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Texto I - Diversidade cultural
 Quando se fala da origem do povo brasileiro, só se lembra da matriz portuguesa, desprezando nossa
origem indígena e africana. Atualmente há variadas visões quanto ao ser índio na contemporaneidade.
A primeira, uma visão an�ga e român�ca, desde a colonização, na qual veem o índio como aquele
ligado à natureza, como o protetor da natureza, ingênuo e o incapaz de perceber a realidade de nossa
sociedade. Sendo necessário exis�r uma relação tutelar entre o índio e o Estado, fundamentada pelas
polí�cas indigenistas, por meio do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e, hoje, pela Fundação Nacional
do Índio (FUNAI). Sendo observado como ví�ma e coitado que precisa de alguém para protegê-lo. A
segunda, a visão do índio enquanto cruel, bárbaro, canibal, selvagem, denominando enquanto
nega�vo. U�lizada também desde a chegada dos colonizadores até hoje, enquanto perspec�va dos
grupos de interesse econômico, que busca a sua ex�nção desses para u�lizar suas terras e re�rar os
recursos naturais existentes, sendo vistos como empecilhos ao desenvolvimento econômico do país. 
Resultando em perseguição e violência contra os povos indígenas. A terceira visão, a da cidadania, que
passou a ter maior desenvolvimento nos úl�mos vinte anos, nos anos 80, com a com a Cons�tuição de
1988. Nesta visão, os índios são sujeitos de direitos, são cidadãos (LUCIANO, 2006). 
Veja o significado ser cidadão na citação abaixo:
Não se trata de cidadania comum, única e genérica, mas daquela que se baseia em
direitos específicos, resultando em uma cidadania diferenciada, ou melhor, plural.
Aqui os povos indígenas ganharam o direito de con�nuar perpetuando seus modos
próprios de vida, suas culturas, suas civilizações, seus valores, garan�ndo igualmente
o direito de acesso a outras culturas, às tecnologias e aos valores do mundo como
um todo. Direitos específicos e cidadania plural indicam teoricamente que os povos
indígenas têm um tratamento jurídico diferenciado. Por exemplo, é concedido a eles
o direito de terra cole�va suficiente para a sua reprodução �sica, cultural e
espiritual, e de educação escolar diferenciada baseada nos seus próprios processos
de ensino-aprendizagem e produção, reprodução e distribuição de conhecimentos.
(LUCIANO, 2006, p. 36).
Historicamente podemos ver a valorização da origem portuguesa e desprezo pela indígena e africana
sendo construídas por meio de nossas produções ar�s�cas. Por exemplo, na visão de José de Alencar,
o qual defendia que a liberdade dos escravos deveria ser aos poucos, pois precisavam aprender a ser
civilizados. E, alertava sobre os prejuízos que isso traria a economia, in�midando o Imperador, e
par�lhando das ideias conservadoras da elite. Em sua literatura u�lizava o mito do bom selvagem.
Essa a�tude era comum, pois acreditavam na inferioridade dos escravos, por meio das teorias do
determinismo biológico, como do evolucionismo social, em voga no século XIX. Descartando o africano
na formação do povo brasileiro. Que segundo essa visão somente os brancos e índios, formaria nosso
povo. Encarando o português como o desbravador, o destemido, o conquistador e o índio, como
pacífico, passivo para receber a civilização do europeu. (REIS, 2012).
No pensar de Yago Euzébio Bueno de Paiva Junho (2012) o Roman�smo, de qual José de Alencar fez
parte, foi um movimento literário que veio marcado com a dependência polí�ca, econômica de
Portugal. Os escritores colocavam o índio como o principal personagem de nossa história, sendo esses
nossos verdadeiros antepassados. Por exemplo, a obra Iracema, de José de Alencar.
Mudando as letras de Iracema, temos América. Ou seja, os índios representavam a
verdadeira América. Muitas pessoas de posses contratavam serviços de
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pesquisadores para fazer as suas árvores genealógicas para descobrir algum
antepassado indígena. Quando descobriam, mudavam o seu sobrenome. O
Roman�smo, então, pode ser considerado o segundo movimento nacionalista
brasileiro. O primeiro foi a Guerra de Guararapes, onde negros, índios e portugueses
lutaram juntos para a expulsão dos holandeses do Brasil. O Roman�smo instaurou a
ideia de nação entre nós. (PAIVA JUNHO, 2012).
Contrariamente ao Roman�smo, �vemos a Semana da Arte Moderna, em 1922, chamado de
movimento modernista, com o obje�vo de propor renovação cultural no Brasil, propondo uma nova
maneira de ver a realidade social brasileira. Buscando incorporara a cultura indígena e africana,
deixando de nos envergonhar de nossa miscigenação. Mostrando que em nossas matas há curupira e
não duendes. Incorporando o verso livre, com seus erros. Buscando em todo território elementos de
nossa cultura para suas criações.
Em nossas matas não existe duendes e sim o curupira. Instaurou o verso livre, a
incorporação milionária de todos os erros. Como Manuel Bandeira vai dizer a língua
errada do povo, a língua certa do povo. Os modernistas viajaram pelo Brasil em
busca de elementos culturais para servir de matéria-prima de suas composições. Por
exemplo, peguemos o livro na Pancada do Ganzá de Mário de Andrade. Essa obra é
fruto de uma viagem que o escritor fez a Natal, Rio Grande do Norte, hóspede de
Luís da Câmara Cascudo, o maior folclorista brasileiro, para estudar os cantadores de
côco. Raul Bopp, um viajante contumaz, usou e abusou, no bom sen�do, de tudo o
que viu e ouviu nos vários lugares onde esteve. Cobra Norato nada mais é do que a
descoberta do interior do Brasil. (PAIVA JUNHO, 2012)
O movimento modernista mudou a nossa maneira de ver o nosso país. Aprendendo a valorizar a nossa
origem indígena e africana. O povo brasileiro. Os mais importantes pintores, ensaístas, escritores e
músicos do Brasil surgiram a par�r desse movimento, como: “Anita Malfa�, Tarsila do Amaral, Di
Cavalcan�, Vicente do Rego Monteiro, Graça Aranha, Raul Bopp, Oswald de Andrade, Mário de
Andrade, Manuel Bandeira, Meno� Del Picchia, Cândido Mota Filho, Ronald de Carvalho Villa-Lobos,
entre outros” (PAIVA JUNHO, 2012).
Influenciando os movimentos culturais, na segunda metade do século XX, como, o Cinema Novo, de
Glauber Rocha e o Tropicalismo.
Perceba na nossa história os interesses de classe. A nossa sociedade é dividida em classes sociais e, no
alto da hierarquia, temos dois �pos que, apesar de serem conflitantes, se complementam.
 
Observação: Classe social tornou-se senso comum em nossa sociedade, falamos de classe social na
economia, na cultura, na educação, em todas as áreas. Pesquisas de mercado classificam as classes,
porém muitas vezes não se sabe o significado, mas podemos ver o conceito ser delineado segundo o
pensamento de Karl Marx. O qual considera que as classes são determinadas na história e é produto da
sociedade, pois com a Revolução Industrial, a sociedade será divida em aqueles que detêm os meios de
produção (terra, máquinas, dinheiro, ferramentas, etc.) os proprietários, a classe capitalista ou classe
burguesa, e de outro aquele que só possuem a sua força de trabalho para con�nuar a viver
(trabalhador assalariado) o proletariado, classe dos trabalhadores.
 
Na análise de Darcy Ribeiro (1995) são estes: o poder do patronato de empresários advém da riqueza
que conseguem angariar a par�r da exploração econômica; e o patriciado, cujo poder se deve aos
cargos que ocupam, por exemplo, os generais, deputados, bispos, líderes sindicais e outros.
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Consequentemente, quem é rico quer ser patrão e, sendo, quer ter o poder de mando, podendo
determinar a vida dos outros.
Durante as úl�mas décadas, outro segmento se expandiu no alto dessa hierarquia: os que gerenciam as
empresas estrangeiras. Segundo Ribeiro (1995), eles são os que controlam os meios de comunicação (a
mídia), deixando o povo conformadoque o rejeita. Assim, o mulato se humaniza em dois, não
sendo de ninguém.
É a par�r dos úl�mos anos, apenas, que o negro tem sen�do e expressado o orgulho de sua raça,
devida à ascensão de alguns negros, a par�r de uma melhor educação e de melhores oportunidades de
emprego. O mesmo ocorreu com os mulatos, que passaram para o lado do negro a par�r dessa
ascensão.
No ponto de vista de Ribeiro (1995), a sociedade brasileira é doen�a com essa consciência deformada
de que o negro é culpado pela sua miséria, e que o mesmo deveria desaparecer para haver a
branquização brasileira. Porém, temos, na realidade o contrário, com a branquização do negro e a
negrização do branco, levou a uma população morena.
O racismo no Brasil não ocorre devido à origem racial, mas sim sobre a cor da pele. Aqueles que
passam a integrar os grupos dos brancos passam a ser e a se sen�r como brancos. Veja o exemplo de
Darcy Ribeiro (1995):
Exemplifica essa situação o diálogo de um ar�sta negro, o pintor Santa Rosa, com um jovem, também
negro, que lutava para ascender na carreira diplomá�ca, queixando-se das imensas barreiras que
dificultavam a ascensão das pessoas de cor. O pintor disse, muito comovido: “Compreendo
perfeitamente o seu caso, meu caro. Eu também já fui negro”. Já no século passado, um estrangeiro,
estranhando ver um mulato no alto posto de capitão-mor, ouviu a seguinte explicação: “Sim, ele foi
mes�ço, mas como capitão-mor não pode deixar de ser branco”. (KOSTER apud RIBEIRO, 1995, p. 225).
O autor cri�ca os intelectuais que acreditam em uma democracia racial. Já que o mes�ço em nossa
cultura não é punido, mas bem-visto. Isto se deve ao fato de sermos resultado da mes�çagem de
poucos brancos com uma grande maioria de índios e negros. Tanto é que a situação colocada como
uma democracia racial, como desejou apresentar Gilberto Freyre, é devido à imensa carga de opressão,
preconceito e discriminação. Perceba que o desejo de que o negro suma, a par�r da mes�çagem, é um
racismo. Para Ribeiro (1995, p. 227), o lado mais perverso do racismo é esse que dá uma imagem de
maior sociabilidade, pois isso desarma o negro para lutar contra a miséria que lhe é imposta e o leva a
aceitar as condições de violência em que vive. “O assimilacionismo, como se vê, cria uma atmosfera de
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fluidez nas relações inter-raciais, mas dissuade o negro para sua luta especifica, sem compreender que
a vitória só é alcançável pela revolução social”.
A democracia racial é possível. Porém, só é realizada com uma democracia social. Isto é, “ou bem há
democracia para todos, ou não há democracia para ninguém, porque à opressão do negro condenado à
dignidade de lutador da liberdade (...)”. (RIBEIRO, 1995, p. 227)
Octavio Inni (2004, p.13-14), cri�ca Gilberto Freyre quanto a sua teoria da democracia racial, trouxe-lhe
na integra o pensamento, veja:
Farei agora uma digressão. Assis� a úl�ma conferência que Gilberto Freyre fez em
São Paulo num clube de empresários. (Quase não me deixaram entrar porque
exigiam gravata.) Ele iniciou sua fala com muita graça: “Dizem que sou saudoso da
escravatura” e depois de um silêncio longo: “Sou. Sou sim!”. Passou então a relatar
sua infância, sua convivência com pessoas oriundas do escravismo (da casa-grande),
contando as histórias de Felicidade, uma negra chamada afe�vamente por ele de
Dadade. Ao narrar essas experiências afe�vas, algumas até engraçadas, outras
alusivas ao eró�co etc. – notei que não havia referência alguma ao eito, ao trabalho
pesado do escravismo. Observei algo que tem a ver com a literatura, com a oralidade
dos contadores de causos. Percebi que quando falava de Dadade ele estava
fortemente impressionado com aquelas histórias que ele assimilou, com aquela
oralidade que transcreveu em seus escritos, principalmente da primeira fase. A
questão racial vem junto com a idéia de que a escravatura no Brasil foi diferente, a
idéia de que houve revoluções brancas (também de Gilberto Freyre) e a idéia de
índole pacífica do povo brasileiro. Há vários emblemas do que seria a ideologia das
elites dominantes no Brasil que tem a ver com uma certa invenção de tradições e
uma pasteurização da realidade. Nesse contexto, se vocês permitem a provocação, é
que o homem cordial faz parte dessa visão. Não foi essa a intenção de Ribeiro Couto
nem de Sérgio Buarque, mas vendo esses emblemas, tomados em conjunto na
história do pensamento brasileiro, concluímos que há uma tradição forte de se
pensar o Brasil como um país diferente, com uma história incruenta. A produção de
Ciências Sociais na USP começou a pôr em causa essa visão, tanto no que se refere à
questão racial, quanto à questão social. Colocou em causa inclusive a idéia de nação
que vinha sendo elaborada. Enfim, começamos a formular (na base de Caio Prado,
de Manuel Bonfim e de uma literatura de esquerda) a hipótese de que o país podia
ser diferente. Isto é, um país mais democrá�co, com um estado de bem estar social
mais avançado – quem sabe até uma nação socialista etc.
Octavio Ianni (2004, p.14) coloca a seguinte interrogação:
Como é possível afirmar e reafirmar a democracia racial num país em que as
experiências de democracia polí�ca são precárias e que a democracia social, se
existe, é incipiente? Isso é minimamente uma contradição, um paradoxo num país
oriundo da escravatura, autocrá�co, com ciclos de autoritarismos muito acentuados.
Acrescento ainda (algo muito pessoal) que o mito da democracia racial não é só das
elites dominantes. Quando pensamos que as relações sociais estão impregnadas
pela idéia de democracia racial, descobrimos, então, que se trata de um mito cruel
porque neutraliza o outro.
 
