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Aula - Tipografia (1)

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Grupo de Estudo / Sistema de Representação Bidimensional
Profª Sophia Costa
Design / CARUARU / 60 horas / manhã – 8:00 às 12:00 / noite – 18:00 às 22:00
TIPOGRAFIA
	Estima-se que a escrita, no sentido de uma verdadeira preservação do pensamento e da fala, começou a existir no momento em que desenhos ou sinais surgiram relacionados diretamente com as sílabas, palavras ou frases pronunciadas.
	Calcula-se que os primeiros “escribas” da proto-história tenham vivido no quinto milênio antes de Cristo, na região do Oriente Médio. Com a ajuda dos chamados “pictogramas”, esquematizavam objetos, datas e ações. No entanto, a escrita propriamente dita nasceu apenas no momento em que começaram a organizar e “alinhar” os sinais lado a lado ou um sobre o outro, correspondendo à evolução linear dos seus pensamentos. Desse modo, pouco a pouco foram surgindo fileiras de sinais que, graças ao seu uso constante, desenvolveram-se até formar as culturas de escrita contínua.
As escritas que permaneceram figurativas
	Essa categoria abrange todas as escritas que não sofreram alterações importantes, mesmo ao longo de muitos séculos, pois seus sinais, embora estilizados, mantiveram-se no estágio pictórico. A prova viva disso é a escrita chinesa. Em sua forma arcaica, o sinal para representar o cavalo, por exemplo, é facilmente identificável. Embora a forma em si tenha sido sistematizada após algum tempo, seus movimentos e traços principais ainda permanecem no sinal atual.
As escritas “alfabéticas”
	Por elas entendem-se todas as escritas, cujos pictogramas originais sofreram transformações em que o traçado foi reduzido à simplificação extrema. Esse fato torna-se mais evidente no alfabeto latino.
Uma origem comum?
	Quem estuda a história das várias línguas escritas de nossa civilização procura em vão uma origem comum para a formação dos sinais. De fato, já foram feitas muitas tentativas de estabelecer aproximações e associações entre escritas primitivas de diferentes regiões e continentes. Porém, nunca foi possível estipular relações uniformes e é improvável que se consiga chegar a tal resultado nesse campo.
	Não obstante, os sinais elementares apresentam analogias inevitáveis, pelo menos no que diz respeito à representação pictórica de objetos, que deve ter sido comum a todos os povos. Basta pensar nas reproduções de figuras humanas e de animais, nos modelos típicos de armas, como flechas, etc. Certamente, em todas as partes do mundo a Lua foi representada por uma foice, a montanha por um triângulo e a água por uma linha ondulada. No entanto, isso não nos permite acreditar na existência de uma “escrita primitiva”, mas sim numa capacidade de observação aguçada e numa sensibilidade particular de interpretação, própria dos antigos escribas.
1. O ABC do mundo ocidental
	A partir do primeiro milênio antes de Cristo iniciou-se, na Europa Ocidental, a evolução mais significativa da história da escrita: o alfabeto greco-latino.
	A origem desse alfabeto certamente pode ser atribuída ao alfabeto fenício. O estilo fenício contentava-se com 22 consoantes e algumas semi-consoantes (precursoras das nossas vogais). O alfabeto fenício foi completamente absorvido pelo grego antigo. No entanto, para o registro da língua foram acrescentados quatro sinais. Essa prática de adotar e completar um alfabeto foi mantida por todos os outros povos europeus.
Letras Maiúsculas e minúsculas
	Em todas as partes do mundo e em todas as épocas houve duas formas básicas de expressão no emprego da escrita: de um lado, a inscrição monumental em paredes de rochas, palácios e nas placas de sinalização e, de outro, o desenho corrente e manuscrito nas anotações, correspondências, registros de chancelaria etc.
