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Recursos Terapêuticos Físicos Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Igor Phillip dos Santos Glória Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Termorregulação e Crioterapia • Proporcionar o entendimento sobre os aspectos referentes à termorregulação do corpo humano e os efeitos fi siológicos do calor sobre os diferentes sistemas corpóreos; • Proporcionar ao aluno o entendimento sobre os aspectos referentes à Crioterapia, seus efeitos fi siológicos, as técnicas de aplicação e a entender as melhores formas e os momentos de indicação ao uso de tal recurso terapêutico no tratamento de seus pacientes. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Fisiologia da Termorregulação Normal; • Termoterapia; • Temperaturas Corporais Normais; • Crioterapia; • Efeitos Fisiológicos; • Lesões Provocadas pelo Frio. Termorregulação e Crioterapia UNIDADE Termorregulação e Crioterapia Fisiologia da Termorregulação Normal O homem necessita que a temperatura interna seja constante e o seu sistema termorregulador mantém a temperatura central próxima de 37 ºC (varia entre 36,1 e 37,8 °C) para a conservação das funções metabólicas. A manutenção da normotermia nos animais homeotermos, como o homem, é uma função muito importante do sistema nervoso autônomo. Já ́com pequenas alte- rações da temperatura central, podem ocorrer alterações metabólicas e enzimáticas. A termorregulação é realizada por um sistema de controle fisiológico, que con- siste em termorreceptores centrais e periféricos, um sistema de condução aferente, o controle central de integração dos impulsos térmicos e um sistema de respostas eferentes levando a respostas compensatórias. No hipotálamo situa-se o sistema de controle central, que regula a temperatura do corpo ao integrar os impulsos térmicos provenientes de quase todos os tecidos do organismo, e não apenas em relação à temperatura central do organismo, o que tem sido considerado como temperatura corporal média. Quando o impulso integrado excede ou fica abaixo da faixa limiar de temperatura, ocorrem respostas termorregu- ladoras autonômicas, que mantêm a temperatura do corpo em valor adequado. Os impulsos termais aferentes provêm de receptores anatomicamente distintos ao frio e ao calor, os quais podem ser periféricos ou centrais. Também existem receptores termossensíveis localizados na pele e nas membranas mucosas, que fa- zem a mediação da sensação térmica e contribuem para a ocorrência dos reflexos termorregulatórios. Esses receptores também respondem à sensação mecânica. O controle termorregulatório é semelhante no homem e na mulher, mas diminui no idoso e em pacientes gravemente enfermos. Termoterapia É uma modalidade terapêutica, onde são utilizados agentes térmicos com objeti- vos fisioterapêuticos de prevenção e cura, pela diminuição ou aumento da tempe- ratura tecidual. Termoterapia Hipertermoterapia Super�cial Profunda Hipotermoterapia Figura 1 – Classificação 8 9 Hipertermoterapia Superficial É o tratamento através da ação do agente terapêutico de forma localizada e alcançando pouca profundidade (poucos milímetros) no segmento corporal, resul- tando em alteração térmica superficial. Tabela 1 Efeitos Fisiológicos Efeitos Terapêuticos Aumento da temperatura local. Alívio do quadro de dor. Expansão dos tecidos. Relaxamento muscular. Redução da viscosidade dos fluidos. Aumento do fluxo sanguíneo local. Promove a extensibilidade do colágeno. Vasodilatação local – hiperemia. Aumento do metabolismo – Lei de Van ‘t Hoff. Reparo dos tecidos. Diminuição da atividade do fuso muscular. Redução da rigidez articular – flexibilizante. Aumento da atividade das glândulas sudoríparas. Melhora do retorno venoso e linfático. Aumento do consumo de oxigênio. Diminuição do espasmo muscular. Favorece a defesa e imunidade. Métodos de aplicação da hipertermoterapia superficial • Forno de bier; • Banho de parafina; • Compressa quente; • Bolsas de termogel e de Água Quente. Banho de parafina É uma forma de transferência de calor superficial, em