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AULA 3 MERCHANDISING E PROMOÇÃO DE VENDAS Prof. Joselmo Zaniboni Rezende 2 TEMA 1 – O PERFIL DO CONSUMIDOR E O DIGITAL O comportamento do consumidor mudou radicalmente nos últimos anos, principalmente pelas mudanças na tecnologia e no mercado, impulsionando o próprio consumidor a aderir às novas tecnologias e ao novo modo de viver. O mundo é móvel, e o consumidor já não desperdiça seu tempo à procura de loja em loja para achar um produto ou serviço que atenda às suas necessidades. Os dispositivos móveis capacitaram o consumidor não somente a expandir sua busca, forçando as organizações a se adaptarem a uma nova realidade e mobilidade de seus clientes, como obrigou estas a se adaptarem à perspectiva do mundo instantâneo. “O campo do comportamento do consumidor abrange uma ampla área: é o estudo dos processos envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou descartam produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer necessidades e desejos” (Solomon, 2011, p. 33). Para Gabriel (2010), o consumidor convive com quatro telas: o cinema, a televisão, o computador e o celular. Segundo a autora, o “acesso a informação hoje começa na palma da mão das pessoas” (Gabriel, 2010, p. 76). A autora ainda destaca que, diferente do marketing de massa, que tem a generalidade como característica, no mundo digital, a especificidade é que impera, e os indivíduos é que têm o poder, uma vez que as mídias sociais e as redes sociais possibilitaram esse empoderamento dos indivíduos. Solomon (2011) reforça essa ideia e destaca que o consumidor é quem tem o poder e a liberdade para produção de conteúdos e tem a web como o meio social e interativo. Ou seja, o novo consumidor tem mais mobilidade, é mais ágil e quer agilidade nas respostas, não pede licença para falar da sua marca e possui maior poder de barganha. Essa mudança no comportamento do consumidor e da sua relação com o varejo ocorre pela adoção de tecnologias digitais, com o aparecimento do “neoconsumidor”, um consumidor digital, multicanal e globalizado, que tem perspectivas internacionais para o consumo (Souza, 2019), pesquisa e compra em sites dentro e fora do país e não considera a barreira geográfica como impedimento para compra. A pesquisa levanta algumas características importantes, a saber: 3 Quadro 1 – Características do consumidor Consumidor 1.0 Tem a característica do início do comércio de varejo. Processo de compra acontece em alternativas de varejo não loja, como: vendas diretas, feiras, vendedores viajantes. Possui grande dependência do comércio e ainda persiste em países na África e na América Latina, na China e na Índia, ou mesmo em partes do Brasil, especialmente no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste. Consumidor 2.0 Primeiro que pode ser considerado como multicanal. Tramita em lojas de diversos tamanhos e formatos e opções não loja, como feiras, ambulantes, catálogos, vendedores domiciliares, telefone ou mesmo a televisão analógica, com pedidos pelo telefone. Predominou até o início do uso comercial da internet na década de 1990. É mais consciente, tem suas preferências e fidelidade disputadas de forma mais intensa. Consumidor 3.0 Primeiro multicanal e digital. Incorporou o canal de vendas digital, a web, tem consciência do seu poder de influência sobre produtos e serviços. Faz comparações, análises e se aprofunda sobre características, preços e condições, serviços, garantias etc. Compara, critica, é mais racional no processo de decisão de compra. Consumidor 4.0 Neoconsumidor de segunda geração. Utiliza ferramentas móveis como canal de relacionamento, vendas, promoção e pagamento, tanto de produtos como de serviços. Consumidor 5.0 Neoconsumidor de terceira geração, condicionado pela incorporação da TV digital interativa. Esta vem sendo implantada em diversos locais no mundo e no mercado brasileiro já atinge 6,3 milhões de domicílios, com perspectiva de chegar à maioria das residências nos próximos dez anos. Fonte: elaborado com base em Souza, 2019. Ainda segundo Souza (2019), sua pesquisa apresenta dados sobre o levantamento do perfil do neoconsumidor, os quais foram agrupados em três grandes grupos, de acordo com seus perfis demográficos e comportamentais: Quadro 2 – Características do neoconsumidor Neotradicionais (36% da amostra, 17% no Brasil) Leve predominância de mulheres, faixa etária de 45 a 54 anos. Menor grau de escolaridade, são mais ligados a lojas físicas, utilizam a web para comparação de preços, não acessa a internet pelo celular, tampouco faz compras por ele, pois não o considera um meio seguro. 