Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente
Prefeitura Municipal de Duque de Caxias
Secretaria de Meio Ambiente
3
DE
Rio de Janeiro
Educação Ambiental
NIMA
Formação de valores ético-ambientais para 
o exercício da cidadania no município de
Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente
DUQUE
CAXIAS
8 Apresentação
 Padre Josafá Carlos de Siqueira S. J.
12 Introdução
12 Informações gerais sobre o município de Duque de Caxias
aulas
22 27 de Setembro
22 11 de Outubro
22 18 de Outubro
22 25 de Outubro
trabalhos de campo
22 Morro do Céu
11 Cidade dos Meninos
15 Parque Glicério
15 Caixa D’Água
15 Parque Municipal da Taquara
15 Reserva Biológica do Tinguá
15 Barragem Saracuruna
mapas
32 Introdução
32 O município de Duque de Caxias na RMRJ
32 O município de Duque de Caxias na Baixada Fluminense
 do Estado do Rio de Janeiro
32 Distritos do município de Duque de Caxias
32 Geologia do município de Duque de Caxias
32 Geomorfologia do município de Duque de Caxias
32	 Hidrografia	do	município	de	Duque	de	Caxias
32 Uso do solo e cobertura vegetal de Duque de Caxias
32 Áreas de Unidades de conservação no município de Duque de Caxias
32 Densidade de ocupação e densidade urbana de Duque de Caxias
32 Rodovias no município de Duque de Caxias
32 [zona especial]
encerramento
32 Alunos do projeto de Educação Ambiental
32 Apresentações
32 Exposições de trabalhos
32 Créditos
artigos
37	 Algumas	reflexões	para	ajudar	a	entender	a	produção	desigual
 do espaço urbano em Duque de Caxias 
 Alvaro Ferreira
34 Duque de Caxias, município da região Baixada Fluminense:
 poder local, gestão do território e política pública 
 no Estado do Rio de Janeiro. 
 Augusto César Pinheiro da Silva
 Rosana Cristine Machado de Oliveira
32 Direito Ambiental: origens, desenvolvimento e objetivos
 Fernando Cavalcanti Walcacer
 Virgínia Totti Guimarães
40 Educação Ambiental: por que e para quê?
 Regina Célia de Mattos
52 Os espaços “vazios” do município de Duque de Caxias:
 a natureza e sua sociedade 
 Rita de Cássia Martins Montezuma
 Rogério Ribeiro de Oliveira
59	 Histórico,	finalidades,	objetivos	e	princípios	da	Educação	Ambiental
 Roosevelt Fideles de Souza
34 Jardim Gramacho e o território do lixo
 Valéria Pereira Bastos
Apresentação
Num mundo marcado pela fragmentação dos saberes, é admi-
rável conhecer as experiências que estão sendo vividas e viven-
ciadas em escala local, onde a união de esforços entre o setor 
público e o privado, o ensino superior, o ensino médio e o ensino 
fundamental buscam caminhos de compreensão interdisciplinar 
para a complexidade dos problemas que envolvem o Município 
de Duque de Caxias. Não é de estranhar que as asas que mar-
cam o lema do brasão da puc-Rio, Allis grave nil, não tenham 
sido feitas para voar apenas no pequeno limite do território aca-
dêmico, mas, sim, para alcançar voos mais longínquos que per-
mitem conhecer, estudar e devolver à Baixada Fluminense, suas 
riquezas e suas contradições.
O espírito que move as parcerias entre a puc-Rio, a Petro-
bras e a Prefeitura Municipal de Duque de Caxias, em prol da 
formação de valores ético-ambientais para o exercício da cida-
dania, consiste em construir conhecimentos a partir da reali-
dade local e devolvê-los aos agentes multiplicadores da educa-
ção ambiental nas escolas. Com essa perspectiva, a equipe do 
nima, coordenada pelo pesquisador Luis Felipe Guanaes Rego 
e	formada	pelos	professores	dos	Departamentos	de	Geografia,	
Direito e Serviço Social da puc-Rio,	empenhou-se	na	desafiante	
missão de conhecer de perto um município onde a grandeza de 
possuir um território coberto por mais de 50% de área verde, 
que ocupa o sexto maior pib do Brasil e abriga uma das maio-
res	refinarias	de	petróleo	do	país,	está	profundamente	asso-
ciada com a fragilidade de seus problemas sociais.
Antes de tematizar os conteúdos que foram explicita-
dos durante os cursos, os professores procuraram conhecer 
de perto, através dos trabalhos de campo e de numerosas pes-
quisas, as realidades socioambientais do município como um 
todo,	assim	como	localidades	específicas	que	fazem	parte	da	
história de Duque de Caxias, caso do Morro do Céu, da Cidade 
dos Meninos, do Parque Glicério, da Caixa D’Água, do Parque 
Municipal Taquara, da rebio Tinguá e da Barragem Saracu-
runa. Inspirados nesta realidade concreta, os professores ela- 9
boraram	suas	reflexões,	retratadas	nos	diferentes	artigos	que	
integram o presente livro.
Abrindo os olhos para uma problemática mais globali-
zada, que também está relacionada com a realidade local, o 
professor Álvaro Ferreira nos fala sobre a produção desigual do 
espaço urbano de Duque de Caxias, mostrando que o conceito 
de urbano transcende aquilo que denominamos de cidade. O 
autor	termina	a	sua	reflexão	com	um	convite	à	população	local	
para uma participação mais ativa e constante, condição neces-
sária para ser não apenas citadino, mas cidadão. Preocupados 
em	fazer	uma	reflexão	sobre	o	poder	local,	a	gestão	do	território	
e a política pública no Estado do Rio de Janeiro, os professores 
Augusto César Pinheiro da Silva e Rosana Cristine Machado de 
Oliveira procuraram mostrar a complexidade das práticas políti-
cas no espaço territorializado da Baixada Fluminense e a impor-
tância de aumentar a capacidade do ente público municipal, 
para que este possa vir a se tornar uma referência regional.
Com o objetivo de elucidar os meandros legais, válidos 
para as realidades nacional e local, os professores de Direito 
Ambiental Fernando Cavalcante Walcacer e Virginia Totti Gui-
marães analisaram a evolução da legislação brasileira, o licencia-
mento,	a	participação	na	gestão	e	na	fiscalização	ambiental.
Questionada sobre o porquê e o para que da Educação 
Ambiental, a professora Regina Célia de Mattos procura fazer 
uma	reflexão	sobre	a	relação	histórica	entre	a	sociedade	e	a	
natureza em Duque de Caxias, mostrando os sinais de avanços 
e as preocupações sociais. Sem negar a importância da Educa-
ção Ambiental, a geógrafa questiona o comportamento do poder 
público e empresarial que, muitas vezes, cobra mudanças de 
hábitos e costumes da sociedade, mas acaba sem dar o teste-
munho de ações concretas em favor de condições mais dignas 
de saúde, segurança e bem-estar para a sociedade.
Preocupados, também, com a relação entre a natureza e 
a sociedade, os professores Rogério Ribeiro de Oliveira e Rita 
de Cássia Martins Montezuma fazem uma análise cuidadosa da 
história da transformação do cenário ambiental de Duque de 
Caxias, formado por diversos ecossistemas. Os autores descre-
vem as atuais paisagens naturais, as áreas ocupadas e os espa-
ços “vazios”, ricos e pobres em diversidade. Para eles, a hete-
rogeneidade	ambiental	do	espaço	se	modifica	na	relação	entre	
encosta e baixada, o que não tira a importância da preservação 
das Unidades de Conservação existentes, como também dos 
espaços que aparentemente se mostram vazios, mas que, na 
verdade,	estão	cheios	de	história,	ações	e	significados	geobiofí-
sicos e sociais. Focado na compreensão didática da temática, o 
professor Roosevelt Fidelis de Souza procura abordar o histórico, 
os princípios e os objetivos da Educação Ambiental, mostrando 
os impactos ambientais dos ciclos econômicos e tecendo con-
siderações	finais	sobre	a	importância	de	uma	abordagem	mais	
ampla e integrada dos processos de Educação Ambiental para 
as gerações presentes e futuras. O último artigo do livro, elabo-
rado pela professora Valéria Pereira Bastos, adota um enfoque 
local complexo, relacionado ao Jardim Gramacho e ao território 
do lixo. Depois de apresentar dados sócioeconômicos do municí-
pio de Duque de Caxias, a autora nos mostra a realidade desse 
espaço territorial que abriga cerca de 40 mil habitantes, onde 
50% das pessoas dependem direta ou indiretamente das ativi-
dades econômicas procedentes da catação do lixo. Fica clara a 
preocupação maior da autora com os problemas relacionados 
à exclusão, ao desemprego e à marginalização.
Fica, aqui,Antes desses acordos localistas, porém, diferentes 
divisões territoriais são necessárias para que os nichos de poder através 
da máquina pública possam ser expressos regionalmente, numa verda-
deira	arquitetura	de	poder	no	espaço	geográfico.	
A figura	2 expressa as emancipações ocorridas na região ao longo 
do século xx, quando os interesses das elites locais passaram a exer-
cer,	nesse	fragmento	do	território	fluminense,	uma	relação	de	poder	
com outros agentes do Estado nacional. Nesse sentido, tais emancipa-
ções expressam uma esfera da ação, uma designação da capacidade 
de agir, direta ou indiretamente, sobre as coisas ou sobre as pessoas, 
sobre os objetos ou sobre as vontades (guichet, 1996 apud castro, 
2005, p.99). Dessa maneira, as reivindicações produzidas pela relação 
comunidades-elites podem resultar em emancipações e isto dependerá 
das vantagens políticas, econômicas e sociais desses grupos através da 
instituição Estado.
1
Segundo Claude raffes-
tin (1993), “o território se 
forma a partir do espaço e 
é o resultado de uma ação 
conduzida por um ator (…) 
em qualquer nível” (p.143). 
Já para Marcelo Lopes de 
souza (2001), o conceito 
pode ser compreendido em 
sua	flexibilidade,	elastici-
dade formal e de conteúdo, 
expressos na relação que 
desenvolve com as noções 
de espaço e tempo.
2
Para Robert sack (1986), 
territorialidades	são	defi-
nidas como estratégias de 
controle sempre vinculadas 
ao contexto social nas quais 
se inserem. São estraté-
gias de poder e de manu-
tenção independentes do 
tamanho das áreas a serem 
dominadas ou do caráter 
meramente quantitativo dos 
agentes dominadores, ou 
seja, são estratégias de con-
trole territorial.
60 poder local, gestão do território e política pública 61 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado de oliveira
As diversas emancipações territoriais vão gerar no espaço diferen-
tes relações de poder, sendo que este último, segundo Castro (2005), 
assume três formas elementares: a primeira é o poder despótico, a 
segunda, o poder fundado na autoridade e a terceira, o poder que se 
apoia na força da política. Essas três dimensões representam as varia-
das formas de ação sobre os objetos e as pessoas, além das formas de 
controle sobre eles. Segundo a autora, a primeira forma traz a dimensão 
do medo, da coerção pela violência e da ameaça, o que caracteriza bem 
a história moderna da Baixada Fluminense, região marcada pela vio-
lência, tanto explícita quanto implícita3, nas suas relações cotidianas. 
Essas	formas	de	violência	podem	ser	verificadas	em	Duque	de	Caxias	
que teve, ao longo do século xx, um forte poder de coerção pelo medo de 
Tenório Cavalcanti, deputado e migrante nordestino conhecido como o 
Homem da Capa Preta. Este impôs o terror em todo o município, como 
forma de pressão para que seus interesses e vontades particularistas 
fossem atendidos.
Tenório Cavalcanti foi um dos muitos migrantes que vieram do 
Nordeste para a Baixada. Lá, enriqueceu e tornou-se uma podero-
sa figura social, criando um sistema clientelista e apoiando-se na 
violência como estratégia de conquista e manutenção do poder tanto 
econômico quanto político. Tenório aproximou-se de famílias tradi-
cionais (inclusive pelo casamento), mas, ao mesmo tempo, manteve 
suas relações com os migrantes, inclusive intermediando a vinda de 
muitos outros para a Baixada, quando se formou em Direito. Como 
advogado, lutou a favor de causas de despejo e de controle pela 
terra. Neste sistema, projetou-se como líder regional e conseguiu 
penetrar nas esferas da política nacional, conseguindo expressivas 
votações para o Legislativo.
(ciberlegenda, 2004).
A segunda forma de poder está fundada na autoridade que, segundo a 
mesma autora,
é um poder exercido como uma concessão, o que o torna uma forma 
legitimada pela aceitação e pelo reconhecimento daqueles que a ele 
se submete. É nesse reconhecimento e concordância dos que se sub-
metem que ele se justifica e funda a sua legitimidade.
(p.103)
Esse tipo de manifestação de poder tende a se tornar mais comum hoje, 
podendo se manifestar através do carisma por parte daqueles que dese-
jam “impor o poder” através de estratégias políticas de ações assisten-
cialistas. Estas legitimam a atuação de alguns agentes do espaço e o seu 
controle sobre os objetos e sobre as pessoas (CASTRO, 2005).
	E,	por	fim,	ainda	segundo	Castro,	o	poder	político	“que	compre-
ende em sentido amplo, tanto a possibilidade de coerção, típica do poder 
3
Para Marcelo Lopes de 
souza (2000), baseado em 
Michel foucault (1979), 
a violência implícita é 
aquela inerente ao modelo 
de desenvolvimento domi-
nante e que se expressa nas 
contradições da civiliza-
ção ocidental, ou seja, nas 
desigualdades e disparida-
des de formas, serviços e 
no acesso das populações 
aos bens sociais e materiais 
que, sutilmente, acabam 
sendo normatizadas; já a 
violência explícita é aquela 
que se expressa de forma 
“nua e crua” no espaço geo-
gráfico,	onde	as	normas	ou	
regras morais sociais são 
desrespeitadas (seques-
tros, assaltos, mortandade, 
agressões físicas e morais, 
poluições diversas…), o que 
vem se naturalizando na 
modernidade.
despótico, quanto à autoridade, de fundamento legal” (p. 104). Essa ter-
ceira relação de poder representa as múltiplas escalaridades da ação do 
Estado nacional de Direito territorialmente, a partir de seus fragmentos 
político-administrativos, ou seja, as escalas federal, estadual e munici-
pal, três esferas político-administrativas que utilizam o poder despótico 
e da autoridade em nome de um coletivo.
Assim é caracterizada a Baixada Fluminense, uma região cada 
vez mais afetada por práticas políticas que provêm de distintas forças 
e poderes, sendo estes relacionados, muitas vezes, a práticas sociais 
assistencialistas na forma de despotismo declarado ou subsumido pela 
legalidade. Tais ações aumentam a dependência, a pobreza, a fome e 
a degradação ambiental, gerando gestões malsucedidas e complexas. 
Outras vezes, porém, o poder é vivenciado sob a forma de autoridades 
reconhecidas (instituintes) e de acordos políticos que legitimam uma 
gestão articulada através dos municípios e de outras escalas adminis-
trativas (estado e federação).
Apesar	das	transformações	técnico-científicas	ocorridas	no	espaço	
regional da Baixada Fluminense nas últimas décadas, ainda são poucos 
os avanços socioespaciais reconhecidos no que concerne às mudanças 
políticas mais estruturantes na região. Isso se deve às ações fragmen-
tadas e descontinuadas de gestões ainda arraigadas por particularis-
mos de parte das representações instituídas, além do que se reconhece 
que	as	esferas	de	poder	ainda	não	conseguiram,	com	eficiência,	abar-
car os conhecimentos gerados pelas universidades e centros sociais de 
excelência. 
Para	a	proposição	de	gestões	mais	eficientes,	em	todas	as	esferas	
da sociedade, poderiam ser implementados projetos de desenvolvimento 
voltados para uma qualidade de vida que vai além da mera perspectiva 
economicista. Mas como deveria ser um desenvolvimento socioespacial 
mais amplo e efetivo? Este deveria unir as questões sociais, ambien-
tais, culturais e políticas para uma verdadeira autonomia socioterrito-
rial dos lugares. Segundo Souza (1996), o desenvolvimento socioespa-
cial precisa estar:
livre de ranço etnocêntrico, precisa acentuar a idéia de cada povo, 
cada grupo social, deve possuir a autonomia necessária para de-
finir o conteúdo desse conceito de acordo com as suas próprias ne-
cessidades e de conformidade com suas características culturais. 
(p.10).
Diante disso, projetos de modernização de um determinado espaço 
devem levar em conta a participação popular, adaptando-se às carac-
terísticas locais e não simplesmente na aplicação de projetos “de cima 
para baixo”. Já Becker (1987) compreende que o desenvolvimento 
depende de uma ação política que tenha como base:
(…) uma gestão eminentemente estratégica com um princípio de fi-
62 poder local, gestão do território e políticapública 63 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado de oliveira
nalidade econômica – expressa em múltiplas finalidades específicas 
– e um princípio de realidade, das relações de poder, necessária à 
consecução de suas finalidades; envolve não só a formulação das 
grandes manobras – o cálculo das forças presentes e a concentração 
de esforços em pontos selecionados – como dos instrumentos – tá-
ticos e técnica – para sua execução. A gestão científico-tecnológica 
para articular, coerentemente, múltiplas decisões e ações necessá-
rias e assim alcançar as finalidades específicas dispondo as coisas 
de modo conveniente, instrumentalizando o saber de direção políti-
ca, de governo, desenvolvendo-se hoje como uma ciência (…)
(p.3).
Desta maneira a gestão deverá “integrar elementos da administração 
de empresa e elementos da governabilidade” (foucault, 1979 apud 
becker, 1987, p.4). Esses elementos só poderão ocorrer a partir de 
modelos que procurem atender às necessidades das populações, a partir 
de planejamentos que busquem sustentabilidades no/do espaço. Atra-
vés	das	estratégias	e	da	gestão	científico-tecnológica	citadas	por	Becker,	
assim como de um desenvolvimento que valorize as demandas dos gru-
pos sociais de Souza, poderá ocorrer uma sustentabilidade espacial 
local. Esta consistiria no conjunto de ações produzidas “nos lugares” e 
que tenham como objetivo o “desenvolvimento pleno de cada cidadão da 
localidade”, permitindo a qualidade de vida das populações municipais. 
Para que isso aconteça, a sustentabilidade local deverá privilegiar:
(…) as dimensões sociais (razoável homogeneidade social), cultu-
rais (equilíbrio entre o respeito à tradição e à inovação), ecológicas 
(preservação dos recursos renováveis), ambientais (respeito e ên-
fase da capacidade de autodepuração dos ecossistemas naturais, 
territoriais (diminuição da assimetria na aplicação dos investimen-
tos públicos entre áreas urbanas e rurais), econômicas (desenvol-
vimento econômico intersetorial equilibrado), além de considerar as 
sustentabilidades políticas nacional e internacional (desenvolvimen-
to da capacidade do Estado de implementar o projeto nacional em 
parceria com todos os empreendedores, um pacote Norte-Sul de co-
desenvolvimento, baseado no princípio de igualdade) 
(Adaptado de sachs, 2002 apud rua et al. 2007, p.9).
Assim sendo, a gestão para o desenvolvimento socioespacial local deve 
estar diretamente ligada ao termo sustentabilidade, pois o poder público 
municipal pode criar condições econômicas, políticas e sociais para 
que os munícipes possam se desenvolver plenamente. Desta maneira, 
o ambiente passa a ser sustentável pelo fato de as pessoas terem con-
dições de produzir um ambiente de vida com qualidade. Os setores 
públicos e privados devem se unir para criar condições como emprego, 
serviços, lazer e educação, sob a observação cautelosa e pró-ativa do 
Estado. Assim, a qualidade de vida poderia ser oferecida com menores 
diferenciações e distinções de classes.
Por suas características socioespaciais no conjunto regional do 
Estado do Rio de Janeiro, a Baixada Fluminense possui condições de 
aplicar políticas efetivas capazes de promover a sustentabilidade do seu 
espaço econômico, social, político, ambiental. Todavia, como Duque de 
Caxias,	alguns	municípios	da	região	apresentam	ainda	grandes	dificul-
dades em oferecer saúde pública de qualidade a seus habitantes, um 
dos	índices	de	sustentabilidade	local.	Tal	dificuldade	pode	ser	compro-
vada pela má distribuição da rede de abastecimento de água pelos dis-
tritos, situação que reduz os índices de qualidade de vida no território 
por ampliar, por exemplo, as doenças provenientes da baixa qualidade 
do saneamento básico.
A água é um vetor de grande importância na transmissão de doen-
ças como a amebíase. Quando não tratada, ela se transforma em um 
agente proliferador de patógenos, o que gera danos à saúde e leva a situ-
ações extremas como o óbito. Nesse sentido, o saneamento básico é um 
dos fatores primordiais na promoção da saúde e do bem estar social, 
evitando a propagação de doenças causadoras de epidemias. Logo, 
sanear o espaço físico é uma das ações que promovem um ambiente 
sustentável.
Nesse sentido, as imagens a seguir mostram, em linhas gerais, 
a péssima qualidade das águas do Rio Sarapuí, que cruza Duque de 
Caxias, uma das principais fontes de abastecimento de água desse 
município da Baixada Fluminense. As imagens também mostram como 
a ocupação humana em suas margens, que poderia ser contida, contro-
lada e infraestruturada pelo poder público municipal, acaba por ampliar 
o grau de saturação da potabilidade das suas águas, além de afetar, 
drasticamente, o equilíbrio ecológico da área, ambiente dominado pelos 
mangues que mantém algum sopro de qualidade de vida no fundo da 
Baía de Guanabara.
64 poder local, gestão do território e política pública 65 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado de oliveira
Apesar da degradação das águas do rio em curso pelo território caxiense, 
observada nas imagens selecionadas, a presença de grande quantidade 
de	água	potável	nesse	município	fluminense	é	significativa.	Nos	manan-
ciais existentes, notadamente, no 4° Distrito Caxiense (Xerém), as reser-
vas de água doce são impressionantes, o que nos leva a concluir que: 
 1 O sistema de saneamento básico (notadamente o sistema de esgo-
tamento sanitário doméstico, comercial e industrial) do município 
não tem capacidade para preservar a qualidade das águas que cir-
culam pelo território até o seu deságüe na Baia de Guanabara e;
 2 A abundância de água acumulada em algumas regiões distritais 
mostra a incapacidade do poder público de melhor distribuí-la pelo 
sistema	oficial	de	abastecimento,	seja	por	inoperância	técnica	ou	
incapacidade de controle político dos recursos existentes. 
A próxima imagem selecionada mostra apenas um pequeno exemplo do 
que pode ser encontrado em termos de recursos hídricos no Município 
de Duque de Caxias, se este território da Baixada Fluminense for mais 
bem explorado, estudado e entendido por moradores, professores, pes-
quisadores e gestores em geral.
Reservas de água doce em Xerém, 4º Distrito de Duque de CaxiasBaia de Guanabara, foz do Rio Sarapuí em Caxias com área de reflorestamento. Jardim Gramacho ao fundo. 
21
/1
1/
20
06
 –
 C
us
to
d
io
 C
oi
m
b
ra
 /
 A
gê
nc
ia
 O
 G
lo
b
o 
– 
R
I –
 E
xc
lu
si
vo
21
/1
1/
20
06
 –
 C
us
to
d
io
 C
oi
m
b
ra
 /
 A
gê
nc
ia
 O
 G
lo
b
o 
– 
R
I –
 E
xc
lu
si
vo
66 poder local, gestão do território e política pública 67 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado de oliveira
Frente	à	poluição	da	rede	hidrográfica	que	cruza	o	município	caxiense	
e, ao mesmo tempo, à abundância dos recursos hídricos no mesmo ter-
ritório,	as	conclusões	anteriores	estão	justificadas	pelos	dados	do	ibge 
(2002), apresentados nas figuras	7	e	8	da	página	seguinte.	A	figura	8	
indica o número de domicílios com abastecimento regular de água na 
Região Metropolitana do Rio de Janeiro (rmrj). Observa-se que cerca 
de um terço da população caxiense só tem acesso à água não tratada 
obtida através de poços ou nascentes. Tal situação é similar em quase 
todos os municípios da baixada, o que indica que há uma distribuição 
irregular	da	rede	de	saneamento	básico	por	esses	municípios	fluminen-
ses, notadamente através das disparidades distributivas dos distritos 
municipais (há uma enorme desigualdade socioespacial entre os eles), 
o que impede a água de chegar às residências “mais longínquas” por 
“problemas operacionais diversos”. Quando analisamos a figura	8, per-
cebemos o mesmo tipo de problema no que se refere à distribuição de 
esgotamento sanitário. Percebe-se, na Baixada Fluminense, a existência 
de muitos domicílios com banheiro fora da rede geral de esgotamento 
sanitário	oficial,	sendo	que,	em	Duque	de	Caxias,	um	quarto	deles	não	
tem rede de tratamento disponibilizada. Outros municípiosque sofrem 
muito	com	o	esgotamento	sanitário	deficiente	são	Guapimirim,	Mes-
quita e Paracambi, onde, de acordo com os dados do ibge (2002), mais 
de 60% da população lança dejetos in natura nos rios, lagos e na Baía 
de Guanabara.
Diante do quadro infraestrutural mostrado pelas figuras	7	e	8, o abas-
tecimento de água tratada, o recolhimento e o tratamento de esgoto 
constituem-se	ações	de	políticas	públicas	ineficientes	em	toda	a	Baixada	
Fluminense. A melhoria de tais serviços poderia evitar os efeitos noci-
vos à saúde das populações nos mais diferentes territórios. Além dessa 
necessária melhoria, deveriam ser valorizadas as políticas de educação 
ambiental básica, uma das medidas socioeducativas mais importantes 
para a geração de um conhecimento capaz de capacitar pessoas e ins-
tituições a evitar a disseminação de doenças através das águas. Para 
tanto, cabe ao poder público municipal estabelecer parcerias entre as 
três	esferas	de	poder	(federal,	estadual	e	municipal),	a	fim	de	definir	
uma rede de relações e investimentos capazes de oferecer serviços que 
incrementem a qualidade de vida dos moradores.
As políticas territoriais em curso nos Municípios da Baixada Flu-
minense (com destaque para Duque de Caxias), deveriam proporcionar 
um desenvolvimento humano que valorizasse o índice de qualidade de 
vida municipal (iqm), para que fossem reduzidas as diversas formas de 
violência às quais a população local está submetida. Nesse sentido, o 
aumento da “alfabetização espacial” passa a ser um ato crucial de Edu-
cação Ambiental, pois alimenta o crescimento de pessoas mais cons-
cientes	de	seus	direitos	e	deveres,	desenvolve	e	qualifica	a	mão	de	obra	
local, cada vez mais apta a se promover no mundo do trabalho formal 
e legal. Dessa forma, a população regional aumentará sua capacidade 
de consumo de produtos diversos, de lazer e, principalmente, de servi-
ços de saúde, gerando uma cadeia mais efetiva de autoregulação das 
necessidades locais. Sendo assim, as políticas de planejamento e ges-
tão na Baixada Fluminense poderiam fomentar, em médio ou longo 
prazo, o surgimento de territórios com um desenvolvimento socioespa-
cial local sustentável através de técnicas, ações, instrumentos, equipa-
mentos e práticas educacionais, políticas e econômicas que permitam 
a	essa	imensa	população	fluminense	viver	com	a	qualidade	e	dignidade	
que merecem.
 Algumas reflexões finais sobre o ente federativo e Duque de Caxias.
O atual território do Município de Duque de Caxias, emancipado, em 
1943, de Nova Iguaçu, sempre teve serviços precários, desde as cri-
ses de malária e febre amarela que assolaram as fazendas canavieiras, 
matando milhares de trabalhadores ameríndios e escravos, nos auspí-
cios dos séculos xvii e xviii. 
Segundo Lacerda (2003), a única presença de uma autarquia do 
setor	público	na	localidade,	até	o	fim	dos	anos	de	1930,	era	a	de	uma	
agência	fiscal	arrecadadora	federal.	A	cobrança	de	impostos	sobrepu-
nha-se à prestação de serviços públicos essenciais (p.11).
Desde a adoção de políticas modernizadoras por Getúlio Vargas, 
nos anos de 1940, para tornar “industrializado” o recém-criado muni-
cípio, em uma guerra entre as elites agraristas regionais e o industria-
lismo moderno do Estado Novo, Duque de Caxias convive com as con-
tradições características do processo de modernização a que foi alçada. 
Socialmente, não deixou de ser um misto de sociedade escravocrata e 
grupos tecnocratas baseados em estruturas modernizadoras típicas dos 
estados nacionais centralistas e autoritários, o que transformou o muni-
cípio num espaço de contrastes socioespaciais marcantes. 
Ao mesmo tempo em que o território municipal possui uma locali-
zação estratégica por estar nos entrecruzamentos de importantes rodo-
vias do país, principalmente no eixo Rio de Janeiro – São Paulo, Duque 
de Caxias tem visto o modelo de atração de investimentos no qual a 
modernização fordista se pautou nos últimos 70 anos no Brasil entrar 
em colapso, o que vem reduzindo a sua capacidade de captação de 
recursos industriais tradicionais. Além disso, o papel da Cidade do Rio 
de	Janeiro	na	rede	urbana	do	país	se	modificou	expressivamente,	nos	
últimos 30 anos, o que vem levando os gestores municipais a buscarem 
outras formas de estímulo de potencialidades (voltadas para as susten-
tabilidades locais) ainda pouco reconhecidas e valorizadas como estra-
tégias de desenvolvimento socioespacial. 
68 poder local, gestão do território e política pública 69 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado de oliveira
Tal transformação do modelo de modernização e da estrutura fede-
rativa do Brasil será mais bem aproveitada na escala do município se a 
sua população e, consequentemente, os seus gestores souberem enten-
der as lógicas de crescimento e desenvolvimento em gestação na atu-
alidade. Nessa nova ordem, o município tem voz ativa na administra-
ção e precisa ser entendido como parte expressiva do pacto federativo 
nacional. Assim sendo, um bom gestor municipal sabe que educação, 
saúde, conservação ambiental, gestão integrada dos recursos hídricos 
a	partir	das	microbacias	hidrográficas	e	parcerias	político-administra-
tivas entre municípios (consórcios municipais) não são setores perifé-
ricos ou secundários em uma administração que tenha como premissa 
a consolidação da qualidade de vida. 
Nesse sentido, Duque de Caxias se apresenta como um municí-
pio que busca mudar, remunerando o seu professorado melhor do que 
a média estadual e ampliando o seu quantitativo de 35 mil para 85 mil, 
na rede pública (villar, 2003). Tais atos políticos são importantes e 
não podem ser isolados como meras ações de governos, precisam fun-
cionar	como	ações	definitivas	do	Estado	de	direito	local.	Assim	sendo,	
infraestrutura básica, saúde pública, transporte coletivo, conservação 
ambiental e distribuição de recursos sociais são alguns caminhos estru-
turantes de uma nova ordem de gestão que será reconhecida como per-
manente pela população municipal caxiense. Esta, por sua vez, passará 
a reconhecer no poder local a força política que salvaguarda o municí-
pio para ele seja delegado ao papel de uma gerência que atua e se reco-
nhece nos lugares. 
Em termos práticos, se houver um aumento da capacidade do 
ente público municipal em manter as atividades e serviços próprios da 
administração com recursos oriundos de sua competência tributária, o 
município se tornará menos dependente das transferências de recursos 
financeiros	dos	demais	entes	governamentais	e	boa	parte	da	capacidade	
de investimento municipal será desatrelada da arrecadação de outros 
governos, das esferas Federais e Estaduais, transformando sociopoliti-
camente o Município de Duque de Caxias em uma referência regional 
importante frente à lógica de um poder revigorado, inovador e promis-
sor de uma nova realidade de desenvolvimento.
 
