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26 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista QUESTÃO SOCIAL E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO: UMA ANÁLISE DOS EXCLUÍDOS ROSA, Bárbara Oliveira 1 SGARBI, Gabrielle Stéphany Nascimento 2 PIANA, Maria Cristina 3 RESUMO O século XXI tem sido palco de uma reorganização do trabalho, há o aumento da informalidade, há um retrocesso dos direitos trabalhistas e o sujeito neste contexto encontra no trabalho com materiais recicláveis uma forma de pertencimento social, de recuperar sua identidade de trabalhador, de sustentar sua família. Assim, esta pesquisa tem como objetivo analisar como que os catadores vivenciam um processo de inclusão/exclusão por meio de um trabalho que gera renda recupera sua identidade de trabalhador, contribuí no desenvolvimento econômico, ambiental e social da sociedade, mas por outro lado não tem o reconhecimento, vivencia um trabalho que os expõe a doenças e, não tem direitos trabalhistas. O trabalho foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica exploratória, correlacionando conceitos como exclusão social e questão social com os catadores de materiais recicláveis, a partir do método do materialismo histórico-dialético sob a perspectiva da abordagem qualitativa. Espera-se que a pesquisa propicie reflexões e possíveis debates acerca da temática. Palavras-Chave: Catadores; Exclusão Social; Materiais recicláveis; Questão Social; Trabalhador. ABSTRACT: The twenty-first century has been the scene of a reorganization of work, there is an increase in informality, there is a setback of labor rights and the subject in this context finds in the work with recyclable materials a form of social belonging, to recover his identity as a worker, to support family. So, this research aims to analyze how the collectors experience an inclusion/exclusion process through work that generates income, recovers a worker identity, contributes to economic development, environmental and social, but on the other hand it does not have the recognition, experiences a work that exposes them to diseases and does not have labor rights. The work was carried out through exploratory bibliographic research, correlating concepts such as social exclusion and social issues with collectors of recyclable materials, from the method of historical-dialectical materialism from the perspective of 1 Doutoranda em Serviço Social pela UNESP de Franca-SP e Bolsista da CAPES. E-mail: barbarass@hotmail.com.br. 2 Mestranda em Serviço Social pela UNESP de Franca-SP, Bolsista da CAPES e Membro do GEFORMSS e do PRAPES. E-mail: gabrisgarbi@hotmail.com. 3 Doutora em Serviço Social pela UNESP de Franca e Docente dos cursos de graduação e de Pós- Graduação Stricto Sensu em Serviço Social da UNESP de Franca-SP. E-mail: crispiana@uol.com.br. 27 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista qualitative approach. It is hoped that research will provide reflections and possible debates about the theme. Key words: Collectors; Social exclusion; Recyclable materials; Social issues; Worker. INTRODUÇÃO Nesta sociabilidade, o trabalho se constrói como um paradoxo. De um lado produz identidade, condições de vida, criação; e de outro, produz exploração, alienação, eliminação do trabalho assalariado. O trabalho dos catadores de materiais recicláveis se constitui dentro desse paradoxo, visto que o catador não tem um trabalho regular, porém encontra no trabalho com materiais recicláveis espaço de pertencimento social. Assim, o trabalhador no capitalismo é visto desvinculado de sua identidade ou tem uma identidade atribuída, que não foi escolhida por ele. Essa é uma questão que perpassa a vida dos catadores, estes carregam o estigma de trabalhar com materiais recicláveis. Segundo, Goffman (1982), quando alguém é estigmatizado, acredita-se que essa pessoa não seja completamente humana. Costa (2004), em seu livro, “Homens invisíveis: relato de uma humilhação social” estuda acercado trabalho dos garis, ele mostra como que os serviços de baixa qualificação refletem em uma invisibilidade pública, no qual o sujeito não é visto. Ao trabalharem com serviços desvalorizados na sociedade capitalista, o catador não tem seu trabalho e nem sua identidade reconhecida. Havendo uma inversão de valores, no qual se valoriza as questões ambientais, o meio ambiente e discrimina que trabalha para a preservação do mesmo, desvalorizando o trabalho dos catadores. O objetivo principal da pesquisa é compreender e analisar esse processo exclusão que os catadores de materiais vivenciam. O método utilizado é o dialético visto que ele possibilita compreender como as contradições se mostram na realidade, o movimento do real. A escolha do método se deu porque este permite ir além da aparência e se chegar à essência. A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica exploratória com análise qualitativa. O aporte teórico teve como referência autores como Goffman que discute acerca da identidade deteriorada pelo estigma e Costa que discorre sobre uma invisibilidade pública, no qual o sujeito não é visto. A partir desses autores foi possível trabalhar a discriminação social e exclusão social. 