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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER CURSO DE BACHARELADO JORNALISMO 5 O JORNALISMO NA SOCIEDADE: Os efeitos das mídias e das opiniões públicas1 Rejane dos Santos Conceição2 RESUMO O objetivo deste trabalho é discutir a importância da atividade jornalística para garantir o desenvolvimento de uma sociedade democrática, na qual predomine o amplo compartilhamento de saberes entre seus membros. Para refletir sobre o assunto, expomos as atribuições e responsabilidades do jornalista socialmente afirmadas com base em três autores e suas obras previamente escolhidos: Cremilda Medina (1988), Hebert Blumer (1978) e Melvin Defeleur (1993). Com isso, analisamos suas obras e principais trechos, para em seguida analisar de forma crítica sobre o enunciado e a realidade em que vivemos atualmente. Palavras chave: Sociedade, jornalismo, comunicação APRESENTAÇÃO A importância que o jornalismo exerce em nossa sociedade é crescente. As notícias constroem realidade para a população. (Ribeiro & Fossá, 2009 p. 06) descrevem esse poder expresso por meio da linguagem jornalística: “A linguagem jornalística é a normalizadora da sociedade, é ela que ameniza o caos social, e é uma forma de instaurar uma ideologia de um grupo que se verbaliza através da mídia e torna-se a ideologia dominante, que tem o poder sobre a informação”. Uma linguagem que ultrapassa os limites das páginas de jornais e das telas de TV, contribui para a construção do imaginário do cidadão acerca do mundo que o cerca. Os jornalistas são, de fato, formadores de opinião pública, construtores da agenda sobre política, economia, prognósticos para seu país, perspectivas de vida, divertimento e construção social. Esse trabalho, fruto de uma revisão bibliográfica e estudo teórico, pincela um panorama histórico da função do jornalismo de acordo com autores selecionados, aborda entendimentos contemporâneos acerca dessa atividade e apresenta as contribuições que uma visão humanista, segundo a abordagem ontopsicológica, traz à profissão. De acordo com essa visão, o jornalista, protagonista da atividade dessa profissão, quando age de maneira autêntica, pode atuar como mediador de realidade, operador de consciência e promotor de valores humanos na sociedade. 1 Contextualização O texto A Massa, o Público e a Opinião Pública de Herbert Blumer é uma análise crítica sobre as formas de comportamento coletivo e as dinâmicas sociais que emergem nas interações humanas em grandes grupos. Blumer distingue três tipos principais de agregados: a massa, o público e a opinião pública, destacando como cada um se caracteriza por diferentes formas de organização e comportamento coletivo. Blumer critica a ideia de que a opinião pública é uma entidade estática ou puramente racional, destacando como ela está constantemente em fluxo e sujeita a influências externas, como manipulação midiática. Além disso, ele enfatiza o caráter interativo e processual da formação da opinião pública, o que a torna um fenômeno complexo e dinâmico. Já no texto "Notícia: um produto à venda", Cremilda Medina apresenta uma reflexão crítica sobre a natureza da notícia no contexto atual. A autora argumenta que as notícias, muitas vezes, são tratadas como mercadorias, cuja produção e circulação estão sujeitas às dinâmicas do mercado. Ela discute como a busca por audiência e cliques pode comprometer a qualidade da informação, levando à superficialidade e à desinformação. Medina também aborda a transformação do jornalismo em um produto comercial, onde a objetividade e a imparcialidade podem ser sacrificadas em prol do lucro. A crítica se estende à maneira como as notícias são moldadas para atender às expectativas do público, muitas vezes priorizando sensationalismo e entretenimento em detrimento da análise crítica e da profundidade. Ao final, a autora propõe uma reflexão sobre a responsabilidade dos jornalistas e das instituições de mídia em promover um jornalismo ético e comprometido com a verdade, destacando a importância de um consumo consciente das informações por parte do público. Criticamente, o texto de DeFleur oferece uma visão ampla das teorias sobre a comunicação de massa, mas pode ser visto como limitado por não tratar de maneira mais profunda as questões contemporâneas relacionadas às novas tecnologias de comunicação, como a internet e as redes sociais, que têm alterado substancialmente a dinâmica entre emissores e receptores. Além disso, a ênfase nas influências dos meios tradicionais poderia ser questionada, dado o crescente papel dos meios digitais e as transformações nas formas de consumo de informação. Em resumo, o texto de DeFleur fornece uma base sólida para compreender as teorias da comunicação de massa, mas sua aplicabilidade ao cenário atual, dominado pela comunicação digital e pelas novas formas de interação, poderia ser mais explorada. 