que se usa a parafina der- retida misturada com óleo mineral a uma temperatura de mais ou menos 52 °C a 54 °C, com fins terapêuticos. Figura 2 9 UNIDADE Termorregulação e Crioterapia Apresentação Física O equipamento necessário para a realização do banho de parafina é composto por um tanque de aço inoxidável, cheio de água, que pode ser aquecida com o uso de um resistor de níquel-cádmio. Dentro desse tanque contendo água, teremos uma outra caixa metálica de dimensões menores contendo a parafina, que será derretida pelo aquecimento da água presente no tanque (banho-maria). Figura 3 – Banho de parafina nas mãos Fonte: Getty Images Preparação da Parafina A parafina em estado sólido é colocada dentro da caixa metálica com óleo mine- ral líquido, em uma proporção de uma parte de óleo mineral para quatro partes de parafina. Deve se ter o cuidado de não deixar a parafina nem muito compacta nem muito diluída. Liga-se o interruptor de força e coloca-se o termostato em 70 °C a 80 °C. O ponto de fusão da parafina gira em torno de 54 °C. Depois de completa- mente fundida, baixa-se a temperatura do tanque em torno de 51 °C. Preparação do paciente e medidas de higiene É fundamental a assepsia da parte a ser tratada para evitar contaminação, portanto, peça ao paciente para lavar muito bem a região com água e sabão e escovar as unhas. Mantenha o tanque de parafina fechado quando não estiver em uso, para evitar a deposição de microrganismos. Limpe a parafina com frequência e nunca reponha parafina que já foi utilizada antes que ela passe por um processo de limpeza – o que já foi descrito anteriormente. Tabela 2 Efeitos Fisiológicos Efeitos Terapêuticos Vasodilatação. Analgésico. Aumento do fluxo sanguíneo. Relaxante. Aumento do metabolismo. Flexibilizante. 10 11 Efeitos Fisiológicos Efeitos Terapêuticos Aumento do aporte de oxigênio. Anti-inflamatório. Aumento da extensibilidade do colágeno (diminui rigidez articular). Melhora o retorno venoso e linfático. Técnicas de aplicação • Imersão contínua: Coloca-se a área a ser tratada diretamente na cuba de parafina. Esse método é pouco utilizado, pois o segmento permanece na pa- rafina durante 30 minutos. É pouco tolerado pela maioria dos pacientes, pois a temperatura está em torno de 51 °C a 52 °C; • Imersão repetida: Coloca-se o segmento a ser tratado na cuba de parafina. Se for a mão, preferencialmente com os dedos estendidos e abduzidos, logo em seguida retire-os e aguarde de 3 a 5 segundos repetindo o processo de 5 a 7 vezes até formar uma “luva de parafina”. Essa técnica é a mais utilizada. O tratamento dura 30 minutos; • Pincelamento: Com a ajuda de um pincel, formar uma camada espessa de para- fina na área a ser tratada. Depois cobri-la com um plástico e colocar uma toalha felpuda com a finalidade de manter a temperatura. Essa técnica também está caindo em desuso, é a técnica menos utilizada. Esse tratamento dura 30 minutos; Figura 4 Fonte: Getty Images • Enfaixamento: Passar a parafina com o auxílio de um pincel na área a ser tra- tada. Enfaixar uma vez a região com atadura; colocar outra camada de parafina por cima da atadura e enfaixar novamente, realizando o processo sucessivamen- te de 7 a 8 vezes/faixas. O paciente permanece com a faixa de 25 a 30 minutos. Cuidados • Examinar a área a ser tratada antes e depois da utilização do banho de parafina; • Limpar a área antes e depois do banho de parafina; 11 UNIDADE Termorregulação e Crioterapia • Sempre testar a sensibilidade térmica do paciente antes do banho de parafina; • Avisar ao paciente sobre o desconforto do calor no início do tratamento; • Manter o segmento imóvel para que não haja rachaduras e a consequente perda de calor. Contra indicações • Áreas com alteração de sensibilidade; • Traumas e quadros inflamatórios agudos; • Febre; • Áreas desvitalizadas e isquêmicas; • Áreas hemorrágicas; • Lesões de pele: feridasou cortes; • Doenças dermatológicas. Indicações • Artrose; • Artrite; • Artralgia; • Tendinite; • Cicatrizes queloides; • Fibrose pós-imobilização; • Pré-cinesioterapia; • Mialgia; • Entorse; • Retrações