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TEORIA E HISTÓRIA DATEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA E URBANISMO –ARQUITETURA E URBANISMO – ANTIGUIDADE AO SÉCULO XVIIIANTIGUIDADE AO SÉCULO XVIII RENASCIMENTO ERENASCIMENTO E ROCOCÓ – A LINGUAGEMROCOCÓ – A LINGUAGEM CLÁSSICA NACLÁSSICA NA ARQUITETURAARQUITETURA Autor: Dra. Katia Maria de Souza Revisor : José Adr iano Pere ira IN IC IAR introdução Introdução Nesta unidade, falaremos da importância que o Renascimento teve enquanto um movimento cultural para as artes de modo geral e, em especial, para a arquitetura. O estudo e a pesquisa do legado deixado pelos povos da antiguidade clássica foram importantes para que os arquitetos do Renascimento concebessem a sua própria arquitetura e elaborassem seus próprios escritos e modelos, mas, principalmente, a atitude pela busca de conhecimento instaurou uma nova relação do homem frente ao mundo moderno que se descortinava. Tal postura foi fundamental para que as gerações seguintes de arquitetos e artistas se sentissem livres para buscar novas interpretações para a arquitetura de seu próprio tempo com suas próprias questões, como aconteceu com o Maneirismo, responsável pela transição para o Barroco e sua consequente passagem para o Rococó. O Renascimento sempre é lembrado como o período da retomada dos valores clássicos, mas ele é muito mais que isso. O Renascimento foi resultado de um processo crescente de transformação cultural, social e religioso que já se manifestava no �nal do Gótico e que se concretizou no início do século XV em Florença. As cidades deste período já tinham se tornado centros ativos de artesãos e mercadores, núcleos urbanos densos com muitas casas, comércio e o�cinas. A burguesia em ascensão foi aos poucos conquistando espaço nas cidades e consolidando independência frente aos senhores feudais. Essa burguesia em crescimento, especialmente a �orentina, identi�cava-se com os valores racionalistas e naturalistas do classicismo, porque, como a burguesia greco- romana, esses são os valores essenciais que derivam da economia baseada no cálculo e na acumulação de capital. Renascimento e oRenascimento e o Clássico naClássico na Arquitetura da EraArquitetura da Era ModernaModerna Esse olhar para si mesmo e para os seus interesses leva o homem a se identi�car com o pensamento racional, lógico. Os mestres artesãos não apenas tomaram como modelo os remanescentes da arte antiga, mas também passaram a buscar na literatura e na �loso�a clássica o cabedal de conhecimentos para atender às exigências da nova clientela. Foi nesse momento que o mestre artesão do Gótico italiano passou a ser, no Renascimento, um criador intelectual, transformando-se no artista moderno. Anteriormente associados às corporações de ofício para poder exercer a sua pro�ssão, agora ele se emancipa da corporação e alça o posto de criador, deixando de ser visto como mero trabalhador manual; neste momento, ele é o estudioso, o pesquisador e o artista. O conhecimento da �loso�a, o domínio do fazer artístico dos antigos, o estudo e o pensamento lógico e matemático são valores fundamentais para o desenvolvimento da arte e arquitetura renascentista. Na arquitetura, o nome de Filippo Brunelleschi desponta quando ele consegue resolver o problema da construção da cúpula da igreja de Santa Maria del Fiore, em Florença. A resolução sobre a construção da cúpula de Santa Maria del Fiore, por Brunelleschi, marca o �m do Gótico e o início do Renascimento. Na exatidão geométrica das divisões da cúpula, já se identi�cam os princípios matemáticos que passam a reger a arquitetura do Renascimento, enquanto seu per�l ogival e o contraste entre os espigões brancos e os enchimentos de telhas continuam características essencialmente góticas. Porém, o que ressalta mais neste trabalho de Brunelleschi é o pensamento projetual. Ele foi o primeiro trabalho em que o arquiteto pensou, calculou, produziu um protótipo, estudou como levar os materiais até o alto da cúpula, ou seja: pensou, estudou, projetou, planejou. Foi esse ato de conhecimento que marcou o Renascimento e o próprio exercício pro�ssional de Brunelleschi. Figura 