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Resumo – Psicopatologia Especial – NP2 Luto e Melancolia O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido (apego). A reação da perda pode produzir melancolia em vez de luto; por conseguinte, suspeitamos de uma disposição patológica. Luto não é patológico e não deve ser submetido a tratamento. Sintomas de Luto – graves afastamentos daquilo que constitui a atitude normal para com a vida, desânimo penoso, insônia, hipersonia, alterações no apetite. Na melancolia, são encontrados os mesmos sintomas. A maior diferença está na perturbação da autoestima, a ponto de encontrar a expressão em autorreconhecimento. O melancólico exibe ainda outra coisa que está ausente no luto – uma diminuição extraordinária de sua autoestima, um empobrecimento de seu ego em grande escala. No luto, o mundo fica podre e vazio. Na melancolia, é o ego. Na melancolia, o objeto talvez não tenha morrido, mas tenha sido perdido enquanto objeto de amor. A melancolia está de alguma forma relacionada a uma perda objetal retirada da consciência, em contraposição ao luto, no qual nada existe de inconsciente respeito da perda. No quadro clínico da melancolia, a insatisfação com o ego constitui, por motivos de ordem moral, a característica mais marcante. Episódio Depressivo – evidentes sintomas depressivos (humor deprimido, anedonia, fatigabilidade, diminuição da concentração e da autoestima, ideias de culpa e de inutilidade, distúrbios do sono e do apetite) devem estar presentes por pelo menos duas semanas, e não mais que por dois anos de forma ininterrupta. Os episódios duram geralmente entre 3 e 12 meses. Sintomas Afetivos – tristeza, sentimento de melancolia; choro fácil e/ou frequente, apatia, sentimento de falta de sentimento, sentimento de tédio, de aborrecimento crônico, irritabilidade aumentada, angústia ou ansiedade, desespero, desesperança. Alterações da esfera instintiva e neurovegetativa – anedonia (incapacidade de sentir prazer), fadiga, desânimo, diminuição da vontade (hipobulia), insônia ou hipersonia, perda ou aumento do apetite, constipação, palidez, diminuição da libido, diminuição da resposta sexual. Alterações Ideativas – ideação negativa, pessimismo, ideias de arrependimento e de culpa, ruminações com mágoas antigas, visão de mundo marcada pelo tédio, ideias de morte, de desaparecer, dormir para sempre, ideação, planos ou atos suicidas. Alterações Cognitivas – déficit de atenção e concentração, déficit secundário de memória, dificuldade de tomar decisões, pseudodemência depressiva. Alterações da Autovaloração – sentimento de autoestima diminuída, sentimento de insuficiência e incapacidade, sentimento de vergonha e autodepreciação. Alterações da Volição e da Psicomotricidade – tendência a permanecer na cama por todo o dia, aumento na latência entre perguntas e respostas, lentificação psicomotora, estupor hipertônico ou hipotônico, diminuição da fala, redução da voz, fala lenta, mutismo, negativismo. Também podem estar presentes, em formas graves de depressão, sintomas psicóticos. Sintomas Psicóticos – ideias delirantes de conteúdo negativo, delírio de ruína ou miséria, delírio de culpa, delírio hipocondríaco e/ou negação dos órgãos, delírio de inexistência, alucinações (geralmente auditivas) com conteúdo depressivo. Episódio Depressivo Leve – humor deprimido, perda de interesse e prazer e fatigabilidade aumentada são sintomas típicos, e nenhum deles deve estar presente em grau intenso. Um indivíduo com episódio depressivo leve está usualmente angustiado pelos sintomas e tem dificuldade com o dia a dia, mas provavelmente não irá parar suas funções completamente. Episódio Depressivo Moderado – vários sintomas provavelmente estão presentes em um grau marcante, a duração mínima do episódio completo é de cerca de duas semanas. Um indivíduo com episódio moderado usualmente terá dificuldade considerável em continuar com atividades sociais e do dia a dia. Episódio Depressivo Grave – no episódio depressivo grave, o paciente usualmente apresenta angústia ou agitação considerável, a menos que retardo seja um aspecto marcante. Perda de autoestima, culpa e sentimentos de inutilidade também costumam ser proeminentes, e o suicídio é um perigo marcante nos casos particularmente graves. Episódio Depressivo Grave com Sintomas Psicóticos – apresenta os mesmos sintomas do episódio depressivo grave, mas com presença de sintomas psicóticos (delírios e alucinações com conteúdo depressivo). Transtorno Depressivo Recorrente – é caracterizado por episódios repetidos de depressão (especificados por grau de episódio), sem qualquer história de episódios independentes de elevação do humor e hiperatividade que preencham os critérios para mania. Episódio Maníaco – a euforia patológica constitui a base da síndrome maníaca. A aceleração das