 Bibliografia
becker, Bertha K. Elementos para construção de um conceito sobre “gestão 
do território”. Seminário de setembro de 1987. Laboratório de Gestão do 
Território. LAGET.
castro, Iná Elias de. Geografia e Política: território, escalas de ação e instituições 
/ Iná Elias de Castro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
censo demográfico 2000. Base de Informações. Resultados da amostra por 
municípios. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. CD ROM. 
centro de informações e dados do rio de janeiro (cide-rj). www.cide.
org.br. Visitado 14 mai. 2008.
ciberlegenda: Imprensa e Baixada Fluminense: múltiplas representações. 
Número 14 / 2004. http://www.uff.br/mestcii/enne1.htm. Visitado em 12 
set. 2008.
foucault, Michel. Microfísica do Poder. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Graal, 
1979.
freitas, Marcelo Bessa de; brilhante, Ogenis Magno; almeida, Liz Maria de. 
Importância da análise de água para a saúde pública em duas regiões do 
Estado do Rio de Janeiro: enfoque para coliformes fecais, nitrato e alumínio. 
Cad. Saúde Pública v.17 n.3 Rio de Janeiro maio/jun. 2001.
Jornal o globo. http://oglobo.globo.com. Fotos Divulgação/Projeto Olho Verde. 
Out./ 2008. Visitado 15 jan. 2009.
lacerda, Stélio José da Silva; villar, Laury de Souza; souza, Marlucia 
Santos de. A Emancipação Política do Município de Duque de Caxias (uma 
tentativa de compreensão). Textos sobre a História de Duque de Caxias e 
da	Baixada	Fluminense.	Órgão	de	divulgação	conjunta:	Instituto	Histórico	
Vereador Thomé Siqueira Barreto / Câmara Municipal de Duque de Caxias 
e Associação dos Amigos do Instituto Histórico. Revista Pilares da História – 
Ano II, nº 03, dezembro de 2003. 101p.
rua, João; oliveira, Rogério Ribeiro de; ferreira, Álvaro. Paisagem, espaço e 
sustentabilidades: uma perspectiva multidimensional da geografia. In Rua J. 
(org.). Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2007. p.7-32.
raffestin, Claude. Por uma Geografia do poder. Tradução Maria Célia França; 
Série	Temas,	volume	29.	Geografia	e	Política;	Rio	de	Janeiro:	Ed.	Ática,	
1993.
sachs, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Organizadora: 
Paula Yone Stroh. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2002.
sack, Robert D. The human territoriality: its theory and history. Cambridge: 
Cambridge University Press, 1986.
silva, Augusto César Pinheiro da. Espaço, “Sustentabilidades” e Educação 
Básica Local: por políticas públicas municipais voltadas para um 
desenvolvimento socioespacial mais autônomo. In O Social em Questão: 
desenvolvimento socioambiental local, nº18, 2º sem. 2007. Rio de Janeiro: 
Editora PUC-Rio. 2008. p. 49-74.
souza, Marcelo José Lopes de. Urbanização e Desenvolvimento no Brasil Atual. 
70 poder local, gestão do território e política pública 71 augusto césar pinheiro da silva e rosana cristine machado de oliveira
Direito Ambiental: origens, 
desenvolvimento e objetivos
Fernando Cavalcanti Walcacer
Virgínia Totti Guimarães
 1 O Direito Ambiental Internacional
O meio ambiente, cada vez mais, vem sendo objeto de preocupação da 
sociedade – seja em razão de estudos conclusivos a respeito da inter-
ferência nociva do ser humano no equilíbrio ecológico, seja porque as 
mudanças decorrentes desta interferência estão sendo percebidas cla-
ramente no cotidiano de cidadãos do mundo inteiro. O aquecimento 
global, a perda da biodiversidade, o buraco na camada de ozônio, o 
aumento	da	desertificação,	a	contaminação	dos	solos	e	das	águas,	a	
poluição do meio ambiente marinho, dentre muitas outras, são notí-
cias	que	aparecem	diariamente	nos	jornais,	refletindo	a	preocupação	
da sociedade com o tema. 
O direito ambiental, um ramo novo do direito, profundamente 
comprometido com a preservação da biodiversidade e a luta contra a 
poluição, busca responder a tais preocupações. Ele surgiu em mea-
dos do século passado e vem se aperfeiçoando ao longo das últimas 
décadas.
Estudos realizados pelo chamado Clube de Roma – um grupo 
informal de economistas, educadores e industriais de 25 países, criado 
com o objetivo de contribuir para uma melhor compreensão das prin-
cipais questões econômicas, políticas e sociais da época (entre 1960 e 
1970) – concluíram que crescimento populacional, produção agrícola, 
recursos naturais, produção industrial e poluição seriam importantes 
fatores limitadores do desenvolvimento econômico. Era, portanto, fun-
damental aumentar o nível de consciência da população a respeito da 
escassez dos recursos do planeta e assim adotar um posicionamento crí-
tico em relação às políticas então empregadas, tanto por países desen-
volvidos como pelos países em processo de desenvolvimento.1
Em 1972 foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Meio 
Ambiente e Desenvolvimento (Conferência de Estocolmo), com partici-
pação de representantes de 114 países e 19 órgãos intergovernamentais, 
além de cerca de 400 organizações não-governamentais.2 A importân-
cia da Conferência advém do fato de ela haver adotado uma abordagem 
1 
mccormick, John. Rumo 
ao paraíso. A história do 
movimento ambientalista. 
Tradução de Marco Antonio 
Esteves da Rocha e Renato 
Aguiar. Rio de Janeiro: 
Relume Dumará. 1999, 
p.86.
2
Embora todos os países 
houvessem participado das 
reuniões preparatórias, os 
países do leste europeu, 
exceto a Romênia, se ausen-
taram das reuniões.
São Paulo: Série Princípios, Editora Ática, 1996.
________. O desafio metropolitano. Um estudo sobre a problemática sócio-espacial 
nas metrópoles brasileiras. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
________. Da fragmentação do tecido sociopolítico-espacial da metrópole à 
desmetropolização relativa: algumas facetas da urbanização brasileira 
nas décadas de 80 e 90. In sposito, Maria da Encarnação Beltrão (org.). 
Urbanização	e	cidades:	perspectivas	geográficas.	Presidente	Prudente:	
gasperr/unesp, 2001.
Augusto Cesar Pinheiro da Silva	—	Geografia
Possui	graduação,	mestrado	e	doutorado	em	geografia	pela	Universidade	Federal	
do Rio de Janeiro (ufrj), concluídos em 1990, 1996 e 2005, respectivamente. Em 
1992,	fez	uma	especialização	em	geografia	pela	Universität	Tubingen	(utu), na 
Alemanha. Atualmente é professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro (uerj), professor assistente da Pontifícia Universidade Católica do Rio de 
Janeiro (puc-Rio) e coordenador de dois projetos de pesquisa: Gestão territorial no 
Estado do Rio de Janeiro (grupo de pesquisa geterj) e Metodologias para a educa-
ção geográfica (gpeg). Possui diversos artigos publicados, entre eles um capítulo 
do livro Currículos e práticas pedagógicas nos cpvcs.
 augustoc@puc-rio.br
Rosana Cristine Machado de Oliveira
Tem	experiência	na	área	de	Geografia,	com	ênfase	em	Geografia	Humana.	É	autora	
da	monografia	“Gestão	e	sustentabilidades	da	saúde	pública	em	Duque	de	Caxias	
(rj):	os	desafios	atuais	do	município	fluminense	frente	aos	serviços	médico-hospi-
talares, de saneamento básico e de educação pós-Constituição Federal de 1988”, 
defendido	no	Departamento	de	Geografia	da	puc-Rio, em dezembro de 2008.
 rosananete@yahoo.com.br
72 poder local, gestão do território e política pública 73
política, social e econômica dos problemas ambientais, possibilitando, 
assim, um maior envolvimento de diferentes setores da sociedade civil 
organizada e garantindo uma cobertura jornalística que sensibilizou boa 
parte da opinião pública planetária para as questões ambientais.3 Os 
resultados concretos dessa Conferência foram a criação de uma agência 
da onu	especificamente	dedicada	ao	meio	ambiente	(o	pnuma – Pro-
grama das Nações Unidas para o Meio Ambiente, com sede na capital do 
Quênia, Nairobi), um chamado à cooperação internacional para redu-
zir os efeitos da poluição marinha e o estabelecimento de uma rede de 
monitoramento global do ambiente. A Declaração de Princípios (Decla-
ração de Estocolmo) e o Plano de Ação adotados pela Conferência de 
Estocolmo, apesar de sua grande divulgação, nunca foram efetivamente 
levados em consideração pelos países desenvolvidos. 
Vinte anos depois realizou-se, no Rio de Janeiro, a Conferência 
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – a Cúpula 
da Terra –,	que	ficou	conhecida	como	Rio-92,	igualmente	reconhecida	
como um marco no desenvolvimento do Direito Ambiental Internacional. 
Mais de uma centena de chefes de Estado e de Governo estiveram pre-
sentes,	além	de	uma	infinidade	de	ongs, reunidas no chamado Fórum 
Global,	que	se	desenvolveu	em	paralelo	à	Conferência	oficial.	Da	Rio-92	
resultaram importantes documentos internacionais, como a Agenda 21 
e a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, além 
da Convenção sobre Diversidade Biológica e da Convenção-Quadro das 
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. 
Além da Conferência de Estocolmo e da Rio-92, muitos outros 
tratados e convenções assinados nas últimas décadas retratam a pre-
ocupação internacional com o meio ambiente (é importante destacar 
que muitos Estados, embora delas sejam signatários, relutam em apli-
cá-las). Dentre as principais convenções internacionais que tratam do 
meio ambiente, destacam-se:
 ● Convenção Ramsar sobre Áreas Úmidas de Importância Inter-
nacional,adotada em 1971, com ênfase na proteção das áreas 
úmidas;
 ● Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora 
e da Fauna Selvagem em perigo de Extinção – cites, que entrou 
em vigor, no Brasil, em 1975;
 ● Convenção sobre Direitos do Mar, de 1976, que entrou em vigor em 
novembro de 1994, tendo como foco a proteção do meio ambiente 
marinho;
 ● Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio, cele-
brada em 22 de março de 1985, e complementada pelo Protocolo 
de Montreal sobre substâncias que destroem a camada de ozônio, 
assinado em 17 de setembro de 1987;
3
John	McCormick	afirma	que	
a “Conferência de Estocolmo 
foi o acontecimento isolado 
que	mais	influiu	na	evolu-
ção do movimento ambien-
talista internacional”. 
Explica que apresentou 
quatro importantes resul-
tados:	confirmou	a	tendên-
cia sobre meio ambiente 
humano que advém da 
transformação do ambien-
talismo em uma questão 
política mais racional e glo-
bal; “forçou um compro-
misso entre as diferentes 
percepções sobre o meio 
ambiente defendidas pelos 
países mais e menos desen-
volvidos”; marcou o início 
do novo papel das ONG’s na 
questão ambiental; e, como 
produto tangível, originou o 
Programa de Meio Ambiente 
das Nações Unidas. mccor-
mick, John. Obra citada, 
p. 111. Cabe destacar que 
a Conferência da Biosfera, 
realizada em 1968, não teve 
o mesmo alcance, pois dis-
cutiu	os	aspectos	científicos	
da conservação da biosfera.
 ● Convenção da Basiléia sobre o movimento transfronteiriço de rejei-
tos potencialmente perigosos e seu depósito, de 1989, que entrou 
em vigor, no Brasil, em 1992;
 ● Protocolo de Quioto, complementar à Convenção-Quadro sobre 
Mudanças Climáticas, que estabelece metas para a redução dos 
gases de efeito estufa pelos países desenvolvidos e entrou em vigor 
em fevereiro de 2005.
 2 Evolução da Legislação Ambiental Brasileira4
Na	década	de	30	surgiram,	no	Brasil,	as	primeiras	normas	específi-
cas relativas a bens ambientais, tais como o Código Florestal (Decreto 
23.793/34), o Código de Águas (Decreto 24.643/34; ainda hoje com 
muitos dispositivos em vigor), e o Decreto-Lei 25/37, que dispõe sobre 
a proteção do patrimônio cultural brasileiro.
Na década de 60, foram editados o novo Código Florestal (Lei 
4.771/65, muito alterado desde então) e a Lei de Proteção à Fauna (Lei 
5.197/1967, também muito alterada, especialmente pela Lei de Ccri-
mes e Infrações Administrativas Ambientais – lei 9.605/98). Na década 
de 70, diversos estados brasileiros instituíram seus sistemas de com-
bate à poluição – o Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, editou o 
Decreto-Lei 134/75, instituindo o Sistema de Licenciamento de Ativi-
dades Poluidoras. 
Não se pensava ainda, contudo, na proteção do meio ambiente de 
forma sistemática. Isso somente aconteceria com a edição da Lei Fede-
ral 6.938, em 1981. Essa lei, conhecida como a Lei da Polícia Nacional 
de Meio Ambiente, conceituou meio ambiente (“o conjunto de condições, 
leis,	influências	e	interações	de	ordem	física,	química	e	biológica,	que	
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”), e estabeleceu 
outros conceitos jurídicos importantes, como o de poluição, poluidor, 
degradação ambiental etc. 
Além disso, a Lei 6.938/81 instituiu o Sistema Nacional do Meio 
Ambiente, integrado por órgãos federais, estaduais e municipais, e criou 
diversos instrumentos para a proteção do meio ambiente, tais como o 
zoneamento ambiental, o licenciamento ambiental, o estudo prévio de 
impacto ambiental etc. 
Assim, a partir de sua edição, qualquer atividade que possa ser 
causadora de algum tipo de degradação ambiental precisa obter dos 
órgãos ambientais, antes de se instalar, uma licença ambiental (na 
verdade, são três licenças: a licença prévia, a licença de instalação e 
a licença de operação, cada uma delas concedida numa fase do pro-
cesso de licenciamento). Caso a poluição que vier a ser causada pela 
atividade seja considerada potencialmente significativa, o empreen-
dedor	fica	também	obrigado	a	providenciar	a	realização	de	um	estudo	
de impacto ambiental, que deverá ser discutido com a população inte-
4
A legislação ambiental bra-
sileira encontra-se dispo-
nível na rede mundial de 
computadores nos seguin-
tes sites: 
•	leis	e	decretos	federais:	
www.planalto.gov.br; 
•	resoluções	do	conama: 
www.mma.gov.br/conama; 
•	leis	estaduais: 
www.alerj.rj.gov.br.
74 direito ambiental: origens, desenvolvimento e objetivos 75 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães
ressada, em audiências públicas, e avaliado pelos órgãos ambientais 
competentes. 
Outra importante novidade da Política Nacional do Meio Ambiente 
foi estabelecer um regime rigoroso de responsabilização civil do polui-
dor (necessidade de indenizar ou reparar os danos por ele causados 
ao meio ambiente e a terceiros atingidos por suas atividades). Em tais 
casos,	dispensou-se	a	exigência	de	ficar	provada	a	culpa	do	poluidor	–	
bastando a comprovação do dano ambiental e de sua causa. Assim, se 
uma empresa polui um curso d’água, ela deverá reparar o dano ambien-
tal causado, pouco importando quais tenham sido as causas do dano. É 
um tipo de responsabilidade que se fundamenta no risco da atividade, 
e não na culpa do agente causador do dano. 
Em 1985, foi editada outra norma legal muito importante: a Lei 
7.345/85, que disciplina a ação civil pública por danos causados ao 
meio ambiente, ao consumidor, e a outros bens e direitos de valor artís-
tico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Essa lei permitiu à socie-
dade civil organizada ajuizar ações contra empreendimentos poluidores, 
sem que seja preciso demonstrar um interesse pessoal no resultado da 
causa.	Assim,	por	exemplo,	uma	associação	fundada	com	a	finalidade	
de proteger o meio ambiente, com sede no município do Rio de Janeiro, 
pode ingressar na Justiça contra a poluição que esteja sendo causada 
no município de Duque de Caxias, ou de Resende – ainda que nenhum 
de seus membros resida ou tenha propriedades naqueles municípios. 
O Ministério Público também teve suas funções relativas à proteção do 
meio ambiente extraordinariamente reforçadas pela lei 7.347/85, mais 
tarde ampliada pelo Código de Defesa do Consumidor (lei 8.078/90).
A proteção jurídica do meio ambiente no Brasil teve o seu momento 
maior em 1988, quando foi promulgada a nova Constituição da Repú-
blica. Ela contém inúmeras disposições relativas à matéria, com desta-
que para o seu artigo 225, que estabelece:
Art.225 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi-
librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à cole-
tividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-
sentes e futuras gerações.
 §1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao 
Poder Público:
I preservar e restaurar os processos ecológicos essen-
ciais e prover o manejo ecológico das espécies e 
ecossistemas;
II preservar a diversidade e a integridade do patrimônio 
genético	do	País	e	fiscalizar	as	entidades	dedicadas	
à pesquisa e manipulação de material genético;
III	 definir,	em	todas	as	unidades	da	Federação,	espa-
ços territoriais e seus componentes a serem especial-
mente protegidos, sendo a alteração e a supressão 
permitidas somente através de lei, vedada qualquer 
utilização que comprometa a integridade dos atribu-
tos	que	justifiquem	sua	proteção;
IV exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou 
atividade	potencialmente	causadora	de	significa-
tiva degradação do meio ambiente, estudo prévio de 
impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V controlar a produção, a comercialização e o emprego 
de técnicas, métodos e substâncias que compor-
tem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio 
ambiente;
VI promover a educação ambiental em todos os níveis 
de ensino e a conscientização pública para a preser-
vação do meio ambiente;
VII	 proteger	a	fauna	e	a	flora,	vedadas,	na	forma	da	lei,	
as práticas que coloquem em risco sua função eco-
lógica,provoquem a extinção de espécies ou subme-
tam os animais a crueldade.
	 §2º	 Aquele	que	explorar	recursos	minerais	fica	obrigado	a	
recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com 
solução técnica exigida pelo órgão público competente, 
na forma da lei.
 §3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio 
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurí-
dicas, a sanções penais e administrativas, independen-
temente da obrigação de reparar os danos causados.
 §4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a 
Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Cos-
teira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, 
na forma da lei, dentro de condições que assegurem a 
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso 
dos recursos naturais.
 §5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas 
pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias 
à proteção dos ecossistemas naturais.
 §6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua 
localização	definida	em	lei	federal,	sem	o	que	não	pode-
rão ser instaladas.
76 direito ambiental: origens, desenvolvimento e objetivos 77 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães
Cabe destacar ainda outras importantes leis sobre proteção do meio 
ambiente:
 ● Lei 4.717/1965: disciplina a ação popular;
 ● Lei 6.766/1979: dispõe sobre o parcelamento do solo urbano;
 ● Lei 7.661/1988: instituiu o Plano Nacional de Gerenciamento 
Costeiro;
 ● Lei 8.723/1993: dispôs sobre a emissão de poluentes por veícu-
los automotores;
 ● Lei 9.055/1995: disciplina a utilização do asbesto/amianto;
 ● Lei 9.433/1997: cria a Política Nacional de Recursos Hídricos;
 ● Lei 9.605/1998: dispõe sobre crimes e infrações administrativas 
ambientais;
 ● Lei 9.795/1999: dispõe sobre a Política Nacional de Educação 
Ambiental;
 ● Lei 9.985/2000: instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Con-
servação (snuc);
 ● Lei 10.257/2001: Estatuto da Cidade;
 ● Lei 10.650/2003: dispõe sobre o acesso público aos dados e infor-
mações do sisnama;
 ● Lei 11.105/2005: dispõe sobre biossegurança;
 ● Lei 11.284/2006: institui o Sistema Florestal Brasileiro e o Fundo 
Nacional de Desenvolvimento Florestal;
 ● Lei 11.428/2006: dispõe sobre a utilização e a proteção da vege-
tação nativa do bioma Mata Atlântica;
 ● Lei 11.445/2007: dispõe sobre o saneamento básico.
O Direito Ambiental, ramo do direito público, dotado de autonomia e 
princípios próprios, constitui um sistema coerente e lógico, “voltado à 
proteção da diversidade biológica e da sadia qualidade de vida dentro 
de um meio ambiente ecologicamente equilibrado”.5 Nesse sentido, Édis 
Milaré o conceitua como “o complexo de princípios e normas reguladoras 
das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a 
sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando à sua susten-
tabilidade para as presentes e futuras gerações”.6
O Direito Ambiental possui origens relacionadas à necessidade de 
disciplinar a atuação e a interferência humanas nos ecossistemas, evi-
tando	as	suas	drásticas	consequências.	Seu	objetivo	é	claramente	defi-
nido: a proteção e conservação do meio ambiente.
 3 O Meio Ambiente na Legislação Brasileira
O tratamento jurídico do meio ambiente é estabelecido por inúmeras 
normas, dentre elas leis e decretos federais, estaduais e municipais, bem 
como resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente – conama, 
alcançando	o	meio	ambiente	natural,	cultural,	artificial	e	do	trabalho.
A seguir, apresentam-se algumas questões importantes tratadas 
pelo Direito Ambiental brasileiro.
 3.1 Proteção jurídica das florestas
O Código Florestal (Lei 4.771/65) é uma norma de grande importância 
para	a	preservação	das	florestas.	Ele	instituiu	o	conceito	de	Áreas de 
Preservação Permanente (app),	compostas	pelas	florestas	e	demais	
formas de vegetação natural situadas:
 a) Ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível 
mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será: 
 ● de 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 
10 (dez) metros de largura;
 ● de 50 (cinquenta) metros para os cursos d’água que 
tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; 
 ● de 100 (cem) metros para os cursos d’água que tenham de 
50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
 ● de 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que 
tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de 
largura; 
 ● de 500 (quinhentos) metros para os cursos d’água que 
tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; 
 b) Ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou 
artificiais;
 c) Nas nascentes, ainda que intermitentes, e nos chamados “olhos 
d’água”,	qualquer	que	seja	a	sua	situação	topográfica,	num	raio	
mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura;
 d) No topo de morros, montes, montanhas e serras;
 e) Nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, 
equivalente a 100% na linha de maior declive;
 f) Nas	restingas,	como	fixadoras	de	dunas	ou	estabilizadoras	de	
mangues;
 g) Nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de rup-
tura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em pro-
5 
figueredo, Guilherme 
José Purvin de. Curso de 
Direito Ambiental. Curitiba: 
Arte & Letra, 2008, p. 37.
6 
milaré. Direito do 
ambiente: doutrina, prá-
tica, jurisprudência, glossá-
rio. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2000, p. 93.
78 direito ambiental: origens, desenvolvimento e objetivos 79 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães
jeções horizontais; 
 h) Em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer 
que seja a vegetação. 
Em princípio, as áreas de preservação permanente não podem ser uti-
lizadas pelos seus proprietários, mesmo que não estejam cobertas por 
vegetação nativa. Elas possuem a função ambiental de preservar os 
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, 
o	fluxo	gênico	de	fauna	e	flora.	Também	protegem	o	solo	e	asseguram	
o bem-estar das populações humanas.
O Código Florestal instituiu, ainda, a Reserva legal, correspon-
dente a uma parcela da propriedade rural que deve ser averbada no 
Registro Geral de Imóveis, após aprovação do órgão estadual de meio 
ambiente, e na qual se admite unicamente a exploração sustentável, de 
acordo	com	princípios	e	critérios	técnicos	e	científicos.7 Em proprieda-
des rurais situadas em área de Mata Atlântica, a Reserva legal será de 
20% (vinte por cento).
Em	relação	à	proteção	jurídica	das	florestas,	cabe	ainda	destacar	
a Lei 11.428/2006, que estabelece o regime de utilização e proteção da 
vegetação nativa do bioma Mata Atlântica.
 3.2 Unidades de Conservação da Natureza
Unidade de Conservação da Natureza é o “espaço territorial e seus recur-
sos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características 
naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com obje-
tivos	de	conservação	e	limites	definidos,	sob	regime	especial	de	admi-
nistração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção” (art. 2º, 
I da Lei Federal 9.9985/2000).
As Unidades de Conservação são divididas em unidades de pro-
teção integral e unidades de uso sustentável. As primeiras não admi-
tem o uso direto, ou seja, aquele que envolve coleta e uso dos recursos 
naturais. Já as unidades de uso sustentável objetivam compatibilizar o 
uso sustentável dos recursos com a conservação ambiental, admitindo, 
assim, o uso direto.
São categorias de unidade de conservação de proteção integral:
 i Estação Ecológica;
 ii Reserva Biológica;
 iii Parque Nacional, Estadual ou Municipal;
 iv Monumento Natural;
 v Refúgio da Vida Silvestre.
São categorias de unidade de conservação de uso sustentável;
7
Nos casos de utilidade 
pública ou de interesse 
social, a legislação prevê 
a possibilidade de supres-
são de vegetação em área de 
preservação permanente.
 i Área de Proteção Ambiental;
 ii Área de Relevante Interesse Ecológico;
 iii Floresta Nacional, Estadual e Municipal;iv Reserva Extrativista;
 v Reserva de Fauna;
 vi Reserva de Desenvolvimento Sustentável;
 vii Reserva Particular do Patrimônio Natural.
Cada categoria de unidade de conservação possui características e obje-
tivos próprios, que envolvem especialmente:
 ● A necessidade de ser constituída por terras públicas ou a possibi-
lidade de ser instituída em terras de domínio privado;
 ● A	possibilidade	de	serem	realizadas	pesquisas	científicas	em	seu	
interior, bem como a necessidade desta atividade ser autorizada;
 ● A admissão de visitação pública em seu interior;
 ● As atividades que são admitidas nos seus limites.
Assim, de acordo com as características do local, o Poder Público deverá 
verificar	qual	destas	categorias	atenderá	aos	objetivos	de	proteção	do	
meio ambiente, considerando-se, ainda, a necessidade de desapropriar 
as terras envolvidas, assim como a eventual remoção da população resi-
dente na área.
Apenas a título de exemplo, apresentam-se as principais caracte-
rísticas da Reserva Biológica e da área de proteção ambiental:
Reserva Biológica: tem como objetivo a preservação integral da 
biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem inter-
ferência	humana	direta	ou	modificações	ambientais.	Admite	apenas	
medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de 
manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a 
diversidade biológica e os processos ecológicos naturais. É de posse e 
domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas nos seus 
limites devem ser desapropriadas. A visitação pública é proibida, exceto 
quando	tenha	objetivo	educacional.	A	pesquisa	científica	depende	de	
autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade 
e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas.
Área de Proteção Ambiental: é uma área em geral extensa, com 
certo grau de ocupação humana, dotada de atributos importantes para 
a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas. Possui 
como objetivo proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de 
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. 
Pode ser constituída em terras públicas ou privadas. Admite visitação 
80 direito ambiental: origens, desenvolvimento e objetivos 81 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães
pública	e	pesquisas	científicas.	
Importa mencionar que as unidades de conservação de proteção 
integral devem dispor de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão 
responsável por sua administração e constituído por representantes de 
órgãos públicos, de organizações da sociedade civil, por proprietários 
de terras localizadas em Refúgio de Vida Silvestre ou Monumento Natu-
ral, quando for o caso.
 3.3 Recursos hídricos
A principal legislação brasileira sobre recursos hídricos é a Lei Federal 
9.433/97, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o 
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
A lei estabelece como fundamentos da Política Nacional de Recur-
sos Hídricos os seguintes princípios:
 ● A água é um bem de domínio público;
 ● A água é um recurso natural limitado, dotado de valor 
econômico;
 ● Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos 
é o consumo humano e a dessedentação de animais;
 ● A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso 
múltiplo das águas;
 ● A	bacia	hidrográfica	é	a	unidade	de	implementação	da	Política	
Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de 
Gerenciamento de Recursos Hídricos;
 ● A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e con-
tar com a participação do Poder Público, dos usuários e das 
comunidades.
A partir da edição dessa Lei, como forma de reconhecer a água como 
um bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor, 
incentivar	a	racionalização	do	seu	uso	e	obter	recursos	financeiros	para	
a gestão dos recursos hídricos, foi estabelecida a cobrança pelo uso da 
água. 
Estão isentos da cobrança:
 i O uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de 
pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural;
 ii As derivações, captações e lançamentos considerados 
insignificantes;
 iii As	acumulações	de	volumes	de	água	consideradas	insignificantes.
 4 O Licenciamento Ambiental de Atividades Poluidoras
A legislação ambiental exige que empreendimentos e atividades utili-
zadoras de recursos ambientais que sejam consideradas efetiva ou 
potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos capazes 
de causar degradação ambiental, sejam submetidos ao prévio licen-
ciamento do órgão ambiental competente.
A Resolução conama 237/97, principal norma sobre o assunto, 
elenca as atividades e empreendimentos sujeitos ao prévio licenciamento 
ambiental (relação constante no anexo 1), sendo que o órgão ambien-
tal poderá exigir licenças ambientais para atividades que não constem 
desta relação.
A legislação prevê três licenças ambientais:
 I Licença Prévia (lp): concedida na fase preliminar do planejamento 
do empreendimento ou atividade, com o objetivo de aprovar sua 
localização e concepção, bem como atestar sua viabilidade ambien-
tal. Nessa fase, quando necessário, é apresentado o Estudo Prévio 
de Impacto Ambiental (eia);
 II Licença de Instalação (li): autoriza a instalação do empreendi-
mento ou atividade;
 III Licença de Operação (lo): autoriza a operação da atividade ou 
empreendimento.
No licenciamento de atividades e empreendimentos considerados pas-
síveis de causar significativo impacto ambiental deverá ser exigido 
o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (eia) e seu respectivo Relatório 
de Impacto ao Meio Ambiente (rima), disciplinados pela Resolução nº 
001/86 do conama.
O rima	é	um	relatório	simplificado,	em	linguagem	acessível	à	
população, das informações técnicas constantes do EIA, que deverá per-
manecer disponível para consulta e acesso públicos.
No caso de realização de eia/rima, sempre que o órgão licenciador 
julgar necessário, ou quando solicitado por entidade civil, pelo Ministé-
rio Público, ou por 50 (cinquenta) ou mais cidadãos, deverão ser reali-
zadas audiências públicas, com o intuito de informar e coletar opiniões 
da população acerca do empreendimento.
 5 Participação na Gestão Ambiental
Como visto, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um bem 
de uso comum do povo, tendo a coletividade, juntamente com o Poder 
Público, o dever de protegê-lo para as presentes e futuras gerações. Além 
disso, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado pertence 
a toda a coletividade. 
Alguns instrumentos buscam possibilitar a ampla participação da 
82 direito ambiental: origens, desenvolvimento e objetivos 83 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães
sociedade na gestão do meio ambiente, podendo ser mencionados:
 ● Audiências públicas, realizadas no procedimento de licenciamento 
ambiental de empreendimentos e atividades que realizem estudo 
prévio de impacto ambiental;
 ● Consultas públicas para a instituição de unidades de conserva-
ção, exceto estação ecológica ou reserva biológica.
 6 Fiscalização ambiental
As normas ambientais estabelecem direitos, deveres, obrigações e pro-
cedimentos relacionados à garantia da sadia qualidade de vida da popu-
lação e da manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Infelizmente, em muitos casos tais normas não são cumpridas, o 
que ocorre, por exemplo, (i) quando uma empresa não possui licença 
ambiental para a realização de atividades potencialmente causadoras 
de degradação ambiental; (ii) quando não foi solicitada a autorização 
de supressão de vegetação; (iii)	quando	a	emissão	de	efluentes,	sejam	
eles líquidos ou gasosos, não está de acordo com os padrões legais. 
Nesses casos, deve ocorrer a responsabilidade daquele que praticou a 
conduta.
A responsabilidade ambiental ocorre em três esferas: cível, em que 
se exige a reparação dos danos ambientais causados; penal, na qual 
se aplica uma sançãocriminal, que pode ser desde multa até mesmo a 
detenção do responsável; administrativa, em que são aplicadas mul-
tas, dentre outras sanções, pelos órgãos ambientais.
Ocorre que, muitas vezes, os órgãos competentes para apurar a 
responsabilidade dos causadores de danos ambientais apenas tomam 
conhecimento de determinado fato por meio de denúncias da popula-
ção – que constitui um parceiro importante no combate às degradações 
ao meio ambiente. 
Os principais órgãos responsáveis pela apuração de danos ambien-
tais, nas suas respectivas competências, são: 
 i Órgãos	públicos	ambientais:	ibama (federal), inea (estado do Rio 
de Janeiro), Secretaria de Meio Ambiente (município de Duque de 
Caxias);
 ii Ministério Público, Federal ou Estadual.
Além disso, importantes aliados na manutenção do meio ambiente eco-
logicamente equilibrado são as organizações não governamentais e asso-
ciações civis que, inclusive, possuem competência para ajuizar ação civil 
pública diante da ocorrência de dano ambiental.
 Bibliografia
carson, R. Silent, Spring.	Houghton	Mifflin	Co.:	New	York,	1962.
comissão mundial independente sobre meio ambiente e 
desenvolvimento. Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Editora da 
Fundação Getúlio Vargas, 1988.
machado, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 12a ed. rev., atual. e 
amp. São Paulo: Malheiros, 2004.
meadows, D. et alli. Os Limites do Crescimento. Editora Perspectiva, 1973.
milaré, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 3ª 
edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
ost, François. A natureza à margem da lei: a ecologia à prova do direito. Lisboa: 
Instituto Piaget, 1997. 
rodrigues, Marcelo Abelha. Elementos do Direito Ambiental: parte geral. 2ª ed. 
rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
silva, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2a ed. rev.. São Paulo: 
Malheiros, 1998.
siqueira, Josafá Carlos de. Ética e Meio Ambiente. 2ª edição. São Paulo: Edições 
Loyola, 2002.
soares, Guido Fernando Silva. Direito Internacional do Meio Ambiente: 
emergência, obrigações e responsabilidades. São Paulo: Atlas, 2001.
Fernando Cavalcanti Walcacer (Direito)
Advogado e professor de Direito Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do 
Rio de Janeiro (puc-Rio). Vice-diretor do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente 
e coordenador do setor de Direito Ambiental do nima. Coordenador acadêmico do 
curso de pós-graduação lato sensu em Direito Ambiental da puc-Rio.
 walcacer@jur.puc-rio.br
Virgínia Totti Guimarães (Direito)
Advogada, mestranda em Planejamento Urbano e Regional no ippur/ufrj. 
Especialista em Direito Ambiental pela puc-Rio (2008) e em Advocacia Pública 
pela uerj (2004).
 vtotti@uol.com.br
84 direito ambiental: origens, desenvolvimento e objetivos 85 fernando cavalcanti walcacer e virgínia totti guimarães
O processo educacional é uma construção permanente e dinâmica. A 
educação formal, escolar, é complementada pela denominada informal, 
que	podemos,	sem	pecar	pela	simplificação,	entender	como	sendo	o	con-
junto de relações sociais sob as quais o indivíduo está submetido, seja 
na casa, nos círculos de vizinhança, nas brincadeiras, nos encontros, 
enfim,	no	cotidiano	de	sua	vida.	A	partir	desse	entendimento,	pergun-
tamo-nos: por que e para que educação ambiental?
A contemporaneidade do capitalismo tem evidenciado, e de 
maneira assustadora, as consequências de um processo concentrador 
de riquezas e de poder por um lado, e, por outro, a pobreza, o aban-
dono social e a expansão da violência que não se restringe aos espaços 
classicamente denominados de urbanos. As profundas desigualdades, 
a	intensificação	e	a	expansão	dos	múltiplos	processos	de	transforma-
ção da natureza têm propiciado um crescente movimento do reconhe-
cimento dos limites desse tipo de reprodução societal, manifestado em 
inúmeras matizes, mas que tem como pano de fundo a preocupação 
com os derivados “problemas ambientais”.
Torna-se cada vez mais premente a necessidade de entendermos a 
problemática ambiental no âmbito de um processo de desenvolvimento 
que assume as suas particularidades a partir de diretrizes norteadoras 
globalizadas, o que demonstra a impossibilidade de separarmos o uso 
predatório e aniquilador da natureza e as condições profundamente 
desiguais em que vivem milhões de pessoas. É a partir desse entendi-
mento que, de novo, fazemos a pergunta: por que e para que educação 
ambiental?
A relação do homem com a natureza é tão intrínseca que muitas 
vezes não percebemos que somos natureza tanto orgânica como social-
mente, a segunda natureza, se é que podemos separar essas dimensões. 
Somos água, potássio, magnésio e uma relação imensa de elementos 
que são responsáveis pela nossa energia e, portanto, pela nossa capa-
cidade de crescer, de desenvolver movimentos, de raciocinar. Em nossa 
contemporaneidade, os elementos naturais são cada vez mais transfor-
mados por processos que se materializam em vigorosos sistemas técni-
cos	(edificações,	equipamentos,	fontes	energéticas	e	outros)	que	impõem	
padrões de conduta que nos alienam, distanciando-nos dessa orgânica 
Educação Ambiental: 
por que e para quê?
Regina Célia de Mattos 
relação, pois vemos a natureza apenas como objeto, fonte de recursos 
e de lazer. 
É esse processo de alienação que faz com que a preservação ou 
a conservação da natureza se torne foco crescente de estratégias de 
ações tanto de agentes privados como públicos, surgindo como quesito 
básico	para	políticas	e	ordenamentos	territoriais,	liberação	de	financia-
mentos nacionais e internacionais, tornando-se uma verdadeira moeda 
de troca.
A prática do alienante discurso desenvolvimentista-economicista 
colocou em xeque a sua sustentabilidade. A noção de sustentabilidade 
surge em 1992, através da Conferência das Nações Unidas sobre Meio 
Ambiente e Desenvolvimento (unced), e se constitui em crescente e 
necessária meta nos atuais debates sobre desenvolvimento. Objeto de 
múltiplas interpretações, manifesta diferentes representações e ideias, 
um campo de lutas, conforme analisa Acselrad (2001, p.29):
Mas, ao contrário dos conceitos analíticos voltados para a explicação 
do real, a noção de sustentabilidade está submetida à lógica das 
práticas: articula-se a efeitos sociais desejados, a funções práticas 
que o discurso pretende tornar realidade objetiva. Tal consideração 
nos remete a processos de legitimação/deslegitimação de práticas e 
atores sociais… Abre-se, portanto, uma luta simbólica pelo reconhe-
cimento da autoridade para falar em sustentabilidade. E para isso, 
faz-se necessário constituir uma audiência apropriada, um campo 
de interlocução eficiente onde se possa encontrar aprovação. Poder-
se-á falar, assim, em nome dos (e para os) que querem a sobrevi-
vência do planeta, das comunidades sustentáveis, da diversidade 
cultural etc. Resta que a luta em torno a tal representação exprime 
a disputa entre diferentes práticas e formas sociais que se preten-
dem compatíveis ou portadoras de sustentabilidade.
Portanto, visões alternativas produzem uma “crença na sustentabili-
dade”,	baseadas	na	busca	de	eficiência	na	utilização	dos	recursos	dis-
poníveis; de limites ao crescimento tecnoeconômico e do “pensamento 
único”; de redução da pobreza diante de um modelo altamente con-
centrador de riquezas e poder e consequente equidade; de reconheci-
mento das diferenças como novas possibilidades; e de outra racionali-
dade ética, dentre outras interpretações da relação sociedade-natureza 
traduzidas em “modelos alternativos de desenvolvimento”.
 A relação sociedade-natureza coloca a dimensão espacial como 
fundante nesse debate, na medida em que o espaço é um fato histó-
rico, isto é, fruto da história da sociedade na medida em que a história 
não se reproduz fora do espaço, e nem a sociedade se realiza, se repro-
duz,	sem	o	espaço.	O	espaço	geográfico	é,	por	natureza,	social,	por	ser	
transformado, através das práticas sociais, em segunda natureza, emmaterializações que expressam tanto o uso, o espaço da reprodução, 
86 87 regina célia de mattos 
como a troca, o espaço da produção em suas múltiplas formas. Santos 
(1996,	p.	186)	afirma	que:
A história das chamadas relações entre sociedade e natureza é, em 
todos os lugares habitados, a da substituição de um meio natural, 
dado a uma determinada sociedade, por um meio cada vez mais 
artificializado, isto é, sucessivamente instrumentalizado por essa 
mesma sociedade. Em cada fração da superfície da terra, o cami-
nho que vai de uma situação a outra se dá de maneira particular; 
e a parte do “natural” e do “artificial” também varia, assim como 
mudam as modalidades do seu arranjo.
Como foram construídas, então, as relações entre a sociedade e natu-
reza no município de Duque de Caxias? Como são, hoje, tais relações? 
Como se organizam os espaços do uso e da troca? 
Para entendermos as relações entre sociedade e natureza na con-
temporaneidade de Duque de Caxias, é preciso que as contextualizemos 
historicamente.	O	crescimento	populacional	através	de	fluxos	migrató-
rios e o ordenamento territorial de municípios da Baixada Fluminense 
ocorreram no período de 1930-1950 devido a quatro fatores, segundo 
Abreu (2006, p.107):
as obras de saneamento realizadas na década de 30 pelo dnos 
(através do Serviço de Saneamento da Baixada Fluminense); a ele-
trificação da Central do Brasil, a partir de 1935; a instituição da 
tarifa ferroviária única em todo o Grande Rio (que beneficiou so-
bretudo os subúrbios afastados e os municípios da Baixada); e a 
abertura da Avenida Brasil, em 1946, que aumentou sobremaneira 
a acessibilidade dos municípios periféricos.
Essas ações propiciaram um retalhamento espacial através de loteamen-
tos que é estimulado, em Duque de Caxias, com a abertura, em 1928, 
da rodovia Rio-Petrópolis, além do saneamento visar, conforme Abreu 
(2006), a formação de um cinturão agrícola abastecedor da Capital da 
República. De acordo com os dados abaixo, constatamos a aceleração 
do crescimento do município a partir dos anos de 1940–50, quando foi 
registrada a taxa de 12,06% de crescimento ao ano, resultado dos inten-
sos	fluxos	migratórios.
 Tabela 1 Taxa média anual de crescimento entre anos selecionados (%)
Unidades 1940 – 50 1950 – 60 1960 – 70 1970 – 80 1980 – 90 1990 – 00 2000 – 05
ERJ 2,61 3,68 2,97 2,30 1,15 1,30 1,30
Baixada Fluminense 8,86 8,80 5,95 3,38 1,38 1,72 1,67
Duque de Caxias 12,06 10,17 5,88 2,93 1,36 1,67 1,63
Fonte: CIDE – Baixada em Dados, 2005
O período de 1950–60 também foi de intenso crescimento anual, decli-
nando, progressivamente nas décadas seguintes, com a redução dos 
fluxos	migratórios	e	a	diminuição	do	número	de	filhos	diante	da	neces-
sidade da mulher também ter que trabalhar fora do âmbito doméstico. 
É um período importante, pois a ideologia desenvolvimentista econo-
micista é colocada em prática através do Plano de Metas do governo 
de Juscelino Kubitschek (1956-1961) que estimulou, através de incen-
tivos ao capital externo, um processo de industrialização. É interes-
sante observarmos, também, a dinâmica populacional do município 
frente ao Estado do Rio de Janeiro e à Baixada Fluminense: nas pri-
meiras décadas, o crescimento é bem superior aos dois recortes espa-
ciais, aproximando sua dinâmica às da cidade do Rio e da Baixada nos 
períodos mais recentes, evidenciando uma estabilidade no crescimento 
populacional. 
	Em	1961,	foi	inaugurada	a	Refinaria	de	Duque	de	Caxias,	reduc, 
no distrito de Campos Elísios, às margens da antiga Rio-Petrópolis, hoje 
br-040,	que	integra	Brasília	ao	Rio	de	Janeiro.	A	instalação	da	refinaria	
foi mais um importante fator no crescimento do município, uma vez que 
demandou grande contingente de mão de obra que, em grande parte, 
permaneceu no local.
 Pelos dados do Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro 
(cide), o município possui um dos mais vigorosos comércios e ativida-
des de serviços da Baixada Fluminense. Com quase 850 mil habitantes 
em 2005, dividiu com a capital as principais participações na indústria 
de transformação, construção civil, estabelecimentos de instituições 
financeiras,	comércio	e	outros	serviços.	No	mesmo	ano	de	2005,	Duque	
de Caxias foi o segundo município de maior Produto Interno Bruto (pib), 
acima de R$ 1 bilhão a preços básicos. A reduc teve uma participação 
de quase 60% nesse desempenho (Estudo Socioeconômico, 2007).
 Como estão, portanto, organizados os diferentes usos do espaço 
do município de Duque de Caxias? Observando o Mapa 01 constatamos 
a forte concentração populacional nos distritos de Duque de Caxias, 
Campos Elíseos e Imbariê. O mapa, de fato, representa tanto o uso 
do espaço para a reprodução (a casa, a família) como para a produção 
propriamente dita que se encontram densamente concentrados, oca-
sionando	uma	densidade	demográfica	de	1.735,65	hab/km²,	de	acordo	
com o cide.
Observemos, agora, o Mapa 02 – Macrozoneamento – Zonas Especiais. 
Elaborado a partir da Lei Complementar do Plano Diretor Urbanístico 
de Duque de Caxias, demarca os diferentes usos do espaço e os futu-
ros usos, em Zonas Especiais: de Interesse Social (zeis), de Interesse 
Ambiental (zeia), de Negócios (zen), Turístico e Negócios Rurais. Nele, 
88 educação ambiental: por que e para que? 89 regina célia de mattos 
vemos com mais clareza a demarcação da área ocupada e urbana retra-
tadas no Mapa 01.	Se	pudéssemos	sobrepor	os	dois	ficariam	claros	os	
limites de expansão urbana: do sul para o centro, os espaços concebi-
dos como Zonas de Interesse Ambiental de Cidade de Meninos e São 
Bento; no sentido nordeste, a Zona de Interesse Ambiental de Petrópo-
lis; e, ao norte, a Zona de Interesse Ambiental de Xerém e a Reserva 
Biológica do Tinguá.
É bastante interessante essa correlação, na medida em que o uso 
do espaço tanto para moradias como para atividades produtivas ocor-
reu sem levar em consideração a necessária preservação dos elemen-
tos naturais, evidenciando suas consequências na qualidade de vida da 
população. A sociedade e o ambiente natural sofrem por usos do espaço, 
como as indústrias, que descarregam no solo ou no ar seus resíduos, 
acentuando a degradação e aumentando os riscos para a vida. Além do 
desmatamento, deterioração dos recursos hídricos e ocupação em terre-
nos insalubres, esse ordenamento territorial não foi acompanhado por 
infraestrutura e medidas de saneamento. 
A Organização Mundial da Saúde (oms)	define	saneamento	como	
o controle de todos os fatores do meio físico do homem que exercem ou 
podem exercer efeitos nocivos sobre a saúde, incluídas as medidas que 
visam a prevenir e controlar doenças, sejam elas transmissíveis ou não. 
Água, esgotamento sanitário, coleta e destinação de resíduos sólidos 
urbanos	definem,	concretamente,	as	condições	de	saneamento	(Estudo	
Socioeconômico, 2007, p.26).
De fato, são expressivos os problemas enfrentados pela população 
em relação ao acesso à água potável, ao esgotamento sanitário e à coleta 
diária do lixo. Dentre essas condições básicas de garantia de qualidade 
de vida, a coleta de lixo é a que vem recebendo mais atenção pelo poder 
público, mas, não, a sua destinação. A coleta, além de ser mais barata, 
desobstrui as vias de circulação, evita a geração de outros problemas 
nas vias públicas, como a convivência com ratos e baratas, deixando 
a paisagem mais limpa, mais politicamente negociável. Porém, a desti-
nação, quando realizada adequadamente, requer vultosos investimen-
tos com retorno de médio e longo prazos, prática que vai de encontro 
à lógica política do balcão de negócios, cujo tempo de retorno é agora, 
o imediato. 
No bairro Jardim Gramacho (parece ironia), localizado no distrito 
de Duque de Caxias, encontra-se o aterro de Gramacho, o maior aterro 
da América Latina, que recebe, por dia, mais de sete toneladas de lixo, 
a maior parte proveniente da cidade do Rio de Janeiro, e que se encon-
tra em estado crítico, com mais de 50% de seu uso paralisado diante da 
possibilidadede desmoronamento. Caso medidas urgentes não sejam 
tomadas, a saúde de grande parte da população do município estará 
ameaçada. Parece-nos, portanto, que os problemas enfrentados pela 
população local derivam, com mais persistência, da ausência de ações 
dos agentes públicos e privados em garantir a saúde coletiva. É claro 
que a recorrente ausência desses agentes promoveu resultados desas-
trosos nos ambientes naturais, tornando-os vetores de doenças.
Os problemas enfrentados pelo desigual desenvolvimento sócioes-
pacial convivem, com mais de 50% do território municipal demarcados 
como unidades de conservação (Plano Diretor do Município) que não 
garantem, necessariamente, uma boa qualidade de vida à população. 
Em princípio, a demarcação de tais unidades objetiva garantir quali-
dade dos recursos naturais a serem utilizados pela população, assim 
como preservar ou conservar a biodiversidade e os elementos naturais 
indispensáveis à reprodução humana. Tais demarcações são necessá-
rias? Sim, mas perguntamo-nos: quais os benefícios que a população 
de Duque de Caxias tem recebido com a demarcação desses territórios? 
Os ricos mananciais atendem às necessidades da vida urbana que exige 
salubridade? A natureza generosa que conforta o olhar, “descansa o 
espírito”, é desfrutada pela população? O município tem um abasteci-
mento alimentar, diante de tantas terras, que propicie condições para 
a população, particularmente aquela de menor renda, para atender às 
suas necessidades?
 A educação ambiental é necessária, sim, mas não basta nas salas 
de aulas, não basta como atividade lúdica, não basta como ações pon-
tuais. As indústrias poluem, desmatam, e “nós” que temos de apren-
der a ter “educação ambiental”? Que “ambiente” é esse? O natural? E 
o social? As empresas ganham quando promovem práticas de “educa-
ção ambiental”: é delegar ao Outro a responsabilidade com as práticas 
socioambientais e continuar poluindo. O poder público não cumpre 
com as suas responsabilidades de prover segurança de saúde à popu-
lação	e	“nós”	que	temos	de	ensinar	aos	nossos	filhos	que	não	se	joga	
lixo aqui e acolá, que não devemos agir de tal e tal maneira com a natu-
reza,	como	se	fôssemos	os	responsáveis	pelos	infindáveis	problemas	de	
saúde pública, das precárias condições em que vive grande parte da 
população das cidades?
É óbvio que temos que ensinar, educar, mas por que todos não 
foram, historicamente, “ensinados”, “educados”? Por que as práticas 
do poder público e do capital quase sempre desprezaram os problemas 
derivados	do	uso	da	natureza	na	medida	em	que	a	percebiam	infinita?	
As	desigualdades	do	desenvolvimento	socioespacial	fizeram	com	os	cus-
tos da degradação dos ambientes naturais fossem divididos pela popu-
lação mais pobre, sem condições de pagar pela segurança à vida, isto 
é, emprego, moradia digna, água potável, esgotamento sanitário, um 
entorno	sem	vetores	de	doenças.	Afinal,	os	“frutos”	do	desenvolvimento	
não devem ser repartidos entre todos?
Portanto, mais uma vez nos perguntamos: por que e para que edu-
cação ambiental?
 