2 Discussão teórica Com a obra Notícia, um Produto à Venda, Jornalismo na Sociedade Urbana e Industrial, Cremilda Medina compreende a estrutura da mensagem jornalística no grande quadro de referência de uma sociologia da cultura. A notícia é percebida como um produto de comunicação de massa, relacionada à indústria cultural e aos contornos da sociedade urbana e industrializada. Apesar de reconhecer que esse amplo conjunto de condicionantes do produto noticioso é conformado pela cultura industrializada e massificada, Medina (1978) sinaliza limitações teóricas na perspectiva da chamada Escola de Frankfurt. Para ela, as visões apocalípticas, marcadas pelo pessimismo latente e por um olhar reduzido às determinações econômicas, são frágeis e distantes de um pensamento capaz de compreender a complexidade do jornalismo. Logo, mesmo que resguarde traços industriais e de massa, a notícia deve ser vista como um produto cultural dinâmico. Tal entendimento impossibilita situá-la num processo de estandardização absoluta (MEDINA, 1978). Para Cremilda Medina, diante da consciência dos limites e das contradições do saber científico clássico de caráter positivista – o mesmo que legitima o princípio da objetividade –, torna-se oportuno problematizar o jornalismo a partir de uma epistemologia pragmática que valorize a complexidade e a interconexão de conhecimentos diversos. Essa nova forma de olhar o fenômeno jornalístico, bem como para outras atividades comunicacionais, advém da percepção de que a contemporaneidade reclama pela dialogia interativa (MEDINA, 2006). É por isso que, para a autora, o jornalismo enquanto profissão não perde importância nos dias de hoje, mesmo com o aparecimento e fortalecimento de novos canais de expressão. Pelo contrário, ganha peso a necessidade de um mediador que articule significados e dê conta da regência de vozes numa sociedade cada vez mais complexa em termos de demandas individuais e coletivas. Relação com questão central do tema Informar de modo qualificado é a finalidade que, se não cumprida, inviabiliza o cumprimento das demais. Especialmente no contexto atual, de inúmeros canais de informação e infinitas possibilidades de as pessoas e instituições se tornarem difusoras de dados, o jornalista tem a obrigação de informar de modo qualificado, o que significa que deve produzir e veicular uma informação verificada, relevante, contextualizada, plural e envolvente. As finalidades do jornalismo são o eixo definidor de uma atividade que tem um compromisso ético e um papel social a desempenhar e que não pode ser substituído por outra instituição. É o cumprimento das finalidades do jornalismo – no caso a de informar de modo qualificado – que singulariza o jornalismo enquanto gênero discursivo e que permite ao leitor dizer: isto não é propaganda, não é ficção, não é romance. Se não cumpri-las, o jornalismo corre o risco de perder leitores, de perder qualidade, de perder o que o singulariza enquanto gênero discursivo. Corre o risco de, em última análise, deixar de ser jornalismo. Informar os cidadãos dos assuntos do momento é uma necessidade prática e democrática de uma imprensa livre e responsável (BREED, 1999) e o jornalismo deve proverà população a informação exata, honesta e completa à qual ela tem direito (CORNU, 1998). E não é só teoricamente que se aponta isso. O leitor afirma que informar é uma finalidade importante do jornalismo e demonstra que “depende” do jornalismo para ter acesso às informações (REGINATO, 2016). O leitor difere informação de opinião e interpela o jornalista para que cumpra essa finalidade: “jornalista, trabalhe direito”. Blumer inicia seu texto delineando a distinção entre massa e público. Segundo ele, a massa é um conjunto disperso de indivíduos, enquanto o público é uma coletividade mais coesa, que se forma a partir de interesses comuns e da interação social. Essa diferenciação é fundamental para compreender como a opinião pública é gerada e manipulada. Blumberg argumenta que a opinião pública não é simplesmente a soma das opiniões individuais, mas sim um fenômeno social complexo que surge de processos comunicativos. Um dos pontos mais fortes da análise de Blumer é a sua crítica ao papel da mídia na formação da opinião pública. Ele sugere que a mídia não é apenas um canal de transmissão de informações, mas sim um ator ativo que molda as percepções e interpretações dos eventos. Essa ideia é especialmente pertinente no século XXI, onde a proliferação de informações nas redes sociais pode distorcer a realidade e criar bolhas de informação. Blumer destaca que a opinião pública é frequentemente manipulada por interesses políticos e econômicos, o que levanta questões éticas sobre a responsabilidade da mídia na formação da consciência social. Outro aspecto importante do texto é a discussão sobre a mobilização da opinião pública. Blumer observa