28 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista 1. O TRABALHO E A QUESTÃO SOCIAL A divisão entre ricos e pobres, entre os donos dos meios de produção e os trabalhadores, é fruto de uma produção em massa e de uma apropriação da riqueza socialmente produzida por uma minoria, ou seja, quando essa questão se torna evidenciada é o que caracterizamos como “questão social”. “A expressão ‘questão social’ torna-se efetivamente pública a partir do momento em que os trabalhadores passam a questionar a ordem vigente” (PASTORINI, 2007, p.103). A questão social é inerente ao modo de produção capitalista, visto que o princípio fundante desse sistema é a expropriação da riqueza, a exploração do homem pelo homem, por meio da mais-valia, criando a desigualdade social. não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade exigindo seu reconhecimento como parte por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e da repressão (IAMAMOTO; CARVALHO, 1995, p. 77). Por causa das condições precárias de vida e trabalho, a miséria que o capitalismo produz, os trabalhadores passaram a se organizar e a lutar por direitos, melhores condições de vida, evidenciando as expressões da questão social, “vivendo nas mesmas localidades e sofrendo as mesmas agruras da vida operária, os trabalhadores começam a superar a heterogeneidade e aos poucos vão se definindo e assumindo estratégias que configuram uma forma de protesto, a sua recusa a serem destruídos pela máquina, devorados pelo capitalismo” (MARTINELLI, 2005, p. 36-37). Como resposta a um contexto social de pobreza e miséria, no qual a classe trabalhadora se organizava por meio de protestos, lutas, o Estado foi obrigado a atuar, em um espaço onde a caridade da igreja não era o suficiente, e as manifestações tornavam-se recorrente. O Estado visando manter a ordem vigente passa a atuar, mas com uma postura repressora, criando políticas públicas coercitivas e punitivas. “O eixo da intervenção estatal na idade do monopólio é direcionado para garantir os super lucros dos monopólios e, para tanto, como poder político e 29 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista econômico, o Estado desempenha uma multiplicidade de funções” (NETTO, 1992, p.21). Segundo Pereira (2008), a pobreza era vista como caso de polícia, como exemplo tem a Lei dos Pobres, esta punia os pobres acusando-os de “vagabundagem”, separava os pobres que tinham licença para mendigar, aqueles que tinham deficiência que impossibilitava o trabalho, e os demais eram encarcerados e punidos com tortura física. Logo depois surgiram as Workhouses, que eram casas onde o indivíduo era obrigado a trabalhar, havendo relato que os pobres trabalhavam até a exaustão. Apoiados em uma legislação das mais brutais de que se tem notícia, os modelos visualizavam a assistência como uma forma de controlar a pobreza e ratificar a sujeição e a submissão dos trabalhadores. Apoiavam-se essencialmente em três grandes estratégias: a intimidação, a repressão e a punição (MARTINELLI, 2005, p. 84). Com o tempo a legislação vai perdendo esse caráter punitivo como exemplo tem a criação da Lei Speenhamland, está se difere das anteriores, era menos repressora, visto que complementava os salários com o valor do preço do pão. Essa mudança segundo Behring e Boschetti (2011), não foi repentina, mas sim de uma necessidade, visto que se teve o fortalecimento das manifestações dos trabalhadores. Assim, o Estado junto da burguesia se viu obrigado a dar os anéis para não perder os dedos. Neste contexto, as políticas públicas são respostas as expressões da questão social, mas elas se constituem de forma contraditória, sendo ao mesmo um tempo um instrumento do Estado para apaziguar as lutas, manifestações e disputas políticas, e por outro, lado sendo uma consquista do trabalhador. Portanto, a questão social está relacionada ao exercício empobrecido, alienado e desumanizado das funções do trabalho vivo sob o controle do capital, em diferentes estágios do modo de produção capitalista; logo, à situação daqueles que vivem da venda da sua força de trabalho, como única condição de satisfazer suas necessidades, nem sempre absorvidos no mercado de trabalho, ou absorvidos em situação precária, ou deles ‘excluídos’, marginalizados, segregados, estigmatizados e sujeitos a estereótipos negativos, pela sua condição social. Essa realidade estrutural está ligada às contradições do modo de produção capitalista, da formação da superpopulação relativa que cresce na mesma proporção do crescimento do capital (TEIXEIRA, 2008, p.49). 