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1 2 Olá, Alunos! Sejam bem-vindos! Esse material foi elaborado com muito carinho para que você possa absorver da melhor forma possível os conteúdos e se preparar para a sua 2ª fase, e deve ser utilizado de forma complementar junto com as aulas. Qualquer dúvida ficamos à disposição via plataforma “pergunte ao professor”. Lembre-se: o seu sonho também é o nosso! Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação! Com carinho, Equipe Ceisc ♥ 3 2ª FASE OAB | PENAL | 41º EXAME Direito Penal SUMÁRIO Excludente de culpabilidade 1.1. Introdução ......................................................................................................5 1.2. Inimputabilidade .............................................................................................6 1.2.1. Introdução ...................................................................................................6 1.2.1. Da inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado ........................................................................................6 1.2.2. Consequências do reconhecimento da inimputabilidade .............................8 1.2.3. Da inimputabilidade por embriaguez proveniente de caso fortuito ou força maior .....................................................................................................................9 1.3. Menoridade penal .........................................................................................10 1.4. Falta de potencial consciência da ilicitude ....................................................11 1.4.1. Introdução .................................................................................................11 1.4.2. Erro de proibição .......................................................................................11 1.4.3. Efeitos: erro de proibição inevitável e evitável ...........................................12 1.4.4. Diferença entre erro de tipo e erro de proibição ........................................14 1.5.1. Introdução .................................................................................................15 15.5.2. Coação moral irresistível .........................................................................15 1.5.3. Obediência hierárquica ..............................................................................16 1.6. Como pode cair ............................................................................................18 Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para a 2ª Fase do 41º Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente. Bons estudos, Equipe Ceisc. Atualizado em julho de 2024. 4 5 Excludente de culpabilidade Prof. Nidal Ahmad @prof.nidal 1.1. Introdução Doutrinariamente, a culpabilidade é considerada um juízo de censurabilidade e reprovação social incidente sobre o fato e seu autor, como forma de se verificar a necessidade de aplicação de uma pena. Em outras palavras, quando pratica um fato típico e ilícito, o agente será submetido a um juízo de censura, que incide sobre a manifestação e exteriorização da vontade do agente, a fim de verificar a possibilidade de imposição de uma pena. Conforme a teoria normativa pura, admitida no nosso ordenamento jurídico, os elementos da culpabilidade são: a) a imputabilidade do agente; b) a potencial consciência da ilicitude; c) exigibilidade de conduta diversa. De outro lado, as causas excludentes de culpabilidade consistem na inimputabilidade, falta de potencial consciência de ilicitude e inexigibilidade de conduta diversa. *Para todos verem: esquema. E X C L U D E N T E S D E C U L P A B IL ID A D E INIMPUTABILIDADE Doença mental - art. 26, CP Embriaguez completa e acidental - art. 28, §1º, CP FALTA DE POTENCIAL CONSCIÊNCIA DA ILICITUDE - art. 21, CP ERRO DE PROIBIÇÃO INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA Coação moral Irresistível - art. 22, CP Obediêcia Hierárquica - art. 22, CP 6 1.2. Inimputabilidade 1.2.1. Introdução Embora o Código Penal não tenha definido o conceito de imputabilidade, afigura-se possível extrair as suas