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TRANSTORNOS MENTAIS Tea psicose valdir fulle 1º edição - 2019 são paulo - sp 1º EDIÇÃO - 2019 SÃO PAULO - SP TRANSTORNOS MENTAIS TEA PSICOSE Valdir Fulle TRANSTORNOS MENTAIS TEA PSICOSE EXPEDIENTE COORDENAÇÃO GERAL COORDENAÇÃO E PROJETO GRÁFICO COORDENAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS COORDENAÇÃO DE REVISÃO ORTOGRÁFICA AUTOR(ES) DIAGRAMAÇÃO CAPA 1º EDIÇÃO - 2019 SÃO PAULO - SP TRANSTORNOS MENTAIS – TEA PSICOSE 40 HORAS - Introdução e visão geral; - SUMÁRIO: UNIDADE 1. ............................................................. 7 CAPÍTULO 1. ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO .................................. 8 1.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA .......................................9 1.2 ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS ..................................... 16 1.3 CONCEITO DE TRANSTORNOS MENTAIS .......................... 22 CAPÍTULO 2. ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA ..........................25 2.1 AVALIAÇÕES DE RISCO - SUICÍDIO ................................ 26 2.2 AVALIAÇÕES DE RISCO DE HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA ........... 36 EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 1 ................................52 UNIDADE 2. ............................................................54 CAPÍTULO 3. COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS ...........................55 3.1 TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS ........................... 56 3.2 POLITICA NACIONAL DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ......... 65 CAPÍTULO 4. A SOBRECARGA FAMILIAR DE PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS E ABORDAGENS FAMILIARES ........................................87 4.1 SOBRECARGA FAMILIAR DE PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS ........................................... 88 4.2 PARTICIPAÇÃO DOS FAMILIARES .................................. 97 EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 2 .............................. 103 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................... 105 GABARITO UNIDADE 1 ................................................ 106 GABARITO UNIDADE 2 ................................................ 107 INTRODUÇÃO O - - - - - - - - - UNIDADE 1 UNIDADE 1. CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 1. ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO EM SITUAÇÃO DE CRISE –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 9 1.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA AMARANTE - - - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 10 - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 11 - - - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 12 - - - - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 13 - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 14 - - - - - - - - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 15 - - - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 16 - 1.2 ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS 1.2.1 A COMPLEXIDADE DO SER HUMANO NA ABORDAGEM PSICOSSOCIAL - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 17 - - - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 18 - - - 1.2.2 A INTERVENÇÃO PSICOSSOCIAL NOS ATENDIMENTOS DE SAÚDE - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 19 - - - - - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 20 - - - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 21 - - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 22 1.3 CONCEITO DE TRANSTORNOS MENTAIS - - - - - - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 23 - - - - –ABORDAGENS PSICOSSOCIAIS, FAMILIARES E DE REABILITAÇÃO– 24 Os Transtornos Mentais Menores - - Transtornos Graves – TRANSTORNOS MENTAIS: 5 ENTRE 10 CAUSAS DE INCAPACITAÇÃO PARA O TRABALHO NO MUNDO: - CAPÍTULO 2 CAPÍTULO 2. ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 26 2.1 AVALIAÇÕES DE RISCO - SUICÍDIO MOURA et al (2010) em seu trabalho, espelhando a re- alidade do Rio Grande do Sul, menciona que a Organização Mundial de Saúde alerta para o aumento de até 60% no nú- mero de suicídios nos últimos 45 anos em todo o mundo, representando a terceira maior causa de morte na faixa etá- ria entre 15 e 35 anos em ambos os sexos (WHO, 2001, p. 5). Para cada suicídio, cinco a dez pessoas próximas so- frem graves consequências psicológicas, econômicas e so- ciais, são os chamados “sobreviventes” (WHO, 2008, p. 6). A cada ano há cerca de um milhão de mortes por sui- cídio no mundo, o que representa uma morte a cada 40 se- gundos (WHO, s/d). O sucesso de estratégias de prevenção e controle do suicídio implantadas em vários países – como os Estados Unidos, Inglaterra, Irlanda, Austrália, Japão e Suécia – mostra que é possível enfrentar o problema, dimi- nuindo o sofrimento de milhões de pessoas (BEAUTRAIS, 2006). A Suécia, por exemplo, conseguiu reduzir sua taxa em 39,5% (de 22,3 para 13,5 por 100 mil pessoas), no período entre 1980 e 2005 (WHO, acesso em 29/04/2010). No Brasil foi observado um aumento no índice de suicídio de 43,8%, entre 1980 e 2005. Os números pas- saram de 3,2 para 4,6 por 100 mil pessoas (WHO, acesso em 29/04/10). Em 2007 a taxa de mortalidade por suicí- dio foi de 4,7 por 100 mil pessoas. Essa taxa não é unifor- me, sendo mais elevada em determinados estados do país, –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 27 especialmente Roraima (10,4), Rio Grande do Sul (9,9), Mato Grosso do Sul (8,1) e Santa Catarina (7,5) (DATASUS, acesso em 21/06/10). No Rio Grande do Sul observa-se um fenômeno que merece atenção: enquanto o total das mortes por causas violentas vêm caindo, as taxas de suicídio continuam au- mentando. Entre 1985 e 2005, as mortes por violência no Estado caíram 7,1% para toda a população e 5,4% para os homens, enquanto o suicídio cresceu 7,8% para a população e 18,4% para os homens (DATASUS, acesso em 21/06/10). Mais de 90% dos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). E os transtornos de humor, entre os quais se destaca a depressão, representam o diagnóstico mais fre- quente nesses casos, presente em 36% das vítimas. Também estão relacionados ao problema a depen- dência de álcool (em 23% dos casos), esquizofrenia (14%) e transtornos de personalidade (10%). “Muitos acreditam que o suicídio resulta de uma esco- lha livre, como um exercício da liberdade entre escolher a vida ou a morte. Os dados da OMS mostram, por exemplo, um diagnóstico preciso entre as vítimas. Esses transtornos mentais alteram a percepção da realidade e podem inter- Del Porto, pós-doutor pela University of Illinois at Chicago (EUA) e professor-titular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 28 - ticipa da campanha mundial Setembro Amarelo, com foco no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Deve-se destacar as ações desenvolvidas pelo Centro de Valorização da Vida (CVV). O suicídio é um fenômeno complexo que envolve múl- tiplas causas e que afeta, além de suas vítimas, os “sobrevi- setores que direta ou indiretamente lidam com o problema no seu cotidiano. Em pesquisa realizada no site , o Presidente do CVV, Robert Paris, destaca a importância do suporte social a esses pacientes. “O apoio emocional e o estímulo à inclusão em grupos e vivências sociais que va- pelo Ministério da Saúde, o CVV presta um serviço gratuito de prevenção do suicídio. atender qualquer pessoa que busque apoio emocional, sem- pre de forma sigilosa, seja de forma presencial, em algum posto do CVV, por telefone (188) e canais da instituição na internet (chat, Skype e e-mail), que podem ser acessados por meiode tratamento são o que os ser- viços substitutivos buscam oferecer. Propõem a integração do paciente e repudiando tratamentos preconceituosos e estereotipados. Destacam-se, ainda, por oferecer suporte ao paciente não apenas no tratamento farmacológico, mas também, disponibilizar tratamento psicoterá- pico, oportunizando o usuário a expressar sua sub- - Ajudar a pessoa com sofrimento psíquico a resgatar o elo perdido com a vida, além de ser uma atitude ética, –A SOBRECARGA FAMILIAR– 100 e respeito a sua história de vida, repleta de experiências e construções. O resgate do elo perdido requer ações que envolvam - endem que a família necessita de atenção especial por parte - cimento de dúvidas, quer na obtenção de apoio, pois esta representa o primeiro elo a ser resgatado na intenção de inserir portador de doença mental em seu meio social. A noção de resgate familiar deve ser extensiva a toda sociedade. É fundamental para a pessoa com sofrimento psíquico ser aceita em seu meio social mediante a extinção do estigma, a garantia de seus direitos e das possibilidades de criação de novos vínculos sociais. Há, nesse sentido, a necessidade de implementar ati- tudes coerentes com as necessidades do paciente, mediante um planejamento participativo, integrando a equipe mul- mais ser excluído do processo. - ordinária caminhada. Aprendemos que o portador de transtornos mentais, outrora, mantido em instituições, isolado da sociedade e da - so a uma terapia humanizada, por meio dos CAPS e NAPS, sem afasta-lo do convívio familiar. –A SOBRECARGA FAMILIAR– 101 Vimos que algumas patologias graves estão relaciona- das a práticas de determinados delitos, destacando-se o ho- micídio, inclusive, vitimando os familiares e vizinhos. Conhecemos as principais drogas lícitas e ilícitas e seus efeitos devastadores no corpo humano, levando o de- pendente químico à extrema degradação, vivendo em situa- ções