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Brasília-DF. SiStemaS de drenagem, Fluviometria e SiStemaS de alerta Contra CheiaS Elaboração Inara de Camargo Gomes Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO .................................................. 9 CAPÍTULO 1 DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO E ASPECTOS RELEVANTES DOS ESTUDOS HIDROLÓGICOS ...... 9 CAPÍTULO 2 MICRODRENAGEM: COMO REALIZAR CAPTAÇÃO DE ÁGUA, GALERIAS E PEQUENOS PONTOS ............................................................................................................ 12 UNIDADE II MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES ......................................................................... 35 CAPÍTULO 1 PROCEDIMENTOS PARA MEDIDAS DE VAZÃO DE RIOS ............................................................. 35 CAPÍTULO 2 SISTEMAS DE MACRODRENAGEM ........................................................................................... 57 UNIDADE III ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES ................................................................................................... 66 CAPÍTULO 1 FATORES QUE DETERMINAM E CONTROLAM AS ENCHENTES NOS ELEMENTOS HIDROGRÁFICOS ................................................................................................................... 66 CAPÍTULO 2 MEDIDAS E INTERAÇÕES ENTRE PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA, EVAPORAÇÃO, I NFILTRAÇÃO E ESCOAMENTO SUPERFICIAL ............................................................................. 79 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 90 4 Apresentação Caro aluno, A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Quando pensamos em desenvolvimento urbano, necessariamente passamos pelos problemas enfrentados resultantes de inundações. Nestas últimas décadas, presenciamos um acentuado acréscimo das cidades. Quando pensamos no Brasil, podemos observar que, devido a esse crescimento, problemas relacionados a inundações são agravados. Esses problemas estão correlacionados com a impermeabilização do solo, que pode ser decorrente da ocupação de áreas impróprias de solo e também da falta de controle do crescimento urbano. Passamos décadas sem nenhuma ação conjunta para evitar que tais problemas florescessem e agora colhemos o resultado do nosso descaso com a natureza. Foi na década de 70 que começamos a pensar nas bacias hidrográficas com maior precaução e hoje colhemos todo esse problema de ordem global que atua diretamente no nosso clima. Esses problemas estão relacionados à falta de planos diretores e aplicabilidade destes no que se refere à drenagem dentro das cidades e também à falta de cobrança por parte de órgãos legais e fiscalizadores que permitam uma melhor gestão do processo de urbanização de forma gradual, estudada, com a finalidade de causar menor impacto aos cursos naturais de água. O consumo de água de forma descontrolada é um dos piores erros que cometemos até hoje. Nossa conta com o meio ambiente ficou altíssima e já estamos pagando o preço. Por meio de manchetes nos meios comunicativos podemos ver enchentes que devastam comunidades, clima totalmente desregulado em toda a extensão do planeta, o que afeta indireta e diretamente o meio que habitamos. Um controle maior sobre projetos referentes à drenagem deve ser realizado e executado, já que o assunto é de suma importância a todos e pode vir a gerar desastrosas consequências ao planeta. Precisamos parar de solucionar problemas e remediá-los. Este é o caminho almejado e precisamos estar preparados para traçar. Veremos nesta apostila formas de dimensionar sistemas de drenagem urbana, macro e microdrenagens e tudo o que for pertinente aos cálculos para tais dimensionamentos. Por fim estudaremos como realizar estimativas de vazões e enchentes. 8 Objetivos » Apresentar a fundamentação teórica sobre dimensionamento de drenagem do tipo urbana, micro e macrodrenagens. » Elucidar quanto a caminhos para elaboração de estimativas de vazões e enchentes. 9 UNIDADE I SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO CAPÍTULO 1 Dimensionamento hidráulico e aspectos relevantes dos estudos hidrológicos Com o cenário que enfrentamos atualmente com problemas nas bacias hidrográficas, ocupações irregulares, uso sem critérios da água, o estudo hidrológico foi criado a fim de estabelecer estudos e critérios para que possamos, de certa forma, tentar controlar tais problemas. A aplicação direta de métodos matemáticos e estatísticos possibilita atualmente chegar a resultados satisfatórios. Anteriormente, o estudo de determinada baciaradioativos; » equipamentos utilizando ultrassom; » utilização de flutuadores; » por processo volumétrico; » com a utilização de molinetes, correnômetros e correntógrafos, realiza-se a medida pontual das velocidades do fluxo; 47 MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES │ UNIDADE II » fórmulas embasadas nas características do rio; » escolha do número de pontos de medida de velocidade numa vertical; Leitura do nível de água por meio de vertedores e calhas Parshall Esse tipo de leitura é utilizado para vertedores, medidor de Parshall, seção onde ocorre a curva-chave perfeitamente calibrada e definida. Equipamentos utilizando ultrassom Utilização de flutuadores Muito utilizada para uma avaliação de forma rápida da vazão em qualquer lugar. A seção transversal deve ser conhecida. Nesse tipo de método, mede- se o deslocamento de um flutuador ao percorrer uma distância conhecida. Com isso, obtém-se a velocidade média nas camadas superficiais. O processo deve ser repetido quantas vezes forem necessárias, a fim de se estabelecer uma velocidade média na seção. Na figura 13, podemos ver como realizar tal método. Figura 13. Medição utilizando flutuadores. V1 V2 Aseção V3 V4 Fonte: (RIGUETTO, 1999). Caso não tenhamos muitas medições (né dada por: 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 = + + + +…+ + a b b c m nQ p V p V pnVn » Método de Gauss: para calcular a vazão utilizando o método de Gauss para o cálculo da área, é necessário possuir um elevado número de pontos de medição (np ≥ 3 nvert) para garantir a precisão do resultado. 1 2 3+ + +… = V V V VnQ A n Velocidade média de escoamento Na seção transversal, a velocidade média de escoamento é definida por meio da vazão total dividida pela área da seção transversal, sendo representada pela expressão: = QV A Metodologias para escolhas de pontos de medições sobre uma vertical Estudos mostram que a velocidade vertical fica entre 0,6d da superfície, logo utilizar um único ponto para medir que fica situado a uma superfície igual a 60% da profundidade total na vertical. Lembrando que essa metodologia deve ser aplicada a profundidades pequenas ou próximas à margem, principalmente para trabalhos que precisam ser realizados rapidamente. Vm = V6d 55 MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES │ UNIDADE II Metodologia dos dois pontos Por meio da expressão abaixo podemos obter a velocidade média. É uma metodologia muito utilizada devido à sua rapidez, porém erros podem ser cometidos devido ao fato de o curso de água ser natural. Portanto, é de suma importância a verificação da viabilidade para aplicação desse método na sessão de trabalho por comparações. 0,2 0,8 2 + = V VVm Em que: V0,2 e V0,8 = velocidades obtidas a 20% da profundidade (0,2d) e 80% da profundidade (0,8d). Metodologia dos três pontos Entre as citadas, é a mais precisa. Desenvolvimento parabólico das velocidades na vertical. Duas expressões são utilizadas, e deve-se verificar qual é a mais indicada para a situação. 0,2 2 0,6 0,8 4 + + = V V VVm 0,2 0,6 0,8 3 + + = V V VVm Metodologia dos cinco pontos É realizada a medição das velocidades em cinco pontos na vertical, conforme podemos verificar na equação a seguir: ( )2 0,2 0,6 0,8 8 + + + + = Vf V V V Vs Vm 0,2 0,6 0,8 5 + + + + = Vs V V V VFVm 3 0,2 2 0,6 3 0,8 10 + + + + = Vf V V V VsVm 56 UNIDADE II │ MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES Metodologia dos pontos múltiplos Medida próximo ao fundo e outra próxima à superfície. Após, várias medidas intermediárias são tiradas, tentando o maior número possível de medidas. Com isso, o número de medidas depende diretamente da cidade na vertical do tipo de equipamento que está em uso, quando, por regra prática, adota- se a distância igual ao diâmetro da hélice, quando o equipamento utilizado é o molinete hidrométrico. Por meio deste, calcula-se a velocidade média pelos métodos vistos anteriormente. ( ) ( ) 2 1 2 2 1 + + +…+ + = − Vf V V Vn Vs Vm n 1 2 + +… = V V VnVm n 57 CAPÍTULO 2 Sistemas de macrodrenagem Sistemas de macrodrenagem Canais abertos são condutos que podem levar cursos de água naturais ou canais artificiais com a finalidade de drenar ou irrigar, como os de drenagem subterrânea, o esgoto, canais em que o líquido não transborda a seção de escoamento. Tipos de escoamentos Quando temos um canal que não tem uma perda de água pelas laterais, seguimos a seguinte expressão: Q = A1V1 = A2V2 Em que: Q = vazão total; A = área da seção; V = velocidade média na seção. Entre duas seções que são conhecidas a linha de energia ocorre devido à composição da velocidade de escoamento e a energia de pressão da lâmina d’água. Na figura 20, podemos verificar o escoamento em um dado trecho curto. Figura 20. Escoamento num trecho curto. Linha de carga Linha d’água Fundo do canal Plano de referência Linha de energia I ᵝ d1 d2 Z1 Z2 S1 ΔH V12/2g V22/2g J S2 Fonte: (PEDROSA, 1957). 58 UNIDADE II │ MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES Quando aplicada às seções S1 e S2 a equação de Bernoulli e adotando que a pressão é idêntica a pressão atmosférica, logo, constante, temos, ao longo do canal, a seguinte expressão: 2 21 21 1 2 2 2 2 + + = + + + ∆ = V VZ d Z d H H g g Em que: Z = posição do fundo em relação a um nível de referência; d = profundidade da lâmina d’água; V = velocidade média na seção; ΔH = perda de carga entre as seções S1 e S2; H = carga total; Z + d = energia potencial da partícula d’água na superfície em relação a um nível de referência; V2/2g = altura representativa da energia cinética; I, J, β = respectivamente, declividade da linha de energia, declividade da linha d’água e declividade do fundo. Escoamento permanente e não permanente Para o escoamento permanente e uniforme, temos as seguintes equações: Q1 = Q2 d1 = d2 V1 = V2 J = β = I Para escoamento permanente variado, temos as seguintes equações: Q1 = Q2 d1 ≠ d2 V1 ≠ V2 I ≠ β 59 MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES │ UNIDADE II Para um escoamento permanente variado, podemos ter o mesmo, sendo gradual ou rapidamente variado, retardado, quando temos uma velocidade menor no sentido do fluxo, ou acelerado, quando a velocidade cresce no sentido do fluxo. Na figura 21 podemos ver um esquema no momento variado em regime permanente. Figura 21. Escoamento variado e permanente. D A B C E Fonte: (PEDROSA, 1957). Em que: Zona A = regime uniforme; Zona B = regime gradualmente variado, retardado (remanso de elevação); Zona C = regime rapidamente variado, acelerado (remanso de abaixamento); Zona D = regime rapidamente variado, retardado (ressalto hidráulico); Zona C = regime uniforme. Normalmente, escoamento permanente não é aplicável a cursos de águas naturais em que existe uma variação muito grande de água no decorrer do tempo. A evolução de uma vazão é lenta exceção às cheias rápidas, e, assim, o regime pode ser considerado permanente. Temos um regime não permanente quando uma onda de cheia natural ou artificial percorre um trecho e, mesmo que seja constante a descarga, uma variação da velocidade média e declividade da superfície ocorre por intermédio da influência das condições de jusante, ou seja, água, maré, entre outras. Para o regime não permanente, temos: Q1 = Q2 d1 ≠ d2 V1 ≠ V2 I ≠ β 60 UNIDADE II │ MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES Classificação de escoamento de acordo com Froude e Reynolds » Escoamento crítico Fr =1 » Escoamento fluvial ou subcrítico FR 1 A equação para tal é: VFr gd = Em que: Fr = número de Froude; V= velocidade média do escoamento; g = aceleração da gravidade; d = profundidade da seção. » Escoamentos laminares Re =2000 » É definido como a relação entre a força inicial e a força viscosa, portanto refere-se também à turbulência da partícula em questão. A equação para tal está logo abaixo. VRRe γ = Em que: Re = número de Reynolds; V = velocidade média do escoamento; R = raio hidráulico, definido como a relação entre a área da seção e seu perímetro molhado; Y = viscosidade cinemática. 61 MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES │ UNIDADE II Cálculo para dimensionamento de escoamento em regime uniforme Temos uma linha de energia paralela ao fundo e a superfície livre, quando pensamos no escoamento uniforme. É muito raro de ser observado em cursos de águas naturais. Porém, por meio de procedimentos, podem ser utilizados parâmetros determinados por equações estabelecidas para o regime uniforme, determinando assim a vazão extrapolação da curva chave e para determinar o coeficiente de rugosidade do leito. Equação de Chézy V C RJ= Em que: R = raio hidráulico (definido como o quociente entre a área da seção e o perímetro molhado); V = velocidade média na seção; J = declividade da linha de energia; C = função da natureza do leito e do raio hidráulico, e pode ser expresso em função das equações de Strickler ou Manning. Equações de Strickler ou Manning Normalmente são utilizadas para cálculo de estimativadas vazões máximas que por algum motivo não podem ser medidas em campo. 