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Ensino de Ciências Sociais e Naturais FERNANDA GUIMARÃES CORREIA 1ª Edição Brasília/DF - 2024 Autoria Fernanda Guimarães Correia Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................................. 6 Capítulo 1 Por que Ensinar Ciências na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental? ......... 9 Capítulo 2 A Formação de Professores para o Ensino das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental ...........................................................28 Capítulo 3 O Papel do Docente no Ensino das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza frente aos Desafios da Sociedade Contemporânea .............................................................................................................38 Capítulo 4 Perspectivas Curriculares para o Ensino das Ciências Humanas e da Natureza na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental ......................................................................................47 Capítulo 5 Metodologias para o Ensino das Ciências da Natureza ................................................................................59 Capítulo 6 Metodologias para o Ensino das Ciências Humanas .....................................................................................72 Referências ..........................................................................................................................................................................90 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORgANIzAçãO DO LIvRO DIDátICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Gotas de Conhecimento Partes pequenas de informações, concisas e claras. Na literatura há outras terminologias para esse termo, como: microlearning, pílulas de conhecimento, cápsulas de conhecimento etc. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução Olá! Seja bem-vindo (a) à disciplina Ensino de Ciências Sociais e Naturais! Por meio deste livro, vamos refletir sobre a importância desta disciplina na formação das crianças, começando na Educação Infantil até os anos iniciais do Ensino Fundamental. O que buscamos é conscientizar o futuro pedagogo da importância do ensino da História, da Geografia e de Ciências para as crianças da Educação Infantil e Anos Iniciais, bem como propiciar um debate sobre a importância da formação de cidadãos que compreendam o pensamento científico como um conhecimento construído historicamente. Acreditamos que o entendimento da relação entre conhecimento científico e cotidiano pode propiciar a compreensão da diferença entre os tipos de conhecimento e o desenvolvimento de uma sociedade democrática, pautada em uma economia produtiva, porém mais humana e sustentável. Assim, é importante levar essas reflexões para os espaços de formação de professores. Cabe ao pedagogo compreender o mundo além de saber interpretar as relações que se estabelecem. Para isso, o curso pretende instrumentalizar os professores com ferramentas fundamentais para essa tarefa. O curso busca despertar no pedagogo a necessidade de desenvolver o senso crítico, os valores da democracia e a consciência de cidadania em seus alunos – crianças e jovens – com quem irá trabalhar. A criança que estuda estas disciplinas deverá perceber que o homem é um ser social e o papel que este deve cumprir nos diversos grupos sociais nos quais convive, como a família e a escola. É necessário, ainda, compreender que o estudo do meio em que está inserido é fundamental para que possa nele intervir, na procura de soluções para os problemas que se apresentam. Por fim, o curso orienta o trabalho do professor em relação às estratégias de ensino, discutindo a adequação destes aos objetivos curriculares, apresentando as principais orientações quanto à sua aplicação. Procure ler com calma, organize seu tempo para assistir a vídeos e realizar atividades, dentro dos prazos estabelecidos. Caso tenha dúvidas, consulte o professor da disciplina. Bom estudo! 7 INtRODuçãO Objetivos do Livro » Abordar a importância do ensino de História, Geografia e Ciências na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. » Refletir sobre referências teóricas no campo estudado para fundamentar as práticas de Ciências Humanas e Ciências da Natureza na Educação. » Contribuir no desenvolvimento das noções temporais e espaciais, nas crianças da Educação Infantil e anos iniciais. » Apontar a importância de incluir, no âmbito dessa disciplina, discussões sobre saúde e ambiente, relações étnico-raciais, decolonialidade, sexualidade, gênero e inclusão. » Reconhecer a importância do processo de socialização para o desenvolvimento infantil. » Analisar os documentos legais que regem o ensino de Ciências Humanas e da Natureza. » Desenvolver o senso crítico do docente, de forma que este possa contribuir no desenvolvimento do senso crítico de seus alunos. » Apresentar práticas de ensino de Ciências Humanas e da Natureza na Educação em diferentes contextos (formal, não formal e informal). 9 Introdução O título deste capítulo apresenta uma pergunta com a intenção de sensibilizar os leitores para que reflitam sobre o que desejamos nesta disciplina. Assim, começamos essa “conversa” afirmando que é preciso estimular as crianças na compreensão do que é ciência e sua relação com a vida. A nossa proposta é sensibilizar você, leitor, a respeito do papel da educação para uma sociedade democrática, promotora de práticas de igualdade no que diz respeito ao conhecimento. Isso quer dizer que, quanto mais pessoasentendem o conhecimento científico e conseguem se apropriar dele, maiores serão as chances de diminuir relações desiguais na sociedade. Objetivos » Diferenciar conhecimento científico e cotidiano. » Discutir princípios filosóficos e metodológicos das Ciências Humanas e da Natureza. » Reconhecer a História e a Geografia como áreas de conhecimento nas escolas. » Examinar a evolução do ensino de Ciências Naturais. 1.1 O Conhecimento Científico e o Cotidiano: a epistemologia das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza: características, princípios filosóficos e metodológicos O filósofo Francis Bacon afirmou que “saber é poder”. Concordamos com essa ideia, e entendemos que o conhecimento é condição para o desenvolvimento de um grupo social. Além disso, por meio do conhecimento, os homens podem entender e transformar sua realidade. Assim, o consideramos como uma forma de poder. E o que é considerado conhecimento científico? 1 CAPÍTULO POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL? 10 CAPÍTULO 1 • POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL A maneira como entendemos o conhecimento científico hoje foi estruturada no século XVII com as ideias propostas pelo cientista italiano Galileu Galilei, que estabeleceu as bases para aquilo que ficaria conhecido como Ciência Moderna. Ele fez descobertas importantes na Física, na Astronomia e na Matemática, mas a vida de Galileu foi muito difícil devido à perseguição política e religiosa que ele sofreu, porque suas ideias não foram aceitas naquele momento. Vale a pena ler mais sobre ele. Figura 1. Pesquisadoras. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/medical-development-laboratory-caucasian-female- scientist-1884612922. O conhecimento científico é aquele proveniente de um conjunto de dados empíricos, que são organizados e interpretados pelo cientista. Por meio do estudo das características que identificam aspectos e pontos em comum, o cientista vai construindo aquilo que é próprio do saber científico. Mas você pode estar se perguntando: o que são dados empíricos? A pesquisa empírica ou pesquisa de campo é aquela proveniente da experiência do pesquisador, de onde ele obtém os dados que serão analisados para concluir o seu estudo. Ou seja, a empiria é a chamada coleta de dados. O Grupo de Pesquisa VIA Estação do Conhecimento, composto por professores e alunos da Universidade Federal de Santa Catarina, criou um site na qual divulgam projetos que visam aproximar o público leigo do trabalho desenvolvido na universidade, no chamado espaço acadêmico. Esse conhecimento é construído por meio de metodologias formais que visam aumentar o rigor em relação a diferentes posições sobre validade e confiabilidade. A filósofa Marilena Chauí (2002, p. 316) afirma que a atitude científica se distingue das questões definidas pelo senso comum por que a ciência desconfia das nossas certezas e da ausência de crítica. Para ela, outro ponto importante é a necessidade da curiosidade para o fazer científico, 11 POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 1 pois “onde vemos coisas, datas e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos, afastadas”. Para conhecer um pouco mais as ideias e as obras da filósofa Marilena Chauí, indicamos os seguintes material de estudo. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/entrevista-marilena-chaui/. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1obcDvC1JIY. Assim, esse conhecimento é resultado de estudos desenvolvidos continuamente com o objetivo de comprovar uma hipótese de pesquisa, mas não deve ser entendido como verdade única ou única forma de construir conhecimento. Figura 2. Investigação científica. Fonte: https://br.freepik.com/fotos-gratis/pesquisadores-de-tiro-medio-com-planta_13402914. htm#query=investiga%C3%A7%C3%A3o%20cient%C3%ADfica&position=20&from_view=search&track=ais.. Existem diferentes formas de conhecimento, entretanto é importante entender que o conhecimento científico possui características específicas, métodos próprios e se diferencia do saber popular, que é outro tipo de conhecimento. É importante destacar que nenhum conhecimento científico é definitivo, pois ele pode ser verificado com novos dados e formulações diferentes. Atualmente existem pesquisas que refletem sobre esses saberes populares, seguindo o método científico. O saber popular está relacionado com a experiência construída a partir da interação com a realidade onde o sujeito está inserido. Esse saber também é conhecido como “conhecimento do senso comum”, pois ele tem origem nas vivências comuns, espontâneas, sem preocupação com construção de dados para análises posteriores. Temos vários tipos de experiências vivenciadas em nossa vida que, ao longo dos anos, podem se tornar tradicionais em nosso grupo familiar e passadas de geração a geração. Porém, essas 12 CAPÍTULO 1 • POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL experiências não seguem um método científico e nem se organizam no grupo familiar a partir de critérios científicos. Por exemplo, pense nos saberes que foram passados de mães para filhas durante séculos, a respeito de questões como gestação e amamentação, mediante as experiências vivenciadas pelas mães, ou seja, a partir daquilo que foi vivido, as mães construíram um saber específico sobre o assunto. “Ciência no cotidiano”. Disponível em: https://www.unifesp.br/reitoria/dci/web-tv/item/2808-webtv-institucionais “Senso comum e conhecimento científico” – vídeo de 4:36. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Uhntwm82HfQ. Alguma vez você parou para pensar sobre o uso do conhecimento científico no seu cotidiano? É bem provável que você tenha vários exemplos para falar desse assunto. Por exemplo, quando você usa algum produto que causa uma reação alérgica na sua pele. Você decide deixar de utilizar aquele produto e, depois de alguns dias, percebe que a reação alérgica sumiu. Você decide observar atentamente a reação da sua pele ao usar outros produtos, pois você elaborou uma hipótese sobre essa alergia causada por um único produto. Ou seja, você fez a observação de um fenômeno, elaborou uma hipótese e fez um teste ao trocar de produto. Em seguida, você foi ao médico e relatou a sua “experimentação”, sendo, em seguida, orientada pelo médico sobre a melhor forma de tratar a alergia, caso ela aconteça novamente. Podemos dizer que este é um exercício do pensar questionando o que acontece conosco e à nossa volta. Mesmo não seguindo o método científico, seguimos um caminho de “investigação”. Quer entender melhor a questão dos saberes populares e os saberes científicos? Leia o artigo dos professores Severino Silva e José Francisco Neto, da Universidade Federal da Paraíba. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/rteo/article/view/25060. Isso nos ajuda a tomar decisões importantes e compreender questões relacionadas à nossa vida, mas, também, é uma maneira de nos afastar daquilo que é chamado de fake news ou, traduzindo para o português, notícias falsas. Atualmente, encontramos um número enorme de notícias falsas a respeito de questões relacionadas à saúde e ao tratamento de doenças, bem como tratamentos alternativos que não passam de invenções, sem nenhuma fundamentação científica. Podemos citar exemplos de notícias que circularam em meio à pandemia da Covid-19 a respeito de medicamentos específicos para a doença, consumo de bebidas alcoólicas, risco de mortalidade em uma única faixa etária, dentre outras. 13 POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 1 Segundo o site da organização humanitária internacional “Médicos sem Fronteiras”, as notícias falsas a respeito da Covid-19 se espalham muito rápidoe são tão perigosas quanto a doença, pois visam gerar pânico entre as pessoas e afrouxar as medidas de prevenção, prejudicando o combate à pandemia. Durante o período de isolamento social decretado em 2020 por causa da pandemia da Covid-19 muitas instituições criaram estratégias para orientar o público em geral a respeito de fake news. 5 fake news relacionadas à Covid-19. Disponível em: https://www.msf.org.br/noticias/5-fake-news-relacionadas-covid-19. Acreditamos que a prática do professor de História, Geografia e Ciências pode (e deve!) estimular a curiosidade sobre o fazer científico, as experiências, os métodos e tudo que estiver relacionado com a prática científica. Assim, quanto mais o professor se apropriar de diferentes conhecimentos e aprofundar possíveis relações entre ciência e cotidiano, mais interessantes serão suas aulas. 1.2 As Ciências Humanas na Educação: a História e a Geografia como área de conhecimento nas escolas O homem, ao longo de toda a sua existência na Terra, sempre buscou se aproximar de outros homens, de seus pares. A vida em grupo é uma característica da humanidade. Afinal, o homem é um ser social, não? Todos nós costumamos procurar pessoas parecidas conosco para conversar, passear e compartilhar. É a procura coletiva por garantir a sobrevivência que determina a formação de grupos sociais, em que todos que o constituem se apoiam mutuamente. O homem se agrega para enfrentar um ambiente hostil que pode ameaçá-lo, enfrentar as dificuldades que se apresentam no dia a dia. Várias formas de agrupamentos que a sociedade realiza podem ser apresentadas como exemplo da vida em comunidade. O primeiro grupo social que o homem tem contato é a família. Torna- se, portanto, uma importante referência para as crianças, pois é o contato mais próximo que elas mantêm. É importante ressaltar que, hoje, a noção de grupo familiar está bem diferente do que se entendia há algumas décadas. Antes, quando falávamos de família, pensávamos em pai, mãe e filhos. Eram organizações familiares aparentemente estáveis, que viviam sob o mesmo teto. Hoje, esse modelo sofreu profundas transformações. Precisamos saber lidar com essas noções para não provocarmos situações constrangedoras para as crianças. Todas as formas de se constituir uma família são possíveis, e essa diversidade deve ser apresentada com toda a naturalidade. Você não acha? Afinal, assim como toda maneira de amar vale a pena, toda a entidade familiar só encontra limitação na própria vontade do ser humano. 14 CAPÍTULO 1 • POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL Figura 3. Família. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/collage-mosaic-many-happy-multiracial-people-1735036061. Atualmente, temos diferentes exemplos do agrupamento familiar. São modelos de famílias diversificados. Pais separados que se casam novamente e têm novos filhos, constituindo, assim, outro padrão de relações. Há, também, filhos que, em função da separação passam a morar com o pai ou a mãe na casa dos avós. Eram famílias chamadas de nucleares, enquanto hoje vem prevalecendo uma estrutura que chamamos de monoparental, pois apenas o pai ou a mãe, individualmente, assumem a responsabilidade sobre os filhos. Há famílias originadas de uniões homoafetivas, ou seja, construídas a partir da união de pessoas do mesmo sexo, com direitos, hoje, amplamente assegurados pelo Estado brasileiro (como rege todo o Capítulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente). O homem também se agrupa em torno do seu local de trabalho, na escola, na vizinhança, na igreja que frequenta, na agremiação política que partilha de suas ideias. Entendemos grupo social por um sistema de relações que se estabelece entre as pessoas que têm objetivos e finalidades comuns. Compartilham uma mesma identidade, os mesmos valores e até os mesmos comportamentos e atitudes. São indivíduos que se comunicam, que interagem entre si, que têm semelhanças, que têm consciência de si e dos outros e, por isso, de pertencimento a determinados grupos sociais. Esses padrões de comportamento que aproximam as pessoas de um grupo também estabelecem as normas sociais que regem a conduta dos membros, determinando o que pode e o que não pode, o que é proibido e o que é permitido. Como decorrência, esses indivíduos também determinam as sanções que devem ser imputadas aos que fogem ou rompem as regras do grupo. Todas essas condições são históricas, pois refletem a época, o ambiente ou a geração em que o grupo se constituiu. As normas de um grupo podem ser apresentadas à turma quando conversarem sobre disciplina ou comportamento das crianças na escola. Uma boa atividade seria organizar coletivamente as regras de convivência da turma. Deixe que eles se organizem e concluam as atitudes que devem ser incentivadas ou permitidas e o que deve ser evitado. Você pode aproveitar e debater o fato de que cada espaço da escola requer um comportamento especial. Há uma atitude própria a ser adotada em sala de aula e no recreio, ou ainda, em salas ambientes como Biblioteca ou Laboratório de Informática. Registre as decisões e com regularidade retomem a conversa no sentido de acompanhar os resultados. Comente, também, que a casa em que vivem com a família (lembre-se, inclusive, que as casas dos avós e dos tios têm padrões diferenciados) há normas de convivência e padrões de organização distintos. 15 POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 1 Figura 4. Alunos em sala. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/enthusiastic-group-young-kids-class-sitting-211292326. Os agrupamentos sociais podem ser classificados em primários e secundários a partir da forma de contato que se estabelece entre seus membros. Os grupos primários mantêm um contato mais próximo, sem formalidades entre as pessoas, como acontece com as famílias, a vizinhança. Os grupos secundários são aqueles em que as relações são mais formais, sem intimidades entre as pessoas. Um exemplo são os grupos formados nas empresas ou na igreja. O pertencimento a alguns agrupamentos pode ser casual ou construído. Pertencemos de alguns sem que tenhamos tido oportunidades de escolha. É o caso da família e da escola quando somos pequenos, e inclusive, no caso de empresa de trabalho, quando a conjuntura não nos deixa muitas possibilidades para optar. Há outros momentos em que formamos coletivamente um grupo, ou construímos a possibilidade de participar de algum. É o caso do clube do qual desejamos fazer parte, do partido com o qual dividimos ideologias, ou qualquer outra situação em que nos organizamos e formamos uma comunidade. Chamamos de comunidade um fragmento de sociedade, que pode ser composta por inúmeras comunidades que possuem características próprias, cujos membros mantêm um tipo especial de ligação que os aproximam. A análise gradativa dos diversos grupos de que a criança participa – de recreação, de estudos e, mais amplamente, dos grupos da família, ligados à suas atividades religiosas, econômicas, político-partidárias, culturais, comunitárias, de classe – permite que ela vá percebendo, aos poucos, como há pluralidade de interesses nos grupos e como há inclusive relações contraditórias. (ANTUNES et al., 1999, p. 90) Também existem outras formas de agrupamentos sociais: a multidão, o público e a massa. As características desses grupos são a falta de organização, posto que os eles não possuem um 16 CAPÍTULO 1 • POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL conjunto de normas, mantêm o anonimato e a indiferença, afinal, não há espaço para manifestar as diferenças individuais. Para trabalhar com sua turma… Você logo vai perceber que nosso Caderno de Estudos tem como princípio conjugar teoria pedagógica e prática docente. Ocasionalmente, sairemos do campo teórico para propor intervenções práticas na sala de aula.Nesse momento, vale organizar e preencher um quadro de dupla entrada, coletiva ou individualmente. Esta é uma sugestão de atividade para se realizar após a observação e, ou, a concretização de entrevistas em casa e nos outros locais necessários (com os familiares, amigos, funcionários da escola, outros adultos do clube etc.) para que eles possam tirar as conclusões sobre os agrupamentos aos quais pertencem. O objetivo do trabalho é o de contribuir para a compreensão de que cada grupo possui uma estrutura singular e seus membros mantêm um relacionamento próprio entre si. O preenchimento de um quadro de dupla entrada é uma habilidade que, também, deve ser desenvolvida como uma forma a mais de registrar, sinteticamente, observações e conclusões. Quadro 1. Sociabilidade. FAMÍLIA ESCOLA CLuBE BAIRRO Membros Normas Atividades Fonte: Elaborado pela autora. Quadro de dupla entrada dos grupos sociais mais comuns às crianças. Há uma realidade escolar da qual quem é professora, ou pretende se tornar um professor, não consegue escapar. Todo início de ano letivo em escola é sempre igual. Muitos choros, muitos rostinhos tristes, não é mesmo? São rostos molhados de tanto soluçar de crianças que estão sofrendo por não quererem se afastar da família. Mas, muitas vezes, também são rostos de pais, mães e avós chorosos. Para quem está de fora da situação, é um quadro desolador. Essa é uma curta descrição de um rito fundamental da vida, um dos muitos momentos vividos pelas crianças no seu longo processo de socialização. Nos dias de hoje, a entrada no mundo escolar tem-se dado cada vez mais cedo na vida das crianças. As mães e os pais são obrigados a matricular seus bebês em creches e pré-escolas para que possam sair para o trabalho, já que os avós, na maioria dos casos, ainda se encontram, também, trabalhando (sobretudo, diante da postergação das aposentadorias ou de um quadro geral de longevidade da vida ativa). 17 POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 1 Figura 5. Indígenas. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/santa-cruz-cabralia-bahia-brazil-april-2100891181. Em algumas sociedades indígenas, a educação se apresenta difusa, mas, também, cumpre o papel de socializar as crianças que aprendem pela observação dos mais velhos durante suas atividades cotidianas. Imitam os pais, as mães quando começam a realizar as tarefas para as quais estão destinados. Aprendem músicas e lendas com os avós, além dos rituais de que, ao participarem, vão, aos poucos, realizando com maior desenvoltura. A família indígena também cumpre o primeiro papel de socialização da criança. A constituição das famílias nas comunidades indígenas varia conforme os costumes daquele grupo sociocultural. O padrão mais frequente é a família extensa – tal como nomeiam os antropólogos. Ela é formada por famílias nucleares ligadas por consanguinidade. Por exemplo: as filhas de um casal, quando se casam, continuam morando com os pais, enquanto os rapazes se mudam para viver na casa dos sogros. Dessa maneira, todos os adultos da casa são responsáveis pelas crianças daquela casa. Interessante, não? Essa é uma instituição familiar que vale a pena apresentar às crianças da escola com a finalidade de romper com possíveis problemas de comparação entre as famílias da própria turma. Elas vão compreender que as possibilidades de organização familiar são múltiplas e que cada sociedade produz seu padrão normativo e o altera no tempo conforme suas convicções e visões de mundo. Socialização é o processo em que um indivíduo se torna membro de determinado agrupamento social, incorporando seus códigos, suas normas e as regras básicas de relacionamento; apropriando-se do conjunto de conhecimentos acumulados. A escola tem um papel fundamental (mas não exclusivo!), pela educação formal que oferece, de criar condições para que a criança possa ter oportunidades de participar de outros grupos sociais. No processo de socialização da criança, a linguagem ocupa uma função primordial, pois, como afirma Vygotsky, ela fornece os conceitos e as formas de organização do real, é por meio dela que as funções mentais são organizadas; a linguagem intermedia a relação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Piaget também observou, a partir de sua pesquisa, que o processo de socialização se desenvolve em três estágios e a escola é local privilegiado para o desenvolvimento, já que a intervenção 18 CAPÍTULO 1 • POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL pedagógica intencional contribui sobremaneira para o processo ensino-aprendizagem. O professor assume o papel de incentivador, criando oportunidades para que o processo se desencadeie. A anomia corresponde à etapa das crianças bem pequenas. A fase caracteriza-se por um egocentrismo natural da infância, em que elas realizam somente o que desejam, não conseguem pensar nos outros. As crianças, nessa etapa do desenvolvimento, não respeitam regras e normas, pois ainda não assimilaram as normas do meio social. Por exemplo, elas só não repetirão determinada ação se forem repreendidas de forma vigorosa ou se causarem algum dano a si próprias, como tomar um choque ao colocar os dedos em tomada da rede elétrica. Esse período corresponde ao período em que a criança se encontra na Educação Infantil. Isso não quer dizer que não devamos ensiná-las, mostrando as consequências das suas atitudes, sobretudo para que elas ganhem confiança nos que a cercam. Uma segunda fase é chamada de heteronomia, que se caracteriza por um momento do desenvolvimento humano em que as crianças já aprenderam a reconhecer as normas que precisam seguir, mas ainda dependem dos adultos para tomar decisões (elas estão com sete anos, aproximadamente). Elas “obedecem” por meio de coação, pois ainda não compreendem as regras que organizam a sociedade em que está inserida. A criança, durante essa fase, reconhece quando desrespeitou uma simples ordem, mas continua a fazê-lo, pois não a assume como parte de sua vida, ou de sua realidade. As crianças se encontram, durante esse estágio, nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Nesse período do desenvolvimento a criança esconde, muitas vezes, as suas “infrações”, já que reconhece que errou, mas, mesmo assim, não deixa de realizar a ação. Mente para esconder que sujou a roupa nova, ou então, que levou uma advertência na escola. O desenvolvimento, e a consequente superação dessa fase de heteronomia, é estimulado a partir do convívio com as outras crianças e adultos, e propiciado pela educação e pelas influências culturais que recebem. Por isso, se faz tão importante discutir as regras de convivência com a turma, levá-la a elaborar as normas e as sanções. É importantíssimo que todas as ordens sejam apresentadas e explicadas, você não acha? O indivíduo só alcança o que chamamos de autonomia quando já demonstra ter consciência das regras e normas de organização da sociedade onde vive, seguindo-as, respeitando-as por vontade própria, sem que alguém lhe precise mandar ou induzir. É o momento em que realiza as ações por iniciativa própria, e assume as responsabilidades por suas atitudes. Não foge mais das situações em que está envolvido. O sentido de autonomia, por vezes, se confunde com o de liberdade, pois demonstra a capacidade individual de tomar decisões, fundamentadas na capacidade racional. Como afirma o filósofo Cornelius Castoriadis (1992, p. 148), “a autonomia é autolimitação”. O homem só se torna realmente autônomo quando demonstra compreensão sobre a sociedade, quando reflete, questiona e é capaz de deliberar acerca das questões a sua volta, quanto aos fatos mais pessoais até os que envolvem a sociedade. 19 POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 1 Autonomia Para a Ciência Política, o termo autonomia refere-se à qualidade de uma região ou de um territórioem estabelecer certas regras ou leis que o organizem, sem, contudo, possuir plenos poderes. Em contraposição há o conceito de soberania em que o território adquire plenos poderes sobre si, estruturando-se politicamente. Paulo Freire defendeu a ideia de que a educação não é transferência de conhecimentos, a que chamava de Educação Bancária, mas, sim, um processo de tomada de consciência, que permite, então, que o aluno alcance aos poucos a autonomia, para ser um indivíduo consciente de seu papel na sociedade. E a consciência que desenvolvemos acerca da sociedade depende de um projeto de educação. Paulo Freire foi um importante pensador e educador brasileiro, nascido em 19 de setembro de 1921, em Recife, no Estado de Pernambuco, e falecido em 2 de maio de 1997. É considerado um dos grandes pensadores mundiais no campo da Educação. Assumiu alguns cargos públicos relacionados a projetos de alfabetização e educacionais no geral. Foi exilado durante a Ditadura Militar, quando viveu em vários países, ocupando alguns cargos como consultor e docente em universidades. Após seu retorno ao Brasil se filiou ao Partido dos Trabalhadores, onde atuou como supervisor para o Programa de Alfabetização de Adultos. Ocupou, ainda, o cargo de Secretário de Educação do Município de São Paulo, em 1988, durante a gestão da Prefeita Luiza Erundina. Ficou conhecido mundialmente por ter desenvolvido um método de alfabetização para adultos, chamado de Método Paulo Freire. O tema que mais o mobilizava era certamente o analfabetismo. Certa vez, afirmou “Descobri que o analfabetismo era uma castração dos homens e das mulheres, uma proibição que a sociedade organizada impunha às classes populares”. Deixou uma vastíssima obra publicada e traduzida para muitas línguas, publicada em todo o mundo, entre os quais se destacam Alfabetização e Conscientização, Educação como prática da liberdade, Pedagogia da Autonomia, Pedagogia da Indignação, Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido, Pedagogia do oprimido e Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. Vamos, a partir de agora, discutir sobre um tema muito polêmico e complexo sob o ponto de vista acadêmico. Ele nos remete a muitas interpretações que variam conforme a abordagem e a área de conhecimento. É a cultura. A cultura é a representação e os costumes concebidos pelos homens em sociedade. É a construção histórica instituída por determinado grupo social em todas as dimensões da vida humana, como a social, a política, a econômica, a religiosa, a artística, a científica. É o conjunto de representações simbólicas, de atitudes e costumes de um povo. Os sistemas simbólicos de representação da realidade são fornecidos pela cultura para o indivíduo, ou seja, é o universo de significações que permite que o homem construa a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações no qual seus membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações. 20 CAPÍTULO 1 • POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL Muitas vezes, os materiais didáticos, como jogos e livros, utilizam os termos cultura e civilização com significados distintos. É, muitas vezes, empregada a palavra cultura para se referir aos povos que não conhecem a escrita, e que são conhecidos por historiadores tradicionais como “primitivos”. Para essas formações sociais são utilizados adjetivos como selvagens e bárbaros, com muita frequência. E, para fazer a distinção, é aplicada a expressão civilização para sociedades com um grau mais complexo de organização cultural. A questão crucial é que essa diferenciação reflete uma visão preconceituosa dos chamados povos mais adiantados ao estudar e analisar comunidades diferentes. As inúmeras aldeias indígenas, que hoje em dia vivem em território brasileiro possuem, em muitos aspectos, algumas semelhanças e algumas diferenças culturais quando são comparadas entre si. Isso é reflexo das condições culturais em que são produzidas. As diferenças sociais e culturais entre as sociedades são resultados de condições históricas, e não de fatores biológicos e étnicos, como ideologias que fomentam o preconceito pretendem afirmar. 1.3 As Ciências da Natureza na Educação Os avanços na ciência e a presença da tecnologia em nossas vidas trouxeram mudanças muito profundas na forma de conhecer e aprender. Da mesma maneira, há uma necessidade de conhecimento a respeito do mundo que nos cerca, dos fenômenos sociais e ambientais e sua relação com o cotidiano. Tudo isso está imerso na formação, seja ela em espaços escolares e/ou não escolares. A professora Lúcia Helena Sasseron, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo afirma que: É bem sabido que a influência das ciências em nossa sociedade não é unidirecional o que evidencia a importância de que não se reconheça a ciência e a sociedade apartadas, uma à mercê da outra. Para além disso, não se pode, ao mesmo tempo, ignorar os avanços e as transformações que uma e outra sofrem a todo instante. São, portanto, ciência e sociedade, transformadas e transformadoras. (SASSERON, 2015, p. 52) Nesse sentido, entendemos que é importante ter clareza dos princípios filosóficos e metodológicos que trarão as possibilidades para o desenvolvimento do que se entende como ensino de Ciências da Natureza. Considerando os objetivos e os princípios metodológicos, entende-se que o ensino de Ciências não se diferencia das outras disciplinas, em virtude da necessidade de uma apropriação de conhecimentos por meio de práticas em espaços que sejam estimuladores da curiosidade e da 21 POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 1 criatividade. Isso deve ser um exercício de todas as áreas de conhecimento no trabalho com as crianças da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. A escola precisa envolver os alunos com conteúdos relacionados com sua cultura e suas vivências, criando experiências de percepção do mundo onde ele entenda o conhecimento científico e suas relações sociais e históricas. Da mesma maneira, entender características próprias da cultura científica e do fazer científico é também um princípio do ensino de Ciências da Natureza. Segundo Martins (2019), é importante considerar o papel da educação, tanto no que diz respeito à produção quanto no combate às injustiças sociais, por isso é necessário repensar a educação em Ciências, por meio de diálogos com o que conhecemos como pensamento decolonial. Em suas palavras, este pensamento surge: como possibilidade de ir além dos dilemas da modernidade/pós-modernidade e inscreve-se num espaço que valoriza o respeito à diversidade, a busca por justiça social e o exercício do diálogo como promotor de uma nova ordem, mais horizontal, democrática e igualitária, nas relações entre culturas e saberes, e nos seus desdobramentos. (MARTINS, 2019, p. 13). Na perspectiva dos estudos decoloniais, devemos empreender novas formas de compreender a ciência, a técnica e a tecnologia em suas relações com as sociedades contemporâneas, buscando entender controvérsias e desafios inerentes ao processo de construção de conhecimentos. Isto implica a busca pela decolonização do saber, ou seja, buscar compreender a ciência por meio de autores que tratam a cultura e o conhecimento por outra ótica que não seja somente a epistemologia europeia. Colonizar o saber é valorizar uma única epistemologia em detrimento de outros conhecimentos, como ensinam Vera Candau e Luiz Fernandes de Oliveira (2010). Isso não significa que precisamos descartar teorias e referências, mas acima de tudo entender como elas embasaram um projeto político de sociedade que não se sustenta mais, visto que vai contra preceitos importantes na educação das crianças defendidos na ótica de uma educação crítica, que estimula o diálogo, a descoberta, a troca e o compartilhamentode saberes. Nesse contexto, não existe espaço para o professor que se coloca no lugar de “detentor único do saber”, ao contrário, a sala de aula deve ser um espaço de encontro e de trocas produtivas e prazerosas. As perguntas das crianças precisam ser tratadas como questões importantes que podem ser norteadoras de um trabalho investigativo. Essas questões são percebidas como uma maneira de humanizar a educação e despertar outra forma de relação com o conhecimento oriundo de diferentes saberes e isso vai influenciar a forma como tratamos os temas de trabalho no ensino de Ciências. 22 CAPÍTULO 1 • POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL Juntamente a esse entendimento, corrobora-se a ideia de uma metodologia que propicie a descoberta e a curiosidade epistêmica nas crianças de diferentes faixas etárias. Mais importante que o volume de textos lidos ou experimentos realizados será a qualidade das descobertas propiciadas pelas estratégias metodológicas implementadas. A preocupação com os conteúdos não deve se tornar uma prisão para o professor e nem se constituir como impedimento para o prazer das descobertas relacionadas com a prática científica. Há que se buscar coerência entre estratégias metodológicas e objetivos de ensino, adequando isso ao tempo e ao processo de aprendizagem das crianças. Uma prática de educação para a liberdade, como aprendemos com o educador Paulo Freire (2015), propõe a participação livre e crítica dos educandos no processo educativo. Assim como o educador, acreditamos que essa prática deve ser fomentadora de “uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política”. Ressaltamos que é importante levar em consideração também a questão da linguagem em sala de aula, que se caracteriza como fator de interação social, mas também como um elemento que tem implicações no desenvolvimento das crianças, na organização mental e na construção dos conceitos. Nessa mesma direção, encontramos Carvalho (2013, p. 4), que reflete sobre o ensino de Ciências em uma proposição investigativa, baseando-se em Vygotsky e Piaget para tratar do desenvolvimento dos processos sociais e psicológicos das crianças na interação social. Segundo a autora, a interação entre professor e aluno se define pelo ambiente onde ocorre a comunicação, pois isso possibilita ao aprendiz interagir também com os problemas, assuntos e valores culturais dos conteúdos trabalhados em sala de aula. De acordo com essa ideia, ressaltamos a importância da qualidade dessas interações entre professor e aluno, além da relevância de uma prática dialógica que valorize a escuta, a partilha de saberes e diferentes possibilidades e caminhos para a construção do conhecimento. Figura 6. Crianças alegres em sala de aula. Fonte: https://www.shutterstock.com/image-photo/happy-little-schoolchildren-267071444. 23 POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 1 Instituto Paulo Freire – vídeos. Disponível em: https://www.paulofreire.org/videos. A professora Myriam Krasilchik é docente na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e, há muitos anos se dedica à área de ensino de Ciências, atuando na formação de professores, por meio de pesquisas desenvolvidas com estudantes de graduação e pós-graduação. Em 2000 ela publicou um artigo com o título “Reformas e realidade: o caso das ciências” e nele organizou uma breve revisão histórica do ensino de ciências que continua atual em virtude das informações que tratou. Ele se caracteriza por uma apresentação simples de tendências no ensino de Ciências em diferentes décadas e sua relação com a situação mundial. Por meio de suas análises, ela aponta a relação entre o crescimento do ensino de Ciências e o desenvolvimento das áreas de ciência e tecnologia, pois isso também se relacionava ao desenvolvimento econômico. Apresentamos o quadro e, nas referências você encontra o texto da professora Myriam e outros artigos sobre esse assunto. É importante compreender as diferentes concepções de Ciência que nortearam o ensino de Ciências em momentos distintos e como isso influenciou as práticas desenvolvidas atualmente na área. Não podemos esquecer que existe outra variável que é a questão das políticas governamentais de educação que dizem respeito às reformas propostas em diferentes contextos políticos e sociais. Quadro 2. Quadro da evolução histórica do ensino de Ciências. 1950-1960 1970 1980-1990 2000 Situação Mun- dial Guerra Fria Crise Ener- gética Problemas Ambientais Competição Tecnológica Situação brasi- leira Industrialização Ditadura Transição política Democrati- zação Objetivos do Ensino Funda- mental Formar elite Formar cidadão Preparar Tra- balhador Formar cidadão tra- balhador Influências pre- ponderantes no ensino Escola Nova Escola Nova e Comporta- mentalismo Comporta- mentalismo e Cognitivismo Construti- vismo Objetivos mais presentes nas propostas da renovação do en- sino de Ciências nas aulas teóri- cas e práticas Transmitir infor- mações atuali- zadas Vivenciar o método científico Pensar lógica e criticamen- te Analisar implicações sociais do desenvol- vimento científico e tecnológico 24 CAPÍTULO 1 • POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL 1950-1960 1970 1980-1990 2000 Visão da Ciência no currículo da escola de Ensino Fundamental Atividade neutra enfatizando produto Evolução histórica enfatizando o processo Produto do contexto social econômico, político e de intrínsecos movimentos Metodologia recomendada dominante Laboratório Laboratório mais dis- cussões de pesquisa Jogos e simulações. Resolução de problemas. Docentes Professores im- provisados que fazem curso de capacitação Professores formados em Univer- sidades Proliferação de escolas de formação de professores Programas de atualiza- ção conti- nuada de professores Instituições que influem na pro- posição de mu- dança nacional e internacional Associações profissionais, científicas e ins- tituições gover- namentais Projetos Curricula- res, Orga- nizações internacio- nais Centro de Ciências, Universida- des Organiza- ções pro- fissionais, científicas e de professo- res. Universida- des. Fonte: Adaptado de Krasilchik, M.; Marandino (2002, pp. 1.359-1.365). Apresentação da Profa. Dra. Myriam Krasilchik. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=pXLDPDA9CY0. Segundo Dutra, Castro e Monteiro (2019, p. 8), o campo de ensino de Ciências como conhecemos atualmente é recente e a disciplina surgiu oficialmente no Ensino Secundário Brasileiro, nos anos de 1930, com o texto da Reforma Francisco Campos (Decreto n. 19.890, de 18 de abril de 1931), que criou a disciplina escolar de Ciências Físicas e Naturais. A ideia era formar uma elite intelectual nos cursos de formação secundária a fim de criar jovens talentos para uma carreira científica que tivesse como objetivo a conquista do espaço. Nesse sentido, destacam elementos históricos relevantes para este cenário, como os investimentos dos Estados Unidos em recursos humanos e financeiros, para uma educação com o propósito de vencer a corrida espacial. Ensino de Ciências: história e situação atual. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=nh1ruCC0yA4&t=31s. Podemos afirmar que durante muito tempo o ensino de Ciências sofreu influências deste modelo e, ainda hoje, propostas curriculares seguem nessa mesma linha, entretanto percebe-se que ao longo das últimas décadas ocorreram mudanças significativas em virtude das transformações na área de educação, na sociedade e, de maneira geral, nas diretrizes oficiais. 25 POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 1 A partir dos anos 2000, vemos uma mudança significativa tanto no que diz respeito às práticas de sala de aula – que passama ser propositivas de atividades com experimentação, saídas de campo e observação de fenômenos – quanto no que diz respeito à abertura de espaços de educação não formal como os museus e centros de ciências. Isso vai ser retomado em outros capítulos deste livro. Houve também um movimento no sentido de editoração de livros didáticos que traziam esse tipo de proposta, tendo, por exemplo, atividades sugeridas para serem realizadas em sala de aula ou na residência do aluno e um espaço no próprio livro, destinado ao relatório da atividade. As experiências e, consequentemente, a produção de materiais educativos e manuais de experimentação cresceram enormemente. Havia publicações específicas para o professor que desejava trabalhar na perspectiva do ensino por experimentação. A literatura infantil também seguiu esse caminho e vários livros com experiências e histórias de estímulo para a “vida de cientista” foram lançados nesse período, buscando também uma empatia junto ao público infantil e o público docente que, muitas vezes, se utilizava dessas publicações para o desenvolvimento de atividades na sala de aula. Em estudo desenvolvido sobre livros de literatura e ensino de Ciências, Queiroz e Gomes (2020, p. 196) argumentam que o currículo de Ciências dos três anos iniciais do Ensino Fundamental é influenciado por tendências do cenário educacional especialmente por docentes que atuam nos Anos Iniciais e são polivalentes, isto é, trabalham conhecimentos de campos disciplinares diferentes e, não possuem, a princípio, em sua trajetória formativa, uma forte relação com as tradições da disciplina Ciências. Essa formação dos professores teve forte influência na condução dos currículos de Ciências ao longo das últimas décadas. Podemos afirmar que houve mudanças nos currículos dos cursos de Pedagogia, influenciando diretamente as práticas de ensino de Ciências na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Entrevista com Ana Maria Pessoa de Carvalho sobre a formação de professores para o ensino de Ciências. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IMyfqxACezE&t=4s. Também podemos citar outra questão presente nesse histórico do ensino de Ciências, que é a inclusão de portadores de necessidades especiais. No decorrer dos anos a área vem sendo estruturada no campo da inclusão dos portadores de necessidade especiais. Existem questões didáticas e metodológicas específicas do ensino de Ciências que precisam ser levadas em consideração pelos professores. Como tratar determinados assuntos com estudantes cegos ou surdos, por exemplo? O professor precisa levar em consideração os casos especiais no planejamento das suas aulas, considerando abordagens, metodologias, recursos, possibilidades e dificuldades que podem surgir nesse processo. 