características a partir da definição das hipóteses de inimputabilidade, previstas nos arts. 26, caput, 27 e 28, § 1º, todos do CP. Para fins penais, pode-se considerar a imputabilidade como sendo a possibilidade de se atribuir a autoria ou responsabilidade por fato criminoso a alguém, maior de dezoito anos e com higidez mental, que revelou ter capacidade de compreensão em relação ao caráter ilícito do fato, bem como de se determinar de acordo com esse entendimento. O Código Penal prevê como causas de inimputabilidade: a) doença mental (CP, art. 26, caput); b) desenvolvimento mental incompleto (CP, arts. 26, caput, e 27); c) desenvolvimento mental retardado (CP, art. 26, caput); d) menoridade (CP, art. 27); e e) embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior (CP, art. 28, § 1º). 1.2.1. Da inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado A doença mental compreende todas as alterações mentais ou psíquicas aptas a eliminar a capacidade de compreensão do agente, tanto de origem patológica, quanto as toxicológicas, como, por exemplo, a demência senil, psicose traumática, causadas por alcoolismo, psicose maníaco-depressiva, esquizofrenia, loucura, histeria, paranoia etc. Não constitui requisito indispensável que a doença mental seja de caráter permanente, podendo, portanto, ser transitória, desde que, ao tempo da conduta, em decorrência dessa enfermidade mental, o agente não reúna qualquer capacidade de compreensão ou determinação. Isso porque, conforme consta expressamente no art. 26, caput, do CP, a inimputabilidade deve ser verificada no momento da conduta. O critério adotado para aferir a inimputabilidade é o biopsicológico. Assim, além da doença mental, é necessário que, em consequência desse estado biológico, o agente seja, no momento da conduta, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 7 Em outras palavras, a doença mental retira do agente a capacidade de discernir o certo do errado, de entender, por exemplo, que atentar contra a vida ou patrimônio de uma pessoa é ilícito, bem como impede que o agente consiga controlar sua vontade e seu impulso. Ou seja, retira totalmente do agente sua capacidade de compreensão e determinação. Em decorrência disso, o doente mental com total incapacidade de compreensão e determinação não reúne condições para suportar a fixação e execução de uma pena. Na verdade, o portador de doença mental se revela perigoso para si e para a sociedade, necessitando, conforme o caso, de internação em hospital de custódia ou tratamento ambulatorial. A segunda causa de inimputabilidade é o desenvolvimento mental incompleto. É o desenvolvimento que ainda não encontrou a plenitude, por conta da idade cronológica do agente ou à sua falta de convivência em sociedade, não tendo o agente, por isso, maturidade mental ou emocional. O desenvolvimento mental incompleto abrange os menores de 18 anos e os silvícolas inadaptados ao convívio social. Em relação aos menores de 18 anos de idade, a inimputabilidade gera presunção absoluta, não admitindo prova em contrário, sem prejuízo, à evidência, de instauração de procedimento para apuração de ato infracional no Juizado da Infância e Juventude, com eventual aplicação de medida socioeducativa. A doutrina também apontacomo exemplo o silvícola inadaptado, assim considerado como sendo aquele afastado da civilização e das regras de convívio social, arraigado à sua cultura de forma a ignorar ou não reunir qualquer capacidade de compreensão ou determinação em relação à ilicitude do fato. Todavia, o fato de o agente ser índio, ainda que aparentemente não integrado, não gera, por si só, a presunção de inimputabilidade. Com efeito, no caso do indígena, afigura-se recomendável, considerando o caso concreto, a realização do exame antropológico, a fim de ser verificado o grau de adaptação e compreensão das regras de convívio social e, por conseguinte, em relação à ilicitude do fato. A terceira causa de inimputabilidade contida no art. 26, caput, do CP, é o desenvolvimento mental retardado, consistente na incompatibilidade com a fase da vida em que se encontra o agente, já que abaixo do desenvolvimento mental inerente à sua idade cronológica. 