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FUNDAMENTOS DA LÍNGUA PORTUGUESA Asafe Cortina Noção de texto, tipologia textual e gênero textual Objetivos de aprendizagem Ao final deste capítulo, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir o que é texto, apresentando exemplos. � Classificar os tipos textuais com base em suas características. � Enumerar os gêneros textuais, relacionando suas funções no processo comunicativo. Introdução Neste capítulo, você vai aprender sobre noção de texto, tipologia textual e gênero textual. Primeiramente, diante de diferentes acepções, definiremos o que é o texto e entenderemos as formas como ele se manifesta. Em seguida, você vai estudar sobre as tipologias textuais e suas ca- racterísticas, que enquadram os textos não só pelo conteúdo e tipo de linguagem que utilizam, mas também, e principalmente, pela forma e objetivo de cada um. Posteriormente, você irá aprender como a tipologia textual se difere do gênero textual e irá observar exemplos de gêneros textuais. Finalmente, você verá exemplos de gêneros textuais classificados de acordo com suas tipologias textuais. O que é texto? Circuito Fechado Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, ní- queis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, es- boços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro (RAMOS, 1998). Você considera o segmento acima um texto? Se não, por que não? Se sim, por que sim? Afinal, o que é um texto? Para muitos, texto é apenas uma junção de palavras. Para outros, texto é uma junção de palavras desde que haja sentido entre elas e que comuniquem uma mensagem. Outros justificam que para ser texto deve existir mais de duas frases ou orações. Há, ainda, aqueles que consideram texto qualquer manifestação verbal, independentemente do seu tamanho. Alguns defendem que texto é somente uma produção escrita. Outros, que texto pode ser escrito ou oral. Repito, portanto, a pergunta: afinal, o que é um texto? Noção de texto, tipologia textual e gênero textual2 Podemos definir texto como uma manifestação linguística de tamanho variável (podendo ir desde uma palavra até uma composição mais extensa) que faça sentido e comunique uma mensagem em um determinado contexto. Em outras palavras, um texto não é apenas um amontoado de palavras. Para ser considerado texto, é preciso que a manifestação linguística (inde- pendentemente de seu tamanho) carregue uma mensagem que faça sentido. Para ilustrar essa ideia, vamos considerar três situações diferentes: 1. Você está folheando uma revista e de dentro dela cai uma folha com apenas a palavra “fogo”. 2. Você está em uma aula de tiro e o instrutor grita “fogo”. 3. Você está em uma floresta e alguém passa correndo e gritando “fogo”. Em qual situação (ou em quais delas) a palavra “fogo” pode ser considerada texto? Nas situações 2 e 3. Embora na situação 1 tenhamos um exemplo de manifestação linguística escrita que, para muitos, poderia ser classificada como texto só por isso, ela não comunica nenhuma mensagem naquele contexto. Obviamente, um papel escrito “fogo” poderia exercer uma função comunicativa em outra situação, mas naquela, especificamente, não pode ser considerada texto por não fazer sentido. Já nas situações 2 e 3, a palavra “fogo” possui um sentido e carrega uma mensagem. No caso 2, a palavra usada é uma instrução para que os alunos da aula de tiro atirem. Já no caso 3, a palavra serve como um aviso de que em certo local da floresta começou um incêndio. Com base nesses exemplos, podemos tirar as seguintes conclusões: � um texto não precisa ser apenas escrito, ele também pode ser oral; � para ser considerado texto, a extensão da manifestação linguística é variável, pois uma palavra pode ser considerada um texto; � texto não é qualquer palavra ou aglomerado de palavras aleatórias, ele precisa fazer sentido e comunicar uma mensagem. � algumas vezes, a mesma manifestação linguística pode ser considerada como texto em um contexto e não ser considerada em outro. 3Noção de texto, tipologia textual e gênero textual Vamos retornar, agora, ao “Circuito Fechado”, apresentado como exemplo para abrir esta seção. Baseando-se nos preceitos acima, você diria que “Circuito Fechado” é um texto? Em um primeiro momento, a composição parece ser apenas um aglomerado de palavras. Parece não haver um sentido entre elas e temos a sensação de que, possivelmente, elas não transmitem mensagem alguma. Dessa forma, descreditamos a produção como texto. Contudo, e se eu lhe disser que todas as palavras apresentadas representam a descrição da rotina de um homem em ordem sequencial? Assim, observamos a produção como, de fato, um texto. Observe que ele começa com “Chinelos, vaso, descarga” e termina com “Coberta, cama, travesseiro”. Ao lermos os substantivos mantendo em mente o contexto situacional, conseguimos entender de forma bastante clara a mensagem que o texto tenta transmitir. Portanto, a produção deixa de ser apenas um aglomerado de palavras e se torna um texto. O que aconteceria se todas as palavras do mesmo texto fossem apresentadas de uma forma diferente, de um modo totalmente aleatório? Será que ainda assim poderia ser considerado como texto? Muito possivelmente não, porque um