musculares. Compressa Quente Material • 1 toalha felpuda de tamanho médio, água quente em torno de 45 a 50°; • Preparação do paciente: o local onde será aplicada a compressa deve es- tar desnudo, sem objetos metálicos, como pulseiras, tornozeleiras. O paciente deve estar confortavelmente posicionado; • Técnica de aplicação: mergulhar a toalha em água quente e, logo em seguida, retirá-la. Deve se fazer uma leve torcedura na toalha com a finalidade de retirar o excesso de água. Se for conveniente, pode-se repetir o processo 2 ou 3 vezes. Dobrar a toalha, para que fique em um tamanho adequado com a área a ser trata- da, e aplicar a compressa diretamente no local a ser tratado por 20 a 25 minutos; 12 13 • Considerações: a compressa tende a esfriar-se rapidamente pela troca ca- lórica com o meio, portanto, as compressas devem ser substituídas a cada 5 minutos, a fim de manter a temperatura local até o final do tempo estipulado para o tratamento. Compressa quente: https://bit.ly/2wNDCo0 Ex pl or Bolsas de termogel e de água quente Material São artefatos industriais encontradas em casas especializadas. A bolsa de termogel é composta de uma substância capaz de absorver a energia calórica e de mantê-la por certo tempo (ex.: silicone) armazenada em uma bolsa plástica resistente e lacrada. A bolsa de água quente é um artefato feito de borracha, resistente, com um bocal em uma das extremidades, por onde é introduzida a água quente. Figura 5 – Bolsa • Preparação do paciente: o local onde será aplicada a compressa deve es- tar desnudo, sem objetos metálicos, como pulseiras, tornozeleiras. O paciente deve estar confortavelmente posicionado. Técnica de aplicação • Bolsa de termogel: colocar a bolsa de termogel em um recipiente contendo água quente e deixá-la até que a substância contida no seu interior absorva a energia calórica. A bolsa de termogel é retirada e o fisioterapeuta verifica se a 13 UNIDADE Termorregulação e Crioterapia temperatura está adequada para a aplicação. Aplica-se a bolsa diretamente no local a ser tratado por 20 a 25 minutos; • Bolsa de água quente: disponibilizar água quente e colocar dentro da bolsa. Feche-a e aplique na área a ser tratada de 20 a 25 minutos; • Considerações: em pessoas muito sensíveis, a temperaturas elevadas, pode- -se colocar uma toalha úmida entre a pele e a bolsa; Tenha a certeza de que a tampa da bolsa está bem fechada, a fim de evitar acidentes com queimaduras. Temperaturas Corporais Normais A temperatura dos tecidos profundos do corpo – o “centro” do corpo – perma- nece em níveis bastante constantes, dentro de ±1 °F (±0,6 °C), dia após dia, exceto quando a pessoa desenvolve doença febril. Na verdade, a pessoa nua pode ser exposta a temperaturas que variam de 13 a 60 °C, no ar seco, e ainda manter sua temperatura central quase constante. Os mecanismos para a regulação da tempe- ratura corporal representam um belo sistema planejado de controle. A temperatura da pele, em contraste com a temperatura central, se eleva e dimi- nui de acordo com a temperatura a seu redor. A temperatura da pele é importante quando nos referimos à capacidade de a pessoa perder calor para o ambiente. Em razão de tal, a temperatura central média normal, em geral, é considerada como entre 36,1 e 37,8 °C, podendo variar de acordo com o momento do dia. A temperatura corporal se eleva durante o exercício e varia com as temperaturas extremas do ambiente porque os mecanismos regulatórios da temperatura não são perfeitos. Quando o calor excessivo é produzido no corpo pelo exercício vigoroso, a temperatura pode se elevar, temporariamente. De forma inversa, quando o corpo é exposto a frio extremo, a temperatura, em geral, pode cair até valores mais baixos. Como o calor é perdido pela superfície cutânea São diversos métodos pelos quais o calor é perdido pela pele para o meio am- biente. Eles incluem a radiação, a condução, a convecção e a evaporação, explica- das a seguir. • Radiação: é o primeiro método para a liberação do calor excessivo do corpo, sendo esse liberado sob a