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Psicologia Clínica Ananaira Goulart Psicóloga Neuropsicóloga Doutora em Ciências - FMUSP Aula 1 Conteúdo Programático Aula 1 – Conceito e Abordagens; Aula 2 – Estrutura do Atendimento Clínico; Aula 3 – Diferenças entre faixas etárias (criança / adolescente / adulto / idoso); Aula 4 – Estudo de caso; Aula 5 – Perguntas e Respostas. O que é a Psicologia Clinica? É a parte da psicologia que se dedica ao estudo da dinâmica psicológica daquele que busca o processo psicoterápico, se concentrando na compreensão de transtornos mentais e doenças psíquicas focando no bem estar e saúde mental do paciente/cliente. O que é a Psicologia Clinica? Para uma melhor compreensão dos transtornos mentais e doenças psíquicas é válido ter conhecimento do DSM-V (Manual Diagnósticos de Transtornos Mentais). Qual o objetivo? A psicologia clínica tem por objetivo a promoção da saúde mental do indivíduo, minimizando o sofrimento por meio do autoconhecimento. Qual o papel do psicólogo? Para o desempenho desta função é importante que o psicólogo desenvolva o olhar clínico, ou seja, a habilidade de observar e identificar os aspectos psíquicos do paciente/cliente e traduzí-los de maneira que o paciente/cliente compreenda, promovendo assim o autoconhecimento, auto-observação e possibilitando a reorganização da dinâmica. Qual o papel do psicólogo? A reorganização da dinâmica que causa sofrimento para uma dinâmica saudável é um processo que requer persistência e perseverança, portanto, o profissional dedicado e este objetivo deve ter essa consciência e caminhar junto com seu paciente/cliente trabalhando e respeitando o tempo de cada um. Quais os métodos a seguir? A metodologia usada para o atendimento clínico depende da abordagem utilizada. Cada abordagem segue conceitos e métodos condizentes com sua maneira de ver o indivíduo e por isso diferem entre si. As abordagens mais comuns são a psicanálise, a cognitivo comportamental e a fenomenologia existencial. Abordagens - Psicanálise Mesmo dentro da psicanálise temos linhas de pensamento diferentes. Freudiana - Sigmund Freud. Analítica –Carl Gustav Jung Lacaniana – Jacques Lacan Winnicotiana – Donald Woods Winnicott Kleiniana– Melanie Klein Bioniana –Wilfred Bion Comtemporânea – André Green e outros. De maneira geral o objetivo deste abordagem é a análise do inconsciente, que se manifesta através da fala, ações e criações mentais. Abordagens – Cognitivo Comportamental Apoiada no behaviorismo radical de Skinner e teorias cognitivas. O objetivo é a mudança de comportamentos que causam sofrimento, buscando estratégias positivas para sua alteração. É uma terapia focada no problema em questão, buscando ser especifica, direta e clara. Abordagens – Fenomenologia Existencial Apoiada em bases filosóficas. Baseia-se em vários estudiosos. É focada nas experiências de cada um, buscando compreender como a pessoa experimenta o sofrimento, a angustia e também as alegrias. Abordagens Independente da abordagem o foco do atendimento clínico é minimizar o sofrimento psíquico do paciente/cliente. A escolha de que abordagem seguir deve ser guiada pela coerência com a maneira que o profissional enxerga o paciente e qual método lhe é mais confortável, todas as abordagens são válidas e alcançam seu propósito se desempenhada com dedicação. Referências Ribeiro, J. L. P., & Leal, I. (1996). Psicologia clínica da saúde. Dutra, E. (2004). Considerações sobre as significações da psicologia clínica na contemporaneidade. Estudos de Psicologia (Natal), 9(2), 381-387. Frankl, V. E. (2020). A psicoterapia na prática. Editora Vozes. American Psychiatric Association. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora. Dúvidas? Amanhã falaremos sobre a estrutura de um atendimento clínico. Obrigada! Psicologia Clínica Ananaira Goulart Psicóloga Neuropsicóloga Doutora em Ciências - FMUSP Aula 2 Estrutura de Atendimento A psicologia clínica é um processo investigativo, portanto, é importante que algumas perguntas sejam feitas para colaborar nesse processo. Quando falamos de estrutura de atendimento não é com o objetivo de estabelecer algo fixo e imutável, mas dar direcionamentos e ideias centrais que devem ser abordadas. Acolhimento Acima de qualquer pergunta, o primeiro ponto importante de uma psicoterapia é o acolhimento. O