4 Neoecléticos (19% da amostra, 5% no Brasil) Entre 35 e 44 anos, sem predominância de gênero. Média escolaridade, compram pela internet há pelo menos 3,5 anos. Abertos ao uso de diversos canais de relacionamento com marcas, produtos e serviços. Loja física deixou de ser a primeira escolha para compras. Esse é o grupo que mais projeta o fim dos pontos de venda tradicionais no futuro. Sentem falta das lojas que não têm presença on-line e valorizam as que a possuem. Acessam pouco a internet pelo celular, embora no futuro consigam se ver utilizando mais esse canal. Neovanguarda (45% da amostra, 78% no Brasil) Predominância de homens, faixa etária de 35 a 44 anos Formada predominantemente por consumidores com maior escolaridade, que compram pela internet há mais de quatro anos e preferem comprar on- line. Maior uso da internet móvel ainda é para obter informações e comparar preços e características. Considera a compra pelo celular conveniente e aceita receber propagandas e promoções pelo celular, o que a torna um público com grande potencial para abraçar a tecnologia mobile como centro de convergência de seu relacionamento com suas marcas preferidas. Fonte: elaborado com base em Souza, 2019. Para Raposo e Robinson (2019), o neoconsumidor, extremamente conectado, é capaz de valorar ou reduzir o potencial de venda de qualquer produto ou serviço ofertado no mercado, bastam alguns cliques para que algumas recomendações sejam produzidas, impulsionando influências. E assim, com maior facilidade de acesso à internet, os consumidores estão dotados de um poder analítico mais extenso. Evidenciamos então um novo consumido que, obrigatoriamente, altera o processo de vendas e de relacionamento com o varejo, forçando as organizações a modificarem significativamente a forma de promoção de vendas e merchandising, agora com a adoção dos canais digitais como parte integrante dessas ações de vendas. TEMA 2 – INFLUÊNCIAS NO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Se o comportamento do consumidor é o estudo de como indivíduos, grupos e organizações selecionam, compram, usam e descartam bens, serviços, ideias ou experiências para satisfazer suas necessidades e desejos (Solomon, 2011), torna-se imprescindível conhecer plenamente o comportamento de compra do consumidor tanto na teoria como na prática. 5 Segundo Solomon (2011), o comportamento de compra do consumidor é influenciado por fatores culturais, sociais e pessoais. Entre eles, os fatores culturais exercem a maior e mais profunda influência. 2.1 Fatores culturais A cultura é o principal determinante dos desejos e do comportamento de uma pessoa. Sob a influência da família e outras importantes instituições, uma criança cresce exposta a valores como realização e sucesso, disposição, eficiência e praticidade, progresso, conforto material, individualismo, liberdade, bem-estar, humanitarismo e juventude. (Kotler; Keller, 2012, p. 165) Solomon (2011) destaca que, na sociedade moderna, as pessoas são mais livres para selecionar o conjunto de produtos, serviços e atividades que as definem e que criam uma identidade social que elas comunicam àsoutras. Kotler e Keller (2012) destacam também que cada cultura é composta de subculturas que fornecem identificação e socialização mais específicas de seus membros. Entre elas, podemos citar: nacionalidades, religiões, grupos raciais e regiões geográficas. Quando essas subculturas crescem e se tornam influentes o bastante, as empresas geralmente elaboram programas de marketing específicos para atendê-las. Gráfico 1 – Acesso à internet Fonte: elaborado com base em Storino, 2022. Não temos como não apresentar o comportamento de acesso a web pela sociedade. O que vemos no gráfico anterior é a internet como parte integrante da 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% To ta l U rb an o Ru ra l M as cu lin o Fe m in in o Su pe rio r M éd io Fu nd am en ta l De 1 0 a 15 De 1 6 a 24 De 2 5 a 34 De 3 5 a 44 De 4 5 a 59 Ac im a de 6 0 A B C DE 6 sociedade no dia a dia. Assim, a busca das marcas e empresas por esse consumidor e sua identificação com elas, por meio de postagens e conteúdos que a tornem relevante na mente do consumidor, é imprescindível. 