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1 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Análise de Situação de Saúde Organizadoras Ana Emilia Figueiredo de Oliveira Deysianne Costa das Chagas Paola Trindade Garcia Análise de Situação de Saúde Análise de Situação de Saúde São Luís 2019 São Luís 2019 Organizadoras Ana Emilia Figueiredo de Oliveira Deysianne Costa das Chagas Paola Trindade Garcia Copyright © 2019 by EDUFMA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Prof.ª Dra. Nair Portela Silva Coutinho Reitora Prof. Dr. Fernando de Carvalho Silva Vice-Reitor Allan Kardec Duailibe Barros Filho Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e Inovação Profª. Dra. Silvia Tereza de Jesus Rodrigues Moreira Lima Diretora do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Prof.ª Dra. Ana Emilia Figueiredo de Oliveira Coordenadora-Geral da UNA-SUS/UFMA EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO Prof. Dr. Sanatiel de Jesus Pereira Diretor CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Esnel José Fagundes; Profa. Dra. Inez Maria Leite da Silva; Prof. Dr. Luciano da Silva Façanha; Profa. Dra Andréa Dias Neves Lago; Profa. Dra. Francisca das Chagas Silva Lima; Bibliotecária Tatiana Cotrim Serra Freire; Prof. Me. Cristiano Leonardo de Alan Kardec Capovilla Luz; Prof. Dr. Jardel Oliveira Santos; Profa. Dra. Michele Goulart Massuchin; Prof. Dr. Ítalo Domingos Santirocchi. Projeto de design Douglas Brandão França Junior; José Henrique Coutinho Pinheiro; Katherine Marjorie Mendonça de Assis. Normalização Edilson Thialison da Silva Reis – CRB 13ª Região, nº de registro – 764 Revisão técnica Roberto Carlos Reyes Lecca Revisão de texto Fabiana Serra Pereira Revisão pedagógica Cadidja Dayane Sousa do Carmo; Halinna Larissa Cruz Correia de Carvalho; Elza Bernardes Monier; Alessandra Viana Natividade Oliveira Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Elaborada pela UNA-SUS/UFMA Universidade Federal do Maranhão. UNA-SUS/UFMA Análise de situação de saúde/Ana Emilia Figueiredo de Oliveira; Deysianne Costa das Chagas; Paola Trindade Garcia; (Org.). - São Luís, 2019. 140 f.: il. ISBN: 978-85-7862-867-3 1. Análise da Situação de Saúde. 2. Diagnóstico da Situação de Saúde. 3. Epidemiologia. 4. Sistemas de Informação em Saúde. 5. UNA-SUS/UFMA. I. Matheus de Sousa Mata II. Título. CDU 616-036 Bibliotecário: Edilson Thialison da Silva Reis CRB - 13/764 Impresso no Brasil Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou para qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais dos textos e imagens desta obra é da UNA-SUS/UFMA. INFORMAÇÃO SOBRE O AUTOR Matheus de Sousa Mata Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), especialização em Gestão em Saúde pela Fundação Oswaldo Cruz (Friocruz-RJ) e em Epidemiologia pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Possui mestrado em Saúde Coletiva pela UFRN e é doutorando em Saúde Coletiva na UFRN. Atuou como analista técnico de Políticas Sociais na Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde. Atualmente é professor da Escola de Saúde da UFRN. INFORMAÇÃO SOBRE SOBRE AS ORGANIZADORAS Ana Emilia Figueiredo de Oliveira Possui graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), mestrado e doutorado em Radiologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pós-doutorado/ professora visitante pela University of North Carolina/Chapel Hill-EUA. Foi presidente do Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde - CBTms (gestão 2015-2017). Atualmente é Coordenadora-geral da UNA-SUS/UFMA e líder do Grupo de Pesquisa SAITE - Tecnologia e Inovação em Educação na Saúde (CNPq/UFMA). Deysianne Costa das Chagas Possui graduação em Nutrição pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e mestrado e doutorado em Saúde Coletiva pela UFMA. Atualmente é professora adjunta do Curso de Nutrição da Universidade Federal do Maranhão e design instrucional da UNA-SUS/UFMA. Tem experiência na área de epidemiologia e educação nutricional. Paola Trindade Garcia Possui graduação em Fisioterapia pela Faculdade Santa Terezinha (CEST), mestrado e doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Residência Multiprofissional em Saúde (UFMA), especialização em Processos Educacionais na Saúde (IEP-Sírio Libanês), Saúde da Família (CEST) e em Gestão do Trabalho e Educação na Saúde (UFMA). Possui experiência em educação a distância e em metodologias ativas de ensino. Atualmente é docente da UFMA e coordenadora de Produção Pedagógica da UNA-SUS/UFMA. SUMÁRIO p. 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................14 2 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE: CONCEITOS E INTERPRETAÇÃO DE INDICADORES ................................................................................15 2.1 Bases conceituais da Análise de Situação de Saúde (Asis) ...............16 2.1.1 Objetivos da Asis ................................................................................19 2.1.2 Finalidades da Asis .............................................................................20 2.1.2.1 A Definição de necessidades, prioridades e políticas em saúde e a avaliação de sua adequação ...............................................................20 2.1.2.2 A formulação de estratégias de promoção, prevenção e controle de danos à saúde e a avaliação de sua pertinência e cumprimento........22 2.1.2.3 A construção de cenários futuros em saúde ..................................... 23 2.2 Utilização dos dados da Vigilância em Saúde ................................... 28 2.3 Comportamento e tendências das variáveis demográficas .............. 35 3 ASIS E PRIORIZAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS ................................ 45 3.1 Priorização: definição e aplicabilidade ............................................... 45 3.2 Desigualdades em saúde ................................................................... 58 3.3 A carga global de doenças no Brasil .................................................. 75 4 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES EM SAÚDE .......................................... 84 4.1 Os sistemas de informação em saúde no Brasil e sua importância para a construção das Asis ................................................................ 84 4.2 Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) ........................... 88 4.3 Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) ................... 92 4.4 Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) ............. 97 4.5 Outros sistemas de informações ....................................................... 99 4.6 Identificação e seleção de dados fundamentais ............................. 100 4.7 Indicadores de mortalidade ............................................................ 107 4.7.1 Mortalidade Proporcional por Causas .............................................. 107 4.7.2 Taxa de Mortalidade por Causas ...................................................... 108 4.7.3 Taxa de Mortalidade Infantil ............................................................. 109 4.7.4 Razão de Mortalidade Materna....................................................111 4.8 Indicadores de morbidade...........................................................115 4.8.1 Incidência..................................................................................115 4.8.2 Prevalência................................................................................117 4.9 Outros indicadores de saúde....................................................119 4.10 Qualidade das informações......................................................120 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................127 REFERÊNCIAS.............................................................................127 PREFÁCIO A Análise de Situação de Saúde (Asis) ao caracterizar, medir e explicarassim como para a priorização das ações. No segundo conceito, destaca-se a participação dos diversos grupos de interesse no processo decisório. Cabe, então, ao conjunto de atores que tomam as decisões garantir o bem-estar da população, embora devamos considerar que muitas vezes essas finalidades são conflituosas entre os grupos de poder. No mundo atual, é função predominantemente estatal a definição das políticas públicas de saúde, uma vez que “a função de proteger e promover a saúde e o bem-estar dos cidadãos é uma das mais importantes do Estado moderno [...]” (ROSEN, 1994). Com isso, cabe a ele a escolha das ações prioritárias para atender às necessidades de saúde da população. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a política de saúde como: Um posicionamento ou um procedimento estabelecido por instituições oficiais competentes, notadamente governamentais, que definem as prioridades e os parâmetros de ação em resposta às necessidades de saúde, aos recursos disponíveis e a outras pressões políticas (WHO, 1998 p. 10, grifo nosso, tradução nossa). PARA SABER MAIS! Para saber mais sobre os conceitos que envolvem a política pública, sugerimos a leitura do texto "Introdução à Teoria da Política Pública", de Enrique Saravia. A Análise de Situação de Saúde (Asis) é uma ferramenta que auxilia os gestores e profissionais de saúde na tomada de decisões, e isso inclui a racionalização para elencar prioridades, uma vez que fornece informações relevantes sobre as necessidades de saúde da população e sobre a oferta de serviços. Ela pode, então, ser entendida como um dos instrumentos que fornece informações e conhecimentos científicos em um movimento que gera ação, propiciando aos gestores que definam políticas baseadas 48 Fonte: DUARTE, E. C.; MORAIS NETO, O. L. Introdução à Análise de Situação de Saúde. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Asis - Análise de Situação de Saúde. v. 1. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2015. p. 10. Contudo, para cumprir seu papel de proteção social a política de saúde deve se integrar a diversos setores e atores sociais, como gestores e atores políticos governamentais e empresas, a indivíduos e grupos comunitários, ou ainda a consumidores e prestadores de serviço (FLEURY; OUVERNEY, 2012). Se a Asis oferece uma racionalidade técnica para o estabelecimento de prioridades na política de saúde, é verdade também que as prioridades emergem a partir do poder político dos diferentes setores sociais e de sua capacidade de influenciar as decisões por dentro do sistema político. O estabelecimento de prioridades orientado a criar um conjunto de intervenções favoráveis recomendadas é uma parte essencial da formulação de políticas inspiradas em evidências científicas; entretanto, é só o começo do processo. As recomendações devem estimular a aceitação de dirigentes ou políticos que tomam as decisões (OMS, 2016). Em resumo, a racionalidade técnica não é o único critério para se estabelecer prioridades em uma política pública, apesar de ser um elemento essencial, pois fornece informações relevantes sobre o objeto de determinada política. Diversos interesses entram em cena no momento da definição das em evidências (DUARTE; MORAIS NETO, 2015). Veja na figura 10 o ciclo da produção de evidências e respostas. Figura 10 - Tomada de decisão baseada em evidências: ciclo da produção de evidências e respostas. Disseminação oportuna (em tempo, espaço, linguagem) do conhecimento Formulação e implementação de respostas informadas pelas evidências Adequados Sistemas de Informação e de Monitoramento Interpretação da informação produzida = conhecimento Análise: Análise da Situação de Saúde, Vigilância e Avaliação em Saúde, Pesquisas Outras fontes de influência atuando continuamente (a favor ou contra): valores, capacidade institucional, sustentabilidade política, técnica e financeira entre outras 49 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE políticas que devem ser implementadas em determinado local. Na área da saúde, podemos visualizar alguns exemplos onde a racionalidade técnica não consegue influenciar diretamente uma política pública. Quando um bairro pobre e carente de equipamentos sociais poderia receber uma Unidade Básica de Saúde e o gestor opta por comprar mais uma ambulância; ou quando a contratação de profissionais de saúde não segue um critério técnico. Contudo, longe de diminuir a importância da Asis para a definição de políticas públicas de saúde, pretendemos mostrar que, sem uma racionalidade técnica, é possível que as decisões sejam sempre tomadas por critérios e interesses diversos, muitas vezes conflitantes com a necessidade real da população. Além disso, para entrar na agenda governamental, é fundamental que um determinado problema seja bem definido, pois, sem isso, diminuem as chances de sua resolução por meio de uma política pública. Como citado anteriormente, para a OMS a política pública de saúde é responsável por definir as prioridades e os parâmetros de ação em resposta às necessidades de saúde. Ou seja, antes de definirmos as ações, precisamos identificar as reais necessidades de saúde da população. Mas o que são necessidades de saúde? Como identificar essas necessidades? As necessidades de saúde são um conceito relativo, pois dependem de quem as define. Envolve diferentes aspectos da vida dos indivíduos e coletividades, tais como cultura, política, economia, entre outros fatores. Necessidade pode ser entendida como um distúrbio da saúde ou do bem-estar, que tem potencial para gerar uma demanda ao sistema de saúde. A necessidade pode ser percebida pelo paciente ou pode ser identificada por profissionais de saúde (nesse caso, pode ser chamada de necessidade clínica). De outra forma, pode ser vista como uma diferença entre a situação real de Você já vivenciou uma situação onde a racionalidade técnica foi ignorada e a tomada de decisão foi influenciada por outros fatores? Como isso ocorreu? Reflita sobre como e por que essa situação ocorreu. 50 saúde, no momento em que é examinada, e a situação ideal (PEREIRA, 1995). Você pode acompanhar na figura 11 um fluxograma que indica as relações entre necessidades, demanda e utilização dos serviços de saúde, de forma que essa relação poderá ter um impacto positivo ou negativo na saúde. As caixas em vermelho indicam as necessidades de saúde dos indivíduos, que podem ser por uma alteração percebida no seu estado de saúde ou por uma vontade de manter-se saudável (por meio de atitudes preventivas, por exemplo). Figura 11 - Relações entre as necessidades de saúde e o processo de atendimento. Fonte: Adaptado de: PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995. São as necessidades que fazem com que os sujeitos busquem atendimento, e esse movimento de busca é chamado de demanda. As demandas, por sua vez, geram a utilização dos serviços de saúde pelas pessoas ou, pelo menos, a tentativa de uso. Isso porque a utilização depende, entre outras coisas, de como são ofertados esses serviços. Percepção de alterações na saúde Desejo de manter a saúde e prevenir a doença Demanda por atendimento Utilização de serviços de saúde Impacto na saúde atual ou futura Decisões políticas e disponibilidade de recursos Técnicas de planejamento e gerência de serviços Oferta de serviços 51 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Você já vivenciou uma situação onde a sua demanda de saúde (ou de uma pessoa conhecida) não foi atendida? Por qual motivo a demanda não foi atendida? A demanda pode ser atendida quando o sujeito consegue acesso ao serviço de saúde e realiza sua consulta, exame, ou consegue pegar preservativos na unidade, por exemplo. Ou a demanda pode ser reprimida, quando as pessoas enfrentam filas e não conseguem as “fichas” de atendimento, quando ficam meses no aguardo para a realização de um exame, ou simplesmente não conseguem medicamentos na sua unidade. Em ambassituações, as necessidades de saúde foram identificadas e se tornaram demandas, uma vez que geraram o movimento das pessoas em busca de atendimento nos serviços disponíveis. Dessa forma, os serviços de saúde disponíveis deveriam cumprir o seu papel de atender à população e de serem resolutivos, ou seja, deveriam resolver os problemas de saúde das pessoas. Para ofertar serviços que busquem manter ou melhorar o nível de saúde da população de acordo com suas necessidades, é indispensável conhecer o seu perfil de morbidade. Mas também, existem outros fatores que determinam a oferta de serviços, pois, como já vimos, muitos interesses são diversos no jogo político, o que gera pressão sobre como os serviços serão ofertados. O diagrama das relações entre as necessidades de saúde e o processo de atendimento mostra que a oferta de serviços depende da decisão política e dos recursos disponíveis e de como são planejados e geridos os serviços. 52 Esses determinantes, por sua vez, sofrem influência de diversos setores da sociedade. O sistema de saúde brasileiro, por exemplo, que tem como fundamento a universalidade, também abriga a livre iniciativa de empresas de saúde. Isso faz com que a oferta de serviços seja dada de diferentes maneiras. Há no Brasil uma forte concentração na oferta de serviços em centros urbanos, sobretudo no Sudeste do país. Esses locais apresentam uma concentração de clientes potenciais e, sobretudo, entre aqueles que podem pagar pelos serviços (diretamente ou por meio de seguros de saúde privados). A figura 12 ilustra essa situação: no mapa à esquerda podemos ver áreas mais claras, que concentram um número maior de mamógrafos, correspondendo principalmente aos estados do Sul e Sudeste. No mapa da direita, as áreas claras correspondem a uma proporção maior de usuárias que não precisam se deslocar para outras regiões de saúde para realizar o exame. As regiões Norte e Nordeste apresentam uma proporção maior de mulheres (azul mais escuro) que precisam se deslocar para realizar suas mamografias. A oferta de serviços diminuída nessas áreas pode dificultar o acesso aos procedimentos. Figura 12 - Distribuição de mamógrafos por habitantes e mamografias realizadas fora da região de saúde de residência. Brasil, 2015. Mamógrafos por habitantes (por 100 mil Hab.) Fonte: CNES (87) (89) 3,29 2,63 1,93 1,17 (86) (89) (87) 0 500 km0 500 km Distribuição de mamógrafos Mamógrafos real. fora da RS de Resid. (%) Fonte: SIA-SUS (55) (116) 50 25 10 0 (75) (192) (0) Mamogra�as realizadas 53 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Mamógrafos por habitantes (por 100 mil Hab.) Fonte: CNES (87) (89) 3,29 2,63 1,93 1,17 (86) (89) (87) 0 500 km0 500 km Distribuição de mamógrafos Mamógrafos real. fora da RS de Resid. (%) Fonte: SIA-SUS (55) (116) 50 25 10 0 (75) (192) (0) Mamogra�as realizadas Fonte: PROADESS. Avaliação do Desempenho do Sistema de Saúde. Mapas temáticos. 2017. Disponível em: . Por outro lado, houve uma forte expansão da interiorização de serviços de saúde, como é o caso da Estratégia de Saúde da Família, que possibilitou o acesso aos serviços primários de saúde a uma parcela importante da população do interior do país, incluindo a população rural. Veja na figura 13 que a cobertura da Estratégia de Saúde da Família é maior nas regiões Norte e Nordeste. Essa é uma importante política pública que visa à ampliação do acesso a uma população com acesso limitado aos serviços de saúde. Aqui, a política implementada pode corrigir desigualdades, promovendo a equidade do acesso. 54 Figura 13 - Cobertura da Estratégia de Saúde da Família por Regiões de Saúde. Brasil, 2010. Fonte: PROADESS. Avaliação do Desempenho do Sistema de Saúde. Mapas temáticos. 2017. Disponível em: . Os dois exemplos mostram que a oferta de serviços pode seguir diferentes lógicas, no primeiro caso a iniciativa privada segue a lógica do mercado e, no segundo caso, uma política pública foi desenhada para atender às necessidades de uma população que vivenciava dificuldade no acesso aos serviços de saúde. É indispensável, portanto, que as técnicas de planejamento sejam utilizadas para organizar a oferta de serviços e orientar suas ações para satisfazer as necessidades da sociedade. Com isso, busca-se melhorar a oferta, de forma a equilibrá-la com a demanda pelos serviços. Não se deve, portanto, perder de vista que a finalidade última de um sistema de saúde é melhorar a saúde e promover o bem-estar da população. Cobertura pela Estratégia Saúde da Família (%) (72) (170) 90 80 60 40 (99) (50) (47) 0 500 km 55 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE PARA SABER MAIS! Você faz parte de uma equipe de gestores que deve escolher em qual localidade deverá ser implantado um serviço de saúde. Considerando a escassez de recursos, qual das populações abaixo seria beneficiada? a) A população de um local com precárias condições sanitárias, piores condições socioeconômicas, elevado número de doenças infectocontagiosas e mortalidade precoce por doenças cardiovasculares. Ou b) Uma população com condições de habitação e de saneamento mais favoráveis, maior nível de emprego, renda e escolaridade. População mais idosa e, com isso, predominância das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Temos exemplos de breves análises de situação de saúde de duas populações distintas. Elas devem ter diferentes necessidades de saúde, o que nos permite imaginar que os serviços a serem oferecidos devem considerar esses perfis. A oferta do serviço em questão deverá considerar quem está implantando o serviço. Se estamos falando de gestores da iniciativa privada que não tenha vínculo com o SUS e cujo objetivo é a lucratividade, é provável que a escolha fosse a implantação de um serviço na localidade B. Já se a oferta for pela administração pública, que tem como um dos seus objetivos a equidade, seria mais justo se a unidade de saúde fosse implantada na localidade A. Observe que a tomada de decisão em saúde é um fenômeno complexo e depende de diversos fatores, sendo que alguns deles fogem da nossa capacidade de decisão. Mas no nosso cotidiano, podemos planejar ações com base em evidências, a partir das informações que possuímos, e aqui a Asis é uma ferramenta potente para priorizar as ações e racionalizar as decisões. Além das informações de morbidade e mortalidade, os gestores e 56 profissionais podem utilizar outros enfoques para construir a análise de situação. O enfoque de risco, por exemplo, auxilia na priorização de ações na área da saúde. Esse enfoque se baseia na diferença de probabilidade de adoecimento entre as pessoas e grupos populacionais. São as circunstâncias do ambiente ou características dos indivíduos, herdadas ou adquiridas, e que se associam à maior probabilidade de adoecimento, o que chamamos de “fatores de risco”. Esse enfoque permite determinar prioridades em função das maiores necessidades de um grupo em relação a outro. Para que o enfoque de risco funcione, pelo menos duas condições devem ser preenchidas (PEREIRA, 1995): Na próxima seção, discutiremos de forma mais aprofundada a importância de se identificar as desigualdades em saúde, os grupos que são mais vulneráveis e suscetíveis ao adoecimento, para então promover políticas de saúde mais equitativas. Para compreender melhor a importância da Asis para entendimento dos determinantes sociais da saúde de uma população, vamos analisar o caso do município de Riacho Encantado: Município Riacho Encantado Riacho Encantado é um município de pequeno porte, que dispõe de uma população de 7.422 habitantes, área de 499,40 km² e densidade demográfica de 13,06 habitantes por km². Desde que foi eleita, a atual gestão municipal de saúde tem tentado implantar ações desaúde para reduzir a prevalência das doenças mais comuns entre as crianças na idade escolar, evitando assim o número de faltas durante o ano letivo e melhorando o desempenho escolar. Para isso, a secretária de Saúde do município, Ana Luiza, criou uma equipe para analisar os possíveis determinantes da saúde de crianças nesta a) Que o grau de risco possa ser medido. b) Que o atendimento diferencial aos grupos de risco resulte em maior benefício às pessoas. 