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DIREITOS HUMANOS DAS MINORIAS E GRUPOS VULNERÁVEIS – PARTE 2 
 
3.DIREITOS HUMANOS DOS POVOS INDÍGENAS E COMUNIDADES 
TRADICIONAIS 
 
Uma das preocupações que tem afligido o direito internacional contemporâneo diz 
respeito à proteção dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, grupos 
historicamente relegados ao esquecimento e considerados por muitas legislações nacionais, 
até bem pouco tempo, como relativamente incapazes, ferindo sua própria dignidade e 
autodeterminação 
São povos indígenas os vários grupos étnicos que habitam um determinado território 
desde tempos imemoriais, ali se encontrando milênios antes das invasões ou colonizações, e 
que continuaram a se desenvolver da maneira tradicionalmente por eles conhecida, com suas 
manifestações culturais e hábitos, mantendo-se distintos dos outros setores da sociedade que 
atualmente vive em tal território. 
Já as comunidades tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se 
reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e 
usam, de maneira permanente ou temporária, territórios e recursos naturais como condição 
para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando 
conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. Entre eles estão, 
além dos povos indígenas, os quilombolas, seringueiros, castanheiros, quebradeiras de coco-
de-babaçu, comunidades de fundo de pasto, faxinalenses, pescadores artesanais, marisqueiras, 
ribeirinhos, varjeiros, caiçaras, praieiros, sertanejos, entre outros. 
No quadro atual, tanto os povos indígenas como quaisquer comunidades tradicionais 
compõem uma esfera de caracteres e tradições tão particulares que faz que, de um lado, se 
reconheça o indivíduo como portador de identidades complexas e multifacetadas e, de outro, 
garanta o espaço comum em que são manifestadas todas as suas particularidades definitórias. 
Em matéria de proteção às populações indígenas e comunidades tradicionais, acredita-se 
que a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação 
Racial (1965) tenha representado o primeiro mecanismo ainda vigente relativo à sua proteção, 
eis que repudia qualquer forma de discriminação racial, esta, por seu turno, conceituada de 
maneira abrangente pelo art. 1.º da Convenção, nestes termos: 
Na presente Convenção, a expressão “discriminação racial” significa qualquer 
distinção, exclusão, restrição ou preferência fundadas na raça, cor, descendência ou 
origem nacional ou étnica que tenha por fim ou efeito anular ou comprometer o 
reconhecimento, o gozo ou o exercício, em igualdade de condições, dos direitos 
humanos e das liberdades fundamentais nos domínios político, econômico, social, 
cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública. 
 
Destaque-se que o conceito de discriminação ora compreendido abrange, além da 
perseguição contra os judeus, também a discriminação de pessoas em razão da sua cor de pele 
 
 
 
ou em razão de sua pertinência a um grupo étnico ou a um povo indígena ou comunidade 
tradicional, tornando-se instrumento eficaz no combate do tratamento discriminatório 
conferido, não raras vezes, aos povos indígenas. Vale dizer, para a Convenção “discriminação 
racial” conota toda distinção, exclusão, restrição ou preferência fundadas em quaisquer 
características imanentes à pessoa, seja sua raça, cor, descendência ou origem nacional ou 
étnica, aplicando-se, sem margem a dúvidas, aos povos indígenas e às comunidades 
tradicionais. 
No que diz respeito à cultura e ao trato das questões indígenas no plano global, merecem 
destaque as convenções internacionais do trabalho celebradas sob os auspícios da OIT, fruto 
das reivindicações dos movimentos sindicais e operários do final do século XIX e começo do 
século XX. 
 Inicialmente, considerando a forma degradante com que os indígenas eram forçados a 
trabalhar, a OIT buscou – por meio da fixação de padrões mínimos de trabalho, como saúde, 
educação etc. – disciplinar o tema pela elaboração da Convenção n.º 107, de 1957, relativa à 
proteção e integração de grupos populacionais nativos e outros grupos tribais ou vivendo de 
tal forma em países tornados independentes. A ideia principal da Convenção n.º 107 
(ratificada pelo Brasil em 1965) estava ligada à melhoria das condições de trabalho dos índios, 
para o que a OIT definiu padrões mínimos concernentes a tais condições laborais. 
Nessa esteira, a Convenção n.º 107 da OIT assegurava a proteção dos grupos aborígenes 
até o momento em que estes estivessem plenamente integrados à comunidade nacional, 
negando-lhes suas manifestações culturais e, portanto, sua própria identidade, na medida em 
que os tomava como meios para um determinado fim (que seria a comunidade nacional 
homogênea, da qual destoam), e não como um fim em si mesmos. Falando em outros termos, 
pelo espírito da Convenção n.º 107 aos índios não era garantido o direito de permanecerem 
índios, senão apenas de integrar a comunidade nacional dos países em que vivessem. 
Para ilustrar o exposto, sem muita dificuldade, basta verificar os dois primeiros 
dispositivos da Convenção n.º 107, assim redigidos: 
Artigo 1.º 
1. A presente Convenção se aplica: 
a) aos membros das populações tribais ou semitribais em países independentes, cujas 
condições sociais e econômicas correspondem a um estágio menos adiantado que o 
atingido pelos outros setores da comunidade nacional e que sejam regidas, total ou 
parcialmente, por costumes e tradições que lhes sejam peculiares por uma legislação 
especial; 
(...) 
2. Para os fins da presente convenção, o termo ‘semitribal’ abrange os grupos e as 
pessoas que, embora prestes a perderem suas características tribais, não se achem 
ainda integrados na comunidade nacional. 
3. As populações tribais ou semitribais mencionadas nos parágrafos 1.º e 2.º do 
presente artigo são designadas, nos artigos que se seguem, pela expressão 
‘populações interessadas’. 
 