2.2 Fatores sociais Além dos fatores culturais, o comportamento de compra do consumidor é influenciado por fatores sociais, como grupos de referência, família, papéis sociais e status. São esses grupos de referência que exercem alguma influência direta (face a face) ou indireta sobre as atitudes ou o comportamento de uma pessoa. Os grupos que exercem influência direta são chamados grupos de afinidade, como família, amigos, vizinhos e colegas de trabalho, com os quais se interage de modo contínuo e informal. As pessoas também pertencem a grupos secundários, como grupos religiosos e profissionais ou associações de classe, que costumam ser mais formais e exigir menos interação contínua (Kotler; Keller, 2012). As pessoas também se deixam influenciar por grupos aos quais não pertencem, como grupos aspiracionais, aqueles aos quais se espera pertencer; ou grupos dissociativos, são aqueles cujos valores ou comportamentos são rejeitados. A família é a mais importante organização de compra de produtos de consumo na sociedade, e seus membros constituem o grupo de referência primário mais influente. Podemos distinguir dois tipos de família na vida do comprador. Primeiro, a família de orientação, que consiste nos pais e irmãos, e a chamada família de procriação — o cônjuge e os filhos (Kotler; Keller, 2012). Solomon (2011) destaca que as famílias tradicionais mudaram muito na última década e coloca a chamada família por aproximação, em que grupos de pessoas se reúnem por afinidade para fazer atividades sociais. A posição de uma pessoa em cada grupo pode ser definida em termos de papéis e status (Kotler; Keller, 2012). Assim, o papel consiste nas atividades que se espera que a pessoa desempenhe na sociedade, o que implica diretamente no status dessa pessoa na sociedade. As pessoas escolhem produtos que comunicam seu papel e seu status, real ou desejado, na sociedade. 7 2.3 Fatores pessoais As decisões do comprador também são influenciadas por características pessoais, como idade e estágio no ciclo de vida, ocupação e circunstâncias econômicas, personalidade e autoimagem, estilo de vida e valores (Kotler; Keller, 2012). Assim, a escolha de comidas, roupas, móveis e lazer, por exemplo, está, de modo geral, relacionada com a idade, que gera grupos moldados de acordo com o ciclo de vida da família, a idade e o sexo de seus membros ou pelas experiências vividas, como o fato de ser pai, que não são necessariamente fixas, mas mudam ao longo do tempo. Outro fator influenciador é o padrão de consumo, visto que, em momentos de recessão, a escolha de um produto ou de uma marca é extremamente afetada pelas circunstâncias econômicas: renda disponível (nível, estabilidade e periodicidade), economias e bens (incluindo a porcentagem líquida), débitos, capacidade de endividamento e atitude em relação a gastos e poupança. TEMA 3 – DESENVOLVIMENTO DAS PERSONAS A criação de personas é uma forma de criar consumidores-alvo hipotéticos, os quais têm suas características baseadas em dados psicográficos, demográficos e geográficos e informações atitudinais e comportamentais (Kotler; Keller, 2012). Assim, a criação de personas pelas organizações é a busca pelo consumidor que se enquadre no perfil dos produtos ou serviços ofertados, em que os pesquisadores reforçam que “é preciso tomar cuidado para não generalizar demais” e, portanto, o mix de consumidores pode ter outras dimensões fundamentais. Sugere-se, então, a construção de duas a seis personas distintas. A lógica por trás das personas é criar exemplos ou arquétipos de como o cliente-alvo parece, age e sente. Espera-se que sejam tão reais a ponto de garantir que os profissionais de marketing da organização compreendam e valorizem seu mercado-alvo, desse modo, incorporando o ponto de vista do consumidor-alvo em todas as decisões