57 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE faixa etária. Nessa perspectiva, o grupo formado juntamente com as equipes da Estratégia Saúde Família (ESF) fez um levantamento de informações sobre as condições de vida e de saúde dessa população. E após realizar o levantamento dos dados, Ana Luiza e sua equipe obtiveram os seguintes resultados: O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Riacho Encantado é 0,51 e o índice de Gini é de 0,629. Atualmente, 75,1% de sua população vive abaixo da linha da pobreza (população vivendo com renda domiciliar per capita inferior a R$ 140,00). Ao analisar as doenças mais comuns no público-alvo, verificou-se maiores prevalências de parasitose intestinal (42%), seguida da anemia ferropriva (11%) e doenças respiratórias (4%). Em relação às características demográficas e socioeconômicas dessas crianças, observou-se que a maioria é do sexo masculino (58%) e que 72,5% foram declaradas como pretas, pardas ou mulatas pelos pais. Além disso, entre todas as crianças com idade escolar do município apenas 71,8% estão matriculadas no ensino fundamental. Outro aspecto observado foi que a maioria dos responsáveis das crianças apresenta escolaridade até o ensino fundamental (63%, pais, e 78%, mães). Em relação às suas condições de moradia, observou-se a presença de rede de água e esgoto em apenas 46% dos domicílios. Também vale ressaltar que aproximadamente 38% das residências não possuíam filtros e faziam uso de água não tratada para o consumo. A equipe, ao analisar o acesso a equipamentos sociais, observou que 93,3% das famílias informaram ter supermercados, mercearias ou feiras livres próximo às suas residências, 51% frequentam algum centro religioso, sendo a maioria católica (88,5%), e 10% das mães afirmam frequentar a associação de moradores, embora 56,4% das famílias tenham afirmado dificuldades no acesso a espaços de lazer. Outro aspecto citado pelos moradores foi o baixo acesso às unidades de saúde por terem dificuldades para a marcação de consultas. E por fim, ao analisar o acesso à informação a equipe observou que a proporção de moradores com acesso à televisão é de 89%, a telefone celular é de 76,1% e a computador com internet é de 3,2%. Imagine que você faz parte do grupo que está analisando os dados 58 do município de Riacho Encantado. Utilizando como fio condutor o modelo proposto por Dahlgren e Whitehead (figura 14), reflita: 3.2 Desigualdades em saúde Como seriam organizados os determinantes socais da saúde dessas crianças? A expectativa de vida para quem nasce em um país da África pode ser 30 anos menor que a expectativa de vida de um bebê que nasce na Europa. A taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares entre negros pode ser 50% maior que a de brancos, como acontece nos Estados Unidos. A taxa de mortalidade infantil (TMI) pode ser quase o dobro na Região Norte do Brasil em relação à encontrada no Sul do país. As disparidades em saúde podem ser encontradas também dentro de uma mesma cidade, onde a expectativa de vida pode variar mais de 20 anos entre áreas mais pobres e áreas com população mais rica (MARMOT, 2007; CDC, 2013; BRASIL, 2014). Você já parou para pensar sobre essas diferenças nos resultados de saúde entre as populações? Quais seriam as causas para essas disparidades? Difícil imaginar que essas diferenças em saúde se deem unicamente por herança genética, por questões estritamente biológicas. De fato, não está no âmbito biológico a resposta para a mortalidade infantil no Norte do país ser maior do que no Sul. Afinal, a mortalidade infantil vem sendo drasticamente reduzida no país nas últimas décadas como resultado de diversas melhorias nas condições de vida na população. O Nordeste brasileiro, que sempre sustentou a maior TMI no Brasil, deu lugar à região Norte como 59 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE líder em mortes infantis. Aqui estão algumas pistas para desmistificarmos que as diferenças de saúde apresentadas são devidas unicamente a uma fragilidade genética ou fisiológica de uma população em relação à outra. Com esse exemplo, você pode observar que o padrão da expectativa de vida, ou das taxas de mortalidade, segue na direção de penalizar os grupos socialmente mais vulneráveis. As desigualdades de saúde, assim apresentadas, são socialmente construídas a partir das relações humanas e entre o homem e o meio em que vive. Essas diferenças entre os grupos populacionais, determinadas entre outras coisas pela posição geográfica, pela cor da pele e/ou pela renda das pessoas e famílias, “têm origem em grande parte devido às condições nas quais as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem” (CDSS, 2010). Quando as diferenças em saúde são sistemáticas, socialmente produzidas e injustas (e, portanto, modificáveis), são denominadas iniquidades em saúde. As iniquidades são geradas a partir da distribuição desigual dos fatores que determinam a saúde da população, tais como renda, educação, emprego, moradia, lazer e meio ambiente (WHITEHEAD; DAHLGREN, 2006). Portanto, descortinam-se as razões para as diferenças de saúde entre as populações que foram apresentadas no início desta seção. O interesse em investigar as desigualdades em saúde vem crescendo nas últimas décadas, juntamente com o aumento dessas desigualdades em boa parte do mundo. O reflexo da preocupação com o tema pode ser visto na criação da Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde dentro da Organização Mundial da Saúde em 2005, e aqui no Brasil, com a instituição de uma comissão nacional com objetivos similares. Como objetivos gerais, a Comissão da OMS buscava consolidar as evidências científicas produzidas sobre tema e promover um movimento global para alcançar a igualdade na saúde. Se por um lado o movimento ainda não conseguiu impulsionar a redução das desigualdades, por outro mostrou que as evidências sobre a determinação social da saúde são convincentes e em um volume que deveria mobilizar os gestores e políticos para a equidade em saúde. Dahlgren e Whitehead propuseram um modelo teórico que auxilia na explicação da determinação social. O esquema apresenta os diferentes níveis 60 de determinação social, desde a camada mais externa, onde visualizamos as condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais, até a mais proximal ao indivíduo, correspondendo aos fatores hereditários e outras características pessoais, como idade e sexo. Veja na figura 14 esse modelo de determinação social da saúde. Esse modelo de determinação considera os diversos fatores que contribuem para a saúde dos indivíduos e das populações. Na camada mais externa da figura 14, as condições socioeconômicas atuariam sobre a saúde da população de forma que os níveis de renda e de riqueza determinariam melhor ou pior saúde. Você pode observar um exemplo de como os diferentes níveis de riqueza podem gerar diferentes resultados em saúde no quadro 1. MICAS, CULTURAIS CO NDIÇ ÕES SOCIOECONÔMICAS, CULTU E AMBIENTAIS GERAIS R EDES S O C I A I S E C O M U N ITÁRIA S PRODUÇÃO AGRÍCOLA E DE ALIMENTOS EDUCAÇÃO AMBIENTE DE TRABALHO CONDIÇÕES DE VIDA E DE TRABALHO DESEMPREGO ÁGUA E ESGOTO SERVIÇOS SOCIAIS DE SAÚDE HABITAÇÃO ES T L D Í O I O DE VIDA DOS IN IV DU S IDADE, SEXO E FATORES HEREDITÁRIOS Quadro 1 - Expectativa de vida masculina em diferentes países. Figura 14 - Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead. Fonte: DAHLGREN; WHITEHEAD apud SUCUPIRA et al., 2014. PaísExpectativa de vida ao nascer Reino Unido, Escócia, Glasgow (Calton)b 54 Índia 62 Estados Unidos, Washington DC (afroamericanos)c 63 Filipinasa 64 61 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Lituâniaa 65 Brasila 68 Polôniaa 71 Méxicoa 72 Estados Unidosa 75 Cubaa 75 Reino Unidoa 77 Japãoa 79 Islândiaa 79 Estados Unidos, Condado de Montgomery (caucasianos)c 80 Reino Unido, Escócia, Glasgow (Lenzie N.)b 82 a) Dados do país: 2005 dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2007c); b) Dados recolhidos entre 1998 - 2002 (Hanlon, Walsh & Whyte, 2006); c) Dados recolhidos entre 1997 - 2001 (Murray et al., 2006). Fonte: CDSS. Redução das desigualdades no período de uma geração. Igualdade na saúde através da acção sobre os seus determinantes sociais. Relatório Final da Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde. Portugal, Organização Mundial da Saúde, 2010. O quadro mostra as diferenças na expectativa de vida ao nascer entre os países e mesmo dentro deles (ver Reino Unido, Escócia, Glasgow e os Estados Unidos). Vemos que os países desenvolvidos apresentam maior expectativa de vida em relação aos países menos desenvolvidos (caso de Índia e Brasil). Mas essa diferença também aparece dentro dos países, onde as regiões mais ricas apresentam maior expectativa de vida do que as áreas mais pobres – Washington DC (afroamericanos) e Condado de Montgomery (caucasianos) nos Estados Unidos. A exceção é Cuba, que apesar de ser um país de renda baixa, possui características políticas peculiares, onde há oferta de saúde universal e um sistema de proteção social estatal. No Brasil, a diferença de renda pode determinar maior ou menor mortalidade na infância, além das diferenças entre as regiões. Observamos que apesar da redução da mortalidade entre os anos de 1990 e 2005, as diferenças entre os 20% mais pobres (1º Quintil) e os 20% mais ricos (5º Quintil) ainda persistem, bem como as diferenças regionais. Veja no gráfico 2 essas diferenças: 62 Gráfico 2 - Taxa de mortalidade na infância, por quintis de renda familiar per capita, segundo região. Brasil, 1990/2000/2005. Fonte: IBGE, 2005 apud CNDSS, 2008. Gráfico 3 - Diferença das taxas de mortalidade infantil entre países e nos países, pela educação da mãe. Fonte: CDSS. Redução das desigualdades no período de uma geração. Igualdade na saúde através da acção sobre os seus determinantes sociais. Relatório Final da Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde. Portugal, Organização Mundial da Saúde, 2010. As “Condições de vida e de trabalho” (figura 14) também determinam a saúde da população. Nesse nível, encontramos diferentes fatores, entre eles a educação. A situação de saúde pode ser bem distinta a depender de quantos anos de estudos o indivíduo possui. Além disso, a educação também influencia a saúde dos outros membros da família, como você pode verificar no gráfico 3. Brasil Norte Nordeste Sudeste Centro-OesteSul 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 1990 1º Quintil 2000 1º Quintil 2005 1º Quintil 2000 5º Quintil 2005 5º Quintil 1990 5º Quintil 160 140 120 100 80 60 40 20 0Ta xa d e m or ta lid ad e in fa nti l p or 1 00 0 na do s v iv os z Colômbia Jordânia Vietname Honduras Filip inas Egito Indonésia Marro cos Eritr eia Nepal Gana Bolívia Haiti Senegal Bangladesh Quénia Congo Camarões Lesoto Unganda Cambodja Maláui Zâmbia Níger Ruanda Nigéria Chade Guiné Moçambique Burkina Faso República Unida da Ta nzânia Etiópia Madagasca r Zim babué República Dominica na Sem educação Secundária ou mais elevada Dados de Inquéritos Demográficos e de Saúde (IDS, s.d.) da STATcompiler. A linha escura contínua representa a taxa de mortalidade infantil média nos países; os pontos nas extremidades das barras indicam a taxa de mortalidade infantil para mães sem educação e mães com educação secundária ou mais elevada. 63 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE O gráfico 3 mostra que a mortalidade infantil sofre influência tanto do país em que é medida como da educação da mãe. No caso do Congo, a taxa pode variar de 60 óbitos infantis por mil nascidos vivos para mães com instrução até próximo a 140 mortes por mil nascidos vivos entre aquelas sem instrução. O Brasil também apresenta diferenças importantes na escolaridade das mulheres, o que pode implicar piores condições de saúde da população. Observamos no gráfico 4 a diferença de escolaridade por região brasileira. 19,2 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 50,0 0,0 12,3 39,2 26,3 16,1 44,9 30,9 20,3 22,1 22,1 27,1 16,8 12,9 8,4 8,4 8,4 13,5 29,6 Brasil Norte Nordeste Sudeste Centro-OesteSul 1991 2000 2005 Gráfico 4 - Mulheres de 15 a 49 anos analfabetas funcionais (menos de 4 anos de estudo), segundo região. Brasil, 1991/2000/2005. Fonte: IBGE, 2005 apud CNDSS, 2008. 64 Outro fator determinante da saúde da população é a oferta dos serviços de saúde, que podem ou não garantir o seu acesso para a resolução dos problemas de acordo com suas necessidades. Vimos na seção anterior, que há uma concentração de serviços e equipamentos de saúde em grandes centros urbanos, pois a lógica de mercado muitas vezes se sobrepõe à necessidade de saúde de uma parcela importante da população. Para reduzir as desigualdades em saúde, é importante que políticas públicas sejam desenhadas a fim de corrigir injustiças geradas pelos diversos fatores sociais e econômicos (como é o caso da Estratégia de Saúde da Imagine que na sua área de atuação, existem algumas famílias cujas mulheres não têm instrução. Elas têm idade fértil e algumas já estão grávidas. Sabendo que essas mulheres não costumam fazer suas consultas pré-natal, como garantir uma assistência adequada à mãe e ao bebê? Retornamos à discussão do “enfoque de risco”, que foi tema do fim da seção anterior. Temos na situação acima famílias em situação de vulnerabilidade, e as evidências mostram que esses grupos têm maior risco de adoecimento e de mortalidade. Elas não podem receber o mesmo tratamento dado a famílias com alto grau de instrução e de renda, ao contrário, devem receber maior atenção das equipes de saúde. Certamente essas famílias deveriam receber visitas domiciliares, em vez de a equipe aguardá-las nos serviços, bem como receber maior atenção da gestão, a qual deve ser responsável por articular ações intersetoriais que garantam a cidadania e o bem-estar dessas pessoas. 65 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Família). As desigualdades na oferta de serviços geram dificuldades para o acesso da população que está sob maior risco de adoecimento. Os gráficos 5 e 6 mostram como a oferta de serviços deve se basear nas necessidades de saúde, ou pelo menos se guiar no enfoque de risco, para possibilitar um acesso adequado aos que mais precisam dos serviços e corrigir desigualdades em saúde. Podemos observar no Gráfico 5 que as mulheres com menos escolaridade acessam menos os serviços para a realização de exames preventivos do colo do útero. Destacamos que a mortalidade para o câncer do colo do útero é maior em mulheres com esse perfil, uma vez que costumam ser diagnosticadas tardiamente. O gráfico 6 mostra que quanto menor a escolaridade (sem instrução e fundamental incompleto), menor a proporção de mulheres com sete e mais consultas de pré-natal. É importante para gestores e profissionais de saúde utilizarem essas informações para direcionar as ações para grupos prioritários, com o intuito de diminuir ou eliminar as desigualdades em saúde. Gráfico 5 - Proporção (%) de mulheres de 25 anos ou mais de idade que realizaram, alguma vez, exame preventivo para câncer de colo uterino, por anos de estudo. Brasil, 2003. Fonte: IBGE, 2005 apud CNDSS, 2008. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 % 55,8 72,6 81,5 87,0 87,9 93,193,1 Sem instrução e menos de 1 ano 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 a 14 anos 15 ou mais Anos de estudo 66 Além dosdeterminantes discutidos até aqui, outros fatores influenciam a saúde da população. O ambiente de trabalho, por exemplo, pode ser um estressor para os trabalhadores e gerar diversos problemas de saúde, com destaque para os problemas mentais. O ambiente de trabalho também está relacionado com o surgimento de doenças cardiovasculares, podendo causar morte precoce por infarto ou acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo. Da mesma forma, o ambiente onde as pessoas residem pode influenciar o adoecimento e a morte precoce. Esse efeito sobre a vida das pessoas acompanha os sujeitos por vários anos, mesmo após terem mudado para lugares mais ricos. A diferença da expectativa de vida em algumas cidades pode superar os 20 anos dependendo da região da cidade onde se vive (MARMOT, 2016). Uma das ações para se reduzir as desigualdades com relação à habitação é combater a segregação residencial, que empurra a população mais pobre para a periferia das cidades, com menos infraestrutura para oferecer bem-estar à população. Seguindo os níveis causais apresentados no modelo de determinação social da saúde, proposto por Dahlgren e Whitehead (figura 14), observamos que as “Redes sociais e comunitárias” são determinantes da saúde. De fato, quando há maior coesão social, envolvendo familiares, amigos e vizinhos, há melhores resultados em saúde. Esse apoio é importante para a redução Gráfico 6 - Proporção de nascidos vivos, segundo número de consultas pré-natal, por escolaridade da mãe. Brasil, 2014*. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2015/2016: uma análise da situação de saúde e da epidemia pelo vírus Zika e por outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2016a. 386 p. *Foram excluídos desta tabela 2,8% dos registros que possuíam número de consultas não informados ou ignorados. Não foram apresentados os registros sem informação ou com informação ignorada de nível de instrução (2,1% dos registros). Nº de consultas Escolaridade ciclos/séries Sem instrução e fundamental incompleto Fundamental completo e médio incompleto Médio completo e superior incompleto Superior Completo Total Nenhuma consulta 1,2 0,5 0,4 0,1 0,6 1-3 consultas 12,5 6,6 4,5 1,5 6,9 4-6 consultas 33,9 27,7 23,3 11,6 26,1 7 e + consultas 52,4 65,1 71,9 86,9 66,4 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 67 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE da vulnerabilidade e risco de adoecimento, mas também para a reabilitação das doenças já instaladas. Por fim, apresentaremos a camada imediatamente acima dos fatores mais proximais, tais como a herança genética, sexo e idade. São os “estilos de vida dos indivíduos”, que determinam o surgimento de diversas patologias. Interessante destacar que o estilo de vida dos indivíduos também é determinado por outros fatores. Não é difícil imaginar que o tabagismo, o consumo de álcool, a má alimentação e o sedentarismo são afetados por outras condições sociais. Além disso, dependendo das condições socioeconômicas dos indivíduos, o efeito desses fatores de risco pode ser ainda mais deletério, com prejuízo à população mais pobre. O hábito de fumar tem vários efeitos nocivos sobre a saúde, e o consumo diário aumenta o risco de doença isquêmica do coração e AVC em 2-4 vezes e o risco de câncer de pulmão e doença obstrutiva pulmonar em 15-20 vezes (DIDERICHSEN et al., 2012). Veja no gráfico 7 as informações sobre o uso do tabaco em diferentes grupos populacionais, com maior prevalência entre homens e pessoas com baixa escolaridade. 40,0 0,0 % To ta l Ho m em M ul he r Br an ca Pr et a Pa rd a Se m in st ru çã o e fu nd am en ta l i nc om pl et o Fu nd am en ta l c om pl et o e m éd io in co m pl et o M éd io c om pl et o e su pe rio r i nc om pl et o Su pe rio r i nc om pl et o De 1 8 a 24 a no s De 2 5 a 39 a no s De 4 0 a 59 a no s De 6 0 an os o u m ai s 15,0 19,2 11,2 10,7 13,2 13,3 13,1 17,8 16,4 20,2 10,4 8,8 16,6 19,4 Intervalo de confiança Gráfico 7 - Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade usuárias atuais de produtos derivados do tabaco, com indicação do intervalo de confiança de 95%, segundo o sexo, os grupos de idade, a cor ou raça e o nível de instrução. Brasil, 2013. Fonte: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Brasil, grandes regiões e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2014. 68 Por ser um importante fator de proteção para a saúde, a prática de atividade física é objeto de investigação frequente em pesquisas e inquéritos. O padrão dos grupos de atividade modifica de acordo com o domínio (se é realizada no período de lazer, no trabalho, no deslocamento para o trabalho ou em atividades domésticas), e é mais frequente entre pessoas de maior É importante destacar que há uma interação entre o tabagismo e muitos outros fatores de risco para doença cardiovascular e câncer, os quais também são socialmente influenciados. Isso traz implicações no impacto do tabagismo, que se torna maior para os grupos sociais menos favorecidos. Outro fator de risco importante para a saúde da população, e que também foi objeto da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) em 2013, é o consumo de álcool. O consumo de álcool implica em risco para várias doenças, como cirrose hepática, câncer, doenças gastrointestinais, AVC, problemas psiquiátricos, assim como violências e acidentes. Acompanhe no gráfico 8 os padrões de consumo de álcool em diferentes grupos, com maior prevalência entre homens e em pessoas jovens e, curiosamente, entre indivíduos com maior escolaridade. Gráfico 8 - Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que costumam consumir bebida alcoólica uma vez ou mais por semana, com indicação do intervalo de confiança de 95%, segundo o sexo, os grupos de idade, a cor ou raça e o nível de instrução. Brasil, 2013. Fonte: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Brasil, grandes regiões e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2014. 50,0 0,0 % To ta l Ho m em M ul he r Br an ca Pr et a Pa rd a Se m in st ru çã o e fu nd am en ta l i nc om pl et o Fu nd am en ta l c om pl et o e m éd io in co m pl et o M éd io c om pl et o e su pe rio r i nc om pl et o Su pe rio r i nc om pl et o De 1 8 a 24 a no s De 2 5 a 39 a no s De 4 0 a 59 a no s De 6 0 an os o u m ai s 24,0 36,3 13,0 27,1 28,5 14,2 25,3 26,5 22,1 19,0 26,0 30,5 26,7 23,4 Intervalo de confiança 69 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE escolaridade quando é realizada durante as horas de lazer, ao passo que é mais comum entre grupos de baixa escolaridade quando a atividade é executada no trabalho. Veja no gráfico 9 as informações sobre a prática de atividade física por domínio. 11,7 23,6 28,8 37,6 17,3 17,4 12,2 4,7 33,9 34,5 31,0 24,8 10,9 12,7 13,9 10,7 45,0 0,0 % Lazer Trabalho Deslocamento Atividades domésticas Sem instrução e fudamental incompleto Médio completo e superior incompleto Fundamental completo e médio incompleto Superior completo Intervalo de confiança Gráfico 9 - Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade fisicamente ativas, com indicação do intervalo de confiança de 95%, por nível de instrução, segundo o domínio de atividade. Brasil, 2013. Fonte: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Brasil, grandes regiões e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2014. A atividade física é fator de proteção para diversos tipos de câncer, ao passo que osedentarismo é reconhecidamente fator de risco para doença cardiovascular, obesidade e diabetes tipo 2. Por fim, destacamos ainda outro fator de risco relevante, que é a má alimentação. A dieta altera o risco para doença cardiovascular, sobrepeso e diabetes, assim como diversos tipos de câncer, como oral, garganta, esofágico, de estômago, retal assim como câncer de mama. Os gráficos 10 e 11 apresentam as diferenças na proporção de pessoas com alimentação inadequada. Você pode verificar no gráfico 10 que em relação ao consumo recomendado de frutas e hortaliças, quanto maior a escolaridade, maior a proporção de pessoas que consomem a dieta recomendada. A proporção de pessoas brancas com dieta de frutas e hortaliças adequada é maior do que a de pretos e pardos. 70 Gráfico 10 - Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade com consumo recomendado de hortaliças e frutas, com indicação do intervalo de confiança de 95%, segundo o sexo, os grupos de idade, a cor ou raça e o nível de instrução. Brasil, 2013. Fonte: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Brasil, grandes regiões e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2014. O gráfico 11 mostra que o consumo de proteínas com excesso de gordura é maior entre os menos escolarizados e entre homens. Percebe-se que, além dos demais determinantes que afetam a saúde da população com menor status socioeconômico, os fatores de risco se tornam mais um ônus para a saúde dos grupos mais vulneráveis. 