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98 nao l1'omperarn com um certo grau de dependencia afetiva e pre-thea pode ser paralisante. Ou entao, provocar uma reaC;;ao inversa: a passagem ao ato de destruic;:ao do objeto de depen de ,d3. Teenieamente diria que a elaborac;:ao dessa depen~ dencf3 da mulher como nucleo da honra moral 8sta ligada a ausencia de lima in'leiar;;ao bem sucedida. Entrehnto, e evi denh3, nada se pode dizer quanta a uma eventual primazia da ause.i~cia de inlciar;;ao bern sucedida sabre a dependeflcia ma terna e vice-versa. 0 hornem e pai e menino.(12) A muiher e virgem e mae. Atualmente 0 que ocorre e que a "virgem" e maequer ser mulher: e a dessacf8.1izagao do sexo. Face as impli£.:ac;;oes simb6licas dessa con!igurar;;ao nova, 0 homem e\i mina fisicamente 0 que identlfiea como a erupgao do impuro no ambito da pureza, e objeto e fonte de sua morte simb6lica. condtiindo: como podemos :lotar nao S8 trata mais dn honra em f'e;"lnos de contlO!e estrito de uma adequ3C;ElO entre um ideal moral e um padrao de comportamento, como fora 0 casa no contexto de sociedades rurais tradicionais ou de comuni dades urbanas de pequena escala e sabre 0 qual existe toda uma !iteratura cientifica e leiga. Nos casos que viemos de fo calizar trata-se, por um !ado, e no plane pratieo, de mulheres que almejam a uma maior autonomia e a exerce(em piena mente seus direitos de individuo. No plano te6rico, por outro lado, esta em aberto a questao muito mais habalhosa da re elaborac;ao por toda a sociedade de novas referenciais de re lacionamen,o (fe-,tre pessoas) S8 8.yolando. S8 passlvel, sabre \ uma ordem moral que nao reforee em nos medos ata-vicos,\ mas que nos ajude a vend~-los. \ \ \ -----~-12. Sabre a dlaIetlca do h0l11enl corno p3i e como mGnino, assirll Gorno as r80resentD<;fJes cia lTIu!iwr C0l110 \;-:':',n e como miie vert2i1:b~m Carna!!;]::;_ fViaJandro e He.r6is·- de fv;1ATT/~, n. d3, Zc:hdr, 1979, pp. 110-1'11 ~:S.s Ensaio A PREEMIN~NCIA DA MAO DIREITA: UM ESTUDO SOBRE A POLARIDADE RELIGiOSA * Robert Hertz RELlGJAO E SOCfEDADE propoe-se a publicar, a ca.da mime ro, um classico da soeiologia da religiao que nao se encontre att~ agora disponivel em lingua portuguesa. Neste numera, re produzimos urn dos ensaios mais marcantes saidos do grupo do L'Annee Socioiogique fundado por Emile ,Durkheim, Marcel Mm;s:::, Henri Hubert e Qutros. Seu autor,' Robert Hertz, fo; urn .dos mais jovens e mais brilhantes mernbros da esco/a 50 cio/6gica francesa, deixando-nos entretanto, por sua morte prematura, pOlleos trabalhos. Este ensaio sobre a pofaridade entre a mao direifa e a mao esquerda eoncretiz8 com farto material etnogratico as prineipais teorias do grupo sobre 0 principic basico da reHyiao: a opOS/98.0 entre a sagrado e 0 profana. Usanda 0 pr6prio corpo humano como campo de de monstragao da tese de que 0 co/etivo ou espiritual sIJperim p003-se ao organico e individual, f-Jertz conduz-nos a reffetir como a simples oposiqao entre a mao direita e a esquerda, tonge de ser natural, esl'a carregada de significados cutturals, servindo como representaqao de divisoes e hierarquias socials. Os Edftores "L8 prcenlinencE de la rnain droite: etude sur fa po!arit6 feligieuse", rtc\tuc Phi1oSO[lhiqllp, \/01. :"'XVllI. pp. 55::;·580; Death and the right hand, Glen coo, Illinois, The Free Press. 1960 [tcad, de Hodney e Claudia Needham]. 101 -joo Que senlelhan9a mais perfeita exists entre nossas duas maos! E, no entanto, que impressienante desigualdade! Para a mao direita VaG as honras, as designag6es Iisonjeiras, as prerrogativas: ela age, ordena e toma. A mao esquerda, ao contrario, e desprezada e .reduzida ao papel de urna humilde auxiliar: sozinha nada pode fazer; cia ajuda, ela ap6ia, ela segura. A mao direita e 0 simbolo e a modelo de toda aristocracia, a mao esqt!crda de todas as pessoas comuns. Quais sao as titulos de nobreza da mao direita? De onde vem a servidao da esquerda? 1. Assimetria Organics Toda hierarquia social afirma estar baseada na natureza das co!