 
 
Artigo 2.º 
1. Competirá principalmente aos governos pôr em prática programas coordenados e 
sistemáticos com vistas à proteção das populações interessadas e sua integração 
progressiva na vida dos respectivos países. (...)” [grifo nosso]. 
 
Somente anos depois, porém, dada a ruptura dessa visão integracionista e 
homogeneizadora, pela aceitação do outro como diferente e dotado de simbolismos e 
manifestações culturais de identidade, bem assim pelas vindicações relativas à promoção e 
proteção da identidade étnica, cultural, econômica e social desses povos, é que efetivamente 
ganhou corpo a conquista dos direitos hoje reconhecidos às comunidades indígenas e 
tradicionais. Nesse sentido, a OIT trabalhou com afinco para revisar a Convenção n.º 107, 
que acabou, em junho de 1989, sendo integralmente substituída pela Convenção n.º 169 
(chamada de “Convenção Sucessória”), em vigor internacional desde 5 de setembro de 1991. 
A Convenção n.º 169 concretizou as aspirações dos grupos indígenas e comunidades 
tradicionais de conservarem suas próprias instituições sociais, econômicas, culturais e 
políticas; de terem respeitados o seu estilo de vida tradicional e organização, diferentemente 
do restante da população do país. Passou-se, assim, de uma visão meramente integracionista, 
presente na Convenção n.º 107, para um olhar garantista dos direitos de uma sociedade 
pluriétnica. O documento ainda inova em instituir o critério da autoidentidade indígena ou 
tribal para fins de atribuição de direitos, pelo qual cabe à própria comunidade se 
autoidentificar como “indígena”, não podendo nenhum Estado ou grupo social negar-se a esse 
reconhecimento. 
O art. 1.º da Convenção n.º 169 disciplina o âmbito de aplicação do tratado, nos 
seguintes termos: 
1.º A presente convenção aplica-se: 
a) aos povos tribais em países independentes, cujas condições sociais, culturais e 
econômicas os distingam de outrossetores da coletividade nacional, e que estejam 
regidos, total ou parcialmente, por seus próprios costumes ou tradições ou por 
legislação especial; 
b) aos povos em países independentes, considerados indígenas pelo fato de 
descenderem de populações que habitavam o país ou uma região geográfica 
pertencente ao país na época da conquista ou da colonização ou do estabelecimento 
das atuais fronteiras estatais e que, seja qual for sua situação jurídica, conservam 
todas as suas próprias instituições sociais, econômicas, culturais e políticas, ou parte 
delas. 
 
Perceba-se que a Convenção diferenciou duas categorias de povos: os tribais e 
os indígenas. 
Os tribais são aqueles cujas condições sociais, culturais e econômicas os diferenciam dos 
outros setores da coletividade nacional, estando regidos, total ou parcialmente, pelos seus 
próprios costumes, tradições ou legislação especial. 
 
