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ROSA, B. O. et al. v. 12, nº 1, p. 26-43, JAN-JUL, 2017. 
Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) 
http://www.semar.edu.br/revista 
QUESTÃO SOCIAL E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO: 
UMA ANÁLISE DOS EXCLUÍDOS 
 
ROSA, Bárbara Oliveira 1 
SGARBI, Gabrielle Stéphany Nascimento 2 
PIANA, Maria Cristina 3 
 
RESUMO 
 
O século XXI tem sido palco de uma reorganização do trabalho, há o aumento da 
informalidade, há um retrocesso dos direitos trabalhistas e o sujeito neste contexto 
encontra no trabalho com materiais recicláveis uma forma de pertencimento social, 
de recuperar sua identidade de trabalhador, de sustentar sua família. Assim, esta 
pesquisa tem como objetivo analisar como que os catadores vivenciam um processo 
de inclusão/exclusão por meio de um trabalho que gera renda recupera sua 
identidade de trabalhador, contribuí no desenvolvimento econômico, ambiental e 
social da sociedade, mas por outro lado não tem o reconhecimento, vivencia um 
trabalho que os expõe a doenças e, não tem direitos trabalhistas. O trabalho foi 
realizado por meio de pesquisa bibliográfica exploratória, correlacionando conceitos 
como exclusão social e questão social com os catadores de materiais recicláveis, a 
partir do método do materialismo histórico-dialético sob a perspectiva da abordagem 
qualitativa. Espera-se que a pesquisa propicie reflexões e possíveis debates acerca 
da temática. 
Palavras-Chave: Catadores; Exclusão Social; Materiais recicláveis; Questão Social; 
Trabalhador. 
 
 
ABSTRACT: 
The twenty-first century has been the scene of a reorganization of work, there is an 
increase in informality, there is a setback of labor rights and the subject in this 
context finds in the work with recyclable materials a form of social belonging, to 
recover his identity as a worker, to support family. So, this research aims to analyze 
how the collectors experience an inclusion/exclusion process through work that 
generates income, recovers a worker identity, contributes to economic development, 
environmental and social, but on the other hand it does not have the recognition, 
experiences a work that exposes them to diseases and does not have labor rights. 
The work was carried out through exploratory bibliographic research, correlating 
concepts such as social exclusion and social issues with collectors of recyclable 
materials, from the method of historical-dialectical materialism from the perspective of 
 
1 Doutoranda em Serviço Social pela UNESP de Franca-SP e Bolsista da CAPES. E-mail: 
barbarass@hotmail.com.br. 
 
2 Mestranda em Serviço Social pela UNESP de Franca-SP, Bolsista da CAPES e Membro do 
GEFORMSS e do PRAPES. E-mail: gabrisgarbi@hotmail.com. 
 
3 Doutora em Serviço Social pela UNESP de Franca e Docente dos cursos de graduação e de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Serviço Social da UNESP de Franca-SP. E-mail: crispiana@uol.com.br. 
 
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Revista Eletrônica “Diálogos Acadêmicos” (ISSN: 0486-6266) 
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qualitative approach. It is hoped that research will provide reflections and possible 
debates about the theme. 
 
Key words: Collectors; Social exclusion; Recyclable materials; Social issues; 
Worker. 
 
 
INTRODUÇÃO 
Nesta sociabilidade, o trabalho se constrói como um paradoxo. De um lado 
produz identidade, condições de vida, criação; e de outro, produz exploração, 
alienação, eliminação do trabalho assalariado. O trabalho dos catadores de 
materiais recicláveis se constitui dentro desse paradoxo, visto que o catador não tem 
um trabalho regular, porém encontra no trabalho com materiais recicláveis espaço 
de pertencimento social. 
Assim, o trabalhador no capitalismo é visto desvinculado de sua identidade ou 
tem uma identidade atribuída, que não foi escolhida por ele. Essa é uma questão 
que perpassa a vida dos catadores, estes carregam o estigma de trabalhar com 
materiais recicláveis. Segundo, Goffman (1982), quando alguém é estigmatizado, 
acredita-se que essa pessoa não seja completamente humana. Costa (2004), em 
seu livro, “Homens invisíveis: relato de uma humilhação social” estuda acercado 
trabalho dos garis, ele mostra como que os serviços de baixa qualificação refletem 
em uma invisibilidade pública, no qual o sujeito não é visto. 
Ao trabalharem com serviços desvalorizados na sociedade capitalista, o 
catador não tem seu trabalho e nem sua identidade reconhecida. Havendo uma 
inversão de valores, no qual se valoriza as questões ambientais, o meio ambiente e 
discrimina que trabalha para a preservação do mesmo, desvalorizando o trabalho 
dos catadores. O objetivo principal da pesquisa é compreender e analisar esse 
processo exclusão que os catadores de materiais vivenciam. 
O método utilizado é o dialético visto que ele possibilita compreender como as 
contradições se mostram na realidade, o movimento do real. A escolha do método 
se deu porque este permite ir além da aparência e se chegar à essência. A 
metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica exploratória com análise qualitativa. 
O aporte teórico teve como referência autores como Goffman que discute 
acerca da identidade deteriorada pelo estigma e Costa que discorre sobre uma 
invisibilidade pública, no qual o sujeito não é visto. A partir desses autores foi 
possível trabalhar a discriminação social e exclusão social. 
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1. O TRABALHO E A QUESTÃO SOCIAL 
A divisão entre ricos e pobres, entre os donos dos meios de produção e os 
trabalhadores, é fruto de uma produção em massa e de uma apropriação da riqueza 
socialmente produzida por uma minoria, ou seja, quando essa questão se torna 
evidenciada é o que caracterizamos como “questão social”. “A expressão ‘questão 
social’ torna-se efetivamente pública a partir do momento em que os trabalhadores 
passam a questionar a ordem vigente” (PASTORINI, 2007, p.103). 
A questão social é inerente ao modo de produção capitalista, visto que o 
princípio fundante desse sistema é a expropriação da riqueza, a exploração do 
homem pelo homem, por meio da mais-valia, criando a desigualdade social. 
 