	Esses dois estilos sempre foram executados, obrigatoriamente, com instrumentos e em materiais diferentes. Por isso, suas formas evoluíram de modo diverso. A escrita monumental capitular conservou sua forma original devido à natureza permanente do seu suporte, geralmente feito de pedra, enquanto a cursiva ou corrente alterou-se intensamente ao longo dos séculos, devido ao uso constante de materiais perecíveis, como placas de cera, papel, etc.
Fotos de templo egípcio com escrita monumental em colunas; 
fotos da Time Square, NY, mostrando uma moderna “escrita monumental”.
	Ao confrontarmos maiúsculas e minúsculas do alfabeto ocidental – que hoje serve de base para as línguas ocidentais – percebemos que, ao se transformarem em minúsculas, as letras latinas passaram, em sua maior parte, por uma intensa metamorfose (A a, B b, D d, E e, etc). Em registros posteriores, como é o caso do alemão e do inglês, foram adotados diretamente do alfabeto grego e romano novos sinais em sua forma monumental, e que por isso não sofreram o demorado processo de redução à minúscula. Sendo assim, as letras K k, W w, Y y, por exemplo, conservaram praticamente a mesma forma capitular. O mesmo vale para o X x, e para o Z z, raramente usados em latim.
	Em relação ao alfabeto maiúsculo e minúsculo, há outro aspecto a ser destacado. A escrita ocidental se articula, teoricamente, com um alfabeto de 26 sinais fonéticos, aos quais foram associadas figuras específicas de acentos e ligaduras, conforme a língua. Nota-se, no entanto, que a forma capitular original não foi substituída pela minúscula. Ao contrário, desde o início da Idade Média, ambas coexistiram. Atualmente, quem escreve dispõe, de certo modo, de dois alfabetos: os das maiúsculas, que com seu aspecto solene salientam as inscrições arquitetônicas, os títulos, o início dos nomes próprios, etc, e o das minúsculas, que se transformaram no principal veículo usado na comunicação escrita, de todo gênero e no sentido mais amplo. Poder dispor de ambos na expressão escrita é, para nós, um enriquecimento extremamente valioso.
2. A evolução da forma por meio de técnicas de escrita à mão e impressa
	O emprego de vários materiais e técnicas não provocou grandes alterações na forma dos caracteres, porém conferiu aos sinais um novo aspecto e um novo estilo em todas as épocas.
	A primeira observação a ser feita é que, com o uso progressivo das escritas em larga escala, os sinais individuais de um alfabeto comum passaram por um processo de adaptação ou de equilíbrio que deu às palavras, linhas e páginas uma expressão concisa. Essa aproximação dos caracteres individuais não sofreu necessariamente uma perda da legibilidade, uma vez que, na leitura habitual, não se lê letra por letra, mas palavras e até mesmo frases inteiras com um só olhar. Sendo assim, a disposição dos sinais da escrita constitui uma espécie de tecido, em que a matéria e o espaço intermediário – portanto, os fios e o entrelaçamento – formam um “malha” legível.
A caligrafia
	O uso de diversos instrumentos de escrita em associação aos materiais de suporte como o papiro e o pergaminho, determinou a “estética” de cada escrita.
	Um dos instrumentos preferidos pelos escribas era a pena oca que, devido às suas qualidades, foi largamente empregada e por dois mil anos manteve-se como a principal ferramenta. Sendo assim, é compreensível que o desenvolvimento das letras alfabéticas tenha sido influenciado pelo uso prolongado de um instrumento e por suas características. As penas ocas eram feitas de junco, mas principalmente – como o próprio nome diz – de penas de aves. O junco era partido na diagonal. Em sua ponta era talhada uma fenda longitudinal, com a extremidade cortada na transversal por razões de estabilidade. Assim surgiu um instrumento que proporcionava ao escriba mais velocidade na escrita, pois o junco formava um reservatório de líquido que diminuía consideravelmente a freqüência com se mergulhava a pena no tinteiro. Além disso, a maciez firme da pena tinha como atrativo deixar fluir sobre o papel uma quantidade maior ou menor de tinta, conforme a pressão fosse mais forte ou fraca. Com esse fluxo controlado da tinta, era possível reforçar as extremidades superiores e inferiores dos traços e, com isso, realçar o alinhamento das letras.