30 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista Segundo Netto (1992), questão social passou a ser utilizada na terceira década do século XIX, visto que o capitalismo concorrencial se instaurava no período gerando o pauperismo, na mesma proporção que o capitalismo gerava riqueza para poucos, ocasionava miséria ao proletariado. Por meio desta perspectiva, a questão social ganha destaque pela organização do proletariado, como exemplo tem o movimento ludista, no qual os proletariados quebravam as máquinas como meio de protesto, contra a substituição do homem pela máquina, este movimento ocorreu no período da Revolução Industrial, na Inglaterra. A partir desses movimentos, chama-se a atenção da burguesia que passa em pensar em ações de controle. O que acontece atualmente é que o capitalismo mudou sem perder sua essência, gerando uma discussão entre os autores, se há uma “nova questão social”, ou se é a mesma “questão social” com novas expressões advindas desse século. Castel (1998), em seu livro “As Metamorfoses da questão social: uma crônica do salário” acredita que a “questão social” metamorfoseou-se originando assim uma “nova questão social”, visto que depois da Segunda Guerra atingiu-se uma estabilidade econômica e social, com a criação de políticas de pleno emprego e de direitos sociais, parecia que a questão social havia desaparecido. Mas, com o ressurgimento do desemprego, da precarização do trabalho, reflexo da crise de 1967, o autor passou a acreditar no surgimento de uma “nova questão social”, visto que antes se o pauperismo se constituía pela exploração no trabalho e agora o pauperismo se constitui pela falta de trabalho. Já para Paulo Netto (1992), o autor a ser seguido como sendo o pensamento mais coeso, a expressão nova questão social, não possui razão de ser, visto que as expressões da questão social mudam de acordo com as particularidades histórico, culturais, sociais e políticos de determinada sociedade, sendo que o princípio fundante da questão social continua o mesmo, que é o pauperismo gerado pelo sistema capitalista. Portanto, a questão social é fruto do movimento, da dinâmica da realidade social, se constitui com distintas expressões se diferenciando de acordo com o período histórico e o modo como às pessoas se organizam socialmente, culturalmente, economicamente e politicamente em uma determinada região. 31 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista No Brasil a questão social tem suas particularidades. Segundo Santos (2012), o capitalismo brasileiro se destaca pelo seu o caráter conservador e modernizador, o país tem forte modelo latifundiário de monocultura extensiva, voltado para a exportação, assim, a economia se baseia na exportação de matérias primas e importação de produtos industrializados, sendo que com o excedente da monocultura passaram a investir em indústrias voltadas apenas para o mercado interno, sendo as oligarquias detentoras dos poderes econômicos e políticos. Sobre este contexto, Fernandes (2005, p. 241) dispõe seu pensamento relatando que: Podia discordar da oligarquia ou mesmo opor-se a ela. Mas fazia-o dentro de um horizonte cultural que era essencialmente o mesmo, polarizando em torno de preocupações particularistas e de um estranho conservantismo sociocultural e político. Segundo Kowarick (1987), o Brasil no período colonial se caracterizava pela escravidão, o tráfico negreiro e a produção de matérias primas e produtos alimentícios, assim o país tinha suas riquezas exploradas para manutenção do sistema mercantil que se instalava na Europa. Assim, segundo Sposati (1988), o trabalho era considerado sinônimo da escravidão, algo degradante e humilhante, só com o advento dos valores capitalistas que ele passa a ser considerado algo que dignifica o homem, e fundante na sociedade do capital, visto que precisava de produção e consumo em massa. Na obra completa de Debret e o Brasil, de Júlio Bandeira e Pedro Correa do Lago, é possível encontrar fotos de telas de 1817 a 1829, hoje expostas no Museu Castro Maia, no Rio de Janeiro, que retratam cenas urbanas brasileiras. Elas nos mostram o negro escravo no exercício de várias tarefas, dentre elas, a da limpeza da cidade e distribuição da água. Os escravos utilizavam enxada para recolher o lixo da rua. O lixo recolhido era colocado em um cesto de palha e, em seguida, arremessado em uma carroça puxada a burros. Em outra tela, vemos os “aguadeiros”: eram seis escravos organizados em três pares, que tinham como função carregar grande tonel de água e distribuir nas residências (BASTOS, 2014, p. 9). Com a Proclamação da Independência, e o desenrolar do processo de urbanização das cidades, a mão de obra escrava foi abolida, os escravos foram expulsos das fazendas, cedendo lugar à mão de obra assalariada, aos imigrantes europeus, se tornando assim uma mercadoria sem valor. A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, não trouxe a incorporação igualitária para as comunidades afrodescendentes. 