A democracia racial é um mito. É só darmos uma olhada nos altos índices de desigualdade racial. Os
negros estão em desvantagem em relação ao branco em várias áreas, como: infraestrutura urbana e
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habitação, acesso a educação, acesso a jus�ça, mercado de trabalho e renda.
No pensar de Octavio Ianni (2004, p.21) em Dialé�ca das Relações Raciais, a questão racial é deba�da
em nosso país segundo um jogo de forças sociais, entre os subordinados e dominantes, mostrando
como se formula a estrutura da sociedade, “compreendendo iden�dade e alteridade, diversidade e
desigualdade, cooperação e hierarquização, dominação e alienação”. Isso permeia o mundo moderno,
o século XXI, com preconceitos, intolerâncias, racismos, interesses e ideologias.
Segundo Ianni (2004), o processo de racialização que ocorreu com o mercan�lismo, colonização, volta
ocorrer, quando as pessoas e a sociedade, são levadas a perceber, que são definidas pela etnia, mais
precisamente pela raça, levando o traço feno�pico a se tornar um es�gma. Para con�nuar as operações
de “limpeza étnica”, em diferentes países, como a que aconteceu pelo nazismo, na Segunda Guerra
Mundial (1939-45), levando a morte judeus, ciganos, comunistas e outros; tudo em nome da
civilização ocidental. No século XXI isso é visível pelas elites dominantes norte-americanas, que em
2002 combateram no Afeganistão, e em 2003 no Iraque, sempre com a u�lização da ideia de
civilização, que na verdade nada mais é do que a expansão do capitalismo.
Apesar do “mito da democracia racial” ser um marco na historia do racismo brasileiro há outra tese, a
do “branqueamento”, que também fez parte da agenda polí�ca e social. Essa tese foi pensamento
dominante da elite que comandava o país. E, permaneceu até o surgimento da do “mito da
democracia racial”.
Basicamente a tese propunha que a par�r da mistura de brancos e negros, a raça branca (sendo a
melhor, a superior) predominava sobre a negra (o inferior), desta forma haveria o melhoramento
gené�co.
Assim, quanto mais branca fosse a pele do brasileiro, mais privilégios,poder e ascensão teria, no
entanto se fosse de outra cor, passava a ser desvalorizado, sendo considerado o “outro”, aquele que
não faz parte da cultura, da sociedade brasileira. Isso foi incu�do de tal forma, que o próprio negro
chegou ao ponto de autonegação. (TABORDA, 2007). Desprezando sua origem africana, procurando se
parecer mais com o branco.
Muitos cri�cam Gilberto Freyre pela teoria da democracia racial, porém quem usou o termo
primeiramente, em 1941 foi Artur Ramos, em um “seminário sobre a democracia no mundo pós-
facista” (TABORDA, 2007). Porém, a expressão foi criada na década de 30, começa a ser usada em 40, e
a crença da democracia racial como crença do ideal de igualdade e respeito é consenso em 50, sendo
seu auge nos anos 60. Sendo usada por intelectuais, universitários, movimentos sociais, e até o Jornal
Quilombo, entre 1948 e 1950, tem uma coluna in�tulada “Democracia Racial”.
Segundo Taborda (2007) apesar de Freyre não ter criado o termo “democracia racial” ele contribuiu de
sobremaneira para a legi�mação cien�fica do pensamento de que no Brasil não havia preconceito e
discriminação racial. A esquerda brasileira em 64, representada nesse momento por Florestan
Fernandes �nha consciência que a democracia era um mito e mais que essa na verdade era uma forma
de manipulação social para manter os ideais da aristocracia no poder.
O mito da democracia racial levou a propagandear pelo país uma das formas mais severas de racismo,
o mascarado, com status de democrá�co. A ideia de que o país é resultado da mistura de raças, que
viviam harmonicamente, levou o povo brasileiro a acreditar que vivemos em uma sociedade harmônica
e sem diferenças sociais, raciais.
Vamos refle�r junto com Ianni (2004), o enigma escondidos na questão racial, no mundo
contemporâneo.
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A raça e o racismo resultam das relações sociais, com implicações polí�cas, econômicas e culturais. 
Pois é pelas relações sociais que há mudança de etnia para raça, sendo essa úl�ma uma questão social,
psico-social e cultural, desenvolvida na rede de relações sociais, por meio do jogo de forças sociais, do
processo de dominação e apropriação. A classificação dos seres humanos como técnica polí�ca, em
que se fundam a estrutura de poder. Desta forma, ao colocar um rótulo no outro, eu coloco nele um
es�gma, uma marca, deixando claro a todos quem é ele nas relações co�dianas (trabalho, estudo,
entretenimento), impedindo que tenha relações sociais, �rando-lhe possibilidades e oportunidades,
alienando ele, os outros, a sociedade (criando tramas nas tensões de “iden�dade”, “alteridade”,
“desigualdade”, compreendendo integração e fragmentação, hierarquização e alienação).
Enquanto categoria social, a “raça”, representa um signo, um traço, uma caracterís�ca, uma marca do
olhar de uma pessoa sobre a outra, nas relações sociais. Assim, a pessoa sendo negra, índio, japonês,
na relação com o outro, seja, ele, o grupo, a família ou a sociedade aos poucos vai iden�ficando-o
como aquele que não faz parte de seu grupo, vão lhe classificando, hierarquizando. Acabam por
transformar a “raça” em marca de es�gma, resultando no preconceito, no racismo, desde a�vidades
lúdicas às relações de poder.
O es�gma não se restringe a etnias. Ela pode ser colocada em qualquer um, na mulher, no operário, no
camponês, nos adeptos do candomblé. É a representação simbólica que fazem da “marca”
transfigurando-se em “es�gma”. Essa forma de pensar, é chamada de ideologia racial, porque aquele
que sofre o es�gma, se relaciona recebendo esses rótulos, porém sabe que é men�ra. Assim, precisa
desenvolver a autoconsciência crí�ca, para conseguir sair da condição de subalternidade em que foi
colocado.
O racista tem papel importante em toda essa trama social, pois no modo de produção capitalista, na
empresa, os indivíduos competem entre si, em busca do status socioeconômico e da classificação
(democrá�co, autoritário, egoísta, altruísta, neuró�co, psicó�co). Sendo que essas caracterís�cas
acabam por serem decisivas na maneira como o indivíduo se relaciona com o “outro”, podendo levá-lo
a ser tomado como estranhos, diferentes, como ameaças. A intolerância do racista ou preconceituoso
pode levá-lo ao ódio, agressão, independente do que seja, ele não quer lidar com o diferente,
surpreendente.
A ideologia racial dos que dominam, sejam “brancos” ou outros, dinamizam a intolerância, xenofobia,
preconceito ou racismo. Criando uma gama de manifestações, signos, símbolos ou emblemas para
“explicarem”, “jus�ficarem”, “racionalizarem”, ”naturalizarem” ou “ideologizarem” as desigualdades
raciais. Colocando o dominador em lugar privilegiado, e como se esse lhe fosse natural, o controle e
instrumentos de poder.
Perceba que essa ideologia é uma técnica de es�gma�zação, u�lizada e transmi�da por gerações e
gerações, por meio dos meios de comunicação, dos sistemas de ensino, das ins�tuições religiosas e
par�dos polí�cos. Sendo componente central da cultura atual burguesa (IANNI, 2004).
É dentro desse contexto que se cria o “mito da democracia racial”, o Brasil que nem se quer consegue
ser uma democracia polí�ca, muito menos, seria social.
A expressão “democracia racial” leva uma forma sofis�cada de racismo patriarcal, patrimonial. Levando
a mis�ficação da igualdade, como se em nosso país não houvesse desigualdades raciais. Neutralizando
protestos e reações, lutas e reivindicações dos es�gma�zados.
Aquele que sofre com o es�gma, cria uma contra-ideologia, de protesto e emancipação. E desta forma
o dominado, es�gma�zado, elabora e reelabora sua iden�dade, “contraponto com a alteridade, na
dinâmica das relações, processos e estruturas hierarquizadas, desiguais, com as quais os que mandam
ou desmandam empenham-se em preservar “a lei e a ordem”” (IANNI, 2004, p.25). A par�r da
autoconsciência crí�ca, vem à transformação e a emancipação.
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Paulo Prado vai trabalhar as miscigenação em outra perspec�va. Em 1928, Paulo Prado, lança um
pequeno livro que causa polêmica no país, “O Retato do Brasil”. Esgotando a primeira edição
rapidamente e recebendo muita atenção dos jornais. Sendo editada por 11 vezes.
Paulo Prado, contrariamente aos ufanistas, via a relação social das três raças, a indígena, portuguesa e
africana, com um fim violento. O autor expõe em sua obra, as nossas mazelas e nos pede que reflita
sobre os defeitos de nossa formação e tendência para a polí�ca que adia a preocupação com as
questões sociais.
 
Observação: Ufanismo: é o ato, atitude de enaltecer o potencial, no nosso aqui,
era o fato de autores brasileiros, de enaltecer o potencial brasileiro, as belezas
naturais, as riquezas, por exemplo, Gilberto Freyre.
 Para o Paulo Prado, a cultura brasileira é resultado da depravação dos costumes, por causa da
luxuria do português com a do indígena e pela passividade do negro. Sendo a cobiça econômica o
alimento dos colonos e o que levava a desintegração dos costumes. Desta forma, a junção da luxúria
com a cobiça resultaria na tristeza. Por meio do espírito triste, se chegaria a um idealismo e excesso de
roman�smos, destruindo por completo o caráter do brasileiro (VENTURA, 2011).
Perceba que essa maneira de ver a sociedade é dada pela ordem moral.
Para Florestan Fernandes, marxista como Ianni, o padrão de relações raciais em nosso país depende
menos da interação entre escravos e senhores e depende muito da estrutura social aqui criada,
rigidamente estra�ficada. O preconceito racial, apesar a miscigenação, resulta da forma incompleta em
que passamos de uma sociedade escravista, na qual sua posição social é determinada pela
hereditariedade, nascimento (estamentos e castas), para uma sociedade de classes (na qual a sua
posição hierárquica é fundamentadano seu poder econômico). Podendo ser superarada as relações
raciais por meio da melhor condição econômica do negro, pois com a ampliação do emprego, teria
condições de ascensão social, possuindo outro lugar na estrutura de classe (SANTOS, 2004).
 A crí�ca de Florestan Fernandes ao mito racial a�nge a obra de Gilberto Freyre, que �nha muito
pres�gio na década de 30 e 40. A “democracia racial”, passa a ser vista como falsa consciência, como
forma de impedir a mudança social das relações raciais, já que o racismo não era encarado.
 A escravidão do negro africano, o transformou em mercadoria, em res/reses, peça, o
desumanizando. Assim, os colonizadores os trataram, �rando-lhe sua história, cultura e iden�dade.
Milhares morreram em guerra, na captura na África, outros nos navios negreiros, chegando milhares ao
nosso país fazendo a riqueza econômica para os conquistadores. Por fim, formando a o povo brasileiro
e sua cultura. A econômica escravista foi desumanizadora e desculturadora (RIBEIRO, 1995). Obrigando
o africano a deixar de ser alguém para se tornar um animal de carga.
Além de econômico a escravidão levou a sociedade brasileira a uma estruturação social e polí�ca,
imprimindo uma desigualdade entre os seres humanos.
Ao negro foi negado a cidadania, mesmo após a abolição. Sendo recusado e discriminado como mão de
obra paga. Levando muitos a fixarem a base da agricultura de subsistência e comercializando os
excedentes. “Na maioria das vezes posseiros ou pequenos proprietários os grupos rurais negros
constroem cole�vamente a vida sob uma base material e social, formadora de uma territorialidade
negra, na qual elaboram-se formas específicas de ser e exis�r como camponês e negro”(SILVA, 2012). 
Quando se analisa a questão fundiária em nosso país, a mesma está fortemente ligada a população
negra, pois quando se ins�tui a compra, os negros foram e excluídos desse processo, já que eram
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escravizados e depois por serem marginalizados na sociedade, portanto, sem a possibilidade de
adquirir terras. A obrigatoriedade da compra excluiu, além deste, os imigrantes e brancos pobres.
Porém, a história não é marca apenas de submissão, pois houve a resistência negra à escravidão por
meio de prá�cas como fugas, revoltas, assassinato de senhores, abortos e a formação de quilombos
(SILVA, 2012).
Os quilombos foi a materialização da resistência negra, uma das primeiras formas de defesa contra não
só a escravização, mas à discriminação racial e preconceito. Quando da fuga os escravizados buscavam
refúgio em áreas afastadas, nas florestas, se tornando seu abrigo e possibilidade de vida em liberdade,
para os indígenas, os mes�ços e negros.
O Quilombo dos Kalunga começa com a aliança entre os indígenas que já viviam no lugar há centenas
de anos, de diversas nações: Acroá, Capepuxi, Xavante, Kaiapó, Karajá entre outros. Tratavam-se por
tapivas ou compadres. No quilombo também chegavam brancos pobres. As terras eram dos próprios
negros que acabavam sendo donos delas de várias maneiras. Assim iam se formando as terras de
pretos. O povo Kalunga foi se estendendo pelas terras. Eles ocuparam um grande território que
abrange três municípios do Estado de Goiás: Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás (BRASIL,
2001) .
Desde o inicio da colonização os africanos escravizados se engajaram no combate contra a condição de
escravizados. O quilombo, mais conhecido é o da República de Palmares, porém, todos
Eram sociedades polí�co-militares, que nasceram de movimentos de insurreições, levantes, revoltas
armadas, proclamando a queda do sistema escravocrata. Freqüentemente aqueles movimentos
tomavam a forma de quilombos à semelhança de Palmares. Os quilombos exis�ram em múl�plos
pontos do país em decorrência das lutas ocorridas em diferentes lugares onde houvesse negação de
liberdade, dominação, desrespeito a direitos, acrescidas de preconceitos, desigualdades e racismo. A
dimensão dos quilombos variava de acordo com a proporção de habitantes, tamanho das terras
ocupadas, e estrutura da produção agrícola organizada nos lugares onde se eram estruturados.
(SIQUEIRA, 2005).
Os quilombos eram organizadas segundo os valores africanos. O termo quilombo, (Kilombo vem de
Mbundu, origem africana), “provavelmente significado de uma sociedade inicia�va de jovens africanos
guerreiras Mbundu – dos Imbangala” (SIQUEIRA, 2005).
 