~as, atribuindo-se assim eternidade e evitandO mudanc;:as e ataques de ino'Jadores. Arist6teles justificava a escravidao pela superioridade etnica dos gregos sobre as barbaro~, e hoje o homem que S8 aborrece com as reivindicayoes feminis!as ale ga que (3 mulherenatura!mente interior. Do mesmo modo, de acordo corn a opiniao geral, a predominancia da mao direita resulta diretamente do organismo e nada deve a conveny6o au as crent;:as em mudanc;a do homem. Mas, apesar das aparen cias, 0 testemunho da natureza nao e mais claro nsr.1 mais decisivo no caso dos atributos das duas maDS do que a e no conflito de ragas"ou sexos. "~""':l" Nao que Ihes fa/tem tentativas em atribuir uma causa anato mica a desteridade. Entre todas as hip6teses levantadas(1) apenas uma parece ter resistido ao teste dos fatos: a que liga a preeminencia da mao direita ao maior dcsenvolvimento do homem do hemisferio cerebral esquerdo, 0 qua!, como sabe· mos, enerva os musculos da iado oposto. Assim como 0 cen tro da fala articulada S8 encontra nesta parte do cerebro, os centros que governarn as movimentos voluntaries tambem Ia. estao principa1mente. Como disse Broca, "somas desiros na mao porque canhotos no cerebra". A prerrogativa da mao direita seria, entao. encontrada na estrutura assimetrica dos 1. ..lguns dos quais sao apresemados e cliscutidos em Wilson: 1891:149; Jacobs 1892:22 e Jackson 1905·41 centros nervosas, da qual a causa, qualquer que seja, e evi dentemente orgfmica.(2) Nao ':;e dave duvidar que uma conexao reg.Jlar exista entre a preeminencia da mao direita e 0 desenvolvimento da parte es querda do cerebra. Mas, destes dais fenomenos, qual e a causa e quai e 0 efeito? 0 que existe que nos impet;a de inverter a proposiC;8.o de Broca e dizer: somas canhotos de ce rebro porque destros de mao?(3) E um fato conhecido que 0 exercicio de um 6rg80 leva a maior aJimentagao e ao conse quente crescirnento daquele 6rg8.0. A maior atividade da mao direita, 0 que envolve mais trabalho intensivo para os centros nervosos da esquerda, produz 0 ereito necessario de favorecer o seu desenvolvimento.(4) Se abstrairmos as efeitos produzi dos pelo exercfcio e pelos habitos adquiridos, a superioridade fisiol6gica do hemisferio esquerdo reduz-se a tao pouco que pade, no maximo, determinar lIma leve preferencia em favor do lado direito. .A difieuldade que se experimenta ao S8 atribuir urna certa causa orgEtnica adequada a assimetria dos membros superio res, juntamente com a fata de que os animais mais pr6ximos do homem sao ambidestros,(5) ievou alguns autores a rejeitar quaJquer base anatomiea para a privilegio da mao direita. Este privilegio nao seria, portanto, inerente a estrutura do genus homo, mas deveria sua origem exclusivamente as cone.:: ,;:oe8 exteTiores ao organismo.(6) Essa negac;ao radical e, no mjnimo, audaciosa. Sem duvida a causa organica da dester1dade e dllbia e insuficiente, e dificil de distinguir das influencias que atuam sabre 0 indivfduo de fora e 0 modelam, mas niIo e razao para que S8 negue dogma ticamente a agao do fator fisico. Sobretudo, em alguns easas em que a influencia externa e a tendencia organica estao em confiito, e passlvel afjrmar que a habilidade desigual das maos esta jigada a uma causa anat6mica. Apesar da pressao po derosa e al9w,las vezes cruel que a sociedade exerce sobre as pessoas c:mhotas desde sua intancia. estas fe!em por toda vida tJma preferencia instintiva peio usa da mao esquerda.(7} 2. Ver ~\iJisO)l :;,191:133: Bald\vin i897:Gi 3. Jacobs 18~?:25. 4. Bast,en c Si"o\~',;'n ScqUJtd ern VVi!sen 1891"193<1 5. Rol!et 'IDg~?: 19B; Jackson 1805:27.71 o. Jacobs i8~12:30.33. V\ijl:.:.:on "iPq: '1'1D,1iJ2. 10~ Se somas for9ados aqui a reconhecer a presenc;;a de urna dis posiyao congenita para a assimetria, devemos admitir que, in versamente, para certo numero de pessoas, 0 uso preponde rante. da mao dir~ita resultada estrutura de seus cor~ 15. A visao mais provavel pode ser expressa, embora nao muito ri gorosamente, em forma matematica: em cem pessoas 8xistem duas que sao naturalmente canhotas, resistentes a qualquer influencia contraria, enquanto uma propor«ao consideravel mente maior sao destras por hereditariedade, oscilando entre esses dois extremos a massa de pessoas que, se deixadas par si mesmas, seriam c;apazes de usar igualmente as duas maos, com (em geral) uma leve preferencia pela direita.(8) Nao existe necessidade de negar a existencia de tend8.ncias orga nicas para a assimetria, mas, fora os casos excepcionais, a vaga disposiyao para a desteridade, que parece estar espalha da por toda a especie humana, nao seria suticiente para tazer surgir a preponderfincia absoluta da mao direita se isto nao fosse refon;:ado e fixado pelas influencias estranhas ao or ganismo. Mas, masmo que se estabelecesse que a mao direita ultra passa a esquerda por urna dadiva da natureza na sensibilida de tatiea, na forya e na competencia, ainda restaria 'para ser explicado porque um privilegio institufdo pelos homens teve que ser somado a esta superioridade natural, porque apenas a mao mais talentosa e treiilada e exercitada. Nao recomen~ daria a razao que -se tentasse corrigir a fraqueza da menos favorecida··por meio da educac;:ao? Pelo contraria, a mao es querda e reprirnida e mantida inativa; seu desenvo!vimento e metodicamente frustrado. a Dr. Jacobs nos conta que duran te suas viagens de inspe«ao medica as fndias holandesas ob servou que as crian«as nativas tinham 0 brago direito c.omple taments amarrado: era para ensinar-Ihes a nao usa-Ios.