8 Diante da sua peculiar condição, o agente com desenvolvimento retardado não reúne aptidões cognitivas, de linguagem, motoras e sociais para compreender o caráter ilícito da sua conduta. Estão inseridos na expressão “desenvolvimento mental retardado” os oligofrênicos nas suas mais variadas formas, como, por exemplo, a idiotice, imbecilidade e debilidade mental, bem como as pessoas que, por ausência ou deficiência dos sentidos, possuem deficiência psíquica. 1.2.2. Consequências do reconhecimento da inimputabilidade Em relação à inimputabilidade pela enfermidade mental, o agente será processado e julgado normalmente, mas, ao final, o juiz não poderá proferir sentença condenatória. Isso porque ausente a culpabilidade, pressuposto para a aplicação da pena. Nesse contexto, uma vez verificado que o agente praticou um fato típico e ilícito, sendo, ao final, considerado inimputável por conta da sua enfermidade mental, o juiz deverá proferir sentença absolutória imprópria, com base no artigo 386, VI, do CPP, aplicando medida de segurança, consistente em internação em hospital de custódia ou tratamento ambulatorial, nos termos do artigo 386, parágrafo único, inciso III, do Código de Processo Penal. • Pergunta recorrente Cabe absolvição sumária pela inimputabilidade pela doença mental após resposta à acusação? Na peça resposta à acusação, o artigo 397, II, do CPP inviabiliza que o juiz absolva sumariamente o réu, porque teria de aplicar medida de segurança (internação em manicômio). Isso prejudicaria o réu, porque seria internado sem lhe fosse viabilizado provar em audiência de instrução a sua inocência. Ou seja, se proferir sentença de absolvição sumária, aplicando medida de segurança, sem permitir que produza outras provas da sua inocência em audiência de instrução, o juiz prejudicará o réu. Além disso, para se aferir a inimputabilidade exige produção de provas. Nesse caso, o juiz deverá designar audiência de instrução e julgamento e, se não for possível absolver o réu por outro fundamento, aí sim o juiz poderá proferir sentença absolutória imprópria, com base no artigo 386, VI, do CPP c/c art. 386, parágrafo único, III, do CPP, aplicando medida de segurança, consistente em internação em hospital de custódia ou tratamento ambulatorial (art. 97 do CP). 9 1.2.3. Da inimputabilidade por embriaguez proveniente de caso fortuito ou força maior Embriaguez é a intoxicação aguda e transitória causada pelo álcool ou qualquer substância de efeitos análogos, sejam eles entorpecentes (morfina, ópio), estimulantes (cocaína) ou alucinógenos (ácido lisérgico), capaz de levar à exclusão da capacidade de entendimento acerca do caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Nos termos do art. 28, II, do CP, a embriaguez voluntária ou culposa não exclui a imputabilidade penal. Isso significa dizer que aquele que ingerir bebida alcoólica, de forma voluntária ou culposa, poderá ser responsabilizado criminalmente, se praticar um fato típico e ilícito. Assim, se o agente, depois de passar várias horas ingerindo bebida alcóolica voluntariamente, pegar o seu veículo e, por conta da ausência de reflexos, acaba colidindo com outro veículo, causando a morte de uma pessoa, responderá, a princípio, pelo crime de homicídio culposo na condução de veículo automotor (CTB, art. 302). A inimputabilidade pela embriaguez, com a excludente de culpabilidade, ocorre quando se tratar de embriaguez completa e acidental, nos termos do que dispõe o art. 28, § 1o, do CP. Logo, a embriaguez deve decorrer de caso fortuito ou força maior e, em decorrência disso, deixar o agente, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Logo, não basta a embria- guez acidental, sendo, ainda, necessário que, em decorrência da ingestão de substância alcoólica ou de efeitos análogos, o agente tenha ficado, ao tempo da conduta, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito da sua conduta ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. A embriaguez é acidental quando não voluntária nem culposa. Pode ser proveniente de caso fortuito ou