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G RU PO SER ED U CACIO N AL gente criando o futuro FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS FU N D AM EN TO S E M ETO D O LO G IA D O EN SIN O D E CIÊN CIAS CAROLINA ZANELLA DE QUEIROZ CAROLINA ZANELLA DE QUEIROZ FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS Estudar e trabalhar com ciência é fascinante. Ela nos traz respostas para todas as coisas que nos rodeiam – desde questões sobre o universo, que são amplas e complexas, até pequenas e significativas questões que estão próximas a nós, como a caneta que escrevemos, o perfume que usamos, a água que bebemos, o sal que encontramos na água do mar, o cloro da piscina, as folhagens que nos fornecem o oxigênio e muito mais. Nesta obra você terá acesso a um breve histórico da ciência, às Diretrizes Curriculares Nacionais, à epistemologia genética de Jean Piaget, ao Jardim de Infância de Froebel, ao conceito de aprendizagem significativa, e ainda poderá refletir sobre o material didático em ciências, descobrir os fundamentos da BNCC com foco em ciências, além de ter acesso a atividades investigativas para o Ensino Infantil para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Curitiba 2022 Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências Carolina Zanella de Queiroz Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. Q3f Queiroz, Carolina Zanella de Fundamentos e metodologia do ensino de ciências / Carolina Zanella de Queiroz. – Curitiba: Fael, 2022. 208 p. ISBN 978-65-990685-5-3 1. Ciências – Estudo e ensino 2. Ensino fundamental I. Título CDD 372.307 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Valmera Fatima Simoni Ciampi Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Ser Educacional Arte-Final Hélida Garcia Fraga Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Falando sobre Ciências | 7 2. Diretrizes sobre o ensino de ciências | 23 3. O conhecimento científico e o conhecimento do dia a dia | 45 4. Ciências Naturais na sala de aula | 59 5. Pensando como um cientista | 75 6. Aprendizagem significativa e o ensino de ciências | 91 7. O livro didático e suas implicações | 109 8. Alfabetizando cientificamente | 127 9. Atividades investigativas para os anos iniciais do Ensino Fundamental | 141 10. Provocações para o ensino de ciências | 161 Gabarito | 185 Referências | 197 Prezado(a) aluno(a), Esta obra é o resultado de uma pesquisa que propõe o trabalho com a disciplina de ciências direcionada à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental, mais especificamente aos anos iniciais. Os profissionais da educação comprometidos, que têm como objetivo levar a sério o processo de ensino-aprendi- zagem, sentem falta de um apoio que proporcione uma relação entre o saber e o fazer. Senti muito prazer e fiquei muito à vontade para estru- turar esta obra, por ser advinda das dificuldades enfrentadas cada vez que ia ministrar um conteúdo de ciências para os anos escolares que trabalhei. Me formei na época do final da escola tradicional conserva- dora, e a instituição para a qual comecei trabalhar inicialmente era frequentada apenas por meninos. Assim que iniciei minha carreira de magistério, foi o primeiro ano em que incluíram meninas nas salas de aula desta instituição. Então, turmas de 40 alunos tinham apenas de 3 a 4 meninas. Nesse período, quando comecei a assumir uma turma como regente, entrou como proposta pedagógica a Escola Nova, em Carta ao Aluno – 6 – Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências que tivemos que trabalhar muito com experiências vívidas e participativas com as crianças. A Escola Nova tinha como meta promover o autodesen- volvimento e a realização pessoal dos educandos. As atividades avalia- tivas deviam ser realizadas por meio de debates, trabalhos em grupo e o aprendizado era voltado à prática e ao estímulo do pensamento. Após toda a revolução educacional, entra a tendência tecnicista, em que o aprendizado foca projetos elaborados sem nenhuma ligação com o contexto social no qual as pessoas estão inseridas. O professor e o aluno são respectivamente, e meramente, executor e receptor. Desta forma, percebemos que todos nós viemos de tendências educa- cionais nas quais o professor era o detector do conhecimento e sua prática era a de transmitir seus conhecimentos. Assim passaram os anos! Chegou o século XXI, carregado de desa- fios, mudanças, adaptações e contradições. E aí, em muitas situações, os professores que foram ensinados no modo tradicional, como eu, precisaram e precisam quebrar o paradigma e se adaptar ao que o novo contexto exige. Surge e é colocado em prática o novo documento que direciona como deve ser a educação neste século vigente, a BNCC – Base Nacional Comum Curricular. Ela retoma alguns aspectos que já foram pactos em tendências educacionais anteriores e traz novos horizontes, como desafios ao relevante papel da escola na busca por garantir a aprendizagem de qua- lidade a todos com equidade. O século XXI está nos mostrando uma ampliação enorme de desi- gualdade no desempenho educacional por todo o país. Pensando no desen- volvimento e no crescimento de cada criança como um processo contínuo e não fragmentado nas etapas da escola, fica ainda mais clara a necessi- dade de construir novos caminhos para garantir que a aprendizagem acon- teça, mesmo que em um tempo abreviado. O tempo de mudar é agora! Pense com carinho! Espero que essa escrita possa lhe auxiliar na sua mudança de meto- dologia em sala de aula e lhe traga mais prazer no dar aula e resultados satisfatórios de aprendizagem. Carolina. 1 Falando sobre Ciências Todo mundo fala em ciências: professores, TV, notícias, propa- gandas e muitos outros veículos de informação; mas o que é ciên- cias? Para começarmos a compreender, basta olharmos ao redor. Dica Para esclarecer a afirmação, assista ao vídeo “O Mundo sem Ciência”. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=9qnNUCl3_yM>. Acesso em: 18 set. 2021. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 8 – 1.1 Ciências como ciência A ciência, de certa forma, é nosso conhecimento de todas as coisas que existem no universo: papéis, canetas esferográficas, o Sol brilhando através da janela, o computador, enfim, está nas reações nucleares que for- maram a imensa bola de gás que é o Sol até as menores partículas subatô- micas em um único átomo do metal nos circuitos do computador. A ciên- cia é um processo fundamentado em pesquisas e experiências, portanto é diferente de muitas outras formas de aprendizagem pela maneira como é feita, pois se baseia em experiências de ideias por meio de manifestações encontradas no mundo natural. Graças à ciência conseguimos levar a humanidade ao espaço, projetar computadores, fabricar canetas e outras coisas. “A ciência ajuda a satisfa- zer a curiosidade natural com a qual todos nascemos: por que é que o céu é azul, como é que o leopardo obtém as suas manchas, o que é um eclipse solar? Com a ciência, podemos responder a essas perguntas, sem recorrer a explicações mágicas” (SABER CIÊNCIA…, c2013). A ciência ajuda a termos avanços tecnológicos, a aprendermos temas importantes e úteis, como saúde, meio ambiente e riscos naturais. Sem a ciência, o mundo moderno não seria moderno. “Milhões de cientistas de todo o mundo estão a trabalhar para resolver diferentes partes do que- bra-cabeças de como o universo funciona, olhando para os seus cantos e recantos com microscópios, telescópios e outros instrumentos para des- vendar os seus segredos” (SABER CIÊNCIA…, c2013). A ciência é empolgante, útil, instiga a curiosidade e fornece muitas informações e esclarecimentos. O século XXI está se caracterizando por rápidos avanços, principalmente na área tecnológica, que cada vez mais se insere no dia a dia em situações e desafios diversos em várias partes do planeta. Os resultados disso estão interferindono ambiente, na sociedade e inclusive no comportamento dos indivíduos. As interferências consistem em muitos aspectos positivos e alguns negativos que serão verificados ao longo deste livro. Percebemos que a ciência, então, passa por processos de constantes transformações no que se refere às ciências biológicas e da natureza. Mas – 9 – Falando sobre Ciências o que é ciência e como ela interfere e altera o ambiente e a sociedade? Para respondermos a esses questionamentos, iniciaremos nosso trabalho conceituando ciência. O Dicionário Aurélio (2004) a define como: Conhecimento. Saber que se adquire pela leitura e meditação; instrução, erudição, sabedoria. Conjunto organizado de conheci- mentos relativos a um determinado objeto, especialmente obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método pró- prio. Soma de conhecimentos práticos que servem a um determi- nado fim. A soma de conhecimentos humanos considerados em conjunto. Processo pelo qual o homem se relaciona com a natureza visando à dominação dela em seu próprio benefício. Atualmente este processo se configura na determinação segundo um método e na expressão em linguagem matemática de leis em que se podem ordenar os fenômenos naturais, do que resulta a possibilidade de, com rigor, classificá-los e controlá-los. Para Souza (1995, p. 59), ciência “é uma das formas de conheci- mento que o homem produziu no transcurso de sua história, com o intuito de entender e explicar racional e objetivamente o mundo para nele poder intervir”. Como, então, conceituamos ciência? Podemos dizer que ciência é um conhecimento sistemático para explicar fundamentos da natureza com critérios que comprovem a veracidade dos fatos observados, utili- zando técnicas, instrumentos e procedimentos de observação baseados em métodos experimentais e explicações acerca do universo e de seus fenô- menos naturais, proporcionando à humanidade uma melhor maneira de se adaptar à vida na Terra (MENDES, 2009). 