(9) Nos abolimos as tip6ias materiais - mas isse e tudo. Um dos si nais que distinguem uma crianc;a bem educada e que a sua mao esquerda tornou-se incapaz de qualquer a9ao inde pendente. 8. Wilson 1851:127-8: Jackson 1905:52.97. 0 ultimo autor calcula as natIJ ralmente destros em 17%. mas nao explica como se chega a este numero. Van Biervliet (1899:142.373) nao admite "a existencia de pessoas verdadaira mente ambidestras". Segundo ele, 98% das pessoas sao destras. Mas es-· tas sugest6es s6 se aplicam a adultos e ele restringe demc:siadamente 0 sig· nificado da paiavra "ambidestridade". 0 que importa aqui nao (> a fore;:a do:> musculos ou as dirnens6es dos ossas e silll 0 usa possivel de um au outro membra. 9. Jacobs 1892:33. 103 Pode-se dizer que qualquer es10r<;0 para desenvolver a aptidao da esquerda esta deslinado ao fracasso? A experiencia mos tra 0 contrario. Nos raros casos em que a mao esquerda e adequadamente exercitada e treinada, par necessidade tecni ca, e quase tao util quant-J a direita; per exemple, toeando 0 violino eu 0 piano, au na?irurgia. Se um acidente priva um homem de sua mao direita, a esquerda adquire depois de al gum tempo a for«a e a habiliaade que nao tinha. 0 exemplo de pessoas canhotas e ainda mais conclusivo, ja que neste caso a educa«ao luta contra a tendencia institntiva para a "unidesteririade" ao inves de segui-Ia e refor<;a-la. Como con sequencia, as canhotos sao em geral ambideslros e frequente mente notadcs par ?osta habilidade. (10) Esle resultado poderia ser aJcan«ado, ainda cam maior rezao, pela maio ria das pes soas, que nao tem nenhuma preferencia irrestistfvel per um lado ou pelo outro e euja mao esquerda apenas pede para ser usada. Os metodos da educac;:ao bimanual, que foram apiicados durante alguns anos, especial mente em escoias in glesas e alTlericanas, ja apresentaram resultados conclusi vos(11): nao he'! nada contra a mao esquerda receber treino artistico e tecnieo semelhante ao que ate agora foi monop61io da mao direita. Portanto, nao e porque seja fraca ou sem poder, que a mao esquerda e desprezada: 0 contrario e a verdade. Esta mao e ! submetida a uma autentica mutilalfa.o, que apesar disso nao e rnarcada porque afeta a fungao e nao a forma externa do 6r gao, porque e fisio/6gica e nao anatomica. Os sentimentos de urn canhoto, numa sociedade atrasada,(12) sao analogos aque les de um homem nao circunsisado em sociedades nas quais a circunsisao e lei. 0 fato e que nao se ace ita ou se cede a desteridade como a uma necessidade natural: ela e urn ideal ao qual todos precisam conformar-se e 0 qual a socledade nos fon;:a a respeitar por meio de sanc;:6es positivas. A crianc;a que usa ativamente sua mao esquerda e repreendida, quando nao leva um tapa na mao audaeiosa:· similarmente 0 fato de 10. Wilson 1891 :139; 148·9, 203. Uma pessoa canhota se beneficia pela ca pacidade inata da mao esquerda e pela habilidade adquirida pela direita. H. Ver Jackson 1905:195; Lydon 1900; Buyse 1908:145. Uma "Sociedade de Cultura Ambidestra" existiu na Inglaterra durante alguns anos. 12. A maior parte das fatos etnogrMicos nos quais se base!:1 este estudo ' vem das Maori, au m8is eXLltamente de ums tribo muito primitiva cham ada Tuhae, cUjas concep<;:oes foram registradas com admiravel fidelidade por EI Best en,. seLls artigos na Transactions of the New Zeal/and Institute e no Journal of the Polynesian Society. 104 ser canhoto e uma infrac;ao que traz para 0 infrator urna re provac;ao social mais OU menos explicita. A assimetria organica n0 homem e ao mesma tempo um fato e urn ideal. A anatomia 8xplica 0 fate na medida em que re sulta da estrutu~a do organismo, parern, por mais for9a que S8 suponha ter este determinante, ela e incapaz de explicar a origem do ideal ou a razao para sua existencia. 