força maior. No caso fortuito, o sujeito desconhece o efeito inebriante da substância que ingere, ou quando, desconhecendo uma particular condição fisiológica, ingere substância que possui álcool (ou substância análoga), ficando embriagado. É o caso do agente que está tomando determinado medicamento e ingere bebida alcóolica. A conjugação do medicamento e da bebida alcoólica potencializa o metabolismo do agente, a ponto de deixá-lo embriagado. É também o caso do agente que ingere determinada bebida sem saber que nela foi colocada uma substância capaz de lhe retirar os sentidos, deixando-o embriagado, como, por exemplo, o chamado “boa noite cinderela”. 10 É o caso, ainda, do agente que ingeriu, sem saber, bebida alcoólica, pensando tratar- se de medicamento que costumava guardar em uma garrafa, e perdeu totalmente sua capacidade de entendimento e de autodeterminação. Em seguida, entrou em uma farmácia e praticou um furto. Nesse caso, será isento de pena, por estar configurada a sua inimputabilidade. Na força maior, o agente é obrigado a ingerir bebida alcoólica. Não desejando se embriagar nem de se exceder culposamente, o agente é forçado a ingerir bebida alcoólica. É o caso, por exemplo, do trote acadêmico de péssimo gosto em que os veteranos obrigam, forçam os calouros a ingerirem bebida alcoólica. A natureza jurídica da sentença que acolhe a inimputabilidade pela embriaguez completa a acidental é absolutória propriamente dita, sem, portanto, aplicação de qualquer medida de segurança. Quando a embriaguez acidental, proveniente de caso fortuito ou força maior, é incompleta, não há exclusão da imputabilidade. Isso porque, em decorrência da embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, o agente, ao tempo da conduta, não possuía a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Ou seja, tinha capacidade de compreensão ou determinação, mas reduzida. A sentença será condenatória, mas o agente, por ter a capacidade de compreensão ou determinação reduzida, também terá a pena reduzida de um a dois terços, nos termos do art. 28, § 2º, do CP. A embriaguez preordenada, ou dolosa, evidentemente não exclui a imputação. Pelo contrário, não só enseja a responsabilização criminal do agente, como também constitui circunstância agravante, devendo ser considerada pelo magistrado na segunda fase da fixação da pena, conforme se extrai do art. 61, II, l, do CP. 1.3. Menoridade penal Para os menores, o CP adotou o sistema biológico. O CP prevê a presunção absoluta de inimputabilidade. Nos termos do art. 27 do CP, os menores de 18 anos são inimputáveis. Ao praticar um fato típico e ilícito, não respondem por crimepor ausência de imputabilidade, que exclui a culpabilidade. Logo, o menor não tem legitimidade para figurar no polo passivo da ação penal, razão pela qual, se estiver no início da ação penal, a de- núncia deve ser rejeitada, com base no artigo 11 395, II, do CPP. Se a ação penal já estiver em tramitação, inclusive com instrução realizada, será caso de nulidade do processo, nos termos do artigo 564, II, do CPP. 1.4. Falta de potencial consciência da ilicitude 1.4.1. Introdução Nos termos do artigo 21 do Código Penal, o desconhecimento da lei é inescusável. Não se mostra possível, portanto, o agente acusado de uma infração penal alegar desconhecimento da lei para se eximir da aplicação da lei penal. A partir da publicação da lei no Diário Oficial, há presunção absoluta acerca do seu conhecimento. O desconhecimento da lei não se confunde com a falta de potencial consciência da ilicitude. A primeira guarda relação com o desconhecimento do seu texto legal, dos seus detalhes, ao passo que a segunda se caracteriza pela ausência de conhecimento que a conduta desenvolvida é ilícita. É nesse contexto que surge o instituto do erro de proibição. 