3.1 - Cúpula da Igreja de Santa Maria Del Fiori - Felippo Brunelleschi - 1420-1434, Florença, Itália Fonte: Sailko / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem mostra a cúpula bem de perto, é possível ver duas das oito faces que formam o tambor da cúpula, ou seja, a base. Também podemos visualizar parte do telhado das naves da igreja e os gomos que formam a cúpula. Acima, há um torreão de cor branca. Podemos ver o desenho geométrico formado por retângulos de mármore branco e moldura em mármore verde que revestem a fachada da igreja. O objetivo de Brunelleschi era racionalizar o desenho arquitetônico, e para tanto ele precisava do vocabulário padronizado e regular dos antigos, baseado no círculo e no quadrado. O segredo de seus edifícios, ele pensava, era a harmonia das proporções - as mesmas relações de números inteiros simples que determinam a harmonia musical, pois sucedem-se in�nitamente em todo o universo, e devem, assim, ter uma origem divina. A teoria das proporções forneceu-lhe, por assim, dizer, a sintaxe que regeu o uso de seu vocabulário arquitetônico (JANSON, 2009, p. 194). A partir desse momento, entre a primeira e a segunda década do século 15, foram estabelecidas as bases da arquitetura do Renascimento, fundada no estudo dos antigos e no projeto. A geração seguinte vai elaborar ainda mais o estudo escrevendo seus próprios tratados arquitetônicos. Os principais tratadistas da Itália são: Antonio Averlino, dito Filareto – 1400 – 1465 Leon Battista Alberti – 1404 – 1472 Cesare Cesarino – 1476 – 1543 Sebastiano Serlio – 1475 -1553/55 saibamais Saiba mais “A grande realização de Brunelleschi foi ter construído a cúpula em dois grandes cascos separados (um dentro do outro) engenhosamente ligados de forma a reforçarem-se mutuamente. [...] Em vez de utilizar rampas para o transporte dos materiais de construção até a altura necessária, projetou máquinas para os içarem. Todo o projeto re�ete um espírito ousado e analítico, que rejeitou sempre as soluções convencionais quando outras melhores podiam ser concebidas. É esta nova atitude que distingue Brunelleschi dos mestres pedreiros - arquitetos do Gótico, com os seus processos consagrados por antigas práticas.” Fonte: Janson (2001, p. 589). Para conhecer mais sobre os processos projetuais da renascença, consulte o link a seguir: ACESSAR http://projedata.grupoprojetar.ufrn.br/dspace/handle/123456789/1254 O tratadista mais importante para o Renascimento foi Leon Battista Alberti, primeiro arquiteto diletante. Dedicou-se aos estudos da arte e arquitetura e também escreveu seu tratado De re aedi�catoria (“Sobre a arte de construir”), seguindo o modelo de Vitrúvio. Os dez livros de Arquitetura , escrito por Vitrúvio, é o tratado mais antigo a chegar íntegro à atualidade e, apesar de ser conhecido na Idade Média, foram os humanistas do Renascimento que retomaram seus princípios, tal como Alberti, que resgatou a tríade vitruviana Firmitas , Utilitas e Venustas : Firmitas – Solidez: trata dos aspectos técnicos (local, materiais e fundações); Utilitas – Utilidade/Comodidade: trata da função do edifício; Venustas – Beleza: tem a ver com a beleza arquitetônica. Porém, Alberti foi além de Vitrúvio. Seu tratado não era só para arquitetos, mas para todo um círculo de patronos humanistas que desejavam um conjunto de critérios para seus projetos. Ele partiu da tríade vitruviana para desenvolver todo um conceito que trata da adequação do edifício e do ornamento, abordou a apropriação de prédios públicos e privados, tudo baseado, por um lado, na sua fé ilimitada na validade das proporções matemáticas, e, por outro, no fato de que, para ele, a antiguidade clássica não é simplesmente o insuperável e normativo, pois ele acreditava na possibilidade de se desenvolver mais a partir da tradição dos antigos, a �m de produzir algomelhor ou maior do que eles. Um bom exemplo é a solução adotada na fachada de S. Francesco, em Rimini. Ele adapta o arco triunfal romano à arquitetura de uma igreja num claro resgate das formas da antiguidade clássica. A partir dos experimentos e escritos de Alberti, a arquitetura renascentista reforça a métrica