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1 1 INTRODUÇÃO 1.1 Solo Faixa (superficial) desagregada (é possível efetuar corte em solo sem explosivos) de espessura e constituição variáveis, apresentando componentes sólidos (minerais e materiais orgânicos), líquidos (água) e gasosos (ar), em proporções variáveis (fato que modifica sensivelmente as características tecnológicas do mesmo solo). OBS: abaixo do solo temos a formação rochosa (também denominada embasamento rochoso ou maciço rochoso). Exemplos de solo: Solos orgânicos – turfa, mangue. Solos inorgânicos – pedregulhos, arenoso, siltoso, argiloso, areno-argiloso, silto-argiloso, arenoso, etc. OBS: Tanto o solo orgânico quanto o solo inorgânico, quanto à origem, podem ser classificados em: Residual ou Transportado Para obras de engenharia é importante conhecer o solo quanto à constituição e também quanto à origem (será visto futuramente). 1.2 Rocha Agregado natural de 1 ou mais tipos de minerais e/ou matéria orgânica e/ou matéria vítrea e que constitui uma unidade bem definida (para corte temos necessidade de explosivos). Ex: 2 Arenito – rocha sedimentar mecânica, constituída pelo mineral quartzo (mineral silicoso) Basalto – rocha magmática extrusiva, constituída pelos minerais feldspatos, quartzos, micas e piroxênio (minerais ferromagnesianos) OBS: existem rochas constituídas por matéria orgânica ou matéria vítrea. Ex: Coquina – rocha sedimentar orgânica constituída por conchas Meláfiro – rocha magmática extrusiva vítrea (vidro vulcânico) As rochas podem ser agrupadas em: a) Rochas magmáticas (ou ígneas): a. Extrusivas (ex: meláfiro, basalto, felsito) b. Intrusivas (ex: granito, pegmatito, diabásio) b) Rochas sedimentares: a. Mecânicas ou clásticas (ex: conglomerado, arenito, argilito) b. Químicas (ex: sílex, ágata, limonita) c. Orgânicas (ex: coquina, carvão natural) c) Rochas metamórficas: a. Dinamotermais (ex: gnaisse, xisto, quartzito micáceo) b. Termais (ex: mármore e ardósia) c. Cataclásticas (ex: brecha tectônica, milonito) 1.3 Mineral Natural MINERAL qualquer substância Inorgânica composição química definida estrutura interna cristalina *Pérola e petróleo não são minerais, pois são de origem orgânica. Ex: de minerais (já agrupados para a Engenharia) Minerais silicosos (SiO2) Minerais argilosos Água (H2O) Grupo dos feldspatos Minerais micáceos Grupo dos carbonatos Grupo dos ferromagnesianos (inclusive óxidos de Ferro) Grupo da gipsita Embora os minerais possam ocorrer na natureza de formas diferentes, interessam para a engenharia: Como um grande conjunto de partículas desagregadas, constituindo solos; Como um conjunto de partículas agregadas, constituindo rochas; Isolados em grandes concentrações formando as jazidas 3 2 PRINCIPAIS MINERAIS 2.1 Minerais silicosos Constituído de sílica (SiO2). Ex: quartzo (mais comum), calcedônia e opala (mais raro). A calcedônia e a opala são reativas a álcalis. Areia – conjunto de minerais silicosos de 0,02mm à 2 mm de diâmetro. Logo as partículas de areia, podem ser quartzo e/ou calcedônea (raríssimo a presença de opala) Portanto, o conceito (antigo) de areia pura silicosa ser constituída de somente quartzo está errado. 2.1.1 Barragem de concreto Barragem de concreto: (cimento Portland + Água + Agregado graúdo = britas de basalto + agregado miúdo = areia silicosa + etc.) Se (areia silicosa) for constituída somente por partículas de quartzo não há problemas, porém se apresentar mais que 5% de partículas de calcedônia poderão surgir, após 5 a 7 anos, pequenas fissuras na barragem, isto porque: O cimento Portland +água = pasta com álcalis; as partículas de calcedônia são atacadas quimicamente (reação bastante lenta) pelos álcalis resultando na formação de um gel esbranquiçado (gel de sílica de alcalino). Este gel apresenta afinidade com a água, isto é, incorpora e perde molécula de água com facilidade, com variação de volume ∆v = F (%água). Esta variação de volume ∆v gera P (pressões dentro da estrutura de concreto), que atuando milhares de vezes, vão causando a “FADIGA” do concreto e o consequênte surgimento de microfissuras. Este tipo de problema geotécnico ocorreu em barragens da CESP e da CEMIG. Daí a importância da análise mineralógica das areias. Para evitar este problema podemos: a) Não utilizar areia com > 5% de calcedônia b) Utilizar cimento especial (com baixo teor de álcalis – 0,6% álcalis) 2.2 Minerais