26 CAPÍTULO 1 • POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL Nos últimos anos, algumas instituições que atendem este público em particular, se empenharam em criar parcerias com outras instituições a fim de trabalhar na perspectiva de colaboração mútua para o pleno desenvolvimento dos estudantes. Algumas estratégias como a criação de manuais de Libras com os termos específicos deste campo de conhecimento. Nas referências você encontrará alguns materiais desse tipo e referências teóricas sobre o tema. Alguns museus e centros de ciências criaram espaços destinados ao público com necessidades especiais, ao longo das últimas décadas, bem como atividades específicas. Algumas instituições de pesquisa e ensino também vêm se dedicando à produção de materiais didáticos destinados ao processo de inclusão para o ensino de ciências. Figura 7. Alfabeto em Libras. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/finger-spelling-alphabet-american-sign-language-1722226801. Artigo sobre a criação do primeiro curso de extensão em Biociências para alunos surdos. SILVA, Flavio Eduardo P. da; RUMJANEK, V. M. Criação do primeiro curso de extensão em Biociências para alunos Surdos – a experiência da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fórum (Rio de Janeiro. 2000), v. 1, pp. 32-37, 2011. Existe uma série de reflexões a respeito do professor de Ciências nos anos iniciais e é interessante perceber como se relacionam com a formação de educadores. A formação nas licenciaturas em Pedagogia não tinha um currículo fortemente embasado para o ensino de Ciências. Talvez isso explique a forma como muitos professores se relacionavam com essa área do conhecimento, comumente tratada como uma área em que encontravam dificuldades, tanto em elação à abordagem dos conteúdos quanto no que diz respeito aos materiais e métodos. 27 POR QuE ENSINAR CIÊNCIAS NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 1 Isso ocasionava, muitas vezes, um ensino conteudista, com poucas estratégias pedagógicas estimulantes e o uso muito tímido de diferentes linguagens. Ao longo dessa história, uma das questões apontadas por professores trata da sua própria formação e a insegurança a respeito das informações sobre conceitos científicos, pois comumente não sabem qual é a fonte correta para pesquisa. Ressaltamos que, desde os anos 1980, muitas ações de formação continuada de professores buscavam estimular outras práticas, trazendo novas possibilidades para o ensino de Ciências nas séries iniciais. O que vimos neste Capítulo? » o conceito de ensino de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. » o conceito de conhecimento científico e sua relação com o cotidiano. » os saberes populares e os saberes científicos. » o conceito de grupo social e os diferentes tipos de agrupamentos sociais. » a importância da família e da escola na socialização da criança. » alguns princípios filosóficos e metodológicos do ensino de Ciências Humanas e da Natureza. 28 Introdução Neste segundo capítulo, discutiremos a formação de professores para o ensino de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. Também abordaremos a importância do pedagogo e as políticas públicas para este docente. Nossa intenção é discutir essa formação para docentes que vão atuar na Educação Infantil e nos anos iniciais, pois a educação é uma tarefa essencial para o desenvolvimento das crianças, particularmente quando tratamos de conteúdos específicos como Ciências Humanas e da Natureza. Também buscamos a compreensão da relevância das políticas de formação do professor, pois isso tem implicações na prática desenvolvida na sala de aula. Objetivos » Analisar a formação de professores de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. » Conhecer o perfil do pedagogo que atua no ensino de Ciências, História e Geografia. » Apresentar Políticas Públicas Nacionais de formação do professor de Ciências, História e Geografia. » Analisar perspectivas de atuação docente no ensino de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. 2.1 O Papel do Pedagogo no Ensino das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza Não esperem nada do século XXI, pois é o século XXI que espera tudo de vocês. Um século que não veio pronto da fábrica, veio pronto para ser forjado por vocês à nossa imagem e semelhança, e que só será tão pacífico e nosso como vocês forem capazes de imaginá-lo. (Gabriel Garcia Márquez) 2 CAPÍTULO A FORMAçãO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL 29 A FORMAçãO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 2 Para começar este segundo capítulo, selecionamos um trecho de um discurso que o escritor Gabriel García Márquez preparou para um evento em Paris, em março de 1999. Naquele momento, o século XXI ainda estava por vir e o escritor trazia em sua fala um desejo com o novo século que se aproximava. Acreditamos nessa capacidade imaginativa nas práticas educativas e, para isso, é preciso que ela sejaestimulada desde a formação inicial dos professores. Essa capacidade se relaciona com a criatividade, mas também com a imaginação sobre o futuro do planeta. Verbete sobre o escritor Gabriel Garcia Márquez. Disponível em: https://www.infoescola.com/biografias/gabriel-garcia-marquez/. A formação dos pedagogos – comumente os professores de História, Geografia e Ciências – precisa ser rica de experiências por meio das quais ele vivencie o encantamento com as descobertas científicas. Isso mesmo! Estamos falando do pedagogo e não dos alunos. Figura 8. Descobertas do professor. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/beautiful-african-american-woman-afro-hair-2188056199. Durante muito tempo, a formação em Pedagogia privilegiava o ensino de métodos e técnicas pedagógicas, estratégias para que o futuro pedagogo desempenhasse a função de professor de maneira coerente com o que estava proposto nos currículos. Com as reformas educacionais, as mudanças foram sendo implementadas gradativamente, mas lembramos que mesmo quando há uma legislação e uma exigência de adaptações curriculares isso leva tempo para se tornar interiorizado no cotidiano escolar. As novas diretrizes são discutidas em diferentes instâncias e chegam ao espaço escolar, mas não há garantias de quanto tempo levarão para fazer parte desse cotidiano verdadeiramente. 30 CAPÍTULO 2 • A FORMAçãO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL Como você leu no capítulo 1, a estrutura do ensino como conhecemos hoje é recente no Brasil. Trivelato e Silva (2011, p. 5) destacam que os Parâmetros Curriculares Nacionais, de 1997, estabeleciam objetivos para o ensino, mas, por ser um documento nacional, não contemplava especificidades regionais, o que ficava a cargo dos professores. Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011, p. 34) ressaltam que a tendência de “formar cientistas” ainda pode ser percebida em algumas propostas desenvolvidas nos espaços escolares, entretanto o que se busca é a “ciência para todos”, ou seja, o conhecimento científico e tecnológico para a maioria da população. Para isso, o docente precisa trabalhar buscando construir o entendimento sobre a produção de conhecimento em ciência e a tecnologia, como atividade humana, socio-historicamente determinada. A formação de pedagogos precisou se adaptar para esse desafio; entretanto, destacamos que ainda não é uma realidade, uma formação que contemple as diferenças regionais do Brasil. A grande maioria dos docentes formados em faculdades de pedagogia manifesta suas preocupações com essa lacuna em suas formações. Ainda tratando desse desafio para os professores, Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011, p. 34) afirmam que: Se solicitarmos exemplos de manifestações e produções culturais, certamente serão citados: música, teatro, pintura, literatura e cinema... A possibilidade de a ciência e a tecnologia estarem explicitamente presentes numa lista dessa natureza é muito remota! A necessidade de incorporação de novas práticas educativas em Ciências, História e Geografia passa pela mudança nos cursos de formação de pedagogos, visando a uma ampla gama de experiências propulsoras da mudança necessária para que seja possível formar um pedagogo que assuma esse desafio. Sánchez e Ribeiro (2012) interrogam seus leitores sobre o motivo da dificuldade em superar concepções de ensino que reforçam a mera transmissão de conteúdos e pensar em outras formas de ensinar Ciências Humanas e Ciências da Natureza. A partir da experiência vivenciada em uma turma de Pedagogia de uma universidade pública, eles refletem sobre as dificuldades de um professor assumir uma postura que garanta práticas emancipatórias. Para os autores, é preciso superar a “curiosidade ingênua” rumo à “curiosidade epistemológica”, seguindo uma perspectiva baseada nos estudos de Paulo Freire. Segundo eles, a educação tem um importante papel a cumprir na busca por reflexões sobre ser e estar no mundo e, nesse sentido, o papel do professor que vai ensinar Ciências, História e Geografia é fundamental. Cada vez mais, insistimos em um ensino de ciências que invista na narrativa, um ensino como forma de contar sobre si e sobre o mundo – ciências como histórias 31 A FORMAçãO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 2 do mundo: a partir de suas crenças, saberes e experiências, alunos e alunas podem ampliar ainda não saberes e, cada vez mais, transpor certezas arraigadas na e pela imersão no senso comum, problematizando e ressignificando conhecimentos. (SANCHEZ; RIBEIRO, 2012, p. 92). Nesse sentido, entendemos que os espaços de formação como esse em que estamos inseridos são de grande importância para dar voz a outras narrativas que sejam somente dos teóricos, mas que possamos exercitar “um ensino como forma de contar sobre si e sobre o mundo”. Ressaltamos que é importante formar pedagogos para o desenvolvimento de um ensino mais voltado para a aprendizagem contínua com a construção de conhecimentos científicos e o entendimento dos sentidos desse conhecimento para a vida cotidiana. Isto vai melhorar a qualidade do ensino de maneira geral, e, especificamente, no que diz respeito às Ciências Humanas e às Ciências da Natureza. O artigo de Tiago Ribeiro e Celso Sánchez está disponível no link: https://periodicos.uff.br/ensinosaudeambiente/article/view/21137. 2.2 Políticas Públicas Nacionais para a Formação do (a) Professor (a) no Ensino das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza A Educação no Brasil e na América Latina se beneficiou de alguns planos governamentais nacionais e internacionais e isso teve reflexos nos índices educacionais brasileiros. Esses planos visavam ampliar o acesso à educação, principalmente para crianças em situação de vulnerabilidade social e, consequentemente, diminuir problemas como o fracasso e a evasão escolar, o que refletiu na formação dos professores, em virtude das ações específicas para esse fim. Nesse sentido, organismos internacionais como Unesco, Unicef e Banco Mundial foram importantes na criação de programas e comitês para refletir e propor ações para que países como o Brasil pudessem melhorar sua situação econômica, social e educativa. Muitas iniciativas foram criadas por meio de redes de cooperação que envolviam pesquisadores e gestores de diferentes países para planejar ações estratégicas. Algumas dessas ações contemplavam formação de professores, gestão das escolas, avaliação, compartilhamento de experiências educativas em diferentes disciplinas. 32 CAPÍTULO 2 • A FORMAçãO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL Figura 9. Diversidade na escola. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-school-kids-reading-education-600737564. Um documento importante que destacamos aqui é a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (Tailândia, março de 1990) – um plano de ação com a proposta de satisfazer necessidades básicas de aprendizagem – e que dava ênfase à garantia de condições básicas para uma vida digna. Esperava-se que, com isso, a longo prazo, fosse possível melhorar a aprendizagem das crianças. Segundo Menezes (2001), a Declaração de Jomtien é um dos principais documentos mundiais sobre educação que possui grande importância ao lado da Convenção de Direitos da Criança (1988). No verbete que o autor criou para o “Dicionário Interativo da Educação Brasileira”, ele destaca que, de acordo com a Declaração: Sugerimos a leitura da Declaração Mundial sobre Educação para Todos. Disponível em https://www.unicef.org/brazil/declaracao-mundial-sobre-educacao-para-todos- conferencia-de-jomtien-1990. cada pessoa – criança, jovem ou adulto – deve estar em condições de aproveitar asoportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem. Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas), quanto os conteúdos básicos da aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores e atitudes), necessários para que os seres humanos possam sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar decisões fundamentadas e continuar aprendendo. Este trecho reafirma a importância da Declaração que continua atual e necessária, em virtude dos problemas que ainda persistem no cenário brasileiro. 33 A FORMAçãO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 2 No tocante ao ensino de ciências, podemos dizer que antes mesmo da Declaração, ainda nos anos 1980, houve uma série de investimentos para a melhoria da qualidade nessa área e, particularmente, pelo Subprograma Educação para a Ciência (SPEC), desenvolvido nacionalmente no período compreendido entre os anos de 1983 a 1997, que tinha como premissa superar o modelo tradicional de ensinar ciências melhorando a formação de professores e incentivando a pesquisa sobre essa área do ensino. Gurgel (2001) fez uma análise consistente desse Subprograma e concluiu que ele teve um significado importante para as políticas socioeducacionais no Brasil e foi além das expectativas, influenciando a melhoria da formação docente. Durante a década de 1990 é importante citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394), promulgada em 1996, e os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997). A LDB de 1996 trouxe mais reflexões e ações sobre a formação docente. Nesse período, foi criado o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – o Parfor – por meio do qual professores que atuavam na docência, apenas com a formação para o Magistério, podiam se licenciar. Esses dois documentos trouxeram contribuições importantes no que diz respeito a uma formação para o exercício da cidadania, a perspectiva da interdisciplinaridade e os currículos CTS que traziam a prioridade para a abordagem da relação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. Isso representou uma grande mobilização dos cursos de formação inicial e continuada no sentido de problematizar esses temas e auxiliar o professor que precisava se adaptar ao novo cenário, contemplando o currículo CTS e os temas ambientais, por exemplo. Sugerimos a leitura da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70320/65.pdf Sugerimos a leitura dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf Sugerimos que conheça o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – o Parfor Disponível em https://www.gov.br/capes/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/ educacao-basica/parfor/parfor Nesse período, foram implantados também vários cursos de complementação pedagógica, que objetivavam a qualificação de profissionais que possuíam apenas bacharelados, sem a licenciatura. Recentemente tivemos a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC 2018) que, de maneira resumida, define quais são as aprendizagens essenciais para os estudantes da Educação Básica. A BNCC foi amplamente discutida por diferentes setores da sociedade e, construída em conformidade com outros documentos como a LDB (1996), o Plano Nacional de Educação (PNE, 2014) e Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (2013) considerando a necessária promoção das Ciências na Educação Básica, já preconizada nesses documentos. 34 CAPÍTULO 2 • A FORMAçãO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL A proposta exigiu uma nova adaptação dos professores, em virtude das ações e estratégias propostas. Já existem cursos oferecidos para professores com o objetivo de explorar as possibilidades da BNCC e as potencialidades do professor para as novas estratégias que são esperadas desse docente. 2.3 Perspectivas para Atuação do (a) Professor (a) no Ensino das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza Figura 10. Professor em formação. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/older-female-student-class-holding-notebook-106223336. O ensino de Ciências, História e Geografia é um desafio para os professores – tanto aqueles que estão iniciando a carreira quanto os docentes com maior tempo de experiência – em função da diversidade encontrada nas escolas, mas também pelas especificidades dos conteúdos a serem ministrados. Muitos professores narram sua dificuldade em pesquisar materiais interessantes e apropriados à disciplina, a falta do conhecimento técnico necessário, dentre outros motivos. Assim sendo, é muito importante que estes conteúdos estejam contemplados na formação inicial dos pedagogos e que tenhamos diferentes oportunidades de formação continuada em virtude das mudanças nas estratégias metodológicas e na forma de abordar determinados assuntos. As diretrizes governamentais e os planos para os conteúdos escolares costumam ser outro elemento de frustração para os professores, assim como as avaliações de larga escala que trazem dados preocupantes sobre o cenário educacional do país. Nas últimas décadas, o Ensino Fundamental no Brasil vem sendo avaliado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), criado em 2007 como um indicador de resultados da qualidade da educação no Brasil. O cálculo é feito com os dados sobre aprovação, contidos no Censo Escolar e com as médias do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Entenda os indicadores do Ideb. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/ pesquisas-estatisticas-e-indicadores/ideb. 35 A FORMAçãO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 2 Existem vários grupos de pesquisa em universidades públicas e particulares que estimulam a formação de professores – tanto inicial quanto continuada – por meio de programas que envolvem cursos, eventos científicos e publicações. Merecem destaque os trabalhos desenvolvidos pelo grupo como o Formar-Ciências – grupo de estudos e pesquisas da Faculdade de Educação da Unicamp que tem como proposta a articulação entre o que é produzido no espaço acadêmico e o que é ensinado pelos professores no Ensino de Ciências e Educação Ambiental. Interessante destacar que durante a pandemia da Covid-19 foi possível conhecer iniciativas como esta por meio de eventos organizados virtualmente, como webnários, lives e outros do gênero, que se caracterizaram como uma possibilidade em meio ao cenário do isolamento social. Isso trouxe uma participação muito grande de professores de diferentes partes do país, demonstrando a importância desse tipo de ação em função do seu alcance. Figura 11. Isolamento social na pandemia e formação continuada a distância. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/high-angle-view-video-conference-teacher-1676998303. Site do Grupo Formar-Ciências. Disponível em: https://www.formar.fe.unicamp.br/quem-somos. Docência e formação para o ensino de Ciências – Universidade Federal de Uberlândia. Disponível em: http://www.ecm.faced.ufu.br/node/5. O Ministério da Educação (MEC) lançou uma iniciativa em 2019 buscando a melhoria das aulas de Ciências nas escolas públicas do País, por meio da formação de professores em cursos de Pós-graduação (especialização) oferecidos a distância no Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), com vagas distribuídas em diferentes universidades públicas brasileiras; entretanto,essa iniciativa abriu 3.920 vagas apenas para docentes que são responsáveis por turmas do 6o ao 9o ano. 36 CAPÍTULO 2 • A FORMAçãO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL No que tango ao ensino de História e Geografia, é importante que o pedagogo compreenda a necessidade de abordar com os alunos o meio em que vivemos. As crianças devem conhecê-lo para que sejam capazes de intervir para modificá-lo quando se fizer necessário. Elas devem ir além da capacidade crítica, garantindo a possibilidade de transformação da realidade que as rodeia. “Experiências de professores dos Anos Iniciais com Ensino de Ciências por investigação”. Live de Diálogos Formativos sobre Ensino por Investigação com professores da Educação Básica – 13/7/2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FbgsyFnPNes. O estudo do meio é mais um tema do currículo escolar que se pretende interdisciplinar e globalizante. O assunto reúne diversos ramos do saber, como a História, a Geografia, a Ecologia, a Biologia, a Geologia, a Química e a Física e tem como objetivo contribuir para a compreensão do mundo e da realidade que nos cerca. O meio pode ser compreendido como o conjunto das condições e circunstâncias em que se dá a ação e a vida humana. Esse meio determina e é determinado pelas experiências e atividades do ser humano. Todas as experiências sociais, de certa forma, são condicionadas por esse meio. Estudar o meio pressupõe entendê-lo como algo muito além de exclusivamente ambiental. O conceito envolve a realidade biológica, física e humana que cerca a criança. Para demonstrar a importância do tema é fundamental reiterar que, para Wallon, é na interação e no confronto com o outro que se forma o indivíduo. Da mesma forma que Vygotsky destaca o papel do contexto histórico e cultural no desenvolvimento e aprendizagem da criança. (...) Vygotsky tem como um de seus pressupostos básicos a ideia de que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem. (LA TAILLE, 1992, p. 24) Quando a criança observa o mundo ao seu redor e procura compreendê-lo, se depara com fenômenos naturais, pessoas e objetos e a maneira como estas se relacionam e se organizam no tempo e no espaço. Descobre, ainda, um conjunto de instrumentos e processos construídos pelo homem para enfrentar as suas necessidades. O papel do (a) professor (a) é fomentar tais observações, apurando o olhar infantil para que possam apreender o máximo possível do que for visto, além de sistematizar sobre as descobertas feitas. O estudo, sempre que possível, deve ser planejado pelo professor de maneira a garantir os objetivos educacionais. O que vimos neste Capítulo? » a importância do encantamento de alunos e professores com as descobertas científicas. 37 A FORMAçãO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 2 » os desafios enfrentados pelo pedagogo no ensino de História, Geografia e Ciências. » os cursos de formação de professores de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. » as políticas públicas internacionais e nacionais voltadas para a formação de professores. » algumas iniciativas docentes no ensino de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. 