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AULA 13 MOD 8 – MICHEL FOUCAULT E O PODER 
Professor: DR. JOÃO MUNIZ JÚNIOR
SUMÁRIO
1. As relações de poder e a questão da subjetividade
2. Abordagem prática da noção de sujeito a partir de Rui, o homem e o mito
As relações de poder e a questão da subjetividade 
Michel Foucault nasceu em Poitiers, França, no dia 15 de outubro de 1926 e morreu no dia 25 de junho de 1984, na cidade de Paris. Oriundo de uma família em que o exercício da medicina era uma tradição, Michel Foucault acabou seguindo outros caminhos, enveredando-se para o campo da filosofia. Em 1946, iniciou seus estudos na École Normale da rue d’Ulm. Entre as influências intelectuais que sofreu, destacam-se: Platão, Hegel, Kant, Marx, Nietzsche, Husserl, Heidegger, Freud, Bachelard, Lacan, apenas para citar alguns. 
Foucault desenvolveu um pensamento que se opunha ao de Kant, uma vez que este entendia que o sujeito seria algo como um mediador e referencial de todas as coisas. Foucault, por seu turno, considerava que o indivíduo homem seria, na verdade, produto das práticas discursivas. 
Foucault obteve o grau de licenciatura em filosofia pela Sorbone, em 1948 e, em 1949, licenciou-se em psicologia. No ano de 1952, alcançou no Instituto de Psychologie o diploma de Psicologia Patológica e, nesse mesmo ano, tornou-se assistente na Universidade de Lille. Foucault lecionou psicologia e filosofia em diversas universidades, em países como: Alemanha, Suécia, Tunísia, EUA, etc. além de ter atuado por vários anos como psicólogo em hospitais psiquiátricos e prisões, o que teria influenciado, sobremaneira, os seus temas e objetos de pesquisa. 
O pensamento de Foucault sobre temas como a constituição do sujeito, as relações de poder e as formas de subjetivação, bem como sobre as dimensões éticas da vida social, são de fundamental importância para vários campos do conhecimento, dentre eles, a História. 
Iremos tratar aqui da concepção de Michel Foucault sobre a constituição do sujeito no âmbito da noção das relações de poder. Em um primeiro momento, serão apresentadas as teses desse filósofo concernentes à noção de poder e, em seguida, iremos realizar uma abordagem prática com base nessas ideias.  Para tanto, elegemos a biografia que Raimundo Magalhães Júnior escreveu sobre Rui Barbosa a fim de aplicarmos, ainda que de forma breve, alguns referenciais teóricos de Foucault sobre o sujeito.  
Essa proposta faz sentido uma vez que para esse filósofo, o homem é constituído sujeito a partir das práticas de objetivação e de subjetivação, ou seja, ao mesmo tempo em que o indivíduo é sujeitado pelas relações de saber e de poder, ele também estabelece diferentes tipos e níveis de relações consigo mesmo e com os outros, por meio das quais seria possível criar espaços de liberdade nos quais se constituiria sujeito consciente de si mesmo.
Michel Foucault (2010) afirma em seu célebre texto O sujeito e o Poder, que o objetivo do seu trabalho durante os últimos vinte anos não teria sido analisar o poder e nem trabalhar as bases dessa análise, mas sim, “criar uma história dos diferentes modos pelos quais, em nossa cultura, os seres humanos tornam-se sujeitos” (Foucault, 2010, p. 273). Portanto, não seria o poder, “mas o sujeito, que constituiu o tema geral de minha pesquisa” (Foucault, 2010, p. 274).
Para Foucault, toda subjetividade só é possível por meio de um processo de subjetivação, uma vez que “não existe constituição do sujeito moral sem ‘modos de subjetivação’” (Foucault, 1984, p. 28). Dessa forma, modos de subjetivação
designa, para Foucault, um processo pelo qual se obtém a constituição de um sujeito, ou, mais exatamente, de uma subjetividade. Os ‘modos de subjetivação’ ou ‘processos de subjetivação’ do ser humano correspondem, na realidade, a dois tipos de análise: de um lado, os modos de objetivação que transformam os seres humanos em sujeitos - o que significa que há somente sujeitos objetivados e que os modos de subjetivação são, nesse sentido, práticas de objetivação; de outro lado, a maneira pela qual a relação consigo, por meio de um certo número de técnicas, permite constituir-se como sujeito de sua própria existência (REVEL, 2005, p. 82).