de marketing. (Kotler; Keller, 2012, p. 116) O termo persona é derivado da palavra latina que equivale a máscara, “usadas pelos atores no drama grego para dar significado aos papéis que estavam representando” (Giannini, 2016, p. 138). Assim, a persona é o que imaginamos ser o cliente ideal, que condiz com as características da organização, com a missão da empresa, com o produto ou serviço que está sendo ofertado ao 8 mercado. A formação de uma persona é uma forma de humanizar a marca e aproximá-la dos seus clientes (Spadin; Quincoses, 2015). “A persona deve levar em conta a história da marca, características emotivas e físicas, personalidades, valores e ideias compatíveis com o público-alvo” (Spadin; Quincoses, 2015, p. 2). Assim, o estudo de persona de uma marca busca entender como a própria marca conseguiu, ao longo do tempo, posicionar-se para um grupo de consumidores, passando assim a “ser representada e percebida pelos públicos de forma mais espontânea e informal” (Spadin; Quincoses, 2015, p. 2). Essa percepção e relevância da marca pelos usuários se dá pela própria interação dos indivíduos e suas representações. Segundo Recuero (2010, p. 27), “entender como os atores constroem esses espaços de expressão é também essencial para compreender como as conexões são estabelecidas”. Giannini (2016) cita Margaret Mark e Carol Pearson, que criaram 12 arquétipos (baseados na teoria proposta por Carl Jung) que contribuem para a definição de uma persona para marcas que buscam o relacionamento com seu público. Quadro 3 – Arquétipos GRUPOS ARQUÉTIPOS ESTABILIDADE E CONTROLE Percebido quando os indivíduos querem ter certo controle das coisas ou um poder nas mãos. CRIADOR Este arquétipo está ativo nos indivíduos que se sentem compelidos a criar ou inovar – caso contrário, sufocam. Qualquer atividade de cunho artístico é útil na satisfação do desejo de harmonia e de estabilidade, além de elevar a autoestima do indivíduo. No que se refere à sua utilização como ferramenta de marketing, este arquétipo fornece, ainda, uma evocação de status a seus produtos. PRESTATIVO Trata-se daquele que é um altruísta, movido pela compaixão, pela generosidade e pelo desejo de ajudar os outros. Ele teme a instabilidade e a dificuldade, não tanto por si mesmo, mas pelo impacto sobre as pessoas menos afortunadas ou menos resistentes aos choques. É percebido em atividades relacionadas à prestação de serviços, tanto para indivíduos quanto para organizações e corporações. GOVERNANTE Identifica-se como indivíduo que está no comando e no controle sempre. É típico ser mostrado como indivíduo extremamente responsável, que joga com muitas responsabilidades importantes. Os produtos e serviços relacionados ao arquétipo reafirmam o poder, o prestígio e o status do cliente ou do consumidor. Geralmente são relacionados a públicos de classe “A”. PERTENÇA EPRAZER Encontramos situações em que o indivíduo sente profunda necessidade de pertencer a um grupo. BOBO DA CORTE O desejo básico, aqui, é ser espontâneo e recuperar aquele espírito brincalhão que todos nós tínhamos quando éramos pequenos. CARA COMUM É representado por uma linguagem de um modo coloquial e contrária a todo o tipo de elitismo. O objetivo deste arquétipo é fazer parte do grupo e ser igual a todos. AMANTE O amante quer um tipo mais profundo de conexão: que seja íntima, genuína e pessoal. É comum nas indústrias de cosméticos, joias, moda e turismo. MAESTRIA E RISCO Identificado por indivíduos que querem fazer algo notável e ser lembrados para sempre ou quando lutam pelos sonhos, HERÓI Neste arquétipo, o indivíduo se fortalece com o desafio, sente-se ultrajado pela injustiça e responde rápida e decisivamente à crise ou à oportunidade. Pode ser utilizado no marketing ligado a causas sociais, como o próprio marketing social – que busca influenciar o comportamento de um determinado público-alvo, visando a um maior bem-estar da sociedade no longo prazo. 