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Opinião pública e interesse público
Conceitos de esfera pública, interesse público e opinião pública, bem como suas relações com as teorias
construtivistas do jornalismo moderno.
Prof. Júlia Silveira
1. Itens iniciais
Propósito
A discussão sobre a relação entre mídia e política é fundamental para compreender como a imprensa moderna
se estrutura e define quais as temáticas relevantes para se tornarem notícia. Ainda, compreender como a
opinião pública é condicionada e, ao mesmo tempo, influenciadora da comunicação social é de extrema
importância para os profissionais da área.
Objetivos
Reconhecer os conceitos básicos de esfera pública e opinião pública
Analisar o processo de seleção e construção das notícias no jornalismo moderno
Introdução
A separação entre as esferas pública e privada é uma herança da Antiguidade grega, em um contexto no qual
havia uma clara diferenciação entre os espaços voltados para as interações políticas — que se estabeleciam
em ambientes coletivos, como a ágora, a palestra ou a assembleia — e as relações entre famílias e clãs,
desenvolvidas nos ambientes domésticos. 
Na Idade Média, a concepção da existência de um público, com deliberação e expressão próprios, já se fazia
presente. A expressão Vox populi, vox Dei já era usada por alguns filósofos, como Nicolau Maquiavel.
Vox populi, vox Dei
A voz do povo é a voz de Deus
Foi, no entanto, a partir das contribuições do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau — uma das maiores
referências do Iluminismo — que a expressão opinião pública foi utilizada pela primeira vez no Ocidente como
um conceito sociológico, para pensar as percepções e as visões coletivas presentes na sociedade.
Todas essas ideias inspiraram as compreensões modernas sobre os limites entre os espaços domésticos e os
ambientes públicos. Tais compreensões se tornaram ainda mais complexas e fluidas a partir do surgimento
das noções de cidadania e participação política (LAMOUREUX, 2009).
Com o apogeu dos meios de comunicação de massa na segunda metade do século XX, essas dinâmicas
adquiriram novos contornos e passaram a interessar cada vez mais aos estudiosos do campo da
comunicação, da política e das ciências sociais. Em especial, a produção jornalística se torna um processo de
construção da realidade, indicando o que deve ser publicizado e debatido pela audiência.
Fica, então, a dúvida: a imprensa mostra o que o público quer saber ou é o interesse público condicionado
pela mídia? Não há uma resposta definitiva para essa pergunta. No entanto, analisar como as notícias são
construídas e de que maneira a visão da sociedade civil é afetada pelo direcionamento de pautas e temas na
comunicação social é um caminho para compreender melhor essa complexa relação. 
• 
• 
1. Esfera pública e opinião pública
Transformação das noções de público e privado
Como vimos, a discussão sobre o que cabe ao espaço doméstico e privado e o que é de interesse público e
coletivo não é recente. Desde a Antiguidade grega, a construção e separação física — e política — desses
ambientes vem sendo construída e debatida.
A consolidação de uma esfera pública moderna desponta no final do século XVIII, como fruto da luta da
burguesia contra o absolutismo na Europa. Esse grupo buscava novas formas de governo que fossem mais
representativas, garantindo liberdades civis básicas para um segmento mais amplo da sociedade.
Exemplo
Após um período marcado pelo poder centralizado das monarquias, estavam em pauta as lutas pelo
direito à liberdade de imprensa, de reunião e de expressão. 
A tomada da Bastilha
Entre o fim da Idade Média e o surgimento da Idade Moderna, com a ascensão do capitalismo moderno, a
noção do que viria a ser o público ganha novos contornos.
 
A sociedade civil passa a se organizar em agrupamentos e associações voluntárias, tendo como
objetivo estabelecer metas e compromissos públicos.
 
Tais organizações acabaram se convertendo em ambientes alternativos, voltados à deliberação
política, onde a burguesia debatia temas de interesse coletivo.
• 
• 
Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão
 
Essas novas formas de organização, no entanto, acabaram se restringindo às classes mais abastadas,
com educação formal e acesso à cultura.
 