100,0 0,0 % To ta l Ho m em M ul he r Br an ca Pr et a Pa rd a Se m in st ru çã o e fu nd am en ta l i nc om pl et o Fu nd am en ta l c om pl et o e m éd io in co m pl et o M éd io c om pl et o e su pe rio r i nc om pl et o Su pe rio r i nc om pl et o De 1 8 a 24 a no s De 2 5 a 39 a no s De 4 0 a 59 a no s De 6 0 an os o u m ai s 37,3 34,8 39,4 33,7 35,9 40,1 38,7 35,835,9 33,0 39,9 45,9 35,438,7 Intervalo de confiança 71 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE 100,0 0,0 % To ta l Ho m em M ul he r Br an ca Pr et a Pa rd a Se m in st ru çã o e fu nd am en ta l i nc om pl et o Fu nd am en ta l c om pl et o e m éd io in co m pl et o M éd io c om pl et o e su pe rio r i nc om pl et o Su pe rio r i nc om pl et o De 1 8 a 24 a no s De 2 5 a 39 a no s De 4 0 a 59 a no s De 6 0 an os o u m ai s 37,3 47,2 28,3 39,9 41,0 28,2 35,9 38,239,7 40,0 35,4 26,7 42,2 37,0 Intervalo de confiança Gráfico 11 - Proporção de pessoas de 18 anos ou mais de idade que consomem carne ou frango com excesso de gordura, com indicação do intervalo de confiança de 95%, segundo o sexo, os grupos de idade, a cor ou raça e o nível de instrução. Brasil, 2013. Fonte: BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde 2013: Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas. Brasil, grandes regiões e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE, 2014. Percebemos, então, que vários são os determinantes da saúde. Muitos deles estão além das características pessoais de herança genética e outros fatores biológicos. Os determinantes sociais da saúde (DSS) são distribuídos desigualmente na sociedade, gerando o que se chama de iniquidade em saúde. Os DSS devem, portanto, fazer parte da Asis, com vistas a contemplar os grupos populacionais mais vulneráveis e gerar políticas públicas que reduzam as desigualdades, promovendo justiça e bem-estar à população. RETOMANDO O CASO DO MUNICÍPIO DE RIACHO ENCANTADO Retomando a organização dos determinantes sociais da saúde das crianças em idade escolar do município de Riacho Encantado e utilizando como fio condutor o modelo proposto por Dahlgren e Whitehead, temos a seguinte organização segundo as camadas do modelo, conforme figura 15 (SUCUPIRA et al, 2014; BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007): 72 Figura 15 - Organização dos DSS das crianças em idade escolar do município de Riacho Encantado segundo modelo proposto por Dahlgren e Whitehead. Nível 1 - Idade, sexo e fatores hereditários Nível 2 - Estilo de vida dos indivíduos Nível 3 - Redes sociais e comunitárias • Na base do modelo de Dahlgren e Whitehead estão os indivíduos com suas características individuais que influenciam o modo de viver e adoecer (SUCUPIRA et al., 2014). • No caso do Município de Riacho Encantado entre as crianças em idade escolar a maioria são do sexo masculino e com cor da pele preta, parda ou mulata. • No segundo nível está o estilo de vida, o qual é uma camada situada no limiar entre os fatores individuais e os DSS. Os comportamentos – muitas vezes entendidos apenas como de responsabilidade individual, dependentes de opções feitas pelo livre arbítrio das pessoas – na realidade podem também ser considerados parte dos DSS, já que essas opções estão fortemente condicionadas por determinantes sociais, como informações, propaganda, pressão dos pares, possibilidades de acesso a alimentos saudáveis e espaços de lazer (BUSS & PELLEGRINI FILHO, 2007). • No caso de Riacho Encantado, muitas famílias afirmaram não ter acesso a espaços de lazer, o que pode prejudicar a prática de atividade física. Além disso, muitas famílias afirmaram ter facilidade de acesso à informação por meio televisivo. • O terceiro nível destaca a influência das redes comunitárias e de apoio cuja maior ou menor riqueza expressa o nível de coesão social, que é de fundamental importância para a saúde da sociedade como um todo (BUSS & PELLEGRINI FILHO, 2007). Os laços familiares e religiosos formam importantes núcleos de apoio, pois a frequência a esses espaços públicos constituem-se em mecanismos de socialização e acesso às informações. A participação em grupos de igreja, grupos de esporte, organizações fraternais e uniões trabalhistas é um dos componentes mais fortemente relacionado à qualidade de vida e à saúde (SUCUPIRA et al., 2014). • Em Riacho Encantado, a maioria das famílias frequenta algum centro religioso, e, em menor proporção, a associação de moradores. 73 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Nível 4 - Condições de vida e trabalho Nível 5 - Condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais • No quarto nível estão representados os fatores relacionados às condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação, indicando que as pessoas em desvantagem social correm um risco diferenciado, criado por condições habitacionais mais humildes, exposição a condições mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso menor aos serviços (BUSS & PELLEGRINI FILHO, 2007). • No município de Riacho Encantado as características dos domicílios refletem condições sanitárias precárias com dificuldades de acesso à rede de água e esgoto e baixo consumo de água potável. Chama atenção a baixa escolaridade dos pais dessas crianças. Além disso, a baixa escolaridade dos pais tem grande repercussão no perfil escolar das crianças, as quais apenas 71,8% estão matriculadas no ensino fundamental. A utilização dos serviços de saúde é, em grande parte, determinada pela disponibilidade dos serviços oferecidos. Em Riacho Encantado muitos moradores relataram dificuldades na marcação de consultas nas unidades de saúde municipais. E em relação à disponibilidade de alimentos, a maioria das famílias afirmou ter fácil acesso a supermercados, mercearias e feiras livres. • No último nível estão situados os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade e que possuem grande influência sobre as demais camadas (BUSS & PELLEGRINI FILHO, 2007). • Em Riacho Encantado foi possível observar um baixo IDH e um baixo índice de Gini.Além disso, um alto percentual da população do município vive abaixo da linha da pobreza. Destaca-se também neste nível que a maioria das famílias do município são de religião católica. Segundo o Ministério da Saúde, em 2016, as doenças infeciosas e parasitárias representaram a sexta causa de morbidade no país, totalizando 831 mil internações, o que corresponde a 7,36% da morbidade hospitalar no período (DATASUS, 2017a). A partir dessa análise, quais determinantes sociais da saúde apresentados poderiam estar relacionados à alta prevalência das doenças parasitárias entre as crianças escolares de Riacho Encantado? 74 Os efeitos patogênicos causados pelas infecções parasitárias exercem importante influência sobre o estado nutricional, o crescimento e a função cognitiva, principalmente nas fases precoces da vida (FERREIRA et al., 2004), ocasionando quadros de má-absorção, diarreia crônica, anemia, desnutrição, dores abdominais, dificuldade de aprendizado e concentração, atraso no crescimento e baixo rendimento escolar (CASTRO et al., 2005; PITTNER et al., 2007). A prevalência de infecções por parasitos intestinais é um dos melhores indicadores do status socioeconômico de uma população e pode estar associada a diversos determinantes, como instalações sanitárias inadequadas, poluição fecal da água e de alimentos consumidos, fatores socioculturais, baixa escolaridade dos pais, contato com animais, ausência de saneamento básico, além da idade do hospedeiro e do tipo de parasito infectante (ASTAL, 2004; GAMBOA et al., 2003). PARA SABER MAIS! Para aprofundar seu conhecimento sobre iniquidades em saúde, sugerimos a leitura dos seguintes relatórios: • As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil - Relatório final da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS). • Redução das desigualdades no período de uma geração: igualdade na saúde através da ação sobre os seus determinantes sociais - Relatório final da Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde. Você pode acessar também o site Determinantes Sociais da Saúde: portal e observatório sobre iniquidades em saúde. 75 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE 3.3 A carga global de doenças no Brasil Historicamente, as medidas de mortalidade e, posteriormente de morbidade, foram as mais utilizadas para a compreensão do processo saúde- doença. As explicações para o uso predominante das “medidas de doenças” resultam do fato de que os sistemas de saúde estão voltados, prioritariamente, para o diagnóstico e tratamento de agravos à saúde e, portanto, os registros obtidos no cotidiano dos serviços estão relacionados a doenças e óbitos. Com a ampliação do conceito de saúde, tal como concebido pela OMS – a qual considera a saúde como o estado de completo bem-estar físico, mental e social –, outros atributos relacionados à saúde passaram a ser buscados na hora de medir bem-estar. Qualidade de vida, funcionalidade e saúde autorreferida são alguns exemplos de medidas que visam a mensurar os aspectos positivos da saúde. Outro aspecto gerou maior interesse dos investigadores na busca de outros indicadores positivos de saúde. O aumento da expectativa de vida resultante da transição demográfica e epidemiológica gerou não só acréscimos aos anos vividos pelos indivíduos, mas também problemas oriundos das doenças crônicas inerentes ao processo de envelhecimento. Nesse contexto, o Banco Mundial patrocinou a criação de um indicador que combinasse morbidade e mortalidade, e que fosse comparável entre diferentes populações. Além disso, o indicador deveria propiciar aos formuladores de políticas um comparativo entre os efeitos das diferentes doenças que matam prematuramente e causam falta de saúde nas pessoas. Você deve ter observado que neste livro utilizamos diversos exemplos de medidas de saúde: taxa de mortalidade infantil (TMI), mortalidade proporcional por causas, incidência de doenças e outras. Se você parar para observar com cuidado, esses indicadores estão mais para medidas de doença do que para saúde! 76 Esse estudo, denominado Carga Global de Doença (sua abreviação vem do inglês Global Burden Disease – GBD), além de prover um cenário comparável das causas de morte e invalidez em nível nacional ou internacional, também calcula a carga de doenças atribuível a distintos fatores de risco. O GBD também incorpora a prevalência de um fator de risco e o dano relativo causado por esse mesmo fator (IMAS, 2013). Veja na figura 16 como é mensurada a carga de doença: A parcela da mortalidade é medida pelos “anos de vida perdidos” (YLL – years of life lost) por morte prematura. Veja como isso pode ocorrer no exemplo da figura 17: Para mensurar a carga de doença, o indicador utilizado é o DALY (Disability Adjusted Life Years), que significa anos de vida ajustados por incapacidade, e mede simultaneamente o: efeito da mortalidade (anos de vida perdidos por óbito precoce) efeito da morbidade (grau e tempo de incapacidade devido a uma dada patologia). Portanto, um DALY equivale a 1 ano perdido de vida saudável. Figura 16 - Mensuração da carga de doença. Fonte: IMAS. Estudo de Carga de Doença Global: gerando evidências, informando políticas de saúde. Seattle, WA: IHME, 2013. Figura 17 - Exemplo didático sobre “anos de vida perdidos”. Fonte: UNA-SUS/UFMA. Se em um país a expectativa de vida é de 80 anos Ele perdeu 30 anos E um indivíduo morre aos 50 77 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Já a parte da morbidade é medida pelos “anos vividos com incapacidade” (YLD – years lived with disability). Medir a incapacidade é uma etapa mais complexa, pois é necessário utilizar pesos para quantificar a perda de saúde. Cada condição de saúde tem um peso, uma vez que uma dor lombar tem impacto diferente de uma paraplegia na vida das pessoas. Como exemplo, vejamos a figura 18: O DALY pode ser calculado para indivíduos, mas para representar a carga de doença é necessário somar os resultados de todos eles. O DALY pode, portanto, representar o processo saúde-doença com um olhar voltado para a qualidade de vida dos anos vividos por um indivíduo e, no seu conjunto, por diferentes populações, mesmo utilizando dados de mortalidade e morbidade. A carga de doenças, portanto, pode ser comparada entre diferentes populações, como você pode observar no gráfico 12. Figura 18 - Exemplo de “anos vividos com incapacidade”. Fonte: UNA-SUS/UFMA. Um adulto que sofreu um acidente aos 30 anos e ficou paraplégico Vivendo 50 anos nessa condição Considerando que a paraplegia tem peso 0,5, ele terá 25 anos (50 x 0,5 = 25 YLD) de perda da qualidade de vida 78 Gráfico 12 - A mudança no fardo por região desde morte prematura a anos vividos com invalidez, 1990 e 2010. Fonte: IMAS. Estudo de Carga de Doença Global: gerando evidências, informando políticas de saúde. Seattle, WA: IHME, 2013. DA LY (% ) 100 80 60 40 20 0 1990 ÁS IA – P AC ÍF IC O D E RE N DA A LT A EU RO PA O CI DE N TA L AU ST RA LÁ SI A AM ÉR IC A DO N O RT E DE R EN DA A LT A EU RO PA C EN TR AL SU L DA A M ÉR IC A LA TI N A EU RO PA O RI EN TA L LE ST E AS IÁ TI CO RE GI ÃO T RO PI CA L DA A M ÉR IC A LA TI N A RE GI ÃO C EN TR AL D A AM ÉR IC A LA TI N A SU DE ST E AS IÁ TI CO ÁS IA C EN TR AL AM ÉR IC A AN DI N A N O RT E DA Á FR IC A E O RI EN TE M ÉD IO CA RI BE SU L DA Á SI A O CE AN IA ÁF RI CA S U BS AA RI AN A M ER IO DI N AL ÁF RI CA S U BS AA RI AN A O RI EN TA L ÁF RI CA S U BS AA RI AN A CE N TR AL ÁF RI CA S U BS AA RI AN A O CI EN TA L DA LY (% ) 100 80 60 40 20 0 2010 ÁS IA – P AC ÍF IC O D E RE N DA A LT A EU RO PA O CI DE N TA L AU ST RA LÁ SI A AM ÉR IC A DO N O RT E DE R EN DA A LT A EU RO PA C EN TR AL SU L DA A M ÉR IC A LA TI N A EU RO PA O RI ENTA L LE ST E AS IÁ TI CO RE GI ÃO T RO PI CA L DA A M ÉR IC A LA TI N A RE GI ÃO C EN TR AL D A AM ÉR IC A LA TI N A SU DE ST E AS IÁ TI CO ÁS IA C EN TR AL AM ÉR IC A AN DI N A N O RT E DA Á FR IC A E O RI EN TE M ÉD IO CA RI BE SU L DA Á SI A O CE AN IA ÁF RI CA S U BS AA RI AN A M ER IO DI N AL ÁF RI CA S U BS AA RI AN A O RI EN TA L ÁF RI CA S U BS AA RI AN A CE N TR AL ÁF RI CA S U BS AA RI AN A O CI EN TA L Anos vividos com invalidez (YLDs) Anos de vida perdidos em decorrência de mortalidade prematura (YLLs) 79 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Podemos observar no gráfico a mudança na composição do DALY entre os anos de 1990 e 2010. Naquele ano, as mortes prematuras compunham a maior parte do indicador em todas as regiões. O padrão se modifica em 2010, sobretudo em países desenvolvidos, cuja maior expectativa de vida gerou mais anos vividos, porém com aumento da invalidez. Outra possibilidade gerada pelo GBD é a análise por causas de doenças (ou grupos delas), onde o GBD permite visualizar o processo de transição epidemiológica, apontando as principais causas de morte e incapacidade. Dessa forma, auxilia os gestores na tomada de decisão para a implementação de políticas de saúde (tabela 2). Você pode verificar no gráfico 13 as características da mudança da carga de doenças em países em desenvolvimento, fazendo um comparativo do ano de 1990 até a estimativa para 2020. Fica clara a redução da participação das doenças transmissíveis, ao passo que as não transmissíveis se consolidarão como principal componente da carga de doenças. Destaca-se ainda o trauma (acidentes e violências) com aumento na participação no GBD. Causas 1990 2010 HIV/Aids 18.117 81.547 Doenças diarreicas 183.538 89.513 Infecções respiratórias do trato inferior 206.460 115.227 Desnutrição proteico-calórica 60.543 34.874 Câncer de mama 8.845 12.018 Câncer de próstata 2.352 3.787 Doenças isquêmicas do coração 100.473 129.820 Mal de Alzheimer e outras demências 5.695 11.349 Esquizofrenia 10.444 14.999 Depressão 46.139 63.179 Diabetes mellitus 27.706 46.823 Dor lombar e cervical 82.111 116.704 Acidente de transporte 56.655 75.482 Violência interpessoal 19.593 25.541 Tabela 2 - Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade (DALYs, em milhares): todas as idades, agregando os 187 países do estudo. Fonte: Murray et al. (2012) apud Melo e Nogueira (2015). 80 Para o Brasil, podemos observar o padrão da mudança gerada pela transição epidemiológica no gráfico 14. São apresentados a carga total de doenças e os seus componentes “anos de vida perdidos” por morte prematura (YLL) e “anos vividos com incapacidade” (YLD). Podemos visualizar que o grupo de causas não transmissíveis é responsável pela maior parte da carga total de doenças, assim como seus componentes. Importante destacar os anos de vida perdidos por traumas e doenças transmissíveis, que somados chegam próximo a 35% do total. Gráfico 13 - Distribuição dos óbitos decorrentes de causas transmissíveis e não transmissíveis em países em desenvolvimento, 1990 e projeção para 2020. Fonte: Murray; Lopez, 1996 apud Gordis, 2010. Grupo II (Não Transmissíveis) 47% Grupo II (Não Transmissíveis) 69% 1990 2020 Grupo I (Transmissíveis) 42% Grupo I (Transmissíveis) 18% Grupo III (Traumas) 11% Grupo III (Traumas) 13% 81 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Gráfico 14 - Distribuição de YLL, YLD e DALY, segundo grandes grupos de causas. Brasil, 2008. DALY: disability-adjusted life years – anos de vida perdidos ajustados por incapacidade; YLD: years lost due to disability – anos de vida saudáveis perdidos em virtude da incapacidade; YLL: years of life lost – anos de vida perdidos em decorrência de morte prematura. Grandes grupos: I − doenças infecciosas e parasitárias, condições maternas e perinatais e deficiências nutricionais; II − doenças não transmissíveis; III − causas externas (traumas). Fonte: Núcleo de Pesquisa em Métodos Aplicados aos Estudos de Carga Global de Doença, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz (LEITE et al., 2015). 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% YLL YLD DALY Grupo I (Transmissíveis) Grupo II (Não Transmissíveis) Grupo III (Traumas) O gráfico 15 mostra que há diferenças na distribuição das taxas de DALY e seus componentes entre as regiões brasileiras, apontando que as regiões Norte e Nordeste apresentam maior carga de doenças do que a média nacional. 82 Gráfico 15 - Taxas ajustadas (por mil habitantes) de YLL, YLD e DALY, segundo regiões do Brasil, 2008. DALY: disability-adjusted life years – anos de vida perdidos ajustados por incapacidade; YLD: years lost due to disability – anos de vida saudáveis perdidos em virtude da incapacidade; YLL: years of life lost – anos de vida perdidos em decorrência de morte prematura. Taxas ajustadas, tendo como padrão a população do Brasil, ambos os sexos, em 2008. Fonte: Núcleo de Pesquisa em Métodos Aplicados aos Estudos de Carga Global de Doença, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz. (LEITE et al., 2015). Vemos, portanto, que a carga de doenças pode auxiliar na Asis de distintas populações, pois permite a comparabilidade entre elas e contribui para a identificação de populações menos saudáveis, contribuindo também para a implantação de políticas públicas de saúde. 0 50 100 150 200 250 Norte Nordeste Sudeste SulCentro-Oeste Brasil YLL YLD DALY Mas vamos voltar a discussão do início dessa seção, quando vimos que as mudanças no perfil epidemiológico e a ampliação do conceito de saúde geraram uma maior demanda por medidas positivas de saúde, em vez de se limitar às tradicionais medidas de morbidade e mortalidade. Você acha que o indicador DALY resolveu essa questão? 83 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Por combinar medidas de mortalidade e morbidade, podemos ver que o DALY não é necessariamente uma medida positiva de saúde. Essa é uma crítica que o indicador sofreu, além de ser questionada pelo método de obtenção dos pesos para o cálculo YLD. De qualquer forma, reconhece-se que o DALY representa uma importante tentativa de se avançar a metodologia epidemiológica para superar o conceito de risco e as medidas similares. 84 4 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES EM SAÚDE É por meio dos conceitos de informação e de sistemas de informação em saúde que começaremos essa jornada no mundo dos dados em saúde, a qual inclui a identificação dos principais sistemas de informações em saúde (SIS) utilizados no Brasil. Conheceremos de forma mais aprofundada o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). 4.1 Os sistemas de informação em saúde no Brasil e sua importância para a construção das Asis Você já deve ter percebido que atualmente vivemos um momento de grande produção e difusão de informações dos mais variados tipos, vindos das mais variadas fontes. A internet contribui bastante para que um grande volume de informações chegue até nós, seja por consulta aos portais de notícias web, ou mesmo pelas redes sociais virtuais das quais fazemos parte. Some-se a isso o conteúdo distribuído pelos meios tradicionais, como rádio, TV e, os cada vez menos utilizados, jornais e revistas impressos. Nesse contexto, um desafio que se impõe é conseguir filtrar tantas informações, identificando as que são realmente relevantes e quais têm qualidade e confiabilidade para serem utilizadas no nosso cotidiano, afinal, com o aumento de informações disponíveis também cresceu as falsas informações e aquelas com baixa qualidade e confiabilidade. 85 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Apesar de fazer parte do nosso cotidiano, dificilmente paramos para pensar o que realmente significa a palavra “informação”, não é mesmo? Como iremos tratar especificamentesobre SIS neste capítulo, consideramos importante que você saiba mais sobre o tema. Afinal, o que seria “informação” e “sistema de informação em saúde”? É o que veremos a partir de agora. A informação pode ser entendida como o conhecimento obtido a partir dos dados, ou o resultado da análise e combinação de vários dados. Isso implica, necessariamente, em interpretação por parte do usuário (BRASIL, 2009a). Define-se informação, portanto, como o significado que o homem atribui a um determinado dado, por meio de convenções e representações (CARVALHO, 1998). A informação constitui-se em suporte básico para toda atividade humana, e todas as nossas atividades do dia a dia são um processo permanente de informação. Quando sabemos, por meio da previsão do tempo, que a temperatura será baixa ao longo do dia, temos um dado (normalmente indicado numericamente e em graus Celsius). Esse dado, quando confrontado com a nossa experiência prévia, indica que fará frio, o que nos leva a sair de casa com agasalho. Na situação descrita, o dado (medido em graus Celsius) virou uma informação (vai fazer frio) e que nos levou a uma ação (de nos proteger utilizando agasalho). A informação, portanto, é um instrumento essencial para a tomada de decisões. No caso de instituições, empresas e organizações de diferentes tipos, é necessário conhecimento para definir seus problemas, buscar alternativas para solucioná-los, atingir metas e cumprir objetivos, e isto requer o uso da informação. Pode-se dizer, então, que “há um consenso de que não é possível exercer gerência em nenhum setor se não houver um sistema de apoio à decisão que se sustente na informação” (CARVALHO, 1998). Por se constituir no fator desencadeador do processo “informação- decisão-ação”, a informação em saúde deve ser entendida como um instrumento 86 de apoio decisório, por meio do conhecimento da realidade epidemiológica, socioeconômica, demográfica, bem como para o planejamento, gestão, organização e avaliação na área da saúde. E afinal, o que são sistemas de informação em saúde? A melhor forma de pensarmos o tema talvez seja recorrendo a uma comparação bastante útil: os sistemas que compõem o corpo humano. O sistema circulatório, por exemplo, constitui-se de diferentes partes como as artérias, as veias e o coração. Cada um desses componentes tem seu papel em levar o sangue oxigenado pelos pulmões a todos os tecidos do corpo, e destes de volta ao pulmão com sangue venoso, para ser novamente oxigenado. Um sistema de informação também é formado por partes e, como o sistema circulatório, que tem a sua finalidade de alimentar as células e tecidos do corpo humano, também tem um fim comum. Um sistema de informação é composto por coleta, armazenamento, processamento de dados e difusão de informações, com a finalidade de, ao final desse processo, transformar dados em informação (COELI et al., 2009). Tem potencial, portanto, de disponibilizar o suporte necessário para que o planejamento, as decisões e as ações dos gestores e profissionais de saúde não sejam baseados em dados subjetivos, em conhecimentos ultrapassados ou em suposições (BRASIL, 2009a). Um dos objetivos básicos do Sistema de Informação em Saúde (SIS) é possibilitar a análise da situação de saúde considerando, necessariamente, as condições de vida da população na determinação do processo saúde-doença e, para isso, coleta dados da saúde e outros setores relevantes. No Brasil, houve um grande esforço para a implantação e melhoria de sistemas de informação em saúde nas últimas décadas. O Ministério da Saúde, como coordenador do processo, desenvolveu sistemas nacionais de informação sobre nascimentos, óbitos, doenças de notificação, atenção hospitalar, ambulatorial e básica, orçamento público em saúde e outros. Essa nova fase de desenvolvimento dos sistemas contribuiu para superar a tradicional fragmentação das informações sobre saúde no Brasil, resultado da atividade compartimentalizada das diversas instituições que atuam no setor. No passado, as estatísticas de morbidade provinham principalmente de serviços e programas verticais, como materno-infantil, saúde escolar, malária, tuberculose, hanseníase e controle de poliomielite. Vários bancos de dados 87 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE existiam e refletiam o panorama e a tendência de cada evento. A década de 1970, contudo, foi um marco na mudança das estatísticas no Brasil, com a promulgação da Lei Federal nº 6.015 de 1973, que regulamentou o registro civil no país e atribuiu ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a responsabilidade pelas estatísticas do registro civil. E em 1975, iniciou-se o processo para a criação de um sistema de mortalidade nacional, o Sistema Nacional sobre Mortalidade (SIM) (MELLO-JORGE; LAURENTI; GOTLIEB, 2009). Embora a década de 1970 tenha apresentado uma evolução para as estatísticas no Brasil, foi a partir dos anos 1990 que os sistemas de informação se desenvolveram de forma mais intensa. Nesse período foram criados o Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Vamos conhecer um pouco mais sobre esses importantes sistemas de informação do Brasil? AGORA É COM VOCÊ! No seu local de trabalho, onde há coleta de dados para a alimentação de um sistema? A coleta é contínua ou esporádica? Faça uma busca nos setores de um estabelecimento de saúde (pode ser hospital, Unidade Básica de Saúde, Unidade de Pronto Atendimento, clínica especializada) ou mesmo na Secretaria de Saúde para identificar os sistemas que são alimentados com os dados gerados no cotidiano do trabalho nessa unidade. Se você trabalha ou já vivenciou o cotidiano de uma UBS, deve ter visto o preenchimento de alguns formulários por parte de membros das equipes, com dados do número de consultas, atividades educativas desenvolvidas, entre outros. Essa coleta de dados faz parte do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica. Outros exemplos podem ser citados, como a notificação de casos de dengue e o necessário preenchimento de um formulário ou ficha de notificação, o qual gera dados para o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). 