 
 
Os indígenas são os originários de populações que habitavam o país ou uma região 
geográfica a ele pertencente à época da conquista ou da colonização ou do estabelecimento 
de suas atuais fronteiras e que, independentemente de sua situação jurídica, conservam todas 
as suas instituições sociais, econômicas, culturais e políticas, ou parte delas. 
Dentre os direitos garantidos pela Convenção n.º 169, encontram-se os seguintes: direito 
dos povos indígenas e tribais de gozar plenamente dos direitos humanos e liberdades 
fundamentais, sem obstáculos ou discriminação (art. 3.º); direito às instituições, bens, culturas 
e meio ambiente (art. 4.º); reconhecimento e proteção dos valores e práticas sociais, culturais, 
religiosos e espirituais (art. 5.º, a); respeito à integridade dos seus valores, práticas e 
instituições (art. 5.º, b); direito de serem previamente consultados, mediante procedimentos 
apropriados e, particularmente, por meio de suas instituições representativas, cada vez que 
sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente 
(art. 6.º, § 1.º, a); direito de escolher suas próprias prioridades no que diz respeito ao processo 
de desenvolvimento, na medida em que ele afete as suas vidas, crenças, instituições e bem-
estar espiritual, bem como as terras que ocupam ou utilizam de alguma forma, e de controlar, 
na medida do possível, o seu próprio desenvolvimento econômico, social e cultural (art. 7.º, 
§ 1.º); direito de serem considerados seus costumes e seu direito consuetudinário na aplicação 
da legislação nacional (art. 8.º, § 1.º), entre tantos outros. 
 
3.1Marcos atuais: Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das 
Expressões Culturais (2005) e Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos 
Indígenas (2007) 
 
Atualmente, com a evolução do corpus juris protetivo dos direitos da pessoa humana, 
vários outros direitos indígenas e de comunidades tradicionais vêm sendo perfilhados pelo 
direito internacional público, notadamente relativos à cultura e ao seu reconhecimento. 
A principal expoente dessa evolução, no plano onusiano, é a Convenção sobre a Proteção 
e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, adotada pela Unesco (Paris) em 20 
de outubro 2005, que reconhece, entre outros, “a importância dos conhecimentos tradicionais 
como fonte de riqueza material e imaterial, e, em particular, dos sistemas de conhecimento 
das populações indígenas, e sua contribuição positiva para o desenvolvimento sustentável, 
assim como a necessidade de assegurar sua adequada proteção e promoção”, para o que 
também leva em conta “a importância da vitalidade das culturas para todos, incluindo as 
pessoas que pertencem a minorias e povos indígenas, tal como se manifesta em sua liberdade 
de criar, difundir e distribuir as suas expressões culturais tradicionais, bem como de ter acesso 
a elas, de modo a favorecer o seu próprio desenvolvimento”. 
O marco mais recente, porém, no trato das questões indígenas em nível global vem 
representado pela Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, de 
13 de setembro de 2007, aprovada com 143 votos a favor, dentre os quais o Brasil. Seu texto 
inicia dizendo que os “indígenas têm direito, como povos ou como pessoas, ao desfrute pleno 
de todos os direitos humanos e as liberdades fundamentais reconhecidas pela Carta das 
 
 
 
Nações Unidas, a Declaração Universal de Direitos Humanos e a normativa internacional dos 
direitos humanos” (art. 1.º). A Declaração afirma também serem os povos e as pessoas 
indígenas livres e iguais a todos os demais povos e pessoas, garantindo-lhes o “direito a não 
serem objeto de nenhuma discriminação no exercício de seus direitos que esteja fundada, em 
particular, em sua origem ou identidade indígena (art. 2.º). Garante-se também aos povos 
indígenas o direito à livre determinação (art. 3.º), à autonomia e autogoverno nas questões 
relacionadas com seus assuntos internos e locais (art. 4.º), à conservação de suas próprias 
instituições políticas, jurídicas, econômicas, sociais e culturais (art. 5.º), à nacionalidade (art. 
6.º), à vida, à integridade física e mental, à liberdade e à segurança (art. 7.º), a não sofrer 
assimilação forçada ou a destruição de sua cultura (art. 8.º), a não ser desprezados pela força 
de suas terras ou territórios (art. 10), a praticar e revitalizar suas tradições e costumes culturais 
(art. 11), a manifestar, praticar, desenvolver e ensinar suas tradições, costumes e cerimônias 
espirituais e religiosas (art. 12), entre outros. 
 
