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____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 144 APOSENTADORIA POR IDADE AO SEGURADO ESPECIAL NO BRASIL: A COMPROVAÇÃO DE ATIVIDADE RURAL PARA CONCESSÃO DE APOSENTADORIA Gislaine Aguiar da Silva1 Introdução A aposentadoria por idade ao segurado especial está estipulada no artigo 195, §8, da Constituição Federal Brasileira. Os segurados especiais são trabalhadores rurais que produzem em regime de economia familiar, sem utilização de mão de obra assalariada. Recebem tratamento diferenciado justamente pelas condições de trabalho e pelas situações instáveis de produção ao longo do ano, como a falta de chuvas, podendo, assim, comprometer o seu sustento e de sua família. Este trabalho buscou entender o Regime Geral da Previdência Social no Brasil (RGPS), abordando as principais características e forma de contribuição do trabalhador rural. Nesse sentido, este trabalho buscou responder a seguinte questão: quais as principais causas que levaram ao indeferimento de concessão do benefício de aposentadoria rural no Brasil, no período de janeiro a março de 2021 do Tribunal Regional Federal de 1° Região? Também se volta às alterações decorrentes das últimas mudanças na legislação previdenciária, no que tange especificadamente aos trabalhadores campesinos. Para tanto, irá demonstrar como se dá a comprovação da prova documental para o segurado especial, tendo em vista a corroboração ser exclusivamente documental e testemunhal para comprovação da atividade rural e sendo que a lei exige carência de contribuição de 180 meses, ou seja, 15 anos. Debruçar-se-á na necessidade de conhecer os dispositivos legais que tratam de tal aposentadoria. Ademais, trata-se de uma pesquisa de abordagem dedutiva, utilizando- 1 Acadêmica de Direito da Universidade Serra Dourada. E-mail: gislaine.aguiar.silva@hotmail.com ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 145 se como procedimento o estudo de caso, uma vez que foram analisados julgados do TRF da 1ª Região. Como técnicas de pesquisa, foram utilizadas a documental e a bibliográfica, posto que se utilizou de literaturas específicas do assunto, bem como as análises dos dados colhidos dos julgados analisados. Este trabalho está organizado em três partes, além da introdução e da conclusão. Na primeira parte, discorrer-se-á sobre um breve histórico da evolução Legislativa da Previdência Social, como também as importantes alterações inseridas a partir da Constituição Federal de 1988. Na segunda, abordar-se-á sobre como são produzidas as provas e as mudanças introduzidas pela Lei nº 13.846/2019. Na terceira, serão analisados julgados do Tribunal Regional da 1° Região do primeiro trimestre de 2021, que resultaram em indeferimento dos pedidos de aposentadoria especial. Neste sentido, no próximo item abordar-se-á a evolução histórica da legislação previdenciária no Brasil. A evolução legislativa da previdência social e as alterações introduzidas na previdência a partir da Constituição Federal de 1988 Dentro do que a doutrina majoritária propõe, a Lei Eloy Chaves é considerada o marco histórico da Previdência Social no Brasil. Com o Decreto-Legislativo 4.682, de 24 de janeiro de 1923, que criou as Caixas de Aposentadorias e Pensões – CAP´S- para os empregados das empresas ferroviárias, essa caixa garantia aos trabalhadores benefícios como assistência médica, aposentadoria por invalidez, aposentadoria ordinária e pensão por morte (Kertzman, 2021). Os trabalhadores rurais somente passaram a ser abrangidos pelo Regime Geral de Previdência Social com o advento da Lei nº 8.213/91 (Castro & Lazzari, 2021), o que foi possível em razão do imenso avanço trazido pela Constituição Federal de 1988, que incluiu a assistência social no conjunto dos direitos sociais, incluindo a saúde e a previdência social no sistema de Seguridade. Ademais, instituiu que a aposentadoria pode ser adquirida nas seguintes condições: aos 60 anos se mulher e 65 anos se homem, limite esse reduzido em cinco anos para os trabalhadores rurais. Definiu também que os benefícios recebidos pelos trabalhadores ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 146 rurais não poderiam ser inferiores a um salário mínimo (Constituição da República Federativa do Brasil [CRFB], 1988). As normas precedentes à Constituição de 1988 tão somente abrangiam o chefe de família, assegurando-lhe direito à aposentadoria aos 65 anos de idade, existindo