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TEMA DA ATIVIDADE: AS TRAGÉDIAS DE SHAKESPEARE LEAR — Ventos, soprai de arrebentar as próprias bochechas! Enraivai! Soprai com força! Trombas e cataratas, derramai-vos até terdes coberto os campanários e afogado seus galos! Sulfurosos raios, velozes como o pensamento, vanguarda dos coriscos que os carvalhos abrem de meio a meio, chamuscai-me a cabeleira branca! E tu, trovão de tudo abalador, achata a espessa redondeza do mundo, quebra os moldes da natureza e de uma vez desfaze todos os germes geradores do homem sem gratidão (…). Deixa o vento roncar! Escarra, fogo! Jorra, chuva! Os trovões, o vento, o fogo, minhas filhas não são. Não vos acuso de ingratos, elementos. Nunca um reino vos dei, nem vos chamei sequer de filhos. Não me deveis nenhuma obediência. Que caia, pois, vosso prazer horrível. Aqui me encontro, vosso escravo, um velho pobre, fraco, sem forças, desprezado. No entretanto, declaro-vos ministros servis, pois com duas filhas perniciosas, travais vossas batalhas de alta origem contra uma fronte tão encanecida e tão velha como esta. Oh! Que vergonha! Fonte: Rei Lear, de William Shakespeare. Tradução de Nélson Jahr Garcia. IAGO — Vai; adeus. Põe bastante dinheiro na bolsa. Assim, de um tolo faço minha bolsa. Profanaria, meus conhecimentos, se gastasse meu tempo com um idiota desta marca, a não ser para proveito próprio ou por distração. Odeio o Mouro. Há quem murmure que ele o meu trabalho já fez em meus lençóis. Se é certo, ignoro-o. Pelo sim, pelo não, agir pretendo como se assim, realmente, houvesse sido. Tem-me afeição. Meu plano, desse modo, sobre ele vi atuar com mais certeza. Cássio é um homem de bem. Ora vejamos como posso alcançar o lugar dele e enfeitar meu desejo com dobrada patifaria. Como? De que modo? Reflitamos. Deixar passar o tempo e embair-lhe os ouvidos, declarando-lhe que Cássio mostra muita intimidade com a mulher dele. O exterior de Cássio e seu todo insinuante o predispõem a tomar-se suspeito facilmente. Foi feito para seduzir mulheres. De natureza é o Mouro livre e aberta; honesto julga ser quem aparenta, tão só, honestidade. Sem trabalho pelo nariz poderá ser levado, tal qual os asnos. Pronto; já está gerado. A noite e o inferno à luz hão de trazer meu plano eterno. Fonte: Otelo, de William Shakespeare. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Atenção! Para responder à atividade, escolha entre uma (apenas uma) das peças citadas acima. Escolha uma das tragédias de Shakespeare citadas acima. Busque conhecer a peça, de preferência lendo-a na íntegra (as peças estão traduzidas em domínio público). É possível conhecer a peça igualmente assistindo um filme que adapte a peça para o cinema, por exemplo. Independente da forma, contextualize o fragmento citado acima, indicando como os principais temas da peça se fazem presentes no fragmento. Busque indicar textualmente como importantes elementos da tragédia escolhida se manifestam nas palavras dos personagens que constam nos fragmentos. M4.24 | LITERATURAS EM LÍNGUA INGLESA I PR1 – PRÁTICA Escolherei a tragédia "Rei Lear" para contextualizar e analisar o fragmento. Contextualização da peça "Rei Lear" "Rei Lear" é uma das tragédias mais profundas e complexas de William Shakespeare, abordando temas como poder, loucura, traição, ingratidão e a condição humana. A peça narra a história de Lear, um rei idoso que decide dividir seu reino entre suas três filhas: Goneril, Regan e Cordélia. Porém, ao pedir que elas expressem verbalmente o quanto o amam, apenas as duas filhas mais velhas, Goneril e Regan, fazem declarações grandiosas e insinceras, enquanto Cordélia, a filha mais jovem e verdadeiramente leal, recusa-se a lisonjeá-lo, o que resulta em sua deserdada e banida. Lear, cego pela vaidade e incapaz de reconhecer a sinceridade, confia nas filhas ingratas, o que o leva a uma jornada de loucura, dor e arrependimento. Temas presentes no fragmento escolhido No fragmento citado, Lear está enfrentando uma tempestade violenta. Esse momento ocorre após a traição das filhas Goneril e Regan, que, após receberem seus territórios, passam a maltratá-lo e desrespeitá-lo. A cena simboliza tanto a tempestade exterior, que ameaça fisicamente Lear, quanto a tempestade interior de seus sentimentos, onde a fúria, a mágoa e a desilusão se misturam, levando-o cada vez mais para a loucura. Análise dos elementos trágicos no fragmento 1. Ingratidão e traição: Um dos temas centrais da peça é a ingratidão filial, que está claramente expressa nas palavras de Lear. No fragmento, ele faz uma amarga comparação entre os elementos da natureza (vento, fogo, trovões) e suas filhas ingratas: "Os trovões, o vento, o fogo, minhas filhas não são. Não vos acuso de ingratos, elementos. Nunca um reino vos dei, nem vos chamei sequer de filhos. Não me deveis nenhuma obediência." Lear, desamparado, reconhece que os elementos naturais não lhe devem obediência, ao contrário de suas filhas, que o traíram, mesmo após ele ter lhes dado tudo. Essa traição é um dos principais catalisadores de sua tragédia pessoal. 2. Loucura: O discurso de Lear durante a tempestade reflete sua progressiva descida à loucura. Ao tentar enfrentar as forças da natureza, ele também está lidando com a desintegração de sua própria identidade e sanidade. Sua mente, assim como o tempo, está em um estado caótico, e sua vulnerabilidade está exposta. "Aqui me encontro, vosso escravo, um velho pobre, fraco, sem forças, desprezado." A frase reflete a perda de poder e dignidade de Lear, que antes era um rei poderoso e agora se vê sem nada, traído e desprezado por suas próprias filhas. 3. O poder destrutivo da vaidade: No início da peça, a vaidade de Lear o levou a acreditar nas falsas promessas de Goneril e Regan, e a rejeitar o amor sincero de Cordélia. No entanto, agora, durante a tempestade, Lear começa a compreender o erro de seus julgamentos, mesmo que tarde demais. 4. O destino trágico do protagonista: Como em muitas tragédias de Shakespeare, o protagonista, Lear, é um homem de grande poder que se vê tragicamente derrubado por suas falhas e escolhas equivocadas. No fragmento, Lear reconhece seu papel como escravo do destino: "Que caia, pois, vosso prazer horrível." Aqui, ele aceita que está à mercê das forças que estão além de seu controle, tanto físicas quanto emocionais. Conclusão Neste trecho de "Rei Lear", Shakespeare encapsula temas trágicos como a ingratidão, a loucura e o colapso do poder. A luta de Lear contra a tempestade é uma metáfora para sua luta interna contra a devastação emocional causada pela traição de suas filhas e seu próprio orgulho ferido. A tragédia de Lear está em sua incapacidade de enxergar a verdade até que seja tarde demais, levando-o a um destino de dor e insanidade.