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Carla Bertelli – 5° Período Resumão de IESC N1 Resumão de IESC N1 Aula 1 Conhecer a Abordagem à Saúde Mental na APS • Conhecer a importância da abordagem à pessoa com problemas emocionais ou transtornos mentais • Conhecer as situações de saúde mental comuns na Atenção Básica • Compreender o exame mental, manejo e avaliação da pessoa com transtorno mental na APS O termo “saúde mental”, como é utilizado neste texto, refere-se ao resultado da interação de uma complexa série de fatores biológicos, psicológicos, familiares e sociais, resultando em uma forma de funcionamento mental a ser avaliada pelo médico de família e comunidade na totalidade de seu atendimento. A “vida mental” está inserida em um corpo biológico e, portanto, sofre todas as suas influências, assim como influencia eventos corporais, mas ela própria não é biológica. A abordagem em saúde mental na atenção primária à saúde (APS) necessita de habilidades técnicas específicas do corpo de conhecimentos científicos específicos da psicologia e da psiquiatria, mescladas ao desenvolvimento de atitudes do médico. Os médicos de família e comunidade são, geralmente, os únicos recursos de saúde mental a que as pessoas têm acesso e aqueles que assumem a responsabilidade pelos cuidados continuados em longo prazo dessas pessoas A tarefa de avaliar mental e emocionalmente a pessoa, embora tenha algumas particularidades específicas, não é tão diferente assim de outras tarefas do cotidiano do médico. A abordagem emocional requer que ele não só compreenda os critérios de diagnóstico, mas que seja capaz de acolher com sensibilidade sinais e sintomas das pessoas, muitas das quais terão dificuldade em relatar uma história clara. A abordagem emocional se traduz pela descrição dos sentimentos associados aos fatos, já que o afeto é um facilitador para a compreensão e a elaboração do que está ocorrendo. A forma mais simples de abordagem emocional em uma consulta é: • Perceber as emoções que estão em jogo • Reconhecer na emoção uma oportunidade de compreensão do que está ocorrendo no íntimo da pessoa, para estabelecimento de uma relação de confiança com o profissional • Ouvir com empatia, legitimando os sentimentos • Ajudar a pessoa a encontrar as palavras e identificar a emoção que está sentindo • Explorar estratégias para solução do problema em questão. Estudos concordam que os médicos de família estão em uma excelente posição para prestar cuidados de saúde mental, já que, na maioria das situações, representam o primeiro contanto da pessoa com o serviço de saúde. Além do grande volume dessa demanda, que por si só exige uma preparação adequada do médico, nem sempre a pessoa compreenderá ou aceitará uma indicação de referenciamento ao psiquiatra, o que poderia estigmatizá-la, assim como nem sempre esse especialista estará disponível ou acessível. Por isso, é muito importante aprender a avaliar a pessoa em sofrimento e dar a ela o atendimento solicitado, pois, frequentemente, poderá ser o único ao qual ela terá acesso. Neste ponto de atenção, as ações são desenvolvidas em um território geograficamente conhecido, possibilitando aos profissionais de Saúde uma proximidade para conhecer a história de vida das pessoas e de seus vínculos com a comunidade/território onde moram, bem como com outros elementos dos seus contextos de vida. Entendemos que as práticas em saúde mental na Atenção Básica podem e devem ser realizadas por todos os profissionais de Saúde. O que unifica o objetivo dos profissionais para o cuidado em saúde mental devem ser o entendimento do território e a relação de vínculo da equipe de Saúde com os usuários, mais do que a escolha entre uma das diferentes compreensões sobre a saúde mental que uma equipe venha a se identificar. Ações que podem ser realizadas por todos os profissionais da Atenção Básica nos mais diversos dispositivos de cuidado: • Proporcionar ao usuário um momento para pensar • Exercer boa comunicação • Exercitar a habilidade de empatia • Lembra-se de escutar o que o usuário precisa dizer • Acolher o usuário e suas queixas como legítimas • Oferecer suporte na medida certa – que não torne o usuário dependente e nem gere no profissional uma sobrecarga Carla Bertelli – 5° Período • Reconhecer os modelos de atendimento do usuário Para o estabelecimento de um plano inicial de abordagem, são necessárias seguintes atitudes: • Construir uma lista de problemas • Conhecer a história dos problemas e o tratamento prévio e recorrente • Conceitualizar os objetivos de curto e longo prazo • Selecionar a modalidade de tratamento, objetivos e intervenções • Estimar o tempo e a frequência do tratamento • Considerar necessidades de referenciamento e os recursos externos disponíveis Principais Situações de Saúde Mental comuns da Atenção Básica – Quem trabalha ou estuda o sofrimento mental na AB sabe que tristeza, desânimo, perda do prazer de viver, irritabilidade, dificuldade de concentração, ansiedade e medo (às vezes na forma de crises) são queixas comuns dos usuários. Com frequência, quem se queixa de uma delas, também se queixa de muitas das outras. Ou seja, são queixas que costumam estar associadas. Por outro lado, muitos desses mesmos usuários que relatam os fenômenos acima, também apresentam queixas como mudança no sono e apetite (por vezes para mais, por vezes para menos), dores (frequentemente crônicas e difusas), cansaço, palpitações, tontura ou mesmo alterações gástricas e intestinais De fato, as síndromes mais frequentes na AB são a depressiva, ansiosa e de somatização (as chamadas queixas físicas sem explicação médica). Ocorre que na AB, a maioria dos usuários que apresenta uma dessas três síndromes também apresenta uma ou mesmo duas das outras síndromes. Ou seja, existem mais quadros mistos do que puros. Manejo e Exame do Estado Mental – A APS como ordenadora das ações e serviços disponibilizados na rede, deve coordenar o cuidado, prestando o atendimento ao usuário e fazendo o seguimento compartilhado com a RAPs, elaborando, acompanhando e criando projetos terapêuticos singulares, bem como acompanhando e organizando os fluxos dos usuários entre os pontos de atenção da RAS. Não existe um modelo único para a saúde mental na APS. Todos os envolvidos devem ser considerados na organização do serviço. Nas situações estratificadas como de baixo risco, como as que apresentam sintomas leves a moderados de depressão, ansiedade e somatização, os sintomas tendem a se sobrepor, além de compartilharem os mesmos fatores de risco e padrões de evolução. Recomenda-se iniciar com cuidados de baixa intensidade (atividade física em grupo, panfletos de autoajuda, grupos de apoio), passando por grupos psicoeducacionais e de apoio que explorem questões como autoestima o u resiliência, evoluindo para o uso de terapia medicamentosa com supervisão especializada e psicoterapia em grupo ou individual, caso necessário. Atendimentos individuais, ou consultas compartilhadas em saúde mental, também podem ocorrer quando identificada a necessidade pela APS, e juntamente com os NASF, nos municípios que possuem tais equipes. Nas situações estratificadas de médio e alto risco, a APS desempenha um papel importante no diagnóstico precoce, no início rápido do tratamento com intervenções rápidas e efetivas na crise, na manutenção do tratamento farmacológico e nos programas de reabilitação psicossocial. Os atendimentos em domicílio e os vínculos com as famílias facilitam estas intervenções. O usuário sempre continuará vinculado a APS de referência, onde o cuidado compartilhado tem se mostrado mais eficaz. Nos problemas de saúde mental que se manifestam na infância e/ou na adolescência, a APS exerce importantefunção de proteção da vida, respeito à dignidade, à liberdade e à convivência familiar, social e cultural. Os profissionais devem estar atentos para reconhecer o s principais fatores de risco da saúde infanto juvenis, tais como: o contato precoce com substâncias químicas, álcool e suas complicações, as doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez precoce. As ações vão desde a detecção dos sinais e sintomas precoces das comorbidades mais frequentes, intervenções iniciais para estabilização e, se possível, reversão dos problemas; tendo c omo principal apoiador os profissionais especializados dos CAPS e/ou dos NASFs e/ou equipes multiprofissionais de atenção especializada em saúde mental. O exame do estado mental é parte fundamental da avaliação da pessoa. Diversas áreas merecem atenção e devem ser analisadas no atendimento de uma pessoa com problemas de saúde mental. As principais são atenção, sensopercepção, representações, memória, orientação, consciência, pensamento (juízo, raciocínio), linguagem, afetividade, inteligência e atividade voluntária (conduta). Elas podem ser agrupadas em uma fórmula mnemônica conhecida pelas suas iniciais, ASMOCPLIAC (atenção, sensopercepção, memória, orientação, consciência, pensamento, linguagem, inteligência, afetividade, conduta). Carla Bertelli – 5° Período Aula 2 Compreender a abordagem de Sintomas depressivos e de ansiedade na APS. • Conhecer os conceitos e como identificar sintomas depressivos e de ansiedade na APS • Conhecer a abordagem inicial de escuta na APS ao usuário em sofrimento psíquico • Conhecer a conduta proposta para os transtornos de ansiedade e depressão na APS Ansiedade – Estado emocional vivenciado com a qualidade subjetiva de medo ou de emoção a ela relacionada com o desconforto somático subjetivo e alterações somáticas manifestadas. O sintoma de ansiedade se refere a um estado de angústia, preocupação e/ou apreensão. É um sentimento acompanhado de outras queixas mentais como pensamentos excessivos, medos intensos, insônia, irritabilidade, palpitações cardíacas, tremores e parestesias periféricas ou perto da boca. De fato, a ansiedade pode ser benéfica pois aumenta o nível de vigilância e prontidão para enfrentar desafios, o problema é quando se torna algo exagerado trazendo prejuízos para sua vida Quando essa ansiedade se torna excessiva, porém, a ponto de prejudicar o funcionamento da pessoa, seja em seu desempenho ocupacional, social ou até mesmo biológico (como é o caso de pessoas que não conseguem dormir por estarem