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8 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL SANDRA REGINA FREITAS DE SOUSA UM ESTUDO DE CASO SOBRE O BULLYING: a percepção das alunas do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense nos anos de 2011.1 a 2013.2. Fortaleza/2014 9 SANDRA REGINA FREITAS DE SOUSA UM ESTUDO DE CASO SOBRE O BULLYING: a percepção das alunas do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense nos anos de 2011.1 a 2013.2. Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social da Faculdade Cearense – FAC, como requisito para obtenção do título de bacharel. Orientador: Walter Barbosa Lacerda Filho Fortaleza/ 2014 10 SANDRA REGINA FREITAS DE SOUSA UM ESTUDO DE CASO SOBRE O BULLYING: a percepção das alunas do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense nos anos de 2011.1 a 2013.2. Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de bacharel em Serviço Social, outorgada pela Faculdade Cearense - FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores: Data de Aprovação: 31/01/2014 Banca Examinadora: Prof° Walter Barbosa Lacerda Filho (Orientador) Prof° Renato Ângelo de Almeida Moreira Prof° Jefferson Falcão Sales 11 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus a força de ter vencido os obstáculos diários nos quatro anos cursados, pois só ele é merecedor de toda glória, honra e louvor. À minha querida mãe, Maria de Socorro, por ter me ajudado em todos os momentos difíceis do meu retornar à vida escolar. Ao meu querido marido, Sinval Vicente, que foi e é o maior incentivador e patrocinador, pela compreensão, apoio, paciência e colaboração. Aos meus filhos, Sinval Júnior e Sheila Priscila, e ao meu genro Marcelo Martina, que diversas vezes me socorreram com seus conhecimentos na correção e execução dos trabalhos. À minha querida sobrinha, Lucia de Oliveira que como um anjo esteve nos momentos mais difíceis da minha vida. Ao meu tio Nilson, que dedicou muitas horas do seu tempo me orientando. Às minhas Amigas, Aurea Gomes e Taianny Mara, que estiveram ao meu lado nos momentos difíceis. Aos professores, Renato Ângelo e Jefferson Sales, que, com suas poucas palavras, foram capazes de me mostrar o caminho a ser trilhado com confiança e perseverança. O meu eterno carinho. E o meu eterno agradecimento a todos os professores que fizeram parte da construção do meu saber. 12 “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática." (Paulo Freire) 13 RESUMO A ausência de estudos e trabalhos específicos em língua portuguesa dentro de uma Instituição de Ensino Superior sobre o contexto do bullying levou a elaborar o presente trabalho. Pesquisa qualiquantitativa, que objetivou analisar as expressões do bullying na formação acadêmica e a compreensão das alunas do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense sobre sua ocorrência, no período de 2011.2 a 2013.1. O estudo foi desenvolvido por meio de entrevistas e questionários semiestruturados, no período de 2011.2 a 2013.2, tendo como base alunos e docentes da Faculdade Cearense. Seu conteúdo teórico tem como base de fundamentação autores como: Ana Beatriz (2009); Cléo Fante (2005) e outros. Pode-se constatar 50% de ocorrências de bullying. Como sugestão tem-se a necessidade de uma política para tratar desse assunto nas Instituições de Ensino Superior. Palavras-Chave: Bullying. Agressores. Violência ABSTRACT The absence of specific studies in Portuguese in Higher Education Institution on the context of bullying led to prepare this work. Qualitative and quantitative research to analyze the expressions of "bullying" in academic, aimed students from the Faculty of Social Work Ceará, in the period from 2011.2 to 2013.1. The study was conducted through semi-structured interviews and questionnaires based on students on faculty of the School of Ceará. Its theoretical content is based on the authors, such as: as: Ana Beatriz (2009); Cleo Fante (2005) and others. We can see that 50% of bullying incidents, suggested the need for a policy to address this issue in Institutions of Higher Education. The study showed that the rate is alarming within higher education institutions, suggesting the need to implement a policy to address this problem. Keywords: Bullying. Perpetrators. Violence. 14 Lista de Abreviaturas ABRAPIA - Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência FaC - Faculdade Cearense IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IES - Instituição de Ensino Superior ILAUD – Instituto Latino Americano das Nações Unidas ISER – Instituto de Estudos da Religião PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura USP – Universidade de São Paulo 15 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................08 Capítulo I 1. As relações humanas e violência psicológica no contexto da sociedade contemporânea.........................................................................................................13 1.1 Bullying.................................................................................................13 1.2 Características do bullying...................................................................17 1.3 Os tipos de bullying..............................................................................20 1.3.1 Bullying doméstico...........................................................20 1.3.2. Bullying no ambiente de trabalho ou assédio moral.......21 1.3.3. Bullying virtual ou Cyberbullying......................................22 1.4. Personagens do bullying......................................................................22 1.4.1. Vítima........................................................................23 1.4.2. Agressor...................................................................26 1.4.3. Espectador...............................................................28 1.5.. Consequências do bullying...................................................................28 1.6.. Explicando o que é vitimização.............................................................30 1.7. Violência...............................................................................................33 1.8. Preconceito..........................................................................................36 Capítulo II 2. O fenômeno Bullying na dinâmica interpessoal no espaço institucional (de uma IES) ............................................................................................................39 2.1. A instituição e a educação.......................................................40 2.2. Bullying e a consequência escolar............ ........................................45 2.3. Inteligência para entender a superação ou a acomodação...48 2.3.1 Os tipos de inteligência................................................50 16 2.4. Teoria da Burocracia para a compreensão de liderança e organização de grupos............................................................................................52identificar as vítimas encontradas pela pesquisa. Da tipologia de vítimas descrita acima, destacam-se quatro tipos que concorrem com a descrição analisada dos sujeitos então pesquisados. 1.7. Violência A violência é a categoria central do bullying e não se pode deixar de abordá-la, é o aspecto principal que determina a ocorrência e, mesmo, a repercussão desse fenômeno. Fante declara: Segundo alguns autores, o termo violência é complexo e polissêmico, isto é, apresenta diferentes sentidos, o seu significado se define a partir do seu contexto formador – social, econômico e cultural, de acordo com o sistema de valores adotados por cada sociedade e é levado em consideração o seu nível de tolerância para a violência. (FANTE, 2005 p. 154) 43 Entende-se que a violência varia para cada pessoa, ou vítima, e que vai depender do nível sociocultural e emocional de quem a sofre. Ela pode ser empregada de forma física, como, por exemplo: os pais disciplinando seus filhos (para eles, conforme o pensamento de gerações anteriores, a utilização do castigo físico seria, antes de tudo, uma manifestação das prerrogativas de pai e mãe, logo, respaldado pelo amor destes, para o cumprimento do que se espera deles, ou seja, a educação dos filhos); o marido que espanca sua mulher (em geral, sob a alegativa de ciúmes, ainda que outras razões também concorram para o fato) representa uma violência que acontece através, sobretudo, de coerção. Para quem sofre não tem outro significado que humilhação, submissão e impotência. Sabe-se que tais ocorrências podem acontecer na escola, família, trabalho ou quaisquer locais onde exista relação interpessoal, normalmente, tomando por alvo crianças, deficientes, idosos e pessoas que estão ou são vulneráveis por algum motivo situacional (FANTE, 2005, p.154-161). Juridicamente, violência é uma forma de constrangimento, posto em prática para vencer a capacidade de resistência do indivíduo mais fraco, obrigá-lo a deixar de praticar algo ou levá-lo a fazer o que se deseja, mesmo contra a sua própria vontade. É igualmente ato de força quando exercido contra as coisas, na intenção de violentá-las, invadi-las ou delas se apossar. Há muitas outras definições: em relação à pessoa: “agressão ou violência”, em relação à propriedade que denominada de “esbulho”, e outras mais. Dessa forma, a violência, seja ela material (força física ou agressão), moral (ameaça, medo ou intimidação), é uma grave injúria à integridade do outro (FANTE, 2005, p.167-185) Pode-se sintetizar violência, reportando-se ao livro Mapa da violência: os jovens do Brasil, escrito pelo coordenador de desenvolvimento Social da UNESCO Brasil quando diz: Que os atos de violência apresentam-se hoje na consciência social não apenas como crimes, homicídios, roubos ou delinquência, mas nas relações familiares e nos diversos aspectos da vida social. Portanto o autor não se refere à violência apenas quanto a sua manifestação física. Mas também quanto às situações de humilhação, exclusão, ameaças, desrespeitos, indiferenças, omissão para com o outro. Violência, hoje está estritamente ligada aos conceitos de alteridade, expressando-se nas formas e mecanismos pelos quais a sociedade convive com diferentes (JACOBO, 2006, p.68). 44 A violência é todo ato que acarreta a ruptura de uma conexão social pelo uso da força. Contesta-se, assim, a chance da relação social que se instala pela comunicação, pelo compartilhamento da palavra, pela comunicação e, pois, até pelo conflito. Mas a própria noção de violência tem diversa significação, pois há um limite entre o reconhecimento ou não da sua prática quanto de seus efeitos, que é definido pelos sujeitos em momentos históricos e culturais diferentes. Ao escolher analisar as atitudes que estão relacionadas ao efeito danoso a quem sofre estas, manifestadas através dos atos mais sutis e, talvez, rotineiros na sala de aula, evidenciam-se, pois, a intolerância e o preconceito, trazendo à tona a violência simbólica presente na relação pedagógica quanto no espaço institucional que lhe é correlato, questão que foi objeto de reflexão de Bourdieu (STIVAL e FORTUNATO, 2001). Cléo Fante define agressividade como um comportamento repetitivo e persistente, que viola o direito do outro ora tornado vítima. O termo agressividade é utilizado para expressar ataque ou provocação, denotando, com isso, o que é próprio da violência. Ela classifica a violência em grau e forma, sendo assim distinguida: 1) grau: complexa; frequente; direta; indireta, implícita, velada, explícita; e identificada; 2) forma: física, sexual, verbal, psicológica (FANTE, 2005 p.154). No livro de Silva (2010), não se define violência de maneira denotativa, preferindo manter a mesma definição de bullying, como: insultos, ofensas, xingamentos, fazer gozações, colocar apelidos pejorativos, bater, chutar, espancar, empurrar, ferir, beliscar, roubar ou destruir os pertences da vítima, irritar, humilhar e ridicularizar, excluir, isolar, ignorar, desprezar, ou fazer pouco caso, além de outros como sexual e virtual, isso em relação a crianças e adolescentes (SILVA, 2010, p.21-25). De acordo com a presente revisão bibliográfica, o agressor dá provas da necessidade de reproduzir contra outrem os maus-tratos sofridos em casa ou na escola, de forma a demonstrar autoridade, fazer-se notar ou, apenas, reproduzir a maneira privilegiada que conhece para lidar com a insegurança pessoal, sentida diante de iguais, buscando, com isso, reconhecimento, autoafirmação e satisfação ou compensação pessoal. A ordem do consumo, entronizada na sociedade contemporânea como a panaceia do indivíduo, tem levado o educando ao caminho da intolerância, que se expressa pela não aceitação das diferenças, provocando o surgimento, dentre 45 outras ocorrências, do bullying, marcados pelos diversos tipos de preconceitos (SILVA, 2000) Silva (2010) aborda o preconceito como elemento central do bullying, mostrando, a partir dos papeis reconhecidos no mesmo, a dinâmica que cada personagem assume no fenômeno: 1) agressor; 2) vítima; 3) espectador. Pode-se destacar das palavras da autora que cada um dos personagens carrega sua parcela de não aceitação com as diferenças (logicamente, alheias) (SILVA, 2010). 1.8. Preconceito O preconceito é uma das categorias que concorrem para a explicação da ocorrência do fenômeno bullying, o que se deixa assinalar pelos depoimentos dos sujeitos então pesquisados. Para caracterizá-lo, dispõem-se de diversas teorias e autores, diferentes como: PAINE (1964), SANTOS (1999), SILVA e ASSIS (1983) e dicionário Aurélio. A definição do prefixo PRE indica antecedência, ou seja, algo que vem à priori. O conceito é síntese de uma ideia, é juízo que se faz de algo, é algo concebido. Resumindo, o Preconceito é opinião ou conceito idealizado antecipadamente. Assim, percebe-se o perigo em sua admissão, de se fazer um juízo incorreto sobre algo posterior (ou, no mínimo, a decidir-se futuramente). (Ver verbete “Preconceito” in: Dicionário Aurélio (online). Considera-se mensurado algo que foi submetido ao conhecimento do juiz, ou então, de pessoa ponderada, prudente ou sensata. Diante disto, ressalta-se que pode tratar-se de ignorante todo que procede preconceituosamente, já que aquele que inadequadamente ajuíza sobre algo se arrisca, em geral, incorrer em preconceito. Geralmente, teme-se o que não se conhece. Neste caso, pode-se entender o medo como um dos grandes agentes causador do preconceito. Para vencer o preconceito, é primordial estudar, examinar, analisar e observar minuciosamente todo o contexto da questão (SILVA E SALLES, 2010, p.118). Os indivíduos identificados ao preconceito, em geral, procuram achar nos sujeitos marcados por certas diferenças as razões para justificar a sua atitudede insensatez, de estranhamento ou, mesmo, de violência, se assim não condiz com o padrão da maioria (que, por sua vez, ele próprio pensa que representa), nomeado ora de anormal, portanto, podendo ser alvo de discriminação. As formas 46 discriminatórias mais comuns na sociedade estão baseadas e ancoradas nas categorias: sexo, cor da pele, religião, aparência física e classe social. Do ponto de vista da compreensão de senso comum, o que não está dentro do padrão dominante é diferente e, por isso, discriminado. Subentende-se da ideia de que o diferente não merece respeito por atentar contra a identidade dessa mesma maioria. O convívio em sociedade, por toda a história humana, a demandar a superação de conflitos, muitas vezes mortais, invoca como aspecto, hoje, a defender o próprio pacto civilizatório humano um comportamento positivo sem discriminação que obstrua a plena realização dos indivíduos como pessoa (SILVA, 2000). O preconceituoso tem sua atitude baseada no que recebeu de educação, aqui, em sentido amplo, envolvendo não só a escola, como, ainda, família, trabalho e o meio social e cultural em que se insere, moldando suas crenças, ideias e valores que tendem para determinada predisposição comportamental, em geral, alinhado ao entendimento de senso comum. Assim, compreende-se que o preconceito é produzido em decorrência de conceito homogeneizado coletivamente e cristalizado historicamente, a traduzir o ódio, a raiva ou a repulsa que se instalam à revelia das explicações racionais. Por tanto, é necessário entender o preconceito como uma construção social e cultural, reiterando posições ideológicas (PAINE, 1964, p.15). Ademais, as características físicas, crenças, educação, círculo social, etc. associado ao eu está o civilizado e ao outro o selvagem. Não o reconhecendo, repudia-o, discrimina-o e odeia-o. O outro é um intruso e deve ser combatido, neutralizado para não destruir a ordem estabelecida pelo eu social que está em consonância com o estereótipo; a sociedade do eu o excluí para evitar o desconhecido e daí se proteger. Nesse sentido, o preconceituoso acredita que a ordem só pode ser mantida com a eliminação das diferenças, resiste a qualquer mudança e teme o novo (PAINE, 1964, p.28). É inegável a necessidade de avaliar o preconceito como uma das fontes da violência. Tanto a afirmação e a manipulação da diferença como a sua negação ou dissimulação são formas de não reconhecimento da falta de respeito ou das diferenças à sua existência, o que cria novos padrões de violência. Situações que envolvem discriminação, menosprezo, humilhação, desqualificação, exclusão e intimidação nas relações de gênero, no âmbito de trabalho e nas posições de poder, constituem formas produtoras e reprodutoras do preconceito e, consequentemente, uma forma de violência. O preconceito pressupõe uma relação interpessoal, quando 47 alguém se relaciona com o outro, o diferente, a partir da negação ou desvalorização da identidade do outro e da supervalorização ou afirmação da própria identificação (SILVA e ASSIS, 1983, p.58). 48 Capitulo II 2. O fenômeno Bullying na dinâmica interpessoal no espaço institucional (de uma IES) Quanto à discussão da dinâmica interpessoal no espaço social e institucional do bullying, apresenta-se o capítulo dividido em função dos diferentes ambientes sociais e noções teóricas por ele implicados (família, escola, consequências no âmbito escolar, teorias da liderança, caracterização das inteligências e dinâmica dos grupos), ainda que se reconheça que nem todos destes aspectos possuam o mesmo impacto na definição do fenômeno em questão, mas que, todavia, revelam conexão direta com os diversos fatores e variantes do fenômeno bullying. Conviver com a diversidade de pessoas, pensamentos, educação, religião, entre outras, é um desafio peculiar a todo ser humano. Todo sujeito precisa ser senão ensinado, ao menos, estimulado a viver de forma respeitosa a toda pluralidade, e, para isso, depende de alguém ou de uma instituição que o inspire também a fazer. E os primeiros ensinamentos começam em uma coletividade, que, no caso, é necessariamente a família. E é nessa coletividade que se deve aprender a respeitar as particularidades, a individualidade de cada pessoa, entendendo que cada um tem seu jeito peculiar de ser (BAIERL, 2004, p. 193). As pessoas educadas a partir de tal perspectiva e, pois, equilibradas passam a ter relacionamentos mais duradouros e sólidos. Têm uma maior facilidade para compreender o próximo como um ser diferente e, quando se aceita o outro, como um ser distinto, que tem atitudes, experiência, gosto e tem sentimentos que são diferentes, mas não menos notável e sublime que os nossos. Quando se aprende a aceitar e conviver com o outro, como um ser dissemelhante, porém especial, ter-se- á então uma convivência mais justa, com menos violência, igualitária e, com isso, pessoas potencialmente mais felizes. É verdade que relacionar-se com as diferenças é uma verdadeira batalha, mas deve ser encarado como uma necessidade para a convivência humana, pois, respeitando o próximo, estar-se-á dando acesso para que as peculiaridades individuais sejam respeitadas. Ao compreender e entender o outro se abre uma janela para que o próximo também possa compreender quem com ele está em contato (PLEKHANOV, 2011, 51-67). 49 E com isso, passa-se à segunda forma de coletividade, a Escola, que deverá instruir, contribuir e propiciar um aprendizado para se obter uma boa convivência e aceitação das diferenças. Levando esse aprendizado para as diversas e futuras convivências, evitam-se, com efeito, preconceitos e injustas discriminações nestes espaços sociais ao trânsito entre família e escola. 