	Sabemosque a beleza de uma pagina caligrafada consiste essencialmente nessa estruturação repetida do tecido da escrita.
	Mais importante ainda é a formação das extremidades, obtida por meio do posicionamento da pena. Como o corte da ponta, a pena passava a desenhar traços de espessuras diferentes, conforme era girada. A execução individual de traços largos com a pena proporcionou uma expressão com um estilo diferente para cada época.
Gravura e Impressão
	Ao longo dos séculos XV e XVI, a caligrafia cedeu grande parte de sua influência sobre a formação da escrita á técnica de impressão de Gutemberg.
	Na impressão tipográfica inventada por Gutemberg, a superfície de impressão do tipo é em relevo. O desenho das letras era gravado sobre a extremidade polida de uma punção de aço. Depois de temperada, a punção era batida num bloco de cobre para formar a matriz, que, por sua vez, servia para fundir as letras em relevo. Esse processo exigia uma moldagem resistente dos caracteres.
A calcografia. No século XVIII, a técnica de impressão a talho-doce, isto é, o processo de entalhar os caracteres no metal, determinou o desenho da forma. As letras eram entalhadas numa placa polida de cobre, sobre a qual a tinta era aplicada. Em seguida a superfície era limpa, de forma que os restos de tinta permanecessem nas cavidades. Sob forte pressão, o papel úmido absorvia a tinta dessas cavidades gravadas e reproduzia a forma das letras. Quem conhece essa técnica compreende facilmente como ela provocou, naquela época, uma alteração no estilo da escrita, como podemos ver nos tipos Bodoni, Waldbaum, Didot, etc. A gravação em cobre estimulava os artesãos a desenhar traços e serifas bem finos. O contraste aplicado em linhas de conexão muito finas e traços descendentes muito espessos, conferiu às letras uma aparência que ainda hoje é usa com o nome de “clássica”.
	A impressão em superfície plana. No final do século XVIII, desenvolveu-se uma terceira técnica de impressão, a litografia. A partir de então, a superfície plana e polida de uma placa de calcário libertava o artesão do buril e da lixa e lhe permitia usar o pincel, a pena, a régua, o compasso ou até mesmo desenhar completamente à mão livre. O desenho, executado sobre a pedra com uma tinta gordurosa, era em seguida fixado quimicamente. Da imagem resultante podia se fazer uma tiragem segundo o conhecido princípio da impressão de tinta que repele a água. É fácil imaginar que essa técnica revolucionaria tenha provocado uma situação totalmente nova para a produção da escrita. Com o fim da dependência do buril, ocorreu uma inevitável inovação no desenho dos caracteres. Serifas e traços de conexão eram reforçados conforme a preferência do desenhista, produzindo caracteres com serifas destacadas (como os egípcios e os italianos), os típicos alfabetos latinos com serifas triangulares, mas também tipos sem serifa, que consolidaram sua origem na litografia.
	É evidente a influência da litografia do século XIX no desenvolvimento dos caracteres de impressão tipográfica. A oferta de tipos nas fundições enriqueceu. O formato das letras passou por uma liberação que, em muitos casos, acabou se degenerando. 
A ampla variedade das letras
	Durante séculos, os escritores e tipógrafos contentavam-se com um único estilo de letra para registrar pensamentos e informações. O repertório consistia em letras maiúsculas e minúsculas, figuras de acentuação, algumas ligaduras, sinais de pontuação e algarismos. Talvez a beleza dos livros antigos, que hoje nos impressiona, deva-se a essa limitação expressiva. 