paciente/cliente pode já ter dado muitas voltas até chegar neste processo, e provavelmente, leva com ele um sofrimento particular que para ele é intenso. Acolher com respeito seus sentimentos é o primeiro passo para atingir os objetivos do processo. Acolhimento Na psicologia clínica, acolher é ouvir, sem julgamentos ou preconceitos, permitindo que o indivíduo se sinta respeitado no seu sofrimento e à vontade para falar de suas emoções e sentimentos. O profissional precisa estar inteiro ao ouvir o paciente/cliente, anulando seus conceitos particulares ou preocupações e estando integralmente disponível dentro do tempo combinado para uma sessão. O que é a Anamnese? Ela consiste numa série de perguntas sobre diversas áreas da vida do paciente que são importantes para a compreensão da dinâmica psíquica do mesmo. Muitos profissionais utilizam a anamnese na primeira sessão para evitar deixar alguma informação importante. O que é a Anamnese? Porém, a anamnese não precisa ser feita em forma de questionário, nem precisa ser toda preenchida na primeira sessão. Uma outra maneira de fazê-la é ter em mente uma linha de informações importantes a serem questionadas ao paciente/cliente e deixá-lo falar livremente, preenchendo a ficha de anamnese posteriormente. O que preciso saber? Falaremos a seguir de algumas áreas importantes de conhecimento do paciente que irão contribuir para uma melhor compreensão do caso, para aqueles que preferem uma ficha de anamnese completa, esta será disponibilizada ao final deste material. Queixa Inicial O primeiro ponto importante é compreender o que fez o paciente/cliente buscar o processo de psicoterapia, chamamos isso de queixa inicial. As vezes essa queixa pode parecer confusa, ou mesmo ser muito específica. De qualquer forma, a maneira como a queixa se apresenta já diz a respeito da dinâmica psíquica do paciente. Queixa Inicial Perguntas como: “O que te trouxe até aqui?” “Porque está buscando a psicoterapia?” “O que tem te incomodado recentemente?” São alguns exemplos de como começar a puxar a queixa inicial do paciente/cliente. Questões biológicas Um segundo ponto importante na investigação são as questões biológicas atuais, como qualidade do sono, sensações, apetite, sintomas de ansiedade e depressão, questões de saúde atual. Essas questões vão nos possibilitar compreender o momento atual do paciente e as relações possíveis entre mente e corpo físico. Rotina Compreender a rotina do paciente, quais atividades ele está envolvido, quais tarefas ocupam a maior parte do seu tempo, quais são as pessoa que convivem diariamente são outras informações importantes. Cabe também investigar qual o nível de satisfação da pessoa com sua rotina. Muitos dos sofrimentos psíquicos estão ancorados na execução de tarefas sem prazer e satisfação. Histórico Questionar a respeito de acontecimentos anteriores, em todas as áreas da vida do paciente será de suma importância para nos ajudar a atingir o objetivo de compreender a dinâmica do paciente. Situações traumáticas e estratégias de solução de problemas utilizadas anteriormente merecem atenção especial na nossa escuta clínica. Histórico Dentro da investigação do histórico, buscar as informações sobre as relações anteriores, com familiares, amigos ou parceiros amorosos também será rico para somar na análise clínica que está sendo feita. Identificar padrões de repetição nas relações ajudará muito para a reorganização para uma dinâmica psíquicamais saudável. Como fazer? Não será possível fazer essa investigação completa em uma única sessão. Quando o foco é um atendimento de psicoterapia clínica o importante é ter em mente que todos esses pontos devem ser explorados ao longo dos atendimentos. A compreensão da dinâmica psíquica é uma construção e, para que ocorra, o profissional deve ter o caminho que precisa percorrer de maneira clara, por isso a prática clínica é a combinação entre uma boa escuta e conhecimento de um arcabouço teórico que permitirá a associação de informações importantes colhidas através de uma escuta adequada. Ficha de Anamnese Segue um modelo de ficha de anamneme. ANAMNESE Data da entrevista de anamnese _____/______/_________ Nº Prontuário _____________ Identificação Nome:__________________________________________________________ Sexo ___________________Idade ___________________________________ Estado Civil _______________Escolaridade ___________________________ Quem acompanha o paciente _______________________________________________________________ Que inst ituição o encaminha _______________________________________________________________ Procedência/Endereço _______________________________________________________________ Naturalidade _______________________________________________________________ Há quantos anos mora no local atual de residência? _______________________________________________________________ Profissão:_______________________________________________________ Vinculo empregatício:______________________________________________ Ocupação atual: _______________________________________________________________ Queixa Principal Descrever sintomas, sinais e comportamentos desde o início do últ imo episódio até o presente momento. Você consultou, no passado, médico ou psicólogo (ou profissional da saúde mental) para problemas dos nervos, psicológicos ou psiquiátricos? Há quanto tempo foi a primeira consulta? Já tomou remédio para os nervos, calmantes, antidepressivos? tempo tomou pela primeira vez? Apresenta outras doenças? Faz tratamento com algum médico de alguma outra especialidade? Muitas pessoas procuram ajuda de benzedeira, padre, pastor, centro espírita ou de outra pessoa com poderes de cura. Você já procurou alguma ajuda desse t ipo? (Em caso posit ivo, qual e como foi?) Internação psiquiátrica? O médico disse qual era o diagnóst ico, isso é o porquê da internação? (Em caso posit ivo, há quanto tempo foi a primeira internação psiquiátrica?) Quantas internações psiquiátricas você teve até hoje? Em média, quanto tempo durou as internações? Há quanto tempo foi a últ ima internação? Anamnese pessoal Sono Como é seu sono? (tranquilo, agitado, sonolência excessiva, insônia) _______________________________________________________________ Pula quando dorme? ___________Desde quando?______________________ Baba à noite? _________________Desde quando?______________________ Sua durante o sono? ___________Desde quando?______________________ Fala dormindo? _______________Desde quando?______________________ Grita durante o sono? __________Desde quando?______________________ Range os dentes? _____________Desde quando?______________________ Acorda várias vezes à noite e torna a dormir facilmente? Acorda quando tem um sonho mau e mostra-se aflito? Levanta as pernas? Mexe os braços? Faz outros movimentos sem acordar e sem se lembrar no dia seguinte? Dorme do lado da cabeceira e acorda nos pés da cama?__________________ Alimentação Alimenta-se em excesso, pouco ou normal? Qualidade dos alimentos: verduras, legumes, carnes, ovos, frutas? Compulsão alimentar? Desde quando? Algum período de anorexia ou bulimia? Tem problemas quanto ao seu peso?_________________________________ Faz algum tipo de tratamento? Se sim, qual? Sexualidade Alguma dificuldade sexual que gostaria de relatar? Anterior ( ) Atual ( ) Tratamentos realizados: Atividade Profissional Ocupação atual: Dificuldades encontradas no desempenho profissional: Capacidade de concentração no trabalho:Relacionamento com colegas de trabalho: Relacionamento com seu supervisor: Satisfação/insatisfação com o atual trabalho:. Antecedentes mórbidos pessoais Psiquiátricos: (episódios psiquiátricos anteriores) Tentativas de suicídio? _____________________ Quantas?_______________ Como foram as tentativas de suicídio?________________________________ Brigas, agressões, tentativas de homicídio? Como foram e contra quem? Não psiquiátricos: Hipertensão? ____________________________________________________ Diabete?________________________________________________________ Traumatismo craniano com perda da consciência?_______________________ Convulsões? ____________________________________________________ Cisticercose? ____________________________________________________ Chagas_________________________________________________________ AIDS___________________________________________________________ Tuberculose_____________________________________________________ Infecções graves de ouvido quando criança? Perdas de fôlego quando bebê ou criança? Hábitos Álcool:_____________ com qual frequência faz uso ? ____________________ Conseguiu ficar algum período sem o uso? ____________________________ Quanto tempo? __________________________________________________ Já sentiu que deveria parar ou diminuir a bebida? Sente-se chateado consigo mesmo pela maneira com que costuma beber? Costuma beber pela manhã para diminuir o nervosismo ou a ressaca? Apresenta tremores nas mãos pela manhã?