forma de raios infravermelhos. A maior parte dos raios infravermelhos que se irradiam do corpo apresenta comprimentos de onda entre 5 e 20 micrômetros, 10 a 30 vezes o comprimento de onda dos raios de luz. O corpo humano irradia os raios de calor em todas as direções. Se a tempera- tura do corpo é maior do que a temperatura do ambiente, maior quantidade de calor é irradiada pelo corpo do que a que é irradiada para o corpo. Tal perda de calor corresponde a 60% da perda em repouso e 5%, em exercício; 14 15 • Condução: corresponde à transferência de calor de um material para o outro, por meio do contato molecular direto. Exemplo: a condução direta a partir da superfície corporal para objetos sólidos, como uma cadeira ou uma cama; Deve ser lembrado que o calor, na verdade, é a energia cinética do movimento molecular e que as moléculas da pele são submetidas a movimento vibratório contínuo. Grande parte da energia desse movimento pode ser transferida para o ar se esse for mais frio do que a pele, aumentando dessa forma a velocidade do movimento das moléculas do ar; • Convecção: ocorre quando parte de um fluído é aquecida, dessa forma, a ener- gia cinética das moléculas aumenta e leva a um afastamento entre si das molé- culas que ascendem. Pequena quantidade de convecção quase sempre ocorre ao redor do corpo, devido à tendência de o ar adjacente à pele ascender quando aquecido. Portanto, na pessoa desnuda sentada em sala confortável sem movi- mento acentuado de ar, aproximadamente 15% de sua perda total de calor ocor- re pela condução para o ar e depois pela convecção do ar para longe do corpo; • Evaporação: energia térmica usada para a transformação de um líquido em vapor, importante para a regulação da temperatura corporal (suor, respiração). É responsável por 20 a 80% da perda de calor no repouso e exercício, respec- tivamente. Sabe-se que, em média, a evaporação de 1 litro de suor resulta na perda de aproximadamente 580 kcal. Termorregulação mapa: https://bit.ly/2QWqtQm Ex pl or Efetores que alteram a temperatura corpórea • Glândulas sudoríparas: Recebem estímulos do hipotálamo e secretam suor com o objetivo de umidificar a pele; • Músculo liso: Encontram-se em torno das arteríolas que suprem a pele, por isso recebem estímulos do hipotálamo, dilatam-se e aumentam o fluxo sanguí- neo cutâneo; • Músculos esqueléticos: Em resposta à diminuição da temperatura corpórea, recebem estímulos do hipotálamo e iniciam os tremores involuntários para a produção de calor; • Hormônios: Adrenalina, noradrenalina e principalmente a tiroxina aumentam produção de calor. Crioterapia O tratamento por meio do resfriamento dos tecidos do corpo é bastante conheci- do no meio fisioterapêutico, e já vem sendo utilizado desde a época de Hipócrates. 15 UNIDADE Termorregulação e Crioterapia Figura 6 Fonte: Getty Images Como toda Ciência evolui, hoje, sabemos bem mais sobre os efeitos fisiológicos e terapêuticos que o frio promove nos tecidos, bem como os cuidados necessários para garantir uma boa interação entre a hipotermoterapia e a lesão do paciente. Tal recurso é amplamente conhecido como Crioterapia. A crioterapia, também conhecida como Terapia pelo frio ou Terapia fria e tem como principal objetivo reduzir a temperatura dos tecidos do corpo pela retirada de energia calórica, reduzindo, assim, o metabolismo local. Efeitos Fisiológicos Sobre a Temperatura Corporal Logo que é aplicada a modalidade de crioterapia na pele, a temperatura superfi- cial cai, imediatamente e de forma rápida. Depois de alguns minutos, a temperatura começa a se elevar devido às respostas de produção de calor pelo organismo, até alcançar algunsgraus acima da temperatura da técnica crioterápica. Já a temperatura profunda do corpo cai de forma mais lenta e progressiva du- rante a aplicação do frio. Assim, quanto maior for a profundidade do tecido, mais lenta será a queda da temperatura. A recuperação total da temperatura superficial pode levar de 1 a 2 horas, mas depois de 30 minutos de sua aplicação, já é permitida uma nova aplicação de frio, sem que isso possa produzir danos ao tecido resfriado. 