2.1. Instituição e a Educação É na escola que a cidadania dispõe de um espaço privilegiado para a sua consequente construção, estimulada através da harmonia da convivência, a garantir, sempre que possível, o bom relacionamento e, assim, aprendendo-se a respeitar os direitos dos semelhantes e evitar as manifestações de violência que, em geral, assolam as instituições do tempo que ora se vive. Nos dias atuais, as escolas nem sempre cumprem com o compromisso de promover a consciência do respeito mútuo a transformar as vidas de seu público no sentido da afirmação de uma cultura do diálogo com toda a diversidade circundante. Com tal propósito, devem-se destacar os diversos problemas ligados à violência nas instituições, seja alimentando-a, seja encobrindo-a as causas ou, mesmo, o seu reconhecimento. Não é algo novo, mas sua caracterização sofreu modificações com o advento da globalização, com a velocidade das informações através da “Internet” que aproximou os alunos das mudanças sociais do globo, e, assim, condicionando-as à realidade própria do presente. (RESENDE, 1995). Nesse contexto, nunca é demasiado evocar a nossa Constituição Federal de 1988 para demarcar o que se consuma com a Educação: A Educação é para conscientizar, emancipar e garantir qualidade de ensino e acesso a cidadania e a democracia, tem sido proposta tanto pela Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), quanto pela Constituição Federal do Brasil (1988). Conforme a Lei Federal nº 9.394/96 (LDB), art. 2o: “a educação” ... Tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A Constituição Federal (1988), no Cap. III, Seção I art. 205, estabelece que: “A educação... será promovida... visando o.... preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para a vida (BRASIL,1988). Segundo Guimarães (1996), as instituições de ensino, enquanto promotora de uma educação bancária, acabam por promoveruma homogeneização a ser exercida 50 através do processo de execução disciplinar, ou seja, de atividades que controlam o tempo, o espaço, o movimento, toda a coordenação motora dos educandos, dos educadores e de todos os funcionários, impondo um controle total de submissão e docilidade. “Assim como a escola tem esse poder de controle que não admite as diferenças, ela também é revestida por formas de se opor, não se submetem às intransigências das normas do vir- a ser” (GUIMARÃES 1996, p. 78-79). Segundo Julio Aquino: Compreender essa situação implica aceitar a escola como um lugar que se expressa numa extrema tensão entre forças que se opõe. O professor imagina que a garantia do seu lugar se dá pela manutenção da ordem, mas a diversidade dos elementos que compõem a sala de aula impede a tranquilidade da permanência nesse lugar. Ao mesmo tempo em que a ordem é necessária, o professor desempenha um papel violento e ambíguo, pois se, de um lado, ele tem a função de estabelecer os limites da realidade, das obrigações e das normas, de outro, ele desencadeia novos dispositivos para que o aluno, ao se diferenciar dele, tenha autonomia sobre o seu próprio aprendizado e sobre sua própria vida. (AQUINO, 1996- p.102) A escola, como espaço ambivalentemente de disciplina e violência, é atravessada por um movimento de duas mãos: de um lado, pelas ações que tendem a confirmação das leis e das normas deliberadas pelos órgãos responsáveis, e, de outro, pela dinâmica dos grupos internos que institui rupturas, interação e consente na troca de ideias, sentimentos e palavras numa aliança provisória e conflituosa. A instituição educacional não pode ser comparada apenas como um local de opressão, dos conflitos, das violências que acontecem na sociedade. É de vital importância argumentar que as escolas produzem sua própria disciplina e violência. É preciso aprender com o ir e vir desses fenômenos e seus modos exclusivos de manifestação. Não é nosso objetivo valorizar esteticamente a violência, nem defender uma escola sem regras, mas sinalizar a existência de uma lógica interna e aos fatos que ofereça uma pista para achar-se solução pedagógica de negociação com os conflitos (RESENDE, 1995, p.38-46) As escolas mais sensíveis e atentas às mudanças globais na contemporaneidade estão buscando iniciar métodos de reforma e de inovação que poderão dar conta dos novos desafios. É necessário modificar as organizações escolares, os conteúdos educacionais, os processos de estudo e de ensino, mas, 51 especialmente, o entendimento da educação bancária e ir além das fronteiras que usualmente confinam essas instituições. “Até bem pouco tempo, o aprendizado do conteúdo programático era o único valor que importava e interessava na avaliação escolar” (SILVA, 2010, p.63-64). Elas devem destacar-se como um ambiente no qual as relações interpessoais são fundamentais para o crescimento do estudante, contribuindo para educá-lo por meio de estímulos que ultrapassem as avaliações acadêmicas tradicionais (testes e provas). Essas transformações devem trazer mudanças e definições dos lugares, proporcionando confiança e segurança a todos envolvidos no contexto educacional (SILVA, 2010, p.63-67). Fante cita que, em tempos não tão remotos, a autoridade era exercida pelo controle da instituição em geral, impondo nos alunos um enorme grau de submissão e permitindo o emprego de rígidos instrumentos de repressão, incluindo o castigo físico. Atualmente, essa perspectiva foi se transformando devido à falta de fiscalização e compromisso com a educação, sendo justificada por diversos fatores, como: falta de funcionário; falta de política salarial eficiente; inviabilização da progressão continuada, falta de infraestrutura adequada aos esportes, atividades extraclasses e de lazer; falta de segurança; e ainda por falta de investimento por parte do governa em uma educação de qualidade e mudanças no programa de ensino (FANTE, 2005, p.169-186). Essa transformação também acarreta consequências danosas. Ainda que sempre tenha existido nas escolas do mundo todo, não tinha essa dimensão catastrófica na vida de milhares de estudantes como se vê na contemporaneidade. “O fenômeno apresenta não somente a intransigência e as diferenças como também disseminam os mais diversos preconceitos e covardia nas relações interpessoais dentro e fora dos muros escolares” (SILVA, 2010, p. 63-65). As instituições públicas e privadas de ensino superior diferem em suas instalações: uma proporciona o bem estar dos seus clientes, enquanto que a outra cumpre os programas escolares em um âmbito precário; docentes bem pagos para cumprir o cronograma, enquanto outros, às vezes, têm seus salários retidos por meses; os dois têm o objetivo de ensinar e preparar seu alunos para um futuro acadêmico, em geral, um com qualidade e o outro com dificuldade. Mas a violência verbal e/ou física se faz presente em ambas. Uma tem o conhecimento e tenta combater com os seus poucos recursos e despreparo, enquanto que a outra diz não 52 ter ocorrência em suas instalações e, ainda, tem pouco preparo para combatê-lo (OLIVEIRA e MARTINS, 2007, p. 32- 44). Com o crescimento da violência nas instituições, a partir dos fatos e pesquisas que repercutem a questão em nosso tempo, muitos docentes mostram-se perdidos quanto ao procedimento a ser tomados frente a esse fenômeno. Com isso, alguns tomam atitudes de indiferença e de desconhecimento, é uma forma de livrar a si e a instituição da responsabilidade e das consequências desse fenômeno (OLIVEIRA e MARTINS, 2007). O Bullying se caracteriza como um fenômeno que normalmente faz de algum colega de sala uma vítima, acontecendo em todos os níveis de ensino, incluindo, e a destacar aqui, o nível superior. A escritora Amaro (1997), em seu livro “Serviço Social na Escola”, concebe que a escola deve ser um equipamento social fundamental para garantir a educação, e que ela vem enfrentando desafios diários para articular o trabalho e o conhecimento na conexão da escola com a vida cotidiana e social dos alunos, ou seja, sua realidade diária e as necessidades sociais. Neste sentido, se torna imprescindível que a escola passe a buscar conhecer a realidade social dos seus alunos e possa fazer a mediação entre o âmbito escolar e o familiar. Com esse diagnóstico social, o profissional mediador terá uma compreensão da realidade vivida pelos personagens investigados e uma melhor compreensão do porquê do crescimento da violência na instituição de ensino em questão. Ademais, é no âmbito escolar, na cotidianidade dos alunos e de seus familiares, que se concretizam as diversas expressões da questão social, como famílias em vulnerabilidade socioeconômica por causa do desemprego, evasão escolar infantojuvenil para trabalhar, fome, problemas de saúde, moradia inadequada, drogas, pais negligentes, violência doméstica, pobreza, desigualdade social, entre outras. Neste estado de coisas, fazem-se oportunas as palavras de Iamamoto: “As demandas que surgem é o produto da questão social que demonstra a necessidade da inserção do profissional do Serviço Social, que se coloca neste espaço com o objetivo de ajudar, receber e atacar estas demandas” (IAMAMOTO, 1998). Essas características estão presentes na vida dos alunos no ensino básico até o médio, e também, superior. Encontra-se nas instituições de ensino dificuldades ao proceder com a violência, pois ela mantem-se “fechada como uma concha” em relação a esse 53 fenômeno bullying. Para a autora, a escassez de conversa com a população torna a escola uma “autista”, por falta de compreensão, diálogo e de entendimento entre as pessoas: “deduzo que seria importante se a instituição pudesse enxergar o real com olhos bem abertos, exercendo mais democracia, dialogando com os estudantes e juntosbuscassem enfrentar essa violência e achar soluções para os problemas que pertence a ambos” (ABRAMOVAY, 2005- p. 19). Em virtude dos agravos físico-emocionais sofridos pelos personagens envolvidos, o bullying passou a ser cogitado como um problema de saúde pública, segundo afirma Fante (2005), portanto, tratando-se de um objeto de políticas públicas. O bullying, por ser uma das manifestações da questão social, delimita o padrão de sociabilidade da sociedade contemporânea e apresenta-se sob a caracterização de demanda para o Serviço Social, já que o objeto de intervenção do assistente social é a questão social. Dessa forma, Iamamoto (2010) traz que: [...] o conhecimento das condições de vida dos sujeitos permite ao assistente social dispor de um conjunto de informações que, iluminadas por uma perspectiva teórica crítica, possibilitam apreender e revelar as novas faces e os novos meandros da questão social, que desafiam a cada momento o desempenho profissional (IAMAMOTO, 2010, p. 272). Sendo a questão social como o “conjunto das expressões de desigualdade da sociedade capitalista madura”. (Iamamoto, 2010, p.27). Mota (2008) reflete sobre os riscos da simplificação conceitual: Em virtude da raízes da questão social submergir nas relações sociais vigentes e dominantes na sociedade capitalista, o uso da sentença como menção das diversas manifestações da desigualdade perfaz por iludir seu significado histórico, uma vez que os sintomas fenomênicos da pobreza encera por ser separados das suas determinações (MOTA, 2008). O debate do Serviço Social na Educação não é recente, repara que “aos anos iniciais da profissão em sua atuação marcadamente voltada para o exercício do controle social sobre a família proletária em relação aos processos de socialização e educação da classe trabalhadora” (MARTINS, 2012, p. 37), Tendo a Educação, como uma política social, que expressa as lutas de classes. Para Almeida (2005): 54 [...] a política de educação pode ser concebida também como expressão da própria questão social na medida em que representa o resultado das lutas sociais travadas pelo reconhecimento da educação pública como direito social (MARTINS, 2012, p. 35). Assim sendo, percebe-se que a “Educação é uma das áreas complicada, difícil e importantes da vida social” (MARTINS, 2012, p. 34). A função do Serviço Social Escolar junto à política de Educação não se mistura ao dos educadores. O trabalho dos assistentes sociais nessa política, “tem se dado no sentido de fortalecer as redes de sociabilidade e de acesso aos serviços sociais e dos processos socioinstitucionais” (MARTINS, 2012, p. 06). A escola representa uma luta política para o Serviço Social. Diante do relato citados, o assistente social tem o dever no âmbito escolar de exercer uma prática direcionada para a garantia e exercício da cidadania, facilitando a integração da comunidade escolar no enfrentamento desse fenômeno bullying no seu cotidiano. A violência vista como um fenômeno social nas instituições de ensino é reproduzida e produzida na escola, não desconexada da realidade. Dentro dessa visão, para combater o bullying escolar, faz-se que o público infantojuvenil deve se desenvolver e crescer sabendo respeitar, a conviver com a necessária articulação entre a família, pois a família é o alicerce do indivíduo, é nesta instituição que passa- se a compreender o espaço do outro (COUTINHO, RIBEIRO e BARRETO, 2012, p. 89). Entretanto, a relevância deste trabalho indica a importante contribuição do assistente social no enfrentamento do bullying institucional, fomentando a discussão e o debate do tema, promovendo o respeito entre os membros da sociedade em questão e almejando a edificação de uma nova realidade, norteada por uma visão emancipatória. 2.2. Bullying e consequências no âmbito escolar Os alunos como sujeitos de uma rejeição ao ensino e a formas de aprendizagem de uma instituição tendem apresentar uma execução insatisfatória do que é objeto da relação ensino-aprendizagem, desenvolvendo problemas emocionais, físicos e, pois, sentimentos de incapacidade com relação à vida. O entrosamento e a aceitação por parte dos colegas é fundamental para a saúde do 55 infantojuvenil desenvolver, aperfeiçoando sua aptidão de reação diante das circunstâncias então vividas e, logo, das habilidades sociais por estas pressupostas (LOPES NETO, 2005). O docente também pode ser um refém da violência na instituição de ensino, sobrando apenas desconforto, descontentamento, e desimportância diante das consequências da violência do cotidiano, na proporção em que igualmente são vítimas da violência. Dessa maneira, a instituição não é uma mera reprodutora das experiências de violência, de conflitos e de opressão, mas também reproduz sua violência e sua indisciplina (AQUINO, 2002). Na pesquisa, conforme se verifica no capítulo seguinte, não foi encontrada nenhuma amostra dessa ocorrência com docente. Instituições e seus gestores devem ser orientados para identificar o bullying e saber diferenciar o que é brincadeira de insulto, atitude própria e necessária ao amadurecimento das crianças. Mas, quando se tem em vista a amostra da presente pesquisa, é um subterfúgio utilizado pelas mulheres, como disfarce do seu lado violento, e, ainda, tentando justificar a ocorrência, quando então percebida, como normal à vida do grupo (SIMMONS, 2004). Outro problema indicado pelos diversos autores é que a grande maioria das instituições insiste em não identificar a existência e consequências do bullying no ambiente escolar, tanto faz ser nas escolas públicas ou privadas, deduz-se, em virtude do imperativo mercadológico de nosso tempo, que seja por medo de manchar o nome da instituição ou sofrer algum tipo de coerção que afaste os estudantes/clientes. Para que esse mal acabe, faz-se necessário denunciar o ocorrido, contudo a prevenção ainda é o meio mais eficaz quando feito em conjunto com todos os interessados. O âmbito educacional torna-se para o assistente social, na atualidade, não apenas um campo de trabalho, mas, sim, um elemento determinado do seu trabalho em diversas áreas de atuação que precisa ser descoberto (ALMEIDA, 2000, p.74). Sabe-se que é no cotidiano dos alunos, no interior da escola e de suas famílias que se representam as diferentes expressões da questão social, como desemprego, subemprego, trabalho infanto-juvenil, baixa renda, fome, desnutrição, problemas de saúde, habitações inadequadas, drogas, pais negligentes, famílias multiproblemáticas, violência doméstica, pobreza, desigualdade social, exclusão 56 social, disputas por trabalho, etc. As demandas emergentes e resultantes da questão social é que justificam a inserção do profissional do Serviço Social, que se insere neste espaço com o objetivo de receber e encaminhar estas demandas. Neste sentido, Iamamoto (1998) afirma: O desafio é redescobrir alternativas e possibilidades para o trabalho profissional no cenário atual; traçar horizontes para a formulação de propostas que façam frente à questão social e que sejam solidárias com o modo de vida daqueles que a vivenciam, não só como vítimas, mas como sujeitos que lutam pela preservação e conquista da sua vida, da sua humanidade. Essa discussão é parte dos rumos perseguidos pelo trabalho profissional contemporâneo (IAMAMOTO, 1998, p.75). As consequências do bullying podem ser graves e irreversíveis. Para Antunes e Zuim (2008), independentemente do potencial intelectual, alunos com distúrbios de comportamento ou emocionais tendem ao fracasso escolar. O fracasso escolar cria dificuldades tanto para a escola como para a vida pessoal do aluno, conduzindo-o à evasão escolar. A identificação e o atendimento precoce das crianças com distúrbios são necessários, visto que os problemas decomportamento parecem seguir uma progressão caso não ocorra um diagnóstico e uma intervenção eficaz. Sem intervenção os problemas tendem a persistir e a se manifestar na vida adulta. (ANTUNES e ZUIM, 2008). Os atos de bullying, em sua maioria, ocorrem na ausência de um adulto, em se tratando de infantojuvenil, se for adulto ele acontece normalmente na frente de amigos e professores. Como uma boa parte das vítimas não reage ou não fala sobre a agressão sofrida, esses fatos só favorecem a impunidade e a perpetuação desse tipo de comportamento. A vítima de bullying pode vir a desenvolver sintomas e sinais clínicos decorrente do estresse sofrido, fazendo-se necessário, nos acontecimentos em que se notou mudança de personalidade, intensa agressividade e distúrbios de conduta por longo período, uma avaliação psiquiátrica e/ou psicológica (LOPES e NETO, 2005). A partir do momento que tem total conhecimento do bullying, essa instituição poderá preparar seus funcionários a identificar e combater este problema, evitando assim, evasão dos alunos e o comprometimento do aprendizado dos mesmo. 57 Nos anos 1990, os Estados Unidos enfrentaram uma epidemia de tiroteios em algumas escolas, como os massacres de Columbine, cometido por Harris e Klebold. Em seus diários, estavam as confirmações de terem sido vítimas de bullying e usaram a violência como instrumento de vingança, pela a falha e a falta de entendimento por parte dos amigos e da administração escolar. Mataram 13 pessoas e a si mesmos (Noticia Terra, 2006)6. Outro caso bem conhecido foi de um aluno do ensino médio chamado Curtis Taylor, numa escola secundária em Iowa, Estados Unidos. Ele foi vítima de bullying por três anos, recebeu diversos apelidos, foi diversas vezes espancado num vestiário, entre outras agressões. Seu sofrimento teve fim com o suicídio em 21 de março de 1993 (GARCIA, 2010). No Brasil, ocorreu o massacre de Realengo no Rio de Janeiro. Wellington Menezes de Oliveira, o assassino que perpetrou o massacre, teria sido vítima de bullying nos anos em que estudou na escola municipal Tasso da Silveira, matou 12 colegas de escola e se suicidou ao se deparar com a polícia (AZEVEDO, 2011). Nos jornais e noticiários diários, pode-se perceber o crescimento da violência nas escolas do nosso país. Segundo os diversos autores consultados, ela é atribuída a precariedade das instituições, a má formação e remuneração dos profissionais, o que favorece o crescimento da violência escolar. Os professores são sobrecarregados com turmas numerosas, o que, não lhes permitem perceber a existência de problema entre os alunos. O mesmo acontece no curso de graduação tomado como objeto de pesquisa. As turmas são numerosas, os/as professores ensinam diversas turmas e disciplinas diferentes, não lhes dando condições de perceberem se há algum aluno enfrentando uma situação difícil de relacionamento ou qualquer outro motivo. Conforme o capítulo final explicita, provavelmente, esse seja uns dos motivos de não haver relato na instituição da existência do “bullying” na graduação. 