Dessa forma, inicialmente, o conceito de espaço público é formulado a partir da visão e das vivências
de uma classe burguesa, composta principalmente por homens brancos e letrados — deixando de fora,
portanto, muitos segmentos sociais.
O sociólogo francês Pierre Bourdieu, por exemplo, não acreditava na existência de uma esfera
pública de fato. Bourdieu entendia que as opiniões que circulavam nesse contexto estavam restritas
a personalidades importantes e ilustres.
Analisaremos, a seguir, como alguns estudiosos pensaram essas transformações sociais e de que maneira o
advento dos meios de comunicação de massa impactou a constituição e as opiniões da sociedade civil na
esfera pública.
Conceito de esfera pública para Habermas
Um dos principais pensadores sobre a
discussão do espaço público e suas políticas é
o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas.
Em sua obra Mudança Estrutural da Esfera
Pública (1984), o teórico introduz o conceito e
discute como a sociedade civil passa a se
organizar e deliberar em um ambiente que não
é nem do âmbito privado, nem controlado pelo
Estado e suas instituições.
O autor apostava, em suas contribuições
iniciais, que a discussão política coletiva se
baseava em uma ética pautada pelo chamado 
agir comunicativo. Nesse sentido, os sujeitos se
entendiam — ou deveriam se entender — por
meio do debate e da discussão coletiva,
buscando sempre uma mediação ou um consenso.
Essas relações se construiriam em um novo âmbito político e social, entre a esfera privada e o Estado,
caracterizado pela discussão livre e racional.
[Na esfera pública], as opiniões se legitimariam não mais a partir de fatores sociais externos — como
poder, riqueza e prestígio —, mas através de argumentos racionais sustentados em meio ao debate
público.
(PERLATTO, 2012, p. 80)
Em outras palavras, para Habermas, a esfera pública corresponderia ao âmbito no qual indivíduos privados,
reunidos em um corpo público, expressariam suas opiniões sobre temas de interesse geral. Seria, portanto,
uma estrutura aberta, não institucionalizada, na qual o Estado teria suas atividades mediadas bem como as
demandas particulares dos cidadãos (HABERMAS, 1973).
• 
• 
Desse modo, é possível dizer que um público se forma quando um grupo de pessoas se engaja em
debates e discussões públicas sobre política, tratando de diferentes problemas em comunidade
(SILVA, 2016).
A esfera pública, portanto, pode ser encarada como uma rede.
Mas como ela funciona?
Trata-se de uma rede para “comunicação de conteúdos e tomadas de posição e opiniões” na qual “os fluxos
comunicacionais são filtrados e sintetizados” (HABERMAS, 2003, p. 92).
Esse debate coletivo seria protagonizado pelas
associações e organizações livres, não estatais
e sem fins lucrativos, que configuram a
sociedade civil. Nessa primeira definição
conceitual, os debates travados na esfera
pública teriam como objetivo buscar o
entendimento entre os cidadãos, por meio da
produção de sínteses, consensos ou mediações
— sempre prezando pelos valores
democráticos.
Evolução do conceito de esfera pública
Marcha em Washington por empregos e liberdade
A perspectiva de Habermas, formulada na década de 1960, foi se tornando datada com o passar do tempo, à
medida que as dinâmicas sociais se tornaram mais complexas e outros grupos passaram a lutar cada vez mais
para serem ouvidos.
O autor também traz para esse debate o papel preponderante da mídia, analisando, por exemplo, como os
artigos de jornais eram debatidos nos espaços públicos e motivavam a participação dos leitores por meio de
cartas enviadas aos veículos. Com isso, estabelecia-se uma espécie de vínculo entre produtores e
consumidores de informações, fomentando a chamada opinião pública.
Muitas outras contribuições sobre o tema surgiramdesde então.
Perspectiva 
Isso não significa dizer que o trabalho desse
teórico deva ser descartado, apenas
evidencia que a análise apresentada estava
restrita à sua perspectiva histórica, geográfica
e sociocultural.
Reformulação 
Essas primeiras análises se dedicaram ao
contexto específico da formação de uma
esfera pública burguesa, evidenciando o
protagonismo de uma categoria típica
de uma época. O próprio autor
reformulou e atualizou seus estudos,
conforme a compreensão sobre as
relações políticas e a sociedade civil foi
se modificando.
Trocas e diálogos
No contexto europeu, Habermas estabeleceu
importantes trocas com os filósofos e
sociólogos Max Horkheimer e Theodor W.
Adorno — fundadores da Escola de Frankfurt.
Também dialogou com o modelo de espaço
público formulado pela filósofa política alemã
Hannah Arendt. Apesar de terem divergências
importantes, a filósofa foi fundamental para o
trabalho de Habermas.
Conceito de público 
Na tradição teórica norte-americana, por sua
vez, o conceito de público teve o escritor e
jornalista Walter Lippmann entre seus principais
expoentes. Em obras como Opinião Pública
(Public Opinion), Lippmann evidenciou seu
ceticismo em relação à capacidade do que
chamou de cidadãos comuns de deliberar e
formular políticas.
Crítica a tradição política libera
O filósofo e pedagogo John Dewey, conhecido
pelo clássico The Public and its Problems
(1927), também se tornou um expoente ao
criticar a tradição política liberal, propondo a
busca por soluções cooperativas e comunitárias
para os problemas comuns.
Atenção
É importante ressaltar ainda que a definição e a percepção do que é a esfera pública são determinadas
histórica e culturalmente. O que é considerado de interesse público pode variar de acordo com o
momento e a conjuntura, bem como segundo as distintas organizações sociais e comunitárias. 
Atualmente, com a consolidação nas mídias digitais, por exemplo, também há os conceitos de esfera pública
digital e esfera pública conectada, que estão longe de ser um consenso para os estudiosos da comunicação.
Para Benkler (2006), esses novos espaços virtuais de deliberação permitem multiplicar as vozes em circulação
e garantir a manifestação e a participação democrática de um setor mais amplo da sociedade civil. O autor
parte do princípio de que a arquitetura das redes on-line é mais horizontalizada, se comparada às tradicionais
mídias de massa — ou, pelo menos, diminui consideravelmente a desigualdade de poder entre emissores e
receptores de conteúdo.
A mera publicização de um assunto na internet, no entanto, não o torna necessariamente parte da esfera
pública virtual. Como explica Martino (2017), apenas uma pequena parte da enxurrada de conteúdos e