2 1/23 :Strickler V KR J= 2 1/23 1:Manning V R J n = Em que: K e n são os coeficientes de rugosidade do leito. Verificando as expressões, temos que a diferença básica entre elas aparece na definição do coeficiente de rugosidade, em que: K= 1/n 62 UNIDADE II │ MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES O coeficiente de Chezy pode ser expresso utilizando a equação de Strickler por intermédio da seguinte relação abaixo citada: C= KR No quadro 6 podemos ver os valores para coeficientes de rugosidade. Quadro 6. Coeficientes de rugosidade de Strickler. Canais com revestimento de concreto bruto 53-57 Canais com bom revestimento, bem alisado 80-90 Galerias de concreto, lisas 90-95 Galerias escavadas em rocha 25-40 Canais antigos com depósitos ou vegetação 43-52 Canais de terra 30-40 Canais com fundo não revestido: seixos grandes 35 seixos médios 40 pedra fina 45 pedra fina e areia 50 areia fina Até 90 Canais de alvenaria bruta 50 Canais de alvenaria comum 60 Canais de tijolos ou pedra aparelhada 80 Canais muito lisos Até 90 ou mais Rios e arroios com fundo rochoso, rugoso 20 Rios e arroios com fundo medianamente rugoso 20-28 Fonte: (PEDROSA, 1957). Altura para escoamentos crítica e normal Quando temos um regime uniforme de escoamento, considera-se a equação de Strickler quando são determinadas características geométricas de um canal. Cada altura da lâmina da água tem somente uma vazão e recebe o nome de altura normal. Profundidade crítica e energia específica Profundidade crítica nada mais é que o limite entre o escoamento rápido e o lento. É definida pelo número de Froude. Já energia específica é uma energia por unidade de peso da corrente que passa por uma seção. Ela é representada devido à profundidade do local e à energia cinética do escoamento. É dada pela seguinte expressão: 2 2 22 2 V QEe d d g gA = + = + 63 MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES │ UNIDADE II Quando conseguimos determinar uma largura média para a seção, ocorre a possibilidade de realizar uma aproximação no valor da profundidade crítica por meio da seguinte expressão: 2 2 3 3 2 Q qdc gb g = = Em que: q = m3/s.m = m2/s Na figura 22, podemos ver equação de energia específica de uma forma gráfica, compreendendo assim todos os parâmetros que foram definidos para tais expressões. Figura 22. Gráfico da expressão de energia cinética. d d dc El Ee V2/2g Regime subcrítico Regime supercrítico Fonte: (PEDROSA, 1957). Controle A função de controle hidráulico pode ser o escoamento em uma seção sobre métrica. Está sob controle quando as características geométricas do trecho são invariáveis de tal forma que o nível da água seja um parâmetro estável da descarga líquida a cada quota correspondente somente uma descarga. O controle pode ser definido em dois tipos: o controle de canal e o controle de seção. 64 UNIDADE II │ MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES Controle de seção Nesse tipo de controle ocorre o isolamento total do trecho a jusante ou a montante, com o intuito de não haver nenhuma influência hidráulica do trecho montante pronto. Quando o trecho a montante tem alguma influência a jusante, temos um controle parcial. Controle de canal Quando temos um rio com geometria retangular, seu escoamento tende a ser praticamente uniforme. Geralmente, encontra-se em rios situados em planícies onde cada descarga fica unida a uma altura normal, que depende da geometria, declividade do leito do rio e rugosidade. Projeto de um canal Quando se conhece a declividade do canal, é possível realizar a determinação da profundidade normal por intermédio das características geométricas do canal com o uso da equação de Strinckler ou Manning. Podemos ver na figura 23 os dados para chegar à profundidade normal. Figura 23. Dados geométricos de um canal trapezoidal. b L B m 1 e d h ds Fonte: (PEDROSA, 1957). Quando adotamos m = 0, transforma-se em retangular. 2; ; 1 ; 2 ; 2 ; 2 + = = = + = + = + = B b AA d e md h d m B b e P b h R P 65 Em que: A= área molhada; P= perímetro molhado; R= raio hidráulico; ds= margem de segurança; L= largura total do canal. Utilizando a equação de Strinckler e isolando “d”, ficamos com a seguinte equação: ( ) ( ) 2/3 2 1 1 2 2 1 + + + = + + n n n n n b d mQd d b mdKJ b md Abaixo, nas tabelas 2 e 3, podemos verificar a recomendação de declividades para taludes laterais e a velocidade média máxima recomendada. Tabela 2. Declividades para taludes laterais. Tipo de solo m Arenoso >=3 Barro arenoso 2-2,5 Barro argiloso 1,5 - 2,0 Argiloso 1,0 - 2,0 Cascalho 1,0 - 1,5 Rocha 0,25 - 1,0 Fonte: (SOUZA, 1973). Tabela 3. Velocidade média máxima. Tipo de solo V(m/s) Arenoso 0,3 - 0,7 Barro arenoso 0,5 - 0,7 Barro argiloso 0,6 - 0,9 Argiloso 0,9 - 1,5 Cascalho 0,9 - 1,5 Rocha 1,2 - 1,8 Fonte: (SOUZA, 1973). 66 UNIDADE IIIESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES CAPÍTULO 1 Fatores que determinam e controlam as enchentes nos elementos hidrográficos Medição de descargas líquidas Medidor de Parshall Como podemos verificar na figura 24, o medidor de Parshall deve ser utilizado onde não houver altura para que seja instalado um vertedor. Um fator muito importante a ser levado em consideração é a saída ou o fundo do canal a jusante, que deve estar localizado num nível inferior do canal a montante, ou seja, o canal de entrada d calha de Parshall. Todo esse cuidado é para que o nível de jusante alcance valores perto dos a montante. Esse tipo de calha: » não sofre nenhum dano devido a matérias em suspensão, o que a torna propícia para atuar nesses tipos de condições citadas; » não altera a natureza do curso de água; » não altera o transporte de sedimentos; » precisão de medição chega a 1%. Esse dispositivo é escolhido de acordo com a faixa de vazão em que precisa ser realizada a medição, de acordo com a largura da garganta, conforme podemos verificar na tabela 4, a seguir. 67 ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES │ UNIDADE III Tabela 4. Medidas padrão para medidores de Parshall. W A a B C O E T G K M N P R X Y Dimensões (mm) 25,4 363 242 356 93 167 229 76 203 19 29 8 13 50,8 414 276 406 135 214 254 114 254 22 43 16 25 76,2 467 311 457 178 259 457 152 305 25 57 25 38 152,4 621 414 610 394 397 610 305 610 76 305 114 902 406 51 76 228,6 879 587 864 381 575 762 305 457 76 305 114 1080 406 51 381 Dimensões (m) 0,3048 1,372 0,914 1,343 0,610 0,845 0,914 0,610 0,914 0,076 0,381 0,229 1,492 0,508 0,051 0,016 0,4572 1,448 0,965 1,419 0,762 1,026 0,914 0,610 0,914 0,076 0,381 0,229 1,676 0,508 0,051 0,076 0,6096 1,524 1,016 1,495 0,914 1,206 0,914 0,610 0,914 0,076 0,381 0,229 1,854 0,508 0,051 0,076 0,9144 1,676 1,118 1,645 1,219 1,572 0,914 0,610 0,914 0,076 0,381 0,229 2,222 0,508 0,051 0,076 1,2192 1,829 1,219 1,794 1,524 1,937 0,914 0,610 0,914 0,076 0,457 0,229 2,711 0,610 0,051 0,076 1,5240 1,981 1,321 1,943 1,829 2,302 0,914 0,610 0,914 0,076 0,457 0,229 3,0880 0,610 0,051 0,076 1,8288 2,134 1,422 2,092 2,134 2,667 0,914 0,610 0,914 0,076 0,457 0,229 3,442 0,610 0,051 0,076 2,1336 2,283 1,524 2,242 2,438 3,032 0,914 0,610 0,914 0,076 0,457 0,229 3,810 0,610 0,051 0,076 2,4384 2,438 1,626 2,391 2,743 3,397 0,914 0,610 0,914 0,076 0,457 0,229 4,172 0,610 0,051 0,076 3,0480 2,7432 1,829 4,267 3,658 4,756 1,219 0,914 1,829 0,152 0,343 0,305 0,229 3,6580 3,0480 2,032 4,877 4,470 5,607 1,524 0,914 2,438 0,152 0,343 0,305 0,229 4,5720 3,5052 2,337 7,620 5,588 7,620 1,629 1,219 3,048 0,229 0,457 0,305 0,229 6,0960 4,2672 2,845 7,620 7,315 9,144 2,134 1,524 3,658 0,305 0,686 0,305 0,229 7,6200 5,0292 3,353 7,6200 8,941 10,668 2,134 1,629 3,962 0,305 0,686 0,305 0,229 9,1440 5,7912 3,861 7,925 10,566 12,313 2,134 1,829 4,267 0,305 0,686 0,305 0,229 12,1920 7,3152 4,877 8,320 13,818 15,481 2,134 1,829 4,877 0,305 0,686 0,305 0,22915,2400 8,8392 5,893 8,230 17,272 18,529 2,134 1,829 8,096 0,305 0,686 0,305 0,229 Fonte: (SOUZA, 1973). Figura 24. Esquema de calha de Parshall. Condutores para poços de medi C w H a D P R T G B M E O X K ha hb ha crista hb crista Direção do fluxo 45º forma alternativa Fonte: (SOUZA, 1973). 68 UNIDADE III │ ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES Em que: W: largura da garganta; A: comprimento das paredes da seção convergente; a: localização do ponto de medição ha, localizado a 2/3 de A ou 2/3 de B, contado a partir da crista; B: comprimento da seção convergente; C: largura da saída; D: largura da entrada da seção convergente; E: profundidade total; T: comprimento da garganta; G: comprimento da seção divergente; H: comprimento das paredes da seção convergente; K: diferença de cota entre a saída e a crista; M: comprimento da transição de entrada; N: profundidade do rebaixo; P: largura da entrada da transição; R: raio de curvatura; X: abcissa do ponto de medição hb (1/3T); Y: ordenada do ponto de medição. Por meio da tabela 4, podemos verificar os valores padrão utilizados nos medidores de Parshall, mas devemos lembrar que valores de M, P e R não são utilizados em algumas vezes, já que ocorre a possibilidade de se realizar transição entre o canal e o dispositivo, por intermédio de uma parede vertical, com angulação de 45º. Deve se realizar a leitura dos níveis de água de montante e de jusante, para definir a vazão. Caso o medidor não esteja afogado, somente a medida a montante é utilizada. Já se o nível de jusante for grande, faz-se necessária uma 69 ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES │ UNIDADE III leitura da jusante e correções. Na tabela 5, podemos verificar o afogamento máximo, o que é admissível, expresso pela relação: S = hb/há Tanto ha quando hb devem ser medidos a partir da crista. Tabela 5. Valores admissíveis para afogamento máximo. Largura da garganta (mm) Afogamento máximo (%) Largura da garganta (m) Afogamento máximo (%) Largura da garganta (m) Afogamento máximo (%) 25,4 50 0,3048 70 2,4384 70 50,8 50 0,4572 70 3,0480 80 76,2 50 0,6096 70 3,6580 80 152,4 60 0,9144 70 4,5720 80 228,6 60 1,2192 70 6,0960 80 1,5240 70 7,6200 80 1,8288 70 9,1440 80 2,1336 70 12,1920 80 15,2400 80 Fonte: (SOUZA, 1973). Para se estimar a vazão, utiliza-se a largura da garganta e a profundidade de montante conforme podemos verificar na expressão abaixo: Q=Cha n Em que temos que o coeficiente da curva chave C e n são obtidos de forma experimental. Na tabela 6 estão expressos os valores de cm para diferentes valores de w. Tabela 6. Valores para n e C com ressalvo livre. Largura da garganta Valores de C e n W C N W e h em mm (Q em l/s) 25,40 0,001352 1,5550,80 0,002702 76,20 0,003965 152,40 0,006927 1,58 228,60 0,013762 1,53 W e h em m (Q em m3/s) 0,3048 0,69 1,52 0,4572 1,06 1,54 0,6096 1,43 1,55 0,9144 2,18 1,57 1,2192 2,95 1,58 1,6240 3,73 1,59 70 UNIDADE III │ ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES Largura da garganta Valores de C e n W C N 1,8288 4,52 1,60 2,1336 5,31 2,4384 6,11 1,61 3,0480 7,48 1,60 3,6580 8,86 4,5720 10,96 6,0960 14,45 7,6200 17,94 9,1440 21,44 12,1920 28,43 15,2400 35,41 Fonte: (SOUZA, 1973). Afogamento Como visto na expressão acima, em que temos ha e hb sempre medidas em relação dentro da crista, temos, nas tabelas 7, 8 e 9, o afogamento máximo permitido para cada medida de garganta. Tabela 7. Vazões mínimas e máximas e profundidades permitidas. Garganta W ha min ha max Qmin Qmax Dimensões em mm Q em L/s 25,40 0,015 0,21 0,0899 5,37 50,80 0,015 0,24 0,1797 13,21 76,20 0,030 0,33 0,7723 31,76 152,40 0,030 0,45 1,4942 107,80 228,60 0,030 0,61 2,5042 251,32 Dimensões em m Q em m3/s 0,3048 0,030 0,76 0,0033 0,4546 0,4572 0,030 0,76 0,0048 0,6946 0,6096 0,046 0,76 0,0121 0,9345 0,9144 0,046 0,76 0,0173 1,4168 1,2192 0,060 0,76 0,0346 1,9120 1,6240 0,060 0,76 0,0426 2,4110 1,8288 0,076 0,76 0,0732 2,9136 2,1336 0,076 0,76 0,0860 3,4229 2,4384 0,076 0,76 0,0964 3,9278 3,0480 0,090 1,07 0,1587 8,3351 3,6580 0,090 1,37 0,1880 14,6617 4,5720 0,090 1,67 0,2326 24,8975 6,0960 0,090 1,83 0,3067 38,005 7,6200 0,090 1,83 0,3807 47,1785 71 ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES │ UNIDADE III 9,1440 0,090 1,83 0,4550 56,3827 12,1920 0,090 1,83 0,6033 74,7650 15,2400 0,090 1,83 0,7515 93,1210 Fonte: (SOUZA, 1973). Tabela 8. Coeficientes para correção de afogamento. W Ca W Ca W Ca W Ca pés m - pés m - pés m - pés m - 0,083 0,0254 0,13 1 0,3048 1,0 6 1,8288 4,3 20 6,0960 11,4 0,167 0,0508 0,24 2 0,6096 1,8 8 2,4384 5,4 25 7,6200 13,6 0,250 0,0762 0,33 3 0,9144 2,4 10 3,0480 6,5 30 9,1440 15,8 0,500 0,1524 0,57 4 1,2192 3,1 12 3,6576 7,5 40 12,1920 19,9 0,750 0,2286 0,80 5 1,5240 3,7 15 4,5720 9,0 50 15,2400 23,9 Fonte: (SOUZA, 1973). Tabela 9. Transformações entre pés e metros. pés m pés M pés m pés m 0,083 0,0254 1 0,3048 6 1,8288 20 6,096 0,167 0,0508 2 0,6096 8 2,4384 25 7,6200 0,250 0,0762 3 0,9144 10 3,0480 30 9,1440 0,500 0,1524 4 1,2192 12 3,6576 40 12,1920 0,750 0,2286 5 1,5240 15 4,5720 50 15,2400 Fonte: (SOUZA, 1973). Tabela 10. Correção para afogamento de calha base de 0,3048 m (1 pé). ha(m) Relação de hb/ha 0,70 0,75 0,80 0,85 0,90 0,95 0,1524 0,002260 0,002830 0,003960 0,006230 0,010500 0,018400 0,3048 0,003680 0,005940 0,009910 0,016800 0,028300 0,050900 0,4572 0,007080 0,011900 0,019800 0,034000 0,056600 0,096200 0,6096 0,012500 0,020700 0,035400 0,056600 0,093400 0,152800 0,7624 0,019500 0,031100 0,053800 0,082100 0,133000 0,212300 0,9144 0,027815 0,041778 0,073894 0,110345 0,219489 0,250565 1,0668 0,038521 0,056570 0,100458 0,145110 0,289020 0,326192 1,2192 0,051085 0,073684 0,131204 0,184521 0,367842 0,41111 1,5240 0,081787 0,114881 0,205236 0,277278 0,553355 0,608815 1,8288 0,119921 0,165368 0,295991 0,388615 0,776030 0,843682 2,4384 0,165488 0,225145 0,403468 0,518533 1,035866 1,115710 Fonte: (SOUZA, 1973). 