3.2. Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas (2016) 
 
Após mais de três lustros de negociações, a OEA finalmente aprovou, em 15 de junho de 
2016, em Santo Domingo (República Dominicana), a Declaração Americana sobre os 
Direitos dos Povos Indígenas. Trata-se do primeiro instrumento, no âmbito da OEA, a 
reconhecer os direitos dos povos indígenas, oferecendo proteção específica para esse grupo 
de pessoas na América do Norte, América Central, América do Sul e no Caribe. Os direitos 
consagrados no texto atingem, portanto, os mais de 50 milhões de indígenas que atualmente 
vivem no Continente Americano, muitos deles habitantes de países cujos sistemas jurídicos 
desprezam em parte a sua cultura, os seus costumes e suas tradições. 
Composta de 41 artigos, a Declaração da OEA representa novo marco à proteção dos 
direitos dos povos indígenas no Continente Americano, uma vez que passa a orientar as 
atividades dos Estados e dos órgãos de monitoramento do sistema interamericano de direitos 
humanos (em especial da Comissão e Corte Interamericana de Direitos Humanos) no que 
tange aos direitos desse grupo de pessoas. 
O critério adotado pelo instrumento para determinar os sujeitos de direito protegidos é o 
da autoidentificação, pelo qual cabe à própria pessoa ou comunidade se autoidentificar como 
“indígena”. Como decorrência, a Declaração exige dos Estados que respeitem o direito à 
autoidentificação como indígena de forma individual ou coletiva, conforme as práticas e 
instituições próprias de cada povo indígena (Artigo I). 
A Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas é, em suma, uma 
conquista histórica dos povos indígenas das Américas, cujo resultado final só foi possível pela 
intensa participação das comunidades indígenas de todo o Continente nas várias etapas de sua 
negociação. 
 
 
 
4.DIREITOS HUMANOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 
 
Uma grande preocupação do direito internacional nos últimos anos tem sido zelar pelos 
direitos das pessoas com deficiência, as quais, constantemente, têm sofrido todo tipo de 
cerceamento de direitos humanos, como violação à liberdade de ir e vir (prejudicada pela falta 
de acessibilidade a locais públicos e privados) e carência de plenas condições de emprego, 
entre tantos outros. 
Dentre as chamadas minorias, o grupo das pessoas com deficiência se destaca por ser 
considerado “a maior minoria do mundo”. Em2012, os resultados da Pesquisa Mundial de 
Saúde e da Carga Global de Doenças concluíram que cerca de 15,3% da população mundial 
(cerca de 978 milhões de pessoas dos estimados 6,4 bilhões de habitantes em 2004) possuía 
algum tipo de deficiência grave ou moderada, segundo dados do Relatório Mundial sobre a 
Deficiência, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2012. 
Cabe aqui esclarecer que a maioria das normas internacionais em vigor faz referência às 
“pessoas com deficiência”. Essa, portanto, a terminologia mais precisa empregada pelo 
direito internacional público. Trata-se de conceito, ademais, que difere em parte do de pessoa 
com necessidades especiais. Se é certo que toda pessoa com deficiência tem necessidades 
especiais, não é menos verdade que nem todas as pessoas com necessidades especiais têm 
obrigatoriamente uma deficiência. 
O que não se deve utilizar é a expressão “portadora de deficiência” (o que se usa é 
“pessoa com deficiência”), eis que a condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e 
esta pessoa não porta sua deficiência (ela tem uma deficiência). Tanto o verbo “portar” como 
o substantivo ou o adjetivo “portadora” não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que 
faz parte da pessoa, porque não se pode “abandonar” ou “deixar de lado” uma deficiência. 
 Destaque-se, porém, que a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (2001) utiliza, desde o 
seu título, como se percebe, a expressão “portadora de deficiência”, motivo pelo qual, quando 
se referir a essa Convenção, se utilizará a terminologia por ela empregada (v. infra). No plano 
do direito brasileiro, da mesma forma, a Constituição Federal de 1988 utiliza, em vários 
dispositivos, a expressão “pessoa portadora de deficiência”, o que não está atualmente 
correto. 
O que são, afinal, as pessoas com deficiência sob a ótica do direito internacional? A 
Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que entrou em vigor em 
3 de maio de 2008, conceitua o termo logo em seu art. 1.º, da seguinte maneira: 
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de 
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas 
barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em 
igualdades de condições com as demais pessoas. 
Feitas essas observações preliminares, torna-se possível verificar quais os instrumentos 
internacionais de proteção das pessoas com deficiência, em especial a Convenção sobre os 
Direitos das Pessoas com Deficiência (2007) e o Tratado de Marraqueche para Facilitar o 
 