2. A Polaridade Religiosa A preponderancia da mao direita e obrigat6ria, imposta pela coeryao e garantida por sangoes: contrariamente, uma verda deira proibigao pesa sobre a mao esquerda e a paralisa. A diferenga. em valor e fun<;aa entre os dais !ados de nosso cor po possui portanto, num grau extremo, as caracteristicas de uma instituigao social, e um estudo que tente explica-lo per tence a sociologia. Dizendo de modo mais preciso, e uma questao de tragar a genese de um imperativo que e metade estetico, metade moral. As ideias secularizada.s que ainda dominam nossa conduta nasceram em forma misti'Ca, no reino de crengas e emo<;6es religiosas. Nos ternos, portanto, que explicar a preferencia pela mao direita num estudo compara-· tivo de representa<;oes coletivas.(13) Uma oposigao .fundamental domina 0 mundo espiritual dos homens primitivos, aqueJa entre 0 sagrado e 0 profano.(14) Certos objetos ou seres, por forga de sua natureza ou par meio de representagao de rituais, sao como que impregnados com uma essencia especial que os consagra, os separa e Ihes outorga poderes extraordinarios, mas que entao os sujeita a uma serie de regras e estritas restrigoes. Coisas e pessoas as quais se nega esta qualidade mistica nao tern poder, nem dignidade: sao comuns e, afora a interrli<;ao absoluta de entrar em contato com 0 que e sagrado, livres. Qualquer contato ou confusao de seres e coisas pertencendo as classes opostas serio. funesto para ambas. Oai a variedade de proibigoes e 13. ( ... J 14. A nossa descric;ao da polaridade religiosa e apcnas um rapiov esbot;:o. A maior parte das idei::Js aqui expressas sao farnili3i"8S a05 leitores que -::0· nhecem os trabalhos publicados por Durkehim, Hubert e Mauss no Anile So ciologique. Algumas das ideias ori\1inais que este estudo venna a obter, se rao retorfladas em outro Jugar com 8S provas e eiabcrac;6es que se fi:crcm necessarias. 105 tabus que, por mante-los separados, protegem ambos os mun·· dos a um s6 tempo. A importancia da antitese entre profano e sagrado varia de acordo com a posir;ao na esfera r61igiosa da mente que clas sifica seres e os avalia. Os pode ;es sobrenaturais nao sao todos da mesma ordem: alguns trabalham em harmonia com a natureza das coisas e inspiram venerac;:ao e confianga pela sua regularidade e majestade; outros, ao contrario, violam e perturbam a ordem do universo, e 0 respeito que imp6em esta baseado principalmente em aversao e medo. Todosestes po deres tem em comum 0 carater de serem opostos ao profano, para 0 qual todos eles sao igualmente perigosos e proibidos. o contato com um cadaver produz no ser profane as mesmos efeitos que 0 sacrilegio. Neste sGntido, Robertson Smith esta va certo quando disse que a nogao de tabu compreendia si multaneamente 0 sagrado e 0 impuro, 0 divino e 0 demoniaco. Mas a perspectiva do mundo religioso muda quando nao e mais visto do ponto de vista do profano e sim do sagrado. A confusao a que Robertson Smith se rateria nao mais existe. Urn chefe polinesio, por exemplo, sabe muito bem que a qua lidade religiosa que impregna um cadaver e radicalmente con traria a que ele proprio pessui. 0 impuro IS separado do sa grade e colocado no polo oposto do mundo religiose. Par outro lado, deste ponto de vista, 0 profane nao e mais defini c'J par tra<;03 puramente negativos: ele surge como 0 eiemento antagOnico que, pelo seu proprio contato, degrada, diminui e muda a essencia das coisas que sao sagradas. E como se fosse um nada, mas um nada ativa e contagioso:, a influencia nociva que exerce sobre as coisas dotadas de sant!dade nao difere em intensidade da exercida pelos poderes funestos. Existe uma transigao imperceptiveI entre a falta de poderes sagrados e a posse de poderes sinistros.(15) Assim, na clas sifica<;ao que dominou a conscier.cia re!igiosa desde 0 infcio e em graus crescentes, existe uma afinidade natural e quase que uma equivalencia entre 0 profane e 0 impuro. As duas nog6es sao combinadas e, em oposigao ao sagrado, formam o p6le negativo do universo espiritual. 15. Alguns exemplos desta confusao necessana serao d<Jdos mais adiante. Veja 0 q~e e dit() .,lais tarde sobre a classe inferior de mulher, terra e 0 !ado esquerdo. 107 106 o dualismo, que e a essencia do pensamento primitivo, domi na a or,:ganiza~ao social primitiva.(16) As duas metades au fratrias que constitu'em a tribo sao reciprocamente opostas como 0 sagrado e 0 profano. Tudo que existe dentro da "ni nl:a prOpria fratria e sagrado e proibido para mim: e por isto qu~ nao posso comer meu totem, ou derramar 0 sangue de um' membro de minha fratria, 01.1 mesmo tocar seu cadaver, ou C&;:;3!