90 educação ambiental: por que e para que? 91 regina célia de mattos 
 Bibliografia
abreu, Mauricio de A. Evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: ipp, 
2006.
acserald, Henri. Sentidos da sustentabilidade urbana. In: Acserald, Henri (org.). 
A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio 
de Janeiro: dp&a, 2001, p. 27-57.
cide. Baixada em Dados, 2005. Disponível na internet: http:/www.cide.rj.gov.br/
cide.index.php. Acesso: em 04/03/2009.
estudo Socioeconômico 2007, Duque de Caxias. Tribunal de Contas do Estado 
do Rio de Janeiro.
Plano Diretor Urbanístico do Município de Duque de Caxias, 2006.
santos, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São 
Paulo: Editora Hucitec, 1996.
Regina Celia De Mattos	–	Geografia
Possui	graduação	em	Geografia	pela	Universidade	Federal	Fluminense	(uff), con-
cluída	em	1975;	mestrado	em	Geografia	pela	Universidade	Federal	do	Rio	de	Janeiro	
(ufrj),	finalizado	em	1995;	e	doutorado	em	Geografia	pela	Universidade	Federal	
Fluminense (uff), concluído em 2005. É professora da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro (puc-Rio) desde 1979. Atualmente, ocupa o cargo de 
professora	assistente	do	Programa	de	Mestrado	em	Geografia	da	PUC-Rio.	Na	
Universidade, participou dos seguintes projetos de pesquisa: Projeto de formação 
de lideranças em educação ambiental e Educação ambiental: formação de valores éti-
co-ambientais para o exercício da cidadania. Entre vários artigos, livros publicados, 
organizados ou edições e capítulos de livros, estão os livros: Educação Ambiental: 
valores éticos na formação de agentes multiplicadores (Rio de Janeiro: Ed. Loyola, 
2001); Educação Ambiental: resgate de valores ético-ambientais no município de 
Rio das Ostras (Rio de Janeiro: Petrobrás: puc-Rio, 2002); e Educação Ambiental: 
resgate de valores socioambientais de Mangaratiba, RJ (Rio de Janeiro: Petrobras: 
puc-Rio, 2003).
 rcm@puc-rio.br
Uma simples palavra basta para caracterizar o ambiente do municí-
pio de Duque de Caxias: heterogeneidade. Nele tudo é heterogêneo: os 
ambientes que compõem a base física do município, a forma de ocupa-
ção	pelos	seus	habitantes,	a	vegetação,	a	rede	hidrográfica,	o	relevo…	
Ao longo do eixo norte-sul do município, com quase 40 km em linha 
reta, nada se repete: a área densamente povoada da sede do município 
e	do	distrito	de	Campos	Elísios	em	nada	lembra	os	vazios	demográficos	
dos distritos de Imbariê e Xerém. A Mata Atlântica localizada na encosta 
Norte da Serra do Mar em nada se parece com os manguezais da Baía 
de Guanabara. E assim por diante…
Por outro lado, existe muito pouca correspondência entre a vege-
tação original no município de Duque de Caxias e a atual. Essa também 
é a principal característica da cobertura vegetal remanescente de toda 
a região da Baía de Guanabara, principalmente no que se refere ao seu 
entorno imediato. Há que se destacar, no entanto, que a feição original 
destes ecossistemas não foi alterada em um único evento da história da 
sua ocupação, mas foi produto de uma sucessão mais ou menos pau-
latina de intervenções humanas sobre a paisagem original, com grande 
ênfase para os processos desencadeados nas últimas quatro décadas.
 Um pouco da história da transformação
O cenário ambiental primitivo da região de baixada de Duque de Caxias 
era caracterizado por grandes formações paludosas – brejos, com algum 
tipo de vegetação emersa. O Rio Meriti formava um amplo estuário, com 
largura superior a 50 m, em frente ao qual existiam diversas ilhas, entre 
as quais Saravatá. Em função da sua proximidade com o nível de base, 
o rio descrevia meandros de maré num percurso de 8 km, até encontrar 
o	Rio	Pavuna,	seu	principal	afluente,	recebendo	também	como	afluente	
o Rio Acari. Para o interior, a partir dos manguezais, envolvendo seus 
afluentes,	ocorriam	vastas	extensões	de	brejos	de	água	doce	e	salobra,	
Natureza e sociedade no 
município de Duque de Caxias: 
os significados dos espaços vazios
Rita de Cássia Martins Montezuma
Rogério Ribeiro de Oliveira
92 educação ambiental: por que e para que? 93
que	se	confundiam	com	várzeas	fluviais.	A	área	mal	drenada	era	fre-
quentemente inundada, favorecendo o desenvolvimento de uma rica 
fauna	e	flora.
Do Rio Meriti até o Rio São Diogo, o litoral apresentava um trecho 
onde pequenas colinas chegavam ao litoral, sendo contornadas por um 
fino	cordão	arenoso.	O	Rio	Sarapuí,	com	suas	nascentes	nas	vertentes	
das serras de Madureira e Bangu, possuía um trecho desenvolvido em 
meandros de maré superior a 5 km, a partir do que contornava colinas 
e terraços. Alguns quilômetros a seguir encontrava-se o Rio Iguaçu, 
desenvolvendo um sistema de meandros com extensão superior a 20 km, 
sendo revestido por um vasto manguezal. Nas proximidades desse rio, 
em local que mais tarde seria conhecido como Campos Elísios (onde 
se situa a reduc), erguia-se, como o próprio nomeo convite para que os leitores possam assimi-
lar a riqueza das diferentes abordagens e olhares sobre o terri-
tório de Duque de Caxias. E a esperança de que os professores 
do município, verdadeiros agentes multiplicadores da Educa-
ção Ambiental, possam traduzir, em linguagem acessível aos 
seus alunos, as grandezas, os problemas e as soluções ecologi-
camente sustentáveis, socialmente justas e solidárias.
Padre Josafá Carlos de Siqueira S. J.
Vice-reitor da PUC-Rio10 11
Introdução
A preocupação com a preservação do meio ambiente e a melhoria da 
qualidade de vida tornou-se algo cotidiano e a educação ambiental se 
apresenta como um campo de estudo preocupado com a formação de 
pessoas conscientes do planeta em que vivem. Quando trabalhamos a 
educação ambiental, não falamos apenas de meio ambiente, mas abor-
damos as complexas relações de interdependência entre os diversos ele-
mentos da natureza, da qual fazemos parte, somos capazes de conhecer 
e transformar. Nós não nos relacionamos com a natureza apenas como 
indivíduos, mas, principalmente, por meio do trabalho e de outras prá-
ticas sociais. Assim, as relações de todos nós com a natureza possuem 
dimensões econômicas, políticas e éticas.
Desta forma, atualmente, quando trabalhamos temas do meio 
ambiente, precisamos tratar de questões sociais complexas como, por 
exemplo, baixos índices de desenvolvimento, pobreza e falta saneamento 
básico. Ao longo de nossa história humana, temos expressado uma 
admiração pela natureza que nos rodeia e, nas últimas décadas, uma 
crescente preocupação em protegê-la. Observamos que, atualmente, 
uma série de questões relacionadas com as diversas formas de degra-
dação do meio ambiente vêm motivando e despertando boa parcela 
da população, em estado de alerta no que diz respeito à problemática 
ambiental.
Sabemos	que	a	educação	é	o	meio	mais	eficaz	que	a	sociedade	pos-
sui para enfrentar as provas do futuro e, de fato, a educação moldará 
o mundo de amanhã. A educação deve ser parte vital de todos os esfor-
ços para imaginar e criar novas relações entre as pessoas e promover 
um maior respeito pelas necessidades do meio ambiente. Por isso traba-
lhamos a educação ambiental em seu aspecto não formal, pois ela não 
deve ser relacionada apenas com a escolaridade ou o ensino formal, já 
que também compreende modos de instrução não formais, incluindo o 
aprendizado tradicional que se adquire no lar, no seu ambiente. Atra-
vés da educação transmitimos um maior grau de consciência e sensi-
bilidade, explorando novas visões e conceitos e inventando novas téc-
nicas e instrumentos.
Percebemos que a Educação Ambiental, para se consolidar, pre-
cisa de ações práticas e teóricas que comprovem a viabilidade de sua 
proposta em todos os níveis sociais, como um processo crítico de for-
mação que faça com que as futuras gerações tenham capacidade de 
exercer sua cidadania.
	Por	isso,	percebemos	que	os	valores	éticos	são	o	agente	mais	efi-
caz para a mudança e a transformação da sociedade. Valores éticos, 
como a equidade, são adquiridos pela educação, no sentido mais amplo 
do termo. A educação é também essencial para que as pessoas pos-
sam usar seus valores éticos a serviço de opções conscientes e éticas. 
Quando trabalhamos com professores do ensino médio e fundamen-
tal, na transmissão de novos valores ético-ambientais, imaginamos que 
estamos incrementando a capacidade dessas pessoas de transformar 
suas idéias sobre a sociedade em realidades funcionais, e que sem um 
fundamento	moral	e	ético	dificilmente	um	novo	modelo	de	sustentabi-
lidade se tornará realidade.
O objetivo maior da educação ambiental é a do repensar o estilo 
de vida do homem, a necessidade de se formar uma ampla consciên-
cia crítica das relações na natureza onde nos inserimos, dentro de uma 
proposta	político-social-filosófica	de	mudança	global	da	sociedade	e	de	
sua estrutura. 
A metodologia de ação deste projeto delineou-se a partir da diretriz 
que vem sendo traçada desde experiências anteriores em outros municí-
pios.	Nossa	equipe	acredita,	confiando	na	sensação	de	dever	cumprido	
através da troca de informações e experiências, que suas variáveis estão 
certamente se desdobrando em novas diretrizes, que vão orientar novas 
ações na multiplicação de valores ético-ambientais para o exercício da 
cidadania no Município de Duque de Caxias. Essa troca veio se esta-
belecendo desde o primeiro contato da nossa equipe com a Secretaria 
de Meio Ambiente do município, através dos trabalhos de campo, onde 
foram revelados aspectos socioambientais presentes na realidade coti-
diana de Duque de Caxias. 
Desta forma, a proposta do projeto Educação ambiental: Formação 
de valores ético-ambientais para o exercício da cidadania no município 
de Duque de Caxias,	promovido	pelo	Departamento	de	Geografia	e	pelo	
nima / puc-Rio, teve como principais objetivos:
 ● Fornecer uma ampla fonte de conhecimentos ambientais sobre o 
município de Duque de Caxias, construída através de um diag-
nóstico	produzido	pela	equipe	do	Departamento	de	Geografia	e	do	
nima / puc-Rio, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente 
do município.
 ● Investir na formação de agentes multiplicadores da educação 
ambiental, que transmitirão valores ético-ambientais, capacitando 
e promovendo lideranças educacionais/comunitárias.
 ● Organizar conteúdos, métodos e roteiros didáticos, pautados pelos 
resultados do diagnóstico ambiental, disponibilizando os dados 
através de uma home page	específica	para	o	projeto.
 ● Produzir um livro que transforme o diagnóstico traçado em ferra-
menta didática a ser utilizada por toda rede de ensino do municí-
pio perpetuando, assim, a troca inicial de informações.
12 13
de	acesso	a	uma	quantidade	significativa	de	dados	e	informações	sobre	
o município de Duque de Caxias. O conteúdo dessas informações tor-
nou-se uma ferramenta fundamental na capacitação dos alunos do pro-
jeto.	Através	do	laboratório	do	Sistema	de	Informações	Geográficas	da	
puc-Rio, o labgis, foram desenvolvidos mapas com conteúdo diverso 
de dados sobre o município, igualmente disponibilizados na rede de 
informações da internet através da home page do projeto, contribuindo 
para a democratização de todo material levantado. Assim, buscamos ofe-
recer um redimensionamento da simbologia cultural dos mapas, através 
da sua disseminação em meio digital. Acreditamos que a capacidade de 
reconhecimento da diversidade de paisagens do próprio município, atra-
vés do uso e disseminação desse material pelos professores e demais 
agentes locais, possa potencializar o sentido de pertencimento e orgulho 
da população local, contribuindo efetivamente na construção de valores 
ético-ambientais para o exercício da cidadania. 
O investimento em uma maior conscientização ético-ambiental, 
através da promoção de conhecimentos socioculturais e ambientais, 
na formação dos agentes multiplicadores, com certeza irá proporcionar 
novas	territorialidades	no	uso	do	espaço	geográfico	do	município	de	
Duque de Caxias. Um município com mais de 50% do território com-
posto por área verde pode tornar-se uma referência, a partir da escala 
local, na gestão ambiental com participação efetiva das instituições 
públicas, privadas e da sociedade civil organizada.
O projeto também teve o importante papel de mostrar a Petrobras 
como uma empresa socialmente responsável e preocupada não apenas 
com projetos ambientais de caráter técnico e conservacionista, mas 
também com a formação de valores ético-ambientais e com o desenvol-
vimento sustentável da comunidade local, na medida em que ajuda o 
município a tomar consciência da importância da elaboração da Agenda 
21 local, oferecendo subsídios e metodologias para sua implantação. 
Além desse aspecto, o projeto ainda integra a Petrobras nos programas 
de educação ambiental nas escolas públicas do interior do Estado do 
Rio de Janeiro, mantendo uma preocupação com a sensibilização sobre 
as questões ambientais, voltadas para uma abordagem ética.
A	gestãoindica, um campo 
revestido por vegetação arbustiva/herbácea. Essa formação, algo inco-
mum para a Baía de Guanabara, era constituída de uma superfície arra-
sada da formação Macacu, por terraços marinhos ou por serem áreas 
de lavoura deixadas em pousio pelos Tupis-Guaranis, que possuíam 
aldeias na região.
As margens da Baía de Guanabara e todo o seu recôncavo já esta-
vam	ocupadas	antes	do	final	do	século	xvi, poucos anos após a funda-
ção da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Nesse aspecto, é de 
se destacar que a Baía de Guanabara e os rios da Baixada iriam exer-
cer um papel fundamental para a colonização da região. Na impossi-
bilidade de outra forma de acesso, devido aos pântanos, manguezais e 
brejos, esses rios tiveram um papel decisivo de penetração e ocupação 
da região. Pelas águas dos rios Meriti, Sarapuí, Iguaçu, Pilar, Saracu-
runa, Inhomirim e outros é que foram subindo os desbravadores. Ao 
longo de suas margens foram se alinhando engenhos e fazendas, e, por 
eles, se escoava a produção para o Rio de Janeiro. Portanto, todos esses 
rios representaram o principal vetor de desmatamento e colonização da 
Baixada Fluminense (ver mapa na p.XX).
Com relação aos vários ecossistemas do município de Duque de 
Caxias, é preciso destacar que a megadiversidade característica da Mata 
Atlântica é potencializada na Serra do Mar – fachada litorânea que atra-
vessa o estado do Rio de Janeiro no sentido sw-ne – pela variedade de 
biótopos: suas altitudes variam de zero a 2.200 m, apresentando encos-
tas voltadas para diferentes quadrantes. Na bacia drenante da Baía de 
Guanabara, e, em especial, em Caxias, o principal ecossistema era a 
Floresta	Ombrófila	Densa	(conhecida	pela	denominação	geral	de	Mata	
Atlântica). Dentro dessa categoria maior encontravam-se nas partes bai-
xas do município os ecossistemas1 descritos na sequencia (alguns ainda 
existentes, sob diferentes estágios de degradação antrópica):
 