9 mesmo que para isso seja preciso quebrar regras e superar desafios. FORA DA LEI Este arquétipo é conhecido também como revolucionário e libera as paixões reprimidas da sociedade. Quando a consciência do fora-da- lei está presente, as pessoas têm uma percepção mais aguda dos limites que a civilização impõe à expressão humana. MAGO Este é o arquétipo daqueles que desejam buscar os princípios essenciais que regem o funcionamento das coisas e empregá-los para que estas aconteçam. São motivados pelo desejo de transformação pessoal e pela oportunidade de mudar as pessoas, as organizações e a época. INDEPENDÊNCIA E SATISFAÇÃO Percebido quando há um desejo de ficar só, refletir, decidir e conhecer o verdadeiro eu. INOCENTE Quando o inocente está ativo em uma persona, ela é atraída para a certeza, para ideias positivas e esperançosas, para imagens simples e nostálgicas, para promessa de resgate e redenção EXPLORADOR É o arquétipo que determina indivíduos a explorar o mundo e, nesse processo, encontrar a si mesmo para poder saber quem ele é. SÁBIO Predomina no caráter do indivíduo, há grande e constante motivação e interesse pelo aprendizado. Fonte: elaborado com base em Giannini, 2016. É importante destacar neste aspecto que a criação da persona para uma organização permite melhorar a comunicação entre empresa e seus clientes, reduzindo os investimentos em publicidade e esforços de marketing para trazer os clientes para sua loja, seja ela física ou virtual. A web é o ambiente que possibilita a coleta de dados sobre seus clientes de maneira ágil e com uma redução grande de investimentos. A construção de personas ajuda as organizações a se relacionarem com seus públicos, humanizando a marca, resultando em maior identificação de seu público. As organizações podem, portanto, com base nos dados de cadastros internos de seus clientes, como nome, renda, banco, ticket médio, curva ABC de venda de produtos, dias e horários de maior movimento e localidade da residência, levantar hábitos, gostos pessoais, formas de expressão, assuntos com maior número de “likes”, enfim, uma infinidade de dados que permitem criar a persona pautadas em dados internos de cadastro. Temos que entender que na web, assim como nas lojas físicas, o conhecimento do nosso cliente, por meio do desenho da persona, permite às organizações ações de comunicação direcionadas, com o intuito de gerar mais clientes, seja nas lojas físicas ou nas lojas virtuais, promovendo ações de merchandising digital ou presencial mais atraentes e diferenciadas para quem realmente importa. 10 TEMA 4 – COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NA ERA DIGITAL E MÉTRICAS DE MONITORAMENTO O sucesso do marketing está relacionado diretamente às empresas se conectarem plenamente com seus clientes. “Adotar o conceito de marketing holístico significa entendê-los – adquirir uma visão de 360 graus tanto do cotidiano como das mudanças que ocorrem ao longo do ciclo de vida deles para assegurar que os produtos certos estão sendo comercializados para os clientes certos da maneira certa” (Kotler; Keller, 2012, p. 163). Os autores ainda reforçam que o comportamento do consumidor é o estudo de como indivíduos, grupos e organizações selecionam, compram, usam e descartam bens, serviços, ideias ou experiências para satisfazer suas necessidades e desejos. Sim, devemos entender desde o momento de seleção até o momento de descarte. Não somente na perspectiva de compra, mas com o avanço da internet, desde a década de 1990, e o surgimento da WEB 2.0, o nascimento da Word Wide Web, o consumidor teve um empoderamento maior sobre as marcas, passando de consumidor para produtor de mídia. Esse empoderamento já teve seu início na década de 1970 com a invenção do controle remoto, permitindo ao telespectador selecionar o tipo de propaganda que ele estava disposto a assistir (Gabriel, 2010). O evento pandemia foi um divisor de águas no comportamento do consumidor, alterando drasticamente a forma de procura e compra do consumidor atual. Com a pandemia, muitas pessoas passaram a experimentar uma vida mais ampla no meio do digital. O primeiro fenômeno foram os buscadores, que mudaram completamente a maneira como as pessoas procuram soluções de todos os tipos, e o segundo fenômeno é protagonizado pelas redes sociais, que mudaram completamente a relação entre as marcas e seus consumidores (Abreu, 2020). Segundo o autor, o consumidor 4.0 tem algumas características importantes: Quadro 4 – Características do