deploráveis, como é o caso das “cracolândias” espalha- das pelo Brasil e pelo mundo. Apresentamos os esforços das autoridades em preve- nir o uso de drogas, detalhando a Política Nacional sobre Drogas. Destacamos, de forma incisiva, que o melhor é dizer amigos e familiares a se distanciarem de algo tão perverso à saúde humana. - ticipar do processo terapêutico do portador de transtornos mentais e de receber, também, os cuidados especiais, pois a sobrecarga é evidente e atinge as pessoas mais próximas, em especial aquelas encarregadas de ministrar medicamen- tos, vigiar, cuidar da higiene e alimentação, acompanhar as consultas, dentre outras demandas. Sabemos que é um assunto de muita complexidade e de poucos debates na sociedade, por isso a EDUCAMAIS entende ser de grande importância e valia a apresentação - tar você, caro aluno (a). –A SOBRECARGA FAMILIAR– 102 Seja, realmente, um multiplicador desses conheci- mentos e contribua conosco para construir uma sociedade mais saudável, com qualidade e aberta a discutir e apoiar as iniciativas que valorizem a vida e humanizem o tratamento daqueles que sofrem de transtornos mentais. Acredite, como nós, que por meio do processo ensi- no-aprendizagem mudamos comportamentos, mudamos atitudes, mudamos posturas e aprendemos a respeitar, em especial aqueles que tanto sofrem e carecem de cuidados especiais. - portante e nobre missão. Sucesso a todos em suas carreiras e não se esqueçam de olhar por aqueles que tanto necessitam, como é o caso dos portadores de transtornos mentais. –EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 2– 103 EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 2 1) Cite três drogas ilícitas. 2) Dentre as drogas ilícitas, em nível mundial, qual é a droga de maior consumo? 3) Cite três efeitos que a cocaína pode causar quando usada em altas doses. –EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 2– 104 4) A responsabilidade pelo cuidado do portador de transtorno mental no contexto que antecede o movimento reformista era atribuída a quem? 5) Conceitue família. 6) –REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS– 105 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Edvânia dos Santos Alves; Ana Lúcia Francisco. Ação psicológica em saúde mental: uma abordagem psicossocial. 2009. Disponível em pepsic.bvsalud.org/scielo.php Letícia de Oliveira. A sobrecarga da família que con- vive com a realidade do transtorno mental. 2008. Disponível em www.scielo.br Raisa. Cocaína: o que é, efeitos e riscos para o organismo. Disponível em www.minhavida.com.br/saude Lana. Maconha. 2010. Disponível em www.to- damateria.com.br/ ANNA TEREZA MIRANDA SOARES DE. Prevenção do suicídio no nível local: orientações para a formação de redes - sionais que a integram. Disponível em /www.cevs.rs.gov.br/u Virginia Célia de B. Transtorno Mental no Trabalho. 2012. Secretaria de Saúde do Estado de Goiás. Disponível em http://www.sgc.goias.gov.br Alexandre Martins. Relação entre homicídio e transtornos mentais. Disponível em www.scielo.br/pdf/rbp/ v28s2/02.pdf Arthur. Suicídio de policiais em SP aumenta 73% de 2017 para 2018, segundo Ouvidoria. 2019. Disponível em https://ponte. org/suicidio-de-policiais-em-sp-aumenta-73-de-2017-para-2018 106 –GABARITO– GABARITO UNIDADE 1 1: Transtornos mentais são alterações do funcionamento da mente que prejudicam o desempenho da pessoa na compreensão de si e dos outros, na possibilidade de au- tocrítica, na tolerância aos problemas e na possibilida- de de ter prazer na vida em geral. 2: São considerados transtornos mentais comuns os trans- tornos somatoformes, de ansiedade e de depressão. 3: Alterações no funcionamento do cérebro; fatores da própria personalidade do indivíduo; condições de educação; ação de um grande número de estresses; agressões de ordem física e psicológica; perdas, decepções, frustrações e sofrimentos físicos e psíquicos que perturbam o equilíbrio emocional. 4: Transtornos mentais maiores. 5: O primeiro nível está na área da saúde, formado por urgência, de saúde mental e da atenção primária, que vão construir juntos os planos de cuidado para cada caso. 6: O apoio emocional e o estimulo à inclusão em gru- pos e vivências sociais que valorizem a pessoa são fundamentais 107 –GABARITO– GABARITO UNIDADE 2 1: Cocaína, maconha, heroína, ecstasy, crack. 2: A maconha. 3: • convulsões • depressão neuronal • alucinações • paranoia (geralmente reversível) • taquicardia • mãos e pés adormecidos • depressão do centro neuronal respiratório • depressão vasomotora • morte 4: Hospitalocêntrica, restando à família a tarefa de en- caminhar o familiar, visitá-lo, bem como fornecer as informações necessárias sobre o histórico de sua enfermidade. 5: A família é conceituada como um sistema formado por valores, crenças, conhecimentos e práticas que direcio- nam as suas ações na promoção da saúde de seus inte- grantes, zelando pela prevenção e pelo tratamento da doença. 6: - nadas ao sistema nervoso, como gastrite e problemas gastrintestinais, mostrando como os problemas de or- dem emocional repercutem sobre a saúde física dos familiares.do site . Ainda que a prevalência da depressão seja maior nas mulheres em relação ao público masculino, o suicídio é muito mais comum entre os homens em todo o mundo. –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 29 No Brasil, um estudo sobre a mortalidade por suicídio no Estado de São Paulo, realizado pela Fundação Seade, re- de óbitos dos Cartórios de Registro Civil de todos os muni- cípios paulistas, aponta que 80% das vítimas de suicídio ao longo do biênio 2013-2014 eram homens e que 72,3% deles tinham entre 15 e 64 anos de idade. A literatura médica relaciona alguns fatores conside- rados protetores para as mulheres em relação ao suicídio, como taxas menores de dependência de álcool, religiosida- de mais pronunciada, maior propensão a buscar ajuda em momentos de crise, percepção precoce dos sinais de depres- são e participação mais ativa em redes de apoio social. “Já os homens, em geral, expõem-se mais a mortes violentas, como o suicídio. E isso ocorre tanto por razões culturais como pelo fato de geralmente apresentarem mais fatores de risco, entre eles o alcoolismo e o uso de substâncias psicoa- tivas”, comenta Del Porto. Sob o ponto de vista cultural, o médico destaca outras estar relacionadas às taxas elevadas de suicídio nesse pú- blico. “Os homens, de fato, sofrem mais pressão para que se mostrem fortes e tendem a procurar menos ajuda do que as mulheres. Além disso, sofrem mais com alguns estressores sociais, a exemplo do desemprego, das instabilidades eco- - nal de um processo e não deve ser atribuído, como muitas –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 30 vezes se faz, a fatores desencadeantes imediatos, como uma perda recente, por exemplo”, complementa. Embora os homens sejam mais propensos ao suicídio do que as mulheres, há outros fatores de risco relaciona- dos ao problema, como um histórico familiar para a doen- ça, poucos vínculos sociais e solidão, além de desemprego, traumas e episódios de abuso ou maus-tratos na infância, bem como a presença de doenças clínicas não psiquiátricas, entre elas câncer, aids, enfermidades neurológicas e reu- máticas. “Tentativas prévias de suicídio também devem ser consideradas nesse contexto. Cerca de 50% das vítimas de Del Porto. A cada ano, são registrados no mundo cerca de 800 mil casos de suicídio, que já é considerada a segunda prin- cipal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, segundo a OMS. De acordo com a entidade, o Brasil é o oitavo país do mundo em número de suicídios, com uma média de 5,8 ca- sos a cada 100 mil habitantes. “Estamos diante de um ver- dadeiro problema de saúde pública, mas a prevenção não se limita à rede de saúde e deve levar em consideração aspec- tos biológicos, psicológicos, políticos, sociais e culturais, de forma que o indivíduo seja considerado como um todo em Na avaliação do psiquiatra, é preciso estimular um debate aberto sobre o tema, que ainda é tratado como tabu até mesmo entre os médicos. “Teme-se, muitas vezes, –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 31 perguntar ao paciente sobre assuntos relacionados ao suicí- dio por pensar que a simples pergunta poderia sugerir a ele ideias de morte. Mas, na verdade, abrir espaço para o paciente falar sobre o tema poderá, muitas vezes, prevenir o problema. Perguntas mais genéricas sobre as perspectivas de vida e os planos desse indivíduo para o futuro podem ajudar a intro- duzir a temática com leveza”, conclui. Faz-se, também, oportuno mencionar a questão do suicídio nos órgãos de segurança pública. Vejam o relatório da Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo: STABILE (2019) menciona que quatro policiais se mataram por mês em São Paulo no ano passado. Ocorreram 71 casos de suicídio em dois anos. Mais grave: houve crescimento de 73% nas ocorrências, com 20 ocorrências ao longo de 2017 e 51 registros em 2018. As mortes englobam casos das polícias Civil e Militar. O levantamento, baseado em dados das corregedorias das corporações, aponta que 10 policiais civis se mataram em 2017, mesmo número de ocorrências no ano seguinte, tota- lizando 20 mortos. Enquanto isso, a quantidade de PMs que cometeram suicídio mais do que dobrou nesse intervalo, saltando de 16 para 35, totalizando 51 vítimas. –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 32 Os suicídios somados em 2017 com 2018 superam os homicídios de policiais civis, com 14 no período, apenas 30% menos do que os 20 suicídios nesse intervalo. Quanto aos PMs, 41 integrantes da corporação mor- reram assassinados somente em 2018, seis casos a mais do que as 35 vítimas de suicídio. - - lativas à violência em seu cotidiano, aliada a outros fatores, como a falta de descanso adequado, pois, muitos exercem outras atividades para complementar sua renda, o nível de números. Os trabalhos preventivos das autoridades de seguran- ça pública, com palestras e programas de acompanhamen- to e apoio ao policial militar, além da assistência de saúde - nais se sintam amparados. Vários atores podem contribuir para enfrentar o pro- blema de forma conjunta, estabelecendo canais de comuni- e ajustando condutas. São necessárias intervenções que envolvam assisten- tes sociais; educadores; jornalistas; policiais militares; pro- - res e colaboradores de Organizações não-governamentais –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 33 (ONGs), além de lideranças religiosas, comunitárias, entre outros (OMS- SUPRE, 2002). A ação conjunta dessas pessoas é o que constitui a rede de vigilância, prevenção e controle do suicídio. 