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TOXICOLOGIA AULA 4 Prof.ª Rachel Picada Bulcão 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, abordaremos diversos pontos ligados à toxicidade de alguns medicamentos, bem como alguns tratamentos e análises toxicológicas. O objetivo é compreender a importância do conhecimento farmacêutico diante das particularidades e toxicidade dos diversos medicamentos e suas interações. Nesta aula, trataremos dos seguintes temas: • intoxicação por medicamentos; • neurolépticos; • antidepressivos; • anticonvulsivantes; • anti-inflamatórios não esteroidais. TEMA 1 – INTOXICAÇÃO POR MEDICAMENTOS Até início do século XX, os medicamentos tinham origem natural, eram preparados artesanalmente em farmácias e comercializados de modo limitado. Um ritmo intenso tomou as escalas de produção e comercialização de produtos farmacêuticos, decorrente do crescimento econômico global. Os medicamentos são importantes ferramentas terapêuticas utilizadas para a prevenção, manutenção e recuperação das condições de saúde, entretanto, seu uso irracional e indiscriminado causa inúmeras consequências negativas, como não controle ou cura do problema de saúde, intoxicações e até óbito. Os medicamentos ocupam o primeiro lugar nos registros de intoxicações e constituem a segunda causa de mortalidade relacionada às intoxicações humanas. Em contrapartida, são de muita importância, assim como a nutrição, a moradia, entre outros, na modificação dos indicadores de saúde. Entretanto, transformaram-se em tema controvertido em razão de prática abusiva, uma vez que, à sua função terapêutica, agregam-se funções sociais e econômicas, necessariamente, não relacionadas com saúde e doença (Bortoletto; Bochner, 1999). Nos últimos anos, o desenvolvimento tecnológico possibilitou o grande progresso na produção de medicamentos, facilitando sua distribuição e consumo. Contudo, essa facilidade de acesso aos medicamentos facilita a 3 ocorrência de intoxicações, o que continua acontecendo com incidência preocupante. Vários fatores facilitam a exposição a um produto químico, por exemplo: • fatores relacionados à frequência de exposição a um produto químico – disponibilidade no mercado, marca comercial e facilidade de acesso; • fatores que influenciam os padrões de consumo dos produtos – preço, qualidade, utilidade para o consumidor; • fatores importantes quando o produto é um medicamento – atitudes do prescritor, do farmacêutico e dos responsáveis pela regulamentação e vigilância. Intoxicações medicamentosas surgem em decorrência de mecanismos complexos, que podem estar relacionados a características de cada indivíduo, a processos farmacodinâmicos e farmacocinéticos, o que pode variar em relação às propriedades farmacêuticas do produto e apresentação, e também podem estar envolvidas com interações entre medicamentos e alimentos (Nóbrega et al., 2015). O índice elevado de intoxicações medicamentosas no Brasil é caracterizado por vários fatores, dentre eles: a grande variedade de formulações presentes no mercado varejista, que podem apresentar segurança e eficácia duvidosas; a proliferação de farmácias e drogarias, o que facilita o acesso de forma indiscriminada ao medicamento; erros de prescrição médica e dispensação farmacêutica; o incremento da propaganda por parte da indústria farmacêutica, aliada a uma fragilidade nas medidas preventivas e da capacidade de fiscalização e controle por parte das autoridades; a prática da automedicação, que é reforçada pela propaganda não ética de alguns produtos farmacêuticos, o que favorece o estoque de grandes quantidades de medicamentos no ambiente doméstico e leva ao uso irracional dos medicamentos (Souto et al., 2013). No entanto, as intoxicações por medicamentos costumam ser facilmente identificadas e ter o diagnóstico preciso, principalmente se houver: • história clínica bem conduzida; • qualidade da informação prestada; • exame físico detalhado; • avaliação dos sinais vitais, alterações metabólicas, neurológicas e comportamentais. 4 1.1 Diagnóstico e tratamento das intoxicações As intoxicações dependem do agente, do hospedeiro e do ambiente. Nenhuma intervenção que considere apenas um desses elementos será completamente efetiva e, antes de ser escolhida uma estratégia de prevenção, deve-se ter um conhecimento profundo das condições que envolvem especificamente as ocorrências. Como grande parte das exposições a medicamentos está relacionada às crianças de 2 a 4 anos, e, em geral, o produto é um medicamento prescrito para o seu próprio uso ou para um familiar, não se torna difícil identificar o agente causador. Entretanto, a quantidade ingerida, o momento da exposição e as circunstâncias que envolvem a ocorrência nem sempre são conhecidas. Nessas ocasiões, o diagnóstico e o tratamento corretos dependem do exame clínico detalhado e atencioso. Situações mais difíceis envolvem pacientes