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Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania 
Márcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) 
Editora Cravo – Porto – Portugal: 2021 
ISBN 978-989-9037-19-9 
144 
APOSENTADORIA POR IDADE AO 
SEGURADO ESPECIAL NO BRASIL: A 
COMPROVAÇÃO DE ATIVIDADE RURAL PARA 
CONCESSÃO DE APOSENTADORIA 
 
Gislaine Aguiar da Silva1 
 
Introdução 
 
A aposentadoria por idade ao segurado especial está estipulada no artigo 195, §8, da 
Constituição Federal Brasileira. Os segurados especiais são trabalhadores rurais que 
produzem em regime de economia familiar, sem utilização de mão de obra assalariada. 
Recebem tratamento diferenciado justamente pelas condições de trabalho e pelas 
situações instáveis de produção ao longo do ano, como a falta de chuvas, podendo, 
assim, comprometer o seu sustento e de sua família. 
Este trabalho buscou entender o Regime Geral da Previdência Social no Brasil (RGPS), 
abordando as principais características e forma de contribuição do trabalhador rural. 
Nesse sentido, este trabalho buscou responder a seguinte questão: quais as principais 
causas que levaram ao indeferimento de concessão do benefício de aposentadoria rural 
no Brasil, no período de janeiro a março de 2021 do Tribunal Regional Federal de 1° 
Região? 
Também se volta às alterações decorrentes das últimas mudanças na legislação 
previdenciária, no que tange especificadamente aos trabalhadores campesinos. 
Para tanto, irá demonstrar como se dá a comprovação da prova documental para o 
segurado especial, tendo em vista a corroboração ser exclusivamente documental e 
testemunhal para comprovação da atividade rural e sendo que a lei exige carência de 
contribuição de 180 meses, ou seja, 15 anos. 
Debruçar-se-á na necessidade de conhecer os dispositivos legais que tratam de tal 
aposentadoria. Ademais, trata-se de uma pesquisa de abordagem dedutiva, utilizando-
 
1 Acadêmica de Direito da Universidade Serra Dourada. E-mail: gislaine.aguiar.silva@hotmail.com 
 
 
 
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Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e Cidadania 
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se como procedimento o estudo de caso, uma vez que foram analisados julgados do 
TRF da 1ª Região. Como técnicas de pesquisa, foram utilizadas a documental e a 
bibliográfica, posto que se utilizou de literaturas específicas do assunto, bem como as 
análises dos dados colhidos dos julgados analisados. 
Este trabalho está organizado em três partes, além da introdução e da conclusão. Na 
primeira parte, discorrer-se-á sobre um breve histórico da evolução Legislativa da 
Previdência Social, como também as importantes alterações inseridas a partir da 
Constituição Federal de 1988. Na segunda, abordar-se-á sobre como são produzidas 
as provas e as mudanças introduzidas pela Lei nº 13.846/2019. Na terceira, serão 
analisados julgados do Tribunal Regional da 1° Região do primeiro trimestre de 2021, 
que resultaram em indeferimento dos pedidos de aposentadoria especial. 
Neste sentido, no próximo item abordar-se-á a evolução histórica da legislação 
previdenciária no Brasil. 
 
A evolução legislativa da previdência social e as alterações introduzidas na 
previdência a partir da Constituição Federal de 1988 
 
Dentro do que a doutrina majoritária propõe, a Lei Eloy Chaves é considerada o marco 
histórico da Previdência Social no Brasil. Com o Decreto-Legislativo 4.682, de 24 de 
janeiro de 1923, que criou as Caixas de Aposentadorias e Pensões – CAP´S- para os 
empregados das empresas ferroviárias, essa caixa garantia aos trabalhadores benefícios 
como assistência médica, aposentadoria por invalidez, aposentadoria ordinária e 
pensão por morte (Kertzman, 2021). 
Os trabalhadores rurais somente passaram a ser abrangidos pelo Regime Geral de 
Previdência Social com o advento da Lei nº 8.213/91 (Castro & Lazzari, 2021), o que 
foi possível em razão do imenso avanço trazido pela Constituição Federal de 1988, que 
incluiu a assistência social no conjunto dos direitos sociais, incluindo a saúde e a 
previdência social no sistema de Seguridade. 
Ademais, instituiu que a aposentadoria pode ser adquirida nas seguintes condições: aos 
60 anos se mulher e 65 anos se homem, limite esse reduzido em cinco anos para os 
trabalhadores rurais. Definiu também que os benefícios recebidos pelos trabalhadores 
 