32 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN:0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista Pelo contrário, só reforçou as redes de desigualdade social construídas sob ótica da dominação colonial (SCHUMAHER; BRAZIL, 2013, p. 41). Segundo Maringoni (2012), os ex-escravos eram discriminados pela cor, eram os deserdados da República, formavam a população pobre, tornando-se trabalhadores temporários, desocupados, os mendigos, os capoeiras, malandros e vagabundos, ou seja, formavam “uma massa desenraizada, que não foi incorporada no processo produtivo até 1930, quando a economia viria a apresentar maior grau de desenvolvimento e diversificação” (KOWARICK, 1987, p. 13). Assim, houve no Brasil “um eufemismo típico da falsa consciência da burguesia ultraconservadora” (FERNANDES, 2005, p. 253), no qual se manteve uma dependência com o mercado externo, se submetendo aos caprichos da dominação imperialista, assim, a questão social ganha visibilidade, entre os anos de 1930 a 1956, processo migratório dos trabalhadores do campo para a cidade. Segundo Behring e Boschetti (2011), com a chegada de imigrantes europeus no país, que trouxeram ideários anarquistas, socialistas, influenciando a organização política do país. A primeira lei do país foi a Eloy Chaves, que institui no país a Caixa de Aposentadorias e Pensões (CAPS), atendendo apenas quem contribuía com a economia exportadora, como os ferroviários e marítimos. Por isso, este período ficou conhecido como “cidadania regulada”, visto que apenas os trabalhadores contribuíam para o progresso externo do país que tinham direitos sociais, assim a gênese da política social no Brasil se inicia com um “germe” da Previdência Social, contributiva e restritiva a algumas categorias de trabalho. Segundo Behring e Boschetti (2011), com a crise da oligarquia cafeeira, em 1929, o Brasil deixa de ter uma política e uma economia sob o domínio do café e Getúlio Vargas assume a presidência, o país passa por um processo de industrialização/urbanização interna. Este cria o Ministério do Trabalho, em 1930, cria o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde, em 1932. E em 1933, cria os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS), estas tiveram um papel importante na história, visto que elas substituíram a CAPS e abrangeram mais categorias profissionais. Em 1964 se inicia a Ditadura Militar no Brasil, este período ficou marcado pela repressão, a população perde direitos democráticos, de voto, de expressão, sendo um contexto de retrocesso para os direitos sociais e avanço da entrada de capital 33 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista estrangeiro no país, a economia se baseava na “modernização conservadora”, cujas características foram: a expansão monopolista do capital, o modelo fordista de produção, a repressão política e a riqueza para minorias. Com as mobilizações sociais e o movimento das “Diretas Já”, o País se envolve em um processo de redemocratização e em 1988 é criada a Constituição Federal com princípios democráticos, que também ficou conhecida como a “Constituição Cidadã”. A Seguridade Social Brasileira foi baseada no modelo alemão, Bismarckiano e no modelo Inglês, Beveridgiano, essa divide-se em três direitos fundamentais: abrangendo a Saúde, Assistência Social e a Previdência Social. Há uma diferenciação entre a saúde, a assistência social e a previdência social. A Assistência Social limita-se “a quem dela necessitar”. Já Previdência Social tem caráter contributivo, sendo restrito a quem contribuir, sendo organizada pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Se diferenciando das demais políticas, a Política de Saúde, tem caráter universalista, sendo “direito de todos e de responsabilidade do Estado”. Art. 1º A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinado a assegurar o direito relativo à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. A Seguridade Social obedecerá aos seguintes princípios e diretrizes: a) universalidade da cobertura