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Gestão integrada de acervos: questões contemporâneas Monteiro, JM1; Bevilacqua, G.M.F2 Resumo Este trabalho pretende discutir e problematizar questões envolvendo a produção, circulação, uso e disseminação de informação em museus a partir da perspectiva da gestão integrada de acervos de naturezas diversas (museológica, arquivística e biblioteconômica) que tendem a se apresentar em instituições desse tipo. Do ponto de vista técnico e metodológico intenciona-se apresentar e debater a utilização de bancos de dados e sistemas informatizados de gestão dentro dessa realidade complexa, entendidos como ferramentas fundamentais e imprescindíveis para a implantação de políticas normalizadas de recuperação de informação. A partir desta afirmação também objetiva-se abordar a importância da colaboração interdisciplinar dos profissionais especializados da instituição na elaboração dos parâmetros técnicos e vocabulários controlados necessários para o adequado desenvolvimento dessas ferramentas. Palavras chaves: museu; arquivo; biblioteca; gestão integrada de acervos; banco de dados Grupo de trabalho proposto: GT: Informação e Tecnologia Filiação institucional e contato dos autores Juliana Monteiro - Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo Gabriel Moore Forell Bevilacqua - Pinacoteca do Estado de São Paulo Contato: Pinacoteca do Estado de São Paulo - Largo General Osório, 66 - 1º andar (Centro de Documentação e Memória) - São Paulo/SP - CEP 01213-010. Telefone: (11)3335-4994 / Fax: (11)3335-4998 / e-mails: gmoore@pinacoteca.org.br e jumonteiro@sp.gov.br 1 Graduada em Museologia/UFBA e Especialista em Gestão Pública pela Fundação Escola de Sociologia e Política de SP. Museóloga da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico/Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. 2 Graduado em história pela USP, mestre em história social pela mesma universidade e especialista em organização de arquivos pelo IEB/USP. Atualmente coordena o Centro de Documentação e Memória da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Resumo expandido O objetivo desta comunicação é problematizar questões contemporâneas relacionadas à gestão e ao uso da informação em instituições museológicas a partir de uma perspectiva prática e ferramental. Os museus se constituem em espaços privilegiados para as discussões que envolvem a biblioteconomia, a museologia e a arquivística. Isso se dá por dois fatores mutuamente imbricados: trata-se de uma das poucas organizações que possui (em maior ou menor escala dependendo da tipologia do museu e do seu tamanho) acervos constituídos por conjuntos de objetos/documentos de três naturezas distintas (museológica, arquivística e biblioteconômica), e vastas demandas de organização e disseminação de informação, tanto internas quanto externas. Partindo deste pressuposto, o uso de sistemas informatizados de gestão se apresenta como a solução mais adequada para a estruturação dos museus como serviços públicos de informação. Sendo assim, a forma de aplicação destes sistemas informatizados ou bancos de dados na realidade dos museus também é uma questão de interesse deste trabalho, uma vez que entendemos que seu desenvolvimento deve, necessariamente, ser fruto de uma ação integrada e interdisciplinar da própria equipe técnica da instituição. Com o desenvolvimento e a evolução das ferramentas informatizadas de organização e disseminação da informação e a universalização das redes de computadores, o potencial informativo das instituições museológicas tem se expandido enormemente nas últimas duas décadas. O tradicional foco dos museus na utilização de recursos expositivos e publicações analógicas como principais meios de comunicação de seus acervos e da extroversão de conhecimentos gerados a partir de suas atividades não se coloca como uma perspectiva a ser suplantada, mas sim potencializada. A especificidade da instituição museológica, fruto de sua natureza preservacionista e da garantia da permanência material e temporal de uma seleção representativa da cultura humana, aliada à capacidade de resignificação e fruição críticas desses conjuntos, aponta também para uma apropriação peculiar do