88 4.2 Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) A mortalidade se constituiu historicamente como um indicador importante para avaliar a situação de saúde das populações. Na década de 1970, o Brasil deu importantes passos para consolidar o uso desses dados no planejamento de políticas públicas, primeiramente com a Lei do Registro Civil de 1973, a qual determina o IBGE como responsável pelos registros de óbitos e nascimentos. A função do IBGE, contudo, era de apresentar a contabilidade dos óbitos, sem uma preocupação com as causas de morte. Essa função, eminentemente epidemiológica, passou a ser uma preocupação do Ministério da Saúde, o qual instituiu um grupo de trabalho em 1975 para discutir uma proposta de um sistema de informação sobre mortalidade que unificasse as propostas que já existiam em alguns estados. Àquela altura, havia no país 43 diferentes modelos de atestados de óbito, com formatos, número de vias, cores e informações diversas, bem como com fluxos variados até chegar ao órgão de divulgação das estatísticas. A partir de então, as diretrizes para um sistema de informação sobre a mortalidade deveriam estabelecer: a) a adoção de um modelo único de atestado de óbito para todo o Brasil, seguindo o modelo da Organização Mundial da Saúde; b) a impressão dos formulários ficaria a cargo do nível central, no Ministério da Saúde; c) o fluxo para a declaração de óbito seria padronizado; d) o processamento dos dados seria também centralizado. Foi em 1975 que o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) começou a ser implantado em todo o país (MELLO-JORGE; LAURENTI; GOTLIEB, 2009). A Declaração de Óbito (DO) é, portanto, o documento básico para a instituição de um sistema sobre mortalidade e é uniforme para todoo país, possibilitando a inclusão de variáveis por parte dos estados, mas com suas características básicas padronizadas. 89 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Você pode visualizar o formulário da DO no documento “Manual de Instruções para o Preenchimento da Declaração de Óbito”, produzido pelo Ministério da Saúde. Nele, você pode observar as variáveis que compõem o formulário básico distribuído pelo Ministério da Saúde para os Estados, e destes para os Municípios. A DO é composta por nove blocos de informações de preenchimento obrigatório. Veja no quadro 2 os blocos de preenchimento da DO e suas características: I – É a parte da DO que se destina a colher informações gerais sobre a identidade do falecido e dos seus pais. II – Esse bloco se destina a colher dados sobre a residência do falecido. III – Ocorrência: visa a colher informações sobre o local onde ocorreu o óbito. IV – É a parte da DO que coleta informações sobre a mãe e sobre o falecido, em casos de óbito fetal ou menor de 1 ano. V – Campos que buscam qualificar as condições e causas que provocaram o óbito. Contempla o modelo internacional de Atestado de Óbito adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo fonte da Causa Básica do óbito e dos agravos que para ela contribuíram. VI – Tem como objetivo colher informações sobre o médico que assina a DO. VII – Coleta informações sobre o provável tipo de morte de violências. É de grande importância epidemiológica e se constitui num complemento ao Bloco V – Condições e Causas do Óbito. VIII – Visa a colher dados referentes ao Cartório de Registro Civil onde foi efetuado o registro do óbito, bem como o número e data do registro. A responsabilidade pelo seu preenchimento é exclusiva do Oficial do Registro Civil (Cartórios). IX – Deverá ser preenchido no caso de óbito ocorrido em localidade sem médico. Neste caso, seu preenchimento ficará a cargo do Cartório de Registro Civil. Quadro 2 - Blocos de preenchimento da Declaração de Óbito (DO) e suas características. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Manual de Instruções para o preenchimento da Declaração de Óbito. Brasília: Ministério da Saúde, 2011a. 54 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: . 90 A DO é emitida em três vias de cores diferentes e são pré-numeradas. Seu preenchimento deve ser realizado exclusivamente por médicos, exceto em locais onde não existam esses profissionais, quando poderá ser preenchida por oficiais de Cartórios de Registro Civil, sendo também assinada por duas testemunhas. Você pode verificar no fluxograma 1 o fluxo da Declaração de Óbito para as duas situações mencionadas. A 1ª via (na cor branca) é encaminhada às secretarias municipais de saúde e serão implantadas no software do SIM, de onde os dados, agora informatizados, partem para a secretaria estadual correspondente e ao Ministério da Saúde. Cabe a este último órgão, no entanto, a divulgação dos dados referentes ao SIM. Por se tratar de um sistema de informação de caráter epidemiológico, o SIM dispõe de informações sobre as características de pessoa, tempo e lugar, assistência prestada ao paciente, causas básicas e associadas de óbito, que são extremamente relevantes. A análise dos dados do SIM permite a construção de importantes indicadores para o delineamento do perfil de saúde de uma região e, por isso, é muito utilizada no diagnóstico da situação Fluxograma 1 - Fluxo da Declaração de Óbito. Fonte: BRASIL. Vigilância em Saúde. Para entender a gestão do SUS. Brasília, DF: CONASS, 2007. 278 p. Coleção Progestores. Disponível em: . Hospital Encaminha Família Arquiva Arquiva Secretaria de Saúde Encaminha Secretaria de SaúdeCartório de Registro Civil Preenche o documento Preenche o documento Cartório de Registro Civil 1ª Via 2ª Via 1ª Via 2ª Via 3ª Via3ª Via 91 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE de saúde da população (BRASIL, 2009a). Entre os indicadores que podem ser gerados a partir dos dados do SIM, destacamos a Mortalidade Proporcional por causas, faixa etária, sexo; o Coeficiente Geral de Mortalidade (CGM); a Taxa de Mortalidade Infantil; Razão de Morte Materna; e o DALY. Detalharemos alguns desses indicadores na próxima seção deste capítulo. Apesar de muito importante para a Asis, os dados de mortalidade apresentam problemas de qualidade e abrangência que acompanham o SIM desde sua criação, mas que vem sendo superados constantemente pela preocupação do Ministério da Saúde em aprimorar o sistema de forma contínua. A cobertura do SIM, ou seja, sua abrangência, é heterogênea no território nacional, sendo as regiões Norte e Nordeste as que apresentam menor regularidade do envio de informações e a menor contagem de óbitos em relação às demais regiões do país. Você pode observar a diferença de cobertura do SIM na figura 19. Legenda 95% Figura 19 - Distribuição dos municípios segundo a cobertura das informações de óbitos. Brasil, 2008. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2010: uma análise da situação de saúde e de evidências selecionadas de impacto de ações de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2011b. 372 p. Disponível em: . 92 Além da cobertura, a qualidade dos dados do SIM também varia, pois o preenchimento da Declaração de Óbito pode apresentar incorreções e, em algumas situações, campos ignorados. Esses problemas afetam a qualidade das informações e, consequentemente, podem influenciar na análise de situação de saúde de uma população. É o caso do mau preenchimento da causa dos óbitos, que pode gerar dificuldade na definição do perfil de mortalidade e, por conseguinte, limitar ações que visem à redução dos óbitos por uma determinada causa. Trataremos da qualidade dos dados mais à frente, mas é importante visualizarmos a importância que os dados têm para a Asis e que a qualidade influencia na sua construção e, portanto, pode afetar também a tomada de decisão. O processo para implantação do SIM envolveu algumas etapas importantes para a sua consolidação, incluindo reuniões temáticas, elaboração de manuais técnicos e capacitação dos profissionais. Destaca-se a formação de recursos humanos para a codificação de causas de morte, impulsionada pela criação, em junho de 1976, do Centro Brasileiro de Classificação de Doenças, que tinha a responsabilidade, entre outras, de promover a melhoria da qualidade da informação dos atestados de óbitos e assessorar o Ministério da Saúde na promoção e revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID). PARA SABER MAIS! Para aprofundar mais os estudos sobre a criação do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), consulte o texto “O Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM: concepção, implantação e avaliação”. 4.3 Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) O Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) surgiu na década de 1990, a partir da necessidade de se obter dados sobre os recém- nascidos, sobre a gestação, parto, além das características maternas, o que já era comum em alguns países. 93 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE O IBGE também era o responsável pelos registros de nascimentos desde que a Lei de Registro Civil de 1973 foi promulgada, o que representou um avanço nas estatísticas de nascidos vivos, visto que antes dessa data havia um grande sub-registro de nascimentos, além de falta de regularidade e homogeneidade das informações. Apesar das melhorias nas estatísticas de nascimento, o problema do sub-registro ainda persistia, e um dos fatores se devia à cobrança de taxas pela emissão da certidão de nascimento, que só foi eliminada em 1997 (ALMEIDA; ALENCAR; SCHOEPS, 2009). Seguindo o exemploo perfil de saúde-doença de uma população produz informações e conhecimentos úteis para o planejamento, definição de prioridades e estratégias de intervenção, além da avaliação de seu impacto. Por isso é importante que a Asis seja incorporada e considerada na elaboração dos planos de saúde, no estabelecimento de prioridades para a alocação de recursos orçamentários, financeiros e de infraestrutura e na gestão do trabalho e dos recursos humanos para a saúde. Entretanto, realizar o planejamento a partir da Asis ainda se constitui um desafio para os atores envolvidos na construção de políticas públicas de saúde. Partindo desse pressuposto, surge o livro "Análise de Situação de Saúde", que aborda de forma clara e objetiva o conceito e objetivos da Asis, bem como a sua importância no planejamento e definição de ações de saúde direcionadas às necessidades da população. Entre os temas discutidos no livro, alguns merecem destaque como: conceitos, interpretação e utilização dos indicadores de saúde, a análise da situação de saúde na construção de políticas públicas e o processo de análise das informações em saúde. Este livro visa a ampliar a compreensão dos profissionais de saúde para a importância da elaboração da Asis, objetivando sua incorporação nos instrumentos de planejamento e gestão do Sistema Único de Saúde (SUS). É importante destacar, também, que publicações nessa temática são instrumentos importantes para o aprofundamento teórico dos profissionais que já atuam no SUS. Portanto, esperamos que este livro possa contribuir em sua formação profissional e que se torne um referencial teórico para o planejamento de atividades de saúde realizadas em seu local de trabalho. Boa leitura! Deysianne Costa das Chagas Doutora em Saúde Coletiva/UFMA APRESENTAÇÃO A análise da situação de saúde (Asis) é definida como a identificação, descrição, priorização e explicação dos problemas de saúde da população, com o objetivo de identificar necessidades sociais e determinar prioridades de ação (TEIXEIRA, 2010). A identificação de problemas e necessidades de saúde exige que se caracterize a população de acordo com variáveis demográficas, socioeconômicas e políticas. Este processo implica a definição de quais são os problemas e quando, onde e quem se encontra afetado por esses problemas, subsidiando a definição de políticas e prioridades de ação (TEIXEIRA, 2010). Para isso, é necessário conhecer o perfil demográfico, socioeconômico e epidemiológico da população para identificar suas necessidades e problemas de saúde, os fatores determinantes e potenciais riscos à saúde, de modo a subsidiar a tomada de decisão política e o estabelecimento de prioridades para atuação, seja em relação à organização da rede de serviços de saúde, às ações de promoção e proteção da saúde e prevenção de agravos e doenças, seja para a devida articulação entre as políticas setoriais visando ao fortalecimento do SUS no enfrentamento dos principais determinantes do processo saúde-doença (BAHIA, 2014). Entre os recursos que podem auxiliar na identificação, descrição e análise do perfil de saúde-doença populacional, estão os Sistemas de Informação em Saúde (SIS). Os SIS são ferramentas tecnológicas que auxiliam gestores das três esferas de governo a processar os dados, gerando informações necessárias para organizar a prestação de serviços em saúde, monitorar o comportamento da população e investigar os mais diversos agravos que incidem sobre ela, tendo em vista a promoção do planejamento das ações e políticas públicas na área (DANIEL, 2012). Os SIS auxiliam, portanto, o planejamento e a avaliação das políticas de saúde, assim como dos serviços, redes e sistemas de saúde (PINHEIRO, et. al. 2016). Sejam eles assistenciais ou epidemiológicos, são ferramentas importantes para o diagnóstico de situações de saúde com vistas a intervenções mais aproximadas do quadro de necessidades da população. Pois, por meio deles é possível acessar as bases de dados nacionais que, alimentadas regularmente por municípios e Estados, apresentam alto potencial de instrumentalizar a tomada de decisão (MEDEIROS, et. al., 2005). A partir desse contexto, este livro visa a auxiliar profissionais e gestores de saúde, a utilizar informações e conhecimentos relacionados a Asis de forma crítica e reflexiva. Este livro é composto por três capítulos. O primeiro objetiva compreender a Asis, examinando seus conceitos, finalidades, além da interpretação e a utilização dos indicadores de saúde, o segundo objetiva reconhecer a ASIS como potente ferramenta para o processo de tomada de decisão e elaboração de políticas públicas e o terceiro objetiva compreender os SIS, identificando sua importância para a Asis. Para alcançar cada um desses objetivos, os capítulos apresentam os conteúdos de forma contextualizada e problematizada, buscando facilitar o processo de aprendizagem. Além disso, cada capítulo aborda temas de grande relevância para a Asis. O capítulo 1 apresenta conceitos e interpretação de indicadores, bases conceituais, objetivos e finalidades da Asis, a utilização dos dados da vigilância em saúde e o comportamento e tendências das variáveis demográficas. O capítulo 2 discute temas como a priorização de necessidades em saúde, as desigualdades em saúde e a carga global das doenças. E o capítulo 3 trata dos Sistemas de informação em saúde utilizado na Asis, os principais SIS e indicadores de saúde e a qualidade da informação. Assim, espera-se com este livro que técnicos e gestores de saúde e representações sociais percebam que para alcançar um diagnóstico adequado da população, a Asis exige um movimento coletivo, contínuo e compartilhado. E que ao incorporarem a Asis em seu cotidiano, que esses profissionais verifiquem sua potencialidade em promover as mudanças esperadas nos ambientes e processos de trabalho do território. 14 1 INTRODUÇÃO Conhecer a situação de saúde de determinado território é uma importante ferramenta de gestão, identificação, descrição, priorização e elucidação dos problemas de saúde de determinada população. Assim, a Análise de Situação de Saúde (Asis) é fundamental para que gestores e trabalhadores da área da saúde possam contribuir para contextualizar os problemas identificados no âmbito da gestão ou mesmo nos territórios sanitários sob responsabilidade das equipes de saúde. Em um contexto de escassez de recursos, saber aplicá-los adequadamente se torna uma responsabilidade ainda maior para os atores envolvidos com a saúde das pessoas. O envelhecimento da população brasileira, por sua vez, traz consigo uma demanda maior para o setor saúde, exigindo dos gestores e profissionais de saúde maior qualificação para atender essa crescente demanda de serviços, sejam eles de caráter preventivo, ambulatorial ou hospitalar. A Asis, portanto, engloba um processo de territorialização das condições de saúde, de modo a identificar necessidades sociais de saúde, determinar prioridades de ação e embasar a tomada de decisão por meio de evidências relevantes. Para tal, é necessário conhecer os conceitos e finalidades da Asis, além da interpretação e uso dos indicadores de saúde. O conhecimento, a produção e a aplicação dos indicadores de saúde no âmbito da gestão, ou mesmo no cotidiano dos profissionais de saúde, possibilitam a identificação de problemas relevantes, bem como permitem avaliar a qualidade do serviço prestado e o impacto de intervenções coletivas na saúde. Para que você compreenda como utilizar essas ferramentas no cotidiano do trabalho, abordaremos os principais sistemas de informação em saúde, por meio dos quais será possível analisar as mudanças nos perfis demográfico e epidemiológico do Brasil, além de possibilitar que você crie os próprios cenários de saúde no âmbito da sua atuação profissional. Dessa forma, espera-se que as decisões em saúde superem o caráter intuitivo e passem a considerar as evidências, elucidadas através de umado SIM, que havia melhorado as informações sobre mortalidade após a sua implantação, e aproveitando o desenvolvimento da informática, realizou-se um projeto-piloto para testar a viabilidade de obtenção de dados sobre nascidos em maternidades do município de Mogi das Cruzes (SP), em 1980. Com a conclusão de que era possível introduzir um instrumento para coleta de dados nos hospitais, a fim de se obter informações mais detalhadas sobre os nascidos vivos, avançou-se na elaboração desse documento: a Declaração de Nascido Vivo (DN). Esse formulário foi padronizado para todo o território nacional e passou a ser o documento base do Sinasc. Seu preenchimento se daria, principalmente, nos serviços de saúde, uma vez que mais de 90% dos partos são institucionais. No início da década de 1990, a maioria dos Estados havia implantado total ou parcialmente o sistema, de forma a possibilitar a obtenção de indicadores para a avaliação das condições de saúde materno-infantil (ALMEIDA; ALENCAR; SCHOEPS, 2009). Da mesma forma que o SIM, o Sinasc contou com algumas etapas para a sua construção e implantação. Foram reuniões temáticas, projetos- piloto, elaboração de materiais e capacitações até se tornar um sistema de informação universal no Brasil. O sistema de informação universal refere-se a um sistema de informação em saúde que deve ser alimentado em todo o território nacional, sejam em unidades públicas, conveniadas ou privadas. Outro ponto fundamental para o correto funcionamento do Sinasc foi a definição clara do evento que seria notificado, para tanto, define nascido vivo como: [...] a expulsão ou extração completa do corpo da mãe, independentemente da duração da gravidez, de um produto de concepção que, depois 94 da separação, respire ou apresente qualquer outro sinal de vida, tal como batimentos do coração, pulsações do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, estando ou não desprendido da placenta. Cada produto de um nascimento que reúna essas condições se considera como uma criança viva. No caso de gravidez múltipla, deve ser preenchida uma DN para cada produto da gestação, ou seja, para cada nascido vivo (BRASIL, 2009c, p. 25). A partir da implantação do Sinasc, o registro de nascimento só é efetuado mediante a apresentação da DN ao cartório, diferentemente do que acontecia no Brasil antes do sistema ser implantado, onde bastava a informação verbal. A impressão e distribuição da declaração de nascido vivo, da mesma forma que ocorre com a DO, é de competência do Ministério da Saúde. A emissão da DN e o seu posterior registro em cartório são realizados no município de ocorrência do nascimento. Deve ser preenchida pelos hospitais e por outras instituições de saúde que realizam parto e nos Cartórios de Registro Civil quando o nascimento da criança ocorre no domicílio (BRASIL, 2009a). Veja no fluxograma 2 o fluxo da DN nas situações mencionadas. Hospital Família Arquiva Arquiva Secretaria de Saúde Encaminha Secretaria de Saúde Unidade de Saúde Cartório Preenche o documento Cartório de Registro Civil DN - 1ª Via 2ª Via 1ª Via 2ª Via 3ª Via 3ª Via Fluxograma 2 - Fluxo da Declaração de Nascidos Vivos (DN). Fonte: BRASIL. Vigilância em Saúde. Para entender a gestão do SUS. Brasília, DF: CONASS, 2007. 278 p. Coleção Progestores. Disponível em: . 95 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE A partir dos dados gerados pela DN, pode-se construir inúmeros indicadores voltados para avaliação de riscos à saúde do segmento materno- infantil. Além disso, o número de nascidos vivos é utilizado como denominador de importantes coeficientes, como o de mortalidade infantil e materna. O quadro 3 apresenta, em linhas gerais, as variáveis de cada bloco que compõe o formulário da DN. É bastante frequente o uso dos dados do Sinasc para o cálculo de importantes indicadores, como a taxa de mortalidade infantil e a razão de mortalidade materna, nos quais o número de nascidos vivos compõem os denominadores da fração. Mas o uso dos dados do Sinasc vai além da composição desses indicadores, pois possibilitam traçar o perfil epidemiológico dos recém-nascidos do país a partir da avaliação de riscos de óbito infantil e da qualidade da rede de atenção à gravidez e ao parto. Permite, portanto, I – É a parte da DN que se destina a colher informações inerentes ao nascido vivo. II – Identificação do local de ocorrência do nascimento: nome do estabelcecimento, município e UF de ocorrência. III – Apresenta as variavéis das características da mãe: nome, idade, estado civil, escolaridade, ocupação, endereço residencial da mãe e número de filhos anteriores vivos e mortos. IV – Visa a colher informações sobre o nome e idade do pai do nascido vivo a que se refere a DN. V – Tem com objetivo coletar informações sobre as gestações anteriores, a gestação atual, o parto e suas intercorrências. VI – Contempla as informações sobre as anomalias congênitas verificadas pelo responsavél pelo parto. VII – As variáveis de identificação do responsável pelo preenchimento: nome, função, identidade, orgão emissor e data. VIII – Apresenta dados referentes ao Cartório de Registro Civil onde foi efetuado o registro do nascimento, bem como o número e a data do registro. A responsabilidade pelo seu preenchimento é exclusiva do Oficial do Registro Civil (cartórios). Quadro 3 - Blocos de preenchimento da Declaração de Nascido Vivo (DN) e suas características. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Manual de Instruções para o preenchimento da Declaração de Nascido Vivo. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011c. p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). 96 Legenda 95% Figura 20 - Distribuição dos municípios segundo a cobertura das informações de nascidos vivos. Brasil, 2008. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2010: uma análise da situação de saúde e de evidências selecionadas de impacto de ações de vigilância em saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011b. 372 p. Disponível em: . obter dados sobre a frequência de baixo peso ao nascer, nascimentos de prematuros, proporção de partos cesarianos, bem como possibilita avaliar diferenças e mudanças do perfil reprodutivo das mulheres. A cobertura do Sinasc e o preenchimento dos campos da DN, assim como no Sistema de Informações sobre Mortalidade, apresentam variações. No Brasil, a cobertura do Sinasc é maior do que a do SIM, mas apresenta as mesmas diferenças regionais, com as regiões Norte e Nordeste apresentando menor captação desses eventos, como você pode visualizar na figura 20. Com relação ao preenchimento dos campos da DN, algumas variáveis apresentam melhor qualidade do que outras, com baixo percentual de campos em branco ou ignorados. 97 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE PARA SABER MAIS! Para aprofundar seu conhecimento sobre o Sinasc, sugerimos a leitura do texto “Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – Sinasc: Uma Avaliação de sua Trajetória”. 