16 17 Sobre a Circulação Sanguínea Durante muito tempo, pairou uma dúvida entre os pesquisadores e até mesmo entre os Fisioterapeutas e acadêmicos, no que diz respeito aos efeitos de vasodila- tação e vasoconstricção na utilização da Crioterapia. Alguns defendem que nos primeiros 5 minutos acontece a vasoconstricção e de- pois a vasodilatação; outros acham que somente acontece a mudança aos 10 minutos. Ainda hoje permanece essa dúvida. Podemos destacar as teorias apresentadas a seguir. • Sempre vasoconstricção Essa condição é aceita pelo fato de que o aumento do fluxo sanguíneo não esta ligada ao aumento do diâmetro do vaso (vasodilatação), e que o vaso sanguíneo não estaria realizando uma vasodilatação verdadeira, apenas um retorno ao diâmetro normal. Quanto ao aspecto de hiperemia, a redução do metabolismo tecidual, durante o resfriamento, reduz a troca de oxigênio entre tecidos e capilares. Essa redução na troca resulta em sangue mais oxigenado (parece mais verme- lho) no Sistema Venoso da pele. • Vasoconstricção no início da aplicação do frio seguida de vasodilatação Quando o frio é aplicado, uma resposta imediata é a vasoconstricção cutânea superficial e há redução do fluxo sanguíneo. A quantidade de fluxo sanguíneo na área é inversamente proporcional aos fatores de resistência do vaso san- guíneo. O diâmetro do vaso é o mais significante fator relacionado ao fluxo sanguíneo. Qualquer influência que cause contração do músculo liso capilar irá reduzir o diâmetro do vaso (vasoconstricção). Ao contrário, quando o tônus da musculatura lisa do vaso sanguíneo diminui, nas aplicações de calor, por exemplo, o diâmetro do vaso aumenta (vasodilatação). Geralmente, exposições ao frio por curto período (15 minutos ou menos) resul- tam em vasoconstricção de arteríolas e vênulas. O mecanismo de ação que causa a vasoconstricção envolve fatores como a ação direta do frio sobre a musculatura lisa do vaso sanguíneo, a vasoconstricção cutânea reflexa. O fluxo sanguíneo na pele está primariamente sob o comando do Sistema Ner- voso e desempenha importante papel na termorregulação. A vasoconstricção cutânea ocorre como parte do mecanismo de retenção de calor do corpo. Quando a temperatura da pele está diminuída, receptores térmicos para o frio (terminações nervosas livres) presentes na pele são estimulados, causando uma exci- tação reflexa de fibras adrenérgicas simpáticas. 17 UNIDADE Termorregulação e Crioterapia O aumento das atividades dessas fibras causa vasoconstricção. Esse reflexo de va- soconstricção pode também resultar em uma vasoconstricção cutânea generalizada. O fluxo sanguíneo que diminui é maior nas áreas que estão diretamente resfriadas. Sobre o Mecanismo Neuromuscular e Dor O frio pode reduzir o espasmo muscular por um mecanismo reflexo e não direto, atuando diretamente no músculo. A redução da temperatura reduz a velocidade de transmissão sensorial, podendo levar até a um bloqueio de condução do nervo sensorial. Sendo assim, as sensações cutâneas são reduzidas com a aplicação do frio. O resfriamento reduz a dor pelos seguintes mecanismos: • Direto: pela elevação do limiar de dor, liberação de endorfinas e diminuição do metabolismo; • Indireto: pela eliminação da causa. O resfriamento também é capaz de reduzir os reflexos. Sobre a Inflamação Todo trauma no organismo gera um processo inflamatório nos tecidos. A res- posta inflamatória consiste em uma complicada série de adaptações teciduais, que envolvem, principalmente, os vasos sanguíneos, os componentes líquidos e celular do sangue e o tecido conjuntivo circunjacente. Podemos destacar os seguintes efeitos do frio em relação à inflamação: • Redução do metabolismo e do consumo de oxigênio; • Prevenção no local de instalação da hipóxia secundária ou, quando já instalada, ajuda na sua resolução; • Reduz e limita o processo inflamatório. Sobre o Metabolismo Celular Enquanto na hipertermoterapia temos um aumento no metabolismo celular, guiado pela lei de Van’T Hoff, na crioterapia observamos o inverso, ou seja, a redu- ção do metabolismo celular. Isso traz para os tecidos lesionados uma condição de sobrevivência maior e, consequentemente, um reparo mais rápido da lesão. Efeitos Gerais Aumento da viscosidade dos fluidos, diminuição da atividade de produção das glândulas sudoríparas, diminuição da permeabilidade celular e fechamento dos po- ros existentes nos vasos sanguíneos. 