2.1.1 REDE DE PREVENÇÃO Uma rede social, tal como a rede de vigilância, pre- venção e controle é uma articulação de pessoas que agem em conjunto, com um objetivo comum (CROSS e PARKER, 2004; FREEMAN, 2006). Essas pessoas podem estar em instituições diferentes ou atuando em níveis diferentes de serviços de um mesmo setor de atividade, o importante é que elas se disponham e trabalhem de forma integrada. Dessa forma, poderão trocar informações, planejar em conjunto e acertar as ações a serem desenvolvidas por cada um, pensando nos objetivos comuns. No caso do suicí- dio, como já mencionado, essa rede pode ser composta por muitas pessoas de diferentes setores, articulados entre si. A rede local de vigilância, prevenção e controle atuam em torno de todas as situações de vulnerabilidade para o suicídio. Tal rede deve ser constituída basicamente por dois níveis de articulação das ações: a) O primeiro nível está na área da saúde, formado - viços de urgência, de saúde mental e da atenção –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 34 primária, que vão construir juntos os planos de cuidado para cada caso; e b) O segundo nível abrange integrantes de outros medidas de apoio às pessoas em situação de vulne- rabilidade e suas famílias. Um aspecto que merece destaque é o de que a rede é composta por pessoas e pelas articulações entre elas, que são mais importantes do que as instituições e as convenções formais. - blema no seu dia a dia, e são elas que podem gerar ações concretas e efetivas de apoio para aqueles que estão em si- tuação de vulnerabilidade. É a partir de sua sensibilidade e mobilização que elas serão capazes de formar e fazer funcionar a rede de vigilân- cia, prevenção e controle do suicídio. pessoas que tentaram o suicídio vão necessitar de tratamento continuado. Todas essas pessoas precisarão ser acompanhadas pela atenção primária, ainda que sob a supervisão de pro- - mária, especialmente da Saúde da Família, desempenham um papel-chave, assegurando a continuidade dos cuidados e a adesão ao tratamento, garantindo a integração com a –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 35 saúde mental sobre os avanços e os problemas enfrentados pelos pacientes ao longo do tratamento. As situaçõesmais graves precisam de acompanhamen- Psicossociais. A rede de proteção vai se formando a partir da atuação dos diferentes atores necessários à condução de cada caso. O sucesso do trabalho depende essencialmente do es- tabelecimento de contatos e de comunicação em torno dos fornecer elementos importantes para o estabelecimento de um plano de cuidados adequado e de cooperação entre todos. estarão estabelecendo o núcleo de uma rede local de pre- venção e de controle do suicídio. Os países que vêm obtendo sucesso no enfrentamento do suicídio utilizam estratégias que envolvem setores diver- sos, tais como imprensa, educação, saúde, assistência so- cial, segurança pública, ONGs e as famílias. Cada um desses setores e pessoas envolvidas pode cumprir um papel importante em sua área de atividade. As ações têm mais sucesso quando são feitas de forma combi- nada entre pessoas de diferentes setores por meio da rede. - pas da prevenção e controle do suicídio. –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 36 A família é parte importante na prevenção dessa ati- tude extrema que deixam marcas profundas nos parentes mais próximos. 2.2 AVALIAÇÕES DE RISCO DE HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA A violência cometida por indivíduos com transtornos mentais graves tem se tornado um crescente foco de inte- resse entre médicos, autoridades, policiais e população em geral VALENÇA et. Al (2006). Diversos estudos na última década têm mostrado uma associação entre transtornos mentais e comportamento violento. Uma das principais abordagens para estudar esta relação são as pesquisas com indivíduos homicidas, uma vez que o homicídio é considerado uma expressão mais gra- ve da violência. A maioria dos estudos que descrevem a relação entre homicídio e transtornos mentais utiliza a expressão inglesa traduzida “transtornos mentais maiores”. Na prática, essa expressão se refere a transtornos mentais graves, como esquizofrenia, transtorno bipolar, de- pressão maior e transtorno delirante. É difícil interpretar os dados sobre o risco de comportamento violento entre indi- víduos com transtornos mentais que vivem na comunidade. Para países como os Estados Unidos, com elevadas taxas de homicídio, a proporção de homicídios atribuídos a transtornos mentais é menor do que em países como o Reino Unido, onde há baixas taxas desse tipo de crime. –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 37 Um dos poucos estudos comunitários sobre a associa- ção entre transtornos mentais e violência foi à pesquisa do Área. Oito a 10% dos indivíduos com esquizofrenia relataram aos pesquisadores que tinham sido violentos nos últimos 12 meses anteriores à entrevista, comparados a 2% da população geral. Os que abusaram de drogas, apresentando ou não transtornos mentais, tiveram um risco maior. Segundo pesquisas australianas, o aumento do núme- ro de condenações por homicídio em pessoas com esquizo- frenia acompanhou os níveis de aumento de homicídio da sociedade em geral. Pessoas com transtornos mentais graves são mais condenadas por crimes violentos do que aquelas sem trans- tornos mentais. São três os tipos de investigação que dão suporte a esses achados. Primeiro, estudos que acompanham indivíduos a par- tir de seu nascimento até a idade adulta (denominados de “ ”) e comparam aqueles indivíduos que desenvolveram transtornos mentais graves e são hospitali- zados com aqueles sem história de internação por transtor- no mental. Estes estudos têm encontrado um número maior de pessoas que desenvolveram transtornos mentais conde- nadas por pelo menos um crime, comparadas àquelas sem transtornos mentais. –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 38 As diferenças nas taxas de prevalência entre aqueles com e sem transtornos mentais foram maiores para crimes violentos do que para crimes não violentos, sendo a associa- ção entre transtornos mentais e criminalidade (incluindo criminalidade violenta) mais importante para as mulheres. Um segundo tipo de investigação é aquela que com- para a atividade criminal de pessoas que receberam alta de hospitais psiquiátricos àquelas sem transtornos mentais, que vivem na mesma comunidade. Estes estudos têm encontrado taxas mais altas de cri- minalidade entre indivíduos com transtornos mentais gra- ves. . seguiram amostras de pacientes de hospitais psiquiátricos gerais dos Estados Unidos, libera- dos para a comunidade e provenientes de quatro cidades. Os diagnósticos primários incluíram: 42% de depres- são, 21,8% de abuso de substâncias, 17% de esquizofrenia, 14% de transtorno bipolar, 2% de transtornos de personali- dade e 3% de outros transtornos psicóticos. Foi constatado que, durante o ano que se seguiu a alta, 27,5% dos pacientes cometeram pelo menos um ato violen- to que resultou em necessidade de ajuda médica por parte da vítima. As maiores frequências de comportamento violento foram de 14,8% na esquizofrenia; 28,5% na depressão e 22% no transtorno bipolar. –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 39 Um achado importante deste estudo foi que o maior preditor de comportamento violento era a existência de comportamento violento prévio. Outro estudo de metodologia semelhante recrutou 110 pacientes do sexo masculino liberados de hospitais forenses do Canadá, Finlândia, Alemanha e Suécia, com diagnóstico de esquizofrenia, transtorno esquizoafetivo ou transtorno esquizofreniforme. Cerca de 25% dos pacientes forenses ti- nham sido condenados por homicídio. Estes foram compa- rados com 47 pacientes liberados de hospitais psiquiátricos gerais, com o mesmo diagnóstico. Foi encontrado que os atos violentos, incluindo o homicídio, foram oito vezes mais prevalentes entre os pa- cientes forenses do que naqueles provenientes de hospitais psiquiátricos gerais. Ainda neste estudo, uma avaliação do grupo de pacientes provenientes de hospitais psiquiátricos - nóstico de abuso de substâncias e transtorno de personali- dade antissocial. Em um terceiro tipo de investigação, estudos conduzi- dos entre prisioneiros homens, condenados por homicídio, descreveram prevalências elevadas de esquizofrenia (10,9% a 12,6%) e Transtornos do Humor (20,6%). Côté e Hodgins selecionaram uma amostra de 650 internos homicidas de uma penitenciária em Quebec, no Canadá, o que representava 22% da população penitenci- ária masculina em abril de 1988. Destes, 460 (71%) foram –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 40 entrevistados, havendo