texto não se caracteriza apenas pelo seu conteúdo de palavras, mas também pela sua estrutura e forma de organização. Existem diferentes formas de classificar um texto, além das tipologias e dos gêneros textuais. Eles podem ser classificados em: a) Texto oral versus texto escrito Texto oral é aquele manifesto oralmente, sem que haja registro escrito. Texto escrito, por sua vez, é aquele que se manifesta de forma escrita. Alguns teóricos consideram texto somente a forma escrita, mas para a linguística, um texto pode ser uma manifestação oral, escrita ou visual. b) Texto literário versus texto não literário Texto literário é o tipo de texto que tem por objetivo emocionar ou engajar o leitor em uma determinada trama, como poemas, narrativas, contos etc. Textos não literários são considerados textos “verídicos”, pois têm por objetivo informar o leitor, tais como receitas, artigos de jornal, bula de remédio etc. Na Figura 1, podemos observarum trecho do livro A Moreninha, de Joa- quim Manuel de Macedo, considerado um texto literário. Na Figura 2, temos o exemplo de uma notícia de jornal, considerado texto não literário. Noção de texto, tipologia textual e gênero textual4 Figura 1. Texto literário: A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Fonte: Macedo (2010?). Figura 2. Texto não literário: artigo jornalístico. Fonte: Correio Braziliense (2015). 5Noção de texto, tipologia textual e gênero textual c) Texto verbal versus texto não verbal Embora, para muitas áreas da linguística, um texto é apenas aquele que contém palavras (texto verbal), algumas áreas consideram que existem ma- nifestações linguísticas não verbais que podem ser consideradas texto: são os textos não verbais. Texto não verbal é aquele que não possui palavras, apenas imagens, como placas de trânsito, tirinhas, charges etc., como no exemplo da Figura 3. Figura 3. Texto não verbal: tirinha da Turma da Mônica, de Maurício de Sousa. Fonte: Maurício de Sousa Produções (c2016). Portanto, podemos concluir que para ser considerado um texto, é preciso que ele comunique uma mensagem em um determinado contexto. A dimensão de um texto é variável, podendo, algumas vezes, sequer conter palavras (como no caso dos textos não verbais). Por outro lado, quando um texto contém palavras, só pode ser considerado texto o tipo de manifestação linguística que faça sentido e que comunique algo, independente de ser composto de uma palavra ou de milhares. Além do conteúdo, textos respeitam estruturas e formas que os classificam de acordo com seus objetivos e com seus leitores, podendo ser classificados em diferentes tipologias textuais e diferentes gêneros que, embora se confundam algumas vezes, são duas ideias distintas, como veremos nas próximas seções. Tipologia textual Tipologia textual (tipos de texto) se refere às diferentes formas que um texto pode se apresentar. Elas se se caracterizam e diferenciam não só pelo con- Noção de texto, tipologia textual e gênero textual6 teúdo, mas também – e principalmente ─ por suas formas e objetivos. Cada tipo textual se apresenta de uma determinada maneira, seguindo regras de estruturas e apresentações que diferem um tipo do outro. Em outras palavras, a tipologia textual é responsável por apresentar modelos que delimitam tanto a estrutura quanto os aspectos linguísticos de um texto. Muitas vezes, confunde-se tipologia textual com gênero textual, embora se tratem de conceitos diferentes. As tipologias textuais são os modelos estruturais para um texto que apresentam características linguísticas diferentes, já os gêneros textuais são os tipos diferentes de texto que cumprem funções comunicativas distintas, apresentam uma estrutura em comum e são facilmente identificáveis (como lista de compras, bula de remédio, carta, romance etc.). Podemos encontrar diferentes gêneros textuais dentro de cada tipologia textual. Trataremos dos gêneros textuais na próxima seção. Existem diferentes tipos de texto que divergem de acordo com a finalidade e propósito de cada um, sendo que cada tipo apresenta distinções no que diz respeito à estrutura, linguagem, vocabulário, organização sintática, relações lógicas, interações com o leitor etc. As principais tipologias textuais são quatro, e cada uma delas possui ca- racterísticas próprias. Texto narrativo O texto narrativo tem por objetivo contar um fato, acontecimento ou história por meio de um desencadeamento sequencial. Essa narrativa pode ser real ou fictícia. Dentre os componentes principais de um texto narrativo, estão: � Personagens: são entidades (pessoas, animais, objetos, sentimentos, ideias etc.) que “atuam” na história ou sobre quem a história é contata. Os personagens podem ser caracterizados de forma direta (contada pelo narrador ou por outros personagens durante o enredo) ou indireta (deduzidos com base em seus comportamentos e no que acontece durante a história). Eles podem ser principais, aqueles que são essenciais para 7Noção de texto, tipologia textual e gênero textual a história, como os protagonistas ou antagonistas (que se opõem ao protagonista), ou secundários que colaboram para o enredo da história e apoiam (ou atrapalham) os personagens principais durante o desen- volver da narrativa. � Tempo: em uma