t ó r i a O r l a n d i - 2 0 2 2 0 8 4 3 1 S t e p h a n y C o u t o - 2 0 2 2 2 3 9 6 0 R e b e c a B r i t o - 2 0 2 2 0 3 3 4 5 I NTEGRANTES