micáceos Os minerais micáceos são as micas e qualquer outro mineral laminar 2.2.1 Comportamento tecnológico Os minerais micáceos apresentam comportamento tecnológico semelhante a uma resma de sulfite, isto é: a) Apresentam baixa Rc (Resistência ao cisalhamento) paralelamente às lâminas; b) Apresentam alta permeabilidade paralelamente às lâminas; 4 Na natureza ocorre fenômeno idêntico. Podemos ter uma rocha (quartzito) com faixas de minerais micáceos. Estas faixas representam faixas de baixa Rc, causando instabilidade no talude (possibilitando ocorrência de escorregamentos translacionais). Mesmo que nada aconteça durante a execução da obra, acidentes poderão acontecer em épocas chuvosas, pois como os minerais micáceos apresentam alta permeabilidade paralelamente às lâminas, parte da água da chuva, irá se infiltrar e percolar pelas faixas de minerais micáceos exercendo as seguintes influências principais: Age como lubrificante, diminuindo o atrito, e reduzindo ainda mais, a já baixa resistência ao cisalhamento; Exerce uma pequena força de arraste em direção ao talude (ver figura) (força de percolação) Torna o material argiloso (que ocorre em pequena quantidade nessas faixas) moldável, isto é, com a água, o material argiloso adquire características de plasticidade. Conseqüências: escorregamento translacional do talude 5 2.3 Água Em excesso a água é prejudicial às obras de engenharia, pois exerce as seguintes influências principais: A. A água de escoamento superficial 1) Pode causar erosão superficial (formando ravinas, valetas, voçorocas). 2) Pode transportar e acumular partículas de solo e detritos vegetais em locais inadequados, como argila (barro) em leitos rodoviários, solo e detritos em bueiros e etc. B. Água de infiltração (água subterrânea) 1) Aumenta o γ natural (peso específico natural) (“peso morto” do solo), aumentando a instabilidade; 2) Diminui o atrito inter-granular (ação lubrificante) reduzindo a resistência ao cisalhamento desse solo ou rocha; 3) Em seu movimento pelo solo (ou rochas), a água exerce uma foca de arraste (força de percolação) que remove as partículas mais finas causando uma erosão interna; 4) Como a água subterrânea possui gases dissolvidos, torna-se quimicamente ativa podendo: Causar uma lenta decomposição de determinados minerais como feldspato Causar uma lenta dissolução de determinados minerais como carbonatos Tornar-se agressiva a elementos estruturais enterrados nesse solo, como concreto. 5) Se o solo (ou rocha) possuir argila, a água ira transmitir características de plasticidade tornando-a moldável e escorregadia. Se a argila for expansiva irá causar sua expansão (ver mineral argiloso). 6) Se a água subterrânea fizer parte de um lençol artesiano, irá exercer uma sub-pressão (↑↑) na obra. 2.3.1Fórum de Bauru Acidente ocorrido durante os trabalhos de terraplanagem do FÓRUM DE BAURU, quando uma queda de bloco terroso do talude, soterrou operários, causando 4 mortes. Causas: 6 a) Corte vertical e sem escoramento executado em solo b) Solo areno-argiloso. c) Obra em época de estiagem (3 meses sem chuva). Porém choveu a noite inteira. A água modificou as características do solo do talude, instabilizando-o, pois: Aumentou o γ natural (peso morto). Diminuiu a Rc (Resistência ao cisalhamento), pois diminui o atrito entre as partículas do solo e também transmitiu características de plasticidade do solo do talude d) Como a chuva havia saturado (“encharcado”) o solo da área de terraplanagem estava com “poças d’água” dificultando o trabalho. Também estava “minando” no talude. Para eliminar estas dificuldades o mestre de obras iniciou a execução (aberturas) de valas de drenagem no pé do talude. Este fato foi um erro grave, pois, com a vala, foi aumentada a altura do talude (que já estava bastante instável). Além disso, os operários estavam no local mais perigoso no sopé (pé do talude) e, provocando vibrações (pois a escavação foi manual). Consequência: queda de blocos terrosos Solução: escorregamento no talude. 2.4 Minerais argilosos São alumino-silicatos de K, Na, ou Ca, hidratados, de dimensões microscopias ( 85% do adensamento total) aplicando a seguinte técnica: 1. Regularização da superfície, como pequeno caimento (2%). 2. Execução da camada drenante de areia grossa (espessura=15,20 cm). 3. Furos e Instalação de inúmeras fitas drenantes sintéticas (parecem fitas de feltro). 