narrativa, o tempo pode ser entendido como a época em que a narrativa ocorre (passado, presente, futuro) e também como o tempo em que a história se desencadeia: de forma cronológica, com flashbacks (voltando ao passado) etc. O tempo cronológico se refere à passagem natural do tempo, com os acontecimentos ocorrendo de forma sucessiva. O tempo psicológico diz respeito às lembranças e impressões dos personagens, sendo bastante subjetivos e influenciados pela personalidade e pelo estado de cada personagem. � Espaço: se refere ao local onde acontece a narrativa, podendo ser físico (como em uma cidade, hospital etc.) ou psicológico (nos pensamentos ou lembranças de um personagem ou narrador, por exemplo). � Enredo: são os acontecimentos que se desencadeiam durante a história. � Narrador: é quem conta a história, podendo assumir diferentes pers- pectivas de acordo com sua posição na narrativa. Podem ser: ■ Narrador onisciente e onipresente: o que conhece todos os detalhes de todas as partes da história, geralmente representado por uma narrativa em terceira pessoa (embora, algumas vezes, utilize-se de primeira pessoa e se confunda com um personagem). ■ Narrador personagem: o que faz parte da história e conta o enredo em primeira pessoa. Geralmente, tem conhecimento limitado sobre os outros personagens e sobre o desencadeamento dos fatos e participa do enredo de modo a demonstrar suas impressões sobre o desenrolar da história (opiniões, emoções, sensações, etc.). ■ Narrador observador: o tipo que conta uma história sem se envolver nela, mantendo-se imparcial e desconhecendo os detalhes de cada personagem e do enredo. No que diz respeito à estrutura de um texto narrativo, eles geralmente são estruturados em: � Introdução: onde personagens são apresentados, o tempo é definido e o tipo de narrador é observado. Serve como uma abertura para a narrativa, de forma que o leitor possa se situar a respeito do que irá ler. � Desenvolvimento: onde o enredo se desenvolve. Noção de texto, tipologia textual e gênero textual8 � Conclusão: finalização da narrativa, que pode apresentar um final conclusivo ou deixar a trama em aberto para futuras continuações ou para a imaginação do leitor. Observemos agora um exemplo de texto narrativo em fragmentos do pri- meiro capítulo do livro Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida. Capítulo I – Origem, nascimento e batizado Era no tempo do rei. Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando- -se mutuamente, chamava-se nesse tempo — O canto dos meirinhos —; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. (...) Entre os termos que formavam essa equação meirinhal pregada na esquina havia uma quantidade constante, era o Leonardo-Pataca. Chamavam assim a uma rotunda e gordíssima personagem de cabelos brancos e carão avermelhado, que era o decano da corporação, o mais antigo dos meirinhos que viviam nesse tempo. A velhice tinha-o tornado moleirão e pachorrento; com sua vagareza atrasava o negócio das partes; não o procuravam; e por isso jamais saía da esquina; passava ali os dias sentado na sua cadeira, com as pernas estendidas e o queixo apoiado sobreuma grossa bengala, que depois dos cinquenta era a sua infalível companhia. Fonte: Almeida (2009?). Nesses parágrafos, podemos perceber a definição de tempo (“Era no tempo do rei”), a definição de espaço (“O canto dos meirinhos”, “Rio de Janeiro”) e o tipo de narrador que iremos encontrar na história. Além desses elementos, o narrador também nos apresenta uma definição de “meirinho”, do qual ele continua discorrendo ao longo dos próximos parágrafos e que será fundamental para o entendimento da história. Adiante, o autor nos apresenta Leonardo- -Pataca, que podemos identificar como um personagem da história que se desencadeará. 9Noção de texto, tipologia textual e gênero textual Esse capítulo serve como introdução ao texto, definindo, para o leitor, os elementos constituintes do enredo necessários para que ele possa se situar. A tipologia de texto narrativo se constitui e se caracteriza por apresentar não só uma linguagem específica para se comunicar com o leitor, mas também uma estrutura padrão que a distingue das outras. Entre os exemplos de textos narrativos, estão: romances, novelas, fábulas, depoimentos etc. Texto descritivo O principal objetivo de um texto descritivo, como o nome já diz, é apresentar uma descrição de algo (seja uma pessoa, um objeto, um conceito etc.) de forma que o leitor possa formar uma imagem mental do que está sendo descrito e relacioná-la à realidade ou criar uma figura imaginária. A descrição pode ser feita em diferentes níveis e por meio de diferentes recortes, podendo ser mais objetiva ou mais subjetiva de acordo com os ob- jetivos do texto e do escritor. Embora a estrutura do texto descritivo seja similar à do texto narrativo (introdução, desenvolvimento e conclusão), os componentes dessa estrutura podem ser entendidos de forma um pouco distinta, de modo que a introdução sirva como uma identificação (ou apresentação) daquilo que será descrito e o desenvolvimento, a descrição em si. A conclusão, por sua vez, pode ser entendida não como um componente, mas como um processo. A conclusão ocorre quando o autor do texto está satisfeito