 
 
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rurais não poderiam ser inferiores a um salário mínimo (Constituição da República 
Federativa do Brasil [CRFB], 1988). 
As normas precedentes à Constituição de 1988 tão somente abrangiam o chefe de 
família, assegurando-lhe direito à aposentadoria aos 65 anos de idade, existindo 
também a aposentadoria por invalidez. Já os dependentes apenas tinham direito à 
pensão por morte e auxílio-funeral. Somente este último era de um salário-mínimo, 
sendo que os demais benefícios eram de apenas meio salário (Berwanger & Barreto, 
2020). 
Neste sentido, uma alteração significativa trazida pela Constituição de 1998 refere-se 
ao teto do benefício. Anteriormente os benefícios eram de meio salário, apenas para 
os chefes de família, normalmente o homem; com a Constituição, passa-se a ter como 
garantia um benefício de, ao menos, um salário mínimo, não limitado ao chefe de 
família. 
A seguridade social atualmente é definida pela Constituição Federal do Brasil, em seu 
artigo 194, como sendo, “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes 
públicos e da sociedade, destinada a assegurar os direitos pertinente nas áreas da saúde, 
da previdência e assistência social” (CRFB, 1988). Portanto, são esses três pilares que 
devem ser colocados em prática, através de um sistema de ações integradas do poder 
público e da sociedade, voltados não só para a garantia de direitos individuais, mas 
também para a garantia e promoção dos chamados direitos sociais (Castro & Lazzari, 
2020). Ressalta-se que “a doutrina classifica a previdência social como um direito 
humano de 2ª geração, devido à proteção individual que proporciona aos beneficiários, 
atendendo às condições mínimas de igualdade” (Kertzman, 2021, p. 61). 
A seguridade social abrange tanto a Previdência Social como a Assistência Social, 
sendo, assim, uma forma de abarcar-se a justiça social, buscando reduzir as 
desigualdades sociais, por meio da redistribuição de renda, bem como a erradicação da 
pobreza através da assistência aos menos favorecidos. Ademais, a Previdência Social 
tem como objetivo proporcionar meios indispensáveis de manutenção ao segurado e 
a sua família, no caso de eventual ocorrência de alguma ameaça aos direitos sociais 
(Castro & Lazzari, 2020). 
A principal função de um benefício previdenciário é a de fornecer condições dignas de 
sobrevivências após a perda da capacidade de trabalho; já a aposentadoria por idade 
 
 
 
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Actas Completas da Jornada Virtual Internacional em Pesquisa Científica: Direito, Justiça e CidadaniaMárcia Calainho & Humberto Dalla Bernardina de Pinho (orgs.) 
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tem como finalidade garantir uma velhice mais tranquila. Pesquisas de campo têm 
demonstrado que a renda obtida com os benefícios previdenciários tem servido como 
elemento de estímulo à atividade rural. Isso porque o dinheiro auferido serve para 
financiar a própria atividade rural dos campesinos, em busca de uma renda melhor, 
além de servir como garantia de sustento do núcleo familiar no período que precede a 
colheita ou mesmo no caso de uma safra infeliz (Porto, 2020, p. 107). 
A última categoria de segurados obrigatórios enumerada pela legislação é a dos 
segurados especiais, visto que a redação do art. 195, § 8º, da Constituição (CRFB, 1988) 
estabelece que o legislador deva ter uma análise diversa aos trabalhadores que exerçam 
atividade por conta própria em regime de economia familiar, praticando pequenas 
produções, de onde provém seu sustento. Desse modo, a maior conquista dessa imensa 
categoria de trabalhadores ocorreu com a promulgação da Constituição Federal de 
1988, na qual os segurados especiais estão elencados de forma categórica. Isso está 
previsto de forma expressa no art. 195, §8º, que prevê que “o produtor, o parceiro, o 
meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos 
cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem 
empregados permanentes” (CRFB, 1988) farão uma contribuição especial e terão 
direito aos benefícios previdenciários. 
O referido dispositivo determina que a base de cálculo das contribuições à Seguridade 
Social destes trabalhadores rurais seja o produto da comercialização de sua produção, 
criando assim, regras diferenciadas para a participação no custeio devido à atividade 
que exercem apresentarem instabilidade durante o ano (CRFB, 1988). É o caso dos 
períodos de safra para os agricultores e temporadas de pesca para os pescadores e, em 
razão disso, em muitos casos, não se poderá exigir desses trabalhadores contribuições 
mensais, em valores fixos estipulados (Castro & Lazzari, 2021). 
Compreende-se como segurado especial, em conformidade com a nova redação dada 
pela Lei nº 11.718/2008 (Lei n° 11.718, 2008), a pessoa física domiciliada em imóvel 
rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele, que individualmente ou em 
regime de economia familiar, ainda que com auxílio eventual de terceiros, onde se 
destaca a mútua colaboração, na condição de “produtor, seja proprietário, usufrutuário, 
possuidor, assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário 
rurais” desde que explore atividades como agropecuária, seringueiro ou extrativista 
 