consumidor 4.0 Exigente Esse consumidor não se convence com bons produtos e serviços: ele espera que suas marcas preferidas sejam inspiradoras, reflitam seus valores e atuem a favor de causas importantes. Curioso Ao pesquisar sobre um produto, ele não se satisfaz com informações básicas, como preço, detalhes e condições de pagamento. Ele completa a pesquisa em busca de análises, depoimentos e outros 11 argumentos que comprovem a relevância e a qualidade do que pretende comprar. Interativo O consumidor tem a oportunidade de interagir diretamente com as publicações das suas marcas, participando ativamente do seu desempenho e da sua repercussão. Independente As novas gerações são ansiosas, não têm paciência para anúncios e gostam de resolver seus problemas de maneira intuitiva, sem muitas etapas. Fonte: elaborado com base em Abreu, 2020. Diversas são as métricas de monitoramento e acompanhamento de resultados para o marketing monitorar os resultados de campanhas e ações de engajamento. Gabriel (2010) define a análise de dados dos indivíduos como “engenharia social”, que se traduz em práticas e esforços para influenciar atitudes e comportamentos dos indivíduos por meio de obtenção e análise de dados pessoais deles. A empresa especializada em software de gestão de mídias sociais Resultados Digitais publicou algumas métricas importantes que devem ser monitoradas pelas organizações: Quadro 5 – Métricas que devem ser monitoradas Taxa de conversão de visitantes para leads O objetivo é obter o contato do usuário que está navegando no site, além de entender quem ele(a) é para trabalhar mais adiante sua nutrição, se necessário. É possível comparar o número de acessos com o número de contatos cadastrados para descobrir esta taxa. Número de trials ativos ou de versões freemium Não basta que um usuário teste o seu produto. Se ele não está ativo, não perceberá os benefícios da sua ferramenta. Logo, não pagará por ela. É necessário que o lead se cadastre, mas vá além. Aqui você consegue identificar o número de engajamentos ao produto testado. Índice de churns Garantir que o seu negócio é sustentável e que tem possibilidade de crescer. Esta taxa é calculada pela perda de clientes conquistados, e,uma vez identificada, é possível se prever a possível perda em um mercado em crescimento. Exemplo: uma empresa conquistou 100 clientes no primeiro mês e perdeu 3 desses clientes, sua taxa de churn é de 3%. Percentual de clientes ativos É possível acompanhar quantos clientes você tem na base, como também prever quem se desligará. Se um cliente não utiliza o seu produto ou serviço há semanas, é possível que ele esteja prestes a cancelar o contrato com a sua empresa. Clients growth rate (taxa de crescimento de clientes) Com essa métrica, acompanhamos o crescimento da porcentagem de novos clientes que a empresa alcançou em determinado período, ou seja, o número de novas vendas. Custo por lead (CPL) Permite conhecer o valor de cada lead gerado, dividindo a quantidade investida com o trabalho de marketing digital (R$) pelo número de leads gerados, advindos das diversas fontes de tráfego. MRR (receita mensal recorrente) e ARR (receita anual recorrente) Essas métricas estão relacionadas principalmente a negócios SaaS e empresas de serviços recorrentes, por exemplo em que o cliente paga pela utilização do serviço ou produto com mensalidades recorrentes. Fonte: elaborado com base em RD Station. 12 É importante identificar quais métricas serão acompanhadas e quais KPIs deverão ser gerados, que sejam relacionados diretamente à estratégia e à ação a que a organização se propõe. TEMA 5 – TECNOLOGIAS APLICADAS AO CONSUMIDOR Todos os anos, o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação – CETIC.Br lança os estudos a respeito do uso da web pela população brasileira. O que o relatório de 2022, referência de 2021, mostra é o uso massivo dos dispositivos móveis e o acesso a internet por cerca de 83% da população, independente da renda, sexo ou idade. Isso significa que, se você não adaptar os seus canais de comunicação para essa forma de acesso, provavelmente seu impacto será muito menor. Gráfico 2 – Uso da web pela população brasileira Fonte: elaborado com base em Storino, 2022. Visando esse novo cenário do consumidor e sua relação com a internet e a tecnologia, destacamos algumas ferramentas que devem ser consideradas para atrair seus consumidores e aumentar suas vendas: RFID ou “sistema de identificação por rádio frequência tem por finalidade rastrear e identificar o movimento de um determinado objeto, e o mesmo acontece por ondas de rádio” Gabriel (2010, p. 161). Este sistema possui diversas aplicações, como: • Uso em lojas de departamentos para controle de produtos. • Controle de consumo. • Segurança contra perdas e roubos. 