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Conforme o conceito analítico de crime, não basta o fato ser típico e ilícito; é necessária, ainda, a presença da culpabilidade, composta dos seguintes elementos: De outro lado, as causas excludentes de culpabilidade consistem na inimputabilidade, falta de potencial consciência de ilicitude e inexigibilidade de conduta diversa. DA INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL OU DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO OU RETARDADO: para ser considerado inimputável, não basta que o agente seja portador de “doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado”, É necessário que, em consequência desses estados, seja “inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento” (no momento da conduta). Adota- se o critério biopsicológico. Em relação à inimputabilidade pela enfermidade mental, o agente será processado e julgado normalmente, mas, ao final, o juiz não poderá proferir sentença condenatória. Isso porque ausente a culpabilidade, há pressuposto para a aplicação da pena. Nesse contexto, uma vez verificado que o agente praticou um fato típico e ilícito, sendo, ao final, considerado inimputável por conta da sua enfermidade mental, o juiz deverá proferir sentença absolutória imprópria, aplicando medida de segurança, consistente em internação em hospital de custódia ou tratamento ambulatorial, nos termos do art. 386, par. ún., III, do CPP. DA INIMPUTABILIDADE POR EMBRIAGUEZ COMPLETA PROVENIIENTE DE CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR: é a causa capaz de levar à exclusão da capacidade de entendimento e vontade do agente, em razão de intoxicação aguda e transitória causada por álcool ou qualquer substancia de efeitos psicotrópicos, sejam entorpecentes (morfina, ópio), estimulantes (cocaína) ou alucinógenos (ácido lisérgico). Quando a embriaguez acidental, proveniente de caso fortuito ou força maior, é completa, em consequência da qual, ao tempo Causas Excludentes de Culpabilidade da ação ou da omissão, o agente era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento há exclusão da imputabilidade (CP, art. 28, §1º). A embriaguez completa, total ou plena, é aquela em que o agente chegou à segunda ou terceira fase. A embriaguez é acidental quando não voluntária nem culposa. Pode ser proveniente de caso fortuito ou força maior. No caso fortuito, o sujeito desconhece o efeito inebriante da substancia que ingere ou, ao desconhecer uma particular condição fisiológica, ingere substância que possui álcool (ou substância análoga), ficando embriagado. EX.: agente ingere substância alcoólica e, inadvertidamente, também medicamento que potencializa os efeitos do álcool. Na força maior, o agente é obrigado a ingerir bebida alcoólica. Tomemos como exemplo um trote acadêmico de mau gosto, em que os veteranos obrigam um calouro a ingerir bebida alcoólica. Quando a embriaguez acidental, proveniente de caso fortuito ou força maior, for completa, ou seja, apta a deixar o agente, ao tempo da ação ao da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, há exclusão da imputabilidade, nos termos do que dispõe o art. 28, §1º, CP. Logo, não basta a embriaguez acidental, sendo, ainda, necessário que, em decorrência da substância alcoólica ou de efeitos análogos, o agente tenha ficado, ao tempo da conduta, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito da sua conduta ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Nesse caso, o sujeito não responde pelo crime, em face da ausência de culpabilidade. A sentença é absolutória. Tratando-se de embriaguez preordenada, não há exclusão da imputabilidade. O agente responde pelo crime, incidindo sobre a pena a agravante prevista no art. 61, II, 1, CP. Quando a embriaguez acidental, proveniente de caso fortuito ou força maior, é incompleta, não há exclusão da imputabilidade. O sujeito responde pelo crime com a pena atenuada, desde que haja redução de sua capacidade intelectiva ou volitiva. A sentença é condenatória. Aplica-se o disposto no art. 28, §2º, do CP. Para os menores, o CP adotou o sistema biológico. O CP prevê a presunção absoluta de inimputabilidade. Nos termos do art. 27 do CP, os menores de 18 anos são inimputáveis. Ao praticar um fato típico e ilícito, não respondem por crime por ausência de imputabilidade, que exclui a culpabilidade. Nos termos do art. 21 do CP, o desconhecimento da lei é inescusável. Não se mostra possível, portanto, o agente acusado de uma infração penal alegar desconhecimento da lei para se eximir da aplicação da lei penal. A partir da publicação da lei no Diário Oficial, há presunção absoluta acerca do seu conhecimento. O desconhecimento da lei não se confunde com a falta de potencial consciência da ilicitude. A primeira guarda relação com o desconhecimento do texto legal, dos seus detalhes, ao passo que a segunda se caracteriza pela ausência de conhecimento que a conduta desenvolvida é ilícita. É nesse contexto que surge o instituto do erro de proibição. ERRO DE PROIBIÇÃO: o erro de proibição é o erro que incide sobre a ilicitude do fato. Encontra- se disciplinado no art. 21 do CP. No erro de proibição, o agente desenvolve uma conduta movido por uma falsa percepção acerca do caráter ilícito do fato típico praticado, ou seja, o agente tem consciência da conduta praticada, mas lhe falta potencial consciência da ilicitude do fato. O erro de proibição escusável, inevitável ou invencível ocorre quando o erro sobre a ilicitude do fato é impossível de ser evitado, valendo-se o ser humano da sua diligência ordinária. Em outras palavras, ainda que tivesse empregado as diligências necessárias à sua condição