1.2 Histórico Como tudo começou? Para podermos responder a essa questão, vamos viajar um pouco no tempo, iniciando pela Europa, mais especifica- mente na cidade de Alexandria, que fica ao norte do Egito, tem mais de 4 milhões de habitantes atualmente e como principal porto o do Egito, um dos mais importantes do Mediterrâneo. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 10 – Figura 1.1 – Cidade de Alexandria, ao norte do Egito Fonte: Stock.adobe.com/bogdanserban A ciência como a conhecemos hoje teve seu início na Europa. Aos poucos, foi se estendendo a todos os continentes, até se tornar mundial. Ela tinha ligação com interesses econômicos dominantes do país. Sua prática pressupunha várias regras, entre as quais trabalho em equipe, cooperação e colaboração, divulgação ampla de resultados e uma avaliação constante por praticantes da ciência. Na Antiguidade, como em Alexandria, ocorre- ram várias influências, empréstimos e apropriações de outras sapiências que lá se desenvolviam para a produção de um novo conhecimento. – 11 – Falando sobre Ciências Na Idade Média, o intercâmbio aumentou e se intensificou com a invenção da imprensa. A partir do século XVII, a propagação do conhe- cimento se tornou surpreendente. As obras científicas eram lidas por um número alto de pessoas logo que eram produzidas. Os autores se rela- cionavam, tornando autorias colaborativas. Como consequência, foram fundadas academias científicas onde eram publicados os periódicos. No século XVIII, autores com Denis Diderot, Jean le Rond d’Alembert e Antoine Lavoisier se sobressaíram. Figura 1.2 – Lavoisier Fonte: Stock.adobe.com/Juulijs Lavoisier foi um nobre químico francês, um dos principais cientistas que revolucionaram a química no século XVIII, influenciando a história da química e da biologia. É considerado popularmente o “pai da química moderna”. Seus descobrimentos foram oxigênio, carbono, azoto e silício. O processo de produção colaborativa aumentou consideravelmente no século XIX, quando Justus von Liebig estabeleceu o sistema de inte- gração entre o pesquisador e o orientador, que hoje chamamos de orien- tador e orientando no ensino e na investigação (TAUCHEN et al., 2001). Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 12 – Figura 1.3 – Laboratório de Liebig Fonte: Stock.adobe.com/Archivist Liebig revolucionou o ensino na universidade ao estabelecer o tra- balho em laboratório como formação imprescindível do estudante. Foi o primeiro a fundar um laboratório alemão de ensino. No campo da ciência, também desenvolveu trabalhos de grande importância. Saiba mais Justus von Liebig, químico e inventor alemão, era filho de um comerciante de anilina. Destacou-se como cientista e professor de Química e deixou um enorme legado no século XIX. Seus experimentos proporcionaram a criação de fertilizantes quími- cos, sabão, explosivos e alimentos desidratados. – 13 – Falando sobre Ciências Figura 1.4 – Justus von Liebig Fonte: Stock.adobe.com/johan10 No século XX, a ciência se tornou precisa em todos os conceitos, influenciando o mundo. Mudanças significativas foram se incorporando à ciência com a revolução industrial, criando uma relação íntima, indissociá- vel e crescente entre o homem e a tecnologia. Defende-se que as revoluções científica e industrial constituíram o processo histórico mais importante de toda a história: a criação de um mundo que explora e depende da tecnologia científica, não se detendo às características individuais de cada sociedade. O resultado disso foi a criação de uma rede sem fronteiras e com culturas variáveis abrangendo todos os habitantes do planeta (globalização). A ciência prosseguiu seu percurso com obstáculos, sem ser imparcial, para desenvolver a necessidade humana de conhecer o mundo que nos rodeia. O que resultou para a evolução historiográfica da ciência foi o sur- Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 14 – gimento de uma nova história da ciência, tornando-a mais rica, com mais conteúdos e informações atraentes. Em 1957, a União Soviética lançou na órbita da Terra o satélite Sputnik, o que ajudou e ampliou o interesse dos profissionais da educação sobre o conhecimento científico, então o plane- jamento foi incluído no currículo escolar (KRASILCHIK, 1987). Saiba mais Figura 1.5 – Satélite Sputnik Fonte: Stock.adobe.com/Amateur007 O Sputnik 1, lançado em 4 de outubro de 1957 pela unidade de teste de foguetes da União Soviética, orbitou a Terra por 6 meses antes de cair. Esse acontecimento foi um dos capítulos que mar- caram a Guerra Fria, uma disputa político-ideológica travada por norte-americanos e soviéticos a partir de 1947, competindo pela soberania mundial, que teve como consequência o surgimento de grandes blocos de apoio para cada um desses países. O resultado foi que norte-americanos e soviéticos disputaram o domínio em diferentes áreas. A disputa pelo poder bélico foi uma delas e os levou a investir no desenvolvimento de mísseis e de armamen- tos mais potentes, como bombas nucleares e termonucleares. A produção de mísseis e foguetes acabou também repercutindo no investimento tecnológico para a exploração espacial. – 15 – Falando sobre Ciências O motivo da ampliação do conhecimento científico foi a não realização completa dessa corrida espacial. Enormes quantias de dinheiro foram dispen- didas por entidades científicas de renome em educação, psicologia e diversos campos das ciências exatas e naturais. Em relação à área da Educação, os novos projetos tinham como umas das principais características a consonân- cia entre os modelos pedagógicos tradicional, tecnicista e cognitivista. Da escola tradicional, mantiveram o conhecimento formal e previa- mente estruturado; da escola tecnicista, adotaram os rigorosos modelos de planejamentos e a ampla ideia de recursos tecnológicos educacionais (tex- tos, instruções programadas, audiovisuais, kits para experimentos laborato- riais e outros); da escola cognitivista,aderiram experimentos pelos alunos, problematização prévia do conteúdo, realização de trabalhos em grupo e organização do conteúdo, levando em conta os diferentes ritmos de raciocí- nio dos estudantes (FRACALANZA; AMARAL; GOUVEIA, 1992). 1.3 Ciências no Brasil A ciência começou ter importância e ser pensada no Brasil no início do século XX, com estudos de possiblidades e contribuições sendo validados. Na verdade, a ciência no contexto educacional brasileiro deu os primeiros sinais muito sutis de inovação no início na década de 1950, com o incen- tivo da participação ativa dos educandos no processo de aprendizagem. Os primeiros passos foram não apresentar a ciência como uma coleção de conhecimentos (produtos), e sim como uma maneira peculiar de produzi-los (processos). Esse novo modelo de ensino teria como finalidade tornar os alunos capazes de compreender e modificar a sociedade em que vivem, pois até então era a visão tradicional no ensino de Ciências, com a transmissão de conhecimentos para os estudantes. Os primeiros “cientistas” tinham como estratégia cursos de férias e de assessoria aos professores da área, organiza- dos pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC). Dica O artigo “Exposição: 20 cientistas brasileiras que fizeram histó- ria” contém fotos e a biografia de 20 cientistas brasileiras que Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 16 – fizeram história no ensino da Ciência. Disponível em: <https://abep.org.uk/20-cientistas-brasileiras>. Acesso em: 18 set. 2021. Ainda em 1950, campanhas de caráter permanente foram implanta- das tanto por iniciativas independentes como por grupos organizados; como exemplo, podemos citar o Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cul- tura (IBECC), cujas ações eram assessoria e orientação a professores atuan- tes no ensino de Ciências, desenvolvimento do ensino moderno das Ciências no Brasil, tentando implantar um ensino com base no método experimental (FROTA-PESSOA; GREVERTZ; SILVA, 1982; KRASILCHIK, 1987). Destaque O Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBBEC) foi criado a partir do Decreto Federal n. 9.355, de 13 de junho de 1946, com o intuito de qualificar a formação científica dos estudantes que ingressariam no ensino superior. Dica Leia os seguintes artigos: • “Ciência e educação na década de 1950: uma reflexão com a metáfora percurso”. Disponível em: <https://www.scielo. br/pdf/rbedu/n25/n25a10.pdf>. Acesso em: 18 set. 2021. • “Ciência e ensino médio no Brasil (1930- 1950)”. Dispo- nível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-59702007000200005&lng=en&nrm= iso>. Acesso em: 18 set. 2021. As reformulações do ensino de Ciências a partir da década de 1950 promoveram a inclusão de práticas em laboratórios, incentivando a dis- – 17 – Falando sobre Ciências cussão da adição de temas atuais ao currículo escolar, tornando o ensino e a aprendizagem mais interativos. Para Krasilchik (1987, p. 07): As mudanças curriculares incluíam a substituição dos métodos expo- sitivos pelos chamados métodos ativos, dentre os quais tinha prepon- derância o laboratório. As aulas práticas deveriam propiciar atividades que motivassem e auxiliassem os alunos na compreensão de conceitos. Até o início da década de 1960, as disciplinas científicas só eram ministradas nos últimos anos do Ginásio (3ª e 4ª séries) e as disciplinas de Física, Química e História Natural, no curso colegial. Com a Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961, Ciências passou a ser oficial no Brasil, com um fim definido e para uma pequena parcela da população, visto que a maioria não chegava ao Científico ou Clássico. Destaque Até 1975, no Brasil, o Ginásio constituía a fase educacional que se seguia ao Ensino Primário e antecedia o Ensino Médio, cor- respondendo aos quatro anos finais do atual Ensino Funda- mental. Em 1971, o Ginásio foi fundido com o Ensino Primário, dando origem ao ensino de 1º grau. “No final da década de 1960, o segundo grau (ensino médio) passou a ter um caráter mais profissionalizante, pois, com a ditadura, o governo pre- tendia investir mais na formação de trabalhadores” (TAUCHEN; SILVA, 2015, p. 09). Dessa forma, o ensino de Ciências tomou outro rumo em função de interesses políticos e econômicos, pois o objetivo das ativida- des propostas passou a ser a formação do trabalhador (escola tecnicista). Com a implantação da Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971, o ensino de Ciências passou a fazer parte do currículo escolar só para as séries iniciais do 1º grau (Ensino Fundamental). Destaque A Lei n. 5692, de 11 de agosto de 1971, fixou as diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus (Ensino Fundamental e Médio), ampliando a obrigatoriedade da escolaridade dos 7 anos aos 14 anos. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 18 – A Fundação Brasileira para o Ensino de Ciências (Funbec), em par- ceria com o IBECC, criou projetos e atividades que abrangiam oficinas de produção de materiais didáticos, como livros e guias teóricos contendo métodos básicos para serem usados no ensino de Ciências e no manuseio do laboratório, desenvolvendo um aspecto mais científico. Foram produ- zidos kits com acessórios para aulas práticas tanto para as escolas como para os professores e incluídas em suas criações estratégias de incentivo aos educandos por meio de concursos intitulados “Cientista do Amanhã” (FROTA-PESSOA; GREVERTZ; SILVA, 1982). Frota-Pessoa, Grevertz e Silva (1982, p. 39) argumentam que os objetivos da educação se compreendiam como “um processo de cons- trução e de reorganização da experiência e que o propósito fundamental dos educadores deveria ser o de propiciar aos jovens, ambiente e estímu- los capazes de favorecer seu desenvolvimento físico e intelectual”. Isso significa que o ensino de Ciências deveria encorajar a autonomia dos alunos, tornando-os capazes de fazer experimentos, discutir e resolver problemas tendo como base o método científico. Na época, começaram as propostas para a implantação da democracia no Brasil, o que influen- ciou a desenvoltura do ensino de Ciências. O processo de construção do conhecimento científico passou a ser mais valorizado no que diz respeito a Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Destaque Currículos com abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) apresentam assuntos científicos em um contexto social e visam formar o educando para o exercício da cidadania (SAN- TOS; MORTIMER, 2002). Ainda em 1980, visando à qualificação de ciências, o MEC lançou dois programas: “Integração da Universidade com o ensino de 1º grau” e a “Educação para a Ciência”. O primeiro “procurava possibilitar a emergên- cia de novos grupos ligados às instituições de ensino superior e aos siste- mas estaduais e municipais de ensino, com a participação direta dos pro- fessores do ensino fundamental” (SELLES; MARANDINO; FERREIRA, 2009, p. 37). O segundo compreendia três objetivos básicos: – 19 – Falando sobre Ciências melhorar a qualidade do ensino de Ciências nos diferentes níveis de ensino nas áreas da química, física e biologia e matemática, dando-lhes um caráter eminentemente experimental; estimu- lar, na universidade, a pesquisa científica na área do ensino de Ciências com a finalidade de gerar uma melhoria qualitativa do mesmo, especialmente em nível de ensino fundamental e médio, desenvolver atividades não formais de ensino, de modo a provocar uma valorização maior da ciência pela sociedade e despertar nos jovens um maior interesse pelo estudo de Ciên- cias. (SELLES; MARANDINO; FERREIRA, 2009, p. 37-38) Na década de 1990, dois fatos significativos para o ensino de Ciên- cias se sobressaíram: 1. implementação da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB); 2. publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) Ciên- cias da Natureza (BRASIL, 1997). O objetivo maior da LDB foi promover uma reforma no ensino bra- sileiro, lançandodiretrizes amplas que fossem base para a construção de um currículo no qual o conhecimento tivesse mais significado para os educandos e proporcionasse aprendizagens para trabalhar e desenvol- ver competências. As diretrizes foram tão abundantes que flexibiliza- ram resoluções próprias de estados e municípios. As especificidades e as características de cada estado e cada município foram acatadas, respei- tadas e dignificadas (MORAES; GOMES, 2007). Quanto aos PCNs, podemos dizer que foram originados para direcio- nar e embasar os sistemas de ensino e os professores, sendo norteadores curriculares que incitaram a comunicação entre alunos e professores, que deveriam agir como mediadores e acompanhar permanentemente ativi- dades práticas e pesquisas dos alunos, redirecionando-os quando neces- sário. Já as atividades práticas não se restringiam apenas a observação e resultados esperados, mas incluíam pesquisa e busca de novos resultados. Deveria, o professor, estimular a criatividade e fomentar a curiosidade tendo como produto o envolvimento dos alunos. Em Ciências Naturais são procedimentos fundamentais aqueles que permitem a investigação, a comunicação e o debate de fatos e ideias. A observação, a experimentação, a comparação, o estabe- Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 20 – lecimento de relações entre fatos ou fenômenos e ideias, a leitura e a escrita de textos informativos, a organização de informações por meio de desenhos, tabelas, gráficos, esquemas e textos, a pro- posição de suposições, o confronto entre suposições e entre elas e os dados obtidos pela investigação, a proposição e a solução de problemas, são diferentes procedimentos que possibilitam a apren- dizagem. (BRASIL, 1997, p. 29) Para Kindel (2012, p. 44), é necessário resgatar o bojo do ensino de Ciências, permitindo “ao aluno associar os conhecimentos de sala de aula à sua vida e às suas explicações sobre o mundo natural”. Os conteúdos de ciências estão vinculados ao mundo das crianças, aos fenômenos e fatos que englobam animais, plantas, corpo humano e outros, que instigam a curiosidade, levando a muitas perguntas e explicações. Quando olhamos para o ensino de Ciências a partir desse breve res- gate histórico, podemos perceber que os currículos escolares, em sua maioria, foram desenvolvidos por indivíduos que não viveram o dia a dia na escola. As reformas são inevitáveis, mas podem se tornar dispersas e desconexas, pois estão ligadas a colaborações externas à realidade brasi- leira, segundo Frota-Pessoa, Grevertz e Silva (1982). Krasilchik (1987) explica que as reformas costumam caminhar junto ao momento histórico e político e nem sempre os investimentos foram e estão de acordo com as necessidades da educação e do contexto de professores e alunos. Mesmo assim, é indispensável que os planejamentos didáticos sejam organiza- dos com o objetivo de integrar os diferentes saberes e relacioná-los com questões científicas, tecnológicas, ambientais e sociais, pois não pode-se entendê-los de forma isolada. Síntese Estudar e trabalhar com ciência é fascinante, pois dá respostas para todas as coisas que nos rodeiam, de questões sobre o universo, amplas e complexas, até pequenas e significativas questões que estão próximas a nós, como o papel que usamos, a borracha com que apagamos, a água que bebemos, o sal que encontramos na água do mar, o cloro da pis- cina, as plantas que fornecem oxigênio e muito mais. A ciência surgiu na Europa, em Alexandria, no Egito, com observações e leituras de escritos. – 21 – Falando sobre Ciências No século XVII, foram intensificadas as produções científicas, sendo fundadas academias científicas e dando o surgimento aos periódicos. Apareceram, assim, os nomes dos primeiros cientistas. No século XX, a ciência ficou em evidência, sendo responsável por tal fato o primeiro satélite lançado pela União Soviética, em 1957. Na década de 1950, o Brasil intensificou e validou o estudo da ciência, visando ao educando como participativo no processo de aprendizagem. Para isso, foi criado o Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC), tendo como finalidade assessorar e orientar professores atuantes no ensino de Ciências da Natureza pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para qualificar a formação científica dos estudantes que ingressariam no ensino superior. Na mesma época foi iniciado o ensino de Ciências em laboratório. Em 1960, o ensino passou ser tecnicista, com o objetivo de produzir mão de obra qualificada. Em seguida, voltou a ser valorizado com novas leis implantadas, sendo as principais a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e os Parâmetros Curriculares Nacional (PCN). Atividades 1. Sistematize, com suas palavras e em um pequeno parágrafo, o que é ciência: 2. Descreva o principal acontecimento da história da ciência antes de chegar ao Brasil em: a) Alexandria (Egito): b) Idade Média: c) Século XVII: d) Século XVIII: e) Século XX: 3. Continue a história, sistematizando e não ultrapassando de 15 linhas: Título: O início da Ciência no Brasil Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 22 – A ciência no Brasil teve seu auge no início do século XX, mais precisamente da década de 1950. Iniciou com projetos de fazer que o educando se tornasse participativo no processo da constru- ção do conhecimento, e não apenas… 4. Elenque alguns fatos e acontecimentos importantes que valori- zaram o estudo das Ciências no Brasil e no mundo: 2 Diretrizes sobre o ensino de ciências O professor que atua nas séries iniciais do Ensino Funda- mental tem em suas mãos uma grande responsabilidade, pois é encarregado pelo ensino de todas as áreas do conhecimento. Sendo assim, é importantíssimo que seu planejamento se cons- titua de diversas metodologias de ensino, com experiências em algumas áreas, visando atrair o interesse dos alunos e potenciali- zar o aprendizado. Especialistas colocam que as atividades práticas precisam ser feitas a partir de aspectos da vida dos alunos –com pro- blemas reais, do cotidiano, dando oportunidade às crianças de realizar suas ideias e hipóteses sobre todos os problemas que estão sendo questionados. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 24 – Para auxiliar e direcionar o planejamento do professor, da escola e da distinta área do conhecimento, o Governo Federal, em 1996, criou as Diretrizes Curriculares Nacionais, junto com os Parâmetros Curriculares Nacionais. E, em 2018, com bases nas duas diretrizes, foi criada a Base Nacional de Comum Curricular (BNCC). Para aprofundarmos um pouco mais sobre esses direcionamentos legais, neste capítulo iremos comentar sobre cada um deles, enfatizando o ensino de ciências. 2.1 Diretrizes Curriculares Nacionais As DCNs, assim chamadas, tiveram origem na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, assinalando a todo o Brasil “estabe- lecer, em colaboração com os Estados, Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e os seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar a formação básica comum” (MENEZES, 2001, p. 1) São regulamentos obrigatórios para a Educação Básica que condu- zem o planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino, discu- tidas, programadas e determinadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Orientam princípios, fundamentos e procedimentos para a Edu- cação Básica nas escolas, no que diz respeito à organização, articulação, desenvolvimento e avaliação de suas propostas pedagógicas. Seu objetivo é manter a autonomia da escola e sua proposta pedagógica, incitando-a a montar seu currículo, entrelaçando, dentro das áreas de conhecimento, os conteúdos que proporcionem a formação de competências como: visão holística, atuação inovadora e empreendedora, e criatividade na hora de resolver problemas. Dessa forma, a escola deve trabalhar os conteúdos de acordo com os contextosaos quais está inserida, considerando o tipo de pessoas que atende, a região em que pertence e outros aspectos locais relevantes. As DCNs se diferem dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Enquanto as DCNs são leis, dando as metas e objetivos a serem buscados em cada curso, os PCNs são apenas referências curriculares. – 25 – Diretrizes sobre o ensino de ciências Menezes (2001) afirma que De acordo com o CNE, as diretrizes curriculares contemplam elementos de fundamentação essencial em cada área do conheci- mento, campo do saber ou profissão, visando promover no estu- dante a capacidade de desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente. Dessa forma, foram estabelecidas: Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil; Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental; Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio; Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores. Saiba mais Para aprofundar e conhecer as DCNs, entre no site do portal. mec.gov.br/ Será encontrado: Interpretação da LDB; Arranjo de Desenvolvimento da Educação (ADE); Base Nacional Comum Curricular (BNCC); Base Nacional Comum Curricular - Ensino Médio (BNCC-EM); Educação Básica; Educação Infantil; Ensino de Música; Ensino Fundamental; Ensino Fundamental de Nove Anos – Ampliação; Ensino Médio; Ensino Médio, Modalidade Normal; Educação das Relações Étnico-Raciais; Educação de Jovens e Adultos; Educação do Campo; Educação Escolar para Populações em Situação de Itinerância; Educação Especial; Edu- cação Indígena; Educação nas Prisões; Educação Plurilíngue; Educação Profissional de Nível Técnico; Educação Quilombola; Estágio na Educação Básica; EJA e Ensino Médio - Modalidade a Distância; Medidas Socioeducativas; Refugiados. Dentro das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Funda- mental, encontramos as diretrizes específicas para o ensino de ciências. 2.1.1 Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino de ciências Atualmente as sociedades enfrentam diversos problemas como: crises de energia e de população, variações climáticas, ética e outros. Questões Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 26 – essas que envolvem a biotecnologia, exigindo um conhecimento científico para serem averiguadas de maneira coerente e racional. Desta forma, investir no estudo e na literatura científica é impor- tante esse alfabetizar, pois, “esta alfabetização científica poderá auxiliar significativamente o processo de aquisição do código escrito, propiciando condições para que os alunos possam ampliar a sua cultura” (LORENZETTI; DELIZOICOV, 2001, p.3-4). Muitos especialistas afirmam que o ensino de ciências nas escolas não está acompanhando o século XXI, pois não estimula a criança e o jovem à pesquisa, portanto não estimula a invenção (GOULART, 2011). Borges (2002), ressalta que o ensino tradicional de ciências, desde a educação infantil ao ensino superior, tem se apresentado pouco eficaz, seja na visão dos estudantes e professores, como também da própria sociedade. Para a UNESCO (2014), Esta situação não é privilégio apenas das ciências, mas igualmente de outras áreas do conhecimento, como indicam os resultados de avaliações nacionais e internacionais. A escola tem sido criticada pela baixa qualidade de seu ensino, por não cumprir adequada- mente seu papel de formação das crianças e adolescentes, e pelo fato de que o conhecimento que os estudantes exibem ao deixar a escola é fragmentado e de aplicação limitada. (5 Contrato no. SA-3487/2014 - Controle UNESCO 559980 – Produto lI) E continua enfatizando que, os professores de ciências, tanto no ensino fundamental como no ensino médio, em geral acreditam que a melhoria do ensino passa pela introdução de aulas práticas no currículo. Curiosamente, várias das escolas dispõem de alguns equipamentos e laboratórios que, no entanto, por várias razões, nunca são utilizados, dentre às quais cabe mencionar o fato de não existirem atividades já prepara- das para o uso do professor; falta de recursos para compra de com- ponentes e materiais de reposição; falta de tempo do professor para planejar a realização de atividades como parte do seu programa de ensino; laboratório fechado e sem manutenção. São basicamente as mesmas razões pelas quais os professores raramente utilizam os computadores colocados nas escolas. Muitos professores até se dispõem a enfrentar isso, improvisando aulas práticas e demons- trações com materiais caseiros, mas acabam se cansando dessa tarefa inglória, especialmente em vista dos parcos resultados que – 27 – Diretrizes sobre o ensino de ciências alcançam. É um equívoco corriqueiro confundir atividades práticas com a necessidade de um ambiente com equipamentos especiais para a realização de trabalhos experimentais, uma vez que podem ser desenvolvidas em qualquer sala de aula, sem a necessidade de instrumentos ou aparelhos sofisticados (p. 224). As atividades práticas experimentais não envolvem indispensavelmente um laboratório escolar, mas envolvimento e comprometimento na busca de respostas/soluções articuladas que podem ser apenas de pensamento. Reque- rem também planejamento e clareza nos objetivos das atividades, de uma forma criativa e eficiente e com propósitos bem definidos (BORGES, 2002) Borges (2002, p. 298) acrescenta ainda que “é necessário que procuremos criar oportunidades para que o ensino experimental e o ensino teórico se efetuem em concordância, permitindo ao estudante integrar conhecimento prático e conhecimento teórico (…) para tornar a aprendizagem mais interessante, motivadora e acessível aos estudantes”. O Plano Nacional de Educação (PNE), Lei Nº13.005, de junho de 2014, expõe estratégias para aperfeiçoar constantemente os instrumentos de avaliação da qualidade do Ensino Fundamental e Médio. Tem como objetivo a inclusão da avaliação do ensino de Ciências nos exames aplica- dos nos anos finais do Ensino Fundamental, garantindo a universalização ao sistema de avaliação da Educação Básica, assim como apoiar o uso dos resultados das avaliações nacionais pelas escolas e redes de ensino, para a melhoria de seus processos e práticas pedagógicas. Com a entrada das ciências na lista das disciplinas incluídas pelo sis- tema de avaliação nacional, é importante a elaboração de um currículo moderno, cujas práticas de ensino e aprendizagem contenham conteúdos atuais, priorizando metodologias que mantenham a resolução de proble- mas, em que a exploração, a experimentação e o uso do conhecimento sirvam de base para uma futura sistematização. É necessário acompanhar as mudanças ocorridas na sociedade, na busca de uma formação contem- porânea e direcionada para o mundo produtivo, para a empregabilidade e para formação pessoal e cultural em qualquer tipo de atividade. Assim, um currículo dinâmico que considere a atualidade científica e tecnológica; intensamente ativo e diversificado, apresentando tendências que visem a interdisciplinaridade, contextualização sem esquecer o lado socioambiental. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 28 – As DCNs sugerem para ser trabalhado no: 2 Ensino Fundamental – Anos Iniciais • Ser humano e saúde; • Terra e universo; • Vida e ambiente; • Tecnologia, sociedade e cidadania; • Recursos naturais e sustentabilidade. 