não é senão as expressões do processo de formação e 
desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário 
político da sociedade exigindo seu reconhecimento como parte por 
parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano 
da vida social, da contradição entre proletariado e a burguesia, a qual 
passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e 
da repressão (IAMAMOTO; CARVALHO, 1995, p. 77). 
 
Por causa das condições precárias de vida e trabalho, a miséria que o 
capitalismo produz, os trabalhadores passaram a se organizar e a lutar por direitos, 
melhores condições de vida, evidenciando as expressões da questão social, 
“vivendo nas mesmas localidades e sofrendo as mesmas agruras da vida operária, 
os trabalhadores começam a superar a heterogeneidade e aos poucos vão se 
definindo e assumindo estratégias que configuram uma forma de protesto, a sua 
recusa a serem destruídos pela máquina, devorados pelo capitalismo” 
(MARTINELLI, 2005, p. 36-37). 
Como resposta a um contexto social de pobreza e miséria, no qual a classe 
trabalhadora se organizava por meio de protestos, lutas, o Estado foi obrigado a 
atuar, em um espaço onde a caridade da igreja não era o suficiente, e as 
manifestações tornavam-se recorrente. O Estado visando manter a ordem vigente 
passa a atuar, mas com uma postura repressora, criando políticas públicas 
coercitivas e punitivas. 
“O eixo da intervenção estatal na idade do monopólio é direcionado para 
garantir os super lucros dos monopólios e, para tanto, como poder político e 
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econômico, o Estado desempenha uma multiplicidade de funções” (NETTO, 1992, 
p.21). 
 Segundo Pereira (2008), a pobreza era vista como caso de polícia, como 
exemplo tem a Lei dos Pobres, esta punia os pobres acusando-os de 
“vagabundagem”, separava os pobres que tinham licença para mendigar, aqueles 
que tinham deficiência que impossibilitava o trabalho, e os demais eram 
encarcerados e punidos com tortura física. Logo depois surgiram as Workhouses, 
que eram casas onde o indivíduo era obrigado a trabalhar, havendo relato que os 
pobres trabalhavam até a exaustão. 
 
Apoiados em uma legislação das mais brutais de que se tem notícia, 
os modelos visualizavam a assistência como uma forma de controlar 
a pobreza e ratificar a sujeição e a submissão dos trabalhadores. 
Apoiavam-se essencialmente em três grandes estratégias: a 
intimidação, a repressão e a punição (MARTINELLI, 2005, p. 84). 
 
Com o tempo a legislação vai perdendo esse caráter punitivo como exemplo 
tem a criação da Lei Speenhamland, está se difere das anteriores, era menos 
repressora, visto que complementava os salários com o valor do preço do pão. Essa 
mudança segundo Behring e Boschetti (2011), não foi repentina, mas sim de uma 
necessidade, visto que se teve o fortalecimento das manifestações dos 
trabalhadores. Assim, o Estado junto da burguesia se viu obrigado a dar os anéis 
para não perder os dedos. 
Neste contexto, as políticas públicas são respostas as expressões da questão 
social, mas elas se constituem de forma contraditória, sendo ao mesmo um tempo 
um instrumento do Estado para apaziguar as lutas, manifestações e disputas 
políticas, e por outro, lado sendo uma consquista do trabalhador. 
 