____________________________ As pessoas o aborrecem quando criticam o seu modo de beber? Dose atual diária de álcool? _______________________________________________________________ Tabagismo? cigarros/dia Café? Xicaras pequenas/dia? Benzodiazepínicos___________________Qual(is)? _____________________ Quantos mg/dia? ___________Há quanto tempo? _______________________ Drogas ilícitas ______________Qual(is) ?______________________________ Há quanto tempo?___________Que frequência e quantidade?_____________ Drogas injetáveis?___________Quais?________________________________ Antecedentes patológicos familiares em consanguíneos e parentes não consangüíneos: Relacionamento e dinâmica familiar: História de vida: Dúvidas? Amanhã falaremos sobre as diferenças relevantes de cada faixa etária em um atendimento clínico. Obrigada! Psicologia Clínica Ananaira Goulart Psicóloga Neuropsicóloga Doutora em Ciências - FMUSP Aula 3 Diferenças entre as faixas etárias. O objetivo do atendimento clínico é ajudar aquele que busca o processo psicoterápico, e para isso, uma ferramenta fundamental é o uso adequado da linguagem para cada pessoa. Essa linguagem deverá ser adequada individualmente, porém podemos falar de alguns aspectos gerais relacionados com cada idade. Diferenças entre as faixas etárias. Também é importante considerar que cada faixa etária possui características e fases específicas que devem ser observadas para a melhor compreensão do caso. Ainda assim, não devemos nos esquecer que cada indivíduo é único e que devemos acima do “macro”, considerar o “micro”. Atendimento Infantil O atendimento deste público vai exigir o estudo das fases do desenvolvimento e a compreensão do universo infantil. Assim como qualquer adulto, há crianças que são mais afetuosas e outras que são menos, aquelas que gostam de abraço e as que não querem ser tocadas. Se colocar na posição de conhecê-la antes de decidir como tratá-la facilitará a criação do vínculo terapêutico, que será fundamental para desenrolar o processo que se seguirá. Atendimento Infantil O atendimento das crianças, exige que tenhamos uma linguagem adequada e que possamos explorar o universo lúdico, fazendo adaptações através de brincadeiras e histórias de questões que precisam ser investigadas e posteriormente trabalhadas. Não subestimea capacidade de compreensão de uma criança, e mesmo que tenha que ser utilizada uma linguagem adequada, esta deve ser clara e sincera. Atendimento Infantil Alguns recursos que podem ser utilizados para esse tipo de atendimento são a construção de histórias, de desenhos e jogos. Brincar de bonecos e deixar a criança montar histórias são uma forma muito rica de compreender os sentimentos e compreensões de uma criança sobre determinado assunto. Os “bonecos” da história podem ser adequados de acordo com algo que a criança goste, por exemplo, carrinhos, animais, legos, personagens, entre outros. Atendimento Infantil O contrato de confidencialidade também é um ponto diferente neste atendimento. Aqui a participação dos pais no processo será imprescindível, e portanto, eles precisam fazer parte deste contrato. Uma maneira de fazer este acordo é falar com a criança sobre a confidencialidade sobre tudo que conversam, e para que as coisas melhorem, será importante que os pais saibam de algumas coisas para poderem ajudar, portanto a criança fica livre para contar aos pais o que quiser, e o profissional fica responsável por sempre alinhar com a criança o assunto que será tratado com os pais previamente a qualquer conversa. Atendimento Infantil A comunicação com os pais também será essencial neste processo, portanto o profissional que se disponibiliza para ao atendimento infantil precisa ter claro que também atenderá os pais e deverá ter a habilidade de falar o mesmo assunto em dois tipos de linguagem, a que a criança entenda e a que os pais entendam. Aqui a anemnese precisa ser feita com os pais, seja em forma de questionário ou de conversa livre. Este não é um tipo de atendimento individual, o foco será a saúde mental da criança, porém