38 Introdução Neste capítulo continuamos a refletir sobre o professor de Ciências, História e Geografia, e, especificamente o que diz respeito aos procedimentos didáticos, ou seja, como ele deve trabalhar os conceitos científicos para facilitar o entendimento das crianças. Em cada capítulo, refletimos sobre aspectos distintos, porém sempre nos pautamos nas diretrizes determinadas pelo Ministério da Educação e nas pesquisas acadêmicas que são desenvolvidas sobre essa prática. O que pretendemos é ajudar o aluno de Pedagogia a compreender como ele pode tornar suas aulas de Ciências Humanas e de Ciências da Natureza mais interessantes e estimuladoras da aprendizagem. Dessa maneira, o trabalho do professor terá seu foco naquilo que é importante para a aprendizagem, mas também na forma como ele poderá potencializar esse momento. Objetivos » Conceituar a didática das Ciências Humanas e da Natureza para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. » Analisar orientações didático-metodológicas para o ensino de Ciências, História e Geografia. » Discutir concepções de ensino-aprendizagem. » Analisar estratégias de planejamento das aulas de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. 3 CAPÍTULO O PAPEL DO DOCENtE NO ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA FRENtE AOS DESAFIOS DA SOCIEDADE CONtEMPORÂNEA 39 O PAPEL DO DOCENtE NO ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA FRENtE AOS DESAFIOS DA SOCIEDADE CONtEMPORÂNEA • CAPÍTULO 3 3.1 A Didática das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza como Práticas Investigativas Este capítulo tem a proposta de articular as diretrizes curriculares oficiais com a prática de Ciências Humanas e Ciências da Natureza, ou seja, ajudar os estudantes desse curso a compreender como é possível relacionar as teorias, os documentos oficiais e as diretrizes metodológicas para contribuir com a aprendizagem das crianças. Você deve estar se perguntando: o que é preciso para ensinar Ciências, História e Geografia para as crianças de Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental? O professor precisa conhecer e entender os conteúdos que irá ministrar, mas também as estratégias didático-metodológicas que serão mais adequadas a cada conteúdo que será ensinado. Para isso, é preciso estudar o que é abordado no curso de Pedagogia, mas isso não termina na formatura, pois a pesquisa deve ser continuamente retomada durante a prática do professor. Esse estudo requer compreensão das habilidades necessárias para ministrar aulas para um público específico do Ensino Fundamental, metodologias que propiciem experimentação na abordagem dos temas científicos e conhecimento de tecnologias e materiais que sejam relevantes para essas práticas. Figura 12. Experiências na aula de ciências com orientação do professor. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/experience-knowledge-practical-basic-study-hard-1608099556. É importante ter clareza dos momentos e dos objetivos de ensino ao escolher determinados recursos tecnológicos e/ou metodologias diferentes, para que isso seja realmente relevante no processo de ensino-aprendizagem, em vez de responder apenas a demandas da sociedade contemporânea ou “modismos na educação”. O que queremos dizer com isso é que não adianta o professor trazer as tecnologias para a sua sala de aula, sem reconhecer o potencial dessas ferramentas e sua relação com os objetivos que pretende alcançar. 40 CAPÍTULO 3 • O PAPEL DO DOCENtE NO ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA FRENtE AOS DESAFIOS DA SOCIEDADE CONtEMPORÂNEA Durante a pandemia da Covid-19 esse debate veio à tona e vem aparecendo em discussões sobre a prática docente, pois em meio ao isolamento social, os professores precisaram se adequar ao ensino remoto e ao uso de várias tecnologias que foram incorporadas ao ensino das diferentes disciplinas em todos os segmentos desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. ”As escolas nos/dos movimentos em rede”. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/re-doc/announcement/view/1159. Existem outras possibilidades interessantes para pensar didaticamente o ensino de Ciências Humanas e da Natureza, como, por exemplo, projetos que unem estas disciplinas com Arte ou Língua Portuguesa, por exemplo. Pesquisar atividades e propostas desenvolvidas nessa perspectiva pode contribuir com novas práticas na sala de aula.O Projeto Ciência se propõe a discutir as diversas relações entre ciência, tecnologia e teatro – e suas implicações para a educação e para a divulgação da ciência e da arte – a fim de produzir ações e estratégias que potencializem a humanização de todos. Disponível em: https://www.projetociencia.com.br/sobre. 3.2 A Linguagem e o Ensino das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza: tendências atuais A questão da linguagem é um dos pontos importantes no ensino de História, Geografia e Ciências, devido à relação com a aprendizagem e a ampliação da capacidade crítica. A compreensão dos processos envolvidos na construção de conhecimentos científicos envolve diversos conceitos básicos que são fundamentais para o ensino das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza. Estes conceitos devem estar presentes nas aulas e cabe ao docente adaptar a linguagem para que os alunos da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental possam se apropriar deles. O primeiro conceito básico é o de espaço. Um conceito complexo que precisa ser conquistado pelas crianças em um trabalho paulatino, desde a Educação Infantil. O “espaço geográfico” é resultado da ação do homem sobre a natureza. A cada momento da vida do Homem sobre a Terra, a intervenção humana foi se transformando, se aperfeiçoando com a utilização de utensílios e ferramentas que produziam novos efeitos no ambiente natural, até os dias de hoje em que as relações entre o ser humano e a natureza são tão diversificadas e complexas. O segundo conceito é o de tempo, que é muito importante para as Ciências Humanas, pois permite a compreensão dos processos de transformação da natureza, da ação humana ao longo da história. 41 O PAPEL DO DOCENtE NO ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA FRENtE AOS DESAFIOS DA SOCIEDADE CONtEMPORÂNEA • CAPÍTULO 3 O conceito de duração busca possibilitar que a criança quantifique o tempo. É necessário que ela perceba o início e o fim de determinada situação para que se dê conta do tempo transcorrido. Essa noção é fundamental para que a criança, mais tarde, possa utilizar as diferentes periodizações com facilidade e compreender as mudanças e as permanências que ocorrem ao longo do tempo. O tempo talvez seja um dos conceitos mais complexos para desenvolver no trabalho pedagógico com as crianças, porque se constitui em uma abstração. A nossa experiência demonstra certa dificuldade das crianças em lidar com as datas como as festas de aniversário. Mas é um instrumento fundamental no processo de construção do pensamento reflexivo. Envolve, também, outras áreas do conhecimento humano como a Matemática, a Geografia e a Física. O tempo cronológico ou físico é a dimensão que possibilita que nos localizemos em dado momento; que permite que interpretemos ou organizemos uma linha do tempo. Desenvolvendo essa noção, a criança pode acompanhar a passagem do tempo, pode quantificá-lo (veja que isso é difícil de realizar; é verdadeiramente uma conquista para os alunos). Aos poucos, a criança vai deixando de se confundir no uso das expressões como ontem, hoje e amanhã. Quem de nós já não ouviu frases como “Ontem eu vou à praia com o meu pai!” ou “Amanhã eu me machuquei na piscina!”? A dimensão do tempo histórico nos remete à compreensão dos diferentes períodos históricos. E permite ao aluno identificar contextos históricos distintos, comparar épocas, da mais remota às mais atuais. A criança poderá também, com o desenvolvimento desse conceito, caracterizar o momento histórico, compondo os vários elementos que o integram. Cabe destacar ainda o conceito de transformação. Ele fica demonstrado a partir da própria ação humana sobre a natureza quando a modifica para atender a alguma necessidade da sociedade. É a intervenção dos grupos humanos que constrói formas espaciais características, como as cidades e os campos de cultivo, em lugar da natureza selvagem ou primitiva, anterior à ação humana. (KOZEL; FILIZOLA, 1996, p. 28) Algumas vezes a linguagem formal e/ou científica pode causar estranhamento aos estudantes que estão tendo contato com determinados conceitos pela primeira vez. Por isso é muito importante que o professor tenha esses conceitos bem claros, a fim de conseguir deixá-los explícitos ao apresentá-los nas aulas de História, Geografia e Ciências. O professor de Ciências Humanas e Ciências da Natureza deve planejar suas aulas a partir de uma linguagem apropriada à faixa etária e embasando os conceitos principais de cada disciplina. Se possível, trocar experiências com outros docentes a fim de perceber possibilidades de estratégias interessantes. Muitas vezes, a partir da experiência compartilhada por outro professor faz com que a própria prática seja revista e o planejamento redimensionado. As trocas são positivas para as crianças e para os seus docentes. De todas as maneiras, conhecer experiências, positivas ou não, contribui com as práticas educativas, pois até mesmo aquilo que é visto como algo que “deu errado” pode significar uma experiência construtiva, do ponto de vista da experiência. 42 CAPÍTULO 3 • O PAPEL DO DOCENtE NO ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA FRENtE AOS DESAFIOS DA SOCIEDADE CONtEMPORÂNEA Figura 13. Professores compartilhando experiências e planejando suas aulas. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-seminar-adult-education-lecturer-room-1648734901. Vem aí, Futura 2021! Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EH6xeK4lofY. A linguagem é um elemento importante na mediação para a construção de conhecimentos e intrínseca ao processo de aprendizagem e, por isso, é tão importante considerá-la no planejamento. Existem muitas publicações de textos de divulgação científica atualmente e isso contribui também com a apropriação de conhecimentos científicos. Por outro lado, é importante também observar as interações discursivas que ocorrem entre os estudantes e com o docente, pois elas podem mostrar como as crianças estão compreendendo certos conteúdos e o que é necessário retomar e rever por meio de novas experiências. Como exemplo, Soares e Salomão (2016) fazem uma discussão ampla sobre linguagem e ensino nos anos iniciais, destacando que o que se busca é ensinar, além de conteúdos conceituais são os elementos da própria linguagem científica. Isso traz implicações para os professores no trabalho com a linguagem e no compromisso com o domínio dos alunos sobre a escrita e a leitura desse campo. As autoras também ressaltam que o trabalho relacionado com as linguagens dentro dos conteúdos de História, Geografia e Ciências contribui para romper com as barreiras da compartimentalização curricular. Além da linguagem oral, para o ensino da geografia, a linguagem cartográfica também merece destaque. O mapa é um importante instrumento para o homem se localizar no espaço. É fundamental construir esse conhecimento com as crianças para que, um dia, elas se tornem capazes de interpretar qualquer representação gráfica dos espaços. Quanto mais jovens, mais dificuldades as crianças têm para compreender a representação cartográfica. 43 O PAPEL DO DOCENtE NO ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA FRENtE AOS DESAFIOS DA SOCIEDADE CONtEMPORÂNEA • CAPÍTULO 3 Os mapas, em geral, representam uma coisa meio mágica, e até de certa forma incompreensível, embora sejam usados por muitas pessoas e em situações diversas. Cabe-nos, na Geografia, conseguir trabalhar com o mapa como o resultado da síntese de um determinado espaço, seja produzindo-o a partir de observações, de informações e de dados coletados, seja fazendo sua leitura para conhecer determinado lugar. (CALLAI, 2000, p. 90) O ensino da cartografia é complexo e envolve algumas etapas e premissas que devem ser seguidas para que se possa alcançar o conhecimento e as habilidades exigidas. Exige, sempre, certo de grau de abstração e imaginação. Nada que as crianças não tenham. Porém, em algumas habilidades desenvolvidaspelos educandos, os próprios professores também demonstram alguma dificuldade. O que é muito comum, pois, como lembra Castrogiovanni, diversas: pesquisas comprovam que muitos dos professores que atuam nas séries iniciais não foram alfabetizados em Geografia. As crianças chegam ao sexto ano do Ensino Fundamental sem a construção das noções e das elaborações conceituais que compreenderia tal “alfabetização”. (CASTROGIOVANNI, 2000, p. 11) Ler mapas é um processo de decodificação de símbolos. Inicia-se a leitura pela observação do título. É preciso determinar o espaço representado, seus limites e as informações constantes no mapa. Em seguida, é importante interpretar a legenda, relacionar os significantes e significados espalhados no mapa. Deve-se observar também a escala (gráfica ou numérica) indicada no mapa para posterior cálculo das distâncias ou das dimensões do fenômeno representado, a fim de se estabelecer comparações ou interpretações. O ensino da leitura cartográfica deve ser iniciado nos primeiros anos da Educação Infantil, mas somente será concluído após um longo trabalho, bem mais à frente, já no Ensino Médio. Faz-se necessário adequar as brincadeiras, os jogos e as atividades à fase correspondente do desenvolvimento da criança e do jovem. Isso é fundamental para se conseguir um resultado possível e esperado. Cabe lembrar que a pintura e a cópia de contornos de regiões ou países não permitem a compreensão da “alfabetização cartográfica”. É preciso que a criança elabore o mapa e não apenas o copie. Foi- se esse tempo... Percebemos que quanto mais as crianças se apropriam das linguagens, maior será a compreensão das relações entre os diferentes conteúdos e do entendimento de outras questões relacionadas com o conteúdo científico aprendido. Histórias profissionais educar transforma. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zrKlNGH_M_M. 44 CAPÍTULO 3 • O PAPEL DO DOCENtE NO ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA FRENtE AOS DESAFIOS DA SOCIEDADE CONtEMPORÂNEA 3.3 O uso das Novas tecnologias da Informação e Comunicação no Ensino das Ciências Humanas e da Natureza Neste item do capítulo propomos uma discussão a respeito da presença das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) no ensino de Ciências Humanas e das Ciências da Natureza, assim como em todas as disciplinas curriculares do Ensino Fundamental. Pretendemos desmistificar algumas ideias ou mitos que se estabeleceram em relação ao tema. A primeira delas é a ideia de que todos os professores precisam levar as tecnologias para “dentro” da sala de aula. Se você parar para pensar, as TICs já estão no espaço escolar há muito tempo, ainda que tenhamos momentos diferentes e usos distintos em cada contexto. Faremos um recorte nessa história, trazendo para reflexão alguns elementos do período correspondente aos anos compreendidos entre 1999 e 2009, quando as escolas vivenciaram vários momentos distintos com o uso de tecnologias. Podemos citar alguns exemplos como o uso de vídeos como recurso didático, e, posteriormente, novas discussões trouxeram o cinema para a sala de aula, e os docentes se apropriaram de outras formas de trabalho com a linguagem cinematográfica. Assim, desenvolveram-se propostas de sair da escola para levar as crianças ao cinema. Nesse sentido, Fresquet (2011, p. 9) nos incita a pensar nessa relação do cinema com experiências de aprendizagem dentro e fora da escola. Para essa autora, que se dedica a estudar a relação entre cinema e educação, esse encontro fecunda diferentes possibilidades de desdobramentos e dá vida à escola. Figura 14. Crianças assistem a filme no cinema. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/shot-little-boy-sipping-his-drink-771226444. Poderíamos citar muitos exemplos aqui, mas nossa proposta é fazer um breve resumo para tratarmos da presença das TICs no contexto atual do ensino de Ciências Humanas e da Natureza. 45 O PAPEL DO DOCENtE NO ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA FRENtE AOS DESAFIOS DA SOCIEDADE CONtEMPORÂNEA • CAPÍTULO 3 Educação e cinema na promoção de direitos humanos Disponível em: https://alana.org.br/no-chao-da-escola/. Coletivo Janela Aberta – Cinema e Educação. Disponível em: http://www.janelaaberta.org/coletivo/. Em relação às Políticas Públicas atuais, podemos citar alguns Programas do Governo Federal, divulgados no site do Ministério da Educação (MEC), vinculados à Secretaria da Educação Básica, como: 1. O Clique Escola é um aplicativo gratuito que visa incentivar o acesso da comunidade escolar e da sociedade às principais informações educacionais e financeiras da escola. 2. O PDDE Interativo – executado pela Diretoria de Articulação e Apoio às Redes de Educação Básica, é uma ferramenta on-line de apoio ao planejamento e à gestão escolar mantida pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC), que disponibiliza a todas as escolas públicas estaduais, distritais e municipais, uma metodologia de planejamento estratégico composta por um diagnóstico da situação atual da escola e por um plano de ações voltado a atacar os principais problemas identificados. 3. O Programa de Inovação Educação Conectada – instituído pelo Decreto n. 9.204, de 23 de novembro de 2017, é executado pela Diretoria de Articulação e Apoio às Redes de Educação Básica, no âmbito da Coordenação-Geral de Tecnologia e Inovação da Educação Básica (CGTI). Tem por objetivo geral apoiar a universalização do acesso à internet em alta velocidade e fomentar o uso pedagógico de tecnologias digitais na Educação Básica. Novas diretrizes reforçam uso da tecnologia nos processos de aprendizagem. Disponível em: http://educacaoconectada.mec.gov.br/todas-noticias/219-novas-diretrizes- reforcam-uso-da-tecnologia-nos-processos-de-aprendizagem. Na prática, o que vem acontecendo é uma apropriação cada vez maior das TICs por meio dos professores que atuam na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Entretanto, ainda encontramos muitos professores resistentes ao uso de ferramentas tecnológicas. Consideramos importante que haja compreensão de que não se trata de abandonar as metodologias que já eram utilizadas, se elas forem consideradas apropriadas ao ensino proposto. Esse uso deve ser planejado e exercitado pelo professor a fim de que haja segurança na utilização junto com os estudantes. Outra questão importante nessa discussão é que o professor precisa conhecer e dominar a ferramenta que deseja utilizar. Ressaltamos que, na maioria das vezes, as crianças já conhecem algumas delas e utilizam em seu cotidiano, no entanto, isso não se relaciona com os objetivos didáticos e pedagógicos pretendidos pelo professor. 46 CAPÍTULO 3 • O PAPEL DO DOCENtE NO ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA FRENtE AOS DESAFIOS DA SOCIEDADE CONtEMPORÂNEA O docente precisa levar em consideração a importância do desempenho autoral das crianças no uso das tecnologias, mas também do processo de ensino-aprendizagem envolvido no uso e nas reflexões sobre as tecnologias de informação e comunicação. Figura 15. Criança utiliza óculos de realidade virtual. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/toddler-girl-vr-glasses-home-learning-1747113506. Palestra Marcelo Gleiser, cientista e vencedor do Prêmio Templeton, no IAB Connecting Leaders, 2019. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LPNuzHyyu2U. Como fazer uma videoaula e virar um professor youtuber? | E aí, professor? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Dm8l0wuk88Q Desafios e ferramentas para o Ensino não Presencial | E aí, professor? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Biy1mMmncng. O que vimos neste Capítulo? » abordagens didáticas das Ciências Humanas e da Natureza para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. » o uso de diferentes linguagens no ensino de Ciências, História e Geografia. » a utilização das tecnologias nas aulas de CiênciasHumanas e Ciências da Natureza. » estratégias de planejamento das aulas de História, Geografia e Ciências. 47 Introdução Neste capítulo vamos discutir algumas perspectivas do currículo elaborado para o ensino das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. O currículo de História, Geografia e Ciências deve ser pensado de modo a estimular a exploração do mundo pelas crianças. Esta premissa se fundamenta na proposta de exploração para construção de conhecimentos, com a compreensão da relação entre os fenômenos naturais e sociais. Da mesma maneira, os currículos devem privilegiar o entendimento das crianças sobre as explicações científicas que orientam os experimentos e as discussões. Neste capítulo também reforçamos a importância de cada professor entender o currículo proposto e como ele pode ser trazido para a realidade do cotidiano em sala de aula. Para o estudo deste capítulo levaremos em consideração as diretrizes oficiais determinadas pelo Ministério da Educação, destacando os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular. Objetivos » Conceituar currículo no âmbito do ensino de História, Geografia e Ciências para a Educação Infantil e anos Iniciais do Ensino Fundamental. » Analisar propostas curriculares para o ensino de Ciências Humanas e da Natureza. » Discutir concepções de currículo de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. » Analisar as diretrizes oficiais apresentadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais e na Base Nacional Comum Curricular. 4 CAPÍTULO PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL 48 CAPÍTULO 4 • PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL 4.1 O Currículo do Ensino das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental O ensino de História, Geografia e Ciências na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental apresenta inúmeros desafios, dentre eles, o currículo proposto para cada um destes segmentos da educação. No que diz respeito à Educação Infantil, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. 9.394/1996, houve uma mudança muito significativa, pois essa etapa da educação escolar começou a ser tratada legalmente como uma etapa da Educação Básica, com o objetivo de desenvolver integralmente a criança de 0 a 5 anos de idade. E o que isso representa na prática? Que as políticas educacionais passaram a considerar a educação das crianças nesta faixa etária, tendo em vista seu “desenvolvimento físico, psicológico, intelectual e social, complementado a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996). Antes desta lei, a Educação Infantil era entendida por parte dos gestores como uma etapa em que deveria ser privilegiado o assistencialismo, e não havia uma orientação educativa claramente destinada ao público desse segmento. Em relação às diretrizes para os anos iniciais do Ensino Fundamental, consideramos que a LDB n. 9.394/1996 também teve um papel significativo na maneira como os currículos passaram a ser pensados e nas diferentes apropriações desse currículo por parte dos professores das redes públicas e particulares do ensino. Em se tratando dos anos iniciais do Ensino Fundamental, podemos destacar que a LDB de 1996 também representou mudanças significativas no currículo e no entendimento do que deveria ser ensinado às crianças, quando se tratava de Ciências Humanas e da Natureza. A dimensão formativa se relacionava com a criticidade, reflexão e investigação, buscando estimular os estudantes para a compreensão da cidadania, assim como os direitos e deveres civis e sociais. Educação infantil e primeira infância | Palestra | Formação Carioca 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WNa2o8RSvqI. Outro ponto importante trazido pela LDB n. 9.394/1996 foi a inclusão – por meio do texto do art. 26 – dos princípios de proteção e defesa civil e a educação ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios (BRASIL, 1996, [s.p]). A partir das reflexões trazidas para o campo do ensino das Ciências Humanas e da Natureza, o currículo passou a incorporar as discussões sobre o que se chamou de “alfabetização científica”. 