2.3. Inteligência para entender a superação ou a acomodação O motivo de abordar-se o tema inteligência é para evidenciar que qualquer pessoa tem a capacidade de superar problemas, de traçar metas e alcançá-las, 6 Massacres de Columbine, cometido por Harris e Klebold e matéria do Terra Notícias, matéria sem autor, pode ser encontradas no site: http://www.terra.com.br/portal/noticia/ massacres de Columbine, cometido por Harris e Klebold/ 2006. 58 enfrentar desafios, ou também, não ser capaz de controlar seus sentimentos, passando a não contar com a devida e necessária autoconfiança, incapaz de tentar a superação dos problemas (BERGAMINI, 2009). Na pesquisa as alunas que tentaram a superação através do desenvolvimento da inteligência, tiveram muitas dificuldades para seguir em frente. Goleman (1999), em seu livro, defende que o conceito da inteligência emocional é responsável pelo sucesso ou insucesso das pessoas. Ela é decisiva na vida social e na maioria da situação que envolve os relacionamentos entre as pessoas. Ele destaca que pessoas que são compreensivas, gentis, afáveis têm grande probabilidade de obter sucesso. Essa inteligência está relacionada a aptidão, tais como, despertar a si mesmo e, a insistência mediante as frustrações; controlar impulsos que direciona as emoções para condições apropriadas; “praticar gratificação prorrogada; estimular as pessoas, auxiliando-as a liberarem seus talentos, e conseguir seu engajamento a objetivos de interesses comuns” (GOLEMAN, 2001). A Inteligência Emocional e Inteligência Intrapessoal, para ele, têm cinco características: 1) Autoconhecimento Emocional – tem a percepção de reconhecer um sentimento no momento de sua ocorrência. 2) Controle Emocional - sabe lidar com seus próprios sentimentos, manejando-os na hora necessária ou precisa. 3) Automotivação – direcionar as emoções para atingir um objetivo, é fundamental na motivação de perseverar na busca. 4) Sabe distinguir as emoções em outras pessoas. 5) Aptidão em desenvolver relacionamentos interpessoais. É a habilidade, voltada para si mesmo. Tem a capacidade de formar um modelo verdadeiro e preciso de si mesmo e usá-lo de forma efetiva e construtiva (GOLEMAN, 2001). A Inteligência Interpessoal: é a facilidade de compreender os outros: suas motivações como trabalham em grupo, são assim classificadas: 1) Organização de Grupos: é a habilidade fundamental da liderança, que exige iniciativa e organização de um grupo, afirmação e aceitação da liderança, na cooperação espontânea. 2) Negociação de Soluções: o papel do mediador, prevenindo e resolvendo conflitos. 3) Empatia - Sintonia Pessoal: é a capacidade de, identificando e entendendo os desejos e sentimentos das pessoas, responder (reagir) de forma apropriada de forma a canalizá-los ao interesse comum. 4) Sensibilidade Social: é a habilidade de revelar e identificar sentimentos e motivar as pessoas (BERGAMINI, 2009). 59 Segundo Gardner, todos nascem com o potencial das várias inteligências. A partir das relações com o ambiente, aspectos culturais, algumas são mais desenvolvidas ao passo que deixamos de aprimorar outras. 2.3.1. Os tipos de inteligência O escritor Antunes (2005) explica que a inteligência é a habilidade de solucionar problemas ou desenvolver produtos apreciados em um ambiente comunitário e cultural. Assim, ele sugere uma nova visão da inteligência, caracterizando-a em sete competências que se interpenetram, pois sempre envolvemos mais de uma habilidade na solução de problemas. Para o presente trabalho só duas apresentam maior relevância. Elas se integram em: 1) Inteligência Interpessoal: capacidade de entender os outros; é a maneira de conviver e aceitar o outro. 2) Inteligência Intrapessoal: capacidade de se relacionar consigo mesmo, autoconhecimento. Capacidade de controlar e direcionar suas emoções e sentimentos a favor de seus objetivos. É a inteligência da autoestima (ANTUNES, 2005, p.22-31). Antunes compreende que todos possuem as várias inteligências, visíveis quando passam a se relacionar com o ambiente, desenvolvem facilmente os aspectos culturais e emocionais na vida diária. As emoções são importantes para a sobrevivência: as emoções foram desenvolvidas para servir como um sistema interno de orientação. Elas servem de alerta para as necessidades humanas naturais que não são encontradas. Exemplo: quando se está só, a necessidade natural, enquanto sujeito humano, é encontrar outras pessoas. Quando se está receoso, tem-se, pois, a necessidade por segurança. Quando se é rejeitado, busca- se, a todo custo, por aceitação (Ibid., 2005, p.13-14). A importância da inteligência para o desenvolvimento trabalho consisteem melhor evidenciar o que se deixa flagrar com as entrevistas então realizadas. Os sujeitos consultados colocam-se, em geral, em sua narrativa, como tendo pouca inteligência, ou, ainda, que ficou muito tempo sem estudar e que não tem a mesma capacidade para acompanhar a turma, entre outras colocações. O autor Vitor caracteriza sete formas de inteligência e pode-se perceber que ninguém é desprovido de inteligência. Tem-se que exercitá-la e desenvolvê-la através da interação cultural ou pessoal. É através da emoção que nossas necessidades são supridas. No caso das vítimas de bullying ou de violência, esta necessidade fica 60 cada vez mais ociosa, descontrolando o sistema interno de orientação da vítima, fazendo com que a mesma, desenvolva um estado de carência que não vai ser suprido, e assim comprometendo sua inteligência e aprendizado (Ibid., p.32 -36). As vítimas ficam privadas de emoções e, consequentemente, de decisão, porque seu estado emocional está avariado e seu cérebro fica impossibilitado de realizar as conexão necessária para realizar as tarefa e a tomada de decisão é uma atitude distante do seu cérebro que parece ficar paralisado diante da violência que vem sofrendo. Mas toda regra tem exceção, encontra-se pessoas que enfrentam esse fenômeno e, mesmo com as sequelas, seguem em frente (Ibid., p. 13). Ajuste de limites: Quando se é incomodado por alguém, as emoções devem alertar ao próprio indivíduo. Se se passa a confiar no alerta que as emoções e sensações emitem, pode-se ajustar os limites necessários para manter a saúde física e mental (Ibid., p.40). A Comunicação: as emoções ajudam-nos na comunicação com os outros, se o estado emocional, estiver em plena ordem de funcionamento, ela será transmitida pela expressão facial que revela muito de uma pessoa, deixando transparecer seu estado emocional de alegria, tristeza, surpresa, felicidade, medo etc. (ANTUNES, 2005, p. 42-43). E é através dessas expressões que o agressor e expectado do bullying fragilizam sua vítima. Eles fazem uso do olhar, trocado com o expectador e direcionado para a vítima; usam o sorriso e o olhar para mostra a vítima que é dela que estão falando ou criticando. Também tem a capacidade para escutar e entender os problemas dos outros. Ela é muito importante para o ser humano. Com ela é que todas as pessoas passaram a interagir. Se não há interação, as pessoas ficam isoladas. Antunes explica que: A Inteligência emocional nada mais é do que um estágio avançado na evolução do pensamento humano, onde a capacidade de sentir, entender, controlar e modificar o estado emocional próprio ou de outra pessoa seja dada de forma organizada. A Psicóloga Mariana Rodrigues dá uma dica importante, que vale salientar, ela diz que é bom Investir em atividades que possam lhe trazer maior equilíbrio emocional onde seja valorizado cada vez mais por toda e qualquer empresa, mesmo que estas atitudes venham disfarçadas com outros nomes e descrições, como “uma equipe com iniciativa” e “um líder que alcance resultados e que gerencie crises e processo de mudança”. Estamos falando de pessoas com a capacidade de 61 melhorar os relacionamentos dentro do ambiente de trabalho, o que, por sua vez, irá gerar melhores resultados (ANTUNES, 2005, p. 17- 20) É através da inteligência que se destaca os grandes líderes da humanidade. Eles fazem uso dessa capacidade intelectual para controlar, manipular e comandar multidões. Faz-se necessário saber como se constitui a liderança, só assim ter-se-á respaldo para compreender a força que o líder exerce sobre os que o segue, e os que não querem segui-lo, usando a inteligência. 2.4. Teoria da Burocracia para a compreensão de liderança e organização de grupos. Essa categoria vai ser explorada na intenção de explicar como é formada a liderança dentro do pequeno grupo A Teoria da Burocracia gestou-se se incorporando à Administração ao redor dos anos 40, em função, principalmente, do conflito entre as teorias clássicas e das relações humanas. A burocracia é uma forma de organização humana que se baseia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível no alcance desses objetivos. Weber se preocupou mais com a organização formal. (WEBER apud MAXIMINIANO, 2000). Segundo esta teoria, a organização é vista como uma unidade social grande e complexa, onde se integram muitos grupos sociais e sua ênfase está na análise das organizações. Esta caracteriza o homem organizacional. Chiavenato (2004) afirma que a burocracia surgiu como uma resposta criativa a uma era radicalmente nova e constitui durante muito tempo a organização ideal para os valores e as necessidades da era vitoriana que se caracteriza pela permanência, estabilidade e quase ausência de mudança. O princípio da hierarquia: os cargos obedecem a uma hierarquia de importância e essa hierarquia é conhecida pelos elementos que os diferenciam. Esses elementos são o poder do mando e o valor da remuneração atribuído ao cargo. Hierarquia: o sistema está organizado em pirâmide, sendo as funções subalternas controladas pelas funções de chefia, de forma a permitir a coesão do funcionamento do sistema (MAXIMINIANO, 2000). 62 Maximiano refere-se ao livro de Weber que define a Burocracia como um tipo de poder suficiente para a funcionalidade eficaz das estruturas organizacionais, ou seja, a organização é eficiente por excelência e para atingir essa eficiência a burocracia precisa detalhar antecipadamente e nos mínimos detalhes como os objetivos deverão ser efetuados. A característica principal está na racionalidade do ponto de vista das atividades desempenhadas na organização. Na Burocracia, a liderança se dá através de regras impessoais e escritas numa estrutura hierárquica. (Idem). Os líderes dos grupos em uma sala de aula não passam por uma hierarquia votada pelos demais, para elegê-lo. Isso acontece pelo fato de ser uma pessoa extrovertida, com um domínio da oratória, disposição para assumir a responsabilidade de elaborar os trabalhos e executá-los sozinho se for necessário, capacidade de organização e comando. Há uma divisão sistemática do trabalho, estabelecendo as atribuições de cada participante. Cada participante passa a ter o seu cargo específico, as suas funções específicas e a sua específica esfera de competência e de responsabilidade. Cada um saber qual a sua tarefa, qual é a sua capacidade de comando sobre os outros e, sobretudo, quais são os limites de sua tarefa, direito e poder, para não ultrapassar esses limites, não interferir na competência alheia nem prejudicar a estrutura existente (CHIAVENATO, 2000). Assim, as incumbências administrativas são altamente diferenciadas e especializadas e as atividades são distribuídas de acordo com os objetivos a serem atingidos. Existem chefes não burocráticos: indicam e nomeiam os subordinados, estabelecem as regras, resolvem os objetivos que deverão ser atingidos. Geralmente são eleitos ou herdam sua posição, como, por exemplo, os presidentes, os diretores e os reis. Esses chefes (não burocráticos) da organização desempenham o importante papel de estimular a ligação emocional e mesmo irracional dos participantes com a racionalidade. A identificação com uma pessoa, um líder ou um chefe influi psicologicamente, reforçando o compromisso com a organização (CHIAVENATO, 2000). Bergamini (2009), a afirmar que “As pessoas precisam umas das outras”. Há ocasião que as pessoas precisam umas das outras, mesmo que saibam como fazer as coisas sozinhas, o que reforça a Teoria da Burocracia. Tanto a teoria como Shutz concordam que é necessário para um bom relacionamento a interação da equipe, a 63 divisão das tarefas e o cumprimento de sua função. As pessoas devem interagir de maneira maisprodutiva possível para que os objetivos sejam alcançados. O grupo de estudo exerce a mesma finalidade que qualquer grupo empresarial, atingir um objetivo. Todos deveriam exercer sua função e o conjunto alcançar o êxito juntos. Mas nesse grupo o funcionamento não segue o padrão normal e burocrático. O líder que não foi eleito assume o posto e passa a coordenar os demais. O líder burocrático necessita de algumas características tais como: personalidade bastante flexível, com alta resistência à frustração e capacidade de adiar as recompensas e um permanente desejo de realização. Um líder deve-se aculturar e se enriquecer de conhecimentos científicos que o permitam transformarem a liderança da arbitrariedade na liderança da consciência e da ciência. Os processos motivacionais e de liderança requerem comprometimento com a equipe. 2.5. Liderança como uma relação funcional entre líder e subordinados. Liderança como um fenômeno de influência interpessoal. É um relacionamento em que o líder busca produzir intencionalmente o comportamento que deseja no liderado. Ela é como um sistema que diminui a incerteza de um grupo. Os componentes do grupo elege como líder uma pessoa capacitada a dar orientações na hora de escolher as melhores soluções para poder ajudar a empresa a atingir sua meta, reduzindo a incerteza do grupo, assim os funcionários passam a ter uma pessoa para ter apoio. Sendo assim o líder é um tomador de decisão, ou aquele que ajuda o grupo a decidir pela melhor decisão, e assim sendo, a liderança é um bloco de ações que direciona o grupo a caminhar em direção aos seus objetivos (Chiavenato, 2004, p.122-124). É o líder na sala de aula, que direciona e impulsiona a equipe a traçar metas, ter confiança no resultado esperado e, é o apoio que a equipe tem na hora de resolver os problemas. A liderança é uma incumbência que supre a necessidade em determinadas situações e consiste em uma relação entre o indivíduo e o grupo. Ela como um auxiliador do líder, dos seguidores e de variáveis da situação. Conforme endosso de Chiavenato: liderança é o processo de exercer influência sobre pessoas ou grupos 64 nos esforços para realização de objetivos em uma determinada situação. A liderança existe para auxiliar a necessidades existentes em determinada situação, ou seja, da conjugação de características pessoais do líder, dos subordinados e da situação que os envolve. Trata-se de uma abordagem situacional. O líder é a pessoa que sabe ligar e unir todas essas características (Ibid., p.145). O líder dos grupos na sala de aula, também tem a função de exercer influência nos demais componente do grupo, com o objetivo de alcançarem o mesmo propósito. O ensinamento das relações humanas catalogou a liderança em três tipologias, a saber: Teoria dos traços de personalidade (1): o líder possui alguns traços particulares de personalidade que o diferencia das demais pessoas, este apresenta características marcantes de personalidade através das quais consegue influenciar as demais pessoas. Em suma, um líder deve evidenciar atributos como confiança, ousadia flexibilidade e ter visão do futuro para que possa ter a mínima condição de sucesso. (Ibid., p.93 -98). Esses traços são muito fortes nas líderes dos grupos pesquisados, o único traço que não foi encontrado nelas foi a flexibilidade. A segunda é a teoria sobre os estilos de liderança (2): Se estuda a liderança em função da conduta do líder em relação aos seus subordinados. Aqui a teoria visa àquilo que o líder faz, ou seja, o seu estilo de comportamento para liderar. Nesta encontramos três estilos de liderança: autocracia, liberal e democrática. Na autocracia, o líder determina as ordens onde a ênfase se dá no líder (Chiavenato, 2004, p.100-102). Pode-se encaixar a líder do grupo de estudo nessa característica de liderança. A segunda é a liberal: onde o líder se exime e o grupo passa a tomar as decisões dando ênfase nos subordinados e a democrática o líder e seus subordinados tomam a decisão juntos ênfase no líder e subordinados. (Ibid., p.103- 104). Esse estilo de liderança não foi encontrado no grupo pesquisado, E, por fim, a teoria situacionais da liderança (3): O líder deve se adequar de acordo com a situação. Ele, na prática deve utiliza os três processos de liderança, de acordo com a situação, com as pessoas e com a tarefa a ser executada. O líder determina cumprir ordens, como pede a opinião dos subordinados antes de tomar uma decisão, como sugere a maneira de realizar certas tarefas: ele utiliza a liderança autocrática, democrática e liberal. O desafio da liderança é saber quando aplicar qual modo, quem vai executar e em que condição e atividades (Ibid., p. 125). 65 Neste contexto, a liderança está voltada para as pessoas buscando de forma respeitosa, amigável e confiante atingir os objetivos da organização em uma empresa (Ibid., p.61). 2.6 Explicando os grupos Os grupos de estudo são formados geralmente no primeiro semestre. Normalmente uma sala de aula tem de 5 a 7 grupos. No decorrer dos semestres, esses grupos vão se desfazendo devido a uma série de problemas que surgem na relação interpessoal entre os componentes. Pouquíssimos grupos chegaram ao final com a mesma formação inicial. O líder do grupo de estudo, na maioria das vezes, são alunas com raciocínio rápido; dominam bem a oratória e a escrita; são prestativas, na maioria das vezes tiram notas acima de oito, centralistas, inteligentes, perfeccionista; conversam com todos alunos da turma informalmente e gosta de criticar as alunas da sala. Elas não são eleitas por uma hierarquia (descrito na burocracia no 2° capitulo), vão conquistando as companheiras com sua criatividade e disponibilidade em fazer a parte mais difícil do trabalho. Com as colegas conquistadas, ela passa a determinar o que cada uma irá fazer nos trabalhos, mas quando o trabalho fica pronto, só é encontrada a ideia da líder, que se justifica dizendo que melhorou a ideia de todas, para deixar o trabalho perfeito. Sempre feliz em apoiar a companheira que tirou nota abaixo da média na prova individual, apoia alunas do grupo com média baixa e as consola dizendo que a nota do grupo foi boa e que ela vai superar. Essa hierarquia funciona muito bem, até que alguém se coloque contra ela e comece a questioná-la. O intuito de sua agressão é subjugar outras pessoas, assegurar por meio da degradação e da humilhação que será alcançada uma pseudo vitória. A disputa de forças entre a vítima e a líder é uma relação desarmônica de poder, onde um grupo de mulheres com ações repetitivas provocam desequilíbrio emocional da aluna ponto fundamental, que torna viável o amedrontamento da vítima e o sucesso do agressor. As vítimas são diversas, encontram-se no grupo destas alunas que passaram muitos anos sem estudar por diversos motivos e estão retornando porque os filhos casaram e não querem ficar em casa sozinhas; passando por aquelas que desejam trocar de profissão, conseguir independência financeira, etc. São pessoas inseguras, 66 dependentes, com criatividade e raciocínio lento por causa do longo período sem exercitar a mente. Encontram-se também, as alunas que vieram do interior do Estado. São alunas esforçadas, algumas com pouco recurso financeiro e com vícios de linguagem ou forte sotaque. Sofrem discriminação sem disfarce, a maioria dos grupos se fecha para não deixá-las entrar. As alunas possuem a ideia que todas as pessoas que vem do interior não tem inteligência, tem pouco conhecimento e não tem capacidade de acompanhá-las. Assim como, a diversidade sexual também não tem boa aceitação. As alunas com características masculinizadas e as lésbicas são totalmente evitadas, servem de gozação e brincadeiras, são forçadas a abandonar o grupo, não procuram saber se a aluna tem capacidade ounão de ajudá-las, apenas não as querem por perto, dizem que não querem “manchar sua reputação”. E, finalmente, as vítimas que são adeptas do espiritismo kardecista, candomblé, entre outros. Passam pelos mesmos problemas já citados, além de levarem o estigma de sempre estarem pensando em fazer o mau para os inimigos. 