 
 
Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com Deficiência Visual ou com outras 
Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso (2013). 
Em 2001, foi aprovada a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Por meio desse tratado 
os Estados-partes se obrigam a tomar as medidas de caráter legislativo, social, educacional, 
trabalhista, ou de qualquer outra natureza, que sejam necessárias para eliminar a 
discriminação contra as pessoas com deficiência e proporcionar a sua plena integração à 
sociedade, devendo, entre outras ações: 
a) eliminar progressivamente a discriminação e promover a integração na prestação 
ou fornecimento de bens, serviços, instalações, programas e atividades, tais como o 
emprego, o transporte, as comunicações, a habitação, o lazer, a educação, o esporte, 
o acesso à justiça e aos serviços policiais e as atividades políticas e de administração; 
b) zelar para que os edifícios, os veículos e as instalações que venham a ser 
construídos ou fabricados em seus respectivos territórios facilitem o transporte, a 
comunicação e o acesso das pessoas com deficiência; 
c) eliminar, na medida do possível, os obstáculos arquitetônicos, de transporte e 
comunicações que existam, com a finalidade de facilitar o acesso e uso por parte das 
pessoas com deficiência; e 
d) tomar medidas para assegurar que as pessoas encarregadas de aplicar esta 
Convenção e a legislação interna sobre esta matéria estejam capacitadas a fazê-lo (art. 
III, § 1.º). 
Os princípios gerais da Convenção vêm previstos no art. 3.º, que são: a) o respeito pela 
dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias 
escolhas, e a independência das pessoas; b) a não discriminação; c) a plena e efetiva 
participação e inclusão na sociedade; d) o respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas 
com deficiência como parte da diversidade humana e da humanidade; e) a igualdade de 
oportunidades; f) a acessibilidade; g) a igualdade entre o homem e a mulher; e h) o respeito 
pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças 
com deficiência de preservar sua identidade. 
Outros instrumentos regionais também foram adotados, a exemplo da Declaração de 
Washington de 1999, da Declaração de Madri de 2002 e da Declaração de Sapporo 2002, 
denotando, assim, a conscientização da sociedade internacional sobre a importância do tema. 
No plano global, os principais instrumentos de hard law relativos à proteção das pessoas 
com deficiência são a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2007) e o 
Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com 
Deficiência Visual ou com outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso (2013), 
que analisaremos nos tópicos seguintes. 
 
 
 
5.DIREITOS HUMANOS DAS PESSOAS LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, 
TRANSEXUAIS, TRAVESTIS, TRANSGÊNEROS, QUEER, INTERSEXUAIS, 
ASSEXUAIS E + (COMUNIDADE LGBTQIA+) 
 
A discriminação e a violência perpetrada contra a comunidade lésbica, gay, bissexual, 
transexual, de travestis, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e + (comunidade 
LGBTQIA+) vêm sendo sentida há vários anos até os dias atuais, levando à preocupação 
crescente da sociedade internacional e dos organismos internacionais de proteção dos direitos 
humanos. 
Nesse sentido, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos tem constantemente 
reiterado “sua preocupação com a situação de violência e discriminação contra pessoas 
LGBT[QIA+], ou que são percebidas como tais na América, instando os Estados-membros 
da OEA a adotarem medidas para prevenir, investigar e punir tais atos, e também para 
eliminar as causas subjacentes dessa violência e discriminação, e a que coletem dados sobre 
esse tipo de violência”, especialmente por constatar que “um grande número de casos por ela 
documentados evidencia requintes de crueldade e níveis elevados de violência com base na 
percepção da orientação sexual e da identidade/expressão de gênero”. 
 Do mesmo modo, a Comissão tem expressado sua preocupação com a violência e 
discriminação sofridas por jovens LGBTQIA+ em nosso Continente, os quais constantemente 
enfrentam rejeição por suas famílias e comunidades que reprovam a sua orientação sexual e 
identidade de gênero. Para a Comissão, as “[a]titudes que tem a sociedade contra pessoas 
LGBT e intersex não podem ser usadas como justificativa para promover leis e políticas 
discriminatórias, perpetuar tratamentos discriminatórios ou para não investigar, processar 
e julgar os responsáveis por atos de violência contra crianças e jovens LGBT[QIA+] 
e intersex”, devendo os Estados “tomar medidas para superar estes preconceitos e 
estereótipos, através de iniciativas de combate à discriminação nas escolas e por meio de 
campanhas públicas de educação”. 
 