suicidas, usuários de drogas e abuso e suspeita de violência. Porém, a maioria das intoxicações evolui de forma satisfatória apenas com medidas de suporte. Os centros de informações toxicológicas no Brasil, apesar de geralmente atuar utilizando medidas secundárias – ou seja, responder às ocorrências, orientando sobre as primeiras medidas de tratamento, auxiliar no estabelecimento do diagnóstico e do prognóstico, facilitando o acesso à utilização de antídotos –, costumam ter soluções bastante importantes e rápidas, sendo um meio extremamente eficaz, auxiliando nessas situações. Existem dois tipos de intoxicação: • ativa – que requer uma ação consistente do indivíduo; • passiva – que requer pouca ou nenhuma ação individual. Os tratamentos para intoxicações variam dependendo da causa e do estado clínico do indivíduo, podendo ser iniciado nos primeiros minutos (ambulância) ou no momento da chegada ao pronto-socorro, pela equipe médica, e envolve preferencialmente avaliação dos sinais vitais – pressão, batimentos cardíacos e oxigenação do sangue –; identificação das causas – histórico clínico, sintomas e exame físico –; descontaminação, que diminui a exposição à substância tóxica – lavagem gástrica, carvão ativado, lavagem intestinal etc. –; antídoto, quando se sabe a substância e quando existir antídoto específico. 5 A incidência de intoxicações no Brasil não é bem conhecida. Várias fontes coletam dados adotando classificações diferentes e nenhuma delas tem abrangência total da população. Os dados de mortalidade seriam os mais confiáveis porque provêm de uma única fonte, que é o registro de óbito. Entretanto, mortes por intoxicação podem ocorrer antes que as pessoas obtenham assistência médica. A identificação da causa desses óbitos é da competência dos Institutos de Medicina Legal (IML), que nem sempre têm as condições necessárias para isso, em razão da carência nas estruturas dos laboratórios de análises toxicológicas. As informações disponíveis referem-se praticamente aos registros de casos dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciat), que são consolidadas e divulgadas pelo Sinitox, vinculado à Fiocruz. As exposições a medicamentos têm representado 27% dos casos registrados pelo Ciat, com letalidade de 0,5%, em média. O banco de dados do órgão estadunidense tem 49 milhões de registros de intoxicações, sendo que cerca de 40% envolvem medicamentos. Desses, quase 30% foram intoxicações intencionais. Entre os casos fatais, os medicamentos representam cerca de 85% dos casos. Educar as pessoas e persuadi-las a mudar de comportamento, modificar a legislação e a regulamentação, adaptar produtos e o ambiente para proteger os indivíduos são medidas importantes que auxiliariam tanto no registro com vistas à geração de dados, imprescindíveis na tomada de decisões e de planejamentos de prevenção, como na redução dos casos, ou ainda, melhoriano atendimento e tratamento dessas intoxicações. 1.2 Prevenção das intoxicações por medicamentos As medidas de prevenção podem ser primárias, que impedem a ocorrência do dano, ou secundárias, quando procuram tornar mínima a sua extensão uma vez ocorrido. São três as estratégias utilizadas na prevenção de injúrias acidentais. • Prevenção de intoxicações acidentais: as intoxicações ocorrem quando vários fatores coincidem em um local, em um dado momento. Alguns aspectos devem ser considerados: − orientação da população sobre a toxicidade dos medicamentos; 6 − divulgação dos telefones dos centros de informações toxicológicas. • Prevenção de intoxicações intencionais: as medidas que minimizam as consequências fazem parte das estratégias mais utilizadas – controle de produção, distribuição, prescrição, dispensação e uso de psicofármacos. • Prevenção dos erros de medicação: os eventos adversos resultantes dos erros de medicação podem estar relacionados à prescrição, transcrição, dispensação, administração, monitoramento e uso do medicamento. O erro pode estar relacionado à prática profissional, ao produto ou procedimento, a problemas de comunicação etc. Na prescrição do medicamento é quando a maioria dos erros ocorrem. Algumas medidas específicas podem ser aplicadas aos pais de crianças pré-escolares, por exemplo, como verificar se há plantas e cogumelos tóxicos na casa ou no jardim, armazenar produtos domissanitários e medicamentos em locais apropriados etc. Alguns estudos indicam que o médico pediatra pode ajudar na prevenção de intoxicações acidentais, incorporando na sua rotina de ambulatório informações à família das crianças em relação à prevenção de acidentes. Esses estudos indicam que são necessários somente 3 minutos e 17 segundos de tempo gasto na consulta para aconselhamento dos pais. As intoxicações intencionais envolvem comportamentos muito complexos (suicídio, uso abusivo de medicamentos e automedicação) que constituem grandes desafios para os profissionais envolvidos em medidas