Portanto, a questão social está relacionada ao exercício 
empobrecido, alienado e desumanizado das funções do trabalho vivo 
sob o controle do capital, em diferentes estágios do modo de 
produção capitalista; logo, à situação daqueles que vivem da venda 
da sua força de trabalho, como única condição de satisfazer suas 
necessidades, nem sempre absorvidos no mercado de trabalho, ou 
absorvidos em situação precária, ou deles ‘excluídos’, 
marginalizados, segregados, estigmatizados e sujeitos a estereótipos 
negativos, pela sua condição social. Essa realidade estrutural está 
ligada às contradições do modo de produção capitalista, da formação 
da superpopulação relativa que cresce na mesma proporção do 
crescimento do capital (TEIXEIRA, 2008, p.49). 
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Segundo Netto (1992), questão social passou a ser utilizada na terceira 
década do século XIX, visto que o capitalismo concorrencial se instaurava no 
período gerando o pauperismo, na mesma proporção que o capitalismo gerava 
riqueza para poucos, ocasionava miséria ao proletariado. 
Por meio desta perspectiva, a questão social ganha destaque pela 
organização do proletariado, como exemplo tem o movimento ludista, no qual os 
proletariados quebravam as máquinas como meio de protesto, contra a substituição 
do homem pela máquina, este movimento ocorreu no período da Revolução 
Industrial, na Inglaterra. A partir desses movimentos, chama-se a atenção da 
burguesia que passa em pensar em ações de controle. 
O que acontece atualmente é que o capitalismo mudou sem perder sua 
essência, gerando uma discussão entre os autores, se há uma “nova questão 
social”, ou se é a mesma “questão social” com novas expressões advindas desse 
século. Castel (1998), em seu livro “As Metamorfoses da questão social: uma 
crônica do salário” acredita que a “questão social” metamorfoseou-se originando 
assim uma “nova questão social”, visto que depois da Segunda Guerra atingiu-se 
uma estabilidade econômica e social, com a criação de políticas de pleno emprego e 
de direitos sociais, parecia que a questão social havia desaparecido. Mas, com o 
ressurgimento do desemprego, da precarização do trabalho, reflexo da crise de 
1967, o autor passou a acreditar no surgimento de uma “nova questão social”, visto 
que antes se o pauperismo se constituía pela exploração no trabalho e agora o 
pauperismo se constitui pela falta de trabalho. 
Já para Paulo Netto (1992), o autor a ser seguido como sendo o pensamento 
mais coeso, a expressão nova questão social, não possui razão de ser, visto que as 
expressões da questão social mudam de acordo com as particularidades histórico, 
culturais, sociais e políticos de determinada sociedade, sendo que o princípio 
fundante da questão social continua o mesmo, que é o pauperismo gerado pelo 
sistema capitalista. 
Portanto, a questão social é fruto do movimento, da dinâmica da realidade 
social, se constitui com distintas expressões se diferenciando de acordo com o 
período histórico e o modo como às pessoas se organizam socialmente, 
culturalmente, economicamente e politicamente em uma determinada região. 
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No Brasil a questão social tem suas particularidades. Segundo Santos (2012), 
o capitalismo brasileiro se destaca pelo seu o caráter conservador e modernizador, o 
país tem forte modelo latifundiário de monocultura extensiva, voltado para a 
exportação, assim, a economia se baseia na exportação de matérias primas e 
importação de produtos industrializados, sendo que com o excedente da 
monocultura passaram a investir em indústrias voltadas apenas para o mercado 
interno, sendo as oligarquias detentoras dos poderes econômicos e políticos. 
Sobre este contexto, Fernandes (2005, p. 241) dispõe seu pensamento 
relatando que: 
Podia discordar da oligarquia ou mesmo opor-se a ela. Mas fazia-o 
dentro de um horizonte cultural que era essencialmente o mesmo, 
polarizando em torno de preocupações particularistas e de um 
estranho conservantismo sociocultural e político. 
 
Segundo Kowarick (1987), o Brasil no período colonial se caracterizava pela 
escravidão, o tráfico negreiro e a produção de matérias primas e produtos 
alimentícios, assim o país tinha suas riquezas exploradas para manutenção do 
sistema mercantil que se instalava na Europa. 
Assim, segundo Sposati (1988), o trabalho era considerado sinônimo da 
escravidão, algo degradante e humilhante, só com o advento dos valores capitalistas 
que ele passa a ser considerado algo que dignifica o homem, e fundante na 
sociedade do capital, visto que precisava de produção e consumo em massa. 
 
Na obra completa de Debret e o Brasil, de Júlio Bandeira e Pedro 
Correa do Lago, é possível encontrar fotos de telas de 1817 a 1829, 
hoje expostas no Museu Castro Maia, no Rio de Janeiro, que 
retratam cenas urbanas brasileiras. Elas nos mostram o negro 
escravo no exercício de várias tarefas, dentre elas, a da limpeza da 
cidade e distribuição da água. Os escravos utilizavam enxada para 
recolher o lixo da rua. O lixo recolhido era colocado em um cesto de 
palha e, em seguida, arremessado em uma carroça puxada a burros. 
Em outra tela, vemos os “aguadeiros”: eram seis escravos 
organizados em três pares, que tinham como função carregar grande 
tonel de água e distribuir nas residências (BASTOS, 2014, p. 9). 
 