universo digital contemporâneo. As novas tecnologias podem ser interpretadas como recursos necessários para a expansão de ações de extroversão informativa e cognitiva, mas de fato, não poderão substituir o caráter único e presencial da experiência museal. Sem dúvida, a intensificação da produção e circulação digital de objetos, obras e documentos deverão incidir diretamente na concepção e no entendimento da materialidade de nossos acervos, e por consequência nas estratégias e métodos que utilizamos. Uma das grandes vantagens em se trabalhar com um sistema informatizado está na sua grande versatilidade, que permite a construção de diferentes formas de descrição e recuperação de informação. A partir desses parâmetros não existem formas excludentes de descrição e recuperação de informação (sejam elas quais forem). O paradigma de um sistema linear e único de recuperação de informação pertence ao tempo das limitações impostas pelo alcance da ordenação física da documentação e das ferramentas de pesquisa manuais, já há muito ultrapassados. Tal característica torna os bancos de dados o meio mais adequado para a implantação de ferramentas de gestão integrada de acervos de naturezas diversas - necessidade inerente ao trabalho técnico em instituições culturais complexas, como os museus. Nesse sentido, compreendemos gestão integrada de acervos em museus como um conjunto de estratégias e procedimentos adotados no âmbito de uma instituição museológica responsável pela salvaguarda de acervos culturais de naturezas diferentes (museológica, arquivística e biblioteconômica) com o objetivo de dinamizar e qualificar fluxos de trabalho e disseminação de informação. Esta pode ser entendida a partir de duas perspectivas complementares: 1. Estruturação do museu enquanto centro e serviço de informação, onde os vários usuários (públicos) obtêm respostas às suas demandas de pesquisa por meio de um sistema integrado de recuperação, independente da natureza do acervo ou do setor responsável por sua administração (biblioteca, arquivo, centro de documentação ou núcleo de documentação museológica). Implica, invariavelmente, no uso de sistemas informatizados de gerenciamento de bancos de dados e aplicativos de Intranet e ou Internet que permitam a busca cruzada de informação e a geração de relatórios dinâmicos de pesquisa, oferecendo ao interessado diferentes possibilidades de consulta e acesso aos acervos da instituição em uma única plataforma ou interface de comunicação. Demanda uma política institucional integrada de produção, circulação e disseminação de informação. 2. Organização de um sistema de gestão de acervos baseado em uma política institucional integrada, visando uma interlocução dinâmica e produtiva entre os diversos acervos salvaguardados pela instituição e um maior alinhamento com o objetivo e a missão da mesma. Parte da concepção e aplicação de diretrizes comuns e inter- relacionadas para a gestão de acervos: políticas de incorporação, delimitação de enfoques temáticos/áreas de interesse, metodologias de catalogação/descrição e identificação, procedimentos de tramitação/movimentação, políticas de acesso à informação/consulta interna e externa, padronização de documentos, formatação de instrumentos de pesquisa, áreas de atuação e responsabilidades e definição/delimitação conceitual dos acervos etc. É importante ressaltar que uma perspectiva integrada de gestão de acervos não parte necessariamente da supressão ou substituição de metodologias específicas e fundamentais colocadas pelas disciplinas da biblioteconomia, museologia e arquivologia, mas sim de umaaproximação técnica e ferramental híbrida e não excludente, baseada na normalização de procedimentos e no uso de sistemas informatizados de descrição e recuperação de informação de parâmetros múltiplos. Assim, o museu pode se constituir em um rico campo não só para investigações teóricas envolvendo uma perspectiva de políticas integradas de informação, mas também como espaço de experimentação e aplicação de novas ferramentas de tecnologia da informação. Apesar da cada vez mais ampla a necessidade de um enfoque integrado, é necessário ressaltar que não se trata de justificar a negação das independências teórico-metodológicas