4.4 Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) O Sinan teve sua implantação impulsionada no fim da década de 1990 e se beneficiou do desenvolvimento computacional para a sua consolidação como um sistema que deveria ser suficientemente ágil para viabilizar análises de situações de saúde em curtos espaços de tempo. Primeiramente devemos entender o objetivo desse sistema, que é padronizar a coleta e o processamento dos dados sobre agravos de notificação em todo o território nacional, desde o nível local. A análise desses agravos fornece informações para o desenho do perfil da morbidade da população contribuindo, dessa forma, para a tomada de decisões. Mas não estamos falando de quaisquer agravos, mas sim de agravos que devem obrigatoriamente ser notificados e quefazem parte da Lista de Doenças e Agravos de Notificação Compulsória. Essa lista é composta por eventos relacionados à saúde que merecem atenção do sistema de saúde por serem doenças de alto poder de transmissão, ou de interesse de vigilância internacional, ou por fazer parte de uma política pública para controle, como é o caso da violência doméstica. Você já parou para refletir por que o Sinan deve ser ágil em gerar informações em saúde? 98 O uso do Sinan foi regulamentado em 1998, sendo um sistema sob a responsabilidade do Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI) e, posteriormente, da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, a qual também coordena o SIM e o Sinasc. A entrada de dados no Sinan é feita mediante a utilização de alguns formulários padronizados, sendo um de notificação – Ficha Individual de Notificação (FIN) e outro de investigação – Ficha Individual de Investigação (FII) (BRASIL, 2009a). Veja na figura 21 a descrição da ficha individual de notificação e da ficha individual de investigação: O fluxo dos dados no Sinan segue das unidades notificadoras locais os níveis municipais, estaduais e federal. Pode-se calcular, a partir desse sistema, a incidência, prevalência, letalidade e mortalidade das doenças de Portanto, se a informação demora a ser processada e, com isso, não é gerada em tempo oportuno para os gestores e profissionais, dificilmente as ações de controle surtirão o efeito desejado, não é mesmo? Figura 21 - Descrição da ficha individual de notificação e da ficha individual de investigação (BRASIL, 2009a). Ficha Individual de Notificação (FIN) Ficha Individual de Investigação (FII) É preenchida para cada paciente quando há suspeita de ocorrência de problema de saúde de notificação compulsória e encaminhada, pelas unidades assistenciais, aos serviços responsáveis pela informação e/ ou vigilância epidemiológica. Este mesmo instrumento é utilizado para notificação negativa. Assemelha-se a um roteiro de investigação, distinto para cada tipo de agravo. Permite levantar dados que possibilitam a identificação da fonte de infecção e dos mecanismos de transmissão da doença. 99 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE notificação compulsória. Apesar do grande avanço do Sinan, o sistema ainda enfrenta algumas dificuldades, notadamente o sub-registro dos agravos e a demora para o fechamento dos casos durante a investigação. 4.5 Outros sistemas de informações Além dos sistemas de informações já mencionados, que apresentam fundamental importância para a Asis, outros sistemas podem auxiliar na construção de um perfil de saúde capaz de subsidiar as decisões de gestores e profissionais. Veja no quadro 4 os sistemas de informação em saúde do Brasil: É importante lembrar que a Asis não se limita ao uso de dados da área da saúde, pois outras fontes são importantes para montar um cenário que contribua para a tomada de decisão, como os dados demográficos do IBGE, dados da assistência social do Cadastro Único, entre outros. SIA Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS SIH Sistema de Informações Hospitalares SIOPS Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos SIB Sistema de Informação de Beneficiários – Agência Nacional de Saúde SI–PNI Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização SISAB Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica SINAVISA Sistema Nacional de Informação em Vigilância Sanitária CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde CNS Cartão Nacional de Saúde Quadro 4 - Sistemas de Informações em Saúde do Brasil. 100 Entretanto, antes de iniciarmos a discussão deste tema, vale destacar que os dados de saúde não são os únicos que devem ser utilizados na elaboração de uma análise adequada da saúde populacional. Os dados demográficos, dados sobre as características sociais das pessoas e sobre a oferta de serviços também contribuem para a compreensão do contexto em que as pessoas vivem e adoecem. Conhecer as necessidades de saúde da população é fundamental para o planejamento dos recursos materiais, humanos e financeiros necessários para o enfrentamento dos problemas e para avaliação de impacto das intervenções que possam ser tomadas (RIBEIRO; BARATA, 2012). Para compreender essas necessidades e avaliar as condições de saúde da população, portanto, não há como utilizar uma só medida. Uma medida que busca sintetizar uma característica, ou um atributo buscando retratar o nível de saúde de indivíduos ou de uma população, é denominada indicador, que deve subsidiar gestores e profissionais de saúde no processo de tomada de decisões. A Rede Interagencial de Informação para a Saúde (Ripsa) conceitua indicador como “medida-síntese que contém informação relevante sobre determinados atributos e dimensões do estado de saúde, bem como do desempenho do sistema de saúde” e que “devem refletir a situação sanitária de uma população e servir para a vigilância das condições de saúde”. A Ripsa se constituiu como uma articulação de órgãos de governo, instituições de ensino e pesquisa, associações científicas e de classes, com o objetivo de aperfeiçoar a produção, análise e disseminação de informações de 4.6 Identificação e seleção de dados fundamentais Neste momento, convidamos você a conhecer os principais dados e indicadores de saúde, de forma que você possa selecionar criteriosamente aqueles que serão usados na análise de saúde no seu estado, município, ou mesmo em um território vinculado à unidade de saúde. 101 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE saúde no Brasil. Deixou como legado importantes iniciativas, com destaque a publicação “Indicadores Básicos para a Saúde no Brasil: conceitos e aplicações”, a qual recomendamos a consulta (OPAS, 2008). A Ripsa classifica os indicadores utilizados na construção dos perfis de saúde em seis categorias: Perceba que se trata de uma classificação bem abrangente, com o intuito de retratar o nível de vida e as condições de saúde das populações. Outra classificação de indicadores foi proposta por Ribeiro; Barata (2012), a qual limita em quatro suas categorias: Essa classificação está contida, de certa forma, na proposta da Ripsa e, embora os indicadores descritos nessa seção se limitem àqueles relacionados diretamente à saúde, recomendamos a ampliação, quando possível, do uso dos indicadores segundo a classificação da Ripsa. Além das classificações dos indicadores, é importante que você saiba quais atributos são desejáveis na escolha dos indicadores a serem utilizados na Asis. a) Demográficos d) Morbidade e fatores de risco b) Socioeconômicos c) Mortalidade e) Recursos f) Cobertura a) Indicadores de mortalidade c) Indicadores de exposição a fatores de risco b) Indicadores de morbidade d) Indicadores de estado de saúde 102 Além dos atributos mencionados, é importante destacar que os indicadores costumam ser calculados em medidas relativas, em vez de medidas absolutas. Estas se caracterizam por ser uma contagem simples de uma doença ou de óbitos, e são pouco utilizadas por não permitirem comparabilidade em populações distintas. Para análise de pequenas populações, como é o Disponibilidade dos dados Validade Confiabilidade Simplicidade Relação custo-efetividade Relevância Os indicadores devem se basear em dados disponíveis ou que sejam fáceis de serem obtidos, de preferência que contemplem toda a população a ser avaliada. É a capacidade de medir, sinteticamente, o que se pretende. A validade depende da sensibilidade, que é a capacidade de o indicador detectar o fenômeno estudado, e da especificidade, que é a capacidade desse indicador captar somente o fenômeno em análise. Os resultados medidos pelo indicador devem ser semelhantes quando essa medida for repetida em condições similares, para isso se faz necessária uma uniformidade na definição e nos procedimentos utilizados no seu cálculo. É importante que o indicador seja de fácil construção e interpretação. É importante queos resultados justifiquem os recursos e o tempo utilizados na construção e obtenção dos indicadores. Pode parecer óbvio, mas é importante destacar que o indicador também deve ter a capacidade de responder às prioridades em saúde. 103 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE caso de populações de um território vinculado a uma UBS ou um pequeno município, as medidas absolutas são bastante úteis. Já as medidas relativas permitem comparar populações distintas, pois utilizam coeficientes (razões) na sua forma de cálculo. Você pode verificar na tabela 3 os dados de mortalidade por homicídios expressos em números absolutos, ao passo que na tabela 3 você pode visualizar os dados em números relativos à população de cada capital brasileira. Perceba que os dados absolutos podem confundir, por exemplo, a capital que apresenta maior risco de morte por homicídios. Capital Óbitos Fortaleza 1814 São Paulo 1748 Salvador 1574 Rio de Janeiro 1206 Manaus 1034 Brasília 952 Belo Horizonte 853 Belém 780 Maceió 761 Recife 639 Goiânia 623 Curitiba 573 São Luís 553 Porto Alegre 524 João Pessoa 489 Natal 409 Teresina 300 Aracaju 251 Cuiabá 235 Porto Velho 184 Campo Grande 178 Macapá 156 Vitória 131 Tabela 3 - Número de óbitos por homicídios (CID-10 X85 a Y09) nas capitais brasileiras, 2012. 104 Podemos visualizar na tabela 3 que cidades como São Paulo e Rio de Janeiro estão entre as cinco capitais com maior número de óbitos por homicídios (números absolutos). Tabela 4 - Taxa de mortalidade por homicídios (por 100 mil habitantes) nas capitais brasileiras, 2012. Fonte: REDE Interagencial de Informação para a Saúde Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. 2. ed. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2008.349 p. Disponível em: . Rio Branco 101 Boa Vista 82 Florianópolis 62 Palmas 46 Total 16258 Capital Óbitos População Taxa Maceió 761 953393 79,8 Fortaleza 1814 2500194 72,6 João Pessoa 489 742478 65,9 Salvador 1574 2710968 58,1 Manaus 1034 1861838 55,5 Belém 780 1410430 55,3 São Luís 55,3 1039610 53,2 Natal 409 817590 50,0 Goiânia 623 1333767 46,7 Aracaju 251 587701 42,7 Cuiabá 235 561329 41,9 Porto Velho 184 442701 41,6 Recife 639 1555039 41,1 Vitória 131 333162 39,3 Macapá 156 415554 37,5 Porto Alegre 524 1416714 37,0 Teresina 300 830231 36,1 Brasília 952 2648532 35,9 Belo Horizonte 853 2395785 35,6 Curitiba 573 1776761 32,2 105 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Rio Branco 101 348354 29,0 Boa Vista 82 296959 27,6 Campo Grande 178 805397 22,1 Palmas 46 242070 19,0 Rio de Janeiro 1206 6390290 18,9 São Paulo 1748 11376685 15,4 Florianópolis 62 433158 14,3 Total 16258 46226690 35,2 Fonte: REDE Interagencial de Informação para a Saúde Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. 2. ed. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2008.349 p. Disponível em: . Na tabela 4, que apresenta os dados de homicídios em números relativos à população de cada capital, observamos uma alteração na posição das cidades, uma vez que suas populações foram utilizadas para o cálculo. Com isso, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro estão entre as três capitais com menores taxas de mortalidade por homicídios. Assim, por meio das medidas relativas, podemos comparar populações com distintas características. Com relação às medidas relativas, elas podem ser do tipo taxa (ou coeficiente), proporção ou razão. Taxas ou coeficientes Razão Proporção • São as relações entre o número de eventos reais e os que poderiam acontecer. • Exemplo: 60 casos da doença “X” por 100 mil habitantes. • É calculada pela divisão entre duas quantidades ou medidas diferentes. • Exemplo: Número de leitos hospitalares por mil habitantes. • O numerador é subconjunto do denominador, em geral é calculado em percentual. • Exemplo: Mortalidade proporcional por doenças isquêmicas do coração é de 13%. 106 Agora que conhecemos alguns atributos para a construção ou escolha de indicadores, vamos passar a conhecer alguns deles. A lista de indicadores em saúde é muito extensa, por isso apresentaremos aqui as mais importantes e as mais utilizadas na Asis. Iniciaremos com os indicadores de mortalidade, para em seguida mostrar alguns indicadores de morbidade. Por fim, apresentaremos outros indicadores utilizados para medir o nível de saúde das populações. Mas antes de iniciar a discussão sobre mortalidade, vamos analisar o caso do município de Sítio Feliz: Município de Sítio Feliz Beatriz é secretária de saúde do Município de Sítio Feliz, e juntamente com sua equipe está realizando o planejamento das ações de saúde para o próximo ano. Beatriz está finalizando a especialização em saúde coletiva e por isso sabe da importância de se conhecer os indicadores para o planejamento das ações em saúde. Na última reunião realizada com a equipe, Beatriz resolveu focar nos indicadores de mortalidade, visto que um dos objetivos do planejamento de saúde do município é alcançar as metas propostas pelo Estado, que incluem a redução da mortalidade infantil e materna. Portanto, para isso o grupo resolveu acessar os sistemas de informações disponíveis e a partir daí obtiveram as seguintes informações: Sítio Feliz é um município de grande porte com uma população total de 390.771 habitantes, IDH de 0,735 e índice de Gini de 0,568. Em 2016, o total de óbitos do município foi de 3.980. Ao analisar os óbitos por capítulo do CID 10, observou-se que entre as cinco doenças com maior número de óbitos no município estavam as doenças do aparelho circulatório (1.222 óbitos) e respiratório (463 óbitos), as causas externas (521 óbitos), as neoplasias (642 óbitos) e as doenças infecciosas e parasitárias (303 óbitos). Em relação ao público infantil, o grupo observou que o número de nascidos vivos no município em 2016 foi de 5.330 crianças; o número de óbitos em menores de 1 ano de idade foi de 61 crianças. E por fim, ao investigar o número de óbitos maternos, o grupo observou que em 2016 foram notificados 2 óbitos. 107 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE De posse desses dados, Beatriz e sua equipe resolveram calcular todos os coeficientes de mortalidade de Sítio Feliz. Portanto, imagine que você faz parte da equipe de Beatriz e considere o seguinte questionamento: 4.7 Indicadores de mortalidade A mortalidade é uma das mais antigas dimensões utilizadas para medir a situação de saúde das populações, e seu uso ainda é muito importante nos dias atuais. Vamos conhecer alguns indicadores que utilizam os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). 4.7.1 Mortalidade Proporcional por Causas Esse indicador mede a proporção de óbitos por uma determinada causa, ou grupo de causa, em relação ao total de óbitos em um determinado local e período. Normalmente é expresso em percentual. A mortalidade proporcional indica a importância de uma causa (ou grupo de causa) de morte em uma população. É por intermédio desse indicador que pudemos visualizar a mudança no perfil epidemiológico através do tempo, denominada de transição epidemiológica. O seu cálculo é relativamente simples e pode ser utilizado na escolha de prioridades na área da saúde. Você pode visualizar no gráfico 16 uma análise baseada nesse indicador. Qual a importância de se avaliar os indicadores de mortalidade dessa população? MPx = Nº de óbitos devidos à causa "x" Nº de óbitos por todas as causas ×100 108 Veja no gráfico 17 o risco de morte de motociclistas em cada região brasileira e sua projeção até 2020, mensurados pela Taxa de Mortalidade por Causa (nesse caso, acidentes envolvendo motocicletas). 4.7.2 Taxa de Mortalidade por Causas Expressa a estimativa do risco de morte por uma determinada causa, ou por um grupo de causas, ao qual uma população esteve exposta em determinado período. Cap I Cap II Cap VIII CapIII Cap IX Cap X Cap XI Cap XII Cap XXCap XIII Cap XIV Cap XVI Cap XVII Cap XVIII Cap IV Cap V Cap VI Cap VII %NO %NE %SE %SU %CO 100 80 60 40 20 0 %BR Gráfico 16 - Proporção de causas de morte em homens, segundo capítulos da CID-10. Brasil e regiões, 2012. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2013: uma análise da situação de saúde e das doenças transmissíveis relacionadas à pobreza. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014. 384 p. TMx = Nº de óbitos devidos à causa "x" População ×100.000 109 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE 20,0 18,0 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 2000 2005 2010 Ano 2015 2020 (Norte) (Nordeste) (Sudeste) (Sul) (Centro-Oeste) Ta xa s p or 1 00 m il ha b. Gráfico 17 - Tendência e previsão da taxa* de mortalidade de motociclistas, segundo regiões. Brasil, 2000 a 2020. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2015/2016: uma análise da situação de saúde e da epidemia pelo vírus Zika e por outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2016a. 386 p. A análise da taxa de mortalidade permite avaliar a situação de saúde de determinados grupos, de forma a identificar aqueles mais vulneráveis, permitindo o direcionamento de ações preventivas e de oferta de serviços a esses grupos. 4.7.3 Taxa de Mortalidade Infantil É uma estimativa do risco de morte a que está exposta uma população de nascidos vivos antes de completar 1 ano de vida. Constitui-se em um potente indicador das condições de saúde e é afetado pelas condições de vida, pela qualidade da assistência ao parto, bem como a assistência ao recém-nascido e aos problemas comuns aos primeiros 12 meses de vida. TMI = Nº de óbitos de crianças menores de 1 ano Nº de nascidos vivos ×1.000 110 Figura 22 - Taxa de Mortalidade Infantil por mil nascidos vivos, IHME/GBD – unidades da Federação, 1990 e 2015. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2018. 426 p. A TMI é um indicador em que são utilizados dados do SIM – óbitos em menores de 1 ano no numerador da equação – e do Sinasc, o qual provê os dados sobre o número de nascidos vivos. Veja na figura 22 a redução da TMI no Brasil e em todas as suas regiões, em 1990 e 2015, segundo o Institute of Health Metrics and Evaluation (IHME/GBD). O país alcançou a meta de reduzir a mortalidade infantil em dois terços proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) nas metas integrantes do programa Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). O Programa Bolsa Família, a expansão da Estratégia de Saúde da Família e ações como a Vigilância dos Óbitos Infantis e Fetais contribuíram para essa acentuada redução. 20151990 35 a 3925 a 2915 a 19 30 a 3420 a 2410 a 14 40 e mais Taxa de Mortalidade Infantil, IHME/GBD 111 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE PARA SABER MAIS! A Taxa de Mortalidade Infantil pode ser analisada segundo seus componentes neonatal precoce, neonatal tardio e pós-neonatal. A análise para os períodos específicos da morte infantil é importante porque cada um deles representa causas distintas. Por exemplo, a mortalidade infantil neonatal é causada principalmente pela assistência à saúde, ou melhor, por sua ausência ou por um cuidado mal prestado à mãe e ao bebê durante à gestação e no parto. Já o componente pós-neonatal reflete, principalmente, as condições de vida do bebê, incluindo alimentação adequada, acesso à água potável e condições de moradia. A forma de calcular cada um desses componentes da TMI está descrita nas equações a seguir. TMInp: Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal Precoce TMInt: Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal Tardia TMIp: Taxa de Mortalidade Infantil Pós-neonatal TMInp Nº de óbitos de 0 a 6 dias de vida Nº de nascidos vivos ×1.000 TMInt Nº de óbitos de 7 a 27 dias de vida Nº de nascidos vivos ×1.000 TMIp Nº de óbitos de 28 dias até um ano de vida Nº de nascidos vivos ×1.000 4.7.4 Razão de Mortalidade Materna É considerada um importante indicador de saúde por representar a saúde materna, mas também da população como um todo. É definida como a morte de uma mulher durante a gestação ou dentro de um período de 42 112 dias após o seu término. Por ser uma morte evitável, a redução da morte materna é prioridade, e por isso também fez parte das metas dos Objetivos do Milênio da ONU. Contudo, para esse indicador o Brasil não obteve o mesmo sucesso da redução da TMI, não conseguindo atingir a meta de redução em 75%. Para calcular a Razão de Mortalidade Materna são contabilizados os óbitos por causa materna no numerador e no denominador são utilizados os dados do número de nascidos vivos disponíveis no Sinasc. Veja no gráfico 18 a redução da razão de mortalidade materna no Brasil de 2000 a 2015. RMM = Nº de óbitos maternos Nº de nascidos vivos ×100.000 0 50 10 0 RM M 15 0 2000 2005 2010 2015 Tend. decrescente RMM Vigilância RMM Vigilância RMM Direita RMM IHME/GBD Brasil Gráfico 18 – Razões de mortalidade materna (RMM), calculadas pelos métodos direto, corrigido pela vigilância e corrigido pelo estudo GDB-IHME. Brasil, 2000 a 2015. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2018. 426 p. 113 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE RETOMANDO O CASO DE SÍTIO FELIZ O estudo do perfil da mortalidade de uma população é indispensável para subsidiar políticas públicas que visem à melhoria das condições de saúde. O conhecimento das principais causas de morte é um dos aspectos primordiais para atingir esses objetivos, especialmente quando permitem identificar desigualdades entre vários segmentos como sexo, faixa etária etc. (BRASIL, 2016a). A mortalidade ocupa lugar especial no inventário demográfico das transformações socioeconômicas, pois se relaciona diretamente com o bem- estar humano, mostrando-se como indicador relativamente sensível do nível e da distribuição das condições de vida (CA, 2009). O nível de mortalidade resulta da interação de um conjunto de fatores que afetam o bem-estar da população constituindo-se, dessa forma, de uma medida sumária da qualidade de vida que prevalece em meio a uma população (CA, 2009). De posse das informações, Beatriz e sua equipe resolveram calcular os seguintes indicadores de mortalidade: mortalidade proporcional por causa das três principais doenças mais prevalentes do município, taxa de mortalidade infantil e razão de mortalidade materna. Após realizar o cálculo, eles obtiveram os seguintes resultados: Tabela 5 - Indicadores do município de Sítio Feliz. 2016. Mortalidade proporcional por grupos de causas (%) Mortalidade proporcional por doenças do aparelho circulatório 30,7 Mortalidade proporcional por neoplasias 16,1 Mortalidade proporcional por causas externas 13,1 Mortalidade infantil por mil nascidos vivos Taxa de mortalidade infantil 11,4 Mortalidade materna por 100 mil nascidos vivos Razão de mortalidade materna 37,5 De posse dessas informações, o que Beatriz e sua equipe podem concluir em relação às condições de vida da população de Sítio Feliz? 114 Após calcular todos os indicadores, Beatriz e seu grupo reuniram-se para interpretar e comparar os dados às estimativas nacionais, obtendo os seguintes resultados e ponderações (BRASIL,2014, 2016a; REDE..., 2008; RELATÓRIOS..., 2014; RIPSA, 2011): Mortalidade proporcional por grupos de causas Taxa de mortalidade infantil • A mortalidade proporcional por grupos de causas mede a participação relativa dos principais grupos de causas de morte no total de óbitos com causa definida (REDE, 2008). • De modo geral, é influenciado pela participação de fatores que contribuem para aumentar ou diminuir determinadas causas, alterando a distribuição proporcionaldas demais: condições socioeconômicas, perfil demográfico, infraestrutura de serviços públicos, acesso e qualidade dos serviços de saúde (REDE, 2008). • No Brasil, mais de 60% dos óbitos informados no país, em 2010, foram devidos a três grupos de causas: doenças do aparelho circulatório (30,9%), causas externas (13,6%) e neoplasias (16,9%), sendo que as doenças do aparelho circulatório estavam em primeiro lugar em todas as regiões (DATASUS, 2017b). • Seguindo a tendência nacional, somando-se às doenças do aparelho circulatório, as neoplasias e as causas externas representam mais da metade das causas de morte do município de Sítio Alegre. Sendo, portanto, necessárias ações específicas para a prevenção e tratamento dessas doenças. • A taxa de mortalidade infantil estima o risco de morte dos nascidos vivos durante o seu primeiro ano de vida, refletindo de maneira geral, as condições de desenvolvimento socioeconômico e infraestrutura ambiental, bem como o acesso e a qualidade dos recursos disponíveis para atenção à saúde materna e da população infantil (REDE, 2008). • Costuma-se classificar o valor da taxa como alto (50 por mil ou mais), médio (20 a 49) e baixo (menos de 20), parâmetros esses que necessitam revisão periódica, em função de mudanças no perfil epidemiológico (REDE, 2008). • Valores abaixo de 10 por mil são encontrados em vários países, mas deve-se considerar que taxas reduzidas podem estar encobrindo más condições de vida em segmentos sociais específicos (REDE, 2008). • A taxa de mortalidade infantil no Brasil, em 2014, foi de 14,1 óbitos por mil nascidos vivos (BRASIL, 2016). O município de Sítio Feliz apresentou um baixa taxa de mortalidade infantil (11,4 por mil nascidos vivos), sendo inclusive menor que a taxa nacional. 