2.7. Comparação de pesquisas sobre o bullying no Brasil e no mundo Os resultados apresentados mostram que 50% das alunas pesquisadas, na Faculdade Cearense durante os anos de 2011 a 2013, com um universo de 100 alunas do curso de Serviço Social e 25 docentes, foram vítimas de bullying na sua formação acadêmica, demonstrando a comprovação da existência desse fenômeno no âmbito da instituição de ensino superior- IES. Por falta de literatura que aborde o fenômeno bullying em uma IES, para que se possa fazer comparações, utilizar-se-á pesquisas de outros países e do Brasil em escolas públicas e privadas para se fazer uma discursão metodológica. O professor Dan Olwens, da Universidade de Bergen, Norueguês foi o pioneiro em estudar o bullying e as medidas para combatê-lo. Seus estudos iniciaram nos anos 70, estudando vítimas e agressores na escola, estudo esse que despertou muito pouco interesse das instituições educacionais de seu país. Nos anos 80, contudo, com o suicídio de três jovens entre 10 e l4 anos, esse problema passou a ser prioritário. “Sua pesquisa teve uma amostra de 84.000 estudantes, de 300 a 400 professores e 1000 pais, nas diferentes faixas etárias, para conferir as particularidades e extensão do fenômeno bullying”, bem como para analisar as 67 intervenções realizadas. Tendo o apoio do governo da Noruega implantou um programa de combate ao bullying nas escolas que reduziu em 50% sua ocorrência (ZOEGA e ROSIM, 2009, p.13). Pesquisa realizada em 2010, na Universidade da Califórnia, publicada no American Sociological Review. Ouviram 3.722 alunos, dos últimos anos do ensino fundamental, (equivalente ao primeiro grau) de três condados no Estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos”. Teve como resultado que a violência agia como um mecanismo de competição para fortalecer e popularizar o universo dos estudantes. Segundo a mesma, a intenção não é humilhar apenas os nerds ou os diferentes, esses não seriam as únicas vítimas de bullying. O pesquisador concluiu que essa violência é uma forma de competição social (R7 Notícias, 2011) Durante o Congresso Ibero-Americano de Abril, 2004, apresentou-se uma pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e a Cultura (UNESCO) sobre a manifestação da violência nas escolas brasileiras chamada “Vitimização na Escola”. A UNESCO ajudou a pesquisadora Míriam Abramovay a fundar um observatório de violência nas escolas brasileiras. E entre 2003 e 2004, ela apresenta nova pesquisa denominada “Cotidiano das Escolas: Entre Violências”, que indicava uma visão afirmativa da escola, por parte dos alunos, apesar que, quase 90% foram vítimas de alguma forma de violência. Portanto, na relação aluno-professor, a mesma constatou semelhança: 10% de péssimo e 47% de bom. Na pesquisa, o medo dos professores em relação às ameaças sofridas é o principal aspecto (ZOEGA e ROSIM, 2009, p.15). Esta pesquisa entrevistou cerca de 1400 pessoas (o total de entrevistado não condiz com a soma dos alunos e adultos. Portanto, foi transcrito tal qual está na pesquisa) dados trazidos da pesquisa, 1069 questionários foram respondidos por alunos e outros 1927 por adultos de 113 escolas de São Paulo, Porto Alegre, Belém, Rio de Janeiro e Distrito Federal. No livro Violência nas Escolas, Miriam Abramovay (2007) afirma que “com a pesquisa, pode-se observar que a violência está presente nas escolas, ela se materializa nas relações através de ameaças.” É a violência da briga, do insulto, do bater, que abre caminho para que outros tipos de violências mais graves entrem nas escolas (ZOEGA e ROSIM, 2009, p.15). O IBGE realizou em 2010 uma pesquisa que indicou Brasília como a capital do bullying. De acordo com esse estudo, 35,6% dos estudantes entrevistados falaram ser vítimas de agressão com certa constância. Belo Horizonte, em segundo 68 lugar com 35,3%, e Curitiba, em terceiro lugar com 35,2 %, essas, capitais juntas com Brasília, tiveram maior índice de estudantes que afirmaram ter sido vitimizadas alguma vez. O bullying infere comportamentos com níveis de violência diversificados que podem ser chateações hostis ou inoportunas até atos agressivos, de forma verbal ou não, repetida e intencional, sem motivação aparente, cometido por um ou mais estudantes em função a outros, causando de angústia, exclusão, dor, humilha discriminação e humilhação. O público-alvo da pesquisa foram os estudantes do 9º ano do ensino fundamental (antiga 8ª série) de escolas públicas ou privadas das capitais dos estados e do Distrito Federal. O registro de seleção da amostra foi estabelecido por 6.780 escolas (G1 Brasil, 2010). A pesquisa traz o percentual de estudantes que sofreram bullying pelas capitais Brasileiras. Distrito Federal, 35,6%, Belo Horizonte, 35,3%; Curitiba, 35,2%; Vitória, 33,3%; Porto Alegre, 32,6%; João Pessoa, 32,2%; São Paulo 31,6%; Campo Grande, 31,4%; Goiânia, 31,2%; Teresina e Rio Branco, 30,8%. (G1 Brasil, 2010). 69 Capitulo III 3. Entre sujeitos, relatos e fatos instados à dinâmica interpessoal da Faculdade Cearense: averiguando o sentido e a pertinência do fenômeno bullying no curso de Serviço Social. A Faculdade Cearense, fundada no ano de 2002, com sede em Fortaleza, têm como missão contribuir para o desenvolvimento do país, especialmente do Estado do Ceará, por meio da qualidade do ensino ministrado com base na qualificação do seu corpo docente, nas condições de trabalho e na infraestrutura física, material e econômica oferecidas à comunidade acadêmica. Em sua trajetória, a instituição tem conquistado cada vez mais a respeitabilidade da sociedade cearense, implantando um novo conceito de desenvolvimento local e regional, através da oferta de cursos de graduação, pós-graduação e extensão universitária. Figura 01- Prédio da Faculdade Cearense Fonte: Imagem tirara pela autora. 70 A FaC oferece à comunidade acadêmica uma infraestrutura física e de serviços adequada para o bom desempenho das suas atividades. Integram esse espaço, com sede na Avenida João Pessoa, número 3884, além das áreas destinadas à gestão acadêmica: Salas de aula climatizadas; Biblioteca e Salas de estudo; Auditório; Laboratórios de informática; Cantinas, Internet e Reprografia. Estas instalações estão equipadas de acordo com a finalidade e as características de cada ambiente, contemplando ainda os requisitos necessários para o uso por pessoas portadoras de necessidades especiais. A Faculdade Cearense fez-se universo em que se realizou a pesquisa de campo, devido, antes de tudo, ser uma IES, o que pressupõe, portanto, a convivência interpessoal de estudantes, professores e funcionários diversos da instituição, condição necessária para se observar ou não o fenômeno ora tomado como objeto de pesquisa. Outro aspecto a ser considerado é o fato da própria pesquisadora se fazer aluna da referida instituição, favorecendo assim a observação das relações interpessoais que nela tomam palco, a discutir, pois, a pertinência ou não do fenômeno bullying em seu espaço. Além do mais, a escolha por tal recorte da realidade foi potencializada em razão do reconhecimento de que parte considerável das relações entre os estudantes se mostra, no mínimo, problemática, quando se flagra, por exemplo, fatos como: 1) o isolamento de aluna do grupo de sua turma; 2) convivência conflituosa no interior de pequenos grupos e em torno da relação líder e liderados; 3) a disputa e a concorrênciapor distinguir-se das demais, não importando muitas vezes sequer o respeito à pessoa da(s) colega(s) de sala de aula, nas tarefas acadêmicas. Em virtude de tudo isso, despertou-se uma curiosidade na pesquisadora em compreender o porquê dessa relação conflituosa acontecer entre mulheres adultas, já que, pois, está-se falando de estudantes universitárias, a chamar mais a atenção por se tratar de um curso de Serviço Social, que prepara alunos e alunas para atender e buscar proteger, em geral, os diferentes, os excluídos, os mais fracos da sociedade, lutando por seus direitos. 3.1 MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa sobre a possível ocorrência do fenômeno bullying teve início no segundo semestre de 2011. Deu-se na Faculdade Cearense, localizada no bairro 71 Damas, na capital de Fortaleza. A Faculdade oferece o curso de Serviço Social, perfazendo oito (8) semestres letivos, nos turnos da manhã e da noite. A pesquisa bibliográfica serviu de alicerce na investigação teórica que possibilitou uma discussão sobre as ideias, fundamentos, inferências e conclusões de autores selecionados pelo assunto em questão. Os universos pesquisados foram 625 pessoas entre alunas e professoras do curso de serviço social da Faculdade Cearense, nos anos de 2011.2 a 2013.2. A amostra compreende um total de 100 alunas e 25 docentes que serão trabalhados em dois grupos distintos; 1) alunas de ambos os turnos; 2) docentes. Entre os instrumentos de coletas de dados para a pesquisa, traz-se a entrevista, que, para Minayo, se deixa assim caracterizar: A entrevista, tomada no sentido amplo de comunicação verbal, e no sentido restrito de coletas de informações sobre determinado tema científico, é a estratégia mais usada no processo de trabalho de campo. Entrevista é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador (MINAYO, 1993, p.64). As entrevistas tiveram início com as alunas que se reconheciam vítimas de bullying. As mesmas foram de forma espontânea, após as alunas tomarem conhecimento do tema bullying na graduação, do trabalho que iria ser pesquisado, e pediram para relatar seu infortúnio. Algumas depoentes estavam pensando em deixar a faculdade e queria deixar seu depoimento registrado. Mesmo sem ter sido iniciado a disciplina que orientaria a pesquisa. Dispondo de um gravador, caderno de anotação e caneta, deu-se início a coleta de dados. Antes de iniciar as gravações com as alunas que se sentiam vítimas, foi explicado sobre o Termo de Consentimento e a autorização pelas alunas entrevistadas. Explicou-se que o trabalho preservaria o nome das entrevistadas, e utilizaria a codificação de aluna1, aluna 2, sucessivamente. Segundo Bastos (2008), o questionário forma um instrumento de perguntas ordenadas, que devem ser respondidas por escrito. Enquanto Gil (1991), amplia o conceito, dizendo que é uma técnica de investigação composta de um número de 72 questões que são apresentadas as pessoas, que tem por objetivo o conhecimento de opiniões, situações vivenciadas, interesses e sentimentos. Devido às dezenas de alunas terem relatado ser vítimas do bullying, o objetivo do questionário era colher informações das alunas que foram apontadas como agressoras e expectadoras. Para alcançar o objetivo desejado, o questionário foi distribuído nas salas de aula, porém, os questionários das supostas opressoras foram marcados para diferenciar das demais. Durante as entrevistas as alunas depoentes como vítimas mencionaram os nomes de suas agressoras. Daí foram aplicados questionários com as alunas da mostra e os questionários das agressoras foram marcados com X pela pesquisadora para coleta da pesquisa. Como também foram aplicados questionários com as professoras com o objetivo de confirmar a existência desse fenômeno na sala de aula. Ao longo da sondagem das opiniões, no caso, as perguntas foram elaboradas mediante o questionário semiestruturado, para a apreensão dos dados a serem analisados e perfazendo o trabalho de campo. Após a leitura dos autores referenciados e os instrumentos utilizados na pesquisa, despertaram no pesquisador um novo olhar, o de observador. Passou a observar tudo o que acontecia ao redor dos entrevistados dentro e fora da sala de aula, como, por exemplo: jeito de olhar, maneira com sentava, os gestos, as expressões do rosto diante das pessoas que foram apontadas como agressoras, comportamento na apresentação dos trabalhos, modo de falar, participação nas comemorações em sala de aula, etc. O pesquisador não interagiu no contexto observado manteve-se sempre a distância. 3.2 RESULTADOS O perfil socioeconômico das alunas participantes foi levantado mediante as entrevistas e questionários, esses dados foram consolidados através de uma planilha constando das seguintes variáveis: Estado civil, ocupação e dependentes, conforme Tabela 1. 2 e 3. 73 Tabela 1- Características do Perfil das alunas do Curso de Serviço Social 73% 27% Ocupação Trabalha Não Trabalha Fonte: elaborado pela pesquisadora Tabela 02- Dependentes Fonte: elaborado pela pesquisadora 74 Tabela 03- Estado civil das alunas Fonte: elaborado pela pesquisadora Em relação ao sexo das alunas, são 100% de mulheres, que teve por escolha devido à amostragem masculina ser mínima no turno da manhã. E também, mostrar que a violência está muito presente no universo feminino camuflado em “brincadeiras”. Quanto ao estado civil das alunas ficou dividido em 65% casadas, 7% mantém um relacionamento estável (colocação feito pelas entrevistadas) e 28% solteiras. O percentual com filhos é 48%, e com neto é 12%. A vida dessas estudantes é dividida entre faculdade, filhos, netos, marido e, 73% delas se dividem também com o trabalho. O que lhes sobra pouco tempo para dedicar-se ao estudo. Todas são brasileiras com idades que variam entre vinte e um a cinquenta e seis anos. 75 Tabela 04- Conhecimento sobre Bullying Fonte: elaborado pela pesquisadora As alunas que não se colocaram como vítimas, mas foram apontadas como supostas agressoras, foi perguntado: o que você acha das pessoas que se diziam vítimas de bullying na graduação. Praticamente 80% das respostas deste universo responderam que as pessoas que sofrem qualquer tipo de rejeição, humilhação ou indiferença são pessoas inconvenientes, que se acham sábias, não se encaixam com a maioria da turma ou do grupo, estão sempre querendo aparecer, vem do interior falando errado e se sente a “última bolacha do pacote”, tem algumas que são desorientadas, deveriam estar em casa ou se aposentando, outras pensam que vão desfilar. E 20% deste universo descreveram que as vítimas são pessoas que não tem uma personalidade formada ou sem maturidade para enfrentarem uma graduação. De alguma forma buscam chamar a atenção para si. 76 Tabela 05- Informações sobre Bullying Fonte: elaborado pela pesquisadora Tabela 06- local de ocorrência do Bullying Fonte: elaborado pela pesquisadora Conforme apresentado na tabela acima 50% relataram que foram vítimas de Bullying. Caso a resposta fosse positiva, se a ocorrência foi na sala de aula ou em outro local. A ocorrência do total de alunas que sofreram bullying: 97% relataram ter sofrido na sala de aula e 3% durante o intervalo e eventos do curso. 77 Tabela 07- Tipologia de Vítimas Fonte: elaborado pela pesquisadora Os grupos de vítimas encontrados na análise são caracterizados pela vitimização. O primeiro, com um percentual de 31% das vítimas relataram que voltaram a estudar depois de terem de ficarum longo tempo afastadas da escola. Os motivos são diversos como: criar os filhos, trabalhar para ajudar no orçamento familiar, falta de tempo para cuidar de seus interesses, etc. Ao retornarem os estudos se sentiam inseguras, achando que não sabiam mais nada, e que sua inteligente estava “enferrujada”, por esse motivo, deixaram que as amigas de grupo tomassem as decisões para a elaboração e divisão dos trabalhos. As alunas desse grupo faziam parte do primeiro semestre do turno da manhã e noite. A partir do momento que começaram a adquirir confiança e conhecimento, sentiram que sabiam mais do que tinham imaginado, e que não era justo continuar dependendo das amigas para tomar decisões por elas. Decidiram que iriam da sua contribuição no desenvolvimento dos trabalhos. Não foi uma boa ideia! Começaram a incomodar a líder do grupo e a amiga mais íntima, que na divisão dos trabalhos deixavam as partes delas ricas em conteúdo, enquanto o restante do grupo só apresentava uma pequena fatia desse conteúdo, necessário para tirar nota mediana. Esse grupo encontrava-se no segundo, terceiro e quarto semestre, também dos dois turnos. 78 O segundo tipo é a Vítima falsa, com 6% de ocorrência. São, em geral, alunas que passam o semestre com diversos infortúnios, tais como: o pai no hospital; filho que se separou e está fazendo uso de narcóticos; o marido que tem uma amante; sempre adoecem nos períodos de prova e trabalho e assim por diante. Usam os problemas e a fragilidade para se isentarem do compromisso, para ser aprovada, recorre a todos os meios, não tem vergonha em se humilhar diante de um professor que anulou sua prova por ter sido copiada do material dado em sala. São tantos os problemas que ninguém aguenta ficar perto delas por muito tempo. As alunas deste grupo, geralmente não passavam do quarto semestre. Entravam-nas do primeiro ao quarto semestre. Apenas uma chegou ao quinto e desistiu. As vítimas por proximidade espacial com 50%. A vítima por proximidade espacial é a que mais identifica as vítimas da graduação. Devido à convivência durante vários semestre no mesmo espaço, e a aproximação para execução dos trabalhos em equipes. As supostas vítimas relataram que nos primeiro e segundo semestres, os grupos estão em formação, as alunas se conhecendo e formando laços de afinidade ou não. Nessa fase os membros da equipe trocam informações pessoais, e a aluna que não se preserva, expõe sua fraqueza, seus medos e anseios numa situação de grupo, conversando sobre assuntos pessoais, acabam assim, fornecendo informações pessoais possibilitando ao eventual agressor conhecer suas fraquezas, tornando-a uma presa fácil. Para conquistar um espaço na equipe e se sentir segura, aceita as decisões tomada, geralmente, pela líder sem questionar. Isso acontece nos primeiros três semestres. A partir do quarto semestre essa aluna começa a ficar incomodada com suas notas que não passam da média, e começa a se esforçar para tirar notas superiores às anteriores e tenta se igualar a líder e demais componentes que tem notas acima de oito. Quando esse objetivo é alcançado, essa aluna passa a incomodar a líder, que começa a se sentiu ameaçada, e a mesma reage usando das informações fornecidas pela própria vítima e começa a desestrutura-la. Passa a fazer “brincadeiras de mau gosto”, a evitar sua presença na equipe, nos intervalos e eventos da Faculdade, não permite que ela saiba ou faça parte das decisões tomada, só comunica depois de tudo pronto. E por fim, sabota os trabalhos e a apresentação dessa vítima atingindo seu objetivo. Na categoria vitimização, encontra-se diversos tipos de vítimas, deu-se destaque a estas por ter um grande número de alunas com essas características. 79 Vítima sem valor com 3%. Essas vítimas deixaram claro que não ligam para o que os outros pensavam delas. Estão na instituição apenas pelo diploma. Se fosse preciso "colar" para alcançarem a média, colariam sem problema; se tivesse que ajudar a tirar alguém do grupo, “nem piscariam”. Além disso, algumas faziam uso de um vocabulário de baixo calão, o que não condiz com o curso; demonstram falta de ética em relação às companheiras e os trabalhos, por fim, se classificam como “barraqueiras com prazer”. Com essas características, este grupo de alunas é discriminado e eliminado da maioria dos grupos. Sentindo-se sem espaço, mudam de turma, logo após de turno e mesmo assim, não conseguem fazer uma amizade. Estão sempre falando mal das pessoas e reclamando de tudo. Normalmente só chegam até o quarto semestre. Outro grupo de vítimas, com 10% de incidência, narrou episódios que, pelo fato de terem vindo do interior, foram rejeitadas por diferentes grupos. Existe uma concepção formada entre as alunas da capital, quem vem do interior, pelo fato de estudar em grupo municipal, não são inteligentes e não tem conhecimento para fazer parte da equipe. Além de essas pessoas terem um vício de linguagem considerado errado na capital. Por esses motivos, essas alunas não conseguem um espaço nas equipes, sendo necessária a intervenção das professoras para encaixá- las em uma equipe. Das alunas que relataram seus infortúnios, apenas duas continuaram os estudos, após mudarem de sala ou de turno, mas relataram que não foi fácil romper esse estigma na nova turma. O segundo grupo pesquisado está relacionado ao perfil das vinte e cinco professoras que participaram da pesquisa, respondendo ao questionário aplicado, verificou-se que a faixa etária varia de 25 a 50 anos, 40% são casadas e 24% tem filhos. No primeiro momento, quando o tema foi apresentado, houve uma rejeição por parte de algumas professoras (cinco negaram-se a participar da pesquisa e de responderem o questionário) ficando um total de 25. As docentes tiveram a oportunidade de falar da sua percepção em relação ao bullying, e percebeu-se que assim como as discentes, lhes faltavam conhecimento teórico. Buscou-se entender qual o posicionamento dessas docentes diante desse fenômeno que ocorre durante sua permanecia em sala de aula. Perguntou-lhes: em sua opinião, existe bullying na graduação? Se existe, chegou a presenciar algum fato? Já vitimou algum aluno? 