de nenhuma ciência ou disciplina aqui envolvida. A perspectiva da informação não é suficiente para resolver todas as questões colocadas em cada uma dessas áreas do conhecimento ou materializadas por acervos de naturezas diversas, mas pode ser entendida como um ponto de inflexão comum se analisada pelo viés dos serviços ou das demandas geradas a partir de uma realidade institucional específica. Parte do trabalho de reflexão aqui apresentado é baseado em questões de ordem técnica surgidos na prática cotidiana de museus e órgãos gestores de museus. Outra fonte para a problematização do tema proposto são as discussões realizadas em grupos de estudos compostos por profissionais de formações múltiplas oriundos de diferentes instituições museológicas de São Paulo. Dentre estes fóruns podemos destacar o Comitê de Política de Acervo da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo (SEC)3 e o Grupo de Trabalho Arquivos de Museus e Pesquisa4. 3 O Comitê de Política de Acervo é um dos 5 Comitês organizados no âmbito da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da SEC, cujo objetivo é promover discussões técnicas e difundir e ou construir normativas para todos os museus vinculados à Pasta. Ele é composto por profissionais ligados às Os pressupostos teórico-conceituais para o desenvolvimento dessa discussão baseiam-se em diferentes autores das áreas do conhecimento aqui abordadas. Sobre conceitos de biblioteconomia, ciência da informação e gestão do conhecimento utilizamos apontamentos de Metodología em la Bibliotecologia (MORALES LÓPEZ, 2005), Arquivologia e ciência da informação (FONSECA, 2005), Informação e informática (LUBISCO; BRANDÃO, 2000), Gestão da Informação nas Organizações (ASSIS, 2008) e Gestão do Conhecimento nas Organições (ALVARENGA NETO, 2008). No que se refere à função da documentação museológica no museu contemporâneo contamos com Museología y documentación (GUTIÉRREZ USILLOS, 2010) e Historia de la documentación museológica (MARÍN TORRES, 2002). Em se tratando da discussão conceitual envolvendo a constituição de acervos em museus nos baseamos em The Museum in transition (HEIN, 2000) e Museums, objects and collections (PEARCE, 1992). Para o estudo de novas tecnologias e serviços de difusão cultural em museus utilizamos Arte, museos y nuevas tecnologias (BELLIDO GANT, 2001) e La difusión cultural em el museo: servicios destinados ao gran público (VALDÉS SAGÜÉS, 1999). No que se refere à gestão de coleções e administração de museus em geral nos pautamos em Museum registration methods (BUCK; GILMORE, 2010). Quanto aos conceitos e procedimentos gerais arquivísticos e documentais, a principal bibliografia e referências utilizadas podem ser resumidas nas seguintes obras: Dicionário de Terminologia Arquivística (BELLOTTO; CAMARGO, 1996), Arquivos Permanentes: Tratamento documental (BELLOTTO, 2004) e Archivistica General: Teoria y practica (HERRERA, 1988). Parte da metodologia e da discussão conceitual necessária para a gestão do arquivo do museu foi extraída do livro editado por Deborah Wythe, Museum Archives: an introduction (2004) e dos Anais do I Seminário Internacional Arquivos de Museus e Pesquisa (2010). A apresentação e abordagem dos conceitos de banco de dados, tecnologia da informação e sistemas de informação e gestão integrada partiram basicamente dos estudos e perspectivas de Laudon (2007), Turban (2004), Terra (2002) e da obra Géstion de Archivos Electrónicos (CASANOVA, 2008). áreas de tratamento técnico-documental de acervos dos museus da SEC e por profissionais da UPPM, que se encontram periodicamente. 4 O Grupo de Trabalho Arquivos de Museus e Pesquisa foi criado no âmbito do I Seminário Arquivos de Museus e Pesquisa (parceria entre Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Museu de Arte Contemporânea da USP - realizado no auditório do MAC-USP entre 9 e 10 de novembro de 2009) para agregar profissionais de todas as áreas técnicas dos museus envolvidos e continuar as discussões, investigações e proposições sobre conceitos e práticas dos arquivos em instituições museológicas. Referências bibliográficas selecionadas ALVARENGA NETO, Rivadávia Correa Drummond de. 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