e do atendimento; b) uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; c) seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; d) irredutibilidade do valor dos benefícios; e) equidade na forma de participação no custeio; f) diversidade da base de financiamento; g) caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e aposentados (BRASIL, 1988, p. 1). Mesmo com o surgimento de legislações e políticas as expressões da questão social não sanaram, “quando o Estado não proporciona mecanismo de proteção sociais amplos e universais, a exclusão tende a se manifestar não apenas na dimensão social, mas também na esfera da sobrevivência” (BURSZTYN, 2000, p. 37-38). Assim, a exclusão é inerente ao modo de produção capitalista, as políticas 34 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista públicas, o poder político jamais poderá acabar com a mesma visto que ela é um termo recorrente e essencial para a manutenção do capital. Castel (2008), aponta para a heterogeneidade do termo exclusão, já que o termo designa diferentes situações, mascarando o real significado, a origem de cada uma delas, para o autor reduz a questão social unicamente à questão da exclusão, como sinônimo de falta, simplificando o termo, esquecendo que não se pode apenas intervir em situações pontuais, mas que temos que buscar a essência, a origem da exclusão. Para Nascimento (2000), exclusão seria perda sucessiva de vínculos societários, distanciando dos termos pobreza e desigualdade social. O excluído não existe por si mesmo. Ele é uma realidade sempre ligada à outra. Se digo que alguém é excluído, devo logo perguntar: excluído de onde? Ou excluído por quem? O ser excluído de algum lugar, implica que exista esse outro lugar (GUARESCHI, 1992, p. 7). O excluído tem dificuldades de se adaptar, de compartilhar valores, sentimentos e das representações da sociedade, caracterizando como um problema de ordem individual, rompendo com os: vínculos que unem os indivíduos entre si e fixam os atores sociais ao modelo de sociedade, dos vínculos sociais (materializados) e dos vínculos simbólicos, das representações que conferem a identidade social (XIBERRAS, 1993 apud ESCOREL, 1999, p. 60). Superando a análise de Xiberras na medida em que caracteriza a dificuldade de compartilhar valores sociais como um problema individual, a exclusão ultrapassa o âmbito individual ele se caracteriza como um problema de ordem coletiva, no qual não é o sujeito que se isola socialmente, mas a sociedade por meio da realidade material excludente do capitalismo, composta por valores preconceituosos que acabam excluindo, privando o sujeito do convívio social. Wanderley (2002), afirma que na década de 1990, os excluídos representavam as pessoas que não conseguiam se inserir no mercado, ou seja, os desempregados. Na sociedade capitalista o trabalho é categoria central, o sujeito que não se insere no mercado de trabalho, que não possui um trabalho se torna um excluído, tendo restringido o seu poder de consumo e a potencialidade do trabalho. A ideia de exclusão, então, surge como uma quebra no processo de integração social, apontando para a divisão da sociedade, para a produção de fronteiras que demarcam o dentro e o fora do social, sugerindo uma diferença essencial entre os homens. Enuncia-se 35 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista então, um pólo de referência: nós, os cidadãoslaboriosos – guardiões do conhecimento, possuidores de valores superiores, detentores de uma extraordinária força moral-, e os “outros”, os “excedentes”, incapazes de “aderir” aos valores instituídos pela sociedade moderna (progresso, êxito econômico, racionalidade produtiva), em ruptura com as ideias fundadores dessa sociedade, de unidade, universalidade e mobilidade social (ARAÚJO, 1997, p. 32). Assim, a questão social representa-se como fatores frutos do modo de produção capitalista, sua gênese está no cerne do capitalismo, se tornando indissociável a este, o progresso e constante mudança das forças produtivas em busca de lucros e maior produtividade, ocasiona por um lado a criação de tecnologia e agilidade/conforto na produção, mas por outro lado leva a diminuição do tempo de trabalho na produção de mercadorias, aumenta o capital constante e diminui o capital variável. 