-me em meu cia. Ao contrario, a metade oposta e profana para mim: as clas que a comp6em fornecem-me espo ~as, marltimentos e vitimas humanas sacrificiais, enterram os meus mortos e preparam minhas cerimonias sagradas.(17) Dado 0 carater religioso com 0 qual a comunidade primitiva se sente investida, a existencia de uma seyao oposta e, com-, plementar da mesma tribo, que pode livremente rea!izar fun goes que sao proibidas aos membros do primeiro grupo, e uma condiC{ao necessaria da vida social.(18) A evolug3o d~ sociedade substitui este dualismo reversivel por uma estrutura. hierarqu!ca rfgida: (19) ao inV8S de clas separadas ou eql.llva lentes aparecem castas ou classes, das quais uma, no topo, e essencialmente sagrada, nobre ou devotada a trabalhos su periores, enquanto outra, embaixo, e profana ou suja e ocupa da com tarefas vis. a principio pelo qual se atribllf aos ho mens posi9aO e LUJ19.~0 permanece 0 mesmo: a polaridade so cial e ainda um reflexo e uma conseqLiencia da polaridade, reJigiosa. o universo inteiroesta dividido em duas esferas contrastantes: coisas, seres e poderes atraen'i ou se repelem mutuamente~ incluem ou S8 excluem mutuamente, dependendo do fato de gravitarem em dire9ao a um ou outro dos polos. Os poderes que mantem ou aumentam a vida, que fornecem saude, proeminencia sociai, coragem na guerra e habilidade· no trabalho, residem todos no principia sagrado. 0 profano (na medida em que viola a esfera sagrada) e a impuro, ao, 16. 'Sabre a dicotcmia social, vel' Mc Gee 1900:845, 863; Durkehim & Mauss 1903:7. 17. Acerca oesta ultima observa<;ao, ver principalmente Spencer & Gitlcn 1904:298. 18, Note que as duas metades da tribo sao no mais das vezes localizadds, ums ocupando a lado'direito. a outra a lado esquerdo (em campo, em ced manias et::.l, Cf. Durkheim & Mauss 1903:52: Spencer & Gillen 1904:28, 577. 19. 0 esbop do qual exis',e desde um estagio primitivo: as mu!heres e as crian<;as, em rela<;ao aos homens, formam uma classe essencialmente pro fana. contrario, sao essencia!mente enfraquecedores e mortiferos:, as influencias funestas que oprimem, diminuem e danificam os individuos vem deste lado. Assim, de um lado temos o polo da forya, do bem e da ' :da, enquanto no outro temas 0 po!e da fraqueza, do mal e da morte. au, se preferimos uma ter minologia mais recente, de um !ado os deuses, de outro os demonios. Todas as oposi90es apresentadas pela natureza 8xibem este' dualismo fundamental. Claro e escuro, dia e noite, leste e sui em oposiyao a oeste e norte, representam no imaginario e 10 calizam no espayo as duas classes contrarias de poderes' 80 brenaturais: de um lado a vida nasce e sob'), do outro elc. desce e S9 extingue. a mesmo ocorre com 0 contraste e'ntre alto e baixo, ceu e terra: no alto, a residencia sagrada dos deuses e as estrelas que nao conhecem a morte, aqui embaixo a regiao profana dos mortais aos quais a te'rra absorve e, mais ainda, as lugares escuros onde se escondem serpentes e a hoste de demonios.(20) o pensamento primitivo atribui um sexo a todos as ser~s no universo e mesmo a objetos inanimados; todos sao dlvididos em duas imensas classes dependendo de serem considerados femininos ou masculinos. Entre os Maori a exoressao (3ma tane, lado masculino, designa as mais diversas coisas: a virili d<ilde do homem, descendencia na linra paterna, 0 leste, for<;:a criativa, magica ofensiva e assim por diante, enquanto a ex pressao tama wahine, lado feminino, recobre tUdo que e Gon tre.rio a essas foryas.(21) Esta distinc;ao c6smica se baseia na antitese religiosa primordial. Em geral 0 homem e sagra do, a mulher e profana; excluida das cerimonias, nelas s6 e admitida uma funyao caracteristica de seu status, quando um tabu vai ser levantado, ou seja, para provocar uma profanacao intencional.(22) Mas se e impotente e passiva na 'ordem re ligiosa, a mulher tem sua desforra no reino da magica: ela e I I particularmente dotada para trabalhos de bruxaria. "Todo 0 mal, miseria e morte", diz um proverbio Maori, "vem do ele mento feminino". Assim, os dois sexos correspondem ao sa grado e ao profane (ou impuro), a vida e a morte. Um ablsmo 20. Sobre a identifica<;ao do ceu com a eiemento sagrado e da terra COI1l o profano ou sinistro. of. (para os Maori) Tregear 1904: 408, 466, 486; Best 1905a:150,188; 1906:155. Compare a oposi<;ao que os greg08 F'1zem entre 113 divindades celestiais e as ctanicas. 2.. Vel' especialmente Best 1905b;206 e 1901:73, 22, Best 1906:26. fil I 108 .. os separa e uma divisao de trabalho rigorosa divide as ativi dades entre homens e mulheres de tal modo que nunca poete haver mistura ou confusao.