preventivas. Por isso, as medidas que minimizam as consequências fazem parte das estratégias mais utilizadas. Os psicofármacos são os fármacos mais envolvidos nesses casos. Medidas de controle de produção, distribuição, prescrição, dispensação e uso desses medicamentos devem ser consideradas pelos responsáveis pelas várias etapas desse processo. As circunstâncias acidentais são as mais frequentes, seguidas pelas tentativas de suicídio, uso terapêutico e erros de medicação. TEMA 2 – NEUROLÉPTICOS Os antipsicóticos ou neurolépticos são medicamentos inibidores das funções psicomotoras, prescritos em estados de excitação ou de agitação, por exemplo. Paralelamente, eles atenuam também os sintomas neuropsíquicos considerados psicóticos, tais como os delírios e as alucinações. 7 São substâncias químicas sintéticas, capazes de atuar seletivamente nas células nervosas que regulam os processos psíquicos no ser humano e a conduta em animais. A descoberta da clozapina (dibenzodiazepina) entre 1955 e 1959 representou o início de uma nova geração de antipsicóticos. Com efeito, doses clinicamente eficazes de clozapina (protótipo desse grupo) como antipsicótico produziram uma baixa incidência de efeitos extrapiramidais. Cabe ressaltar que a clozapina tem um perfil ímpar entre os fármacos atípicos, pois é eficaz na melhoria das psicoses em doentes esquizofrênicos resistentes à terapia antipsicótica, reduz a taxa de suicídio e aumenta a longevidade desses pacientes. A olanzapina, quetiapina, risperidona, entre outros, constituem outros fármacos antipsicóticos relevantes dessa classe. Os neurolépticos são drogas lipossolúveis e, portanto, facilmente absorvidas no sistema nervoso central (SNC). Os antipsicóticos têm sua primeira passagem pelo fígado, portanto, sofrem metabolização hepática. A grande maioria apresenta meia-vida longa, entre 20 e 40 horas, e consequentemente pode demorar em média cinco dias para se estabilizar no organismo. Diferentes medicamentos antipsicóticos bloqueiam diferentes tipos de neurotransmissores. Os mais eficazes bloqueiam os receptores de dopamina e a maior parte deles tem efeitos subjetivos desagradáveis em indivíduos não psicóticos. Os fármacos típicos mais antigos podem condicionar efeitos extrapiramidais que incluem síndrome parkinsônica (bradicinesia, rigidez, tremores variáveis, expressão facial de máscara, andar arrastado, entre outros), acatisia (inquietação incontrolável) e distonia aguda (espasmo dos músculos da língua, da face, do pescoço e das costas). A flufenazina e, principalmente, o haloperidol são os neurolépticos típicos que mais condicionam toxicidade extrapiramidal. Os novos antipsicóticos, como a clozapina, olanzapina e a quetiapina, tem muito baixa ou nenhuma toxicidade extrapiramidal (Dinis-Oliveira; Bastos; Carvalho, 2018). Alguns desses fármacos apresentam toxicidade cardiovascular, portanto, doentes com histórico de doenças cardíacas, arritmias, síncope ou parada cardíaca súbita devem evitar fármacos dessa classe que aumentam esses riscos. Podem também ocasionar efeitos metabólicos e endócrinos, por exemplo, o aumento de peso; especialmente a obesidade abdominal está associada ao uso prolongado de clozapina, olanzapina e de clorpromazina, 8 impondo monitorização na ingestão de carboidratos. O uso de alguns antipsicóticos também pode contribuir para hiperglicemia e dislipidemia, dois relevantes efeitos adversos metabólicos. A toxicidade é dependente da dose, das outras patologias associadas e da faixa etária, e frequentemente, o histórico de ingestão relatado por familiares é pouco confiável. A toxicidade do sistema cardiovascular e do SNC condicionada pela superdosagem de antipsicóticos tem sido alvo de preocupação. Apesar de os atípicos serem mais prescritos dos que os típicos, não parecem ser mais seguros em casos de superdosagem aguda. O diagnóstico pode ser difícil, pois nem história e exame físico isoladamente conseguem realizar um diagnóstico específico pelo fato de haver a possibilidade de ser semelhante a um grande número de intoxicações. As síndromes não toxicológicas também podem simular a intoxicação por antipsicóticos, como a hipoglicemia, as infecções do SNC, entre outras situações. Os exames complementares devem incluir hemograma completo, função renal, eletrólitos. O sódio pode estar baixo, particularmente em pacientes com convulsões associadas. Em pacientes em uso de clozapina ou clorpromazina com febre, é fundamental realizar um hemograma completo em razão do risco de agranulocitose. Importante ressaltar que níveis séricos não se relacionam com achados clínicos. É necessário também monitorar função cardíaca e renal (Hampton et al., 2014). Além disso, deve ser feito tratamento de suporte. A maioria dos pacientes, na apresentação, raramente manifesta depressão respiratória; ainda assim, como em qualquer outra intoxicação aguda, a preocupação inicial é proteger as vias