2. O CATADOR NA SOCIEDADE MODERNA Nesta sociabilidade, o trabalho se constrói como um paradoxo, de um lado ele produz identidade, condições de vida, criação e de outro que produz exploração, alienação, eliminação do trabalho assalariado. A ausência de trabalho atualmente é um dos principais fatores que provocam a exclusão social, o desemprego, e depois como consequência trabalhos precários e informais. Portanto, o catador de materiais recicláveis é ou não um excluído nessa sociabilidade? O catador não tem um trabalho regular, porém encontra na catação um espaço de pertencimento social, “o catador não pode ser considerado como excluído, ele é, na verdade, incluído, ainda que muito mal e marginalmente” (BURSZTYN, 2000, p. 249). Pela falta de emprego o sujeito se vê obrigado a procurar soluções individuais para o problema estrutural do desemprego, por isso é levado a catar materiais recicláveis para vender. Se, na realidade brasileira, a exclusão é um termo impreciso que, que admite vários sentidos, parece haver certo consenso em sua associação à problemática da desigualdade social. Circulando num cenário onde habitam a pobreza, a miséria, a indigência, outros termos também de contraditória definição empírica, a exclusão se delinearia e se firma como um fruto perverso do capitalismo brasileiro. Constitui-se de certa forma como evolução e limite máximo, de um quadro de carências que vem se acentuando historicamente, carências essas que extrapolam as fronteiras dos 36 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista bens tidos como materiais e atingem o amplo e complexo campo da provação das condições básicas para o exercício da cidadania (JUNCÁ, 1996, p. 108). Quando o catador tem a possibilidade de trabalho negada, este também tem seus direitos negados e, portanto, uma vida miserável. Assim, em uma sociedade em que o trabalho é fundante do ser, aquele que não possui sofre uma apartação social. Termo usado por Buarque (1993), para mostrar a dualidade entre o social e o autoritarismo político observado a partir de 1964, que transformaram a economia em uma economia de apartação. Outro autor que contribui com essa análise é Santos (1979), discorrendo que o sujeito só é considerado cidadão, se comprovar sua condição de trabalhador. Assim, para se ter acesso aos benefícios sociais, o sujeito tem que ter acesso a um trabalho reconhecido legalmente, o que o autor denomina como cidadania regulada. Mas, para além da exclusão material, os catadores sofrem com uma exclusão subjetiva, estes carregam estimas por trabalharem com material reciclável. Para Wanderley (2002, p. 17) a “exclusão social vai além de determinações econômicas, pois existem valores e representações do mundo que acabam por excluir as pessoas”. Considera-se então que, s exclusão ultrapassa a questão econômica e material, perpassa a questão subjetiva, os valores, a representações, a cultura. Por desempenharem uma função considerada humilde socialmente, os catadores passam despercebidos pelas pessoas, não tendo seu reconhecimento, como se fossem invisíveis. Costa (2004, p. 126) em seu livro, Homens invisíveis: relato de uma humilhação social estuda sobre o trabalho dos garis, ele mostra como que os serviços de baixa qualificação refletem em uma invisibilidade pública, no qual o sujeito não é visto, “os garis, depois das faxinas públicas são recolhidos como flanela suja, aquela que não deve ficar na sala de estar quando as visitas chegam”. O ofício do gari parece acentuadamente atravessado por um fenômeno de gênese e expressão intersubjetiva: a invisibilidade pública – espécie de desaparecimento psicossocial de um homem no meio de outros homens. Bater o ponto, vestir uniforme, executar trabalhos essencialmente simples (como varrer ruas, cortar mato, retirar o barro que se acumula junto às guias), estar sujeito a repreensões mesmo sem motivo, transportar-se diariamente em cima da caçamba de camionetes ou caminhões em meio às ferramentas ou ao lixo são as tarefas delineadoras do trabalho daqueles homens. Tarefas nas quais pudemos reconhecer ingredientes psicológicos e 37 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista sociais profunda e fortemente marcados pela degradação e pelo servilismo. São atividades cronicamente reservadas a uma classe de homens subproletarizados; homens que se tornam historicamente condenados ao rebaixamento social e político (COSTA, 2004, p. 57). Assim, o autor ao se vestir com o uniforme de gari relata que se torna invisível, sendo que professores, alunos e funcionários da USP não o reconhece. O uniforme fornece uma única identidade aos sujeitos, representando um “lugar social, no qual aquelas pessoas pertencem desaparecendo o sujeito por debaixo do uniforme. Para ele humilhação social apresenta-se como expressão da desigualdade política que atinge determinada classe, essa afeta o homem, no sentido que o afeto, o raciocínio, a ação e o corpo se transforma frente à humilhação, tirando deste a possibilidade de criar para apenas repetir. Entramos pela porta principal, eu e o Antônio (um dos garis). Percorremos o piso térreo, as