1.4.2. Erro de proibição Como vimos, a possibilidade de o agente adquirir a consciência da ilicitude do fato constitui um dos elementos da culpabilidade; pode, no entanto, acontecer de o agente desenvolver uma conduta supondo ser permitida ou lícita, quando, na verdade, é penalmente proibida, faltando-lhe a potencial consciência da ilicitude do fato. Surge, nesse cenário, o erro de proibição que, ao fim e ao cabo, constitui um erro sobre a ilicitude do fato, para usar a expressão adotada pelo art. 21 do CP. Com efeito, o agente desenvolve uma conduta conhecendo a realidade fática que o cerca, tem consciência sobre o fato que está pra- ticando; erra, no entanto, quanto à ilicitude do fato praticado. Considera estar praticando fato permitido, mas movido por uma falsa percepção acerca do caráter ilícito do fato típico praticado, faltando-lhe, em razão disso, a potencial consciência da ilicitude do fato. Exemplo: Uma mulher estrangeira, em visita ao nosso País, grávida de dois meses e proveniente de país que não coíbe o aborto, ingeriu substância abortiva acreditando não ser proibido fazê-lo no Brasil. A mulher não incorre em erro sobre a situação fática nem sobre qualquer elemento do tipo que define o crime de aborto (CP, art. 124). Ou seja, tem consciência que está ingerindo substância abortiva, com a finalidade de interromper a gravidez; erra, contudo, quanto à ilicitude do fato praticado. Supõe ser lícita a conduta, quando, na verdade, é penalmente proibida no Brasil. 12 Outro exemplo: Depois de jantar num restaurante, Francisco, homem de pouca cultura, percebeu que lá havia esquecido seu celular e voltou para pegá-lo, mas não mais o encontrou. Considerando que o dono do restaurante era responsável pelo seu prejuízo e acreditando ter o direito de fazer justiça pelas próprias mãos, tomou para si objetos pertencentes ao estabelecimento, suposta- mente de valor igual ao seu prejuízo. Francisco não incorre em erro sobre a situação fática nem sobre qualquer elemento do tipo que define o crime de exercício arbitrário das próprias razões (CP, art. 345), mas em relação à proibição da sua conduta. Tem pleno conhecimento de que estava se apossando de objetos pertencentes ao dono do restaurante, errando, contudo, quanto à ilicitude do fato praticado. Supõe ser lícita a conduta, quando, na verdade, é penalmente proibida no Brasil. 1.4.3. Efeitos: erro de proibição inevitável e evitável a) Erro de proibição inevitável, escusável ou invencível No erro de proibição inevitável, escusável ou invencível, o agente, mesmo que tivesse empregado as diligências ordinárias, considerando-se suas características pessoais, não teria a possibilidade de adquirir a consciência da ilicitude do fato praticado, ou seja, de verificar que se trata de conduta ilícita. Adotando-se um critério mais objetivo para aferição da inevitabilidade do erro de proibição, pode-se utilizar como parâmetro o conceito de erro de proibição evitável fornecido pelo próprio Código Penal. Nos termos do art. 21, parágrafo único, do CP: “Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência”. Nesse contexto, se o erro de proibição evitável reúne a característica de ser possível, nas circunstâncias, ao agente ter ou atingir a consciência da ilicitude, forçoso concluir que o erro de proibição inevitável é aquele em que o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando não lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. Em outras palavras, ainda que tivesse empregado as diligências necessárias, considerando sua condição pessoal, não seria possível ao agente a atingir a consciência da ilicitude do fato praticado. Diante do avanço tecnológico e da facilidade de acesso às informações, atualmente se revela de difícil incidência a hipótese de erro de proibição inevitável. Há, de fato, diversos mecanismos e instrumentos para se alcançar a consciência da ilicitude do fato, reduzindo sobremaneira o alcance do erro de proibição inevitável. 