80 Tabela 08- Informação dos Professores sobre conhecimento do Bullying Fonte: elaborado pela pesquisadora Na tabela acima, 20% dos professores relataram não acreditam existir bullying na graduação. Acreditam que os alunos são pessoas adultas com conhecimento do certo e errado; são maduros o suficiente para não se envolverem com atitudes infantis. Não acreditam que existam pessoas que não saibam se defender destas atitudes, e se existir, devem procurar ajuda, pois devem ter algum "problema". Deixaram claro que o assunto é tratado com certo exagero, estão sobrevalorizando um assunto antigo que se tivessem dado a devida atenção quando surgiu, hoje seria algo banal. O segundo item revela que 40% presenciaram alunas que não conseguiam fazer parte de grupos de estudos sem que elas intervissem; declaram ter ouvido de alunas relatos das dificuldades que enfrentavam nos primeiros semestres do curso (dificuldade em compreender o conteúdo dado, interpretar textos complexos, entre outros) e por esse motivo, eram rejeitadas pelos grupos. Percebiam na hora das apresentações dos trabalhos (seminários), algumas alunas que riam o tempo todo e trocavam olhares com as companheiras (ocorria de forma repetitiva na apresentação de algumas alunas), quando não ficavam entrando e saindo da sala mostrando a falta de interesse em ouvir o que as colegas estavam transmitindo, não intervém, pois, estão lidando com adultos que sabem se defender. Percebem que algumas 81 alunas normalmente estão sozinhas, na sala de aula ou no intervalo, como nunca perceberam nada de errado, não buscaram saber o motivo da solidão. Os 32% dos docentes2.5. Liderança como uma relação funcional entre líder e subordinados..........................................................................................................54 2.6. Explicando os grupos..................................................................56 2.7. Comparação de pesquisas sobre o bullying no Brasil e no mundo....57 Capítulo III 3. Entre sujeitos, relatos e fatos instados à dinâmica interpessoal numa IES: averiguando o sentido e a pertinência do fenômeno bullying num curso de ensino superior ..................................................................................................... 60 3.1 Materiais e Métodos ..................................................................................61 3.2 Resultados.................................................................................................63 3.3 Análise do discurso....................................................................................72 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................................75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................79 APÊNDICE.....................................................................................................87 ANEXOS........................................................................................................88 17 INTRODUÇÃO A presente pesquisa refere-se à investigação de práticas conhecidas como bullying. Este fenômeno tem sua origem na palavra inglesa bully, que, segundo Fante, “significa valentão, brigão”. Mesmo não tendo uma tradução em um só termo para o português, passou a ser entendido como ameaça, violência, intimidação, humilhação e maltrato, conservando, pois, a palavra inglesa. É denominado de violência proposital, verbal, psicológica e física, com várias repetições, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas (FANTE, 2005). É uma das muitas violências que mais cresce no Brasil e no mundo, afirma Fante (2005), educadora e autora de vários livros. Segundo a autora, o bullying pode ocorrer em qualquer tessitura social: no trabalho, instituição escolar, famílias e comunidades. Até o que é considerado como simples apelido pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa, provocando queda do rendimento escolar, podendo até levar ao isolamento. Assim, todas as vítimas que passam por brincadeiras difamatórias, humilhações segregadora, desprezo, entre outras, podem apresentar doenças psicológicas, emocionais e sofrer de algum tipo de transtorno que influencie traços de caráter e personalidade (FANTE, 2005). Esse fenômeno ora de escala mundial é tão antigo quanto à própria escola. Apesar de os educadores terem consciência do problema existente entre agressor e vítima, poucos esforços foram despendidos para o seu estudo sistemático até o princípio da década de 1970, o que, em geral, perpassa até a atualidade. Foi então nessa época que surgiu, primeiramente na Suécia, um grande interesse de toda a sociedade pelos problemas desencadeados entre agressor e vítima, figurantes desse fenômeno, que logo se estendeu por todos os outros países escandinavos (FANTE, 2005). No final de 1982, foi notificado num jornal norueguês o suicídio de três crianças no norte da Noruega, com idades de 10 a 14 anos, ato que, com toda a probabilidade, foi motivado principalmente pela situação de violência a que eram submetidas pelos seus companheiros de escola. E depois desse fato, vários outros países, como EUA, Inglaterra, Espanha, Finlândia, entre outros, passaram a discutir o problema, comprovando que o bullying está nas escolas de todo o mundo (FANTE, 2005). 18 No Brasil, o bullying é muito comentado, divulgado e estudado por diversas áreas da educação. Porém, são poucos os órgãos que fornecem indicadores para que se possa ter e fazer uma comparação global deste fenômeno. Fante (2005) e Ana Beatriz Silva (2010) explicam, em seus respectivos livros, que os personagens envolvidos na prática do bullying podem ser categorizados em: agressor, vítima e expectador. O(s) agressor(es) ou Bullies são os que cometem a violência; a vítima geralmente é a mais fraca ou as que sofrem as agressões, os expectadores podem ser ativos participando indiretamente ou passivos que ficam indiferente ao fato ocorrido. Os diversos autores pesquisados comentam que as relações entre pessoas que agem e pensam de formas diferentes podem despertar atos deliberados de ofensa, insulto e exclusão. Pelo senso comum essas atitudes fazem-se conhecidas como brincadeiras de crianças, mas a partir do instante que passam a ofender, humilhar e prejudicar, deixam de ser brincadeiras e começou a ser nomeada de bullying. Segundo Fante (2005), os estudos realizados por Dan Olweus nomearam essas práticas recorrentes de bullying, que passaria a definir essas situações conflitantes nas escolas. De acordo com Melo (2010), esse tipo de “brincadeira de mau gosto” denominado bullying não surgiu na modernidade, ele sempre existiu nas escolas, mas não tinha esta conotação usada na atualidade. Em decorrência da minha vivência como graduanda tive a oportunidade de presenciar colegas, na sala de aula, passar por constrangimento e brincadeiras de mau gosto, excluídas de grupo de estudo e, não raro, se humilhando para entrar em outros grupos, chegando ao ponto de professoras terem que intervir e colocá-las contra a vontade da equipe escolhida. O que, consequentemente, põe em questão a necessidade de pesquisar a existência ou não do bullying no contexto da formação acadêmica e, entender o porquê dessa ocorrência entre as alunas, aqui representada pelo curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, escolhido este não pelo desejo de tomar a instituição como réu de um julgamento, mas, antes de tudo, pela conveniência em fazer-me estudante da instituição, além de que tal oportunidade conspira em favor de uma maior consciência sobre os personagens envolvidos no fenômeno, beneficiando a todos em geral. 19 O interesse desse trabalho é fazer com que o bullying, em uma graduação, não apenas na Faculdade Cearense pesquisada, mas em todas as outras em voltas com o problema, seja conhecido e combatido. Sabendo-se que no Brasil não tem lei federal específica para o combate ao bullying. E que em alguns Estados dispõe de iniciativas para inibir e reduzir essa violência, como a do então prefeito Gilberto Kassab, da cidade de São Paulo, sancionou uma lei, em 2009, que delibera que as “escolas públicas da educação básica do município deverão incluir em seu projeto pedagógico medidas de conscientização, prevenção e combate ao bullying escolar”. A lei defende a promoção de medidas preventivas na luta contra o fenômeno, com a habilitação dos docentes e a orientação dos discentes e das vítimas, “visando à recuperação da autoestima” (G1 Educação, 2011). A abordagem metodológica pode ser caracterizada como pesquisa de campo de natureza de estudo de caso com perguntas previamente formuladas, para a explicação da realidade com a análise crítica do objeto a ser pesquisado. Havendo uma contextualização do problema junto à problemática da violência, analisando a práxis humana, junto à participação de docentes e discentes da Faculdade Cearense. (NOVACK, 2006) Optando-se, entre as diversas metodologias, pela abordagem qualitativa / quantitativa de pesquisa, a exigir, previamente, uma revisão bibliográfica, percorrendo autores como Fante (2005), Silva (2010), Braga (2009), Chalita (2008) e fontes como ABRAPIA (2003), UNESCO (2002) entre outros. A pesquisa estruturou-se em torno dos instrumentos e recursos disponibilizados pela metodologia quantiqualitativa, tornando-se, pois, a estratégia utilizada para analisar o objetodizem nunca ter percebido atitudes que poderiam classificar de bullying, apesar de que em seus relatos tinham fatos descritos que poderiam ser caracterizados como ocorrência do fenômeno, por exemplo: grupos que se opunham a receber alunas que tem raciocínio lento, falta de respeito na apresentação de alunas com dificuldade de se expressarem, brincadeiras com a dicção, roupas e jeito de ser, etc. Porém, eles alegaram que são atitudes corriqueiras não acham que essas características do bullying. Acreditam que o bullying existe, mas não é fácil de ser identificado, porque ele se apresenta de forma camuflada e não é comum entre pessoas adultas que têm maturidade e um grau mais elevado de intelectualidade e inteligência para se deixar vitimar. E, por fim, 8% dos professores relataram ter conhecimento da existência do fenômeno, explicaram sua ocorrência e duas relataram que foram agressoras. Narraram que não perceberam que estavam agindo de forma agressiva, usavam de sua autoridade para pedir que algumas alunas se retirassem da sala, dificultavam as informações referentes a provas e trabalhos, chamaram a atenção de algumas alunas de forma alta e ríspida para que todos na sala pudessem ouvir, foi necessário alguém chamar-lhes a atenção, para se darem conta do que estavam fazendo. E outra diz que nunca ninguém chamou sua atenção quanto sua atitude para com algumas alunas. Mas parando para responder o questionário, pensaram e analisaram seu comportamento, desta forma percebeu que às vezes antipatizava com alguma aluna, e essa antipatia afasta da pessoa e muitas vezes a fez ser mal educada ou grosseira com a mesma. Ficando incomodada quando a aluna pergunta várias vezes a mesma coisa, ou respondia com voz de impaciência ou, mesmo, não respondia. 3.3. Análise do discurso A análise dessa pesquisa revelou que o bullying existe, sua manifestação acontece dentro da sala de aula, não na sua totalidade, e sim, no interior dos pequenos grupos de estudos formados durante os semestres. Sua manifestação raramente ultrapassa a sala de aula. Nesses pequenos grupos sempre se levanta 82 uma aluna com inteligência e capacidade de liderança (explicado no segundo capitulo). Ela tem um poder de persuasão entres os membros da equipe. Essa persuasão acontece porque a maioria das alunas trabalha, são mães e algumas avós. A uma tripla jornada de trabalho (família, trabalho e faculdade) o que dificulta o desenvolvimento dos trabalhos e leituras do material apresentado. A ocorrência do bullying passa a acontecer quando as alunas que inicialmente aceitam tudo pacificamente, não questionam, não usam seu conhecimento por achar que não tem inteligência para competir com as demais companheiras de equipe. E se subordinam na intenção de fazer amizade e se manter na equipe. Essa ocorrência tem diversos motivos para acontecer, mais o principal motivo é a disputa por notas. As alunas tem a necessidade de tirarem notas máximas, porque na cadeira de estágio a que tiver melhor nota, poderá escolher o melhor locais de estágios. Por esse motivo, a aluna que se sente prejudicada na equipe com os trabalhos sem conteúdo, sua apresentação é preparada pela líder que sempre mantem a maior fatia do trabalho a ser apresentado. Sabendo dessa condição para o estágio, passa a reagir e superar sua imparcialidade, submissão e passa a desenvolver sua inteligência. Essa nova atitude não é aceita pele líder e suas aliadas, começa a sentir-se ameaçada, passa a ser pressionada para uma divisão correta do conteúdo dos trabalhos, deixa de ser a única criativa do grupo, tem sua zona de conforto ameaçada. E começa uma guerra silenciosa entre essas mulheres, como explicou Simmons, elas estão acostumadas a esconderem seus sentimentos de agressividade. De forma sutil, entre risadinhas, olhares, sabotagem, desprezo e humilhação vão minando a confiança, a segurança e a capacidade de superação dessa aluna. Como as equipes já estão formadas e não tem como mudar no meio do semestre, a vítima por proximidade espacial se vê obrigada a permanecer no grupo. As demais companheiras a mantém, porém, espalham na sala de aula um monte de calúnias sobre a vítima, e passam por boazinhas, por manter uma pessoa cheia de defeitos na equipe. As vítimas relataram que não perceberam quando começou a violência psicológica. Quando se deram conta, já não havia amizade, era só exclusão, humilhação e solidão, mesmo estando na equipe. Algumas vítimas disseram que conversaram com professoras sobre o problema, no entanto só ouviram para se 83 afastarem do problema. Falar do ocorrido para alguém era se expor ao ridículo. Levar a nível de gestão, era temer ser confrontada com o agressor e ser mais ridicularizada do que já estava. A maioria não suportava a situação, mas não tinha coragem de sair dela, pois na sala de aula ninguém as queria nas outras equipes. A situação ficava tão insuportável que a maioria preferia abandonar o curso, a tomar uma atitude de mudar de sala o de turno. Das alunas entrevistadas apenas quinze concluíram o curso, após mudarem de sala ou de turno, mas relataram que sentiram dificuldades em se relacionar na nova sala. Evitavam muita aproximação, estavam sempre sozinhas, apesar da sala ter em média trinta alunas. 84 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em vista dos argumentos reconstituídos e desenvolvidos, além de confrontados com a realidade investigada, expostos ao longo de todo o presente trabalho, percebeu-se a grande relevância do fenômeno que não se pode reconhecer como novo, pois, ele sempre esteve presente nas instituições de ensino, mas só passou a ser estudado quando a sua repercussão deixou o âmbito escolar e virou caso de polícia, e, com isso, passou a interessar a todos e conhecido, mais particularmente, por bullying. Ele é uma prática intencional, repetitiva e intencional que vem tomando proporções alarmantes, não só entre o infantojuvenil, mas entre adultos nos cursos de ensino superior. Em se tratando da presente pesquisa, constata-se o fenômeno entre alunas do curso de Serviço Social. O bullying apresenta-se, com relação aos adultos, na forma de violência psicológica, intencional e repetitiva, com o objetivo de subjugar e humilhar o outro. Sua causa pode ser diversas como; inveja, disputa de forças de poder ou de notas, religião, sexualidade e regionalidade. O bullying no âmbito de uma IES, para os agressores e espectadores, é visto como um mito. Não passa de uma criação imaginária das pessoas que, de alguma forma, tentam chamar a atenção dos que estão ao seu redor. Entretanto, para a vítima ele é um fato. Se materializado na violência psicológica por ela sofrido, que aparece em forma de humilhação, desprezo, rejeição entre outras formas de denegrir a vítima. O segundo capítulo dedicou-se a caracterizar como o fenômeno em questão se materializa nas instituições escolares, sejam elas públicas ou privadas. Sua ocorrência não está vinculada somente às escolas, podendo acontecer em outros lugares e que, pois, recebe outros nomes como: no trabalho, é assédio moral; na família, é violência doméstica; nos meios de comunicação eletrônica, é Cyberbullying, entre outros. Os principais envolvidos são os agressores (líder), as vítimas, as testemunhas (geralmente componente da equipe e algumas vezes demais alunas da sala de aula), acontece dentro de uma instituição de ensino normalmente dentro da sala de aula. Cada personagem carrega um percentual de culpa na ocorrência dessa violência. As vítimas se apresentam para a equipe como uma pessoa insegurança, submissa e dependente. Ao conseguir sua superação intelectual, não sabe 85 compartilhar com as companheiras esta conquista, e, de maneira imposta, passa a se comportar de forma contrária do queera até o semestre anterior e, se mostra decidida, autoritária e independente. Mudança que não é bem aceita pelas companheiras que se sentem enganadas. A opressora/líder, que sempre conduziu a equipe e tem sua zona de conforto claramente definida, passa a ficar incomodada com a nova atitude da companheira e, com isso, passa a usar de sua força de persuasão com as demais colegas para enfraquecer a nova líder que está surgindo. Assim, dá início a guerra de forças dentro do grupo de estudo, podendo se estender ou não para o restante da turma. E as expectadoras são pessoas individualistas que acima de tudo está o seu conforto, não importando se vai prejudicar alguém com sua falsa parcialidade. Em uma sala de aula, geralmente, existem ente 5 a 7 grupos e pouquíssimos chegam ao fim do curso com a mesma formação que iniciaram. Em virtude dos fatos acima mencionados, o terceiro capítulo constitui-se na realização de uma pesquisa a tomar como objeto a ocorrência ou não do fenômeno bullying dentro de uma instituição de ensino superior. O grupo das professoras faz-se atuante, particularmente, na dinâmica interpessoal então investigada, caracterizado, pois, como expectadoras neutras. Uma parte deles trata-se dos professores que, mesmo testemunhando algum episódio, ocorrido em sala de aula, de natureza ofensiva entre alunas, não manifesta qualquer interferência no sentido de combater o agravo então ocorrido. Pelos aspectos analisados, pode-se dizer que estes docentes, em sua maioria, não têm o adequado conhecimento para identificar a ocorrência do bullying, quando ele acontece em sua sala de aula. A minoria das professoras que possuem conhecimento dessa ocorrência e, pois, de episódios por elas presenciadas não têm noção de como ajudar, não estão preparadas para intervir, não sabem como se posicionar na condução deste fato, e a única coisa que podem fazer e, em geral, fazem é aconselhar a vítima a manter distância do problema. Sua participação nesta ocorrência está na omissão do fato, na falta de comunicado à coordenação, na falta de encaminhamento dessa aluna ao psicólogo da instituição que está melhor capacitado para orientá-la. Pode-se dizer que a escola/instituição deve ser precisamente o lugar onde a tolerância e o convívio com as diferenças devem ser estimuladas e trabalhadas na formação de estudantes de forma geral. Tal trabalho continuará