Veja o caso do Quilombo de Palmares!
 
Palmares se localizava na capitania de Pernambuco, que hoje é o estado do Alagoas, e recebeu esse
nome por causa das árvores, as palmeiras agrestes, que delas tudo aproveitava para produção de
vinho, azeite, sal, roupas; das folhas cobria-se as casa; dos ramos, fazia-se os esteios da cobertura da
casa; dos frutos o sustento; além de servirem com ligaduras e amarras.
Palmares era composto por vários mocambos, grupos de povoamento (Subupira, Macaco e Zumbi, os
principais), composto por mais de 15 mil pessoas, os quilombolas.
O rei de Palmares era Ganga-Zumba, ele representava o senhor de todos os que chegassem em
Palmares. Era uma cidade, na qual �nha sua capela, e com imagens de Menino Jesus, Nossa Senhora da
Conceição e São Brás. Lá realizava casamentos, ba�zados, mas não da forma determinada pela Igreja.
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Era a cidade principal, dominada pelo Rei, e as outras cidades ficavam nas mãos dos potentados e
casos (SIQUEIRA, 2005).
A razão dos oficiais terem falhado, tantas vezes, em seu embate com Palmares, é que pelo caminho há
falta de água, serra elevada, causando fadiga, mata espessa, com muitos espinhos. Isso fazia com que
os soldados �vessem que carregar comida, armas, água, rede e ainda aguentar o peso das dificuldades
do caminho e da montanha. Isso tudo, deixava muito di�cil o acesso até o quilombo. O oficial queria
destruir Palmares, porque teria terras, escravos e honra.
Ganga-Zumba, governou Palmares de 1670 a 1687. Em 1678, firmou acordo com o governo de
Pernambuco, após grande período de luta. Mas, o mesmo não foi cumprido, sendo destruído o
Quilombo oficial.
A par�r daí Zumbi é aclamado como rei e intensifica a luta contra os proprietários e autoridades que
man�nham a escravidão (SIQUEIRA, 2005). Zumbi nasceu no quilombo, foi capturado quando criança,
por soldados e entregue ao padre Antonio Melo, que ensinou português e la�m, sendo ba�zado com
nome de Francisco. Com 15 anos fugiu e voltou ao Quilombo, se tornando líder contra a escravidão
(EBC, 2012).
Zumbi não aceita fazer acordo com os colonizadores e em 1694 cercam o quilombo, destruindo
Palmares. Zumbi, com 39 anos, escapa e ao ser capturado é morto, em 20 de novembro de
1695(SIQUEIRA, 2005).
Por isso o dia da consciência negra ser 20 de novembro, em homenagem ao herói nacional Zumbi dos
Palmares.
Hoje os espaços dos quilombos são cons�tuídos por populações quilombolas. “O território foi visto
como um espaço �sico, mas também como um espaço de referência para a construção da iden�dade
quilombola” (SILVA, 2012). Territórios que se tornaram mo�vos de disputas e conflitos, cobiçados pelas
monoculturas cana-de-açúcar e eucalipto, ou expansões urbanas, quanto como áreas à preservação
ambiental. O território para quilombolas é antes de tudo, a base para a construção da iden�dade
quilombola, pois antes de tudo o material, é polí�co, é econômico, sendo representação simbólica. A
sua terra, além do local de reprodução material para sustentar fisicamente, e também o seu local
simbólico, dos mitos e lendas, do sagrado desse provo.
No Brasil há aproximadamente 1.209 comunidades quilombolas, em 143 áreas já �tuladas, segundo
levantamento da Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério da Cultura. As maiores populações
de quilombolas estão na Bahia (229), Maranhão (112),Minas Gerais (89) e Pará (81). A cons�tuição de
1988, assegurou a terras aos descendentes, devendo o Estado conceder a o �tulo da terra. A par�r da
sua história os quilombolas criaram sua iden�dade, deixando de ser simplesmente comunidades
negras, para serem quilombolas. Hoje contam com1500 comunidades cer�ficadas, graças ao
Movimento Negro (SILVA, 2012). 
Com a globalização da questão social, intensifica-se a racialização do mundo, transnacionalizando
movimentos sociais de todos os �pos, como feministas, étnicas, religiosas, ecológicas etc. Muitos
acreditam que esses enigmas são insolúveis, que a globalização implica em mudar alguma coisa, mas
sem alterar nada. Porém, prefiro acreditar que esses problemas ou enigmas podem ser outras formas
de sociabilidade, levando a mudança no jogos de forças sociais resultando em outro �po de sociedade.
Vita (1989) vê a cidade enquanto um espaço privilegiado para analise da mudança social. A mul�dão é
um fenômeno resultante das áreas urbanas, mostrando as necessidades das massas despossuídas. É só
olharmos para os espaços geográficos contrastantes veremos as desigualdades sociais. Por exemplo, o
Rio de Janeiro com prédios estonteantes ao lado dos barracos. Mostrando as duas faces do
desenvolvimento econômico: a opulência e a miséria.
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Segundo a ONU, em 2007, a população urbana se igualou à população rural no mundo. O processo de
urbanização é visto por especialistas como inevitável e cabe às cidades se preparem para receber a
população rural que cada vez mais tende a deixar o campo.
O processo de urbanização é uma manifestação da modernização da sociedade, que passa por uma
transição do rural para o urbano-industrial. Os problemas nas áreas urbanas são inúmeros, a falta do
planejamento urbano permite receber os con�ngentes populacionais acabem formando bairros
periféricos, nos quais os serviços públicos são ausentes, as condições de moradia são precárias e as
distâncias dos bairros centrais.
A violência tem se cons�tuído em um dos principais problemas das áreas urbanas, com crimes, que
apontam para condições degradantes da vida. Esta situação provoca insegurança social, depredação
�sica e abalos morais, além dos custos elevados com serviços policiais e equipamentos de segurança.
Na esfera da cultura também há contrate.
A urbanização, apesar de criar muitos modos citadinos de ser, contribuiu para ainda mais uniformizar
os brasileiros no plano cultural, sem, contudo, borrar suas diferenças. A industrialização, enquanto
gênero de vida que cria suas próprias paisagens humanas, plasmou ilhas fabris em suas regiões. As
novas formas de comunicação de massa estão funcionando a�vamente como difusoras e
uniformizadoras de novas formas e es�los culturais. Conquanto diferenciados em suas matrizes raciais
e culturais e em suas funções ecológico-regionais, bem como nos perfis de descendentes de velhos
povoadores ou de imigrantes recentes, os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma
só gente, pertencente a uma mesma etnia. Vale dizer, uma en�dade nacional dis�nta de quantas haja,
que fala uma mesma língua, só diferenciada por sotaques regionais, menos remarcados que os dialetos
de Portugal. Par�cipando de um corpo uma das variantes subculturais que diferenciaram os habitantes
de uma região, os membros de uma classe ou descendentes de uma das matrizes forma�vas. Mais que
uma simples etnia, porém, o Brasil é uma etnia nacional, um povo-nação, assentado num território
próprio e enquadrado dentro de um mesmo Estado para nele viver seu des�no... (RIBEIRO, 1995, p. 21-
22).
 
No pensar do professor Perillo (2005) o sistema de representações simbólicas encontrado na cultura
visam compreender, explicar, solucionar e jus�ficar situações resultantes das relações dos seres
humanos com a realidade. Desta forma, reproduzem a realidade, segundo as leituras, a visão que tem
da realidade, segundo suas linguagens e formas de interpretas essa realidade, assim cada um tem sua
verdade, sua forma de ver, pensar e sen�r o mundo, contaminadas pelas ideologias.
 
 
 
Exercício resolvido:
 
Precisamos pensar que, um homem que vive em uma sociedade com o modo de produção capitalista, em uma
sociedade letrada, urbana, industrial, escolarizada, fundamentada pelo conhecimento científico tecnológico,
necessita conhecer a escrita, como os demais. Pois ser ___________________ em sociedade letrada,
demonstra ao indivíduo a falta de um requisito presente e valorizado em nossa sociedade.
Escolha a alternativa que preenche o espaço corretamente:
a) Analfabeto funcional
b) Alfabetizado
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c) Escolarizado
d) Analfabeto
e) Cientista
 
Resposta correta: D
 
Justificativa: O grupo cultural do analfabeto, tem um lugar definido, tendo como característica da sua
identidade a negação: a de que não sabe ler e nem escrever, por isso não tem acesso a forma de
funcionamento da sociedade. Isso cria um estigma do analfabeto, simbolizado pela marca do “dedão”,
repercutindo em sua vida pessoal e social.
 
Exercício 1:
 Historicamente podemos ver a valorização da origem portuguesa e desprezo pela indígena e
africana sendo construídas por meio de nossas produções artísticas. Por exemplo, na visão
de José de Alencar, o qual defendia que a liberdade dos escravos deveria ser aos poucos,
pois precisavam aprender a ser civilizados. E, alertava sobre os prejuízos que isso traria a
economia, intimidando o Imperador, e partilhando das ideias conservadoras da elite. Em sua
literatura utilizava o mito do bom selvagem. Essa atitude era comum, pois acreditavam na
inferioridade dos escravos, por meio das teorias do determinismo biológico, como do
evolucionismo social, em voga no século XIX. Descartando o africano na formação do povo
brasileiro. Que segundo essa visão somente os brancos e índios, formaria nosso povo.
Encarando o português como o desbravador, o destemido, o conquistador e o índio, como
pacífico, passivo para receber a civilização do europeu. (REIS, 2012). Esse romantismo, de
José de Alencar fez parte de qual movimento?
 