com a descrição pretendida. Diferente do texto narrativo, o texto descritivo está isento de limitação temporal ou espacial. Ele se estrutura como uma descrição estática, indepen- dente de uma cronologia ou de um espaço temporal específico. Geralmente, textos descritivos são cheios de substantivos, adjetivos e advérbios. Os verbos utilizados para esses textos geralmente são mais restritos do que os utilizados em narrativas, sendo, em sua maioria, verbos de estado (ser, estar, parecer etc.). A linguagem utilizada em textos descritivos se caracteriza por ser bastante rica, a fim de fornecer uma descrição detalhada, fazendo uso, portanto, de figuras de linguagem, comparações, enumerações etc. de forma que a lingua- gem se torne dinâmica e interessante para o leitor. Existem diferentes tipos de descrições, de acordo com o objetivo de cada texto, podendo ser caracterizadas em: Noção de texto, tipologia textual e gênero textual10 � Descrição objetiva: é o tipo de descrição precisa e exata do objeto a ser descrito, tentando eliminar ambiguidades e objetivando evocar na mente do leitor uma imagem mais próxima e verossímil da realidade. Utiliza linguagem clara e precisa, tentando tornar o texto verídico, e apoia-se na linguagem denotativa. � Descrição subjetiva: é o tipo de descrição que leva em consideração um aspecto pessoal ao que está sendo descrito, de forma que não pre- cise ser completamente verossímil e realístico, considerando emoções e sentimentos. A linguagem utilizada pode ser bastante simbólica e metafórica e se apoia na linguagem conotativa. � Descrição sensorial: é o tipo de descrição que tem por objetivo provocar sensações no leitor, sejam elas auditivas, visuais, olfativas, táteis ou gustativas. Observe, a seguir, um exemplo de texto descritivo que tem por objetivo descrever uma cidade: Wisconsin Dells – Estados Unidos Wisconsin Dells é uma cidade no estado de Wisconsin nos Estados Unidos com uma população aproximada de 2.500 habitantes, sendo vizinha de Lake Delton e Baraboo e a uma distância de apenas 45 minutos da capital de Wisconsin, Madison. A cidade tem uma área de 11,3 km², sendo que 10,7 km² são cobertos por terra e 0,6 km² cobertos por água. Dells é uma cidade bastante arborizada e com muitas reservas naturais. É um lugar popular para férias das famílias americanas, sendo conhecida como a capital mundial dos parques aquáticos, uma vez que abriga os maiores parques aquáticos do mundo. Embora a temperatura em Wisconsin Dells possa chegar a 30 graus abaixo de zero durante o inverno, os parques aquáticos continuam recebendo milhares de visitantes, por terem grandes partes fechadas e climatizadas. É uma cidade que oferece diversas experiências gastronômicas e várias opções de hotéis. Além dos parques aquáticos, a cidade também oferece atividades como rafting, escalada e esqui. 11Noção de texto, tipologia textual e gênero textual No texto acima, podemos observar que o autor teve por objetivo descrever a cidade Wisconsin Dells de forma que o leitor pudesse criar uma imagem mental a respeito do lugar e entender o que é possível encontrar lá. Exemplos de textos descritivos são: cardápios, classificados, folhetos tu- rísticos, informações técnicas de produtos etc. Texto dissertativo (expositivo e argumentativo) Um texto dissertativo se caracteriza por ter como objetivo informar o leitor a respeito de um determinado assunto de forma rica, rigorosa e detalhada. Essa tipologia textual se divide em dois tipos: expositivo e argumentativo. Dissertativo-expositivo: expõe conhecimentos, detalhes e ideias. Esse tipo de texto não tem por objetivo convencer o leitor, apenas relatar fatos sobre um determinado tema, servindo como transmissor de conhecimento e escrito de forma que tente evitar qualquer tipo de erro ou informação não verídica ou não confirmada. Textos dissertativos-expositivos devem ser elaborados de forma clara e organizada, de modo que possam ser entendidos por diversos leitores. Geralmente, textos expositivos trazem um grande número de informações relacionadas ao assunto sobre o qual dissertam, a menos que o autor tenha por objetivo fazer apenas um recorte específico. Nesse tipo de texto, encontramos definições, clarificações, características, comparações, enumerações e exemplos que abordam de maneira correta e eficaz o assunto a ser exposto. Observe, a seguir, um exemplo de texto dissertativo-expositivo, repre- sentado por um fragmento de um texto enciclopédico sobre o Simbolismo. Noção de texto, tipologia textual e gênero textual12 O Simbolismo O Simbolismo surgiu na França, por volta de 1880, e de lá difundiu-se internacional- mente, abrangendo vários ramos artísticos, principalmente a poesia. O período era de profundas modificações sociais e políticas, provocadas fundamentalmente pela expansão do capitalismo, na esteira da industrialização crescente, e que convergiram para, dentre outras consequências, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Na Europa haviam germinado ideias científico-filosóficas e materialistas que procuravam analisar racionalmente a realidade e assim apreender as novas transformações; essas ideias, principalmente as do positivismo, influenciaram movimentos literários como o Realismo e o