informações que circula nas redes poderia ser incluída como alvo de interesse público a partir dos critérios de
Habermas. Para tal, as informações devem ter relevância e um evidente caráter político. Fato é que não há
consenso entre os pesquisadores acerca da existência e legitimidade da chamada esfera pública virtual.
Atenção
O importante, portanto, é discutir a diversidade de públicos existentes on-line, a relevância de pautas
não institucionalizadas que por lá circulam, assim como as possibilidades de fazer política e promover
debates e enfrentamentos menos mediados pelas empresas de comunicação de massa. 
Como vimos até agora, a partir das teorias analisadas, a opinião pública refere-se a todo fenômeno que parta
de um debate coletivo, realizado por sujeitos individuais na esfera pública. Contudo, é imprescindível que
esses assuntos estejam relacionados ao interesse público — mesmo que não se refiram a todo o conjunto da
sociedade. Em outras palavras, o que está em jogo nessa discussão é a participação da população na criação,
modificação e elaboração das diretrizes da sociedade e das deliberações políticas.
Quando, por exemplo, ouvimos que o governo, a polícia ou um juiz está sendo pressionado pela opinião
pública, podemos concluir que a sociedade e os diversos meios de comunicação estão se manifestando de
forma contrária ou cobrando um posicionamento. A seguir, analisaremos essa relação entre opinião pública,
mídia e política.
Interesse público
Como vimos até aqui, a noção de esfera pública como espaço do exercício democrático da cidadania se
origina a partir do desenvolvimento do interesse público. A defesa do bem comum e a participação da
sociedade civil nas decisões de impacto coletivo se tornam o centro da organização de sociedades
democráticas, lançando luz sobre a relevância da sociedade civil nos rumos políticos. 
Essa tratativa pode ser compreendida a partir do conceito de contrato social, cunhado pelo filósofo francês
Jean-Jacques Rousseau.
De acordo com a perspectiva de Rousseau, o bem comum não corresponderia aos interesses da
maioria da sociedade ou mesmo de todo o conjunto de cidadãos, e sim ao chamado bem público —
em contraposição aos bens privados.
A partir dessa lógica, as medidas vantajosas para o coletivo são a prioridade, em detrimento das vontades de
pequenos grupos ou setores específicos.
Esse debate se consolida sobretudo no final do século XIX, quando o Estado passa a atuar de forma mais
contundente no acolhimento das necessidades coletivas e na oferta de serviços públicos. Desse modo, o
poder público deixa de ser encarado apenas como um instrumento de proteção de direitos individuais e
propriedades privadas e passa a intervir, gerenciar e buscar a garantia do interesse coletivo e do bem comum.
O chamado Estado Social é aquele que assume o papel de provedor e regulador das atividades sociais. Dessa
forma, o interesse público, as demandas e os direitos comunitários também se tornam uma prioridade.
No contexto do Estado Democrático de Direito, o interesse público deve se sobrepor ao interesse privado nas
decisões e ações estatais, assim como na conduta dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Não se
trata de uma mera formalidade ou de uma discussão puramente teórica.
Essa mudança de paradigma afeta a vivência da cidadania e da participação política coletiva,
impondo desafios importantes aos profissionais que atuam nos meios de comunicação e se veem
intimamente relacionados e afetados pela opinião pública.
Nesses modelos de exercício do poder público, a imprensa assume um papel fundamental. Cabe à mídia
garantir a transparência da administração pública e a publicização das ações estatais que podem impactar os
cidadãos. O acesso à informação se converte em um direito fundamental, que sustenta as democracias e
promove debates — e disputas — de interesse coletivo, fundamentais para sociedades mais plurais e
inclusivas.
A massa é pública? O público é massa?
Vamos aprofundar a nossa discussão público versus massa? Acompanhe as palavras da professora Júlia
Silveira no vídeo a seguir.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Opinião Pública
Walter Lippmann, 1920.
Embora o estudo das interfaces entre
comunicação e política tenha uma longa
trajetória, a discussão sobre a relação entre
mídia e percepção do público tem como um de
seus pioneiros o jornalista americano Walter
Lippmann, autor da obra Opinião Pública
(2009), publicada em 1922. O trabalho do autor
foi influenciado pelas pesquisas acerca dos
meios de comunicação de massa — os
chamados mass media —, que ganharam fôlego
a partir da segunda metade do século XIX,
como vimos.
Naquele contexto, com a consolidação do
capitalismo industrial e o surgimento de mídias
modernas, capazes de alcançar uma ampla
audiência, tornou-se um imperativo nos
estudos de mídia, política e sociologia analisar as multidões e seus gostos.
De acordo com Lippmann, a realidade e as dinâmicas sociais eram muito complexas para que os indivíduos as
apreendessem sozinhos, autonomamente. Dessa forma, para que possamos nos posicionar sobre um tema
qualquer, não bastaria contar com a nossa própria vivência e perspectiva. Inevitavelmente, recorreríamos às
informações elaboradas e divulgadas por instituições, organizaçõese meios de comunicação.
A opinião pública surge, nesse contexto, a partir do debate e da discussão coletiva, mediada pela
imprensa.
Além disso, é importante ressaltar que aquilo que Lippmann entende por opinião pública sempre tem como
matéria-prima um tema de interesse coletivo, que deve ser relevante e importante a ponto de provocar uma
discussão mais ampla.
Exemplo
Por exemplo, se um casal discute para escolher que filme vai assistir no cinema, trata-se de um assunto
privado, particular, desinteressante do ponto de vista social e político. No entanto, se ambos começam a
brigar, e o marido agride fisicamente a esposa, tem-se um episódio de violência doméstica — um crime
—, de maneira que a situação deixa de ser um problema apenas do casal e se torna uma preocupação
pública. Até porque esse episódio hipotético não seria um caso isolado, já que a violência contra as
mulheres é um problema estrutural em nossa sociedade. 
Algumas questões importantes surgem a partir desse debate e da consolidação da comunicação de massa.
Por exemplo: “qual a diferença entre ‘público’ e ‘massa’? Se é possível falar de ‘opinião pública’, existiria uma
maneira de falar de ‘opinião da massa’?” (MARTINO; MARQUES, 2020, p. 67).
Para Lippmann:
 