aéreas, ou seja, é importante fazer a monitorização respiratória, com suplementação de oxigênio se necessário (Brandão Neto, 2018b). Em pacientes com rebaixamento do nível de consciência, deve-se realizar a avaliação da glicemia e considerar o uso de naloxona e tiamina. As convulsões podem ser tratadas com benzodiazepínicos, como o lorazepam, e em casos de distonia, a indicação é administrar biperideno (Hampton et al., 2014). TEMA 3 – ANTIDEPRESSIVOS Nas últimas décadas, a farmacologia da depressão evoluiu muito e rapidamente. Os primeiros antidepressivos, os antidepressivos tricíclicos (ADTs) 9 e os inibidores da monaminooxidase (IMAOs), foram descobertos por meio da observação clínica. Os ADTs apresentavam boa eficácia em decorrência de sua ação, aumentando a disponibilidade de noradrenalina e serotonina. Porém, teve seu uso limitadoem função do bloqueio de receptores de histamina, receptores colinérgicos e receptores alfa-adrenérgicos que acarretavam efeitos colaterais, levando à baixa tolerabilidade e risco de toxicidade. Da mesma forma, o uso dos IMAOs ficava comprometido em função do risco da interação com tiramina e o risco de crises hipertensivas potencialmente fatais (Moreno; Moreno; Soares, 1999). A nova geração de antidepressivos é constituída por medicamentos que agem em um único neurotransmissor, por exemplo, os inibidores seletivos de recaptação de serotonina ou de noradrenalina, ou aqueles que agem em múltiplos neurotransmissores/receptores, como a venlafaxina, a bupropiona, a trazodona e a mirtazapina, sem ter como alvo outros receptores cerebrais não relacionados com a depressão (tais como histamina e acetilcolina) (Moreno; Moreno; Soares, 1999). Os antidepressivos tricíclicos (ADT) são indicados para depressão severa, pois são capazes de bloquear a receptação dos três neurotransmissores referidos (noradrenalina, serotonina e dopamina). Esse é o mecanismo de ação inerente a esses fármacos, sendo os principais a nortriptilina, a desipramina, a amitriptilina, a imipramina, entre outros, que condiciona a um aumento persistente da biodisponibilidade dessas monoaminas nas sinapses nervosas centrais. Os antidepressivos tricíclicos são altamente lipofílicos, cruzam facilmente a barreira hematoencefálica e atingem picos de concentração plasmática entre 2 e 6 horas após a ingestão em doses terapêuticas. Em casos de intoxicação, a absorção gastrintestinal pode ser prolongada em razão do efeito antimuscarínico na motilidade intestinal. A biodisponibilidade é de apenas 30 a 70% em decorrência do extenso metabolismo hepático de primeira passagem. Os níveis de antidepressivos tricíclicos tissulares são mais de 10 vezes maiores do que os níveis plasmáticos, e apenas 1 a 2% da carga corporal total de antidepressivos cíclicos é encontrada no sangue. Os antidepressivos tricíclicos são eliminados quase inteiramente por oxidação hepática (Brandão Neto, 2018a). A toxicidade cardiovascular desses fármacos é amplamente conhecida, bem como o bloqueio dos receptores muscarínicos provoca um leque 10 característico dos efeitos periféricos anticolinérgicos adversos, como taquicardia, retenção urinária, midríase, secura da boca e das mucosas, entre outros. Em nível central, e em situações de superdosagem, os efeitos colinérgicos podem incluir agitação psicomotora, descoordenação motora, convulsões, delírios e depressão respiratória. Assim, os efeitos tóxicos dos antidepressivos tricíclicos se dão pela combinação dos efeitos anticolinérgicos, antiadrenérgicos, e também pelos efeitos depressores diretos sobre a atividade miocárdica, podendo ocorrer morte súbita por fibrilação ventricular ou parada cardíaca. Outro dado importante é que a toxicidade desses medicamentos geralmente dura mais do que a atividade original em razão da produção de metabólitos ativos, bioativos. O diagnóstico é essencialmente clínico, sendo importantes os achados característicos com história de exposição. Os achados eletrocardiográficos característicos e as dosagens séricas das medicações corroboram o diagnóstico. Pelo menos metade das exposições antidepressivas tricíclicas envolve a coingestão de outras substâncias, que pode aumentar ou alterar bastante as manifestações tóxicas (Brandão Neto, 2018a). A quantificação dos níveis plasmáticos é útil no monitoramento terapêutico, em longo prazo. Porém, podem ocorrer resultados falso-positivos em triagens qualitativas na urina, não devendo direcionar ou alterar as medidas de manejo clínico associadas a esse tipo de intoxicação, que podem ser medidas básicas de suporte. Recomenda-se lavagem gástrica até 24 horas após ingestão. O carvão ativado liga-se a esses medicamentos, diminuindo, portanto, a absorção, sendo indicado em ingestões ocorridas até duas horas antes. Recomenda-se tratar arritmias com bicarbonato de sódio e evitar o uso de agonistas colinérgicos, flumazenil, betabloqueadores e antagonistas dos canais de cálcio. Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) apresentam um índice terapêutico maior, uso mais seguro e um quadro de intoxicação menos grave que ADT. Os mais prescritos são o citalopram, a fluoxetina, a paroxetina e a sertralina, fármacos mais tolerantes e seguros. Os ISRSs inibem de forma potente e seletiva a recaptação de serotonina, resultando em potencialização da neurotransmissão serotonérgica. Embora compartilhem o principal mecanismo de ação, os ISRS são estruturalmente distintos com marcadas diferenças no perfil farmacodinâmico e farmacocinético. A potência da inibição de recaptação 11 da serotonina é variada, assim como a seletividade por noradrenalina e dopamina. Sertralina e paroxetina são os mais potentes inibidores de recaptação. O citalopram e a fluoxetina são misturas racêmicas de diferentes formas quiral que apresentam perfis farmacodinâmico e farmacocinético variados. A fluoxetina apresenta metabólito de ação prolongada e farmacologicamente ativo. Os ISRSs também apresentam perfis farmacocinéticos variados, que incluem meia vida, farmacocinética linear versus não linear, efeito da idade na sua depuração e no seu potencial de inibir isoenzimas metabolizadoras de medicamentos do citocromo P450 (CYP). Essas diferenças farmacológicas e farmacocinéticas sustentam as diferenças clínicas cada vez mais importantes dos ISRSs (Cordás; Moreno, 2008). A paroxetina tem maior probabilidade de estar associada ao ganho de peso e à disfunção sexual. Outros efeitos adversos neurológicos associados aos ISRSs incluem cefaleia, sedação, insônia, tontura, fraqueza ou fadiga, tremor e dose média diária recomendada na meia-vida de inibição da inibição da inibição. Os ISRSs devem ser usados com cautela com agentes antipsicóticos, pois podem potencializar a atividade antidopaminérgica (Brandão Neto, 2018a). Os sintomas da intoxicação por ISRS incluem sintomas gastrointestinais leves como náuseas e vômitos e, eventualmente, diarreia. Sintomas de depressão do SNC como sedação pode ocorrer, mas coma e convulsões ocorrem somente em intoxicações graves. Outros sintomas incluem manifestações adrenérgicas como tremor e taquicardia sinusal. Menos frequentemente são observadas hipertensão e hipotensão (Brandão Neto, 2018a). Não se recomenda utilizar lavagem gástrica, xarope de ipeca, carvão ativado e irrigação intestinal. No entanto, os benzodiazepínicos podem ser utilizados inicialmente como anticonvulsivantes, e caso as convulsões persistam, por fenobarbital. Recomenda-se que os pacientes devem ser observados por um período de em média seis horas, pois pode ocorrer necessidade de suporte. O carbonato de lítio é usado para o tratamento do transtorno bipolar e de outros transtornos psiquiátricos. A toxicidade é causada mais comumente pelo excesso de medicação crônica em pacientes com comprometimento renal. A superdosagem aguda, em contrapartida, em geral é menos grave. O lítio é completamente absorvido em seis a oito horas após a ingestão. A penetração no cérebro é lenta, o que explica o retardo entre os picos dos níveis sanguíneos e 12 os efeitos observados sobre o SNC após uma superdosagem aguda. Praticamente toda a eliminação ocorre pelos rins, com uma meia-vida de 14 a 30 horas; não é metabolizado, 95% é excretado inalterado na urina, 4 a 5% eliminado no suor e 1% nas fezes (Olson, 2012). A intoxicação crônica poderá ocorrer em pacientes submetidos a doses terapêuticas estáveis. Como o lítio é excretado pelos rins, no qual é tratado como o sódio, qualquer estado que cause desidratação, depleção de sódio ou reabsorção excessiva de sódio poderá levar ao aumento da reabsorção de lítio, ao seu acúmulo e, possivelmente, a uma intoxicação (Olson, 2012). Aintoxicação branda a moderada resulta em letargia, fraqueza muscular, fala arrastada, ataxia, tremor e movimentos mioclônicos. Rigidez e efeitos extrapiramidais também podem ser observados. A intoxicação grave poderá levar a delirium agitado, coma, convulsões e hipertermia. A recuperação em geral é bastante lenta, e os pacientes poderão permanecer confusos ou enfraquecidos por dias a semanas. O diagnóstico é comprovado pelo nível elevado de lítio (Olson, 2012). A maioria dos laboratórios clínicos hospitalares pode avaliar a concentração sérica basal de lítio. Entretanto, o nível sérico de lítio não representa uma previsão precisa da toxicidade. Na intoxicação crônica, a toxicidade poderá estar associada a níveis apenas levemente “superiores à faixa terapêutica” (Olson, 2012). • Intoxicação aguda: sintomas gastrintestinais. • Intoxicação crônica: − leve (1,5 a 2,5mEq/L) – náusea, vômito, dor abdominal, diarreia, letargia, fadiga, lapso de memória, tremor fino; − moderada (1,5 a 2,5mEq/L) – confusão mental, agitação e/ou depressão do SNC, delírio, tremor grosseiro, rigidez muscular, disartria, nistagmo, ataxia, fasciculação, taquicardia, hipertensão; − grave (2,5 a 