A)
Revolucionário.
B)
Político.
C)
Literário.
D)
Econômico.
E)
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Modernista.
Exercício 2:
Contrariamente ao romantismo presente em José de Alencar, tivemos a Semana da Arte
Moderna, em 1922, com o objetivo de renovação cultural no Brasil, com uma nova maneira de
ver a realidade social brasileira. Buscando incorporara a cultura indígena e africana, deixando
de nos envergonhar de nossa miscigenação. Mostrando que em nossas matas há curupira e
não duendes. Incorporando o verso livre, com seus erros. Buscando em todo território
elementos de nossa cultura para suas criações.
 Escolha alternativa que apresenta esse movimento:
 
A)
Revolucionário.
B)
Político.
C)
Literário.
D)
Modernista.
E)
Econômico.
Exercício 3:
Saber ler e escrever traz consequências sociais, culturais para o cidadão, já que muda sua
condição social, sua forma de ver e viver na sociedade. Pois a partir dessas competências
passa a ter acesso a bens culturais produzidos por sua sociedade, que antes não podia ter.
Porém não basta aprender a ler e escrever, isto é, preciso saber pensar e criticar o próprio
conhecimento. Na maioria das vezes a educação destinada aos menos favorecidos
economicamente é de baixa qualidade, feita de qualquer jeito, apenas para dizer que está
sendo feita, para contar do índice de alfabetização, nos quadros políticos. Resultando em
prejuízo pessoal e social, já que aprendem a ler e escrever, porém não sabe interpretar,
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analisar, muito menos utilizar esse conhecimento. Escolha a alternativa que apresenta esse
conceito:
 
A)
Analfabeto.
B)
Analfabeto Funcional.
C)
Alfabetizado.
D)
Ensino Fundamental.
E)
Ensino Médio.
Exercício 4:
 A cultura brasileira é caracterizada pelo sincretismo, como podemos perceber esse
sincretismo nas religiões do Candomblé e da Umbanda?
A)
 Quando encontramos vínculo dos Orixás, do Candomblé e da Umbanda, com os santos da
Igreja Católica, já que São Jorge é Ogum, Santa Bárbara Iansã etc.
B)
Quando encontramos as vestimentas parecidas com a Igreja Católica.
C)
Quando encontramos o ritual igual ao da Igreja Católica.
D)
Quando vemos um padre dentro do terreiro dessas religiões.
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E)
Quando vemos pessoas de todas as religiões participando dos cultos afros.
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https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 32/32com a sua situação de miséria. Além disso, elegem polí�cos em
todas as esferas, seja a municipal, a estadual ou a federal, tendo poder para mandar da maneira que
quiser.
Abaixo da cúpula, temos as classes intermediárias, os oficiais, profissionais autônomos, policiais,
professores, religiosos (padres). Estes são os que prestam obediência às classes dominantes, com a
intenção de receber alguma coisa em troca. É desta classe, sobretudo entre os religiosos e os poucos
intelectuais, que advêm os �pos mais subversivos, que atuam contra a ordem vigente.
As classes subalternas são formadas pela aristocracia operária, aqueles que possuem empregos
constantes, os especialistas, e também pelos “pequenos proprietários, arrendatários, gerentes de
grandes propriedades rurais etc.” (RIBEIRO, 1995, p. 209).
Abaixo de todas essas classes está a grande massa dos brasileiros, classes oprimidas dos chamados
marginais, especialmente os negros e mulatos, moradores das favelas e das periferias das cidades.
São os enxadeiros, os boias-frias, os empregados na limpeza, as empregadas
domés�cas, as pequenas pros�tutas, quase todos analfabetos e incapazes de
organizar-se para reivindicar. Seu desígnio histórico é entrar no sistema, o que sendo
impra�cável, os situa na condição da classe intrinsecamente oprimida, cuja luta terá
de ser a de romper com a estrutura de classes. Desfazer a sociedade para refazê-la.
(RIBEIRO, 1995, p. 209).
Texto II - Estratificação social
É nessa hierarquia de classes que se estrutura e organiza a sociedade brasileira, na qual, segundo
Ribeiro (1995), os dominantes estão no comando natural, sendo o seu corpo dirigente as classes
intermediárias; e seus executores, as classes subalternas, sendo a maioria da sociedade pertencente às
classes oprimidas, resignadas em sua miséria e incapazes de organizar-se e confrontar os donos do
poder. Assim, a classe dominante é formada por um pequeno número de pessoas e tem o poder sobre
a sociedade devido ao apoio das outras classes. Os que estão na classe intermediária são os que
mantêm a ordem social. As subalternas são formadas por aqueles que estão na vida social, já que
trabalham no sistema produ�vo e são os consumidores, sindicalizados, tendo como visão defender o
que possuem e ganhar mais, muito mais do que lutar para transformar a sociedade. Por úl�mo, temos
as classes oprimidas, os excluídos da vida social, que lutam para entrar no sistema produ�vo pelo
acesso ao trabalho.
Segundo Ribeiro (1995, p. 211) é justamente a esses despossuídos “que cabe o papel de renovador da
sociedade como combatente da causa de todos os outros explorados e oprimidos.” Já que a única
forma de pertencer à vida social é acabando com essa estrutura de classes, pois antes eram os escravos
e agora são os subassalariados.
Veja o quadro abaixo da composição das classes sociais:
Quadro 01 – Estra�ficação social brasileira.
 PATRONATO: oligárquico – senhorial, parasitário; Moderno
– empresarial, contratista.
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Classes
dominantes
Estamento gerencial estrangeiro
PATRICIADO: estatal – político, militar, tecnocrático; civil
– eminências, lideranças, celebridades.
 
Setores
Intermediários
 
AUTÔNOMOS: profissionais liberais, pequenos
empresários.
DEPENDENTES: funcionários, empregados.
 
 
Classes
subalternas
 
CAMPESINATO: assalariados rurais, parceiros,
minifundistas.
OPERARIADO: fabril, serviços.
 
 
Classes oprimidas
 
MARGINAIS: trabalhadores estacionais, recoletores,
volantes, empregados domésticos, biscateiros –
delinquentes, prostitutas – mendigos.
Fonte: Darcy Ribeiro (1995)
 
No Brasil, as classes sociais estão separadas pela distância econômica, social, bem como, pela cultura.
O que caracteriza o rico é o vigor �sico, vida longa, beleza, conhecimento e hábitos refinados como
resultados de sua riqueza. Em vez disso, o pobre a doença, vida curta, envelhecimento, saber do senso
comum, e hábitos arcaicos resultado de sua vida de miséria.
Quando uma pessoa consegue a mobilidade social ingressando em outra classe e nessa permanece,
nas duas próximas gerações pode se perceber a mudança: “(...) crescerem em estatura, se
embelezarem, se refinarem, se educarem, acabando por confundir-se com o patriciado tradicional”.
(RIBEIRO, 1995, p. 211)
Segundo Ribeiro (1995), a estra�ficação social (divisão da sociedade em camadas sociais), criada
historicamente se caracteriza pela racionalidade que resulta da sua montagem, já que os privilegiados
são os donos da vida e os demais são u�lizados para o seu enriquecimento, sendo subjugados, tendo
apenas o direito de comer para trabalhar e o de fazer filhos para repor a mão de obra. Isso, para o
autor, ocorre devido o fato de o patrão brasileiro ter sido formado a par�r de relações sociais da
escravatura, do qual �rava do escravo o maior proveito possível. Assim, quando o escravo é subs�tuído
pelo parceiro, depois pelo assalariado agrícola, os valores que irão persis�r nas relações com seus
empregados são as mesmas que �nha com o escravo, valores desumanos.
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Consequentemente, nas vilas em volta das fazendas, haverá uma população de velhos desgastados no
trabalho, com crianças para cuidarem. Aqueles com idade a�va ficam fora, são os boias-frias, as
empregadas domés�cas, as pros�tutas etc.
Nas cidades, a situação é pior, algumas pessoas tentam sair da pobreza e outras se integram cada vez
mais nela. Ou, então, o caminho é a marginalidade.
Ribeiro (1995) fez uma pesquisa sobre as condições de vida das camadas urbanas e rurais do Brasil e
chegou à seguinte conclusão: as classes sociais brasileiras não podem ser representadas por um
triângulo, com um nível superior, um núcleo e uma base. Elas configuram um losango, com um ápice
finíssimo, de pouquíssimas pessoas, e um pescoço, que vai alargando daqueles que se integram no
sistema econômico como trabalhadores regulares e como consumidores. Tudo isso como um funil
inver�do, onde está a maior parte da população, marginalizada da economia e da sociedade, que não
consegue empregos regulares nem ganhar o salário mínimo.
 
 
 
Para Ribeiro (1995), é possível uma pessoa melhorar de situação economicamente simplesmente
mudando de região, devido à nossa diversidade regional.
A classe dominante tem um papel de explorador sobre as demais classes sociais, sua conduta é
fundamentada em dois es�los contrários. Um, pela cordialidade com os que fazem parte da mesma
classe que eles; outro, com descaso por aqueles que são de outras classes, os que são inferiores. A
mesma pessoa representa dois papéis, gen�l com seus convidados e senhor com seus subordinados.
A dignidade pessoal, para Darcy Ribeiro (1995), na condição de exploração, é preservada por a�tudes
cautelosas para não cair em desentendimento, pois se o mesmo ocorrer, a pessoa de uma classe que
não é a dominante pode perder o trabalho e acabar no bandi�smo. Porém, o contexto social os leva
acomodação e não a rebeldia.
Isso vai caracterizar a base econômica brasileira até os dias de hoje, tendo suas marcar bem claras, já
que a economia tem ainda seu foco na produção voltado para exportação, com a exploração na mão de
obra de seu povo.
Uma das mais importantes influências do contexto econômico acima descrito ocorreu com o
descompromisso em relação à educação.
Primeiro causando uma ruptura, pois trouxeram o padrão de educação da Europa, sendo que os
indígenas possuía seu próprio método. Segundo, que desde o início da colonização portuguesa as
principais a�vidades voltadas para a educação ficaram principalmente sob a responsabilidade dos
padres jesuítas, que além de moral, costumes e religiosidade europeia também trouxeram os seus
métodos pedagógicos.
Método u�lizado durante 210 anos, de 1549 a 1759, quandouma outra ruptura ocorreu com a
expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal, ministro do rei português. Destruindo a estrutura
existente e implantando caos. Tentou a Escolas Régias, mas o caos con�nuou até a vinda da Família
Real ao nosso país, fugidos de Napoleão que invadiu suas terras.
Os jesuítas foram expulsos porque se preocupavam com o proseli�smo (converter o povo ao
catolicismo) e o noviciado (preparação religiosa antes do voto). Enquanto que Pombal queria reerguer
Portugal da decadência que se encontrava perante as outras potências europeias. Assim os
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ensinamentos dos jesuítas não respondiam aos interesses comerciais de Portugal. Assim, “Pombal
pensou em organizar a escola para servir aos interesses do Estado” (BELLO, 2001).
Pombal criou as Escolas Régias com la�m, retórica e grego, sendo que cada escola era autônoma e
isolada, com um único professor. Logo, a metrópole percebeu que a educação aqui não estava
desenvolvendo-se. A solução encontrada foi o “subsídio literário”, um imposto para manutenção do
ensino primário e médio. Além de ser escasso, esse não era cobrado com regularidade e os professores
ficavam sem receber seu salário e esperavam uma solução de Portugal. Tudo resultou que no início do
século XIX, a educação estava reduzida a nada.
No período colonial os que queriam concluir seus estudos iam para fora do país “como, por exemplo,
estudar Direito na Universidade de Coimbra ou Medicina na Montpellier na França, tais cursos eram
des�nados unicamente as elites. Assim, quem estudava fora do país durante esse período era o filho do
Barão, dos grandes proprietários de terras da colônia o índio e o negro não �nham privilégios”
(CABRAL; PENA, 2010).
Como eram os escravos quem fazia o trabalho pesado, não havia, segundo os colonizadores, mo�vo
para que esses fossem qualificados, “posto que, estes nasceram sem alma, por isso sua função era
simplesmente trabalhar e nada mais” (CABRAL; PENA, 2010).
A consequência dessa forma de pensar, etnocêntrica, preconceituosa, foi econômica, polí�ca e social
para as futuras gerações desses escravizados, que formaram os proletários explorados de nosso país.
 O primogênito do colonizador era aquele que com conhecimento tomava conta dos negócios da
família, enquanto os demais descendentes acabavam na vida sacerdotal ou intelectual. Essa cultura só
para os privilegiados causará danos a cultura brasileira, pois somente os homens faziam parte desse
processo educacional, preparando a mulher apenas para o casamento, para cuidar do lar, fomentando
uma cultura machista para nossa sociedade. 
A Família Real veio para o Brasil em 1808, e com ela uma nova ruptura. D. João VI abriu academias
militares, escolas de direito e medicina, criou a biblioteca real, o jardim botânico e a imprensa régia. A
imprensa permi�u a divulgação de informações ao meio letrado, porém a educação ainda con�nuou
em plano secundário.
D. Pedro I, em 1822, proclama a Independência do Brasil, em 1824, temos a primeira Cons�tuição que
diz que a instrução primária seria garan�da a todos os cidadãos (BELLO, 2001).
 
Quadro 02 – Mudanças realizadas na educação no período imperial (1822-1888)
 
1823
 
Para suprir a falta de professores instaura-se o método Lancaster, no
qual um aluno é treinado e esse ensina a um grupo de 10 alunos, com
a vigilância de um inspetor.
 
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1824
 
A instrução primária é garantida a todos pela constituição.
 
 
1826
 
Criação dos quatro graus de instrução: Pedagogias, Liceus, Ginásios e
Academias.
 
 
1827
 
Criação de pedagogias em todas as cidades e vilas, com exame de
seleção aos professores.
 
 
1834
 
A Constituição passa para as províncias a responsabilidade de
administrar o ensino primário e secundário.
 