É possível falar de uma opinião em massa, à medida que determinadas ideias circulam amplamente,
mas não serão, necessariamente, a opinião das massas.
Em outras palavras, determinadas ideias até podem ser amplamente disseminadas pela mídia, mas o
público não as receberá passivamente, podendo apresentar perspectivas diversas e, até mesmo,
opostas.
• 
• 
A noção de opinião pública, desse modo, também pode ser considerada uma tendência ou sensação de
posicionamento coletivo sobre determinado assunto. Está, portanto, em processo dinâmico de formulação por
meio das diferentes perspectivas presentes na sociedade.
Segundo o teórico americano, os meios de comunicação modernos — como o cinema, o rádio e a televisão —
influenciam a percepção do público pela disseminação de estereótipos. Trata-se de imagens mentais que
funcionariam como atalhos, recursos de simplificação que o público utilizaria para tentar compreender a
realidade e as dinâmicas sociais — que são, de fato, muito complexas. Para entender como esses processos
ocorrem, Lippmann buscou estudar as características do jornalismo, da propaganda e do cinema, e a forma
como essas diferentes mídias influenciam a visão de mundo de suas audiências.
Diversos estudos foram influenciados pela obra 
Opinião pública, reforçando a percepção de que
há uma grande influência social e política dos
meios de comunicação nas percepções da
sociedade civil. Há pesquisas que atribuem
diferentes pesos a esse impacto midiático na
opinião das audiências, mas o assunto segue
em voga, abarcando até mesmo as análises
sobre as mídias digitais (MARTINO, 2017). O
debate sobre a relação entre mídia e política
continua atual e imprescindível!
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
O agir comunicativo
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Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Críticas a Habermas e diálogos com o teórico
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Esfera pública digital
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Verificando o aprendizado
Questão 1
O teórico alemão Jürgen Habermas foi um pioneiro no estudo da esfera pública. De que maneira o autor
definia esse conceito?
A
Esfera pública é um espaço institucional no qual o Estado regula e censura a opinião da sociedade civil.
B
Por esfera pública, entende-se o âmbito que abarca as estruturas oficiais do Estado e seus poderes e os
meios de comunicação de massa.
C
Esfera pública é o espaço não institucionalizado em que indivíduos privados debatem temas de interesse
coletivo.
D
Trata-se do conjunto das empresas públicas e organizações sem fins lucrativos que atuam na sociedade civil.
E
Refere-se a qualquer espaço em que um conjunto de pessoas podem se expor e conversar sobre temas
pessoas e particulares.
A alternativa C está correta.
Em seus estudos iniciais sobre a noção de esfera pública, Habermas define o conceito como espaço aberto
e não institucionalizado em que os indivíduos podiam deliberar e discutir temáticas de relevância coletiva.
Questão 2
De acordo com o teórico americano Walter Lippmann, de que maneira a comunicação de massa pode
influenciar a formação da opinião pública?
A
Divulgando notas e pronunciamentos de figuras políticas, que norteiam a perspectiva da audiência sobre
temas socialmente relevantes.
B
Disseminando estereótipos, que equivalem a imagens mentais e auxiliam o público ao simplificar a
compreensão da realidade.
C
Reproduzindo imagens de figuras públicas de amplo apelo popular, que são consideradas referências
estéticas e de comportamento.
D
Estimulando o consumo de notícias a partir dos grandes veículos de comunicação.
E
Alienando a população por meio do entretenimento, visando garantir um consenso político.
A alternativa B está correta.
Embora ressalte que os meios de comunicação de massa não são onipotentes diante da percepção das
audiências, Lippmann analisa a influência midiática na construção da opinião do público a partir da
circulação de determinadas imagens mentais, ou seja, de estereótipos. Trata-se de versões simplificadas
das dinâmicas sociais, representações reducionistas que permitem a apreensão de conceitos e práticas
muito complexos.
2. Seleção e construção no jornalismo moderno
Opinião pública e mídia
Como vimos até agora, o conceito de opinião pública na Modernidade está intimamente relacionado aos
assuntos e aos posicionamentos que circulam nos meios de comunicação de massa. Por meio da mídia, são
definidos os assuntos que merecem atenção da audiência e que devem ser comentados e debatidos na esfera
pública. Em contrapartida, a imprensa também reflete posicionamentos e descontentamentos manifestados na
sociedade civil, revelando uma relação de mão dupla.
Veiculação e o público
Esse complexo fenômeno despertou o interesse
dos estudiosos de áreas como Sociologia,
Antropologia, Ciência Política e Psicologia. No
âmbito da teoria da comunicação, em um
primeiro momento, o foco dos pesquisadores se
voltou para os efeitos da veiculação do
conteúdo em relação ao público e seu impacto
na formulação de suas visões e perspectivas.
Emissores
Em um segundo momento, intelectuais da área
direcionaram seus olhares também para os
emissores das mensagens midiáticas e seus
processos de apuração e produção de
conteúdo. As teorias que despontam nesse
contexto passam a analisar “os processos pelos
quais a comunicação de massa é produzida e o
tipo de organização do trabalho dentro da qual
se efetua a construção das mensagens”
(WOLF, 2001, p. 179).
Desde então, diversas abordagens procuraram compreender de que maneira as notícias são
produzidas e de que forma impactam a opinião pública.
Inicialmente, havia uma perspectiva segundo a qual o jornalismo era — ou deveria ser — um reflexo da
realidade, tal qual ela se apresentava. Em busca de uma suposta imparcialidade ou neutralidade, a imprensa
deveria reportar os fatos e fenômenos de maneira imparcial. Esse paradigma ficou conhecido como teoria do
espelho.
Teoria do espelho: seria o jornalismo um reflexo fiel da
realidade?
A polêmica discussão a respeito do conceito de
objetividade jornalística está presente no senso
comum, na análise de comentaristas da
imprensa e nos estudos produzidos por
teóricos da comunicação nas últimas décadas.
No entanto, se a ideia de um relato isento e
completamente fiel à realidade é questionável,
ainda existe, entre produtores e consumidores
de notícias, uma percepção de que o
jornalismo, como instituição legítima, seria
capaz de reportar os fatos com precisão.
Essa suposta habilidade, em que muitos ainda
acreditam, também está presente nos discursos
dos próprios veículos de comunicação, em suas buscas por construircredibilidade e legitimidade junto ao
público.
O jornalista e teórico Nelson Traquina (2005), em seus estudos sobre o tema, abordou de forma crítica a
chamada teoria do espelho, considerada por ele a mais antiga entre os estudos da imprensa. Segundo essa
perspectiva, as notícias são como são porque a realidade as determina, e caberia ao jornalista narrar os fatos
de maneira isenta, procurando a verdade, a despeito de quaisquer interesses próprios ou institucionais.
O autor explica que essa teoria foi reforçada principalmente em dois momentos históricos.
Século XIX
Primeiramente, em meados do século XIX, o exercício da profissão passou a ter como um de seus
pilares a separação entre fatos e opiniões, em um posicionamento teórico influenciado pelo
positivismo.
Século XX
Posteriormente, nos anos 1920 e 1930 do século XX, houve a consolidação do conceito de
objetividade nos Estados Unidos. E “esta concepção é, ainda hoje, o padrão dominante no campo
jornalístico ocidental” (TRAQUINA, 2005, p. 147).
Esse paradigma teria surgido para marcar uma oposição a modelos de imprensa anteriores, tidos como
panfletários ou “armas política”. Na contramão desse tipo de comunicação, buscava-se construir a ideia de um
relato “honesto”, “equilibrado”, sem interferências de opiniões pessoais (TRAQUINA, 2005, p. 146).
Como as noções de objetividade e imparcialidade seriam identificadas como sinais de credibilidade,
profissionalismo e seriedade, dificilmente os membros da comunidade jornalística aceitam ataques a esses
supostos valores (TRAQUINA, 2005).
A noção de isenção tende a ser ainda mais enfatizada nos jornais televisivos, já que: 
A objetividade [princípio enunciativo fundamental], também chamada de verossimilhança, no discurso
telejornalístico, principalmente, é um código de prestígio social e tecnológico. A câmera de televisão, em
princípio, registra a verdade.
(BECKER, 2005, p. 97)
Questionar a subjetividade das escolhas desse processo produtivo se torna ainda menos comum diante de
uma imagem filmada, principalmente ao vivo, quando se tem a ilusão do completo acesso ao que ocorre no
momento.
No entanto, como explica Traquina (2005):
As próprias linguagens verbais, imagéticas e audiovisuais da imprensa não podem garantir uma
transmissão direta do significado inerente aos acontecimentos, visto que a neutralidade é
impossível. Um texto, uma foto ou um take filmando serão sempre um recorte, uma representação
daquilo que reportam — e nunca um retrato fiel e objetivo da realidade.
Diversos fatores influenciam — e impossibilitam — essa tentativa de captar o real, por exemplo, “aspectos
organizativos do trabalho jornalístico [...], limitações de orçamento [...] e a própria maneira como a rede
noticiosa é colocada para responder à imprevisibilidade dos acontecimentos (TUCHMAN, 1978 apud
TRAQUINA, 2005, p. 168).
Por fim, cabe afirmar que realidade e notícias
não podem ser plenamente separadas, já que o
trabalho da imprensa também ajuda a construir
a própria realidade (TRAQUINA, 2005).
Nesse sentido, diversos estudos no campo do
jornalismo passaram a se dedicar ao processo
de produção de notícias, compreendendo que
diversos fatores subjetivos, conjunturais e
estruturais estavam por trás do exercício
desses profissionais. É sobre isso que
falaremos adiante.
Produção das notícias em pauta: critérios de
noticiabilidade (valor-notícia)
Com o passar do tempo, a perspectiva da neutralidade jornalística passou a ser questionada, à medida que
novos estudos se debruçaram sobre o processo de seleção e produção das notícias e sua relação com o
interesse e a opinião públicos.
Em 1950, o jornalista e professor americano
David Manning White propôs a teoria do 
gatekeeper — ou guardião do portão, em
português —, trazendo a ideia de que haveria
uma seleção do que deveria entrar ou não nos
noticiários. Segundo essa analogia, os veículos
midiáticos teriam uma espécie de “portaria”
para selecionar quais fatos e assuntos deveriam
ser levados em consideração e veiculados na
mídia.
Em outras palavras, repórteres, editores e
diretores seriam os porteiros que selecionariam
os fatos a serem apresentados ao público.
Nesse mesmo contexto, surge a teoria da agenda setting — ou agendamento —, proposta por Bernard Cohen,
em 1963. Segundo essa teoria, embora a mídia não influencie o pensamento da audiência, ela condiciona o
que será debatido coletivamente. Nessa perspectiva, o conteúdo jornalístico seria determinado pelo que os
profissionais entenderiam por interesse público, também levando em consideração as imposições comerciais
e institucionais dos veículos e as demandas publicitárias.
Segundo essa perspectiva:
 