Os diferentes modos por meio dos quais o homem se torna sujeito seria aquilo que Foucault (2010) chama de formas de objetivação. Ele trabalha com três modos de objetivação: no primeiro, o sujeito se constitui por meio da ciência enquanto objeto de estudo, como exemplo, o filósofo cita a objetivação do sujeito na gramática, na filosofia e na linguística. 
No segundo modo, Foucault estuda a objetivação do sujeito naquilo que ele denomina práticas divisoras, nesse processo, o sujeito é dividido em si mesmo e em relação aos outros, como exemplo, “o doente e o sadio”, o criminoso e o “bom”, o “louco e o são” (Foucault, 2010, p. 273). No terceiro, o objetivo do filósofo é estudar o modo pelo qual o indivíduo “torna-se ele próprio um sujeito”, como campo de análise, ele elege o domínio da sexualidade, a fim de entender como os homens se reconheceram como “sujeitos de sexualidade” (Foucault, 2010, p. 274). 
Dessa forma, “Foucault justapõe, no decorrer de suas obras, os processos de objetivação e subjetivação do indivíduo, assim como os mecanismos e as estratégias que compõem esses processos, que, em seu conjunto, podem explicar a constituição do sujeito.” (Fonseca, 2003, p. 25). No caso de suas análises sobre o do poder a proposta de investigação do filósofo seria se debruçar sobre como diferentes dispositivos operam sobre os indivíduos, alterando seus corpos e também sua constituição enquanto sujeitos.
Foucault assegura, enfaticamente, ser contrário à concepção de um sujeito universal, previamente postulado, encontrado em todos os lugares. Segundo ele, “o sujeito se constitui através das práticas de sujeição, ou de maneira mais autônoma, através de práticas de liberação, de liberdade, [...] a partir, obviamente, de  certo número de regras, de estilos, de convenções que podemos encontrar no meio cultural” (Foulcault, 2006, p. 291).
Fica claro que para Foucault, não existe um sujeito a-histórico, é em determinados períodos históricos que o filósofo vai buscar entender a constituição do sujeito (Revel, 2005, p. 84). Não existiria, então, um sujeito pré-estabelecido, e deste, derivaria as relações de poder. Na verdade, o sujeito é produto das relações de poder, e não o contrário. 
A fim de entender o que são as relações de poder, Foucault (2010) propõe que sejam analisadas as formas de resistência e as tentativas de se desvencilhar dessas relações. Segundo o autor, o principal objetivo das resistências não seria atacar uma determinada instituição de poder ou certo grupo ou elite, mas sim, “uma técnica, uma forma de poder”. O poder, na concepção de Foucault (2010), não é algo que exista de forma universal, não se trata de uma entidade; o poder apenas pode ser “exercido por ‘uns’ sobre os ‘outros’” (Foucault, 2010, p. 287). 
Além disso, para se tratar exatamente de uma relação de poder, dois elementos se mostram fundamentais e indispensáveis: “que o ‘outro’ (...) seja reconhecido e mantido até o fim como o sujeito de ação; e que se abra, diante das relações de poder, todo um campo de respostas, reações, efeitos, invenções possíveis” (Foucault, 2010, p. 288). Nas palavras de Michel Foucault:
[o poder] É um conjunto de ações sobre ações possíveis: ele opera sobre o campo de possibilidades em que se inscreve o comportamento dos sujeitos ativos; ele [o poder] incita, induz, desvia, facilita ou dificulta, amplia ou limita, torna mais ou menos provável; no limite, coage ou impede absolutamente, mas é sempre um modo de agir sobre um ou vários sujeitos ativos, e o quanto eles agem ou são suscetíveis de agir. Uma ação sobre ações (FOUCAULT, 2010, p. 288). 
Outro aspecto fundamental do pensamento de Foucault (2010) concernente às relações de poder diz respeito à ideia de que se o exercício do poder é o “governo” de uns pelos outros, o poder só é exercido sobre “sujeitos livres, enquanto livres”, ou seja, as relações de poder sóocorrem quando os indivíduos têm diante de si um campo de possibilidades e escolhas, quando se pode deslocar ou no mínimo escapar. Entra em cena a questão da liberdade. Poder e liberdade não se opõem, na verdade, “a liberdade aparecerá como condição de existência do poder” (Foucault, 2010, p. 289). ]
Neste ponto, merece ser destacada a dimensão ética do indivíduo: ao mesmo tempo em que o sujeito é constituído a partir das relações de poder, este apenas existe onde há o mínimo de liberdade, de possibilidade de escolhas.