3mEq/L) – bradicardia, bloqueio sinoatrial e atrioventricular, coma, convulsão; − fatal (>3mEq/L) – arritmias, colapso vascular, hipotensão. O que pode ser feito para complementar o diagnóstico é distinguir não usuário do usuário crônico, além da quantificação do lítio (eletrodo seletivo) (faixa terapêutica: 0,8 a 1,25mEq/L). Como os resultados quantitativos podem não 13 representar o verdadeiro cenário, recomenda-se realizar eletrocardiograma, dosagem de sódio, potássio, cálcio, magnésio, glicemia, hemograma etc. O tratamento constitui a manutenção das funções vitais. A lavagem gástrica em até duas horas e hemodiálise em casos graves. TEMA 4 – ANTICONVULSIVANTES São medicamentos que que visam ao tratamento da epilepsia e da convulsão. A convulsão é definida como intervalos temporais da função cerebral, e pode ocorrer em razão de uma agitação desordenada das atividades elétricas cerebrais, provocando contrações por todo o corpo. São medicamentos que apresentam um índice terapêutico baixo, sendo, portanto, responsáveis por um grande número de intoxicações. Os principais anticonvulsivantes são o fenobarbital (barbitúrico), a carbamazepina, a fenitoína, o ácido valproico, a lamotrigina, entre outros. As intoxicações normalmente estão associadas à tentativa de suicídio, abuso, doses excessivas, ingestão acidental e interações medicamentosas. Podem ser classificados como: • seletivos ou não sedativos – agem alterando o fluxo de íons (Na+) transmembrana, por exemplo, a fenitoína e a carbamazepina; • não seletivos ou sedativos – agem alterando o GABA pós-sináptico, por exemplo, o fenobarbital. Há os agentes cujo mecanismo de ação não foi completamente elucidado, por exemplo, a lamotrigina. O ácido valproico tem propriedades comuns aos dois primeiros grupos. Entre os anticonvulsivantes está a classe dos barbitúricos que desempenham papel importante para o controle de quase todos os tipos de crises epilépticas, cujo mecanismo de ação é a potencialização da ação do ácido gama-aminobutírico (GABA). São medicamentos de controle especial, logo, os pacientes devem ser bem orientados quanto ao seu uso, como também a respeito de reações adversas e possíveis interações, as quais podem se tornar fatores para intoxicação (Souza et al., 2019). Um dos mais importantes fármacos dessa classe é o fenobarbital, que é frequentemente reportado e encontrado em intoxicações. Prescrito tanto para 14 tratamento de epilepsia quanto como anestésico geral por sua ação como depressor não seletivo do SNC, ele age principalmente no centro da vigília. Medicamentos barbitúricos normalmente agem reduzindo a atividade cerebral, cujos efeitos são indução da excitabilidade (efeito paradoxal), leve sedação, falta de coordenação motora, e efeito na musculatura lisa esquelética, cardíaca e nervosa. O fenobarbital apresenta rápida absorção pelo trato gastrointestinal, ampla distribuição pelo organismo, além de atravessar a barreira placentária. São importantes indutores do sistema enzimático P450, sendo responsáveis pela indução do próprio metabolismo. Usuários crônicos podem desenvolver tolerância a essa substância. As principais manifestações clínicas são sonolência, ataxia, nistagmo, miose, e em casos graves, pode evoluir para coma, hipotonia, hiporreflexia, hipotermia e depressão respiratória. Uma vez que o paciente esteja estável e se a ingestão for recente (até duas horas), deve-se iniciar a descontaminação por meio da utilização de carvão ativado (CA) em doses múltiplas seriadas. Em casos graves, com instabilidade hemodinâmica ou insuficiência renal, pode-se considerar hemodiálise e alcalinização urinária, a fim de prevenir ou reduzir a rabdomiólise. Os exames complementares para confirmação da intoxicação podem ser feitos pela dosagem sérica de fenobarbital, a qual apresenta boa correlação com o quadro clínico. A carbamazepina bloqueia canais de sódio no SNC e no coração, além de apresentar ação anticolinérgica. Clinicamente, é usada como anticonvulsivante no tratamento de neuralgia do trigêmeo e no controle de mania e agressividade. A toxicidade da carbamazepina se relaciona diretamente com a sua concentração no sangue. A absorção pelo trato gastrointestinal (TGI) lenta e irregular apresenta grande afinidade por proteínas plasmáticas. O metabolismo é hepático, e um dos principais motivos de sua toxicidade é a formação de carbamazepina-10,11- epóxido (metabólito ativo). Outra característica importante é o fato de ser um indutor enzimático de outros fármacos e dele mesmo, portanto, deve-se levar isso em consideração em casos de associações medicamentosas para evitar uma interação importante e que, muitas vezes, dependendo das condições, pode ser fatal. 