2 Ensino Fundamental – Anos Finais • Ser humano, saúde e sexualidade; • Terra e universo; • Vida e ambiente; • Tecnologia, ética e sociedade; • Recursos naturais e sustentabilidade. As DCNs trazem propostas de atividades que devem ser trabalhadas no ensino fundamental. Pela extensão e pelas características diferenciadas pelas idades cronológicas neste período, as diretrizes dividem as propostas em dois momentos. No primeiro momento para os anos iniciais do ensino fundamental e no segundo momento para os anos finais. Dica No portal.mec.gov.br, a partir da página 24, encontram-se as propostas de atividades para o EnsinoFundamental I – Anos Iniciais. E a partir da página 31, propostas de atividades para o Ensino Fundamental II – Anos Finais. Link para acesso: h t t p : / / p o r t a l . m e c . g o v . b r / i n d e x . p h p ? o p t i o n = c o m _ docman&view=download&alias=26181-produto2-proposta- -elaboracao-diretrizes-curriculares-nacionais-ensino-ciencias- -pdf&Itemid=30192 – 29 – Diretrizes sobre o ensino de ciências 2.2 Parâmetros Curriculares Nacionais Os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais – são diretrizes organizadas pelo Governo Federal com a finalidade de orientar os educadores regulamentando alguns princípios fundamentais referentes a cada disciplina. Esses parâmetros abrangem tanto a rede pública quanto a rede privada de ensino, conforme o nível de escolaridade dos alunos. Têm como propósito garantir aos educandos o direito de desfrutar dos conheci- mentos necessários para o exercício da cidadania. Embora não sejam obri- gatórios, os PCNs servem como direção para professores, coordenadores e diretores, respeitando as particularidades de cada local. Esse documento foi construído para possibilitar aos profissionais da educação começarem a sua leitura por diferentes partes, sem seguir uma ordem. No entanto, com o tempo, os educadores devem conhecê-los, na íntegra, para poder compreendê-los e se apropriar de sua proposta. O conjunto das proposições aqui expressas responde à necessidade de referenciais a partidos quais o sistema educacional do País se organize, a fim de garantir que, respeitadas as diversidades cultu- rais, regionais, étnicas, religiosas e políticas que atravessam uma sociedade múltipla, estratificada e complexa, a educação possa atuar, decisivamente, no processo de construção da cidadania, tendo como meta o ideal de uma crescente igualdade de direitos entre os cidadãos, baseado nos princípios democráticos. Essa igualdade implica necessariamente o acesso à totalidade dos bens públicos, entre os quais o conjunto dos conhecimentos socialmente relevantes. (BRASIL, 1997, p.13) Os PCNs buscam uma qualidade maior na educação brasileira, sem resolver todos os problemas que afetam a qualidade do ensino e da aprendizagem no País. A busca da qualidade impõe a necessidade de investimentos em diferentes frentes, como a formação inicial e continuada de pro- fessores, uma política de salários dignos, um plano de carreira, a qualidade do livro didático, de recursos televisivos e de multi- mídia, a disponibilidade de materiais didáticos. Mas esta qualifi- cação almejada implica colocar também, no centro do debate, as atividades escolares de ensino e aprendizagem e a questão curri- cular como de inegável importância para a política educacional da nação brasileira. (BRASIL, 1997) Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 30 – Segundo a própria PCN, sua elaboração iniciou a partir de estudos de propostas curriculares dos Estados e Municípios brasileiros, “da aná- lise realizada pela Fundação Carlos Chagas sobre os currículos oficiais e do contato com informações relativas a experiências de outros países.” (BRASIL, 1997, p. 15). E ainda pelas análises de contribuições do Plano Decenal de Educação, de pesquisas nacionais e internacionais, dos dados estatísticos sobre o desempenho dos alunos do ensino fundamental, e sobre as experiências de sala de aula apresentadas em seminários, encon- tros e publicações (BRASIL, 1997). Dando sequência, Formulou-se, então, uma proposta inicial que, apresentada em ver- são preliminar, passou por um processo de discussão em âmbito nacional, em 1995 e 1996, do qual participaram docentes de uni- versidades públicas e particulares, técnicos de secretarias estaduais e municipais de educação, de instituições representativas de dife- rentes áreas de conhecimento, especialistas e educadores. Desses interlocutores foram recebidos aproximadamente setecentos pare- ceres sobre a proposta inicial, que serviram de referência para a sua reelaboração (BRASIL, 1997). E assim, houve outros encontros regionais organizados pelas delega- cias do MEC, contando com técnicos, supervisores de educação e profes- sores de todas as áreas, membros de conselhos estaduais, representantes de sindicatos, e os resultados debatidos e analisados nesses encontros tam- bém favoreceram a reelaboração do documento. Quase por unanimidade, os pareceres argumentavam a urgência de uma proposta educacional esclarecedora e específica. Ainda estão sendo elaborados programas de formação de professo- res, vinculados aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Concluindo, os PCNs nada mais são do que uma referência para a transformação de objetivos, conteúdos e didática do ensino. Devem fazer parte do cotidiano do educador em sua prática pedagógica, princi- palmente norteando a elaboração de seu planejamento sobre seu trabalho em sala de aula. – 31 – Diretrizes sobre o ensino de ciências 2.2.1 Áreas e temas transversais Para representar uma função ampla e diversificada dos campos de conhecimento e de cultura da atualidade, existem as diferentes áreas com conteúdos selecionados para cada uma delas e o tratamento transversal de questões sociais. Tudo isso contribui para a aquisição de capacidades. O tratamento da área e de seus conteúdos integra uma série de conhecimentos de diferentes disciplinas, que contribuem para a construção de instrumentos de compreensão e intervenção na rea- lidade em que vivem os alunos. A concepção da área evidencia a natureza dos conteúdos tratados, definindo claramente o corpo de conhecimentos e o objeto de aprendizagem, favorecendo aos alunos a construção de representações sobre o que estudam. Essa caracterização da área é importante também para que os professo- res possam se situar dentro de um conjunto definido e conceituali- zado de conhecimentos que pretendam que seus alunos aprendam, condição necessária para proceder a encaminhamentos que auxi- liem as aprendizagens com sucesso (BRASIL, 1997, p. 44). Isso significa que um conteúdo deve perpassar por várias disciplinas, possibilitando ao educando conhecer as visões de acordo com as especifi- cidades de cada uma. Assim, Na apresentação de cada área são abordados os seguintes aspectos: descrição da problemática específica da área por meio de um breve histórico no contexto educacional brasileiro; justificativa de sua presença no ensino fundamental; fundamentação epistemológica da área; sua relevância na sociedade atual; fundamentação psico- pedagógica da proposta de ensino e aprendizagem da área; crité- rios para organização e seleção de conteúdos e objetivos gerais da área para o ensino fundamental. (BRASIL, 1997) Com isso, a estrutura dos PCNs determina os objetivos e conteúdos, critérios de avaliação, orientações para avaliação e orientações didáticas. As problemáticas sociais são incluídas na proposta educacional dos Parâmetros Curriculares Nacionais como Temas Transversais. Não são novas áreas, mas uma série de temas que permeiam a con- cepção, os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas de cada uma, ao longo da escolaridade obrigatória. Isso significa, uma integração das áreas e um compromisso das relações interpessoais Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 32 – e sociais escolares no que diz respeito aos temas, “a fim de que haja uma coerência entre os valores experimentados na vivência que a escola propicia aos alunos e o contato intelectual com tais valores” (BRASIL, 1997, p.45). Esse documento é específico para cada área e tema, formado por dez pequenos livros que definem posicionamento, justificativa e conceituali- zação. São eles: 1. introdução; 2. língua portuguesa; 3. matemática; 4. ciências naturais; 5. história e geografia; 6. arte; 7. educação física; 8. apresentação dos temas transversais e ética; 9. meio ambiente e saúde; 10. pluralidade, cultura e orientação sexual. Sobre a avaliação, sua perspectiva vai além de uma visão tradicio- nal, “que focaliza o controle externo do alunomediante notas ou conceitos, para ser compreendida como parte integrante e intrínseca ao processo educacional”. (p.55) Ela não deve se restringir a uma análise sobre sucessos ou fracassos do aluno. Deve ser envolvida em ações que tenha como função de apoiar e orientar a intervenção pedagógica, sendo contínua, por meio da interpretação qualitativa do conhecimento construído pelo aluno. Deve possibilitar o quanto ele aproxima ou não da expectativa de aprendizagem que o profes- sor tem da escolaridade. Logo,” a avaliação das aprendizagens só pode acontecer se forem relacionadas com as oportunidades ofereci- das, isto é, analisando a adequação das situações didáticas propostas aos conhecimentos prévios dos alunos e aos desafios que estão em condições de enfrentar” (BRASIL, 1997, p. 55). Para o aluno, a avaliação serve para uma tomada de consciência do que conseguiu aprender e apreender, quais as dificuldades que encontrou no processo, para reajustar-se ou procurar ajuda. – 33 – Diretrizes sobre o ensino de ciências Uma avaliação também serve para o educador, no sentindo de refletir continuamente sua prática, com o objetivo de rever, criar e ajustar, para que se efetive um aprendizado individual ou grupal por parte dos alunos. Serve para uma tomada de consciência no que conseguiu aprender e apreender. E para a escola, possibilita “definir prioridades e localizar quais aspectos das ações educacionais demandam maior apoio” (BRASIL, 1997). Os Critérios de Avaliação por Área e por Ciclo, definidos nos Parâ- metros Curriculares Nacionais, ainda que indiquem o tipo e o grau de aprendizagem que se espera que os alunos tenham realizado a respeito dos diferentes conteúdos, apresentam formulação suficientemente ampla para ser referência para as adaptações necessárias em cada escola, de modo a poderem se constituir critérios reais para a avaliação e, portanto, contribuírem para efetivar a concretização das intenções educativas no decorrer do trabalho nos ciclos. Os critérios de avaliação devem permitir concretizações diversas por meio de diferentes indicadores; assim, além do enunciado que os define, deverá haver um breve comentá- rio explicativo que contribua para a identificação de indicadores nas produções a serem avaliadas, facilitando a interpretação e a flexibi- lização desses critérios, em função das características do aluno e dos objetivos e conteúdos definidos. (p. 58) Diante das afirmações anteriores, trabalharemos a partir de agora com os PCNs que são baseados nos DCNs e temas transversais; e com a BNCC, para compreender o que está proposto para o ensino de ciências atualmente. 