115 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Razão de mortalidade materna • A razão de mortalidade materna reflete a qualidade da atenção à saúde da mulher. Portanto, taxas elevadas de mortalidade materna estão associadas à insatisfatória prestação de serviços de saúde a esse grupo, desde o planejamento familiar e a assistência pré-natal, até a assistência ao parto e ao puerpério (REDE, 2008). • A taxa de mortalidade materna máxima recomendada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) é de 20 casos a cada 100 mil nascidos vivos. Com o estabelecimento dos objetivos do milênio, a meta estabelecida para o Brasil foi de 35 casos por 100 mil nascidos vivos (PORTAL ODM). • A razão de mortalidade materna no Brasil, em 2012, foi de 62 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos (BRASIL, 2014). Embora o município de Sítio Feliz apresente uma razão de mortalidade materna menor que a nacional (37,5 por 100 mil nascidos vivos), a razão de mortalidade materna ainda é maior que o recomendado pela OPAS (20 mil óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos). 4.8 Indicadores de morbidade Para realizar uma análise de situação de saúde também é importante conhecer as medidas de morbidade. Para isso, devemos conhecer dois importantes conceitos relacionados ao tema: incidência e prevalência. 4.8.1 Incidência É a frequência de casos novos de uma doença ou agravo à saúde em um determinado período de tempo que surgem de uma população sob risco de adoecer. Para comparar a incidência em populações diferentes, ou uma mesma população em épocas distintas, usa-se a taxa de incidência. Ela é utilizada, principalmente, para doenças agudas e de curta duração, como as doenças transmissíveis. Taxa de incidência = Nº de casos novos de uma doença em determinada população em certo período de tempo Nº de pessoas expostas aos risco de adoecer no referido período ×10n 116 Os gráficos 19 e 20 mostram exemplos das taxas de incidência, por meio das quais podemos observar a importância desse tipo de medida para o planejamento de ações de saúde, sobretudo aquelas que visam à promoção da saúde e à prevenção das doenças. Apesar da redução da taxa de incidência ao longo dos anos, a tuberculose é uma doença que persiste no Brasil, tornando o país um dos líderes mundiais em casos novos da doença. 28 30 32 34 36 38 37,9 32,4 40 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Ano de diagnóstico In ci dê nc ia (/ 10 0 m il ha b. ) Gráfico 19 - Coeficiente de incidência de tuberculose. Brasil, 2007-2016*. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2018. 426 p. *Dados provisórios. 117 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Ano do diagnóstico/notificação Aids Sífilis Congênita Sífilis em Gestantes Ta xa d e de te cç ão d e ai ds p or 1 00 m il ha b. Ta xa d e sífi lis p or 1 .0 00 n as ci do s v iv os Gráfico 20 - Taxas de detecção de Aids (por 100 mil hab.), de sífilis em gestantes (por mil nascidos vivos) e taxa de incidência de sífilis congênita (por mil nascidos vivos) em adolescentes, segundo ano do diagnóstico/notificação. Brasil, 2007 a 2013. *, **, *** Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2015/2016: uma análise da situação de saúde e da epidemia pelo vírus Zika e por outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2016a. 386 p. *Casos notificados no Sinan e registrados no Siscel/Siclom, até 30/6/2015, e no SIM, de 2000 a 2014. **Taxas de 2014 calculadas sobre a população de 2012. ***Dados preliminares para os últimos cinco anos. O gráfico 20 mostra taxas de detecção, que é uma aproximação da taxa de incidência em doenças que podem ter diagnósticos tardios, e de incidência de doenças como HIV/Aids e sífilis. Pode-se perceber um aumento no número de novos casos, o que deve gerar um alerta para os gestores direcionarem políticas para o controle dessas doenças. 4.8.2 Prevalência É definida como a frequência de casos existentes de uma doença e a sua medida relativa. A taxa de prevalência informa a relação entre o número de casos conhecidos de uma dada doença e a população. A medida de prevalência é bastante útil para o planejamento na área da saúde, sobretudo para ações que visam a estruturar os serviços voltados à população acometida com uma determinada doença. 118 Tabela 6 - Prevalência (IC95%) e total em número absoluto de indivíduos que referiram morbidades. Brasil – Pesquisa Nacional de Saúde, 2013. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2014: uma análise da situação de saúde e das causas externas. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 462 p. Disponível em: . A tabela 6 e o gráfico 21 mostram os dados de prevalência que são mais utilizados, como você poderá ver, para doenças não transmissíveis ou mesmo para doenças transmissíveis, mas que possuam longa duração, como é o caso da hanseníase, tuberculose e Aids. Taxa de prevalência = Nº de casos conhecidos de uma doença População ×10n Morbidades Prevalência Total estimado de casos (x 1.000) % IC95% Hipertensão arterial 21,4 20,8 22,0 31.315 Diabetes 6,2 5,9 6,6 9.122 Asma 4,4 4,1 4,7 6.438 Depressão 7,6 7,2 8,1 11.179 Outra doença mental 0,9 0,8 1,1 1.347 Doença do coração 4,2 3,9 4,5 6.115 AVC 1,5 1,4 1,7 2.231 Artrite 6,4 6,1 6,7 9.382 Problema na coluna 18,5 17,8 19,1 27.021 DORT 2,4 2,2 2,7 3.568 Câncer 1,8 1,6 2,0 2.681 Insuficiência renal crônica 1,4 1,3 1,6 2.080 Doença do pulmão 1,8 1,6 2,0 2.611 119 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Gráfico 21 - Taxa de Prevalência da Hanseníase nos estados. Brasil, 2015. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Taxa de Prevalência da Hanseníase, estados, Brasil, 2015. 2016b. Disponível em: .Acesso em: 7 jul. 2017. Ta xa 1 0. 00 0 ha b. 7,75 4,2 3,76 2,33 2,32 2,25 2,08 1,84 1,76 1,6 1,5 1,21 1,12 1,06 1,01 0,95 0,94 0,88 0,85 0,65 0,57 0,52 0,5 0,42 0,41 0,23 0,16 0,1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Mato Grosso Tocantins Maranhão Mato Grosso do Sul Rondônia Pará Piauí Pernambuco Goiás Roraima Ceará Acre Bahia Amapá Brasil Sergipe Espírito Santo Amazonas Paraíba Alagoas Paraná Distrito Federal Rio Grande do Norte Minas Gerais Rio de Janeiro São Paulo Santa Catarina Rio Grande do Sul BAIXO MÉDIO ALTO 4.9 Outros indicadores de saúde Devido à complexidade do conceito de saúde, surgiu a necessidade de se demandar novas formas de medi-la, com tentativas de superar a medição “negativa” de saúde, visto que os principais indicadores envolvem dados de morbidade e mortalidade. Dessa forma, propostas de indicadores positivos de saúde têm surgido nas últimas décadas, como é o caso da saúde autorreferida e o DALY. O DALY corresponde à medida dos anos de vida perdidos por incapacidade, combinando dados de mortalidade com dados que levam em consideração o grau e o tempo de incapacidade devido a uma patologia. Uma medida anterior ao DALY, mas com lógica semelhante, é o QALY (Quality-adjusted life years), que corresponde ao cálculo acumulado dos anos com qualidade de vida não vividos por motivo de doença, incapacidade ou morte (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2006). A esperança de vida também se constitui em um importante indicador de saúde, apesar de ser amplamente utilizado e gerado no âmbito da demografia. Mede o número médio de anos que ainda restam para serem vividos pelos 120 usuários e costuma ser apresentado como esperança de vida ao nascer. Destacamos aqui a importância dos indicadores de saúde para o uso rotineiro dos serviços de saúde, seja em nível gerencial ou mesmo para guiar as ações das equipes assistenciais, em unidades básicas, hospitalares ou de vigilância em saúde. Além dos atributos e das possibilidades de cálculos desses indicadores, faz-se necessário também observar a qualidade dos dados a serem obtidos para a Asis. 4.10 Qualidade das informações Os Sistemas de Informações em Saúde (SIS) são importantes fontes de dados, gerados, principalmente, pelo registro contínuo das atividades de saúde rotineiras. Discutimos, contudo, que os SIS apresentam algumas falhas que devem ser consideradas ao utilizarmos os dados oriundos de cada um deles. Após conhecer um pouco mais sobre os indicadores, podemos discutir de que forma podemos identificar os problemas relacionados à produção de dados gerados pelos SIS e, ao mesmo tempo, possibilitar uma melhoria contínua na qualidade desses dados. Deixamos para discutir dois desses indicadores nesta seção, propositadamente, para que pudéssemos analisar a qualidade dos dados dos sistemas de informações no Brasil. Um deles é a cobertura, que determina a representatividade dos dados referentes a uma população. O outro é a completude dos dados, ou seja, se os dados oriundos dos SIS estão completos. Ao apresentar os principais sistemas de saúde na seção anterior, discutimos inicialmente essas questões, tratando sobre a qualidade dos dados no SIM, Sinasc e Sinan. O Sistema de Informações Sobre Mortalidade, por exemplo, apresenta cobertura diferente entre as regiões brasileiras. O início da implantação do SIM já apresentava essa diferença no registro de óbitos, apesar de ter sido criado com a expectativa de contabilizar mais óbitos do que os registrados pelos cartórios, uma vez que a DO teria seu preenchimento nas unidades de saúde notificadoras (hospitais, por exemplo). Uma medida que informava o grau de abrangência do SIM era a comparação de captação de óbitos em relação ao IBGE (dados de registro civil), como 121 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE você pode verificar na tabela 7 (MELLO-JORGE; LAURENTI; GOTLIEB, 2009). Ano Registro Civil SIM Diferença Absoluta Diferença Relativa 1980 815.445 750.727 -64.718 -7,9 1985 815.829 788.231 -27.598 -3,4 1990 859.986 817.284 -42.702 -5,0 1994 925.101 887.594 -37.507 -4,1 1998 951.949 929.023 -22.926 -2,4 2000 943.567 946.686 +3.111 +0,3 2001 950.043 961.492 +11.449 +1,2 2002 978.627 982.807 +4.180 +0,4 2003 993.655 1.002.340 +9.285 +0,9 Tabela 7 - Número total de óbitos captados pelo Sistema de Registro Civil e pelo SIM e diferenças absoluta e relativa entre eles. Brasil, 1980/2003. Fonte: Adaptado de: MELLO - JORGE, M. H. P.; LAURENTI, R.; GOTLIEB, S. L. D. O sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM: concepção, Implantação e Avaliação. In: BRASIL. Ministério da Saúde. A experiência brasileira em sistemas de informação em saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2009. (Série B. Textos Básicos de Saúde). A partir da década de 2000, o SIM já captava mais óbitos do que o Registro Civil, embora este último também apresentasse sub-registro dos eventos vitais. Por isso, os cálculos de estimativas de mortalidade eram realizados por meio de técnicas indiretas a partir dos dados do IBGE. Contudo, os dados ainda mostravam baixa cobertura, o que podia ser estimado pelo Coeficiente Geral de Mortalidade (CGM), outro indicador que contribui para a avaliação da cobertura do sistema de captação de óbitos. Isso porque o coeficiente geral de mortalidade deve estar entre 6 e 12 óbitos por mil habitantes, independentemente do nível de saúde apresentado por uma população. Apesar de ser afetado pela estrutura etária da população, variando se a população é mais jovem ou mais velha, o valor do coeficiente deve se manter dentro desse intervalo (MELLO-JORGE; LAURENTI; GOTLIEB, 2009). A figura 23 retrata a baixa cobertura da captação de óbitos pelo SIM a partir do CGM, mostrando que existia um grande número de municípios no Norte e Nordeste com CGM inferior a 2,0 por mil habitantes. 122 Figura 23 - Coeficiente geral de mortalidade padronizado por idade por municípios. Regiões Norte e Nordeste. Brasil, 1996-1998. Fonte: FRIAS, Paulo G. de et al. Utilização das informações vitais para a estimação de indicadores de mortalidade no Brasil: da busca ativa de eventos ao desenvolvimento de métodos. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 33, n. 3, 2017. Disponível em: . A partir da década de 2000, o Ministério da Saúde patrocinou iniciativas para a melhoria da cobertura do SIM e do Sinasc, com destaque para a pesquisa de busca ativa de óbitos e nascimentos, que pretendia estimar o sub-registro de óbitos e nascimentos, possibilitando o cálculo de indicadores mais confiáveis, como a Taxa de Mortalidade Infantil. A pesquisa por busca ativa tem como objetivo identificar os óbitos e nascimentos que não foram registrados no SIM e Sinasc, respectivamente, Reveja a tabela 1, comparando com a figura 4, e observe que mesmo que exista uma diferença de uma década entre os estudos, ainda persistem as diferenças regionais na cobertura do SIM no Brasil. 123 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE fazendo uma busca in loco desses eventos. As fontes de informações adicionais foram: cartórios; secretarias de ação social (Cadastro Único dos Programas Sociais do Governo Federal – Bolsa Família; auxílio sepultamento; auxílio enxoval); hospitais; Unidades Básicas de Saúde; Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) e Instituto Médico Legal (IML); serviços de transporte de pacientes (ambulâncias, SAMU, corpo de bombeiros); cemitérios oficiais e não oficiais (locais de sepultamento); funerárias; delegacias de polícia; parteiras tradicionais; igrejas e farmácias. Foram selecionados municípios de estados com baixa cobertura do SIM e Sinasc, localizados na Amazônia Legal (estados da Região Norte e Mato Grosso) e na Região Nordeste (BRASIL, 2011a). As distintas realidades encontradas no Brasil geram situações que afetam diretamente a qualidade dos dados em saúde, como é o caso da cultura presentena zona rural de algumas regiões de sepultar bebês nos quintais do domicílio, conforme você pode visualizar na figura 24. A partir dos dados coletados nessa pesquisa, foi possível gerar fatores de correção para os óbitos e nascimentos ocorridos nas regiões Norte e Nordeste, o que contribuiu para o aumento da confiabilidade dos dados Figura 24 - Sepultura em quintal de residência no interior do Nordeste, Brasil, casos identificados durante a busca ativa de óbitos e nascimentos. Fonte: FRIAS, Paulo G. de et al. Utilização das informações vitais para a estimação de indicadores de mortalidade no Brasil: da busca ativa de eventos ao desenvolvimento de métodos. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 33, n. 3, 2017. Disponível em: . 124 Registrar corretamente a causa do óbito contribui diretamente para a qualidade da informação sobre o perfil de mortalidade da população. A partir de uma boa informação, é possível promover ações de prevenção e promoção, por meio de um planejamento adequado às necessidades de saúde das pessoas. A falta de completude no preenchimento dos formulários que dão base aos sistemas de informação também afeta a qualidade do Sinan. Tabela 8 - Mortalidade proporcional por causas mal definidas e sem assistência médica. Brasil e grandes regiões, 1995, 2000, 2005 e 2011. Fonte: REDE Interagencial de Informação para a Saúde Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. 2. ed. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2008. 349 p. Disponível em: . gerados pelo SIM e Sinasc, gerando melhores indicadores de mortalidade, como a TMI, por exemplo (DATASUS, 2017a). Outra preocupação com relação à qualidade dos dados é com o preenchimento dos formulários de cada um dos sistemas. No caso da DO, chama atenção um indicador de qualidade importante para o planejamento em saúde, que é o preenchimento da causa de morte, mais especificamente, a proporção de óbitos por causa mal definida (CMD). Esses óbitos se referem àqueles cujas causas básicas estão classificadas no Capítulo XVIII da CID-10 e contêm apenas a descrição de sintomas e sinais de doenças. A ocorrência desses óbitos indica problemas de acesso aos serviços de saúde e reflete a qualidade da assistência médica prestada à população (CUNHA; TEIXEIRA; FRANÇA, 2017). A tabela 8 mostra que a proporção de óbitos com causa mal definida tem reduzido ao longo dos anos, ao passo que a proporção de óbitos sem assistência médica tem reduzido no mesmo período. Região Proporção de causas mal definidas Proporção de óbitos sem assistência médica 1995 2000 2005 2011 1995 2000 2005 2011 Norte 25,7 24 17,7 11 17,8 15,8 10,8 4,8 Nordeste 34,4 28,4 17,2 7,7 28,1 22,2 11,2 3,9 Sudeste 9,7 9,8 8,1 6,6 3,8 2,8 2,1 1,2 Sul 9,4 6,3 5,8 4,5 7 3,9 2 0,8 Centro-Oeste 13,3 8,5 5,2 4,4 6,8 3 1,2 0,5 Brasil 16,2 14,3 10,4 6,7 10,7 8,3 4,8 2 125 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Campos importantes para identificação do paciente e de seu endereço, que facilitam o acompanhamento e investigação de casos, podem ter preenchimento inferior a 10% a depender do campo a ser preenchido. Isso também acontece com dados que estão relacionados aos fatores de risco para a doença ou agravo, cujo preenchimento costuma ser inadequado (ALVARES et al., 2015; MALHAO et al., 2010). Apesar de um caminho ainda a percorrer em busca da melhoria na qualidade dos sistemas de informações no Brasil, as iniciativas já implantadas sugerem que bons resultados podem ser alcançados. Embora haja diferenças regionais e entre sistemas, a melhoria na qualidade dos dados pode ser observada. É o caso do preenchimento adequado dos campos da Declaração de Nascidos Vivos (DN), onde a completude dos campos permite que os dados sejam utilizados com confiabilidade por gestores e profissionais de saúde, como você pode verificar na tabela 9. Variável Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil Tipo de gravidez 99,93 99,88 99,94 99,97 99,87 99,92 Tipo de parto 99,91 99,83 99,88 99,96 99,82 99,87 Semana gestacional 99,68 99,31 98,90 99,89 99,52 99,28 Sexo 99,98 99,97 99,98 99,99 99,99 99,98 Raça/cor (recém- nascido) 99,31 92,41 93,27 99,80 90,58 94,27 Índice de Apgar ao 1º minuto de vida 97,82 92,14 97,07 99,25 98,90 96,11 Índice de Apgar ao 5º minuto de vida 97,26 91,40 97,13 99,27 98,94 95,85 Peso ao nascer 100,00 99,99 99,64 100,00 100,00 99,86 Detecção de anomalia congênita 97,99 95,24 95,28 99,59 93,90 96,00 Percentual de completude 99,10 96,69 97,90 99,75 97,95 97,90 Tabela 9 - Percentual de completude dos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc). Brasil e Macrorregiões, 2006-2010. Fonte: OLIVEIRA, Max M. de et al. Avaliação do Sistema de Informações sobre nascidos vivos. Brasil, 2006 a 2010. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 24, n. 4, p. 629-640, 2015. 126 A qualidade das informações depende, entre outros atributos, do registro adequado dos eventos captados pelos sistemas de informações em saúde. Além disso, é necessário o preenchimento cuidadoso e responsável dos formulários pelos profissionais envolvidos em todo o processo que constitui um sistema de informação. AGORA É COM VOCÊ! Você já ouviu falar na Vigilância do Óbito Materno, Infantil e Fetal? Faça uma busca no seu município, entrevistando pessoas ou consultando documentos, para saber como funciona essa vigilância. Como discutimos anteriormente, os indicadores de morte materna e mortalidade infantil são importantes marcadores da situação de saúde e das condições de vida de uma população, não à toa estão inscritos como metas para sua redução nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Para conhecer mais sobre esse programa, acesse o site das nações unidas. A partir da leitura deste livro, você já pode reconhecer que para uma ação adequada à melhoria da saúde das pessoas, é necessário ter informação de qualidade disponível, correto? Portanto, a Vigilância do Óbito Materno, Infantil e Fetal busca identificar as causas que levaram a óbito os indivíduos desse grupo, investigando profundamente a cadeia de eventos que levou à morte. Isso gera informação precisa sobre a causa do óbito, permitindo a implantação de ações mais efetivas para que novas mortes sejam evitadas. Você pode acompanhar os dados de mortalidade infantil e fetal do seu município/estado acessando o Painel de Monitoramento da Mortalidade Infantil e Fetal e os dados de morte materna no Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna (BRASIL, 2017a, 2017b). 127 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos conhecimentos sobre a Análise de Situação de Saúde (Asis), gestores e profissionais de saúde poderão basear suas decisões em informações adequadas à resolução dos principais problemas de saúde do seu território. Para isso, é de fundamental importância o conhecimento das fontes dos dados que constituirão a Asis, reconhecendo que os dados epidemiológicos e demográficos são fundamentais na composição da análise, uma vez que contribuem para a contextualização das condições de vida dos indivíduos, as quais, em última análise, determinam o processo saúde-doença dos grupos populacionais. Nesta perspectiva, você pôde reconhecer o que são necessidades em saúde da população, as desigualdades em saúde e a carga de doenças e como elas são importantes elementos para a Análise de Situação de Saúde. Você pôde conhecer ainda um pouco mais sobre as informações em saúde e sua importância para a identificação das necessidades de saúde da população. Pôde, ainda, se familiarizar com alguns dos principais indicadores utilizados na Asis, a partir dos dados dos Sistemas de Informações em Saúde (SIS), e com os atributos que os tornam boas medidas do nível de saúde e das condições de vida da população. Assim, esperamos que a partirdos elementos apresentados aqui, você possa incrementar o processo de tomada de decisões no seu cotidiano com o uso da Asis, a fim de racionalizar os recursos disponíveis para atender melhor às necessidades de saúde da população. Essas ações devem ser embasadas no processo de utilização e produção de dados com qualidade, afinal, o processo de tomada de decisão deve servir a atender às necessidades de saúde da população, sendo responsabilidade de todos nós a qualidade de vida na grande comunidade da qual fazemos parte. 128 REFERÊNCIAS ALMEIDA FILHO, N. BARRETO, M. L. Epidemiologia, cuidado e promoção da saúde. In: ALMEIDA FILHO, Nr. BARRETO, M. L. Epidemiologia e Saúde: Fundamentos, métodos, aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 700p. ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. Introdução à Epidemiologia. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 282 p. ALMEIDA, M. F.; ALENCAR, G. P.; SCHOEPS, D. Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – Sinasc: uma avaliação de sua Trajetória. In: BRASIL. Ministério da Saúde. A experiência brasileira em sistemas de informação em saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2009. (Série B. Textos Básicos de Saúde). ALVARES, J. K. et al. 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Acesso em: 10 ago. 2017. 2 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE: CONCEITOS E INTERPRETAÇÃO DE INDICADORES 1 INTRODUÇÃO 2.1 Bases conceituais da Análise de Situação de Saúde (Asis) 2.1.1 Objetivos da Asis 2.1.2 Finalidades da Asis 2.1.2.1 A Definição de necessidades, prioridades e políticas em saúde e a avaliação de sua adequação 2.1.2.2 A formulação de estratégias de promoção, prevenção e controle de danos à saúde e a avaliação de sua pertinência e cumprimento 2.1.2.3 A construção de cenários futuros em saúde 2.2 Utilização dos dados da Vigilância em Saúde 2.3 Comportamento e tendências das variáveis demográficas 3 ASIS E PRIORIZAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS 3.1 Priorização: definição e aplicabilidade 3.2 Desigualdades em saúde 3.3 A carga global de doenças no Brasil 4 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES EM SAÚDE 4.1 Os sistemas de informação em saúde no Brasil e sua importância para a construção das Asis 4.2 Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) 4.3 Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) 4.4 Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 4.5 Outros sistemas de informações 4.6 Identificação e seleção de dados fundamentais 4.7 Indicadores de mortalidade 4.7.1 Mortalidade Proporcional por Causas 4.7.2 Taxa de Mortalidade por Causas 4.7.3 Taxa de Mortalidade Infantil 4.7.4 Razão de Mortalidade Materna 4.8 Indicadores de morbidade 4.8.1 Incidência 4.8.2 Prevalência 4.9 Outros indicadores de saúde 4.10 Qualidade das informações 5 CONSIDERAÇÕES FINAISAsis criteriosa e bem conduzida por quem administra serviços de saúde e também por quem produz cuidado no dia-a-dia das pessoas. 