(23) Se 0 dualismo marca 0 pensamento inteiro dos homens primi tivos, nao influencia menos sua atividade religiosa, sua ado ra9 . Esta influencia e sentida mais do que em qualquerao outro lugar na cerim6nia tira, que ocorre com frequencia no ritual Maori e serve aos rnais diversos fins. 0 sacerdote faz dais pequenos montes num pedago de chao sagrado, dos quais um, 0 masculino, e dedicado ao Ceu, enquanto que 0 Dutro, 0 feminino, e dedicado a Terra. Em cada um ele erige um pau: um chamado de "vara da vidan e co!ocado no leste, e 0 emblema e 0 foeo da saude, forga e vida; 0 outro, colo cada no oeste, e a "vara da morte" e 0 emblema e foco de todo 0 mal. 0 detalhe dos ritos varia de acordo com 0 obje tivo procurado, mas 0 tema fundamental e 0 mesmo: par um lado, repelir para 0 p610 da mortalidade todas as impurezas e males que penetraram e que ameagam a comunidade, por outro lado, assegurar, reforgar e atrair para a tribo as influen cias beneficas que residem no p610 da vida. Ao fim da ceri monia, 0 sacerdote derruba avara da Terra, de(xando de pe a vara do Ceu: e este 0 buscado triunfo da vida sobre a morte, a expulsao e abolic;:ao de todo 0 mal, do bem-estar da comu nidade e da ruina de seus inimigos.(24) Desse modo, a ativi dade ritual e dirigida por referencia a dois p610s opostos, cada qual tendo.·sua fungao essencial no culto, e que corresponde as duas atitUdes eontrarias e compiementares da vida religiosa. Como pode o-corpo do homem, 0 microcosmo, escapar da lei da polaridade que governa tudo? A sociedade e todo 0 uni verso tem um lado que e sagrado, nobre e precioso e outro que e profano e comum: um lado masculino, forte e ativo, e outro feminine, fraco e passivo; ou, em duas palavras, um lado direHo e urn lado esquerdo - e apesar disso, s6 0 org:::nismo humano deveria sar simetrico? Um momento de reflexao nos mostra que isto e uma impossibilidade. Tal excec;ao seria nao apenas uma anomalia inexplicavel, mas arruinaria toda a eco namia do mundo espiritual. Pois 0 homem esta no centro da criagao: cabe a ele manipular e dirigir para 0 bem as for.;as formidaveis que trazem a vida e a morte. to: concebivEd que 23. Ver, sobre os MClfJri, Coienso ',863:348 e ct. Durkheim 1898:40; Craw ley '1902. .24 Eest 1901 :87; iS05:161·2; Trege&r 1904:330.392,515. Cf. Best 1898 a 24! 109' todas estas coisas e estes poderes, que sao separados, con trastados e mutuamente exclusivos, sejam abominavelmente confundidos na mao do sacerdote ou do artesao? E uma ne cessidadc vital que nenhuma das duas maos conhega 0 que iaz a outra;(25) 0 preceito evangelico meramente aplica a ·uma situagao particular esta lei da incompatibilidade dos opo~tos, que e valida para todo 0 mundo da religiao.(26) Se a assimetria orgi'mica nao existisse, ela teria que S6r in ventada. 3. As caracterfsticas da direfta e da esquerda o modo direrente pelo qual a consciencia coletiva concebe e avalia a direita e a esquerda aparece claramente na lingua gem. Existe um contraste impressionante entre as palavras que designam os dois lados na maioria das Iinguas indo-€u I ropeias. Enquanto existe apenas um termo para "direita" que se estende por uma grande area e que mostra grande estabi lidade,(27) a ideia de "esquerda" e expressapor inumews ,II termos distintos, que sao muito menos difundidos, e que pa recem estar destinados a desaparecer constantemente diante (I' de novas pa!avras.(28) Algumas destas ralavras sao eufemis mos 6bvios,(29) outras sao de origem 8xtremamente obscura. "~arece" diz Meillet,(30\ "que quando S8 fala do lado eGquer do evita-se pronunciar a palavra apropriada e tende-se a subs-· 25. Sobre a interdii(ao reeiproea. cf. Burckhardt 1830:282. Maft. 6.3. 26. Me Gee desereveu a natureza dualista do pensamento primitivo em tel'· 10S e de um ponto de vista muito diferentes dos meus. Ele eonsidera a dfstinc;:ao e,T~,e a direita e a esquerda um aereseimo a um sistema primitiv0 qlJe reeonheee somente a oposii(50 entre a frente e atras. Esta afirma~do me parece arbitraria. Ct. Me Gee 1900:843. 27. Esta e a raiz deks que se encontra sob diferentes formas desde 0 indo· iraniano daksine, ate 0 celtieo dess. dess. passando pelo lituano. eS!!Jvo. al· banes. qermanico e grego. Cf. Walde 1905·6 s.v. dexter. 28. A respeito destes termos cf. Sehr2der 1901 s.v. Rechts unrl Links; BruD· ma:ln 1888:399. 29. Gf1. Euwruyos e Aplotep6s, Zend Vairyastare [= melhor). QnG wi· nistar (de wini amigo), iil'abe aisar· (= feliz, ct. Wellhausen 1897. 