 
1835
 
Surge a primeira Escola Normal, em Niterói.
 
 
1837
 
É criado o Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, com o objetivo de se
tornar um modelo pedagógico para o curso secundário.
 
Fonte: Bello (2001)
Segundo Cris�na Costa (2005), é a par�r do século XVIII, por causa da mineração, que houve
transformações sociais. Minas Gerais passa pela urbanização, contando com a�vidades comerciais e
para exportação, mudando a organização social colonial, passando a ser dividida por dois grupos: os
donos de terra e administradores e os escravos. Novas profissões começam a surgir: comerciantes,
criadores de animais, ar�fices, funcionários administra�vos para controlar a mineração e a exportação.
Nesse momento, a população livre é maior do que a escrava e essa camada intermediária precisa de
uma cultura que seja diferente da do escravo inculto e dedicado ao trabalho braçal. Será essa camada,
as dos homens livres e sem propriedade, que irá consumir a erudição e a cultura europeia, o
conhecimento como forma de ostentação.
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Quanto à produção intelectual, Cris�na Costa (2005) conta que des�navam se a descrever a colônia a
par�r de estudos naturalistas, com o nome de História Natural, e passaram a recrutar da classe
intermediária intelectuais que es�vessem dispostos a servir ao rei e às classes dominantes. Con�nuava
a ser uma produção alienada, ditada pelos europeus, com o obje�vo de organizar o saber descri�vo,
funcional e de ostentação. Havia um grupo que possuía conhecimento jurídico e descri�vo, mas sem
pensamento crí�co. Era uma formação filosófica e humanís�ca desempenhada por professores,
jornalistas e funcionários públicos que eram dependentes da corte e dos donos de terras.
Como consequência, quase que direta da forma de exploração econômica, ocorreu a formação de uma
sociedade rural, patriarcal e fortemente estra�ficada.
Ao longo de uma parte considerável da formação da nossa sociedade predominou uma estra�ficação
“piramidal e bipolarizada”. Isto é, de um lado, os senhores brancos, que cons�tuíram uma aristocracia
agrária, bem caracterís�ca do Brasil, até a época da economia cafeeira. De outro lado, até o final do
século XIX, a grande quan�dade de escravos. No meio, poucos homens livres (brancos e mes�ços),
altamente subordinados aos senhores rurais, como os “lavradores” das denominadas “fazendas
obrigadas” e os pequenos comerciantes e poucos profissionais liberais.
É interessante destacar o problemá�co papel dos mes�ços, principalmente mulatos e cafuzos, que
conforme é destacado pelo Prof. Darcy Ribeiro (1995), estavam numa situação de “homens de segunda
categoria” e em constante conflito, na medida em que ocupavam uma situação problemá�ca entre os
brancos e os negros escravos.
Em função dessas caracterís�cas houve uma significa�va dependência em relação aos senhores e a
formação de uma verdadeira “clientela” do senhor, incluindo os denominados agregados da família
patriarcal, muitos relacionados a uma relação de compadre, com os senhores rurais.
Nesse �po de sociedade houve o desprezo pelo trabalho manual, relacionado à inferioridade, à
pobreza e outros valores nega�vos.
Em relação à formação da família patriarcal, na qual o poder básico estava com o denominado pater
família e o destaque do filho primogênito (inicialmente o único herdeiro) a família era organizada
segundo as normas do direito romano canônico, isto é, o pátrio poder é ilimitado, tendo poucos freios
para sua �rania. É clara a referência do autor à uma constante prá�ca da violência, em diversos
sen�dos e não somente em relação aos escravos, mas tornando-se algo que, infelizmente, ficou
marcante da construção de caracterís�cas da nossa cultura co�diana, a cultura da violência.
A ostentação senhorial, durante a fase colonial e imperial, no sen�do deposse material, a escravaria
domés�ca e nas festas, contrata com uma pobreza de parte da maioria da população, com o baixo nível
sanitário e uma certa promiscuidade, propiciando a propagação de doenças venéreas, como a sífilis.
Segundo Bello (2001), até a Proclamação da República, em 1889, nada se fez de concreto pela
educação. Com a republica tentou-se muitas reformas para melhorar a educação, porém não houve um
processo de desenvolvimento significa�vo. Até hoje muito tem se alterado no planejamento
educacional, mas a educação con�nua a ter as mesmas caracterís�cas, a manutenção de “status quo"
para aqueles que frequentam a escola.
O analfabe�smo sempre foi usado como apelo polí�co e ideológico, por meio de um tema educacional
e social retorna á agenda pública mesmo não oscilando na escala de prioridades governamentais. É
usado como índice de desenvolvimento, aliado aos problemas econômicos, polí�cos e sociais, como:
crime, desemprego, mortalidade infan�l, aumento da natalidade, a pobreza etc. O debate para
erradicar o analfabe�smo assume conotações polí�cas.
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Nas décadas de 50, 60, e 70 o pensador Paulo Freire foi cri�cado nos meios acadêmicos, pelo seu
“entusiasmo em relação ao poder da alfabe�zação na promoção do desenvolvimento humano”.
(LUCIANA, 2007).
Porém, precisamos pensar que, um homem que vive em uma sociedade com o modo de produção
capitalista, em uma sociedade letrada, urbana, industrial, escolarizada, fundamentada pelo
conhecimento cien�fico tecnológico, necessita conhecer a escrita, como os demais. Pois ser analfabeto
em sociedade letrada, demonstra ao indivíduo a falta de um requisito presente e valorizado em nossa
sociedade. Assim sendo, o grupo cultural do analfabeto, tem um lugar definido, tendo como
caracterís�ca da sua iden�dade a negação: a de que não sabe ler e nem escrever, por isso não tem
acesso a forma de funcionamento da sociedade. Isso cria um es�gma do analfabeto, simbolizado pela
marca do “dedão”, repercu�ndo em sua vida pessoal e social (SANTOS, 2005).
A apropriação das competências de leitura e escrita traz consequências sociais, culturais para o
cidadão, já que muda sua condição social, sua forma de ver e viver na sociedade. Pois passa a ter
acesso a bens culturais produzidos por sua sociedade, que antes não podia ter. Porém não basta
aprender a ler e escrever, isto é, precisar haver a preocupação com a elaboração desses
conhecimentos. Pois se tem claro. Que na maioria das vezes a educação des�nada aos menos
favorecidos economicamente é de baixa qualidade, feita de qualquer jeito, apenas para dizer que está
sendo feita, para contar como índice de alfabe�zação, nos quadros polí�cos. Assim, a educação é
realizada com menor custo e com maior número de pessoas possíveis, resultando no analfabeto
funcional. Sabe ler e escrever, porém não sabe interpretar, analisar, u�lizar esse conhecimento.
Veja a mudança do conceito de alfabe�smo realizado pela UNESCO (TOLEDO, 2012):
A definição de alfabe�smo vem sofrendo significa�vas mudanças nas úl�mas
décadas. Se em 1958 uma pessoa era considerada alfabe�zada quando conseguia ler
ou escrever uma frase simples, hoje, com o avanço das tecnologias de comunicação,
a modernização das sociedades e o aumento da par�cipação social e polí�ca, essas
habilidades não são mais suficientes. A Unesco define que uma pessoa alfabe�zada
é aquela capaz de ler e escrever em diferentes contextos e demandas sociais e de
u�lizar essas habilidades para con�nuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo
da vida, dentro e fora da ins�tuição escolar. Para essa nova maneira de conceber a
alfabe�zação, a Unesco sugere a adoção do conceito de Alfabe�smo Funcional,(7) o
qual indica que, além de possuir as habilidades de leitura e escrita, a pessoa deve
saber u�lizá-las, processando diferentes textos em diferentes contextos e situações
comunica�vas.
Segundo Toledo (2012), analfabe�smo funcional está ligado ao pouco tempo de escolaridade e
contamos com mais de 30 milhões de pessoas em nosso país com essa categorização. Quando
analisamos a educação brasileira chegamos a dados alarmantes, por exemplo, uma pessoa com 25
anos ou mais precisa ter no mínimo 11 anos de estudo (concluindo o ensino médio), porém muitos
brasileiros não concluíram o ensino fundamental, pois a média é de 6,7 anos de estudo. Quando os
dados se referem as pessoas pardas e negras, o número é mais baixo, já que em média estudam 2,1
anos a menos dos que os brancos. Isso é resultado da desigualdade racial, econômica, educacional e
social presente historicamente em nosso país, acaba resultando em violência. O povo con�nuar a ser
tratado de maneira desinteressada pela esfera polí�ca.
Assim, percebe-se que, nesse contexto, não há ins�tuições democrá�cas, mas o autogoverno. Pois o
governo polí�co, desde a Colônia, no Império e na República sempre foi exercido pela classe
dominante.
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http://www.letras.ufmg.br/atelaeotexto/nota_lucineia.html
A sociedade resultante deste contexto tem problemas impossíveis de serem resolvidos como a
impossibilidade de garan�r um padrão de vida sa�sfatório para a maioria da população brasileira, a
incapacidade de ter uma cidadania livre e, por isso, a impossibilidade de fundar uma sociedade
democrá�ca. Segundo Ribeiro (1995, p. 219), “a eleição é uma grande farsa em que massas de eleitores
vendem seus votos àqueles que seriam seus adversários naturais”.
A única forma de mudar essa estrutura de opressão é a par�r do surgimento e expansão do movimento
operário. O operário sindicalizado, nas cidades, reivindica, apresentando-se como um lutador
enfrentando seu patrão.
Além da distância econômica entre pobres e ricos, também há discriminação dos negros, mulatos e
índios, sendo os negros os que mais sofrem. Entretanto, a rebeldia desses é menor do que deveria ser.
No passado, as lutas mais longas que aconteceram no Brasil foram a “resistência indígena secular e a
luta dos negros contra a escravidão, que duraram os séculos do escravismo. Tendo início quando
começou o tráfico, só se encerrou com a abolição”. (RIBEIRO, 1995, p. 219-220).
A fuga era sua forma de resistência, e sua intenção era recomeçar uma vida com liberdade nos
quilombos, comunidades de negros fugidos que se mul�plicavam em milhares. O quilombola era um
negro aculturado, pois usava uma cultura brasileira e não �nha como voltar a ter uma vida como na
África. Ribeiro (1995) diz que isso demonstrava seu drama de vida, pois não podia voltar mais a ser o
que era.
Ribeiro (1995) diz que a maior luta do negro africano e de seus filhos brasileiros foi e é a busca por um
lugar e por um papel como par�cipante legí�mo da sociedade brasileira. Ele, a par�r de sua força,
ajudou a construir esta sociedade, e, com isto, ocorreu a sua desafricanização, começando pelos fatos
de ter aprendido a falar o português e de tê-lo difundido por todo o território.
No fim do período colonial, os negros �nham a maior quan�dade de gente aqui no Brasil. Sua abolição
levou à queda do Império e à proclamação da República. Porém, a classe dominante reorganizou a
estrutura de força de trabalho com mão de obra do imigrante no lugar da dos escravos, já que esses
estavam adaptados ao processo salarial e com vontade de trabalhar para conquistar um pouco de
terra.
Os negros, por sua vez libertos, abandonavam as fazendas, ganhavam a estrada e procuravam um
terreno baldio para plantar milho e mandioca para comerem e viverem livres. Isso os levou a
miserabilidade, pois toda vez que acampavam, os fazendeiros, por meio da policia, os expulsava, já que
toda terra �nha dono.
Mas os negros se man�veram por meio da sua resistência cultural, como por exemplo, a sua música, a
sua dança e com a sua religião, o candomblée a umbanda. Quando ouvimos alguém falar que é
candomblecista ou umbandista, muitos pensam, isso é coisa do diabo. Porém, perceba que essa é uma
posição etnocentrista, pois coloca a religião do outro como menor, sem valor, se auto valorizando.
Perceba o processo de aculturação a par�r do sincre�smo, isto é, a junção de várias regiões em uma
só. Por exemplo, o candomblé a e a umbanda. O candomblé é a religião de origem africana, que se
formou na Bahia no século XIX, tendo outras modalidades, segundo a região, como (PRANDI, 2004):
xangô (Pernambuco), tambor-de-mina (Maranhão), batuque (Rio Grande do Sul), que se cons�tuíram
no século XX. A religião se tornou uma forma de resistência cultural e luta contra a dominação dos
brancos e a religião católica.
Essas religiões citadas acima representa a preservação do patrimônio étnico dos descendentes
africanos, os an�gos escravos. Hoje conta com a presença de brancos dentro dessas religiões.
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Enquanto o candomblé, e as demais denominações, dos cultos africanos tradicionais, man�nham-se e
preservava-se, uma nova religião foi criada no Brasil, no Rio de Janeiro, a Umbanda.
Na verdade poderíamos dizer que essa é religião genuinamente brasileira. Pois nasce aqui, por meio do
processo de aculturação, por meio do sincre�smo, isto é, unindo várias religiões em uma só.
Vou te explicar melhor!
A Umbanda nasce da junção com o “catolicismo branco, a tradição dos orixás da vertente negra, e
símbolos, espíritos e rituais de referência indígena, inspirando-se, assim, nas três fontes básicas do
Brasil mes�ço” (PRANDI, 2004).
Ela rapidamente se espalhou pelo Brasil, pelos países do Cone Sul, chegando até ao velho mundo.
Porém, nos anos de 1960, o candomblé, com sua raiz ins�gante de interpretação do mundo, espalha-se
pela Bahia e para todo o Brasil, seguindo a mesma trilha da Umbanda.
O que essas religiões tem em comum?
Tanto uma como a outra oferecem uma magia para resolver problema do não devoto, sem que esse
tenha que se envolver com a religião (PRANDI, 2004). Como a consulta pelo jogo de búzios e ebós
(ritual para limpeza ou oferenda), do candomblé ou pela conversa e passe com os caboclos e pretos
velhos, da umbanda. Desta forma, as pessoas que vão se consultar, em sua maioria, são das mais
varias religiões.
 Observação: Magia, não é mágica. Magia significa um conhecimento que a par�r de prá�cas, rituais,
entram em contato com aquilo que está oculto, na natureza, no universo e na divindade. Buscando
desenvolver integralmente o homem.
 