 a) Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas:
Abrangia os ambientes situados entre cerca de 5 m acima do nível do 
mar e a altitude de 50 m, estando assentada sobre rochas do embasa-
mento cristalino, rochas alcalinas e sedimentos da Formação Barreiras. 
Trata-se do ecossistema mais impactado e descaracterizado de todos os 
demais	da	Baía	de	Guanabara.	Essa	tipologia	florestal	pode	abranger	
uma	grande	variedade	de	fitofisionomias,	mas	a	característica	maior	é	
a conspícua presença de brejos e alagados, o que, de certa forma, res-
tringe a expressão da vegetação arbórea. Nos brejos, as espécies mais 
características	eram	as	higrófilas	graminóides,	como	Eleocharis, Typha 
e Cyperus. Tratavam-se de brejos bastante ricos do ponto de vista da 
diversidade faunística, hábitat do jacaré-de-papo-amarelo (Cayman lati-
rostris) e de muitos mamíferos. Essa forma pioneira de Floresta de Ter-
ras Baixas deveria ter ocorrido, de acordo com a restituição ambiental 
feita por Elmo Amador (1997), em parte considerável do terreno hoje 
ocupado pela reduc.
 b) Floresta Ombrófila Densa Submontana
Este ecossistema ainda ocorre em grande extensão na bacia drenante da 
Baía de Guanabara, embora em localização distante da sede do muni-
cípio. Ocorre na faixa de altitude entre 50 e 500 m, em áreas disse-
cadas da Serra do Mar, das serras litorâneas e dos maciços isolados, 
sobre rochas do embasamento cristalino e rochas ígneas. A orientação 
de encostas desta formação exerce grande importância na estrutura e 
composição da vegetação. Geralmente as vertentes voltadas para o qua-
drante sul apresentam menor suscetibilidade a incêndios e, por conse-
guinte, biomassa e diversidade de espécies substancialmente maiores. 
No caso da bacia da Baía de Guanabara, a formação de maior extensão 
e com maior número de tributários – a Serra do Mar e, especialmente, 
a	Serra	dos	Órgãos	–	apresenta	todas	as	suas	encostas	voltadas	para	o	
quadrante sul, o que favorece as características acima relacionadas. 
 c) Vegetação com influência fluviomarinha (manguezais)
Na Baía de Guanabara, 40% dos manguezais foram eliminados à medida 
que a costa sofreu o processo de intensa urbanização (Kjerfve; Lacerda, 
1993). Desde o início da fundação e durante a expansão da cidade do 
Rio de Janeiro, tais atividades se deram, na maioria das vezes, às cus-
tas da drenagem e do aterro de brejos, mangues e lagunas, que esten-
diam-se por todo primitivo litoral do município do Rio de Janeiro. Na 
região	de	Caxias,	os	manguezais	devem	ter	ocorrido	em	três	tipos	fisio-
gráficos:	os	ribeirinhos, desenvolvidos às margens de rios, geralmente até 
onde se faça sentir a presença de sal no substrato carreado pelas varia-
ções de maré; os de franja, presentes nas margens de costas protegidas, 
caracterizando-se por um intenso processo de inundação provocado pela 
1
A nomenclatura utilizada 
para conceituar os ecos-
sistemas do município de 
Duque de Caxias é a dis-
ponível em: IBGE. Manual 
técnico da vegetação bra-
sileira. Série Manuais 
Técnicos em Geociências 
n. 1. Fundação Instituto 
Brasileiro	de	Geografia	e	
Estatística. Departamento 
de Recursos Naturais e 
Estudos Ambientais. Rio de 
Janeiro. 1992.
94 natureza e sociedade no município de duque de caxias... 95 rita de cássia martins montezuma e rogério ribeiro de oliveira
ação frequente das marés, e os de bacia, situados nas partes mais inte-
riores, em áreas caracteristicamente de pequena variação microtopo-
gráfica,	onde	a	variação	das	águas	ocorre	de	forma	muito	mais	lenta	da	
que	a	observada	nos	demais	tipos	fisiográficos.	Em	grande	parte,	essas	
formações	devem	ter	sido	aterradas	para	edificação	de	plantas	indus-
triais e ocupação urbana.
 Paisagem construída, paisagem natural e espaços “vazios”
Em termos de unidades de conservação da natureza, o município de 
Duque de Caxias é muito bem servido e apresenta em seu interior dife-
rentes modalidades de conservação, como as apa’s2 de Tinguá, São 
Bento, Estrela e Petrópolis, os Parques Municipais (Taquara, Caixa 
D’Água e Glicério) e mais de 20 áreas que o poder municipal decretou 
como Zonas Especiais de Interesse Ambiental. Somando todas essas 
unidades de conservação, vemos que elas abrangem cerca de metade do 
território. Essa condição deixa Caxias muito próximo a países desenvol-
vidos como a Áustria, que apresenta porcentagem semelhante de uni-
dades de conservação.
Vale entender melhor a grande heterogeneidade que existe entre 
essas unidades de conservação, pelo menos em termos de biodiversi-
dade. Dentro da lógica de ocupação do espaço do município, vários con-
dicionantes, tanto sociais como ambientais, conduziram a uma con-
centração da população bastante intensa na sede municipal. O mapa 
Densidade de ocupação & densidade urbana (p.XX) evidencia que as 
zonas de maior concentração urbana estão localizadas a sudoeste do 
município, abrangendo sua sede e os distritos de Campos Elíseos e 
Imbariê. No norte do município, no sopé da Serra do Mar, encontram-se 
as	áreas	de	floresta	contínua	mais	significativas,	formadas	principal-
mente pela Reserva Biológica Tinguá. Estes dois ambientes distintos – a 
encosta da Serra do Mar e a planície – são fundamentalmente diferentes 
no que se refere ao patrimônio de biodiversidade. Enquanto que a pri-
meira abriga trechos com grande diversidade biológica, principalmente 
na Reserva Biológica de Tinguá, apa de Petrópolis e no Parque Munici-
pal da Taquara, a planície apresenta um quadro diametralmente oposto 
– de pouca relevância em termos de diversidade. Tratam-se, portanto, 
de espaços bastante heterogêneos se comparados entre si.
Na serra localizam-se as verdadeiras joias em termos de biodiver-
sidade, como a rebio Tinguá, apa de Petrópolis e Parque da Taquara. 
Já na baixada, o cenário ecológico é de relativa pobreza. Assim, grossei-
ramente, poderíamos dividir, em termos de diversidade, esses espaços 
“vazios” em duas modalidades: os “vazios” pobres e os “vazios” ricos. 
Quais seriam, pois, os valores ambientais de cada uma destas áreas?
2
De acordo com o Sistema 
Nacionalde Unidades de 
Conservação da Natureza, 
a APA (Área de Proteção 
Ambiental) é uma das 
modalidades de Unidades 
de Uso Sustentável.
 Os “vazios” ricos em diversidade
Tais áreas de alta biodiversidade do município de Duque de Caxias 
estão localizadas ao norte, exclusivamente sob o domínio montanhoso 
dos maciços costeiros e interiores e das colinas adjacentes (ver mapas: 
Geomorfologia pXX; Uso do solo & cobertura vegetal pXX; Unidades de 
Conservação pXX). Segundo dados de 1994 da fundação cide (2000), 
correspondem a 41,1% de toda a área municipal, sendo que 26,6% são 
constituídas	por	Florestas	Ombrófilas	Densas	e	15,1%	por	Florestas	
Secundárias.
Essa variabilidade de relevo, associada ao gradiente altitudinal, 
favorece a heterogeneidade geoambiental que, por sua vez, viabiliza a 
multiplicidade de habitats que gera a grande biodiversidade que vem 
sendo registrada nessas áreas.
Se considerarmos a UC de maior representatividade em área, a 
Reserva Biológica de Tinguá (rebio Tinguá), serão 24.903 ha de mata 
contínua, com elevação máxima de 1.600 m de altitude. Encontra-se 
relativamente bem protegida desde o século xix devido à presença de 
inúmeros mananciais, os quais são responsáveis pelo abastecimento de 
parte do município do Rio de Janeiro e de quase 80% da Baixada Flu-
minense,	o	que	tem	gerado	inúmeros	conflitos.
De acordo com o Projeto Paisagem e Flora da Reserva Biológica 
do Tinguá: subsídios ao monitoramento da vegetação (ver Instituto de 
Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro), nela são registradas três 
formações de Mata Atlântica:
 a) Floresta Montana, entre as cotas 500 m e 1.300 m de altitude, 
abriga	várias	espécies	raras	representativas	da	flora	da	Mata	Atlân-
tica, dentre as quais Manilkara salzmannii (massaranduba), Aspi-
dosperma ramiflorum (pequiá), Geissospermum laeve (pau-pereira), 
Teminalia januarensis (mirindiba) e Pradosia kuhlmannii (casca-
doce).
 b) Alto Montana, entre 1.300 m e 1.500 m, apresenta alta diversi-
dade	de	flora	saxícola,	elevada	biomassa	e	grande	diversidade	de	
Briófitas	e	Pteridófitas,	além	de	elevada	taxa	de	endemismos,	des-
tacando-se a presença de Podocarpus sellowii, espécie típica das 
florestas	de	grandes	altitudes	do	Sul	e	Sudeste,	que	foi	registrada	
pela primeira vez nas porções mais altas da Serra do Tinguá.
 c) Campos	de	altitude,	registrados	nas	áreas	acima	das	florestas	
altomontanas, sobretudo nos cumes das serras do Tinguá, dos 
Caboclos e de São Pedro. Nessa formação destaca-se a riqueza de 
Orchydaceae, Bromeliaceae, Gramineae e Cyperaceae. Nos cam-
pos do Pico do Tinguá, os adensamentos de Glaziophyton mirabile, 
uma espécie de bambu endêmico de algumas serras do estado 
do Rio de Janeiro, atualmente são considerados fósseis vivos por 
alguns estudiosos de evolução em plantas.
96 natureza e sociedade no município de duque de caxias... 97 rita de cássia martins montezuma e rogério ribeiro de oliveira
Dada essa condição relativamente bem conservada da vegetação, é pos-
sível encontrar na área uma fauna muito rica, onde já foram registradas 
296 espécies de aves e 52 espécies de anuros, dentre os quais o menor 
anfíbio do mundo já descrito: o sapo pulga. Grandes mamíferos como a 
onça-parda e outras espécies ameaçadas de extinção, típicas de Mata 
Atlântica, encontram refúgio na unidade (segundo dados do site www.
ibama.gov.br).
Ainda no domínio montanhoso, merece destaque o Parque Muni-
cipal da Taquara, o qual, por ser uma unidade contígua à apa Petrópo-
lis,	resulta	na	preservação	da	totalidade	da	área	florestal	compreendida	
entre estas unidades. 
A apa de Petrópolis, criada em 1982, abrange parte dos municí-
pios de Petrópolis, Magé, Duque de Caxias e Guapimirim, num total 
de 59.049 hectares. Funciona como um tampão para a proteção dos 
recursos naturais. Possui 50% de sua área coberta por Mata Atlântica. 
Fazendo parte do domínio montanhoso que delimita a Baixada Flu-
minense, juntamente com as outras unidades adjacentes, forma um 
conjunto de vegetação praticamente contínua, protegida sob a forma 
de diversas unidades de conservação estaduais, municipais e federais. 
Nela, têm sido registradas várias espécies da fauna, como a onça parda, 
cachorro do mato, mão pelada, gato do mato, jaguatirica, paca, caxin-
guelê, sagüi, macaco prego, tapiti, queixada, caititu, tatu, ouriço e quati. 
Entre	as	aves,	aparecem	inhambu,	anu,	bico-de-lacre,	beija-flor,	tico-
tico, tziu e trinca-ferro. A relação de répteis inclui teiú, cobra-coral, jara-
racuçu, cobra-cipó, cobra de capim e jararaca.
Anexado a esse conjunto tem-se o Parque Municipal da Taquara, 
onde têm sido registradas várias espécies típicas da Mata Atlântica, tais 
como gavião-pombo, capivara, marrecos, maracajá, muriqui, onça pin-
tada preta, tamanduá, pica-pau de cabeça preta, saíra, tangará, guaxo 
e mico-leão-dourado (observação pessoal de Nelson Barroso, gestor do 
Parque Municipal da Taquara). Algumas dessas espécies contrariam 
as expectativas de ocorrência, como no caso de duas famílias de mico-
leão-dourado – primeiro registro recente na área. Tais ocorrências sur-
preendem alguns pesquisadores por serem raras nos dias atuais, prin-
cipalmente em áreas próximas aos adensamentos urbanos. Isso só se 
explica	pela	conectividade	ainda	existente	entre	diversos	fragmentos	flo-
restais em bom estado de conservação na região e com as quais o Par-
que Municipal da Taquara é contíguo. 
Não obstante a falta de dados precisos do tamanho das populações 
das espécies observadas, a presença de mais de um desses exemplares, 
alguns dos quais compõem a lista de espécies da fauna ameaçada de 
extinção no estado e no bioma, é um indicativo da qualidade geral da 
área. Sua importância do ponto de vista da preservação da biodiversi-
dade torna-se, portanto, clara.
Subjacente a essa, há que se destacar a importância dos recur-
sos ambientais e das funções ecológicas dessas unidades, tais como os 
mananciais	que	abastecem,	oficialmente	ou	não,	parte	da	população	
do município de Duque de Caxias, bem como a importância social que 
estes recursos representam: áreas de lazer, simbolismo cultural, reserva 
de água e amenização climática, entre outros, inclusive caça, pesca e 
subtração	de	espécie	da	flora	para	fins	diversos,	apesar	dos	danos	que	
possam	causar.	A	figura	a	seguir	ilustra	a	importância	social	que	estas	
áreas têm para as comunidades do seu entorno.
 
Ao encontro do surf no Rio Taquara.
Informativo da CEDAE sobre a captação e tratamento 
de água do Rio Taquara
A represa da Taquara em dia de semana ensolarado 
(outubro/2008)
Informativo do Parque
Figura 4: As formas de apropriação dos “vazios” do município 
de Duque de Caxias representadas nas múltiplas funções eco-
lógicas do Parque Municipal da Taquara e suas formas de uso.
98 natureza e sociedade no município de duque de caxias... 99 rita de cássia martins montezuma e rogério ribeiro de oliveira
 Os “vazios” pobres em diversidade
Estas áreas estão representadas em Duque de Caxias basicamente por 
três distintas unidades: os manguezais, os brejos de taboa e as colinas 
da baixada. Em termos de diversidade, os manguezais apenas parcial-
mente poderiam ser caracterizados como sistemas pobres. Somente o 
componente arbóreo dos manguezais é que é menos diverso, pois geral-
mente são encontradas nele apenas três espécies arbóreas. Dentre as 
espécies restritas aos manguezais encontram-se Rhizophora mangle 
(mangue vermelho), que ocorre preferencialmente à beira dos canais. O 
bosque é formado por adensamentos de Avicennia schaueriana e Lagun-
cularia racemosa (mangue siriuba e mangue branco, respectivamente). 
No	entanto,	fica	por	aí	esta	indicação	de	pobreza	biológica:	os	mangues	
constituem um ecossistema riquíssimo em termos de fauna, de algas 
e de muitos outros grupos biológicos. Nesse sentido, esse ecossistema 
é responsável, junto com os recifes de coral, pela manutenção da alta 
diversidade biológica encontrada nas regiões costeiras tropicais de todo 
o mundo. Trata-se de um ecossistemacosteiro que ocorre em regiões 
tropicais e subtropicais do mundo, ocupando as áreas entre marés. 
É caracterizado por vegetação lenhosa típica, adaptada às condições 
limitantes de salinidade, substrato inconsolidado e pouco oxigenado 
e frequente submersão pelas marés. Uma fauna típica compõe ainda 
esse ecossistema, igualmente adaptada às características peculiares 
do ambiente.
Podemos destacar como principais funções dos manguezais:
 ● Fonte de detritos (matéria orgânica) para as águas costeiras adja-
centes,	constituindo	a	base	de	cadeias	tróficas	de	espécies	de	
importância econômica e/ou ecológica; 
 ● Área de abrigo, reprodução, desenvolvimento e alimentação de 
espécies marinhas, estuarinas, límnicas e terrestres;
 ● Pontos de pouso (alimentação e repouso) para diversas espécies 
de aves migratórias, ao longo de suas rotas de migração;
 ● Manutenção da diversidade biológica da região costeira;
 ● Proteção da linha de costa, evitando erosão da mesma e assorea-
mento dos corpos d’água adjacentes;
 ● Controlador de vazão e prevenção de inundações e proteção con-
tra tempestades;
 ● Absorção e imobilização de produtos químicos (por exemplo, metais 
pesados),	filtro	de	poluentes	e	sedimentos,	além	de	tratamento	de	
esgotos em seus diferentes níveis;
 ● Fonte de recreação e lazer, associado a seu alto valor cênico;
 ● Fonte de alimento e produtos diversos, associados à subsistên-
cia de comunidades tradicionais que vivem em áreas vizinhas aos 
manguezais.
O fato de o manguezal ocupar uma área de transição entre o continente 
e o mar, entre a água doce e a salgada, entre o sólido e o líquido, confere 
a esse ecossistema características biológicas muito especiais. Mas uma, 
em especial, distingue os manguezais de outros ecossistemas costeiros: 
a sua grande resistência a impactos feitos pelo homem. Esta caracte-
rística funcional faz com que os manguezais resistam a pesadas cargas 
poluidoras, sejam elas orgânicas, como os esgotos domésticos, ou inor-
gânicas, como os metais pesados. Em função disso, o manguezal tem 
sido considerado como uma verdadeira barreira geoquímica a poluen-
tes provenientes do continente em direção ao estuário. Um ótimo exem-
plo disso são os manguezais de Duque de Caxias, que se localizam na 
interface de dois ambientes severamente poluídos do Estado do Rio de 
Janeiro: a Baía de Guanabara e os rios que drenam a Baixada Flumi-
nense. Da primeira, os manguezais recebem esgotos domésticos, car-
gas	tóxicas	de	indústrias	localizadas	no	seu	entorno,	lixo	flutuante	e	
eventuais derramamentos de óleo; os rios trazem grande carga orgânica 
decorrente da virtual inexistência de tratamento dos esgotos produzidos 
pela	região	de	maior	densidade	demográfica	do	estado.	O	gráfico	abaixo	
dá uma idéia da poluição por um metal pesado (chumbo) existente no 
sedimento dos manguezais da Baía de Guanabara.
 Contaminação por chumbo no sedimento de manguezais
da Baía de Guanabara (mg/kg de peso seco).
0,
04
0,
02
0,
05
0,
07
0,
1 0,
02
0,
02
São Gonçalo D. de Caxias Ilha do 
Governador
Guapimirim Ilha Grande
Profundidade
 0 a 5 cm
 20 a 25 cm
Fonte: Oliveira, 1998.
Mesmo o manguezal localizado nas proximidades do Aterro Metropo-
litano de Jardim Gramacho mantém-se em razoável vigor, apesar da 
carga orgânica e inorgânica a que está submetido. O volume de cho-
rume produzido por este aterro é imenso, assim como imensa é a carga 
tóxica derivada do processo aeróbico e anaeróbico da decomposição das 
3
Dados obtidos em: http://
odia.terra.com.br/rio/htm/
feema_aterro_de_ grama-
cho_entrara_em_colapso_a_
qualquer_momento_160874.
asp
100 natureza e sociedade no município de duque de caxias... 101 rita de cássia martins montezuma e rogério ribeiro de oliveira
quase 7.700 toneladas de lixo, das quais 6.500 são oriundas do muni-
cípio do Rio de Janeiro11.
 Para entender (ou tentar entender) a grande capacidade de resili-
ência	do	manguezal	a	esta	carga	poluidora,	o	gráfico	a	seguir	traz	uma	
comparação entre o teor de chumbo encontrado em folhas de dois tipos 
de ecossistemas (Oliveira; Bressan; Silva, 1998). Os números são bas-
tante distintos no que se refere à carga de poluição recebida: os dados 
referentes à Floresta Atlântica dizem respeito a uma região próxima ao 
Pico do Papagaio, localizado no Maciço da Tijuca, em altitude de 850 m. 
Ou seja, relativamente distante de qualquer fonte pontual de poluição. 
As eventuais entradas que essas folhas recebam são extremamente dilu-
ídas, recebidas exclusivamente por entradas atmosféricas. Já os dados 
de manguezal referem-se a uma situação oposta: estão submetidos, 
duas vezes por dia, por ocasião das marés, à imersão em águas ricas 
em chumbo. Apesar da grande diferença em relação à entrada da con-
taminação	por	chumbo,	a	contaminação	das	folhas	é	significativamente	
maior no ecossistema de Mata Atlântica.
 Contaminação por chumbo em folhas de espécies de Mata Atlântica
e de manguezais do Estado do Rio de Janeiro (mg/kg).
D. de CaxiasIlha do 
Governador
Guapimirim
0,
3
0,
2 6,
0
27
21
Floresta 
da Tijuca
Floresta 
do Camorim
Fonte: Oliveira, 1998.
Outra formação relevante que ocorre na área de baixada do município 
de Duque de Caxias são as colinas localizadas na baixada. Em termos 
geomorfológicos	são	formações	antigas	e	correspondem	à	porção	final	
da Serra do Mar, paralelas ao seu alinhamento principal. Tratam-se de 
colinas de baixa altitude situadas de forma não contínua ao longo da 
baixada do município. Primitivamente, as mesmas eram revestidas pela 
Floresta	Ombrófila	Densa	das	Terras	Baixas	e	pela	Floresta	Ombrófila	
Densa Submontana. Como estas colinas erguiam-se como ilhas em meio 
às áreas brejosas, forneciam ambiente distinto para a fauna e certa-
mente eram utilizadas por essas populações na busca por recursos para 
a sobrevivência. Mais tarde, em período histórico, estas colinas sedia-
ram distintos ciclos agrícolas da região, como plantio de subsistência, 
canaviais e plantio de laranja. São constituídas por solos dessecados e 
de baixa fertilidade natural. Como muitas dessas colinas localizam-se 
nas proximidades de brejos, durante muito tempo funcionaram como 
área de empréstimo para aterros. Esta situação contribuiu ainda mais 
para a degradação da vegetação existente no local. 
Com esses condicionamentos históricos, as colinas apresentam, 
hoje	em	dia,	uma	baixa	diversidade.	A	floresta	que	as	reveste	–	quando	
existente – é uma formação secundária com reduzido número de espé-
cies arbóreas. A fauna é bastante pobre e poucas aves podem ser visu-
alizadas.	A	pobreza	tanto	da	fauna	quanto	da	flora	decorre,	portanto,	
de dois fatores: do uso histórico dessas colinas e da situação de insula-
mento destes fragmentos, verdadeiras ilhas cercadas por áreas urbanas. 
Como essas áreas não recebem propágulos (como, por exemplo, semen-
tes)	de	outras	espécies,	a	sua	flora	é	constituída	por	espécies	típicas	
de estágios sucessionais iniciais. As espécies arbóreas mais frequentes 
nestas colinas da baixada são: carrapeta (Guarea guidonia), arco-de-
pipa (Erythroxylum pulchrum), assa-peixe (Vernonia polyanthes), jacaré 
(Piptadenia gonoacantha), ipê verde (Cybistax antisyphilitica) e cambará 
(Gochnatia polymorpha), a mais comum de todas, que forma adensa-
mentos	monoespecíficos	e	tem	relativa	resistência	ao	fogo.	Tratam-se	
todas de espécies bastante comuns a este tipo de ambientes. 
Qual seria, pois, o valor ambiental dessas colinas para o município 
de Duque de Caxias? Diversas podem ser as respostas: algumas dizem 
respeito ao presente, outras ao futuro. Para o tempo atual, a vegetação 
preservada (ainda que parcialmente em função de invasões, incêndios 
etc.)	significa	uma	redistribuição	das	águas	de	chuva.	Por	apresentar	
o seu solo recoberto por serapilheira, essas colinas têm um papel rele-
vante no que diz respeito ao armazenamento da chuva. O município 
apresenta, em sua porção sul, baixíssima altitude em relação ao nível 
do mar – inclusive, em muitas áreas, essa chega a ser negativa,ou seja, 
o local está alguns metros abaixo no nível do mar. Esse fato resulta 
em grande vulnerabilidade ecológica, principalmente em um cenário 
de mudanças climáticas globais. A destruição destas poucas formações 
florestais,	sua	urbanização	e	consequente	impermeabilização	do	solo,	
representam um fator relevante no agravamento das enchentes e dos 
alagamentos.
Com referência ao futuro do município, a preservação destas coli-
nas	empreendida	pelo	poder	municipal	significa	uma	possibilidade	de	
102 natureza e sociedade no município de duque de caxias... 103 rita de cássia martins montezuma e rogério ribeiro de oliveira
ganho	ambiental	significativo	para	a	vida	da	cidade.	A	decretação	des-
sas	áreas	como	unidades	de	conservação	significa	um	primeiro	passo	
para uma mudança da qualidade ambiental. Assim, um grande leque 
de possibilidades se abre com esta opção. Projetos podem ser desen-
volvidos	no	sentido	de	prover	o	enriquecimento	de	espécies,	via	reflo-
restamento.	A	fauna	e	a	flora	podem	ter	uma	melhoria	que	resultará	
em maior qualidade de vida para a população. Suas funções ecológicas 
ligadas à redistribuição das águas de chuva podem ser implementadas 
com	o	reflorestamento.	A	população	pode	passar	a	dispor	de	um	espaço	
adequado à contemplação, aos esportes ao ar livre, a atividades educa-
tivas etc. A criação de unidades de conservação sobre esses ambientes 
representa, como o recente Parque Municipal da Caixa D’Água, uma 
conquista cidadã em torno de espaços que, de outra forma, poderiam 
ser perdidos para a violência urbana. Nesse sentido, a preservação no 
presente dessas áreas abre uma perspectiva futura para uma verdadeira 
utopia de ações. Algo como um tomar posse hoje, por parte da munici-
palidade, da qualidade de seu futuro.
Finalmente, outra área pobre do ponto de vista da diversidade 
relativa aos “vazios”, são as áreas planas e em parte brejosas, localiza-
das em muitas das áreas planas do município, notadamente a sudo-
este	do	mesmo,	nas	proximidades	da	Refinaria	Duque	de	Caxias.	Prete-
ritamente,	essas	áreas	foram	revestidas	pela	Floresta	Ombrófila	Densa	
das Terras Baixas. Do que existia dessa formação, não se dispõe atu-
almente nem mesmo de fragmentos, quer no município de Duque de 
Caxias, quer na Baía de Guanabara. Esta formação foi destruída, em 
grande parte, em meados do século passado, nas chamadas obras de 
saneamento. Segundo o presidente Getulio Vargas, “o saneamento da 
Baixada Fluminense é, no gênero, uma obra monumental”. De fato, em 
função da abertura de canais que se destinavam à dragagem das ter-
ras, foram criadas extensas terras emersas, incluindo aquelas onde hoje 
se	situam	a	da	Refinaria	Duque	de	Caxias.	As	fotografias	a	seguir	evi-
denciam um pouco deste esforço colossal, feito anonimamente por uma 
legião de trabalhadores.
Etapas da construção dos canais de drenagem da Baixada Fluminense. 
Fonte: O homem e a Guanabara, de Alberto Lamego.
104 natureza e sociedade no município de duque de caxias... 105 rita de cássia martins montezuma e rogério ribeiro de oliveira
O	que	era	uma	rica	formação	florestal	virou,	em	sua	maior	parte,	uma	
área brejosa. Brejo, alagado ou charco são designações utilizadas para 
um tipo especial de ecossistema de águas rasas e semiparadas coberto 
com	ervas	de	diversos	tipos	e	tamanhos.	O	nome	oficial	adotado	pelo	
ibge para estes ecossistemas é “comunidades aluviais”. A água é o ele-
mento chave nesse tipo de ecossistema. Para que o brejo exista, são 
necessárias algumas condições físicas. A primeira é a pouca inclinação 
do terreno, que retarda ou impede o escoamento das águas. A segunda 
é	a	existência	de	solos	impermeáveis,	impedindo	ou	dificultando	a	infil-
tração, e a terceira é a proximidade da rocha-mãe logo abaixo de uma 
fina	camada	de	solos,	ou	a	combinação	destes	fatores.	Desde	que	essas	
condições existam, haverá a possibilidade de ocorrência de brejo. Este 
pode ser permanente, temporário ou ter um núcleo permanente com 
uma zona no entorno onde o brejo se expande e se retrai de acordo com 
a época do ano. A erva mais abundante nos brejos é a taboa (Typha 
dominguensis), que cresce em tufos que podem atingir mais de dois 
metros de altura. São comuns, ainda, muitas outras espécies, como a 
samambaia-do-brejo (Achrosticum aureum), o aguapé (Echornia crassi-
pes) e a salsa-do-brejo (Jussiaea sp). Os brejos de taboa têm importân-
cia para a fauna, principalmente para aves aquáticas como o jaçanã 
(Jacana jacana) e roedores como a preá (Cavia aperea). A taboa é uma 
espécie de grande importância para a fabricação de artesanatos, prin-
cipalmente esteiras.
Muitas dessas áreas brejosas constituem Zonas Especiais de Inte-
resse Ambiental. Assim como as demais áreas de baixa diversidade do 
município, estas apresentam grande valor ambiental, principalmente 
no	que	se	refere	à	circulação	de	águas	superficiais	e	de	sub-superfície	
e também como áreas de circulação atmosférica.
 Integrando os “vazios”: valores e funcionamento da paisagem de 
Duque de Caxias
A paisagem constitui um objeto de estudo comum a diversas ciências. 
Ela é entendida como o estudo da estrutura, função e dinâmica de áreas 
heterogêneas compostas por ecossistemas interativos (Forman, 1995). 
Atualmente,	é	bastante	estudada	pela	Geoecologia,	definida	como	uma	
ciência que lida com as interações entre a sociedade humana e o seu 
espaço de vida, natural ou construído – ou seja, a paisagem (Metzger, 
2001). No entanto, sendo um termo polissêmico, o conceito de paisa-
gem	apresenta	inúmeros	significados	e	representações.	Historicamente,	
paisagem	significa	cenário.	Como	tal,	sua	definição	torna-se	subjetiva.	
É	dependente	dos	sentidos,	o	que	para	alguns	significa	distinção	não	
apenas através da visão, como também do olfato, dos conceitos pré-
concebidos, valores, cultura, posição social, religião, crenças, gênero, 
enfim,	do	arcabouço	cognitivo	de	cada	um.	
Para alguns autores, essa delimitação espacial pode ser feita “até 
onde a vista alcança” (Santos, 2006). Para outros, a delimitação se dá 
em função da frequência de ocorrência de determinados elementos, ou 
padrões	fisionômicos	que	regem	uma	“área	terrestre	heterogênea,	com-
posta por um conjunto de ecossistemas que interagem e se repetem de 
forma similar através da paisagem” (Forman, 1995).
Portanto, para entendermos a dinâmica da paisagem do municí-
pio de Duque de Caxias, importa analisá-la como um todo, integrando 
seus diversos espaços, sejam eles construídos, naturais ou em distintas 
estratégias e formas de alterações pela milenar ação do homem. Não se 
pode pensar a zona de planície do município fora do contexto da encosta 
da Serra do Mar. A água, seja sob a forma de chuva ou de escoamento 
superficial	ou	subsuperficial,	integra	todos	esses	elementos	da	paisa-
gem. Da mesma forma, a proximidade com a Baía de Guanabara impõe 
severas restrições à ocupação do território e de seu planejamento para o 
futuro. O estudo integrado e dinâmico da paisagem do município cons-
titui uma forma para o enfrentamento do fenômeno das mudanças cli-
máticas globais. Ainda mais se considerando as inúmeras fragilidades 
a que o município está sujeito, como a alta densidade populacional, a 
reduzida altitude de sua sede em relação ao nível do mar, a proximi-
dade com a Serra do Mar etc.
Como visto, as partes planas do município de Duque de Caxias 
são constituídas por ecossistemas inteiramente descaracterizados de 
sua condição original. Em sua parte não habitada (ou fracamente habi-
tada), a baixada é constituída de pastagens, manguezais e pelas áreas 
drenadas nas décadas de 1940 e 1950. Associado à ideologia de “sane-
amento”, que resultou na radical transformação da paisagem do muni-
cípio, encontra-se a criação, por essa época, de uma grande indústria 
de bhc estatal. Sua falência gerou a tristemente conhecida Cidade dos 
Meninos, um passivo ambiental antigo e de difícil solução. 
Assim,	dentro	do	quadro	de	elevada	densidade	demográfica	que	
tanto o município como a própria Baixada Fluminenseapresentam, 
esses espaços vazios têm grande importância para a vida do município 
e são relevantes os esforços feitos para a sua proteção. Do ponto de vista 
da circulação aérea, essas áreas representam um importante papel nas 
condições climáticas das áreas mais habitadas. Funcionam também 
como dispersores da poluição atmosférica, seja ela oriunda de veículos 
automotores ou da reduc. Essas áreas planas desabitadas têm tam-
bém grande importância no que se refere à circulação de águas subter-
râneas do município. Em se tratando de um município com alto grau de 
industrialização, a contaminação atmosférica é relevante e essas áreas 
representam um grande papel não apenas na dissipação dos poluen-
tes, como também na amenização do clima, pois tratam-se de áreas não 
impermeabilizadas pela urbanização.
Em função de sua baixa altitude, essas áreas constituem um 
ambiente de tamponamento das águas provenientes das elevações e 
106 natureza e sociedade no município de duque de caxias... 107 rita de cássia martins montezuma e rogério ribeiro de oliveira
contribuem	para	minorar	as	enchentes.	Enfim,	esse	conjunto	heterogê-
neo de espaços “vazios” representa um papel altamente relevante para 
as condições de vida dos seus habitantes. Entretanto, sua viabilidade 
fica	a	depender	do	interesse	dos	grupos	sociais	que	dele	fazem	parte.	
A função dos espaços vazios quanto à regulação e manutenção 
dos recursos hídricos, qualidade do ar, fornecimento de alimento, con-
forto ambiental, lazer e espaço de interação social, ou seja, enquanto 
recurso ambiental, só será mantida na medida em que os grupos sociais 
que deles se utilizam assim desejarem, atribuindo-lhes valores sociais. 
Assim sendo, a utilização desses espaços como área de preservação 
integra um circuito de interesses e ações que pode ser compreendido 
através do esquema abaixo.
Recurso Ambiental
Sociedade Preservação / Conservação
funções ecológicas
necessidade
disponibilidade 
do recurso
espaços 
vazios
Visto dessa maneira, como recursos ambientais, passa a ser um con-
ceito vinculado à cultura e, portanto, à sociedade. Sociedade com seus 
valores	associados,	suas	formas	de	organização	específicas	e,	por	isso,	
com dinâmicas próprias, sujeita a variações ao longo do tempo. Segundo 
Sachs (2000), “é recurso aquela parcela do meio que eu considero útil. 
É recurso, hoje, o que não era recurso ontem. Não é mais recurso, hoje, 
o que era recurso ontem. Será recurso amanhã o que não é um recurso 
hoje.” 
Portanto, diante de cada espaço vazio, cabe a pergunta: Vazio 
de quê? O que está ausente neste espaço? Quais atributos existem 
ou inexistem para que o adjetivemos dessa forma? Atribuir um novo 
uso	resulta	em	atribuir	novos	significados,	que	só	serão	respeitados	
na	medida	em	que	forem	também	entendidos	e	apreendidos,	afinal,	a 
paisagem e o sujeito são co-integrados em um conjunto unitário que se 
autoproduz e autorreproduz. Paisagem-marca expressa uma civilização 
e paisagem-matriz participa dos esquemas de percepção, da concepção 
e de ação-cultura (Rosendahl; Corrêa, 2004).
Nesse sentido, a transformação dos espaços vazios de Duque de 
Caxias em Unidades de Conservação tem seu valor intrínseco enquanto 
resgate ou, em certos casos, promoção de suas funções ecológicas. Con-
tudo, estes só manterão suas dinâmicas próprias se e somente se os 
grupos sociais a eles associados compreenderem e respeitarem sua 
importância. Do contrário, outros usos lhes serão dados, em função 
das	necessidades	que	tais	grupos	identificarem.
Cabe ressaltar que essa relação não se restringe à ação local, uma 
vez que, segundo dados do Tribunal de Contas do Estado do Rio de 
Janeiro, o município de Duque de Caxias necessitaria implantar 721 
ha de corredores ecológicos, o que corresponde a 1,5% da área total 
do município. Isso reitera a necessidade de ter que adotar a paisagem 
como o recorte mínimo para a tomada de decisão, entendendo-a como 
uma paisagem concreta, em que se conjugam o sistema dito natural e 
o cultural, integrando cada espaço como o Ecossistema Humano Total 
– seres humanos integrados em seu ambiente total (Naveh, 2000).
Desse modo, podemos concluir que os “vazios” de Duque de Caxias 
são	espaços	prenhes	de	história,	ações,	significados.	Sendo	assim,	é	fun-
damental que cada um desses espaços seja considerado tanto dentro 
do seu contexto geobiofísico e da paisagem em que está inserido, como 
também no contexto social que sobre ele atua.
 Bibliografia
amador, E.S. Baía de Guanabara e ecossistemas periféricos: Homem e Natureza. 
Reproarte	Gráfica	e	Editora	Ltda.	539	p.,	1997.
bressan, F. A.; oliveira, R. R.; silva, E. V. Contaminação por metais pesados 
no sedimento e em compartimentos bióticos de manguezais da Baía de 
Guanabara. In: IV Simpósio de Ecossistemas Brasileiros, 1998, Águas 
de Lindóia. Anais do IV Simpósio de Ecossistemas Brasileiros. Aguas de 
Lindóia, 1998. v. 1. p. 30-37. 86 87
cide – Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro. Índice de 
qualidade dos municípios – verde (IQM verde). Rio de Janeiro, CIDE, 2000. 
80p.
forman, R.T.T. Land Mosaics. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
instituto de pesquisas jardim botânico do rio de janeiro 
kjerfve, B. E; lacerda, L. D. Manglares de Brasil. In: Conservación y 
Aprovechamiento Sostenible de Bosques de Manglar en las Regiones América 
Latina e Africa. Yokohama: itto/ isme Project pd114/90 pd114/90 (F), v.1 
p.231–256. 1993.
metzger, J.P. O que é ecologia de paisagens? Biota Neotropica, v. 1, n. 1, p. 1-9, 
2001.
naveh, N. What is a landscape ecology? A conceptual introduction. Landscape 
and Urban Planning. v.50. p. 7 – 26. 2000.
108 natureza e sociedade no município de duque de caxias... 109 rita de cássia martins montezuma e rogério ribeiro de oliveira
rosendahl, Z.; corrêa, R. L. (org). Paisagem, Imaginário e Espaço. Rio de 
Janeiro. EdUERJ. 2 Edição. 2004.
sachs, I. Sociedade, cultura e meio ambiente. Mundo & Vida, v.2, n.1. p. 7-13. 
2000.
santos, M. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP. 2006.
 Rogerio Ribeiro De Oliveira	—	Geografia
Graduado em Comunicacao Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de 
Janeiro (puc-Rio),	em	1976.	Fez	mestrado	e	doutorado	em	Geografia	na	Universidade	
Federal do Rio de Janeiro (ufrj) em 1987 e 1999, respectivamente. Tem pós-dou-
torado em História Ambiental, concluído em 2007, pela Universidade de Klagenfurt 
(Áustria).	Atualmente	é	professor	assistente	do	Departamento	de	Geografia	da	puc-
Rio	e	integrante	do	corpo	docente	dos	programas	de	pós-graduação	em	Geografia	
da puc-Rio, de Ciências Ambientais e Florestais da ufrrj e de Ecologia da ufrj. 
Entre seus artigos publicados, destaca-se Mata Atlântica, paleoterritórios e histó-
ria ambiental (Ambiente & Sociedade).	Sua	produção	bibliográfica	inclui	artigos	em	
diversos periódicos, livros e capítulos sobre História Ambiental e ecologia da Mata 
Atlântica.
 rro@geo.puc-rio.br
 