13 De todo modo, podemos citar alguns exemplos, que, em tese, poderiam se enquadrar na hipótese de erro de proibição indireto. Exemplo: Um telejornal de alcance nacional informa, de forma equivocada, a aprovação da lei que autoriza a eutanásia de doentes em estágio terminal. Não havendo nenhuma razão para duvidar da veracidade da notícia, o agente se dirige até o hospital e desliga os aparelhos que mantinham vivo um ente querido, que se encontrava sofrendo com a doença que o acometia e em estágio terminal, causando-lhe a morte. Praticou fato típico e ilícito, mas lhe faltou potencial consciência da ilicitude, incidindo o erro de proibição inevitável, cuja consequência será a exclusão da culpabilidade. Note-se que, diante das circunstâncias do caso, ainda que empregando diligência normal, o agente teria incorrido em erro quanto à licitude do fato praticado, já que a notícia havia sido veiculada em telejornal de grande alcance, não havendo qualquer razão para duvidar da veracidade da informação. O erro de proibição inevitável, escusável ou invencível exclui a culpabilidade do agente, por força da falta de potencial consciência de ilicitude. Com efeito, nos termos do art. 21, 1ª parte, do CP, “O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena”. b) Erro de proibição evitável, inescusável ou vencível O critério de aferição do erro de proibição inescusável, vencível ou evitável encontra- se no parágrafo único do art. 21 do CP, segundo o qual “considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência”. O erro de proibição inescusável ou evitável ocorre quando o erro sobre a ilicitude do fato não se justifica, pois, se tivesse empregado um mínimo de esforço para se informar, o agente poderia ter adquirido a consciência da ilicitude do fato praticado. Nesse diapasão, alguém que reside na zona urbana, com amplo acesso aos meios de informações, não pode alegar erro inevitável em face da acusação pelo porte de munição. De fato, se reconhecido o erro de proibição, certamente será evitável, já que era possível ao agente, diante das circunstâncias, de, com um mínimo de esforço, atingir a consciência da ilicitude da sua conduta. Tratando-se de erro de proibição evitável, inescusável, vencível, não haverá isenção de pena ou exclusão da culpabilidade, o agente será condenado, mas, ao final, o juiz, na terceira fase da fixação da pena, deverá diminui-la de um sexto a um terço. Imaginemos que Samara recebia apensão previdenciária da sua mãe, depositada mensalmente em sua conta bancária, em virtude de ser procuradora dela. Após a morte da sua 14 mãe, Samara continuou recebendo a pensão, supondo que, por ser filha da beneficiária, esse benefício passaria diretamente para ela. Trata-se de erro de proibição evitável, porque seria possível, com um mínimo esforço, alcançar a percepção da ilicitude de sua conduta. Assim, Samara responderia pelo crime de apropriação indébita, incidindo, na hipótese de condenação, a causa de diminuição da pena prevista no art. 21, caput, do CP. Em síntese, no erro de proibição inevitável, incide causa de exclusão da culpabilidade, sendo o agente isento de pena. No erro de proibição evitável, inescusável, vencível, não haverá isenção de pena ou exclusão da culpabilidade, devendo o agente responder pelo delito, e, se condenado, ter a pena diminuída de um sexto a um terço. 1.4.4. Diferença entre erro de tipo e erro de proibição *Para todos verem: esquema. CAUSA EXCLUDENTE DE CULPABILIDADE CAUSA EXCLUDENTE DE TIPICIDADE ERRO DE TIPO PORTAR ARMA DE FOGO VERDADEIRA, SUPONDO SER DE BRINQUEDO AGENTE NÃO SABE O QUE FAZ SE SOUBESSE, NÃO INCORRERIA EM ERRO, POIS SABE SER CONDUTA ILÍCITA SE ERRO FOR INVENCÍVEL, EXCLUI O DOLO E A CULPA E O FATO SERÁ ATÍPICO SE O ERRO FOR VENCÍVEL, EXCLUI O DOLO E O AGENTE RESPONDE POR CULPA SE A CONDUTA TIVER PREVISÃO NA MODALIDADE CULPOSA ERRO DE PROIBIÇÃO CIDADÃO AMERICANO PORTAR ARMA DE FOGO NO BRASIL SUPONDO SER CONDUTA LÍCITA AGENTE SABE O QUE FAZ SUPÕE QUE SUA CONDUTA É LÍCITA SE ERRO FOR INEVITÁVEL, HÁ ISENÇÃO DE PENA SE ERRO FOR EVITÁVEL, HÁ REDUÇÃO DA PENA DE 1/6 A 1/3 15 1.5. Inexigibilidade de conduta diversa 1.5.1. Introdução A exigibilidade de conduta diversa é o terceiro elemento da culpabilidade. O agente, ao praticar a infração penal, frustra a expectativa da sociedade, pois era lhe exigido conduta diversa daquela que deliberadamente adotou, ou seja, o agente poderia se comportar conforme o direito, mas optou por infringir a norma penal. De outro lado, quando não lhe era exigível comportamento diverso, não incide o juízo de reprovação, excluindo a culpabilidade. Nesse particular, as causas legais de exclusão da culpabilidade pela inexigibilidade de conduta diversa estão previstas no art. 22 do CP, consistentes na coação moral irresistível e na obediência hierárquica. 