A mídia teria a capacidade de promover a “saliência” de determinados assuntos da agenda pública,
instigando o interesse da audiência e embaralhando as fronteiras entre os interesses pessoais e
coletivos.
Em outras palavras, o impacto da mídia sobre o público estaria mais associado à cognição e à
apreensão do mundo por parte da audiência e menos a uma relação determinista no curto prazo.
Para avaliar e escolher o conteúdo a ser divulgado, os profissionais da imprensa seguiriam, portanto,
determinados parâmetros, que passaram a ser denominados valores-notícia — ou valores informativos,
fatores de notícia ou critérios de noticiabilidade —, por diversos pesquisadores da comunicação. Essas
discussões se inseriram no que se convencionou chamar de teorias construcionistas do jornalismo, ou seja,
perspectivas que se opunham à lógica da realidade espelhada pela mídia, compreendendo as notícias como
construções condicionadas por diversos fatores. 
Tais parâmetros são utilizados de duas formas. Vejamos:
Critérios de Seleção
São critérios para analisar primeiramente todo material informativo disponível e avaliar quais fatos e
informações devem ser abordados pelos veículos de comunicação e, consequentemente, veiculados
ao público.
Critérios de apresentação/construção
Atuam como diretrizes para a apresentação da notícia como produto final. Nesse caso, referem-se a
destaques, omissões e hierarquização das informações e de elementos gráficos ou audiovisuais, por
exemplo.
Como vimos anteriormente, um dos autores que se destacou nessa discussão foi o jornalista Nelson Traquina
(2005). O teórico partia do seguinte pressuposto:
Notícias são produtos da perspectiva e da ação dos repórteres diante dos acontecimentos
apurados.
Tais processos de produção eram condicionados por diversos fatores, como:
Subjetividade dos repórteres.
Condições de trabalho.
Orçamento disponível para apuração.
Disponibilidade de informações.
Disponibilidade de fontes dispostas a falar.
Narrativa acessível e atrativa ao público-alvo.
Linhas editoriais.
Os condicionantes não se esgotam aí, e cada qual tem seus desdobramentos. Vale dizer que as
características de cada veículo e suas linhas editoriais afetam diretamente a forma como as informações são
coletadas e veiculadas. 
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O processo de seleção se inicia quando os
profissionais precisam definir quais dentre
diversos acontecimentos serão, de fato,
noticiados.
 