15 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE 2 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE: CONCEITOS E INTERPRETAÇÃO DE INDICADORES Por meio de reflexões sobre problemas comuns ao sistema de saúde brasileiro, você poderá percorrer caminhos que o ajudarão a compreender os fatores contextuais que influenciam na saúde da população e interpretar as mudanças no perfil epidemiológico e demográfico dessa população. Para isso, convidamos você a fazer uma reflexão. Imagine uma situação hipotética, em que todos os problemas de saúde dos indivíduos pudessem ser resolvidos a qualquer momento, pois existiriam inúmeras unidades de saúde, ambulatoriais e hospitalares, bem como serviços de prevenção atuando em todas as cidades. Não existiria escassez de profissional e todas as tecnologias, inclusive as mais avançadas, estariam disponíveis a qualquer pessoa. Você deve estar pensando que essa situação só é possível em um mundo ideal, restrito à nossa imaginação. De fato, no mundo real esse cenário descrito acima está longe de ser contemplado. No Brasil e em todos os demais países, os recursos dos mais diversos tipos são finitos, ou seja, tanto recursos financeiros como o número de profissionais, por exemplo, são limitados. Evidentemente, essa escassez de recursos afeta alguns países mais do que outros, mas em todos eles há um limite para os gastos. Na área da saúde isso não é diferente, especialmente se considerarmos que estamos falando de uma área dinâmica, na qual o adoecimento das populações é bastante variável e há uma demanda crescente por novas tecnologias. É preciso destacar algumas características do setor de saúde, pois elas têm relações íntimas com os crescentes gastos observados: os tipos de doença que são mais comuns em uma região podem não ser em outras; o padrão de doenças também se modifica ao longo do tempo – uma doença que era comum anos atrás pode ter sido erradicada, ao passo que outras doenças surgem ao longo dos anos; 16 as doenças não respeitam fronteiras geográficas, e as epidemias de ebola e influenza por H1N1 mostram isso. Outra característica é a intensa inovação tecnológica da indústria de equipamentos para a saúde e farmacêutica. Essas inovações costumam gerar demandas para os novos produtos, que para serem incorporados aos tratamentos geram altos custos aos governos. Por isso, é importante conhecer as bases conceituais da Asis e compreender como se dá essa dinâmica na saúde de diferentes regiões. 2.1 Bases conceituais da Análise de Situação de Saúde (Asis) Se as realidades de saúde são distintas entre populações e os recursos são escassos, como aplicar os recursos disponíveis? Quais devem ser as prioridades na execução das ações? Quais os critérios que podem auxiliar os profissionais e gestores de saúde na tomada de decisão? A Asis é uma ferramenta que facilita a identificação de necessidades e prioridades, bem como a identificação de intervenções e programas adequados e a avaliação do seu impacto na saúde (OPAS, 1999). Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a Asis “é caracterizada por processos analítico-sintéticos que permitem caracterizar, medir e explicar o perfil de saúde-doença de uma população, incluindo os agravos e problemas de saúde, assim como seus determinantes” (OPAS, 1999). O gráfico 1 apresenta um exemplo de como a Asis pode ser aplicada. Os gráficos mostram as principais causas de mortes por região do Brasil para o ano de 2013 e fazem parte da publicação anual da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde chamada “Saúde Brasil”. Essa publicação, portanto, tem como objetivo “produzir e disseminar análises de situação de saúde” (BRASIL, 2015). 17 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Gráfico 1 - Taxas de mortalidade padronizadas das principais causas específicas de morte por Região, Brasil, em 2013. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2014: uma análise da situação de saúde e das causas externas. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. p. 106. Disponível em: . Acesso em: 19 jul. 2017. A partir do gráfico 1, podemos observar algumas semelhanças no padrão de mortalidade entre as regiões brasileiras. Mas também podemos visualizar que algumas regiões têm como principal causa de morte doenças que não aparecem com destaque nas demais, como é o caso do grupo “Bronquite, enfisema, asma” no Sul do país e os “Acidentes de transporte terrestre” no Centro-Oeste e Norte. Nesse caso, a Asis ajudaria no direcionamento de políticas voltadas para a redução das principais causas de mortes em cada região, ao mesmo Centro-Oeste 29,530,2 35,538,9 44,1 60 50 40 30 20 10 0 Sul 26,126,2 29,3 37,1 46,9 60 50 40 30 20 10 0 Sudeste 19,322,1 37,739,642,6 60 50 40 30 20 10 0 Nordeste 28 35,4 39,542,7 51,9 60 50 40 30 20 10 0 Acidentes de transporte terrestre Homicídios Bronquite, enfisema, asma Pneumonias D. hipertensivas Diabetes mellitus Infarto agudo do Miocárdio D. cerebrovasculares Norte 21,9 32,634,935,6 51,5 60 50 40 30 20 10 0 18 tempo que uma análise da mortalidade ao longo dos anos poderia auxiliar na avaliação das políticas implementadas para evitar o excesso de mortes por cada uma das causas. Para compreender melhor a importância da Asis para o planejamento das ações de saúde, vamos analisar o caso do município de Céu Azul: CENA 1 - Reunião de Conselho de Saúde e Instituição da Comissão de Asis de Céu Azul Mário, 35 anos, é enfermeiro e assumiu há cinco meses o cargo de secretário municipal de saúde do município de Céu Azul. Ele tem muitos planos para a saúde do município e por isso agendou uma reunião com o Conselho Municipal de Saúde de Céu Azul para discutir os problemas de saúde e as ações para solucioná-los. No dia agendado, todos os conselheiros se fizeram presentes. Durante a reunião, Mário apontou a necessidade do planejamento das ações de saúde e apresentou o recurso financeiro disponível. Além disso, também apresentou os projetos de saúde que pretendia iniciar, visto que o recurso possibilitava a realização de todos eles. Entretanto, alguns dos conselheiros começaram a se questionar se os projetos apresentados realmente contemplavam as prioridades de saúde de Céu Azul, pois muitos deles referiam-se a solucionar problemas de saúde pouco prevalentes no município. Dessa forma, Marta, uma das conselheiras, profissional especialista em saúde coletiva, destacou que achava importante realizar uma análise da situação de saúde (Asis) do município para iniciar o planejamento das ações de saúde da nova gestão. Sendo assim, Mário, convencido por Marta e demais conselheiros, propôs ao final da reunião a criação de uma Comissão para realizar a Asis de Céu Azul e apresentar os resultados na reunião seguinte. Agora, imagine que você é um dos conselheiros da Comissão de Asis de Céu Azul e que na próxima reunião do Conselho Municipal de Saúde você e seus colegas da comissão deverão apresentar as principais características de saúde do município. Atente-se para os seguintes questionamentos: 19 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE • Por que é necessário realizar a Asis de Céu Azul? • Como a comissão irá iniciar essa Asis? PARA SABER MAIS! O Ministério da Saúde apresenta no livro “Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” um capítulo sobre mortalidade pelas principais causas específicas em 2015: diferenças regionais – nas páginas 81 a 98 que se sugere a leitura. 2.1.1 Objetivos da Asis O objetivo geral da Asis, segundo Calvo (2004), é entender as causas e consequências das diferenças dos problemas de saúde na comunidade. A OPAS (1999) coloca mais explicitamente o componente da gestão da saúde na sua construção teórica, segundoa qual a Asis busca “contribuir com a informação que o componente técnico requer para os processos de condução, gerência e tomada de decisão em saúde”. Autores brasileiros sintetizam o objetivo da Asis assim: A Asis tem como objetivo criar informações e conhecimentos válidos sobre a situação de saúde de uma população em determinado território/contexto, mas tem como finalidade principal informar a tomada de decisão em saúde de maneira oportuna em todas as suas instâncias (DUARTE; MORAIS NETO, 2015, p.10). Você deve estar se familiarizando com a Asis como uma ferramenta importante para auxiliar as ações na área da saúde. Talvez esteja pensando em como pode utilizá-la no cotidiano do seu trabalho, seja na gestão ou nas equipes de saúde responsáveis por territórios. Vamos conversar mais sobre o tema? http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2017_analise_situacao_saude_desafios_objetivos_desenvolvimento_sustetantavel.pdf 20 Dessa forma, a Asis objetiva gerar informações que auxiliem na compreensão das causas e consequências de saúde e que também orientem a tomada de decisão por parte dos profissionais e gestores da saúde. 2.1.2 Finalidades da Asis Além do seu objetivo geral, podem ser identificadas outras finalidades da Asis (OPAS, 1999). Veja a seguir algumas dessas finalidades. 2.1.2.1 A Definição de necessidades, prioridades e políticas em saúde e a avaliação de sua adequação A figura 1 ilustra como a Asis pode auxiliar na definição de necessidades, prioridades e políticas em saúde, além da avaliação de sua adequação. A partir dela, podemos vislumbrar que áreas de maior vulnerabilidade social geram resultados distintos de saúde. Nesse caso, são apresentados mapas que representam valores integrados de saúde e ambiente, com claro gradiente mais desfavorável para o Norte-Nordeste do país. Essa análise ajuda a apontar quais políticas e onde elas devem ser prioritariamente aplicadas para reduzir as internações e mortes por doenças diarreicas entre crianças. 21 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Fonte: BUHLER, H.F. et al. Análise espacial de indicadores integrados de saúde e ambiente para morbimortalidade por diarreia infantil no Brasil, 2010. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 30, n. 9, p. 1921-1934, Set. 2014. 0º0º -10º-10º -20º-20º -30º-30º 0º0º -10º-10º -20º-20º -30º-30º -70º-70º -60º-60º -50º-50º -40º-40º -70º-70º -60º-60º -50º-50º -40º-40º Péssimo (0,30-0,66) Ruim (0,67-0,80) Bom (0,81-0,89) Muito bom (0,90-0,96) 0 600 1.200km N O S L Internação 0º0º -10º-10º -20º-20º -30º-30º 0º0º -10º-10º -20º-20º -30º-30º -70º-70º -60º-60º -50º-50º -40º-40º -70º-70º -60º-60º -50º-50º -40º-40º Péssimo (0,17-0,69) Ruim (0,70-0,85) Bom (0,86-0,92) Muito bom (0,93-0,97) 0 600 1.200km N O S L Mortalidade Figura 1 - Distribuição espacial do indicador integrado de saúde e ambiente por microrregiões brasileiras para internação e mortalidade por doença diarreica aguda em menores de um ano. Brasil, 2010/2009. 22 A figura 1 apresenta desigualdades sociais influenciando internações e mortes por doenças diarreicas em crianças. Você consegue observar desigualdades semelhantes dentro do seu município? Há grupos populacionais que sofrem mais de alguns tipos de doença por causa da sua condição social? Esses grupos deveriam receber uma atenção diferenciada na definição e execução de políticas públicas? Alguns grupos populacionais padecem mais de alguns tipos de doença e agravos e podemos observar isso em nível municipal também. As mortes violentas entre jovens da periferia em níveis bastante elevados, os altos índices de perda dentária entre as pessoas de baixo nível educacional ou a elevada prevalência de tuberculose na população carcerária são exemplos concretos de desigualdades em saúde, com forte influência das condições sociais sobre os grupos populacionais. As ações para enfrentar esses problemas, portanto, podem ser direcionadas, ou melhor, priorizadas para os grupos mais vulneráveis. 2.1.2.2 A formulação de estratégias de promoção, prevenção e controle de danos à saúde e a avaliação de sua pertinência e cumprimento A vacinação é um exemplo que ilustra bem a finalidade da Asis de formulação de estratégias de promoção, prevenção e controle de danos à saúde e a avaliação de sua pertinência e cumprimento. É uma estratégia de prevenção de doenças bastante conhecida e o Brasil tem um programa que abrange todo o território nacional, que é o Programa Nacional de Imunização. A figura 2 mostra a importância da vacinação para a erradicação da poliomielite no Brasil. 23 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Figura 2 - Número de casos confirmados de poliomielite e notificados de paralisia flácida aguda, Brasil, 1979 a 2008. Fonte: DURANTE, A. L. T.; DAL POZ, M. R. Saúde global e responsabilidade sanitária brasileira: o caso da erradicação da poliomielite. Saúde debate, Rio de Janeiro, v. 38, n. 100, p. 129-138, Mar. 2014. Apesar da imunização ser uma estratégia consolidada na saúde pública, ela deve ser acompanhada para garantir que as pessoas sejam imunizadas e as doenças sejam erradicadas ou, pelo menos, mantidas sob controle. Uma forma de acompanhar a execução dessas ações e avaliar seu alcance é utilizar o indicador de cobertura vacinal. Esse indicador mede o percentual de pessoas que foram imunizadas do total de indivíduos que fazem parte da população-alvo. Se a cobertura vacinal estiver baixa, as ações não estão sendo bem executadas e podem gerar graves problemas de saúde para a população. 2.1.2.3 A construção de cenários futuros em saúde A figura 3 apresenta um cenário futuro para as causas de morte no Brasil, resgatando dados históricos e estimando qual o perfil de mortalidade para o ano de 2033. A partir dessa análise, políticas governamentais podem 3.500 3.000 2.500 2.000 1.500 1.000 500 0 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 2.569 1.260 122 69 45 142 329 612 196 106 35 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3.205 1.985 362 257 233 257 600 1.029 724 895 916 535 588 552 517 554 419 453 432 369 437 528 678 637 654 642 609 614 636 585 Poliomielite Paralisia flácida aguda Dois casos recentes de surtos de doenças imunopreveníveis chamaram a atenção para a importância do monitoramento e do cumprimento das metas de cobertura vacinal no Brasil. Foram os casos de febre amarela em Minas Gerais no ano de 2017 e de sarampo na Região Norte do país em 2018. 24 ser elaboradas a fim de mudar o cenário para determinadas causas – notoriamente as causas externas, bem como preparar o sistema de saúde para uma assistência adequada às pessoas que necessitarão de cuidados prolongados – como os grupos que são acometidos por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), com destaque para as doenças do aparelho circulatório e neoplasias. Figura 3 - Mortalidade proporcional por grupos de causa (Capítulos da CID), estratificado segundo os 10 grupos de maior peso para o ano de 2011. Brasil, 1980 a 2033. Fonte: SILVA JÚNIOR, J. B.; RAMALHO, W. M. Cenário epidemiológico do Brasil em 2033: uma prospecção sobre as próximas duas décadas. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2015. p. 9. (Textos para Discussão; n. 17). Como vimos, a Asis pode ser utilizada de diferentes formas por gestores e profissionais de saúde para direcionar ações que busquem a satisfação das necessidades de saúde da população. Não podemos, no entanto, esquecer que a saúde da população depende de inúmeros fatores e que algumas soluções, para serem efetivas, precisam ser articuladas com outros setores 100 75 50 25 0 20302025202020152010200520001995199019851980 Capítulos Demais Afecções perinatais Aparelho geniturinário Sistema nervoso Infecciosas e parasitárias Aparelho digestivo Sangue, tr. imun., nutr. e metab. Aparelho respiratório Causas externas Neoplasias Aparelho circulatório E você, sabe quais são asprincipais causas de morte na população do seu município? Existe alguma política pública que ajude a enfrentar alguma dessas causas? Você pode buscar essas informações na própria Secretaria de Saúde do município ou buscar em sites oficiais, como no DATASUS. 25 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE governamentais e da sociedade. Aqueles agravos ou doenças que são mais prevalentes em populações mais vulneráveis são um exemplo de soluções que passam, necessariamente, pela intersetorialidade das ações. Afinal, o grande número de mortes violentas entre jovens em situação de vulnerabilidade e marginalizados não serão resolvidos somente com a mobilização de equipes de saúde. Podemos usar esse raciocínio para as neoplasias que podem ser detectadas em programas de prevenção, como é o caso do câncer de mama, de colo do útero e de próstata, mas que estão entre os tipos que mais matam no Brasil. Esses tipos de neoplasias são mais letais entre o grupo de pessoas mais pobres e menos escolarizadas. Ampliar o número de unidades de saúde que diagnosticam essas doenças é apenas uma das ações que podem diminuir a mortalidade, mas a redução das desigualdades sociais necessitará de uma ação conjunta de diferentes setores. É importante destacar que essa visão ampla sobre a saúde é uma construção histórica, que se desenvolveu juntamente com a sociedade humana. Por muito tempo, a saúde esteve vinculada a um conceito tradicional que relacionava à saúde com os serviços sanitários. Dito de uma forma mais direta, a saúde seria definida a partir da doença como referência, ou seja, o organismo que estivesse em um estado mórbido era considerado doente, ao passo que o contrário desse estado seria caracterizado como saúde (CARVALHO; BUSS, 2012). A mudança no paradigma da saúde, que passa a contemplar os múltiplos fatores – incluindo os socioeconômicos – como produtores de doenças, se reflete também nas medidas utilizadas em saúde pública para analisar a situação de saúde da população. Por meio da Epidemiologia, essa busca por medidas objetivas sobre a saúde deixou de ser exclusivamente relacionada à mortalidade e morbidade e passou a incluir outros atributos. Com a ampliação do conceito de saúde, reconheceu-se a necessidade de considerar outras dimensões da saúde, como incapacidade e fatores não biológicos da saúde, assim como a qualidade da assistência, o acesso aos serviços, as condições de vida e os fatores ambientais (OPAS, 2001). 26 Epidemiologia é o estudo da frequência e distribuição de estados ou eventos relacionados à saúde, e dos seus determinantes, em populações específicas e a aplicação desse estudo para o controle de problemas de saúde (PORTA, 2014). Um dos módulos de um curso voltado a gestores de saúde pública promovido pela OPAS traz premissas para a Asis em um contexto atual e voltado para a realidade da América Latina. Essas premissas perseguem uma Asis alinhada com a visão ampliada de saúde e incluem (OPAS, 2010): Percebam que a Asis inclui variáveis de contexto, as quais são aquelas que determinam o estado de saúde das pessoas. A forma como se organiza a sociedade e os sistemas de saúde para dar resposta às necessidades de saúde. A existência de diferenças na distribuição das condições de vida e as causas de enfermidade e morte. A possibilidade de identificar a magnitude, o alcance e a gravidade dos problemas de saúde na população. A possibilidade de identificar os grupos populacionais com necessidades de saúde não satisfeitas e de alto risco. A sugestão de intervenções potenciais baseadas no reconhecimento dos fatores de risco. A avaliação da efetividade das intervenções sustentada nos indicadores epidemiológicos. Os aspectos de contexto que determinam as condições de vida e saúde da população. 27 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE O que são determinantes sociais da saúde para você? Você já se perguntou se o trabalho, a renda, a educação e os comportamentos das pessoas podem gerar doenças? Tente se lembrar de um caso em que um desses determinantes influenciou o aparecimento de uma doença, seja em uma pessoa próxima a você ou alguém que procurou o serviço onde você trabalha. Os determinantes sociais da saúde (DSS) são aqueles relacionados às condições em que uma pessoa vive e trabalha, além de influenciarem a ocorrência de problemas de saúde e fatores de risco à população – como moradia, alimentação, escolaridade, renda e emprego (WHO, 2017; BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007). Esses determinantes necessitam de articulação com outros setores da sociedade para serem alterados, e muitas vezes se situam além da governabilidade de quem planeja ações de saúde. Muitas vezes, ficamos limitados na busca da resolução de um problema de saúde pública, pois parte importante da resolução do problema está sob a gerência de outros setores. AGORA É COM VOCÊ! Você concorda que a mortalidade infantil no Brasil apresenta características de um problema com múltiplas dimensões? Considerando que o Brasil apresenta taxa de mortalidade infantil (TMI) distinta entre suas regiões, com piores resultados para o Norte e o Nordeste em relação às demais, liste os possíveis setores que poderiam contribuir para a redução da TMI no Brasil. Os setores podem ser governamentais ou da sociedade civil. Se você e sua equipe não dispõem dos meios e recursos necessários para resolver todos os problemas de saúde do território, é importante destacar que a Asis serve para a negociação política, a condução institucional, a mobilização de recursos e para a disseminação de 28 informações em saúde. A Asis contribui, portanto, para um diagnóstico mais preciso da situação, possibilitando identificar também os atores que se corresponsabilizarão para a resolução dos problemas, aumentando as chances de sucesso na execução das ações. 2.2 Utilização dos dados da Vigilância em Saúde Inicialmente, convidamos você a pensar sobre o voo de um avião, sobre os procedimentos necessários para que ele decole e chegue ao seu destino. Entre as diversas funções da equipe de comando da aeronave está a averiguação do tempo: se há possibilidade de chuvas, se há muitas nuvens no trajeto, temperatura do ar, entre outras características atmosféricas. Além disso, devem ser observadas a quantidade de combustível, a distância do avião para o solo, sua velocidade, quantidade de carga transportada. Importante, claro, é saber o fluxo dos outros voos na sua rota, bem como as decolagens e aterrissagens nos aeroportos, função essa auxiliada por equipamentos de bordo e pela torre de controle. Ufa! São utilizados muitos dados durante um voo de avião para que a tripulação conduza a aeronave com precisão e que todos cheguem ao seu destino com segurança. Agora se imagine na direção de uma unidade de saúde ou mesmo fazendo parte de uma equipe – seja ela de Vigilância ou de Saúde da Família, por exemplo. Os dados de saúde são importantes para gerar um atendimento adequado à população? Eles auxiliam no atendimento das necessidades das pessoas? Se vimos que os dados produzem informações relevantes para um piloto de avião conduzir bem uma aeronave por meio da definição da melhor rota, das mudanças de direção para adequar à malha aérea ou mesmo para comunicar aos passageiros sobre regiões de turbulência, podemos pensar 29 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE que para “conduzir” uma unidade de saúde ou para uma equipe atender às necessidades sanitárias de uma população, os dados são de fundamental importância. Obter informações de quantas mulheres estão gestantes em um município, quantos novos casos de dengue surgiram no último verão ou mesmo o total de pessoas hipertensas cadastradas na equipe de saúde da família do bairro auxiliam gestores e trabalhadores a adequarem a assistência materno-infantil daquele município; a atuarem de forma preventiva para que não ocorram novos casos de dengue nos meses quentes e chuvosos; e a estimarem a quantidade de medicamentos a serem dispensadosà população hipertensa sem que haja descontinuidade do tratamento. Você percebeu que com apenas três exemplos já conseguimos visualizar a importância que os dados têm para a saúde? Na área da saúde, utilizamos fundamentalmente os dados epidemiológicos para monitorar, avaliar, planejar e analisar as condições de saúde e bem- estar dos grupos populacionais. Neste capítulo, já conhecemos o conceito de epidemiologia, que em resumo é o estudo sobre a saúde da população. Portanto, os dados de saúde se constituem em dados epidemiológicos. Vale ressaltar que para a Asis, outros dados também podem ser utilizados, como os demográficos, econômicos e os do meio ambiente. Os dados podem ser classificados, ainda, segundo as suas fontes de obtenção em primários e secundários, conforme ilustra a figura 4: Dados primários quando são coletados diretamente por questionários específicos. Dados secundários aqueles coletados rotineiramente, durante o registro da atividade profissional. Figura 4 - Classificação dos dados segundo suas fontes de obtenção. Fonte: BONITA R. BEAGLEHOLE R. KJELLSTRÖM. Epidemiologia Básica. 2ª ed. – Santos, São Paulo, 2010. 30 Esses últimos merecem um destaque especial, pois muitos deles estão à nossa disposição no site do Departamento de Informática do Ministério da Saúde, o DATASUS, e se constituem importantes elementos da Asis. Vamos começar pelo sistema de informação mais antigo, o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), que como o nome já diz, produz dados sobre as mortes ocorridas no Brasil. Cada ocorrência de óbito no território nacional deve ser registrada e comunicada às autoridades de saúde (secretarias municipais e estaduais de saúde e ao Ministério da Saúde). Esse sistema é responsável por coletar e disseminar esses registros, gerando dados como a causa e o local do óbito, bem como dados sobre a idade, sexo e raça/cor do indivíduo falecido (BRASIL, 2009). Esses dados podem fornecer um retrato importante sobre quantas pessoas morrem em cada município, estado e no país; quais as principais causas de morte e quais grupos etários tem maior risco de morrer por essas causas; permitem também o cálculo da expectativa da população e outras possibilidades de análise. A tabela 1 mostra algumas variáveis disponibilizadas pelo SIM, contribuindo para a análise da situação de saúde no Brasil. Quais são os dados de saúde que são registrados rotineiramente no seu local de trabalho? Eles alimentam algum sistema de informação? Eles estão disponíveis para acesso público? Já destacamos a importância dos dados secundários para a ASIS, mas você sabe identificar os principais dados produzidos pelo sistema de saúde brasileiro? 