2.2.2 Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências Naturais Para a formação de um indivíduo crítico e cidadão, é necessária sua inserção em uma sociedade que valorize o conhecimento científico e tec- nológico. Assim, as ciências naturais contribuem muito para a compreen- são do mundo e suas transformações, posicionando o homem como sujeito integrante e participativo do Universo. Os conteúdos referidos ao estudo das ciências naturais são apresentados em quatro blocos temáticos para o ensino fundamental: ambiente; ser humano e saúde; recursos tecnológicos e terra e universo. São incluídos também os temas transversais, sugeridos para todas as áreas do conhecimento. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 34 – O documento alega que em uma “sociedade em que se convive com a supervalorização do conhecimento científico e com a crescente interven- ção da tecnologia no dia a dia, não é possível pensar na formação de um cidadão à margem do saber científico” (BRASIL, 1997, p. 21). Para a compreensão de mundo e de suas transformações, é impres- cindível que o trabalho inicie nos primeiros anos do Ensino Fundamental, pois deve-se usufruir da curiosidade natural das crianças de acordo com a faixa etária correspondente a esse período escolar. Toda criança começa o processo de aprendizagem muito antes do período escolar. Elas são curiosas, questionadoras, querem explicações sobre que veem e ouvem, sobre como funcionam os equipamentos, como se produz, para que serve etc. São os célebres “porquês”. Todas as respos- tas podem, hoje, ser encontradas na internet, na mídia ou até mesmo em casa. Sendo assim, o ambiente escolar, a sala de aula, principalmente, deve ser um lugar onde a criança possa falar sobre suas pesquisas e interpreta- ções. Desta forma, “além de constituírem em importante fator no processo de aprendizagem, poderão ser ampliadas, transformadas e sistematizadas com a mediação do professor” (BRASIL, 1997, p. 45). Teoria à prática • urgência social; • abrangência nacional; • possibilidade de aprendizagem no Ensino Fundamental; • favorecimento da compreensão da realidade e partici- pação social. Em ciências naturais, os temas transversais não devem ser abor- dados apenas em situações extraordinárias, pois precisam ter um significado dentro do processo educacional. Devem ser tra- balhados em diferentes contextos, procurando aumentar a sua complexidade e articulação com os conteúdos, destacando a necessidade de dar sentido próprio aos conceitos científicos e sendo trabalhados nas escolas como forma de problemas pre- sentes no dia a dia do educando (MENDES, 2010, p. 27). – 35 – Diretrizes sobre o ensino de ciências Nos anos iniciais, as atividades devem ser planejadas de acordo com a faixa etária respectiva para cada ano. Assim, deve-se trabalhar visando o desenvolvimento da linguagem oral, escrita e narrativa, como nomear seres vivos e suas partes – aproximação da noção de ambiente, tendo como resultado as interações entre seus componentes: seres vivos, solo, ar, água, luz e calor, corpo humano, suas transformações – seu desenvolvimento – a Terra e o Universo, recursos tecnológicos e a transformação da natureza com a utilização dos recursos naturais. Voltando aos quatro eixos temáticos que os PCNs propõem para o Ensino Fundamental, os conteúdos foram organizados não como assuntos isolados, mas sim como assuntos que possam fazer relações entre eles, prestigiando aqueles em que as comunidades acham ser importantes. Os três primeiros eixos temáticos – ambiente; ser humano e saúde e recursos tecnológicos – devem ser desenvolvidos ao longo de todo o Ensino Fundamental. O eixo Terra e Universo deve ser desenvolvido ape- nas a partir do 6º ano. Cada bloco apresenta conceitos, procedimentos e atitudes centrais a serem trabalhados, com o objetivo de haver compreensão sobre o tema referido. Há sugestões de conteúdos para a possibilidade de serem articu- lados entre os diferentes blocos. No volume referente às ciências naturais é feita a seguinte consideração: Para o ensino de Ciências naturais é necessária a construção de uma estrutura geral da área que favoreça a aprendizagem significativa do conhecimento historicamente acumulado e a formação de uma con- cepção de Ciência, suas relações com a Tecnologia e com a Socie- dade. Portanto, é necessário considerar estruturas de conhecimento envolvidas nos processos de ensino e aprendizagem – do aluno, do professor, da Ciência (PCN, 1997, p. 27). Aponta também, no capítulo “Aprender e ensinar Ciências Naturais no Ensino Fundamental” (p.27-28), o papel do professor e do aluno: Dizer que o aluno é o sujeito de sua aprendizagem significa afirmar que é dele o movimento de ressignificar o mundo, isto é, de cons- truir explicações norteadas pelo conhecimento científico. [...] Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 36 – Ao professor cabe selecionar, organizar, problematizar conteúdos de modo a promover um avanço no desenvolvimento intelectual do aluno, na sua construção como ser social. Enfim, cabe ao professor um direcionar para trabalhar o conheci- mento científico, ressignificando o mundo, ou seja, buscando explicações norteadas pela ciência, exercitando assim, uma autonomia no pensar e agir dos alunos, levando à formação de atitudes e valores humanos. É necessáriaa apresentação de ideias gerais por parte do professor, para poder haver uma investigação. Um assunto novo para o aluno deve ser instigante, com o intuito de despertar dúvidas, questionamentos, curio- sidade (investigação), isto é, promover um confronto de ideias, gerando a busca por mais informações. Concluindo, o objetivo maior dos PCNs, é despertar um ensino de ciências estimulante para a formação de indivíduos e cidadãos “que não só compreendam o mundo, mas também as intervenções humanas e suas possíveis consequências, com cuidado de integrar os saberes das Ciências Naturais e das Ciências Humanas” (TAUCHEN; SILVA, 2015, p. 13). Esses mesmos autores fazem ainda outra consideração, com base nos PCNs, Quando nos referimos aos anos iniciais do Ensino Fundamental, ainda precisamos atentar ao uso de termos técnicos e de transpo- sição dos conteúdos de acordo com a escolaridade e do desenvol- vimento da capacidade intelectual do estudante. Além do mais, é recomendado que se propicie situações de aprendizagem que dia- loguem com as diversas formas de explicar e conhecer o mundo, passando pelo senso comum, conhecimento científico e demais formas de pensar sobre os fenômenos naturais e situações cotidia- nas (TAUCHEN; SILVA, 2015, p. 13). Assim, é importante incitarmos situações de aprendizagem que esti- mulem o diálogo, mas não esquecendo de aceitar e reforçar as diversas expressividades dos alunos, com o propósito de desenvolver a autonomia e a autoria. Para isso, é necessário destacar a importância da ludicidade e da criatividade. Diante da colocação e o estudo sobre os PCNs ao que se refere ao trabalho com ciências, seguiremos para a BNCC (Base Nacional Comum Curricular). – 37 – Diretrizes sobre o ensino de ciências Primeiramente, vamos entender o que é a BNCC para depois partir- mos para o específico. O que ela propõe para o ensino de ciências para os anos iniciais? 2.3 BNCC – Base Nacional Comum Curricular A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é uma ferramenta que regulamenta e define o básico que proporciona o progresso nas aprendiza- gens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Ela afirma que a base é a educação. Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), a Base deve nortear os cur- rículos dos sistemas e redes de ensino das Unidades Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas públi- cas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o Brasil. A Base estabelece conhecimentos, competências e habilidades que se espera que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escola- ridade básica. Orientada pelos princípios éticos, políticos e estéti- cos traçados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, a Base soma-se aos propósitos que direcionam a educação brasileira para a formação humana integral e para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. (BRASIL, 2018). No decorrer da Educação Básica, as aprendizagens essenciais devem garantir o desenvolvimento de dez competências gerais que fortaleçam os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, no contexto pedagógico. Na BNCC, “competência é definida como a mobilização de conhe- cimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do traba- lho” (BRASIL, 2018, p. 8). Saiba mais As dez Competências Gerais da Educação Básica encontram-se no site: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_ EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf, p. 9. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 38 – O século XXI está exigindo da sociedade vislumbrar a inovação e a inclusão nas demandas do processo educativo: “o que aprender, para que aprender, como ensinar, como promover redes de aprendizagem colabo- rativa e como avaliar o aprendizado”. (BRASIL, 2018, p.14) Atualmente, [...] “reconhecer-se em seu contexto histórico e cultural, comunicar-se, ser criativo, analítico-crítico, participativo, aberto ao novo, colaborativo, resiliente, produtivo e responsável requer muito mais do que o acúmulo de informações” (BRASIL, 2018, p. 14) Ele impõe o desenvolvimento de competências para aprender a aprender, saber lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discerni- mento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situação e bus- car soluções, conviver e aprender com as diferenças e as diversidades. Assim, a BNCC explicita o compromisso com a educação integral. Assente a Educação Básica como formadora para o desenvolvimento inte- gral, isto é, abarca a multiplicidade, a diversidade e não a linearidade do desenvolvimento, transpassando visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Então, assume “uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e promove uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvi- mento pleno, nas suas singularidades e diversidades” (BRASIL, 2018). Desde modo, a BNCC está assim estruturada: ETAPAS EDUCAÇÃO INFANTIL ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO MÉDIO DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS ÁREAS DO CONHECIMENTO ÁREAS DO CONHECIMENTO COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE ÁREA COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE ÁREA Bebês (0-1 a 6m) Crianças bem pequenas (1a7m 3 a11m) Crianças pequenas (4a-5a11m) COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE COMPONENTE Anos Iniciais Anos FinaisObjetivos de aprendizagem e desenvolvimento Língua Portuguesa Matemática Unidades temáticas Objetos de conhecimento Habilidades Fonte: elaborado pela autora com base na BNCC, p. 24. – 39 – Diretrizes sobre o ensino de ciências Toda a explicação das terminologias utilizadas pela BNCC encontra-se a partir da página 25 do documento. 2.3.1 A BNCC e o ensino de ciências Vivemos em uma sociedade organizada no desenvolvimento cien- tífico e tecnológico – desde ferramentas e armas, produzidas pelo setor metalúrgico, até chips semicondutores. Isso é a ciência e a tecnologia sendo desenvolvidas de forma participativa e em conjunto, de acordo com a maneira de viver das diversas sociedades humanas. Mas se essa evolução pode trazer avanços, melhorias em muitas instâncias, pode trazer também desarmonia e desequilíbrios tanto para a sociedade quanto para a natureza. E para se ter uma posição em relação a tudo que ocorre, são necessários tanto conhecimentos como ética, política e cultura quanto conhecimentos científicos. Isso já justifica, na educação formal, a importância da área de ciências da natureza, e de seu compromisso com a formação integral dos alunos. Assim, por toda a extensão do Ensino Fundamental, a área de ciências da natureza tem um compromisso com o desenvolvimento do letramento científico, que envolve a capacidade de compreender e inter- pretar o mundo (natural, social e tecnológico) e transformá-lo com base nos aportes teóricos e processuais das ciências. “Em outras palavras, apre- ender ciência não é a finalidade última do letramento, mas, sim, o desen- volvimento da capacidade de atuação no e sobre o mundo, importante ao exercício pleno da cidadania” (BRASIL, 2018, p. 321). A área de ciências da natureza, articulada com as demais áreas do conhecimento, deve garantir aos alunos do Ensino Fundamental, “acesso à diversidade de conhecimentos científicos produzidos ao longo da história, bem como a aproximação gradativa aos principais processos, práticas e procedimentos da investigação científica” (BRASIL, 2018, p. 321) Desta forma, o processo investigativo deve ser entendido como elemento central na formaçãodos estudantes, em um sentido mais amplo, e cujo desenvolvimento deve ser atrelado a situações didá- ticas planejadas ao longo de toda a educação básica, de modo a possibilitar aos alunos revisitar de forma reflexiva seus conheci- mentos e sua compreensão acerca do mundo em que vivem. Sendo assim, o ensino de Ciências deve promover situações nas quais os alunos possam: definir problemas em sua volta, fazer levan- Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 40 – tamento, analisá-lo e representá-lo, utilizando a comunicação e fazendo intervenções necessárias. Assim sendo, o componente curricular de ciências deve garantir aos alunos o desenvolvimento de competências específicas. Saiba mais Acessando esse link: http://basenacionalcomum.mec.gov. br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf, docu- mento em PDF da BNCC, na página 324, encontra-se as Com- petências Específicas de Ciências da Natureza para o Ensino Fundamental. São oito competências específicas. As aprendizagens essenciais que devem constar no currículo de ciên- cias foram organizadas pela BNCC em três unidades temáticas, que devem ser contempladas em todo Ensino Fundamental. São elas: 2 Matéria e Energia; 2 Vida e Evolução; 2 Terra e Universo. A primeira temática visa o estudo de materiais e suas transformações, fontes e tipos de energia utilizados na vida em geral, na perspectiva de cons- truir conhecimento sobre a natureza da matéria e os diferentes usos da energia. Objeto de conhecimento: 1º ano – características dos materiais. 2º ano – propriedades e usos dos materiais e prevenção de aci- dentes domésticos. 3º ano – produção de som; efeitos da luz nos materiais e saúde auditiva e visual. 4º ano – misturas e transformações reversíveis e não reversíveis. 5º ano – propriedades físicas dos materiais; ciclo hidrológico; consumo consciente e reciclagem. – 41 – Diretrizes sobre o ensino de ciências Na segunda temática estão os estudos de questões relacionadas aos seres vivos (incluindo os seres humanos): características e necessidades, a vida como fenômeno natural e social, elementos essenciais à sua manu- tenção e à compreensão dos processos evolutivos que geram a diversidade de formas de vida no planeta. Objetos de conhecimento: 1º ano – corpo humano e respeito à diversidade. 2º ano – seres vivos no ambiente e plantas. 3º ano – características e desenvolvimento dos animais. 4º ano – cadeias alimentares simples e micro-organismos. 5º ano – nutrição do organismo; hábitos alimentares e integração entre os sistemas digestório, respiratório e circulatório. E na terceira e última temática deve-se buscar a compreensão de características da Terra, do Sol, da Lua e de outros corpos celestes – suas dimensões, composição, localizações, movimentos e forças que atuam entre eles. Objetos do conhecimento: 1º ano – escalas de tempo. 2º ano – movimento aparente do Sol no céu e o Sol como fonte de luz e calor. 3º ano – características da Terra; observação do céu e usos do solo. 4º ano – pontos cardeais e calendários, fenômenos cíclicos e cultura. 5º ano – constelações e mapas celestes; movimento de rotação da terra; periodicidade das fases da lua e instrumentos óticos. Como essas temáticas devem perpassar por todo Ensino Fundamen- tal, é fundamental que elas não se desenvolvam isoladamente. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 42 – 2.3.2 A área das ciências humanas A área de ciências humanas tem como meta favorecer o desenvolvi- mento da cognição, sem dispensar todo o contexto marcado pelas noções de tempo e espaço e conceitos fundamentais da área. Cognição e contexto são, assim, categorias elaboradas conjunta- mente, em meio a circunstâncias históricas específicas, nas quais a diversidade humana deve ganhar especial destaque, com vistas ao acolhimento da diferença. O raciocínio espaço-temporal baseia- -se na ideia de que o ser humano produz o espaço em que vive, apropriando-se dele em determinada circunstância histórica. A capacidade de identificação dessa circunstância impõe-se como condição para que o ser humano compreenda, interprete e avalie os significados das ações realizadas no passado ou no presente, o que o torna responsável tanto pelo saber produzido quanto pelo controle dos fenômenos naturais e históricos dos quais é agente (BRASIL, 2018, p. 353). Tempo, espaço e movimento são marcas básicas na área das ciências humanas. Mas, em conjunto com essas marcas, deve-se trabalhar a crítica sistemática à ação humana, às relações sociais e de poder e, principal- mente, à produção de conhecimentos e saberes, “frutos de diferentes cir- cunstâncias históricas e espaços geográficos” (BRASIL, 2018). As ciências humanas devem despertar a formação ética, elemento fundamental para a formação das novas gerações, auxiliando os alunos a construir um sentido de responsabilidade para valorizar: os direitos humanos; o respeito ao ambiente e à própria coletividade; o fortalecimento de valores sociais, tais como a solidariedade, a participação e o protagonismo voltados para o bem comum; e, sobretudo, a preocupação com as desigualdades sociais. Cabe, ainda, às Ciências Humanas cultivar a formação de alunos intelectualmente autônomos, com capacidade de articular categorias de pensamento histórico e geográfico em face de seu próprio tempo, percebendo as experiências humanas e refletindo sobre elas, com base na diversidade de pontos de vista (BRASIL, 2018). Nos anos iniciais do Ensino Fundamental deve-se valorizar e proble- matizar as vivências e experiências individuais e familiares que os alunos trazem para a sala de aula, utilizando o lúdico, as trocas, a escuta e as – 43 – Diretrizes sobre o ensino de ciências falas sensíveis nos diversos ambientes educativos (bibliotecas, pátio, pra- ças, parques, museus, arquivos, entre outros). Essa abordagem privilegia o trabalho de campo, as entrevistas, a observação, o desenvolvimento de análises e de argumentações, de modo a intensificar descobertas e incitar o pensamento criativo e crítico. Vivências, para a BNCC significa o espaço biográfico, onde são realizadas as experiências dos alunos em seus lugares de convívio. Para refletir... O trabalho com as Ciências Naturais pressupõe a pesquisa a res- peito da aprendizagem significativa. Uma sugestão para leitura é a obra Aprendizagem Significativa: a teoria da David Ausubel (2006), de autoria de Marco Antonio Moreira e Elcie F. Salzano Masini. Síntese Neste capítulo relembramos as Diretrizes Curriculares Nacionais, criadas com base na LDB de 1996, regulamentando uma formação básica comum, levando em conta a visão holística de mundo, a inovação, a cria- tividade e o confronto de desafios a fim de procurar soluções. As DCNs direcionam o planejamento curricular sem interferir na autonomia das escolas e suas propostas pedagógicas. Em seguida, foi possível relembrar os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), elaborados em 1997, visando a formação de um cida- dão crítico que, inserido na sociedade, possua um conhecimento científico e tecnológico que está sendo cada vez mais valorizado. E finalizando esta parte de leis e documentos, perpassamos pela BNCC – Base Nacional do Currículo Comum. Documento mais atual, que reforça, retoma e se baseia nos anteriores, principalmente no quesito referente ao progresso e ao desenvolvimento da Educação Básica. Explicita a educação integral, o respeito às diversidades e individualidades do ser humano. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 44 – Divide o ensino das ciências naturais em três temáticas: matéria e energia; vida e evolução e Terra e Universo, que devem acompanhar a trajetória de todo o Ensino Fundamental. Evidencia as ciências humanas, valorizando as experiências de vida dos alunos, assim como deve estimular princípios éticos, políticos e sociais, respeitando o contexto de cada indivíduo. Atividades 1. Todos os documentos relacionados à Educação, como os DCNs,PCNs e a BNCC foram criados com base em um docu- mento criado no ano de 1996. Qual é esse documento? E o que cada um propõe? 2. Como vimos, cada escritura possui siglas que facilitam a escrita. Qual o significado de cada sigla? As escrituras têm uma meta, um objetivo por que foram criadas. Após revelar as siglas, escreva uma frase com suas palavras explicando qual o objetivo maior de cada um. BNCC: PCNs: DCNs: 3. A BNCC contemplou o ensino de ciências dividindo-o em Uni- dades Temáticas. Quais são elas? Explique em poucas palavras o que deve ser trabalhado, no geral, em cada unidade. 4. A BNCC colocou como um subtítulo do ensino de ciências, as ciências humanas. O que ela contempla? 3 O conhecimento científico e o conhecimento do dia a dia Existe, em vários contextos da sociedade, uma crença de que toda ciência é verdadeira, pois consegue comprovar a vera- cidade empiricamente. Essa ideia não pode ser perpetuada como correta, pois o que se comprovou em anos passados ou no século anterior pode atualmente ter alguns pontos desacreditados pela evolução da própria ciência e pelo fato de a ciência estar acom- panhando o progresso do mundo. Mendes (2010, p. 15) faz a seguinte colocação para defi- nir conhecimento: “O homem cria intelectualmente represen- tações significativas da sua existência, interpreta o mundo e a si, atribuindo significações aos diferentes fenômenos, o que se denomina conhecimento”. E, segundo Bizzo (2009, p. 24), “A experimentação e a base lógica da ciência não lhe garantem a possibilidade de produzir conhecimentos inquestionáveis e váli- dos eternamente”. Partindo dessas duas definições, neste capí- tulo abordaremos o conhecimento científico e o conhecimento cotidiano, as especificidades de cada um e a diferença entre eles. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 46 – 3.1 O conhecimento do dia a dia O conhecimento cotidiano ou conhecimento não científico, também conhecido como conhecimento de senso comum, ajuda o ser humano a enfrentar os desafios que devem ser vencidos no dia a dia. Esse tipo de conhecimento surge da necessidade de resolver problemas diários, de forma espontânea e intuitiva, que aparecem subitamente. As práticas são, geralmente, inspiradas em gerações anteriores, em condições específicas e muitas vezes é preciso pensar em um resultado imediato (BIZZO, 2009). Essas práticas estão ligadas ao afetivo e ao emocional, e a compreensão do senso comum depende do interesse e das crenças de acordo com o con- texto em que estamos inseridos. Mas o que significa senso comum? É uma espécie de conhecimento que resulta na maneira de a humanidade tentar resolver os problemas da vida diária, não tendo fundamentação em saber filosófico ou científico, percorrendo as gerações, compartilhado por pessoas comuns, que não são especialistas em algum assunto. Cotrim (2002) apud Armstrong e Barboza (2012, p. 37) apresenta a seguinte colocação: Apesar da falta de fundamentação sistemática que caracteriza os saberes referentes ao senso comum, estes se estabelecem por meio de um conjunto de formulações teóricas que servem como base de orientação para a vida cotidiana das pessoas como se fossem explicações definitivas. O conhecimento do dia a dia é um conjunto de vários pontos de vista, de acordo com a época de que advêm e de diversas fontes e opiniões. A incapacidade de se submeter à crítica faz com que esse conheci- mento se torne subjetivo e inseguro, palavras com diferentes sen- tidos, linguagem vaga, geram a impossibilidade de crítica, e, sem crítica, as crenças são aceitas por longos períodos, tendendo a ser dogmáticas, sem limite de validade. (MENDES, 2010, p. 16) A colocação de Mendes (2010) ajuda a perceber que a ciência do dia a dia é construída por observação e discursos com palavras de diversos sentidos, dando margem a diferentes interpretações, tornando uma ciên- cia subtraída de críticas, pois é construída pelo interior (o eu) de quem a produz. Isso gera insegurança e conhecimento sem crítica, abrindo espaços para crenças sem validade científica. Tanto Bizzo (2009) como – 47 – O conhecimento científico e o conhecimento do dia a dia Nardi (2002) sugerem trocar o termo “senso comum”, por “cotidiano”, identificando o “conhecimento cotidiano”. Os autores afirmam que “senso comum” sedimenta a concepção de conhecimento que se origina de diver- sas fontes. O senso comum, dessa forma, é de fácil acesso e sempre será encontrado nas escolas, por isso cabe a essas instituições oportunizar o acesso a outras formas de conhecimento, como o científico, o cultural e o artístico (BIZZO, 2009). Nada ocorre por mero acaso no conhecimento cotidiano, pois existe coincidência entre causa e intenção. Nele, tudo é aplicável, prático, visa ao benefício individual imediato e as relações são facilmente perceptíveis e de fácil explicação. Além disso, não é reconhecido universalmente e não constitui disciplina acadêmica. Oliveira apud Bizzo (2009, p. 26) indica que é visto como um tipo de “denominador comum daquilo que um grupo ou um povo coletivamente acredita”. Um exemplo de conhecimento do dia a dia são as crenças tradicionais de um povo, advindas de antepassados, como a manga e o leite produ- zindo um veneno mortal. As crianças têm o direito de saber que esse fato está literalmente errado e que são crenças oriundas do passado. Os conceitos estruturados tendo como base as experiências do dia a dia são nomeados de conceitos espontâneos, fundamentados nas expe- riências do dia a dia dos indivíduos, obtidos no entendimento imediato e momentâneo dos fatos que acontecem em seu meio (ARMSTRONG; BARBOZA, 2012). É importante salientar que tanto o conhecimento do cotidiano quanto o científico estão relacionados com acontecimentos do dia a dia; a diferença está no modo da explicação, pois um mesmo fenô- meno pode ser explicado e interpretado com critérios diferentes. Ao discernir a ideia de conhecimento científico do conhecimento do dia a dia, Teixeira (2006, p. 128) constata que: O conceito científico não expressa informações sobre o real, o ime- diatamente observável. Trata-se da expressão de um entendimento circunscrito a um modelo, que lida com informações abstratas, construídas por uma comunidade científica e atribuídas aos obje- tos, de modo a gerar uma mesma explicação causal para interpretar fenômenos que, do ponto de vista empírico, isto é, da mera obser- vação das propriedades visíveis, podem até ser distintos. Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências – 48 – Quando uma criança inicia sua vida escolar, leva consigo concei- tos espontâneos que foram obtidos em experiências do dia a dia. Dessa maneira, pode-se dizer que ela tem conhecimentos próprios dos conceitos que serão trabalhados em sala de aula. No início da vida escolar, os con- ceitos obtidos pelo senso comum podem gerar obstáculos na aquisição de novos conhecimentos, por isso, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Ciências Naturais: Ainda que aprendido e satisfatoriamente formulado em nível de abstração aceitável, o conhecimento tem muita dificuldade para aplicar-se a novas situações concretas que devem ser entendidas nos mesmos termos abstratos pelos quais o conceito é formulado. Da mesma forma como foi longo o processo pelo qual os con- ceitos espontâneos ganharam níveis de generalidade até serem entendidos e formulados de modo abstrato, é longo e árduo o pro- cesso inverso, de transição do abstrato para o concreto e particular. (BRASIL, 1997, p. 95) Assim sendo, verifica-se que os conceitos espontâneos e os cientí- ficos são complementares, por isso a criança deve compreender e for- mar conceitos com base em fatos concretos que tenham significado para ela, advindos do conhecimento do dia a dia, contribuindo para a formação dos conceitos científicos. Teoria à prática ATENÇÃO! Um modo de facilitar a aprendizagem é contextualizar os dois conceitos. Ao integrar os conceitos cotidianos aos conceitos
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