Com a Proclamação da Independência, e o desenrolar do processo de 
urbanização das cidades, a mão de obra escrava foi abolida, os escravos foram 
expulsos das fazendas, cedendo lugar à mão de obra assalariada, aos imigrantes 
europeus, se tornando assim uma mercadoria sem valor. 
A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, não trouxe a 
incorporação igualitária para as comunidades afrodescendentes. 
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Pelo contrário, só reforçou as redes de desigualdade social 
construídas sob ótica da dominação colonial (SCHUMAHER; 
BRAZIL, 2013, p. 41). 
 
Segundo Maringoni (2012), os ex-escravos eram discriminados pela cor, eram 
os deserdados da República, formavam a população pobre, tornando-se 
trabalhadores temporários, desocupados, os mendigos, os capoeiras, malandros e 
vagabundos, ou seja, formavam “uma massa desenraizada, que não foi incorporada 
no processo produtivo até 1930, quando a economia viria a apresentar maior grau 
de desenvolvimento e diversificação” (KOWARICK, 1987, p. 13). 
Assim, houve no Brasil “um eufemismo típico da falsa consciência da 
burguesia ultraconservadora” (FERNANDES, 2005, p. 253), no qual se manteve uma 
dependência com o mercado externo, se submetendo aos caprichos da dominação 
imperialista, assim, a questão social ganha visibilidade, entre os anos de 1930 a 
1956, processo migratório dos trabalhadores do campo para a cidade. 
Segundo Behring e Boschetti (2011), com a chegada de imigrantes europeus 
no país, que trouxeram ideários anarquistas, socialistas, influenciando a organização 
política do país. A primeira lei do país foi a Eloy Chaves, que institui no país a Caixa 
de Aposentadorias e Pensões (CAPS), atendendo apenas quem contribuía com a 
economia exportadora, como os ferroviários e marítimos. 
Por isso, este período ficou conhecido como “cidadania regulada”, visto que 
apenas os trabalhadores contribuíam para o progresso externo do país que tinham 
direitos sociais, assim a gênese da política social no Brasil se inicia com um “germe” 
da Previdência Social, contributiva e restritiva a algumas categorias de trabalho. 
Segundo Behring e Boschetti (2011), com a crise da oligarquia cafeeira, em 
1929, o Brasil deixa de ter uma política e uma economia sob o domínio do café e 
Getúlio Vargas assume a presidência, o país passa por um processo de 
industrialização/urbanização interna. Este cria o Ministério do Trabalho, em 1930, 
cria o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde, em 1932. E em 1933, cria os 
Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS), estas tiveram um papel importante 
na história, visto que elas substituíram a CAPS e abrangeram mais categorias 
profissionais. 
Em 1964 se inicia a Ditadura Militar no Brasil, este período ficou marcado pela 
repressão, a população perde direitos democráticos, de voto, de expressão, sendo 
um contexto de retrocesso para os direitos sociais e avanço da entrada de capital 
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estrangeiro no país, a economia se baseava na “modernização conservadora”, cujas 
características foram: a expansão monopolista do capital, o modelo fordista de 
produção, a repressão política e a riqueza para minorias. 
Com as mobilizações sociais e o movimento das “Diretas Já”, o País se 
envolve em um processo de redemocratização e em 1988 é criada a Constituição 
Federal com princípios democráticos, que também ficou conhecida como a 
“Constituição Cidadã”. 
A Seguridade Social Brasileira foi baseada no modelo alemão, Bismarckiano 
e no modelo Inglês, Beveridgiano, essa divide-se em três direitos fundamentais: 
abrangendo a Saúde, Assistência Social e a Previdência Social. Há uma 
diferenciação entre a saúde, a assistência social e a previdência social. A 
Assistência Social limita-se “a quem dela necessitar”. Já Previdência Social tem 
caráter contributivo, sendo restrito a quem contribuir, sendo organizada pelo Instituto 
Nacional de Seguridade Social (INSS). Se diferenciando das demais políticas, a 
Política de Saúde, tem caráter universalista, sendo “direito de todos e de 
responsabilidade do Estado”. 
 
Art. 1º A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de 
ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinado a 
assegurar o direito relativo à saúde, à previdência e à assistência 
social. 
Parágrafo único. A Seguridade Social obedecerá aos seguintes 
princípios e diretrizes: 
a) universalidade da cobertura e do atendimento; 
b) uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às 
populações urbanas e rurais; 
c) seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e 
serviços; 
d) irredutibilidade do valor dos benefícios; 
e) equidade na forma de participação no custeio; 
f) diversidade da base de financiamento; 
g) caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa 
com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores, 
empresários e aposentados (BRASIL, 1988, p. 1). 
 