15 As principais manifestações clínicas, em casos de intoxicação aguda são ataxia, nistagmo, midríase, distonia, mioclonia, convulsões, hipotensão, hipertermia, coma, podendo levar à morte por falência respiratória. Pode ser realizada lavagem gástrica em até 12 horas após a ingestão, o carvão ativado em doses seriadas em até 48 horas após a ingesta. Em casos mais graves, pode ser feita a hemoperfusão com filtros de carvão ativado. A quantificação sérica de carbamazepina (faixa terapêutica de 4 a 10 µg/mL) é recomendada, pois os valores são condizentes com os sinais e sintomas. TEMA 5 – ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINES) Os analgésicos não opioides e anti-inflamatórios não esteroides (AINES) estão entre os fármacos mais utilizados e prescritos no mundo, principalmente por terem efeito sintomático nas doenças ou processos inflamatórios para os quais são prescritos. Internacionalmente, são conhecidos pelo uso de “over-the- counter” – OTCs (“sobre o balcão”), pelo fato de serem medicamentos que não requerem prescrição e que têm sua venda livre, desconsiderando-se restrições de indicação, efeitos adversos e potenciais interações medicamentosas prejudiciais com outros fármacos comumente utilizados, por exemplo, os protetores gástricos (Farias, 2016). No Brasil, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde principalmente pelos grupos populacionais mais socialmente vulneráveis contribui para grande utilização desses fármacos. Eles apresentam grande variedade de oferta com marcante investimento da indústria farmacêutica para sua prescrição e uso. Esses aspectos colaboram para o aumento da automedicação e dos casos de óbito por intoxicação com medicamentos (Farias, 2016). Os AINES têm três efeitos principais: • analgésico; • antipirético; • anti-inflamatório. Podem ser classificados como não seletivos (inibem as duas isoformas da COX, ou seja, COX-1 e COX-2)e seletivos para COX-2. Os inibidores não seletivos da COX (AINE- anti-inflamatório não esteroidal) geralmente bloqueiam as duas isoformas da COX em diferentes graus e reversivelmente. São eles os 16 salicilatos, os derivados do ácido propiônico, derivados do ácido acético, derivados do oxicam, derivados das sulfonamidas, paracetamol (acetaminofeno) e inibidores da COX-2: celecoxibe, meloxicam, etoricoxibe. Os derivados do ácido salicílico (salicilatos) estão entre os fármacos mais importantes dessa classe. A forma não ionizada é absorvida passivamente por difusão pelo TGI na parte superior do intestino delgado, com distribuição para quase todos os tecidos, com mais de 50% de ligação com as albuminas plasmáticas. São biotransformadas pelas esterases do plasma e enzimas do retículo endoplasmático hepático. A principal via de biotransformação é a formação do ácido salicilúrico, seguida pelo salicilglicurônico fenólico. É excretado pela urina na forma de ácido salicílico livre (10%), ácido saicilúrico (75%), salicilglicuronato fenólico (5%) e ácido gentístico e gentisúrico (40mg/dL associados à toxicidade. Para o diagnóstico e tratamento da intoxicação aguda é importante estabelecer a correlação entre a concentração de salicilato no soro e o tempo (Figura 1), porém a interpretação deve ser cuidadosa, pois em alguns casos o nomograma pode subestimar a toxicidade, devendo ser avaliado em conjunto com outros sinais e exames complementares (Brandão Neto, 2018c). Caso haja suspeita do uso de altas doses, iniciar o tratamento sem esperar o diagnóstico laboratorial. Figura 1 – Nomograma de Done Fonte: com base em Done, 1960. Os testes comercialmente disponíveis podem qualitativamente detectar o salicilato na urina, mas esses testes têm limitações. O nível sérico isoladamente 18 não ajuda a determinar se o paciente está ou não intoxicado por salicilatos, e não pode ajudar a orientar o tratamento. Da mesma forma, o teste de cloreto férrico é muito sensível a pequenas quantidades de ácido salicílico, mas um resultado positivo não indica intoxicação por salicilato ou toxicidade (Brandão Neto, 2018c). Outro fármaco bastante utilizado e importante do ponto de vista toxicológico é o paracetamol ou acetaminofeno, que é um analgésico- antipirético derivado do p-aminofenol que tem ação antipirética alta, analgésica média e anti-inflamatória baixa. Atualmente é o analgésico mais utilizado, principalmente em pediatria, substituindo o uso de salicilatos para evitar a síndrome de Reye (Sebben et al., 2010). O paracetamol é rapidamente absorvido no TGI, com ligação variável com as proteínas plasmáticas. A principal via de biotransformação é a hepática, que ocorre por meio de três mecanismos metabólicos: conjugação com ácido glicurônico (40% a 67%), sulfatação (20% a 46%) e oxidação (5% a 15%). A hepatotoxicidade pode ocorrer após a ingestão de dose única de 10 a 15 gramas de paracetamol em adultos. Em sobredosagem, após saturação das vias metabólicas principais, maior quantidade de paracetamol sofre oxidação, gerando maior quantidade de metabólito tóxico (n-acetil-p-benzoquinonimina – NAPBQI), excedendo a capacidade de desintoxicação da glutationa. O tempo de meia-vida é de uma a três horas