18 19 Em que fase da lesão devemos aplicar a Crioterapia? Devemos iniciar a Crioterapia já na fase aguda, nos primeiros 5 (cinco) minutos após a lesão, a fim de alcançar todos os benefícios da Terapia. A Crioterapia pode ser aplicada não só na fase aguda das patologias, mas tam- bém na fase subaguda e crônica, dependendo dos objetivos do Fisioterapeuta. Lesões Provocadas pelo Frio Ulceração A classificação pode ser feita como superficial e profunda. Na ulceração superfi- cial, há um congelamento da pele e do tecido celular subcutâneo. A pele apresenta- -se com manchas azuladas, arroxeadas ou ainda estrias, podendo evoluir para o quadro de sensação de queimadura, “ferroada”, coceira intensa, inchaço na área e bolhas. A pele irá descamar e permanecerá hiperemia, tornando-se muito sensível ao frio. Na ulceração profunda, há um congelamento de pele, tecido celular subcutâneo, vasos sanguíneos e músculos. Os sintomas são semelhantes à ulceração superficial, apresentando somente maior grau de acometimento das estruturas. As bolhas são maiores e o edema é bem visível nos segmentos afetados associados à dor latejante e a “agulhadas”. As aplicações com pacotes de gelo, até 60 minutos, e do Cole Pack (bolsa de termogel), até 20 minutos, não causarão ulcerações na pele. Exemplo de lesão provada pelo frio: http://bit.ly/3cqBC5c Ex pl or Pé-de-imersão e pé-de-trincheira Podemos definir o pé-de-imersã o como resultado da exposiç ã o prolongada (se- manas) ao frio ou à água fria em temperatura ambiente acima do congelamento. A evolução do quadro mostra edema, hiperemia e anestesia transitória. Não há riscos quando o caso é leve, mas nos casos graves experimentam-se anos de dor, adormecimento e redução da força muscular. Dificilmente o quadro evolui para a gangrena. Já o pé-de-trincheira, podemos definir como aquele que apresenta a mesma condição do pé-de-imersã o, diferindo somente nas condições de exposiç ã o, ou seja, em condições pantanosas e úmidas, lembrando soldados entrincheirados. 19 UNIDADE Termorregulação e Crioterapia Hipersensibilidade ao Frio (Reações Alérgicas) Normalmente, devido aos seus leves sintomas, a hipersensibilidade não é muito considerada pelos profissionais da área, porém deve haver sempre a intenção por parte do Fisioterapeuta de diagnosticar essa hipersensibilidade ao frio e contraindi- car a terapia pelo frio. Exemplo de alergia: http://bit.ly/3cjsK0S Ex pl or Como classificação das reações alérgica, temos: • Urticária fria: devido à liberação de histamina; • Hemoglobinúria: grupo com sinais caracterizados pela hemolisina fria e aglutinina; • Púrpura (hemorragia da pele e membranas mucosas): e outros sinais refle- tindo presença de crioglobulina, uma proteína anormal no sangue, que promo- ve a formação de um gel a temperaturas baixas; • Eritema frio: resposta não alérgica, congênita e anormal ao resfriamento ca- racterizado por dor severa, espasmo muscular, suor, sem urticária. Alterações Vasoespásticas (Fenômeno de Raynauld) OFenômeno de Raynauld é o nome dado às alterações funcionais da circulação periférica de caráter local. É caracterizado por episódios em pequenas artérias e arteríolas (nas extremida- des), resultando em palidez, ou cianose na pele, seguido de hiperemia, também po- dendo ocorrer formigamento e queimação. A obstrução completa dos vasos ocorre quando a constricção for muito grande. A Doença de Raynauld é também denominada Fenômeno Primário de Raynauld. É predominante no sexo feminino jovem. As pessoas acometidas são aquelas que se expõem de forma leve ao frio, como colocar as mãos em locais frios. Na Terapêutica Clínica, devemos considerar proibitivo o uso da Crioterapia em pessoas que apresentam desordens vasoespásticas, pois o espasmo arterial extre- mo pode induzir a uma necrose. Devemos tomar muito cuidado na administração da Crioterapia em nossos pa- cientes e saber interpretar sintomas das doenças vasoespásticas. 