também a aposentadoria por invalidez. Já os dependentes apenas tinham direito à pensão por morte e auxílio-funeral. Somente este último era de um salário-mínimo, sendo que os demais benefícios eram de apenas meio salário (Berwanger & Barreto, 2020). Neste sentido, uma alteração significativa trazida pela Constituição de 1998 refere-se ao teto do benefício. Anteriormente os benefícios eram de meio salário, apenas para os chefes de família, normalmente o homem; com a Constituição, passa-se a ter como garantia um benefício de, ao menos, um salário mínimo, não limitado ao chefe de família. A seguridade social atualmente é definida pela Constituição Federal do Brasil, em seu artigo 194, como sendo, “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinada a assegurar os direitos pertinente nas áreas da saúde, da previdência e assistência social” (CRFB, 1988). Portanto, são esses três pilares que devem ser colocados em prática, através de um sistema de ações integradas do poder público e da sociedade, voltados não só para a garantia de direitos individuais, mas também para a garantia e promoção dos chamados direitos sociais (Castro & Lazzari, 2020). Ressalta-se que “a doutrina classifica a previdência social como um direito humano de 2ª geração, devido à proteção individual que proporciona aos beneficiários, atendendo às condições mínimas de igualdade” (Kertzman, 2021, p. 61). A seguridade social abrange tanto a Previdência Social como a Assistência Social, sendo, assim, uma forma de abarcar-se a justiça social, buscando reduzir as desigualdades sociais, por meio da redistribuição de renda, bem como a erradicação da pobreza através da assistência aos menos favorecidos. Ademais, a Previdência Social tem como objetivo proporcionar meios indispensáveis de manutenção ao segurado e a sua família, no caso de eventual ocorrência de alguma ameaça aos direitos sociais (Castro & Lazzari, 2020). A principal função de um benefício previdenciário é a de fornecer condições dignas de sobrevivências após a perda da capacidade de trabalho; já a aposentadoria por idade ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e CidadaniaMárcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 147 tem como finalidade garantir uma velhice mais tranquila. Pesquisas de campo têm demonstrado que a renda obtida com os benefícios previdenciários tem servido como elemento de estímulo à atividade rural. Isso porque o dinheiro auferido serve para financiar a própria atividade rural dos campesinos, em busca de uma renda melhor, além de servir como garantia de sustento do núcleo familiar no período que precede a colheita ou mesmo no caso de uma safra infeliz (Porto, 2020, p. 107). A última categoria de segurados obrigatórios enumerada pela legislação é a dos segurados especiais, visto que a redação do art. 195, § 8º, da Constituição (CRFB, 1988) estabelece que o legislador deva ter uma análise diversa aos trabalhadores que exerçam atividade por conta própria em regime de economia familiar, praticando pequenas produções, de onde provém seu sustento. Desse modo, a maior conquista dessa imensa categoria de trabalhadores ocorreu com a promulgação da Constituição Federal de 1988, na qual os segurados especiais estão elencados de forma categórica. Isso está previsto de forma expressa no art. 195, §8º, que prevê que “o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes” (CRFB, 1988) farão uma contribuição especial e terão direito aos benefícios previdenciários. O referido dispositivo determina que a base de cálculo das contribuições à Seguridade Social destes trabalhadores rurais seja o produto da comercialização de sua produção, criando assim, regras diferenciadas para a participação no custeio devido à atividade que exercem apresentarem instabilidade durante o ano (CRFB, 1988). É o caso dos períodos de safra para os agricultores e temporadas de pesca para os pescadores e, em razão disso, em muitos casos, não se poderá exigir desses trabalhadores contribuições mensais, em valores fixos estipulados (Castro & Lazzari, 2021). Compreende-se como segurado especial, em conformidade com a nova redação dada pela Lei nº 11.718/2008 (Lei n° 11.718, 2008), a pessoa física domiciliada em imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele, que individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com auxílio eventual de terceiros, onde se destaca a mútua colaboração, na condição de “produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais” desde que explore atividades como agropecuária, seringueiro ou extrativista ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 148 vegetal, pescador artesanal ou similar (e faça destas suas atividades principais) e o“cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade [...] que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo (Castro & Lazzari, 2021). De acordo com o Decreto nº 3.048/1999, artigo 9°, VII, “c” (Decreto n° 3.048, 1999) estão incluídos no grupo familiar: o cônjuge ou companheiro e o filho maior de 16 anos de idade; e mediante declaração junto ao INSS: o enteado, maior de 16 anos de idade, o menor sob guarda ou tutela, maior de 16 anos e menor de 21 anos de idade, que não possuem bens suficientes para o próprio sustento e educação. Logo, é importante destacar, à vista deste, “a possibilidade de todos os que trabalham na agricultura terem acesso aos benefícios, e não somente o chefe de família, como era na vigência da Lei Complementar 11/1971” (Berwanger, 2020, p. 27). Segundo a Lei 8.213, § 1° (Lei nº 8.213, 1991), compreende-se como regime de economia familiar, “a atividade em que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração”. Diante disso, conforme determina a Lei supracitada em seu artigo 11, § 7°, “o grupo familiar poderá utilizar-se de empregados contratados por prazo determinado, à razão de no máximo 120 (cento e vinte) pessoas por dia no ano civil, em períodos corridos ou intercalados” (Lei nº 8.213, 1991). Salienta-se que não é computado nesse prazo o tempo em que o trabalhador estiver afastado por auxílio-doença. De acordo com art. 12 da Lei n. 8.212/1991 (Lei nº 8.212, 1991), são segurados obrigatórios da Previdência Social as pessoas físicas classificadas como: empregado, empregado doméstico, contribuinte individual, trabalhador avulso e segurado especial. Salienta-se que o pressuposto básico para alguém ter condição de segurado do Regime Geral da Previdência Social (RGPS) é necessariamente o de ser pessoa física, que resida em imóvel rural ou aglomerado urbano ou rural, pois é inconcebível a existência de segurado especial a pessoa jurídica. Outro requisito para ser segurado obrigatório é o exercício de uma atividade laborativa individual ou em regime de economia familiar, sendo permitido pela lei o auxílio eventual de terceiros em regime de colaboração. Ainda, cabe ressaltar que, para ser considerado segurado especial, o agricultor deverá possuir propriedade com no máximo 4 (quatro) módulos fiscais e, caso explore área ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 149 superior, passa a ser contribuinte individual. Sob esse prisma, o módulo Fiscal é uma medida de área que varia de acordo com cada município (Amado, p. 181, 2021). Diante do quadro apresentado, a jurisprudência da Turma Nacional de Uniformização (TNU), responsável por uniformizar os entendimentos das turmas recursais dos juizados federais em 2006, editou a súmula de nº 30, dispondo que: “Tratando-se de demanda previdenciária, o fato de o imóvel ser superior ao módulo rural não afasta, por si só, a qualificação de seu proprietário como segurado especial, desde que comprovada, nos autos, a sua exploração em regime de economia familiar” (Turma Nacional de Uniformização [TNU], 2006). Logo, o tamanho da terra não necessariamente será fator decisivo para o enquadramento do produtor rural como contribuinte individual ou segurado especial. A única menção da lei com relação à propriedade é concernente ao limite de área a ser explorada. Portanto, não há proibição legal do segurado possuir um carro ou uma motocicleta. Mesmo assim, encontram-se na jurisprudência decisões que embasam na propriedade de um automóvel a ausência da condição de segurado especial (Berwanger, 2020). Da mesma forma é importante salientar que a busca pelo direito ao segurado especial chega, em alguns casos, a ser discriminatório. Decisões das quais são fundamentadas pela aparência física do demandante são um exemplo disso (Berwanger, 2020). Desta forma observa-se que para ter direito ao benefício de aposentadoria, o segurado deve provar que depende exclusivamente da renda proveniente de sua produção e, a partir do momento que alguém do grupo familiar tenha outro tipo de fonte de renda, tais como um trabalho urbano ou um imóvel alugado, o segurado pode ser descaracterizado. Ademais, tendo em vista a redação do artigo 48 da Lei nº 8.213/91 (Lei n. 8.213/1991), o segurado especial deverá comprovar o exercício de atividaderural, ainda que descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício rural quando completar a idade mínima para obter a aposentadoria por idade, momento em que será capaz de solicitar o benefício em questão. Dessa forma, para que seja possível a concessão da aposentadoria especial rural, se faz necessário alguns requisitos, entre eles, a carência exigida nesta lei, idade mínima de 60 anos para o homem e de 55 anos para mulher (Lei n. 8.213/1991), ou seja, cinco anos menos em comparação com outros tipos de aposentadoria. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 150 Observa-se que as mulheres somente passaram a obter o status de seguradas da Previdência Social, a partir da redação do parágrafo 8° do artigo 195 da Constituição Federal (Farinelli, 2020, p. 120.). De acordo com art. 25 da Lei 8.213/91 (Lei n. 8.213, 1991), a carência requerida para o recebimento do benefício é de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais, equivalente assim a 15 (quinze) anos. Diante disso, uma das diretrizes para diferenciação e classificação como segurado especial diz respeito às condições ambientais de trabalho a que o agricultor foi submetido, trabalho esse desenvolvido no dia a dia do rurícola, sob sol e chuva, condições que prejudicam a saúde e integridade física, o que se intensifica tendo em vista que estes iniciam seu labor rural bem mais cedo, em geral, quando ainda crianças. Vale lembrar que esses trabalhadores ainda estão sujeitos aos riscos químicos, atribuído ao uso de pesticidas utilizados, bem como a falta de utilização de qualquer equipamento que possa diminuir os efeitos nocivos desses produtos no trabalhador rural (Berwanger, 2020). Segundo Berwanger, a realidade do trabalhador rural, é notoriamente pesada, sendo que os trabalhadores campesinos enfrentam diversos obstáculos laborais, além da jornada de trabalho de intensa duração. Observa-se, ainda, que quanto aos trabalhadores do campo, os ensinamentos da lida rural são passados de pais para filhos, desde a tenra idade, sem que haja capacitação técnica, ocasionando grande risco a acidentes de trabalho (Berwanger, 2020). Outrossim, é importante frisar que serão considerados segurados especiais os integrantes da entidade familiar que exerçam a atividade rural, mas o fato de algum dos integrantes não realizarem o trabalho em regime de economia familiar não descaracteriza a condição dos demais, como se observa da Súmula n. 41 da TNU: “A circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade urbana não implica, por si só, a descaracterização do trabalhador rural com segurado especial, condição que deve ser analisada no caso concreto” (TNU, 2010). Nesse sentido, Berwanger (2020, p. 28) expõe: “Contudo, é comum se verificar, tanto na via administrativa como na judicial, a descaracterização da condição de segurado especial quando um membro do grupo familiar tem outra fonte de rendimento”. Neste sentido, o próximo capítulo tratará das possíveis provas que ensejam a concessão de aposentadoria por idade rural no Brasil, bem como abordará as modificações ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 151 introduzidas com a edição da Medida Provisória 871, de 18 de janeiro de 2019, convertida na Lei 13.846/2019 (Lei n. 13.846, 2019). A extensiva possibilidade de produção de prova em processos de aposentadoria por idade rural e as mudanças introduzidas pela Lei nº 13.846/2019 Os segurados especiais são segurados obrigatórios da previdência social, devendo o trabalhador rural demonstrar, dentre outros requisitos, uma relação de labor efetivo com a terra, utilizando-a como fonte principal de renda de forma individual ou em regime de economia familiar. Para que o segurado especial tenha direito a obtenção do benefício previdenciário de valor mínimo, ele terá que comprovar o efetivo exercício da atividade rural pelo respectivo período de carência do benefício. A comprovação da atividade rural ainda é muito controvertida, pois apesar de inúmeras tentativas em se unificar o entendimento, não houve unanimidade nem mesmo no INSS (Berwanger, 2020). Para que o trabalhador rural comprove a qualidade de segurado especial, este deve apresentar documentos hábeis referente ao período do efetivo exercício, ou seja demonstrar o direito por meio de prova material. A Lei 8.213/1991, no seu artigo 39, prevê que os segurados especiais têm