muito ansiosas), há um transtorno. A ansiedade pode ser sintoma de qualquer um dos diversos problemas de saúde mental, e até mesmo de problemas frequentemente não revelados em uma primeira consulta, como violência domiciliar, assédio moral, disforia de gênero, e em crianças e adolescentes, o bullying. Além disso, pode ser sintoma mesmo de um problema clínico, como hipertireoidismo ou arritmia cardíaca. Ou seja, sempre que diante de uma queixa ou observação de estado de ansiedade, recomenda-se que o médico faça uma ampla avaliação de possíveis causas psíquicas e clínicas. Quando Pensar? Em geral, os sintomas são relatados do paciente, com queixas normalmente de nervosismo ou angústia. Outros pacientes podem queixar-se com insatisfação ou algum problema físico que esteja somatizado a ansiedade. Idosos tendem a ‘’omitir’’ a sua situação de ansiedade, tendo em vista o preconceito com tal situação. Transtornos de Ansiedade – É importante diferenciar ansiedade de inquietação. A Ansiedade é um sentimento de apreensão, já a inquietação pode significar hiperatividade, agitação, irritabilidade. Transtornos Ansiosos: • Transtorno de Ansiedade de Separação • Fobia Específica • Transtorno de Pânico • Agorafobia • Transtorno de Ansiedade Generalizada • Transtorno de Ansiedade induzida por medicamentos/substâncias • Transtorno de ansiedade devido a uma condição médica geral Abordagem – Pode ser dividida em 3 passos: Passo 1 – Diferenciar Ansiedade de Inquietação Passo 2 – Qual a causa do transtorno? Passo 3 – Estabelecer se ansiedade é o problema principal ou é a parte de um ou mais transtornos subjacentes (estresse/trauma, abuso de substâncias, depressão, transtorno bipolar) Conduta: • Disponibilizar-se para escutar ativamente a pessoa • Manter atitude de compreensão e empatia com a situação vivia • Revisar com a pessoa a história do desenvolvimento da crise atual, de modo que ela possa compreender seu curso • Identificar crises semelhantes no passado e o modo de resolução delas • Comprometer a pessoa em um esforço compartilhado para a resolução do problema atual • Apoiar passos práticos e realistas para resolver a crise atual • Deixar de lado problemas crônicos e de personalidade em um primeiro momento • Apresentar as possibilidades terapêuticas e implementar o plano construído em conjunto O tratamento dos transtornos de ansiedade e dos transtornos relacionados a estresse ou a trauma varia Carla Bertelli – 5° Período conforme sua natureza. De maneira geral, uma boa parcela dos casos se resolverá com orientação sobre o problema (psicoeducação), apoio para enfrentamento dos problemas vivenciados e prescrição de mudanças de estilo de vida (como melhora da atividade física e adoção de técnicas de redução ansiedade ou estresse, como o Mindfulness).. Alguns casos necessitarão de tratamentos psicoterápicos e/ou farmacológicos, sendo que a escolha por uma abordagem ou outra depende de fatores como gravidade do caso, disponibilidade de psicoterapia e preferência da pessoa. Depressão – É um transtorno mental de determinação multifatorial (genético, ambientais, biológicos) como o modelo diátese-estresse. É uma doença muito prevalente, especialmente na atenção primária – muitas vezes a depressão não é a queixa principal, motivo da consulta. Transtorno de curso crônico e recorrente (episódios mais frequentes e intensos). É de determinação multifatorial (combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais, culturais e psicológicos. • Diátese – Propensão que a pessoa tem a ter uma doença • Estresse – O ambiente Episódio Depressivo – Momento em que a pessoa apresenta sintomas depressivos, tratamento durante 1 ano Transtorno Depressivo – Quando os episódios se tornam frequentes, tratamento para vida toda. Impacto na Qualidade de Vida – Isso inclui uma limitação na capacidade e produtividade, raciocínio lento, perda da vontade de estar em grupo social, responsável por causar diversas incapacidades. Fatores que Podem Provocar – Desigualdades sociais, violência, família, trabalho, doença, serviços de saúde, gravidez e puerpério, uso de bebidas alcoólicas e outras drogas. História pessoal ou familiar de depressão, uso exagerado dos serviços de saúde, doenças crônicas (diabetes), mudanças hormonais (puerpério), dor crônica, abuso de substancias. • Depressão amplifica a sensibilidade à dor • Depressão tira o prazer de viver das pessoas Conduta: Passo 1 – Uma boa escuta, para que a pessoa exponha as suas inquietações. Deixar a pessoa expressar livremente seus sentimentos Carla Bertelli – 5° Período Passo 2 – Separar se o caso em questão é grave (alerta vermelho) ou pode ser acompanhado com mais calma Sinais Vermelhos: • Isolamento Social • Prostração Intensa – Cansaço/exaustão • Grande perda de peso • Sintomas psicóticos • Tentativa de Suicídio • Plano de suicídio elaborado Diagnóstico – Critérios diagnósticos de episódio depressivo segundo a CID-12 Episódio Leve – 2 Sintomas fundamentais + 2 acessórios Episódio Moderado – 2 Sintomas fundamentais + 3/4 acessórios Episódio Grave – 3 Sintomas fundamentais + >4 acessórios Conduta: • Iniciar otratamento com antidepressivo • Acessar familiares ou amigos próximos para avaliar a gravidade e auxiliar no seguimento • Solicitar apoio da equipe de saúde É importante saber que existem pacientes que não relatam o sofrimento e o pensamento suicida, isso acontece porque essa temática é carregada de valores morais e religiosos negativos. Por isso não se fala tanto. Conversar sobre esse tema, explicar que são pensamentos frequentes e recorrentes nessas situações pode ser terapêutico ao paciente, dando abertura para sua fala. Pergunta-se sempre – pacientes ansiosos, depressivos, quando suspeita, até mesmo quando não se suspeita.. Em quem investigar? Como Investigar? • Perguntar o que você pensa sobre o futuro • Acha que vale a pena continuar vivendo • Pensou em se machucar • Saber se está pensando nisso no momento Fatores Protetores – Apoio da família, amigos e pessoas significativas, crenças religiosas, culturais e étnicas, envolvimento na comunidade, vida social satisfatória, rede social significativa, acesso a serviços e cuidados de saúde mental. Fatores de Risco para Suicídio – Tentativa prévia, Doença Psiquiátrica, Alcoolismo, Abuso de outras substâncias, Sexo Masculino, Desemprego, Dor Crônica, Cirurgia Recente, Doença Terminal, Histórico familiar de Suicídio, Abuso e outros eventos adversos na Infância, ser solteiro, viúvo ou separado, viver sozinho, alta hospitalar psiquiátrica recente Tratamento – Psicoeducação, Psicoterpia, Atividade Física, Farmacológico Seguimento – Depende se é um episódio ou um transtorno. Geralmente um ano de uso de medicamentos para realizar a retirada dos antidepressivos de maneira gradual Pacientes em 3° episódios depressivos utiliza-se o medicamento por toda vida Aula 3 Compreender a utilização de Psicofármacos na APS • Discutir o uso de antidepressivo na APS e suas indicações em outras condições clínicas • Conhecer os principais medicamentos da saúde mental na APS -Escolher o medicamento baseando-se primordialmente no diagnóstico e nas características individuais de cada pessoa. -Os antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) são a primeira escolha de tratamento dos transtornos depressivos e de ansiedade. -Preferir, sempre que possível, o ajuste de dose no lugar da associação de medicamentos. -O uso de benzodiazepínicos deve restringir-se ao início do tratamento em caráter de associação ao medicamento principal. -Monitorar ativamente os efeitos colaterais dos medicamentos, solicitando os exames necessários. A psicofarmacologia tem como foco principal o estudo do mecanismo de ação dos fármacos com atividade no sistema nervoso central (SNC) que possam influenciar funções psíquicas, como humor, cognição, psicomotricidade e sensopercepção. Carla Bertelli – 5° Período Em situações de retirada ou de troca de medicamento, sempre que possível, reduzir a dose de forma gradual e lenta (a cada 3-7 dias), Antidepressivos – Deveria ser a principal classe a ser utilizada por serem a principal ferramenta no tratamento dos transtornos mentais mais prevalentes na população: Ansiedade e Depressão. Todavia, infelizmente, muitas pessoas que sofrem desses agravos ainda são tratadas exclusivamente com benzodiazepínicos O médico encontra nos antidepressivos uma ferramenta fundamental para o manejo, não só de diversas variações no transtorno de humor e ansiedade, como também em condições como déficit de atenção, hiperatividade, tabagismo, disforia, dores crônicas... A escolha do antidepressivo deve ser guiada pelas características individuais de cada pessoa e pelos sintomas apresentados. O funcionamento de cada antidepressivo está associado ao aumento da neurotransmissão de 1 ou das 3 monoaminas: Dopamina, Norepinefrina e Serotonina. Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina – São a primeira escolha de tratamento na maioria dos casos devido sua eficácia e perfil favorável em relação a efeitos colaterais. Atuam inibindo a recaptação do neurotransmissor serotonina que se acumula na fenda sináptica. Citalopram, Escitalopram, Fluoxetina, Sertralina, Paroxetina. Podem ser utilizados durante a gestação. Tricíclicos – são uma classe de medicamentos extremamente eficaz (inclusive para depressões graves) e, por serem mais antigos, são menos onerosas. Os pontos negativos desses medicamentos são seus efeitos colaterais. Nortripitilina, Amitriptilina, Imipramina, Clomipramina Atuam bloqueando a recaptação de serotonina e de noradrenalina, que se acumulam progressivamente na fenda sináptica, promovendo seus efeitos terapêuticos. Além disso, possuem ação anticolinérgica e anti- histamínica. Por possuírem ação anticolinérgica (bloqueio da acetilcolina) podem apresentar quadros de piora cognitiva, boca seca, risco de delirium, constipação, visão turva. Já pela ação anti-histamínica podem apresentar sedação, risco de queda, aumento do apetite. Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina e da Noradrenalina – Atuam inibindo a recaptação do neurotransmissor serotonina e norepinefrina que se acumula na fenda sináptica. Possuem as mesmas indicações do ISRS, sendo considerados medicamentos de primeira linha dos transtornos depressivos, lembrando que os ISRS são mais utilizados por serem mais acessíveis. Venlafaxina, Desvenlafaxina e Duloxetina Outras classes de Antidepressivos incluem: Inibidores da Monoamina Oxidase (IMAO), Atípicos (não possuem como seus mecanismo de ação a recaptação de serotonina). Estabilizadores de Humor – Os estabilizadores do humor são medicamentos usados no controle de alguns transtornos mentais, sendo o principal deles o transtorno afetivo bipolar. O primeiro medicamento dessa classe a ser descoberta foi o carbonato de lítio, que permanece até hoje como um dos estabilizadores do humor mais eficazes. Em seguida, foram descobertos efeitos estabilizadores do humor de alguns medicamentos antiepiléticos, entre eles o ácido valproico, a carbamazepina, a oxcarbazepina e a lamotrigina Outras situações da prática do médico de família e comunidade nas quais os estabilizadores do humor têm utilidade são: potencializar efeito antidepressivo, controle de impulsividade e agressividade, prevenção de suicídio, tratamento da epilepsia e manejo de neuropatias e outras dores crônicas. Carla Bertelli – 5° Período Antipsicóticos – Os antipsicóticos têm uma função importante no contexto da saúde da família. Eles não só ajudam a controlar os sintomas de esquizofrenia e outras psicoses, como também agitação psicomotora, agressividade, alguns sintomas das demências e na potencialização de efeitos antidepressivos e ansiolíticos. Benzodiazepínicos – Os benzodiazepínicos são medicamentos de uso controverso na prática clínica por serem extremamente úteis no controle de sintomas de abstinência, depressivos, maniformes e ansiosos em curto prazo, porém com risco de dependência e prejuízos cognitivos (principalmente da memória) no uso prolongado. Assim, é importante ter em mente que essa classe de medicamento tem sua maior utilidade nos primeiros meses do tratamento, durante a fase de ajuste dos medicamentos de manutenção, devendo, sempre que possível, ser retirado assim que houver controle sintomático adequado Incluem Alprazolam, Clonazepam, Diazepam, Lorazepam Situações de Emergência Psiquiátrica – Em casos de pacientes agitados e/ou agressivos, os antipsicóticos são usados como primeira escolha de tratamento, principalmente os mais incisivos, como haloperidol, risperidona ou olanzapina. O primeiro com a grande vantagem de poder ser usado de forma paratenteral. Casos de distonia agudos devido ao uso de antipsicóticos podem ser tratados com biperideno (anticolinérgico) no pronto-atendimento. Em casos de grandes ansiedades, ou conversivos, no pronto-socorro,podem ser usados os benzodiazepínicos. O mais utilizado é o diazepam, lembrando que esse nunca pode ser usado via intramuscular devido à sua absorção errática, dando preferência para a via oral ou intravenosa, a opção intramuscular é o midazolam. A abstinência alcoólica deve ser sempre tratada com benzodiazepínicos na dose de retorno dos sinais vitais à normalidade. Muitas vezes, os pacientes necessitam ficar em observação em unidades de terapia intensiva. Os benzodiazepínicos mais indicados são o diazepam ou o lorazepam. Lembrar-se de que pacientes em abstinência têm risco de desautonomia, devendo ficar em unidades clínicas e não psiquiátricas até a resolução do quadro. Fases do Tratamento Aguda/Ataque – Primeiros 3 meses, com objetivo de diminuir ou remitir sintomas Continuação/Estabilização – 6 meses seguintes, com objetivo de estabilizar o quadro Manutenção/Prevenir Recaídas – Prevenir recaídas e manter funcionalidade Após a melhora, recomenda-se manter o tratamento por mais 6 a 24 meses. Depois disso, deve-se diminuir lentamente a medicação para evitar recaídas. Carla Bertelli – 5° Período Outras Indicações de Uso de Antidepressivos: Dor crônica. O tratamento da dor crônica muitas vezes é feito com a utilização de antidepressivos, pois antidepressivos com função noradrenérgica têm efeitos nas dores crônicas e nas neuropáticas. Assim, os tricíclicos são bastante usados, com mais evidências para amitriptilina e nortriptilina. Dos outros antidepressivos, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina e norepinefrina (ISRSN) são outra opção, como duloxetina, venlafaxina e desvenlafaxina. Insônia primária. O tratamento da insônia primária tem como primeira escolha de tratamento alguns antidepressivos sedativos. Entre eles, os mais utilizados são trazodona, mirtazapina e a agomelatina. Contudo, outros podem ser utilizados, como tricíclicos e mianserina. Sintomas disfóricos perimenstruais e climatério. Além do tratamento hormonal, antidepressivos que agem em vias serotoninérgicas podem ser usados para o tratamento. Os mais usados são os ISRS, com mais evidências para a fluoxetina, e outros medicamentos que podem ser utilizados incluem venlafaxina, desvenlafaxina e mirtazapina. Transtornos ansiosos. A primeira escolha para tratamento de transtornos ansiosos (ansiedade social, pânico e ansiedade generalizada) se faz com antidepressivos que aumentem a serotonina. A primeira escolha consiste em ISRS, mas podem ser usados outros, como mirtazapina, inibidores duais de serotonina e norepinefrina e alguns tricíclicos mais serotoninérgicos (como clomipramina e amitriptilina). Aula 4 Conhecer os Aspectos Referentes à Reforma Psiquiátrica • Conhecer a nova Política Nacional de Saúde Mental e a contextualização histórica da reforma psiquiátrica no Brasil • Entender o processo de desinstitucionalização • Compreender a rede de cuidados voltados para a saúde mental • Debater sobre os principais desafios da reforma psiquiátrica LEI No 10.216, de 6 de Abril de 2001. – Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. No modelo biomédico a saúde física e mental foi vista como ausência de doença. Doença mental já foi considerada a questões mitológicas, possessões, exorcismos, isolar-se da sociedade. Reforma Psiquiátrica – Necessidade da construção de uma política de saúde mental que garantia direitos e amplie as possibilidades de inclusão social para pacientes que eram objeto, passivo, de ações técnicas e terapêuticas O início do processo de reforma no Brasil é contemporâneo da eclosão do ‘’movimento sanitário’’ nos anos 70, em favor de mudanças nos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde, defesa da saúde coletiva, equidade na oferta de serviços. Embora contemporâneo da Reforma Sanitária, o processo de reforma psiquiátrica brasileiro tem uma história própria, inscrita num contexto internacional de mudanças pela superação da violência asilar. Fundado, ao final dos anos 70, na crise do modelo de assistência centrado no hospital psiquiátrico, por um lado, e na eclosão, por outro, dos esforços dos movimentos sociais pelos direitos dos pacientes psiquiátricos, o processo da reforma brasileira é maior do que a sanção de novas leis e normas, e maior que o conjunto de mudanças políticas e governamentais. Essa reforma é um processo político e social complexo, composto por atores, instituições e forças de diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, estadual e municipal. Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios Contextualização Histórica: Crítica do Modelo Hospitalocêntrico – O ano 1978 é identificado como início efetivo do movimento social pelos direitos do paciente psiquiátrico no país. O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (formado por muitas pessoas e associações) surge. É com esse movimento, que passa a se protagonizar e construir a denúncia da violência de manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência á pessoas com transtornos mentais. Implantação da Rede Extra-Hospitalar (1992-200) – Aprovação das primeiras leis que determina a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede de atenção à saúde mental, Projeto de Lei Paulo http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.216-2001?OpenDocument Carla Bertelli – 5° Período Delgado. A partir desse período, a política do MS para a saúde mental + as diretrizes em construção da Reforma Psiquiátrica ganham contornos definidos. É na década de 90, com a assinatura da Declaração de Caracas e pela realização da II Conferência Nacional de Saúde Mental, que passam a entrar em vigor no país as primeiras normas federais regulamentando a implantação dos serviços de atenção diária, fundadas nas experiências dos primeiros CAPS, NAPS, hospitais-dia, e das primeiras normais de fiscalização e classificação dos hospitais psiquiátricos. Porém, foram descontínuos pois não há financiamento específico. Reforça Psiquiátrica depois da Lei Nacional – Somente em 2001, que a Lei Paulo Delgado é sancionada. Assim, a Lei Federal 10.216 redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. Ainda assim, a promulgação da lei 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil. É no contexto da promulgação da lei 10.216 e da realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental, que a política de saúde mental do governo federal, alinhada com as diretrizes da Reforma Psiquiátrica, passa a consolidar-se, ganhando maior sustentação e visibilidade. Nessa época, linhas específicas de financiamento são criadas pelo MS para os serviços abertos e substitutivos dos hospitais psiquiátricos, e novos mecanismos são criados para fiscalização, gestão e redução programada dos leitos. Neste mesmo período, o processo de desinstitucionalização de pessoas longamente internadas é impulsionado, com a criação do Programa “De Volta para Casa” É neste período que a Reforma Psiquiátrica se consolida como política oficial do governo federal Desinstitucionalização – A desinstitucionalização como desospitalização refere-seàs medidas de prevenção de internações inadequadas em hospitais psiquiátricos; alta para o tratamento na comunidade; e implantação de serviços de base comunitária para o cuidado dos egressos das internações. Redução de Leitos – O processo de redução de leitos em hospitais psiquiátricos e de desinstitucionalização de pessoas com longo histórico de internação passa a tornar-se política pública no Brasil a partir dos anos 90, e ganha grande impulso em 2002 com uma série de normatizações do Ministério da Saúde, que instituem mecanismos claros, eficazes e seguros para a redução de leitos psiquiátricos a partir dos macro-hospitais. O