 
 
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vegetal, pescador artesanal ou similar (e faça destas suas atividades principais) e 
o“cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade [...] 
que, comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo (Castro & Lazzari, 
2021). 
De acordo com o Decreto nº 3.048/1999, artigo 9°, VII, “c” (Decreto n° 3.048, 1999) 
estão incluídos no grupo familiar: o cônjuge ou companheiro e o filho maior de 16 
anos de idade; e mediante declaração junto ao INSS: o enteado, maior de 16 anos de 
idade, o menor sob guarda ou tutela, maior de 16 anos e menor de 21 anos de idade, 
que não possuem bens suficientes para o próprio sustento e educação. Logo, é 
importante destacar, à vista deste, “a possibilidade de todos os que trabalham na 
agricultura terem acesso aos benefícios, e não somente o chefe de família, como era na 
vigência da Lei Complementar 11/1971” (Berwanger, 2020, p. 27). 
Segundo a Lei 8.213, § 1° (Lei nº 8.213, 1991), compreende-se como regime de 
economia familiar, “a atividade em que o trabalho dos membros da família é 
indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo 
familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colaboração”. Diante 
disso, conforme determina a Lei supracitada em seu artigo 11, § 7°, “o grupo familiar 
poderá utilizar-se de empregados contratados por prazo determinado, à razão de no 
máximo 120 (cento e vinte) pessoas por dia no ano civil, em períodos corridos ou 
intercalados” (Lei nº 8.213, 1991). Salienta-se que não é computado nesse prazo o 
tempo em que o trabalhador estiver afastado por auxílio-doença. 
De acordo com art. 12 da Lei n. 8.212/1991 (Lei nº 8.212, 1991), são segurados 
obrigatórios da Previdência Social as pessoas físicas classificadas como: empregado, 
empregado doméstico, contribuinte individual, trabalhador avulso e segurado especial. 
Salienta-se que o pressuposto básico para alguém ter condição de segurado do Regime 
Geral da Previdência Social (RGPS) é necessariamente o de ser pessoa física, que resida 
em imóvel rural ou aglomerado urbano ou rural, pois é inconcebível a existência de 
segurado especial a pessoa jurídica. Outro requisito para ser segurado obrigatório é o 
exercício de uma atividade laborativa individual ou em regime de economia familiar, 
sendo permitido pela lei o auxílio eventual de terceiros em regime de colaboração. 
Ainda, cabe ressaltar que, para ser considerado segurado especial, o agricultor deverá 
possuir propriedade com no máximo 4 (quatro) módulos fiscais e, caso explore área 
 
 
 
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superior, passa a ser contribuinte individual. Sob esse prisma, o módulo Fiscal é uma 
medida de área que varia de acordo com cada município (Amado, p. 181, 2021). Diante 
do quadro apresentado, a jurisprudência da Turma Nacional de Uniformização (TNU), 
responsável por uniformizar os entendimentos das turmas recursais dos juizados 
federais em 2006, editou a súmula de nº 30, dispondo que: “Tratando-se de demanda 
previdenciária, o fato de o imóvel ser superior ao módulo rural não afasta, por si só, a 
qualificação de seu proprietário como segurado especial, desde que comprovada, nos 
autos, a sua exploração em regime de economia familiar” (Turma Nacional de 
Uniformização [TNU], 2006). Logo, o tamanho da terra não necessariamente será 
fator decisivo para o enquadramento do produtor rural como contribuinte individual 
ou segurado especial. 
A única menção da lei com relação à propriedade é concernente ao limite de área a ser 
explorada. Portanto, não há proibição legal do segurado possuir um carro ou uma 
motocicleta. Mesmo assim, encontram-se na jurisprudência decisões que embasam na 
propriedade de um automóvel a ausência da condição de segurado especial (Berwanger, 
2020). Da mesma forma é importante salientar que a busca pelo direito ao segurado 
especial chega, em alguns casos, a ser discriminatório. Decisões das quais são 
fundamentadas pela aparência física do demandante são um exemplo disso 
(Berwanger, 2020). Desta forma observa-se que para ter direito ao benefício de 
aposentadoria, o segurado deve provar que depende exclusivamente da renda 
proveniente de sua produção e, a partir do momento que alguém do grupo familiar 
tenha outro tipo de fonte de renda, tais como um trabalho urbano ou um imóvel 
alugado, o segurado pode ser descaracterizado. 
Ademais, tendo em vista a redação do artigo 48 da Lei nº 8.213/91 (Lei n. 8.213/1991), 
o segurado especial deverá comprovar o exercício de atividaderural, ainda que 
descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício rural 
quando completar a idade mínima para obter a aposentadoria por idade, momento em 
que será capaz de solicitar o benefício em questão. Dessa forma, para que seja possível 
a concessão da aposentadoria especial rural, se faz necessário alguns requisitos, entre 
eles, a carência exigida nesta lei, idade mínima de 60 anos para o homem e de 55 anos 
para mulher (Lei n. 8.213/1991), ou seja, cinco anos menos em comparação com 
outros tipos de aposentadoria. 
 