72 UNIDADE III │ ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES Vertedores Nada mais são do que estruturas fortes localizadas no curso de água que são utilizadas como controle de escoamento. Comparados aos medidores Parshall, os vertedores são utilizados em estações de tratamento de água e esgoto, barragem de controle de medição de vazão em pequenos cursos de água, sistemas de irrigação, entre outros. Esse tipo de sistema pode ser classificado em três formas: soleira espessa, especial e soleira delgada. Soleira delgada É composto por uma placa de espessura fina que para o fluxo, provocando uma elevação do nível para montante. Na figura 25 está o esquema de um vertedor de soleira delgada. Figura 25. Esquema de um vertedor de soleira delgada. d Régua Linimétrica crista ar1 ressalto L p dm H Fonte: (WILSON, 1969). Em que: H: carga hidráulica acima da crista da placa; Lr: distância da régua à placa vertedora (4H ≤ Lr ≤ 10H); p: altura da placa acima do fundo; dj: profundidade do escoamento a jusante; dm: profundidade do escoamento a montante. 73 ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES │ UNIDADE III Os vertedores também podem ser classificados, de acordo com a forma de sua abertura, como simples ou compostos. Vertedor simples Pode ter forma retangular, circular ou especial. Os vertedores com abertura triangular podem ter angulação entre 30 a 60 graus. Já os com abertura trapezoidal, em que a forma que tem os lados com inclinação de 4:1 também é chamada de vertedor Cipolletti, o cálculo da vazão em função da altura é mais simplificado. Vertedor composto Existem várias combinações de forma que podem ser devido à natureza das paredes como os vertedores em parede delgada ou vereadores de parede espessa; podem ser, quanto à altura relativa, os vertedores livres ou completos, ou os vertedores afogados ou incompletos; e, quanto à largura relativa, podem ser os vertedores sem contrações laterais e os vertedores com contração lateral.Cálculo para vertedores de soleira delgada Vamos verificar algumas expressões que somente são utilizadas para vertedores não afogados. A expressão é dada por: 3/22 2 3 Q Cd g LH= Em que: H = lâmina d’água acima da soleira; L = largura do vertedor; Cd = coeficiente de descarga. 74 UNIDADE III │ ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES Para vertedores retangulares, a expressão mais utilizada para vertedores sem contrações laterais é: Q = 1,838LH3/2 Já para vertedores retangulares com contrações laterais, temos as seguintes expressões: Vertedor com uma contração lateral: 3/21,838 ( ) 10 HQ L H= − Vertedor com duas contrações laterais: 3/221,838 ( ) 10 HQ L H= − Para vertedores retangulares de soleira espessa, podemos utilizar duas expressões: Q = 1,71LH3/2 3/2 2 Q Cd g LH= Nas figuras 26 e 27 podemos ver um vertedor truncado e o vertedor triangular. Figura 26. Vertedor truncado. H h1 Ꝋ h2 L Fonte: (WILSON, 1969). 75 ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES │ UNIDADE III Figura 27. Vertedor triangular. L H P Ꝋ Fonte: (WILSON, 1969). As expressões para vertedores triangulares são: Para θ =90º Q = 1,32 H2,5 Para θ =120º Q = 2,302 H2,449 Para θ =135º Q = 3,187 H2,47 Também pode ser adotada a seguinte equação: 2,47 2,471 ,32 45º 0,55 2,47 60º 0,76 2 Q tg H Q H Q Hθ θ θ= = = → = = Já para vertedores triangulares truncados, temos as seguintes equações: Para θ =90º Q = 1,32 [H2,47 - (h2 - h1)2,47 Para θ =120º Q = 2,302 [H2,449 - (h2 - h1)2,472,449 Na figura 28 veremos um esquema de um vertedor trapezoidal. 76 UNIDADE III │ ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES Figura 28. Esquema de um vertedor trapezoidal. m 1 L H Ꝋ Fonte: (WILSON, 1969). Cujas expressões podem ser: Para θ =30º Q1,86 LH1,5 + 0,56H2,47 m=4 Q = 1,86 LH1,5 No quadro a seguir podemos verificar metodologias para cálculo de vertedores. A tabela 11 pode ser útil para aplicações de equações para vertedores de paredes espessas, que estão ilustrados no quadro 7. 77 Quadro 7. Metodologias de cálculo para vertedores. Vertedouro natural de camada espessa Parede espessa U2/2g H Uo Ꝋ 3/2. . 2Q C L gH= » Recomendações construtivas: e > 3H » Ocorrendo contração em um dos lados a largura de fluxo L, para efeito de cálculo de vazão, deve ser reduzida de 0,1H para contração dupla de 0,2H. Vertedouro triangular de parede delgada P H L 5/28 2 15 2 C g Q tg Hα = Para α = 90º, 0,05 3H,L > 6H e C = 0,6, temos Q = 1,4H5/2 Fórmula de Thomson Vertedouro retangular de parede delgada L P H a 3 22 2 3 C g Q LH= com α = 0 e C médio = 0,62 ( ) 3 21,838 0, 2Q L H H−′= Fórmula de Francis L’=L para a=o L’ = L-0,1H para uma contração L’ = L-0,2H para duas contrações. Vertedouro trapezoidal de parede delgada a L P H4 1 Q = 1,838 LH3/2 Vertedor Cipolletti Equação válida para 0,08 2H, L > 3H, p > 3H e L’ (largura da seção de aproximação) de 30 a 60H. Vertedouro de parede delgada retangular com saída simples. Q Fr 3/22 2 3 Q C gLH= Fórmula de Subramanya e Awasthy Para pexcedente. Identificando as incógnitas, temos: I = intensidade de precipitação; I F = ocorre um escoamento superficial. Podemos classificar, de acordo com sua capacidade de infiltração: » mudanças em determinadas áreas geográficas; » mudanças de acordo com o tempo em uma área já delimitada; » mudanças que ocorrem pela ação de animais, rochas, desmatamentos, entre outros; » mudanças da própria precipitação; » mudanças devido à diferença de umidade no solo, atividades de animais, entre outros. A distribuição granulométrica no solo é muito importante, já que as partículas que fazem parte do solo têm dimensões diferentes e podem ser expostas na curva de distribuição granulométrica. Já porosidade estabelece uma relação entre o volume total e o volume de vazios dentro do solo e é apresentada em porcentagem. Fatores que dificultam a infiltração Tipo de solo A infiltração é dificultada diretamente devido ao diâmetro das partículas do solo, fissuração que se encontra nas rochas e a porosidade. Na figura 29 e na tabela 13 a seguir estão apresentadas as infiltrações para muitos tipos de solo. 83 ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES │ UNIDADE III Figura 29. Velocidade de infiltração para diferentes tipos de solos. Tempo (h) Velocidade de infiltração (mm/h) 125 Solo arenoso Velocidade Final Solo barrento Solo argiloso 100 75 50 25 0 1.0 2.0 3.0 Fonte: (WILKEN, 1978). Tabela 13. Capacidade média de infiltração para diferentes tipos de solos. Natureza do solo 1/s x m Textura fina Argila densa 0-0,002 Argila limonosa e argila 0,001-0,004 Barro limonoso e Barro argiloso - Textura média Barro limonoso a barro 0,002-0,006 Textura moderadamente grossa Barro arenoso fino e Barro arenoso 0,003-0,020 Textura grossa Areia limonosa fina e areia grossa 0,010-0,030 Fonte: (WILKEN, 1978). A quantidade de umidade no solo É óbvio que, quanto mais úmido o solo, menor será a sua infiltração, se comparado a um solo menos úmido. 84 UNIDADE III │ ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES Precipitação no solo Regiões com vegetação maior possibilitam maior infiltração do que em regiões sem vegetação. Temperatura A temperatura do solo aumenta a quantidade de água que consegue infiltrar nele. Ação do homem e animais na compactação do solo Quanto mais compacto o solo esteja, um menor volume de água conseguirá infiltrar nele. Determinação da capacidade de infiltração de um solo Para se determinar a capacidade de infiltração do solo, utiliza-se infiltrômetro, que tem como função determinar diretamente a capacidade de infiltração local do solo. Pode ser utilizado com: » aplicação de água por inundação; » simuladores de chuvas. Fórmulas para determinar a infiltração » Infiltração em bacias pequenas – baseia-se no escoamento superficial resultante e na medida da precipitação direta. » Infiltração em bacias grandes – usualmente é tida em função do tempo, como podemos verificar na expressão a seguir. f = fc + (fo - fc)e - kt Em que: fo = capacidade de infiltração inicial (t = 0); fc = capacidade de infiltração final (para um tempo tendendo ao infinito); k = constante empírica para cada curva; 85 ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES │ UNIDADE III f = capacidade de infiltração depois do tempo t; t = tempo transcorrido desde o início da chuva; e = base dos log. neperianos. Duas hipóteses são possíveis para infiltração Na primeira, as precipitações são responsáveis pelas enchentes em grandes bacias, o que gera curvas de intensidade iguais em impostos medidores vizinhos. Já na segunda, temos um escoamento superficial sensível, sendo semelhante a diferença entre precipitação e infiltração, durante o espaço de tempo em que ocorre a precipitação em excesso (WILKEN, 1978). Precipitações A precipitação tem origem no mar. Já que é por meio da evaporação dos oceanos que temos o vapor de água, quando este se resfria, ocorre a precipitação em forma de chuva ou pode ocorrer a formação de gelo ou neve, caso a temperatura seja suficientemente baixa. Estudar precipitação deve sempre levar em consideração os limites que a bacia hidrográfica tem, a fim de conseguir soluções plausíveis quantitativas da equação do balanço hídrico, como podemos verificar abaixo: P - R - G - E - T = S Em que: P= precipitação total R= escoamento superficial total G= escoamento subsuperficial total E= evaporação total T= transpiração total ∆S= variação no armazenamento total 86 UNIDADE III │ ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES Classificação das precipitações Ciclônica É a passagem de perturbações crônicas, com uma grande massa de ar homogênea em temperatura e umidade, entre 800 e 1600 km, girando a uma velocidade de 48 km/h. Convectiva Ao receber radiação proveniente da radiação solar da Terra, a massa de ar que está úmida sobe e se expande, ocorrendo então uma perda de calor. Essa massa de ar úmido condensa, e ocorre a precipitação (WILKEN, 1978). Chuvas do tipo localizada, curta duração ou torrenciais são convectivas e têm presentes descargas elétricas, o que as caracteriza como tempestades. Esse tipo de precipitação ocorre normalmente no verão, também por índices altos de ventos, e algumas vezes por ocorrência de granizo é devido ao rápido resfriamento da massa de ar quente (WILKEN, 1978). Esse tipo de precipitação deve ser sempre estudado, visto que atualmente as áreas urbanas são impermeabilizadas. Orográfica Ocorre por intermédio de uma tensão do tipo mecânica criada por barreiras como montanhas, por exemplo, que forçam a massa de ar. As precipitações costumam ser de intensidade menor, porém em um período maior. Como medir uma precipitação Os dados utilizados em precipitações refletem-se em quase hidrológicos. Pode-se estimar a vazão em rios por meio de dados de precipitação. Os instrumentos utilizados são: pluviômetro e pluviógrafo. Mais recentemente, utiliza-se radar meteorológico. Escoamento superficial O escoamento superficial ocorre quando há uma precipitação, podendo ser livremente ou artificial. 