31 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Tabela 1 - Percentual de óbitos e taxa de mortalidade específica (por 100 mil hab.) por causa específica para homens e mulheres, segundo faixa etária. Brasil, 2015. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios para o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2018. 426 p. Faixa Etária Masculino Feminino Causa % Taxa Causa % Taxa 5 a 19 a no s Homicídio 43,2 38,0 Acidente de transporte terrestre 13,1 3,8 Acidente de transporte terrestre 14,1 12,4 Homicídio 10,5 3,1 Afogamentos acidentais 4,7 4,1 Neoplasia maligna linfático- hemático 5,0 1,5 Eventos de intenção indeterminada 2,7 2,4 Influenza e pneumonia 3,7 1,1 Suicídio 2,7 2,3 Suicídio 3,6 1,1 20 a 3 9 an os Homicídio 35,1 93,3 Homicídio 8,3 6,9 Acidente de transporte terrestre 16,2 42,9 Acidente de transporte terrestre 8,1 6,8 Suicídio 4,1 10,9 Doença pelo vírus da imunodeficiência humana/HIV 6,0 5,0 Doença pelo vírus da imunodeficiência humana/ HIV 3,8 10,1 Doenças durante gravidez, parto ou puerpério 5,3 4,4 Eventos de intenção indeterminada 2,8 7,5 Doenças cerebrovasculares 4,0 3,4 40 a 5 9 Doenças cardíacas isquêmicas 10,6 69,9 Doenças cardíacas isquêmicas 8,4 29,8 Cirrose e outras hepatopatias 6,5 42,9 Doenças cerebrovasculares 8,0 28,5 Acidente de transporte terrestre 5,9 39,0 Câncer de mama 6,9 24,7 Homicídio 5,9 38,9 Diabetes 5,1 18,2 Doenças cerebrovasculares 5,4 35,9 Câncer de útero 3,9 13,8 60 e m ai s a no s Doenças cardíacas isquêmicas 11,2 439,0 Doenças cerebrovasculares 10,2 313,8 Doenças cerebrovasculares 9,7 381,1 Doenças cardíacas isquêmicas 9,3 287,7 Influenza e pneumonia 7,2 280,4 Influenza e pneumonia 8,5 261,3 Doença pulmonar obstrutiva crônica 5,3 208,8 Diabetes 6,7 207,0 Diabetes 5,0 195,1 Hipertensão 5,4 166,5 32 Figura 5 - Proporção de nascimentos por parto cesáreo, segundo região, cor da pele/raça, escolaridade e idade da mãe. Brasil, 2013. Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2014: uma análise da situação de saúde e das causas externas. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. p. 34. Outra importante fonte de dados para a saúde é o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, o Sinasc. Ele é responsável por gerar dados de cada nascido vivo no território nacional e contribui para informar parâmetros da saúde do bebê ao nascer, a assistência pré-natal da mãe, características do parto e o deslocamento das parturientes para obter assistência (BRASIL, 2009). Na figura 5 você pode observar a utilização dos dados do Sinasc na Asis. Os gráficos descrevem a situação dos partos cesáreos entre diferentes grupos populacionais; primeiramente por região do país, seguidos pelas categorias de escolaridade, cor da pele/raça e faixas etárias. Os dados auxiliam a direcionar políticas que visem à redução do excesso de partos cesáreos ocorridos no Brasil. 46,1 49,9 100 80 60 40 % 20 0 N NE SE S CO BR 61,4 62,7 62,2 56,7 34,8 42,4 56,3 83,8 Região 68,3 49,6 58,5 50,0 40,7 41,8 50,5 60,2 67,7 70,0 68,4 18,9 100 80 60 40 % 20 0 Cor da pele/raça 100 80 60 40 % 20 0 0 a 3 4 a 7 8 a 11 12 e + Escolaridade Branca Preta Amarela IndígenaParda 100 80 60 40 % 20 0 Idade para acesso público. Como você pode perceber, os dados gerados pelos serviços de saúde brasileiros são uma fonte importante para gerar conhecimento sobre a realidade sanitária das populações. Mas eles não são os únicos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fornece dados relevantes para a saúde, que são os dados demográficos. Essa instituição é responsável, por exemplo, pela contagem de toda a população brasileira, que ocorre a cada dez anos. A contagem periódica de todas as pessoas de um país é chamada censo populacional. Ela permite saber o ritmo do crescimento de uma população, os fluxos de migrações internacionais e os deslocamentos internos do país e permite, ainda, a elaboração das pirâmides etárias. PARA SABER MAIS! Você pode conhecer mais sobre o censo populacional acessando o site do IBGE. Nele, você pode encontrar os dados das pesquisas desenvolvidas por esse órgão governamental, incluindo o último censo realizado no país, em 2010. Na publicação "Saúde Brasil 2015/2016: uma análise da situação de saúde e da epidemia pelo vírus Zika e por outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti" há um capítulo intitulado “Como nascem os brasileiros: uma análise do perfil epidemiológico dos nascidos vivos e mães a partir dos eventos ocorridos em 2014” (página 29) indicado para leitura sobre aspectos acima discutidos. 35 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Sugerimos a leitura do documento Monitoramento dos casos de dengue, febre de chikungunya e febre pelo vírus Zika até a Semana Epidemiológica 7 de 2018, publicado pela SVS/MS. RETOMANDO O CASO DO MUNICÍPIO “CÉU AZUL” Agora, podemos retomar a situação apresentada anteriormente e compreender a importância da Asis para o município de Céu Azul: Segundo BRASIL (2015), a Asis objetiva produzir informação e conhecimento útil para orientar a ação em saúde coletiva. Sua prática é relevante para os diversos níveis de decisão, permitindo a utilização das informações e do conhecimento produzido nas atividades de planejamento, definição de prioridades, alocação de recursos, avaliação dos programas implementados, entre outras. Um dos principais instrumentos para a realização da Asis é a utilização de fontes de dados secundários, pois esse tipo de dados, principalmente aqueles originados de sistemas contínuos de informação nacionais no Brasil (ex.: SIM, Sinasc etc.), podem gerar atributos relevantes da Asis, tais como: oportunidade e continuidade das análises, precisão e validade externa dos achados, simplicidade de uso das bases de dados e menor custo, respeitabilidade dos dados, entre outros (BRASIL, 2015). Além disso, como ganho secundário, pode-se destacar a retroalimentação dos sistemas de informação em saúde em um processo circular de uso dos dados que produz crítica, qualidade, mais uso dos dados e assim por diante (BRASIL, 2015). 2.3 Comportamento e tendências das variáveis demográficas Os dados do censo são fundamentais para a análise de saúde, pois permitem identificar o padrão etário da população e a situação dos domicílios Considerando tais aspectos, você consegue pensar em outras fontes de informações importantes para a Asis? 36 onde as pessoas residem, bem como auxiliam a estimar o tamanho e o crescimento da população de um município ou estado. Os dados demográficos nos revelam que a população brasileira está passando por um processo de envelhecimento nas últimas décadas. A figura 7 traz essa informação na forma de pirâmides etárias. De que forma os dados demográficos auxiliam na Asis? Como esses dados podem gerar informações sobre as necessidades de saúde das pessoas? 80+ 75 a 79 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 1970 90+ 75 a 79 80 a 84 85 a 89 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 2010 80+ 75 a 79 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 1991 90+ 75 a 79 80 a 84 85 a 89 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 2050 Figura 7 - Pirâmides etárias brasileiras e projeções, por sexo, para os anos de 1970, 1991, 2010 e 2050. Brasil, 2013. 37 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE 80+ 75 a 79 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 1970 90+ 75 a 79 80 a 84 85 a 89 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 2010 80+ 75 a 79 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 1991 90+ 75 a 79 80 a 84 85 a 89 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 2050 38 80+ 75 a 79 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 1970 90+ 75 a 79 80 a 84 85 a 89 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 2010 80+ 75 a 79 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 1991 90+ 75 a 79 80 a 84 85 a 89 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5 a 9 0 a 4 10.000.000 8.000.000 6.000.000 4.000.000 2.000.000 10.000.0008.000.0006.000.0004.000.0002.000.0000 Homens Mulheres PIRÂMIDE ETÁRIA ABSOLUTA - BRASIL - CENSO 2050 Fonte: IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeção da população por sexo e idade: Brasil 2000-2060 Unidades da Federação 2000-2030. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. A base da pirâmide representa as faixas etárias mais jovens, enquanto as camadas superiores representam as faixas etárias de maior idade. No censo populacional de 1970, observamos uma base alargadae um topo estreito. Nas décadas seguintes, o padrão se altera, passando a apresentar um alargamento nas faixas etárias adultas, e a projeção para 2050, por sua vez, apresenta uma clara inversão da pirâmide, com base estreita e topo alargado. Esse fato tem implicações diretas para a saúde, uma vez que a população mais envelhecida passa a sofrer mais de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), características do processo de envelhecimento. Por outro lado, o perfil de morbimortalidade era bem distinto na primeira metade do século passado, quando as doenças infecciosas e parasitárias (DIP) eram responsáveis por importante parcela dos óbitos. Essa característica, somada a altas taxas de mortalidade infantil (TMI), fazia com que a expectativa de vida fosse de apenas 43 anos de idade em 1940 (IBGE, 2017). Para efeitos comparativos, a expectativa de vida calculada para o ano de 2010 era de 73 anos de idade (IBGE, 2011). A mudança no perfil da morbimortalidade da população, deixando de apresentar predominância das DIP para serem substituídas pelas DCNT, é denominada “transição epidemiológica”. Esse fenômeno foi descrito 39 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE inicialmente para o continente europeu, que experimentou a transição epidemiológica nos séculos XVIII e XIX. Algumas razões elencadas como causas para a redução da mortalidade pelas DIP passam por melhorias das condições gerais de vida e pelo desenvolvimento das tecnologias médicas. Ainda no século XVIII, algumas medidas implementadas nos países mais avançados àquela época geraram melhorias nas condições de saúde da população, no entanto, sem estarem ligadas diretamente à assistência à saúde. O esgotamento sanitário, a canalização da água e a limpeza urbana significaram importantes intervenções para a redução da mortalidade pelas DIP. Durante as décadas que se seguiram à Revolução Industrial na Europa, foi experimentado um intenso desenvolvimento tecnológico, inclusive na área médica. O fim do século XVIII e a primeira metade do século XIX constituíram- se um período importante no enfrentamento das doenças infecciosas, com o desenvolvimento de vacinas – para a prevenção das doenças – e a descoberta da penicilina – para o tratamento dos indivíduos doentes. Com a redução da mortalidade experimentada nesse período, observou-se um aumento na expectativa de vida da população. É exatamente essa alteração na duração da vida, somada aos estilos de vida modernos pós-Revolução Industrial, que desloca as DCNT para o protagonismo do adoecimento e morte da população. Além do incremento na expectativa de vida, a redução da mortalidade impulsionou o aumento populacional, uma vez que a taxa de natalidade ainda permaneceu em níveis elevados no período inicial da Revolução Industrial. Após a consolidação do estilo de vida urbano-industrial, com o desenvolvimento de métodos contraceptivos e a intensificação da participação da mão de obra feminina no mercado de trabalho, a natalidade sofre grande queda, alterando a dinâmica populacional para baixos níveis de crescimento, ou mesmo crescimento nulo. A dinâmica populacional aqui observada é denominada “transição demográfica”. 40 PARA SABER MAIS! Muitos livros de Epidemiologia trazem a discussão da transição epidemiológica e demográfica. Aprofunde os seus estudos sobre o tema consultando os seguintes livros: Epidemiologia de Roberto Medronho, Epidemiologia e Saúde de Naomar de Almeida Filho e Mauricio Barreto e Epidemiologia e Saúde de Maria Zélia Rouquayrol. A transição demográfica é dividida em quatro fases e cada uma delas apresenta características distintas (PEREIRA, 1995). Você pode visualizar essas fases com suas respectivas características na figura 8. Figura 8 - Fases e características da transição demográfica. 1ª Fase (Pré-industrial) As famílias experimentavam altas taxas de natalidade, mas as condições de vida e saúde geravam uma alta mortalidade. Observa-se um baixo crescimento populacional. Principais características: Ambiente rural; Modelo familiar de produção; Muitos filhos; Muitas mortes: baixa expectativa de vida. 3ª Fase (Intermediária) O estilo de vida urbano-industrial gera uma natalidade decrescente, e mantém-se a baixa mortalidade, características que geram um crescimento em ritmo menos acelerado. Principais características: Modelo familiar de consumo; Mulher no mercado de trabalho; Cultura e economia; Natalidade começa a cair. 2ª Fase (Intermediária) Altas taxas de natalidade persistem, mas a mortalidade decresce com a melhoria das condições de vida e o desenvolvimento da medicina. Há um grande aumento populacional. Principais características: Industrialização e urbanização; Melhorias nas condições ambientais e de saúde; Queda da mortalidade e natalidade ainda alta. 4ª Fase (Moderna ou Pós-transição) Sociedade em que há baixa natalidade e baixa mortalidade. Característica de estabilização populacional. Principais características: Mortalidade baixa; Natalidade baixa; Estabilidade populacional. Fonte: Adaptado de: PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e prática. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1995. Apesar de contemplar termos gerais para a compreensão da dinâmica populacional europeia, as transições não ocorreram ao mesmo tempo e com as exatas características dos países desenvolvidos. Países menos desenvolvidos 41 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE demoraram um tempo maior para iniciar essa transição, outros ainda estão no processo e são descritos como países de transição tardia. Simultaneamente, muitos desses países realizaram uma transição mais acelerada, como é o caso do Brasil, que iniciou sua transição apenas no século XX, mas completou o processo em um tempo menor do que os países europeus. A figura 9 mostra a evolução da mortalidade no Brasil, pelo conjunto das principais causas, desde 1930. Observe a elevada proporção de óbitos por doenças infecciosas no início do período analisado e sua redução ao longo das décadas. Por outro lado, os grupos de causas consideradas DCNT aumentaram sua importância na mortalidade. Não podemos deixar de destacar também as causas externas como importante fator de morte no país. A aceleração do processo de transição, portanto, tem implicações para a demanda de políticas governamentais. Afinal, como preparar os serviços de saúde para uma demanda cada vez maior de pessoas com idade avançada, com necessidades de saúde crescentes? Deve-se destacar que outros setores também devem se adequar ao novo perfil demográfico, como é o caso da assistência social e da previdência. Todas essas políticas devem ser pensadas considerando, ainda, o tempo menor experimentado pelo Brasil para toda 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1985 1990 1995 2000 2003 2005 Infecciosas e Parasitárias Neoplasias Causas Externas Aparelho Circulatório Outras Doenças *Até 1970, os dados referem-se apenas as capitais Figura 9 - Mortalidade proporcional no Brasil, 1930-2005. Brasil, 2008. Fonte: MALTA, D.C. Vigilância, Controle e Prevenção de Doenças não Transmissíveis. 2017. Disponível em: . 42 essa mudança no perfil demográfico e epidemiológico em relação processo ocorrido em países desenvolvidos. Esses são desafios que o Brasil enfrenta atualmente e são derivados, entre outras coisas, do processo de transição demográfica. Você já tinha parado para pensar como os dados demográficos são importantes para a área da saúde? Agora você já sabe que a Asis utiliza não só dados sobre a saúde da população, mas também dados sobre crescimento populacional e sobre a estrutura etária. Mas não acaba por aqui. Outra importante contribuição dos dados demográficos para a Asis é a contextualização das condições de vida das populações. Vimos anteriormente que a renda, as condições de moradia e o nível educacional são alguns dos determinantessociais da saúde. Esses determinantes são mensurados a partir das informações geradas pelo IBGE por intermédio de suas pesquisas. Portanto, algumas necessidades de saúde podem ser estimadas a partir desses dados, sendo de fundamental importância a sua incorporação na Asis. RETOMANDO O CASO MUNICÍPIO DE CÉU AZUL CENA 2 - Reunião Seguinte do Conselho Municipal de Saúde de Céu Azul Após coletar os dados disponíveis do município nas diversas fontes de informação (Sistemas de Informação de Saúde - SIS, inquéritos populacionais do IBGE e trabalhos acadêmicos das instituições de ensino superior localizadas na região onde o município se encontra), a Comissão apresentou características de saúde de Céu Azul aos demais conselheiros: Céu Azul se estende por uma área de 435 km² e segundo as estimativas do último censo, possui 37.689 habitantes. Destes, 91% vivem na área urbana e 9% na zona rural, sendo a faixa etária mais prevalente dos 20 aos 34 anos de idade. Ainda segundo o censo, a população economicamente ativa constitui-se de 19.786 pessoas, sendo a média de renda mensal domiciliar de R$ 876,00. E segundo dados do Ministério do Trabalho, as atividades do setor industrial representam o maior número de ocupações, com 6.328 pessoas. Segundo dados da própria Secretaria Municipal de Saúde de Céu Azul, a rede de atenção à Saúde do Município dispõe de um hospital de pequeno porte, 43 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE 19 equipes de Saúde da Família, todas com equipes de Saúde Bucal, dois Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf), um Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), um Pronto Atendimento, um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), uma clínica de fisioterapia, uma farmácia, uma central de agendamentos, um Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e um almoxarifado. O município mantém convênio com um hospital geral, laboratórios de análises clínicas, clínicas de diagnóstico por imagem e algumas especialidades médicas que o município não comporta. Segundo os dados coletados no DATASUS, o município apresenta uma taxa de mortalidade infantil de 10 por mil nascidos vivos. Além disso, no último ano aconteceram 67 óbitos no município, sendo 20 óbitos por causas externas (14 por acidentes de trabalho) e 47 óbitos prematuros por doenças crônicas não transmissíveis. Além disso, as principais causas de internações no município foram doenças do aparelho circulatório e aparelho respiratório, sendo este último mais prevalente na faixa etária infantil. Após a apresentação da comissão, os conselheiros perceberam que o planejamento anterior de Mário não estava condizente com os problemas de saúde mais prevalentes em Céu Azul e que era necessário refazê-lo para otimizar as ações de saúde do município. A informação constitui-se em suporte básico para toda atividade humana e deve criar uma decisão que, por sua vez, desencadeará uma ação. Por isso, pode-se dizer que há um consenso de que não é possível exercer gerência em nenhum setor social se não houver um sistema de apoio à decisão que se sustente na informação (BRASIL, 2015). Portanto, a finalidade da informação em saúde consiste em identificar problemas individuais e coletivos do quadro sanitário de uma população, propiciando elementos para análise da situação encontrada e subsidiando a busca de possíveis alternativas de encaminhamento. Dessa forma, o âmbito das informações em saúde não se restringe ao setor de saúde em si, tendo interação com sistemas de informação de outros setores (BRASIL, 2015). Você acredita que essas informações servirão de subsídio para o planejamento das ações de saúde de Céu Azul? Como elas poderão auxiliar essas ações? 44 PARA SABER MAIS! Para obter um retrato da saúde e dos seus determinantes no Brasil, o Ministério da Saúde, em parceria com o IBGE, desenvolveu um inquérito denominado Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). Ao consultar os resultados dessa pesquisa, você poderá observar que o foco do Ministério da Saúde é sobre as DCNT e os fatores de risco relacionados a elas, já que o Brasil vivencia os efeitos das transições epidemiológica e demográfica. A partir da análise da PNS, portanto, políticas públicas podem ser desenvolvidas para a prevenção das doenças e para a melhoria da assistência. 45 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE 3.1 Priorização: definição e aplicabilidade No momento em que você escolheu faltar a aula de música para estudar para uma prova importante, ou desmarcou uma reunião de trabalho para realizar um check-up na saúde, você estabeleceu prioridades para as suas ações. Nos casos mencionados, vimos que algumas atividades foram colocadas em primeiro lugar devido a sua importância, necessidade ou mesmo urgência na situação. Muito provavelmente você não precisaria fazer esse tipo de escolha se o seu dia tivesse horas suficientes para cada uma das ações a serem realizadas. Mas não é só no gerenciamento da agenda diária que precisamos fazer escolhas. No nosso cotidiano, nos deparamos com 3 ASIS E PRIORIZAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS No mundo moderno, com frequência, nos queixamos da falta de tempo para realizar todas as atividades que desempenhamos e aquelas que desejaríamos realizar. Muitas vezes, a impressão que temos é que são poucas horas para tantas atividades em um dia. Isso faz com que tenhamos que escolher quais delas serão realizadas durante aquele dia e quais serão postergadas para um outro momento. Provavelmente, você já passou por uma situação semelhante a essa, não é mesmo? 46 outras situações em que precisamos priorizar. Vamos pensar no orçamento doméstico: às vezes sonhamos em fazer uma bela viagem de férias, mas as economias da família obrigam você a fazer uma escolha difícil entre realizar a reforma da casa ou viajar para aquele lugar tão desejado. Mais uma vez temos que decidir o que é mais necessário, urgente, importante. A discussão sobre o orçamento domiciliar nos ajuda a lembrar que as ações de promoção e restabelecimento da saúde das pessoas mobilizam diferentes recursos, entre eles os financeiros. Na área da saúde as demandas são crescentes, assim como a pressão para a elevação dos custos envolvidos no processo do cuidado. Devemos lembrar também que os recursos disponíveis não aumentam, necessariamente, na mesma proporção. Como resultado, podemos ter um desequilíbrio entre a expectativa da população e a capacidade de resolução dos problemas de saúde por parte dos governos. Para modificar essas realidades e manter o equilíbrio social, são necessárias, portanto, políticas públicas (SARAVIA, 2006). Segundo Saravia (2006), política pública tem diferentes abordagens conceituais: Observamos no primeiro conceito que a política pública compreende decisões públicas que buscam manter ou modificar a realidade social da população. Para isso, necessita da definição de objetivos e estratégias para alocar os recursos de forma que a atuação da política atinja seus objetivos. Sob um enfoque mais operacional seria Segundo o mesmo autor, as políticas públicas também podem ser vistas como [...] um sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões, preventivas ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de um ou vários setores da vida social, por meio da definição de objetivos e estratégias de atuação e da alocação dos recursos necessários para atingir os objetivos estabelecidos (SARAVIA, 2006, p. 29). [...] estratégias que apontam para diversos fins, todos eles, de alguma forma, desejados pelos diversos grupos que participam do processo decisório. A finalidade última de tal dinâmica – consolidação da democracia, justiça social, manutenção do poder, felicidade das pessoas – constitui elemento orientador geral das inúmeras ações que compõem determinada política (SARAVIA, 2006, p. 28). 47 ANÁLISE DE SITUAÇÃO DE SAÚDE Aqui, podemos identificar o importante papel da Asis em fornecer subsídios para os gestores, contribuindo para identificar os problemas sociais,