Rita De Cassia Martins Montezuma	—	Geografia
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
(uerj) em 1985. Mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro 
(ufrj),	curso	concluído	em	1997,	e	doutora	em	Geografia	pela	mesma	instituição	
(2005). É professora assistente da puc-Rio, com atuação em ensino e pesquisa em 
cursos de graduação e pós-graduação. Escreveu artigos em dois livros: Aspectos 
estruturais da paisagem da Mata Atlântica em áreas alteradas por incêndios flores-
tais e As comunidades vegetais das restingas de Macaé.
 montezum@puc-rio.br
A palavra que melhor traduz o conceito de natureza que emerge é “vida”. 
De acordo com o artigo 3 da Lei 6.938 de 1981, o meio ambiente “per-
mite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. 
Em nome da vida, a questão ambiental adquire dimensão global, 
seduzindo defensores alistados numa pluralidade de espaços sociais e 
geográficos.	As	lutas	em	defesa	do	meio	ambiente	são	variações	em	tornodo tema vida/morte. O sentido ambiental da tensão vida/morte desloca 
a questão da sobrevivência de uma luta contra as forças naturais para 
uma luta em defesa do meio ambiente. O conceito de meio ambiente, ao 
definir	as	condições	que	permitem	a	vida,	nos	força	a	pensar	a	natureza	
como mera possibilidade. 
 Outro aspecto promissor da luta em defesa do meio ambiente é 
o combate ao utilitarismo pragmático de um projeto de dominação da 
natureza que desconhece outros valores além da produção e do con-
sumo de bens materiais. Isso não se restringe ao terreno das ideias: 
são “ações” concretas que visam reorientar as atividades econômicas 
no sentido de atenuar seus impactos ambientais. A questão ambiental 
abre espaço para um deslocamento valorativo, em que parte da quanti-
dade de crescimento econômico é substituída pela qualidade de vida. 
 Sobre as relações homem-natureza
A crise nas relações homem-natureza deve ser buscada nos modelos de 
conjunto de valores, que marcaram as diferentes concepções de natu-
reza, sendo algumas hoje profundamente questionadas. Segundo o 
filósofo	Gómez-Heras	(1997:20),	a	partir	do	Renascimento,	dois	tipos	
distintos de interpretação da natureza surgiram: um ligado ao ideal gali-
leano-cartesiano	de	ciência,	com	forte	acento	na	quantificação	e	forma-
lização matemática da natureza, e outro relacionado com a dimensão 
qualitativa e valorativa da natureza. 
 A primeira acabou por se expandir ao longo da história, impondo 
suas regras nas ciências modernas. Na relação com a natureza existe 
Roosevelt Fideles de Souza
Histórico, finalidades, objetivos e 
princípios da Educação Ambiental
110 natureza e sociedade no município de duque de caxias... 111
uma	outra	racionalidade,	que	não	pode	ser	mensurada	e	quantificada,	
pois seus fundamentos são a qualidade e os valores. É a racionalidade 
qualitativo-axiológica, ela mostra que nem todo o saber sobre a natureza 
tem	que	ser	quantificado	e	formalizado	conforme	a	matemática.
 É preciso reconhecer que as experiências estéticas da natureza 
e a vivência de valores solidários, harmônicos e inspiradores da pró-
pria natureza viva fornecem também um quadro axiológico qualitativo 
de extrema importância para a nova mentalidade ecológica do mundo 
moderno.	Vivemos	atualmente	mergulhados	em	duas	concepções	filo-
sóficas	da	natureza.	Uma	sustentada	pela	racionalidade	axiológica,	que	
corresponde a esta visão mais qualitativa da natureza, e outra susten-
tada pela racionalidade técnico-operacional, alimentada pela cosmovi-
são matematizante e quantitativa da natureza.
	O	desafio	ético	que	encontramos	consiste	em	buscar	um	ponto	
de equilíbrio entre essas duas concepções, fazendo com que a atividade 
humana se integre entre ambas, evitando a perda das dimensões sub-
jetiva, teleológica e teológica da natureza e não permitindo a polariza-
ção excessiva da mentalidade objetiva e instrumental da natureza, pois 
essa acaba esvaziando a relação do homem com o mundo circundante 
e com o próprio sentido radical e absoluto da história, Deus. (Siqueira, 
2002:13)
Certamente, qualidade de vida é um valor bem mais complexo do 
que o de progresso material. Isso porque ela é multifacetada, incorpo-
rando as dimensões estética, espiritual e material: à quantidade gerada 
pela atividade “produtiva” soma-se a qualidade que o meio ambiente 
não degradado é capaz de proporcionar à vida. O planeta Terra abriga 
30 milhões de espécies de vida vegetal e animal, das quais apenas 2 
milhões são conhecidos e estudados. Existem atualmente 5.500 espécies 
animais e 4 mil espécies vegetais seriamente ameaçadas de extinção, 
sendo que 450 dessas espécies animais e vegetais são do Brasil. 
 A ecologia (do grego oikos, casa, lugar, estado) natural desenvol-
veu os princípios do equilíbrio dos ecossistemas, os quais estão funda-
dos na interdependência dos seus diferentes elementos constitutivos. 
Interferir em um elemento do ecossistema pode implicar a alteração de 
todo o seu equilíbrio. Mudar o curso de um rio, desmatar uma encosta 
ou eliminar alguns insetos são atitudes que podem ocasionar mudan-
ças no solo, na fauna e no microclima. (Guatari, 1991:68)
 Sobre a Educação Ambiental 
A	Educação	Ambiental	contribui	na	afirmação	de	valores	e	ações	que	
influenciarão	a	transformação	social,	gerando	mudanças	na	quali-
dade de vida e maior consciência na conduta pessoal, comunitária e 
populacional. 
 A Educação Ambiental deve gerar conhecimentos que sirvam a 
toda a sociedade, possibilitando reverter este quadro. As transforma-
ções na consciência, conduta pessoal, estilos de vida, harmonia entre os 
seres humanos e destes com outras formas de vida, surgirão a partir da 
realização de um trabalho que deve ser seriamente realizado em todas 
as classes sociais, dos variados níveis intelectuais e faixas etárias.
 Com as crescentes pressões humanas sobre os ambientes natu-
rais, a Educação Ambiental tem se tornado cada vez mais importante 
como meio de buscar apoio e participação dos diversos segmentos da 
sociedade para a conservação e melhoria da qualidade de vida. A Edu-
cação Ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudanças de 
valores e o aperfeiçoamento de habilidades, que são condições básicas 
para que o ser humano assuma atitudes e comportamentos que este-
jam em harmonia com o meio ambiente.
	A	preocupação	oficial	com	a	necessidade	de	um	trabalho	educa-
tivo que procurasse sensibilizar as pessoas para as questões ambientais 
surgiu em 1972, na Conferência sobre Meio Ambiente Humano, reali-
zada pela onu, em Estocolmo. A conferência gerou a Declaração sobre 
o Meio Ambiente Humano e teve como objetivo chamar a atenção dos 
governos para a adoção de novas políticas ambientais, entre elas um 
Programa de Educação Ambiental, visando a educar o cidadão para a 
compreensão e o combate à crise ambiental no mundo.
A unesco promoveu, em Belgrado, em 1975, um Encontro Inter-
nacional sobre Educação Ambiental. O encontro culminou com a for-
mulação de princípios e orientações para um programa internacional 
de Educação Ambiental (ea), segundo o qual esta deveria ser contínua, 
interdisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada para os inte-
resses nacionais.
Em 1977, ocorreu a Primeira Conferência sobre Educação Ambien-
tal, em Tbilisi, Geórgia, considerada o mais importante evento para a 
evolução da Educação Ambiental no mundo. A “Conferência de Tbilisi” 
como	ficou	conhecida,	contribuiu	para	precisar	a	natureza	da	Educação	
Ambiental,	definindo	objetivos,	características,	recomendações	e	estra-
tégias pertinentes ao plano nacional e internacional. Foi recomendado 
que a prática da Educação Ambiental deve considerar todos os aspectos 
que compõem a questão ambiental, ou seja, aspectos políticos, sociais, 
econômicos,	científicos,	tecnológicos,	éticos,	culturais	e	ecológicos,	den-
tro de uma visão inter e multidisciplinar.
Na	Conferência	de	Tbilisi,	a	Educação	Ambiental	foi	definida	como	
uma dimensão dada ao conteúdo e à prática da educação, orientada 
para a resolução de problemas concretos do meio ambiente, através de 
enfoques interdisciplinares e de uma participação ativa e responsável 
de cada indivíduo e da coletividade, como podemos ver no conceito rati-
ficado	na	conferência:
Formar uma população mundial consciente e preocupada com o am-
biente e com os problemas que lhe dizem respeito, uma população 
que tenha conhecimentos, as competências, o estado de espírito, as 
112 histório, finalidades, objetivos e princípios... 113 roosevelt fideles de souza
motivações e o sentido de participação e engajamento que lhe per-
mitam trabalhar individualmente para resolver problemas atuais e 
impedir que se repitam.
unesco, 1971:10
Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e 
Desenvolvimento, a Jornada Internacional de Educação Ambiental, rea-
lizada	no	Fórum	Global	durante	a	Rio	92,	reafirma	o	compromisso	crí-
tico da Educação Ambiental no Tratado de Educação Ambiental para as 
Sociedades Sustentáveise Responsabilidade Global. 
O tratado diz que a Educação Ambiental não é neutra, mas ide-
ológica. É um ato político baseado em valores para a transformação 
social. O tratado considera a Educação Ambiental para a sustentabili-
dade equitativa como “um processo de aprendizagem permanente, base-
ado no respeito a todas as formas de vida”. 
	Tal	educação	afirma	valores	e	ações	que	contribuem	para	a	trans-
formação humana e social e para a preservação ecológica.
As	definições	são	muitas,	mas	o	importante	a	ressaltar	é	que	a	
Educação Ambiental se caracteriza por apresentar uma abordagem inte-
gradora e holística (a capacidade de ver a transversalidade de detec-
tar os inter-retro-relacionamentos de tudo com tudo) das questões 
ambientais.
Somente em 1981, passados 15 anos de Tbilisi, foi concebido o 
primeiro	documento	oficial	brasileiro	sobre	a	Educação	Ambiental,	Pro-
jeto de Informações sobre Educação Ambiental. 
	Em	1988,	a	Constituição	Federal	definiu	que	a	Educação	Ambien-
tal deve ser oferecida em todos os níveis, mas, na realidade, pouco se fez 
para incorporá-la ao currículo escolar, numa visão interdisciplinar.
Em 1996, foram lançados pelo Ministério da Educação os “Parâ-
metros Curriculares”, os quais propõem que a Educação Ambiental seja 
discutida no currículo. 
Em abril de 1999, foi sancionada a Lei Federal de Educação 
Ambiental, nº 9.795, que institui a Política Nacional de Educação 
Ambiental no Brasil. 
 Essa lei diz que a Educação Ambiental deve ser um componente 
essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, 
de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo edu-
cativo, em caráter formal e não formal. O Art.13, que trata da Educação 
Ambiental Não Formal, ou seja, as ações e práticas educativas voltadas 
para a sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais, com 
a participação e parceria de escolas, universidades e empresas.
Finalmente, em 17 de dezembro de 1999, foi sancionada no Rio de 
Janeiro a Lei Estadual de Educação Ambiental, 3.325, que dispõe sobre 
a Educação Ambiental, institui a Política Estadual de Educação Ambien-
tal, cria o Programa Estadual de Educação Ambiental e complementa a 
Lei Federal 9.795/99 no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.
 Princípios básicos da Educação Ambiental
 ● Aplicar um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo espe-
cífico	de	cada	disciplina,	de	modo	que	adquira	uma	perspectiva	
global.
 ● Considerar o meio ambiente em sua totalidade, ou seja, em todos 
os seus aspectos naturais e criados pelo homem (tecnológico e 
social, econômico, político, histórico-cultural, moral e estético).
 ● Examinar as principais questões ambientais, do ponto de vista 
local, regional, nacional e internacional, de modo que os edu-
candos	se	identifiquem	com	as	condições	ambientais	de	outras	
regiões.
 ● Insistir no valor e na necessidade da cooperação local, nacional e 
internacional para prevenir e resolver problemas ambientais.
 ● Ajudar a descobrir os sintomas e as causas reais dos problemas 
ambientais.
 Objetivos da Educação Ambiental
Consciência — Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem 
consciência do meio ambiente global e sensibilizarem-se por essas 
questões.
Conhecimento — Ajudar os grupos sociais e o indivíduo a adquirirem 
diversidade de experiências e compreensão fundamental do meio 
ambiente e dos problemas anexos.
Comportamento — Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a compro-
meterem-se com uma série de valores e a sentirem interesse e 
preocupação pelo meio ambiente, motivando-os de tal modo que 
possam participar ativamente da melhoria e da proteção do meio 
ambiente.
Habilidades — Ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem 
as habilidades necessárias para determinar e resolver os proble-
mas ambientais.
Participação — Proporcionar aos grupos sociais e aos indivíduos a pos-
sibilidade de participar ativamente das tarefas que têm por obje-
tivo resolver problemas ambientais.
 
 Os impactos ambientais dos ciclos econômicos. 
A expansão colonial é a primeira responsável pela degradação ambien-
tal	no	Brasil.	A	natureza	foi,	ao	mesmo	tempo,	meio	e	fim	da	exploração	
114 histório, finalidades, objetivos e princípios... 115 roosevelt fideles de souza
colonial, constituindo-se como limite e potencialidade para a conquista 
e a invenção do Brasil. O Brasil foi criado como espaço de exploração 
ecológica e humana.
 Os ciclos
 1 Ciclo Econômico — Exploração do Pau-Brasil (exploração de uma 
única espécie e não destruía toda a cobertura vegetal para se 
implantar).
 2 Ciclo da Cana-de-Açúcar — Em São Paulo (São Vicente) e em 
Pernambuco, sob o comando de Duarte Coelho. Destruição da 
Mata	Atlântica,	além	da	queima	da	floresta	para	abastecer	as	
caldeiras.
 3 Ciclo do Gado — Ampliou a colonização do Brasil, penetrando ini-
cialmente pelo Rio São Francisco e depois se espalhando pelo país 
todo.
 4 Ciclo	do	Ouro	—	No	final	do	Séc.	xvii e no Séc. xviii, a economia 
colonial brasileira esteve centrada na extração deste metal, nas 
minas descobertas pelos bandeirantes paulistas nos sertões de 
Minas Gerais.
 5 Ciclo	do	Café	—	No	final	do	Séc.	xix, o café foi plantado inicial-
mente na Amazônia, mas se adaptou melhor no Sudeste. Usou-se 
a	mesma	lógica	predatória	de	eliminar	florestas	para	se	fazer	a	
lavoura e, assim que a terra dava sinais de esgotamento, mais 
mata era derrubada. A contribuição que o Ciclo do Café deu ao 
país foi que, a partir de sua riqueza, se processou o acúmulo de 
capitais necessário para o próximo ciclo: a industrialização.
 6 Ciclo da Industrialização — Aberturas de novas estradas e con-
sumo cada vez maior dos recursos da natureza e início dos pro-
cessos de poluição. 
 