Mesmo com o surgimento de legislações e políticas as expressões da 
questão social não sanaram, “quando o Estado não proporciona mecanismo de 
proteção sociais amplos e universais, a exclusão tende a se manifestar não apenas 
na dimensão social, mas também na esfera da sobrevivência” (BURSZTYN, 2000, p. 
37-38). Assim, a exclusão é inerente ao modo de produção capitalista, as políticas 
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públicas, o poder político jamais poderá acabar com a mesma visto que ela é um 
termo recorrente e essencial para a manutenção do capital. 
 Castel (2008), aponta para a heterogeneidade do termo exclusão, já que o 
termo designa diferentes situações, mascarando o real significado, a origem de cada 
uma delas, para o autor reduz a questão social unicamente à questão da exclusão, 
como sinônimo de falta, simplificando o termo, esquecendo que não se pode apenas 
intervir em situações pontuais, mas que temos que buscar a essência, a origem da 
exclusão. 
Para Nascimento (2000), exclusão seria perda sucessiva de vínculos 
societários, distanciando dos termos pobreza e desigualdade social. 
O excluído não existe por si mesmo. Ele é uma realidade sempre 
ligada à outra. Se digo que alguém é excluído, devo logo perguntar: 
excluído de onde? Ou excluído por quem? O ser excluído de algum 
lugar, implica que exista esse outro lugar (GUARESCHI, 1992, p. 7). 
 
O excluído tem dificuldades de se adaptar, de compartilhar valores, 
sentimentos e das representações da sociedade, caracterizando como um problema 
de ordem individual, rompendo com os: 
vínculos que unem os indivíduos entre si e fixam os atores sociais ao 
modelo de sociedade, dos vínculos sociais (materializados) e dos 
vínculos simbólicos, das representações que conferem a identidade 
social (XIBERRAS, 1993 apud ESCOREL, 1999, p. 60). 
 
Superando a análise de Xiberras na medida em que caracteriza a dificuldade 
de compartilhar valores sociais como um problema individual, a exclusão ultrapassa 
o âmbito individual ele se caracteriza como um problema de ordem coletiva, no qual 
não é o sujeito que se isola socialmente, mas a sociedade por meio da realidade 
material excludente do capitalismo, composta por valores preconceituosos que 
acabam excluindo, privando o sujeito do convívio social. 
Wanderley (2002), afirma que na década de 1990, os excluídos 
representavam as pessoas que não conseguiam se inserir no mercado, ou seja, os 
desempregados. Na sociedade capitalista o trabalho é categoria central, o sujeito 
que não se insere no mercado de trabalho, que não possui um trabalho se torna um 
excluído, tendo restringido o seu poder de consumo e a potencialidade do trabalho. 
 
A ideia de exclusão, então, surge como uma quebra no processo de 
integração social, apontando para a divisão da sociedade, para a 
produção de fronteiras que demarcam o dentro e o fora do social, 
sugerindo uma diferença essencial entre os homens. Enuncia-se 
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então, um pólo de referência: nós, os cidadãoslaboriosos – 
guardiões do conhecimento, possuidores de valores superiores, 
detentores de uma extraordinária força moral-, e os “outros”, os 
“excedentes”, incapazes de “aderir” aos valores instituídos pela 
sociedade moderna (progresso, êxito econômico, racionalidade 
produtiva), em ruptura com as ideias fundadores dessa sociedade, 
de unidade, universalidade e mobilidade social (ARAÚJO, 1997, p. 
32). 
 
Assim, a questão social representa-se como fatores frutos do modo de 
produção capitalista, sua gênese está no cerne do capitalismo, se tornando 
indissociável a este, o progresso e constante mudança das forças produtivas em 
busca de lucros e maior produtividade, ocasiona por um lado a criação de tecnologia 
e agilidade/conforto na produção, mas por outro lado leva a diminuição do tempo de 
trabalho na produção de mercadorias, aumenta o capital constante e diminui o 
capital variável. 
 
2. O CATADOR NA SOCIEDADE MODERNA 
Nesta sociabilidade, o trabalho se constrói como um paradoxo, de um lado ele 
produz identidade, condições de vida, criação e de outro que produz exploração, 
alienação, eliminação do trabalho assalariado. A ausência de trabalho atualmente é 
um dos principais fatores que provocam a exclusão social, o desemprego, e depois 
como consequência trabalhos precários e informais. 
Portanto, o catador de materiais recicláveis é ou não um excluído nessa 
sociabilidade? O catador não tem um trabalho regular, porém encontra na catação 
um espaço de pertencimento social, “o catador não pode ser considerado como 
excluído, ele é, na verdade, incluído, ainda que muito mal e marginalmente” 
(BURSZTYN, 2000, p. 249). 
Pela falta de emprego o sujeito se vê obrigado a procurar soluções individuais 
para o problema estrutural do desemprego, por isso é levado a catar materiais 
recicláveis para vender. 
 