Nessa etapa primária, serão levados em
consideração os chamados valores-notícia, ou
seja, elementos que devem estar presentes
para que um fenômeno seja digno de ser
publicizado por determinado veículo.
A escolha desses critérios, que orientam o
trabalho dos jornalistas, não ocorre de maneira
formal ou institucionalizada, mas vai se consolidando no próprio fazer profissional ao longo do tempo. Além
disso, está sujeita às variáveis culturais e históricas, bem como às especificidades de cada veículo.
Mesmo assim, de maneira geral, as escolhas feitas por diferentes meios consideram os mesmos tipos de
acontecimentos como dignos de veiculação. Até porque observar a concorrência também é uma estratégia
importante para definir o que deve ser abordado, como as notícias devem ser apresentadas e quais destaques
os fenômenos devem ter. Desse modo, se grande parte da imprensa reporta um assunto, é porquehá
interesse público sobre o tema — e nenhum veículo vai querer ficar de fora da corrida pela atenção da
audiência.
E o processo de seleção não para por aí!
Além de definir quais acontecimentos serão
reportados, cabe aos jornalistas definir que tipo
de destaque cada conteúdo terá no veículo.
Apenas um tema ocupará o maior espaço na
capa de um jornal ou revista, e poucas
chamadas estarão presentes na escalada de
abertura de um telejornal.
Dessa forma, mais do que escolher as notícias
que serão divulgadas, também é atribuição da
imprensa hierarquizá-las ao publicá-las.
A forma como essa apresentação será feita ao
público impactará a percepção da audiência sobre o que deve ser considerado importante e digno de
atenção.
Vejamos, a seguir, uma esquematização dos critérios de noticiabilidade identificados e analisados por
Traquina (2005). O autor qualifica as escolhas dos jornalistas segundo critérios de seleção — substantivos ou
contextuais —, que estão relacionados à definição das pautas. Também identifica critérios de construção, que
se referem ao processo de elaboração das notícias em si.
1
A partir dessa perspectiva, os critérios de
seleção — substantivos e contextuais —
referem-se à etapa inicial da construção de
notícias, quando os jornalistas avaliam os fatos
e fenômenos, bem como as condições objetivas
de cobri-los e reportá-los.
2
Já os chamados critérios de construção
correspondem a uma segunda etapa produtiva,
quando os profissionais vão trabalhar na
elaboração de seus relatos — sejam eles
produtos em formato de texto, áudio ou vídeo.
Critérios de seleção e construção
Entre os valores-notícia que comumente chamam a atenção dos repórteres diante de determinados
acontecimentos, estão os chamados critérios de seleção substantivos. Episódios que envolvem morte,
violência ou infração costumam atrair a curiosidade do público.
Outros aspectos, como proximidade geográfica
ou cultural, tendem a estabelecer uma
identificação com a audiência e gerar um
engajamento significativo. Também podem
surgir como “gancho”, que justificam certas
reportagens, coberturas de aniversários, datas
comemorativas ou efemérides.
Fatores surpreendentes, inusitados,
inesperados também são critérios capazes de
pautar a opinião pública. Já a ideia de novidade
— ou seja, a primeira ou a última ocorrência de
um evento — igualmente compõe essa
categoria.
Por fim, ainda nesse espectro, tem-se o parâmetro da
notoriedade ou autoridade dos personagens e/ou
organizações envolvidas nos episódios narrados. Se um
anônimo sonega impostos, por exemplo, dificilmente será
capa de um jornal ou terá seu deslize exposto em um site
de notícias. No entanto, se a irregularidade partir de uma
personalidade conhecida do grande público — um artista,
um esportista ou um político famoso —, o caso ganhará
novos contornos e poderá se tornar alvo de curiosidade e
debate públicos.
Convém ressaltar que a soma desses fatores
ainda reforça sua suposta importância para
opinião pública. A morte de um anônimo na rua
possivelmente chamará a atenção da audiência,
mas a queda de um avião com um time de
futebol famoso muito provavelmente gerará
uma comoção maior. Trata-se de um episódio
que reúne diversos critérios de noticiabilidade,
como morte, notoriedade, quantidade de
pessoas envolvidas e fatores inesperados, por
exemplo.
 