processo de desinstitucionalização pressupõe transformações culturais e subjetivas na sociedade e depende sempre da pactuação das três esferas de governo (federal, estadual e municipal). Avaliação Anual dos Hospitais e Seu Impacto na Reforma – Essencialmente um instrumento de avaliação, o PNASH/Psiquiatria permite aos gestores um diagnóstico da qualidade da assistência dos hospitais psiquiátricos conveniados e públicos existentes em sua rede de saúde, ao mesmo tempo que indica aos prestadores critérios para uma assistência psiquiátrica hospitalar compatível com as normas do SUS, e descredencia aqueles hospitais sem qualquer qualidade na assistência prestada a sua população adscrita. Trata-se da instituição, no Brasil, do primeiro processo avaliativo sistemático, anual, dos hospitais psiquiátricos. Se a reorientação do modelo de atenção em saúde mental no Brasil é recente, mais recente ainda são seus processos de avaliação. É a partir da instituição do PNASH/Psiquiatria que o processo de avaliação da rede hospitalar psiquiátrica pertencente ao Sistema Único de Saúde passa a ser sistemático e anual, e realizado por técnicos de três campos complementares: o técnicoclínico, a vigilância sanitária e o controle normativo. Residências Terapêuticas – A implementação e o financiamento de Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) surgem neste contexto como componentes decisivos da política de saúde mental do Ministério da Saúde para a concretização das diretrizes de superação do modelo de atenção centrado no hospital psiquiátrico. Assim, os Serviços Residenciais Terapêuticos, residências terapêuticas ou simplesmente moradias, são casas localizadas no espaço urbano, constituídas para responder às necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais graves, egressas de hospitais psiquiátricos ou não. Uma Residência Terapêutica deve acolher, no máximo, oito moradores. De forma geral, um cuidador é designado para apoiar os moradores nas tarefas, dilemas e conflitos cotidianos do morar, do co-habitar e do circular na cidade, em busca da autonomia do usuário. Cada residência deve estar referenciada a um Centro de Atenção Psicossocial e operar junto à rede de atenção à saúde mental dentro da lógica do território. Carla Bertelli – 5° Período O processo de implantação e expansão destes serviços é recente no Brasil. Nos últimos anos, o complexo esforço de implantação das residências e de outros dispositivos substitutivos ao hospital psiquiátrico vem ganhando impulso nos municípios, exigindo dos gestores do SUS uma permanente e produtiva articulação com a comunidade, a vizinhança e outros cenários e pessoas do território. De fato, é fundamental a condução de um processo responsável de trabalho terapêutico com as pessoas que estão saindo do hospital psiquiátrico, o respeito por cada caso, e ao ritmo de readaptação de cada pessoa à vida em sociedade. Desta forma, a expansão destes serviços, embora permanente, tem ritmo próprio e acompanha, de forma geral, o processo de desativação de leitos psiquiátricos Programa de Volta para Casa – É um dos instrumentos mais efetivos para a reintegração social das pessoas com longo histórico de hospitalização. Trata-se de uma das estratégias mais potencializadoras da emancipação de pessoas com transtornos mentais e dos processos de desinstitucionalização e redução de leitos nos estados e municípios. O objetivo do Programa é contribuir efetivamente para o processo de inserção social das pessoas com longa história de internações em hospitais psiquiátricos, através do pagamento mensal de um auxílio-reabilitação, no valor de R$240,00 (duzentos e quarenta reais, aproximadamente 110 dólares) aos seus beneficiários. O Programa possibilita a ampliação da rede de relações dos usuários, assegura o bem estar global da pessoa e estimula o exercício pleno dos direitos civis, políticos e de cidadania, uma vez que prevê o pagamento do auxílio-reabilitação diretamente ao beneficiário, através de convênio entre o Ministério da Saúde e a Caixa Econômica Federal. Rede de Cuidados na Comunidade – O SUS regula e organiza em todo o território nacional as ações e serviços de saúde de forma regionalizada e hierarquizada, em níveis de complexidade crescente, tendo direção única em cada esfera de governo: federal, municipal e estadual. São princípios do SUS o acesso universal público e gratuito às ações e serviços de saúde; a integralidade das ações, num conjunto articulado e contínuo em todos os níveis de complexidade do sistema; a eqüidade da oferta de serviços, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; a descentralização político-administrativa, com direção única do sistema em cada esfera de governo; e o controle social das ações, exercido por Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de Saúde, com representação dos usuários, trabalhadores, prestadores de serviços, organizações da sociedade civil e instituições formadoras. A rede de atenção à saúde mental, composta por Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Centros de Convivência, Ambulatórios de Saúde Mental e Hospitais Gerais, caracteriza-se por ser essencialmente pública, de base municipal e com um controle social fiscalizador e gestor no processo de consolidação da Reforma Psiquiátrica Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) – 2011 - Prevê a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas no âmbito do SUS. A RAPS tem os objetivos gerais de: (i) ampliar o acesso à atenção psicossocial da população em geral; (ii) promover a vinculação das pessoas com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas e de suas famílias aos pontos de atenção; e (iii) garantir a articulação e a integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento, do acompanhamento contínuo e da atenção às urgências. Como objetivos específicos: a) Promover cuidados em saúde especialmente a grupos mais vulneráveis (crianças, adolescentes, jovens, pessoas em situação de rua e populações indígenas); b) Prevenir o consumo e a dependência de álcool e outras drogas e reduzir os danos provocados pelo consumo; c) Promover a reabilitação e a reinserção das pessoas com transtorno mentais e com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas por meio do acesso ao trabalho, à renda e à moradia solidária; d) Produzir e ofertar informações sobre os direitos das pessoas, as medidas Carla Bertelli – 5° Período de prevenção e cuidado e os serviços disponíveis na rede; e) Regular e organizar as demandas e os fluxos assistenciais da Rede de Atenção Psicossocial; e f) Monitorar e avaliar a qualidade dos serviços mediante indicadores de efetividade e resolutividade da atenção. CAPS – Para que os pacientes com transtornos, reabilitar o sujeito para que ele continue tendo sua vida social preservada, e não recolhida – acolhimento e reabilitação psicossocial CAPS I: atende toda a faixa etária que apresente prioritariamente intensosofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo uso de substâncias psicoativas, e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. Indicado para Municípios ou regiões de saúde com população acima de quinze mil habitante CAPS II: atende prioritariamente pessoas em intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo uso de substâncias psicoativas, e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. Indicado para Municípios ou regiões de saúde com população acima de setenta mil habitantes; CAPS III: atende prioritariamente pessoas em intenso sofrimento psíquicos decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo uso de substâncias psicoativas, e outras situações clinicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento vinte e quatro horas, incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno a outros serviços de saúde mental, inclusive CAPS AD. Indicado para Municípios ou regiões de saúde com população acima de cento e cinquenta mil habitantes CAPS AD: atende pessoas de todas as faixas etárias, que apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. Indicado para Municípios ou regiões de saúde com população acima de setenta mil habitantes CAPS AD III: atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente do uso de crack, álcool e outras drogas. Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento vinte e quatro horas, incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno. Indicado para Municípios ou regiões de saúde com população acima de cento e cinquenta mil habitantes CAPS AD IV: atende pessoas com quadros graves e intenso sofrimento decorrentes do uso de crack, 18 álcool e outras drogas. Sua implantaçãõ o deve ser planejada junto a cenas de uso em municípios com mais de 500.000 habitantes e capitais de Estado, de forma a maximizar a assistência a essa parcela da população. Tem como objetivos atender pessoas de todas as faixas etárias; proporcionar serviços de atenção continua, com funcionamento vinte e quatro horas, incluindo feriados e finais de semana; e ofertar assistência a urgências e emergências, contando com leitos de observação CAPS i: atende crianças e adolescentes que apresentam prioritariamente intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias psicoativas, e outras situações clinicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida. Indicado para municípios ou regiões com população acima de setenta mil habitantes Principais Desafios na Reforma Psiquiátrica – Estima-se que 3% da população necessitam cuidados contínuos em saúde mental, em função de transtornos severos e persistentes (psicoses, neuroses graves, transtornos de humor graves, deficiência mental com grave dificuldade de adaptação). A magnitude do problema (no Brasil, cerca de 5 milhões de pessoas) exige uma rede de cuidados densa, diversificada e efetiva. Cerca de 10 a 12% da população não sofrem transtornos severos, mas precisam de cuidados em saúde mental, na forma de consulta médico-psicológica, aconselhamento, grupos de orientação e outras formas de abordagem. O modelo hospitalocêntrico (e também o dos ambulatórios de especialidades), por ser concentrador de recursos e de baixa cobertura, é incompatível com a garantia da acessibilidade. Sem a potencialização da rede básica ou atenção primária