toda a família será envolvida. Atendimento do Adolescente Temos aqui um público bem peculiar. A fase adolescente poderia ser chamada também de fase das crises ou das emoções intensas. Os adolescentes nem sempre querem estar em psicoterapia, na grande maioria das vezes eles vem trazidos pelos pais e se colocam em posição de resistência. Aqui se torna mais importante ainda demonstrar empatia e respeito pelas emoções dele, para que seja possível estabelecer um vínculo de confiança. Se ele não se sentir a vontade, o processo será muito difícil ou inexistente. Atendimento do Adolescente Aqui o termo de confidencialidade pode seguir a mesma linha do atendimento infantil, porque também será necessário o envolvimento da família, e aqui o contrato tem que ser o mais rígido possível, pois o vínculo de confiança com um adolescente é algo precioso. A anamnese será compartilhada, precisa ser feita com os pais, mas ouvir a versão do paciente também será muito válida. Atendimento do Adolescente Explorar áreas de interesse do adolescente e deixar claro que a relação será construída com o tempo podem ajudar a irem se aproximando e tornar o processo confortável e prazeroso. A psicoterapia pode colaborar muito com as dificuldades enfrentadas na adolescência, a parte crucial é que o paciente entenda o que está fazendo ali e para que serve a psicoterapia. Atendimento do Adulto O atendimento do adulto não envolve diretamente outras pessoas como os anteriores, isso não quer dizer que ele seja mais simples. O contrato de confidencialidade deve ser estabelecido da mesma maneira e o respeito pelo tempo de cada um neste processo também é um ponto importante. Os adultos já tem muitos conceitos cristalizados e estratégias disfuncionais que são bem estabelecidas, o processo de reorganização da dinâmica acaba sendo um trabalho mais árduo. Atendimento do Adulto Uma situação que as vezes levanta dúvidas é se podemos chamar parentes para conversar a respeito da situação do paciente, é importante lembrar que nosso contrato é com o paciente e se, o que ele traz é verdade ou não, não nos cabe julgar e sim entender o que faz parte da dinâmica deste paciente, se o paciente se sentir confortável e você como profissional avaliar que a presença de um parente é importante isso deve ser acordado com o paciente e feita uma sessão com o paciente e o familiar junto, para que o contrato de confidencialidade se mantenha. Atendimento do Idoso A participação de familiares é um pouco mais presente no atendimento do idoso do que no do adulto. Aqui geralmente os filhos querem se envolver e fazer parte deste processo. Neste ponto a avaliação de até onde haverá esse envolvimento depende de cada caso, e qual a queixa do paciente. Atendimento do Idoso Com o idoso uma questão comum é que geralmente eles também vem influenciados pela família, tem muito mais dificuldade de entender o propósito de estar em psicoterapia, por conta de uma questão cultural e muitas vezes acham que já é muito tarde para fazer qualquer mudança. O trabalho com eles, muitas vezes envolvem uma revisão da história de vida e a valorização dessa história, sempre buscando o objetivo de promover saúde mental e bem estar. O que é comum? Independente do atendimento, a ética e respeito são os pontos comuns. Respeitar o termo de confidencialidade e respeitar a história de cada um fará que cada atendimento, independente de sua especificação, atinja seu objetivo. A máxima do atendimento em psicologia clínica é “cada caso é um caso”, e se colocar a disposição para a individualidade do outro é o que fará que os objetivos do atendimento sejam alcançados. Dúvidas? Amanhã faremos um estudo de caso clínico. Obrigada! Psicologia Clínica Ananaira Goulart Psicóloga Neuropsicóloga Doutora em Ciências - FMUSP Aula 4 Estudo de Caso Dados pessoais; Qual a queixa inicial; Questões biológicas atuais; Rotina; Histórico. Meu nome é F. (sexo feminino) tenho 25 anos e sou professora de inglês. Tenho uma irmã gêmea e mais 2 irmãos. Moro com meus pais. Tenho vomitado todos os dias. Já emagreci 15kg. Não consigo pensar em comer, não sinto fome, não forço o vômito, simplesmente vomito. Que pergunta você faria? Há quanto tempo isso acontece? Há 3 meses, já fui ao médico e fiz todos os exames físicos, não deu nada, ele me disse que pode ser estresse, me encaminhou pro