87 ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES │ UNIDADE III Leva-se em consideração a água, o princípio ou a menor concentração de chuva que, caindo no solo saturado, escoa pela superfície, o que pode formar ocorrentes, córregos, lagos ou reservatórios, tendo sua origem nas precipitações (WILKEN, 1978). Influencia diretamente no escoamento superficial » A natureza fisiográfica: permeabilidade, topografia, área e a capacidade de infiltração. » A natureza climática: duração e a intensidade da precipitação, antecedente. » A cobertura vegetal: o tipo de vegetação que cobre a área. » Obras hidráulicas: se na área em questão existem obras hidráulicas que foram realizadas. Influência dos valores sem vazão » Quanto menor for a área da bacia em estudo, maiores serão as variações de vazões instantâneas. » Ocorre um crescimento das descargas em virtude do crescimento acentuado das áreas das bacias de montante para jusante. » Quanto maior for a metragem do terreno, menor serão as depressões retentoras, mais retilíneo o traçado da bacia, maior o volume de água infiltrada em áreas com vegetações. Hidrograma e ietograma Por intermédio de um hidrograma, podemos ter dados referentes à descarga de um dado curso de água, com uma representação gráfica e cronológica. Assim, torna-se fácil estudar como o curso de água ocorre em períodos de secas, em dias normais, em dias com mais precipitações (WILKEN, 1978). Ietograma é apresentação gráfica das alturas de chuva média ocorrida na bacia. Quanto ao hidrograma, podemos destacar: Crista: região entre o ponto de ramo acendendo e o ponto de curva de recessão. No hidrograma, geralmente existe apenas um único pico. 88 UNIDADE III │ ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES O hidrograma nos mostra: escoamento superficial, subsuperficial, subterrâneo, precipitações diretassobre o curso de água. São fases do escoamento superficial: depleção e recessão. Na figura 30 podemos verificar o hidrograma em um ietograma. Figura 30. Ietograma e hidrograma tA E fb tc Precipitação efetiva Escoamento superficial direto Escoamento básico Precipitação D Vazão Parte da precipitação que infiltra c B A to Fonte: (WILKEN, 1978). Chuva efetiva De uma forma teórica, se fosse possível realizar uma medição da capacidade de infiltração, o volume deflúvio resultante da chuva seria conhecido subtraindo-se infiltração e a tensão superficial (que é a soma do armazenamento das depressões mais a intercepção) da precipitação total. Portanto, trata-se de uma parcela da chuva que realmente gerará o escoamento superficial (WILKEN, 1978). Podemos definir precipitação efetiva como o volume total de chuva que escoa na superfície dividido pela área total da bacia que está em estudo, como se pode visualizar na expressão a seguir: Hef = vol escoado superficialmente/ área da bacia 89 ESTIMATIVA DE VAZÕES E ENCHENTES │ UNIDADE III Sendo que a capacidade de infiltração depende da estrutura do solo. Coeficiente descolamento superficial Também conhecido como coeficiente de run-off ou de deflúvio, é obtido pela seguinte expressão: C = volume escoado superficialmente/ volume total precipitado Sendo que “C” pode variar no tempo e no espaço, pois se trata de uma função da cobertura do terreno. Podemos ter, dentro de uma bacia, coeficientes run-off diferentes, podendo os mesmos ser referentes a chuva isolada ou a intervalos de tempos em que diversas chuvas precipitaram. Por meio do coeficiente de escoamento superficial para determinada chuva intensa, a certa duração, ocorre a possibilidade de se determinar o escoamento superficial de uma grande diversidade de precipitações com intensidades diferentes, porém cuja duração seja a mesma. O coeficiente de escoamento superficial é muito usual quando se pretende realizar uma avaliação da vazão de uma enchente proveniente de uma chuva intensa (WILKEN, 1978). Escoamentos A fim de se obter sucesso no estudo das características hidrológicas e previsões de enchente de uma bacia, separar os tipos de escoamentos torna-se essencial. Existem três caminhos que a água proveniente de chuvas pode percorrer e chegar até ao curso de água: » o escoamento superficial; » o escoamento intermediário; » o escoamento subterrâneo. Sendo, na prática, separados em dois tipos: » escoamento superficial direto; » escoamento básico. 90 Referências PEDROSA, H. X. A. Hidráulica aplicada: hidrologia. Rio de Janeiro: Editora Científica, 345 p. 1957. RIGUETTO, A. M. Hidrologia e recursos hídricos. São Carlos: Ed. EESC-USP, 819 p. 1999. SOUZA, N. P. et al. Hidrologia de superfície. São Paulo: Ed. Edgar Blucher, 180 p. 1973. WILKEN, P. S. Engenharia de Drenagem Superficial. São Paulo: CETESB, 477 p. 1978. WILSON, E. M. Engineering Hydrology. McMillan e Co. LTD, Londres, Inglaterra, 245 p., 1969. MTBlankEqn _GoBackhidrográfica se resumia a planejar o mínimo, tendo como base informações apenas sobre como implantar e gerar um máximo aproveitamento, deixando de lado questões tão valiosas como preservar e cuidar do meio ambiente (RIGUETTO, 1999). No decorrer dos anos, o aumento sequencial da população e a utilização desenfreada da água trouxeram muitos impactos e consequências ruins ao meio ambiente. Foi nos anos 70 que surgiram os primeiros vestígios de certa cautela com meio ambiente e no uso da água tratada. Medidas preventivas com foco direto nas bacias hidrográficas foram implantadas. Dessa forma, o índice populacional aumentando e a exploração da água causaram grandes impactos e consequentemente uma redução e impacto negativo sobre os recursos naturais. Atualmente, buscamos o desenvolvimento de forma sustentável, aproveitamento de forma racional dos recursos e mínimo impacto ao meio ambiente. 10 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO Com os dados acima citados, podemos afirmar que profissionais devem trabalhar em conjunto, como grupos formados por biólogos, geocientistas, matemáticos, físicos e químicos. Isso é de suma importância para que possamos, de alguma forma, obter sucesso nessa batalha contra o tempo que já perdemos degradando e não nos conscientizando do mal que estávamos fazendo. De acordo com Righetto (1999), a hidrologia pode se impor sobre: » como dimensionar, realizar projeto e executar formas de abastecimento de água, para fins domésticos, industriais ou comerciais; » como realizar projetos de obras hidráulicas tanto para fixar dimensões corretas para obras como pontes, bueiros etc., quanto para projetos de barragens desde sua localização, fundações, dimensionamento etc.; » como estabelecer qual método construtivo é melhor; » como realizar o correto dimensionamento de todos tipos de barragens; » o projeto, como são estipuladas e quais são as características do lençol freático; » o exame dos aspectos mais relevantes do escoamento natural do lençol, como a precipitação, a bacia que contribui e quais níveis de curso de água; » problemas referentes a como escolher da melhor forma qual manancial e como regularizar os cursos de água e controlar as inundações; » como realizar estudos e previsões sobre vazões máximas e mínimas; » estudo sobre variações e oscilações de enchentes e áreas inundadas; » como realizar o monitoramento do meio ambiente; » como monitorar os tipos de erosões; » estudo e projetos de capacidade de receptores de efluentes ligados diretamente a sistemas de esgoto, atentando para velocidades de escoamento, vazão mínima, entre outros; » projetos de monitoramento relativos a construções e manutenção de canais navegáveis; 11 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I » projetos e previsões referentes à hidráulica, como: verificar a vazão; reservatórios; volumes que podem ser armazenados; etc. Agora vamos entender um pouco dos conceitos que serão utilizados no decorrer dos cálculos de dimensionamento. 12 CAPÍTULO 2 Microdrenagem: como realizar captação de água, galerias e pequenos pontos A drenagem urbana é um sistema feito pelo homem com a finalidade de realizar o escoamento das águas. Conforme podemos verificar, sempre existiu e existirá escoamento de água, independentemente de existir um canal para canalizar essa água ou não. Exatamente nesse ponto podemos definir se um sistema de drenagem está sendo eficaz ou trazendo perdas para a população em geral. Quando pensamos no sistema de drenagem pluvial da área urbana, temos dois sistemas básicos: o inicial, referente à drenagem, e o sistema de macrodrenagem (RIGUETTO, 1999). Sistema básico inicial Conhecido também como microdrenagem, nada mais é do que um sistema que tem em sua composição: » guias; » sarjetas; » bocas de lobo; » galerias de águas pluviais; » canais de pequena dimensão. Esse tipo de sistema é projetado sempre para escoamento de vazões entre 2 e 10 anos. Se bem executado e com uma manutenção constante e com qualidade, seu desempenho possibilita que as ações urbanas não sejam estacionadas por intempéries como enxurradas, inundações etc. Sistemas de macrodrenagem Composto por canais fechados ou abertos de grandes dimensões, são projetados para vazões num período de 25 a 100 anos para determinado período de retorno. 13 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I Fica sob responsabilidade de seu funcionamento minimizar ou prevenir a saúde e propriedade da população atingida. Doenças veiculadas pela água ou consequências diretas das águas. Tanto o microdrenagem quanto o macrodrenagem fazem parte do processo de escoamento superficial direto, que tem como foco a orientação para demanda de aumento da conta do sistema de drenagem em questão (RIGUETTO, 1999). Objetivos da utilização da drenagem urbana Podemos afirmar como objetivos de uma drenagem urbana de forma eficiente: » proteger população e suas propriedades dos problemas que surjam decorrentes de inundações; » realizar um monitoramento e preservar áreas de várzea; » realizar projetos e estudos para conservação de áreas de várzea; » reduzir problemas referentes à sedimentação e à erosão; » adotar o bem-estar e qualidade ambiental. Para que o projeto referente à drenagem urbana se torne eficaz, é necessário seguir alguns princípios básicos os quais veremos a seguir. Um sistema urbano de drenagem é tido como uma parte importante do sistema que cuida do ambiente urbano. Podemos verificar que esse sistema de drenagem é parte integrante da infraestrutura total do perímetro urbano. Portanto, é integrante principal do sistema ambiental deste. Com o passar dos anos, temos como consequência um aumento exponencial de vazão e escoamento no perímetro urbano. Quando se realiza um estudo maior referente à bacia hidrográfica, devem ser realizado estudos específicos para verificar se é coerente ou não a implantação de novas ocupações e quais seriam as possíveis consequências. Com tais informações, é possível realizar projetos a fim de diminuir ou extinguir possíveis problemas com inundações (RIGUETTO, 1999). 14 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO Áreas específicas para o armazenamento de forma natural das águas Também conhecido como várzea, é parte integrante dos cursos naturais, atuando como um condutor, sendo apontada também como leito secundário ou leito menor. Tanto um curso d’água quanto a várzea são tidos como coletores, armazenador e veículos de escape referentes à vazão de cheias que, por alguma virtude, venham a ocorrer. A utilização tanto do curso de água quanto da várzea para outros fins deve ser estudada a fundo. Podemos citar como contribuições da várzea: » melhorias na qualidade tanto do ar quanto da água; » possibilidade de realizar manutenções nos espaços abertos; » meio ambiente protegido; » acomodação de redes e sistemas urbanos de maneira adequada e planejada. Drenagem Ocorre quando temos certo volume de água em curso em um perímetro urbano que não tem a possibilidade de ser reduzido. Portanto, não desaparece em um curto intervalo de tempo. Essa drenagem gera uma necessidade de se ter um planejamento de espaço para tal demanda, ou seja, estudos com o intuito de melhorias devem ser realizados para que esse curso de água ou volume de água seja drenado em sua totalidade e de forma adequada. O que vivemos atualmente é decorrente do crescimento populacional que está diretamente ligado à urbanização. O espaço para armazenamento natural da água fica reduzido e é resultante da utilização do solo de forma inadequada e sem planejamento. Sem esse espaço para armazenamento natural da água, as águas resultantes de cheias buscaram outros espaços para transitar, o que gerou a criação de outros locais que não foram desejados nem planejados e que são totalmente tomadospelas cheias das águas (RIGUETTO, 1999). 15 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I Primeiramente, deve ser planejada exatamente a quantidade necessária de espaço para o armazenamento natural dessas cheias. Essa água proveniente de armazenamento pode ser reutilizada como: » irrigações; » alimentação de lençóis freáticos; » abastecimento industrial; » etc. Como exercer o controle da poluição Quando estamos falando de águas referentes a escoamento ou a bacias de contenção, devemos levar em consideração que sua qualidade é primordial. Práticas para evitar tais poluições são: » manter vias limpas; » coletar lixos do meio urbano; » evitar esgotos irregulares nas redes de galerias; » tratar e coletar de maneira correta o esgoto; » regulamentação do movimento de terras em áreas de desenvolvimento, já que pode acarretar um controle de erosão, pois pode gerar cargas de sedimentos etc. Esses itens devem ser adotados a fim de um controle eficaz da poluição da água, tendo em vista que impacta diretamente sobre curso de águas e sobre várzeas o perímetro urbano. Como a urbanização pode influenciar sobre uma bacia hidrológica Fica evidente que, devido à urbanização, podemos ter alterações sobre: » quantidade de água de escoamento superficial; » a vazão de pico de cheias; » o intervalo de tempo referente ao escoamento superficial. 