2:199), aos quais deveria ser aerescentado. de aeordo com Brugmann, 0 fatilil sinister. De acordo com Grimm 1818, 2:681.698 e mais reeentemente Brug mann 1838:399 a esquerda era originalmente 0 lado mais favoravel para os indo·euwpeus. estes filologos dei\aram·se enganar por artifieios linguisticos destinados a esconder a verdadeira nature::) da esquerda. t certamente uma questao de antifrase. 30. Num~ eJrta que gentiimente me enviou e a qu,lI agrade«o. iv1eiilet 13 havia sligerido esta explieaC;:llo (1906: 18) . 110 1itui..la pOl' outras diferentes que sao constantemente renova das":- A multiplicidade c a instabilidade des termos para a es querda, e 0 seu carateI' evasive e arbitrarie, pode ser explica do peles senti mentes de inquietagao e aversao ~,entidos pela comtinidadc a respeito do lado esquerdo. (31) Ja que a pro pria ceisa nao podia ~·er mudada, 0 seu nome a era, na espe ram;a de abolir ou reduzir 0 mal. Mas em vao, pais mesmo as palavras com significados felizes, quando aplicadas a es querda pOl' antifrases, sao rapidamente contaminadas pelo que expressam e adquirem uma qualidade "sinistra" que cedo proibe 0 seu uso. Assim, a OpOSig80 que existe entre direita <3 esquerda e vista ate mesmo nas diferentes naturezas e des tinos de seus nomes. o mesmo contraste aparece se consideramos 0 significado das pa!avras "direita" e "esquerda", a primeiro e usado para ex pressar as ideias de forga ffsica e "desteridade", de "retidao" intelectual e de bom juigamento, de honradez e integridade mo ral; de boa sorte e beleza, de norma juridica; enquan10 que a paiavra "esquerda" evoca a maioria das ideias contrarias a es ta~. Para unificar estes varios significados, supoe;se comumen te que a palavra "direita" signifique em primeiro lugar nossa melher mao;_· depois as "qua!idades de forga e habilidade que sao naturais a ela" e, pOl' extensao, diversas virtudes analogas da mente e do coragao. (32) Mas esta e uma construgao arbi1ra ria. Nao hanada que nos autorize a afirmar que a palavra indo-.europeia antig2 para a direita teve primeiro uma cono tacao fisica exclLlsiva, e mais recentemente palavras formadas tais como nosso droit(33) e 0 adj(34) armeniano, antes de se rem ;gplicadas a um dos lados do corpo, expressaram a ideia de ·uma forga que vai direto ao seu objeto por caminhos que sao normais e certos, em oposigao aos caminhos que sao tor tuosos, obiiqOos e abortivos. De fato, os diferentes significa dos da paiavra em -nossas Ifnguas, que sao os produtos de_ uma civilizac;:ao avangada, sao distintos e justapostos. Se se guimos seu rastra pelo metoda comparativoate a fonte da ·qualderivam estes significados fragmentados, n6s os encon 31. Do. mesmo modo, e pela mesma razao, "os nomes de doenc;:as e enfer mid8des .tais como manquejar, cegueira au surdez diferern de uma Ifngua para outra" (Meillet .J 906: 18). 32. Cf. par exemplo Pic'.et 1863:209. 33. Do b8ixo'-latim direclum; .ct. Diez 1878,5; 272 s.v. ritla. 34. Ligado ao Sansc. sadhy6, de acordo corn Liden 1906:75. Meillet, a quem devo esta nota, ccnside,a 0 0timo!ogia irrepreensivel e muito provavel. 111 tramos fundidos original mente em uma noc;:ao que as eng/oba e confunde todos. JA nos deparamos com esla n09aO: para a direita e a ideia do poder sagrado, regular e benefico, 0 principio de t( Ja atividade afetiva, a fonte de tudo que e bom, favoravel e legitimo; para a esquerda, esta concepc;:ao ambigu8. do profane e do impuro, 0 fraco e incapaz que e tambem ma-, IMico e temido. A forc;:a fisica (au a fraqueza) aqui e apenas IJm. aspecto partiCUlar e derivativo de uma qualidade muito mais vaga e fundamental. Entre os Maori 0 direito e 0 lado sagrado, a sp.de dos poderes bons e criativos; 0 esquerdo e 0 lado profano, nao possuindo nenhuma outra virtu de exceto, como veremos, certas poder~s perturbadores e suspeitos.(35) 0 mesmo contraste reaparece no curso da evoluc;:ao da religiao, em formas mais precisas e menos impessoais: 0 direito e 0 lade dos deuses, onde paira a figura branca de um bom anjo da guarda; a lado esquerdo e dedicado aos demonios, ao mal; um anjo negro maligno 0 mantem sob seu dominio.(36) Ate mesmo hoje, se a mao di reita e ainda a chamada boa e bonita e a esquerda ma e feia,(37) podemos perceber nestas expressoes infant;s as ecos enfraquecidos de designal;oes e emac;:oes reliyiosas que par muitos secuJos estiveram ligadas aos dois lados de nasso corpo. t: uma nac;ao corrente entr-:- os Maori que 0 direito e a "Iadoda morte" (e da fraqueza).