direito aos benefícios, “desde que comprovem o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido” (Lei n. 8.213, 1991). Em pesquisa realizada por Santana Filho et al. (2020, p. 289), identificou-se que, em 2015, a população residente na zona rural acima de 55 anos era de 6,2 (seis vírgula dois) milhões. Já o número emitido de benefícios rurais ficou em torno de 9,3 (nove vírgula três) milhões. Diante disso, nota-se que a quantidade de segurados da previdência rural foi 50% (cinquenta por cento) maior do que a população com mais de 55 anos que se declara rural. Diante do exposto, percebe-se que a exigência de prova material para a comprovação de tempo de contribuição é fundamentada na necessidade de que o direito ao benefício seja comprovado, o que é extremamente relevante para o direito previdenciário, pois, ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 152 assim, se opera com maior segurança e menor espaço para ações fraudulentas (Porto, 2020. p. 226). Para fins de comprovação do início da prova material, tem-se previsão legal do artigo 55, parágrafo 3° da Lei 8.213/91, redação atualizada pela Lei n° 13.846/2019 (Lei n. 13.846/2019). De acordo com Castro & Lazzari (2021, p. 147), “Vale destacar, que a prova testemunhal é válida e permitida como meio de prova suficiente para o fato desde que acompanhada de pelo menos um início de documentos hábeis para comprovação do labor rural”. Desta forma, não é permitido comprovar tempo de serviço exclusivamente pela via testemunhal, sendo necessário início de prova material, salvo na ocorrência de força maior ou caso fortuito. Como se pode observar, quanto às provas materiais, a Lei 8.213/91, em seu artigo 106, traz um rol de documentos hábeis sendo estes o contrato individual de trabalho ou Carteira de Trabalho e Previdência Social, o contrato de arrendamento, parceria ou comodato rural, entre outros (Lei n. 8213/1991). Registra-se, entretanto, que esse rol não é exaustivo, de modo que outros podem ser utilizados. Do mesmo modo, o artigo 54 da Instrução Normativa 77/15 (Ministério da Previdência Social, 2015) também pauta uma série de provas que podem ser usadas para demonstrar o labor rural. Percebe-se, com isso, que a relação de provas cuja finalidade seria a demonstração do exercício da atividade rural sempre foi ampliativa e não restritiva. Neste sentido, a Súmula de n° 34da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais (TNU) dispõe que: “para fins de comprovação do tempo de labor rural, o início de prova material deve ser contemporâneo à época dos fatos a provar” (TNU, 2006). Cabe aqui ressaltar que de acordo com a Súmula nº 14 da Turma Nacional de Uniformização-TNU, “Para a concessão de aposentadoria por idade, não se exige que o início de prova material corresponda a todo o período equivalente à carência do benefício” (TNU, 2009). Ressalta-se que a Súmula 06 da TNU dispõe que a certidão de casamento ou outro documento idôneo que evidencie a condição de trabalhador rural do conjugue constitui início razoável de prova material da atividade rurícola (TNU, 1973). ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 153 Diante do exposto, conclui-se que os documentos apresentados não precisarão ser correspondentes a todo o período de carência exigido, mês a mês, ano a ano, podendo desse modo, ocorrer de forma descontínua, visto que a prova testemunhal amplia a efetividade probatória. Ademais, devido a extensão da qualidade de segurado para os membros da família, a qualidade de segurado especial é estendida aos demais. Outro dado relevante a considerar é a Súmula 73 TRF4: “Admitem-se como início de prova material do efetivo exercício de atividade rural, em regime de economia familiar, documentos de terceiros, membros do grupo parental” (Tribunal Regional Federal da 4 Região [TRF4], 2006). Jose Antonio Savaris, (2021, p. 542) explica que “a exigência de prova material é considerada uma pedra de tropeço no caminho que liga o segurado à prestação previdenciária; um obstáculo à comprovação do direito que possui”. Compreende-se que, por serem pessoas de quase nenhuma escolaridade e humildes, estas não se preocupam em guardar documentos que mais tarde venham servir como provas, para concessão de aposentadoria. Conforme leciona Savaris (2021, p. 559), quanto mais recursos tem uma pessoa, mais farta será de documentos que comprove a atividade rural: um pai proprietário que poderá provar com seu título de propriedade