16 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO Esse problema ocorre devido à impermeabilização do solo e suas alterações realizadas no decorrer da urbanização, afetando o sistema de drenagem e as várzeas (RIGUETTO, 1999). Temos que nos atentar ao fato de que, com organização, temos um estado inicial de alteração, pintura do solo é alterada, movimentos de terra em sequência, a substituição da terra por áreas construídas, ou outros tipos de cobertura que são diferentes do solo original. Quando porventura ocorre uma ruptura dessa cobertura do solo, sua exposição fica à mercê de enxurradas, o que gera erosões superficiais, transporte de matérias para bacia, uma sedimentação dos drenos principais cuja declividade seja menor, entre outros. Já quando temos áreas com construções ou com pavimentação, a impermeabilização do solo reduz a quantidade de água que o solo pode vir a absorver de forma natural, o que resulta em certa dificuldade do escoamento superficial de forma natural (RIGUETTO, 1999). Por fim, as modificações diretas nas características hidráulicas de calhas são referentes a obras de canalização do curso de água, como podemos ver a seguir: » como é o revestimento de leitos; » se ocorreram ampliações nas sessões; » se houve uma troca de leitos naturais de pequeno porte e depressões por galerias. O grande problema concentra-se no fato de os canais artificiais terem menos resistência momentânea e, portanto, maior velocidade, o que acarreta uma redução do tempo de concentração das bacias. O crescimento das vazões máximas de cheias e as áreas urbanizadas estão diretamente ligados, já que há casos em que o pico de cheia numa bacia totalmente urbanizada chega a ser até seis vezes maior se comparado ao pico da mesma bacia, porém em condições naturais. Relembrando que o escoamento superficial direto é diretamente ligado ao volume de água que precipitou, características referentes à infiltração do solo, tipo de vegetação que recobre o solo, se a superfície é impermeável, superficial ou antecedentes. 17 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I Quando pensamos no trânsito das águas, este está ligado diretamente à declividade, à rugosidade superficial do leito, ao comprimento total do percurso e à profundidade da água do canal. Com isso, temos que, para um estudo aprofundado da reação aos impactos gerados pela urbanização, deve-se levar em consideração a quantidade de água gerada pelo escoamento superficial direto e em quanto tempo ocorre o trânsito das águas. Para determinação do aumento superficial direto, faz-se necessário adotar o método do número de curva. Por meio dele podemos analisar quais foram as alterações que ocorreram no volume do escoamento superficial direto que foram causadas devido à urbanização. Como realizar o controle do volume de escoamento superficial direto Esse controle pode ser realizado de duas maneiras distintas. Acréscimo da condutividade hidráulica Objetivo principal aqui é realizar a coleta por meio de uma condução de forma direta e imediata até o ponto final ou de despejo, com a finalidade de reduzir danos referentes a interrupções das atividades ao redor da área coletada. Pode ser realizado em áreas urbanizadas ou em áreas que serão urbanizadas posteriormente. Ocorre um acréscimo da vazão veiculada e dos níveis e áreas de inundação que estão a jusante nesse tipo de sistemas quando o comparamos às condições anteriores à sua implementação. Esse tipo de sistema precisa que seja realizada uma limpeza periodicamente a fim de que possa funcionar de maneira eficiente e que garanta, assim, atingir as expectativas dentro do projeto. Essa limpeza abrange desde resíduos até a retirada de vegetação ribeirinha arbustiva, quando pensamos em canais em terra ou também em obras que precisam de desassoreamento. 18 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO Como realizar armazenamento de águas Muito pouco aproveitado quando pensamos em sistemas de drenagem urbana, o armazenamento de águas é um conceito altamente moderno, e sua principal função é fazer o armazenamento de forma temporária das águas de escoamento superficial diretamente no ponto de origem ou o mais próximo deste, e realizar a liberação de forma lenta dessas águas em sistemas de galerias ou canais a jusante. Esse tipo de sistema, portanto, é mais fácil de ser aplicado em fases de desenvolvimento urbano, mas pode ser utilizado em áreas organizadas, desde que existam locais para implantação de armazenamento superficial ou subterrâneo das águas. Nos quadros 1 e 2 a seguir, podemos verificar medidas para retardar ou reduzir o escoamento superficial direto e as desvantagens e vantagens dessas medidas. Quadro 1. Medidas para retardar ou reduzir escoamento superficial direto. Área Redução Retardamento do deflúvio direto Telhado plano com grande dimensão 1. Armazenar em cisterna 2. Realizar jardim suspenso 3. Armazenar em tanque ou chafariz 1. Armazenamento no telhado empregando tubos condutores verticais estreitos 2. Aumentando a rugosidade do telhado 3. Cobertura ondulada 4. Cobertura com cascalho Estacionamento 1. Pavimento do tipo permeável 2. Utilizar cascalho 3. Realizar furos no pavimento impermeável 1. Faixas gramadas no estacionamento 2. Canal gramado drenando o estacionamento 3. Armazenamento e detenção para áreas impermeáveis 4. Pavimento ondulado 5. Depressões 6. Bacias Residencial 1. Cisternas para casas unifamiliares ou multifamiliares 2. Passeios feitos com cascalho 3. Áreas ajardinadas em redor 4. Recarga do lençol subterrâneo: » tubos perfurados » cascalhos » valeta » cano (tubo) poroso » poços secos » depressões gramadas 1. Reservatório de detenção 2. Utilizando gramas espessas (alta rugosidade) 3. Passeios com cascalhos 4. Sarjetas ou canais gramados. 5. Aumentando o percurso da água através de sarjeta, desvios etc. Geral 1. Vielas com cascalhos 2. Calçadas permeáveis 3. Canteiros cobertos com palhas ou folhas Fonte: (RIGUETTO, 1999). 19 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I Quadro 2. Vantagens e desvantagens na utilização de formas diferentes de redução e retenção do escoamento superficial direto. Medidas Vantagens Desvantagens Cisterna 1. Água pode ser utilizada para: » proteção contra fogo » rega de terras » processos industriais » refrigeração 2. Reduz o deflúvio superficial direto, ocupando pequenas áreas 3. O terreno ouespaço, acima da cisterna, pode ser usado para outros fins 1. Custos relativamente altos de instalação 2. Custo requerido pode ser restritivo se a cisterna receber água de grandes áreas de drenagem 3. Requer manutenção 4. Acesso restritivo 5. Reduz o espaço disponível do subsolo para outros usos Jardim suspenso 1. Esteticamente agradável 2. Redução do deflúvio superficial direto 3. Redução dos níveis de ruído 4. Valorização da vida anima 1. Elevadas cargas nas estruturas de cobertura e de construção 2. Caro de instalar e manter Reservatório com espelho d’água permanente (geralmente em áreas residenciais) 1. Controla grandes áreas de drenagem, liberando pequenas descargas 2. Esteticamente agradável 3. Possíveis benefícios à recreação: » uso de barcos de recreação » pesca » natação 4. Habitat para a vida aquática 5. Aumenta o valor dos terrenos adjacentes 1. Requer grandes áreas 2. Possível poluição pelas enxurradas e sedimentação 3. Possível área de proliferação de pernilongos 4. Pode haver crescimento intenso de algas, como resultado da eutrofização 5. Possibilidade de ocorrência de afogamentos 6. Problemas de manutenção Armazenamento em telhado, empregando tubos condutores verticais estreito 1. Retardo do deflúvio superficial direto 2. Efeito de isolamento térmico do edifício: » água no telhado » através de circulação 3. Pode facilitar o combate a incêndios 1. Carga estrutural elevada 2. A tomada d’água dos tubos condutores requer manutenção 3. Formação de ondas e cargas 4. Infiltração de água do telhado para o edifício Telhado com rugosidade aumentada 1. Retardamento do deflúvio superficial direto e alguma redução deste (detenção nas ondulações ou no cascalho) 1. Carga estrutural relativamente elevada Pavimento permeável (estacionamento e vielas): a) estacionamento com cascalho b) furos no pavimento impermeável (diâmetro de cerca de 6 cm) enchidos com areia 1. Redução do deflúvio superficial direto 2. Recarga do lençol freático 3. Pavimento de cascalho pode ser mais barato do que asfalto ou concreto 1. Entupimento dos furos ou poros 2. Compactação da terra abaixo do pavimento ou diminuição da permeabilidade do solo devido ao cascalho 3. Dificuldade de manutenção 4. Gramas e ervas daninhas podem crescer no pavimento Canais gramados e faixas do terreno cobertas com vegetação 1. Retardo do deflúvio superficial direto 2. Alguma redução do deflúvio superficial direto (recarga do lençol freático por infiltração) 3. Esteticamente agradável 4. Flores 5. Árvore 1. Sacrifica-se alguma área do terreno para faixas de vegetação 2. Áreas gramadas devem ser podadas ou cortadas periodicamente (custos de manutenção) 20 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO Medidas Vantagens Desvantagens Armazenamento e detenção em pavimentos impermeáveis: a) pavimento ondulado b) bacias c) bocas de lobo estranguladas 1. Retardo do deflúvio superficial direto (a, b, c) 2. Redução do deflúvio direto (a e b) 1. Restringe um pouco o movimento de veículos 2. Interfere com o uso normal (b e c) 3. Depressões juntam sujeira e entulho (a, b e c) Reservatório ou bacias de detenção 1. Retardo do deflúvio superficial direto 2. Benefício recreativo 3. Quadras poliesportivas, se o terreno for propício 4. Esteticamente agradável 5. Pode controlar extensas áreas de drenagem, liberando descargas relativamente pequenas. 1. Requer grandes áreas 2. Custos de manutenção: » poda da grama » herbicidas » limpeza periódicas (remoção de sedimentos) 3. Área de proliferação de pernilongos 4. Sedimentação do reservatório Tanque séptico transformado para armazenamento e recarga de lençol freático 1.Custos de instalação baixos 2. Redução do deflúvio superficial direto (infiltração e armazenamento) 3. A água pode ser usada para proteção contra incêndio, rega de gramados e jardins e recarga do lençol freático 1. Requer manutenção periódica (remoção de sedimentos) 2. Possíveis danos à saúde 3. Algumas vezes requer um bombeamento para o esvaziamento após a tormenta Recarga do lençol freático: a) tubo ou mangueira furada b) dreno francês c) cano poroso d) poço seco 1. Redução do deflúvio superficial direto (infiltração) 2. Recarga do lençol freático com água relativamente limpa 3. Pode suprir água para jardins ou áreas secas 4. Pequena perda por evaporação 1. Entupimento dos poros ou tubos perfilados 2. Custo inicial de instalação (material) Grama com alta capacidade de retardamento (elevada rugosidade) 1. Retardo do deflúvio superficial direto 2. Aumento de infiltração 1. Dificuldade de poda de grama Escoamento dirigido sobre terrenos gramados 1. Retardo do deflúvio superficial direto 2. Aumento de infiltração 1. Possibilidade de erosão 2. Água parada em depressões no gramado Fonte: (RIGUETTO, 1999). Quando pensamos em metodologias a fim de se evitar ou diminuir um escoamento superficial, faz-se necessário adotar algumas distinções entre duas diferentes medidas: medidas estruturais e medidas não estruturais. As medidas são compostas por medidas físicas, cujo destino está atrelado à determinação do desvio escoar de forma mais veloz e com menor nível de água do escoamento superficial direto, possibilitando assim que quaisquer danos que possam ser causados por inundações sejam evitados. Tais medidas não podem ser consideradas como proteções absolutas. Portanto, deve ser adotada uma postura cuidadosa, já que em grande parte são inviáveis de serem aplicadas. 21 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I A medida não estrutural não interfere no escoamento de água superficial direto. Esse tipo de medida é usado para controle de como será ocupado e utilizado o solo na área da bacia ou várzea e quais são os possíveis aspectos relevantes que devem ser levados em consideração quando implementados. Estudam-se maneiras para que os ocupantes possam conviver com fenômeno e fiquem preparados para possíveis prejuízos materiais causados pelas inundações. Portanto, as medidas não estruturais estão diretamente relacionadas a aspectos referentes ao ambiente, e é importante levar em consideração que a população é fator crucial para que esse tipo de medida seja adotado e implantado de maneira eficaz. Em centros urbanos desenvolvidos, um dos fatores mais relevantes está ligado a não haver suporte de medidas não estruturais. Uma utilização de investimentos de maneira correta tanto em medidas estruturais quanto em medidas não estruturais pode acarretar menores danos referentes a investimentos causados pelas inundações. No quadro 3, a seguir, são simplificadas medidas de controle. Quadro 3. Medidas simplificadas de controle. Medidas estruturais Capacidade de escoamento da calha maior Diques marginais ou anulares. Melhoria das calhas (aumento da seção transversal, desobstruções e retificações). Canalização (melhoria da calha e revestimento, substituição da calha por galeria/canal, canal de desvio) Redução das vazões de cheias Reservatórios nos cursos d’água principais Medidas para controle do escoamento superficial direto Medidas para detenção das águas pluviais Medidas locais (armazenamento em telhados, cisternas, bacias de detenção em parques etc.). Medidas fora do local (armazenamento em leitos secos ou em reservatórios implantados em pequenos cursos d’água) Medidas para infiltração das águas pluviais Medidas locais (poços, trincheiras, bacias de infiltração, escoamento dirigido para terrenos gramados etc.) Medidas Não Estruturais Regulamentação do uso e ocupação do solo (principalmente em fundo de vale) Proteção contra inundações (medidas de proteção individual das edificações em áreas de risco) Seguro contra inundações Sistemas de alerta, ações de defesa civil, relocações Fonte: (RIGUETTO, 1999). Planejamento de drenagem urbana Como já é de conhecimentode todos, planejar significa abordar todo projeto desde seu início até sua concepção. 