 
 
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Observa-se que as mulheres somente passaram a obter o status de seguradas da 
Previdência Social, a partir da redação do parágrafo 8° do artigo 195 da Constituição 
Federal (Farinelli, 2020, p. 120.). 
De acordo com art. 25 da Lei 8.213/91 (Lei n. 8.213, 1991), a carência requerida para 
o recebimento do benefício é de 180 (cento e oitenta) contribuições mensais, 
equivalente assim a 15 (quinze) anos. Diante disso, uma das diretrizes para 
diferenciação e classificação como segurado especial diz respeito às condições 
ambientais de trabalho a que o agricultor foi submetido, trabalho esse desenvolvido no 
dia a dia do rurícola, sob sol e chuva, condições que prejudicam a saúde e integridade 
física, o que se intensifica tendo em vista que estes iniciam seu labor rural bem mais 
cedo, em geral, quando ainda crianças. Vale lembrar que esses trabalhadores ainda estão 
sujeitos aos riscos químicos, atribuído ao uso de pesticidas utilizados, bem como a falta 
de utilização de qualquer equipamento que possa diminuir os efeitos nocivos desses 
produtos no trabalhador rural (Berwanger, 2020). 
Segundo Berwanger, a realidade do trabalhador rural, é notoriamente pesada, sendo 
que os trabalhadores campesinos enfrentam diversos obstáculos laborais, além da 
jornada de trabalho de intensa duração. Observa-se, ainda, que quanto aos 
trabalhadores do campo, os ensinamentos da lida rural são passados de pais para filhos, 
desde a tenra idade, sem que haja capacitação técnica, ocasionando grande risco a 
acidentes de trabalho (Berwanger, 2020). 
Outrossim, é importante frisar que serão considerados segurados especiais os 
integrantes da entidade familiar que exerçam a atividade rural, mas o fato de algum dos 
integrantes não realizarem o trabalho em regime de economia familiar não 
descaracteriza a condição dos demais, como se observa da Súmula n. 41 da TNU: “A 
circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade urbana 
não implica, por si só, a descaracterização do trabalhador rural com segurado especial, 
condição que deve ser analisada no caso concreto” (TNU, 2010). 
Nesse sentido, Berwanger (2020, p. 28) expõe: “Contudo, é comum se verificar, tanto 
na via administrativa como na judicial, a descaracterização da condição de segurado 
especial quando um membro do grupo familiar tem outra fonte de rendimento”. 
Neste sentido, o próximo capítulo tratará das possíveis provas que ensejam a concessão 
de aposentadoria por idade rural no Brasil, bem como abordará as modificações 
 
 
 
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introduzidas com a edição da Medida Provisória 871, de 18 de janeiro de 2019, 
convertida na Lei 13.846/2019 (Lei n. 13.846, 2019). 
 