contraditório se todos os envolvidos (educadores, gestores e estudantes) deixarem predominar 86 dentro de si os costumes viciados, os preconceitos enraizados e a mentalidade doentia que são cultivadas no dia-a-dia pelos estudantes com a precária formação humana para a educação (aqui, em sentido mais amplo possível). Diante dos dados colhidos e analisados e, sobretudo, da experiência adquirida acompanhando alunas e professoras do curso de serviço social, pode-se dizer que é um curso preparatório para a compreensão das desigualdades e suas consequências, tendo como objetivo orientar os alunos a serem criativos e propositivos na elaboração de formas de enfrentá-la na vida profissional. Sugere-se que a instituição de ensino e docentes, em fase de organização de ementa ou plano de aula, planeje a utilização dos grupos de estudo, de forma a não deixá-los fixos durante todo o semestre, e que as provas parciais façam uso destes grupos constituídos nas salas de aula, de forma que possam colocar em prática o aprendizado de convivência com as diferenças. E que, também, todos possam se mobilizar com relação ao fenômeno, que é muito preocupante sua ocorrência em qualquer instituição. E também capacitar os professores no esclarecimento deste fenômeno. Além disso, é fundamental oferecer o suporte necessário para que as denúncias possam tomar o lugar do medo, e, assim, os professores, os alunos/vítimas e os expectadores saibam a quem recorrer quanto a uma denúncia. O presente trabalho tem por finalidade esclarecer aos discentes e docentes que a violência, seja ela física ou psicológica, existe em qualquer lugar onde há relação interpessoal. E não seria diferente em uma IES. Entretanto, cabe reconhecer que, dentre as diversas instituições humanas existentes, uma IES, em tese, apresenta-se como aquela que melhor se posiciona, em função da qualificação daqueles que a compõem, para o enfrentamento do fenômeno bullying. Construir o trabalho foi bastante prazeroso desde o princípio, ou seja, da escolha do tema, que teve início no quarto semestre, até sua finalização na forma de monografia. O fenômeno sempre foi de grande interesse pessoal e isso propiciou para que o caminho percorrido fosse bastante proveitoso. Espera-se que o mesmo contribua para a formação acadêmica de diversos alunos que se inclinem ao estudo do tema, da mesma forma que contribuiu para a minha. Com o conhecimento deste fenômeno, manifestado grande parte por mães, que, possivelmente, repassam estes valores para os filhos, ainda que involuntariamente, pode oportunizar uma conscientização sobre o fenômeno e, consequentemente, promover uma mudança de atitudes, o que provavelmente 87 diminuiria a violência desde os infanto-juvenis. Assim como se espera que a exposição deste fenômeno, aqui abordado, possa despertar interesse no aprofundamento do conhecimento desse tema em relação aos adultos e ampliar a pesquisa para outros cursos e instituições. Na graduação de ensino superior, a ocorrência das agressões acontece de forma psicológica e é, por sua vez, a forma mais comum de sua ocorrência, por acontecer de forma discreta, sutil e quase imperceptível, como se demonstra por parte significativa dos depoimentos colhidos em pesquisa. Colidindo a caracterização dos autores pesquisados quando se referem a tríade agressor- vítima – espectador no infantojuvenil, fazendo uma comparação com os relatos registrados em pesquisa, pode-se dizer que a agressora tende a evitar ser comprometida pelo evento da violência psicológica, no presente caso, na graduação. Ele não deseja ser visto como o valentão ou dominador, mas da mesma forma que os adolescentes, ela quer marcar seu território de forma tácita. 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVAY, M. Aprender a conviver e a violência nas escolas. In: II SEMINÁRIO DE PEDAGOGIA E NORMAL SUPERIOR DA UNIVER-SIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA, Brasília, 6 nov. 2003. Apresentação. Brasília: UCB, 2003. (mimeo). 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Brasileiro.Disponível.emacesso em: 03/08/2012 APÊNDICE 96 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título da Pesquisa. Um Estudo de caso sobre o bullying na percepção das alunas do curso de Serviço da Faculdade Cearense nos anos de 2011.1 a 2013.2. Pesquisador. Sandra Regina Freitas de Sousa Orientador: Prof. Walter Barbosa Lacerda Filho O Sr. (Sra.) está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa que tem como finalidade analisar a Tal pesquisa é requisito para a conclusão do curso de Bacharelado em Serviço Social pela Faculdade Cearense. Ao participar deste estudo, o Sr. (Sra.) permitirá que o pesquisador utilize suas informações para a realização desta pesquisa. Entretanto, os dados obtidos serão mantidos em sigilo, somente o pesquisador e sua orientadora terão conhecimento dos dados. O participante tem a liberdade de desistir a qualquer momento do estudo caso julgue necessário, sem qualquer prejuízo. A qualquer momento poderá pedir maiores esclarecimentos sobre a pesquisa através do telefone do pesquisador. O maior benefício para o participante será a sua contribuição pessoal para o desenvolvimento de um estudo científico de grande importância, onde o pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos. O Sr. (Sra.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação. Após estes esclarecimentos, solicito o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. Tendo em vista os esclarecimentos apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa Um Estudo de caso sobre o bullying na percepção das alunas do curso de Serviço da Faculdade Cearense nos anos de 2011.1 A 2013.2 ____________________________________________ Assinatura do participante _____________________________________ Assinatura do pesquisador ANEXOS 97 Anexo-01 QUESTIONÁRIO- ALUNAS Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas apenas para fins acadêmicos, sendo constituintes da monografia em Serviço Social em processo. Garanto que sua identidade será preservada por meio do anonimato, conforme os princípios éticos em pesquisa. Nº: ____ Data: ___/___/___ 1- DADOS PESSOAIS Semestre: Estado civil: Tem filhos: Trabalha: Idade: INFORMAÇÃO SOBRE CONHECIMENTO DO "BULLYING" 1) Qual sua percepção quanto ao bullying? 2) Na sua opinião, existe bullying na graduação? 3) Já sofreu bullying? 4) Se sofreu, foi em que local? Anexo-02 98 QUESTIONÁRIO/PROFESSORAS Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas apenas para fins acadêmicos, sendo constituintes da monografia em Serviço Social em processo. Garanto que sua identidade será preservada por meio do anonimato, conforme os princípios éticos em pesquisa. Entrevista nº: ____ Data: ___/___/___ Duração:______ Gravação: ____ DADOS PESSOAIS 1) Estado civil: 2) Trabalha 3) Idade: 4) Naturalidade: Informação sobre conhecimento do "bullying" 1) Na sua opinião, existe bullying na graduação? 2) Se existir, chegou a presenciar algum fato? 3) Já vitimou algum aluno? 4) O você faz para ajuda a vítima?de estudo, estando necessariamente ligada ao quadro teórico proposto pela pesquisa, segundo Gondim (1999). Para Minayo (1993), a pesquisa é o fenômeno de aproximação sucessiva da realidade, efetuando uma combinação particular entre teorias e dados colhidos à realidade. A pesquisa qualitativa irá responder a questões muito particulares sobre o modo como os fenômenos encontram, enfim, o próprio sentido. Segundo Minayo (1993), melhor esclarecendo o caráter qualitativo que se impõe à pesquisa em mira, este se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Nesse sentido, a pesquisa qualitativa permitirá uma melhor compreensão da participação das alunas e professores, na definição ou não do fenômeno tornado objeto de pesquisa, a exigir a caracterização bem como a interpretação de suas questões particulares. A 20 pesquisa quantitativa irá se configurar com a aplicação do instrumento do questionário em relação à amostra então definida a ser inquirida, o que suscita, consequentemente, à tabulação e à tradução dos números, em dados equivalentes a opiniões e informações para serem classificadas e analisadas, considerando as especificidades estatísticas, a uma mais adequada interpretação dos mesmos. O presente estudo teve por objetivo analisar as expressões do bullying no curso de Serviço social, bem como a compreensão das respectivas alunas do curso então tomado por universo amostral de pesquisa sobre sua ocorrência. O universo pesquisado foi de 625 alunas e professoras. Foram aplicados 50 entrevistas com as alunas que se identificaram como vítima do bullying e 25 professoras. Aplicou-se questionários em 20% do universo pesquisado (a amostra). Foi marcando com um X os questionários das alunas apontadas como supostas agressoras de violência psicológicas para colher informações compreender sua posição perante as alunas que se dizem vítimas do bullying. Os sujeitos pesquisados foram as 100 alunas e 25 professoras do curso de Serviço Social, do primeiro ao oitavo semestre, nos anos de 2011.1 a 2013.2, tendo como campo de pesquisa o curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, Instituição de Ensino Superior – IES. O presente trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro discorre sobre relações humanas e a violência psicológica no contexto da sociedade contemporânea, dividido em categorias e aspectos que explicam o conceito quanto a dinâmica do fenômeno bullying, discorrendo, pois, desde a história do bullying, os envolvidos, os locais e, até, suas consequências. Dar-se destaque para o tópico da vitimização que fara a caracterização das vítimas encontradas pela pesquisa. O segundo trata o fenômeno bullying na dinâmica interpessoal no espaço institucional de uma Instituição de Ensino Superior –IES, dedicando-se a descrever a tipologia das vítimas, dos envolvidos (se de forma direta ou indireta no fenômeno bullying), além de descrever o atual contexto da educação moderna e o modo como a instituição se faz envolvida neste contexto. São explanadas as consequências ocasionadas pelo bullying no curso de Serviço social, tanto em quem o pratica, quanto na vítima. Destacam-se quatros tópicos (Inteligência para entender a superação ou a acomodação; Teoria da burocracia para a compreensão de liderança e organização de grupo; liderança como relação funcional entre líderes e subordinados explicando os grupos) que serão relevantes para explicar como se organiza os grupos na sala de aula, como os lideres exercem influência sobre os 21 liderados, a inteligência como superação e organização de grupo. Isso porque pela pesquisa o bullying acontece dentro da sala de aula, mas não como um todo, ela é dividida em pequenos grupos, nesses pequenos grupos se levanta um líder (o agressor) que influencia os demais membros da equipe (não são todos) que passa a vitimizar um dos membros. No terceiro capítulo, desenvolve-se todo o percurso metodológico da pesquisa, bem como a análise dos dados nela contida, como a discussão da relação interpessoal entre eventuais vítimas e agressores, e, ainda, uma breve avaliação sobre o entendimento quanto ao bullying pelo corpo docente da instituição pesquisada. O Serviço Social é uma profissão que tem um sentido educativo de transformar consciências, de favorecer novos discursos, de orientar as relações grupais e interpessoais. Assim, a mediação do assistente social é uma ação transmissora de informações, que trabalha com a consciência, e com a linguagem que é o esteio por excelência em que se dá a relação social (MARTINELLI, 1998). Pensando na importância social do tema, toma-se a ousadia em abordá-lo mesmo sendo tão pouco explorado no âmbito de uma IES, e também pela dificuldade em encontrar materiais para a fundamentação de dados pesquisados (Google Acadêmico, Scielo, bibliotecas, portal da CAPES) Trabalhos que enfocassem as prováveis contribuições do assistente social no enfrentamento do fenômeno bullying. Ainda assim, confrontou-se as dificuldades com a esperança de que este trabalho possa contribuir com os/as assistentes sociais e instituições de ensinos no enfrentamento, mediação e na diminuição deste problema social que atinge desde crianças, adolescentes e adultos (que, no presente caso, compõem a amostra pesquisada) no Brasil e no mundo. 22 CAPÍTULO I As relações humanas e violência psicológica no contexto da sociedade contemporânea Quanto à discussão do fenômeno bullying, optou-se por apresentá-lo em função dos vários aspectos por ele implicados (conceito de bullying, caracterização do bullying, tipos de bullying, personagens do bullying, consequências do bullying, vitimização, violência e preconceito), a justificar, pois, as diferentes seções que dão corpo ao presente capítulo, ainda que se reconheça que nem todos têm o mesmo peso na definição do fenômeno em questão, mas que, todavia, revelam conexão direta com os elementos definidores do fenômeno bullying. Dá-se destaque para a vitimização que irá caracterizar os tipos de vítimas encontrados pela pesquisa. 1.1 Bullying No cotidiano das instituições de ensino, públicas ou privadas, flagram-se variadas formas de violência, que, pois, tipificam o nosso tempo e que, muitas vezes, ficam ocultadas. Neste sentido, alunos vivem situações humilhantes, como apelidos, ameaças, humilhações, gozações, brincadeiras de mau gosto, fofocas, provocação, chantagens e agressões físicas. Quando isto acontece, a vítima, em geral, procura isolar-se, dando ocasião à depressão, preferindo manter o silêncio, tentando evitar o próximo ataque ou com medo da próxima manifestação do agressor. Estas características fazem parte do universo institucional tanto infanto-juvenil como acadêmico. Com efeito, é de grande importância que o fenômeno bullying seja estudado e compreendido por docentes e discentes para que estes adquiriram conhecimento e juntos discutam uma forma mais eficaz de combatê-lo. Faz-se necessário estudar historicamente o fenômeno para poder entendê-lo em suas manifestações. Segundo Fante, os estudos referentes ao bullying tiveram início nos anos 1970 com professor Olweus na Universidade de Bergen – Noruega, enquanto no restante da Europa o início foi bem mais tarde, na década de 1990. Ela relata o histórico do bullying em seu livro “Fenômeno Bullying”, trazendo o relato do professor Dan Olweus que firmou os critérios para a percepção do fenômeno que tem características específicas, buscando diferenciá-lo de outras formas de violência, específicas, agora, ao processo de amadurecimento do indivíduo. O 23 professor desenvolveu diversos estudos e pesquisas que culminaram com um livro “Bullying at School”, que veio a favorecer diversos países, inclusive o Brasil, no entendimento do fenômeno em mira (FANTE, 2005). A AssociaçãoBrasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA) realizou um estudo em 2002 e uma pesquisa em 2003, no município do Rio de Janeiro, revelando que, nas escolas brasileiras, o bullying apresenta índices superiores aos países europeus. O IBOPE, junto com ABRAPIA, no Rio de Janeiro, consultou 5428 alunos da 5° a 8° série de 11 escolas do Rio de Janeiro, sendo 09 municipais e 02 particulares. A idade dos entrevistados manteve- se no intervalo de 13 a 17 anos. 28,03% dos entrevistados admitiram ter sido alvo de bullying no período da pesquisa, acontecendo, conforme os relatos colhidos na pesquisa, várias vezes por semana, cuja repetição dos atos de bullying é reportada por 15% dos alunos consultados. Os tipos de bullying mais frequentes foram os apelidos, com 54,2%, agressão, com 16,1%, difamação, com 11,8%, ameaças, com 8,5%, pegar pertences com 4,7% (ABRAPIA, 2003. p.44). Rachel Simmons (2004), professora norte-americana e, inclusive, vítima de bullying em sua infância, dedicou-se a pesquisar sobre o fenômeno, e deparou-se com a escassez de informação sobre o assunto, e a total ausência de textos, livros ou estudos relacionados a pré-adolescentes (infantojuvenil de 7 a 15). Depois de muitas pesquisas, Simmons (2002), docente e pesquisadora da Universidade de Oxford, publicou, em 2002, o livro “Garotas fora do Jogo: a cultura oculta da agressão nas meninas”. Neste livro, a autora defende que a criação influencia nas atitudes agressivas das meninas. Como primeira coordenada para o entendimento da questão, as palavras da autora esclarecem: “Isso é uma das coisas mais importante que eu tentei transmitir no livro. A razão pela qual a raiva das meninas parece ser diferente é porque há muitas regras contra isso. Elas crescem aprendendo a serem gentis o tempo todo, a sorrir e a fazer amizade com pessoas. Quando se cresce aprendendo isso, é preciso esconder os verdadeiros sentimentos que surgem na hora da raiva. As meninas têm os mesmos sentimentos dos meninos, sim, mas precisam esconder isso por causa das proibições. O que sobra, na hora de colocar tudo isso para fora, é fazer comentários, disfarçar, fingir que não estão com raiva quando, na verdade, estão. Elas têm que usar os relacionamentos para ferir os outros, ao invés de usar métodos mais convencionais, geralmente associados aos garotos” (SIMMONS, 2004, p.32). 24 Tomando-se o ponto de vista de Simmons como apoio teórico, tem-se uma primeira explicação: na infância, as meninas são reprimidas com regras e imposições quanto à demonstração dos sentimentos de violência, raiva, ódio, os quais não devem, em geral, ser tornados públicos. Isso traz à tona a amostra da presente pesquisa, que é exclusivamente feminino e no âmbito de uma instituição de ensino superior. Distinguindo-se, porém, que, no caso de Simmons, tratou das meninas entre a infância e a adolescência na escola, e o trabalho ora em desenvolvimento abordou mulheres adultas no espaço de uma IES, devido a amostra masculina ser muito pequena no turno da manhã, e por se tratar de violência entre mulheres em um curso que as prepara para lidarem com as diferenças. É nesse universo adulto e feminino que, diferente das meninas, estas mulheres, já familiarizadas em disfarçar seus sentimentos violentos, conforme se faz supor pelas próprias palavras de Simmons, tornam as agressões, dentro da IES pesquisada, de natureza eminentemente psicológica, sendo, portanto, mais sutis, o que dificulta o seu reconhecimento. De acordo com as palavras acima de Simmons, é uma violência que se disfarça em brincadeiras que humilham e inibem os sentimentos das companheiras de sala de aula entre olhares e sorrisos “inocentes”. A diferença das meninas, é que agora elas, como pressuposto a todo adulto, têm consciência das atitudes que estão tomando, podem falar, gritar e liberar sua raiva latente. Porém, continuam reproduzindo este comportamento construído num conceito estereotipado do universo feminino, mascarando seus verdadeiros sentimentos, não demonstrando as fragilidades de sua personalidade e de seu caráter violento. Amplamente cobradas pela sociedade, elas utilizam desses subterfúgios para liberar seus verdadeiros sentimentos e, ainda, permanecendo com suas reputações intactas em conformidade com o estereótipo esperado delas (DÓRIAS, 1962, p.34). Devido à falta de literatura específica para caracterizar as vítimas do bullying em uma graduação do ensino superior, determinou-se inicialmente que Fante, Silva e Simmons comporiam o embasamento teórico da presente pesquisa. O termo bullying, tomado em empréstimo para o trabalho, decorre de sua conotação e aplicação em um âmbito educacional. Serve-se, provisoriamente, do 25 termo pela conveniência e analogia que, até certo ponto, se dá entre a escola e uma IES. Não dispondo até o momento de melhor termo que pudesse caracterizar a violência psicológica e silenciosa sofrida por dezenas de alunas no contexto acadêmico, em um curso de presença majoritária de mulheres, adotou-se o termo bullying para sua observação e, pois, discursão. As características usadas pelas autoras estão relacionadas ao público infantojuvenil, apesar de que muitas delas também são encontradas nas referidas vítimas pesquisadas. Por se tratar de pessoas adultas, fez-se necessário pesquisar as vítimas sob a perspectiva do atual direito, e encontrando-se, mais precisamente, no código penal os tipos de vitimização, consequentemente, tornou-se uma fonte que subsidiou e ajudou a definir as vítimas pesquisadas. (Ver vitimização). E com a descrição acima se percebe que o bullying é um ato tipificado como ilícito e que se manifesta de forma silenciosa e perversa. Quando ele mostra a “cara”, é porque o estrago produzido não tem mais como ficar oculto, porém, esse delito não é ainda encarado enquanto tal, porque O Brasil não possui nenhuma lei especifica para combatê-lo, mas, pode-se ver no tipo de vítimas caracterizada na vitimização, que pode sim fazer uso da lei e processar o agressor definindo o tipo de agressão em que a vítimas se enquadra. Nesse sentido, ter-se-ia tão-somente um primeiro esforço de compor uma legislação específica sobre o tema, conforme as informações então disponíveis ao portal de notícias G1: Um projeto de lei sugere que as ações de combate ao bullying sejam detalhadas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. O projeto aguarda votação na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. A proposta, de autoria do senador Gim Argello (PTB-DF), quer incluir entre as incumbências dos estabelecimentos de ensino a promoção de ambiente escolar seguro e a adoção de estratégias de prevenção e combate a intimidações e agressões. (G1 Educação, 2011)1 Percebem-se atitudes no combate ao bullying por parte de alguns estados e municípios que criaram leis educativas para escolas públicas e privadas, como, por exemplo, no Rio Grande do Sul (G1 Educação, 2011). 