também acesso aos seus processos criminais. Houve 109 indivíduos que apresentavam um transtorno mental ao longo da vida: 31 casos de esquizo- frenia, 4 de transtorno esquizofreniforme, 51 de depressão maior, 21 de transtorno bipolar e 2 de transtorno mental orgânico. comparados a outros criminosos (21%) apresentavam transtornos mentais graves. Na maioria dos casos, o trans- torno mental estava presente antes do homicídio. - É importante salientar que essas pesquisas estão foca- lizando os transtornos mentais do eixo I. Talvez isso expli- que o porquê de não aparecer de forma evidente à associa- ção entre transtorno de personalidade antissocial (que gera comportamento violento mais do que psicoses) e compor- tamento violento. sendo tam- bém reconhecido pelo exame psiquiátrico do perpetrador e sua caracterização como indivíduo que apresenta um trans- torno mental grave. –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 41 A incidência de homicídios anormais tende a ser cons- tante em diversas sociedades, acompanhando a incidência dos principais transtornos mentais, enquanto a incidência uma sociedade, como a violência urbana, por exemplo. Alguns estudos têm encontrado maior incidência de homicídios de familiares ou pessoas próximas em indivídu- os psicóticos, enquanto homicídios de pessoas desconheci- das pelas vítimas seria mais frequentemente associadoao abuso de álcool ou drogas pelo perpetrador. Simpson et al. encontraram que em 74% dos homicí- dios “anormais”, as vítimas eram familiares ou companhei- ros dos perpetradores, sendo esta relação de proximidade encontrada em apenas 9% dos homicidas “normais”. Não se pode desprezar estudos sobre a importância da vítima no processo criminal. As taxas encontradas de ho- micídios “anormais” têm variado entre diferentes estudos. O estudo de Simpson et al. encontrou uma taxa de 1,3 por mil habitantes. Vários estudos encontraram taxas maio- res de homicídios “anormais”. Estudos do Reino Unido e Canadá encontraram taxas de 11% e 12,6%, respectivamente. Quanto maior a taxa de homicídios de um país, me- nor é a proporção cometida por pessoas com transtornos mentais. Eronen estudou 127 homicidas na Finlândia, ao longo de um período de 13 anos, avaliando tanto os transtornos mentais do eixo I quanto os transtornos de personalidade –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 42 (eixo II). Constatou-se que as mulheres homicidas tiveram um risco 70 vezes maior do que as mulheres da população geral de apresentar transtorno antissocial de personalidade, dependência de álcool e drogas com transtorno de persona- lidade, e esquizofrenia com dependência de álcool/drogas. Outro estudo realizou um seguimento de 132 mulhe- res homicidas, incluindo aquelas mencionadas no estudo nestas pacientes. 132 mulheres cometeram novos delitos, 15% dos quais fo- ram violentos. Das mulheres com recidiva criminal, 81% apresentavam transtornos de personalidade e 10% trans- tornos psicóticos. As demais não apresentavam transtornos mentais. Após o homicídio inicial, 3% das mulheres comete- ram outro homicídio. Num estudo semelhante, envolven- do indivíduos do sexo masculino, 2% foram homicidas recidivantes. Na atual política de desinstitucionalização, na qual a hospitalização é cada vez mais limitada, tem havido priori- dade para o desenvolvimento de estratégias de manejo do risco de violência na comunidade. 2.2.1 ESTUDOS DE HOMICÍDIOS EM DIFERENTES PAÍSES Na literatura têm sido documentados diversos estu- dos de homicídios em alguns países. Um aspecto relevante –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 43 destes estudos é o tamanho das amostras, que comporta um número muito grande de indivíduos. Na Dinamarca, houve a realização de um estudo com acusados de homicídio, ao longo de um período de 25 anos, sendo a maioria examinada do ponto de vista psiquiátrico. Foram descritas altas taxas de esquizofrenia (6,5% em homens e 5,6% em mulheres) e depressão (3,3% em ho- mens e 27,8% em mulheres). Menos de um quarto da amos- tra havia sido tratada em hospitais psiquiátricos. Um estudo na Islândia, com homicidas, encontrou uma taxa de 15% de esquizofrenia para ambos os sexos. Na Suécia, Fazel e Grann investigaram 2.005 homici- das em um período de 14 anos (1988 a 2001). As informa- ções psiquiátricas foram baseadas na avaliação psiquiátri- co-forense e nos registros hospitalares. Foi encontrada uma prevalência de transtornos psicóticos de 20%, incluindo 9% com esquizofrenia. No subgrupo onde foi investigado um diagnóstico se- cundário, a frequência de uso de qualquer substância foi de 47% e a de qualquer transtorno de personalidade foi de 54%, sendo o (antissocial, borderline, histriônico e narcisista) o mais encontrado. Na Nova Zelândia foi realizado um estudo retrospecti- vo, de 1970 a 2000, tendo sido utilizadas fontes governamen- como aqueles enquadrados em quatro situações: incapa- zes para serem processados e julgados, inocentes devido à –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 44 insanidade, condenados e sentenciados à internação psi- quiátrica compulsória, ou condenados por infanticídio. O número total de homicídios no período foi de 1.498. Destes, 130 (8,7%) foram considerados homicidas mental- disponíveis para 126 perpetradores de homicídios anormais. Do ponto de vista diagnóstico, 55 (43,6%) apresenta- vam esquizofrenia, 19 (15%) outros transtornos psicóticos, 13 (10,3%) depressão maior, 5 (3,9%) transtorno bipolar, 10 (7,9%) abuso de álcool ou substâncias, 9 (7,1%) transtor- nos mentais orgânicos, 9 (7,1%) retardo mental e 11 (8,7%), transtorno de personalidade primário ou secundário. estabelecer correlações entre comportamento violento ou (VALENÇA, 2006). Sem dúvida, a esquizofrenia é o transtorno mental mais bem estudado nesse aspecto. 2.2.2 ESQUIZOFRENIA, TRANSTORNO ESQUIZOAFETIVO E TRANSTORNO DELIRANTE Em um estudo realizado por Schwartz et al. foram se- lecionados 267 pacientes com diagnóstico de esquizofrenia, que faziam acompanhamento contínuo por um período de seis meses ou mais. –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 45 sintomas maníacos, sintomas psicóticos e prejuízo do fun- cionamento global e ideação e tentativa de homicídio, re- forçando a suposição de que a falta de teste de realidade pode contribuir para o comportamento violento ou homi- cida. Joyal et al. avaliaram 58 pacientes com diagnóstico de esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo, que foram condenados por homicídio ou tentativa de homicídio e en- caminhados para tratamento em hospital forense. Foi encontrado que a maioria (86%) dos homicidas ti- atos violentos aconteceram com maior frequência na resi- dência privada (78%), do que em local público (22%). Entretanto, aqueles com transtorno de personalidade antissocial associado, com maior frequência agrediram pes- soas não-membros de sua família ou residência. A forma paranoide de esquizofrenia foi a mais co- mum, sendo que 60% dos homicídios se seguiram a delírios e alucinações diretamente relacionados a eles. - cativamente maior de pacientes sem transtorno de persona- lidade antissocial (83%), comparada àqueles com esse tipo - cos no momento do crime. O tipo de delírio mais comum foi o persecutório. O subgrupo com transtorno de personalidade antis- social era mais jovem no momento da primeira ofensa e –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 46 apresentou uma frequência maior de diagnóstico de abuso ou dependência de álcool do que o subgrupo sem este trans- torno de personalidade (VALENÇA, 2006). 2.2.3 TRANSTORNOS AFETIVOS Dois estudos que acompanharam pessoas desde o seu nascimento até a idade adulta avaliaram o risco de crimina- lidade em pessoas que desenvolveram transtornos afetivos. A primeira destas investigações incluiu 12.058 indiví- duos nascidos na Finlândia, em 1966. Em 1992, foram co- lhidas informações sobre tratamento psiquiátrico ambula- torial e hospitalar e condenações por crimes. Na idade de 26 anos, apenas seis homens (0,001%) e três mulheres (0,006%) receberam diagnóstico de transtor- no afetivo grave. Dos seis homens, dois tinham sido condenados, um deles por crime violento. Nenhuma das três mulheres teve história de criminalidade. Na Dinamarca, um estudo, já mencionado, com a examinou 324.401 indivíduos com idade entre 43 e 46 anos. Entre os homens, tiveram história de pelo menos uma prisão: 13% daqueles que nunca haviam sido admitidos em tratamentos psiquiátricos, 20% daqueles que foram admiti- dos com depressão psicótica e 27% daqueles com transtor- no bipolar. –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 47 Nas mulheres, de forma semelhante, 3,5% das que nunca tinham sido admitidas em unidades de tratamento psiquiátrico, 8% daquelas com depressão psicótica e 10% daquelas com transtorno bipolar tinham sido presas. Outro dado encontrado é que o risco de delito violen- to foi maior entre os homens e mulheres com transtornos afetivos graves. Enquanto 3,3% dos homens e 0,2% das mu- lheres sem transtornos mentais tinham sido condenados por pelo menos um delito violento, isto aconteceu a 6,3% dos homens e 0,6% das mulheres com transtornos afetivos graves. Em um estudo comuma amostra de 495 prisioneiros no Canadá, foram encontradas taxas de prevalência de 17% de depressão maior e 4,8% de transtorno bipolar. Além dis- so, dois outros estudos encontraram taxas maiores de de- pressão entre indivíduos homicidas do que na população geral. Um aspecto que não pode deixar de ser levado em consideração é que estes estudos subestimam a associação entre transtornos afetivos graves e homicídio, porque os homicidas que se suicidaram não foram incluídos, sendo que muitos destes poderiam apresentar transtornos afeti- vos graves (VALENÇA, 2006). 