A extensiva possibilidade de produção de prova em processos de aposentadoria 
por idade rural e as mudanças introduzidas pela Lei nº 13.846/2019 
 
Os segurados especiais são segurados obrigatórios da previdência social, devendo o 
trabalhador rural demonstrar, dentre outros requisitos, uma relação de labor efetivo 
com a terra, utilizando-a como fonte principal de renda de forma individual ou em 
regime de economia familiar. 
Para que o segurado especial tenha direito a obtenção do benefício previdenciário de 
valor mínimo, ele terá que comprovar o efetivo exercício da atividade rural pelo 
respectivo período de carência do benefício. A comprovação da atividade rural ainda é 
muito controvertida, pois apesar de inúmeras tentativas em se unificar o entendimento, 
não houve unanimidade nem mesmo no INSS (Berwanger, 2020). 
Para que o trabalhador rural comprove a qualidade de segurado especial, este deve 
apresentar documentos hábeis referente ao período do efetivo exercício, ou seja 
demonstrar o direito por meio de prova material. A Lei 8.213/1991, no seu artigo 39, 
prevê que os segurados especiais têm direito aos benefícios, “desde que comprovem o 
exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período 
imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses 
correspondentes à carência do benefício requerido” (Lei n. 8.213, 1991). 
Em pesquisa realizada por Santana Filho et al. (2020, p. 289), identificou-se que, em 
2015, a população residente na zona rural acima de 55 anos era de 6,2 (seis vírgula 
dois) milhões. Já o número emitido de benefícios rurais ficou em torno de 9,3 (nove 
vírgula três) milhões. Diante disso, nota-se que a quantidade de segurados da 
previdência rural foi 50% (cinquenta por cento) maior do que a população com mais 
de 55 anos que se declara rural. 
Diante do exposto, percebe-se que a exigência de prova material para a comprovação 
de tempo de contribuição é fundamentada na necessidade de que o direito ao benefício 
seja comprovado, o que é extremamente relevante para o direito previdenciário, pois, 
 
 
 
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assim, se opera com maior segurança e menor espaço para ações fraudulentas (Porto, 
2020. p. 226). 
Para fins de comprovação do início da prova material, tem-se previsão legal do artigo 
55, parágrafo 3° da Lei 8.213/91, redação atualizada pela Lei n° 13.846/2019 (Lei n. 
13.846/2019). 
De acordo com Castro & Lazzari (2021, p. 147), “Vale destacar, que a prova 
testemunhal é válida e permitida como meio de prova suficiente para o fato desde que 
acompanhada de pelo menos um início de documentos hábeis para comprovação do 
labor rural”. Desta forma, não é permitido comprovar tempo de serviço 
exclusivamente pela via testemunhal, sendo necessário início de prova material, salvo 
na ocorrência de força maior ou caso fortuito. 
Como se pode observar, quanto às provas materiais, a Lei 8.213/91, em seu artigo 106, 
traz um rol de documentos hábeis sendo estes o contrato individual de trabalho ou 
Carteira de Trabalho e Previdência Social, o contrato de arrendamento, parceria ou 
comodato rural, entre outros (Lei n. 8213/1991). 
Registra-se, entretanto, que esse rol não é exaustivo, de modo que outros podem ser 
utilizados. Do mesmo modo, o artigo 54 da Instrução Normativa 77/15 (Ministério da 
Previdência Social, 2015) também pauta uma série de provas que podem ser usadas 
para demonstrar o labor rural. Percebe-se, com isso, que a relação de provas cuja 
finalidade seria a demonstração do exercício da atividade rural sempre foi ampliativa e 
não restritiva. 
Neste sentido, a Súmula de n° 34da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados 
Especiais Federais (TNU) dispõe que: “para fins de comprovação do tempo de labor 
rural, o início de prova material deve ser contemporâneo à época dos fatos a provar” 
(TNU, 2006). Cabe aqui ressaltar que de acordo com a Súmula nº 14 da Turma 
Nacional de Uniformização-TNU, “Para a concessão de aposentadoria por idade, não 
se exige que o início de prova material corresponda a todo o período equivalente à 
carência do benefício” (TNU, 2009). Ressalta-se que a Súmula 06 da TNU dispõe que 
a certidão de casamento ou outro documento idôneo que evidencie a condição de 
trabalhador rural do conjugue constitui início razoável de prova material da atividade 
rurícola (TNU, 1973). 
 
 
 