e as proporções clássicas, esmera-se em superar os antigos, desenvolvendo palácios, edifícios públicos e igrejas que iam da planta em cruz latina à planta centralizada. Esse modelo de planta representa o máximo do pensamento clássico de proporção e controle da dimensão espacial. Conhecimento Teste seus Conhecimentos Figura 3.2 - Templo Malatestiano ou Igreja de S. Francisco, em Rimini, Itália,1450 Fonte: Sailko / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem mostra uma foto da fachada da igreja tirada bem de frente para ela, em que é possível observar sua proporção clássica, três arcadas, sendo uma centralizada, onde �ca a porta encimada por um frontão triangular; entre cada arco, uma coluna da ordem jônica. À frente, há uma calçada em pedra aparelhada, e o ângulo da foto foca na fachada, de forma a preencher todo o espaço. (Atividade não pontuada) Brunelleschi é considerado por muitos historiadores o responsável por pensar a arquitetura em termos de espaço. Sem dúvida, este conhecimento se deve ao seu empenho em estudar os antigos e tomar as medidas exatas de cada monumento. A perspectiva cientí�ca pode ter sido uma consequência de seu estudo em registrar no papel os prédios antigos, revelando a questão do conhecimento e do pensamento como condutores do fazer arquitetônico. A respeito de Brunelleschi, podemos a�rmar: I. Em seus projetos, ele elabora um traçado segundo precisos princípios cientí�cos, atingindo, assim, plenamente os objetivos preconizados para a arquitetura gótica. II. Concluiu a construção da igreja de Santa Maria del Fiore, cobrindo o espaço reservado à cúpula, até então aberto, assentando o domo sobre o tambor octogonal. III. O trabalho de Brunelleschi é pautado pela modulação, ênfase horizontal e proporções delineadas, numa ordem perfeita e matemática. IV. Para Brunelleschi, era importante racionalizar o desenho arquitetônico, pois acreditava que o racionalismo manteria sua condição de mestre artesão. É correto apenas o que se a�rma em: a) I e II, apenas. b) III e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) II e IV, apenas. e) I e IV, apenas. O conceito de Maneirismo é muito empregado para tratar outras formas de arte que marcam o século 16, porém, para a arquitetura, é muito difícil de�nir, mas existe um consenso de que o anticlassicismo que tanto marca o Maneirismo já aparece no período do Alto Renascimento nos trabalhos arquitetônicos de Michelangelo, especialmente nas intervenções realizadas por ele no projeto da Basílica de São Pedro do Vaticano. O projeto original de Bramante para a nova Basílica de São Pedro do Vaticano de�niu a concepção essencial do espaço centrado na área quadrada em torno da cúpula. As alterações do próprio Bramante fazem parte dos capítulos da história da arquitetura, mas as etapas mais decisivas resultaram das intervenções de Michelangelo e de Maderno. Bramante concebeu uma cruz grega atravessando a área quadrada que envolve os quatro pilares da cúpula. Os braços da cruz se projetando para além dos lados do quadrado eram interligados por muros que de�niam um perímetro losangular. Maneirismo e oManeirismo e o Anticlassicismo naAnticlassicismo na ArquiteturaArquitetura Michelangelo projetou e construiu os contornos dos três braços superiores da cruz, fazendo os ângulos do quadrado avançarem para além dos lados do losango concebido por Bramante. Isso modi�ca consideravelmente o desenho da planta: da forma elementar e racional do Alto Renascimento para uma recuperação maneirista do quadrifólio. Figura 3.3 - Planta do projeto de Donato Bramante para a Basílica de São Pedro, 1506 Fonte: Malyszkz / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem mostra o desenho da planta concebida por Donato Bramante de 1506. Mostra uma planta em cruz grega inscrita em um quadrado. Os braços da cruz avançam um pouco em cada lado do quadrado, de forma centralizada. No centro do quadrado, e portanto, da cruz, está marcado um círculo que representa a projeção da cúpula e em cada aresta do quadrado maior se formam mais quatro quadrados. Figura 3.4 - Projeto de Michelangelo para a Basílica de São Pedro do Vaticano, 1547 Fonte: Geralt Riv / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem ilustra o desenho da planta, que mostra uma planta de cruz grega com o quadrado inscrito na cruz, arredondando os braços da cruz e delimitando o acesso principal por uma série de degraus posicionados na parte sul do desenho. A cúpula projetada por Michelangelo, apesar de sua solidez e proporções clássicas, já era maneirista nas soluções de fantasia decorativa das molduras dos óculos, na alternância dos frontões sobre as janelas do tambor e na exacerbação plástica das colunas geminadas entre elas. Estas colunas continuam as linhas de força dos espigões, contribuindo para o efeito de gravidade estática e a sensação de peso exercido pela cúpula sobre a igreja. Figura 3.5 - Cúpula de São Pedro do Vaticano - Michelangelo, 1547 Fonte: Staselnik / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem apresenta uma foto bem aproximada da cúpula de São Pedro do Vaticano, onde podemos observar os óculos em três �leiras verticais que se sobrepõem até o lanternim, espécie do torreão em cima da cúpula. No tambor da cúpula, podemos ver janelas altas encimadas por frontões que se alternam entre circular e triangular. A cúpula só seria concluída cerca de trinta anos passados da morte de seu autor e seu maneirismo seria exacerbado pelas alterações de Domenico Fontana e de Giacomo della Porta, que lhe conferiram um per�l apontado e alteado e um decorativismo ainda maior, nos óculos e no lanternim. Se equilíbrio e harmonia são as principais características da Alta Renascença, o maneirismo é seu oposto: é a arte do desequilíbrio e da dissonância - ora emocional a ponto de levar à distorção (Tintoreto, El Greco), ora disciplinado a ponto de se autoanular (Bronzino) (PEVSNER, 2015, p. 198). As referências clássicas trazidas pelo Renascimento se mantiveram, mas agora trabalhadas de uma outra forma, e o nome importante na disposição dos elementos clássicos numa composição anticlássica foi Andrea Palladio (1508- 1580). A arquitetura do Maneirismo, ao contrário, apresenta temas ambivalentes e funções duplas. O mesmo edifício é um palácio e um monastério, a mesma pilastra sustenta o entablamento e funciona como moldura lateral de painel de parede. As duas funções são indicadas claramente, transmitindo assim uma ambiguidade deliberada que, em suma, signi�ca a antítese da simplicidade renascentista (BURY, 2006, p. 65). Andrea Palladio também escreveu seu tratado de arquitetura e, embora trate dos mesmos elementos que encontramos em Vitrúvio e Alberti, ele elabora um tratado mais objetivo e o coloca em prática criando um classicismo que, de tão harmônico, acaba por desarmonizar o conjunto e se tornando anticlássico. A Villa Rotonda, ou Capra, representa exatamente essa dicotomia que marca a arquitetura do maneirismo no seu representante maior, que foi Palladio. O Figura 3.6 - Planta baixa da Villa Rotonda, Vicenza, Itália, 1567-1570 - Andrea Palladio Fonte: Antur / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem apresenta um desenho da planta baixa da Villa Rotonda, que é formada por um quadrado que foi dividido em quatro partes e um círculo no centro. Em cada lado do quadrado tem o desenho de um retângulo centralizado e uma indicação de escadaria. projeto é de uma casa de campo com tratamento de fachada em forma de templo clássico, algo pouco usual para um projeto residencial, mas que Palladio ousa e dispõe o vocabulário que conhecia e dominava. A escadaria colocada à frente de cada fachada, associada ao própriopórtico em forma de templo, também chamado de template, imprime uma certa austeridade clássica reforçada ainda pela cúpula centralizada. No entanto, o uso de quatro fachadas idênticas que, ao mesmo tempo, representam o equilíbrio clássico constitui por �m um desequilíbrio maneirista uma vez que desconstrói a lógica clássica de fachada principal. Figura 3.7 - Fachada da Villa Rotonda, Vicenza, Itália, 1567-1570 - Andrea PalladioFonte: Palladio / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem apresenta uma foto do prédio tirada em diagonal de forma que dá para ver duas fachadas: uma à direita, com maior visibilidade, e a da esquerda, mais