a atividade rural do filho; com mais recursos existe uma possibilidade maior de buscar provas; mais condições financeiras de contratar um profissional, etc. Vale destacar que para o simples fato comprovar o exercício das atividades rurais geram-se requisitos que, muitas vezes, são de difícil acesso para os trabalhadores, posto que muitos deles sequer conhecem tais exigências. Deste modo, observa-se que quanto mais carente essa categoria de trabalhadores, mais difícil será a comprovação da atividade campesina, como, por exemplo, em casos que a família do autor não era proprietária de imóvel rural, nem arrendatário, nem parceiro. Com o surgimento da Emenda 103/2019, restou implantada a maior reforma constitucional dentro do atual sistema previdenciário brasileiro, principalmente do Regime Geral e o Regime Próprio de Previdência Social (Amado, 2021). Vê-se, portanto, modificações importantes com a edição da Medida Provisória 871, de 18 de janeiro de 2019, convertida na Lei 13.846/2019, implementando uma nova ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 154 sistemática para a comprovação do exercício de atividade rural pelo segurado especial. Com efeito, os arts. 38-A e 38-B da Lei 8.213/1991 consignam o seguinte: Art. 38-A. O Ministério da Economia manterá sistema de cadastro dos segurados especiais no Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS), observado o disposto nos §§ 4º e 5º do art. 17 desta Lei, e poderá firmar acordo de cooperação com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e com outros órgãos da administração pública federal, estadual, distrital e municipal para a manutenção e a gestão do sistema de cadastro. Art. 38-B § 1º A partir de 1º de janeiro de 2023, a comprovação da condição e do exercício da atividade rural do segurado especial ocorrerá, exclusivamente, pelas informações constantes do cadastro a que se refere o art. 38-A desta Lei. § 2º Para o período anterior a 1º de janeiro de 2023, o segurado especial comprovará o tempo de exercício da atividade rural por meio de autodeclaração ratificada por entidades públicas credenciadas, nos termos do art. 13 da Lei nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010, e por outros órgãos públicos, na forma prevista no regulamento. § 3º Até 1º de janeiro de 2025, o cadastro de que trata o art. 38-A poderá ser realizado, atualizado e corrigido, sem prejuízo do prazo de que trata o § 1º deste artigo e da regra permanente prevista nos §§ 4º e 5º do art. 38-A desta Lei (Lei 13.846/2019). Diante do exposto, a legislação determina que, a partir de 2023, a comprovação só poderá ser feita por meio do cadastro acima descrito. Determina, ademais, que no período anterior, a comprovação será feita por meio da autodeclaração, que substitui a declaração do sindicato. A autodeclaração tem a sua utilização temporal limitada para comprovar o exercício da atividade rural, pois, a partir de 2023, o segurado especial comprovará a sua condição por meio dos dados cadastrais (ressalvada a hipótese prevista no §1° do art. 25 da Emenda Constitucional 103/19, que posterga a exigência do cadastro para o momento em que pelo menos metade da população rural estiver cadastrada). Portanto, a autodeclaração figura, a partir da MP 871/2019, dentre no rol de instrumentos hábeis a comprovar o exercício da atividade, não sendo, portanto, o único. Os demais meios de prova que podem ser utilizados são aqueles elencados no art. 106 da Lei 8.213/91 e complementados pelo art. 54 da Instrução Normativa 77/15, que se configuram como início de prova material. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 155 No próximo capítulo, para se compreender melhor o cenário da previdência social rural, serão analisados alguns processos do primeiro trimestre de 2021 para averiguar quais são as principais causas que levam a negativa de concessão do benefício de aposentadoria do segurado especial no Tribunal Regional da 1ª Região. Análise de julgados do Tribunal Regional da 1ª Região do primeiro trimestre de 2021 em que houve indeferimento Realizada uma pesquisa de jurisprudência no Tribunal Regional da 1ª Região, esta resultou em onze processos: dois de benefício por incapacidade, três de aposentadoria por invalidez, um de pensão por morte, um de aposentadoria por tempo de contribuição, com averbação de período na condição de trabalhador rural e quatro de aposentadoria por idade rural. A seguir serão analisados quatro processos