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Diante do exposto, conclui-se que os documentos apresentados não precisarão ser 
correspondentes a todo o período de carência exigido, mês a mês, ano a ano, podendo 
desse modo, ocorrer de forma descontínua, visto que a prova testemunhal amplia a 
efetividade probatória. Ademais, devido a extensão da qualidade de segurado para os 
membros da família, a qualidade de segurado especial é estendida aos demais. 
Outro dado relevante a considerar é a Súmula 73 TRF4: “Admitem-se como início de 
prova material do efetivo exercício de atividade rural, em regime de economia familiar, 
documentos de terceiros, membros do grupo parental” (Tribunal Regional Federal da 
4 Região [TRF4], 2006). 
Jose Antonio Savaris, (2021, p. 542) explica que “a exigência de prova material é 
considerada uma pedra de tropeço no caminho que liga o segurado à prestação 
previdenciária; um obstáculo à comprovação do direito que possui”. Compreende-se 
que, por serem pessoas de quase nenhuma escolaridade e humildes, estas não se 
preocupam em guardar documentos que mais tarde venham servir como provas, para 
concessão de aposentadoria. 
Conforme leciona Savaris (2021, p. 559), quanto mais recursos tem uma pessoa, mais 
farta será de documentos que comprove a atividade rural: um pai proprietário que 
poderá provar com seu título de propriedade a atividade rural do filho; com mais 
recursos existe uma possibilidade maior de buscar provas; mais condições financeiras 
de contratar um profissional, etc. 
Vale destacar que para o simples fato comprovar o exercício das atividades rurais 
geram-se requisitos que, muitas vezes, são de difícil acesso para os trabalhadores, posto 
que muitos deles sequer conhecem tais exigências. Deste modo, observa-se que quanto 
mais carente essa categoria de trabalhadores, mais difícil será a comprovação da 
atividade campesina, como, por exemplo, em casos que a família do autor não era 
proprietária de imóvel rural, nem arrendatário, nem parceiro. 
Com o surgimento da Emenda 103/2019, restou implantada a maior reforma 
constitucional dentro do atual sistema previdenciário brasileiro, principalmente do 
Regime Geral e o Regime Próprio de Previdência Social (Amado, 2021). 
Vê-se, portanto, modificações importantes com a edição da Medida Provisória 871, de 
18 de janeiro de 2019, convertida na Lei 13.846/2019, implementando uma nova 
 
 
 
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sistemática para a comprovação do exercício de atividade rural pelo segurado especial. 
Com efeito, os arts. 38-A e 38-B da Lei 8.213/1991 consignam o seguinte: 
 
Art. 38-A. O Ministério da Economia manterá sistema de cadastro dos segurados 
especiais no Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS), observado o 
disposto nos §§ 4º e 5º do art. 17 desta Lei, e poderá firmar acordo de cooperação 
com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e com outros órgãos 
da administração pública federal, estadual, distrital e municipal para a manutenção 
e a gestão do sistema de cadastro. 
Art. 38-B § 1º A partir de 1º de janeiro de 2023, a comprovação da condição e 
do exercício da atividade rural do segurado especial ocorrerá, exclusivamente, 
pelas informações constantes do cadastro a que se refere o art. 38-A desta Lei. 
§ 2º Para o período anterior a 1º de janeiro de 2023, o segurado especial 
comprovará o tempo de exercício da atividade rural por meio de autodeclaração 
ratificada por entidades públicas credenciadas, nos termos do art. 13 da Lei nº 
12.188, de 11 de janeiro de 2010, e por outros órgãos públicos, na forma prevista 
no regulamento. 
§ 3º Até 1º de janeiro de 2025, o cadastro de que trata o art. 38-A poderá ser 
realizado, atualizado e corrigido, sem prejuízo do prazo de que trata o § 1º deste 
artigo e da regra permanente prevista nos §§ 4º e 5º do art. 38-A desta Lei (Lei 
13.846/2019). 
 
Diante do exposto, a legislação determina que, a partir de 2023, a comprovação só 
poderá ser feita por meio do cadastro acima descrito. Determina, ademais, que no 
período anterior, a comprovação será feita por meio da autodeclaração, que substitui a 
declaração do sindicato. A autodeclaração tem a sua utilização temporal limitada para 
comprovar o exercício da atividade rural, pois, a partir de 2023, o segurado especial 
comprovará a sua condição por meio dos dados cadastrais (ressalvada a hipótese 
prevista no §1° do art. 25 da Emenda Constitucional 103/19, que posterga a exigência 
do cadastro para o momento em que pelo menos metade da população rural estiver 
cadastrada). Portanto, a autodeclaração figura, a partir da MP 871/2019, dentre no rol 
de instrumentos hábeis a comprovar o exercício da atividade, não sendo, portanto, o 
único. Os demais meios de prova que podem ser utilizados são aqueles elencados no 
art. 106 da Lei 8.213/91 e complementados pelo art. 54 da Instrução Normativa 
77/15, que se configuram como início de prova material. 
 
 
 
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No próximo capítulo, para se compreender melhor o cenário da previdência social 
rural, serão analisados alguns processos do primeiro trimestre de 2021 para averiguar 
quais são as principais causas que levam a negativa de concessão do benefício de 
aposentadoria do segurado especial no Tribunal Regional da 1ª Região. 
 