Se, na realidade brasileira, a exclusão é um termo impreciso que, 
que admite vários sentidos, parece haver certo consenso em sua 
associação à problemática da desigualdade social. Circulando num 
cenário onde habitam a pobreza, a miséria, a indigência, outros 
termos também de contraditória definição empírica, a exclusão se 
delinearia e se firma como um fruto perverso do capitalismo 
brasileiro. Constitui-se de certa forma como evolução e limite 
máximo, de um quadro de carências que vem se acentuando 
historicamente, carências essas que extrapolam as fronteiras dos 
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bens tidos como materiais e atingem o amplo e complexo campo da 
provação das condições básicas para o exercício da cidadania 
(JUNCÁ, 1996, p. 108). 
 
Quando o catador tem a possibilidade de trabalho negada, este também tem 
seus direitos negados e, portanto, uma vida miserável. Assim, em uma sociedade 
em que o trabalho é fundante do ser, aquele que não possui sofre uma apartação 
social. Termo usado por Buarque (1993), para mostrar a dualidade entre o social e o 
autoritarismo político observado a partir de 1964, que transformaram a economia em 
uma economia de apartação. 
Outro autor que contribui com essa análise é Santos (1979), discorrendo que 
o sujeito só é considerado cidadão, se comprovar sua condição de trabalhador. 
Assim, para se ter acesso aos benefícios sociais, o sujeito tem que ter acesso a um 
trabalho reconhecido legalmente, o que o autor denomina como cidadania regulada. 
Mas, para além da exclusão material, os catadores sofrem com uma exclusão 
subjetiva, estes carregam estimas por trabalharem com material reciclável. 
Para Wanderley (2002, p. 17) a “exclusão social vai além de determinações 
econômicas, pois existem valores e representações do mundo que acabam por 
excluir as pessoas”. Considera-se então que, s exclusão ultrapassa a questão 
econômica e material, perpassa a questão subjetiva, os valores, a representações, a 
cultura. 
Por desempenharem uma função considerada humilde socialmente, os 
catadores passam despercebidos pelas pessoas, não tendo seu reconhecimento, 
como se fossem invisíveis. Costa (2004, p. 126) em seu livro, Homens invisíveis: 
relato de uma humilhação social estuda sobre o trabalho dos garis, ele mostra como 
que os serviços de baixa qualificação refletem em uma invisibilidade pública, no qual 
o sujeito não é visto, “os garis, depois das faxinas públicas são recolhidos como 
flanela suja, aquela que não deve ficar na sala de estar quando as visitas chegam”. 
 
O ofício do gari parece acentuadamente atravessado por um 
fenômeno de gênese e expressão intersubjetiva: a invisibilidade 
pública – espécie de desaparecimento psicossocial de um homem no 
meio de outros homens. Bater o ponto, vestir uniforme, executar 
trabalhos essencialmente simples (como varrer ruas, cortar mato, 
retirar o barro que se acumula junto às guias), estar sujeito a 
repreensões mesmo sem motivo, transportar-se diariamente em cima 
da caçamba de camionetes ou caminhões em meio às ferramentas 
ou ao lixo são as tarefas delineadoras do trabalho daqueles homens. 
Tarefas nas quais pudemos reconhecer ingredientes psicológicos e 
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sociais profunda e fortemente marcados pela degradação e pelo 
servilismo. São atividades cronicamente reservadas a uma classe de 
homens subproletarizados; homens que se tornam historicamente 
condenados ao rebaixamento social e político (COSTA, 2004, p. 57). 
 
Assim, o autor ao se vestir com o uniforme de gari relata que se torna 
invisível, sendo que professores, alunos e funcionários da USP não o reconhece. O 
uniforme fornece uma única identidade aos sujeitos, representando um “lugar social, 
no qual aquelas pessoas pertencem desaparecendo o sujeito por debaixo do 
uniforme. Para ele humilhação social apresenta-se como expressão da desigualdade 
política que atinge determinada classe, essa afeta o homem, no sentido que o afeto, 
o raciocínio, a ação e o corpo se transforma frente à humilhação, tirando deste a 
possibilidade de criar para apenas repetir. 
 