Naturalismo, na prosa, e o Parnasianismo, na poesia. No entanto, os triunfos materialistas e científicos não eram compartilhados ou aceitos por muitos estratos sociais, que haviam ficado ao largo da prosperidade burguesa característica da chamada “belle époque”; pelo contrário, esses grupos alertavam para o mal-estar espiritual trazido pelo capitalismo. Assim, como afirmou Alfredo Bosi (1936), “do âmago da inteligência europeia surge uma oposição vigorosa ao triunfo da coisa e do fato sobre o sujeito – aquele a quem o otimismo do século prometera o paraíso mas não dera senão umpurgatório de contrastes e frustrações”. A partir dessa oposição, no campo da poesia, formou-se o Simbolismo. O movimento simbolista tomou corpo no Brasil na década de 1890, quando o país passava também por intensas e radicais transformações, ainda que diversas daquelas vivenciadas na Europa. O advento da República e a abolição da escravatura modificaram as estruturas políticas e econômicas que haviam sustentado a agrária e aristocrática sociedade brasileira do Império. Os primeiros anos do regime republicano, de grande instabilidade política, foram marcados pela entrada em massa de imigrantes no país, pela urbanização dos grandes centros – principalmente de São Paulo, que começou a crescer em ritmo acelerado –, e pelo incremento da indústria nacional. (…) Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras (2015). Repare que o texto acima não tem por objetivo convencer o leitor a respeito de nada, apenas abordar o assunto de forma extensiva, tentando explicitar o significado, o surgimento e outros detalhes que o autor considerou importante a respeito do Simbolismo. Como exemplo de textos dissertativos-expositivos, podemos citar: enciclo- pédias, entradas de dicionários, textos informativos escolares etc. Dissertativo-argumentativo: tem por objetivo convencer e persuadir o leitor por meio de sua dissertação. Nesse tipo de texto, o autor utiliza não somente fatos, mas também suas crenças, opiniões, valores e ideias para tentar convencer o leitor de algo ou fazê-lo concordar com seus pressupostos e teses. 13Noção de texto, tipologia textual e gênero textual Embora o texto dissertativo-argumentativo possa apresentar a opinião do autor, ele deve ser composto de forma clara e objetiva, com base em dados verídicos e concretos, tais como estatísticas, comparações, depoimentos etc. Um dos objetivos desse tipo de texto é despertar uma reflexão que leve o leitor a seguir uma linha de raciocínio e ser convencido pelo autor a respeito de sua lógica, hipóteses ou argumentos. Observe, a seguir, um exemplo de texto dissertativo-argumentativo no qual o autor tenta convencer os leitores a respeito de seu pensamento sobre a sociedade e seu futuro. O texto apresentado é composto de fragmentos do manifesto chamado “A Sociedade Industrial e seu Futuro”, escrito por Theodore Kaczynski, um terrorista americano conhecido como Unabomber que, nos anos 1990, exigiu que os jornais americanos divulgassem seu texto, garantindo, em troca, que os atentados realizados por ele cessariam no momento que seu manifesto fosse publicado. A Sociedade Industrial e seu Futuro (Theodore Kaczynski) O processo de afirmação pessoal 33. Os seres humanos têm necessidade (provavelmente biológica) daquilo a que chamaremos o “processo de afirmação pessoal”. Embora esteja intimamente ligado à necessidade de poder (que é geralmente reconhecida), não é propriamente a mesma coisa. O processo de afirmação pessoal tem quatro elementos. Há três melhor definidos que chamamos ter um objetivo, esforçar-se para alcançá-lo e atingi-lo. (Todos precisam de ter objetivos que para serem atingidos requerem esforço, e precisam de conseguir atingir pelo menos alguns desses objetivos.) O quarto elemento é mais difícil de definir e pode não ser uma necessidade para toda a gente. Chamamos-lhe autonomia e será discutido mais à frente [...]. 34. Considere-se o exemplo hipotético de alguém que passa a ter tudo o que quiser sem esforço. Embora tenha poder, essa pessoa há de ficar com problemas psicológicos graves. De início irá divertir-se muito, mas aos poucos sentir-se-á fortemente aborrecida e desmoralizada. Acabará até por ficar clinicamente deprimida. A História demonstra que as aristocracias desocupadas tenderam a tornar-se decadentes [...] por não terem a necessidade de aplicar-se em nada geralmente aborreciam-se, tornavam-se hedonistas e desmoralizadas, mesmo que detendo o poder. Isto mostra que o poder por si só não é suficiente. São necessário objetivos que orientem o exercício desse poder. 35. Todos têm objetivos; se não for para mais nada, pelo menos para satisfazer as necessidades vitais: comida, água, e roupas e abrigos de acordo com o clima. [...] Noção de texto, tipologia textual e gênero textual14 36. A não-realização de objetivos importantes resulta na morte se os objetivos forem necessidades vitais, e em frustração se a não-realização dos objetivos é compatível com a sobrevivência. A falha em realizar objetivos ao longo da vida resulta neste caso em derrotismo, fraca autoestima ou depressão. 37. Assim, para obviar problemas psicológicos graves, os seres humanos precisam de ter objetivos cuja realização exija empenhamento, e de terem uma certa taxa de sucesso nessa realização. 