49 PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 4 A “alfabetização científica” passou a ser entendida como forma de ampliar os conhecimentos dos estudantes, de modo que eles pudessem compreender as questões que estavam envolvidas nos debates científicos e de que maneira elas se relacionavam a outros aspectos da História, da Geografia e da Filosofia. Muitos debates foram organizados nas universidades e nos espaços de educação não formal buscando criar espaços para reflexões que contribuíssem com a apropriação dessas propostas ao currículo das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza, por meio das práticas que seriam criadas pelos docentes das escolas de Educação Básica. Alfabetização Científica e Criança: Análise de Potencialidades de uma Brinquedoteca. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983- 21172019000100303&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Além da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, temos o Plano Nacional de Educação (PNE). O PNE em vigência atualmente foi aprovado em 2014 (Lei n. 13.005/2014) por meio do qual se desenvolve um diagnóstico da situação educacional do país, e, a partir disso, são determinados os princípios, diretrizes e estratégias para as metas das políticas públicas de educação, buscando eliminar os problemas no sistema educacional. O PNE é um norteador das metas e dos caminhos para alcançar os objetivos propostos para a educação do país. O PNE possui 254 estratégias organizadas em 20 metas que estão propostas para serem alcançadas ao longo de uma década (até 2024) e estão voltadas para objetivos como: garantia do direito à educação básica de qualidade, universalização do ensino obrigatório, redução das desigualdades, valorização da diversidade, valorização da profissão docente e ampliação das oportunidades educativas. Essas metas mobilizam diferentes esferas e os estados e os municípios tiveram que preparar o seu próprio plano, orientado pelo Plano Nacional de Educação, mas com adaptações para cada realidade. Para que esse desafio se concretize na realização das metas, é preciso que todas as esferas – federal, estadual e municipal – estejam unidas para que as políticas públicas sejam efetivadas e tenham continuidade nos diferentes governos. É importante entender como esses delineamentos, que fazem parte da história do ensino de História, Geografia e Ciências, contribuem para o entendimento do momento atual dessa disciplina no cenário que encontramos na Educação Básica. Também ressaltamos que, assim como Queiroz e Gomes (2020), consideramos o currículo como uma construção social e histórica, em decorrência de muitas disputas no interior de cada comunidade disciplinar, o que resulta na valorização de algumas formas de saber. História do Ensino de Ciências na Educação Básica. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/26/historia-do-ensino-de- ciencias-na-educacao-basica-no-brasil-do-imperio-ate-os-dias-atuais. 50 CAPÍTULO 4 • PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL A Geografia e seu Processo de Ensino na Educação Básica: reflexão necessária. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/ensinodegeografia/article/view/246303/38850. Ensino de História na Educação Básica. A experiência histórica romana e o tempo presente na sala de aula. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/transversos/article/view/62326/40554. Agora provocamos você a olhar com atenção alguns objetivos do PNE como: garantia do direito à Educação Básica de qualidade, redução das desigualdades e valorização da diversidade. Eles são essenciais para pensarmos sobre duas questões muito importantes: o currículo precisa ser direcionado também para a inclusão das crianças com necessidades educativas especiais e a inclusão de crianças imigrantes de diferentes países que chegam em grande número ao Brasil. Currículo adaptado para alunos com necessidades educativas especiais. Disponível em: https://institutoinclusaobrasil.com.br/curriculo-adaptado-para-alunos-com- necessidades-educativas-especiais/. Crianças em situação de imigração na escola pública: percepções de docentes. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-15742020000100256&script=sci_arttext. “Você precisa falar português com seu filho”. Desafios para o processo de inclusão de crianças imigrantes em escolas do Rio de Janeiro Disponível em: https://rieoei.org/RIE/article/view/3541/4057. Mediações em Redes: reflexões preliminares sobre a atuação com refugiados a partir das ideias de Bruno Latour. Disponível em: https://educacaosemdistancia.unyleya.edu.br/esd/issue/view/2. Ressaltamos duas questões importantes no que diz respeito ao currículo: inclusão de crianças com necessidades educativas especiais e a inclusão de crianças imigrantes. São temas distintos e não devem ser confundidos. A importância da inclusão é destacada por nós, mas devemos entender as especificidades de cada grupo. Figura 16. Crianças na aula. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/education-children-technology-science-people-concept-789177505. 51 PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 4 4.2 Os Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia, Ciências Naturais e Temas Transversais Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) foram organizados como forma de normatizar o ensino e orientar professores a respeito das diretrizes curriculares para instituições educativas brasileiras. O documento foi elaborado com a intenção de funcionar como um norteador do trabalho docente desenvolvido na sala de aula. Essas diretrizes foram pensadas para serem adaptadas aos contextos de cada escola, em consonância com o Projeto Político-Pedagógico da unidade escolar. Dessa maneira, também se pensou em sintonia com cada realidade social e pedagógica das escolas. Segundo Garvão e Slongo (2019, p. 687) “a preocupação com a transmissão de valores, manifestada pelo Plano Decenal de Educação para Todos” reverbera em uma proposta curricular, de âmbito nacional, para a Educação Básica: os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1997). As autoras realizaram um estudo sobre as políticas educacionais, especialmente no que diz respeito à educação científica, analisando historicamente os currículos escolares e a influência da legislação e dos fatores sociais, políticos, econômicos e educacionais. Outra questão destacada pelas autoras é a relevância dessas políticas para o impulso no desenvolvimento dos cursos de pós-graduação e de pesquisas na área do ensino de Ciências Humanas e da Natureza. Segundo dados analisados pelas autoras: Muitos aspectos anunciados pelas pesquisas têm sido incorporados à formação de professores, à elaboração de novas propostas curriculares, novas metodologias e materiais didáticos para o ensino desta área, dentre outros aspectos. Perspectivas como o movimento CTS e a alfabetização e letramento têm potencializado o debate e as políticas para a educação científica, desde a infância. (GARVÃO; SLONGO, 2019, p. 693) Dessa forma, mais uma vez se pode perceber a influência de políticas públicas em outras esferas que também contribuem para o ensino na escola básica, seja por meio da formação de professores ou por meio de novos estudos que contribuem com a área de ensino de História, Geografia e Ciências. Os PCNs foram estruturados como um documento com conteúdos a serem trabalhados na escola, buscando subsidiar os professores para o desenvolvimento de práticas pedagógicas adequadas às diretrizes que buscam uma educação de qualidade, impulsionando a aprendizagem dos estudantes, por meio de reflexões que estimulam a criticidade. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf Parâmetros Curriculares Nacionais: história, geografia. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro051.pdf 52 CAPÍTULO 4 • PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro04.pdf Parâmetros Nacionais de Qualidade na Educação Infantil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tcrsmMKl67M Como versam os Parâmetros Curriculares Nacionais para Ciências Humanas: A Geografia estuda as relações entre o processo histórico que regula a formação das sociedades humanas e o financiamento da natureza, por meio da leitura do espaço geográfico e da paisagem. A divisão da Geografia em campos de conhecimento da sociedade e da natureza tem propiciado um aprofundamento temático de seus objetos de estudo. (BRASIL, 2000, p. 109) O conhecimento geográfico se compõe de áreas como a Geografia Humana e a Geografia Física que, por sua vez, também se subdividem. Esses diversos ramos têm função apenas didática, uma vez que só se pode compreender uma paisagem observando-a como um todo único integrado cujas partes influem umas nas outras. No ensino das Ciências Humanas, hoje, entendemos que mais que memorizar, precisamos compreender como rios, vegetação e serras se relacionam, como é fundamental preservar as áreas das nascentes para mantermos os mananciais de água para abastecimento das cidades. É preciso destacar que o trabalho geográfico pode se apresentar em linhas distintas de pesquisa que se identificam, principalmente, em três correntes: a geografia tradicional, a geografia quantitativa e a geografia crítica. A Geografia Tradicional se caracteriza essencialmente como um estudo descritivo do espaço. A definição mais utilizada nessa concepção afirma a Geografia como a ciência que tem por objeto a descrição da Terra na sua forma, acidentes físicos, clima, produções, populações, divisões políticas. Valoriza os aspectos físicos do ambiente a ser estudado. É também muito comum nessa visão tradicional o estímulo às memorizações, já que o trabalho pedagógico privilegia o recitativo, sem que se procure estabelecer relações entre o homem e o meio. Na Geografia Crítica o estudo deve priorizar a dinâmica do espaço geográfico em integração com a população e não a descrição pormenorizada desse ambiente. A Geografia Crítica valoriza a ideia integral do ambiente geográfico, não permite a fragmentação do espaço, sem o que seria impossível dar sentido à ação dos grupos humanos. A tendência crítica apresenta, ainda, o espaço como elemento de manifestação de poder, que interage e apresenta as relações de poder constituídas. Distingue as áreas destinadas aos determinados grupos sociais, separando-os, estabelecendo as características que demarcam os territórios sociais. A Geografia Quantitativa, a terceira abordagem teórica da ciência geográfica, se fundamenta nos dados matemáticos. As análises utilizadas baseiam-se em fluxos, gráficos, cálculos que explicam 53 PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 4 a organização espacial. Essa concepção nasceu na Europa e nos Estados Unidos e tornou-se um apoio importante para órgãos de governo e para as grandes empresas, ambos interessados emconhecer e controlar dado espaço. Em relação à História, nos últimos tempos, o saber histórico também vem sofrendo muitas transformações. A pesquisa e o ensino vêm absorvendo novos objetos, novos problemas, admitindo novas fontes documentais, além de cada vez mais se aproximar das outras disciplinas em busca de respostas que a História isoladamente não conseguiria responder. A Economia, a Sociologia, a Geografia, a Demografia e a Antropologia são algumas das ciências que se mostram importantes para o conhecimento histórico. No tocante ao ensino de Ciências, as últimas décadas trouxeram uma apropriação com os estudos desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos, com a temática CTS – Ciência-Tecnologia- Sociedade – buscando trazer para os currículos de ensino de Ciências, a compreensão sobre a relação entre o desenvolvimento científico e tecnológico do País e os aspectos sociais. O movimento CTS teve influência nos currículos de Ciências de diferentes países do mundo. Alguns novos objetos têm sido incorporados ao repertório historiográfico, como os temas que envolvem as mentalidades (formas de pensar e sentir), que podem ser exemplificados por meio do estudo das manifestações de racismo ou do machismo, ou o medo e a sexualidade, ao largo de um longo período da História. Para se aprofundar na História das Mentalidades, sugerimos a leitura da entrevista do professor Igor Teixeira sobre a obra de Jacques Le Goff. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/184273/000920667.pdf. Nesse sentido, a professora Miriam Krasilchick (1992, p. 8) destaca que, naquele momento, para atender à nova sociedade que se apresentava, o currículo deveria levar em conta um princípio básico, que segundo ela, deveria ser um reflexo das relações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade. Ainda segundo a professora, esta análise não poderia ser isolada dos fatores sociais, éticos e de valores, “pois estes fazem parte do indivíduo e de suas relações, sendo por eles afetados”. Segundo Krasilchik e Marandino (2004, p. 26), a expressão “alfabetização científica” trazia uma proposta de reunir o letramento científico com as propostas diretamente ligadas ao ensino de Ciências, a fim de formar um estudante que pudesse compreender opiniões sobre ciência e tecnologia, além de participar da cultura científica. De forma geral, o cidadão poderia exercitar essa participação individual ou coletivamente, de modo que lhe fosse mais apropriado. Essas duas professoras e pesquisadoras do campo das Ciências, particularmente no que diz respeito à formação de professores e educação em espaços não formais, foram muito importantes nas propostas educativas desenvolvidas para ensinar Ciências em diferentes contextos (escolas, museus, universidades). Elas produziram vários artigos, livros e documentos que contribuíram para fundamentar esse campo e continuam produzindo reflexões relevantes para o ensino das Ciências da Natureza. Professora Martha Marandino 54 CAPÍTULO 4 • PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL Disponível em: http://www4.fe.usp.br/acesso-rapido4/docentes/ativos. Professora Myriam Krasilchik Disponível em: http://www4.fe.usp.br/acesso-rapido4/docentes/aposentados. Nos anos que sucederam a publicação dos PCNs, alguns educadores criticaram a concepção e fundamentação do documento, em virtude de alguns pontos como a homogeneização dos conteúdos e a determinação de “conteúdos mínimos” para o currículo. No artigo “Parâmetros Curriculares em Questão”, Moreira (1996, p. 16) questiona diversos aspectos dos PCNs dentre eles, a ausência de referências às experiências discutidas em diferentes estados brasileiros, priorizando experiências internacionais. Além desse ponto, o autor critica a hegemonia do construtivismo nos PCNs sem trazer outras teorias e proposições educativas. Uma premissa importante que destacamos é a forma de considerar a criança no centro do processo educativo, apontando a importância do brincar e interagir no ambiente escolar, para que sejam efetivadas trocas que estimulam a aprendizagem. O processo de aprendizagem deve ser significativo, por meio de práticas que estimulem a autonomia. 4.3 A Base Nacional Comum Curricular: Campos de Experiência, Ciências Humanas e Ciências da Natureza Outro documento normativo importante é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para diferentes segmentos da educação brasileira, tanto em instituições públicas quanto privadas. A BNCC é o documento que orienta os currículos escolares e propostas pedagógicas para a Educação Infantil, para o Ensino Fundamental e Médio. Seu principal objetivo foi normatizar as aprendizagens essenciais que devem estar contempladas no currículo, a fim de garantir o direito à aprendizagem e o pleno desenvolvimento de todos os estudantes. A BNCC é o instrumento norteador do ensino ofertado nas instituições públicas e privadas do território nacional, pois indica os conhecimentos, competências e habilidades que todos os estudantes devem desenvolver durante a escolaridade básica. A BNCC que começou a ser discutida em 2014 no Fórum Nacional de Educação teve um longo processo de reflexões e propostas para aquilo que se delineava como uma base comum para os currículos desenvolvidos em escolas públicas e privadas em todo o país. O ano de 2015 foi marcado por movimentos importantes para a elaboração da Base Nacional Comum, e a Portaria n. 592 instituiu a Comissão de especialistas para a elaboração da proposta da Base Nacional Comum Curricular. No site do MEC você encontra um histórico da construção da BNCC. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/historico/. 55 PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 4 Assim, podemos afirmar que após vários seminários com professores, gestores e especialistas para discussões da proposta inicial, foram elaborados pareceres a respeito dessas versões e, em abril de 2017, chegou-se à versão final que foi enviada ao Conselho Nacional de Educação (CNE). Posteriormente à homologação da BNCC, o Ministério da Educação iniciou um processo de capacitação dos professores para a implementação da Base nos sistemas de educação municipais e estaduais, bem como as adequações que fossem necessárias para alcançar essa meta. Conheça o site e entenda a Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base. A BNCC está organizada por meio de um conjunto de competências relacionadas com cada segmento, assim como as orientações para o atendimento do que é proposto. O documento apresenta uma série de competências que serão assimiladas pela criança no decorrer da vida. Estas buscam atender a algumas metas como o processo de desenvolvimento que assegure um caminhar do estudante para a alfabetização ser concretizada até o segundo ano do Ensino Fundamental. Entre as competências da Educação Infantil estão a valorização do conhecimento apreendido na sala de aula e sua relação com a realidade, o livre exercício da curiosidade intelectual, o desenvolvimento do senso estético para entender e valorizar manifestações culturais, o contato com diferentes linguagens e o estímulo ao uso de tecnologia de informação e comunicação de maneira crítica e reflexiva. Figura 17. Educação Infantil. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/nursery-children-playing-teacher-classroom-1247434123. BNCC na Educação Infantil. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#infantil. BNCC do Ensino Fundamental. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6UlZZmseQwU. 56 CAPÍTULO 4 • PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL No que diz respeito ao Ensino Fundamental, a BNCC apresenta um modelo curricular que propõeum diálogo entre as experiências escolares e o mundo exterior. Privilegia a troca de experiências relacionando o que é aprendido na sala de aula com aquilo que o estudante vivencia em outros espaços. O currículo é entendido com um dinamismo que se insere nessa proposta e não apenas um documento estanque. Os conhecimentos científicos e os diferentes saberes serão apresentados por meio do currículo escolar, porém estarão sempre em diálogo com outros conhecimentos trazidos pelos estudantes. Assim, o documento foi estruturado em áreas do conhecimento, em vez de disciplinas, a saber: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e o Ensino Religioso. Em cada área existem competências específicas, que traduzem o que precisa ser trabalhado de maneira geral. Em seguida, temos os componentes curriculares das áreas, na qual é apresentado o que precisa ser trabalhado em especial, mas sempre por meio de uma articulação com a competência geral e com as dez competências gerais. Ou seja, a proposta de diálogo entre as competências e todas as etapas do currículo é fortalecida por esta estrutura. Na BNCC, o currículo se organiza com unidades temáticas (reúne os objetos do conhecimento), os objetos do conhecimento (envolvem conteúdos, conceitos e processos) e as habilidades (objetivos de aprendizagem). Para entender o que são competências e habilidades, apresentamos um breve resumo das reflexões sobre a BNCC, assim consideramos: a BNCC foi estruturada tendo como objetivo o desenvolvimento de diferentes competências. Para alcançar essa meta, a proposta define habilidades necessárias. As habilidades são os objetivos que o professor quer alcançar e envolvem o que deve ser trabalhado, o contexto onde o processo está inserido e o processo cognitivo que deve ser mobilizado para ajudar o aluno nesse processo. Importante atentar a uma das premissas da BNCC que trata da progressão, pois isso quer dizer que o currículo é espiralar, ou seja, não é estático. Dessa maneira, a complexidade vai se ampliando, sempre com a promoção do diálogo entre as áreas e as diferentes etapas. Algumas habilidades serão retomadas ao longo desse trajeto em diferentes séries, ampliando a complexidade e estimulando os estudantes a consolidarem os conhecimentos. BNCC: o que são habilidades e consequências Disponível em: https://blog.khanacademy.org/pt-br/bncc-o-que-sao-as-habilidades-e- competencias/. Base é currículo? Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/14019/base-e-curriculo-18-perguntas-e- respostas-sobre-a-bncc-do-ensino-fundamental. 57 PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL • CAPÍTULO 4 Para se aprofundar na BNCC, sugerimos os seguintes materiais: Você sabe como trabalhar as áreas do conhecimento no Ensino Fundamental? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6UlZZmseQwU&t=5s. Figura 18. Criança pensativa. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/thoughtful-little-girl-six-years-old-1410238757. De maneira geral, com o conhecimento dos documentos aliado com experiências e reflexões na comunidade escolar, muitos professores e gestores compreendem que não se trata de uma coleção de normas rígidas para determinar como deve ser o trabalho docente. Esse entendimento vai fazendo com que haja incorporação das normativas oficiais, por meio de propostas que visam a mudanças nos conteúdos ensinados e nas estratégias didáticas adotadas nas práticas educativas. Ressaltamos que é importante conhecer os documentos e refletir sobre a relevância deles para as práticas desenvolvidas nos espaços escolares. Buscamos trazer alguns elementos para auxiliar esta reflexão, mas é muito importante que professores conheçam os documentos norteadores, assim como as práticas curriculares desenvolvidas em diferentes contextos. Mais importante que seguir as normas preconizadas é entender como os documentos ajudam a repensar o papel da escola e dos professores no ensino-aprendizagem das crianças de diferentes segmentos. Compreender a legislação e as diferentes normativas contribui para pensar sobre a educação, mas isso não deve “engessar” a prática dos professores. Também é importante, como já foi colocado neste livro, conhecer para compreender e questionar. Além disso, é relevante entender os percursos que a história da Educação segue e como as transformações foram conquistadas, ampliando as possibilidades de práticas educativas propositoras de muitas aprendizagens. 