2.2.4 TRANSTORNOS MENTAIS ORGÂNICOS Poucos estudos têm pesquisado a associação entre transtornos mentais orgânicos e comportamento violento ou homicida. –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 48 Na realidade, a maioria dos dados sobre transtornos mentais orgânicos e violência fazem parte de investigações mais amplas sobre criminalidade e transtornos mentais. Infelizmente, a porcentagem de pacientes com transtornos mentais orgânicos nestes estudos é frequentemente baixa. - tes com lesão cerebral importante cometem mais crimes do que a população geral. A frequência de comportamento violento em indiví- duos com lesão cerebral varia de 18% em pacientes demen- ciados 40 a 60% em pacientes com lesões frontais. Uma inconsistência das pesquisas relacionadas aos transtornos mentais orgânicos é a questão da causalidade. A maioria dos estudos sobre esses transtornos pressu- põe que os mesmos precedem e causam o comportamento et al.,42 encontrou que 52% dos pacientes com transtornos mentais orgâni- cos de hospitais forenses da Alemanha Ocidental come- teram seu primeiro delito antes do diagnóstico de psicose orgânica. Desta forma, enquanto estes transtornos podem le- var alguns indivíduos a cometer delitos, outros apresentam comportamento antissocial muito antes de se tornarem doentes. - tiva a comportamento violento. Entretanto, lesão cerebral –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 49 adquirida na vida adulta pode aumentar o risco de compor- tamento violento e homicídio. Na demência, o comportamento violento é maior na presença de delírios, sendo que, nesses casos, as principais vítimas são representadas pelos familiares e vizinhos. Hafner e Boker (1982), apud Martell, acompanharam 533 indivíduos que entraram no sistema de saúde mental forense da Alemanha, ao longo de um período de 10 anos. Seus dados sugeriram que 33,6% destes pacientes orgânico, incluindo retardo mental (12,7%), lesão cerebral - lepsia (5,4%). Na Dinamarca, foi estudada uma amostra de 565 pa- cientes do sexo masculino com diagnóstico de transtorno mental orgânico, com história de pelo menos uma interna- ção psiquiátrica e de terem sido presos por pelo menos uma vez, por crimes violentos, incluindo o homicídio. O achado mais importante desse estudo foi que os in- divíduos que iniciaram atividade criminal antes dos 18 anos os demais. Esses indivíduos também apresentaram com maior frequência diagnóstico de transtorno de personali- dade antissocial. As pessoas com transtornos de personalidade e abu- so de substâncias formam a maior parte de uma categoria ampla de pessoas com transtornos mentais que cometem –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 50 homicídio. Indivíduos que apresentam transtornos men- tais em combinação com transtorno de personalidade an- tissocial e abuso/dependência de substâncias são frequen- temente rejeitados pelos clínicos e mais orientados para o sistema de justiça criminal do que para o sistema de saúde mental. De fato, um grande número de homicidas com trans- tornos mentais graves descritos em diversos estudos apre- senta comorbidade com transtornos de personalidade ou de abuso/dependência de substâncias, de forma que é difícil saber a contribuição exata de cada transtorno para o com- portamento homicida, quando os mesmos estão associados. Há alguma preocupação de que o processo de desins- titucionalização tenha resultado em um aumento do núme- ro de pessoas com transtornos mentais graves que comete- ram delitos, o que não está comprovado do ponto de vista Isso se deve a uma carência de estudos sobre o nú- mero de pessoas com transtornos mentais presas antes da era da desinstitucionalização, bem como dados sobre com- portamento criminal entre pessoas com transtornos men- tais antes desta era. Certamente, as políticas de cuidados extra-hospitalares em saúde mental têm uma participação essencial na prevenção da criminalidade entre os indivídu- os com transtornos mentais. Programas de tratamento com múltiplas abordagens, - los pacientes (manejo de sintomas, abuso de substâncias, –ESTUDO DAS AVALIAÇÕES DE RISCO DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO E VIOLÊNCIA– 51 - de) são mais efetivos do que abordagens tradicionais, cen- tradas unicamente no tratamento farmacológico, podendo, desta forma, contribuir para prevenção do comportamento violento ou homicida (VALENÇA, 2006). É importante que os serviços de saúde mental traba- lhem para prevenir a perda de contato e não aderência ao tratamento, que frequentemente precedem o homicídio co- metido por pessoas com transtornos mentais graves. Também é fundamental que a sociedade e as autori- dades governamentais atenuem barreiras de acesso a trata- mento psiquiátrico e psicossocial. Nesse sentido, no Brasil, houve uma grande evolu- ção com a criação dos NAPS e CAPS, descentralizados em tratamento adequado a esses cidadãos que devem ser con- templados com uma política de saúde humanizada, onde os direitos fundamentais devem ser preservados. –EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 1– 52 EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 1 1) Conceitue transtornos mentais? 2) O que são considerados transtornos mentais comuns? 3) Os transtornos mentais, em geral, resultam da soma de muitos fatores. Cite três desses fatores? –EXERCÍCIOS PROPOSTOS UNIDADE 1– 53 4) A maioria dos estudos que descrevem a relação entre ho- micídio e transtornos mentais utiliza a expressão inglesa traduzida como? 5) A rede de prevenção ao suicídio deve ser constituída por dois níveis. Como está estruturado o primeiro nível? 6) Qual o papel do CVV na prevenção do suicídio? UNIDADE UNIDADE 2. 2 CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 3. COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS BEM COMO A POLÍTICA NACIONAL DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 56 3.1 TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS Em pesquisa realizada no site da Secretaria Nacional sua cultura, dos seus rituais religiosos, das suas relações lução, fazendo referência a um elevado número de substân cias com distintos efeitos sobre a percepção, o pensamento, o estado de ânimo ou as emoções, com diferente capacida De maneira generalizada, as drogas consideradas substâncias psicoativas são aquelas utilizadas para produ zir alterações nas sensações, no grau de consciência ou no As alterações causadas por essas substâncias variam de acordo com as características da pessoa que as usa, de qual droga é utilizada, em que quantidade, do efeito que se –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 57 Figura 3.1 - DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS As drogas atuam no cérebro afetando a atividade Basicamente, elas são de três tipos, os quais particulariza Drogas depressoras drogas afetam o cérebro, fazendo com que ele funcione de ansiolíticos (tranquilizantes), álcool, inalantes (cola) e nar heroína Drogas estimulantes substâncias afetam o cérebro, fazendo com que ele funcione taminas, cocaína outros estimulantes, costumam ser utilizadas para se obter –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 58 Drogas alucinógenas (ou psicodislépticas) Exemplos: LSD, ecstasy, maconha e outras substâncias derivadas Novas Substâncias Psicoativas (NSP) das de controlenacional e internacionalmente aplicadas às tras drogas, como cocaína, heroína, LSD, ecstasy substâncias, o que representa aparecimento médio de mais Em pesquisa também realizada no Serviço Nacional –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 59 CANNABIS SATIVA - MACONHA maconha, também denominada , uma planta da família , ori A maconha é a droga ilícita mais consumida no mun do, representando um problema de saúde pública em mui O seu consumo provoca alterações psicológi- • aceleração dos batimentos cardíacos; • • euforia, • redução da coordenação motora; • • mudanças nas funções dos sentidos; • • –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 60 maconha tâncias químicas da maconha e algumas pesquisas de monstraram que o seu uso medicinal pode contribuir no indicam que, apesar dos seus benefícios, ainda é preciso co maconha Sanitária) incluiu a na lista de plantas me COCAÍNA cocaína é um alcaloi ), planta este da América do Sul, com efeito estimulante no sistema –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 61 cocaína Nomes químicos: benzoilmetilecgonina ou éster do Outros nomes: Para a obtenção da cocaína, algumas etapas são a determinados produtos químicos como solventes (quero sene ou gasolina) e ácido sulfúrico, produz uma pasta de natureza alcalina, denominada pasta base de cocaína A pasta da coca é o produto inicial da fase de pre “A merla é um produto grosseiro, obtido também das primeiras fases de separação da cocaína, a partir do A cocaína, farinha ou pó como cloridrato de cocaína, é uma substância sob a forma –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 62 droga, muitas vezes, adicionam talco, ácido acetilsalicílico crack é um subproduto da cocaína do cocaína pedra é pouco solúvel em água, mas se volatiliza quando aquecida e, portanto, é fu A substância age como estimulante do sistema nervo so central e, por isso, é capaz de causar diversos efeitos ao Os efeitos físicos a curto e longo prazo são: • aumento da frequência cardíaca • aumento da temperatura corporal • • aumento da transpiração • tremor leve • contrações musculares involuntárias (língua e mandíbula) • tiques • dilatação da pupila (midríase) • urgência de urinação • –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 63 • • dentes anestesiados Os