0% 20% 40% 60% 80% 100% M an do u m en sa ge ns in st an tâ ne as Co nv er so u po r ch am ad a de v oz ou v íd eo U so u re de s s oc ia is As sis tiu a v íd eo s, pr og ra m as , f ilm es ou sé rie s O uv iu m ús ic as Le u jo rn ai s, re vi st as o u no tíc ia s Ac om pa nh ou tr an sm iss õe s d e áu di o ou v íd eo … Bu sc ou in fo rm aç õe s s ob re sa úd e Fe z t ra ns aç õe s fin an ce ira s 13 • Integração de ações e campanhas de marketing. • Modalidades esportivas de alta velocidade. • Pagamentos automatizados. • Sistemas hospitalares. As aplicações mais comuns estão nas etiquetas de produtos e em sistemas de acesso. As etiquetas ainda podem ser passivas – quando utilizam a rádio frequência do leitor para transmitir o seu sinal e suas informações são gravadas definitivamente – ou ativas – possuem uma bateria própria e transmitem o sinal para uma distância razoável, permitindo o armazenamento em memória. Bluetooth e Wi-Fi – uma tecnologia sem fio que permite a troca de dados por meio de ondas de rádios de curta frequência entre dispositivos móveis (Gabriel, 2010). Devemos esclarecer algumas definições sobre as nomenclaturas aplicadas: wireless, Wi-Fi e Bluetooth. A primeira é utilizada para qualquer tecnologia de transmissão de uma rede sem fio, a citar, Wi-fi, Bluetooth, satélite ou radio frequência. Wi-Fi permite a criação de uma rede de dados, substituindo os cabos de redes, e seu principal componente é o famoso “roteador”, responsável por transformar o tráfico da rede em ondas de rádio. Por fim, o Bluetooth, que permite conectar diversos dispositivos, como impressoras, mouses, monitores, controles etc. As redes Wi-Fi possuem grande aplicação em lojas, restaurantes, shoppings e escritórios, sendo utilizadas pelo marketing na coleta de dados dos consumidores, uma vez que o acesso à rede necessita de informações de contato, que podem ser cruzadas com informações de seus perfis em redes sociais para conhecer seus gostos, seus hábitos e sua rede de relacionamento. Com base nesses dados, é possível realizar diversas ações, como: • Encaminhar informações institucionais da empresa. • Solicitar a indicação do indivíduo para a rede de contatos dele. • “Marcar” a visita com data e hora. • Determinar frequência de compras. • Obter informações demográficas, como local de origem. • Cruzar com informações de gastos realizados e tipos de produtos. SMS – ou serviço de mensagem curta – completou mais de 30 anos e permite o envio de mensagens de texto pelos celulares. Apesar de ser uma tecnologia relativamente antiga, ainda é muito utilizado pelas empresas para se 14 comunicar com seus clientes (Gabriel, 2010). É fácil entender como essa tecnologia perpetua por mais de 30 anos quando analisamos os dados do último relatório TIC Municípios 2021, em que, em média, 64% de pessoas acessam a internet somente pelo celular. Como característica, uma mensagem SMS: • Possui limitação de 156 caracteres. • Não necessita de rede 3G ou 4G para envio das mensagens. • Tem o envio de dados tarifado individualmente pelas operadoras. • Não permite o envio de mensagens com imagens ou voz. • Necessita de uma central e uma operadora para o disparo. Assim, o uso desta tecnologia se perpetua pela necessidade de comunicação com os clientes e usuários, mas deve ser em função das suas limitações e alguns custos razoáveis, uma vez que é tarifado. WhatsApp – esta ferramenta no Brasil desponta como a principal rede social para conversação, com cerca de 170 milhões de usuários segundo a RD Station. É um aplicativo para smartphones, multiplataforma, que permite a transmissão de mensagens de texto, voz, imagens ou vídeos e ainda