 Considerações finais
Percebemos que, na maioria de nossos problemas ambientais, suas 
questões fundamentais estão ligadas a fatores políticos, questões socio-
econômicas e a fatores culturais, e essa problemática não tem como 
ser resolvida apenas através da novas tecnologias. Ao abordar tais pro-
blemas sob o aspecto apenas ecológico, que é uma confusão que ainda 
permeia	muitos	estudos	brasileiros,	verifico	um	profundo	desconheci-
mento e uma visão simplista da realidade que nos cerca e que precisa-
mos,	com	urgência,	modificar.
 É necessário que, no Brasil, as questões sociais em relação ao 
meio ambiente tenham prioridade educacional, política e econômica por 
parte do governo federal. Novas exigências aos formatos das políticas 
sociais e aos resultados esperados que, em última análise, atendam a 
uma concepção integrada de Desenvolvimento Social, abarcando o con-
junto das necessidades sociais e ambientais nos termos do Desenvolvi-
mento Humano Sustentável.
A dinâmica desse desenvolvimento deve combinar políticas eco-
nômicas orientadas para o crescimento sustentado e políticas sociais e 
educacionais	eficazes	com	capacidade	de	geração	de	emprego	e	renda,	
de modo a preservar as bases de integração social. A emergência da 
formulação de políticas sociais ambientais para as todas as áreas e, 
em especial, as áreas urbanas, percebendo o aumento do interesse das 
cidades em relação ao desenvolvimento sustentável, entendendo este 
como o único caminho para se enfrentar as questões ambientais em 
nosso país.
De forma mais genérica, não é mais possível pensar a Educação 
Ambiental em dimensões isoladas (só pesquisa ou só ensino, só pro-
cesso formal ou só informal). É imprescindível acoplar essas dimensões, 
entendendo a educação como um todo dinâmico e diverso.
 De uma forma geral, a pobreza e o analfabetismo aparecem como 
fatores de degradação ambiental. Mas nada impede que uma cidade 
seja ecologicamente saudável e, ao mesmo tempo, socialmente injusta. 
Portanto, o ponto central do debate, hoje, desloca-se para as questões 
de justiça social, educação ambiental e cidadania. 
E que este artigo venha a contribuir para promoção de novos deba-
tes em que a Educação Ambiental acentue a necessidade de criação de 
um novo estilode desenvolvimento, que inclua crescimento econômico, 
equidade social e conservação dos recursos naturais, capaz de propiciar 
relações mais humanas, fraternas e justas entre os seres humanos. Que 
inspiradas por uma ética ambiental que ofereça princípios norteadores 
de posturas e condutas das ações transformadoras e educativas desta 
relação entre Deus, natureza e sociedade, alcancem níveis cada vez mais 
crescentes de qualidade de vida para as futuras gerações.
 Bibliografia
comissão mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento. Nosso 
futuro comum. rj: fgv, 1987.
gomez-heras, J.M. Ética del médio ambiente. Ed. Tecnos, Madri, 1997.
guatari, Felix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1991.
mec, Ministério da Educação e Cultura. Política Nacional de Educação Ambiental. 
Brasília, df, 1999. Disponível em: . Acesso em: 20 maio 2003.
medina, Naná Mininni. A Formação dos Professores em Educação Ambiental. In: 
Oficina	Panorama	de	Educação	Ambiental	no	Brasil	(28	e	29	de	março	de	
116 histório, finalidades, objetivos e princípios... 117 roosevelt fideles de souza
2000) MEC/SEF; Coordenação-Geral de Educação Ambiental. 
ministério do meio ambiente. Educação Ambiental, curso básico à distância, 
contido em seis livros: (1) – Questões ambientais, conceitos, história, 
problemas e alternativas.(2-3) – Educação e Educação Ambiental I e II. (4) – 
Gestão de recursos hídricos em bacias hidrográficas sob a ótica da educação 
ambiental. (5) – Documentos e legislação da educação ambiental. (6) – Guia do 
aluno e caderno de atividades. Ed. Fubras, Brasília, 2001.
________. Agenda 21 Brasileira, Bases para a Discussão. Brasília, df. 2000.
pedrini, A. G. Educação Ambiental; Reflexão e prática contemporânea. Ed. Vozes, 
RJ, 2000.
reigota, M. Tendências da Educação Ambiental Brasileira. Ed. Atual, sp, 1998.
siqueira, J.C. Ética e Meio Ambiente. Ed. Loyola, São Paulo, sp, 2002.
sorrentino, M. Formação do educador ambiental: um estudo de caso. fe/usp, 
São Paulo, sp, 1995.
souza, R. F. Uma experiência em Educação Ambiental: Formação de valores sócio-
ambientais. Dissertação de Mestrado, Departamento de Serviço Social da 
PUC-Rio, 2003.
zeppone, R. M. O. Educação Ambiental: teoria e práticas escolares. 1ª edição, 
Araraquara, JM Editora, 1999. 
Prof. Msc. Roosevelt Fideles de Souza
Bacharel	e	licenciando	em	História	e	em	Geografia	e	Meio	Ambiente	pela	puc-
Rio (1990). Mestre em Serviço Social pela puc-Rio (2003). Professor estatutá-
rio do estado do Rio de Janeiro (1998), coordenador de Projetos Ambientais do 
Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente da puc-Rio (nima) e do projeto Jornadas 
Ecológicas na Vila Olímpica Clara Nunes (coordenado pelo Departamento de Serviço 
Social da puc-Rio), dá aulas de Caminhadas Ecológicas no setor de Educação Física 
da puc-Rio.
 roosevelt@puc-rio.br
Jardim Gramacho 
e o território do lixo
Valéria Pereira Bastos
No mundo da globalização, o espaço geográfico ganha novos contor-
nos, novas características, novas definições. E, também, uma nova 
importância, porque a eficácia das ações está estreitamente relacio-
nada com a sua localização. Os atores mais poderosos se reservam 
os melhores pedaços do território e deixam o resto para os outros.
 milton santos, 2007
 O bairro Jardim Gramacho: o espaço geográfico
Para compreender a história do “território do lixo”, consideramos impor-
tante apresentar inicialmente o município de Duque de Caxias, circuns-
crição administrativa que abriga o bairro Jardim Gramacho.
Inúmeras	são	as	obras	que	descrevem	o	contexto	geográfico	do	
município, mas selecionamos dois textos que consideramos apontar os 
elementos fundamentais para nossa análise. Então, nos baseamos na 
dissertação de mestrado de Luiz Cláudio Moreira e no documento pro-
duzido pelo ibase em 2005 denominado Diagnóstico social do bairro de 
Jardim Gramacho.
Neste sentido, encontramos a informação de que o município de 
Duque de Caxias foi criado através do Decreto Estadual 1.055 de 31 de 
dezembro de 1943, tendo completado em dezembro de 2008 65 anos 
de existência. Antes de sua emancipação, a localidade pertencia ao 8º 
Distrito de Nova Iguaçu (ibase, 2005, p.5).
O município de Duque de Caxias encontra-se dividido por quatro 
distritos	e	40	bairros	oficiais	e	eles	estão	distribuídos	da	seguinte	forma:	
no primeiro Distrito, que é o de Duque de Caxias, localizam-se os bair-
ros Jardim 25 de Agosto, Parque Duque, Periquitos, Vila São Luiz, Gra-
macho, Sarapuy, Centenário, Centro, Dr. Laureano, Bar dos Cavalei-
ros, Olavo Bilac e Jardim Gramacho. Já no segundo, Campos Elíseos, 
encontram-se os bairros Jardim Primavera, Saracuruna, Vila São José, 
Parque Fluminense, Campos Elíseos, Cangulo, Cidade dos Meninos, 
Figueira, Chácaras Rio-Petrópolis, Chácara Arcampo e Eldorado. No ter-
ceiro distrito, que é o de Imbariê, estão os bairros Santa Lúcia, Santa 
Cruza da Serra, Imbariê, Parada Angélica, Jardim Anhangá, Santa Cruz, 
Parada Morabi, Taquara, Parque Paulista, Parque Eqüitativa, Alto da 
118 histório, finalidades, objetivos e princípios... 119
Serra,	Santo	Antônio	da	Serra.	Por	fim,	no	quarto	distrito,	Xerém, loca-
lizam-se os bairros de Xerém, Parque Capivari, Mantiqueira, Jardim 
Olimpo, Lamarão e Amapá.
Por meio do estudo elaborado pelo Tribunal de Contas do Estado 
do Rio de Janeiro, que Moreira cita em sua dissertação, Duque de Caxias 
está localizado na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro 
que também abriga os municípios do Rio de Janeiro, de Belford Roxo, 
Guapimirim, Itaboraí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova 
Iguaçu, Paracambi, Queimados, São Gonçalo, São João de Meriti, Sero-
pédica e Tanguá (Moreira, 2007, p. 24).
Em	relação	à	extensão	geográfica,	o	município	de	Duque	de	Caxias	
totaliza a área de 468, 3 Km², o que representa 10% de área ocupada 
da Região Metropolitana.
Quanto ao sistema viário e ferroviário de Duque de Caxias, infor-
mamos que está integrado à cidade do Rio de Janeiro, dada a proximi-
dade. Ainda em termos de sistema viário, no mês de março de 2008, 
começaram as obras do Arco Rodoviário que intenciona ligar o Porto de 
Sepetiba, em Itaguaí, até Itaboraí, passando por Seropédica. Para tanto 
será construído um trecho entre Queimados, Nova Iguaçu e Duque de 
Caxias.
Registra-se no ibge que, em 2007, a contagem populacional do 
município de Duque de Caxias alcançou o quantitativo de 842.686 
munícipes em uma área territorial de 465 Km².
O Índice de Desenvolvimento Humano (idh) do município em 
2000, segundo o ipea,, é de 0,753, ocupando assim a 52ª posição no 
Estado do Rio de Janeiro. Isso porque a base para cálculo desse índice 
prende-se ao valor de quanto mais próximo de um for o idh, maior o 
nível de desenvolvimento humano apurado.
Quanto à taxa média geométrica de crescimento, no espaço de 
tempo compreendido entre os anos de 1991 e 2000, foi de cerca de 1,7% 
ao ano, contra cerca de 1,2% na região e de 1,3% no estado. Em relação 
ao processo de urbanização, registra-se o percentual correspondente a 
99,6% da população, enquanto que na Região Metropolitana a referida 
taxa é de 99,5%.
No tocante aos domicílios, o município de Duque de Caxias tem 
um total de 256.422 habitações, com uma taxa de ocupação de 86%. 
No entanto, registra-se que 11% delas são de uso ocasional.
Em relação à raça e religião dos munícipes, registra-se que, por 
meio da declaração das pessoas, há um predomínio de afro-descenden-
tes, o que representa 57,7% da população, contra 41% daqueles que 
se declaram brancos. Na religião, há uma incidência de católicos, che-
gando ao percentual de 46%, o que é superior à soma das outras reli-
giões declaradas.
Quanto à estrutura de serviços, o município de Duque de Caxias 
possui sete agências dos correios e telégrafos, 30 agências bancárias e 
23 estabelecimentos da rede hoteleira.
No tocante à questão de acesso ao mundo cultural, o Município 
conta com cinco cinemas, três teatros, um museu e duas bibliotecas.
Segundoo Ministério das Cidades, o município de Duque de 
Caxias apresenta o seguinte panorama, no que se refere aos indicado-
res urbanos:
 ● Quanto ao abastecimento de água, o município tem 69% dos domi-
cílios com acesso à rede de distribuição, 27,9% com acesso a água 
através de poço ou nascente e 2,7% têm outra forma de acesso. O 
total distribuído alcança 90.000m³ por dia, dos quais 74% passam 
por tratamento convencional e o restante por simples cloração.
 ● No tocante à rede coletora de esgoto sanitário, somente 57,1% 
dos domicílios têm este serviço, pois 20,9% têm fossa séptica, 
4.3% utilizam fossa rudimentar, 13,2% estão ligados a uma vala 
e 3,5% são lançados diretamente em um corpo receptor (rio, lagoa 
e mar). 
 ● Em relação à coleta regular de lixo, registra-se que 88,9% dos 
domicílios usufruem do serviço, pois 3,6% têm o lixo jogado em 
terrenos baldios ou em logradouros públicos e 6.8% colocam fogo. 
Isso porque a produção de resíduos diários no município chega à 
soma de 730 toneladas/dia.
No que tange às atividades econômicas do município, Duque de Caxias, 
representa o sexto maior Produto Interno Bruto (pib) do país e o segundo 
em arrecadação do Imposto Sobre Circulação de Mercadoria (icms). Isso 
porque concentra suas atividades nas indústrias e no comércio, além de 
abrigar	uma	das	maiores	refinarias	de	petróleo	do	Brasil,	a	Refinaria	de	
Duque de Caxias (reduc), além do pólo gás-químico, inaugurado em 
abril de 2005, que pretende gerar, em um período de cinco anos, de 30 a 
50 mil postos diretos e indiretos de trabalho na Baixada Fluminense.
Já em relação ao bairro de Jardim Gramacho, integrante do 1º 
Distrito de Duque de Caxias, enfocamos que se encontra dividido por 
localidades que não podem ser conceituadas como sub-bairros, em 
razão	de	não	serem	oficializadas	pela	prefeitura,	mas	estão	divididas	
segundo documento Diagnóstico Social do ibase da seguinte forma: 
cohab (conjunto habitacional – 1ª área loteada de Jardim Gramacho), 
Morro do Cruzeiro, Triângulo e Morro da Placa, locais que já possuem 
infraestrutura urbana adequada à necessidade local. Por outro lado, o 
bairro tem ocupações recentes caracterizadas por bolsões de miséria, 
sem infraestrutura. Nesse contexto, localizam-se a Chatuba, a Favela 
do Esqueleto, o Beco do Saci, a Cidade de Deus, a Avenida Rui Barbosa, 
o Parque Planetário e a comunidade da Paz ou Maruim, como é conhe-
cida, onde as casas são construídas em cima do manguezal.
Quanto à questão populacional, Jardim Gramacho tem aproxima-
120 jardim gramacho e o território do lixo 121 valéria pereira bastos
damente 40.000 habitantes, sendo que cerca de 50% dependem direta 
ou indiretamente da atividade econômica advinda da catação de lixo 
(ibase, 2005, p. 10). 
Em relação à presença de equipamentos sociais voltados para a 
educação formal no âmbito do Governo do Estado, o bairro tem a Escola 
Estadual Lara Vilela, de ensino fundamental o ciep 218 – Ministro Her-
mes de Lima, de ensino médio e fundamental, além de possuir uma 
turma de aceleração de jovens, projeto educacional que procura atender 
àqueles que não completaram o ensino em idade compatível. Também 
funciona um núcleo do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil 
(peti). Finalizando, há o Colégio Estadual Álvaro Negro Monte, de 5ª a 
8ª série e ensino médio.
Quanto às escolas municipais, informamos que no bairro regis-
tra-se a instalação da Escola Municipal Jardim Gramacho e da Escola 
Municipal Mauro de Castro, que também tem em seu anexo uma cre-
che. No contexto comunitário, contabiliza-se a Creche Comunitária e a 
Escola Comunitária Jardim Gramacho, que é apoiada pela Igreja Cató-
lica e pelo Portal do Crescimento. E as escolas particulares estão pre-
sentes com o maior quantitativo, chegando ao número estimado de 15 
unidades. As de maior destaque são: Colégio Deco, Colégio abc da Ale-
gria, Casinha Feliz e Colégio da Penha. 
Já no tocante aos equipamentos de saúde no bairro de Jardim 
Gramacho, existem sete postos do Programa de Saúde da Família, o 
Posto Municipal de Saúde Edina Siqueira Sales e um posto de saúde 
apoiado por políticos do local. Mas, no entanto, há registros de que 15% 
do contingente de crianças residentes estão em risco nutricional, sendo 
12% com desnutrição grave (ibase, 2005, p. 22).
Quanto à presença e/ou ausência de serviços públicos, bem como 
a qualidade desses, encontramos registrado no Diagnóstico Social do 
Bairro de Jardim Gramacho a seguinte questão:
Com relação aos Serviços públicos, em Jardim Gramacho desta-
cam-se os serviços de saúde. As entrevistas realizadas ressaltam 
o esforço do Secretário de Saúde Oscar Berro na implementação e 
ampliação do psf visando atender a toda a população do bairro. A 
atuação do Posto de Saúde (da prefeitura) também é reconhecida, 
embora também vivencie momentos de escassez, funciona com a 
boa vontade e compromisso de seus profissionais.
No que diz respeito às escolas, os entrevistados reclamam do estado 
de conservação de algumas, da qualidade do ensino e do número 
de vagas oferecidas que está aquém da demanda local. No entanto, 
é importante ressaltar que não tivemos acesso, neste pré-diagnósti-
co, ao número de crianças em idade escolar residentes em Jardim 
Gramacho. Segundo as entrevistas realizadas, os vereadores eleitos 
com o apoio dos moradores locais possuem significativa força políti-
ca na identificação e implementação de ações de desenvolvimento 
e melhoria do bairro.
ibase, 2005, p. 17
No tocante ao processo organizacional em defesa do bairro e dos mora-
dores	em	Jardim	Gramacho,	somente	foi	identificada	a	existência	de	
uma associação de moradores legitimada, que é a do Parque Planetário, 
pois tem representantes eleitos e é inscrita na Federação das Associa-
ções de Moradores de Caxias (mub). No entanto, segundo o Diagnóstico 
Social de Jardim Gramacho, a associação não realiza ações em conjunto 
com a federação e apenas recorre a ela no período da eleição da direto-
ria da associação atual, tendo em vista a necessidade de legitimação do 
processo (ibase, 2005, p. 24).
Registramos que, embora não existam outras associações de mora-
dores no bairro de Jardim Gramacho, após a realização do Diagnóstico 
Social elaborado pelo ibase, foi legitimada, em abril de 2006, a insta-
lação de um Fórum Comunitário, composto por 26 instituições locais 
que têm quatro grupos de trabalho focados em educação, saúde, convi-
vência comunitária e trabalho e renda – onde o serviço social do aterro 
se faz representar. Esse Fórum é apoiado pelo ibase em parcerias com 
Furnas Centrais Elétricas através do Comitê de Entidades no Combate 
à Fome e pela Vida (coep),	e	escolheu	o	bairro	com	a	finalidade	de	
promover o desenvolvimento local sustentável. Após vários encontros 
visando traçar as metas em busca do desenvolvimento, foi inaugurada 
uma sede própria que está aberta aos moradores para encontros e para 
diversas reuniões, precisamente no dia 20 de dezembro de 2007. Atual-
mente, ocorre, na última segunda-feira de cada mês, uma reunião com 
as	instituições	que	constituem	o	Fórum	para	refletir	acerca	dos	avan-
ços e retrocessos das ações comunitárias.
O Fórum Comunitário do Jardim Gramacho vem se desenvolvendo 
e, com o apoio do ibase, apresentou na vi Expo Brasil Desenvolvimento 
Local, realizada em Salvador, em 2007, as seguintes questões ligadas 
à perspectiva de trabalho e renda para os catadores que, em sua maio-
ria, são moradores do bairro:
O Fórum reivindica hoje a consolidação de um sistema de coleta 
seletiva com núcleos descentralizados no município de Duque de 
Caxias. Cada distrito terá um grupo de catadores realizando a co-
leta, responsável por levar o material reciclável para o Pólo de be-
neficiamento e Comercialização de Recicláveis, já em operação. “É 
um sub-bairro com uma infinidade de bares e pensões. Esses bares 
vendem fundamentalmente para catadores. O fechamento do aterro 
afetará muitos moradores, que se deram conta do problema e da 
oportunidade de lutarem juntos”diz a assistente social do Ibase, 
Rita Brandão.
Expo Brasil Desenvolvimento local, 2007, p. 1
122 jardim gramacho e o território do lixo 123 valéria pereira bastos
Através desse pequeno desenho do bairro Jardim Gramacho, podemos 
enfatizar que ele expressa o que vem sendo apresentando no cenário 
de milhares de bairros brasileiros, ou seja, é mais um local periférico 
que revela uma grande desigualdade social atrelada a outros tipos de 
desigualdade, como a ambiental, por abrigar um dos maiores aterros 
de lixo da América Latina, o que coloca em debate os riscos ambientais 
aos quais a população residente e trabalhadora está exposta.
Esse processo apresenta também uma contradição, visto que neste 
mundo de consumo, global, líquido-moderno etc, a produção de lixo é 
crescente.	Caso	não	exista	espaço	para	sua	destinação	final	e,	tam-
bém, a mão-de-obra de catação para minimizar os impactos, provavel-
mente seremos engolidos por uma avalanche de resíduos orgânicos e 
inorgânicos (lixo) que produz uma imensa poluição ambiental, quiçá 
planetária.
Nossa	afirmativa	encontra	sustentação	quando	a	comparamos	
com algumas considerações expressas no Diagnóstico Social do ibase, 
quando efetuam comentários a respeito do bairro e da população dele 
residente:
Na medida em que a população moradora está não só, exposta aos 
riscos ambientais por viver nas proximidades de um aterro controla-
do, mais conhecido como “lixão” – exposta à contração de doenças, 
à poeira, sujeira, entre outros – mas também encontra sua fonte de 
sobrevivência na atividade de catação, se evidencia a crise social 
de desemprego e de injustiças (social e ambiental). Estas pesso-
as são trabalhadoras e em sua maioria, anônimas e destituídas 
de qualquer direito – muitas não são registradas e não têm nem a 
certidão de nascimento, vivem em situação de total abandono, em 
condições precárias de infra-estrutura. Poderia se dizer que são os 
“não cidadãos (ãs)”. Paradoxalmente esta população vem dando 
uma grande contribuição para o circuito da reciclagem de materiais 
(coleta seletiva), para limpeza pública e ainda para a proteção de 
recursos naturais.
ibase, 2005, p. 30 [Grifo nosso]
Por	fim,	sinalizamos	que	o	bairro	de	Jardim	Gramacho	é	permeado	por	
todo o trajeto da rota do lixo e que, por mais que se tente desvinculá-lo 
da atividade de catação, torna-se quase impossível, pois praticamente 
todo o bairro tem sua vida ativa economicamente em função da catação.
Nossa	reflexão	ganha	sustentação	a	partir	da	seguinte	análise:
Em 1978, quando a comunidade do distrito de Jardim Gramacho 
(Duque de Caxias – RJ) testemunhou a inauguração do que viria a 
ser o maior aterro sanitário da América Latina, houve preocupação 
e revolta. Quase 30 anos depois, o que preocupa agora é o reba-
timento que a desativação do aterro, programada para este ano, 
terá sobre a vida de uma comunidade que aprendeu a conviver 
e viver das mais de dez toneladas de lixo despejadas a cada dia 
em Duque de Caxias. Contando com a desativação, representantes 
de 26 instituições locais, entre associações de catadores, igrejas, 
Ongs e grupos comunitários resolveram se unir e fundar o Fórum 
Comunitário de Jardim Gramacho…
Expo Brasil Desenvolvimento local, 2007, p. 1
 Jardim Gramacho: o lugar da catação
Nossa atenção, neste momento, será dedicada ao lugar que foi, é e será, 
ainda por algum tempo, produzido pela atividade de catação de lixo que 
se processa no interior do Aterro Metropolitano de Gramacho e no seu 
entorno.
Portanto, estamos conceituando de “território do lixo” todo o 
espaço do Aterro Metropolitano de Gramacho e toda a rota que o lixo 
percorre	no	bairro	até	chegar	ao	destino	final,	por	entendermos	que	a	
efervescência gira em torno da atividade mercantil gerada pelo negócio 
do	lixo,	uma	vez	que	consideramos	o	que	Milton	Santos	afirma	acerca	
do território, do dinheiro e de sua fragmentação:
O território como um todo é objeto da ação de várias empresas, cada 
qual, conforme já vimos, preocupadas com suas próprias metas e 
arrastando, a partir dessas metas, o comportamento do resto das 
empresas e instituições. Que resta então da nação diante dessa 
nova realidade? Como a nação se exerce diante da verdadeira frag-
mentação do território, função das formas contemporâneas de ação 
das empresas hegemônicas?
Milton Santos, 2007, p.86
Complementando	sua	reflexão	a	respeito	do	território	e	dessas	impli-
cações, Milton Santos enfoca que é dentro de um mesmo país que são 
criadas diferentes formas e ritmos de evolução, governadas pelas metas 
e	pelos	destinos	específicos	de	cada	empresa	hegemônica,	que	arras-
tam com sua presença outros atores, mediante a aceitação ou mesmo 
a elaboração de discursos “nacionais-regionais” alienígenas ou aliena-
dos (Milton Santos, 2007, p. 87).
Esse sentido dado por Santos ao mundo mercantil de negócios é 
o mesmo sentido que damos ao território do lixo, por ser um local que 
recebe 8 mil toneladas/dia de lixo, cujo trajeto é realizado pelos veículos 
de grande porte (carretas e caminhões compactadores) que transportam 
o lixo das vias principais do bairro/município para o Aterro.
A primeira passagem se dá pela Usina de Transferência no bairro 
do Caju, zona portuária do Rio de Janeiro, onde os caminhões compac-
tadores que circulam pelas residências despejam o lixo em um recipiente 
com maior capacidade em volume cúbico. Por intermédio desses equi-
pamentos mecânicos, realizam a transferência para carretas com capa-
cidade de 27 toneladas de lixo, perfazendo, assim, um percurso de 27 
124 jardim gramacho e o território do lixo 125 valéria pereira bastos
km até chegar ao aterro, totalizando, a cada dia, 44 viagens oriundas 
somente do Caju. Além da supracitada Usina de Transferência, existem 
mais dois trajetos: Jacarepaguá, que dista do aterro 37 km, sendo rea-
lizadas 12 viagens com as carretas por dia, e Irajá, com 17 km de dis-
tância do aterro e seis viagens diárias.
Quanto aos outros trajetos, que envolvem os municípios de Duque 
de Caxias, Nilópolis, Queimados, Mesquita e Belford Roxo, a rota é bem 
menor, assim como o volume de resíduos. Nesse caso, os próprios cami-
nhões que realizam a coleta domiciliar levam para o vazamento os mate-
riais recolhidos nas residências, empresas etc.
Na via principal de acesso ao aterro, chegam a transitar dia e 
noite cerca de 600 veículos de grande porte e, quanto mais se dimi-
nuir	o	fluxo,	menor	investimento	será	necessário	para	a	manutenção	
e o recapeamento do asfalto, que é de responsabilidade da empresa 
operadora.
Esses trajetos e o volume de lixo transportado se revelam como 
uma grande mina de ouro, pois conforme já mencionamos anterior-
mente, o valor do produto potencialmente reciclável cresceu no perí-
odo industrial (Velloso 2004), e vem crescendo no mundo contemporâ-
neo. Dessa forma, há um forte interesse das empresas em comercializar 
o	material	com	o	catador,	que	normalmente	fica	com	a	menor	parte,	
enquanto aqueles que já detêm o domínio do capital, produzem rique-
zas, fragmentações, discurso alienante e, com certeza, também o domí-
nio do material.
A título de registro, informamos que a Companhia Municipal de 
Limpeza Urbana do Rio de Janeiro – comlurb realizou, em junho de 
2006, um estudo que proporcionou apurar, em um período de 30 dias, 
qual foi a quantidade retirada dos materiais separados pelos catado-
res. Foi descoberto que, diariamente, o contingente de catadores separa 
cerca de 200 toneladas de material potencialmente reciclável, isto é, 
material que ele já separou da matéria orgânica e dos outros inserví-
veis, tais como papel higiênico e absorventes, entre outros sem valor no 
mercado, vendendo-os para ferros velhos instalados na via de acesso 
ao aterro. 
Somado a esse fator, faz-se necessário elucidar que, para o ter-
ritório efetivamente ganhar vida, circulam diariamente cerca de 1.200 
catadores que desenvolvem atividade de catação dentro do aterro, mais 
os caminhões dos 42 depósitos que têm autorização para transitarsocialmente	responsável	tem	revelado	reflexos	que	extra-
polam os limites das empresas, com desdobramentos que afetam toda a 
sociedade. No exercício da responsabilidade social, a relação da empresa 
com a comunidade é otimizada, tanto nos aspectos da imagem e reputa-
ção da empresa, como nos benefícios que a empresa traz para a comu-
nidade do ponto de vista econômico, educacional, ambiental, cultural, 
entre outros.
A rede formada a partir dos conhecimentos adquiridos durante 
o projeto – secretarias municipais, coordenação pedagógica escolar, e 
principalmente entre lideranças, professores e alunos – certamente con-
 ● Produzir um vídeo que relate o desenvolvimento e as conclusões 
do projeto e que também sirva como material didático e de divul-
gação do trabalho realizado. 
 ● Propiciar atividades de campo em ecossistemas locais, integrados 
à Agenda 21 local e às perspectivas do desenvolvimento susten-
tável nos municípios.
 ● Promover atividades eco-culturais (poesias, teatros, pinturas, etc) 
junto aos jovens estudantes, com direito à exposição dos melhores 
trabalhos, motivando o desenvolvimento de suas aptidões pesso-
ais e integrando-os à comunidade local.
Neste sentido, o projeto Educação Ambiental: formação de valores éti-
co-ambientais para o exercício da cidadania no município de Duque de 
Caxias	configurou-se	como	excelente	forma	de	colocar	em	prática	inicia-
tivas que visam a sustentabilidade. Através da capacitação de lideranças 
comunitárias, de professores e de alunos da rede pública, transformados 
em agentes multiplicadores em comunidades locais, objetivou-se uma 
ampliação do exercício consciente e responsável da cidadania, levando 
a uma melhoria efetiva na qualidade de vida da população. 
O projeto, que contou com a participação das secretarias muni-
cipais de Educação e Meio Ambiente, capacitou professores da rede 
pública municipal e contemplará as escolas envolvidas com este livro, 
que, além do conteúdo didático trabalhado nas aulas de capacitação, 
apresenta um diagnóstico socioambiental do município, feito através de 
trabalhos de campo que envolveram toda a equipe, além de representan-
tes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Em ambos os trabalhos, 
utilizamos	o	Sistema	de	Informações	Geográficas	(sig), potencializando 
a troca de informações e experiências, bem como o conteúdo didático e 
teórico das aulas de capacitação elaborada pelos professores do Depar-
tamento	de	Geografia,	em	associação	com	o	Núcleo	Interdisciplinar	de	
Meio Ambiente (nima) da puc-Rio. Ao longo do desenvolvimento do pro-
jeto, também foi produzido um vídeo mostrando todas as etapas do pro-
jeto, que servirá como material didático e de divulgação. 
 A produção deste material é importante para a perpetuação do 
projeto dentro e fora das escolas, servindo como ferramentas na multi-
plicação dos valores ético-ambientais para o exercício da cidadania. 
É importante enfatizar os resultados dos projetos também para a 
sociedade como um todo, na medida em que podem ser abordados em 
congressos	científicos	nacionais	e	internacionais.	Inúmeras	instituições	
educativas de ensino médio e superior podem receber como doação as 
publicações de tais resultados. Acessando os links da home page do 
projeto, que complementa o material do livro, abre-se a possibilidade 14 15
tribuirá na formulação e execução de novos projetos elaborados pelos 
participantes. O material presente nesse livro traz a autonomia neces-
sária para a continuidade das atividades, tanto nas escolas como nas 
famílias e na comunidade, abrindo perspectivas futuras na busca de 
alternativas locais sustentáveis. O acesso ilimitado às informações sobre 
o município, através da página na internet, transcende as perspectivas 
presentes de continuidade de troca de informações. O processo de inser-
ção do Brasil na dinâmica da economia global, como potência regional 
e	como	economia	emergente,	cria	reflexos	em	toda	dinâmica	sócioes-
pacial do seu território. Não só o município de Duque de Caxias, mas 
toda a região da Baixada Fluminense, passam por transformações sig-
nificativas	no	uso	do	seu	espaço	geográfico,	em	razão	desta	e	de	outras	
dinâmicas internas e externas, que promovem constantemente altera-
ções na sua paisagem. Acreditamos que o exercício pleno da cidada-
nia, pautado nos valores de uma ética ambiental, seja a diretriz para as 
ações que incorporem a sustentabilidade na dinâmica socioambiental 
do município de Duque de Caxias. E que o conteúdo desse livro, assim 
como seus desdobramentos, seja um ponto de referência na constru-
ção dessa realidade.
16
Brasil;
Estado do Rio de Janeiro;
Região Metropolitana;
Baixada Fluminense;
Município de Duque de Caxias
1º – Duque de Caxias
Jardim 25 de Agosto
Parque Duque
Periquitos
Vila São Luiz
Gramacho
Sarapuy
Centenário
Centro
Dr. Laureano
Olavo Bilac
Bar dos Cavaleiros
Jardim Gramacho
2º – Campos Elísios
Jardim Primavera
Saracuruna
Vila São José
Parque Fluminense
Campos Elíseos
Cangulo
Cidade dos Meninos
Figueira
Chácaras Rio-Petrópolis
Chácara Arcampo
Eldorado
São Bento
3º – Imbariê
Santa Lúcia
Santa Cruz da Serra
Imbariê
Parada Angélica
Jardim Anhangá
Santa Cruz
Parada Morabi
Taquara
Parque Paulista
Parque Equitativa
Alto da Serra
Santo Antônio da Serra
4º – Xerém
Xerém
Parque Capivari
Mantiqueira
Jardim Olimpo
Lamarão
Amapá
Informações gerais 
sobre o município de 
Duque de Caxias
www.duquedecaxias.rj.gov.br
4 distritos
40 bairros
468,3 km²
10% da região metropolitana
842.686 habitantes
1.711 hab/km²
543.646 eleitores
67,49 expectativa de vida
0,753 idh
99,6% taxa de urbanização
1,67% taxa de crescimento
8% taxa de analfabetismo
Distritos
Abriga
REDUC — Petrobras
Instituto São Bento — PUC-Rio
 Baixada Fluminense
 Região Metropolitana
Magé
Guapimirim
Nova 
Iguaçu
Belford Roxo
S. João 
de Meriti
Mesquita
Nilópolis
Rio de Janeiro
Itaguaí
Paracambi
Seropédica
Japeri
Queimados
Niterói
São Gonçalo
Itaboraí
Tanguá
Petrópolis
Duque de 
Caxias
44°0'W 43°0'W
23°0'S
Miguel Pereira
Xerém
Imbariê
Campos 
Elíseos
Duque de 
Caxias
Oceano Atlântico
22°30'S
22°40'S
22°30'S
1,53 3 Km0
20100 40 Km
18 19
20
Cidade dos Meninos p.32
Parque Municipal da Taquara p.28
rebio Tinguá p.34
Morro do Céu p.24
Caixa D’Água p.26
Barragem Saracuruna p.36
Parque Glicério p.22
Xerém
Imbariê
Campos 
Elíseos
Duque de 
Caxias
Nos dias 9 e 16 de agosto de 2008, a equipe do Projeto Educação Ambien-
tal: formação de valores ético-ambientais para o exercício da cidada-
nia reuniu-se no campus da puc-Rio, na Gávea, para dar início aos 
trabalhos de campo, que contaram com a presença de representantes 
da Secretaria municipal de Meio Ambiente da prefeitura de Duque de 
Caxias e contemplaram os quatro distritos que compõem o município: 
Duque de Caxias, o primeiro, Campos Elísios, o segundo, Imbariê, o ter-
ceiro, e Xerém, o quarto. O primeiro encontro realizou-se no Pólo Avan-
çado da puc-Rio, o Instituto São Bento, no segundo distrito de Campos 
Elíseos, onde ocorreu uma breve reunião para a apresentação dos inte-
grantes do projeto, assim como uma palestra sobre as principais deman-
das ambientais do município, feita por Wilson Leal, pedagogo da Secre-
taria e chefe do setor de Educação Ambiental. Foram visitados todos os 
quatro distritos que compõem o município nos dois trabalhos de campo. 
No mês de novembro, foi realizado um terceiro trabalho de campo com 
os professores da rede municipal de ensino, os alunos do projeto. Esse 
trabalho contou com a presença de professores do Departamento de 
Geografia	da	puc-Rio e de representantes da Secretaria municipal de 
Meio Ambiente. Foram visitados os parques naturais municipais da 
Caixa D’Água e da Taquara.
trabalhos 
de campo
22 23
Duque de Caxias
Parque Glicério
Após o encontro com os representantes da Secretaria de Meio Ambiente 
no centro do município de Duque de Caxias, seguimos para uma pas-
sarela próxima à Linha Vermelha, para visualizarmos a área da Zona 
Especial de Interesseno 
local	com	a	finalidade	de	proceder	à	compra	e	à	retirada	do	material	
separado pelo catador.
Mas o que vai demarcar o espaço como território, é a forma per-
versa existente quanto ao estabelecimento da relação de trabalho entre 
os catadores e os donos de depósito. Pesquisa realizada por Lúcia Pinto 
(2004), no território de Jardim Gramacho, deixou evidente que, dos tra-
balhadores	fixos	ligados	a	eles,	a	grande	maioria	entrevistada	confirmou	
não ter carteira assinada.
Lucia	Pinto	justifica	essa	desresponsabilização	dos	empresários	
com os catadores enfocando que o poder de barganha dos depósitos, 
independentemente do seu porte, é expresso pelo estabelecimento do 
preço do produto coletado, pela oferta de trabalho e pela possibilidade 
de empregar pessoas sem documentação, egressos ou fugidos do sis-
tema penitenciário, e pela forma de pagamento imediata (Pinto, 2004, 
p. 12).
O	cenário	descrito	por	Pinto	nos	permite,	mais	uma	vez,	ratificar	
que o território de Jardim Gramacho carrega todo o estigma do rejeito e/
ou refugo humano, tendo em vista que até mesmo os depósitos não têm 
uma organização quanto aos equipamentos e em relação ao espaço físico 
também, visto que misturam materiais recicláveis com rejeito do lixo.
	Assim,	os	depósitos	classificados	como	precários	têm	toda	a	ati-
vidade realizada a céu aberto, em péssimas condições de higiene e tra-
balho e, segundo diagnóstico realizado por Lucia Pinto (2004), “funcio-
nam em alguns casos próximos ao mangue e em associação com locais 
de distribuição de drogas”, e ainda poluem o ambiente com a queima 
de	fios	de	cobre	e	pneus.
Outro ponto de grande efervescência no cenário do território de 
Jardim Gramacho é a perversa forma de catação efetuada pelos cata-
dores de lixo que, por meio do garimpo de saco em saco, separam o 
material para ser comercializado. Embora seja responsável pela sobre-
vivência desses trabalhadores, a forma visualmente é estigmatizante e 
depreciativa.
Analisamos a questão acima à luz da fala de Dirce Koga a res-
peito da classe excluída, que, segundo a autora, deverá ter a resistência 
dobrada em função da necessidade cotidiana da luta pela sobrevivência 
física aliada à sobrevivência moral, “pelo fato de serem naturalmente 
suspeitas no meio de uma sociedade altamente segregadora” (Koga, 
2001, p. 45).
Inúmeras são as questões a serem levantadas pelo território de 
Jardim Gramacho. Listamos algumas por considerarmos fundamentais 
para entendermos a real situação dos catadores de lixo que são, a todo 
o momento, furtados da sua condição de cidadão trabalhador, primeiro 
pelo	fato	de	a	categoria	não	ser	reconhecida	oficialmente,	e	depois	por	
diversas perversidades advindas do mundo global e líquido apontados 
por Bauman:
A “população excedente” é mais uma variedade de refugo huma-
no. Ao contrário dos homini sacri, das “vidas indignas de serem 
vividas”!, das vítimas dos projetos de construção da ordem, seus 
membros não são “alvos legítimos” excluídos da proteção da lei 
por ordem do soberano. São, em vez disso “baixas colaterais”, não 
intencionais e não planejadas, do progresso econômico. No curso 
do progresso econômico (a principal linha de montagem/desmon-
126 jardim gramacho e o território do lixo 127 valéria pereira bastos
tagem da modernização), as formas existentes de “ganhar a vida” 
são sucessivamente desmanteladas e partidas em componentes 
destinados a serem remontados (“reciclados”) em novas formas. 
Nesse processo, alguns componentes são danificados a tal ponto 
que não podem ser consertados, enquanto, dos que sobrevivem à 
fase de desmonte, somente uma quantidade reduzida é necessá-
ria para compor os novos mecanismos de trabalho, em geral mais 
dinâmicos e menos robustos.
Bauman, 2004, p. 53
Pensando	a	partir	dessa	reflexão,	podemos	considerar	o	catador	de	lixo	
como população excedente do processo, pois já sinalizamos anterior-
mente	que	ele	é	o	menos	beneficiado.	Assim	percebemos	que,	no	jogo	de	
poderes, os que sobrevivem acabam por se tornar algozes do seu pró-
prio companheiro, pois o nível de mobilidade apresentado por eles é de 
se transformar em comprador, ou seja, passar a deter poder do capital. 
Com isso, desconhecem sua origem, ou, quando isso não acontece de 
imediato, passam a fazer desvio da rota do material que deveria ir para o 
aterro, deixando chegar somente aquilo que não tem valor comercial.
No entanto, dentro da lógica capitalista, a venda realizada pelos 
catadores no aterro ocorre de forma a desvalorizar o produto que os 
depósitos estabelecidos no entorno compram e transportam em seus 
caminhões, furtando daqueles que dão a partida no processo a possibi-
lidade de negociar diretamente com as indústrias e se inserirem como 
apontam Cortizo e Oliveira (2004).
como integrantes da “articulação do binômio capital-trabalho, na 
apropriação coletiva dos meios de produção e dos resultados da 
produção, na prática da autogestão, na apreensão de todo o proces-
so produtivo pelos todos os trabalhadores, na valorização de cada 
pessoa, na construção do coletivo, no compromisso com os outros 
trabalhadores, com as questões sociais e com a sustentabilidade 
ambiental”
Cortizo e Oliveira, 2004, p. 87
Em face desse cenário de desigualdade posto no cotidiano da atividade 
de catação, na qual estão presentes os processos exclusão/inclusão, 
precarização do trabalho, ausência do exercício de cidadania, desem-
prego	estrutural,	desqualificação	social	e	informalidade,	entre	outras	
questões, acreditamos ser de fundamental importância dialogar com 
alguns autores para entender melhor essa trama. 
Por outro lado, faz-se necessário compreender também como se dá 
o processo de desvio existente no trajeto até o aterro metropolitano, uma 
vez que a rota do lixo é demarcada por um território construído a partir 
de desigualdades de acesso e de vantagens, pois por cada gota de cho-
rume (líquido oriundo do efeito químico produzido pelo lixo orgânico), ou 
cada saco de coleta domiciliar deixado no caminho, é possível usufruir 
de um benefício, transformando, assim, em moeda corrente todo e qual-
quer resquício advindo dessa atividade. Furta-se, mais uma vez, da mão 
do catador o material mais valorizado, pois muito embora o montante 
do	que	é	recebido	(8	mil	toneladas/dia)	seja	significativo,	o	que	é	consi-
derado	nobre	fica	pelo	caminho,	na	mão	daqueles	que	detêm	o	domínio	
e/ou poder de negociação, que, como já vimos, não é o catador.
Para melhor entender este processo, procuramos buscar susten-
tação teórica em Koga (2001), que realizou um estudo a respeito de ter-
ritório que nos permitiu compreender melhor as tramas existentes nes-
ses	espaços,	que	não	se	constituem	apenas	como	área	geográfica	e/ou	
de concentração de um povo, mas podem ser consideradas como
(…) um dos elementos potenciais para uma nova perspectiva redis-
tributiva possível para orientar as políticas públicas. A redistribuição 
viabilizada pelo acesso às condições de vida instaladas no território 
onde se vive soma-se aos demais processos redistributivos sala-
riais, fiscais ou tributários, fundiários e das garantias sociais, como 
a própria reforma fundiária, a reforma fiscal. Parto do pressuposto 
de que as políticas públicas ao se restringirem ao estabelecimento 
prévio de públicos-alvos ou demandas genéricas apresentam fortes 
limitações, no que se refere a conseguirem abarcar as desigualda-
des concretas existentes nos diversos territórios que compõem uma 
cidade, e assim permitir maior efetividade, democratização e con-
quista de cidadania.
Koga, 2003, p.33
Na busca de aprofundarmos o entendimento a respeito do que estamos 
problematizando, e, ainda, objetivando apreender como alguns dos ato-
res envolvidos percebem a rota do lixo dentro do território de Jardim 
Gramacho, entre os meses de maio e junho realizamos cinco entrevis-
tas	com	alguns	catadores	e	com	dois	donos	de	depósitos,	com	a	finali-
dade de melhor compreendermos essa trama de relações existentes e o 
olhar tanto de uns quanto de outrosa respeito da cadeia produtiva de 
reciclagem e o papel deles nesse processo perverso.
Estruturamos as entrevistas com o objetivo de saber o que os cata-
dores tinham em mente a respeito do seu papel na cadeia industrial 
de	reciclagem,	além	de	identificar	como	eles	se	sentiam	na	atividade	de	
catação e como percebiam a sua função em relação ao meio ambiente. 
Por	fim,	procuramos	saber	o	que	conheciam	a	respeito	do	trajeto	dos	
caminhões e suas histórias dentro do território, o que denominamos de 
“a rota do lixo de Jardim Gramacho”.
Em relação aos donos de depósitos, utilizamos as mesmas pergun-
tas	feitas	para	os	catadores,	tendo	somente	modificado	a	questão	rela-
tiva ao trabalho que eles realizavam no aterro junto aos catadores.
No que diz respeito às respostas, os cinco catadores reconheceram 
que são importantes na cadeia industrial de reciclagem, mas são sabe-
128 jardim gramacho e o território do lixo 129 valéria pereira bastos
dores que o trabalho que desenvolvem é desvalorizado, principalmente 
pelos donos de depósitos, mas intencionam trabalhar para romper este 
domínio. Como exemplo, apresentamos duas falas das catadoras:
Acho que o catador é um agente ambiental, mas não é valorizado, 
não é mesmo, mas por causa das indústrias, porque se agente tiver 
a possibilidade de estar nas grandes negociações, eliminaria o atra-
vessador, mas isto é muito difícil.
Entrevista realizada na coopergramacho em 03/06/2005, cooperada 
Audinéa da Silva
Acho que o catador é importante, mas seu papel não é tão reconhe-
cido porque se conseguíssemos vender para indústria seria melhor, 
mas aí o que se tinha que fazer é juntar o material em um núcleo e 
com isto agregar mais valor e com isto melhorar o trabalho.
Entrevista realizada com a catadora Maria Sandra da Silva em 
03/06/2005
Quanto à importância do seu papel como agentes ambientais, todos se 
identificaram	com	a	classificação	formal	junto	ao	Ministério	do	Traba-
lho, mas não souberam detalhar como poderiam tornar isso de conhe-
cimento público e ter esse papel reconhecido de fato pela sociedade. 
Podemos ilustrar essa posição com a fala de um dos entrevistados:
Eu me considero sim, agente ambiental, porque estou reciclando e 
evitando menos resíduos lá em cima no vazamento.
Entrevista com a catadora Tânia em 26/05/2005
Eu me considero catador de material reciclável e um agente am-
biental, assim porque agente contribui com o meio ambiente, porque 
aquele material que seria despejado no lixão ou Aterro Sanitário que 
prejudica o Meio Ambiente agente ta fazendo outro projeto que é de 
reciclagem e com isto você aumenta a vida útil dos Aterros e evita 
que novas matérias-prima seja retirada da natureza para fazer o 
mesmo produto.
Entrevista com o catador Sebastião em 06/06/2005
Em relação à rota no território do lixo, de acordo com cada um dos 
entrevistados	que	ofereceu	riqueza	de	detalhes	em	suas	respostas,	ficou	
evidente a ocorrência de diversas formas de desvios existentes e as arti-
culações estabelecidas, ora pelos motoristas das carretas e/ou cami-
nhões, ora pelos garis, entre outros poderes mencionados, que realizam 
a comercialização do material potencialmente reciclável que deveria ser 
conduzido diretamente para o aterro, mas é negociado antes de chegar 
no	seu	destino	final.	Deixaram	claro	também	que	é	bastante	confusa	
essa rota e, por vezes, perigosa a interferência para evitar o desvio do 
material, conforme ilustra a seguinte fala:
Bom penso que diversas coisas acontece de lá até aqui, cara, é uma 
rota muito confusa, pois dependendo do material recolhido já sai 
negociado de lá mesmo, porque hoje em dia o motorista já conhece 
o valor do reciclado do lixo, então se ele sabe que aquele material 
que esta carregando tem algum valor automaticamente ele já desti-
na para algum lugar, aqueles que não tem bom conhecimento, mas 
alguém conhece que o material tem valor ele já extravia para o meio 
do caminho para outro lugar, uma série de processos que se ocorre, 
outros por uma questão de não conhecimento ou questão ética não 
destina, mas grande parte fica no meio do caminho.
Entrevista do catador Sebastião em 06/06/05
A catadora Maria Sandra enfoca que:
Aí ele sofre perda nos caminhos é muito desviamento de carro, cada 
um quer ganhar seu tostãozinho, embora não ache correto prefiro 
não falar muito sobre o assunto.
Entrevista catadora Maria Sandra em 03/06/2005
Já os donos de depósitos, quando entrevistados, reconheceram a impor-
tância dos catadores na cadeia industrial de reciclagem, mas procura-
ram	justificar	a	importância	e	a	necessidade	da	existência	da	categoria	
de sucateiros, em razão do material oriundo do aterro ser impuro, e com 
isso existir uma rejeição total das indústrias quanto à compra direta. 
Sua	atividade	consiste	em	beneficiar	este	produto	através	da	limpeza	
e misturá-lo com outros materiais, oriundos de compra procedente da 
atividade de catação nas ruas. Assim vendem para outros atravessado-
res que ainda melhoram mais o material, até chegar à indústria. Outro 
ponto abordado por eles é a existência dos encargos e tributos que por 
vezes os impede de negociar diretamente, “que dirá o catador”.
Bom, o catador é a primeira fase da reciclagem do papel, primeira 
fase é o catador naturalmente que tira o que é aproveitável do lixo, 
tá, a segunda fase é o dono do depósito evidentemente, né, que nós 
fazemos? Damos uma mexida no material de forma que separe o 
que ele catou e não presta que vai voltar para o lixão e beneficiamos 
o que presta, enfardamos e mandamos para o atravessador, isto 
porque o papel do lixão é diferente do papel da rampa por uma série 
de motivos é diferente, porque o material da rua tem um valor e do 
lixão tem outro e este material não pode ser mandado diretamen-
te para a indústria porque ela não aceita em razão das impurezas 
oriundas do lixão, mas para o atravessador que também compra 
papel da rua torna-se vantagem, pois ele mistura 50% de cada e 
além de pagar mais baixo pelo nosso material diminui seu custo e 
ele então manda para indústria e o material é aceito.
Entrevista realizada no Aterro Metropolitano de Gramacho em 09/06/2005 
Sr. Sebastião Luiz – Depósitos 07 e 35
Quanto à rota do lixo, assim como os catadores, todos sabem das tran-
130 jardim gramacho e o território do lixo 131 valéria pereira bastos
sações	comerciais	executadas	antes	de	chegar	ao	vazamento	oficial	–	
Aterro	Metropolitano	de	Gramacho	–,	mas	aceitam	e	chegam	a	afirmar	
que, embora não tenham certeza por não terem sido ameaçados ainda, 
mexer com essa engrenagem pode criar desconforto e perigo de vida. 
Um deles relata:
Já ouvi falar que são pessoas com um tipo de influência, digamos 
em termos de coagir as outras pessoas a fazer isto, os próprios car-
reteiros da comlurb e s/a paulista, talvez não seja para benefí-
cio próprio, mas uma forma de coação senão fizer isto pode aconte-
cer alguma coisa não só com o emprego, mas dependendo da forma 
de quem estiver coagindo a sua própria integridade física.
Entrevista realizada no Aterro Metropolitano de Gramacho em 03/06/2005 
Sr. Gilmar – Depósito 26
Diante dos depoimentos, torna-se evidente que a questão levantada a 
respeito da comercialização e do consequente desvio do lixo antes de 
o	mesmo	chegar	ao	aterro	existe.	Isso	confirma	que	o	catador	é	lesado	
de diversas maneiras, desde a forma como se dá concretamente o tra-
jeto	do	lixo	até	o	seu	despejo	no	destino	final,	e	ainda	na	formação	da	
cadeia industrial de reciclagem – o material que é mais valorizado no 
processo	de	comercialização	não	chega	ao	seu	destino	final	inteiro,	o	
que em muito reduz o ganho daqueles que estão à espera do material 
bruto para separação e venda.
Nesse	cenário,	podemos	afirmar	que	o	território	de	Jardim	Gra-
macho é permeado por questões. Os diversos atores deparam-se diaria-
mente	com	desafios	em	razão	do	negócio	lucrativo	do	lixo,	que	envolve	
cada vez mais um elenco de situações que giram em torno do lucro a ser 
obtido, não importando de queforma ele possa ter sido adquirido.
 Por outro lado, apesar de reconhecerem a existência do desvio e, 
portanto, o furto do seu potencial produto, os catadores de lixo não se 
organizam para o desmonte da rota, preferindo assumir uma atitude 
de acomodação e, consequentemente, resignação diante da realidade. 
Pode-se, diante disso, levantar uma questão: qual seria o poder efetivo 
que teriam os catadores para alterar esse estado de coisas?
Além disso, os depoimentos permitiram abrir um leque de infor-
mações sobre fatos que obstaculizam e impedem o catador de partici-
par da cadeia produtiva como agente de parte do negócio e, com isso, 
usufruir dos lucros. Possibilitou, ainda, olhar para além da forma per-
versa utilizada no capitalismo para lidar com essa mercadoria especí-
fica	e	permitiu	vislumbrar	a	necessidade	de	aprofundar	a	discussão	e	
a	reflexão	sobre	a	questão	da	formação	e	da	organização	da	categoria	
de catadores.
Aproximamos o olhar, neste momento em que o catador passa 
por esse processo injusto de não participação na cadeia produtiva, do 
estudo desenvolvido por Paugam (2003), a respeito do processo por ele 
denominado	de	desqualificação	social.	Esse	fator	tem	relação	direta	
com o processo de precarização do trabalho e, também, de ausência de 
qualificação,	que	por	vezes	leva	o	trabalhador	ao	desemprego	e,	conse-
quentemente, ao processo de exclusão social, aqui reconhecida como 
a nova exclusão, que tem características à luz do mundo globalizado, 
onde o avanço tecnológico e a automação dos serviços se fazem presente 
e empurram cada vez mais os indivíduos para a informalidade.
O	autor,	ao	apontar	o	estado	de	desqualificação	social,	identifica	
ainda diferentes tipos de indivíduos. No caso dos catadores, acreditamos 
que	estejam	inseridos	na	qualificação	de	marginalizados	organizados,	
visto que participam de um contexto cultural tolerável em um espaço 
controlado pela experiência das trocas das atividades cotidianas e, às 
vezes, graças aos recursos do imaginário (Paugam, 2003, p. 177).
Inserimos o catador de lixo nesse contexto, onde foi possível iden-
tificá-lo	como	aquele	que,	por	se	sentir	excluído	do	acesso	a	melhores	
condições de trabalho, até mesmo de usufruir de bens e serviços como 
qualquer cidadão, desenvolveu uma cultura voltada para a submissão, 
naturalizando esta condição de modo a considerar que a exploração de 
sua mão-de-obra em todos os sentidos é muito normal. Conforme àlguns 
depoimentos colhidos nas entrevistas que realizamos, para eles é muito 
difícil chegar próximo às grandes indústrias. Com isso, a negociação 
fica	sempre	não	mão	dos	sucateiros,	ou	seja,	daqueles	que	dominam	o	
“mundo dos recicláveis” através do poder do dinheiro.
 Bibliografia
bauman, Zygmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.
cortizo. Maria Del Carmen; OLIVEIRA, Adriana Lucinda. A economia solidária 
como espaço de politização. in: Serviço Social e Sociedade, São Paulo, Cortez, 
v.25, n.80, nov. 2004.
expo brasil. Desenvolvimento local. Disponível em: Acesso em: 29 maio 2007.
ibase. Diagnóstico social: bairro Jardim Gramacho. Rio de Janeiro: IBASE, ago 
2005. Mimeo.
koga. Cidades territorializadas entre enclaves e potências. 2001. Tese de 
Doutorado. (Programa de Pós-Graduação em Serviço Social). Pontifícia 
Universidade Católica. São Paulo, 2001.
pinto, Lucia Luiz. Diagnóstico sobre a situação atual do aterro metropolitano de 
Jardim Gramacho. Duque de Caxias: S/A Paulista, nov. 2004. Mimeo.
santos, Milton; silveira, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início 
do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2006.
________. Por uma globalização: do pensamento único à consciência universal. 
14.ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.
velloso, Marta Pimenta. A Atividade e Resíduos Resultantes da Atividade 
132 jardim gramacho e o território do lixo 133 valéria pereira bastos
Humana: da produção do lixo a nomeação do resto. Tese de Doutorado. 
(Programa de Pós-Graduação em Saude do Trabalhador). Fundação Oswaldo 
Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública. Rio de Janeiro, 2004.
Valéria Pereira Bastos
É doutora em Seviço Social. Suas áreas de pesquisa são meio ambiente, estu-
dos culturais e desenvolvimento sustentável. Atualmente é professora da Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro (puc-Rio). Sua experiência é com ênfase 
em trabalho social voltado para o meio ambiente com catadores de materiais reci-
cláveis, atuando principalmente nos seguintes temas: identidade, trabalho, exclu-
são social, políticas sociais e contemporaneidade.
 vbastos@puc-rio.br
134 jardim gramacho e o território do lixo 135
No dia 6 de dezembro de 2008, o nima realizou a cerimônia de encer-
ramento do projeto Educação Ambiental: formação de valores ético-am-
bientais para o exercício da cidadania no município de Duque de Caxias. 
O encontro aconteceu no Pólo Avançado da puc-Rio, o Instituto São 
Bento, em Duque de Caxias, e contou com a participação de represen-
tantes de todas as esferas do projeto. O objetivo do evento foi proporcio-
nar um espaço de troca, onde todos os participantes pudessem conhe-
cer os trabalhos realizados ao longo do semestre.
Durante a abertura da cerimônia, os representantes da puc-Rio, 
da Diocese de Duque de Caxias, da Prefeitura de Duque de Caxias, da 
Petrobras e do nima destacaram a importância da realização de um pro-
jeto como esse que, além de respaldar professores da rede municipal 
no desenvolvimento da educação ambiental a partir de uma abordagem 
local, ainda promove uma integração entre universidade, escola e socie-
dade. Como foi ressaltado por um participante, a mudança de postura 
que o atual quadro ambiental e social exige passa inexoravelmente pela 
educação ambiental, essa maneira holística de transmitir conhecimento 
ao	mesmo	tempo	em	que	se	afirmam	valores.
Após	a	entrega	de	certificados	aos	professores	municipais	de	
Duque de Caxias, ocorreram as apresentações dos projetos desen-
volvidos por eles em suas respectivas escolas. Através dessas exposi-
ções	ficou	claro	que	a	educação	ambiental	já	era	abordada	na	maioria	
das instituições, através de temas como reciclagem, aproveitamento 
integral dos alimentos, uso consciente da água e reaproveitamento de 
materiais. O que nos mostrou, mais uma vez, a importância dessa ini-
ciativa que busca a integração e a complementação dos trabalhos rea-
lizados	nas	escolas	com	o	conteúdo	acadêmico	e	científico	trazido	pela	
universidade. 
O número de trabalhos apresentados na tentativa de ilustrar de 
forma didática os resultados obtidos, assim como o nítido empenho 
dos professores em realizá-los, mostraram o tamanho da necessidade 
de se trabalhar com esse tema e a vontade que crianças e adultos têm 
de sentirem que estão fazendo a sua parte na conservação do planeta. 
Projetos como Os agentes pedagógicos ambientais, desenvolvido pela 
Escola Municipal Guadalajara, serviram como exemplo de que é possí-
vel envolver alunos, pais e professores em atividades lúdicas que utili-
zam a sensibilidade para transmitir conhecimento.
O término da primeira etapa do projeto Educação Ambiental: for-
mação de valores ético-ambientais para o exercício da cidadania garantiu 
grande satisfação a seus executores, uma vez que mostrou o interesse 
crescente da sociedade pela educação ambiental, assim como o valor da 
união de instituições públicas e privadas na articulação de resultados 
efetivos em prol do desenvolvimento social e ambiental.
Por	fim,	é	necessário	salientar	que	o	presente	projeto	se	configura	
como uma importante mediação na divulgação e concretização da Lei 
n.9795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Edu-
cação Ambiental, tanto nos aspectos formais como informais.
encerramento
Pátio interno do Instituto São Bento136 137
Eu diria que nesse dia nós temos dois 
sentimentos. Primeiro, uma alegria e 
a esperança… A alegria de poder tra-
duzir aquilo que nós temos no brasão 
da nossa universidade, um brasão que 
tem duasasas… o quanto é importante 
saber que essas asas conseguiram voar 
lá da Zona Sul até Caxias.
Padre Josafá Carlos de Siqueira 
Vice-Reitor da puc-Rio
Outro dia li uma frase que eu achei inte-
ressante… “Nós não herdamos o pla-
neta dos nossos pais, nós o tomamos 
emprestado	dos	nossos	filhos”.
Arcebispo Dom José Francisco 
Rezende Dias 
Arquidiocese de Duque de Caxias 
e São Jõao de Meriti
Vocês poderão nos ajudar a extender 
esse sonho, para que a realidade da 
Baixada, do recôncavo da Guanabara, 
cada vez mais possa ter sua própria 
formação.
Doutor Celso Pinto Caris 
Professor do Departamento de Teologia 
da puc-Rio e do Instituto São Bento
Efetivamente, a gente só vai conse-
guir transformar o quadro caótico e crí-
tico que o planeta vive através de uma 
mudança de postura. Isso passa ine-
xoravelmente por uma coisa chamada 
Educação Ambiental.
Ronaldo Chaves Torres 
Representante da Petrobras
O grande sentido de estarmos aqui é 
fazer uma grande parceria entre todos. 
Não viemos aqui pensando em ensinar 
nada a ninguém, viemos com a intenção 
de trocar coisas.
Professor Luiz Felipe Guanaes Rego 
Diretor do NIMA
138 139
Adriana Ambrozio Venâncio da Silva (Biologia)
Pré-Iguaçu
Adriana de Araújo Maia (Biologia)
e. m. General Mourão Filho
Adriana Olivia Briata da Conceição (Ciências)
Escola Estadual Álvaro Negromonte
Ana Lúcia Teixeira	(Geografia)
e. e. Hervalina Diniz Freire
Andrea Nunes da Silva (Orientação Educacional)
e. m. Carmem Corrêa dos Reis Brás
Angélica F. de Santana Guedes (Pedagogia) 
e. e. Álvaro Negromonte
Aureo Ferreira Muri (Ciências)
ciep 338 (Municipalizado Célia Rabelo)
Bruna C. S. Lima (Ciências Biológicas) 
Unigranrio
Carlos José Alves (Ciências)
e. m. Roberto Weguelin de Abreu
Cátia Cristina Rodrigues da Silva
Claudia Regina Siqueira do Carmo (Ciências) 
Escola Vilela Fernandes
Claudia Souto Vieira da Silva
(Ciências Físicas e Biológicas) 
ciep 113 – c. f. Nogueira Mineiro
Cidvaldo Victor Cavalcanti (Educação Artística)
e. m. Anton Dworsak
Cristiane Santos da Silva (Ciências e Biologia) 
Colégio Estadual Fernando Figueiredo
Cristina Maria da Silva	(Geografia)
e. m. Presidente Costa e Silva
Denise de Oliveira Silva
Deusilene Soares Ferreira (Ensino Básico)
e. m. Professora Amélia Câmara dos Santos
Dilza Lima Santos	(Geografia)
ciep 340 – Profª Lais Martins
Doti Gay Pinto (Ciências)
e. m. Expedicionário Aquino de Araújo
Elisabete Santos Peixoto da Silva	(Geografia)	
e. e. Frei Henrique de Coimbra
Fabiana Pereira Policarpo (Disciplina Integrada)
e. m. Professora Amélia Câmara dos Santos
Giuseppina Adelia Briata Leiros (Pedagogia) 
e. e. Álvaro Negromonte
Helenita Maria Beserra da Silva (História) 
e. e. Guadalajara
Ivana Maria Dias (Ciências/Biologia)
e. e. Álvaro Negromonte
José Antonio Casais Casais (Ciências)
e. m. Carmem Correa
Katya de Oliveira Vieira (Ciências)
e. m. Evlina Pinto de Barros
Lenise de Oliveira Paiva (Sociologia)
Centro de Referência de Assistência Social
Leodegário Baptista Cordeiro (Ciências)
e. m. Expedicionário Aquino de Araújo
Lídia de Sá Reis (Educação Ambiental)
Coordenadoria Regional Metropolitana V
Lizangela Reis Santana (Educação Infantil)
Casa da Criança Esperança do Futuro
Luciana Ambrozio Venâncio da Silva
(Geografia	e	História) 
Colégio Flama 
Centro Educacional Nogueira Mineiro
Professores da rede municipal 
de Duque de Caxias que 
participaram do projeto
continua na página seguinte141
Apresentações
Visões de Meio Ambiente dos alunos do 6º ano
 José Antonio Casais Casais
Escola, meio ambiente e profissão 
 Ivana Maria Dias
 Giuseppina Adriana Briata Leiros 
 Vera Lúcia Pífano da Cruz
Conhecendo as riquezas do Bairro São Bento
 Simone Côrtes Rodine 
 Claudia Regina Siqueira do Carmo 
 Vera Lucia Pifano da Cruz
Educação ambiental a partir de 
tendas educaticas 
 Maria Bernardete Amarante Fonseca
Projeto sobre mina de água
 Luciana Ambrozio Venâncio da Silva
Projeto plantando vidas
 Leodegário Baptista Cordeiro
Entrevistas sobre a qualidade da água 
 Lídia de Sá Reis
Direito à vida 
 Maria Mônica Sarandy
Políticas públicas em educação ambiental
 Leane Rodrigues Martins
Acampamento e apresentação de raps
elaborados pelos alunos do 7º ano 
 Elisabete Santos Peixoto da Silva
Lixo: restos nos interessam
 Silvania Rodrigues Maciel
Projeto água: qual futuro que queremos?
 Nelson Barroso da Conceição
Esperança do Futuro
 Margarida Maria da Silva Ribeiro 
 Lizangela Reis Santana
Reciclagem 
 Suely dos Santos Cozendey
Trabalho confeccionado por alguns alunos 
com a técnica de mosaico 
 Suely dos Santos Cozendey
Mina de água
 Claudia Souto Vieira da Silva 
 Luciana Ambrozio Venâncio da Silva 
 Rosane Rangel da Costa
Apresentação de cartazes com desenho dos 
alunos sobre a importância da preservação 
da natureza.
 Cidvaldo Victor Cavalcanti
 Andrea Nunes da Silva
Marcelen Chagas do Amaral (Pedagogia)
Colégio Flama
Margarida M. da Silva Ribeiro (Educação Básica)
Casa da Criança Esperança do Futuro
Maria Bernadete Fonseca Amarante
Maria Mônica Sarandy (História)
e. e. Alemy Tavares da Silva
Marineth Muiz Lyra Cordeiro de Almeida
Marisa Sanche (Ciências)
Escola Equipe Infantil – sme
Maristela dos Santos de Oliveira
Marta de Souza Golçalves (Língua Portuguesa) 
ciep 199 – Charles Chaplin
ciep 218 – M. Hermes Lima
Nelson Barroso da Conceição (Biologia)
Secretaria de Meio Ambiente
Paulo Pedro da Silva (História)
e. m. Professor João Faustino
Regina Célia da Silva
Ricardo Bustamante da Silva (Geografia)
Escola Aquino de Araújo
Rômulo Lima Ayres	(Geografia	e	História)
ciep 404
Rosânea Luxidi Duarte da Costa (Ciências) 
e. m. Dr. Ely Combat
Sideli Vieira Maia	(História	e	Geografia)
Coordenadoria Regional Metro V
Sidney Nascimento Nunes (Biologia)
Agência Nacional do Petróleo
Silvania Rodrigues Maciel (Biologia)
ciep 434 – Maria Jose Machado
Silvia Regina Bastos Souza	(Geografia)
crrmv
Simone Côrtes Rodine	(Geografia)
e. m. Vitela Fernandes
Suely dos Santos Cozendey (Química)
e. e. Frei Henrique de Coimbra
Taciane Peixoto da Silva
Vera Lucia Pifano da Cruz (Ciências e Biologia)
e. m. Expedicionário Aquino de Araújo
e. m. Nisla Vilela Fernandes
continuação da página anterior
142 143
Exposição 
de trabalhos
144 145
Créditos
Da esquerda para a direita: Roosevelt, Rogério, Júlia, Sabrina, Rosana (abaixo), Marcelo, 
Ana Clara (abaixo), Ilana, Luiz Felipe, Camila (sentada), Rita, José Miguel, Regina, Cláudia.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Prof. Pe. Jesus Hortal Sánchez, S.J. — reitor
Prof. Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S.J. — vice-reitor
 CCS – Centro de Ciências Sociais
 Prof. Luiz Roberto Azevedo Cunha — decano
 Prof. Nizar Messari — coordenador setorial de pós-graduação e pesquisa
 Profª. Daniela Trejos Vargas — coordenadora setorial de graduação
 NIMA – Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente
 Luiz Felipe Guanaes Rego — diretor
 Fernando Cavalcanti Walcacer — vice-diretor
 Camila Tati Pereira da Silva Barata
 Ilana Parga Nina de Oliveira
 Daise dos Santos Mendonça
 Guilherme Moreira
 Marcelo Luiz Guedes Fonseca
 Ana Clara Matos Carneiro Barbosa Pinto
 Rosana Cristine Machado de Oliveira 
 Julia Pereira
 Professores
 Alvaro Henrique de Souza Ferreira
 Augusto César Pinheiro da Silva
 Josafá Carlos de Siqueira
 Regina Célia de Mattos
 Rita de Cássia Martins Montezuma
 Rogério Ribeiro de Oliveira
 Virgínia Totti Guimarães
 Valéria Pereira Bastos 
Coordenação editorial 
Luiz Felipe Guanaes Rego
Elizabeth Grandmasson
Felipe Kaizer
Textos
Introdução (p.??)
Roosevelt Fideles de Souza
Marcelo Luiz Guedes Fonseca
Trabalhos de campo (p.?? – p.??)
Camila Tati Pereira da Silva Barata
Marcelo Luiz Guedes Fonseca 
Mapas (p.?? – p.??)
Guilherme Moreira
Marcelo Luiz Guedes Fonseca
Encerramento (p.?? – p.??)
Ilana Parga Nina de Oliveira
Revisão 
Luciana Werner
Projeto gráfico & Diagramação 
Felipe Kaizer
Escritório Modelo de Arquitetura e Design:
Níkolas Pereira (assistente)
Bruno Senise (assistente)
Rodrigo Martins (assistente)
Produção GráficaPortas Design:
Karla de Souza
Roberta Portas
Imagens
Todas as imagens foram produzidas 
pelo NIMA, exceto:
Agência O Globo (p.??)
Produçâo do vídeo
Julio Uchoa
Adriana Guanaes
Sabrina Gortz Carauta de Souza
Web
Paulo Dreyer Marques
Adriana Lessa Garcia
Petrobras
Ricardo Santos Azevedo
Ronaldo Chaves Torres
Prefeitura de Duque de Caxias
2008 
Washington Reis de Oliveira — prefeito
José Miguel da Silva — secretário de meio ambiente
 