e em sobredose pode chegar a 12 horas. Doses de 150 e 200 mg/kg, respectivamente, em adultos e crianças são passíveis de causar danos hepáticos. Quando as reservas de glutationa chegam a menos de 30%, o NAPBQI livre exerce sua ação tóxica sobre os hepatócitos, ligando-se covalentemente a proteínas intracelulares, podendo levar à morte celular. Além desse mecanismo oxidativo, outras vias fisiopatológicas complementares têm sido propostas experimentalmente, como formação de radicais livres, perturbação da homeostase do cálcio, inibição da cadeia respiratória mitocondrial etc. (Sebben et al., 2010). Os sintomas que aparecem durante os dois primeiros dias de intoxicação podem não refletir sua gravidade potencial. O quadro clínico de intoxicação por paracetamol apresenta geralmente três períodos bem definidos, podendo chegar a um quarto, resolutivo. Nas primeiras 24 horas, o paciente se apresenta assintomático ou com leve mal-estar, náuseas, vômitos, palidez e epigastralgia. Entre 24 e 72 horas, o paciente pode seguir clinicamente assintomático ou 19 apresentar sintomatologia leve, semelhante ao primeiro período e/ou iniciar com dor no hipocôndrio direito. Sua alteração característica é o aumento das transaminases hepáticas. O período de 72 horas a cinco dias é de máxima expressão da hepatotoxicidade, e pode evoluir para falência hepática aguda. Os sintomas clínicos podem variar de pouco expressivos até quadro de encefalopatia, coma e transtornos de coagulação, dependendo do grau de disfunção hepática. São observadas elevação extrema de transaminases, bilirrubina total e tempo de protrombina. Se a insuficiência hepática aguda não levar a óbito, a reversibilidade é total, estando o tecido hepático regenerado por completo entre cinco e sete dias até duas semanas (Sebben et al., 2010). Para a avaliação da severidade da hepatotoxicidade é necessária a determinação da concentração de paracetamol no plasma. O método mais utilizado no diagnóstico é o Nomograma de Rumack-Matthew (Figura 2), que avalia a concentração plasmática de paracetamol relacionada com o intervalo transcorrido desde a ingesta do medicamento até a coleta do sangue, indicando se o antídoto deve ser administrado. O resultado não somente tem valor de certeza diagnóstica como também avalia o risco de hepatotoxicidade, indicando uso do antídoto específico (n-acetilcisteína) (Sebben et al., 2010). Figura 2 – Nomograma de Rumack-Matthew: concentração de paracetamol (mg/L) relacionada ao tempoapós ingerido (h) para o estabelecimento de riscos ou danos prováveis Fonte: com base em Sebben et al., 2010. 20 Exames complementares incluem glicemia, atividade de protrombina, transaminases, bilirrubinas, ureia, creatinina, amilase, gasometria arterial. Se a concentração de paracetamol no sangue estiver elevada, administra- se como antídoto a n-acetilcisteína (NAC) por via oral ou intravenosa, que é precursor da glutationa, reduzindo a toxicidade do paracetamol. Esse antídoto auxilia na prevenção de lesões hepáticas, porém não reverte a lesão já instalada. Em casos mais graves e com mau prognóstico, pode ser necessária a realização de um tratamento para a insuficiência hepática ou até mesmo de um transplante de fígado. NA PRÁTICA A intoxicação por medicamentos é questão de saúde pública, pois, além de serem de fácil acesso, existe uma quantidade significativa da prática de automedicação. A velocidade do manejo é muito importante, bem como a identificação do medicamento, pois possibilitam tanto o uso de antídoto específico, quando houver, quanto a realização de um prognóstico mais correto por meio dos nomogramas, por exemplo. Mesmo que os laboratórios dentro dos hospitais não tenham equipamentos mais específicos para a detecção de medicamentos em matrizes biológicas, a presença de um espectrofotômetro já auxilia no diagnóstico certeiro de diversos tipos de intoxicações. FINALIZANDO Nesta aula, foi apresentada uma abordagem resumida sobre a toxicidade de alguns medicamentos, diagnósticos, tratamentos e formas de prevenir algumas intoxicações. Entretanto, a lista de medicamentos considerados tóxicos, visto que a toxicidade está relacionada à dose, é imensa. Vale lembrar que sempre que um medicamento apresentar índice terapêutico baixo, seu potencial tóxico aumenta. Outro fator relevante em se tratando de toxicidade de medicamentos são as interações que podem ocorrer, assunto este inesgotável para ser abordado brevemente. https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/transplante/transplante-de-f%C3%ADgado https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/transplante/transplante-de-f%C3%ADgado 21 REFERÊNCIAS BORTOLETTO, M. É.; BOCHNER, R. Impacto dos medicamentos nas intoxicações humanas no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, p. 859-869, 1999. BRANDÃO NETO, R. A. Antidepressivos tricíclicos. 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