de saúde, para a abordagem das situações de saúde mental, não é possível desenhar respostas efetivas para o desafio da acessibilidade. Transtornos graves associados ao consumo de álcool e outras drogas (exceto tabaco) atingem pelo 12% da população acima de 12 anos, sendo o impacto do álcool Carla Bertelli – 5° Período dez vezes maior que o do conjunto das drogas ilícitas. A criminalização do consumo agrava a vulnerabilidade dos usuários de drogas, exigindo uma articulação efetiva e inventiva entre a rede de cuidados e outras políticas setoriais, como justiça, segurança pública, trabalho, educação, ação social. Sem esta articulação e cooperação intersetorial, um acesso efetivo à prevenção e ao tratamento não está assegurado. A qualidade do atendimento deve ser garantida em todas as regiões do país, mesmo as mais carentes e distantes dos centros universitários, e pode ser assegurada através de um forte programa de capacitação, supervisão e formação de multiplicadores. O distanciamento entre as instituições de formação e pesquisa e a saúde pública, no Brasil, agrava as carências de formação e qualificação de profissionais. • Formação de Recursos Humanos • O debate cultural: estigma, inclusão social, superação do valor atribuído ao modelo hospitalocêntrico, papel dos meios de comunicação • O debate científico: evidência e valor Aula 5 Sistematizar o Conhecimento sobre despescrição e polifarmácia na APS • Categorizar a Polifarmácia • Conhecer o Manejo da polifarmácia na APS • Identificar os benefícios da Desprescrição Polimedicação – Definida como o emprego de cinco ou mais fármacos de uso crônico por um paciente determinado; no aspecto qualitativo, analisa-se uso de ao menos um medicamento considerado inadequado. Os perfis associados a ambos os tipos de polimedicação estão condicionados, em geral, pela expectativa de vida reduzida, pela baixa adesão terapêutica e pela alta possibilidade de interações farmacológicas e de efeitos adversos. Nesse sentido, as condições de vida e as expectativas dos próprios pacientes têm papel fundamental. Existe uma tendencia mundial a polimedicação ou polifarmácia, que se caracterizam pelo envelhecimento da população e o aumento da incidência das doenças crônicas. A multimorbidade está diretamente relacionada com o envelhecimento Populações de Risco – Idosos, pessoas com doenças crônicas, crianças (geralmente por condição psiquiátrica dos pais – síndrome de Munchausen – é um tipo de abuso infantil em que um dos pais geralmente a mar simula sinais e sintomas da criança com a intenção de chamar atenção para si) Consequências e Riscos da Polimedicação – Diminui a adesão terapêutica; Aumenta a incidência de interações medicamentosas, aumenta o risco de hospitalização, diminui a qualidade de vida, supõe maior morbimortalidade Classes de Medicamentos que Aumentam os Riscos de Polifarmácia – Sedativos/Hipnóticos, Antidepressivos, Anti-inflamatórios, Anticoagulantes, Fármacos para Doenças Cardiovasculares, Opioides, Quimioterápicos, Esteroides, Nos últimos anos, foram desenvolvidas numerosas estratégias para enfrentar esse problema. Tais estratégias, em nossa prática clínica diária, podem ser reunidas em quatro grupos: 1) medidas que incidem na educação e na formação dos profissionais; 2) sistemas informatizados orientados a ajudar na tomada de decisão; 3) intervenções baseadas na revisão farmacoterapêutica; e 4) intervenções multidisciplinares ou multifacetadas. Desprescrição – Existem alguns princípios para nortear a desprescrição: • Máximo de 5 fármacos e revisões regulares dos medicamentos em uso • Reconsiderar fármacos preventivos • Priorizar medicamentos que possam tratar duas ou mais queixas • Considerar reduzir doses após resolução de um quadro agudo. Para nos aproximarmos da maneira mais didática e prática possível, destacaremos dois conceitos comuns.: 1 – Adequação Terapêutica – Pode ser definida como parte da terapia do paciente, na qual, mediante a indicação, a prescrição, a dispensação,a administração e o seguimento, o profissional pode obter alguns resultados apropriados às condições e circunstâncias do próprio paciente e do conjunto da comunidade. 2 – Revisão da Medicação – Entendida como a sua avaliação estruturada, com objetivo de otimizar o uso de medicamentos e melhorar os resultados em saúde, o que implica detectar problemas relacionados com os fármacos e recomendar intervenções. Ambos os termos descrevem um processo que parte do conhecimento fiel do estado e da situação do paciente, passando por um diagnóstico correto de seus principais problemas de saúde até a indicação ou não de determinado tratamento. Por isso, é muito importante que se tenha em mente que, quando se fala de desprescrição, se descreve um processo singular e Carla Bertelli – 5° Período contínuo (prescrição-desprescrição) que necessariamente deve ser adaptado a cada pessoa e circunstância. O resultado final do processo será uma intervenção fundamentada que, levando em conta a situação vital e clínica do paciente, considere a indicação, a seleção, a dose, a substituição ou a eliminação de alguns fármacos, a adição de outros ou a seleção de medidas não farmacológicas. Desprescrever não é só retirar medicamentos que não são considerados adequados. Para a desprescrição, é preciso fazer uma análise mais ou menos pormenorizada e padronizada, que, respeitando como eixo central a idiossincrasia do paciente, tem como finalidade Como Fazer? A forma de realizar a desprescrição depende, em primeira instância, do modelo teórico escolhido. A evolução histórica da desprescrição sofreu mudanças em sua curta história, desde uma visão inicial farmacocentrista até a concepção mais atual centrada no paciente. A preocupação fundamental em torno do processo de desprescrição é a de decidir qual fármaco deve ser retirado. Essa identificação dos medicamentos potencialmente inadequados (MPIs), por meio de listagens (sistemas explícitos, com base em critérios), algoritmos e questionários (sistemas implícitos, com base em juízos clínicos), definirá a evolução dos modelos de desprescrição durante esta primeira década. Alguns modelos descritos são os Critérios de Beers, MAI, questionário de Hamdy, IPET, e outras alterações com sucessivas versões dos critérios de Beers e do STOPP- START. No entanto, ao nos depararmos com a realidade clínica cotidiana, esses primeiros modelos se mostraram insuficientes. São necessários passos que facilitem e afianciem a desprescrição. Deve-se considerar a situação basal do paciente e sua expectativa de vida, dando especial atenção às situações de final da vida. É importante incluir o paciente na tomada de decisão de forma ativa, simétrica e transversal ao longo de todo o processo. Deve-se também obter o histórico da relação que o paciente estabeleceu com a sua medicação. Os temores do paciente diante da retirada da medicação deverão ser compensados com um plano em acordo com as ações preventivas (retirada progressiva, mudanças adaptadas ao ritmo e às necessidades do paciente, priorização de fármacos que serão desprescritos). Deve-se garantir, também, o seguimento e a reavaliação frequente para detectar efeitos adversos e a adesão ao plano de desprescrição. Modelo de Desprescrição por fases da Woodward: 1 ) Elaborar uma lista de medicamentos 2 ) Identificar o fármaco a ser desprescrito 3 ) Planejar a Desprescrição 4 ) Revisa-la Carla Bertelli – 5° Período Prognóstico e Possíveis Complicações – Como toda intervenção médica, a desprescrição não está isenta de riscos, os quais devem ser pesados para que se possa decidir de forma prudente. Sempre é necessário levar em conta as possíveis complicações que poderiam surgir devido à desprescrição Síndrome da Retirada – Frequente em fármacos que agem sobre o sistema nervoso central (SNC), são comuns as complicações oriundas da retirada de antidepressivos inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS), que ocorrem aproximadamente uma semana depois de tirar o fármaco, sendo leves e se resolvendo em 10 dias, ou com a retirada de benzodiazepinas, que se associam com uma síndrome de abstinência muito mais grave, com confusão, alucinações e convulsões. A interrupção abrupta da levodopa pode precipitar uma reação grave com características de síndrome neuroléptica maligna (SNM), que inclui rigidez muscular severa, disfunção autonômica e deterioração do nível de consciência. Nos pacientes que fizeram uso de corticoides sistêmicos de forma contínua, a interrupção repentina pode conduzir a uma crise addisoniana secundária à supressão do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal Efeito Rebote – Seria a reaparição, após a suspensão brusca do fármaco, dos sintomas em intensidade maior à apresentada previamente pelo paciente. Dessa forma, o término de um tratamento com betabloqueadores pode associar- se com o surgimento de taquicardia e hipertensão, que pode, por sua vez, agravar-se com um quadro de insuficiência cardíaca ou cardiopatia isquêmica. A interrupção de inibidores da bomba de próton (IBP) pode produzir una hipersecreção ácida e o agravamento de sintomas gastrintestinais. A insônia de rebote é comum após a retirada de fármacos hipnóticos. Desmarcaramento de Interações – As interações farmacocinéticas devem ser levadas em conta no momento de retirar um fármaco. Por exemplo, se há suspensão do omeprazol em um paciente com uma dose estável de varfarina, o índice de normalização internacional (INR) pode diminuir, pois o omeprazol é um fármaco que inibe o metabolismo da varfarina. Reparação de Sintomas – É importante não interpretar um efeito rebote como uma recorrência dos sintomas da doença original. Isso é importante sobretudo com condições como a depressão tratada com fármacos, cuja retirada provocaria sintomas que podem ser confundidos com um efeito rebote da doença. Surpreendentemente, os ensaios clínicos que avaliam processos de retirada de fármacos, em muitos casos, não mostram aumento da incidência de sintomas da doença original, ou que os fatores de risco reapareçam após a interrupção da medicação Carla Bertelli – 5° Período Aula 6 Abordagem à Saúde Mental em Grupos Vulneráveis • Conhecer os principais aspectos da atenção psicossocial a crianças e adolescentes na APS • Debater os