de lado. Em ambas é possível ver o pórtico em forma de templo grego com seis colunas da ordem jônica, entablamento e frontão triangular, encimado por estátuas em cada vértice. praticar Vamos Praticar Entendemos que tanto Leon Battista Alberti quanto Andrea Palladio foram nomes importantes para a história e teoria da arquitetura. Ambos deixaram sua contribuição não apenas com seus tratados, mas também com sua arquitetura. Alberti é considerado um humanista por opção e dedicação. Estudou as artes e arquitetura da Antiguidade e começou como um teórico para depois se colocar como um arquiteto importante para o período, pondo em prática todo seu conhecimento. Palladio também se dedicou aos estudos e escritos, continuando a tradição de Alberti, e seus textos logo ganharam dimensões internacionais, fazendo com que assumisse alguns projetos. Compartilhava a ideia de que a arquitetura deve ser regida pela razão inspirada pelos antigos. Observe as imagens a seguir. A primeira é a Igreja de Santo André, na cidade de Mântua, Itália, de 1470, projeto de Leon Battista Alberti. A segunda imagem é a igreja de São Jorge Maior, em Veneza, Itália, em 1565. Faça uma análise comparativa do tratamento dado às fachadas por seus autores, relacionando-os aos movimentos a que pertencem. Igreja de Santo André, em Mântua, Itália - Leon Battista Alberti, 1470 Fonte: Anna Zacchi / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem ilustra a foto da fachada da igreja, em que vemos um arco central bem alto que compreende toda a fachada; ele cria um pórtico, ladeado por �ancos marcados no pavimento térreo por uma porta de verga reta, um nicho em arco no segundo pavimento e um janela em arco no terceiro pavimento. Acima, um frontão triangular e um arco abobadado. Igreja de São Jorge Maior, Veneza, Itália - Andrea Palladio, 1565 Fonte: Joergens.mi / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem ilustra a foto da fachada da igreja, em que vemos sua porta centralizada enviada por um frontão em arco; de cada lado da porta está disposto um par de colunas altas de capitel jônico. Entre cada coluna há um nicho com esculturas; na sequência da última coluna de cada lado, um nicho de verga reta encimado por frontão triangular e mais dois pares de pilastras adossadas. O Barroco, enquanto estilo artístico, assume várias formas nos diferentes países da Europa. Em geral, não se pode uni�car um estilo de época, visto que há, num determinado período, diferentes interpretações do mesmo estilo, devido aos grupos sociais artisticamente produtivos. Sendo assim, no Barroco, vamos encontrar diferenças entre o Barroco Italiano, o Francês e o desenvolvido nos países baixos. O que, por �m, uni�ca o Barroco das diferentes regiões é justamente o seu desenvolvimento cultural, o desenvolvimento da ciência natural e a nova �loso�a baseada nesta ciência, que se expressa na produção artística da época, o conhecimento de que a Terra faz parte de um universo muito maior, interagindo uniformemente. O lugar da antiga concepção antropocêntrica do mundo foi substituído pela concepção de continuidade in�nita, de inter- relações, que abrangia o homem e continha o mundo em que este vivia. O Barroco é um estilo sensual, emocional, movimentado. Na arquitetura, os maiores exemplos do Barroco são as igrejas e os palácios. Para os arquitetos da Arquitetura BarrocaArquitetura Barroca – Projeto e– Projeto e ExpansãoExpansão época, o edifício deve ser concebido como uma grande escultura, o que fez com que estes procurassem formas e traçados mais complexos. A partir dessas ideias, as plantas variam, podendo ser elípticas, circulares e até mesmo feitas a partir da interseção de �guras geométricas. Essa solução nas plantas fez com que surgissem paredes onduladas, côncavas e convexas, criando assim um conjunto de intenso movimento dentro das mais estáticas das artes que é a arquitetura. Este movimento da fachada e, por conseguinte, do interior, ou seja, o jogo de planos foi constantemente empregado nas obras de Borromini e Bernini. A emoção, o movimento e a teatralidade da arte barroca foram usados pela igreja neste período de luta contra a propagação