58 CAPÍTULO 4 • PERSPECtIvAS CuRRICuLARES PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS E DA NAtuREzA NA EDuCAçãO INFANtIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FuNDAMENtAL O que aprendemos nesse capítulo? » a relação entre alfabetização científica e o currículo no âmbito do ensino de História, Geografia e Ciências para a Educação Infantil e anos Iniciais do Ensino Fundamental. » as diferentes concepções de currículo de Ciências Humanas e Ciências da Natureza. » as diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais para História, Geografia e Ciências. » a organização da Base Nacional Comum Curricular. » as aprendizagens essenciais que devem estar contempladas no currículo de acordo com a BNCC. 59 Introdução Este capítulo tem como objetivos discutir algumas das principais estratégias metodológicas para o ensino de Ciências da Natureza na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. A metodologia para ensinar Ciências às crianças deve ser propositiva de estratégias que estimulem a construção de conhecimentos, por meio de leituras, experiências, levantamento de hipóteses e diferentes tipos de desafios com explorações. A proposta deve estar em consonância com o entendimento do que é Ciência e como o conhecimento desse campo é desenvolvido. Essa perspectiva está diretamente relacionada com o entendimento da existência de diferentes saberes. Assim como a proposta da BNCC, a metodologia deve privilegiar o currículo em espiral, onde os estudantes vão aumentando seu conhecimento gradativamente. Objetivos » Discutir a metodologia para o ensino de Ciências Naturais. » Analisar propostas metodológicas para abordar temas do ensino de Ciências da Natureza na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. » Conceituar Educação Ambiental e Educação Sexual no ensino de Ciências para Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. » Apontar algumas práticas pedagógicas para o ensino de Ciências. » Discutir possibilidades para as aulas de Ciências da Natureza em diferentes contextos. 5 CAPÍTULO MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA 60 CAPÍTULO 5 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA 5.1 A Metodologia do Ensino das Ciências da Natureza na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental Figura 19. Crianças visitando o museu. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/children-look-skeleton-ancient-whale-museum-1580664571. As crianças fazem perguntas desde cedo. Os “porquês” ajudam a entender o mundo e construir conhecimentos continuamente. Quando pensamos particularmente no ensino de Ciências, devemos considerar que nesta disciplina temos oportunidades de estimular as crianças a continuarem a fazer perguntas e ampliar os seus conhecimentos gradativamente a respeito dos conhecimentos científicos. E você deve estar se perguntando: qual é a importância da metodologia para ensinar ciências às crianças? Nossa resposta está embasada no que dizem os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) ao tratar do ensino de Ciências Naturais no Ensino Fundamental: Mostrar a ciência como um conhecimento que colabora para a compreensão do mundo e suas transformações, para reconhecer o homem como parte do universo e como indivíduo, é a meta que se propõe para o ensino da área na escola fundamental. (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997, p. 21) Assim, nossa proposta é abordar estratégias metodológicas que contribuampara essa compreensão a respeito do mundo, entendendo que somos potencialmente importantes nos processos de transformação do planeta em que vivemos. 61 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA • CAPÍTULO 5 Outra parte muito importante diz respeito ao entendimento do papel de cada um nas transformações que estão acontecendo na natureza, no desequilíbrio ambiental e na capacidade de estabelecer novas práticas para mudar o cenário atual. Entendimento que deve trazer a compreensão de ações individuais e coletivas, assim como aquelas que podem ser construídas desde já cotidianamente, e as outras que serão efetivadas em longo prazo. Tudo isso passa pela capacidade de dialogar com as crianças, de maneira que elas entendam essas questões de acordo com o nível de compreensão que possuem e utilizando o conteúdo teórico-prático que estão construindo. A metodologia deve sempre estimular as crianças nas perguntas que já trazem, criando possibilidades para novas perguntas e muitos questionamentos enriquecedores. Memes podem ser ferramentas de ensino? Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/pemcie/2019/06/12/memes-podem-ser- ferramentas-de-ensino/. 5.2 A Educação Ambiental no Ensino das Ciências da Natureza, na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental Figura 20. Educação Ambiental. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/portrait-smiling-african-american-elementary- schoolgirl-2186061157. 62 CAPÍTULO 5 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA A proposta de trabalho com questões relacionadas à temática ambiental deve perpassar todas as áreas de conhecimento. Alguns professores acreditam que devem elaborar aulas específicas de Educação Ambiental. Muitas vezes, acontecem situações em que as crianças trazem curiosidades e/ou dúvidas a respeito de assuntos extremamente importantes que possibilitam a abordagem desta temática. Os noticiários jornalísticos, por exemplo, são uma fonte de matérias que estimulam proposições a respeito da ciência e temas ambientais. É importante perceber o interesse das crianças e aproveitá- lo nas aulas, no momento que trazem suas demandas por conhecimento. Algumas vezes, há um planejamento para o trabalho com outros conteúdos, porém uma mudança para adaptar a aula aos interesses das crianças pode possibilitar o envolvimento de todos nas reflexões atividades práticas. Soares e Salomão (2016) refletem sobre o ensino de ciências nas séries iniciais e afirmam que esta área contribui para o início do processo de alfabetização científica das crianças e, por meio desta, problematizam conteúdos e iniciam práticas de investigação, construindo a compreensão da postura investigativa. Outro recurso muito interessante e estimulante para abordar os conhecimentos científicos é a leitura, por meio de atividades com literatura, articulada com temas de ciência, saúde e ambiente. Existem trabalhos científicos que refletem a respeito dessa estratégia metodológica (SALOMÃO, 2011; QUEIROZ; GOMES, 2020) e nos aproximamos dessas reflexões entendendo-as como potentes para o trabalho nas Ciências da Natureza. No livro da disciplina “Educação e Meio Ambiente” aprofundamos a importância das temáticas ambientais no currículo escolar, pois, por meio delas, é possível garantir a apropriação de conteúdos culturais, bem como a instrumentalização para a prática social transformadora (ASSUMPÇÃO, 2020). “Minuto da Terra”, um canal no YouTube com vídeos curtos e divertidos para todas as idades! Uma maneira de aprender ciência e histórias sobre o nosso incrível planeta, o universo e tudo mais! São quase 200 vídeos cheios de criatividade e um toque de humor. Disponível em: https://www.youtube.com/user/MinutoDaTerra. “Professor de Ciências também pode ensinar leitura”. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/14121/professor-de-ciencias-tambem-pode- ensinar-leitura. O livro “Metodologias em Educação Ambiental” apresenta vários autores refletindo sobre teoria e prática. Disponível em: https://www.academia.edu/44559987/METODOLOGIAS_EM_ EDUCA%C3%87%C3%83O_AMBIENTAL. 63 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA • CAPÍTULO 5 5.3 A Educação Sexual no Ensino das Ciências da Natureza, na Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental Figura 21. Menino e menina na escola. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cheerful-teenagers-backpacks-holding-notebooks-on-551763670. Segundo a BNCC, na área das Ciências da Natureza, está proposto que: Nos anos iniciais, pretende-se que, em continuidade às abordagens na Educação Infantil, as crianças ampliem os seus conhecimentos e apreço pelo seu corpo, identifiquem os cuidados necessários para a manutenção da saúde e integridade do organismo e desenvolvam atitudes de respeito e acolhimento pelas diferenças individuais, tanto no que diz respeito à diversidade étnico-cultural quanto em relação à inclusão de alunos da Educação Especial. (BNCC, 2017, p. 325). Educar, nesta perspectiva, é promover um espaço de diálogo em que as crianças se sintam seguras para perguntar, questionar e ampliar aquilo que já apreenderam. É muito importante que esta formação seja pautada nos conhecimentos científicos, com a utilização de nomes corretos e conceitos que não estejam baseados em fundamentações religiosas ou crenças. Segundo a Unesco (2014), no século XXI ainda encontramos sistemas de ensino que evitam tratar dos temas relacionados com sexualidade, assim como profissionais da educação e familiares. Como consequência, a agência aponta o despreparo de jovens para lidar com a sua própria sexualidade, especialmente no que diz respeito a doenças sexualmente transmissíveis e gravidez (que acontecem precocemente em grande número). Buscando promover a construção de currículos inclusivos que contemplem essa realidade, por meio do acesso a ferramentas para a promoção dessa ação, a Unesco no Brasil organizou encontros regionais em Brasília, São Paulo e Recife entre 2009 e 2013 e eles resultaram no documento “Orientações técnicas de educação em sexualidade para o cenário brasileiro”. 64 CAPÍTULO 5 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA Em 2018 foi publicada uma nova edição do guia, reafirmando a disciplina dentro de parâmetros de direitos humanos e igualdade de gênero. Importante destacar que o guia é baseado em evidências científicas e tem como proposta a promoção das relações sexuais de forma positiva e centrada no melhor interesse dos jovens. “Guia sobre educação sexual prioriza direitos e igualdade de gênero”. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2018/01/1606462. “Precisamos falar de sexualidade e gênero na escola? (parte 1)”. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/pemcie/2017/12/15/genero-sexualidade-escola-1/. A ONU Mulheres, agência vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), ressalta que as autoridades nacionais precisam formular currículos abrangentes para estudantes de 5 a 18 anos. Por meio do “Guia sobre educação sexual prioriza direitos e igualdade de gênero”, publicado em 2018, indica que um direcionamento de educação para a promoção da responsabilidade sobre a saúde reprodutiva e isso vai no sentido do combate à evasão escolar de meninas, em virtude de gravidez na adolescência e outros assuntos relacionados com saúde sexual e reprodutiva. Tal documento apresenta dados como: em algumas partes do mundo, duas a cada três meninas não sabem o que acontece quando começam a menstruar. Em segundo lugar, são apontados problemas como gravidez precoce, complicações na gestação e no parto, indicados como segunda causa de morte entre meninas de 15 a 19 anos. Assim, para atuar na docência, com os temas propostos para o ensino de Ciências, é preciso criar espaços em que os estudantes construam sua “leitura do mundo”, entendendo alguns caminhos para a aprendizagem e tendo o professor como um mediador nesse processo. A compreensão das questões relacionadas com sexualidade,gênero e direitos humanos propiciam a formação de um grande movimento global em que as mudanças serão concretas, porque esses estudantes serão homens e mulheres com o entendimento amplo sobre o papel de cada um para efetivar as mudanças necessárias. ONU Mulheres Brasil Em 2020, a Plataforma de Ação de Pequim completou 25 anos. Para marcar a data, a ONU Mulheres mobilizou parcerias em torno da campanha #GeraçãoIgualdade. O objetivo é reforçar os compromissos dos países para que mulheres e meninas tenham um futuro igualitário. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UpHLHMrTrwc&list=PLvMXkb8tWg0hNwJDhaPBIN8gs64OPta1w. “Violência contra as mulheres e meninas é pandemia invisível”. Disponível em: https://www.onumulheres.org.br/noticias/violencia-contra-as-mulheres-e- meninas-e-pandemia-invisivel-afirma-diretora-executiva-da-onu-mulheres/. 65 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA • CAPÍTULO 5 Informações básicas sobre o movimento ElesPorElas (HeForShe) Disponível em: https://www.onumulheres.org.br/elesporelas/comoparticipar/. Dessa maneira, é preciso compreensão dessas questões e sensibilidade para entender como trazê-las para dentro da sala de aula, relacionando-as com outros conteúdos estabelecidos na proposta curricular e fazendo as adaptações necessárias para cada segmento e faixa etária. O que queremos explicitar é que as propostas deverão ser adequadas para Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, pois em cada segmento existem especificidades que precisam ser respeitadas. A utilização de diferentes linguagens, materiais e métodos para crianças de diferentes idades é um desafio que se apresenta, particularmente neste tema, mas existem muitas possibilidades interessantes que vão potencializar o trabalho do professor. 5.4 Práticas Pedagógicas no Ensino das Ciências da Natureza A questão dos livros didáticos é extremamente relevante para o ensino de Ciências, pois refletem tendências e seguem parâmetros determinados por meio dos documentos legais e das diretrizes de ensino. O livro didático é um recurso muito utilizado pelos professores dos diferentes segmentos, algumas vezes como o elemento central do planejamento das aulas. Consideramos o livro didático como um material de referência importante, porém, é necessário que o docente compreenda sua função e duas fragilidades, em alguns casos. O que buscamos explicar é que o livro didático não pode ser o único material utilizado para as aulas de Ciências. Além disso, é preciso analisar criticamente o livro adotado pela escola para perceber possíveis problemas relacionados com conceitos e práticas. Figura 22. Ferramentas de aprendizagem. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/concept-design-children-education-1664885851. 66 CAPÍTULO 5 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA No Brasil, os livros didáticos são avaliados e disponibilizados pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), assim como outros materiais de apoio às práticas educativas nas escolas públicas de Educação Básica nas diferentes redes (municipal, estadual e federal) e nas instituições de Educação Infantil comunitárias, confessionais e filantrópicas. Os livros didáticos são distribuídos gratuitamente em ciclos diferentes para os quatro segmentos da Educação Infantil até os anos finais do Ensino Fundamental. O Decreto n. 9.099, de 18 de julho de 2017, unificou as ações de aquisição e distribuição de livros didáticos e literários, anteriormente contempladas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Com nova nomenclatura, o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) também teve seu escopo ampliado com a possibilidade de inclusão de outros materiais de apoio à prática educativa para além das obras didáticas e literárias: obras pedagógicas, softwares e jogos educacionais, materiais de reforço e correção de fluxo, materiais de formação e materiais destinados à gestão escolar, entre outros. Para conhecer o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) acesse o link https:// www.gov.br/mec/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/secretarias/secretaria-de-educacao- basica/programas-e-acoes/programa-nacional-do-livro-e-do-material-didatico-pnld. Você deve estar se perguntando: e nas outras escolas que não são públicas? Normalmente os gestores e professores selecionam os livros didáticos para adoção no ano seguinte e esses livros são comprados nas livrarias pelos responsáveis dos estudantes. Existem escolas que adotam apostilas produzidas por grupos educacionais privados. Também existem caso de escolas que não adotam livros didáticos e produzem sua própria apostila para o trabalho educativo. A questão que consideramos relevante destacar é a importância de o professor entender as possibilidades do uso do livro didático, assim como a necessidade de complementação com outros materiais produzidos na própria escola ou em outras instituições educativas formais e não formais. Conhecer discussões sobre currículo de Ciências e projetos educativos na área contribui muito para as práticas e amplia o entendimento sobre o uso do livro didático. Conheça o site “Currículo nas Escolas”. Você vai se encantar! Ao integrar pesquisadores de diferentes universidades em quatro cidades de três regiões diferentes, o projeto se utiliza de narrativas biográficas de professores com o objetivo de criar uma metodologia de produção curricular nas e com as escolas. Disponível em: https://www.curriculonasescolas.com.br/. Para além do livro didático, é preciso ter clareza de que os laboratórios podem ser ótimos espaços de aprendizagem, mas a falta desse espaço na escola não deve impedir o professor de realizar um bom trabalho no que diz respeito ao ensino de Ciências. 67 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA • CAPÍTULO 5 Existem várias alternativas de experiências que podem ser desenvolvidas em sala com recursos de baixo custo. Outra possibilidade interessante é programar visitas a espaços como museus e centros de ciências onde são realizadas atividades práticas simulando a atividade desenvolvida em um laboratório. Atualmente, não é difícil encontrar sites com informações, cursos e materiais pedagógicos para o ensino de Ciências, divulgados gratuitamente na internet. Figura 23. Criança no museu. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/child-studying-electrical-discharges-lab-753406318. Também existem grupos de pesquisa e professores que divulgam atividades práticas de Ciências em seus perfis criados nas redes sociais como Facebook e Instagram. A pandemia da Covid-19 potencializou esses processos em virtude da urgência das aulas no ensino remoto. Professores que já possuíam experiências anteriores nesse campo passaram a produzir vídeos explicativos com orientações para outros docentes. Isso também aconteceu nos museus e centros de ciência que transformaram algumas atividades presenciais para divulgação na internet. Assim, concluímos que as saídas de campo podem ser um excelente recurso para a aprendizagem dos conceitos científicos. Podemos citar como exemplos de espaços de visitação os museus, as áreas de preservação ambiental com propostas educativas, os espaços temáticos criados em instituições públicas e privadas, assim como ações desenvolvidas em datas especiais como a “Semana Nacional de Ciência e Tecnologia”, “Museus de Porta Aberta”, dentre outras que acontecem no Brasil. Para conhecer iniciativas interessantes é preciso pesquisar, analisar algumas propostas e realizar as práticas que se pretende levar para a sala de aula. Só depois disso o professor deve desenvolver determinada atividade com os seus alunos. Do contrário, pode haver imprevisto e até mesmo acidentes causados pelo desconhecimento das possibilidades envolvidas em determinada proposta. 68 CAPÍTULO 5 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA “Projetode extensão do Design desenvolve materiais pedagógicos para a educação básica”. Disponível em: https://ufmg.br/comunicacao/noticias/projeto-de-extensao-do-design-desenvolve- materiais-de-ensino-para-educacao-basica. Os museus de Ciências são espaços muito atrativos e sempre agradam estudantes das mais diferentes idades e segmentos. Esses espaços – chamados espaços não formais de educação – cresceram muito no Brasil a partir dos anos 2000 e foram intensificando suas ações junto ao público docente e discente. O que queremos dizer é que existem atividades destinadas aos professores (que vão realizar a visita sem estudantes) e outras destinadas aos estudantes (que realizam a visita junto dos seus professores). As atividades para grupos de professores se destinam a orientar o planejamento das visitas com estudantes e/ou formação continuada. Aqui temos um aspecto muito importante para destacar: o professor precisa conhecer o espaço que vai visitar com os estudantes para que vivencie essa experiência em primeiro lugar sem alunos. Dessa forma, ele poderá vivenciar todas as experiências, conhecendo as propostas de maneira interativa. Dessa maneira, ao realizar a visita ele poderá perceber como os estudantes vivenciam essa experiência, observando que partes da exposição foram mais estimulantes ou suscitaram mais questionamentos. No retorno ao espaço escolar podem acontecer “Rodas de Conversa” e outras atividades que sejam registros da experiência vivenciada pelo grupo. Da mesma maneira, podem ser realizadas atividades na escola, anteriores à visita, com a proposição de investigar as expectativas dos estudantes sobre a saída. Descubra os museus que existem na região onde você vive. O Guia de Museus Brasileiros vai ajudar! Disponível em: https://antigo.museus.gov.br/guia-dos-museus-brasileiros/. Um ponto requer atenção: a visita não pode se tornar uma obrigação nem somente uma parte introdutória de atividades avaliativas. O que queremos ressaltar aqui é que esse tipo de atividade é muito prazeroso, mas também traz ansiedade e excitação aos estudantes e o professor precisa compreender esse contexto para se envolver e colaborar com os seus alunos para o melhor desenvolvimento da visita. Procure conhecer os museus da sua cidade e as propostas oferecidas. Outra estratégia interessante é fazer da visita uma proposta em parceria com outros docentes criando uma ação interdisciplinar, possibilitando aos estudantes a compreensão de aspectos científicos envolvidos em determinado contexto histórico, por exemplo. 69 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA • CAPÍTULO 5 Simplificando: uma visita a um museu de história, por exemplo, pode ser uma maneira de abordar aspectos históricos, geográficos, czientíficos de determinada época, abordando temas diferentes com diversas estratégias pedagógicas. O professor não precisa deixar de aproveitar essas atividades caso não seja um museu de Ciências. A literatura também é uma fonte de conhecimentos que pode ser potencializada por meio de abordagens diferentes que levem em consideração aspectos científicos. O potencial dos livros de literatura para abordar conteúdos da Ciência já é reconhecido por muitos professores e isso também é tratado por pesquisadores da educação e do rnsino de Ciências (PEREIRA; SALOMÃO; LOURO, 2012). “Análise do processo de alfabetização científica em crianças em espaços de educação não formal e divulgação da ciência”. Disponível em: https://periodicos.utfpr.edu.br/actio/article/view/10533. A utilização dos livros de literatura como um material didático é considerada por especialistas como uma estratégia que contribui com a Alfabetização Científica. Por meio da leitura literária é possível abordar conhecimentos científicos, estimular a leitura, a consciência crítica e elaboração de novas narrativas e produções textuais. A pesquisadora Cecilia Galvão, do Departamento de Educação e Centro de Investigação em Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ao buscar evidenciar o diálogo possível entre saberes diferentes, afirma que Ciência e literatura, apesar de terem linguagens específicas e métodos próprios, podem ser valorizadas quando postas em interação, proporcionando diferentes leituras e novas perspectivas de análise. Conheça as reflexões da pesquisadora. Disponível em: https://revistas.rcaap.pt/interaccoes/issue/view/37. Disponível em: https://repositorio.ipsantarem.pt/bitstream/10400.15/225/1/C3.pdf. Alguns museus de Ciências criam atividades com textos de literatura (Contação de Histórias, adaptações teatrais, dentre outras) para tratar de temas relacionados com Ciências. Essas atividades são muito interessantes por apresentarem os conceitos e a história da Ciência de maneira lúdica e divertida. No Museu da Vida (Museu de Ciências da Fiocruz, no Rio de Janeiro) e também em outros museus brasileiros são criadas atividades utilizando o texto literário, fantoches e tapetes que auxiliam o mediador na apresentação dos temas tratados. Esta é uma metodologia que pode facilitar a abordagem de temas complexos por meio de uma linguagem que as crianças já conhecem e por meio da qual reconhecem vários elementos e organizam novas narrativas. 