15.5.2. Coação moral irresistível *Para todos verem: esquema. Nos termos do art. 22 do CP, se o fato é cometido sob coação irresistível, somente o autor da coação é punido. Na coação moral, o agente coator, para alcançar o resultado desejado, emprega grave ameaça contra o coagido, que, por medo de suportar um mal grave contra si ou contra outrem, acaba realizando a conduta criminosa exigida. A coação empregada pelo agente vicia a vontade do coagido, retirando-lhe a exigência de se comportar de modo diferente. Nesse caso, em relação ao coagido, incide a causa de exclusão da culpabilidade decorrente da inexigibilidade de conduta diversa. Exemplo: Imaginemos que, por meio de grave ameaça, Mauro é coagido a confeccionar e assinar um documento falso, sob pena de o seu filho ser assassinado. Trata-se de fato típico e ilícito, mas não culpável, uma vez que, embora praticado por agente imputável e consciente da ilicitude do fato, não lhe era, nas circunstâncias, exigível conduta diversa. De fato, o coagido tinha duas opções: confeccionar e assinar o documento falso ou se negar a fazê-lo e ter o seu filho assassinado. Ao optar por praticar a falsificação, não se pode atribuir Coação moral irresistível Coator Grave ameaça Coagido Fato típico ílícito Somente o coator responde pelo delito 16 ao agente juízo de reprovação, uma vez que somente praticou a conduta diante da grave ameaça do seu filho ser morto. Outro exemplo: Mário, gerente de banco, estava dentro de seu veículo juntamente com familiares quando foi abordado por um bandido armado, que ameaçou os ocupantes do veículo, exigindo de Mário o fornecimento de determinada senha para a realização de uma operação bancária, o que foi por ele prontamente atendido. Nessa situação, embora tenha contribuído para a prática da subtração de valores de contas bancárias, Mário não será responsabilizado criminalmente, diante da inexigibilidade de conduta diversa. Para ser reconhecida a causa excludente de culpabilidade pela inexigibilidade de conduta diversa, devem estar presentes o coator, o coagido e a vítima do crime praticado. Assim, no caso de um gerente de banco, obrigado por criminosos a entregar valores que se encontram no cofre que pode abrir, por conta da ameaça de morte do seu filho, que se encontra em poder de um comparsa, os envolvidos são os criminosos (coatores), o gerente do banco (coagido) e o próprio banco, já que lesado no seu patrimônio (vítima). É possível, no entanto, a presença da excludente de culpabilidade com a presença de apenas duas pessoas, quando, por exemplo, o coator figurar como a própria vítima. Exemplo: Coagido, por conta da grave ameaça e sem outra forma de agir, mata o próprio coator. Note-se que, na hipótese, não se trata de legítima defesa, por conta da inexistência de agressão atual ou iminente, já que o coator se limitou a empregar grave ameaça. Quando o sujeito pratica o fato sob coação física irresistível, não praticará crime por ausência de conduta, aplicando-se o disposto no art. 13, caput, do CP. Trata-se de causa excludente da tipicidade. A coação moral deve ser irresistível. Tratando-se de coação moral resistível, não há exclusão da culpabilidade, incidindo uma circunstância atenuante (CP, art. 65, III, c, 1ª figura). 1.5.3. Obediência hierárquica A hierarquia guarda relação com Direito Público, ou seja, com agentes públicos. Para que os serviços públicos sejam prestados com eficiência, há necessidade de ser estabelecida uma estrutura hierárquica em que as ordens são emanadas dos escalões superiores para serem cumpridas pelos agentes subordinados, integrantes dos escalões menores da estrutura administrativa. 