38. [...] Quando as pessoas não tenham de aplicar-se para satisfazerem as suas neces- sidades vitais é frequente estabelecerem objetivos artificiais por si próprias. Em muitos casos acabam por esforçar-se com a mesma energia e envolvimento emocionais que teriam posto para a satisfação de necessidades vitais. [...] 39. Usamos o termo “atividade de substituição” para designar atividades orientadas por objetivos artificiais e que as pessoas estabelecem por si próprias meramente para terem uma razão para se esforçarem, ou seja, meramente pela “realização” que resulta de tentarem atingir esses objetivos. Eis uma maneira de identificar atividades de substituição. No caso de uma pessoa que devota muito tempo e energia para atingir um objetivo X, se em vez disso tivesse de orientar a maior parte do seu tempo e energia para a satisfação das suas necessidades biológicas, com o empenho dos seus recursos físicos e mentais de uma maneira variada e interessante, será que essa pessoa se sentiria gravemente carenciada por não atingir o objetivo X? Se se vir que a resposta é não, então o esforço dessa pessoa para realizar o objetivo X é uma atividade de substituição. [...] Por outro lado, a obtenção de sexo e amor (por exemplo) não é uma atividade de substituição, porque a maior parte das pessoas, mesmo que as suas existências fossem de resto satisfatórias, se sentiriam carenciadas se passassem por esta vida sem alguma vez terem tido uma relação desta natureza. Fonte: Dbio Uevora (2000?). Podemos observar, com o texto acima, que embora possamos não concor- dar com algumas ideias apresentadas pelo autor, sua composição textual é formada por definições, exemplos e comparações que além de dissertar sobre um determinado ponto, também servem como fundamentos e bases para as premissas que serão dispostas pelo ao longo do texto. Esse manifesto é um exemplo bastante claro de texto dissertativo-argu- mentativo por trazer não apenas fatos, mas também a opinião do autor como uma tentativa de convencer o leitor sobre seu ponto de vista. Entre os exemplos de textos dissertativo-argumentativos estão manifestos, textos introdutórios de abaixo-assinados, artigos de opinião, sermões etc. 15Noção de texto, tipologia textual e gênero textual Texto explicativo (injuntivo e prescritivo) O texto explicativo é aquele que tem como principal objetivo instruir o leitor a respeito de algum processo ou procedimento. Esses textos se caracterizam por linguagens que instruam e incentivem a ação, direcionando o compor- tamento do leitor. O tipo de linguagem empregada por esse tipo de texto é, geralmente, ob- jetiva e clara, com um grande número de verbos no imperativo, no infinitivo ou no presente do indicativo. Embora muitas vezes possam ser entendidos como sinônimos, existe uma distinção entre texto explicativo-injuntivo e explicativo-prescritivo, que se diferem pelo grau de obrigação ao seguir as instruções dadas. Os textos explicativos-injuntivos informam, aconselham, ajudam e recomendam, de forma que o leitor tenha um certo grau de liberdade, e os textos explicativos- -prescritivos exigem, demandam e obrigam, sem que o leitor tenha liberdade. Observe, a seguir, um texto que se caracteriza comoexplicativo-injuntivo. Receita de Pão de Queijo Em uma panela, ferva a água e acrescente o leite, o óleo e o sal. Adicione o polvilho, misture bem e comece a sovar a massa com o fogo desligado. Quando a massa estiver morna, acrescente o queijo parmesão, os ovos e misture bem. Unte as mãos e enrole bolinhas de 2 cm de diâmetro. Disponha as bolinhas em uma assadeira untada com óleo, deixando um espaço entre elas. Asse em forno médio (180º C), pré-aquecido, por cerca de 40 minutos. Fonte: Oliveira (2017). Nas instruções acima, observamos um tipo de texto que orienta o leitor a fazer pão de queijo. Os procedimentos dados servem como conselhos de qual a melhor maneira de proceder (de acordo com o autor) para que a receita seja bem-sucedida. Contudo, podemos observar que o texto dá um certo grau de liberdade para que o leitor tome ações diferentes do que é instruído (como ferver os ingredientes em uma leiteira em vez de uma panela ou fazer bolinhas de 3 cm em vez de 2 cm). Observe, agora, um exemplo de texto explicativo-prescritivo: Noção de texto, tipologia textual e gênero textual16 Modelo de contrato de compra e venda DAS OBRIGAÇÕES Cláusula 1ª - O VENDEDOR se obriga a entregar ao COMPRADOR o Documento Único de Transferência (DUT), assinado e a este reconhe- cido firma. Cláusula 2ª - O VENDEDOR se responsabilizará pela entrega do auto- móvel ao COMPRADOR, livre de qualquer ônus ou encargo. Cláusula 3ª - O COMPRADOR se responsabilizará, após a assinatura deste instrumento, pelos impostos e taxas que incidirem sobre o automóvel. Fonte: Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem Empresarial (2018). No texto acima, que é um exemplo de contrato de compra e venda, pode- mos observar que a linguagem é bastante objetiva e que o leitor (que seria o vendedor ou o comprador no caso do exemplo) não tem liberdade alguma de agir de forma diferente do que diz o texto. Diferentemente do texto explicativo-injuntivo – que orienta e aconselha o