70 CAPÍTULO 5 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA A pesquisa desenvolvida pela pedagoga Raiana Fernanda Silvério durante sua licenciatura, nos apresenta uma ótima análise sobre o uso da literatura na Alfabetização Científica. O trabalho intitulado “Quando a Ciência e a Literatura se encontram: as potencialidades do uso de livros infantis no ensino de Ciências” demonstram como a literatura pode ser um material envolvente e estimulante para discussões sobre temas científicos. Segundo a autora, existem diferenças entre a leitura literária e os livros didáticos, entretanto pode haver uma união dos dois materiais, entendendo os livros literários como boas fontes de informação para além das histórias, principalmente no que diz respeito aos conteúdos de Ciências presentes neles. Artigo de Raiana Fernanda Silvério: Disponível em: https://www.ufjf.br/pedagogia/files/2017/12/Quando-Ci%C3%AAncia-e-literatura- se-encontram-as-potencialidades-do-uso-de-livros-infantis-no-Ensino-de-Ci%C3%AAncias.pdf. Após abordarmos algumas metodologias para o ensino de Ciências da Natureza, propomos uma reflexão sobre o processo de avaliação. Este é um dos temas mais importantes no contexto da educação. No espaço escolar existe a necessidade de um diálogo permanente entre os educadores e gestores para que possam compartilhar reflexões e práticas avaliativas com os temas abordados no ensino de Ciências, mas também nas demais disciplinas. Nesse sentido, o que se busca é uma avaliação que não seja homogeneizadora, mas que possa contribuir verdadeiramente com o processo de aprendizagem dos estudantes de maneira emancipatória. No que diz respeito aos conteúdos de Ciências, o que propomos é uma avaliação que possa contemplar apropriação de conceitos e ideias junto à compreensão dos procedimentos científicos. Para fundamentar um processo avaliativo que propicie isso, é preciso que ele seja estruturado levando em consideração princípios como respeito às diferenças, autonomia, construção de conhecimento e justiça social. “Conceitos e Práticas de Avaliação no ensino de Ciências”. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_ pde/2014/2014_uenp_cien_artigo_valdiceia_ortiz_de_oliveira.pdf. A escola possui um papel de promoção da cidadania e as suas práticas avaliativas não podem ser contrárias a esse princípio. Nessa perspectiva, o professor precisa ter clareza de suas intencionalidades e dos caminhos que o levarão aos objetivos propostos, buscando sempre se inteirar de novas reflexões sobre avaliação. 71 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS DA NAtuREzA • CAPÍTULO 5 Isso quer dizer que é preciso estudar continuamente para compreender quais são as mudanças possíveisno sistema avaliativo e como elaborar novos processos de intervenção, percebendo que aspectos precisam de atenção. Assim é possível transformar a avaliação em um processo positivo para os estudantes, como outros do cotidiano escolar. A avaliação é uma necessidade no processo educativo para que aconteça a aquisição de conhecimentos, assim como a compreensão do caminhar de cada estudante por parte dos docentes. Assim, a avaliação não deve se tornar um instrumento de reprovação e exclusão. Isso não significa abandonar as provas ou testes, mas construir esses instrumentos de maneira que eles atendam aos objetivos de um processo avaliativo coerente com os preceitos da educação democrática e inclusiva. Avaliar para obter resultados que apontem o crescimento dos alunos e as dificuldades encontradas em alguns pontos dessa caminhada – sejam eles referentes aos conteúdos e/ou métodos – que inclui docentes e discentes. O modelo de avaliação adotado retrata a escola desejada e a forma como o docente enxerga seus alunos e o processo de aprendizagem. O que aprendemos neste Capítulo: » Refletir sobre o papel do professor de ciências e sua atuação na sociedade moderna. » Elucidar aspectos da Educação Ambiental e da Educação Sexual na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. » Refletir sobre o currículo para o ensino de ciências na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. » Analisar o papel dos livros didáticos de Ciências da Natureza. » Conhecer práticas de ciências em espaços não formais de educação. » Caracterizar o papel da avaliação no ensino de ciências. 72 Introdução Chegamos ao sexto capítulo e, com ele, apresentamos algumas propostas pedagógicas para o trabalho com ensino de História e Geografia. Nosso intuito é continuar estimulando a curiosidade dos estudantes desta disciplina para que criem estratégias na busca por novos conhecimentos para o exercício docente. Desejamos que esta formação seja fundamentada em apreender conteúdos de Ciências Humanas, entendendo como eles se relacionam com a vida de todos. Como já colocado antes, é preciso que as práticas pedagógicas nas aulas de História e Geografia sejam criativas, desafiadoras e aproximem as crianças do fazer científico. Alguns conteúdos propiciam práticas muito interessantes e, atualmente, temos várias opções de cursos destinados aos professores dessas áreas, a fim de envolvê-los na produção de materiais de baixo custo. Dessa maneira, este capítulo tem como proposta apresentar práticas educativas interessantes para que o ensino de História e Geografia seja cada vez mais instigante. Objetivos » Apontar algumas práticas pedagógicas para o ensino de Ciências Humanas. » Analisar propostas metodológicas para abordar temas do ensino de História e Geografia na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. » Discutir possibilidades para as aulas de Ciências Humanas em diferentes contextos. » Analisar a contribuição da História Oral e da História Local para o ensino de História e Geografia. » Compreender as diferentes abordagens do espaço geográfico local. 6 CAPÍTULO MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS 73 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS • CAPÍTULO 6 6.1 O Uso de Documentos / Fontes no Ensino da História Ciências Humanas é um dos ramos do conhecimento mais instigantes e fundamentais para a compreensão do mundo. Seu objeto de estudo é a história da humanidade em todas as suas dimensões; é a análise da maneira como a sociedade organiza suas atividades políticas, econômicas e culturais com o objetivo de garantir sua sobrevivência; das relações humanas e suas implicações na organização da sociedade, das formas de poder instituídas, do comportamento e das ideias expressas pelos grupos sociais. Na Educação Infantil e nos anos iniciais da Ensino Fundamental é esperado que o professor apresente os conteúdos de Ciências Humanas não focado no estudo do passado em si, mas sim na ação dos seres humanos no tempo e no espaço. Superar a Geografia descritiva dos aspectos físicos das condições terrestres e a História “decoreba” de datas e grandes heróis é o que propõe as concepções metodológicas atuais do ensino de Ciências Humanas. Para tanto, pensar em novas abordagens didáticas e recursos pedagógicos é fundamental. A História nos interessa para compreendermos de onde viemos e como isso aconteceu. Para alguns, o objetivo do historiador é investigar e analisar as vivências humanas com a finalidade de produzir informações que possam ser úteis para o momento presente e, assim, poder contribuir na construção do futuro. As principais concepções historiográficas são: 1. Positivismo: o ensino tradicional é representado numa perspectiva positivista ao privilegiar os heróis, os governantes, os vencedores e os líderes como sujeitos históricos, e desconhece os vencidos, o soldado, o camponês, o homem comum, como se estes não tivessem participado do processo histórico. Privilegia o uso de documentos escritos e acontecimentos de curta duração (evento), numa sucessão ordenada de fatos que se constituem isoladamente numa articulação de causa e efeito. Os fatos se explicariam por si só, não necessitando de interpretações. 2. Marxismo: Karl Marx e Friedrich Engels afirmam que toda a produção de conhecimento é resultado de um contexto histórico determinado. Busca a crítica ao ensino tradicional, que objetiva a manutenção do status quo. Não há uma verdade única para o marxismo, pois, como já salientamos, ela é resultante da postura de quem a produz, de quem a elabora. Não há a busca por uma neutralidade inalcançável, como no caso dos positivistas. 3. Escola dos Annales: compreende que a História é uma ciência em constante construção e, para tal, o caráter científico não se apresenta como um conjunto de regras e leis rígidas. Da mesma maneira que entendem que fontes históricas vão além de exclusivamente os documentos escritos, ampliando as possibilidades da análise histórica e rompendo com a tradição conservadora positivista. Os Annales, mais precisamente Fernand Braudel, em fins dos anos de 1940, formulou a noção das temporalidades múltiplas, compreendendo que o tempo histórico não é homogêneo, nem linear, havendo três maneiras diferentes de abordá-los: o tempo longo – a estrutura (muda pouco 74 CAPÍTULO 6 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS ou quase é imperceptível: esse tempo está presente nas mentalidades, no cotidiano e em grandes estruturas como o capitalismo); o tempo médio – da conjuntura (articulação e relação dos fatos dentro de uma estrutura); e o tempo curto – o tempo do fato, do acontecimento. Nas salas de aula, a música é um recurso bastante atraente para os alunos e que auxilia o professor. Cantar (ou simplesmente colocar para tocar) é sempre muito agradável e torna o cotidiano da turma mais alegre. Diversas músicas contam histórias... talvez fosse interessante você fazer uma breve pesquisa sobre músicas desse tipo, pois elas são de grande valia para o trabalho com crianças. Figura 24. Crianças na aula de música. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-students-playing-school-orchestra-together-268247171. Veja, como exemplo, um trecho de Mulher de Atenas (1976), de Chico Buarque: Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Vivem pros seus maridos Orgulho e raça de Atenas Quando amadas, se perfumam Se banham com leite, se arrumam Suas melenas Quando fustigadas não choram Se ajoelham, pedem imploram Mais duras penas; cadenas Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Sofrem pros seus maridos Poder e força de Atenas 75 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS • CAPÍTULO 6 Quando eles embarcam soldados Elas tecem longos bordados Mil quarentenas E quando eles voltam, sedentos Querem arrancar, violentos Carícias plenas, obscenas (...) Elas não têm gosto ou vontade Nem defeito, nem qualidade Têm medo apenasNão tem sonhos, só tem presságios O seu homem, mares, naufrágios Lindas sirenas, morenas Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Temem por seus maridos Heróis e amantes de Atenas As jovens viúvas marcadas E as gestantes abandonadas Não fazem cenas Vestem-se de negro, se encolhem Se conformam e se recolhem Às suas novenas, serenas Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Secam por seus maridos Orgulho e raça de Atenas A partir desta música é possível refletir sobre o papel da mulher na sociedade ateniense e, consequentemente, na brasileira de nosso tempo. Da mesma forma, várias outras letras podem ser utilizadas como recurso pelo professor. O passado só faz sentido porque é pensado a partir do presente. Uma aula de História, igualmente, tem como ponto de partida o tempo em que vivemos. É assim, por exemplo, que a História também contribui para construir a ideia de identidade, importante à formação da cidadania e dos valores democráticos, na atualidade. 76 CAPÍTULO 6 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS Uma fonte histórica interessante e rica para as crianças são as imagens... Perceba como, dessa forma, as aulas ficarão mais produtivas e instigantes. Ao longo do século XIX, por exemplo, alguns visitantes da cidade do Rio de Janeiro admiravam- se com a beleza do povoado e deixavam registradas crônicas e relatos que retratavam de maneira bem ilustrativa a vida cotidiana da cidade, a geografia da região e o comportamento dos habitantes. Vale dar uma olhada nas pinturas de Rugendas ou de Debret para pensar a antiga capital. Aprecie esse trechinho escrito por um viajante do século XIX chamado Conde Blanchardière e reflita como usá-lo em sala de aula: As ruas são estreitas, exceto a que vai da montanha dos beneditinos até a praça, que é larga o suficiente para dar passagem a três carruagens. As casas são de dois andares e cobertas de telhas. Em frente a cada porta e janela existem gelosias como em Cádis. A praça, situada no porto, é grande, mas não pavimentada. (...) As pessoas de posses vestem-se bem e à moda francesa. As mulheres só são vistas nas igrejas (...). (BLANCHARDIÈRE, 2004, p. 112) A partir desse pequeno fragmento do relato que o viajante deixou, podemos perceber o aspecto geral da cidade: ruas estreitas, casas baixas; a praça a que ele se refere é a atual Praça XV, onde se localizava o porto da cidade, além de elementos do comportamento social que limitava a presença feminina aos eventos nas igrejas. Veja como podemos aprender sobre a história de uma cidade, no caso o Rio de Janeiro, apenas com esse pequeno trecho. Quanta coisa nós podemos trabalhar com nossos alunos, não é mesmo? Pesquise sobre sua cidade... sobre seu bairro. Você irá descobrir, com certeza, coisas fantásticas. Entreviste os mais velhos, investigue nos arquivos da cidade e nos cartórios... as aulas de Ciências Humanas nunca mais serão as mesmas. 6.2 Lugares de Memória: arquivos, bibliotecas, museus Articular o conhecimento teórico abordado em sala de aula com o meio em que as crianças vivem enriquece as aulas de Ciências Humanas e leva sentido aos conteúdos trabalhados. Uma estratégia metodológica indicada a todas as etapas da escolaridade é a visitação de espaços fora da instituição formal de ensino. A cada momento específico de seu desenvolvimento, a criança estará pronta e capaz de observar o mundo que a cerca de maneira mais profunda. Em cada fase ela observará um dado novo, um elemento a mais ou diferente, estabelecendo novas relações, enriquecendo o conhecimento sobre o meio. 77 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS • CAPÍTULO 6 Os passeios pedagógicos permitem que as crianças observem de perto o meio em que vivem, que destaquem seus elementos, percebam as relações que se estabelecem entre as pessoas, como elas se comportam em cada situação que se apresenta. Para se preparar de maneira eficaz para a vida, as crianças precisam estar, pois, num ambiente rico e “auxiliante”, em que possam entregar-se a essas experiências tateadas (quando dizemos rico, não consideramos em absoluto a situação pecuniária dos pais – que não é condição suficiente-, mas a quantidade, a variedade e o interesse das atividades funcionais que esse meio possibilita à criança para a construção da sua personalidade). (FREINET, 2001, p. 19). Foi um pedagogo francês que iniciou seus estudos na Escola Normal de Nice. Inovou com diversas propostas pedagógicas, que se tornaram importantes contribuições no sentido de romper com uma visão tradicional do processo ensino-aprendizagem. A aula-passeio, a imprensa escolar, Livro da Vida, Correspondência entre Escolas, e a autoavaliação, entre outras, são algumas técnicas criadas por ele e que buscavam estimular a participação das crianças. Estas estão fundamentadas em alguns valores, considerados importantes de serem desenvolvidos, como: senso de responsabilidade, de cooperação, sociabilidade, autonomia, expressão, criatividade e afetividade. Ele estabeleceu, ainda, trinta princípios educacionais a que chamou de Invariantes Pedagógicas, e para cada uma dessas invariantes, Freinet apresentou um teste para orientar o trabalho docente. As invariantes classificam-se em três ordens: a natureza da criança, as reações da criança e as técnicas educativas. O passeio pedagógico requer alguns procedimentos que devem ser realizados previamente, de maneira que a atividade atinja todos os objetivos desejados e, claro, seja um sucesso. O primeiro passo consiste em elaborar o planejamento coletivo, estabelecendo os objetivos da atividade a fim de comprometer a turma com essa atividade. Nesse momento, devem ser destacados os itens que merecem ser observados pela turma. Outra questão importante é decidir como serão registrados esses itens observados. Pode ser por meio de tópicos das ideias principais, de desenhos ou apenas fotografias. Ou, ainda, todas essas formas combinadas. No planejamento coletivo também cabe definir e distribuir as tarefas e responsabilidades entre as crianças, o que contribui para evitar problemas de indisciplina ou algo parecido, não é mesmo? Além, é claro, de alertar sobre comportamentos e atitudes próprios para o local a ser visitado. Após o passeio pedagógico, é necessário fazer uma avaliação da atividade realizada, desde o que cada um gostou, considerou importante, e outras informações, além de identificar o que estava relacionado para ser especialmente observado. Deve ser também avaliado o comportamento do grupo, para evitar problemas em novos passeios, e inclusive a participação de cada um nas tarefas pré-determinadas. Por fim, acontece o registro final, seja por meio de texto ou em tópicos, individual ou coletivamente, em que todos os elementos importantes devem estar presentes. 78 CAPÍTULO 6 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS Durante a realização de um passeio pedagógico, o professor não deve ser prender apenas ao conteúdo específico que pretende aprofundar ou à visitação em si. Muitos outros aspectos podem ser abordados com os alunos. Ainda na escola, por exemplo, pode propor a elaboração de um mapa, carta ou desenho do itinerário até o espaço a ser visitado; essas são importantes ferramentas para o ensino da Geografia. Cartas e mapas são, muitas vezes, empregados com o mesmo sentido. No entanto, costumeiramente, os mapas correspondem às representações mais genéricas, enquanto as cartas geográficas consistem, mais usualmente, em representações de espaços mais restritos e com maior grau de detalhamento, como as constantes do guia de ruas de uma cidade. A elaboração de um mapa simples do trajeto destacando alguns espaços e regiões que serão conhecidos pelos alunos é uma atividade que pode ser desenvolvida com diferentes faixas etárias. As crianças, ao realizarem a atividade, vão aos poucos enfrentando problemas para os quais terão que criar soluções, como a representação cartográfica de alguns elementos e, então,tomarão consciência da necessidade da escala, da orientação, da projeção e da legenda de um mapa. Portanto, o trabalho se inicia tratando o aluno como mapeador. Ele vai construir as plantas ou os mapas para perceber as necessidades decorrentes do trabalho, como no exemplo a seguir: Figura 25. Mapa. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/city-map-infrastructure-buildings-houses-along-2167718547. 79 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS • CAPÍTULO 6 Uma boa dica de atividade para que as crianças observem plantas baixas é recolher prospectos de propagandas de venda de imóveis. Neles, sempre aparecem sugestões de disposições de móveis nos apartamentos, ou a representação dos espaços dos condomínios, ou ainda a localização do prédio no bairro. Figura 26. Planta baixa. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/ground-floor-plan-floorplan-house- home-74222734. Ao produzir as plantas e os seus primeiros mapas, ele sentirá necessidade de criar diferentes símbolos para representar os diversos aspectos que constam do espaço. Vamos, então, conhecer o significado de cada um dos elementos principais que constituem um mapa. O título, a legenda, a escala e as coordenadas geográficas são os subsídios que possibilitam a leitura de um mapa ou uma carta. 1. Título: define o tema principal que é abordado pelo mapa. 2. Legenda: são símbolos que substituem os dados da realidade. Esses símbolos podem ser pictóricos ou não. Podemos usar, ainda, as cores ou combinar todos esses elementos. Há cores, como o azul, que representam qualquer água do planeta como lagos, rios, oceanos ou mares. A graduação da cor também expressa um significado, como tons mais escuros para fenômenos naturais representam mais intensidade. 3. Escala: indica a proporção em que houve redução da realidade para a representação geográfica. A criança vai notar que precisa reduzir o tamanho quando for representá-lo no papel. 4. Coordenadas Geográficas: a Terra é cortada, imaginariamente, por meridianos (linhas verticais) e paralelos (linhas horizontais), que representam as coordenadas geográficas. O Meridiano de Greenwich é utilizado como o marco inicial para as longitudes e a Linha do Equador serve de referência para as latitudes. 80 CAPÍTULO 6 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS Já durante o percurso, o docente pode estimular a observação da paisagem, as habitações, o cuidado com a natureza, os diversos tipos de poluição e outros elementos percebidos na localidade. Percebe como antes mesmo de chegar ao local da visita muitos outros aspectos podem ser trabalhados? São muitas as sugestões de visitas aos espaços de memória. Cada cidade possui especificidades próprias, mas algumas possibilidades são: museus, centro culturais, galerias de arte, mercados municipais, comunidades tradicionais, igrejas e catedrais, indústrias, praças, parques e florestas. Sugerimos a leitura do artigo da pesquisadora Elizabeth Aparecida Duque Seabra, publicado na Revista UNIBH, intitulado “Visitas a museus: ensino de história, patrimônio e memória”. Disponível em: https://revistas.unibh.br/dchla/article/viewFile/818/471. 