22 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO Deve-se planejar, de forma correta e integrada, a drenagem urbana em conjunto com demais melhorias nos centros de urbanização. Resolvidas todas as interdependências, o planejamento pode dar andamento. Esse tipo de planejamento deve estar ligado diretamente a regulamentos e critérios estabelecidos pela administração. Considerando sempre: » as leis pertinentes; » os mínimos custos; » mínimo impacto ambiental; » etc. Um bom planejamento torna-se indispensável quando pensamos em sistemas de drenagem. Abaixo alguns fatores positivos que são obtidos com um bom planejamento: » o estudo inicial da bacia possibilita que soluções de grande porte em pouco tempo sejam alcançadas, o que pode evitar que a solução não apenas desloque o problema, mas sim o resolva também em locais diferentes a jusante do local em questão; » realizar levantamento de zonas de várzea; » realizar o levantamento e delimitar parâmetros para projetos conforme os recursos disponíveis; » realizar um planejamento urbano com planos de drenagem ou outros meios para abastecimento, águas pluviais, esgotos etc.; » realizar planejamento de medidas preventivas levando sempre em consideração o menor custo e a garantia de atendimento a todo o perímetro. Planejamento diretor Para que um planejamento de drenagem urbana seja realizado de forma eficaz, dois fatores devem ser levados em consideração: » produto imediato; » qual processo deve ser adotado para obter o produto. 23 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I Quando pensamos no produto imediato, podemos verificar os planos diretores referentes a cada município que contêm pelo menos três orientações listadas a seguir. » Implantação do plano – a indicação de um software ou um programa que seja responsável por nortear como os elementos devem ser implantados. » Medidas Estruturais – a indicação de um sistema para realizar medidas como reservatório, canais, galerias de água pluvial etc., levando em consideração também as estimativas de custos. » Medidas Não Estruturais – a indicação de como adquirir terrenos para preservar, reassentamentos, construções à prova de inundações, programas de contingência, programa de educação pública, entre outros, considerando-se os custos se possível for estimá-los. O planejamento diretor não pode ser como um produto imediato, e sim um processo dinâmico, que inclui objetivos padrões como características da área que se está planejando, tanto cultural quanto natural; um levantamento dos dados; estudo de alternativas efetivas; preparo do programa de implantação, entre outros. Além do plano diretor acima citado, devem-se incluir na lista para um projeto as licenças e outros requisitos necessários para que construções de ordem pública sejam realizadas. Passo a passo para se estabelecer um projeto Alocação do espaço e ocupação marginal das canalizações Quando pensamos em como canalizar um curso d’água dentro de centros urbanos, precisamos definir o espaço, ou seja, sua alocação, bem como as pistas marginais de tráfego e também o alinhamento das edificações. Para isso, devemos levar em consideração os seguintes fatores: » é usual os projetos serem realizados com base em cheias com período de recorrência média, por exemplo, 25 anos; mas cheias de maior volume podem acontecer e, se ocorrem, geram problemas graves; » usualmente, quando feito o projeto, este considera a ocupação da bacia montante, sem considerar que futuramente a ocupação pode vir a 24 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO passar o que foi suposto no projeto, o que acarreta vazões maiores do que previstas no início; » quando as margens dos rios são crescentemente ocupadas, uma faixa menor fica disponível para o curso de água ultrapassar se preciso for em caso de, por exemplo, uma vazão de pico de cheia. Quando pensamos em projetos de canalização de curso de água, devemos levar em consideração que a alocação de espaços deve seguir algumas diretrizes: » considerar um espaço, quando possível, para faixas laterais que eventualmente possam vir a inundar ou para futura ampliação do canal; » vias de tráfego afastadas das margens dos canais; » área para edificações, sempre que houver a possibilidade, não devem estar na faixa de inundação correspondente a uma cheia de cem anos de período de retorno; » quando não há condições para delimitar as medidas listadas acima, faz-se necessário caracterizar as áreas que têm comportamento inundável de risco. Quais são as restrições e requisitos para se realizar um projeto de canalização de curso de água Como fase inicial, faz-se um levantamento de todas as necessidades e restrições que são impostas. Com isso, ocorre a possibilidade de se estabelecer possíveis saídas caso haja necessidade. Aspectos básicos devem ser levados em consideração, como veremos nos próximos itens. Confluências e desemboque no curso principal Aspecto que deve ser bem abordado, já que está ligado diretamente à vazão excepcional e pode vir a representar uma elevação no nível de água que está sendo estudado. 25 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I Porém, realizá-lo requer espaço disponível, o que não ocorre em grande parte dos projetos. Por isso, quando pensamos nesse projeto, devemos sempre levar em consideração uma forma mais simplificada e racional de adequá-lo a tais condicionantes. Pontos baixos No decorrer das margens do curso de água, os pontos baixos devem sempre ser identificados no início. Com essa informação estabelecem-se os arranjos longitudinais, e fica fácil identificar qual arranjo básico deve ser utilizado no projeto de galeria ou canal. Quando, no projeto, não for possível que o curso de água passe por apenas um ou em mais pontos baixos de água, é preciso que pontos de drenagem sejam realizados por meio de condutos que ficam paralelos ao canal ou à galeria principal até chegar a determinado ponto que se situe a jusante, em ponto mais baixo. Deve-se utilizar conduto que descarregue diretamente no canal com a utilização do sistema “flap gate”, instalado na saída, ou então utilizar sistema localizado, realizado por bombeamento. Pontes Quando a ponte é uma restrição ao curso de água, vários estudos devem ser realizados, e é preciso: » adequar os pilares dentro da hidrodinâmica; » realizar um alteamento de tabuleiro; » revestir o fundo em concreto; » incluir vãos adicionais. Travessias A travessia pode interferir diretamente num curso de água. Quando relatamos isso, estamos nos referimos às que são utilizadas como suportes para oleodutos, gasodutos e adutoras. As melhorias que podemos adotar são iguais às de pontes. 26 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO Estrangulamento Existe locais onde estrangulamento do curso de água pode vir a ocorrer por motivos como edificações próximas ao leito, que geram limitações ao curso de água muito preocupantes quando pensamos em vazão máxima. Nessas situações, podemos utilizar canais paralelos de reforço, desvio a montante para um local com possibilidade de programar reservatórios de detenção a montante. Drenagem lateral Quando o projeto para canalizar um curso de água está a ser efetuado, é muito importante uma análise da extensão da drenagem lateral no que se refere à microdrenagem e nos pontos onde desemboque de condutos médios e grandes, como galerias. Portanto, é muito importante realizar um plano altimétrico com as especificidades dos condutores afluentes a fim de que o curso de água escoe nos dutos. Edificações nas margens São inúmeros os casos de construções que são realizadas às margens de um curso de água. Estas podem não estar interferindo diretamente no curso de água, mas podem interferir quandopensamos no conjunto, como em caso de infiltração e enchentes. Restrições a jusante Em projetos referentes a canais de curso, alguns aspectos referentes a restrições devem ser levados em consideração. Em caso de restrições a jusante do trecho do projeto que se deseja canalizar que porventura possam vir a limitar as vazões que futuramente veicularão pelo trecho em questão, é necessário construir um reservatório para que ocorra a detenção a montante. Canais abertos Quando pensamos em drenagens urbanas, se temos um crescente de condutividade hidráulica, a adoção de canais abertos é uma simplificação fácil de ser adotada em 27 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I projetos com a finalidade de drenar essa água em área urbana. Podemos afirmar isso devido às seguintes razões: » vazão maior do que a calculada em projeto, mesmo quando ocorre utilização da borda livre; » maior praticidade em realizar manutenção e limpeza; » menor investimento, pois se pode adotar seção transversal de configuração mista; » na existência de espaços livres, pode ocorrer valorização de áreas ribeirinhas com o planejamento e execução de projetos paisagísticos integrados; » possibilidade de ampliações caso haja necessidade futuramente. Porém, os canais abertos podem apresentar restrições quando temos espaços reduzidos. Podemos exemplificar tais áreas pensando nas grandes concentrações urbanas. Definições para o projeto Para a escolha de qual tipo de seção transversal vai ser adotado em um canal, temos que considerar: » a área disponível para se realizar a implantação; » todas as características relevantes do solo de apoio; » o tipo de declividade que existe no local. Quando pensamos em um canal de drenagem urbana ideal, podemos dizer que uma seção trapezoidal simples dotada de taludes gramados é a melhor escolha a ser feita, pois apresenta um método construtivo simples de ser realizado, e sua manutenção é simples, o que acarreta custos muito menores para sua implantação. O canal de drenagem urbana trapezoidal permite que as velocidades de vazão sejam máximas reduzidas. Porém, faz-se necessária uma maior área para se implementar tal canal. A declividade tem que ser menor também. Podemos destacar que, em canais simplesmente escavados, podemos remodelá-lo conforme necessidades de aumento de capacidade. São indicados para cursos de água que precisam ser canalizados em áreas que ainda não são urbanizadas ou que estão em processo de urbanização. 28 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO Quando pensamos na prática temos que canais de cursos de água sempre são projetados com a finalidade de veicular vazão de cheias, o que sempre acarreta assoreamento e deposição de detritos quando temos média vazão, conhecida como vazão modeladora ou formativa. Tanto canais trapezoidais quanto retangulares têm como características apresentar fundos largos e não compatíveis com vazões modeladoras. Quando adotamos tal tipo de canal, temos a formação de pequenos meandrados ou sedimentos que se depositam no fundo do canal. A fim de se evitar ou reduzir tais problemas, a adoção de seções de forma compostas são a melhor saída. Estas são dimensionadas para seções compostas, a fim de veicular vazão máxima, permitindo também a veiculação de vazões modeladoras com velocidades de vazões adequadas. Quando pensamos em canais escavados, ocorre a possibilidade de apresentar leito menor de formato retangular ou trapezoidal em concreto. Nos dois tipos, um fundo com forma triangular ou com um rebaixo do fundo ao longo do eixo pode ser adotado, como podemos verificar nas figuras 1, 2 e 3 a seguir. Figura 1. Seção trapezoidal mista em concreto. N.A. máx N.A. min Fonte: (RIGUETTO, 1999). Figura 2. Seção mista, canal escavado. Talude gramado N.A. mín Revestimento de concreto ou outro material resistente. N.A. máx Fonte: (RIGUETTO, 1999). 