do protestantismo, transformando as igrejas em exibições grandiosas, composições teatrais que mostram o esplendor e a glória da fé católica que, dentro do ritual de celebração da missa, transportam o indivíduo para um mundo diferente. Nesse sentido, a cultura barroca buscaria outro método, ainda mais e�caz, de controle das massas e que estaria, desta vez, diretamente ligado às artes, à arquitetura, à urbanística, à cidade, à poesia, literatura, música, ao teatro: um método baseado na ação de conquista, de sedução, de convencimento dos súditos e dos �éis por meio do apelo aos sentimentos, aos afetos, às emoções. As manifestações estéticas passariam a servir como atraente propaganda dos governos e da Igreja contrarreformista, dirigida ao encantamento tanto dos doutos como da mais humilde e ignorante massa populacional (BAETA, 2011, p. 97). Deste modo, a arquitetura barroca é como a da igreja de São Carlo das Quatro Fontes, construída em Roma no ano de 1638. O jogo das superfícies côncavas e convexas faz com que a estrutura pareça elástica, distorcida e movimentada como toda a arte barroca. Segundo Bruno Zevi (2009, p. 98), “com o Renascimento se lançam as bases do pensamento moderno na construção, segundo o qual é o homem que dita leis ao edifício e não o contrário”. Esse domínio sobre o conhecimento permitiu que a arquitetura agora pudesse ser planejada de acordo com as intenções e predisposições de arquitetos e clientes; desse modo, ainda segundo Zevi (2009, p. 114), “o Barroco é liberação espacial, é libertação mental das regras dos tratadistas, das convenções, da geometria elementar e da estaticidade, é libertação da simetria e da antítese entre espaços interior e exterior”. Figura 3.8 - Igreja de São Carlo das Quatro Fontes, Francesco Borromini, Roma, 1638 Fonte: Architas / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem ilustra a foto que mostra a fachada da igreja composta de formas curvas em ondulação, preenchida por nichos com esculturas. reflita Re�ita “Por essa sua vontade de libertação, o Barroco assume um signi�cado psicológico que transcende o da arquitetura dos séculos XVII e XVIII, para signi�car um estado de espírito de liberdade, uma atitude criativa liberta de preconceitos intelectuais e formais, que é comum a mais de um momento da história da arte; a prova disso é o fato de se falar de Barroco helenístico, de Barroco romano na época em que os arquitetos do Baixo Império sentem necessidade de colocar em crise a solidez estática do espaço fechado de Roma, e fala-se mesmo de Barroco moderno quando a tendência da arquitetura orgânica pronuncia sua declaração de independência das fórmulas e dos esquemas funcionalistas.” Fonte: Zevi (2009, p. 114). O Barroco executa, en�m, uma arte que expressa o movimento, a ânsia de novidade da sociedade, o amor pelo in�nito, pelos contrastes e pela audaciosa mistura de todas as artes, e foi dramático, exuberante, teatral, apelando para o instinto, para os sentidos, para a fantasia, o que tendia para o fascínio. É uma arquitetura que conduz o observador, o usuário, para o seu interior e ali se completa a persuasão, a sedução e o encantamento,tão importante, especialmente, para a igreja, neste momento de conquista de novos territórios e de atração de seus �éis. Conhecimento Teste seus Conhecimentos (Atividade não pontuada) Leia o trecho a seguir: “E indubitavelmente o Barroco foi dramático. O adjetivo se aplica a todas as coisas nas quais distinguimos o Barroco da arquitetura renascentista. [...] Os arquitetos do Barroco abandonaram a simetria e o equilíbrio para experimentar novos e vigorosos volumes.” NUTTGENS, P. História da Arquitetura. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. p. 204. Diante do exposto, podemos a�rmar que: I. O Barroco retomou os próprios princípios da arte da antiguidade greco-romana; e, de acordo com essa nova tendência, uma obra só seria perfeitamente bela na medida em que imitasse os artistas clássicos gregos. II. Diante da Reforma Protestante, a Igreja Católica logo se organizou contra. E assim a arte barroca serviu para revigorar seus princípios doutrinários. III. O ideal humanista, a preocupação com o rigor cientí�co e a composição equilibrada são as principais características da arte barroca. IV. Na arquitetura barroca, os volumes se interceptam, criando um dinamismo intenso e revelando uma integração entre interior e exterior. É correto apenas o que se a�rma em: a) I e II, apenas. b) III e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) II e IV, apenas. e) I e IV, apenas. O Rococó é o estilo artístico desenvolvido a partir da fusão entre o Barroco Francês e o Italiano. Muitas vezes, o Rococó e o Barroco estiveram presentes ao mesmo tempo, no mesmo país, na mesma obra, sendo que o Rococó procurava ressaltar o belo, o agradável, o requintado, o desenvolto, sutilmente sensual; enquanto o Barroco era mais imponente, sublime, grandiloquente. O Rococó foi a arte da aristocracia liberal e da burguesia enriquecida que começou a prevalecer sobre o poder centralizador do Estado, prevalecendo o gosto e uma visão mais sensual. Na arquitetura, o novo estilo se fez notar na decoração, que valorizava os pormenores minuciosos, o uso de peças leves em oposição aos elementos pesados do Barroco. O resultado �nal do estilo inventado por Borromini teve lugar ao norte dos Alpes, na Áustria e no sul da Alemanha. Nesses países, devastados pela Guerra dos Trinta Anos, houve uma reduzida atividade arquitetônica até o �nal do século XVII; o Barroco era um estilo importado, praticado principalmente por artistas italianos que O Rococó – AsO Rococó – As Formas no EspaçoFormas no Espaço visitavam esses países. Somente em 1690 é que os arquitetos nativos passaram ao primeiro plano (JANSON, 2009, p. 282). São justamente nestes países que encontramos os mais ricos e encantadores dos espaços em estilo Rococó. Uma arte extremamente palaciana inventada na França por volta de 1700 que se espalhou pelo mundo e se manifesta muito mais na decoração de interiores do que propriamente na arquitetura. Figura 3.9 - Palácio episcopal de Würzburg, Alemanha - Balthasar Neumann, 1719-1744 Fonte: Andreas Faessler / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem apresenta a fotogra�a da sala Kaisersaal, que mostra seu interior coberto por um piso com desenhos geométricos em mármore colorido, paredes cobertas de nichos em arco com esculturas e colunas em mármore cor-de- rosa. A sala tem forma oval coberta por um teto abobadado com molduras em arabescos dourados. Poucas inovações caracterizam a arquitetura religiosa Rococó comparando-a com a barroca. Talvez um maior número de aberturas que proporcionam mais luz natural enfatizem os delicados motivos ornamentais do Rococó destacados em ouro sobre fundos brancos ou coloridos em tons pastéis. Nos espaços mais privativos das cortes, em contraste com o Barroco, as salas/quartos do Rococó eram menores, mais humanas em escala e desenhadas de forma mais feminina; conforto, conveniência e o apelo emocional é o que se destaca. Novas salas eram acrescidas para funções especí�cas, incluindo quartos de vestir, salas de convivência para grupos pequenos, salas de música etc. A ênfase era na privacidade. Espaços para o público e o privado eram melhor de�nidos. Gabinetes particulares tinham acesso a quartos secretos através de painéis disfarçados nas paredes; geralmente, estes espaços eram usados para reflita Re�ita “O Rococó deve a origem de seu nome a rocaille, que signi�ca rochas e conchas, para indicar as formas naturais de suas ornamentações: formas de folhas e galhos, formas do mar – conchas, ondas, corais, algas, borbulhas e espuma – pergaminhos, formatos em C e S. Na França, ele permaneceu delicado e elegante, proporcionando salões deslumbrantes para atividades modernas e íntimas da dança, da música de câmara, da etiqueta, da elaboração de cartas e da sedução. A arquitetura que dava suporte à decoração se tornou mais simples.” Fonte: Nuttgens (2015, p. 216). encontros privativos. A França, depois da morte de Luiz XIV, desenvolveu uma arquitetura palaciana. Entre os nobres e burgueses ricos do período que passaram a ocupar novas áreas da cidade, construindo suas residências conhecidas como hôtels , seus exteriores eram formados elementos simples de uma arquitetura