principais aspectos a atenção psicossocial à pessoa idosa • Debater os principais aspectos relacionados à saúde mental na população de rua • Debater os principais aspectos da atenção psicossocial aos povos indígenas A vulnerabilidade também pode levar à deterioração da saúde mental. Estigma e discriminação geram baixa autoestima, diminuição da autoconfiança, motivação reduzida, e menos esperança no futuro. Resulta ainda em isolamento, considerado importante fator de risco para o surgimento dos transtornos mentais e uso de drogas. A saúde mental também é afetada quando são negados direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais. Vulnerabilidade não pode ser confundida com incapacidade e os grupos vulneráveis não devem ser considerados como vítimas passivas de seu próprio destino. Nessa perspectiva, é fundamental que estudos na área de saúde mental busquem caminhos alternativos para lidar com a vulnerabilidade das pessoas com transtornos mentais e usuários de álcool e outras drogas. Dentre os artigos deste número, também são descritas ações de prevenção e promoção de saúde mental. Crianças e Adolescentes – Queixas dos pais ou relatadas pela escola. Queixas comuns incluem: • Disfunção do Comportamento • Ansiedade • Hiperatividade • Depressão (irritabilidade na criança) • Autismo • Em adolescentes atenção especial ao uso de álcool e drogas Fatores de Risco – Familiares ausentes ou ambiente familiar violento (questão da alfabetização dos nossos sentimentos, a formação);Atraso escolar ou violência no ambiente escolar; Falta de senso de pertencimento à comunidade; Condições socioeconômicas desfavoráveis; Temperamento Difícil; Abuso; Aspectos biológicos desfavoráveis Cuidados – Atentar para características específicas da infância e adolescência; Crianças e adolescentes não costumam procurar serviços de saúde espontaneamente; Não desvalorizar os sintomas e os sentimentos; Psicoeducação com familiares para minimizar o estigma dos transtornos mentais; Conhecer a dinâmica familiar Idosos – Tem maior vulnerabilidade a transtornos mentais. Momentos que mudanças ocorrem com mais frequência, comprometimento da funcionalidade e independência, além da rede de apoio comprometida Transtornos Comuns: • Demência • Transtorno Depressivo • Transtornos Ansiosos • Transtorno de Humor Bipolar • Transtornos Somatoformes • Abuso de álcool e outras substâncias Cuidados – Não negligenciar; Dificuldade em compreender os sintomas; Crenças do paciente; Comorbidades associadas; fármacos. No que se refere à saúde mental da pessoa idosa, a aquisição de um envelhecimento ativo encontra desafios, principalmente em função de riscos como, por exemplo, o sofrimento psíquico causado pela depressão. Moradores de Ruas – Doenças mentais podem estar relacionados como causa ou consequência da situação de rua Cuidados – Exclusão social; Pouca compreensão; Vítimas da exclusão e violência Indígenas – População marginalizada, poucos estudos, vítimas frequentes da violência. Cuidados com dependência química e depressão Aula 7 Saúde e Espiritualidade • Debater sobre religiosidade e espiritualidade como determinantes de Saúde A espiritualidade tem impacto em termos de saúde biológica, emocional e social. Há associação entre crenças religiosas com proteção da saúde mental, qualidade de vida e controle de sintomas, além de redução da mortalidade global e cardiovascular. As pessoas desejam, em frequências diferentes, conforme o contexto e a gravidade de seu estado, que os profissionais de saúde abram espaço para serem conhecidas também em sua dimensão espiritual e/ou religiosa Carla Bertelli – 5° Período A abordagem da espiritualidade na prática clínica de médicos de família e comunidade ainda é um desafio. A literatura enumera várias barreiras para a abordagem da espiritualidade do paciente, tais como a falta de treinamento, o tempo ou conhecimento sobre o assunto ou, ainda, seus próprios valores pessoais, medo de conflitar com os da pessoa e/ou família ou considerar que abordar a espiritualidade não é papel do profissional de saúde. O conhecimento das habilidades de comunicação, aliado à prática clínica centrada na pessoa podem ser ferramentas potentes para auxiliar o médico de família e comunidade no exercício da abordagem clínica da dimensão religiosa-espiritual da pessoa O médico de família e comunidade pode contribuir para a construção de resiliência de pessoas, de famílias e de comunidades, à medida que aborde o processo de saúde-adoecimento de modo integral, auxiliando na valorização de estratégias de superação ou na ressignificação de agentes estressores que produzam sofrimento ou desequilíbrio No contexto de abordagem clínica da dimensão espiritual do paciente, é necessário o entendimento do conceito de espiritualidade, para que ele não seja reduzido ou confundido com conceitos de religião ou religiosidade. A definição de espiritualidade tem recebido sucessivas aproximações na literatura. Dar ênfase ao conceito de espiritualidade, em vez de religiosidade, pode ajudar a temática a tornar-se mais acessível para profissionais e pacientes, uma vez que a espiritualidade é uma dimensão intrínseca ao ser humano, ao passo que o domínio religioso pode ou não ser significativo para a pessoa abordada O que fazer? Independente de tantas evidências no campo da R/E na saúde, muitos profissionais ainda têm dificuldade em inserir essa temática na prática clínica. Os vários pontos que dificultam aos profissionais abordarem esse tema nos encontros terapêuticos também já têm sido pesquisados. As barreiras, como falta de conhecimento ou treinamento, vêm sendo superadas à medida que o tema ganha espaço nas pesquisas e nas discussões clínicas. A preocupação com o tempo pode ser apaziguada conforme o melhor desempenho no treinamento e a longitudinalidade do cuidado clínico. Contudo, há barreiras que permeiam as concepções do médico sobre seu papel e seus valores pessoais. O autoconhecimento sobre as emoções advindas da prática clínica, a necessidade de tomada de consciência do médico no exercício profissional (awareness), a sua postura de atenção plena (mindfulness) e a sua vivência espiritual intrínseca podem ter impacto sobre a forma como o profissional maneja demandas espirituais trazidas pelo paciente, bem como sobre sua disponibilidade para fomentá-las e abordá-las. O médico necessita manter uma prática reflexiva sobre si mesmo e seus valores pessoais, de modo a respeitar as necessidades e as crenças das pessoas, sem impor seu ponto de vista. Modelos de Abordagem da Espiritualidade na Prática – Existem alguns instrumentos para facilitar. A proposta da história espiritual é aprender sobre como os pacientes lidam com suas doenças, os tipos de sistemas de suporte disponíveis para eles na comunidade e quaisquer crenças fortes que possam influenciar os cuidados médicos. É preciso ter em mente, de modo geral, que um instrumento de avaliação espiritual deve ser fácil de aplicar, flexível, adaptável, não demorado e ser aplicado de modo dialogado com a pessoa, sem produzir uma abordagem focal, tipo check list. O formato estruturado proposto para a anamnese espiritual deve ser visto como um guia dos tópicos importantes a serem pesquisados, Carla Bertelli – 5° Período uma vez que esse tema deve sempre ser abordado de forma leve e fluida, respeitando as crenças e o tempo de cada pessoa. É preciso observar a reação da pessoa e a resposta dada, reajustando o formato da próxima questão de acordo com o tom ditado pela própria pessoa. É preciso identificar a linguagem utilizada e como a pessoa a relaciona com sua fé/crença (p. ex., Deus, família, natureza), seguindo, assim, o mesmo enfoque nos demais itens da anamnese Conduta – Uma proposta de aplicação clínica dessa visão pode ser exemplificada pelo método 3H, que compreende a vivência espiritual do ser humano como dividida em aspectos cognitivos (head), emotivo- experienciais (heart) e comportamentais (hands). Ajuda a avaliar as estratégicas de coping positivo ou negativo. O aspecto cognitivo decorre de questões filosóficas ou reflexivas, tais como “Porque isso está acontecendo comigo?” ou “O que ocorrerá depois da morte?”. A dimensão emotivoexperiencial decorre do processo de significado que a pessoa dá à sua vivência, como senso de conexão e paz ou de solidão e desespero perante suas crenças. O aspecto comportamental se manifesta pelas ações diretas, como escolha de hábitos de vida (alimentação, aceitar ou não transfusão de sangue), prática de preces ou rituais religiosos. Com essa abordagem, podem ser identificadas estratégias de apoio da pessoa, bem como pensamentos e sentimentos que lhe agravem a experiência, como culpa, medo ou percepção de punição dentro de sua relação com o sagrado (crenças, Deus ou instituição religiosa) Abordagem da Espiritualidade a partir do Método Clínico Centrado na Pessoa: 1 – Explorando a doença e experiência da Doença – A dimensão de significado que a pessoa atribui à sua fé, crença ou vivência ganha imensa importância. o avaliar as dimensões da vivência espiritual (significado, paz, fé e religiosidade) em relação à qualidade de vida, saúde mental e bem-estar em adultos. Como profissionais, não cabe julgar o que deveria ou não ser perdoado, mas sim dar suportepara a pessoa “escrever” sua história com autonomia. 2 – Entendendo a pessoa como um todo – Conhecer a pessoa como um todo, incorporando a avaliação rotineira do CRE, pode melhorar nosso entendimento e descortinar pontos de resiliência a serem fortalecidos. A partir dessa avaliação, o CRE positivo pode ser encorajado por meio de reforço das práticas salutogênicas da pessoa, como meditação, práticas corporais integrativas, preces, perdão, contemplação, leitura de materiais espirituais ou outras. Neste componente, também pode ser abordada a dimensão relacional e comunitária da pessoa. Nesse passo, inserem- se interrogações sobre relações familiares (crenças semelhantes ou conflitivas), princípios religiosos ou culturais e suporte social, por exemplo, dentro de uma comunidade religiosa ou de um grupo em que a pessoa vivencie sua relação transcendental. 