1 País não tem lei federal específica para o combate ao bullying, é uma matéria do G1 Educação sem autoria, pode ser encontrada no site: http://g1.globo.com/educacao/noticia/2011/03/paisnao-tem- leifederal-especifica-para-o-combate-ao-bullying.html 26 Foi aprovada, no Rio de Janeiro, uma lei ao ano de 2011 que prever penalidade das escolas que não denunciarem o agressor do bullying (G1 Educação, 2011). 1.2. Caracterização do Bullying O vocábulo bullying de língua inglesa, sem tradução literal para o português, foi acolhido por diversos países, é aproveitado para nomear os atos de violência física2 ou psicológica, repetidos e de maneira intencional, exercido por um indivíduo ou por um grupo. Com o intuito de amedrontar ou acometer outro indivíduo incapaz de defender-se, entretanto, subsistem os autores/alvose as vítimas/agressoras que, em certos momentos, cometem agressões, em outros serem vítimas. (FANTE, 2005). Silva defende que o “termo bullying pode ser adotado para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, proposital e sistemático inerente as relações interpessoais”. (SILVA, 2010, p.28). O que se circunscreve desde a provocação, as risadinhas com intenção maldosa, fofocas, os apelidos ofensivos, até as formas de violência físicas. Distingue-se, conforme a autora, por estes atos cinco modalidade de bullying: 1) físico, 2) verbal (falar mal, apelidar etc.), 3) psicológico (ameaçar, intimidar e perseguir; etc.); 4) moral (caluniar, difamar e discriminar, etc.) e 5) material (subtrair ou danificar os pertences da eventual vítima) (SILVA, 2010). É comum as vítimas apresentarem alguns sintomas como isolamento, mudança de humor, perda de atenção, queda do rendimento escolar, pânico associado a escola, estresse, sentimento de negatividade, rejeição, pessimismo e até, ideias suicidas (MELO, 2010, p.128). Sintomas estes descritos pelos autores que tomaram o fenômeno bullying, como objeto de estudo e, ainda, observado na maioria dos relatos colhidos pela pesquisa. Pode-se dizer que, hoje, o bullying é universalmente conhecido, concorrendo então em diversas concepções e definições para ele. Para Fante (2005): bullying é um aglomerado de atitudes violentas, intencionais e repetitivas que acontecem sem motivação aparente, cometido por um ou mais 2 Na pesquisa não teve relatos de agressão física no âmbito acadêmico, por esse motivo os relatos citados pelos autores não serão levado em conta nesse trabalho. 27 alunos contra outro, que causa dor física ou emocional (sofrimento), apelido, injustiça, insultos, intimidações, gozações que magoam, difamações injustas, atuação de grupos hostilizadores, infernizando, ridicularizando e excluindo a vítima, “além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento bullying” (FANTE, 2005, p.33-34) A agressividade no comportamento, conforme os achados da autoras citadas do agressor, seria uma imitação de um comportamento ambicioso, que busca atingir seus objetivos a qualquer preço, indiferentemente se isto infringe as normas morais, ou mesmo inibem os direitos dos outros. Esse tipo de comportamento é sempre negativo, e as vítimas destas pessoas acabam por se sentirem magoadas, feridas e passam a evita-las. Pode-se definir bullying, como sendo diversas formas de atitudes com caráter agressivo, intencional e recorrente, que ocorrem sem motivo aparente, expressas por um ou mais alunos contra uma pessoa, causando angústia e dor, executadas no centro de uma relação desarmônica de poder. No entanto, as ações repetidas entre os estudantes e o desequilíbrio de poder são as particularidades fundamentais, que tornam viável o amedrontamento da vítima (ABRAPIA, 2003) Confrontando-se as definições de Fante, Silva, Simmons e ABRAPIA sobre o bullying, evidencia-se a concordância dos termos das quatro fontes então consultadas. O que favorece, pois, a sua descrição sem maiores divergências. As circunstâncias de bullying dão ocasião às formas: Psicológica – é ofender, zoar, colocar apelidos, gozar, dominar, perseguir, intimidar, assediar, ignorar, tiranizar, infligir sofrimento, amedrontar, “sacanear”, humilhar, aterrorizar, discriminar, excluir e isolar. Na física: agredir, chutar, quebrar objetos pessoais, bater, empurrar, ferir, roubar, entre outros. Silva ressalta que soco, agressões, chute, ameaças, insultos, ostracismo, sexualização, ofensas raciais, étnicas ou de gêneros são também aspectos observados para caracterizar o bullying (SILVA, 2010. p.45). Fante e Pedra, explicam que o fenômeno é uma pandemia psicossocial que acarreta consequências graves. O que, aparentemente, pode parecer como algo inofensivo, o ato de se colocar um simples apelido inocente pode sob outro ângulo tornar objeto de atitudes de agressão emocional e física para outras pessoas, mudando o centro da agressão e o ponto de vista de agressor para vítima. As vítimas que sofrem humilhações difamatórias, racistas ou segregadora geralmente apresentam queda do rendimento escolar, “somatiza este sofrimento em doenças 28 psicossomáticas e passam a apresentar algum tipo de trauma que modifica traços de sua personalidade” (FANTE e PEDRA, 2008, p.33). Observa-se, também, uma transformação no comportamento. As vítimas costumam se isolar, passam a agir com agressividade ou passividade, inventando sempre um motivo para não ir à escola. (FANTE e PEDRA, 2008). Esta característica de simular problemas para fugir da perseguição dos colegas não existe apenas no infanto-juvenil. Identificou-se na pesquisa que as alunas da graduação que relataram ser vítimas do bullying possuem um histórico de somatização de doenças (descrito no terceiro capitulo), sendo que algumas alunas com o tempo e o agravamento do bullying passam a apresentar alguma “doença psicossomática”, e justificam suas faltas com atestados, assim minimizam o tempo de contato com seus eventuais agressores. Silva expõe, em seu trabalho de mestrado, que as simples “brincadeirinhas de mau-gosto”, assim chamadas antes da palavra inglesa, para caracterizar a violência, em geral, em um ambiente escolar, bullying, podem tomar forma em diversas situações. Desde simples problemas de aprendizagem até graves perturbações de comportamentos, responsáveis pelo crescente índice do fenômeno entre os estudantes (SILVA, 2006). Segundo Okada, em seu artigo “Falta preparo nas escolas”, explica: ela não quer dizer que todas as escolas não estão preparadas, nos contatos que teve, observou que os docentes gozam de um total despreparo para lidar com o bullying. Ela sentencia, em um outro artigo, concordando com Nelson P. Silva, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e especialista em bullying, que as escolas “não estão preparados para lidar com a indisciplina". Ele alerta que a saída não está apenas no âmbito educacional: "tem que lembrar que o problema superou a escola” (OKADA, 2011). Se este problema acontece dentro de uma Instituição de Ensino Superior- IES, ele não é um problema, simplesmente, ele não existe, é desconhecido dentro de diferentes setores da Faculdade Cearense. Primeiro porque a vítima não denuncia, não quer expor sua fraqueza diante de outras pessoas. Segundo que a própria instituição não tem nenhuma forma de combater esse fenômeno. E por fim, a instituição evita qualquer exposição que possa manchar seu nome. Assim, prevalece a omissão de todos os envolvidos. 29 O reconhecimento da existência pelas partes envolvidas (docentes, discentes, e a IES como um todo) faz-se obstruído pela falta de comprovação dessa violência em um ambiente que todos são considerados adultos e, ainda, por entender-se que o bullying é uma característica apenas infantojuvenil. Se o bullying está presente em diversas áreas da vida pessoal, profissional e até mesmo familiar porque não existiria em uma graduação de IES? 1.3. Os tipos de Bullying. Embora tenha se propagado e notabilizado no ambiente escolar, o bullying está presente, de uma forma ou de outra, em nossas vidas, e em algum momento da vida qualquer um pode se tornar uma vítima. Ela aparece na relação entre pares, em que, mesmo não havendo formalmente uma hierarquia entre os membros de um determinado grupo, instala-se, por via informal, uma hierarquia onde um é superior ao restante do grupo, dando origem, pois, a um uso abusivo deste poder no grupo. Está presente na convivência entre patrão e empregado, de colegas que desejam atacar o outro, tornando-o assim inferiorizado. Para Fante, o bullying pode ser encontrado em vários contextos: “nas famílias, nas escolas, noscondomínios residenciais, nos clubes, nas igrejas, locais de trabalho, enfim, onde tiver mais de duas pessoas reunidas e a relação interpessoal se fazendo presente” (FANTE, 2005, p.30). Torna-se relevante abordar outros tipos de bullying, mesmo que nem todos os tipos tenham sido abordados na pesquisa, para uma compreensão de todas as suas variações, e saber que, em certo sentido, são resultantes de uma cultura de dominação gestada pela sociedade que ora se vive. 1.3.1. O Bullying doméstico Tem sua ocorrência no seio familiar. A pessoa que detém o poder familiar pode exercê-lo de forma a aniquilar psicologicamente os demais membros da família. São os casos de abuso de poder de um cônjuge sobre o outro, dos pais contra os filhos. Pode ser feito uso da pressão psicológica, física ou financeira. De acordo com Fante, “a criança reproduz na escola como em um círculo vicioso as formas de dominação que lhes são tão familiares” (FANTE E PEDRA, 2008, p.34). 30 Trazendo para a pesquisa, obtém-se, com isso, um importante apoio para a observação: as mulheres que em sua vida diária conviveram ou convivem com marido, pai, ou qualquer pessoa que a tenha coagido de alguma forma, pode reproduzir esta mesma conduta de forma a obter qualquer coisa do seu interesse através de atitudes coercitivas psicologicamente. 1.3.2. Bullying no ambiente de trabalho ou assédio moral Mais conhecido como assédio moral, acontece no ambiente de trabalho, consiste em situações em que um ou mais funcionários são subjugados, reiteradamente, por ações negativas, como humilhação, discriminação e maus-tratos no ambiente de trabalho, sem condições de defesa, constituindo-se em afronta à dignidade. Também é conhecido na Europa como mobbing3, termo usado para definir relação onde tem abuso de poder em ambiente de trabalho. (SILVA, 2010). No Brasil, o assunto ganhou força com a publicação de Barreto (2006), a autora deu ênfase em dizer que a maioria desconhece as consequências deixadas pelo assédio moral. Cabe ressaltar que, como o bullying ele se manifesta de força sutil e silenciosa, é difícil ser identificado. (BARRETO, 2006) No programa Globo Repórter do dia 18.10.2013, foi levado ao ar o programa com o tema bullying e perseguição. Uma das entrevistadas, identificada por Talita, fez o relato de como passou a ser perseguida por alguns “amigos de trabalho” devido a um problema que surgiu em sua pele, e essa perseguição psicológica durou mais de um ano. Após ter superado o problema, configurado como transtorno emocional, alcançou uma condição de vida relativamente normal. No entanto, a moça ainda sofre a cada vez que volta a pensar no ocorrido, a sua voz fica embargada e as lagrimas escorrem volumosamente pelo seu rosto. Essa matéria vem mostrar que não importa o nome dado ao constrangimento sofrido: bullying, assédio moral, bullying doméstico, etc. Todos deixam feridas abertas ou cicatrizes profundas4 (Globo Repórter 2013). 3 Mobbing é uma violência moral ou psíquica no trabalho: atos, atitudes ou comportamentos de violência moral ou psíquica em situação de trabalho, repetidos ao longo do tempo de maneira sistemática ou habitual, que levam à degradação das condições de trabalho idôneo, comprometendo a saúde ou o profissionalismo ou ainda a dignidade do trabalho. 4 Bullying: Globo Repórter fala sobre casos de perseguição e discriminação. Disponível em: http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-reporter/v/globo-reporter-bullying-18102013/2898970/ 31 Como descrito o termo bullying comumente usados para fazer referências a violência psicológica ou física em diversos ambientes, no momento em que se modifica o ambiente sua denominação muda. 1.3.3. Bullying virtual ou Cyberbullying Nos dias atuais a tecnologia está sendo usada de forma errônea, ou, no mínimo, problemática entre uma parte considerável dos estudantes. Eles passaram a utilizar os meios eletrônicos com a intenção coercitiva de constranger, maltratar e humilhar o próximo. Oportunizam-se então as palavras de Silva: O Cyberbullying é uma extensão do bullying escolar, sendo virtual. (...) ele começa na sala de aula e expande-se até a redes sociais (...) através dos recursos oferecidos como: E-mail, MSN, Orkut, Youtube, Skype, Facebook... valendo-se do anonimato. (SILVA, 2010, p.125- 128). O Cyberbullying: “Na sua prática utilizam-se as modernas ferramentas da internet e de outras tecnologia de informação e comunicação moveis ou fixas, com o intuito de maltratar, humilhar e constranger. É uma forma de ataque perversa, que extrapola os muros das escolas, ganhando dimensões incalculáveis; A diferença está nos métodos e ferramentas utilizados pelo praticante. O bullying ocorre no mundo real em quanto o cyberbullying ocorre no mundo virtual. Geralmente, nas demais formas de maus tratos, a vítima conhece seu agressor, sejam os ataques diretos ou indiretos. No cyberbullying, os agressores se movimentam pelo “anonimato”, valendo-se de nomes falsos, apelidos ou fazendo-se passar por outra” (FANTE e PEDRA 2008, p.65): Cyberbullying é um conjunto de comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos, a partir de mensagens instantâneas, em um espaço virtual ilimitado, dificultando a defesa, ou seja, é um fenômeno que transfere para a internet as agressões típicas que estudantes mais frágeis ou mais visados sofrem dentro dos muros da escola. 1.4. Personagens do bullying 32 1.4.1 As Vítimas segundo os autores pesquisados Segundo Fante (2005), são três as vítimas do bullying e se caracterizam por: 1) vítimas provocadoras: provocam e atraem reações agressivas de forma tal que não conseguem lidar com as consequências. Elas possuem “gênio ruim”, brigam e respondem quando são atacadas ou insultadas, nunca de maneira eficaz, normalmente são inquietas, hiperativas, dispersivas, e ofensoras, de forma geral são tolas, imaturas, de costumes irritantes. 2) são as vítimas agressoras: reproduzem os maus-tratos sofridos anteriormente, os alunos que possuem um histórico de sofrimento na escola em anos anteriores, e tende a buscar indivíduos mais frágeis para transforma-los em bodes expiatórios, na tentativa de transferir os maus-tratos sofridos. (FANTE, 2005, p.71). Esta tendência tem sido evidenciada entre as vítimas, fazendo com que o bullying se transforme em uma dinâmica expansiva, cujo resultado incide no aumento do número de vítimas. E, por fim, 3) a vítima típica: é aquela que serve de bode expiatório para grupo. A vítima típica é um indivíduo (ou grupo de indivíduo), geralmente pouco sociável, que sofre repetidamente as consequências dos comportamentos agressivos de outros e que não dispõe de recursos, status ou habilidade para reagir ou fazer cessar estas condutas prejudiciais (FANTE, 2005, p.72). Suas características mais comuns são: aspecto físico mais frágil, medo de que lhe causem danos, são fisicamente ineficazes no esporte, em competições e brigas; baixa estima, tem alguma deficiência física, passividade, submissão, insegurança, timidez e dificuldade de aprendizado. Em muitos casos, relacionam-se melhor com pessoas adultas do que com seus companheiros. Sentem dificuldade para impor e explanar seus pensamentos ao grupo, tanto fisicamente como verbalmente, e tem uma conduta habitual não agressiva, motivo pela qual parece, para ao agressor que ela não irá revidar caso atacada, tornando-se uma aparente “presa fácil” para o seu abuso (FANTE, 2005, p. 93) O perfil das vítimas para Fante e Silva é semelhante na maioria dos casos: as vítimas, em geral, não reagem às provocações e não possuem coragem para pedir auxílio aos docentes ou amigos. Possuem vergonha e medo de falar para os colegas, os que não fazem parte do grupo e que não estão envolvidos nas“brincadeiras”, também apresentam aspecto frágil, inseguro, choram com facilidade, 33 são tímidos, pacíficos, altamente submissos, com autoestima muito baixa, têm dificuldades no aprendizado, são ansiosos e se isolam do restante da turma. Também, “Pode ser inquieta, hiperativa, dispersiva, imatura, ofensora e tola, com modos irritantes e na maioria das vezes, é o autor das tensões no local em que se encontra.” (FANTE, 2005, p.72). Essas são características das vítimas infantojuvenil. A ABRAPIA também contribui na caracterização das vítimas do bullying: Os alvos são pessoas ou grupos que são prejudicados ou que sofrem as consequências dos comportamentos de outros e que não dispõem de recursos, status ou habilidades para reagir ou fazer cessar os atos danosos contra si. São, geralmente, pouco sociáveis. Um forte sentimento de insegurança os impede de solicitar ajuda. São pessoas sem esperança quanto às possibilidades de se adequarem ao grupo. Possuem uma baixa autoestima, tem poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos. Muitos passam a ter baixo desempenho escolar, resistem ou recusam-se a ir à escola, chegando a simular doenças. Trocam de colégio com frequência, ou abandonam os estudos. Há jovens que estrema depressão acabam tentando ou cometendo o suicídio (ABRAPIA, 2003- p.12) Fante explica que a agressão pode ter diversos motivos como o preconceito que envolve as relações humana, por raça, cor, fragilidade, deficiência, timidez, dificuldade intelectual, magreza, nanismo, sexualidade etc. (FANTE, 2005). Para compreender o motivo desta ocorrência, é necessário reconhecer que, em uma a sala de aula, os grupos, em geral, são formados por afinidade, onde se encontram diferentes pessoas, muito embora reunidas por um objetivo comum, a defender interesses, não raro, contraditórios entre si. Pode-se afirmar que relacionamento é uma troca, dar e receber ao mesmo tempo, é aceitar e fazer-se aceito, é abrir-se para o novo, é entender-se com e pelo outro. Esta aceitação se faz pela habilidade de saber ouvir e falar ao outro. É colocar-se no lugar do próximo. Todo ser humano tem necessidade de se sentir querido, valoroso, aceito, desejado, legitimado e importante para isso é necessário saber se relacionar. Precisa de tal maneira dessa aceitação que praticamente se vive em função disso. E é nessa troca com o próximo que se pode ou não se sentir aceito. Por isto, uma boa relação interpessoal é fundamental para garantir bons relacionamentos. E quando estes se quebram por algum motivo, aparecem os conflitos e muitas pessoas descobrem não estarem preparadas para viverem com 34 esses laços quebrados, tentando, de alguma forma, mantê-los sem perceberem que as consequências são duras, cruéis e destrutivas, conforme a caracterização da dissolução de um relacionamento que se encontra em Dória (1962). Weinten (2002) destaca três aspectos para o entendimento da dinâmica emocional: 1) o cognitivo: pensamentos, crenças e expectativas que determinam o tipo de intensidade da resposta emocional. Para a maioria das pessoas, brincadeira de mau gosto é encarada com certa naturalidade e superação. Mas para as vítimas do bullying, ou qualquer outro tipo de violência que envolve o emocional, elas são destrutivas, chegando a provocar doenças físicas e emocionais. 