Os critérios de seleção também podem ser contextuais e, nesse caso, referem-se às condições de
produção, à estrutura e aos materiais acessíveis para elaboração das notícias. Alguns exemplos são a
disponibilidade de recursos e fontes que permitam apurar os fatos e construir uma narrativa com
imagens (visualidade) ou áudios de qualidade.
 
Outros parâmetros também são mencionados por Traquina (2005) nessa categoria, como o dia
noticioso. Trata-se dos principais acontecimentos do dia em questão e que, provavelmente, serão
mencionados nos principais meios de comunicação.
 
Ainda podemos mencionar o equilíbrio — relacionado à disposição e à hierarquia temática de cada
veículo — e a concorrência — relação de comparação com os demais produtos midiáticos para que não
se deixe de abordar os temas veiculados na imprensa em geral.
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Além desses elementos associados aos valores notícia de seleção, o autor propõe os chamados critérios de
construção, que se referem à escolha e definição “dos elementos dentro do acontecimento, dignos de serem
incluídos na elaboração da notícia” (TRAQUINA, 2005, p. 91).
Em outras palavras, são parâmetros que vão nortear o jornalista em um segundo momento, após a definição
da pauta e a apuração das informações. Como o nome da categoria sugere, esses critérios de noticiabilidade
estão associados ao momento de elaboração dos relatos noticiosos.
Nesse contexto:
 
Podemos falar, por exemplo, do valor-notícia de simplificação, bastante comum na imprensa, sobretudo
em veículos populares ou sensacionalistas. A estratégia consiste em apresentar um fato ou fenômeno
de maneira mais acessível, usando recursos como metáforas, exemplos e estereótipos. É o que ocorre
quando os repórteres ou âncoras utilizam explicações bastante didáticas ou até clichês para amenizar
a ambiguidade de temas complexos. Dessa forma, assuntos ambíguos ou polêmicos são narrados de
maneira mais direta e pedagógica, supostamente facilitando a compreensão do público.
 
Há também os critérios de proximidade e relevância, que correspondem à estratégia de destacar
aspectos da narrativa dos fatos que impactam a vida da audiência de alguma forma — cultural, política,
social ou economicamente.
 
Outra prática recorrente na construção de notícias é a amplificação, recurso utilizado para reforçar (ou
fabricar) a importância de uma pauta, de um acontecimento ou de suas consequências.
 
A personalização, por sua vez, como o nome sugere, refere-se ao ato de relacionar notícias e
informações a personalidades oficiais e públicas ou mesmo a figuras anônimas, buscando humanizar
os relatos. Sabe-se que um conteúdo puramente técnico, abstrato ou baseado apenas em dados
numéricos tende a gerar menos identificação e comoção por parte do grande público. Nas palavras de
Traquina (2005, p. 92), “pessoas se interessam por outras pessoas”.
 