psiquiatra. Não tive coragem de marcar a consulta. Não quero tomar remédio, tenho medo. Uma aluna minha que é bem próxima, falou comigo sobre o caso dela e que está passando com uma psicóloga que tem ajudado bastante, então resolvi procurar. Nunca passei e confesso que ainda não tive coragem de falar pra minha família que estou aqui, só a minha irmã gêmea que sabe e me trouxe. Qual pergunta você faria? Quais palavras aqui te chamam atenção? Me conta um pouco da sua rotina. Eu e minha irmã trabalhamos numa escola, eu dou aulas de inglês e minha irmã da aulas de informática, hoje minha rotina é dar aula e ir pra casa. Faço um pós graduação em linguagem e só de pensar na apresentação da tese já morro de medo. A uns 15 dias eu e minha irmã recebemos a proposta de comprar a escola que nós trabalhamos, estamos pensando seriamente nisso e eu não posso pirar agora. O que é importante investigar? Você já teve episódio de vômito assim anteriormente? Como está acontecendo agora não, mas em situações que ficava nervosa eu não conseguia comer, fiz vôlei por bastante tempo e quando tínhamos competições, ou quando ia viajar com a família, minha mãe já nem contava antes, porque se não eu já ia vomitando o caminho todo. Não sei se tem a ver, mas quando nascemos eu tive muitas complicações respiratórias, meus pais tiveram que correr muito comigo pro hospital e depois por tudo eles tinham medo de eu ficar doente de novo, eu demorei bastante pra conseguir sair dessa redoma de vidro que meus pais nos colocaram. O que ainda falta investigar? O que tem mais te preocupado nesses últimos meses? Eu descobri que minha irmã é homossexual, ela passou por uma fase muito difícil com uma namorada e alguns meses ela dividiu isso comigo. Meus pais são muito ativos dentro da igreja católica e eu acho que eles nunca aceitarão, tenho muito medo do que podeacontecer se eles descobrirem, esses dias teve uma situação que eu precisei mentir pra encobrir um encontro dela que quase deu errado, fiquei muito tensa, acho que se meus pais descobrirem vai estourar a terceira guerra mundial na minha casa. Vamos analisar... Dados pessoais; Qual a queixa inicial; Questões biológicas atuais; Rotina; Histórico. Dados pessoais F., sexo feminino, 25 anos, 3 irmãos, sendo uma gêmea. Professora de inglês. Mora com os pais. Queixa Inicial Vômito diário; O vômito foi o sintoma físico que a trouxe a paciente para o processo. Sobrecarga de estresse; As preocupações com a pós graduação, a compra da escola e questão familiar ligada a homossexualidade da irmã são fatores que podem estar levando ao sintoma físico. Rotina Professora de inglês; Faz pós graduação em linguagem; O que mais pode ser investigado? Questões biológicas Perdeu 15kg; Não tem apetite; Vômitos frequentes; Exames físicos ok O que mais pode ser investigado? Histórico Família com base religiosa; Possui mais 3 irmãos; Muito ligada com a gêmea; Já apresentou episódios de vômito em situações ansiosas; Histórico de problemas respiratórios; Pais preocupados por questões de saúde. O que mais pode ser investigado? Observações Vômito como sintoma do alto nível de estresse e ansiedade; Histórico de somatização (vômitos em situações anteriores); Presença de medo em vários setores da vida; Busca de sair emocionalmente dessa “redoma”. Conclusão Seguir com o processo investigativo. A cada sessão fazer o processo que fizemos agora, sempre se questionar o que mais precisa ser investigado. Identificar o padrão de repetição e ir devolvendo isso numa linguagem que o paciente compreenda, cumprirá o objetivo de buscar a saúde mental e minimizar o sofrimento. Refletir junto com o pacientes quais as estratégias podem ser adotadas para sua melhora. Resumo A psicologia clinica é um caminho para promoção da saúde metal. Esse caminho será ancorado num arcabouço teórico, escolhido pelo profissional. De acordo com essa escolha o profissional utilizará um método de trabalho, mas que será necessário o desenvolvimento de um olhar clinico e aplicação da escuta clinica. O profissional deve adequar sua linguagem a cada faixa etária que irá atender. A ética e o respeito são a base fundamental para o exercício desta prática. Ter consciência que cada caso é um caso e se doar para a compreensão da individualidade do outro serão fundamentais para atingir os objetivos desta prática. Obrigada!!!