efeitos psíquicos a curto e longo prazo são: • aceleração do pensamento • inquietação psicomotora • aumento do estado de alerta • • inibição do apetite • • sensação de poder • ausência de medo • ansiedade • agressividade • delírios Riscos do uso da cocaína tamente pelos efeitos que causam dependência química e clarece que o uso constante da cocaína e os outros tipos da • • perda da capacidade de concentração mental • perda da capacidade analítica –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 64 • alterações estruturais de parênquima pulmonar • destruição do septo nasal • perda de peso • cefaleias • síncopes • distúrbios periféricos • silicose • drogas estimulantes pode potencializar o efeito e duração da cocaína central, como é o caso do álcool, diminuem os efeitos in cocaína, fazendo com que o usuário utilize cada vez mais a droga ilícita para atingir o comitante da cocaína com o álcool é a formação de um ter ário ingere o álcool e a cocaína simultaneamente, o fígado cocaína utili A overdose é considerada uma complicação aguda da cocaína –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 65 • convulsões • depressão neuronal • alucinações • paranoia (geralmente reversível) • taquicardia • mãos e pés adormecidos • • depressão vasomotora • morte 3.2 POLITICA NACIONAL DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS aprova a Política Nacional sobre Drogas, disponível –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 66 e Segurança Pública articularão e coordenarão a implemen 3.2.1 INTRODUÇÃO de drogas, sendo este dado o recorte de apenas uma das constitui como um grave problema de saúde pública, com assistência social, dentre outros, e os espaços familiares e –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 67 sociais são repetidamente afetados, direta ou indiretamen Independentemente das questões de gênero, idade, reiteradas ações concretas do Poder Público, por meio da elaboração de estratégias efetivas para dar respostas nes articulada e cooperada, envolvendo o governo e a socieda de civil, alcançando as esferas de prevenção, tratamento, Dentre as drogas ilícitas, a maconha, em nível mun maconha Em pesquisa nacional de levantamento domiciliar, re maco- nha Ademais, o uso de maconha, especialmente no pú blico adolescente, gera preocupação em decorrência das –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 68 sintomas de depressão e ansiedade, diminuição da mo Com relação à cocaína cocaína, em cessário compreender a limitação de tal pesquisa, por ser uma amostra domiciliar, que não considera a população em cidades, com uma tendência de maior de consumo de tais No que tange ao uso de drogas lícitas, em nível mun dial, o uso de tabaco é considerado um dos fatores mais de ção do uso do tabaco nos últimos anos é representativa e pode se vincular à implementação de ações direcionadas à –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 69 prevenção, tais como as limitações nas veiculações de ações de ações voltadas para esse público, bem como amplia ção no controle sobre a comercialização do tabaco entre Ao mesmo tempo em que se registra uma diminuição lares, como o narguilé, especialmente entre adolescentes e Entidades atuantes na área da prevenção do uso de drogas relatam o crescente uso dos derivados do tabaco en Ações de marketing, que promovem produtos como duto, podem vir a induzir o aumento do uso dessas subs tâncias vendidas sem qualquer descrição dos seus efeitos tabaco e de seus derivados, estes produtos, em sua comer cialização, devem ter as mesmas diretrizes de advertência –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 70 Esses dados são ainda mais preocupantes no público feminino, visto o aumento do uso de maneira mais precoce Desenvolver estratégias voltadas para o público mais efeitos negativos do uso sobre este grupo etário são maiores De forma associada a esse quadro é necessário tam ol, o que remete à necessidade de atuar diretamente sobre –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 71 (Disability-Adjusted Life Year), que seria a soma dos anos potenciais de vida perdidos, devido à mortalidade prematura e os anos de vida produtiva perdidos devido à de fundamental relevância visto que a população brasilei de propostas de tratamentos gratuitos para o uso de álcool ca pública sobre drogas, considerada a dinamicidade deste 3.2.2 PRESSUPOSTOS DA POLÍTICA NACIONAL SOBRE DROGAS A seguir serão mencionados alguns pressupostos da –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 72 buscar incessantemente atingir o ideal de constru ção de uma sociedade protegida do uso de drogas a orientação central da Política Nacional sobre Drogas considera aspectos legais, culturais e cien contrária da população brasileira quanto às inicia diferenciada, considerada a natureza, a quantida de da substância apreendida, o local e as condições em que se desenvolveu a ação de apreensão, as circunstâncias sociais e pessoais e a conduta e os antecedentes do agente, considerados obrigatoria ilícitas, tais como a cannabis, não serão admiti tratar sem discriminação as pessoas usuárias ou conscientizar o usuário e a sociedade de que o uso –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 73 garantir o direito à assistência intersetorial, inter com problemas decorrentes do uso, do uso indevi de atenção, o cuidado, a assistência, a prevenção, o a reinserçãosocial, os estudos, a pesquisa, a avalia dos fatores de proteção ao uso, ao uso indevido e à esportes, entre outros, como fatores de proteção ao uso, ao uso indevido e à dependência do tabaco, do álcool e de outras drogas, observada a laicidade do ao uso, ao uso indevido e à dependência do álcool indivíduo e da sociedade em relação aos fatores de –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 74 risco, com ações efetivas de mitigação desses ris na área do uso, do uso indevido e da dependência de drogas lícitas e ilícitas precisam alcançar a po pulação brasileira, especialmente sua parcela mais fatores do uso, do uso indevido e da dependên cia do álcool e de outras drogas, além de promo ver assistência aos afetados pelos problemas deles uso de álcool e de outras drogas também como um problema concernente à infância, à adolescência e dagem e cuidados e do uso de tecnologias, ferra iniciativas da Política Nacional sobre Drogas, em –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 75 tiva de seus processos, resultados e impactos na incentivar, orientar e propor o aperfeiçoamento da portante na indução da dependência, e que por esse social, especialmente nos aspectos relacionados à propaganda, à comercialização e à acessibilida de de populações vulneráveis, tais como crianças, 3.2.3 OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL SOBRE DROGAS • conscientizar e proteger a sociedade brasileira dos representados pelo uso, pelo uso indevido e pela • conscientizar o usuário e a sociedade de que o uso, o uso indevido e a dependência de drogas ilí –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 76 • garantir o direito à assistência intersetorial, inter tenção da rede de assistência integrada, pública e decorrentes do uso, do uso indevido ou da depen dência do álcool e de outras drogas e a prevenção das mesmas a toda a população, principalmente • buscar equilíbrio entre as diversas frentes que com põem de forma Inter sistêmica a Pnad, nas esferas va, em políticas públicas de redução da demanda (prevenção, promoção e manutenção da absti nência, promoção à saúde, cuidado, tratamento, redução dos riscos e danos sociais e à saúde, rein serção social) e redução de oferta (ações de segu rança pública, de defesa, de inteligência, de regu lação de substâncias precursoras, de substâncias controladas e de drogas lícitas, além de repressão inclusive por meio da recuperação de ativos que –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 77 • promover e apoiar novas formas de abordagens e cuidados e o uso de tecnologias, ferramentas, ser viços e ações digitais e inovadoras, que inclusive proporcionem redução de custos para o Poder • cumprir e fazer cumprir as leis e as normas sobre drogas lícitas e ilícitas, implementar as ações delas decorrentes e desenvolver ações e regulamenta ções, especialmente aquelas relacionadas à prote ção da vida, da saúde, da criança, do adolescente e • propor, manter, alterar e fazer cumprir políticas • promover, criar estímulos e condições, e apoiar ini ciativas de capacitação e formação da rede da Pnad e da Política Nacional sobre o Álcool, nos âmbitos • promover, criar estímulos e condições, e apoiar iniciativas de estudos, pesquisas e avaliações das ações, dos serviços, dos programas e das atividades no âmbito da Pnad e da Política Nacional sobre o –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 78 • assegurar, por meio de medidas administrativas, Adolescente e na Convenção sobre os Direitos da da criança e do adolescente, inclusive nos meios de comunicação, zelando para que a criança, o ado cial, espiritual e moral e sua saúde física e mental, promovendo a elaboração de diretrizes apropria • assegurar políticas públicas para redução da oferta de drogas, por meio de atuação coordenada, coo perativa e colaborativa dos integrantes do Sistema gãos responsáveis pela persecução criminal nos entes federativos, incluída a realização de ações re pressivas e processos criminais contra os respon –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 79 • educar, informar, capacitar e formar pessoas, em todos os segmentos sociais, para a ação efetiva e nacional, apoiando e fomentando serviços e insti tuições, públicas ou privadas atuantes na área da capacitação e educação