A sigla LGBTQIA+ – atualmente utilizada para a inclusão de pessoas com diversas 
orientações sexuais e identidades de gênero – tem o seguinte significado (as três primeiras 
letras correspondem à orientação sexual, e as demais à identidade de gênero da pessoa): 
L – Lésbicas: mulheres que se atraem afetivaou sexualmente pelo mesmo gênero. 
G – Gays: homens que se atraem afetiva ou sexualmente pelo mesmo gênero. 
B – Bissexuais: homens e mulheres que se atraem afetiva ou sexualmente pelos gêneros 
masculino e feminino. Se a atração afetiva ou sexual for independente da binariedade homem-
mulher (cis ou trans) ou da identidade de gênero, as pessoas assim reconhecidas 
serão pansexuais (o termo é um dos componentes do sinal “+” da sigla LGBTQIA+). 
T – Transgêneros e Transexuais (ou simplesmente Trans): transgênero é um termo genérico 
que abrange todas as pessoas não enquadráveis na norma binária de gênero. Diz respeito, 
portanto, às pessoas que não são cisgênero (aquelas cuja identidade de gênero é idêntica à 
atribuída quando do seu nascimento). Do conceito fazem parte, v.g., tanto as pessoas 
 
 
 
transexuais como as travestis. As pessoas transexuais compõem uma única categoria, cuja 
característica é não se identificarem com o gênero (baseado nos órgãos sexuais) atribuído ao 
nascer. O conceito é ligado à identidade de gênero e não à orientação afetiva ou sexual da 
pessoa. A travesti, por sua vez, é uma categoria distinta diretamente associada ao gênero 
feminino. 
Q – Queer: palavra de origem inglesa (em português “excêntrico”, “estranho”, de início usada 
pejorativamente) que designa as pessoas que transitam entre os gêneros masculino, feminino 
ou outro(s) gênero(s) sem relação de binariedade (homem-mulher, cis ou trans) e não são 
cisgênero. A expressão queer é também utilizada para pessoas que não concordam ou não 
sabem definir o seu gênero/orientação sexual. 
I – Intersexuais: pessoas cujas características sexuais (órgãos sexuais e padrões 
cromossômicos) variam e não se amoldam à forma binária (antigamente eram 
chamadas hermafroditas). 
A – Assexuais: pessoas que não têm qualquer atração sexual por outras pessoas, 
independentemente do gênero, podendo, no entanto, manter uma relação emocional com um 
parceiro ou parceira (sem contato sexual). 
+ – Sinal +: nesta sigla incluem-se as demais orientações sexuais e identidades de gênero 
existentes, com suas múltiplas possibilidades. 
 