Nos anos de 1960 e 1970, a classe média intelectualizada, do Rio e de São Paulo, legi�mam
socialmente a cultura negra do candomblé, valorizando a cultura baiana, os intelectuais e os ar�stas.
Segundo Prandi (2004), começa aí a africanização do candomblé, isto é, a busca pela tradição, a volta
ao original, em busca do aprendizado da língua, dos ritos e mitos. Voltando a África, para recuperar o
patrimônio perdido na adversidade entre as etnias no Brasil. Pois, a par�r de então é “mo�vo de
orgulho, sabedoria e reconhecimento público, e assim ser o detentor de uma cultura que já é, ao
mesmo tempo, negra e brasileira, porque o Brasil já se reconhece no orixá, o Brasil com axé” (PRANDI,
2004, p.224).
Acredito que você não entendeu o que eles foram recuperar, não é? Pois então, vamos à história.
Desde a colonização o discurso e a legislação impunham a cultura do branco, do português, a religião
católica. A religião do branco era a verdadeira, a única, absoluta. Assim, como a sua forma de celebrar e
crer era a única forma de se encontrar com Deus. Desprezando e desvalorizando as demais religiões.
O Candomblé, desde a colonização foi um instrumento de luta e resistência da cultura negra africana.
No período de escravidão a luta dos povos negros pela liberdade se travará em diferentes contextos,
até por meio de guerras, como por exemplo, os vários quilombos espalhados pelo país.
Além disso, a classe dominante é quem organiza o Estado, desta forma as leis são ins�tuídas por ela,
proibindo os cultos africanos e fazendo desse caso de polícia, mas apesar da opressão com invasão
policial em domicílios e prisões, espancamentos, destruição dos objetos sagrados, os religiosos não
deixaram sua crença. 
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Apesar de essa religião estar no Brasil desde a colonização, não há documentos que o comprovem sua
origem, a única data de 1830, é a da fundação da Casa de Candomblé. Porém, apesar de não haver
documentos, o Candomblé era pra�cado, pois havia em nosso país várias nações da África desde os
primeiros colonos portugueses.
 Candomblé, na verdade, significa o termo escolhido para definir os vários cultos africanos no Brasil,
a palavra designa
a interação e adaptação das diversas formas de culto dos africanos para aqui
trazidos, predominando entre essas, às influências, Congo/Angola (contribuição dos
africanos da África Bantu), Nagô/Ketu (contribuição das etnias iorubás,
sobressaindo-se os sistemas Ketu e Oyo), e Jeje/Nagô (contribuição dos povos
Fon/Ewe). A palavra Candomblé, simultaneamente, é associada à prá�ca de tais
cultos, ao mesmo tempo em que é entendida como sinônimo dos locais onde tais
cultos são realizados (SANTOS, 2011, p.5).
Por mais que o colonizador �vesse deixado exis�r o Candomblé, isso não significou a sua aceitação pela
elite e pelo Estado. Sempre ocorreu a tenta�va de acabar com a crença e também com a forma de
resistência. Mesmo com a Lei Áurea, em 1888, não há a liberdade. O povo negro africano terá que
resis�r para se inserir na sociedade, sofrendo preconceito, exclusão, insultos, agressões e perda de sua
liberdade para ter direito de celebrar sua crença. Que era diferente da elite branca e da profe�zada
pelo Estado (SANTOS, 2011). Por mais que o Estado �vesse se separado da Igreja em janeiro de 1890 e
efe�vado a liberdade de culto, nas reformas cons�tucionais de 1891, 1926 e 1934 a lei estabelecia que,
todos �nham a liberdade para a prá�ca de cultos religiosos, contanto que não transgrida a ordem e os
bons costumes.
Porém, isso não vale para os negros e sua religião, pois eram declarados como bárbaros, e tratados
como marginais. Por outro lado, a lei e a elite, não considerava a religião dos africanos como religião,
mas como seita. 
Tudo isso revela o preconceito que sempre exis�u com a religião do povo negro e existe até dos dias de
hoje.
Em 1997 foi aprovada a lei que o ensino religioso, que deve atender à diversidade, desta forma não
cabe mais posturas radicais, preconceituosas, porém nas ins�tuições escolares, o educador precisa ter
uma postura rela�vista, respeitando a diversidade cultura e religiosa da iden�dade brasileira.
Percebemos o sincre�smo, nas religiões, quando encontramos os vínculos dos Orixás, do Candomblé e
da Umbanda, com os santos da Igreja Católica, pois São Jorge é Ogum, Santa Bárbara Iansã.
Segundo Mota (2011, p.198) o sincre�smo nada mais representa do que a contradição, a dialé�ca
existente na sociedade brasileira:
O Candomblé e com ele o sincre�smo, representam, por assim dizer, um momento
dialé�co, um mundo de contradições, entre igualitarismo e escravismo, entre
pertencer à sociedade fundada e organizada pelos senhores e não pertencer, entre
assimilação ao caráter predominantemente europeu, ocidental, de nossa cultura e a
al�va manutenção de nossa iden�dade do Brasil, mulata, morena. Enunciei alguns
aspectos do mundo de contradições de que o sincre�smo representa não a
conciliação precária, mas a síntese vivida. Entre todos os ângulos da contradição, o
menos importante me parece justamente aquele com que se tem mais preocupado
etnólogos e leigos, desde o tempo do nosso patriarca Nina Rodrigues: o sincre�smo
puramente lógico, que funde (no Recife)Xangô e São João, lansã e Santa Bárbara,
lemanjá e a Virgem da Conceição.
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Ribeiro (1995) afirma que, pelo fato dos membros das classes dominantes no Brasil serem
descendentes dos an�gos senhores de escravos, persis�u nesses o comportamento de desprezo para
com os negros e com sua cultura.
A classe dominante apreendeu, com seus antepassados, que o negro servia apenas como força para o
trabalho. Por isso, quando se encontrava sem força, este negro poderia ser subs�tuído por outro como
um objeto qualquer. Da mesma forma são tratados os pobres, considerados ordinários pela falta de
conhecimento, pela preguiça, pelos delitos que são inatos, sem a possibilidade de mudança.
Desta forma, todos os pobres são considerados culpados pela sua desgraça, já que isso é caracterís�co
da raça e não da escravatura. O pior é que essa forma de pensar também vai ser u�lizada pelos mulatos
e negros que passam a uma posição melhor na sociedade, acabando por discriminar a massa miserável
de negros. Como podemos ver na fala de Ribeiro (1995, p. 222):
A nação brasileira, comandada por gente dessa mentalidade, nunca fez nada pela
massa negra que a construíra. Negou-lhe a posse de qualquer pedaço de terra para
viver e cul�var, de escolas em que pudesse educar seus filhos, e de qualquer ordem
de assistência. Só lhes deu, sobejamente, discriminação e repressão. Grande parte
desses negros dirigiu-se às cidades, onde encontrava um ambiente de convivência
social menos hos�l. Cons�tuíram, originalmente, os chamados bairros africanos, que
deram lugar às favelas. Desde então, elas vêm se mul�plicando, como a solução que
o pobre encontra para morar e conviver.
Devido ao con�ngente de homens brancos vindos para o Brasil e as poucas brancas que para cá vieram,
a matriz fundamental foi a mulher indígena, na maioria das vezes fecundada pelo branco. Isso explica a
branquização do brasileiro, já que o mes�ço de europeu e índio tem a pele de tom moreno claro, o
que, no pensamento racista, passa facilmente como o “puro branco”. Darcy Ribeiro (1995) demonstra
isso por meio do censo, no qual apresenta uma diminuição progressiva da população negra brasileira.
Quadro 03 – Distribuição da população brasileira segundo a cor de 1872 a 2010[1]2
Cor 1872 % 1890 % 1940 % 1950 % 1990 % 2010 %
Brancos 3.854 38 6.302 44 26.206 63 32.027 62 81.407 55 91.051 48
Pretos 1.976 20 2.098 15 6.644 15 5.692 11 7.264 5 14.517 8
Pardos 4.262 42 5.934 41 8.760 21 13.786 26 57.822 39 82.277 43
Total 9.930 14.333 41.236 51922 147306 190.749 
Fonte: RIBEIRO (1995, p. 229). Fonte de 2010, Censo do IBGE. Foram considerados pardos os
chamados de amarelos, nipo brasileiros e índios, que não são nem 5% dos totais.
Ribeiro (1995) chama a atenção para o crescimento do grupo branco, que vai de 38% para 55% da
população. Isso não ocorre devido à vinda dos imigrantes, mas é claro que esta porcentagem pode ter
aumentado devido à melhor condição econômica, porque, enfim, isto resulta em uma parcela da
população que vive em melhores condições – os bem-sucedidos –, que classifica se como brancos.
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file:///C:/Users/Marie%20Almeida/Documents/Cultura%20Brasileira%20Contempor%C3%A2nea%20-%20material%20para%20dp%20online%20INTERNET.docx#_ftn1
Você pode perceber que, com o passar das décadas, a porcentagem de negros diminui de 20% da
população, para 15%, depois para 11% e, na década de 1990, para apenas 5%. Porém em 2010 volta a
crescer para 8%. Podemos presumir que o % de preto e pardo tem aumentado e o branco diminuído,
porque estão havendo maior iden�ficação do brasileiro essas raças. Essa mudança cultural é percebida
pela professora Paula Miranda Ribeiro, professora de demografia da UFMG, e segundo ela essa
mudança cultural de iden�ficação de raça, é chamada desejabilidade social. Antes pretos e pardos
eram desvalorizados socialmente, agora sendo mais valorizados do que antes, passam a se iden�ficar
como pretos e pardos, reafirmando sua iden�dade. O coordenador do Laboratório de Análises das
Relações Raciais da UFRJ, Marcelo Paixão, esse aumento reflete a valorização étnica, que por meio da
maior visibilidade étnica e valorização por meio de atores, personalidades públicas negras quanto
devido a polí�cas públicas, como as cotas. (OGLOBO, 2011).
Percebe-se a mudança na valorização de ser pardo também, na palavra do povo brasileiro:
Moradora de Campo Grande, Zona Oeste do Rio, a vendedora Gisela Zerlo�ne fez
questão de se declarar parda no Censo de 2010: - Apesar de não ter pele tão escura,
eu me sinto mais próxima de pardos e negros, minha família tem muitos negros - diz
Gisela, casada há sete anos com Luiz Carlos de Oliveira, negro. - A gente tem dois
filhos. Um é meu de uma relação anterior, Pedro, de 8 anos, branco mesmo, o pai
era bem branco. E a outra é a Milena, de 2, filha minha com o Luiz Carlos. Ela já é
caramelo. É bem misturada. (OBLOBO, 2011).
Os indígenas foram quase exterminados devido às doenças, às condições de miséria e opressão em que
foi colocada, hoje a população cresce, em 2000 eram 734.127 e em 2010 totaliza 817.963 (IBGE, 2010).
Todas as nações indígenas lutam pelas suas terras até hoje. Pois para eles, a terra significa mãe, aquela
que cuida de seus filhos, que dá a eles tudo que precisa para viver. E é nela que se conserva a história
de seu povo, dando sen�do a sua cultura. Por exemplo, “quando os Himbra do norte da Namíbia
fizeram notar que o projeto de construção de uma usina hidrelétrica destruiria uma série de cemitérios
sagrados, sua mensagem era, na realidade, que toda sua estrutura social estava ameaçada” (FUNAI,
2012). Pois, toda sua história, seus valores e cultura se perderiam. A terra significa a sua iden�dade.
Na nossa cultura a terra significa propriedade privada. E por mais que esse conceito não faça parte da
cultura deles, eles precisaram aprender para conseguirem lutar pelo direito deles perante as leis
brasileiras, principalmente, perante a polí�ca e o capital, interesses comerciais sobre suas terras.
A terra na cultura indígena é necessária para garan�r sua sobrevivência e a sua formação da sua
iden�dade cultural. A demarcação é necessária para sua proteção, além da preservação de um
gigantesco patrimônio biológico e do conhecimento milenar desses povos sobre sua u�lização.
As sociedades indígenas da Amazônia conhecem mais de 1.300 plantas portadoras
de princípios a�vos medicinais e pelo menos 90 delas já são es�lizadas
comercialmente. Cerca de 25% dos medicamentos u�lizados nos Estados Unidos
possuem substâncias a�vas derivadas de plantas na�vas das florestas tropicais. Por
isso a preservação dos territórios indígenas é tão importante, tanto do ponto de
vista de sua riqueza biológica quanto da riqueza cultural. (FUNAI, 2012)
As classes que detêm o poder econômico e polí�co valorizaram e desvalorizaram nossa descendência
indígena, segundo seus interesses. Tanto é, que até os dias de hoje as nações lutam para garan�r a
posse de suas terras (SANTOS, 2006). O pior que as ideias produzidas por esses é massificada para o
povo brasileiro, resultando em visões deturpadas da realidade.
Segundo a cineastra Ana Carvalho Ziller de Araujo (2010) há alguns equívocos que os brasileiros
cometem hoje, como:
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A do índio genérico, de que os índios cons�tuem um único bloco, com a mesma forma de pensar, sen�r
e agir, isto é, com a mesma cultura. Pelo contrário, hoje possuímos hoje no Brasil mais de 220 etnias,
falando 188 línguas diferentes, sendo que, cada um possui a sua forma de ser, sua religião, sua arte,
sua história.A de que eles sãode cultura atrasada e primi�va. Como pensaram os colonizadores, e
ainda hoje muita gente pensa a sim. Porém, a verdade é que possuem culturas complexas, produzem
conhecimento, arte, música, religião. Como, por exemplo, as suas línguas, que pelo colonizador foi
consideradas, erroneamente, como “inferiores” e “atrasadas”. Pois, como explicam os linguistas se uma
língua é capaz de expressar pensamento, sen�mento, não existe a melhor ou a pior, mas sim
diversidade. Outro exemplo, são as religiões indígenas, que foram consideradas pelo catolicismo, no
passado, como supers�ções (visão etnocêntrica e preconceituosa). Na realidade, por exemplo, os
Mbyá-Guarani, foram considerados por pensadores como os “teólogos da América”, já que possuem
profunda religiosidade, manifestada em seu co�diano em todos momentos de sua vida, sendo uma das
caracterís�cas de sua iden�dade.
Em qualquer aldeia Guarani, a maior construção é sempre a Opy – a Casa de
Orações. (...). Nas três aldeias do Rio de Janeiro, a reza ou porahêi é realizada
diariamente, todas as noites, durante os 365 dias do ano, de forma comunitária,
contando com a par�cipação de quase toda a aldeia. Começa por volta das 19h e vai
até a meia-noite, podendo algumas vezes estender-se até a manhã. O cacique toca
mbaracá e dirige as rezas, acompanhadas de cantos e danças. Não existe nenhum
grupo dentro da população brasileira que reze mais do que os Guarani. Os Guarani
Mbyá mantém fidelidade à religião tradicional, resis�ndo às inves�das de grupos
evangélicos, católicos, e de outras religiões. (...) A importância da religião Guarani
pode ser avaliada através das palavras do vice-cacique, Luis Eusébio: “Se o Mbyá
deixar a religião dele, a língua, vai começar a beber, faz baile, tem briga com parente,
casa com branco e desaparece a nação, morre o índio”. (ARAUJO, 2010, p. 20-21).
 Os conhecimentos dos indígenas também foram vistos de maneira preconceituosa, desprezados e
ridicularizados pela nossa sociedade. Como se esses es�vessem negando a nossa ciência. Mas, em
1992, o Museu Goeldi, fez uma exposição sobre a ciência dos Kayapó, expressando a importância desse
saber para a humanidade. Demonstrando o conhecimento sofis�cado que produziram sobre “plantas
medicinais, agricultura, classificação e uso do solo, sistema de reciclagem de nutrientes, métodos de
reflorestamento, pes�cidas e fer�lizantes naturais, comportamento animal, melhoramento gené�co de
plantas cul�vadas e semi-domes�cadas, manejo da pesca e da vida selvagem e astronomia”(ARAUJO,
2010, p.21).
O terceiro equívoco é quanto a cultura indígena ter que manter-se estagnada, não podem mudar. Já
que a grande maioria, dos brasileiros, pensa que o índio deve con�nuar usando tanga, vivendo na
floresta, com arco e flecha, tal como os portugueses os encontraram aqui em 1500. Desta forma,
qualquer mudança é vista como algo estranho, fora de lugar. Se fosse assim, nós também não
poderíamos mudar, teríamos que viver sempre da mesma forma. Lembre-se a cultura não é está�ca.
Nem a nossa e nem a deles. Quando o índio não se em quadra na imagem feita em 1500, logo dizem
(ARAUJO, 2010, p.24): “Ah! Este aí não é mais índio, já está civilizado”. Ele usa calça e camisa, óculos e
relógios, falam português, eles são ex-índios. Mas esquecem de que em todas culturas tomamos
emprestados elementos de outras, mas nem por isso deixamos de ser brasileiros. 
É impossível cada povo mantenha-se fechado, sem contato com outros povos. Por mais que, muitas
vezes, o contato seja conflituoso, violento, há também momentos em que ocorre a cooperação, o
diálogo e a troca de conhecimento, estabelecendo o processo de interculturalidade. Isto é, a par�r do
contato cada povo usufrui da cultura do outro, aquilo que lhe fizer bem. Veja a citação abaixo:
Uma excelente matéria sobre a escola Waimiri Atroari foi publicada no jornal A
Crí�ca, de Manaus, com belíssimas imagens do fotógrafo Euzivaldo Queiroz,
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mostrando índios, semi-nus, usando um computador em uma escola – uma
construção coberta de palha – combinando o novo com o tradicional. Quando a
reportagem passou lá, os alunos estavam em sala de aula, numa a�vidade escolar.
Os índios Waimiri Atroari, há 40 anos atrás, não falavam português e nem sabiam o
que era escola. Eles �nham outras ins�tuições encarregadas de transmi�r saber,
ciências, artes e literatura, que era a tradição oral. No contato com a sociedade
brasileira, eles decidiram criar uma escola, para aprender português como segunda
língua, da mesma forma que a gente aprende o inglês, para poder sobreviver e
entrar em contato com o mundo. O brasileiro aprende o inglês, não para subs�tuir o
português, mas para desempenhar outras funções. Assim também os índios
aprendem o português, não com o obje�vo de eliminar suas próprias línguas, que
con�nuam com a função de comunicação interna, mas para se comunicar para fora.
(ARAUJO, 2010, p.26).
A quarta visão equivocada, está em achar que os índios fazem parte apenas do nosso passado. 
Perceba, por mais que eles façam parte do nosso passado histórico, fazem parte também do nosso
presente e de nosso futuro, a cultura indígena faz parte da cultura brasileira. Veja o exemplo abaixo:
 Para ilustrar este tópico, pode ser interessante contar para vocês o que aconteceu
com o bairro Amarelo, um grande conjunto habitacional localizado em Hellesdorf, no
norte da ex-Berlim Oriental, na Alemanha. Em 1985, organismos governamentais
construíram um conjunto habitacional �po BNH, em Berlim. Eram blocos pré-
moldados de cinco a seis andares, uns caixotões de concreto pré-fabricados, com
uma fachada pintada de um amarelo duvidoso. Cerca de dez mil pessoas de baixa
classe média moravam lá, em 3.200 apartamentos. Os moradores reclamavam
muito, depois do trabalho não �nham vontade de voltar para casa, porque achava o
bairro feio, o lugar horrível, pesado e triste. Quando caiu o muro de Berlim, em
1989, a cidade passou por um processo de reforma urbana sem precedentes. O
Ins�tuto de Urbanismo de Berlim colocou 50 milhões de dólares para dar uma
melhorada no bairro. Chegaram com os moradores e disseram: “a gente quer mudar
o bairro de vocês, mas a gente quer saber com que cara vocês querem que ele
fique”. Os moradores se reuniram, discu�ram e concluíram: “nós queremos que
nosso bairro tenha a cara da América La�na, que é bonita e alegre”. Foi feita a
licitação e se apresentaram mais de 50 escritórios de arquitetura da América La�na.
Ganhou um escritório brasileiro de São Paulo – Brasil Arquitetura. Aí os arquitetos
foram lá, conversar com o pessoal do bairro. (...) A primeira proposta deles foi
construir jardins e colocar algumas esculturas de ar�stas plás�cos brasileiros nessas
entradas de acesso. Depois discu�ram sobre a reforma nas fachadas dos edi�cios,
com a qual os moradores implicavam. Os moradores pediram: “nós queremos que
sejam colocados azulejos com arte indígena, com desenhos dos índios”. Bom, se os
arquitetos andassem 5 km, iam chegar no Museu Etnográfico de Berlim, onde
existem milhares de obras de arte indígena, com desenhos em todo �po de suporte:
em cerâmica, tecido, palha e até em papel. No entanto, o que se queria não era arte
indígena do passado, mas arte indígena de hoje, contemporânea. Os arquitetos
decidiram sair atrás de desenhos novos, atuais, com uma série de dúvidas: será
possível encontrá-los, depois de 500 anos de contato, do saqueio colonial, do
trabalho compulsório, dos massacres, das missões, das invasões de terras, das
estradas, dos colonos, dos garimpos, das frentes extra�vistas, das hidrelétricas, dos
grandes projetos? Os índios não teriam perdido suas fontes de inspiração? Em
muitas sociedades indígenas, as �gelas e potes de cerâmicas foram subs�tuídos por
peças de alumínio e plás�co, as indumentárias e adornos tradicionais foram trocados
pelo vestuário ocidental: em que medida este fato afetou a expressãoar�s�ca
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tradicional? Hoje, no Brasil, existem mais de 200 povos indígenas, quase todos eles
produzindo artes gráficas. Os arquitetos Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz,
responsáveis pelo projeto de remodelação das fachadas, acabaram optando pelos
Kadiweu, cujos desenhos consistem em figuras geométricas abstratas. Como a
pintura Kadiweu é tarefa exclusiva da mulher, os dois arquitetos realizaram concurso
entre as índias da aldeia Bodoquena, no Mato Grosso do Sul. Mandaram para a
aldeia um lote de papel cortado no tamanho estabelecido, as instruções sobre as
cores e canetas hidrográficas. Noventa e três índias, de 15 a 92 anos de idade,
realizaram três propostas cada uma. O resultado agradou a todo mundo. Os
arquitetos selecionaram, num primeiro momento, 300 estampas coloridas,
exclusivas, criadas pelas índias, e depois escolheram seis delas como vencedoras do
concurso. No dia 19 de junho de 1998, essas estampas, transformadas em azulejos,
foram inauguradas nas fachadas dos blocos do Bairro Amarelo, alegrando-o,
humanizando-o, tornando-o mais belo, habitável e civilizado, facilitando a
convivência e a comunicação entre os seus moradores. A aldeia Bodoquena ganhou,
por esse trabalho civilizatório, 20 mil marcos alemães e mais passagens e estadias de
dez dias para as seis índias, ar�stas Kadiwéu, que es�veram presentes na festa de
inauguração. A reforma urbana de um conjunto habitacional de Berlim com
desenhos Kadiwéu mostra os equívocos da concepção evolucionista ultrapassada
que considera as experiências das sociedades indígenas no campo da arte e da
ciência como primi�vas, pertencentes à infância da humanidade, sem lugar no
tempo presente. Ele serve também para exemplificar como um bem cultural pode
adquirir novos usos e novas significações, se nele é inves�do um novo trabalho
cultural. Serve ainda para formularmos algumas perguntas inquietantes: Por que um
povo, como o alemão, possuidor de um expressivo patrimônio ar�s�co próprio,
busca melhorar sua qualidade de vida, lançando mão de elementos atuais das
culturas indígenas? Será que moradores de qualquer bairro de uma cidade brasileira
tomariam decisão semelhante? Por que não? (ARAUJO, 2010, p.28-30).
Quinto equívoco, e úl�mo, está em não considerar o índio na formação da nossa iden�dade de
brasileiro (ARAUJO, 2010). Há 500 anos, nós brasileiros não exis�amos no planeta terra. O povo
brasileiro é novo, fomos formados nos úl�mos cinco séculos, por meio de três matrizes: a europeia,
principalmente pelos portugueses, mas também pelos espanhóis, italianos etc.; a indígena, composta
por variados etnias, como o tupi, o karib, o aruak, o jê, o tukano e outros; a africana, que também é
formada por um grupo de povos diferentes, como, os fon, os yorubás, os nagôs, os gêges, os ewés, os
haussá, os bantos kimbundos, os kicongos, os benguelas e outros. Além dessas matrizes, no período da
migração, contamos com a etnia japonesa, sírio-libanesa, turcos, que enriqueceram ainda mais a
formação do povo brasileiro. Porém, como os europeus foram os que dominaram economicamente,
poli�camente e militarmente os demais povos, a tendência é de iden�ficarem nossa formação
enquanto povo apenas com o vencedor, a matriz europeia, principalmente a portuguesa. Acabando por
ignorar a indígena e a africana, empobrecendo a cultura brasileira.
Por mais que façam isso, o índio está vivo dentro de nós, mesmo não sabendo disso. Pense bem,
quando aquele descendente de alemão, que vive lá em Santa Catarina, louro e do olho azul, começar a
rir – como é que ele faz? Do que é que ele ri? (...) Quando �ver que fazer suas opções culinárias, de
música, de dança, de poesia, de onde é quem saem os critérios de seleção?” (ARAUJO, 2010, p.32). É
nesse momento que aparecem as heranças culturais, incluindo as indígenas e as negras.
 