permite a conversação via web somente com voz ou também por vídeo. Diversas são as aplicações do WhatsApp, e, por ser uma tecnologia muito amigável, muitas empresas estão utilizando o aplicativo como uma ferramenta de contato e relacionamento com clientes, automação das equipes de vendas e, principalmente, para agilizar as comunicações. GPS e Mobile Tagging – o sistema de posicionamento global trabalha por meio de satélites e fornece o posicionamento de dispositivos receptores do sistema, composto por três partes: espacial, controle e do usuário. O GPS opera calculando a localização tridimensional (latitude, longitude e altitude), associada ao tempo, por meio do sinal que recebe dos satélites (Gabriel 2010). Diversas são as aplicações desta tecnologia, sendo as mais conhecidas o Google Maps e o Waze. Segundo o próprio Google, o Waze é usado e atualizado por motoristas do mundo inteiro, que se conectam uns aos outros e trabalham juntos para aperfeiçoar suas experiências ao dirigir. Assim como o Waze, diversos outros aplicativos de redes sociais e de comunicação utilizam recursos de GPS, como: 15 Quadro 6 – Aplicativos que utilizam recursos de GPS Foursquare Rede geossocial que permite ao usuário indicar onde se encontrar e procurar por seus contatos que estejam próximo do seu local. Ifood Aplicativo, considerado rede social para refeições, que permite localizar os restaurantes próximos à sua localização, efetuar a compra, acompanhara entrega e pontuar o atendimento. Uber / 99 Aplicativos de compartilhamento de carros permite visualizar em tempo real a rota do veículo chamado, o tempo de chegada e o valor cobrado. Snapchat Rede social que permite ao usuário criar um avatar e comunicar-se com seus contatos ao redor do mundo. Similar ao WhatsApp, mas envia imagens pelo bate-papo que só duram alguns segundos e são 'destruídas' em seguida. Mobile Tags – os mais conhecidos são os códigos de barras, presentes em 100% dos produtos comprados e muito utilizados no comércio, os quais identificam, além do sequencial do produto e da empresa fabricante, o país e o continente de origem. Em 1994, a empresa Denso criou um símbolo bidimensional, destinado ao uso e à produção de peças automotivas, e mais tarde reconhecido e aprovado como um padrão internacional ISO/IEC 18004. Conhecido como QR-Code, trata-se de uma simbologia matricial que consiste em uma série de módulos quadrados, dispostos em um padrão geral, incluindo um padrão de busca único e destinados a facilitar a localização da sua posição, seu tamanho e sua inclinação. As aplicações do símbolo são imensas na indústria e no comércio, e hoje é possível qualquer empresa criar seu QR-Code gratuitamente em sites da web, por exemplo: • QR Code Generator, disponível em <https://www.qr-code-generator.com/> – oferece uma série de opções de customização, como mudar a cor do código, criar etiquetas personalizadas e até incluir um logotipo de sua empresa, se assim desejar. • QR Code Fácil, disponível em <https://qrcodefacil.com/> – permite a geração e a personalização de QR Codes, como alterar o fundo, as cores e o formato da imagem e inserir um logotipo, assim como o Generator mencionado anteriormente. Existem diversos tipos de mobile tags, sendo o QR-Code o mais conhecido entre todos, o qual, por sua fácil utilização em dispositivos como telefones celulares, possui vasta aplicação comercial e em campanhas de marketing. 16 Figura 1 – Tipos de mobile tags Fonte: Gabriel, 2010. REFERÊNCIAS ABREU, L. Comportamento do consumidor digital: como é esse perfil e dicas para se comunicar melhor com ele. Rock Content. Disponível em: <https://rockcontent.com/br/blog/comportamento-do-consumidor-digital/>. Acesso em: 28 maio 2023. GABRIEL, M. Marketing na era digital. São Paulo: Novatec, 2010. GIANNINI, L. Comunicação e relacionamento: a criação de personas para atuação de instituições públicas em redes sociais digitais. Tematica, ano XII, n. 11, p. 133- 148, nov. 2016. KOTLER, P., KELLER, K. L. Administração de marketing. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012. RAPOSO, J. T.; ROBINSON, R. Estratégias de captação do neoconsumidor: um estudo cienciométrico. 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