Além de uma questão cultural, ainda presente em vários contextos, de perseguição e 
violação de direitos de todo gênero à comunidade LGBTQIA+, há ainda questões políticas 
que fomentam a violência e a perseguição a esses grupos, em flagrante desrespeito aos 
princípios e normas do contemporâneo direito internacional público. 
De fato, em pleno século XXI ainda existem países, como Uganda, que promulgam leis 
que preveem pena de prisão perpétua para os que mantiverem relação sexual com pessoa do 
mesmo sexo, ainda que a prática seja entre adultos e consentida, bem como para os que 
“promoverem a homossexualidade” pela disseminação de material pornográfico ou pelo 
financiamento de grupos de direitos homossexuais, punindo ainda a “tentativa de 
homossexualidade”, como tocar outra pessoa com a intenção de “cometer ato 
homossexual”. O que é mais espantoso é que não só Uganda, senão outros 75 países 
criminalizam – pelas chamadas “leis de sodomia” – indivíduos em razão de sua orientação 
sexual ou identidade de gênero. 
No Continente americano, por sua vez, há leis que, apesar de não criminalizarem a 
conduta homossexual, discriminam as pessoas em razão da orientação sexual, seja por 
proibirem a entrada de homossexuais no país (v.g., Belize e Trinidad e Tobago) ou pelo fato 
de estabelecerem idades distintas de consentimento para as relações sexuais entre pessoas do 
mesmo sexo e de sexo oposto (v.g., Bahamas, Canadá e Paraguai). 
Os sistemas internacionais (global e regionais) de proteção têm, assim, estabelecido 
parâmetros para os Estados no que tange ao trato com a comunidade LGBTQIA+, em razão 
de condutas de países como os acima citados, que insistem em manter vigentes normativas 
desumanizantes à orientação ou à identidade sexuais, abrindo, com isso, espaço a todo tipo 
 
 
 
de violência e discriminação extraoficial a essas pessoas (v.g., no ambiente de trabalho, no 
âmbito escolar, nos serviços de saúde, entre tantos outros). 
Por fim, merecem destaque os chamados Princípios de Yogyakarta sobre a aplicação da 
legislação internacional de direitos humanos relativa à orientação sexual e identidade de 
gênero, elaborados no ano de 2007, na Indonésia, os quais constituem um evoluído mosaico 
de 29 princípios que sistematizam os objetivos que os Estados devem perseguir para proteger 
os direitos das pessoas pertencentes à comunidade LGBTQIA+. Tais Princípios indicam aos 
Estados a maneira pela qual devem aplicar as normas internacionais de proteção dos direitos 
humanos às questões de orientação sexual e identidade de gênero, compreendendo que ambas 
são essenciais à dignidade de cada ser humano, e que, por isso, não podem ser objeto de 
qualquer discriminação. 
 
Princípio 1. Direito ao Gozo Universal dos Direitos Humanos 
Princípio 2. Direito à Igualdade e à Não Discriminação 
Princípio 3. Direito ao Reconhecimento Perante a Lei 
Princípio 4. Direito à Vida 
Princípio 5. Direito à Segurança Pessoal 
Princípio 6. Direito à Privacidade 
Princípio 7. Direito de Não Sofrer Privação Arbitrária da Liberdade 
Princípio 8. Direito a um Julgamento Justo 
Princípio 9. Direito a Tratamento Humano durante a Detenção 
Princípio 10. Direito de Não Sofrer Tortura e Tratamento ou Castigo Cruel, Desumano e 
Degradante 
Princípio 11. Direito à Proteção contra todas as Formas de Exploração, Venda ou Tráfico de 
Seres Humanos 
Princípio 12. Direito ao Trabalho 
Princípio 13. Direito à Seguridade Social e outras Medidas de Proteção Social 
Princípio 14. Direito a um Padrão de Vida Adequado 
Princípio 15. Direito à Habitação Adequada 
Princípio 16. Direito à Educação 
Princípio 17. Direito ao Padrão mais Alto Alcançável de Saúde 
Princípio 18. Proteção contra Abusos Médicos 
Princípio 19. Direito à Liberdade de Opinião e Expressão 
Princípio 20. Direito à Liberdade de Reunião e Associação Pacíficas 
Princípio 21. Direito à Liberdade de Pensamento, Consciência e Religião 
Princípio 22. Direito à Liberdade de Ir e Vir 
Princípio 23. Direito de Buscar Asilo 
Princípio 24. Direito de Constituir uma Família 
Princípio 25. Direito de Participar da Vida Pública 
Princípio 26. Direito de Participar da Vida Cultural 
Princípio 27. Direito de Promover os Direitos Humanos 
 
 
 
Princípio 28. Direito a Recursos Jurídicos e Medidas Corretivas Eficazes 
Princípio 29. Responsabilização (“Accountability”) 
 
Os Princípios de Yogyakarta devem ser levados em consideração pelos Estados na 
condição de guia interpretativo para a aplicação das normas internacionais (hard law) 
assumidas pelo governo relativas à proteção dos direitos da comunidade LGBTQIA+.

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