20 21 Técnicas de Aplicação Cold Pack – Pacote Frio – Pacote-de-Gel – Bolsa de Termogel Figura 7 O pacote de gel (hidrocollator) consiste em uma bolsa de vinil ou material plás- tico resistente, contendo uma substância gelatinosa capaz de absorver e manter a baixa temperatura. O pacote de gel é mantido a uma temperatura abaixo de zero grau e, quando utilizado na Terapia, mantém essa mesma temperatura, por um período de tempo de aproximadamente 30 a 60 minutos. Está indicado para tratamento de lesões superficiais e profundas. O seu aque- cimento, devido à retirada de calor do corpo, é lento e consegue manter seu valor terapêutico pelo período de tempo que durar a terapia. A fim de prevenirmos possíveis danos que esse nível de temperatura pode causar a pele, a duração da Terapia deve ser no máximo de 20 minutos. Há no Mercado, também, outro pacote de gel, que não mantém por mais de 5 minutos a temperatura de zero grau centígrado. Nesse caso, apenas as lesões superficiais serão tratadas por esse pacote de gel comum e o Fisioterapeuta tem o trabalho de trocar a cada 10 minutos de tratamen- to por um outro pacote previamente congelado. Caso contrário, os efeitos fisiológi- cos não poderão ser alcançados. Esse pacote de gel comum oferece pouco risco para a pele do paciente, pois a temperatura sobe progressivamente. Compressa Fria É a técnica mais utilizada na Crioterapia, pela facilidade em obter e aplicar, até mesmo pelos pacientes em seus domicílios. 21 UNIDADE Termorregulação e Crioterapia Figura 8 Fonte: Getty Images Na compressa fria, molhamos uma toalha em água fria (com pedras de gelo) e dobramos em forma de uma compressa e aplicamos, diretamente, no local. Na panqueca fria, executamos o mesmo procedimento da compressa fria, só que adicionamos, dentro da toalha, gelo moído, e dobramos em forma de uma panqueca. A panqueca é aplicada diretamente na região a ser tratada, e a duração das duas técnicas fica em torno de 30 minutos. Pacote de gelo Esta técnica é bastante eficaz para tratamentos superficiais e profundos. É colo- cado gelo dentro de um saco plástico de textura fina. O gelo deve ser moído ou tri- turado. Devemos evitar o gelo em cubo, pois dificulta a moldagem em extremidades. Figura 9 Fonte: Getty Images Retiramos o ar do saco plástico, fechando-o em seguida, para a sua aplicação. A duração do tratamento está em torno de 30 minutos. 22 23 Spray O Spray é uma técnica de resfriamento que promove a redução da dor, agindo como um contra irritante, ou seja, modificando a entrada sensorial da dor: • Spray-Flúor-Metano Diclorodifluormetano (15%) e Tricloromonofluorme- tano (85%): é um gás inerte, não explosivo, inflamável e tóxico. Figura 10 Indicações O Spray Flúor-Metano é um vapor refrigerante destinado à aplicação tópica no controle da dor miofascial, movimento limitado, espasmo muscular e controle de dor associado a aplicação de injeções. Inúmeras condições clínicas podem mostrar o efeito do Spray e da flexibilidade associado. Como exemplo, podemos citar dor lombar, torcicolo, espasmo muscular associado à osteoartrite, entorse de tornozelo, rigidez dos isquiotibiais, espasmo do músculo masseter, alguns tipos de dores de cabeça e dor reflexa devido a pontos desencadeantes (pontos gatilhos). O alívio da dor facilita uma mobilização precoce e o restabelecimento da função muscular e articular normal. Precauções Devemos tomar cuidado para minimizarmos a inalação de vapores, especial- mente, em aplicações na cabeça ou pescoço. Evite o contato com os olhos e o Spray não deve ser aplicado ao ponto de formação de congelamento. Reações Adversas Pode ocorrer sensibilidade cutânea, mas parece ser extremamente rara. A baixa temperatura pode, ocasionalmente, alterar a pigmentação. Contraindicação O Flúor-Metano é contraindicado para indivíduos com histórico de hipersensibi- lidade à substância ativa. 