Veja essa história:
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 (...) o escritor português Antônio Alçada, (...), estava fazendo turismo na Grécia com
um grupo de amigos portugueses, lá numa daquelas ilhas gregas. Estava em pé,
parado, conversando com esses amigos, quando passou um grupo de turistas
japoneses, carregados de máquinas fotográficas. Até aí nada demais, porque tem
turista japonês em qualquer biboca do mundo. Acontece que enquanto os turistas
japoneses prosseguiram seu caminho, um deles parou diante do grupo de
portugueses, ficou olhando e ouvindo os portugueses por alguns minutos, depois se
aproximou e perguntou num perfeito português com sotaque paulista: “Desculpa. Eu
sou brasileiro. Vocês são portugueses?” O Antônio Alçada respondeu: “Somos”. O
“japonesinho” de São Paulo, então, deu um logo e estridente assobio para o grupo
dele, que havia se distanciado. Todo mundo virou a cabeça para trás e ele gritou: “Ei,
pessoal! Venham aqui que eu encontrei um grupo dos nossos antepassados”. O
escritor português contou que sen�u uma coisa estranha e pensou: “Eu?
Antepassado desses japoneses? Como? Se os pais deles deviam estar numa ilha, lá
no Japão, na geração anterior, e não têm nada que ver com o meu passado!”.
Acontece que os imigrantes, que chegam aqui no Brasil, acabam assumindo a cultura
e a história do país, assumindo desta forma um passado que não é dele
individualmente, nem de sua família, mas é cole�vo, da nação, do povo ao qual ele
agora pertence. (ARAUJO, 2010, p.32-32).
 