Análise de julgados do Tribunal Regional da 1ª Região do primeiro trimestre de 
2021 em que houve indeferimento 
 
Realizada uma pesquisa de jurisprudência no Tribunal Regional da 1ª Região, esta 
resultou em onze processos: dois de benefício por incapacidade, três de aposentadoria 
por invalidez, um de pensão por morte, um de aposentadoria por tempo de 
contribuição, com averbação de período na condição de trabalhador rural e quatro de 
aposentadoria por idade rural. 
A seguir serão analisados quatro processos de aposentadoria por idade rural julgados 
improcedentes em primeiro grau e que chegaram no Tribunal Regional Federal de 1° 
Região. 
No primeiro deles a apelação foi provida para anular a sentença que em primeiro grau 
havia indeferido o pedido e determinar o retorno dos autos à origem, para que fosse 
complementada a instrução, pois, nesse caso, o patrono da parte autora, intimado 
acercado adiantamento da data de audiência, alegou a impossibilidade de 
comparecimento. Requerida a designação de nova data, o pedido foi apreciado e 
indeferido um dia antes da data fixada para audiência de instrução. Diante disso, em 
razão do evidente prejuízo ao direito de defesa da autora, principalmente porque, 
conforme mencionado na decisão: “é imperiosa a produção de prova testemunhal, que 
venha complementar o início de prova material, para a testificação da qualidade de 
segurado especial e concessão do benefício pleiteado na inicial”. Assim, a Apelação de 
segundo grau foi provida para anular a sentença, e determinar o retorno dos autos à 
origem, para que seja complementada a instrução. Diante disso, percebe-se a 
importância da complementação da prova testemunhal para à correta solução da lide, 
visto que a prova testemunhal amplia a efetividade probatória (Tribunal Regional da 1ª 
Região [TRF1], 2021a) https://www2.cjf.jus.br/jurisprudencia/trf1/index.xhtml 
 
 
 
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No segundo caso, a parte autora ajuizou ação postulando a concessão de benefício de 
aposentadoria rural, julgada improcedente em primeiro grau em razão ausência de 
comprovação do exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, pelo 
prazo de carência. Como mencionado anteriormente, para a concessão do benefício 
pleiteado exige-se a demonstração do labor rural, mediante início razoável de prova 
material, corroborada com prova testemunhal, ou prova documental plena, como 
também o prazo de carência. Conforme aludido na decisão, os documentos 
apresentados pela parte autora constatavam que o requisito de idade mínima foi 
atendido, pois aquela contava com idade superior à exigida, quando do ajuizamento da 
ação. No entanto, a autora não comprovou o exercício do labor rural, ainda que de 
forma descontínua, por quinze anos. Sendo assim, sua apelação foi desprovida por 
motivo de insuficiência probatória (TRF1, 2021b). 
No terceiro caso, o autor ajuizou ação postulando a concessão de benefício 
aposentadoria rural e, em razão do indeferimento em primeiro grau, interpôs recurso 
de apelação contra a decisão que entendeu que, apesar da existência de indícios da 
atividade campesina, não restaram comprovado o enquadramento como segurado 
especial e o exercício do labor rural pelo período exigido, sendo o benefício negado 
por inexistir prova da condição de segurado especial no período imediatamente 
anterior ao requerimento. Nesse caso, o autor contava com idade exigida de 60 anos e 
com o período de carência correspondente a 180 meses. 
Ademais, foram colacionados aos autos, com o fim de comprovar a qualidade de 
segurado, numerosos documentos em seu nome e também em nome de terceiros. 
Ainda, a prova testemunhal se revelou apta à complementação do início de prova 
material testificando que o Autor se dedicou à atividade rural pelo período exigido. 
Diante do apresentado, em segundo grau de jurisdição a apelação foi provida, 
demostrando início de prova material, corroborado com prova testemunhal e 
comprovando a qualidade de rurícola do autor (TRF1, 2021c). 
É importante ressaltar que a lei não proíbe que utilize documentos em nome de 
terceiros. “Além de a lei trazer um rol exemplificativo, percebe-se que podem ser 
utilizados para fins de prova, documentos em nome de terceiros, quando pertencentes 
ao grupo familiar do segurado” (Folmann, & Soares, p. 167). 
 