4. Construção do aterro (com sobrecarga se o peso do aterro não for suficiente para forçar a subida da água do solo argiloso para a camada drenante, através das fitas). 5. Retirada da sobrecarga e regularização da superfície do aterro. 6. Edificação Sobrecarga 6 9 Água drenada Solo argiloso mole, espessura 200Kg/cm² 2.4.4 Problema geotécnico: Talude 5 4 2 1 3 10 Ação atmosférica (isto é, o material junto ao talude = variação no teor de água) Esta queda de detritos, com o correr do tempo vai originando um vazio (entrada) na camada silto-argilosa, descalçando o material rochoso superior, (cuja instabilidade vai aumentando gradativamente). Quando o descalçamento atingir o valor crítico (geralmente atingido após 3 à 5 anos) ocorre a QUEDA DE BLOCOS ROCHOSOS que podem causar acidentes, principalmente em ferrovias. Queda de detritos Chuva Cerração Orvalho Umidade do ar Calor solar Ventos + água - água A argila da camada silto argilosa = ΔV gerando pressão que provocam um “lasqueamento” (na (camada silto argilosa) junto ao talude, formando pequena fragmentação, como lascas (detritos) que caem (queda de detritos ou empastilhamento). A ç ã o A tm o s fé rIc a Devido à expansão quebra e cai Camada rochosa adequada Camada silto-argilosa (argila expansiva) 11 TELA GRAMPO Aço Arame (soldado nas extremidades) Estabilização: 1° Regularização do talude com explosivos. 2° Instalar uma tela (tipo galinheiro ou alambrado) sobre a camada problema fixando-a com grampos cimentados (chumbados) na camada rochosa adequada. 3º Lançar concreto projetado (com brita) ou argamassa projetada (sem brita) sobre a tela. Grampo Camada silto-argilosa (argila expansiva) Tela Argamassa ou concreto projetado Grampo 12 2.4.5 Plasticidade ARGILA adequada características de plasticidade com determinada quantidade de água Moldável = sem ruptura (escorregadia) Argilas plásticas : características de plasticidade (nítida) Argilas não plásticas: características de plasticidade (muito pequena) Argila com plasticidade: lisa (escorregadia) (= graxa) Tem fluência plástica Plasticidade Liquidez Água Seca Sólido 13 2.4.6 Talude (camada de solo arenoso e uma camada de solo argiloso) Se tivermos o talude da figura acima (como em alguns trechos da Rodovia Presidente Dutra), ele será estável em época de estiagem. Porém com a estação chuvosa, ocorre o seguinte: como o material arenoso é permeável, uma parte da água da chuva irá se infiltrar no solo, atingindo o solo argiloso. Como o solo argiloso é quase impermeável, a quase totalidade irá percolar no contato (pelo material arenoso), indo “minar” no talude. Esta água irá exercer as seguintes influências: a) Aumento o γ natural (“peso morto”) do material arenoso; b) Diminui a Rc, principalmente no contato; c) Exerce força de arraste em direção ao talude. Uma fração pequena de água, irá penetrar lentamente nos micro poros do solo argiloso, transmitindo características de plasticidade (tornando esta faixa superior do solo argiloso moldável e escorregadio). Como conseqüência deste conjunto de influências, poderá ocorrer um escorregamento do material arenoso. Água que percola no contato Argila plástica Material arenoso Água que penetra nos microporos da argila Água que infiltra Chuva 14 CaCO3 Mineral = calcita R. sedimentar = calcário R. metamórfica = mármore Mineral = dolomita Rocha sedimentar = calcário Rocha metamórfica = mármore dolomítico Ca,Mg (CO3)2 Solo Cavernas de dissolução Carbonato Canais Fundação 2.5 Grupo dos carbonatos ( CO3 ) O carbonato simples mais comum é o de Ca = CaCO3 O carbonato duplo mais comum é o de Ca e Mg = Ca,Mg (CO3)2 Os carbonatos podem ser encontrados na forma de minerais ou rochas, recebendo denominações diferentes: 2.5.1 Características Num local com uma formação rochosa carbonática, teremos o seguinte: Como a rocha formou-se há dezenas à centenas de milhões de anos, já sofreu a influência de, bilhões de chuvas. A água da chuva éligeiramente ácida (pois contêm gases dissolvidos, como o CO2). Esta água penetra na formação rochosa pelas fraturas e minúsculos poros, atacando-a quimicamente, dissolvendo lentamente o carbonato, originando canais e cavernas de dissolução na formação rochosa. Desta forma, mesmo que o carbonato em si, seja de boa qualidade geotécnica, se a obra for executada sem adequada pesquisa, as fundações poderão ficar um pouco acima de uma caverna e consequentemente ocorrerá o colapso da obra.