Já o valor-notícia da consonância consiste no uso de “narrativas já estabelecidas” para contar um fato
novo, ou seja, corresponde à estratégia de utilizar uma forma já conhecida pelo grande público ou
técnicas já dominadas pelo jornalista para veicular uma nova informação (TRAQUINA, 2005).
A partir dessas categorias sistematizadas por Traquina (2005), é possível compreender de que maneira a
seleção dos temas a serem reportados e a construção das notícias são condicionados por fatores diversos,
influenciando e sendo influenciados pela opinião pública.
Podemos recapitular a categorização na tabela a seguir:
Critérios de seleção substantivos
Critérios de
seleção
contextuais
Critérios de
construção
Morte
Proximidade
geográfica
Proximidade
cultural
Disponibilidade Simplificação
Notoriedade /
Notabilidade
Inesperado Escândalo Equilíbrio Amplificação
Autoridade
Conflito
(violência
simbólica)
Conflito
(violência
física)
Visualidade Relevância
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Critérios de seleção substantivos
Critérios de
seleção
contextuais
Critérios de
construção
Novidade
Infração (de
regras)
Relevância Concorrência Personalização
Quantidade Escândalo Tempo Dia noticioso Consonância
Critérios de seleção e construção da notícia.
Elaborada por Júlia Silveira, a partir de Traquina (2005).
A seguir, analisaremos cada um desses valores-notícia detalhadamente para compreender o fenômeno da
apuração, da construção e da veiculação de conteúdo, pensando também na sua relação com o interesse e a
opinião pública.
Noticiabilidade: seleção e apresentação da notícia
Acompanhe a essa dinâmica entrevista sobre os critérios de noticiabilidade.
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Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que vocêacabou de estudar.
Teoria do espelho
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Da teoria do espelho ao gatekeeper e à agenda setting
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Valor-notícia
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Verificando o aprendizado
Questão 1
A teoria do espelho é uma das mais antigas perspectivas acerca da produção jornalística. Ao longo do tempo,
no entanto, essa teoria foi dando lugar a outras abordagens, como a noção de valores-notícia, ou seja,
critérios utilizados por profissionais da imprensa durante a produção de notícias. Nesse contexto, assinale a
alternativa que apresenta as principais diferenças entre essas duas perspectivas teóricas.
A
A teoria do espelho parte do pressuposto de que devem ser noticiados os fatos com os quais o público
consegue se identificar. Já os valores-notícia compreendem diversos outros critérios para definir quais serão
publicizados, por exemplo, episódios que envolvam morte, conflitos ou personalidades conhecidas.
B
A teoria do espelho estabelece que o jornalismo pode captar um retrato fiel da realidade (espelhando-a), de
maneira que a subjetividade do jornalista e de seu exercício profissional não a acometem. Já os valores-
notícia denotam critérios de seleção adotados pelos profissionais ao definir suas pautas e elaborar as
reportagens.
C
De acordo com a teoria do espelho, os fatos devem ser narrados de acordo com a ordem cronológica dos
acontecimentos. Já os valores-notícias referem-se a diferentes critérios a serem priorizados ao longo dos
relatos noticiosos.
D
A teoria do espelho assume que os repórteres são influenciados por suas próprias perspectivas ideológicas,
políticas e culturais – de maneira que as notícias que produzem se tornam seus reflexos. Já os critérios de
noticiabilidade são definições editoriais, que não dão margem para que a subjetividade dos repórteres se
manifeste.
E
Os critérios de noticiabilidade representam uma revisão da abordagem da teoria do espelho, apresentando
novos fatores, subjetivos e estruturais, que influenciam a construção das notícias.
A alternativa B está correta.
A teoria do espelho, que vem perdendo credibilidade com o passar do tempo, parte do princípio de que as
notícias são reflexos da realidade concreta, ou seja, relatos clínicos e fiéis dos eventos tal qual
aconteceram. Já a perspectiva dos valores-notícia ou critérios de noticiabilidade evidencia diversos fatores
circunstanciais e subjetivos que condicionam a definição do que deverá ser noticiado, as condições de
apuração e a produção das reportagens.
Questão 2
Nelson Traquina afirma que um dos critérios utilizados pelos jornalistas na elaboração das notícias é a
simplificação. Podemos afirmar que a estratégia da simplificação consiste em
A
optar por noticiar temas de fácil compreensão, que sejam capazes de captar e manter a atenção da audiência.
B
recorrer a explicações bastante didáticas ou a estereótipos para tornar temas complexos mais palatáveis.
C
usar recursos de imagem e linguagem sensacionalistas, visando tornar o conteúdo mais apelativo ao público.
D
delimitar o espaço ou o tempo dedicado à veiculação de cada notícia para que a reportagem dos fatos não se
torne muito extensa.
E
evitar reproduzir aspas de especialistas ou figuras públicas de cunho técnico, que podem ser inteligíveis ao
público em geral.
A alternativa B está correta.
Para Traquina, o valor notícia de simplificação consiste na estratégia de explicar fatos e fenômenos
complexos de maneira mais acessível ao público, reportando os acontecimentos de forma clara e simples e
eliminando possíveis ambiguidades.
3. Conclusão
Considerações finais
Como vimos, a separação entre as esferas pública e privada é uma discussão ampla, que data desde a
Antiguidade grega. No entanto, esse debate segue pertinente, ganhando novos contornos na Modernidade
com o advento dos meios de comunicação de massa. O surgimento dos centros urbanos e a consolidação do
capitalismo industrial, no século XX, produziram uma massa trabalhadora que logo se converteu em audiência
e consumidora das mídias.
Para melhor compreender essa relação entre comunicação social e política, acionamos algumas contribuições
teóricas, como a noção de esfera pública, do alemão Jürgen Habermas, e os critérios de noticiabilidade,
propostos pelo jornalista e teórico Nelson Traquina.
É possível perceber, a partir dessas análises, como a opinião pública se constitui a partir dos debates travados
coletivamente, para além do Estado e dos interesses privados, mediada pelos veículos de comunicação. 
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Agora, a professora Júlia Silveira encerra o conteúdo recapitulando o que estudamos até agora.
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Pesquise o artigo Contribuições para o Conceito de Opinião Pública, disponível no ambiente virtual de
apoio à graduação e pós-graduação da USP, e veja como Rubens Figueiredo e Sílvia Cervellini
discutem a definição de opinião pública a partir do senso comum e de algumas das principais
discussões teóricas sobre o tema.
 
Aprofunde os estudos sobre a relação entre imprensa e política a partir da leitura do artigo Evolução
dos Estudos de Agendamento: uma Explicação sobre a Influência da Mídia na Opinião Pública, de
Daniel Brandi, disponível no Portal Intercom.
 
Assista ao filme O Quarto Poder (Mad City), do diretor Konstantin Costa-Gavras. O longa-metragem
mostra a história de um repórter de televisão que está fazendo uma cobertura despretensiosa em um
museu de história natural até que um episódio inusitado muda a conjuntura que estava sendo
reportada. Embora seja uma película de 1997, apresenta uma discussão atual sobre a construção das
narrativas midiáticas e o impacto da opinião — e da comoção — do público.
Referências
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WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 2001.
	Opinião pública e interesse público
	1. Itens iniciais
	Propósito
	Objetivos
	Introdução
	1. Esfera pública e opinião públicaTransformação das noções de público e privado
	Exemplo
	Conceito de esfera pública para Habermas
	Mas como ela funciona?
	Evolução do conceito de esfera pública
	Trocas e diálogos
	Conceito de público
	Crítica a tradição política libera
	Atenção
	Atenção
	Interesse público
	A massa é pública? O público é massa?
	Conteúdo interativo
	Opinião Pública
	Exemplo
	Vem que eu te explico!
	O agir comunicativo
	Conteúdo interativo
	Críticas a Habermas e diálogos com o teórico
	Conteúdo interativo
	Esfera pública digital
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	2. Seleção e construção no jornalismo moderno
	Opinião pública e mídia
	Veiculação e o público
	Emissores
	Teoria do espelho: seria o jornalismo um reflexo fiel da realidade?
	Século XIX
	Século XX
	Produção das notícias em pauta: critérios de noticiabilidade (valor-notícia)
	Critérios de Seleção
	Critérios de apresentação/construção
	1
	2
	Critérios de seleção e construção
	Noticiabilidade: seleção e apresentação da notícia
	Conteúdo interativo
	Vem que eu te explico!
	Teoria do espelho
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	Da teoria do espelho ao gatekeeper e à agenda setting
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	Valor-notícia
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	3. Conclusão
	Considerações finais
	Podcast
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