2009
José Camilo Zito dos Santos Filho — prefeito
Samuel Maia dos Santos — secretário de meio ambiente
2009
146 147Ambiental (zeia) n°9, denominada Parque Glicé-
rio. De acordo com os representantes da Secretaria de Meio Ambiente, 
a área do Parque será cedida pela União, pois pertence ao Ministério 
da Marinha. A intenção da prefeitura é implementar ali um parque com 
atribuição de parque urbano para lazer e prática de esportes, de caráter 
municipal regional. A área está completamente descaracterizada, com 
alto grau de degradação e poluição dos canais que a cortam. Devido à 
fiscalização	da	Marinha,	parte	da	área	onde	será	o	parque	não	sofreu	
processo de invasão e de favelização como aconteceu com outras áreas 
do entorno, que além da ocupação irregular recebem ilegalmente o des-
pejo de lixo e de entulho de obras. A favela Dois Irmãos, fronteiriça com 
o parque, faz parte do complexo da favela Beira-Mar. Segundo os inte-
grantes da secretaria, algumas ocupações irregulares serão removidas 
para a construção do parque municipal. 
Em seguida, paramos na Rodovia Washington Luis, em frente à 
construção de um shopping center que será o maior do município. A 
mesma empresa responsável pela construção do shopping tem a inten-
ção de erguer um condomínio de luxo em frente ao empreendimento, 
no	trecho	ao	lado	do	parque	gráfico	do	jornal	O	Globo.	Trata-se	de	uma	
área de manguezal, ou seja, área de proteção permanente, de acordo 
com a legislação.
24 25
Campos Elíseos
Morro do Céu
No segundo distrito, o grupo dirigiu-se para a parte mais elevada do 
bairro de São Bento, chamada Morro do Céu, onde visualizou a exten-
são da Área de Proteção Ambiental (apa) São Bento. No alto do Morro 
do Céu foi possível observar não só os limites da apa São Bento, como a 
parte	que	apresenta	ocupação	irregular,	deflagrando	problemas	de	ordem	
fundiária. Também foram observadas áreas de extração irregular de sai-
bro. Essa extração provocou a diminuição de alguns morros, alterou o 
regime de ventos e o microclima da região. A área mostrada é uma planí-
cie alagada, uma característica natural de toda região do município que 
se	encontra	no	entorno	da	Baía	de	Guanabara.	O	afloramento	do	lençol	
freático vindo dos maciços circundantes e a própria cota altimétrica que, 
em alguns lugares, está abaixo do nível do mar, faz com que o alagamento 
de áreas de planície seja um processo natural.
Vista do Morro do Céu, no Bairro São Bento
26 27
Vista da Caixa D’Água
Campos Elíseos
Caixa D’Água 
O outro ponto visitado no segundo distrito foi a zeia 06 da Caixa 
D’Água, que recebeu esse nome pelo fato de haver uma caixa d’água 
abandonada no topo de um de seus morros. Segundo informações da 
própria Secretaria de Meio Ambiente, já estaria em andamento o pro-
cesso de homologação para transformar a zeia numa Área de Proteção 
Ambiental. A Secretaria tem planos de aproveitar a própria estrutura 
da caixa d’água para construir um mirante com salas para palestras e 
debates. A obra abandonada é cercada por vegetação bastante desca-
racterizada, apresentando alto nível de degradação, com alguns resquí-
cios	de	reflorestamento	feito	anteriormente	pela	própria	Secretaria.	Foi	
possível observar que a área em torno da futura apa, na base dos mor-
ros, é ocupada por casas da classe média do município. A equipe rece-
beu explicações sobre o motivo da região não ser aconselhável para a 
ocupação urbana: no verão, a área é frequentemente alagada devido à 
dinâmica	de	afloramento	de	lençol	freático	vindo	dos	maciços	circundan-
tes. Na ocasião dessa visita a equipe tomou conhecimento da intenção 
da secretaria de acelerar o processo de homologação da apa da Caixa 
D’Água, para revitalizar a área e iniciar logo os projetos que visem recu-
perar o ecossistema local.
Três meses mais tarde, realizamos com os alunos do projeto uma 
segunda visita, no dia 29 de novembro, ao recém emancipado Parque 
Natural Municipal da Caixa D’Água. A apa havia sido homologada na 
semana anterior à visitação. O representante da Secretaria de Meio 
Ambiente	expôs	os	principais	desafios	para	a	área,	destacando	a	neces-
sidade	de	reflorestamento	com	espécies	nativas	e	de	fiscalização.	Nessa	
visita com a equipe e os professores, observamos que é fundamental a 
presença do poder público na gestão dessas áreas. A prefeitura havia 
demolido no local uma construção irregular do que seria uma rádio 
pirata. Vimos que, em apenas três meses de intervalo entre a primeira 
visita e essa, a ausência da intervenção de órgãos gestores da prefei-
tura facilitou a construção irregular. Mas, de acordo com os represen-
tantes da Secretaria de Meio Ambiente, com a homologação do Parque 
Natural	Municipal	da	Caixa	D’Água	haverá	fiscalização	constante	para	
evitar irregularidades futuras no local.
28 29
Imbariê
Parque Municipal da Taquara
No terceiro distrito, Imbariê, seguimos para a zeia n°1, a Unidade de 
Conservação de Proteção Integral Parque Natural Municipal da Taquara. 
A área total do Parque é de aproximadamente 20,8 hectares. Localizado 
no	corredor	ecológico	que	fica	no	meio	da	Serra	dos	Órgãos,	da	apa 
Petrópolis e da Reserva do Tinguá, o Parque Municipal da Taquara apre-
senta uma variação de vegetação que abrange áreas de pasto, vegetação 
secundária	e	Floresta	Ombrófila,	sendo	que	esta	ocupa	a	maior	parte	do	
parque, que chega a receber quatro mil pessoas nos dias de tempo bom, 
segundo os integrantes da Secretaria de Meio Ambiente. São moradores 
do município, da Baixada Fluminense e de cidades vizinhas, que visi-
tam	o	local	para	admirar	suas	quedas	d’água,	sua	rica	fauna	e	a	flora	
de espécies da Mata Atlântica. Dentro da área do parque, na sua parte 
baixa	próxima	à	entrada,	há	cantinas	que	servem	refeições	nos	finais	
de semana, além de um espaço com churrasqueiras. Algumas famílias 
moram	dentro	do	parque,	onde	criam	animais	domésticos	e	fizeram	um	
lago	artificial.	O	parque	possui	um	rio	principal,	o	Rio	Taquara,	que	
corta parte do terreno. 
30 31
O Parque da Taquara será ampliado com a incorporação de uma área 
anexa que foi cedida pela fábrica de tecidos Nova América. A área pos-
sui um reservatório de água desativado, que servia à fábrica, e que em 
dias de verão chega a receber uma média de cinco mil pessoas. Ele 
será reativado pela cedae para captação, tratamento, e distribuição. 
Esse fato gera uma preocupação ao poder público, pois, se o reserva-
tório for reativado, seu uso será vetado à população local, o que pode 
causar	conflito	com	os	moradores	que	já	incorporaram	a	represa	como	
área de lazer.
Realizamos uma segunda visita ao parque, no dia 29 de novembro, com 
a presença dos alunos do projeto. Visitamos os pontos mais importan-
tes do parque e ouvimos explicações do representante da Secretaria 
sobre os principais problemas enfrentados pela administração. Um dos 
exemplos	foi	a	fiação	elétrica	que	passa	dentro	do	parque,	que	eventu-
almente	provoca	a	morte	de	uma	espécie	de	mico.	A	fiação	serve	para	
levar energia elétrica para algumas casas em torno da área do parque. 
Discutimos, então, o fato de os órgãos públicos ambientais terem que 
pressionar	a	empresa	responsável	para	que	torne	subterrânea	a	fiação,	
dando continuidade ao abastecimento de energia sem causar impacto 
aos animais do parque.
32 33
Xerém
Cidade dos Meninos
A Cidade dos Meninos (Zona Especial de Interesse Ambiental, zeia 14) 
é assim chamada pois ali existia, desde a década de 1940, um complexo 
de internatos voltado para menores carentes. Em 1947, a área passou a 
albergar o Instituto de Malariologia, que produzia para exportação pes-
ticidas organoclorados, utilizados no controle de endemias transmitidas 
por vetores de malária, febre amarela e doença de Chagas. Com a desa-
tivação da fábrica na década de 1960, aproximadamente 400 toneladas 
de pesticidas foram abandonadas, o que acabou causando a contami-
nação dos arredores. Os resíduos desse foco principal de contaminação 
foram disseminados por via aérea, águas pluviais e, principalmente, por 
meio do carregamento mecânico para utilização em aterros e aplicação 
como agrotóxicos, segundo relatos de moradores.Esses são os focos 
secundários de contaminação e estão distribuídos aleatoriamente pela 
região, sendo também objeto de estudos já realizados.
O problema da contaminação ambiental e o seu potencial risco à 
saúde humana ganhou evidência a partir de 1989, quando a imprensa 
noticiou a venda dos pesticidas em feiras livres de Duque de Caxias.
Devido à contaminação, a área não pode ser utilizada para produ-
ção de nenhum alimento, seja ele de origem animal ou vegetal. Apesar 
disso, é possível observar pequenas hortas de subsistência e animais 
de criação como gado, galinhas, porcos e cavalos. Existe interesse da 
prefeitura de utilizar parte da área para a construção de uma usina de 
reciclagem de lixo, uma vez que o Aterro Sanitário de Gramacho encon-
tra-se em processo de encerramento de suas atividades. Vale ressaltar 
que a Cidade dos Meninos continua sendo um dos maiores passivos 
ambientais do município. 
Em seguida, no entorno da Cidade dos Meninos, paramos no ponto 
de abastecimento de água para os carros-pipa que estão a serviço do 
município. Os integrantes da Secretaria Municipal ressaltaram a qua-
lidade da água e a necessidade de regulamentar a captação, tendo em 
vista o abastecimento ilegal de caminhões-pipa.
34 35
Xerém
rebio Tinguá
A zeia n°15 – Unidade de Conservação de Proteção Integral – Reserva 
Biológica de Tinguá está situada na Serra do Mar, no Estado do Rio de 
Janeiro, nos fundos da Baixada Fluminense. Abrange os municípios de 
Nova Iguaçú, Caxias, Petrópolis, Miguel Pereira e Vassouras. É consi-
derada Patrimônio da Biosfera pela Unesco desde 1992. 
Junto com a equipe da Secretaria de Meio Ambiente, utilizamos 
um dos acessos para a rebio, localizado no 4°distrito. Após passarmos 
por um caminho já dentro da reserva, chegamos a uma área às mar-
gens do Rio Registro, um dos rios que cortam aquela parte da reserva. A 
área é aberta e pudemos observar a presença de churrasquerias impro-
visadas, constatando que a área é utilizada para churrascos e outras 
atividades pelos moradores do entorno e demais visitantes. Segundo 
informações da Secretaria, nos meses de verão a reserva chega a rece-
ber	cerca	de	três	a	quatro	mil	pessoas	nos	fins	de	semana.	Infelizmente,	
percebemos que, tanto no caminho de acesso como na área à margem 
do Rio Registro, havia uma quantidade considerável de lixo deixada 
pelos visitantes. Sobre o rio há uma tubulação de água e uma ponte de 
ferro, que está em péssimo estado de conservação e não oferece segu-
rança. A ponte dá continuidade ao caminho anterior, cortando a Mata 
Represa de Calombé no Rio Registro
Atlântica nativa – que, infelizmente, também apresenta um pouco de 
lixo (garrafas Pet, pacotes de biscoito, copos plásticos etc.) – e levando 
até a Represa do Calombé, no Rio Registro, atualmente fora de ope-
ração. A represa servia para abastecimento da reduc, mas, devido a 
problemas na qualidade da água, foi desativada. Os representantes da 
Secretaria de Meio Ambiente ressaltaram o interesse de reativar o sis-
tema de captação de água, junto à reduc, para abastecimento de dife-
rentes áreas do município. 
O local de represamento forma um lago e possui uma beleza cênica 
que impressionou a todos da equipe. Segundo informações dos represen-
tantes da Secretaria de Meio Ambiente o lago da represa é muito requi-
sitado para banho pelos visitantes, principalmente no verão. Concor-
damos que essa questão da entrada de pessoas na reserva, para banho 
e outras atividades, deve ser levada em consideração na formulação do 
seu Plano de Manejo, já que, de acordo com o Sistema Nacional de Uni-
dades de Conservação, o snuc (lei 9.985/2000), a rebio Tinguá está 
inserida na categoria de Unidades de Conservação de Proteção Integral. 
Nessa categoria, é proibida a visitação pública, exceto aquela com obje-
tivo	educacional,	de	acordo	com	regulamento	específico.
36 37
Xerém
Barragem Saracuruna
A	Barragem	Saracuruna	também	fica	dentro	da	zeia nº 15, a Reserva 
Biológica (rebio) de Tinguá. A represa de Saracuruna foi construída 
entre 1960 e 1962, com o objetivo de substituir a já existente barragem 
de Registro no fornecimento de água bruta para a reduc. A represa 
de Saracuruna conta com uma área de 43 km² e está dividida em duas 
partes. A parte superior da bacia é compartilhada com a cedae, que 
tem prioridade para as captações do sistema Acari. A porção inferior 
da	bacia	fica	à	jusante	do	ponto	de	captação	da	cedae. Devido à sua 
localização dentro da Reserva Biológica de Tinguá, tem seus mananciais 
preservados da ocupação e exploração irregular, o que garante às suas 
águas uma boa qualidade. 
 A barragem foi feita pela reduc e está desativada há alguns 
anos. O caminho não é de fácil acesso, pois passa por algumas áreas 
alagadas. Em seu entorno, a represa conta com espécies nativas e exu-
berante vegetação de Mata Atlântica, assim como com áreas de cla-
reira com vegetação rasteira. Todos concordaram que a represa foi o 
lugar mais impressionante visitado pela equipe no município de Duque 
de Caxias. Apesar de possuir um enorme potencial de uso como área 
de lazer, de contemplação, de conservação e de educação ambiental, a 
represa é considerada pela equipe da Secretaria de Meio Ambiente como 
o maior passivo ambiental do município atualmente.
 Logo após, seguimos para a entrada da represa Mantiqueira, admi-
nistrada pela cedae, e que, junto com a represa Boa Esperança, abas-
tece o Sistema Acari, no município vizinho de Belford Roxo.
27 de setembro
A relação do homem com a natureza é tão 
intrínseca que muitas das vezes não perce-
bemos que somos natureza tanto orgânica 
como socialmente, a segunda natureza, se é 
que podemos separar essas dimensões.
Regina Célia de Mattos
11 de outubro
Eu pretendo fazer um trabalho dialógico, ou 
seja, trocar experiências e tentar caracterizar 
a	Geografia	como	ciência	que	trabalha	com	
as demandas dos diferentes territórios do 
espaço	geográfico.
Augusto César Pinheiro da Silva
A visão da realidade local tem que estar 
acima de todas as coisas para que você 
possa pautar o técnico. Se você chegar só 
com a visão acadêmica, você se quebra. É 
preciso associar as duas visões.
Wilson A. Leal Boiça
Eu entendo a cidade como um ecossis-
tema. E eu não consigo pensá-la isolada de 
nenhum outro ambiente, qualquer que seja a 
distância entre eles.
Rita de Cássia Martins Montezuma
A educação ambiental deve gerar conhe-
cimentos que sirvam à toda sociedade. 
Gerando mudanças na qualidade de vida 
e maior consciência na conduta pessoal, 
comunitária e populacional.
Roosevelt Fideles de Souza
A situação atual é curiosa porque não exis-
tem mais problemas de técnica na questão 
ambiental,	mas	sim	dificuldades	comporta-
mentais – vivemos uma crise ética.
Luiz Felipe Guanaes Rego
AULAS
38 39
Os espaços “vazios” são cheios de valores e 
significados	para	a	vida	do	município.
Rogério Ribeiro de Oliveira
25 de outubro18 de outubro
Do ponto de vista da sustentabilidade, o 
encerramento do Aterro de Gramacho é bom 
para todo mundo. É bom para o bairro, é 
bom para os catadores, é bom para o traba-
lho de organização que a gente faz.
Valeria Bastos
O que é a cidade? Vocês já pararam para 
pensar que nós usamos as palavras ‘cidade’ 
e ‘urbano’ como sinônimos? Será que elas 
não diferem em nada?
Alvaro Ferreira
O objetivo maior do Direito Ambiental é pro-
teger e preservar o meio ambiente.
Virgínia Totti Guimarães
40 41
MAPAS
O	espaço	geográfico	é	o	espaço	construído	ou	transformado	pelo	homem,	
sendo composto por elementos naturais e elementos antrópicos que 
interagem entre si. Esse espaço é uno e indivisível, formado por objetos 
e sistemas convergentes e/ou divergentes, concretos ou não. Para enten-
dê-lo, apesar de seus elementos serem indissociáveis, existem métodos 
que permitem que o dividamos em temas. Esses temas que compõem 
o	espaço	geográfico	podem	ser	representados	graficamente	através	dos	
mapas.
A interação entre os mapas que representam os elementos (temas) 
quecompõem um determinado espaço permite a melhor compreen-
são	do	mesmo,	suas	especificidades,	similaridades	e	interações	com	o	
entorno e o mundo.
Vivemos, hoje, a era da imagem, da tv, da internet, da telefonia 
celular e das informações instantâneas. Há uma supervalorização da 
linguagem	gráfica,	da	qual	a	cartografia	e	os	mapas	fazem	parte,	sendo,	
portanto, de suma importância o seu uso como facilitador para o enten-
dimento dos mais diversos espaços e suas relações.
O	mapa	é	uma	representação	do	espaço	geográfico	em	um	plano	
que se vale de códigos (imagens e símbolos) para indicar as feições pre-
sentes. Para usá-lo (lê-lo) é necessário a compreensão de alguns con-
ceitos que são trabalhados na escola. Esse conjunto de conceitos é 
chamado de “elementos do mapa” e seu aprendizado é denominado “alfa-
betização	cartográfica”.	Isso	mesmo,	na	escola	não	aprendemos	somente	
a ler e a escrever, mas devemos também aprender a ler mapas! 
Os elementos básicos que compõe um mapa são: o título, a sim-
bologia	(representação	gráfica),	o	sistema	de	coordenadas	e	de	projeção,	
a legenda, a orientação, a fonte e a data da informação representada, 
a escala e o autor.
 Elementos dos mapas
Título	—	Define	a	área	geográfica	e	o	tema	representado.
Escala — Demonstra a relação entre o tamanho do espaço contido no 
mapa e as distâncias reais correspondentes no terreno.
Simbologia (representação gráfica)	—	Permite	a	codificação	da	realida-
de	através	de	cores	e	símbolos	gráficos	expressos	nos	mapas.
Sistema de coordenadas e de projeção — Através das coordenadas é 
possível localizar a área representada no mapa no Planeta Terra. 
Existem vários sistemas de coordenadas que permitem a loca-
lização precisa de um ponto qualquer na superfície terrestre. 
Dentre	eles	o	mais	usual	é	o	denominado	Coordenadas	Geográfi-
cas (latitude e longitude).
 A elaboração de uma mapa consiste em um método segundo o 
qual se faz corresponder a cada ponto na superfície da Terra, em 
coordenadas	geográficas,	um	ponto	no	mapa,	em	coordenadas	
planas. Para se obter essa correspondência utilizam-se os siste-
mas	de	projeções	cartográficas.
Legenda	—	Identifica	as	convenções	utilizadas	para	representar	os	
elementos contidos no mapa, permitindo a leitura das geome-
trias contidas no mapa. 
Orientação — Através da rosa-dos-ventos é feita a orientação dos 
mapas, indicando o Norte. Nela, a orientação Norte-Sul é consi-
derada sobre qualquer paralelo e a orientação Leste-Oeste, sobre 
qualquer meridiano. 
Fonte — Indica quem gerou a informação representada ou, em alguns 
casos, quem fez o mapa. 
Data da informação representada — Indica quando o mapa foi feito ou 
quando a informação representada foi adquirida.
Autor — Indica quem foi responsável pela elaboração do mapa.
2,50 5 km
22°30'S
4342
 Novas tecnologias, mapas interativos: Google Earth
A criação e a apropriação de tecnologias pelo homem, por mais comple-
xas que sejam, está ligada à ideia de criar um meio facilitador do coti-
diano das sociedades e de suas atividades. Os grandes avanços tecno-
lógicos que a humanidade vem experimentando desde o século xx têm 
proporcionado,	também,	a	evolução	acelerada	de	tecnologias	específicas	
ligadas	à	manipulação	de	dados	espaciais	ou	dados	geográficos,	como	
os	sistemas	de	informação	geográfica,	o	sensoriamento	remoto	e	o	pro-
cessamento digital de imagens.
No âmbito destas geotecnologias, podemos destacar especialmente 
a evolução dos sensores remotos, que saltaram de uma resolução espa-
cial de 80 metros na década de 1970 do século passado para 0,5 metros 
disponíveis	comercialmente	hoje.	Isso	significa	que,	através	de	uma	ima-
gem	de	satélite,	identificávamos	somente	feições	superiores	a	80	metros	
e	que	hoje	é	possível	identificar	alvos	de	apenas	½	metro.	Realizando	
um exercício meramente especulativo, levando em consideração as ima-
gens disponíveis comercialmente e suas altíssimas resoluções, podemos 
imaginar	o	que	já	existe	à	disposição	para	fins	militares,	de	inteligência	
e de espionagem em países que desenvolvem esses sensores, que fatal-
mente, no futuro, estarão disponíveis a todos.
No	entanto,	o	acesso	a	esse	tipo	de	informação	geográfica	estava	
restrito a empresas, universidades, instituições públicas e militares, já 
que para sua manipulação era necessário o uso de softwares caros e/ou 
um alto nível de conhecimento especializado. Visando preencher essa 
lacuna	e	democratizar	de	fato	a	informação	geográfica,	foi	desenvolvido	
um programa chamado Google Earth, que utiliza a internet, maior fonte 
e repositório de informações existente na atualidade, como meio.
O Google Earth permite à navegação, através de imagens de saté-
lite de todo o globo terestre, localizar automaticamente lugares, girar 
imagens, mudar o ângulo de visão (visão tridimensional), criar marca-
dores espaciais e medir distâncias, entre outras funções. Sua base de 
dados já possui planos de informação, como vias, sedes municipais, 
sedes distritais entre outros. Ainda permite que o usuário crie suas fei-
ções e as organize também em planos de informação. Os planos de infor-
mação criados são organizados em arquivos ‘.kml’ ou ‘.kmz’, ambos for-
matos do Google Earth, podendo ser disponibilizados a qualquer outro 
usuário.
O projeto Formação de Valores Ético-Ambientais para o Exercí-
cio da Cidadania no Município de Duque de Caxias disponibiliza, atra-
vés do seu website, alguns planos de informação, já customizados, de 
temas sobre o município.
 Descrição dos mapas
Para a construção de uma política de gestão ambiental – entendida como 
o controle dos organismos públicos e/ou privados e da sociedade civil 
sobre o uso dos recursos socioambientais, utilizando para tanto uma 
lógica determinada, que inclui instrumentos reguladores e de incentivo – 
é necessário, antes, um claro entendimento dos processos de criação e de 
reprodução da ordem territorial em questão e das condicionantes socio-
ambientais da região estudada.
Nesse contexto, o desenvolvimento sustentável é um conceito-chave 
porque abre o questionamento sobre a utilização/reprodução racional dos 
recursos	socioambientais	respeitando,	assim,	não	só	as	especificidades	
naturais de um determinado território, mas também as variáveis sociais, 
econômicas e culturais. Esse fato torna imprescindível um conhecimento 
especializado de uma determinada ciência e uma visão holística espacia-
lizada das diversas forças atuantes nesse espaço, naturais e/ou antrópi-
cas, sendo necessário entender essa “costura” para futuramente, então, 
propor alternativas sustentáveis. 
Com o passar dos anos, os avanços tecnológicos vão encurtando 
os espaços e derrubando fronteiras. Essa situação tende a agravar-se, 
fazendo urgir, emergencialmente, a construção de um modelo de gestão 
ambiental para Duque de Caxias. Para a construção desse modelo se faz 
necessário, previamente, o conhecimento da realidade local, possível atra-
vés da caracterização das condicionantes socioambientais, cumprindo, 
assim, os objetivos pretendidos pelo projeto.
A representação espacial das informações é fundamental para a 
análise integrada, por proporcionar um quadro ambiental de referência 
para a área de estudo, facilitando a determinação de áreas críticas do 
ponto de vista de degradação socioambiental. Outra vantagem propor-
cionada é a possibilidade de ser observada a evolução temporal de deter-
minados processos, principalmente aqueles relacionados à ocupação ao 
uso do solo, bem como à perda de cobertura vegetal, levando à indicação 
daqueles	que	se	configuram	como	mais	críticos.
A integração entre a informação e a educação é vital para o sucesso 
de uma ação na área ambiental, pois é na sala de aula que estão sendo 
cunhados novos cidadãos que, assim, serão capazes, em um futuro pró-
ximo, de exercer de forma crítica a sua cidadania. Cidadãos conhecedores 
da realidade do seu município (pensar global, agindo local) são capazes 
de transformá-la para melhor, contribuindo, de fato, para uma melhoria 
na qualidadede vida em geral.
4544
Geomorfologia Geologia
22°40'S
22°30'S
22°40'S
22°30'S
F
o
nt
es
: 
C
ID
E
 2
00
2 
; 
IB
G
E
 2
00
0 
; 
P
D
B
G
 2
00
0 
P
ro
d
uz
id
o
 p
o
r 
La
b
G
is
 P
U
C
-R
io
 