clássica, mas com interiores ricos, onde os arquitetos puderam experimentar composições ousadas intercaladas muitas vezes por pinturas ilusionistas nos tetos. Pisos de parquet eram comuns, assim como no Barroco, e os espaços públicos internos e externos recebiam piso em mármores, pois eram mais duráveis. Tapetes da Idade Média e os produzidos pelas novas fábricas Aubusson e Savonnerie cobriam os ambientes. Portas, janelas e painéis frequentemente corriam do chão ao teto. Na escultura e na pintura, houve abandono dos temas grandiosos de proporções majestosas em benefício de temas mais leves e agradáveis, de pequenas dimensões e requintados, com cores suaves e etéreas. Foi neste Figura 3.10 - Salão Oval Hotel de Soubise, Paris, França, 1732 Fonte: Chatsam / Wikimedia Commons. #PraCegoVer : a imagem apresenta uma foto do interior do salão oval que mostra a decoração com paredes brancas cobertas por molduras douradas em formas curvas e arabescos; ao centro das molduras se intercalam painéis espelhados. período que a arte do mobiliário, tapeçarias, porcelanas e prata atingiu o seu auge. praticar Vamos Praticar “O Rococó foi um re�namento em miniatura do Barroco curvilíneo e ‘elástico’ de Borromini e Guarini, e pôde, assim, fundir-se de modo muito feliz com a arquitetura do Barroco Tardio austríaco e alemão. Na França, a maior parte dos exemplos do estilo, como o Salon de La Princesse, no Hôtel de Soubise, de autoria de Germain Bo�rand, são de escala reduzida e menos exuberante que os da Europa Central.” Fonte: Janson (2009, p. 284). Faça uma pesquisa sobre outros palácios e hôtels europeus que apresentem a decoração em estilo Rococó. Cite o nome dos palácios, data e local. indicações Material Complementar FILME Ligações perigosas Ano : 1988 Comentário : O �lme é uma versão baseada em uma peça francesa chamada Ligações perigosas, de Choderlos de Loclos de 1782. Conta uma história de intrigas, romances e seduções, e se passa na França do século XVIII, período áureo do rococó francês. No �lme, podemos observar os interiores palacianos cobertos por sua decoração exuberante. Para conhecer mais sobre o �lme, acesse o trailer disponível em: TRA ILER LIVRO Arquitetura comentada Editora : Ediouro Autor : Carol Strickland ISBN : 85-00-00894-6 Comentário : O livro conta a história da arquitetura com análises dos períodos históricos e seus marcos mais importantes, fazendo uma análise dos elementos estruturais e compositivos da arquitetura em seus diferentes momentos. conclusão Conclusão A história da arquitetura não conseguiria se explicar se não fosse a contribuição legada pelos seus teóricos, e, neste sentido, o Renascimento foi extremamente importante, pois foi neste período que o homem tomou consciência de seu papel no mundo e de comoele poderia usar todo o seu conhecimento para pensar e planejar o mundo novo. A arquitetura e os arquitetos do Renascimento foram os responsáveis pelo resgate da arquitetura dos antigos, mas, acima de tudo, foram os responsáveis por decodi�car este código e elaborar a sua própria teoria, o seu tratado. Seu legado se perpetuou e contribuiu para novos momentos e, mesmo tendo negado a métrica clássica renascentista, foi a partir dela que conseguiram criar uma nova sintaxe como no Maneirismo e no Barroco. Terminamos com o Rococó, que nada mais é do que uma reelaboração dos elementos decorativos que já vinham sendo trabalhados no Barroco, só que agora atendendo a propósitos mais mundanos, da vida comum. referências Referências Bibliográ�cas BAETA, R. Crise, persuasão e o universo cultural do Barroco. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo , Belo Horizonte, v. 18. n. 22, 2011. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/Arquiteturaeurbanismo/article/view/P.2316- 1752.2011v18n22p90/3715 Acesso em: 31 jan. 2021. BURY, J. Arquitetura e Arte no Brasil Colonial . Brasília: IPHAN / MONUMENTA, 2006. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/�les/johnbury.pdf . Acesso em: 2 fev. 2021. JANSON, H. W. História geral da Arte : mundo antigo e a Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 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