leitor ─, o texto explicativo-prescritivo obriga o leitor a agir da forma determinada por ele. Entre os exemplos de textos explicativos-injuntivos estão os manuais de instrução, os livros de autoajuda, as receitas culinárias etc. Como exemplos de textos explicativos-prescritivos, podemos mencionar contratos, leis de trânsito, edital de concursos etc. Uma tipologia textual não exclui outra. É possível encontrarmos composições de textos que apresentem mais de uma tipologia textual, como um texto descritivo no meio de um texto narrativo, por exemplo. Observe que as tipologias textuais, além de utilizar linguagens diferentes, também apresentam estruturas distintas que devem ser seguidas e respeitadas 17Noção de texto, tipologia textual e gênero textual para que um texto possa se enquadrar corretamente em um certo tipo, de acordo com seus objetivos. Além das tipologias textuais, textos também podem se classificados de acordo com gêneros textuais, como veremos na próxima seção. Gênero textual Agora que aprendemos sobre as diferentes tipologias textuais, podemos estudar os diferentes gêneros textuais. Gêneros textuais são textos que apresentam características distintas e que exercem funções comunicativas específicas; ou seja, esses textos se caracte- rizam por compartilhar os mesmos traços entre textos do mesmo gênero, por apresentar traços distintos de outros gêneros e por cumprir objetivos diferentes. Pense, primeiramente, na diferença entre uma carta, um romance e uma lista de supermercado. A carta tem por objetivo conectar duas (ou mais) pessoas e transmitir informações, um romance tem por finalidade entreter um leitor e contar uma história; já a lista de supermercado se caracteriza por conter nomes de itens que devem ser comprados. Agora, pense no formato de apresentação de cada um desses textos. Você acharia muito estranho se recebesse uma “carta” com trezentas páginas, com uma capa e um sumário, certo? Mas não acharia estranho receber um romance com esse formato. E já pensou se você recebesse uma lista de compras antes de ir ao mercado e, chegando lá, abrisse e encontrasse no próximo texto? Caríssimo filho, Peço-lhe, gentilmente, que não se esqueças de comprar farinha e ovo para que eu possa fazer o bolo de amanhã. Também é necessário que traga dois litros de leite, não só para o bolo, mas também para o consumo no café-da-manhã. Lembrei-me daquele dia em que comemos pipoca no cinema. Por esse motivo, senti a necessidade de lhe pedir que também comprasse milho para pipoca. ...Atenciosamente, Sua mãe. Noção de texto, tipologia textual e gênero textual18 Certamente essa não é a disposição que estamos acostumados a receber para uma lista de compras. Os gêneros textuais, além de conteúdos que sejam propícios aos seus fins comunicativos, também são caracterizados pela forma de apresentação dos textos, que está altamente relacionados ao papel que cada texto deve cumprir. Um leitor que recebesse o texto acima como uma “lista de compras” certa- mente perderia tempo no mercado lendo frases que não são necessárias para as compras e, ainda por cima, correria o risco de esquecer algum item por não estar facilmente indicado no corpo do texto. Um texto que deveria ter quatro palavras (farinha, ovo, leite, milho) foi disposto em setenta palavras de forma não usual para o seu objetivo. Gêneros textuais devem levar em consideração todos os aspectos que proporcionem uma comunicação eficiente, como emissor, receptor, objetivo, canal, mensagem etc. Diferente das tipologias textuais, os gêneros textuais são de inúmeros tipos e surgem de acordo com as necessidades sociais distintas para cada ação comunicativa. Entre os exemplos de gêneros textuais estão: carta (pessoal e empresa- rial), telefonema, notícia de jornal, artigo de revista, artigo de jornal, artigo acadêmico, piada, receita, bula de remédio, biografia, entrevista, romance, poesia, conto, monografia, aviso, lenda, fábula, lista de compras, ensaio, editorial, e-mail, abaixo-assinado, diário, currículo, entrada de dicionário, texto enciclopédico etc. Os exemplos mencionados acima servem apenas para ilustrar a grande variedade de gêneros textuais existentes. Como já foi dito, cada necessidade comunicativa pode abrir espaço para o surgimento de um gênero textual diferente. Observe, agora, três exemplos de textos: 19Noção de texto, tipologia textual e gênero textual Texto 1 PARACETAMOL Analgésico Antitérmico Comprimidos 750 mg e Gotas 200 mg/ml Uso adulto e pediátrico Indicações: Como analgésico e antipirético. Contraindicações: Não deve ser administrado a pacientes com conhecida hipersensibilidade ao paracetamol. Posologia: Adultos e crianças acima de 12 anos: TYLEPHEN 750 mg: 1 comprimido 3 a 4 vezes ao dia. Não exceder o total de 5 comprimidos, em doses fracionadas, num intervalo de 24 horas. Crianças: Gotas deve ser administrado na dose de 1 gota por kg de peso, até o limite de 35 gotas por dose. Essa administração pode ser repetida 4 a 5 vezes ao dia, com intervalos de 4 a 6 horas, não devendo ultrapassar 5 administrações nas 24 horas. Fonte: Bulas Med (2018). Texto 2 Domingo, 14 de junho de 1942 Na sexta-feira, 12 de junho, acordei às seis horas. Pudera! Era dia do meu aniversário. É claro que eu