23 UNIDADE Termorregulação e Crioterapia Cuidados Indicações somente para uso tópico externo. O conteúdo está sob pressão e deve ser mantido em local frio, numa temperatura abaixo de 50ºC. Dosagem e Administração Ao aplicar o Spray, inverta o frasco sobre a área a ser tratada e mantenha uma distância aproximada de 30cm do local da aplicação. • Spray Etil-Clorido (Cloroetano): O Etil-Clorido é um vapor refrigerante des- tinado à aplicação tópica para controlar a dor associada a condutas cirúrgicas menores, a lesões de Atletismo, a injeções e para o tratamento de dor miofas- cial, movimento restrito e espasmo muscular. Precauções Devemos evitar a inalação do gás, pois pode produzir efeitos narcóticos e anestési- cos gerais ou anestesia profunda ou coma fatal, com parada cardíaca ou respiratória. O Etil-Clorido é inflamável e nunca deve ser usado na presença de uma chama em aberto ou equipamento elétrico de cauterização. Reações Adversas Pode ocorrer sensibilidade cutânea, mas parece ser extremamente rara. A baixa temperatura pode, ocasionalmente, alterar a pigmentação. Contraindicação O Etil-Clorido é contraindicado para indivíduos com histórico de hipersensibili- dade à substância ativa. Criocinética (Frio e Exercício sem dor) A Técnica Criocinética foi introduzida em 1950, por Knot e Mead, ficando es- quecida ate por volta de 1960, quando foi novamente reativada, em um hospital do exército. Sua aplicabilidade dava-lhe muita credibilidade, pois permitia recuperação fun- cional rápida e de forma mais eficaz. Apesar do seu uso inicial ser feito em soldados, sua maior evolução deu-se na área esportiva. Hoje, a criocinética constitui-se uma das formas mais eficazes de tratamento nas lesões esportivas agudas. A técnica consiste do uso do frio para promover o adormecimento do local a ser tratado e permitir o exercício ativo progressivo, sem dor. 24 25 Indicações • Espasticidade; • Traumatismos agudos, subagudos e crônicos; • Síndrome ombro-mã o; • Coto de amputados; • Processos inflamatórios (bursites, tendinites, capsulites, sinovites, tenossinovi- tes etc.); • Artrose; • Artrite reumatoide; • Prevenção de lesões degenerativas; • Pó s-cirurgias. Contraindicaç õ es • Hipersensibilidade ao frio; • Urticária ao frio; • Acrocianoses; • Alterações cardiovasculares graves; • Hipertensã o arterial; • Alterações circulató rias; • Edemas de origem cardíaca, renal ou hepá tica. 25 UNIDADE Termorregulação e Crioterapia Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Recursos Fisioterapêuticos: evidências que Fundamentam a Prática Clínica BÉLANGER, A. Y. Recursos Fisioterapêuticos: evidências que Fundamentam a Prática Clínica. 2. ed. Barueri: Manole, 2012. [e-book] Influência do resfriamento e do aquecimento local na flexibilidade dos músculos isquiotibiais BRASILEIRO, J. S.; FARIA, A. F.; QUEIROZ, L. L. Influência do resfriamento e do aquecimento local na flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Rev. bras. fisioter. [online], v. 11, n. 1, p. 57-61. 2007. Práticasda Reabilitação Musculoesquelética MAGEE, J.; ZACHAREZEWKI, J. E.; QUILLEN, W. S. Práticas da Reabilitação Musculoesquelética. 1. ed. Barueri: Manole, 2013. Modalidades Terapêuticas Para Fisioterapeutas PRENTICE, W. E. Modalidades Terapêuticas Para Fisioterapeutas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. Análise Biomecânica dos Efeitos da Crioterapia no Tratamento da Lesão Muscular Aguda MATEUS, J. P. C. et al. Análise Biomecânica dos Efeitos da Crioterapia no Tratamento da Lesão Muscular Aguda, Rev Bras Med Esporte, São Paulo: v. 14, n. 4, jul./ago., 2008. 26 27 Referências BÉLANGER, A. Y. Recursos Fisioterapêuticos: evidências que Fundamentam a Prática Clínica. 2. ed. Barueri: Manole, 2012. [e-book] HALL, J. E.; GUYTON, A. C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. KNIGHT, K. L. Crioterapia no Tratamento das Lesões Esportivas. São Paulo: Manole, 2000. PRENTICE, W. E. Modalidades Terapêuticas Para Fisioterapeutas. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. 27