3 – Elaborando um Plano Conjunto de Manejo de Problemas – Os valores espirituais terão impacto nas decisões da pessoa, podendo influenciar condutas específicas, como não desejar transfusão sanguínea ou tratamento medicamentoso, mas também atuar de modo mais amplo, impactando diretamente no fator volitivo e motivacional.24 Abordar esses aspectos pode fortalecer a aliança terapêutica e também auxiliar a pessoa na ressignificação de vivências prévias negativas ou que prejudiquem o vínculo com o tratamento clínico 4 – Intensificando o relacionamento entre pessoa e médico – É preciso que o médico tenha claro que sua postura será de estar ao lado da pessoa, ainda que ela seja refratária às intervenções. “O olhar, a compaixão e o respeito adquirido” pelos pacientes pode fazer toda a diferença na condução de uma situação Essa postura exige autoconhecimento do profissional, tanto para reconhecer e trabalhar com sua frustração quanto para gerir os processos de transferência e contratransferência. Outra postura essencial é que o profissional se mantenha em situação de igualdade com a pessoa na construção Carla Bertelli – 5° Período da relação, de modo a garantir um ambiente seguro, livre de julgamento ou depreciação devido à fé ou conjunto de crenças da pessoa. Adotar uma atitude compassiva e empática auxilia o profissional nesse trabalho Aula 8 Conhecer Práticas Integrativas Complementares (PICs) • Conhecer as práticas integrativas e complementares • Medicina Tradicional Chinesa • Homeopatia • Fisioterapia e Plantas Medicinais • Medicina Antroposófica As práticas integrativas e complementares (PICs) são cada vez mais procuradas e apreciadas como formas legítimas de cuidado eficiente em saúde. São formas de cuidado que chamam a atenção pela integratividade com que lidam com a complexidade humana (em suas dinâmicas física, emocional, mental, social e espiritual) em uma prática sistematizada e coerente O movimento acadêmico chamado racionalidades médicas envolve cinco áreas: medicina antroposófica (MA), homeopatia, medicina tradicional chinesa (MTC), alopatia, ayurvédica. Cada racionalidade médica é um universo em si. Não há como se fazer um utilitarismo terapêutico raso, uma miscelânea de práticas concomitantes, com o perigo de piora do estado de saúde. Trata-se justamente de integrar e complementar o cuidado coerentemente, de forma segura e inteligente. Para todo profissional que trabalha com saúde, é mais importante ter a realidade em si do que é um ser humano saudável do que ter a noção do que significa estar doente. Muitas pessoas já usam as PICs em suas vidas, mas boa parte não expõe isso aos profissionais de saúde, provavelmente por ter receio dos julgamentos da biomedicina. A OMS recomenda que os governos nacionais respeitem, preservem e divulguem os conhecimentos das MTs enquanto realizam programas de saúde pública e regulamentações para promover o uso apropriado, seguro e efetivo dessas formas de cuidado. Recomenda ainda a inclusão dessas medicinas em seus sistemas de saúde e a comunicação e a troca de experiências dos países-membro relacionadas a esses conhecimentos Medicina Antroposófica – A MA se provou segura, eficaz e não aumenta os custos de saúde. Está associada a melhoras clínicas substantivas e ao aumento importante da qualidade de vidas. Outra qualidade impactante se dá quando é usada para diminuir efeitos colaterais de medicações e procedimentos invasivos, sendo a oncologia a área mais estudada neste sentido. É também preciosa para processos de desintoxicação e convalescença, além de ser excelente nos cuidados paliativos. Sua profundidade e complexidade se mostra eficaz em todos os níveis de atenção à saúde, mas é na APS que se evidencia o seu maior potencial, uma vez que tem alta resolutividade e resgate do sentido de pertencimento e coerência interna individual, familiar e comunitária. A antroposofia, estabelecendo-se então como “Sabedoria do Homem,” propõe uma abordagem integral do ser humano em seus aspectos físicos, psicológicos e espirituais, no sentido de não se ocupar na discussão do que seria Deus (Teosofia) para se dirigir diretamente às questões humanas. Características – Estuda-se o ser humano trimembrado desde o início da vida escolar. Medicina Antroposófica distingue, além da organização puramente física do homem, outras três organizações: • Organização vital que ordena os fenômenos físicos como fenômenos viventes; • Organização anímica que reordena por sua vez os fenômenos físicos e vitais de forma a possibilitar a aparição da consciência; • Organização espiritual, absolutamente individual de homem para homem, e que organiza as Carla Bertelli – 5° Período outras três instâncias como uma organização biológica individual. Tal como a Medicina Acadêmica, que se baseia no método das ciências naturais, a Medicina Antroposófica baseia-se no mesmo método para o conhecimento do homem físico; mas para o conhecimento das organizações vital, anímica e espiritual, baseia-se no método da Ciência Espiritual ou Antroposofia De acordo com esse método, temos 4 estruturas essenciais que constituem e entidade humana: 1. O Corpo Físico: mineral, substancial, existente em diversas formas, em todos os reinos da natureza. 2. O Corpo Vital ou Etérico: fundamento da vida, das características puramente vegetativas, crescimento, regeneração e reprodução. Existe em todos os organismos vivos. 3. O Corpo Anímico ou Astral: é o fundamento da organização sensitiva do homem; ele reordena os processos biológicos, permitindo a aparição do sistema nervoso no mundo animal e no homem. 4. A Organização para o Eu: é a organização própria do homem, dá a auto-consciência e reagrupa as atuações dos outros três corpos, surgindo assim o andar ereto e as capacidades de falar e pensar. Essas quatro organizações agrupam-se reciprocamente em três formas diferentes no organismo humano, surgindo assim uma estrutura funcional e anatômica de constituição tríplice: 1. Sistema Neuro-sensorial: concentrado principalmente na região da cabeça, mas também distribuído por todo o corpo. Ele está a serviço da consciência. 2. Sistema Rítmico: cujo centro funcional se encontra na região torácica, onde a característica das funções pulmonar e do coração é o ritmo. Também presente nos ritmos de outras funções biológicas, fora da cavidade torácica. 3. Sistema Metabólico e das Extremidades: agrupa todos os processos metabólicos, base para o sustento, regeneração e movimento do organismo, cujos órgãos principais se concentram na cavidade abdominal e extremidades; mas funcionalmente presente, tal como os outros dois sistemas, em todo o organismo e em cada uma de suas células e tecidos. A relação recíproca desses três sistemas muda durante a vida do ser humano, de idade para idade, vinculando-se com essa mudança biológica às mudanças que acontecem psicológica e espiritualmente no desenvolvimento normaldas pessoas. Assim, a MA compreende o ser humano constituído de corpo, de alma e de espírito, percebendo sua atuação plena no SNS, no SMM e no sistema rítmico (SR). Desse modo, percebe a integração de cada órgão, cada célula, em um todo intermediado continuamente pelo SR (circulação e respiração) e, assim, o médico tem ferramentas eficazes para atuar de maneira orgânica (organismo como um todo) e sincrônica. Mostra, a todo o momento, como o anímico e o espiritual estão coatuando com o corpo e como o uso de medicamentos está agindo em todos os âmbitos de forma simultânea Homeopatia – compartilha com outras PICs a visão integral do ser humano e pode contribuir na ampliação da arte de cuidar da prática do médico de família e comunidade. Assim, ele poderá utilizar os exemplos da seção “Exemplos de uso” como apoio, sempre que sentir necessidade e quando as pessoas sob cuidado assim concordarem. Como se vê, a meta idealizada por essa racionalidade terapêutica é a cura completa da pessoa ao se “encontrar”, durante a entrevista homeopática, o medicamento mais semelhante ao quadro patológico. Em sua teoria (chamada de “filosofia”), dado o contexto da época de sua concepção, não há especulações sobre determinantes sociais de saúde e doença Os medicamentos homeopáticos sempre são prescritos na forma dinamizada. A dinamização homeopática consiste na potencialização de uma substância pelos processos de diluição e sucussão (ato de sacudir) sucessivos. Para a preparação dos medicamentos homeopáticos, empregam-se substâncias das mais diversas origens. Essas serão diluídas (geralmente na proporção de uma parte de substância para 100 partes de diluente) e, em seguida, agitadas vigorosamente durante um intervalo de tempo, preparando-se a potência denominada C1. Esse processo é a potencialização do medicamento. Se for repetido, a potência cresce na medida em que aumentam as diluições: C2, C4, etc. Buscando uma aproximação matemática, verifica-se que a quantidade, por exemplo, do metaloide arsênico, que há em um Carla Bertelli – 5° Período medicamento homeopático chamado Arsênico C6, será de uma parte para 1 trilhão, ou seja, 10 elevados ao dobro do valor da potência (o algarismo que vai ao lado da letra C). O médico homeopata utiliza uma anamnese detalhada, investigando sintomas de toda a ordem e motivando as já antológicas longas consultas. Então, será selecionado o medicamento que tiver o quadro mais parecido (física, emocional e mentalmente) ao da pessoa em tratamento. Na prática cotidiana, a escolha do medicamento mais apropriado ao quadro geral do paciente é feita com o uso da ferramenta Repertório de sintomas, que cataloga e conduz à prescrição do medicamento. Medicina Tradicional Chinesa – Fundamenta- se em uma visão peculiar sobre as forças que fluem atuando, organizando e, portanto, interferindo nos seres vivos e no meio circundante de forma coordenada. Visando a interferir beneficamente nessas forças é que são praticadas as terapêuticas conhecidas, como acupuntura (colocação de agulhas em pontos específicos), moxabustão (incineração da erva Artemisia sinensis direta ou indiretamente na pele) e shiatsu (estímulo digital de pontos específicos), movimentos harmoniosos do corpo, massagens, entre outras Os procedimentos profiláticos e terapêuticos da MTC visam a buscar o equilíbrio do fluxo das forças internas, responsáveis pela expressão da saúde e da doença. Para isso, as recomendações higiênicas e outros procedimentos buscarão ajustar internamente o diálogo