17 E, como regra, as ordens emanadas dos superiores hierárquicos devem ser cumpridas pelos subordinados, sob pena, inclusive, de constituir infração funcional, sujeita a sanções de ordem administrativa. Assim, o subordinado, ainda que não concorde com a ordem, deverá, a princípio, cumpri-la. É nesse cenário que surge a exclusão da culpabilidade por força da obediência hierárquica, uma vez que, diante de uma ordem não manifestamente ilegal, não seria exigível do subordinado conduta diversa, que não seja cumpri-la. Destarte, a obediência hierárquica decorre da conduta do subordinado que, por força de ordem não manifestamente ilegal emanada por superior hierárquico, prática fato típico e ilícito. Trata-se de exclusão da culpabilidade, consistente na inexigibilidade de conduta diversa, prevista no art. 22 do CP. No caso de a ordem não ser manifestamente ilegal, embora constitua fato típico e antijurídico, o subordinado não será culpável, em face da inexigibilidade de conduta diversa. Diante das circunstâncias, não seria possível exigir do subordinado conduta diversa, sob pena, inclusive, de, desobedecendo ordem não manifestamente ilegal, responder a procedimento disciplinar. Nesse caso, o subordinado será isento de pena, ao passo que o superior hierárquico responderá pelo resultado produzido pelo executor. É o que se extrai do art. 22 do CP. Imaginemos que um Delegado de Polícia Civil, mesmo sabendo que o mandado de busca e apreensão regularmente expedido se encontra com prazo de cumprimento expirado, ordena que Fernanda, policial civil recém-empossada, se dirija até a residência de um suspeito e cumpra o mandado. Sem desconfiar que a diligência era ilegal, uma vez que determinada porautoridade superior, Fernanda se desloca até a casa do suspeito, apresenta o mandado de busca e apreensão, e ingressa na residência, mesmo sem a autorização do morador. Trata-se de uma ordem ilegal, já que o mandado de busca e apreensão já não tinha validade, mas, considerando as circunstâncias, tratando-se de policial recém-empossada, pode-se cogitar da hipótese de que essa ordem não é manifestamente ile- gal. Assim, embora tenha praticado fato típico e ilícito, Fernanda não será culpável, pois atuou por força de uma ordem não manifestamente ilegal emanada de superior hierárquico. Nesse caso, somente o superior hierárquico responderá pelo crime previsto no art. 22 da Lei nº 13.869/20191. 1 “Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei: Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste 18 Se a ordem for manifestamente ilegal, tanto o superior hierárquico, quanto o subordinado responderão pelo delito praticado. Nesse caso, para o superior hierárquico incide a agravante genérica descrita no art. 62, III, 1ª parte, do CP. E, em relação ao subordinado, aplica-se a atenuante prevista no art. 65, III, c, do CP. Pedro, funcionário público do Tribunal de Justiça, tem a responsabilidade de registrar em um livro próprio do cartório os procedimentos que estão há mais de 10 dias conclusos, permitindo o controle dos prazos por parte de advogados. O juiz responsável, buscando evitar que terceiros soubessem de sua demora, determina que Pedro deixe de registrar diversos processos que estavam conclusos para sentença há vários meses. Apesar de ter conhecimento de que a conduta não era correta, Pedro cumpriu a ordem, já que partiu de seu superior hierárquico. Nesse caso, como se trata de ordem manifesta- mente ilegal, tanto Pedro quanto o juiz deverão responder pelo crime de falsidade ideológica (CP, art. 299), podendo incidir em favor do subordinado a atenuante prevista no art. 65, III, c, do CP, e em desfavor do superior hierárquico a agravante do art. 62, III, do CP. 1.6. Como pode cair Pode cair em questões dissertativas e na peça, pois são teses absolutórias, já que constituem causas de exclusão da ilicitude. Como tratam de causas de exclusão da culpabilidade: artigo, quem: I – coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas dependências; II – (VETADO); III – cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco horas).” • Se for resposta à acusação: absolvição sumária, com base no artigo 397, II, do CPP. • Se for memoriais ou apelação no procedimento comum: absolvição, com base no artigo 386, VI, do CPP. • Se for memoriais ou recurso em sentido estrito no procedimento do júri: absolvição sumária, com base no artigo 415, IV, do CPP. 19