pessoal, o agente não reuniria condições para compreender o caráter ilícito do fato praticado. Ex.: um telejornal de alcance nacional informa, de forma equivocada, a aprovação de uma lei que autoriza a eutanásia de doentes em estágio terminal. Não havendo nenhuma razão para duvidar da veracidade da notícia, o agente se dirige até o hospital e desliga os aparelhos que mantinham vivo um ente querido, que se encontrava sofrendo com a doença que o acometia e em estágio terminal, causando-lhe a morte. Praticou fato típico e ilícito, mas lhe faltou potencial consciência da ilicitude, incidindo o erro de proibição inevitável, cuja consequência será a exclusão da culpabilidade. O erro de proibição inescusável ou evitável ocorre quando o erro sobre a ilicitude do fato não se justifica, pois, se tivesse havido um mínimo de empenho em se informar, o agente poderia ter tido conhecimento da realidade. O critério de aferição do erro de proibição inescusável, vencível ou evitável encontra-se no parágrafo único do art. 21 do CP, segundo o qual “considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência”. Tratando-se de erro de proibição evitável, permanece hígida a culpabilidade do agente, sendo, no entanto, causa de diminuição da pena de 1/6 a 1/3. A exigibilidade de conduta diversa é o terceiro elemento da culpabilidade. O agente, ao praticar a infração penal, frustra a expectativa da sociedade, pois era lhe exigido conduta diversa daquela que deliberadamente adotou, ou seja, o agente poderia se comportar conforme o direito, mas optou por infringir a norma penal. De outro lado, quando não lhe era exigível comportamento diverso, não incide o juízo de reprovação, excluindo a culpabilidade.Nesse particular, as causas legais de exclusão da culpabilidade pela inexigibilidade de conduta diversa estão previstas no art. 22 do CP, consistentes na coação moral irresistível e na obediência hierárquica. COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL: Nos termos do art. 22, CP, se o fato é cometido sob coação irresistível, somente o autor da coação é punido. Na coação moral, o agente coator, para alcançar o resultado desejado, emprega grave ameaça contra o coagido, que, por medo de suportar um mal grave contra si ou contra outrem, acaba realizando a conduta criminosa exigida. A coação empregada pelo agente vicia a vontade do coagido, retirando-lhe a exigência de se comportar de modo diferente. Nesse caso, em relação ao coagido, incide a causa de exclusão da culpabilidade decorrente da inexigibilidade de conduta diversa. EX.: se o sujeito é coagido a assinar um documento falso, responde pelo crime o autor da coação. O coato não responde pelo crime, uma vez que sobre o fato incide a causa de exclusão da culpabilidade. Assim, quando o sujeito comete o fato típico e antijurídico sob coação moral irresistível, não há culpabilidade em face da inexigibilidade de outra conduta (não é reprovável o comportamento). A culpabilidade desloca-se de figura do coato para a do coator. Para ser reconhecida a causa excludente de culpabilidade pela inexigibilidade de conduta diversa, devem estar presentes o coator, o coagido e a vítima do crime praticado. Assim, no caso de um gerente de banco, obrigado por criminosos a entregar valores que se encontram no cofre que pode abrir, por conta da ameaça de morte do seu filho, que se encontra em poder de um comparsa, os envolvidos são os criminosos (coatores), o gerente do banco (coagido) e o próprio banco, já que lesado no seu patrimônio (vítima). É possível, no entanto, a presença da excludente de culpabilidade com a presença de apenas duas pessoas, quando, por exemplo, o coator figurar como a própria vítima. EX.: coagido, por conta da grave ameaça e sem outra forma de agir, mata o próprio coator. Nota- se que, hipótese, não se trata de legítima defesa, por conta da inexistência de agressão total ou iminente, já que o coator se limitou a empregar grave ameaça. Quando o sujeito pratica o fato sob coação física irresistível, não praticará crime por ausência de conduta, aplicando-se o disposto no art. 13, caput, do CP. Trata-se de causa excludente da tipicidade. A coação moral deve ser irresistível. Tratando-se de coação moral resistível, não há exclusão da culpabilidade, incidindo uma circunstância atenuante (CP, art. 65, III, c, 1ª figura). OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA: ordem de superior hierárquico é a manifestação de vontade do titular de uma função pública a um funcionário que lhe é subordinado, no sentido de que realize uma conduta (positiva ou negativa). A ordem ilegal pode ser: a) manifestamente ilegal; b) não manifestamente ilegal. Quando a ordem for manifestamente ilegal, respondem pelo crime o superior e o subordinado. EX.: o delegado de polícia determina ao soldado que exija do autor de um crime determinada quantia, a fim de não ser instaurado inquérito policial. Os dois respondem pelo crime de concussão. Em relação ao subordinando, há uma atenuante genérica (CP, art. 65, III, c). No caso de a ordem não ser manifestamente ilegal, embora a conduta do subordinado constitua fato típico e antijurídico, não é culpável, em face de incidir um relevante erro de proibição. Diante disso, o subordinado não responde pelo crime, em face da ausência de culpabilidade. A obediência hierárquica constitui, assim, causa de exclusão da culpabilidade. A obediência hierárquica tem relação de direito público entre superior e subordinado. A subordinação doméstica não ingressa na teoria da obediência hierárquica. Assim, não há obediência hierárquica, para fins penais, entre relações particulares.
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