Nós somos lindos, porque somos a união de várias etnias e devemos respeitá-las.
O negro não foi destruído como os índios o foram no primeiro contato com os portugueses por ter
melhor condição, quanto às doenças, já que possuía an�corpos contra as mesmas, uma vez que na
África estavam expostos às mesmas enfermidades que os europeus, pois já estavam em contato com
eles. Com a abolição da escravatura, a população de negros livres também foi diminuindo devido às
condições de miséria colocadas.
Ribeiro (1995) afirma que, ao analisar as condições de carreira do negro em nosso país, chegando
como escravo e sendo colocado para fazer as tarefas mais duras, como base para o processo produ�vo,
sendo tratado como um burro de cargas, para produção do máximo lucro e recebendo, em
contrapar�da, uma vida de miséria. Ao se tornar livre, o negro vai ter contato com novas formas de
exploração que, ainda que menos cruéis do que na época da escravidão, ainda não vai lhe permi�r
pertencer à sociedade e ao mundo do conhecimento, tornando-se parte do subproletariado: o animal
de serviço.
 
Observação: Proletariado é a classe dos trabalhadores. Portanto, o subproletariado consiste na classe
que está abaixo da dos trabalhadores, pois as condições de trabalho e direitos são miseráveis.
 
No momento da Lei do Ventre Livre, a primeira lei abolicionista, na qual os filhos das escravas
passavam, a par�r deste momento, a nascer livres, os fazendeiros abandonavam as crianças nas
estradas e nas vilas, pois, não sendo objetos seus, não queriam mais ter de alimentá-las. Depois, o
estado de São Paulo criou nessas vilas asilos para acolher essas crianças. Com a abolição, os que não
queriam mais servir aos senhores saíram e os velhos e doentes foram expulsos. Desta forma, acabaram
por se concentrar na entrada das vilas e cidades, em condições terríveis, e acabaram por aceitar
condições de trabalho exploradoras ditadas pelos la�fundiários.
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Com a implantação de máquinas nas lavouras comerciais, outro grupo de trabalhadores foi excluído, o
que levou ao aumento da população dessas vilas: não havia mais somente negros, mas também pardos
e brancos pobres, todos considerados como massa dos trabalhadores livres para comporem o
subproletariados. Ribeiro (1995)diz que até hoje podemos observar que, próximos às cidades,
encontramos essas concentrações de mendigos, domés�cas, cegos, aleijados – os miseráveis –, sendo
que os velhos, cansados pelo trabalho, cuidam das crianças.
É a par�r dessas condições que, segundo Darcy Ribeiro (1995), devemos procurar a diferença social
entre a expansão do branco e do negro no desenvolvimento da sociedade brasileira. Essa situação
ainda persiste na década de 1990:
A situação de inferioridade dos pardos e negros com respeito aos brancos persiste em 1990. Os poucos
dados disponíveis mostram que 12% dos brancos maiores de sete anos eram analfabetos, mas os
negros eram 30% e os pardos 29%. Por outro lado, o rendimento anual médio (em Cr$) de pessoas de
mais de dez anos era de 32212 para os brancos, de 13295 para os pretos e de 15308 para os pardos
(Anuário esta�s�co do Brasil, IBGE, 1993). Lamentavelmente, as informações quanto à cor para 1990
são muito mais escassas que para 1950. (RIBEIRO, 1995, p.234).
IAssim, a base da sociedade con�nua em situação de miséria, pois, pela industrialização, não está
alterando a concentração de poder, riqueza e pres�gio do branco. Por isso, as condições seculares de
miséria do negro persistem ainda no século XXI, resultando nas maiores taxas de analfabe�smo,
criminalidade e morte, em um cenário em que predominam os negros, demonstrando o fracasso da
nossa sociedade em promover uma democracia racial que incluísse o negro na condição de cidadão
brasileiro.
E, pior do que tudo isso, segundo Ribeiro (1995), mais do que preconceito por causa da raça ou da cor,
hoje na sociedade brasileira se tem o preconceito de classe, pois a distância entre os pobres e os
privilegiados é imensa, já que a diferença se dá não tanto pela posse financeira, mas também pelo
es�lo de vida, como a questão do conhecimento. Se diferenciarmos analfabetos e letrados,
conhecimento vulgar e cien�fico entre os de famílias abastadas e as de origem humilde, a oposição
entre as classes sociais de pobres e ricos é muito maior do que a oposição entre negros e brancos. Por
isso, é mais aceitável o casamento entre pessoas de raças diferentes do que o de pessoas de classes
opostas, devido à discrepância social e cultural.
Darcy Ribeiro (1995) crí�ca Gilberto Freyre por este dizer, em Casa-grande e senzala, que a mulher
morena atraia o português. Para ele é desnecessária a explicação desse interesse sexual, já que o
mesmo ocorreu no mundo inteiro, no período da colonização, quando o homem branco se encontrava
com gente de cor e na ausência de suas mulheres brancas.
E, para o autor, hoje ocorrem também relações sexuais entre homens de condição social superior com
negras, índias e mulatas, mas são apenas relações de interesse sexual sem apego afe�vo. São raros os
casos de amor entre ambos. O sexo, nessa situação desigual, torna a mulher servil e dependente do
homem, aceitando o que este lhe impõe, aceitando as relações ocasionais e de amasiadas temporárias.
A par�r disso, a família se estrutura na mulher, que tem filhos de homens diferentes. Só quando a
mulher muda de condição social é que também consegue ter uma vida sen�mental autônoma, na qual
adquire dignidade nas relações sexuais e, a par�r disto, conseguindo uma estrutura familiar estável, de
reconhecimento religioso e social. Assim, essa mulher passa a superar as condições desfavoráveis e
passa a ter condições igualitárias. Mas, para isso ser possível para todas as mulheres, é necessária a
superação da condição de marginalidade socioeconômica da maioria da população.
O que há de posi�vo na condição de conjunção interracial no Brasil é que o nascimento de um filho
mulato não é pejora�vo. Assim, podemos pensar que a população brasileira con�nuará a se
homogeneizar, com um patrimônio mul�rracial. Por exemplo, nas famílias brasileiras, a composição dos
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filhos se difere muito: um moreno ou outro mais claro; um com cabelo liso, outro de cabelo
encaracolado; irmãos com diferentes aberturas de olhos, de nariz etc. Ninguém estranha esse fato,
segundo Ribeiro (1995), pois o fenó�po dos membros se deve ao seu patrimônio gené�co, que conta
com todas as matrizes, resultando em brasileiros muito variados.
Quanto ao con�ngente de imigrantes vindos para o Brasil, veja a tabela abaixo:
Tabela 04 – Distribuição dos con�ngentes imigratórios por período de entrada (em milhares) de 1851 a
1960.
Período Português Italianos Espanhóis Japoneses Alemães TOTAL
1851/1885 237 128 17 - 59 441
1886/1900 278 911 187 - 23 1398
1901/1915 462 323 258 14 39 1096
1916/1930 365 128 118 85 81 777
1931/1945 105 19 10 88 25 247
1946/1960 285 110 104 42 23 564
TOTAL 1732 1619 694 229 250 4523
Fonte: RIBEIRO (1995, p. 242).
 Perceba que �vemos poucos imigrantes, porém o papel do mesmo foi muito relevante na formação de
determinadas regiões, criando paisagens com caracterís�cas europeias e de populações, em sua
maioria, brancas. Quanto às caracterís�cas da população brasileira, não houve interferência, pois
quando os imigrantes começaram a chegar em maior número, a população nacional já era definida
etnicamente, acabando por absorver a cultura e a raça desses sem que, com isso, houvesse grandes
alterações.
Esse cruzamento entre mul�etnias formando a etnia nacional não deixou lugar para tensões regionais,
étnicas ou culturais, pois todos acabaram por se definir como par�cipantes da cultura nacional e da
sociedade brasileira.
Sempre debaixo da permanente ameaça de serem erradicados e expulsos. O negro, por não ter �do a
oportunidade econômica, acaba, pois, correndo o risco de ir para a favela. No ponto de vista de Ribeiro
(1995), o negro urbano é o mais vigoroso e belo de nossa cultura. É a par�r dele que se desenvolve o
Carnaval, o culto aos orixás, a capoeira e muitas manifestações culturais. Estas são oportunidades em
que o negro expressa o seu valor, nas quais não se necessita a escolaridade. Isto ocorre também na
música popular, no futebol e em outras formas menos visíveis.
As línguas africanas �veram tanta influência no nosso modo que a nossa língua é diferente do
Português de Portugal. “Na Bahia, são usadas cerca de 5 mil palavras de origem africana. A maior parte
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das palavras enriqueceram o vocabulário vêm do quimbundo, língua do povo banto” (EBC,2012).
Na música brasileira além do samba, �veram influência africana, o Maracatu, Congada, Cavalhada,
Moçambique. Além de muitos instrumentos musicais: agogô, caxixi, atabaque, cuíca, djembe, ganzá,
afoxé, berimbau.
Por esses mo�vos, o negro apesar de todos os problemas que enfrenta, é o ser mais cria�vo de nossa
cultura e são justamente ele e o índio os que mais caracterizam o nosso povo. Há uma grande mul�dão
de negros e mulatos que, por ter perdido a sua cultura africana, e não sendo nem índios nem brancos,
encontraram sua iden�dade como brasileiro. Um povo novo, feito de gente de todos os cantos do
mundo, completo e feliz com sua fusão. Por isso os negros não disputam autonomia étnica, pois se
sentem integrados, sendo o povo brasileiro.
O mulato acaba, devido às suas caracterís�cas �sicas, par�cipando da vida do branco, recebendo
conhecimento e par�cipando da arte e da vida polí�ca. Ribeiro (1995, p. 223) cita:
o ar�sta Aleijadinho; o escritor Machado de Assis; o jurista Rui Barbosa, o compositor José Maurício; o
poeta Cruz e Sousa; o tribuno Luís Gama; como polí�cos, os irmãos Mangabeira e Nelson Carneiro; e,
como intelectuais, Abdias do Nascimento e Guerreiro Ramos.
Além dos mulatos, também as mulatas, pela sua beleza estonteante, �veram mais chances de ascender
socialmente. Assim, o mulato estará na composição de dois mundos em conflito: o do negro, ao qual
ele mesmo nega pertencer, e o do branco,

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