6.3 As Possibilidades da História Oral e Local Qual é o instrumento de trabalho do historiador? É o que convencionamos chamar de fonte. As fontes históricas são as ferramentas do pesquisador da área. É através delas que os historiadores procuram compreender os fatos históricos. A História tradicional (historicista) sempre trabalhou com a ideia de que as fontes históricas se constituíam exclusivamente em documentos escritos, oficiais. Entretanto, a partir do início do século XX, essa noção se ampliou. Atualmente, são consideradas fontes históricas todas as formas de registro que o homem pode deixar como marca de sua existência, entre elas os registros orais. A partir de entrevistas que podemos realizar com pessoas das mais variadas áreas a História Oral busca compreender e explicar os acontecimentos históricos. Essas fontes permitem que compreendamos a ação humana, e suas consequências, além do que se poderia se limitássemos a apenas documentos escritos. [...] o alargamento da noção de documento progride a par com o aprofundamento de história: a concepção estreita do “texto tópico” convinha a uma história historicizante, estritamente factual; a uma história que faz doravante ao passado perguntas cada vez mais novas, mais variadas, mais ambiciosas ou mais sutis(...). (MARROU, 1974, p. 71) Uma sugestão de atividade é apresentar aos alunos diferentes fontes históricas de maneira que eles percebam as possibilidades do trabalho do historiador. Notícias de jornais, revistas, a apresentação de fotografias antigas do bairro em que está localizada a escola para comparar com os dias atuais. 81 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS • CAPÍTULO 6 Figura 27. Alunos entrevistando. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/little-journalist-microphone-notebook-on-color-2192753507. Para trabalhar com História Oral em sala de aula, uma sugestão é entrevistar pessoas mais velhas que possam contar um pouco do seu passado, professores da escola, alunos de outras turmas, familiares e amigos dos alunos. Assim, construímos o saber histórico na sala de aula. Atente apenas que as entrevistas devem possuir um objetivo pedagógico e um roteiro previamente construído coletivamente pelo professor e alunos a fim de que as respostas possam ser analisadas posteriormente. Sobre o método da história oral em sua modalidade trajetórias de vida, de Rita de Cássia Gonçalves e Teresa Kleba Lisboa. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rk/a/VzGmzYXDPdxPgthrfPL4tVP/. História, tempo presente e história oral, de Marieta F. de Moraes Disponível em: https://www.scielo.br/j/topoi/a/fpGyHz8dRnk56XjcFGs736F/. A História Oral é uma excelente oportunidade de levar as crianças a perceberem que, coletivamente, constroem a História. Que o ser humano, isoladamente, não provoca mudanças significativas na sociedade. Devemos levá-las a notar, inclusive, que as “conclusões” que chegaram a partir das entrevistas realizadas podem ser diferentes e que todas elas são narrativas válidas e reconhecidas cientificamente. Ao notarem que contribuem de uma forma ou outra para escrever a História da sua escola, de seu bairro ou de sua cidade, as crianças se percebem como investigadores e adquirem um papel ativo na construção do seu conhecimento. Mais do que isso, percebem-se como sujeitos históricos. Várias atividades podem contribuir com o desenvolvimento desse objetivo, como reconstituir a sua história de vida, ou a de seus pais ou avós; de movimentos e campanhas ocorridas na escola, ou no bairro em que vivem ou viveram, dos quais tenha ou não participado. Uma ideia interessante seria organizar com a turma um álbum sobre esses fatos históricos, utilizando fotografias, notícias de jornais ou revistas, e depoimentos das pessoas envolvidas. 82 CAPÍTULO 6 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS Atividades explorando a história individual e familiar dos alunos possibilita o professor trabalhar com a História Local. Abordar o ensino de Ciências Humanas a partir do olhar micro, local, desperta o interesse da turma, que reconhece elementos que lhe são familiares, próximos. Pedagogicamente, a abordagem da História Local contribui com a percepção da relação entre o local e o global. Os alunos fortalecem suas identidades e se reconhecem como integrantes da história do mundo. A aproximação do conteúdo de História e Geografia à localidade possibilita nova significação da realidade e maior conexão com temáticas mais sociais e políticas mais amplas, que serão aprofundadas nos últimos anos do Ensino Fundamental. 6.4 O Espaço Geográfico como Local das Mudanças e Permanências O trabalho pedagógico em Ciências Humanas, tanto na Educação Infantil quanto nos anos iniciais do Ensino Fundamental, envolve alguns conceitos fundamentais que possibilitama compreensão e o desenvolvimento dos objetivos. O tempo e o espaço são dois dos mais importantes. Vamos, juntos, conhecê-los? O tempo povoa o nosso dia a dia, pontua todos os nossos afazeres constantemente. Nós utilizamos essa palavra várias vezes ao longo do dia. Podemos nos referir ao tempo vivido que se expressa quando vivenciamos determinada situação, outras vezes, a usamos para nos referir a um período ou a determinada época. O conceito de tempo é uma construção humana. A noção temporal apresenta-se em duas dimensões: o tempo cronológico e o tempo histórico. Mas você deve estar se perguntando: como podemos desenvolver a construção desse conceito que é tão abstrato e complexo para as crianças? Como devo encaminhar esse processo de ensino-aprendizagem? Durante um longo período, logo após a divulgação da teoria piagetiana, muitos pesquisadores afirmaram a impossibilidade de se estudar História nos anos iniciais do Ensino Fundamental em função da defasagem entre os estágios do desenvolvimento infantil estabelecidos por Piaget e a abstração das noções temporais. Alguns teóricos chegaram a sustentar que os estudos históricos só deveriam se efetivar a partir dos 16 anos. Isso nos levaria a concluir, então, que diante das dificuldades o melhor a se fazer é negar o acesso ao conhecimento. Claro que essa não é a melhor resposta. Devemos, sim, buscar as melhores estratégias para apresentar as noções mais abstratas. É muito importante que o presente seja a referência. Esse é o momento que a criança conhece e que pode destacar alguns aspectos que servirão para comparar com outras épocas distintas. Para exemplificar, utilize os brinquedos como referência para caracterizar aos períodos históricos da criança dos pais e dos avós. Peça para a turma trazer bonecos e carrinhos das diferentes épocas, compare os materiais, formatos e tamanhos. Elabore, também, entrevistas com os pais e avós interrogando sobre outras brincadeiras e formas de lazer. Utilize, ainda, fotografias da família para compor os diferentes cenários de épocas. 83 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS • CAPÍTULO 6 Utilizando estes recursos é possível trabalhar as noções de sucessão ou ordenação, de duração e de simultaneidade, a ideia do antes e do depois para ter condições de ordenar fatos. Perguntas como: “o que aconteceu depois do recreio?” “O que fizemos antes do passeio no parque?”, são importantes para proporcionar a vivência. Após uma história também podem surgir perguntas que a leve a relatar o que aconteceu antes ou depois de determinado evento. Um pouco mais velhas, as crianças devem ser levadas a ordenar os fatos de uma história, de acontecimentos escolares, festas de família até conseguirem realizar a ordenação de eventos mais remotos. Uma sugestão é a de escolher, a princípio, três momentos de uma história e pedir que os alunos os coloquem em ordem. Apresente, por exemplo, cartões como esses aqui abaixo. Figuras 28. Exemplos de cartões. Fonte: Imagens elaboradas pela autora. Essas variadas oportunidades de trabalho pedagógico garantirão que os alunos consigam, mais tarde, organizar autonomamente uma linha de tempo, atividade importante para os anos mais adiantes do Ensino Fundamental. A linha de tempo contribui para que a criança compreenda o processo histórico, as mudanças, as permanências, as transformações. Quando o aluno caracteriza uma época histórica, demonstra que compreendeu o período, que consegue distingui-lo de outros momentos. Ou seja, ele vai formar a ideia do período colonial no Brasil, caracterizando o vestuário, a moradia, os meios de transportes, a existência da escravidão, entre outros tópicos que compõem o contexto. É interessante levá-los a fazer a correlação com gerações com as quais eles convivem, como a dos pais e a dos avós. Fazer levantamento das roupas que eram usadas por homens e mulheres nas três gerações é uma forma de concretizar a noção, para sugerir um exemplo. A ideia de simultaneidade só começa a ser notada pela criança quando esta rompe com o egocentrismo primitivo. O processo de socialização é fundamental para o crescimento infantil, pois permite que ela perceba o outro, o colega de classe, a professora, por exemplo. É preciso que ela enxergue o outro, tenha consciência da existência alheia, para considerar que enquanto ele está brincando com o balde de plástico no tanque de areia, por exemplo, seus responsáveis estão trabalhando. A simultaneidade é necessária para o entendimento da noção de contemporaneidade dos períodos históricos. A criança, a partir da noção de contemporaneidade, vai compreender que há momentos históricos de espaços distintos que aconteceram na mesma época cronológica, mas que se desenrolaram em espaços distintos, por exemplo. 84 CAPÍTULO 6 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS Todo o trabalho de comparação, de caracterização de fatos e grupos sociais de épocas distintas, também vai permitir que os alunos compreendam as diferenças e as contradições nos estudos históricos. Como você pode ver, o conceito de tempo é complexo para as crianças, mas, aos poucos, vai sendo construído, de forma lúdica e prazerosa, com muitas atividades e brincadeiras. Agora, vamos começar a compreender o processo de construção do conceito de espaço? Seu domínio é complexo e exige um longo trabalho no decorrer da Educação Infantil, dos anos iniciais do Ensino Fundamental que só se completará por volta do 6o ano, nas aulas de Geografia dos anos finais. No universo infantil já é possível notar noções espaciais como estar “dentro” do quarto ou “fora”, ou “próximo” da mamãe ou “longe” da vovó, “em cima” da cama ou “embaixo” da mesa. São noções que muitas vezes eles percebem, mas não conseguem teorizar. Figura 29. Espaço na sala de aula. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/kids-toy-box-cartoon-children-play-1902040249. Em um primeiro momento, a criança só tem noção do espaço perceptivo em que se encontra fazendo alguma coisa: onde está engatinhando, onde está comendo, onde está tomando banho. Esse espaço existe porque a criança está naquele dado momento realizando alguma ação. Com o tempo, a memória vai se construindo e também a função simbólica que permite que a criança substitua uma coisa ou uma ação por um símbolo ou palavra. Surge, então, o espaço representativo. Ela reconhece a casa como um espaço distinto da escola, da rua, da casa da vovó, e assim por diante. Ela nomeia esses espaços e, inclusive, os representa por meio de desenhos ou pinturas. O espaço representativo se apresenta em dois momentos do desenvolvimento infantil: o espaço intuitivo e o espaço operatório. Você, com certeza, estabeleceu a relação com os estágios de desenvolvimento de Jean Piaget (1896-1980), não? Pois bem, esse é um trabalho que precisa estimular a construção do aluno fornecendo uma variedade de atividades. Por isso, o papel da escola é fundamental no sentido de contribuir para a formação da criança. O professor deve criar oportunidades que propiciem o desenvolvimento de todas as potencialidades de seus alunos. 85 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS • CAPÍTULO 6 Vamos, portanto, discutir sobre o espaço intuitivo. Durante essa fase do desenvolvimento, a criança expressa as ações de espaço experimentadas, como realizar uma ordenação simples e direta, mas não consegue fazer a reversão. Ela ordena objetos, mas não apresenta sob a ordem inversa. Para ser mais evidente, observe o seguinte exemplo: se dermos a ela formas diferentes para ela colocar em ordem, ela o fará, porém, o contrário ela não conseguirá, pois não trabalha com outro ponto de vista. Procure fazer experiências com crianças ao seu redor. Uma criança, normalmente, só começa a fazer a reversibilidade entre sete e 11 anos. No espaço intuitivo, portanto, a criança ordena essas figuras na ordem solicitada pelo professor, mas não o inverso. Quando a criança atinge o estágio operatório, queé o estágio seguinte, é que ela consegue trabalhar com a reciprocidade, ou seja, apresenta a ordenação sob a ordem exigida e faz também a reversão, corretamente. Nesse caso, se o professor pedisse para os educandos colocarem as figuras seguindo: primeiro o AMARELO; em seguida o VERDE; após, o AZUL; e, por último, o VERMELHO; eles fariam corretamente. E como segunda ordem, se fosse solicitado que colocassem ao contrário, eles compreenderiam que teriam que colocar assim: VERMELHO, AZUL, VERDE e, por fim, o AMARELO. Poderíamos, assim, ter certeza de que eles fazem as representações móveis e reversíveis. Além de colocar objetos em ordem direta e inversa, conseguem fazer um itinerário direto e inversamente. O importante é ter sempre a preocupação de partir da perspectiva do aluno. E que a construção das noções espaciais acontece em etapas que devem ser vencidas com firmeza e segurança, por cada criança, respeitando o ritmo e as condições particulares de cada uma delas. Nas aulas de Ciências Humanas, é importante respeitar as etapas de construção das noções temporais e espaciais nas crianças, mas, paralelamente, ampliar o conceito para o tempo histórico e para o espaço geográfico que a cerca com vistas a levar a perceber as mudanças e permanências que a cercam. 6.5 O Lugar e a Paisagem: a cidade, o bairro e a rua O trabalho pedagógico nas Ciências Humanas começa, como já tratamos em várias oportunidades ao longo da disciplina, desde que a criança ingressa na instituição escolar. Desde muito novas, as crianças ouvem falar de diferentes espaços, precisam localizar-se nas salas da escola, precisam apanhar materiais em determinados lugares da escola, ou mesmo, em casa, entregar objetos na secretaria, ou na biblioteca, reconhecem o pátio como local de brincadeiras, o local de refeições para a hora de merendar etc. Para refletirmos sobre a abordagem metodológica para o ensino de Geografia na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental é necessário que os professores compreendam conceitos fundamentais das Ciências Humanas. Lugar e paisagem são alguns deles. 86 CAPÍTULO 6 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS O professor deve oportunizar atividades para que os alunos percebam as relações de dependências e hegemonia entre os diferentes espaços e dimensões. A criança precisa compreender que o mundo se articula integralmente. Assim, articular um conceito com determinada característica de seu bairro ou cidade favorece a compreensão das crianças e, mais, leva-as a compreender que os diferentes espaços do planeta estão articulados e se inter-relacionam. Para se aprofundar no estudo dos conceitos geográfico, sugerimos a leitura do artigo de Ângelo Serpa intitulado Paisagem, Lugar e Região: perspectivas teórico-metodológicas para uma geografia humana dos espaços vividos. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/74309/77952. É claro que a criança pode não observar ou compreender todas as possibilidades nas relações entre as localidades apresentadas – ou seja, entre sua cidade e o mundo, ou entre seu bairro e o Brasil – mas não podemos privá-la de conhecer o mundo e estabelecer as relações que conseguir elaborar. O mundo em que vivemos está tão ágil e globalizado que não podemos negar que as crianças atualmente são colocadas diariamente diante de um mundo cada vez mais próximo. “As diferentes escalas não podem ser compreendidas como instâncias únicas e isoladas. É impossível esconder das crianças o mundo, quando as informações lhes são passadas no exato instante do seu acontecimento.” (STRAFORINI, 2004, p. 92) A globalização nos obriga a compreender o mundo como uma totalidade. O fundamental para o processo pedagógico é evidenciar as relações que se estabelecem entre as diversas localidades que se apresentam para as crianças, nos dias de hoje, seja a rua, a cidade ou o país, e o mundo. Figura 30. O local e o global. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/world-map-global-international-globalisation-concept-269336861. 87 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS • CAPÍTULO 6 Cabe ao professor de Ciências Humanas a articulação entre as paisagens locais – cidade, bairro, rua – que são próximas às crianças, e as paisagens nacionais ou planetárias. Desta forma, os alunos serão capazes de compreender que o todo e as partes se relacionam entre si, influindo e interagindo um no outro, a todo instante. Esse trabalho pedagógico articulado permitirá que a turma compreenda a dependência entre as muitas regiões em que se pode dividir o mundo. 6.6 A Realidade Vivida pelo Aluno: o local e o cotidiano “O estudo do meio possibilita ao aluno o encontro com a realidade e suas contradições.” (ANTUNES et al., 1999, p. 49) O ensino de Ciências Humanas objetiva a construção de uma cidadania plena e ativa com vistas a formar cidadãos conscientes de seus direitos e responsabilidades sociais em nível local e global, e que busquem o desenvolvimento sustentável do planeta. Para a compreensão da realidade que a cerca, a criança precisará buscar a contribuição das várias ciências que compõem essa área do conhecimento. A História e a Geografia vão fornecer dados e ferramentas que certamente contribuirão para garantir as habilidades necessárias para o desenvolvimento do saber em questão. Como já discutimos em outras oportunidades, a criança se constitui como tal a partir do relacionamento que estabelece com os outros, as coisas, com o mundo que a rodeia. Ela constrói sua identidade a partir do contato com o outro, do relacionamento que trava com coisas e pessoas. É importante ressaltar que a criança até por volta dos dez anos ainda pode se encontrar no estágio do animismo. Este é o período em que ela dá vida às coisas, objetos e explica fenômenos segundo sua ótica muito particular. Ela ainda não consegue, em várias situações, compreender explicações científicas. Quantas vezes já as ouvimos falar sobre os fenômenos da natureza de forma muito engraçada? Isso não impede que o professor apresente o esclarecimento científico para as questões colocadas por elas, mas sem que exija, se ela for muito pequena, a compreensão dessa realidade. Só ao fim desse estágio do animismo é que a criança entende integralmente qualquer explicação da ciência. Cabe lembrar que a duração dessas fases varia de criança para criança. Muitas meninas e meninos, aos sete, oito anos, já se encontram prontos para a ciência. Para compreender a sua realidade, a turma deve ser incentivada a observar a natureza em todos os seus elementos, cada um dos fenômenos naturais; as coisas, os objetos, os artefatos e a utilidade desses e as pessoas nos seus afazeres cotidianos domésticos e profissionais. 88 CAPÍTULO 6 • MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS Segundo Maria Teresa Nidelcoff, para uma criança, não se pode precisar quais seriam os limites do meio. À medida que cresce, ela vai estabelecendo novos relacionamentos com novos meios. Essa realidade é cada vez mais ampla: desde o quintal, a rua, o bairro, até os arredores da moradia, e assim por diante. (NIDELCOFF, 1981, p. 231) O estudo do cotidiano, da sua própria realidade, deve se realizar ao longo de toda a escolaridade da criança. A cada momento específico de seu desenvolvimento, a criança estará pronta e capaz de observar o mundo que a cerca de maneira mais profunda. Em cada fase ela observará um dado novo, um elemento a mais ou diferente, estabelecendo novas relações, enriquecendo o conhecimento sobre o meio. Em grandes cidades, onde prevalecem edifícios altos, em que as relações são mais impessoais, enquanto outras cidades, que são pequenas, a calma da rotina diária se destaca, e onde as pessoas se conhecem, mantendo um relacionamento de proximidade. Uma abordagem metodológica possível é o professor mostrar fotos desses espaços aos alunos. O espaço das cidades, grandes e pequenas, os condomínios e a favela; o espaço rural e a vida no campo.Mas também o leve a reparar ao seu redor e observar a cidade em que vive. Há áreas mais pobres e outras em que vivem os mais abastados da região. Toda a região de moradia dos mais ricos de uma cidade possui ruas asfaltadas, canalização de água, esgoto e de gás. A iluminação das áreas públicas está garantida, além da coleta de lixo funcionar com regularidade. Infelizmente, poucos desses itens podem ser apontados como existentes em áreas favelizadas das cidades brasileiras. Há poucas ruas com alguma espécie de calçamento; o abastecimento de água é precário. Na maior parte das casas não acontece a coleta de lixo. O esgoto corre por fora das casas, próximo do local por onde pessoas caminham e crianças brincam. Figura 31. Local e global. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cute-pupils-smiling-around-globe-classroom-247739401. 89 MEtODOLOgIAS PARA O ENSINO DAS CIÊNCIAS HuMANAS • CAPÍTULO 6 A reflexão sobre a organização espacial das cidades leva a turma a perceber a reprodução das relações de poder que se expressam na sociedade. Reproduz, também, as relações de produção e os conflitos sociais. O atendimento de saúde e de educação também se apresenta de maneira bem diferente entre as áreas mais ricas e as mais pobres da cidade. Há carência de postos de saúde nos bairros em que mais existe necessidade, não é mesmo? Quando discutimos as abordagens da Geografia, demonstramos a importância do ensino crítico, que desperte a consciência, não é mesmo? Quando a criança debate sobre a sua realidade, percebendo seus aspectos, mudanças e permanências, ela vai tirando suas próprias conclusões sobre as relações humanas e a sociedade em que vive. É capaz de reconhecer as relações de poder e propor, de forma consciente e crítica, ações que melhorem a vida do seu entorno e de todo o planeta. Terminamos, então, este capítulo percebendo a importância do ensino das Ciências Humanas para a educação do século XXI. O que aprendemos neste Capítulo: » Refletir sobre o papel do professor de Ciências Humanas e sua atuação na sociedade moderna. » Refletir sobre o currículo para o ensino de História e Geografia na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. » Elucidar aspectos do trabalho com fontes históricas escritas, orais e iconográficas nos anos iniciais do Ensino Fundamental. » Conhecer práticas de ensino de História e Geografia em espaços fora da escola. » Reconhecer o espaço geográfico local como ponto de partida para a compreensão da realidade nacional e planetária. 90 Referências ALBAGLI, S. et al. Ciência aberta, questões abertas. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2015. ANTUNES, A. R. et al. Estudos sociais: teoria e prática. Rio de Janeiro: Access, 1999 ASSUMPÇÃO, A. Educação e meio ambiente. Brasília: Unyleya, 2020. BITTENCOURT, C. M. F. Ensino de história: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. BIZZO, N. Ciências fácil ou difícil? São Paulo: Biruta, 2009. 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Organização do Livro Didático Introdução Capítulo Por que Ensinar Ciências na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental? Capítulo A Formação de Professores para o Ensino das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental Capítulo O Papel do Docente no Ensino das Ciências Humanas e das Ciências da Natureza frente aos Desafios da Sociedade Contemporânea Capítulo Perspectivas Curriculares para o Ensino das Ciências Humanas e da Natureza na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental Capítulo Metodologias para o Ensino das Ciências da Natureza CAPÍTULO Metodologias para o Ensino das Ciências Humanas Referências