oposto e complementar das forças Yin-Yang e, externamente, compatibilizá-las com o contexto das forças da Terra e do Céu, isto é, com o clima e seus influentes atmosféricos Saúde e Doença: O equilíbrio dinâmico – Para a MTC, a saúde é um momento em que o fluxo contínuo de forças polares que interagem no organismo está em uma dinâmica de equilíbrio. Esse equilíbrio é uma tendência natural: o organismo busca espontaneamente a saúde pelas interações dos órgãos internos e com as forças atmosféricas da Terra. Tanto essas influências quanto as físicas, nutricionais e emocionais desencadeiam o predomínio de uma ou de outra dessas forças. A persistência desse predomínio gera a desarmonia. Assim, as doenças, segundo a MTC, decorrerão da estase (que gera acúmulos) ou da dispersão (que gera carências) excessivos do fluxo energético em determinados pontos ou órgãos. Como nem sempre o organismo atinge a cura espontânea, o cuidador terapeuta deverá inferir qual o sentido que esse organismo está tomando na busca do reequilíbrio e atuar sinergicamente pela orientação higiênica ou pelo estímulo de alguns pontos no corpo que dispersem a estase ou tonifiquem o esvaziamento Forças Interatuantes no Organismo Humano: Yin-Yang – Fundamentalmente, o Universo está em permanente mudança, e as análises se dão sobre os processos das contínuas mudanças e não sobre os seus resultados. Esses processos são consequências do fluir de uma energia denominada chi, que se manifesta e atua pela interação de duas polaridades opostas e complementares: Yin e Yang. Todas as ocorrências da natureza e, portanto, da vida são fruto da ação recíproca dessas duas forças contraditórias. Sempre em relação de criação e controle mútuo. Yin e Yang criam-se e se opõem cíclica e continuamente, tentando dominar-se. Algumas características dessas duas tendências, tanto na natureza circundante quanto no organismo humano, mostram o Yin receptivo, feminino, lunar, escuro, formativo, frio, úmido, profundo, côncavo, relacionado com a Terra, tendendo a acolher. O Yang relaciona-se com céu, convexo, raso, secura, calor, movimento, Sol, masculino, ativo, tendendo a penetrar No âmbito do funcionamento do organismo, pode-se afirmar que a circulação sanguínea, por exemplo, é consequência do diálogo sístole (de caráter Yang)/diástole (de caráter Yin); a respiração, do diálogo inspiração/expiração; a constituição óssea, pela interação osteoblastos/osteoclastos; o metabolismo corpóreo, pelo equilíbrio dinâmico anabolismo/catabolismo, etc. O predomínio suave de um dos polos qualifica os fenômenos visíveis e caracteriza o biótipo e os múltiplos perfis de saúde individual; o exagero caracteriza as doenças Carla Bertelli – 5° Período Os 5 movimentos – Os quatro elementos geradores do universo (Fogo, Terra, Água e Ar), classicamente considerados no ocidente, têm seu equivalente na MTC. Contudo, os chineses operam com uma quinta força derivada dessas quatro essências, a madeira (na realidade, é o que surge como vitalidade da Terra). Aula 9 Abordar sobre Cuidados Paliativos na APS • Caracterizar Cuidados Paliativos e seus Princípios • Conhecer a organização do serviço para os cuidados paliativos • Descrever o prognóstico e atuação da equipe de atenção básica O cuidado paliativo é uma abordagem que objetiva a melhoria na qualidade de vida da pessoa enferma e de seus familiares, ao realizar a prevenção e o alívio de sofrimento, diante de uma doença que ameaça a vida. Os cuidados de que a pessoa doente necessita provocam mudanças na dinâmica familiar e nas atividades cotidianas, aumentando a vulnerabilidade social Os planos de cuidado devem ser discutidos com a equipe multiprofissional. É importante a avaliação da espiritualidade e da religiosidade da pessoa, a importância que ela dá às crenças e qual é o papel exato da equipe de saúde nos cuidados. Sempre há o que fazer para melhorar as condições de vida, seja com relação à dor ou outro sintoma ou à saúde espiritual. Reavaliar e sempre observar possíveis complicações da doença de base, complicações neurológicas, além da compreensão da família quanto à evolução da doença. Os cuidados paliativos surgiram como uma prática de implantação, tanto dos cuidados quanto da organização dos serviços de saúde, que precisamser modificados, para oferecer resposta aos problemas sofridos por pessoas que apresentam enfermidades crônicas e/ou incuráveis. O cuidado paliativo é uma abordagem que objetiva a melhoria na qualidade de vida da pessoa enferma e de seus familiares, ao realizar a prevenção e o alívio de sofrimento, diante de uma doença que ameaça a vida. Para efetivá-la, é necessária a identificação precoce da dor, assim como fazer sua avaliação e seu tratamento, além de abordar outros problemas físicos, psicológicos e espirituais. Nesse sentido, a prática dos cuidados paliativos não significa uma intervenção de “fim de linha”, mas sim uma abordagem estruturada para atender as necessidades das pessoas em qualquer fase da enfermidade, e o mais precocemente possível. Ain da que os cuidados paliativos tenham sido desenvolvidos como resposta às necessidades (não atendidas) das pessoas portadoras de câncer em fase avançada e seus familiares; hoje, eles são uma modalidade de atenção aplicável a qualquer pessoa com doença crônica que vivencia sua terminalidade. Atenção Paliativa – Utilização desse termo. Porque muito mais que um cuidado, se abrange um paciente como um todo, é uma abordagem Ampla – MULTIDISCIPLINAR Suporte espiritual, físico, mental, medicamentoso Atenção Domiciliar – Cuidados paliativos estão inseridos nas normas de atenção familiar e regulamentados – estão relacionados a atenção domiciliar da modalidade 2 (AD2) • Pacientes Oncológicos • Pacientes com enfermidade pulmonar crônica • Doenças neurológicas – AVE, ELA, Parkinson, EM • Pessoas idosas que padecem de enfermidades graves e em estado avançado • Pacientes com cirrose hepática, demências Como determinar se a doença precisa de Atenção Paliativa? São doenças que evoluem lentamente, podem ficar muito tempo com essa doença merecendo atenção paliativa Carla Bertelli – 5° Período Saber como é a doença do paciente, sua evolução, como ela se comporta, por quanto tempo se precisa dos cuidados paliativos no paciente, até a morte Critérios de Elegibilidade para Atenção Paliativa: • Percepção Tecidual • Marcadores clínicos e funcionais gerais e geriátrico • Marcadores clínico e funcionais de cada doença Instrumento NECPAL CCOMS-ICO Instrumento para identificação de pessoas em situação de doença avançada e/ou terminais e necessidade de atenção paliativa para uso em serviços de saúde e sociais Escala de Karnofsky Abaixo de 50% pode ter mens que 6 meses de vida Confecção de Planos de Cuidado – Começam muito antes da eminente morte do paciente. Se começa quando você identifica que aquela doença pode ser fatal para aquele paciente A expectativa média de vida, que é proporcionado pela melhora do nível de saúde nas últimas décadas, aumentando as necessidades de cuidados e dependência.. Os cuidados paliativos não são determinados pelo diagnóstico, mas pela situação e necessidade do paciente. No entanto, as doenças que mais frequentemente necessitam de cuidados paliativos organizados são o câncer, a Aids, algumas doenças cardiovasculares e algumas doenças neurológicas graves e rapidamente progressivas. As características próprias dessas doenças tornam mais frequente a existência de sintomas e necessidades que, pela sua intensidade, mutabilidade, complexidade e impacto individual e familiar, são de difícil resolução. Os cuidados paliativos dirigem-se, prioritariamente, à fase final da vida, mas não se destinam apenas aos últimos dias de vida ou aos pacientes agônicos. Muitas pessoas necessitam ser acompanhadas por semanas ou meses antes da morte. Contudo, é habitual, com o avanço da doença, que os sintomas fiquem com mais intensidade e sejam mais perturbadores e as necessidades de apoio se tornem mais permanentes. Este aspecto deve ser considerado na gestão da capacidade de resposta dos serviços, definindo-se critérios de prioridade adequados, evitando que ocorram demoras médias de admissão ou excessivamente prolongadas na acessibilidade dos pacientes que se encontram em mais intenso sofrimento. Carla Bertelli – 5° Período Uma equipe com cuidados paliativos incorporados deve ter os membros com formação específica em cuidados paliativos. O serviço deve possuir todos os fármacos considerados essenciais para as equipes e apoio todos os dias da semana, 7 horas diárias. A equipe deve ter como objetivos principais: ●Tratar a dor e outros sintomas físicos (náuseas, vômitos, delírios, convulsões, dispneias, etc.), assim como as necessidades emocionais, sociais e aspectos práticos dos cuidados dos pacientes ●Informar, comunicar e dar o apoio emocional, assegurando que o paciente seja escutado, que participe das decisões, que obtenha respostas claras e honestas e que possa sempre expressar os seus sentimentos. ●Assegurar a continuidade assistencial ao longo da evolução da sua doença. ●Melhorar a qualidade da atenção prestada aos pacientes em situação terminal e aos seus familiares, promovendo uma resposta integral, respeitando a autonomia e os valores de cada pessoa. Princípios da equipe • Acompanhamento da pessoa e de sua família com base nas suas necessidades. • Atenção integral, acessível e equitativa. • Continuidade da atenção. • Comunicação aberta e honesta. • Reflexão ética das atitudes. • Participação do paciente e da sua família na tomada de decisões. • Competência e desenvolvimento profissional continuados para poder responder adequadamente às necessidades das pessoas e da família. • Atuações terapêuticas baseadas nas melhores evidências científicas. Aula 10 Avaliação Multidimensional e Aspectos da Saúde do Idoso • Conhecer a avaliação da pessoa idosa em suas diferentes dimensões • Conhecer as doenças crônicas do idoso e abordagem nos casos de múltiplas morbidades Aula 11 Sistematizar o Conhecimento sobre Síndromes Demenciais • Identificar os tipos de Demência na pessoa Idosa • Abordar a conduta para pessoa com demência na APS (quando referenciar) • Conhecer prognóstico e Complicações • Abordar sobre a atuação da Atenção Básica no processo de demência