	A tipografia livresca satisfaz suas exigências com um “tríptico”, que se transformou num padrão e se compõe das seguintes formas dentro de determinado estilo:
escrita normal para o conjunto do texto;
itálico onde houver “ênfase” e no subtítulo;
semibold para vários tipos de destaque, como títulos.
Esses três estilos de escrita forma, de certo modo, uma unidade tipográfica básica, uma seleção padronizada de três possíveis meios de expressão para a tipografia literária.
O advento técnico-comercial do século XX colocou a tipografia na era da publicidade. O repertório tradicional de caracteres não satisfazia mais os criadores de anúncios, prospectos e cartazes. A tipografia clássica não era capaz de inserir o slogan no título ou produzir um equivalente gráfico à frase de efeito. Para dar um suporte visual o texto publicitário, a expressão tipográfica experimentou todas as variações possíveis de estilo, desde o extralight condensado até o ultrabold expandido.
Essa necessidade de manipular forma da letra também leva o criador de caracteres a estabelecer considerações totalmente novas. Não se trata mais apenas de desenhar uma forma única para determinada letra. Desde o início, deve-se incluir no esboço um planejamento que permita ampliar o desenho em inúmeras versões.
A simples “duplicação” desse novo procedimento de desenho estimula a criação de novos adornos para os caracteres, quase sempre no campo da informática. Os resultados, obtidos com a ajuda de uma impressora controlada por computador, são excepcionais, desde que sejam seguidos por um tipógrafo especialista.
A variedade de estilos também se deve à rápida adoção das técnicas de fotocomposição, que permite – na verdade, praticamente exige – uma ampliação cada vez maior do repertório tipográfico, visto que os custos de produção de uma matriz fotográfica não se comparam àqueles necessários á fabricação de uma nova série de matrizes para caracteres de chumbo. Além disso, a maioria das máquinas de fotocomposição proporciona ao tipógrafo rápido acesso a 8, 12, 16 ou mais alfabetos.
A possibilidade de misturar inúmeros caracteres expõe a qualidade estética da tipografia moderna ao perigo de mãos inexperientes produzirem uma composição caótica em termos de imagem. Quanto mais rico for o material à disposição, mais disciplinada deve ser sua manipulação.
Atualmente, a tarefa do criador de um novo tipo não se resume em apenas desenhar o formato dos caracteres de um único alfabeto, da mesma forma como um arquiteto projeta os ambientes de uma casa. A concepção de uma escrita atual consiste, antes, no planejamento superficial e até espacial de uma família inteira de caracteres, com muitas divisões em que as letras variam de tal modo, que incluem algumas vezes formas inusitadas como “supercondensado” ou “superexpandido”, “ultralight” ou “ultrabold”, além das versões em itálico, que vão do “estático” ao “cursivo elegante” ou “cursivo corrente”. Por isso, hoje o plano básico de uma escrita pode ser comparado à planta de uma região ou de uma cidade. A tipografia moderna deixou de ser dedicada apenas ao livro “domestico” para atingir os extensos campos de todas as atividades humanas, que exigem dela uma enorme variedade de formas.
USOS INUSITADOS DA TIPOGRAFIA
Camisas Crimes Tipográficos – Autor: Corisco Design
Cliente: Corisco Design
Os Crimes Tipográficos são uma série de estampas criadas a partir de composições que misturam fontes diversas sem a interferência de qualquer outro grafismo. Criadas experimentalmente sem nenhum intuito comercial, mais tarde foram aplicadas numa série de camisetas, como uma grife auto-promocional da Corisco Design. Projeto destaque na categoria Fashion no Salão Pernambuco Design 2004
Baralho Tipográfico – Autor: Tony de Marco
http://ubbibr.fotolog.com/tonydemarco/?photo_id=13079829
Carta que eu fiz usando somente a fonte Constructivist, para o novo catálogo/baralho da typefoundry P22. http://www.p22.com/
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