escadas e o primeiro andar. Não fui reconhecido. E as pessoas pelas quais passávamos não reagiam à nossa presença. Talvez apenas uma ou outra tenha se desviado de nós como desviamos de obstáculos, objetos. Nenhuma saudação corriqueira, um olhar, sequer um aceno de cabeça. Foi surpreendente. Eu era um uniforme que perambulava: estava invisível, Antônio estava invisível. Saindo do prédio, estava inquieto; era perturbadora a anistia dos outros, a percepção social neutralizada (COSTA, 2004, p. 58). Ao trabalharem com serviços desvalorizados na sociedade capitalista, o catador não tem seu trabalho e nem sua identidade reconhecida. Na sociedade capitalista, o lixo simboliza “tudo aquilo que se joga fora”, “algo sujo”, “descartável” e por ser o meio de sobrevivência dos catadores, estes sofrem preconceitos. Assim, a desigualdade social é algo presente na sociedade capitalista, e vai muito além da ausência de emprego formal, da cidadania, da vida política, da legalidade jurídica, é algo valorativo, porque perpassa preconceitos e discriminações. “Uma das consequências da exclusão é uma certa perda de identidade em que as pessoas e os segmentos sociais são reconhecidos apenas como os que não são, os que não tem, não sabem, não fazem” (SPOSATTI, 1988, p. 45). Sobre este pensamento, Costa (2004) fala que sentir-se invisível, é a sensação de não existir enquanto pessoa, a substituição do se sentir “ser” para se sentir “coisa”, comparando com uma espécie de morte do sujeito, por isso ele cria o 38 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revistatermo invisibilidade pública como se o sujeito fosse invisível e paralelamente como se todos repara-se e o julga-se. A invisibilidade pública, condição não natural a que um homem pode ser submetido, forma-se entre “cegos superiores” e “subalternos invisíveis”. No cego, representa obliteração na comunicação com cidadãos rebaixados, representa interdição de nossa sensibilidade à revelação de outrem como revelação de alguém. Insensatez, ignorância e indelicadeza. O sujeito cegado comporta-se com ignorada impolidez ou com indiferente impolidez, passa neutro pelos garis, como quem passa por objetos, por obstáculos, ou faz presunçosamente e sem perturbação. Qualquer que seja o caso, resiste aos poderes da presença de um outro humano quando se trata de um outro “abaixo”: incorre em negação automática ou agorenteda humanidade dos pobres. Não visita o subalterno com o seu olhar; e desvia ou recusa o olhar do gari, não permite que olhar do outro o visite. Mantém-se separado, pouco frequentado pelo sofrimento ou interpelação dos humilhados. Isolamento artificial, parece dispensar aqueles de quem depende, isolamento artificial, neutraliza o poder de aproximação de um outro humano. Suspende a vivência genuína de ser e aparecer como humano no meio de outros humanos. O sujeito cegado opõe-se a uma experiência de igualdade e alteridade que, sem oposição, alcança-nos naturalmente e irresistivelmente. Forja não ter ciência do outro, assume conduta insana, age com doidice; contesta, apaga, recusa um registro: não reconhece a existência de outrem (COSTA, 2004, p. 157). Outro autor que contribuiu com essa reflexão, é o Goffman (1982, p. 139) que vai dizer que só existe apenas um homem que não tem nada do que se envergonhar na nossa sociedade, aquele que atinge os padrões burgueses impostos pela mídia: sendo considerado como “um homem, casado, pai de família, branco, urbano, do norte, heterossexual, protestante, de educação universitária, bem empregado, de bom aspecto e bom peso, boa altura e com um sucesso recente nos esportes. Todos os outros sofrem algum tipo de preconceito, ou mais especificamente o termo que ele usa estigma. Acreditamos que alguém com estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, através das quais efetivamente, e muitas vezes sem pensar reduzimos suas chances de vida. Construímos uma teoria do estigma, uma ideologia para explicar a sua inferioridade e dar conta do perigo que ela representa, racionalizando algumas vezes uma animosidade baseada em outras diferenças, tais como a de classe social. Utilizamos termos específicos de estigma como aleijado, retardado, em nosso discurso diário como fonte de metáfora e representação, de maneira característica sem pensar no seu significado original (GOFFMAN, 1982, p. 15). 39 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista Estes são vistos como os preguiçosos, os marginais, os inadaptáveis, os problemáticos, por vezes não os vendo como seres humanos. Esses preconceitos e estigmas são perpassados por meio da ideologia, assim, o modo de produção capitalista impõe padrão de normalidade e do que é correto. Perlman (1877), em sua pesquisa com favelados do Rio de Janeiro, crítica o mito que os pobres são passivos, primitivo, desintegrado, denominou essa teoria de mito da marginalidade. No qual se tem uma tendência de culpabilizar o pobre, como se fosse uma escolhe dele sua condição social, como se este fosse culpado por tal pobreza. 