que a opinião pública pode ser mobilizada em torno de questões específicas, levando à ação coletiva. No entanto, ele também alerta para o risco de que essa mobilização possa ser superficial ou manipulada por líderes de opinião. A capacidade de mobilização da opinião pública é um fenômeno que continua a ser relevante, especialmente em movimentos sociais contemporâneos, onde as redes sociais desempenham um papel crucial na organização e mobilização de indivíduos em torno de causas comuns. Ao mesmo tempo, a formação de uma sociedade de massa, decorrente de uma série de fatores, como a produção em larga escala de mercadorias, o pensamento político conservador do século XIX, a constituição dos grandes centros urbanos etc., contribuiu para definir o perfil do receptor médio que, em geral, era “atingido” pelos meios. Um dos principais traços historicamente atribuídos à massa, compreendida como uma totalidade homogênea e anônima, se refere, justamente, à “pouca interação ou troca de experiência” (BLUMER, 1975, p. 177) entre os seus membros, da qual decorreria a incapacidade destes para se organizarem em torno de uma dada questão. […] se tivermos em conta que muitas pesquisas posteriores, que não se inserem, porém, explicitamente, na corrente funcionalista, contém aspectos que são úteis para um enriquecimento cognoscitivo acerca do problema das funções desempenhadas pelos mass media, pode dizer-se que uma abordagem funcionalista não “morre” completamente suplantadas por outros paradigmas, antes se prolonga até aos dias de hoje. Existe, todavia, um setor de análise específico que foi direta e significamente influenciado pelo paradigma funcionalista: é o estudo dos efeitos dos mass media conhecido como hipótese dos “usos e satisfações”. (DEFLOUR, Melvin 1970 p. 47) Nessa ótica, sublinham duas limitações dessa forma de pensar. Primeiro, por ignorar as formas pelas quais as pessoas usam o entendimento dos divertimentos para se compreenderem a si mesmas, ao seu mundo, ou aos muitos mundos fora de sua experiência direta, e para orientar suas próprias ações e as interações com outros. Por isso, ‘limitar a idéia de informação a noticiário sugeriria, por exemplo, que o que as pessoas aprendem dos divertimentos não tenha consequências importantes para os significados que elas constroem e que atuam sobre sua socialização, ou são nestas baseados’ (De Fleur, 1993, p. 322). Segundo porque, ao afastar o divertimento do reino da informação, reduz-se o papel da brincadeira e dos jogos na vida pessoal e social. O divertimento comumente e erradamente costuma ser tratado como dimensão sem importância da motivação humana. A análise psicológica e antropológica, no entanto, mostra exatamente o contrário ele é, sob muitos aspectos importantes, ‘sério’. É sério, por exemplo, no desenvolvimento da criança (p. ex., aquisição da linguagem e formação da identidade) e sob a forma de cerimônias, competições e celebrações que contribuem para a solidariedade social (De Fleur, 1993, p. 322). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O jornalismo não pode ser equiparado à ciência, mas possui a capacidade de interpretar a linguagem científica de forma que esta seja acessível a um público heterogêneo, afinal, as notícias também são formas de conhecimento na sociedade contemporânea. Da mesma maneira, uma comunidade é capaz de identificar os assuntos que são de seu interesse e expô-los de acordo com o entendimento de todos os indivíduos daquele universo. Acreditamos que a democratização do acesso ao conhecimento descentraliza o poder, o que, por sua vez, promove o fortalecimento da cidadania entre a população. Embora o panorama do jornalismo brasileiro ainda revele uma desconexão com a realidade social, vislumbra-se a viabilidade de um processo de alinhamento no país mediante a implementação de estratégias que assegurem uma pluralidade de perspectivas sobre os saberes abordados pela imprensa. É imperativo promover a criação de mais veículos de comunicação que operem de forma independente de oligopólios e de interesses econômicos, tornando acessíveis a uma população que frequentemente carece de informações de qualidade. Referências BLUMER, Herbert. A massa, o público e a opinião pública. 1978 DEFELEUR, Melvin. Teorias da comunicação de massa. Rio de Janeiro, Zahar, 1993. Capitulo II: Teoria da dependência do sistema de mídia MEDINA, Cremilda. Notícia um produto à venda. São Paulo: Summus, 1988. Parte I: Conceito de mensagem jornalística como informação. 1Trabalho apresentado para a disciplina Atividades Extensionistas Integradas: Ensaio Acadêmico do curso de Bacharelado em Jornalismo do Centro Universitário Internacional (Uninter) 2Aluna da disciplina Atividades Extensionistas Integradas: Ensaio Acadêmico do curso de Bacharelado em Jornalismo do Centro Universitário Internacional (Uninter). Email: rconcepcao518@gmail.com image1.jpeg