Entramos pela porta principal, eu e o Antônio (um dos garis). 
Percorremos o piso térreo, as escadas e o primeiro andar. Não fui 
reconhecido. E as pessoas pelas quais passávamos não reagiam à 
nossa presença. Talvez apenas uma ou outra tenha se desviado de 
nós como desviamos de obstáculos, objetos. Nenhuma saudação 
corriqueira, um olhar, sequer um aceno de cabeça. Foi 
surpreendente. Eu era um uniforme que perambulava: estava 
invisível, Antônio estava invisível. Saindo do prédio, estava inquieto; 
era perturbadora a anistia dos outros, a percepção social 
neutralizada (COSTA, 2004, p. 58). 
 
Ao trabalharem com serviços desvalorizados na sociedade capitalista, o 
catador não tem seu trabalho e nem sua identidade reconhecida. Na sociedade 
capitalista, o lixo simboliza “tudo aquilo que se joga fora”, “algo sujo”, “descartável” e 
por ser o meio de sobrevivência dos catadores, estes sofrem preconceitos. 
Assim, a desigualdade social é algo presente na sociedade capitalista, e vai 
muito além da ausência de emprego formal, da cidadania, da vida política, da 
legalidade jurídica, é algo valorativo, porque perpassa preconceitos e 
discriminações. 
“Uma das consequências da exclusão é uma certa perda de identidade em 
que as pessoas e os segmentos sociais são reconhecidos apenas como os que não 
são, os que não tem, não sabem, não fazem” (SPOSATTI, 1988, p. 45). 
Sobre este pensamento, Costa (2004) fala que sentir-se invisível, é a 
sensação de não existir enquanto pessoa, a substituição do se sentir “ser” para se 
sentir “coisa”, comparando com uma espécie de morte do sujeito, por isso ele cria o 
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http://www.semar.edu.br/revistatermo invisibilidade pública como se o sujeito fosse invisível e paralelamente como 
se todos repara-se e o julga-se. 
 
A invisibilidade pública, condição não natural a que um homem pode 
ser submetido, forma-se entre “cegos superiores” e “subalternos 
invisíveis”. No cego, representa obliteração na comunicação com 
cidadãos rebaixados, representa interdição de nossa sensibilidade à 
revelação de outrem como revelação de alguém. Insensatez, 
ignorância e indelicadeza. O sujeito cegado comporta-se com 
ignorada impolidez ou com indiferente impolidez, passa neutro pelos 
garis, como quem passa por objetos, por obstáculos, ou faz 
presunçosamente e sem perturbação. Qualquer que seja o caso, 
resiste aos poderes da presença de um outro humano quando se 
trata de um outro “abaixo”: incorre em negação automática ou 
agorenteda humanidade dos pobres. Não visita o subalterno com o 
seu olhar; e desvia ou recusa o olhar do gari, não permite que olhar 
do outro o visite. Mantém-se separado, pouco frequentado pelo 
sofrimento ou interpelação dos humilhados. Isolamento artificial, 
parece dispensar aqueles de quem depende, isolamento artificial, 
neutraliza o poder de aproximação de um outro humano. Suspende a 
vivência genuína de ser e aparecer como humano no meio de outros 
humanos. O sujeito cegado opõe-se a uma experiência de igualdade 
e alteridade que, sem oposição, alcança-nos naturalmente e 
irresistivelmente. Forja não ter ciência do outro, assume conduta 
insana, age com doidice; contesta, apaga, recusa um registro: não 
reconhece a existência de outrem (COSTA, 2004, p. 157). 
 
Outro autor que contribuiu com essa reflexão, é o Goffman (1982, p. 139) que 
vai dizer que só existe apenas um homem que não tem nada do que se envergonhar 
na nossa sociedade, aquele que atinge os padrões burgueses impostos pela mídia: 
sendo considerado como “um homem, casado, pai de família, branco, urbano, do 
norte, heterossexual, protestante, de educação universitária, bem empregado, de 
bom aspecto e bom peso, boa altura e com um sucesso recente nos esportes. 
Todos os outros sofrem algum tipo de preconceito, ou mais especificamente o termo 
que ele usa estigma. 
 
Acreditamos que alguém com estigma não seja completamente 
humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, 
através das quais efetivamente, e muitas vezes sem pensar 
reduzimos suas chances de vida. Construímos uma teoria do 
estigma, uma ideologia para explicar a sua inferioridade e dar conta 
do perigo que ela representa, racionalizando algumas vezes uma 
animosidade baseada em outras diferenças, tais como a de classe 
social. Utilizamos termos específicos de estigma como aleijado, 
retardado, em nosso discurso diário como fonte de metáfora e 
representação, de maneira característica sem pensar no seu 
significado original (GOFFMAN, 1982, p. 15). 
 
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Estes são vistos como os preguiçosos, os marginais, os inadaptáveis, os 
problemáticos, por vezes não os vendo como seres humanos. Esses preconceitos e 
estigmas são perpassados por meio da ideologia, assim, o modo de produção 
capitalista impõe padrão de normalidade e do que é correto. 
Perlman (1877), em sua pesquisa com favelados do Rio de Janeiro, crítica o 
mito que os pobres são passivos, primitivo, desintegrado, denominou essa teoria de 
mito da marginalidade. No qual se tem uma tendência de culpabilizar o pobre, como 
se fosse uma escolhe dele sua condição social, como se este fosse culpado por tal 
pobreza. 
 