de aposentadoria por idade rural julgados improcedentes em primeiro grau e que chegaram no Tribunal Regional Federal de 1° Região. No primeiro deles a apelação foi provida para anular a sentença que em primeiro grau havia indeferido o pedido e determinar o retorno dos autos à origem, para que fosse complementada a instrução, pois, nesse caso, o patrono da parte autora, intimado acercado adiantamento da data de audiência, alegou a impossibilidade de comparecimento. Requerida a designação de nova data, o pedido foi apreciado e indeferido um dia antes da data fixada para audiência de instrução. Diante disso, em razão do evidente prejuízo ao direito de defesa da autora, principalmente porque, conforme mencionado na decisão: “é imperiosa a produção de prova testemunhal, que venha complementar o início de prova material, para a testificação da qualidade de segurado especial e concessão do benefício pleiteado na inicial”. Assim, a Apelação de segundo grau foi provida para anular a sentença, e determinar o retorno dos autos à origem, para que seja complementada a instrução. Diante disso, percebe-se a importância da complementação da prova testemunhal para à correta solução da lide, visto que a prova testemunhal amplia a efetividade probatória (Tribunal Regional da 1ª Região [TRF1], 2021a) https://www2.cjf.jus.br/jurisprudencia/trf1/index.xhtml ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 156 No segundo caso, a parte autora ajuizou ação postulando a concessão de benefício de aposentadoria rural, julgada improcedente em primeiro grau em razão ausência de comprovação do exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, pelo prazo de carência. Como mencionado anteriormente, para a concessão do benefício pleiteado exige-se a demonstração do labor rural, mediante início razoável de prova material, corroborada com prova testemunhal, ou prova documental plena, como também o prazo de carência. Conforme aludido na decisão, os documentos apresentados pela parte autora constatavam que o requisito de idade mínima foi atendido, pois aquela contava com idade superior à exigida, quando do ajuizamento da ação. No entanto, a autora não comprovou o exercício do labor rural, ainda que de forma descontínua, por quinze anos. Sendo assim, sua apelação foi desprovida por motivo de insuficiência probatória (TRF1, 2021b). No terceiro caso, o autor ajuizou ação postulando a concessão de benefício aposentadoria rural e, em razão do indeferimento em primeiro grau, interpôs recurso de apelação contra a decisão que entendeu que, apesar da existência de indícios da atividade campesina, não restaram comprovado o enquadramento como segurado especial e o exercício do labor rural pelo período exigido, sendo o benefício negado por inexistir prova da condição de segurado especial no período imediatamente anterior ao requerimento. Nesse caso, o autor contava com idade exigida de 60 anos e com o período de carência correspondente a 180 meses. Ademais, foram colacionados aos autos, com o fim de comprovar a qualidade de segurado, numerosos documentos em seu nome e também em nome de terceiros. Ainda, a prova testemunhal se revelou apta à complementação do início de prova material testificando que o Autor se dedicou à atividade rural pelo período exigido. Diante do apresentado, em segundo grau de jurisdição a apelação foi provida, demostrando início de prova material, corroborado com prova testemunhal e comprovando a qualidade de rurícola do autor (TRF1, 2021c). É importante ressaltar que a lei não proíbe que utilize documentos em nome de terceiros. “Além de a lei trazer um rol exemplificativo, percebe-se que podem ser utilizados para fins de prova, documentos em nome de terceiros, quando pertencentes ao grupo familiar do segurado” (Folmann, & Soares, p. 167). ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 157 Por fim, no último caso, a demandante ajuizou a ação postulando a concessão de benefício aposentadoria rural. Trata-se de recurso de apelação interposto pela parte autora contra sentença que julgou improcedente o pedido para concessão do benefício de aposentadoria rural por idade. A sentença relatou que a documentação colacionada não demonstrava cabalmente o labor campesino pelo período exigido, além de que os vínculos urbanos em nome do cônjuge descaracterizam a alegada condição de segurada especial. Nesse caso, a autora havia implementado a idade mínima exigida de 55 anos, exigindo- se, portanto, o período de carência correspondente a 180 meses. Foram colacionados aos autos vários documentos com o fim de comprovar a qualidade de segurada especial. Além do mais a prova testemunhal se revelou apta à complementação do início de prova material, testificando que a autora se dedicou à atividade rural pelo período exigido. Percebe-se que durante a instrução do feito as testemunhas confirmaram período de trabalho campesino da autora. Diante do exposto, nota-se a improcedência em primeiro grau pelo fato do cônjuge ter tido vínculos urbanos, porém, em respaldo de tal compreensão, considera-se que a desqualificação de um dos cônjuges como rurícola pode não alcançar o outro cônjuge como segurado especial, se ficar comprovado que este é, de fato, trabalhador rural. Assim, a Turma do Tribunal, por unanimidade, deu provimento à apelação, modificando a decisão do primeiro grau (TRF1, 2021d). Conforme leciona Amado, “o fato de um membro da família desenvolver a atividade urbana, por si só, não descaracteriza a condição do segurado especial” (Amado, p. 184, 2021). Diante de todo o exposto, à luz das decisões aqui reveladas, foi possível identificar as dificuldades que os agricultores possuem para conseguirem comprovar que efetivamente são segurados especiais. É também interessante relatar que, entre estes quatro processos analisados, três obtiveram a decisão modificada em segundo grau para conceder aos autores ao direito de aposentadoria e somente um manteve a decisão pela improcedência do primeiro grau de jurisdição. É evidente, portanto, a necessidade de uma maior proteção e maleabilidade das normas, como também dos magistrados especialmente em primeiro grau. É possível afirmar que as provas carreadas aos autos dos três processos modificados em segundo grau comprovaram o preenchimento dos requisitos legais dos benefícios ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 158 pleiteados pelos autores, sendo, portanto, processos que poderiam ter sido corretamente analisados em primeiro grau, sem a necessidade de novo julgamento pelo Tribunal de segundo grau para que os autores viessem a obter seus pedidos deferidos. Conclusão A inclusão da proteção previdenciária aos segurados especiais efetivamente foi positivada na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ainda que a regularização tenha ocorrido apenas em 1991, com as leis de custeio e de benefícios. Com isso, torna-se concreto o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores rurais e garante-se a estes tratamentos diferenciados no momento de comprovar a atividade da categoria de trabalhadores rurais. Neste ponto, frisa-se algo importante: a condição dessa categoria apresenta debilidade para fornecer a prova documental para que haja comprovação da atividade rural. Visto que será através de documentos que constem aprofissão ou qualquer outro dado que evidencie o exercício da atividade rural e seja contemporâneo ao fato nele declarado o benefício será concedido, o fato de os campesinos serem pessoas simples acaba por dificultar a sua construção probatória. Todo trabalhador que atua no campo tem direito à aposentadoria rural, para sua manutenção e de seus dependentes, no entanto, isso precisa ser comprovado de forma cabal perante os juízes para a concessão do benefício. Seguindo o estudo, diante da análise dos julgados, foi possível perceber a dificuldade dessa classe trabalhadora em concretizar seus direitos de aposentadoria. Nota-se que, mesmo diante de farta documentação que comprove o labor rural, que ora, foram juntados aos autos, mesmo assim tiveram seus pedidos improcedentes em primeiro grau, com justificativa de que a documentação acareada aos autos não demonstrava devidamente o período de carência exigido. Ao término da análise dos julgados em concreto, percebe-se que ao menos em três deles a questão do período de prova da atividade rural restou comprovada desde o primeiro julgamento. Sendo assim, é no mínimo questionável ter-se que recorrer ao segundo grau de jurisdição, mesmo com todas as provas em mãos, para a concessão de seus benefícios de aposentadoria. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 ISBN 978-989-9037-19-9 159 Referências Amado, F. (2020). Manual de Direito Previdenciário. Juspodivm. Berwanger, J. L.W. (2020). Segurado Especial: Novas Teses e Discussões. (3ª. Ed). Juruá. Berwanger, J.L.W. & Barreto, A.J.N. (2020). 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