funções psíquicas está quase sempre presente. Além das alterações do humor, na esfera ideativa verifica-se um pensamento superficial e impreciso. Os principais sintomas são: • Aumento da autoestima; • Sentimento de expansão e engrandecimento do eu; • Insônia; • Loquacidade – produção verbal rápida, fluente e persistente; • Logorréia – produção verbal muito rápida, fluente e com perda das concatenações lógicas; • Pressão para falar; • Distraibilidade; • Agitação psicomotora; • Irritabilidade; • Arrogância; • Heteroagressividade – geralmente desorganizada e sem objetivos precisos; • Desinibição social e sexual; • Tendência exagerada a comprar objetos ou dar seus pertences; • Ideias de grandeza, poder ou importância social. Quando há episódios afetivos prévios ou subsequentes (depressivos, maníacos ou hipomaníacos), o transtorno deve ser codificado sob transtorno afetivo bipolar. Hipomania – uma forma atenuada do episódio maníaco. O indivíduo está mais disposto que o normal, pode ter diminuição do sono. A hipomania não produz disfunção social importante, e não há sintomas claramente psicóticos. Mania sem sintomas psicóticos – forma mais intensa de mania, com taquipsiquismo acentuadíssimo, agitação psicomotora, heteroagressividade, fuga de ideias e ideia de grandeza. Mania com sintomas psicóticos – episódio grave com sintomas psicóticos, tais como delírio de grandeza ou poder, delírios místicos, as vezes acompanhado de alucinação auditiva ou visual. Nesses casos, o indivíduo apresenta comportamento bastante alterado, com agitação, desinibição social e/ou sexual, agressão, negligência com alimentação e higiene pessoal. Transtorno Afetivo Bipolar • Caráter fásico, episódico; • Episódios de mania e depressão ocorrem de modo relativamente delimitado no tempo, com períodos de remissão, em que o paciente se encontra eutímico; • Episódios repetidos (pelo menos dois), nos quais o humor e os níveis de atividade do paciente estão significantemente perturbados; • Alteração maníaca, hipomaníaca e depressiva. Ciclotimia – quadro em que o indivíduo apresenta frequentes períodos leves de sintomas depressivos seguidos, e certa elação do humor (hipomania), sem apresentar um episódio completo de depressão ou mania. O aspecto essencial é uma instabilidade persistente no humor, envolvendo numerosos períodos de depressão e elação leves, sem serem graves ou longos o suficiente para se enquadrarem em um quadro depressivo ou bipolar. Distimia – depressão crônica, geralmente de intensidade leve. Os sintomas depressivos mais comuns são a diminuição da autoestima, fatigabilidade aumentada, dificuldade em tomada de decisão e concentração, mau humor crônico, irritabilidade e sintoma de desesperança. Os sintomas devem estar presentes de forma ininterrupta por pelo menos dois anos. O indivíduo normalmente tem períodos em que se descrevem como estando bem, mas na maiorparte do tempo (meses) se descrevem cansados e deprimidos. Apesar das queixas, usualmente são capazes de lidar com o dia a dia (não se enquadram no transtorno depressivo recorrente). Agorafobia – medo de espaços abertos, multidões, e a dificuldade de um escape fácil e imediato para um lugar seguro. • Os sintomas devem ser primariamente de ansiedade; • A ansiedade deve estar restrita a pelo menos duas das seguintes situações: multidões, lugares públicos, viajar para longe de casa e viajar sozinho; • A evitação da situação fóbica deve ser ou estar sendo um aspecto proeminente. Fobias Sociais – frequentemente se iniciam na adolescência. Envolvem medo de expor-se a outras pessoas e evitação de situações sociais. Os sintomas podem progredir para ataques de pânico. • Os sintomas devem ser primariamente de ansiedade; • A ansiedade deve ser restrita ou predominar em situações sociais; • A evitação das situações fóbicas devem ser um aspecto proeminente, em casos extremos podendo resultar em isolamento social. Fobias Específicas – fobias restritas, tais como: altura, escuridão, voar, espaços fechados, dentistas, sangues etc. • Os sintomas primários devem ser de ansiedade; • A ansiedade deve estar restrita à presença do objeto ou situação fóbica determinada; • A situação fóbica é evitada sempre que possível. Transtorno de Pânico – ataques recorrentes de ansiedade grave e medo de morrer. • Acontece em circunstâncias onde não há perigo objetivo; • Sem estar confinado a situações conhecidas ou previsíveis; • Com relativa liberdade de sintomas ansiosos entre os ataques. Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) – o aspecto essencial é a ansiedade, a qual é generalizada e persistente. • Queixas contínuas de nervosismo, tremores, tensão muscular, sudorese, sensação de cabeça leve, palpitações, tonturas e desconforto epigástrico; • Os sintomas devem envolver elementos de: apreensão, tensão motora, hiperatividade autonômica. Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) – o aspecto essencial são pensamentos obsessivos (ideias, imagens ou impulsos que entram na mente repetidamente) ou atos compulsivos recorrentes (atos ou rituais compulsivos que se repetem constantemente). • Devem ser reconhecidos como pensamentos ou impulsos do próprio indivíduo; • Deve haver pelo menos um pensamento ou ato que ainda é resistido, mas sem sucesso; • O pensamento de execução do ato não deve ser em si mesmo prazeroso, apenas aliviador de tensão; • Os pensamentos, imagens ou impulsos devem ser desagradavelmente repetitivos. Reação Aguda ao Estresse – transtorno transitório de gravidade significativa, é uma resposta à excepcional estresse físico e/ou mental e que usualmente diminui dentro de horas ou dias. Ex.: catástrofe natural, acidente, assalto, pandemia. • Mostram um quadro misto e em geral mutável; • Depressão, ansiedade, raiva, desespero, hiperatividade e retraimento podem todos ser vistos, mas nenhum tipo de sintoma predomina por muito tempo; • Resolvem-se rapidamente; • Em casos em que o estresse continua ou não pode, por sua natureza, ser revertido, os sintomas geralmente começam a diminuir depois de 24/48 horas e são usualmente mínimos após 3 dias. Transtorno de Estresse Pós-Traumático – resposta tardia e/ou protraída a um evento ou situação estressante. Ex.: desastre natural ou feito pelo homem, combate, acidente, testemunhar atrocidades, ser vítima de tortura, terrorismo, estupro, abuso etc. • O trauma se manifesta sob a forma de memórias intrusas (flashbacks) ou sonhos. Neurastenia – queixa de fadiga após esforço mental, frequentemente associada a alguma diminuição no desempenho ocupacional. A fatigabilidade mental é descrita como desagradável. • Queixas persistentes e angustiantes de fadiga; • Queixas persistentes e angustiantes de fraqueza e exaustão corporal; • Pelo menos dois dos seguintes sintomas: sentimentos de dores musculares, tonturas, cefaléias tensionais, perturbação do sono, incapacidade de relaxar, irritabilidade, dispepsia (sensação de desconforto digestivo). Síndromes Relacionadas a Substâncias Psicoativas Substância Psicoativa – substância que quando ingerida modifica uma ou várias funções, produzindo efeitos psíquicos e comportamentais. Tolerância – refere-se à diminuição dos efeitos da substância após repetidas administrações. Fissura/craving – intenso desejo de uso; binge corresponde ao uso intenso e compulsivo de uma substância. Dependência – padrão mal adaptativo de uso com repercussões psicológicas, físicas e sociais. Inclui os fenômenos de tolerância, sintomas de abstinência e uso recorrente. Dependência física – adaptação do corpo a substância, manifestação de distúrbios físicos quando interrompida. Desenvolvimento de dependência – redução do repertório social, obsessão pela substância, diminuição da autoestima, psicoses tóxicas, psicoses induzidas, psicoses funcionais. Abstinência – conjunto de sinais e sintomas que ocorrem horas ou dias após cessas ou reduzido consumo da substância, com sintomas: ansiedade, inquietação, náuseas, tremores, sudorese, podendo em alguns casos ocasionar em convulsões e óbito. Transtornos Alimentares Anorexia Nervosa – perturbação profunda da percepção da imagem corporal com busca incessante em tornar-se magro, resultando em perda acentuada de peso, que pode chegar à inanição. • O indivíduo se considera gordo e disforme, mesmo que tudo prove o contrário; • O peso corporal é mantido em pelo menos 15% a menos que o esperado; • Interação social e fatores biológicos contribuem para suas causas; • Dez vezes mais frequente no sexo feminino; • Em geral, inicia-se na adolescência, com evolução variável que é escondida e negada pelo indivíduo; • O tratamento envolve aspectos psicoeducacionais e conscientização, envolvendo também a família do indivíduo, além de psicoterapia individual e grupal. O tratamento medicamentoso depende das manifestações clínicas, podendo ser utilizados antidepressivos, ansiolíticos e neurolépticos. Bulimia Nervosa – episódios repetidos e incontroláveis de ingestão exagerada de alimentos, seguidos de comportamentos compensatórios: vômitos autoinduzidos, abuso de laxantes, jejuns prolongados e exercícios intensos. • Apesar da preocupação intensa com o peso, este geralmente se mantém na normalidade; • Percebe-se baixo autoestima, traços de caráter impulsivo e autoexpectativa elevada; • Dez vezes mais frequente no sexo feminino; • Frequentemente associada a histórico de anorexia nervosa, transtorno de ansiedade e do humor; • Comum associação com uso de drogas, álcool e transtorno de personalidade; • Difícil aderência ao tratamento; • Tratamento envolve conscientização, envolvimento familiar, psicoterapia individual e grupal, cunho psicoeducacional. Tratamento medicamentoso envolve antidepressivos.