 
 
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Por fim, no último caso, a demandante ajuizou a ação postulando a concessão de 
benefício aposentadoria rural. Trata-se de recurso de apelação interposto pela parte 
autora contra sentença que julgou improcedente o pedido para concessão do benefício 
de aposentadoria rural por idade. 
A sentença relatou que a documentação colacionada não demonstrava cabalmente o 
labor campesino pelo período exigido, além de que os vínculos urbanos em nome do 
cônjuge descaracterizam a alegada condição de segurada especial. 
Nesse caso, a autora havia implementado a idade mínima exigida de 55 anos, exigindo-
se, portanto, o período de carência correspondente a 180 meses. Foram colacionados 
aos autos vários documentos com o fim de comprovar a qualidade de segurada 
especial. Além do mais a prova testemunhal se revelou apta à complementação do 
início de prova material, testificando que a autora se dedicou à atividade rural pelo 
período exigido. Percebe-se que durante a instrução do feito as testemunhas 
confirmaram período de trabalho campesino da autora. 
Diante do exposto, nota-se a improcedência em primeiro grau pelo fato do cônjuge ter 
tido vínculos urbanos, porém, em respaldo de tal compreensão, considera-se que a 
desqualificação de um dos cônjuges como rurícola pode não alcançar o outro cônjuge 
como segurado especial, se ficar comprovado que este é, de fato, trabalhador rural. 
Assim, a Turma do Tribunal, por unanimidade, deu provimento à apelação, 
modificando a decisão do primeiro grau (TRF1, 2021d). Conforme leciona Amado, “o 
fato de um membro da família desenvolver a atividade urbana, por si só, não 
descaracteriza a condição do segurado especial” (Amado, p. 184, 2021). 
Diante de todo o exposto, à luz das decisões aqui reveladas, foi possível identificar as 
dificuldades que os agricultores possuem para conseguirem comprovar que 
efetivamente são segurados especiais. É também interessante relatar que, entre estes 
quatro processos analisados, três obtiveram a decisão modificada em segundo grau 
para conceder aos autores ao direito de aposentadoria e somente um manteve a decisão 
pela improcedência do primeiro grau de jurisdição. É evidente, portanto, a necessidade 
de uma maior proteção e maleabilidade das normas, como também dos magistrados 
especialmente em primeiro grau. 
É possível afirmar que as provas carreadas aos autos dos três processos modificados 
em segundo grau comprovaram o preenchimento dos requisitos legais dos benefícios 
 
 
 
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pleiteados pelos autores, sendo, portanto, processos que poderiam ter sido 
corretamente analisados em primeiro grau, sem a necessidade de novo julgamento pelo 
Tribunal de segundo grau para que os autores viessem a obter seus pedidos deferidos. 
 
Conclusão 
 
A inclusão da proteção previdenciária aos segurados especiais efetivamente foi 
positivada na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ainda que a 
regularização tenha ocorrido apenas em 1991, com as leis de custeio e de benefícios. 
Com isso, torna-se concreto o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos 
trabalhadores rurais e garante-se a estes tratamentos diferenciados no momento de 
comprovar a atividade da categoria de trabalhadores rurais. 
Neste ponto, frisa-se algo importante: a condição dessa categoria apresenta debilidade 
para fornecer a prova documental para que haja comprovação da atividade rural. Visto 
que será através de documentos que constem aprofissão ou qualquer outro dado que 
evidencie o exercício da atividade rural e seja contemporâneo ao fato nele declarado o 
benefício será concedido, o fato de os campesinos serem pessoas simples acaba por 
dificultar a sua construção probatória. Todo trabalhador que atua no campo tem direito 
à aposentadoria rural, para sua manutenção e de seus dependentes, no entanto, isso 
precisa ser comprovado de forma cabal perante os juízes para a concessão do benefício. 
Seguindo o estudo, diante da análise dos julgados, foi possível perceber a dificuldade 
dessa classe trabalhadora em concretizar seus direitos de aposentadoria. Nota-se que, 
mesmo diante de farta documentação que comprove o labor rural, que ora, foram 
juntados aos autos, mesmo assim tiveram seus pedidos improcedentes em primeiro 
grau, com justificativa de que a documentação acareada aos autos não demonstrava 
devidamente o período de carência exigido. 
 Ao término da análise dos julgados em concreto, percebe-se que ao menos em três 
deles a questão do período de prova da atividade rural restou comprovada desde o 
primeiro julgamento. Sendo assim, é no mínimo questionável ter-se que recorrer ao 
segundo grau de jurisdição, mesmo com todas as provas em mãos, para a concessão 
de seus benefícios de aposentadoria. 
 
 
 
 
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