3. RESULTADOS 
Salienta-se que os catadores contribuem com a gestão de resíduos sólidos, 
são fundamentais para que a reciclagem aconteça atualmente no país, contribuem 
socialmente com o município e com a comunidade em geral, mas em contraposição 
tem seus direitos sociais negados. 
O catador vive um processo de exclusão e inclusão, visto que não tem acesso 
aos mínimos sociais e quando tem esses são precários, não tem acesso a todos os 
direitos sociais, ou seja, vivem em situação de vulnerabilidade social, porém, são 
incluídos na medida em que esses têm um trabalho, se sustentam e produzem mais-
valia. 
 
A exclusão social pode ser definida como um processo múltiplo de 
apartação de grupos e sujeitos, presente e combinado nas relações 
econômicas, sociais, culturais e políticas, dele resultando 
discriminações, não acessibilidade ao mundo oficial do trabalho e do 
consumo (MINAYO, 2001, p. 3). 
 
 Diante desta realidade e do contexto neoliberal inserido na 
contemporaneidade, da apropriação e acumulação de riquezas nas mãos de 
poucos, em detrimento e exploração de muitos, a presente pesquisa acerca dos 
catadores de materiais recicláveis faz-se necessária. 
Pois, Santos (2014, p. 62) relata o preconceito que vivenciou na escola por 
terem descoberto que sua mãe era catadora: 
Passei a ser excluído no colégio, a ser zombado no recreio, a não 
ser mais convidado para as festas da turma. Mas eu não fui a única 
vítima. O peixinho, que estudava comigo, também sofreu um bocado. 
Os pais dele tinham passado por uma crise parecida com a nossa, 
de desemprego e alcoolismo e a família acabou, do mesmo jeito, 
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indo parar na rampa. As histórias aliás, eram sempre muito parecidas 
– só mudava o endereço. 
 
Neste sentido, espera-se que a pesquisa contribua para a construção de 
conhecimento e possíveis debates acerca da temática, pois trabalhar com o lixo 
parece constituir-se em um desafio a ser vencido. Desafio que envolve ignorar 
estigmas e encarar riscos, substituindo medos e humilhações por formas de 
enfrentamento da realidade que criam e os mobilizam integralmente (JUNCÁ, 2001). 
 
CONSIDERAÇÃO FINAL 
O catador nesse contexto não é um excluído do sistema capitalista, mas sim 
um sujeito extremamente incluído em um sistema desigual, incluído na geração de 
mais-valia4, na exploração do homem pelo homem, se tornando um reflexo dessa 
sociedade desigual. 
Os catadores apresentam histórias de vidas individuais, mas os mesmos tem 
em comum o processo de exclusão social, sendo restringindo deles um trabalho 
regular, direitos básicos, como acesso a educação, moradia, saúde. 
Por tanto não basta lutar por aspectos pontuais da exclusão, tem que se lutar 
por mudança política, econômica e social que afete de maneira efetiva as condições 
de vida dos trabalhadores. 
Os catadores em sua história sempre sofreram com a discriminação e os 
preconceitos de trabalhar com materiais recicláveis, apesar de fazer um trabalho de 
suma importância política, social e econômica, o seu trabalho sempre foi 
marginalizado, situações de perseguição policial ou mesmo das administrações 
municipais que, de tempos em tempos, promoviam sua limpeza na cidade essas 
operações para os que atuavam como catadores, podiam levar a apreensão de seus 
pertences e até mesmo de seus carrinhos. 
Contudo, pode-se constatar que a alta concentração de renda, a 
desigualdade social no Brasil, acaba sendo um limitante a liberdade. O catador não 
tem escolha, não tem liberdade nesse sistema, fica preso a um trabalho desumano 
para garantir a sua sobrevivência, é excluído a ponto de ser considerado 
redundante, eliminável, como é o lixo no qual procura materiais recicláveis. 
 
4 “Mais-valia é fruto de um tempo de trabalho não pago, apropriado sem equivalente pelo proprietário 
dos meios de produção” (IAMAMOTO, 2007, p. 66) 
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A exclusão é mais que uma restrição da vida material, do econômico, é mais 
que uma restriçãoda vida subjetiva, do convívio com o outro, é uma exclusão do 
ser, do poder ser, do viver. Neste sentido, o catador de materiais recicláveis tem 
grande papel para o desenvolvimento social, porém, é excluído dos direitos do 
trabalho dentro do contexto da atual sociedade. 
 
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Submetido em: 23/02/2017 
Aceito em: 17/03/2017

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