Em 2014, o blog “Prosa”, do jornal “O Globo”, publicou uma entrevista concedida por Michel Foucault em 1975, durante uma visita que fez ao Brasil. Nessa entrevista, Foucault fala sobre o seu método de trabalho, sobre a questão dos mecanismos de controle que operam na sociedade contemporânea e, ainda, sobre a noção de "poder normalizador". Vale a pena conferir a entrevista completa no link a seguir: 
Abordagem prática da noção de sujeito a partir de Rui, o homem e o mito
Raimundo Magalhães Júnior escreveu uma biografia contundente de Rui Barbosa, publicada em 1964, pela editora Civilização Brasileira. Trata-se de uma obra que provocou enorme celeuma à época de seu lançamento. Isso porque o biógrafo desnudava o seu personagem em seus momentos de glória, mas, principalmente, em suas contradições, equívocos, pontos baixos, derrotas. 
A maneira como Magalhães Júnior constrói a personagem biografada de Rui Barbosa se insere exatamente no eixo de pensamento de Foucault sobre as relações de poder enquanto formadoras do sujeito. Uma vez que para o filósofo francês não haveria um sujeito antes de haver um indivíduo e que são as relações de poder que transformam o indivíduo em sujeito. Sendo assim, faz sentido estudar as formas pelas quais a escrita biográfica de Magalhães reconstruiu a trama histórica a fim de retratar uma personagem em papel e letras. Mostra-se pertinente, portanto, a ideia de identificar nessa trama, conforme o raciocínio de Foucault, as relações de poder que constituíram seu biografado enquanto sujeito.
Podemos adiantar que Raimundo Magalhães, em sua biografia sobre Rui Barbosa, leva a cabo um empreendimento literário-historiográfico embasado em uma farta documentação sobre seu personagem. Aqui, a noção de trabalho do historiador com as fontes mostra-se primordial. Apesar de Magalhães não ser um historiador de formação, ainda assim, podemos considerá-lo como um dos tais em função do rigor com o qual ele conduz a sua pesquisa em arquivos, tanto pessoais quanto públicos, sobre o seu biografado, consulta diários, correspondência oficial e pessoal, enfim, uma enormidade de documentação com o objetivo de descrever o período em que viveu Rui Barbosa, como este atuou e contracenou. 
Em sua escrita, Raimundo Magalhães Júnior procura estabelecer as relações que Rui Barbosa manteve com seus pares na Academia Brasileira de Letras; a relação conflituosa entre Rui e seus adversários políticos; a relação do jurista baiano com a família e amigos; a atuação internacional de Rui Barbosa; a trajetória do biografado como jurista, político, orador, ministro. 
O trabalho de Magalhães Júnior permite-nos, ainda, nos defrontarmos em que medida as ações do biografado influenciaram e/ou foram influenciadas no e pelo meio social em que se inseria. Além disso, quais as escolhas feitas e no que resultaram, que tipo de “governo” exerceu sobre os outros e de que forma foi “governado” e, por último, mas não menos importante, como Rui Barbosa adquire uma identidade própria sendo constituído e constituindo-se como sujeito.
Percebe-se como é valioso o cabedal teórico de Michel Foucault na análise da constituição do sujeito moderno. Apesar de breve, a nossa proposta de abordagem prática sobre as maneiras pelas quais seria possível analisar a formação do sujeito a partir do estudo da biografia de Rui Barbosa, de autoria de Raimundo Magalhães, evidencia a aplicabilidade das concepções do pensamento de Michel Foucault sobre como os processos de objetivação e subjetivação se alternam e se complementam para transformação do indivíduo em sujeito. 
Não existe, para Foucault, sujeito pré-estabelecido, o sujeito é histórico, pois é exatamente por meio das relações de poder que, por sua vez, são historicamente localizadas, que o sujeito é constituído. Para refletir sobre a constituição do sujeito, Rui Barbosa, a partir da narrativa biográfica de Magalhães Júnior, nos moldes do pensamento de Foucault, é necessário levar em conta os jogos de poder praticados por e em torno do sujeito biografado, como a trama histórica é retratada pelo biógrafo e como é efetuada a construção de um indivíduo com identidade própria a partir dos modos de objetivação e subjetivação.
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