29 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I Figura 3. Seção retangular mista em concreto. N.A. mín N.A. máx 10 Fonte: (RIGUETTO, 1999). Projetos de galerias de dimensões grandes Quando pensamos em projetos que necessitam de uma drenagem maior, ou seja, com galerias com dimensões maiores, fazem-se necessárias áreas maiores, porém o grande entrave é a limitação destas por causa da urbanização e do sistema viário existente. Quando pensamos nas galerias de grande dimensão, é preciso atentar-se para alguns tipos de interferência que podem vir a ocorrer: » quando as galerias operam com sua capacidade, podem exigir necessidades que estarão além do projeto; » devido ao fato de as galerias serem fechadas, a sua manutenção torna-se complicada se comparada a canais abertos, e, com isso, problemas como assoreamento e detritos depositados ao fundo do canal sempre resultam numa perda de eficiência hidráulica; » temos alguns casos em que as galerias podem vir a exigir que seja adotada uma seção do tipo transversal de células múltiplas. Este tipo de galeria apresenta vantagens quando pensamos em sistemas estruturais, porém, quando pensamos no desempenho hidráulico e na sua manutenção, torna-se um pouco problemático. O desempenho hidráulico fica desvantajoso, pois é preciso inserir janelas no decorrer das paredes internas, o que gera equalização das vazões no decorrer das células. Podemos afirmar que janelas são responsáveis por perdas menores, mas 30 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO geram acúmulos de lixos e de detritos que resultam em uma seção livre menor para o escoamento, que gera uma perturbação no fluxo de água e perda de energia que interfere de forma direta no coeficiente de rugosidade global. Também podemos afirmar que galerias de células múltiplas demonstram um escoamento menor quando pensamos na vazão, caso se estipule em uma célula. Devido ao assoreamento maior nas demais, ocorre uma eficiência de veiculação de vazão maior e próxima ao projeto por causa da redução da seção útil desta. Recomendações para projeto Quando ocorrer a possibilidade, sempre adotar galerias de célula única, já que esse tipo permite que se dimensione quanto de vazão concentrada ocorre em sua parte central. Caso não haja nenhuma outra possibilidade senão a de utilizar as galerias de células múltiplas, deve-se adotar algumas recomendações para minimizar as ineficiências que possam vir a surgir. Abaixo, alguns exemplos: » inserir em alguns trechos do canal elementos que realizem a homogeneização do fluxo de água. Com a utilização, destes torna-se desnecessária a presença de janelas nas paredes internas do canal; » quando possível, adotar apenas duas células. Se for preciso utilizar janelas de equalização, devem ser planejadas, conforme se apresentem as afluências em cada célula a cada trecho de galeria que devem transpassar de lado. Para facilitar a execução destas, podemos adotar a verificação das dimensões entre janelas e os espaços. Dispositivos para armazenamento No Brasil, em projetos de drenagem urbana, não são utilizados centros de armazenamento. O contrário acontece no cenário exterior, em que temos a utilização crescente desse tipo de reservatório. Em drenagens urbanas, os projetos levam em consideração que o escoamento seja correto de todos os cursos de água em questão. Devido ao crescimento contínuo das áreas urbanas, temos que os picos de cheias passam a alcançar grandes níveis se comparados às ocupações anteriores, que eram relativamente menores. 31 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I Um fator negativo ligado diretamente a esse crescimento urbano são as inundações. Com essas inundações acontecendo e afetando a população de um modo geral, verificou-se que os projetos de drenagem deveriam ser revistos. Foi então que se começou a levar em consideração que deveriam ser calculados tempos maiores de permanênciade água precipitada em determinada bacia, com a finalidade de redução das vazões de pico, já que é sabido que estas são volumosas nos pontos a jusante da bacia. Foi aí que surgiram os dispositivos de detenção, com função crucial dentro de qualquer projeto de drenagem urbana. Podemos destacar também como pontos favoráveis de sua utilização a estabilidade morfológica que se tem dos cursos de água receptores e ambientalmente falando. Esses dispositivos têm como princípio dificultar, ou seja, diminuir o fluxo de águas precipitadas em determinadas áreas e possibilitar a redução das vazões de pico de cheia em pontos a jusante. Tais dispositivos podem ser de dois tipos distintos: » de armazenamento e com controle na fonte; » de armazenamento e com controle a jusante. Dispositivos de controle na fonte Normalmente trata-se de instalações pequenas que são locadas nas proximidades de onde o escoamento superficial se inicia, permitindo uma utilização mais favorável da rede de drenagem a jusante. Existe a possibilidade de se utilizar tais dispositivos em diferentes lugares. Portanto, é muito flexível a diferenças, pode seguir um padrão de instalação, proporcionando, assim, uma melhor drenagem a jusante e possibilita controlar em tempo real as vazões. Possibilita que a capacidade global de drenagem seja melhorada, mas cria certa dificuldade de se monitorar e realizar a manutenção que fica com custos altos, já que se trata de pequenos mecanismos espalhados por diversos pontos. Dispositivo de armazenamento de controle a jusante Controlar a jusante é criar a possibilidade de se reduzir tanto os locais quanto os equipamentos a serem utilizados. Exemplo: uma obra que está localizada no ponto mais distante a jusante de uma bacia de drenagem ou mesmo em uma bacia grande de porte. 32 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO Tal dispositivo permite que o custo com seja reduzido e a manutenção facilitada. Porém apresenta certa dificuldade para localizar áreas que sejam eficientes para sua locação. Não existe dispositivo melhor ou pior. Tudo está diretamente conectado ao projeto e onde será locado. Nesse sentido, o quadro 4 apresenta visão geral dos dispositivos utilizados para armazenamento ou para retenção que são mais usuais. Quadro 4. Classificação dos tipos de dispositivos de retenção ou de armazenamento. Controle na fonte Disposição local 1. Leitos de infiltração 2. Bacias de percolação 3. Pavimentos porosos Controle de entrada 1. Telhados 2. Estacionamentos Detenção na origem 1. Valas 2. Depressões secas 3. Lagos escavados 4.Reservatórios de concreto 5. Reservatório tubular Controle a jusante Detenção em linha 1. Rede de galerias 2. Reservatório tubular 3. Reservatório de concreto 4. Túnel em rocha 5. Reservatório aberto Detenção lateral 1. Reservatórios laterais Fonte: (RIGUETTO, 1999). Controle de entrada Podemos realizar um controle das chuvas onde precipitam por meio de um estrangulamento do sistema de escoamento. Com isso, temos o volume detido, que pode ser adequadamente distribuído. Existem áreas adequadas para tal finalidade, que são coberturas, estacionamento, pátios industriais etc. Disposição local Disposição local nada mais é do que instalações que utilizam a infiltração e percolação a fim de realizar o escoamento das águas provenientes de chuvas. Nesse tipo, temos a utilização das condições naturais das águas para tormentas pequenas. 33 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO │ UNIDADE I Quando as condições naturais permitem, as águas que caem em solo impermeável são encaminhadas para solos com vegetação e infiltração natural, ou podem ser conduzidas para armazenamento subterrâneo e posterior percolação do solo. Detenção lateral Realiza-se uma detenção do volume total, de maneira que não fiquem alinhados ao sistema de drenagem. Realiza-se um desvio do fluxo do escoamento para um armazenamento lateral quando temos um fluxo que ultrapassa dados estabelecidos anteriormente. A partir disso, a água fica estacionada até que ocorra uma diminuição do fluxo e a capacidade de escoamento volte ao normal. Detenção na origem Esse termo se refere ao aglomerado de sistemas que armazenam montante do sistema de afastamento de água. A detenção de origem intercepta o escoamento por intermédio de diversas parcelas de forma isolada, cuja localização pode ser na mesma área ou em diversas áreas. Porém, a detenção na origem é estabelecida por intermédio de valas, lagos, reservatórios etc. Detenção em linha Dispositivos são dispostos nas linhas de tubulações das galerias. Pode-se utilizar o excedente em galeria ou colocar dispositivos para obter tais volumes necessários. Os reservatórios de concreto são exemplos de detenção em linha, em que se reserva o volume que excede nas redes. Fatores a se considerar em obra de contenção Dispositivos de contenção apresentam muitos benefícios quando pensamos em drenagem urbana, reduzindo os picos de cheias, porém temos que nos atentar ao fato de que tais dispositivos podem apresentar alguns fatores não tão benéficos. Um dos principais, sem dúvidas, é a deposição de sedimentos e detritos, que pode acarretar uma falta de capacidade de armazenagem de água nos reservatórios, por exemplo, problemas de infiltração e percolação, riscos à saúde, odores desagradáveis etc. 34 UNIDADE I │ SISTEMA DE DRENAGEM URBANA: COMO REALIZAR O PLANEJAMENTO Fatores que devem ser levados em consideração para que problemas não ocorram: » é importante que a ocupação urbana já seja permanente nas áreas onde serão realizadas as obras de detenção; » as mesmas áreas citadas acima devem ter um sistema de coleta de lixo e limpeza das vias públicas; » o projeto de detenção deve conter acessos que facilitem a remoção e limpeza de detritos. Passo a passo do projeto de drenagem urbana A fim de estabelecer uma sequência metodológica de todos os aspectos e abordagens que devem ser relacionados em um projeto de drenagem urbana, bem como toda a documentação e apresentação deste, segue um roteiro com os principais itens que o projeto deve conter. » os estudos hidrológicos da área em questão; » análise das características da área em que se encontra bacia; » os dados básicos referentes à área; » a concepção de alternativas; » projeto hidráulico. 35 UNIDADE II MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES CAPÍTULO 1 Procedimentos para medidas de vazão de rios Ao pensarmos em um curso natural de água, estamos estudando o agente mais importante no transporte de água superficial e sedimentos. Para um curso de água ser definido como um rio, deve ter certo volume, porém é difícil uma precisão do volume ideal para se ter tal designação. Dentro da toponímia, existem vários termos para cursos de água de menor vazão, como arroio, ribeirão, sendo que o termo rio é utilizado para o principal e maior elemento que é componente da bacia de drenagem. É importante salientar que tudo que acontece em uma bacia de drenagem acontece também de forma direta ou indireta nos cursos de água que pertencem a ela. Seção transversal Trata-se da vista em corte do leito do curso de água em questão, como se pode visualizar na figura 4, a seguir. A sessão deste pode ser parcial ou completa. Figura 4. Seção transversal de natural curso de água. MD talvergue Eixo médio Diques marginais Leito maior Leito menor Leito médio Posto fluviométrico Diques marginais ME ho Fonte: (RIGUETTO, 1999). 36 UNIDADE II │ MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES A figura 4 esquematiza uma seção transversal definida pelas seguintes características: » leito maior, de cheia ou de inundação: é a altura máxima que a água chega durante grandes enchentes. Conhecer esse dado é importante para realizar um projeto estrutural correto; » leito médio: é o leito de escoamento das águas durante a maior parte do ano; » leito menorou leito de estiagem: são as cotas mais baixas atingidas durante o período de estiagem; » eixo médio: é a linha que cruza pelo ponto equidistante das margens; » talvegue: é a linha que passa pelo ponto da seção transversal; » ME, MD: margem esquerda, margem direita. Forma do leito A morfologia fluvial é muito ampla, mas, para questões de estudo e dimensionamento, trataremos apenas dos canais meândricos. Canal meândrico nada mais é do que o rio que tem curvas sinuosas e semelhantes entre si. Essas curvas ou sinuosidades se devem a um trabalho contínuo de escavação nas margens côncavas, em que as velocidades são mais altas, e de deposição nas margens convexas, em que geralmente as velocidades são mais baixas. Podemos ver na figura 5 os principais elementos de um curso de água. Figura 5. Elementos de um curso de água. talvergue Eixo médio Zona de fundões Zona de baixo Margem convexa ME MD ME MD MD B A A ME Seção AA Seção BB B Fonte: (RIGUETTO, 1999). 37 MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES │ UNIDADE II Trajetória das partículas de água Na figura 6 podemos verificar um esquema da trajetória do líquido na seção transversal. Figura 6. Esquema de fluxo de partículas de água na secção transversal. Seção AA Seção BB Seção CC Fonte: (RIGUETTO, 1999). Velocidade na seção A velocidade de uma seção transversal pode variar de acordo com a posição em que são realizadas medidas. Quando realizadas perto da margem ou ao fundo, são expostas a ações retardadoras devido às paredes e suas rugosidades. Já próximo à superfície, são expostas a efeito da tensão superficial e da resistência do ar. Na figura 7 podemos verificar uma distribuição esquemática da velocidade do filete de água. Cabe salientar que perfis de velocidade nem sempre têm a mesma distribuição parabólica teórica. Nas diferentes verticais, estas ficam a cargo da natureza do fundo, levando-se principalmente a vegetação junto à superfície. Figura 7. Distribuição de filetes de água. ME MD ME ME (a) (b) (c) d Talvergue = eixo médio Talvergue eixo médio Fundo do canal 0,6d Vmax Vmédia Fonte: (RIGUETTO, 1999). 