3. RESULTADOS Salienta-se que os catadores contribuem com a gestão de resíduos sólidos, são fundamentais para que a reciclagem aconteça atualmente no país, contribuem socialmente com o município e com a comunidade em geral, mas em contraposição tem seus direitos sociais negados. O catador vive um processo de exclusão e inclusão, visto que não tem acesso aos mínimos sociais e quando tem esses são precários, não tem acesso a todos os direitos sociais, ou seja, vivem em situação de vulnerabilidade social, porém, são incluídos na medida em que esses têm um trabalho, se sustentam e produzem mais- valia. A exclusão social pode ser definida como um processo múltiplo de apartação de grupos e sujeitos, presente e combinado nas relações econômicas, sociais, culturais e políticas, dele resultando discriminações, não acessibilidade ao mundo oficial do trabalho e do consumo (MINAYO, 2001, p. 3). Diante desta realidade e do contexto neoliberal inserido na contemporaneidade, da apropriação e acumulação de riquezas nas mãos de poucos, em detrimento e exploração de muitos, a presente pesquisa acerca dos catadores de materiais recicláveis faz-se necessária. Pois, Santos (2014, p. 62) relata o preconceito que vivenciou na escola por terem descoberto que sua mãe era catadora: Passei a ser excluído no colégio, a ser zombado no recreio, a não ser mais convidado para as festas da turma. Mas eu não fui a única vítima. O peixinho, que estudava comigo, também sofreu um bocado. Os pais dele tinham passado por uma crise parecida com a nossa, de desemprego e alcoolismo e a família acabou, do mesmo jeito, 40 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista indo parar na rampa. As histórias aliás, eram sempre muito parecidas – só mudava o endereço. Neste sentido, espera-se que a pesquisa contribua para a construção de conhecimento e possíveis debates acerca da temática, pois trabalhar com o lixo parece constituir-se em um desafio a ser vencido. Desafio que envolve ignorar estigmas e encarar riscos, substituindo medos e humilhações por formas de enfrentamento da realidade que criam e os mobilizam integralmente (JUNCÁ, 2001). CONSIDERAÇÃO FINAL O catador nesse contexto não é um excluído do sistema capitalista, mas sim um sujeito extremamente incluído em um sistema desigual, incluído na geração de mais-valia4, na exploração do homem pelo homem, se tornando um reflexo dessa sociedade desigual. Os catadores apresentam histórias de vidas individuais, mas os mesmos tem em comum o processo de exclusão social, sendo restringindo deles um trabalho regular, direitos básicos, como acesso a educação, moradia, saúde. Por tanto não basta lutar por aspectos pontuais da exclusão, tem que se lutar por mudança política, econômica e social que afete de maneira efetiva as condições de vida dos trabalhadores. Os catadores em sua história sempre sofreram com a discriminação e os preconceitos de trabalhar com materiais recicláveis, apesar de fazer um trabalho de suma importância política, social e econômica, o seu trabalho sempre foi marginalizado, situações de perseguição policial ou mesmo das administrações municipais que, de tempos em tempos, promoviam sua limpeza na cidade essas operações para os que atuavam como catadores, podiam levar a apreensão de seus pertences e até mesmo de seus carrinhos. Contudo, pode-se constatar que a alta concentração de renda, a desigualdade social no Brasil, acaba sendo um limitante a liberdade. O catador não tem escolha, não tem liberdade nesse sistema, fica preso a um trabalho desumano para garantir a sua sobrevivência, é excluído a ponto de ser considerado redundante, eliminável, como é o lixo no qual procura materiais recicláveis. 4 “Mais-valia é fruto de um tempo de trabalho não pago, apropriado sem equivalente pelo proprietário dos meios de produção” (IAMAMOTO, 2007, p. 66) 41 ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) http://www.semar.edu.br/revista A exclusão é mais que uma restrição da vida material, do econômico, é mais que uma restriçãoda vida subjetiva, do convívio com o outro, é uma exclusão do ser, do poder ser, do viver. Neste sentido, o catador de materiais recicláveis tem grande papel para o desenvolvimento social, porém, é excluído dos direitos do trabalho dentro do contexto da atual sociedade. REFERÊNCIAS ARAÚJO, L. M. S. de. 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