continuada relacionadas ao uso, ao uso indevido e à dependência do tabaco • drogas lícitas e ilícitas em uma rede operativa, com • sistência e o cuidado de pessoas com uso indevido de álcool e outras drogas lícitas e ilícitas e com de • teiras terrestres, aéreas e marítimas e ao crime or • fundamentar o desenvolvimento de programas e –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 80 de intervenções dirigidas à redução de demanda e observados os procedimentos éticos de pesquisa • ticas públicas vinculadas ao tema, tais como, a Nacional de Álcool, a Política Nacional de Saúde • garantir o caráter Intersistêmico, intersetorial, in terdisciplinar e transversal do Sistema Nacional de articulação com outros sistemas de políticas pú 3.2.4 PREVENÇÃO A efetiva prevenção ao uso de tabaco e seus derivados, de álcool e de outras drogas é fruto do comprometimento, da cooperação e da parceria entre os diferentes segmentos blica federal, estadual, distrital e municipal, fundamenta –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 81 vida e promoção geral da saúde da população, da promo vínculos interpessoais, a promoção dos fatores de proteção ao uso do tabaco e de seus derivados, do álcool e de outras realizada nos níveis federal, estadual, distrital e municipal, municipais de políticas públicas sobre drogas e da socie dade civil organizada, adequada às peculiaridades locais e com a priorização das comunidades mais vulneráveis, iden As ações preventivas devem ser pautadas em princí pios éticos e de pluralidade cultural, orientadas para a pro moção de valores voltados à saúde física, mental e social, para a vida, da espiritualidade, à valorização das relações familiares e à promoção dos fatores de proteção ao uso do tabaco e seus derivados, do álcool e de outras drogas, con –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 82 cação para a vida saudável e à qualidade de vida, ao for talecimento dos mecanismos de proteção do indivíduo, ao acesso aos bens culturais, à prática de esportes, ao lazer, ao desenvolvimento da espiritualidade, à promoção e ma pação da família, da escola e da sociedade na multiplicação educacionais e preventivos devem ser claras, atualizadas vulnerabilidade de determinados grupos sociais, incluído o As políticas e as ações de prevenção devem estimular a a tributação de preços como fatores inibidores de consumo, Deve ser assegurado, por meio de medidas adminis Criança e do Adolescente e na Convenção sobre os Direitos –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 83 adolescente, inclusive nos meios de comunicação, zelar a informações e materiais que visem promover seu bem ser tratados como um problema concernente à infância, à além de garantir o tratamento, a assistência e o cuidado 3.2.5 TRATAMENTO, ACOLHIMENTO, RECUPERAÇÃO, APOIO, MÚTUA AJUDA E REINSERÇÃO SOCIAL para que a sociedade, incluídos os usuários, os dependen nistração pública na abordagem do uso indevido e da de pendência do tabaco e seus derivados, do álcool e de outras Poder Público, nos níveis federal, estadual, distrital e –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 84 ros, para a realização dessas práticas e pesquisas na área, e promoverão o aperfeiçoamento do adequado cuidado das pessoas com uso abusivo e dependência de drogas lícitas e Promover e garantir a articulação e a integração das in tervenções para tratamento, recuperação, reinserção social, Corpo de Bombeiros, Clínicas Especializadas,Casas de tros sistemas relacionados para o usuário e seus familiares, por parte do Estado, nas esferas federal, estadual, distrital A capacitação continuada, avaliada e atualizada dos setores governamentais e não governamentais envolvidos –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 85 cos e seus familiares deve ser garantida, com uso de recur Procuramos mostrar a grande relevância da Política nelas encontraremos pessoas, de diversos níveis sociais e que buscavam instantes de prazer para fugir de seus pro blemas e agora se encontram em situação de grande degra dação, sofrendo as consequências em seus corpos e mentes –COMPREENDER OS DIFERENTES TIPOS DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS– 86 tremendamente, doloroso e difícil, que atinge, inclusive, as afastar e buscar alegria e prazer em tantas outras coisas que CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 4. A SOBRECARGA FAMILIAR DE PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS E ABORDAGENS FAMILIARES –A SOBRECARGA FAMILIAR– 88 4.1 SOBRECARGA FAMILIAR DE PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS BORBA (2008), em pesquisa realizada, men- cionam que as novas perspectivas referentes à atenção em saúde, como a criação do Programa Saúde da Família, a re- dução do tempo de internação, os cuidados prestados no domicílio, os incentivos para os tratamentos em unidades ambulatoriais, a existência de uma rede social mais ampla longa duração, estimulam a inclusão da família no processo de cuidar. A responsabilidade pelo cuidado do portador de transtorno mental no contexto que antecede o movimen- to reformista era atribuída à instituição hospitalocêntrica, restando à família a tarefa de encaminhar o familiar, visitá- -lo, bem como fornecer as informações necessárias sobre o histórico de sua enfermidade. A relação do institucionalizado com a própria família, era mediada por agentes médicos e estatais, encarregados da cura, custódia e assistência. A partir da década de 1960, no século XX, em países como a Itália, e dos anos 1980 no Brasil, a necessidade de se repensar as práticas em saúde mental torna-se evidente, em face das condições desumanas de tratamento a que eram expostos os portadores de transtorno psíquico, mantidos distantes da sociedade e dos seus familiares. –A SOBRECARGA FAMILIAR– 89 A reforma psiquiátrica defende o processo de desinsti- tucionalização com a consequente substituição dos manicô- mios por novos dispositivos de acolhimento e tratamento, surgindo assim: os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS), os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), o Hospital-Dia, o Programa de Residência Terapêutica e os leitos psiquiá- tricos em Hospital Geral. Essas novas formas de tratamento rompem com os paradigmas do modelo asilar. Os serviços de atenção comunitária em saúde mental devem incluir ações dirigidas aos familiares com a cons- trução de projetos de inserção social, respeitando as pos- sibilidades individuais e os princípios de cidadania que minimizem o estigma e promovam a qualidade de vida dos portadores de sofrimento psíquico. Assim, a unidade familiar assume importante papel no cuidado e na ressocialização dos que sofrem de enfermi- dade mental. “A família é o primeiro sujeito que referencia e totaliza a proteção e a socialização dos indivíduos”, independente das múltiplas formas e contornos que ela assuma, é nela que se inicia o aprendizado dos afetos e das relações sociais. A família é conceituada como um sistema formado por valores, crenças, conhecimentos e práticas que direcionam as suas ações na promoção da saúde de seus integrantes, zelando pela prevenção e pelo tratamento da doença. –A SOBRECARGA FAMILIAR– 90 A presença de um integrante com sofrimento mental no ambiente familiar provoca mudanças nas rotinas, hábi- tos e costumes da família. Com o impacto do diagnóstico, a necessidade de adaptação à nova situação, o estigma social, a dependência e as implicações da cronicidade do quadro incredulidade, perda do controle e medo. A sobrecarga é considerada ainda na sua dimensão intensidade, talvez por ser mais concreta, está relacionada com as demandas reais que a convivência com o transtorno mental impõe, enquanto a sobrecarga subjetiva é abstrata, refere-se ao universo dos sentimentos. Evidencia-se a necessidade que as famílias têm de re- ceber orientação, contar com um suporte social organiza- do e preparado para atender as suas demandas, e o devido apoio para que consigam articular os recursos necessários para atender as demandas decorrentes. A inserção da família em grupos de familiares é bené- são semelhantes às de outras famílias que passam por situ- ações semelhantes. Sobrecarga física e emocional: a presença da - mento de doenças relacionadas ao sistema nervoso como gastrite e problemas gastrintestinais, mostrando como os –A SOBRECARGA FAMILIAR– 91 problemas de ordem emocional repercutem sobre a saúde física dos familiares. salientamos que muitas fa- mílias vivem em situação econômica desfavorável, o que em parte as torna mais vulneráveis. Essa vulnerabilidade é in- - cia um processo complexo, que exige uma nova estrutura nas relações de trabalho e no orçamento familiar. É preciso prever faltas ao trabalho para acompanhar e atender as demandas de cuidados do portador de transtor- no mental, podendo comprometer a única fonte de renda da família. Os pais e demais familiares do portador de sofrimento psíquico custeiam os gastos relacionados à doença e suas consequências. O sustento da casa, a compra de medica- mentos, as despesas com viagens, internações, médicos, - viam para suprir outras necessidades. convive com um portador de transtorno mental, mas é certo que as famílias sofrem privações econômicas. - de do paciente em manter vínculo empregatício ou mesmo ingressar no mercado de trabalho após a manifestação da doença. Salienta-se, então, a importância dos serviços substi- –A SOBRECARGA FAMILIAR– 92 de renda, uma vez que estas resgatam a autoestima dos usu- ários, mostrando que são capazes de aprender e produzir. Sobrecarga do cuidado: o cuidado familiar pode ser reconhecido em vários atributos, entre eles a presença e a proteção. A presença