20
09
F
o
nt
es
: 
P
la
no
 D
ir
et
o
r 
d
e 
R
ec
ur
so
s 
H
íd
ri
co
s 
d
a 
R
eg
iã
o
 H
id
ro
g
rá
fic
a 
d
a 
B
aí
a 
d
e 
G
ua
na
b
ar
a 
– 
P
D
R
H
-B
G
 (
20
05
)
2,55 5 Km0 2,55 5 Km0
43°20'W 43°20'W
 Depressão Fluvio-Lacustre
 Planície Alúvio-Colúvio
 (Argilosos, Arenosos ou Indiferenciados)
 Escarpas Serranas
 Talus / Colúvio
 Colinas
 Maciços Costeiros Interiores
 Maciços Intrusivos Alcalinos
 Planície Fluvio-Marinha
 Tabuleiros
 Falha e/ou Fratura
 Falha e/ou Fratura Encoberta
 Falha e/ou Fratura Inferida
 Falha Verticalizada
 Zona de Brecha Preenchida 
 de Mat. Silici
 Sedimentos Fluviais / Aluviais
 Sedimentos Paludiais
 Formação Caceribu
 Formação Macacu
 Intrusivas Ácidas Homogênea
 e Deformadas
 Alcalinas de Canaã
 Unidade Serra dos Órgãos
 Complexo Rio Negro
46 47
Uso do Solo e 
Cobertura Vegetal
Hidrografia
22°40'S
22°30'S
 Cursos d’Água
 Lagos, Lagoas e
 Barragens
22°40'S
22°30'S
F
o
nt
es
: 
F
U
N
D
R
E
M
 (
19
75
/1
97
6)
 
P
ro
d
uz
id
o
 p
o
r 
La
b
G
is
 P
U
C
-R
io
 
20
09
F
o
nt
e:
 C
ID
E
 2
00
2 
P
ro
d
uz
id
o
 p
o
r 
La
b
G
is
 P
U
C
-R
io
 
20
09
2,55 5 Km0 2,55 5 Km0
43°20'W 43°20'W
 Campo / Pastagem
 Afloramento Rochoso
 Encosta Degradada
 Vegetação Secundária
 Floresta Ombrófila
 Mangue
 Mangue Degradado
 Várzea
 Área Agrícola
 Solo Exposto
 Rios, Lagos, Lagoas etc
 Área Inundável
 Área Urbana de Baixa Densidade
 Área Urbana de Média Densidade
 Grandes Construções
Rio Boa Esperança
R
io
 J
oã
o 
P
in
to
C
an
al
 d
o 
M
ato G
rosso
Barragem 
Saracuruna 
(Petrobrás)
R
io
 P
at
i
Rio Tinguá
Rio
 T
in
gu
á Canal B
andeira
Rio C
ap
iv
ar
i
R
io
 R
am
os
C
anal C
apivari
R
io
 S
anto Antonio
Rio Calom
b
é
Rio Saracuruna
Rio Roncador
Rio Taquara
C
an
al
 d
o 
Im
ba
riê
Canal d
a 
C
on
st
ân
ci
a
R
io P
ilar
Rio Iguaçu
Canal Iguaçu
Canal Sarapuí
Rio Estrela
Rio São João de Meriti
48 49
Zonas Especiais Área Urbana
2,55 5 Km0
 Rodovia Federal
 Rodovia Estadual
 Distritos
 Área Urbana
22°40'S
22°30'S
2,55 5 Km0
 Interesse Turístico
 Interesse Rural
 Interesse Ambiental
ZIA do Rio Capivari ZIA da Taquara
ZIA do Rio Saracuruna
ZIA do Rio Roncador
25
24
23
22
21
20
27
19
26
18
17
16
10
11
9
8
7
4
6
51
2
3
12
14
13
15
ZIA do Cangulo
ZIA da Caixa D’Água
ZIA do Rio Pilar
ZIA do Rio Sarapuí
ZIA do Parque Glicério
ZIA de Xerém
APA de Petrópolis
APA de São Bento APP do Mangue
ZIA Cidade dos Meninos
REBIO Tinguá
II
I
III
IV
VII
VII
V
VI
 Interesse de Negócios
I Estrela
II Figueira
III Campos Elísios
IV Jardim Gramacho
V Xerém
VI Meriti
VII Centro Atacadista
Estrada Real 
Mantiquira – Tinguá
Estrada Real 
Automóvel Clube
Estrada Real 
São Bento – Pilar
F
o
nt
es
: 
C
ID
E
 2
00
2 
; 
IB
G
E
 2
00
0 
; 
P
D
B
G
 2
00
2 
P
ro
d
uz
id
o
 p
o
r 
La
b
G
is
 P
U
C
-R
io
 
20
09
F
o
nt
e:
 S
ec
re
ta
ri
a 
M
un
ic
ip
al
 d
e 
U
rb
an
is
m
o
 d
a 
P
re
fe
it
ur
a 
d
e 
D
uq
ue
 d
e 
C
ax
ia
s 
P
ro
d
uz
id
o
 p
o
r 
F
un
d
aç
ão
 D
o
m
 C
in
tr
a 
20
06
43°20'W 43°20'W
 Interesse Social
1 Vila Nova (Lixão)
2 Vila Ideal
3 Dique da Prainha (parte)
4 São Sebastião (parte)
5 Parque Brasil Novo
6 Vila Operária (parte)
7 Copacabana
8 Fronteira
9 Vila São Sebastião (parte)
10 Teixeira Mendes (parte)
11 São Borja (parte)
12 Cadeúba (parte)
13 Pistóia
14 Anajás
15 Cidade de Deus
16 Vila Fraternidade (parte)
17 Marquesa de Santos
18 Morro da Costela
19 Aliado (parte)
20 Cachopa
21 Vai Quem Quer (parte)
22 Rua Ceará
23 Vila Aracy
24 Vila Cabral (parte)
25 Santa Lucia (parte)
26 Jardim da Paz (parte)
27 Vasquinho
50 51
RodoviasUnidades de 
Conservação
Rodovias
 Federais
 Estaduais
 Municipais
BR-040
BR-040
BR-040
RJ-115
RJ-085
RJ-085
BR-116
RJ-107
RJ-071
RJ-116
RJ-105
RJ-101
RJ-071
Reserva Biológica do Tinguá
APA São Bento
Parque da Caixa D’Água
APA Estrela
APA Petrópolis
Parque da Taquara
APA Tinguá
22°40'S
22°30'S
F
o
nt
es
: 
C
ID
E
 2
00
2 
; 
IB
G
E
 2
00
0 
; 
P
D
B
G
 2
00
2 
; 
P
M
D
C
 2
00
6 
P
ro
d
uz
id
o
 p
o
r 
La
b
G
is
 P
U
C
-R
io
 
20
09
F
o
nt
es
: 
C
ID
E
 2
00
2 
; 
IB
G
E
 2
00
0 
P
ro
d
uz
id
o
 p
o
r 
La
b
G
is
 P
U
C
-R
io
 
20
09
2,55 5 Km0 2,55 5 Km0
 Proteção Integral
 Uso sustentável
43°20'W 43°20'W52 53
R
eg
iã
o 
M
et
ro
po
li
ta
na
 d
o 
R
io
 d
e 
Ja
ne
ir
o,
 s
eg
un
do
 
nú
m
er
o 
de
 d
om
ic
íl
io
s 
e 
es
go
ta
m
en
to
 s
an
it
ár
io
 
R
eg
iã
o 
M
et
ro
po
li
ta
na
 d
o 
R
io
 d
e 
Ja
ne
ir
o,
 s
eg
un
do
 
nú
m
er
o 
de
 d
om
ic
íl
io
s 
e 
ab
as
te
ci
m
en
to
 d
e 
ág
ua
 
 7
.1
89
 7
.1
90
 –
 1
0.
00
0
 1
0.
00
1 
– 
30
.0
00
 3
0.
00
1 
– 
10
0.
00
0
 1
00
.0
01
 –
 2
50
.0
00
 2
50
.0
01
 –
 1
.0
00
.0
00
 1
.0
00
.0
01
 –
 1
.8
01
.8
63
 7
.1
89
 7
.1
90
 –
 1
0.
00
0
 1
0.
00
1 
– 
30
.0
00
 3
0.
00
1 
– 
10
0.
00
0
 1
00
.0
01
 –
 2
50
.0
00
 2
50
.0
01
 –
 1
.0
00
.0
00
 1
.0
00
.0
01
 –
 1
.8
01
.8
63
 R
ed
e 
G
er
al
 F
o
ss
a 
o
u 
S
um
id
o
ur
o
 O
ut
ra
 F
o
rm
as
 
 S
em
 in
st
al
aç
ão
 S
an
it
ár
ia
 R
ed
e 
G
er
al
 F
o
ss
a 
o
u 
S
um
id
o
ur
o
 O
ut
ra
 F
o
rm
as
 
 S
em
 in
st
al
aç
ão
 S
an
it
ár
ia
Fontes: IBGE 2000 Produzido por LabGis PUC-Rio 2009 Fontes: IBGE 2000 Produzido por LabGis PUC-Rio 2009
54 55
Partiremos de uma questão: o que é a cidade? Esta pergunta é muito 
importante pois, em geral, todos sabem o que é, contudo, ao tentar res-
ponder, nos vemos enrascados. Para uma grande parte de autores, a 
cidade se caracteriza pela concentração de uma certa quantidade de 
população, uma certa densidade física, a presença de atividades não 
diretamente ligadas à produção do campo e um modo de vida distinto 
do	que	prevalece	em	áreas	que	se	qualificam	como	rurais.
Essa	resposta	obriga-nos	a	formular	outra	pergunta:	isso	é	sufi-
ciente	para	definir	uma	cidade?	As	cidades	de	hoje	são	mais	complexas,	
superando	o	marco	de	suas	dimensões	demográficas,	morfológicas	ou	
econômicas – a elas múltiplas dimensões são incorporadas.
A diferenciação entre o urbano e o rural se torna cada vez mais 
borrada. Mas aqui, já trouxemos outro elemento para o debate: o 
urbano. Normalmente, cidade e urbano são entendidos como sinôni-
mos, o que é um equívoco. O urbano transcende a cidade e ganha o pla-
neta, já que, atualmente, alcança todos os lugares, pois incorpora valo-
res, desejos de consumo, formas de trabalho e o tempo da metrópole. 
Assim, mesmo áreas ditas rurais apresentam elementos e indícios que 
nos remetem ao urbano. São modos de vestir e de falar, formas de con-
sumo, incorporação de tecnologias, formas de trabalho e de atividades 
típicas das cidades que adentram o rural. Por isso Rua (2006) acredita 
tratarem-se de urbanidades no rural.
A cidade está ligada à morfologia e à organização espacial, ao 
passo que o urbano realiza-se como práxis na cidade, através das ati-
vidades políticas, econômicas e culturais, reunindo assim todos os ele-
mentos da vida social (lefebvre, 2008).
As cidades são a materialização de momentos históricos que incor-
poram todas as contradições, todas as tensões da sociedade. Por isso, 
é possível pensarmos nas diversas formas de cidade através do tempo 
(e todas eram igualmente chamadas de cidades) como uma contradição 
Alvaro Ferreira
Algumas reflexões para ajudar a 
entender a produção desigual do 
espaço urbano em Duque de Caxias
expressa pelas relações sociais.
O município de Duque de Caxias apresenta, também, enormes 
contradições:áreas ricas e áreas sem condições mínimas de sobrevi-
vência, bairros bem servidos pelo sistema de transporte e outros em 
que o serviço é precaríssimo, distritos atendidos por escolas e hospitais 
públicos e distritos carentes desses serviços, áreas com alta densidade 
populacional e áreas com baixa densidade populacional, entre outras 
incoerências.	Este	breve	artigo	não	almeja	dar	conta	especificamente	
de todas essas contradições, mas objetiva trazer elementos para uma 
reflexão	acerca	da	produção	desigual	do	espaço	urbano	de	Duque	de	
Caxias e contribuir apontando para a necessidade da mobilização social 
em busca de melhores condições de vida e do direito à cidade.
A	ênfase	no	processo	geral	de	urbanização	dificulta	a	percepção	
das diferenciações internas entre os lugares e, muitas vezes, o asfalta-
mento	e	a	criação	de	‘praças’	parece	ser	suficiente	aos	olhos	dos	órgãos	
de governo. 
Por outro lado, há simultaneamente uma impressão de caracterís-
ticas da metrópole carioca em determinados bairros caxienses, como por 
exemplo a construção de condomínios fechados. O que acaba fazendo 
com que não somente as práticas sociais, mas inclusive as identida-
des	dos	lugares	fiquem	sujeitas	à	valores	e	necessidades	que	se	refe-
rem à capital do Estado. É necessário ter em conta as necessidades dos 
moradores.
Há	um	grande	deficit	habitacional	em	Duque	de	Caxias	e	os	pro-
gramas	de	habitação	popular	têm	se	mostrado	insuficientes.	Recente-
mente, em meados de 2008, a Secretaria Municipal de Urbanismo divul-
gou	que	a	Prefeitura	começara	a	entregar	as	escrituras	definitivas	dos	
imóveis do Conjunto Residencial Santa Alice, Nossa Senhora das Gra-
ças	e	Salgado	Filho,	em	Xerém.	Em	princípio,	seriam	beneficiadas	700	
famílias que ocupam casas e apartamentos funcionais da antiga Fábrica 
Nacional de Motores (fnm), construídas na década de 1950. Embora a 
Secretária	divulgue	essa	notícia	como	política	para	redução	do	deficit	
habitacional, essas famílias já moravam no local.
Houve também, seguindo os moldes de outros municípios, a aber-
tura	de	inscrições	para	o	financiamento	da	casa	própria,	em	parceria	
com a Caixa Econômica Federal, para funcionários municipais com 
renda superior a R$ 1.350. Os imóveis, localizados no condomínio Via-
Parque, em Santa Cruz da Serra (Terceiro Distrito), referem-se a 99 
casas	de	48	m².	Medida	que	atende	a	uma	população	específica	e	em	
condições	específicas.
Em janeiro de 2008, a Secretaria Municipal de Urbanismo promo-
veu e divulgou, no site da Prefeitura a assinatura de escritura da casa 
própria de 1.067 casas populares, referentes a um projeto denominado 
Pedacinho	do	Céu.	Esse	projeto	beneficiaria	moradores	de	áreas	consi-
deradas de risco, como Jardim Gramacho, Sarapuí – Favela do Dique – 
artigos
54 55 alvaro ferreira
e Parque Beira-Mar. Os conjuntos habitacionais seriam construídos em 
Jardim Gramacho, Parque Paulista, Parque Beira-Mar, Jardim Anhangá 
e Parque Marilândia. Eram imóveis com 42 m² e estariam todos pron-
tos em 14 meses. Portanto, em março de 2009 deveriam estar prontos. 
Como andam as obras? É preciso que se cobre mais que o discurso 
apenas.
O Produto Interno Bruto (pib) do município de Duque de Caxias 
está entre os maiores das cidades brasileiras, alcançando até pouco 
tempo atrás (2003) o nono lugar do ranking nacional. Apenas para que 
tenhamos	uma	idéia	do	que	isso	significa,	as	dez	primeiras	cidades	do	
ranking representam 25% do pib nacional. Ainda assim, são inúmeros 
os problemas que assolam o município e, para complicar ainda mais, 
há grande discrepância no que se refere ao percentual de investimen-
tos aplicados em cada distrito. Portanto, cada vez mais se acirram as 
condições desiguais no município. Tem sido cada vez maior o número 
de lançamentos de condomínios de luxo no Bairro 25 de Agosto, como 
podemos	observar	no	anúncio	veiculado	em	panfletos	e	na	Internet:
Quer ser chic? Venha morar no Residencial Elegance! Seis aparta-
mentos por andar com lazer completo. Nove andares, apartamentos 
tipo coberturas. Até dois estacionamentos por unidade. Opção de co-
zinha americana. Lazer completo com boliche, espaço beleza, game 
zone, lan house, fitness, spa, sauna, recreação infantil, brinquedo-
teca, piscinas adulto e infantil, home office, lounge gourmet, salão 
de festas, churrasqueira com forno de pizza e car wash. Fachada 
sofisticada revestida em cerâmica. Piso da sala em porcelanato e 
cerâmica nos quartos. Biometria digital. 
O projeto do prédio poderia estar vinculado à qualquer lançamento na 
Zona Sul ou Zona Oeste litorânea do município do Rio de Janeiro; inclu-
sive com um projeto que traz, em sua área de lazer, uma sala de boli-
che privativa e um spa.
Se não faltam lançamentos desse tipo no bairro principal de Duque 
de Caxias, o mesmo não se pode dizer do restante da cidade, que sofre 
com a falta de saneamento e de equipamentos urbanos básicos. É neces-
sário que se cobre o acesso da população aos distintos equipamen-
tos urbanos, ao lazer, à reunião e à informação pelos diferentes atores 
sociais, pois a reprodução desigual das relações sociais se acirra atra-
vés da dominação, por poucos, do espaço urbano. A população que vive 
no município com um pib em torno de R$ 20 bilhões, precisa ter direito 
à cidade.
E o direito à cidade é mais do que um habitat, é o direito a habitar. 
O habitat liga-se à morfologia urbana, mas o habitar é uma atividade. 
Referimo-nos à apropriação (lefebvre, 1978). Habitar é apropriar-se 
de	algo,	o	que	é	bastante	diferente	de	tê-lo	como	propriedade.	Significa	
fazer do espaço sua obra, modelá-lo, apropriar-se dele. Mas é também 
o	lugar	dos	conflitos,	porque	o	espaço	é	um	produto	social,	mas	é	tam-
bém produtor, já que as formas construídas interferem no cotidiano da 
sociedade. A produção do espaço traz consigo uma intencionalidade, 
por	isso	é	o	lugar	dos	conflitos.	É	preciso	questionar	a	forma	como	ele	é	
produzido e buscar fazê-lo de outra maneira, com outros objetivos que 
não priorizem a especulação e a dominação do espaço. Em outras pala-
vras: para mudar a vida é preciso mudar o espaço, é preciso questio-
nar a propriedade privada do solo, é preciso valorizar o espaço público, 
lutar por ele e contra o movimento dos condomínios fechados, das ruas 
fechadas.	Porque,	como	afirma	Lefebvre	(2008)	“excluir	do	urbano	gru-
pos, classes, indivíduos implica também excluí-los da civilização, até 
mesmo da sociedade”. 
Importa romper com a força que a tecnocracia tem ao empreen-
der seus projetos e propostas, pois o conhecimento técnico desprendido 
da abertura para ouvir os citadinos de nada vale. O Estado tem sem-
pre prescindido da participação dos interessados. É necessário fazer-se 
ouvir, mostrar aos políticos e aos tecnocratas aquilo que verdadeira-
mente interessa à população.
Mas cuidado! O direito à cidade não se refere a uma espécie de 
direito contratual, que se realiza apenas pelo Estado. Participação não 
significa	reunir	algumas	dezenas	ou	centenas	de	pessoas	e	apresen-
tar-lhes um projeto de intervenções urbanas ou apresentar-lhes o que 
será	realizado.	Isso	definitivamente	não	é	participação;	é	praticamente	
apenas uma forma de publicidade em duplo sentido: o primeiro pre-
tende apresentar as propostas do governo e o segundo, fazer crer que o 
governo implementa a participação popular.
A verdadeira participação deve partir da população e deve ser ativa 
e constante; não deve esmorecer após a conquista dos primeiros resul-
tados,	ao	contrário,	essa	conquista	deve	significar	que	é	possível	trans-
formar. Esse é o momento de reavaliar os resultados e lutar por novas 
conquistas. Feito assim, estaremos deixando de ser apenas citadinos 
para sermos verdadeiros cidadãos. 
 
56 ...a produção desigual do espaço urbano... 57 alvaro ferreira
 Bibliografia
lefebvre, Henri. Espaço e política. Belo Horizonte: ufmg, 2008.
lefebvre, Henri. De lo rural a lo urbano. Barcelona: Península, 1978.
rua, João. Urbanidades no Rural: o devir de novas territorialidades. In: Campo-Território.	Revista	de	Geografia	Agrária	v.	1,	n.	1,	2006
http://www.duquedecaxias.rj.gov.br
 Alvaro Ferreira
Possui	graduação	em	geografia	pela	Universidade	do	Estado	do	Rio	de	Janeiro	
(1996), mestrado em Planejamento Urbano e Regional pelo ippur da Universidade 
Federal	do	Rio	de	Janeiro	(1999)	e	doutorado	em	Geografia	(Geografia	Humana)	
pela Universidade de São Paulo (2003). Atualmente realiza pós-doutoramento com 
o Prof. Horacio Capel na Universitat de Barcelona. É professor do Departamento de 
Geografia	e	do	Programa	de	Pós-Graduação	em	Geografia	da	Pontifícia	Universidade	
Católica do Rio de Janeiro (puc-Rio) e professor adjunto da Universidade do Estado 
do Rio de Janeiro (uerj). Participa como líder no grupo de pesquisa denominado 
Núcleo de Estudos e Pesquisa em Espaço e Metropolização (nepem) e no Núcleo 
Interdisciplinar de Estudos do Espaço da Baixada Fluminense (niesbf); e como 
pesquisador	do	Núcleo	de	Estudos	de	Geografia	Fluminense	(negef). Tem partici-
pado de congressos no Brasil e no exterior, além de produzir artigos em períodicos 
nacionais e internacionais principalmente ligados aos seguintes temas: (re)produ-
ção do espaço urbano; tecnologias de comunicação e informação e as novas espa-
cialidades nas cidades; representações no espaço urbano; relações de trabalho e o 
espaço urbano; espaço e movimentos sociais.
 alvaro_ferreira@puc-rio.br
 Apresentação
O projeto Educação Ambiental: Formação de valores ético-ambientais 
para o exercício da cidadania no município de Duque da Caxias, desen-
volvido pelo Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (nima) da puc-
Rio	e	financiado	pela	empresa	Petróleo	do	Brasil	s.a. (Petrobras), vem 
apoiar as pesquisas socioespaciais sobre o Rio de Janeiro, em suas 
múltiplas dimensões, desenvolvidas pelos grupos acadêmicos do Depar-
tamento	de	Geografia	da	instituição	há	vários	anos.	Dos	grupos	exis-
tentes, o geterj (Gestão Territorial no Estado do Rio de Janeiro) imple-
menta, desde 2002, duas linhas de investigação: a primeira, denominada 
Espaço Carioca e suas Desigualdades e a segunda, Território Fluminense 
e suas Sustentabilidades	através	das	quais	monografias,	dissertações	
de	mestrado	e	eventos	científicos,	de	enfoque	geográfico	e	ciências	afins,	
ligados ao tema Rio de Janeiro vêm sendo produzidos.
Entre	as	temáticas	de	destaque	no	grupo,	a	geografia	política	e	a	
gestão do território no Rio de Janeiro são foco de interesse acadêmico 
crescente, devido às transformações jurídico-administrativas pelas quais 
o estado brasileiro vem passando nos últimos 30 anos, notadamente 
após a abertura política de 1979 (dez anos depois dos atos institucio-
nais	que	abalaram	gravemente	a	democracia	brasileira)	e	da	definição	da	
atual carta magna, em vigência no país desde 1988. Com a constituição 
federalista em vigor, os poderes locais no Brasil passaram a ter maior 
força	de	gestão	sobre	os	seus	territórios	institucionalmente	definidos.	
Unidades subnacionais (estados) e municípios passaram a atuar, mais 
efetivamente, nas realidades logísticas, ambientais, sociais e econômi-
Duque de Caxias, município 
da região Baixada Fluminense: 
poder local, gestão do território 
e política pública no Estado 
do Rio de Janeiro.
Augusto César Pinheiro da Silva
Rosana Cristine Machado de Oliveira
58 ...a produção desigual do espaço urbano... 59
cas	dos	espaços	geográficos	sob	a	sua	tutela	político-representativa.	
Governos de estado e prefeituras, juntamente com atores sociais 
não-governamentais, desde então vão travando estratégias de gestão 
frente	a	demandas	espaciais	específicas,	o	que	impõe	às	sociedades	
locais a necessidade de um maior conhecimento e de uma participação 
sobre os governos estaduais e municipais, para que estes ajam mais 
ativamente na redução das desigualdades socioespaciais e ambientais 
tão comuns nas áreas pobres do planeta.
Nesse sentido, as escolas de ensino básico dos municípios devem 
ser, assim como outros estabelecimentos educacionais do país, lócus 
de produção de conhecimento socioespacial e ambiental e, portanto, de 
educação político-participativa de crianças, jovens e adultos em prol 
da sustentabilidade. Discussões sobre outras possibilidades de gestão 
dos recursos diversos, além das competências dos poderes instituídos, 
devem ser somadas ao debate político-pedagógico, sendo que este cabe 
às escolas, não só através das aulas regulares e de conteúdos especí-
ficos,	mas	também	pela	participação	crescente	de	professores,	corpos	
pedagógicos e administrativos, e de discentes em geral, no fazer polí-
tico dos territórios. 
O texto a seguir procura abrir perspectivas de educação política 
para	os	professores	da	rede	municipal	de	Duque	de	Caxias,	afim	de	que	
eles sintam-se mais do que meros coadjuvantes nos processos decisó-
rios	locais.	Cabe	aos	profissionais	de	ensino	ser	elementos	ativos	na	
transformação socioespacial devido à responsabilidade, em parte, pela 
formação das racionalidades presentes e futuras das populações muni-
cipais, ou seja, o elo vital na estruturação de mentalidades participa-
tivas,	questionadoras,	reflexivas	e	valorizadoras	das	potencialidades	e	
recursos humanos e ambientais locais. 
Como exemplo de temáticas que podem ser instrumentos de edu-
cação política e ambiental para os professores e alunos de Duque de 
Caxias, no âmbito da formação básica, podemos destacar a qualidade da 
gestão da saúde pública dos caxienses, entendendo e divulgando o nível 
da difusão da rede de saneamento básico e de oferta dos serviços infra-
estruturais. Esse termômetro de atualidade da ação pública municipal 
na região da Baixada Fluminense poderá gerar um ambiente educativo 
mais propositivo em termos políticos, interdisciplinar na conjunção de 
áreas educativas de interesse comum e pró-ativo nas ações coletivas 
de proteção da vida, sob todos os aspectos, espalhando-se por outros 
municípios de uma região que tem na pobreza estrutural, o componente 
cotidiano das suas relações socioespaciais.
 A região Baixada Fluminense: um espaço territorializado por 
práticas políticas complexas.
A região Baixada Fluminense é formada por vários territórios1, onde 
agentes diversos criam um conjunto de normas e regras a serem segui-
das por atores que são submetidos aos seus poderes. Diante disso, os 
territórios	na	região	são	configurados	por	diferentes	territorialidades2 em 
que ações são produzidas e impostas, devendo ser cumpridas por aque-
les sobre os quais o poder instituído se faz valer no território político-
administrativo, ou seja, os municípios. Aqueles que se colocam contra 
essas regras passam a exercer uma força contrária aos que comandam 
o	poder	do	Estado	de	direito,	ficando	claro	nos	desmembramentos	terri-
toriais na região em estudo (emancipações distritais), quando diferentes 
interesses econômicos, políticos e sociais contribuem para a formação 
de novos territórios político-administrativos, caracterizando choques de 
interesses nas diferentes escalas de poder.
Diferentes atuações socioespaciais a região Baixada Fluminense, 
produzidas por variadas ações, perspectivas e tonalidades de poder 
resultaram em diversas fragmentações territoriais, revelando as repre-
sentações político-administrativas locais através dos municípios. Os 
agentes dos poderes locais produziram um prolongamento de suas 
ações,	a	fim	de	serem	criadas	redes	de	relações	intermunicipais	como	
forma de reconhecimento da atuação de seus poderes regionalmente 
e de garantia, portanto, da permanência de práticas localistas que ‘se 
solidarizam’ com projetos de maior amplitude política e de força terri-
torial, como as ações dos governos estadual e federal.
Administrativamente,	essa	região	é	formada,	oficialmente,	por	14	
municípios	fluminenses,	segundo	a	Divisão	Política	do	cide-rj (2005), 
a saber: Mangaratiba, Itaguaí, Seropédica, Paracambi, Japeri, Queima-
dos, Nova Iguaçu, Belford Roxo, Mesquita, São João de Meriti, Nilópolis, 
Duque de Caxias, Magé e Guapimirim, como mostra o mapa da Baixada 
Fluminense (p.19).

Mais conteúdos dessa disciplina