não tinha permissão para levantar àquela hora, e por isso tive de refrear a minha curiosidade até as quinze para as sete. Aí então não aguentei mais e corri até a sala de jantar, onde recebi as mais efusivas saudações de Moortie (a gata). Logo depois das sete fui dar bom-dia à mamãe e ao papai, e, depois, corri à sala de estar para desembrulhar meus presentes. O primeiro que me saudou foi você, possivelmente o melhor de todos. Sobre a mesa havia também um ramo de rosas, uma planta e algumas peônias; durante o dia chegaram outros. Ganhei uma porção de coisas de mamãe e papai e fui devidamente presenteada por vários amigos. Entre outras coisas, deram-me um jogo de salão chamado Câmara Escura, muitos doces, chocolates,um quebra-cabeça, um broche, os Contos e lendas dos Países Baixos, de Joseph Cohen, Daisy e suas férias nas montanhas (um livro espetacular) e algum dinheiro. Agora posso comprar “Os mitos da Grécia e Roma” — que legal! Fonte: Frank e Pressler (2009). Noção de texto, tipologia textual e gênero textual20 Texto 3 Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive. Fonte: Fernando Pessoa (1946). Lendo e observando os textos acima, você consegue ver alguma diferença entre eles? Várias, correto? O texto 1 é uma bula de remédio, o texto 2 é uma parte de um diário e o texto 3 é um poema. Às vezes, não seria preciso nem que o leitor lesse o conteúdo total dos textos para identificar a que gênero eles pertencem. Essa convenção de formatação de diferentes textos ajuda a caracterizar diferentes gêneros textuais. Além de conteúdos e linguagens diferentes, os três textos também possuem objetivos diferentes. O primeiro texto serve como informativo a respeito de um remédio, o segundo serve como registro de um dia em um diário (e também como narrativa para informar e entreter um leitor de um livro que foi baseado nesse diário) e o terceiro tem por objetivo conscientizar ou despertar emoções. Esses três textos são exemplos claros de diferentes gêneros textuais, que se caracterizam não só pelo conteúdo e linguagem, mas também – e princi- palmente ─ por sua disposição e seus objetivos comunicativos. Agora que já conhecemos as diferentes tipologias textuais e sabemos que existem diversos gêneros textuais, vamos relacionar as duas classificações e apresentar exemplos de gêneros textuais que se enquadram em cada uma das tipologias textuais. � Gêneros textuais que se enquadram no tipo textual narrativo: his- tórias, fábulas, romances, contos, novelas, crônicas, histórias curtas, dramas, teatro etc. � Gêneros textuais que se enquadram no tipo textual descritivo: classificados, menus de restaurante, páginas de diários, informativos turísticos, informações técnicas de produtos etc. 21Noção de texto, tipologia textual e gênero textual � Gêneros textuais que se enquadram no tipo textual dissertativo: enciclopédias, artigos acadêmicos, artigos de opinião, manifestos, sermões etc. � Gêneros textuais que se enquadram no tipo textual explicativo: receitas, manuais de instrução, editais, contratos, livros de autoajuda etc. Neste capítulo, aprendemos que texto não é apenas um aglomerado de palavras, mas sim uma manifestação linguística que comunica e carrega algum significado dentro de um contexto, apresentando sentido. Aprende- mos, também, que um texto se manifesta de diferentes formas e que pode ser composto em diferentes extensões. Ademais, observamos a diferença entre tipologias textuais (que se carac- terizam por sua forma e objetivos) e gêneros textuais (que se definem pela sua função comunicacional e social), identificando que, embora as tipologias textuais sejam limitadas e definidas, os gêneros textuais se classificam e se manifestam de diferentes formas, surgindo de diferentes situações e neces- sidades comunicacionais. Voltando ao exemplo que iniciou o capítulo (Circuito Fechado), podemos concluir que ele é, de fato, um texto, cuja tipologia textual é narrativa e cujo gênero textual pode ser entendido como um conto. E o texto desse capítulo que você acabou de ler? Em qual tipologia você o enquadraria? Qual seria o seu gênero textual? Noção de texto, tipologia textual e gênero textual22 ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Brasília: Biblioteca Digital da Câmara dos Deputados, [2009?]. BULAS MED. Site. [S.l.]: Bulas Med, [2018]. Disponível em: . Acesso em: 04 mar. 2018. CÂMARA BRASILEIRA DE MEDIAÇÃO E ARBITRAGEM EMPRESARIAL. Modelos de contrato. Brasília: CBMAE, 2018. Disponível em: . Acesso em: 04 mar. 2018. CORREIO BRAZILIENSE. Estudante brasileira ganha prêmio de ciência e tecnologia na China. Correio Braziliense, 26 ago. 2018. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2018. DBIO UEVORA. A sociedade industrial e o seu futuro: (excertos). [S.l.]: Dbio Uevora, [2000?]. Disponível em: . Acesso em: 04 mar. 2018. ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS. Simbolismo. São Paulo: Itaú Cultural, 2015. Disponível em: . Acesso em: 04 mar. 2018. FRANK, O. H.; PRESSLER, MirjamK. O diário de Anne Frank. [S.l.]: Best Bolso, 2009. MACEDO, J. M. A Moreninha. Rio de Janeiro: FBN, [2010?]. Disponível em: . Acesso em: 04 mar. 2018. MAURÍCIO DE SOUSA PRODUÇÕES. Tirinhas. 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