2) Fisiológico: mudanças físicas internas no organismo, resultantes de alerta emocional. Quando estamos emocionalmente alerta por causa do medo, raiva, por exemplo, o coração acelera, as pupilas dilatam e a respiração se altera. E por fim, 3) Comportamental: são sinais externos das emoções que estão sendo vivenciadas. Expressão facial, postura corporal, gestos e tom da voz variam de acordo com a raiva, alegria, a tristeza e outras emoções (WEINTEN, 2002, p. 232-233). Segundo Dória, a afetividade está ligada a inclinações. Prazer, dor, emoções, sentimento de paixão. A vida humana que se desenvolve afetivamente começa pela problemática do prazer e da dor, forças vitais, irredutíveis um a outra. Ainda se pode incluir o estado psicológico violento capaz de provocar um rompimento brusco do equilíbrio fisiológico e psicológico, causando profundas desordens somáticas e psíquicas. O adulto deverá ser, portanto, menos cíclico, isto é, ter menos pico de depressão emotiva; ser mais constante emocionalmente, enquanto maduro deverá também mobilizar emoções, sempre que possível, em congruência com as circunstâncias vividas. Nesse sentido, dispõem-se as palavras de Dória: Não necessariamente a maturidade emocional acompanha a idade cronológica. Há adultos que se fixaram na face infantil do desenvolvimento da maturidade, isso é, sentem extrema necessidade de sempre serem o centro de atenção dos demais. Outro adulto, portanto, podem também ter fixado sua maturidade emocional na face adolescente. Seus estado emocional é bipolar, isto é, trazem grande alterações de entusiasmos e prazer e de grande depressão e de dor (DÓRIA, 1962, p.15). Amadurecimento emocional não é fácil de ser atingido, uma vez que ele pressupõe que as pessoas aprendam e capitalizem a partir de suas experiências 35 vividas, e, assim, possam evoluir à medida que o tempo passa e novas experiências são continuamente incorporadas às demais (SIMMONS, 2004, p.25). 1.4.2. Os Agressores Silva relata que não é apenas no ambiente escolar que o agressor pode ser reconhecido. No ambiente doméstico, em que se reconstitui a dinâmica psicológica dos personagens circunscritos pelo bullying, “os pais manipulam os sentimentos e a vidas dos filhos para satisfazerem seu ego” (SILVA, 2010, p.28). Para Fante, o agressor ou bullie é garoto (a) valentão que intimida os mais fracos, vitimando-os. Ele procura apresentar-se mais forte que seus colegas e suas vítimas. Tem prazer em subjugar, de se impor e dominar mediante demonstração de poder e ameaças para conseguir o que quer (FANTE, 2005). De acordo com Chalita, o agressor necessita de uma plateia para exibir-se, caso contrário, não teria como agir e manifestar o seu poder. Eles, normalmente, andam em grupos, para ser apoiados e ter com quem dividir a responsabilidade de suas ações, além de manter a continuidade do fenômeno. Esses seguidores do bullie também são devem ser caracterizados como agressores (CHALITA, 2008). Fante propõe como causas para o comportamento abusivo: a carência afetiva, a falta de limites e a afirmação desmedida de poder e de autoridade dos pais sobre os filhos, através de práticas que, em geral, conjugam maus-tratos físicos e chantagens emocionais violentas (FANTE, 2005). Percebe-se que as atitudes de dominação, de superioridade não se limitam ao ambiente familiar, estendem-se a todo o ambiente em redor, no presente contexto, privilegiadamente, ao espaço da escola e sala de aula. Diferentes autores, na área de Educação, Psicologia, Direito, entre outras, descrevem que o agressor, na maioria das vezes, é um líder a reproduzir em sociedade a violência e manipulação aprendida em casa, infligindo a outros os maus tratos sofridos, de forma a demonstrar seu poder de dominação, se fazer notar para ganhar a confiança e o respeito dos amigos ou dos outros alunos. Para Bergamini, essa é a maneira privilegiada que o agressor conhece para lidar com sua insegurança, buscando, dessa maneira, reconhecimento, autoafirmação e satisfação pessoal. É preciso que o líder do pequeno grupo, para a prevenção do que hoje se conhece como bullying, estabeleça uma sistemática de troca praticamente contínua 36 entre eles, para que não haja a necessidade de coerção ou dominação do grupo (BERGAMINI, 2009). Destacando-se agora uma notícia referente ao fenômeno numa IES, conhece- se melhor como os personagens do mesmo encarnam-se concretamente, a partir da seguintemanchete “Faculdade afasta suposta agressora de aluna vítima de bullying”: A universitária suspeita de ter agredido a colega de sala Ana Cláudia Karen Lauer, 20, em Ribeirão, na última sexta-feira, foi afastada ontem pela faculdade. Vítima de bullying depõe sobre agressão em Ribeirão Preto. Após ataque, estudante não quer voltar à faculdade em SP. Estudante é espancada após dizer que era vítima de bullying. A estudante foi suspensa, segundo o Centro Universitário Barão de Mauá, temporariamente, até a comissão de sindicância apurar o fato -o prazo é de 30 dias. Ontem, Ana Cláudia prestou depoimento na DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de Ribeirão. Ela reafirmou a versão de que foi agredida na última sexta-feira depois de ter denunciado à coordenação do curso que sofria bullying. A agressão ocorreu após as aulas, por volta das 12h30, em frente ao Centro Universitário Barão de Mauá. De acordo com Ana Cláudia, uma aluna discutiu com ela na saída da instituição de ensino e outras duas a abordaram quando ela pegava sua moto, do lado de fora. Uma delas pegou um capacete, ainda de acordo com a versão de Ana Cláudia, e bateu na estudante. A jovem teve lesão no rosto e, após exame, constatou-se que não houve fratura no nariz. Ela aguarda o resultado de um exame para saber se dois dentes foram abalados. A partir desse laudo, segundo a delegada da DDM, Lúcia Bocardo Batista Pinto, será possível definir se a lesão foi grave (pena de 1 a 5 anos de prisão) ou leve (3 meses a um ano). Ana Cláudia foi à delegacia acompanhada do pai, o comerciante Paulo Lauer, 57, que disse que a filha tem tomado remédios. 'Ela está indo a uma psicóloga e tomando antidepressivo. Mexeu muito com toda família. A jovem afirmou que não volta para a Barão de Mauá’. A agressora e outras pessoas envolvidas devem ser ouvidas ainda nesta semana. Folha de São Paulo (SOTRATTI, 2011). Por fim, Fante caracteriza os agressores em: 1) Agressor Inteligente: tem muita facilidade em se relacionar, e ganhar a simpatia dentro do grupo; é perspicaz, manipulador e envolve os outros para que cumpram as suas ordens. 2) Agressor pouco Inteligente: apresenta comportamento antissocial; agride e intimida diretamente, aparenta reflexo de autoestima e confiança em si mesmo. 3) Agressor vítima: replica para um outro mais fraco do que ele, as agressões sofrida em casa ou na escola. Eles apresentam, em geral, ausência de empatia com o infortúnio dos 37 outros. Seu comportamento pode gerar sérias consequências destruidoras para si mesmo e para a vítima (FANTE, 2005, p.73) 1.4.3. Os Espectadores Neste fenômeno, encontra-se também o expectador que, para Fante, são os alunos que não sofrem o bullying e nem o praticam. São a grande maioria dos alunos que com medo de se envolverem, preferem o silêncio e a omissão, evitando, assim, se transformarem em uma possível vítima. (FANTE, 2005). Para Ana Beatriz Silva, os expectadores estão divididos em três grupos: 1) expectadores passivos, que não concordam e repelem esse tipo de atitude, são fracos psicologicamente para enfrentar o agressor, e recebem ameaças veladas, e não pretendem tornar-se uma possível vítima preferindo a passividade. 2) os expectadores ativos que não participam ativamente contra a vítima, mas dão “apoio moral” ao agressor, se divertem com a situação; 3) e o expectador neutro, que não demonstra sensibilidade pelas vítimas, normalmente são vítimas de violência em seu meio sociocultural, e se mantém neutro e omisso (SILVA, 2010, p.51) Lopes e Neto relatam que uma boa parte das testemunhas sente antipatia pelos agressores, mas o medo de serem vítimas os impedem de agirem. Assim, sua omissão aumenta e fortalece o comportamento dos agressores, proporcionando o silêncio das testemunhas, onde ninguém quer se envolver, o que encobre os casos de violência. Aspecto importante para o entendimento de como acontece e se perpetua o fenômeno em questão. (LOPES e NETO, 2005). 1.5. Consequências do Bullying Pela caracterização traçada deste fenômeno, constata-se que, quando há a ocorrência do bullying, atitudes devem ser tomadas para que a violência seja interrompida, porém, em muitos casos, as instituições de ensino mostram-se incapazes tanto de reconhecer quanto entender o problema, desta maneira o fenômeno passa, em geral, sem uma adequada compreensão (RESENDE, 1965) Pode-se citar que o bullying está muito presente no cotidiano das instituições, acarretando danos às vítimas, promovendo uma série de prejuízos à saúde e vida 38 das vítimas, desde depressão até bloqueio intelectual etc. (SILVA, 2010). Ele deixa permanecerão ali. São poucas as vítimas que conseguem uma total superação. Nesse contexto, o Globo Repórter apresentou um programa, no dia 18 de novembro de 2013, sobre casos de perseguição e discriminação. Mostrou depoimentos de vítimas com idades e em ambientes diferentes, os expectadores neutros que apoiaram a vítimas e a ajudaram a superar a violência sofrida; mostrou- se uma vítima (mencionada no assédio moral) que superou um problema sério que teve na pele, Só foi possível superar a violência psicológica com apoio dos amigos. Mas toda superação não apaga as cicatrizes da violência, uma minoria consegue falar do ocorrido sem evidenciar profunda dor (GLOBO REPÓRTER, 2011) O bullying tem por consequência desenvolver ou intensificar a insegurança e a dificuldade em manter um relacionamento, favorecendo uma apatia ou inibição, deixando a vítima indefesa, retraída aos ataques do agressor. Possivelmente, esta vítima, em sua vida adulta, carregará uma carga de inferioridade ou negativismo, podendo, com efeito, voltar a ser o alvo de gozações entre colegas. Desenvolve, em geral, como conceito de si mesmo: que não é útil, ninguém sente sua falta, é descartável. Pode desenvolver neuroses, como diversos tipos de fobia inclusive a social, depressão (FANTE, 2005, p.78). Aspecto particularmente sensível, tendo em conta a amostra de sujeitos pesquisados. Silva diz que não há conquista ou sucesso material ou profissional que elimine o infortúnio vivenciado por uma vítima de violência ocasionada pelo bullying, pois deixa uma cicatriz dessa triste experiência, e a “marca tende a ser mais intensa quanto mais cedo ela ocorre (infância) e por quanto mais tempo ela persiste” (SILVA, 2006, p.92) A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, traz: A dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º da nossa Carta Política, e garantir a dignidade da pessoa humana é assegurar ao ser humano direitos básicos e elementares, para que o sujeito não apenas tenha condições de sobreviver, mas sim de ter uma vida digna, ou seja, que possa viver em condições satisfatórias, em paz, com qualidade (BRASIL, 1988). A Constituição existe para garantir os direitos a todos os brasileiros enquanto cidadãos. Porém, o bullying viola o direito à educação, lazer e vida com paz. O que a 39 prática do bullying produz contradiz, portanto, a Constituição, que está a garantir os direitos humanos então violados pela violência inerente ao fenômeno em discussão. Mas as vítimas do bullying se ressentem de uma lei específica que as protejam com termos próprios ao universo de sua existência. Tem-se a educação, conforme a unanimidade dos discursos, como o maior fator do desenvolvimento de um país, deduzindo-se daí que o combate ao bullying, que afasta diversos estudantes do âmbito educacional, contribuirá com a escolaridade da população como um todo (SILVA, 2010). 1.6. Explicando o que é vitimização Faz-se necessário trazer essa categoria para com sua explicação caracterizar os tipos de vítimas encontrados no analise da pesquisa. Para a discussão do assunto, foi necessário recorrer ao Direito e à Psicologia que, solidariamente, explicam, tendo em consideraçãoo código penal, o que é ser uma vítima. A vitimologia estuda a personalidade das vítimas de crimes ou delitos, ou a vitimização (aquele que foi feito vítima). O estudo sobre a vitimização faz relação entre agressores e vítimas, e a ligação entre a vítimas com os diversos personagens do contexto social (UNESCO apud DIJK, 1997). Mendelsohn e Von Henting estudaram o comportamento das vítimas, e hipotetizaram que as mesmas anseiam inconsciente por serem vitimizadas, desenvolvendo condutas e hábitos que as tornavam fragilizadas. Afirmam que a maioria das vítimas favorece para sua violência, incitando e promovendo o agressor a cometer o ato ofensivo que é a violência. Essa teoria foi muito criticada na década de oitenta pelas feministas que não aceitavam a ideia de que alguém deseje ser vítima( UNESCO apud RUA, 2002). Os estudos da vitimização buscam avaliar os crimes ou violências sofridos por indivíduo ou população que não fazem denúncia (violência doméstica, sexual, assédio, moral, etc.). Zanetic (2002) adianta duas primeiras razões para tanto: uma é a dificuldade no procedimento e nas características das informações, pelos agentes responsáveis, e a outra é pela ausência de denúncia (ZANETIC, 2002). Tendo-se a escola como foco de avaliação, a ausência de informação torna- se um sério problema. No Brasil, não há fonte oficial de registros de delitos e 40 violências ocorridos dentro das instituições escolares, e os poucos dados existentes são feitos através de associações ou ONG’s (ABRAMOVAY, 2003). No que se refere à violência no âmbito institucional, a confiança nela depositada, enquanto instituição, a se mostrar capaz de mediar os conflitos e de tomar as medidas necessárias para a sua consequente solução, pode alterar a propensão da pessoa que está sendo vítima em denunciar seus infortúnios e, pois, a perseguir as soluções para seu caso (ABRAMOVAY, 2006) Embora não possa ser considerada uma pesquisa sobre vitimização propriamente dita, os dados da Pnad (IBGE, 1988) se constituíram na primeira fonte de informação sobre o assunto no Brasil. A partir dos anos 90, outras instituições passaram a aprofundar a investigação nesse tema, dentre elas o ILANUD, o ISER, o SEARD, a USP, dentre outros. Atualmente já foram realizados, aproximadamente, dez estudos de vitimização no país (IBGE, 1988). A palavra vítima tem sua gênese no latim victima ou victimae, do qual o seu significado é “animal ou pessoa sacrificado ou que se destina a um sacrifício”. Com o decorrer dos séculos, essa conotação de vítima passou por transformação, desde uma expressão religiosa até uma designação de “estado” condição em que uma pessoa encontra-se (KOOGAN, 1994). Num contexto geral vítimas são: Pessoa que, individual ou coletivamente, tenha sofrido danos, inclusive lesões físicas ou mentais, sofrimento emocional, perda financeira ou diminuição substancial de seus direitos fundamentais, como consequências de ações ou omissões que violem a legislação penal vigente, nos Estados – Membros, incluída a que prescreve o abuso de poder. Diferentemente de vitimização, processo vitimizatório, ou vitimação são termos neológicos, oriundos de “vítima”, e significam ação ou efeito de alguém vem a ser vítima de sua própria conduta ou da conduta de terceiro, ou fato da natureza. (Resolução 40/34 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 29.11.85) No artigo jurídico de Branco5, vítima é “qualquer pessoa que sofra infaustos resultados, seja de seus próprios atos, seja dos atos de outrem, seja de influxos 5 A análise da vítimas na consecução dos crimes. Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4400. 41 nocivos ou deletérios, seja de fatores criminógenos, ou seja do acaso”. Vitimização: é o processo que leva uma pessoa a se tornar vítima; e fator vitimógeno: é qualquer influxo, endógeno ou exógeno, capaz de levar o homem a cair em desgraça. (Ver site). Para Fante (2005) e Silva (2010), a vitimização também está ligada ao fenômeno bullying que é uma violência que acontece dentro do âmbito educacional a pressupor vítimas com sua ocorrência. As autoras, coincidindo em suas formulações, caracterizam três tipos de vítimas: 1) Vítimas típica: vista como bode expiatório para o grupo. Apresenta dificuldade de socialização, sua conduta habitual é pacifica, no que se refere ao infantojuvenil entra preconceito, discriminação e negação das diferenças; com os adultos, normalmente, se materializa pela disputa do poder, dominação dos seus iguais. 2) Vítima provocadora: seu comportamento provocador atrai agressões que, na maioria das vezes, não sabe lidar com elas; e, mormente, causa tensão no ambiente em que se encontra, sendo alvo para o bullying. 3) Vítima agressora: é a que reproduz os maus tratos sofridos em uma pessoa mais fraca, é uma forma de compensação pelo seu sofrimento, esse comportamento é o disseminador da conduta bullying. O advogado Feres, sintetiza o conjunto da classificação dos tipos de vítimas disperso em diferentes estudiosos da matéria. Segundo Nagib, reconstituindo, dentre outros, a tipologia de Benjamin Mendelsohn, tem-se os seguintes tipos de vítima: 1) Vítima inocente ou vítima ideal, é a pessoa estranha a ação do seu agressor, é completamente neutra a ação ocorrida. 2) Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância. Ocorre quando a vítima se posiciona de maneira impropria que provoca indignação no próximo que o agride. 3) Vítima voluntária ou culpada. Ambos podem ser o criminoso ou a vítima. Exemplo: Um duelo, quem não mata, morre. 4) Vítima mais culpada que o agressor. Enquadram-se os homens que bebe para dar uma de valentão ou mexer com a mulher do próximo, incitam o outro a cometer o crime. 5) Vítima unicamente culpada com suas classificação: Vítima infratora; Vítima Simuladora e Vítima imaginária (FERES, 2006). Feres também evoca a tipologia que classificou as vítimas em: 1) Vítima isolada. A vítima prefere a solidão, não consegue se relacionar com outras pessoas, se colocando em situações de risco. 2) Vítima por proximidade espacial. Subdivide- se em: a) “Vítima por proximidade espacial, que se torna vítima pelo fato de estar em proximidade excessiva do autor do delito em um determinado local”. b) Vítima por 42 proximidade familiar; c) Vítima por proximidade profissional. 3) Vítima agressiva. É a pessoa que é considerada “pavio curto”, normalmente perde a compostura ao primeiro sinal de contrariedade, nunca aceita que está errada e a culpa é sempre do outro. 4) Vítima sem valor. “Trata-se da vítima que em decorrência de seus atos não recomendáveis praticados perante a sociedade, acaba sendo indesejada ou repudiada no meio social em que vive”. 5) Vítima pelo estado emocional. 6) Vítima por mudança da fase de existência. “O indivíduo passa por várias fases em sua vida, sendo que ao mudar para certa fase de sua existência, poderá se tornar vítima em consequência de alguma mudança comportamental relacionada com alguma das fases”. 7) Vítima Depressiva. “Ao atingir um determinado nível, a depressão poderá ocasionar a vitimização do indivíduo, pois poderá levar a pessoa à sua autodestruição”. No caso das vítimas do bullying, elas não são depressivas, a depressão é uma consequência dos atos sofridos por elas. 8) Vítima falsa. “São denominadas de falsas vítimas as pessoas que, por sua livre e espontânea vontade se autovitimam para que possam se valer de benefícios” (FERES, 2006) As autoras Fante (2005) e Ana Beatriz Silva (2010) trazem em seus livros as características e os tipos de vítimas que estão relacionados aos alunos infantojuvenil. Sentindo-se a necessidade de caracterizar esses alunos, buscou-se no direito, que trabalha com a vitimização, características que pudessem