38 UNIDADE II │ MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES Em que: a. trecho reto, em planta, com o talvegue coincidindo com o eixo médio; b. trecho em curva, em planta, mostrando o deslocamento do talvegue no sentido da margem côncava; c. desenvolvimento teórico do perfil de velocidades numa vertical, evidenciando o efeito de fundo e superfície na redução de velocidades. Na figura 8 abaixo podemos ver um exemplo de alguns desses perfis. Figura 8. Perfis de velocidade de acordo com cada tipo de parede. Efeito de freagem na superfície (galhos imersos) V V V V Grandes velocidades Escoamento muito turbulento Fracas velocidades Fundo liso Fundo rugoso e rochoso Fundo muito rugoso Vegetação aquática importante Perfil de velocidade sobre um bloco de rocha, ou uma elevação de terreno (montículo) Perfil de velocidade acima de um buraco, ou a jusante de um bloco de rocha S S S S S V S S V F V F F F F F F Fonte: (RIGUETTO, 1999). A calha fluvial está em mudanças diárias, seja por ação de agentes naturais ou antrópicas. No decorrer dessas mudanças, muitos parâmetros hidráulicos e morfológicos podem ser alterados. É muito importante diagnosticar essas alterações, já que podem interferir diretamente no monitoramento do curso de água. Abaixo listaremos os principais parâmetros que podem ser afetados: 39 MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES │ UNIDADE II » a rugosidade do leito: o material que forma o leito dos cursos de água deve sempre se apresentar de forma harmônica com a dinâmica do canal. Ações antrópicas podem ocorrer com um rompimento dessa harmonia, o que afeta a sua rugosidade. Para exemplificar, podemos citar alteração da vegetação por alteração da mata ciliar, deposição de material sedimentar de outros locais, revestimento do trecho do canal etc.; » profundidade ou largura: alterar as características ou a forma de seção resulta em alteração na distribuição da velocidade na seção, que afeta diretamente o nível de água; » altura das margens: alterações na seção transversal, como construir diques modificam as alturas das margens ocasionando alterações na velocidade nos níveis de escoamento; » nível d’água: alteração das condições de contorno da seção podem agir diretamente no nível da seção; » tempo de concentração: quando se modificam as coberturas vegetais da bacia, pode ocorrer alteração no período de concentração, o que gera cheias com velocidades maiores e enxurradas; » vazão: cursos de águas naturais. A vazão pode sofrer alterações normalmente, dependendo do limite imposto pela frequência das chuvas nas bacias. Quando pensamos em canais artificiais, estas podem ser controladas de acordo com a necessidade de trabalho. Podemos controlar cursos de águas naturais com barragens, por exemplo, mas devemos tomar cuidado com transporte de sólidos, o que pode gerar alterações morfodinâmicas. Características de uma estação fluviométrica A fluviometria estuda a medição das principais variáveis de um curso de água e as descargas líquidas. Temos que uma vazão líquida por definição é a quantidade de água que passa por determinado local do rio durante determinado tempo. Normalmente definida como volume que passa durante uma unidade de tempo definida, é definida também como massa. Abaixo a equação que mostra a relação entre a vazão em massa e a vazão em volume. ρ = Qmassa Qvol 40 UNIDADE II │ MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES Em que: ρ = massa específica do fluido em kg/m3 Qmassa = vazão em kg/s Qvol = vazão em m3/s A vazão líquida fica definida pela seguinte equação geral: Q = A.V Em que: Q = vazão líquida em m3/s A = área da seção em m2 V = velocidade média do escoamento em m/s Estação Hidrométrica (EH) Nada mais é do que dispositivos utilizados no local de um curso d’água que monitoram os níveis de vazão e têm por finalidade conectar a descarga líquida à estação. Deve ser locada em um local definido por meio de estudos sobre o curso de água em questão. Para tal, devem ser analisadas as cartas do curso de água, a fim de definir as áreas possíveis para locação da estação. Definido o local, devem ser realizadas visitas e campanhas de levantamento nos trechos selecionados. Em cima do que é levantado, é escolhido local definitivo, que então será o responsável pela obtenção de dados de melhor qualidade. Lembrando que somente depois de definido o local onde a estação será alocada é que se define o método e o sistema que será utilizado para realizar as medições Para o local correto, alguns dados devem ser levados em consideração: » escolha de um trecho do curso com margens paralelas e que seja retilíneo; » perfil longitudinal deve ser regular com leito livre de vegetação de pedras e de mais obstáculos; » margens e leitos devem ser estáveis; » acessibilidade sempre facilitada ao local; 41 MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES │ UNIDADE II » deve estar longe das confluências a fim de se evitar o efeito de remanso; » não deve haver pontes ou edificações próximas ao trecho escolhido; » o posicionamento da medição deve ser indicado, conforme vemos pela figura 9, em que temos L como a largura do curso de água. Figura 9. Trecho de curso de água com boas proporções. 7L 3L 10L Sentido do fluxo Seção transversal L Fonte: (RIGUETTO, 1999). Durante a implantação da estação, além das condições acima citadas, é importante verificar se o trecho escolhido possui a velocidade, sem ter redemoinhos, ou seja, condições hidráulicas ótimas. Alguns entraves para definir o local de conflito para instalação da estação podem surgir, como custo, operação da estação, que poderão, de certa forma, inviabilizar a instalação ou prosseguimentodos trabalhos. Outro fator é escolha do local para locação da estação. Existem casos, na sua maioria, em que os locais não possuem todas as condições que foram detalhadas acima. Portanto, um estudo específico dos locais deve ser real, buscando sempre aquele que, caso não seja ótimo, pelo menos atenda a uma boa qualidade dos dados a serem coletados. É importante também elaborar um levantamento do trecho do rio em que serão especificadas as características físicas deste a fim de estabelecer a melhor relação entre cota e vazão. Existem alguns fatores que devem ser levados em consideração. » A natureza do leito, se é rochoso, se apresenta irregularidades. Em áreas com afloramento rochoso, que é formado devido a corredeiras e quedas de água, o seu trecho após o montante é um ponto excelente para receber um posto fluviométrico. Já cursos de água referentes a leitos móveis formam meandros, pequenas declividades, o que geralmente gera extravasamentos frequentes. Com isso, tornam-se áreas desfavoráveis para a curva-chave única. 42 UNIDADE II │ MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES » O tipo de vegetação que cobre a margem do rio e a extensão das margens pode se tornar um problema quando pensamos na relação que estabelecemos entre vazão e cota, pois ocorre um aumento da rugosidade devido à presença de vegetação. » Nível da água: deve sempre ser estudado para possibilitar todas as condições de escoamento, já que estas podem apresentar pequenas diferenças na forma de escoamento, como bruscas variações e afogamento de corredeiras. » O controle: trecho ou sessão do rio que é responsável por regular cada vazão ao nível de água da seção hidrométrica. Quando se mantém esse controle da sessão, ocorre a mudança do tipo de escoamento, que passa de lento para rápido. Quando temos um escoamento do tipo lento em um trecho do canal a jusante da seção hidrométrica, não se altera o escoamento e se mantêm condições hidráulicas para um escoamento uniforme. Comparando controle de canal com o de seção ou de canal, aquele tem uma menor eficiência, já que não ocorre uma relação entre nível e vazão. Os controles podem ser de dois distintos tipos: artificial ou natural. » Controle artificial: geralmente usado em cursos de água ou canais artificiais de pequeno porte. Tem como vantagens: registros dos níveis com suas dependências; a vazão torna-se mais fácil, já que as equações são conhecidas; nenhum remanso; boa capacidade de ser autolimpante, pois não retém quase nada de sedimentos. Geralmente adotam-se os vertedores e os medidores de Parshall. » Controles naturais: são os trechos que têm corredeiras rochosas estáveis, ou as quedas de água, quando possuem rios de planície, em que se realiza o controle por intermédio da resistência apresentada pelo escoamento do trecho do canal a jusante, já que do trecho é estável. Porém, esse tipo de controle é muito instável, sendo seu ponto negativo, pois, em intervalos de tempo, torna-se mais difícil se estabelecer a relação entre cota/vazão. » Curva de descarga ou curva-chave nada mais é do que se estabelecer relação entre cota e vazão. Podendo ser apresentada em formato de gráficos, como podemos verificar na figura 10, em que temos a relação entre descarga e o nível de água correspondente em determinado 43 MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES │ UNIDADE II ponto do curso de água. Estabelece-se por meio de uma equação do tipo exponencial ou polinomial, conforme podemos verificar abaixo. » Equação exponencial: Q = a(h + ho)n » Equação polinomial: Q = + ho + ahn + ahn-1 + chn-2 + ... Figura 10. Gráfico da expressão de curva-chave. h Q(m3/s) Fonte: (RIGUETTO, 1999). Em que: Q = vazão; a, b, c = coeficientes próprios a cada estação; h = leitura da régua; ho= leitura da régua correspondente a vazão nula; n = expoente próprio para cada estação. Os coeficientes e expoentes acima citados podem ser verificados em planilhas eletrônicas ou por meio do método das diferenças finitas. » A apuração de dados para curva-chave, cotas e vazões líquidas é necessária para a determinação da curva-chave. Quando há medição direta na sessão hidrométrica, é realizada por uma equipe especializada ou instalações fixas do tipo de vertedor ou calhas Parshall. Essas medições determinam as vazões. 44 UNIDADE II │ MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES » Seção hidrométrica estável ou sensível é quando apresenta-se uma relação entre cota e vazão correspondente que mantém uma constância no decorrer do tempo. Por exemplo, quando pensamos numa seção qualquer em um trecho com leito e margens rochosas a montante de um controle. Ela será sensível quando existe uma grande variação do nível de água se comparada à variação da vazão, com isso torna-se mais fácil ter uma maior precisão na conversão dos dados de nível em dados de descarga. Portanto, quanto menor for a sensibilidade da seção menor será a precisão de conversão dos dados de níveis em vazão. precisão na conversão dos dados de nível em dados de descarga. Com isso temos que quanto menor for a sensibilidade da seção menor será a precisão de conversão dos dados de níveis em vazão. » Existem três tipos básicos de curvas-chaves: as estáveis e unívocas; estáveis mais influenciadas pela declividade da linha d’água; instáveis. Curva-chave estável e unívoca Nesse tipo, temos uma cotagem, que é a representante de uma única vazão, possibilitando assim a implantação de equação do tipo exponencial, em que a curva resultante não pode ficar distante mais de 5% dos pontos medidos. Curva-chave estável influenciada pela declividade da linha d’água Normalmente utilizada em rios de pequena declividade onde ocorre uma diversidade de causas que podem alterar na declividade da linha d’água. Como exemplo, podemos citar rios onde ocorre a elevação rápida do nível de água durante uma cheia, sendo que a declividade da linha da água é mais acentuada durante a elevação do nível e é mais suave durante a depleção. Curva-chave instável Ocorre quando uma cota corresponde a mais de uma vazão, o que mostra uma estabilidade da seção transversal com a deposição e erosão ou inexistência de um controle. 45 MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES │ UNIDADE II Leitura de níveis de evasões líquidas Régua linimétrica Como visto anteriormente, a vazão de curso d’água é determinada por meio da cota de nível ou curva-chave. Devemos sempre referir a um referencial de nível as cotas. Esse referencial de nível deve estar protegido contra danos como deslizamentos de terra, cheias, depredações, entre outros. Na figura 11 podemos ver como instalar as réguas linimétricas. Figura 11. Como instalar régua linimétrica. Réguas Nível máx Nível mín RN Fonte: (RIGUETTO, 1999). A cota de nível fica a cargo da leitura de um observador em uma régua linimétrica que fica instalada na margem do curso de água. Esse tipo de régua pode ser de metal ou madeira, podendo utilizar também equipamentos chamados linígrafos, que podem registrar automaticamente o nível da água a intervalos de tempo predefinido Linígrafos São aparelhos utilizados para registrar continuamente o nível de água. Sua instalação pode ser feita em pilares de pontes, poços escavados 46 UNIDADE II │ MACRODRENAGEM: CANAIS, BUEIROS E TRANSIÇÕES nas margens ou trapiches. Na figura 12 podemos ver como instalar um linígrafo do tipo boia/contrapeso em um poço escavado na margem. Figura 12. Como instalar um linígrafo boia/contrapeso em um poço escavado. poço Curso de água Casinha do linígrafo linígrafo boia contrapeso Tubo de ligação Fonte: (RIGUETTO, 1999). Descarga líquida É definida como o volume de água que passa em determinada seção transversal em uma unidade de tempo. Pode ser medida por meio de diferentes processos, como poderemos ver a seguir: » leitura do nível de água através de vertedores e calhas Parshall; » traçadores químicos ou