compreende as ações, interações e interpretações por meio das quais, a família demonstra, amor, solidariedade e compreensão aos seus membros, que é fundamental para o crescimento e desenvolvimento do ser humano. A proteção garante as medidas que dizem respeito à segurança física, emocional e social do grupo familiar, in- cluindo a higiene pessoal e a salubridade. Com o agravamento da sintomatologia clínica, a famí- lia vivencia um processo de intenso sofrimento e, por vezes, transcorrer dessa trajetória como consequência da doença, tais como: o sentimento de impotência e o adiamento de planos e expectativas referentes à vida pessoal o que abala e afeta, profundamente, o universo familiar. Desse modo, a pessoa responsável pelo cuidado passa a organizar sua vida em torno da doença e as suas necessi- dades pessoais são passadas para o segundo plano. A convivência com o sofrimento psíquico é percebida pela família como difícil, pois, muitas vezes, não sabe como agir frente aos comportamentos adotados pelo familiar com transtorno mental. –A SOBRECARGA FAMILIAR– 93 Cuidar de um familiar que sofre de transtornos men- tais exige atitudes de tolerância, paciência e amor. O familiar responsável pelo cuidado demonstra pre- ocupação e vigília quanto à administração correta dos psi- cofármacos, tomando para si a responsabilidade de atentar para os horários e a dosagem dos medicamentos, pois, tem medo do uso inadequado que o portador de sofrimento psí- quico possa fazer, colocando sua vida em risco. A família é o núcleo onde se irradia o cuidado, o espa- ço onde o cuidar é aprendido. É preciso considerar que nem todas as pessoas con- seguem assimilar e trabalhar as emoções envolvidas no cuidado a uma pessoa fragilizada pelos efeitos colaterais da medicação, excluídada sociedade e com o curso clínico A sobrecarga em forma de doença física e emocional é constatada pela alteração da dinâmica familiar, pelo aumen- to das demandas oriundas desta nova situação e pela falta de recursos de enfrentamento. Por esse motivo, é comum o aparecimento de agravos físicos e emocionais, como: pro- blemas de coluna, hipertensão arterial, problemas cardía- cos, estresse, tensão e nervosismo na família, após o diag- nóstico de transtorno mental em um de seus integrantes. Um estudo analisando 40 famílias constatou que em 24 delas, outros integrantes apresentam sintomas psicoló- gicos, como o desânimo em relação ao autocuidado, depres- são, preocupações excessivas com os problemas decorrentes –A SOBRECARGA FAMILIAR– 94 dos efeitos colaterais da medicação e a baixa autoestima provocada pela estigmatização. A convivência com o transtorno mental envolve ques- tões complexas, uma vez que não é possível dissociarmos o “corpo doente”, ou seja, o biológico das suas dimensões sociais que, neste caso, são representadas pelo contexto fa- miliar. Tanto as limitações como o próprio sofrimento do portador de transtorno psíquico são vivenciados também - gico e o social. Com a implantação dos serviços substitutivos em saú- de mental, o portador de transtorno psíquico passa parte do dia no serviço e o restante do tempo convive com seus familiares, na tentativa de resgate da cidadania e dos vín- culos que foram rompidos e negligenciados pela instituição asilar. Essa convivência, no entanto, como nem sempre se dá de forma harmoniosa, é em parte questionada, pois nem todas as famílias dispõem de estrutura e recursos de en- frentamento para coexistirem com o estigma social, com o descompasso temporal e com os comportamentos inade- quados do familiar que adoeceu. Entretanto, ao considerar que até mesmo os eventos previsíveis podem gerar certo nível de crise no núcleo fa- miliar, a convivência com a realidade do transtorno mental também é mediada pela capacidade da família de ajustar- -se à nova situação, dependendo das fortalezas que possui, –A SOBRECARGA FAMILIAR– 95 dos laços de solidariedade que agrega e da possibilidade de acessar apoio de outras pessoas e instituições. No atual contexto da assistência psiquiátrica, a família como espaço privilegiado para a prática do cuidado precisa ser inserida de forma efetiva nas discussões do novo para- digma de assistência em saúde mental, vista como uma fa- cilitadora no processo de reinserção social do portador de transtorno mental. Mais do que uma aliada na efetivação do modelo psi- cossocial emergente, ela deve ser encarada como foco de intervenção, para que seus anseios sejam acolhidos e sua sobrecarga minimizada. As famílias precisam ser ouvidas, ter sua realidade/ sofrimento compreendidos e acolhidos, quando, muitas ve- zes, solicita a internação do familiar doente não é por não amá-lo ou por fugirem da responsabilidade de, enquanto família, atender as necessidades de seus integrantes. Isso se dá porque não aguentam mais a convivência que, aos pou- cos, vai se tornando insustentável, difícil e desgastante, o que ressalta a importância de serem orientadas e apoiadas. É importante inserir as famílias em grupos de familia- res nos serviços comunitários de saúde mental, bem como, prestar esclarecimentos sobre o comportamento, a sinto- matologia e o tratamento da enfermidade, sobre o uso dos psicofármacos e os efeitos colaterais dos mesmos, realizar visitas domiciliares para conhecer a realidade da família e fazer com que esta não se sinta sozinha. –A SOBRECARGA FAMILIAR– 96 Ao contrário, deve sentir-se segura e capaz de agir de maneira adequada em relação aos sintomas apresentados pelo portador de sofrimento psíquico. Os vínculos entre família e usuário de saúde mental necessitam ser alicerçados numa relação sincera e de res- peito, onde a singularidade e a individualidade de todos são preservadas, de forma que os primeiros não se sintam so- brecarregados, e os usuários possam, efetivamente, resga- tar sua cidadania e autonomia em uma relação terapêutica. Um dos princípios propostos pelo SUS e que leva em consideração a singularidade, buscando atender às deman- Segundo tal princípio, as condições sociais, econômi- cas e familiares, por serem diferentes, requerem aborda- aproxima da diretriz de humanização das políticas de saúde mental, o que possibilita a criação de práticas e serviços de saúde com o olhar voltado para o cuidado integral dos usu- ários e familiares, buscando, de forma sensível, competente e coerente, compreender o contexto em sua totalidade. Então, a construção de espaços em que a necessidade de criação, de reinvenção de modos de fazer e agir, é per- comprometimento para legitimar o seu poder de contratu- alidade com os diversos atores envolvidos. Segundo Levy (2001, p. 9), “organizar-se, cooperar e criar coletivamente é, antes de tudo, recusar que um ‘senhor do sentido’ dite sua lei”. –A SOBRECARGA FAMILIAR– 97 Nos espaços de inter-relações, seria incoerente apri- sionar o indivíduo em dimensões psicológicas ou sociológi- cas e negar os efeitos destes e de outros campos na histori- cidade do sujeito. O psiquismo (o mental) e sua dinâmica, para Levy (1994, p. 116), “são, por excelência, o lugar da mudança, da possibilidade de desligamentos e de novas combinações”. As condições materiais, objetivas, só têm valor de mu- dança quando elas são apropriadas mentalmente ao nível Com efeito, o individual e o coletivo são imprescin- díveis na abordagem da psicossociologia francesa, assim como as relações que permeiam os processos constitutivos do inconsciente e do social. Tal abordagem se volta para situações que emergem de grupos, de organizações e do cotidiano das comunida- des, além dos possíveis vínculos entre os sujeitos. pela relação contratual terapêutica na qual os envolvidos tecem diálogos em direção a direitos e deveres, visando à dos serviços e familiares). 4.2 PARTICIPAÇÃO DOS FAMILIARES Ao delegarmos o cuidado de um doente mental à fa- mília é importante que possua continência emocional, seja orientada quanto a melhor forma de lidar com o membro –A SOBRECARGA FAMILIAR– 98 portador, e que tenha, a seu dispor, serviços de atenção psi- cossocial com aparatos necessários para o cuidado do seu familiar. - - do-lhes a importância do seu papel na facilitação da inser- ção social de seu membro adoecido. O acolhimento e apoio à família são fundamentais, pois a família desempenha papel relevante na viabilização da inserção social do portador. É importante lembrar que o desempenho desse pa- pel requer um mínimo de infraestrutura que envolva apoio psicoemocional e institucional para lidar com o membro portador de modo a favorecer a adesão ao tratamento e a readaptação do sistema familiar à realidade imposta pela emergência da doença. A cidadania do cliente psiquiátrico não é a simples restituição de seus direitos formais, mas a construção de seus direitos substanciais, e é dentro de tal construção (afe- tiva, relacional, material, habitacional, produtiva) que se encontra a única reabilitação possível. O resgate da cidadania dessas pessoas deve ser com- saúde mental, usuários, famílias dos usuários e a sociedade como um todo, e viabilizado através do processo de reabili- tação psicossocial. –A SOBRECARGA FAMILIAR– 99 A reabilitação psicossocial está ancorada na ética da solidariedade e responsabilidade. Para concretizá-la é pre- ciso que tenhamos coragem de inovar, de buscar novas compõem o paradigma atual da saúde mental, em vez de nos apoderarmos de práticas antigas com uma roupagem nova. O tratamento deve buscar o resgate da autonomia do paciente por meio de trabalhos voltados para as incapaci- dades, para as necessidades do paciente, tendo em vista o desenvolvimento de condições cada vez melhores e que lhes permita gerenciar sua vida e aumentar sua possibilidade de fazer escolhas. Essas novas formas