(38) influencias benfazejas e re novadoras nos entram pela direita, enquanto que, inversamen te, a morte e a miseria penetram 0 amago de nasso ser pela esquerda.(39) Desta forma, a resistencia do lado que e par ticularmente exposto e indefeso tem que ser reforc;:ada por amulelos protetivos; 0 anel que nos usamos no terceiro dedo da mao esquerda tem primordial mente a finalidade de manter 35. Best 1902:25; 19C4:236. 36. Meyer 1873:26. Cf. Gerhard 1847:54; Pott 1847:260. Entre os gregos e romanos a direita e invocada com frequenciZ em formulas de obsecrac;:ao; cf. Horacio Ep. 1,7,94 - quod te per geniurn dextramque deos que penates obsecro et abstetor; ver Sittl 1890: 2:;, n. 5. 37. Cf. Grimm 1818:685. 38. Best 1898a:123, 133. 39. D:mnestet(;r 1879,2:129 n. 64, 112 lenta~es e outras eoises mas longe de n6s.(40) OBi a impor tancia atribuida, na adivinhagaa, a distingao entre os lados tanto do .corpO quanto do espa<;-O. Sa senti um tremor con vuls enquanto darmia e sinal que um espirito S8 apossoU iVOde mf,m e, dependendo do sinal vir da direita au da esquerda posso esperar a sortee vida ou ma sorte e morte.(41) /\ mes ma rtgfa se aplica 8nl' geral aos pressagios que consistem na apari~ de animais que ~e imagina serem portadores da sor te: algumas vezes estas mensagens sao susceptiveis de duas interpreta~6es contradit6rias, dependendo da situa({aO sar en carada oU do ponto de vista da pessoa que ve 0 animal ou do anImal que ela encontra;(42) se aparece a esquerda, 0 ani rnal apres 0 seu \ado direito, podendo portanto ser con enta siderad favoravel. Mas estas divergencias, cuidadosamente as mantidao pelos augurios para contundir as pesso comuns e SClumentar 0 prestigio delas, apenas mostram sob uma luz ainda mais clara a atinidade que existe entre a esquefda e o morte. Uma concordancia nao menos significativa liga os lados do .corpo a regioes no espago. A direita representa 0 que e alto, o mundo de cima, 0 ceu; enquantc que a esquerda '€sta assO ciada ao mundo subterraneo e a terra.(43) Nao e por acaso Que nas pinturas' do ultimo Testamento e a mao direita do Sennor que aponta a ab6bada sublime para 0 eleito, enquanto a sua mao esquerda mostra aos con denados as rnandibulas ao abertas do inferno prontas para enguli-ios. A relag que une a direita ao \este ou ao suI e a esquerda ao norte ou ao oeste 40. 0 costume vem de tempos imemorais (egfpcios, gregos, romanos}. Ao metal (or\ginalm ferro, depois Duro) atribui-se uma virtude benefica qU() -- enteprotege de feiti~aria: slnais gravados no anel acrescentam-Ihe poder. Os no mes dados ao terceiro dedo da mao esquerda comprovam seu can:iter mafli co e funC;30: e dedo "sem nome", "doutor" e, em gaelico "0 dedo cncant,,· do.'. Vel' os artigos "Anulus" e "Amuletum" em Daremberg .~ SagliO 1873;ll Pott 1847:284,295; Hofmann 1370:850. Sobre a palavra scaevol [de scaevus, esquarda), significando um encanto protetivo, vel' Valeton 1889·319. 4.1. Best 1898<:1:130; Tregear 1904:211.42. Ou, 0 que vam a dar no mesmo, 0 deus que envia a mensagem. Esta expli 9 , ja proposta pelos antigos (Plutarco, Questiones Romance, 78; fes ca aotus 17 s.v. sinistrce aves) foi definitivamente comprovada por Valenton (1 B89; 287). As mesmos incertezas sao encontradas entre os Mabes· d. Wellhau sen 1897:202 e Doutte 1909:359.43. Os desvixes, enquanto rodopiam, mantem a mao direita \evantada corn " palma para cima, receber.do as ben~50s do cell qc:e a mao sonesquerda, ret!d~ embaixo na direC;80 da terra, transmite ao munao ca de baixo. Sirofl · ,J96:138. ct p. 104. 113 e ainda ma1s constante e direta a ponto de, em muiias !fnguas, as mesmas palavras denotarem os lados do corpo e os pontos caroeais_(44) 0 oixo que divide 0 rnur )0 em duas metades, UMa radiante e a outra escura, atravessa lambem 0 corpo hu mana e 0 divide entre 0 imperio da luz e 0 da escuridao.(45) Direito e esquerdo se estendem alem dos Iimites de nosso corpo e abarcam 0 universo. De acordo corn uma ideia muito disseminada, pelo menos na area indo-europeia, a comunidade forma um cfrculo fechado no centro do qual esta 0 altar, a Area da Alianga, onde os deuses descem e de onde S8 irradia a ajuda divina. A orJem e a harmonia reinam dentro desse espago fechado, enquanta fora S8 estende uma vasta noite, sern lirnites e sem leis, cheia de germes impuros e atravessada par forgas ca6ticas. Na pe rif9fia do espago sagrado os devotos fazem um circuito ritual em volta do centro divino, com seus ombros direitcs voltados para ele.(46) Tem tudo p3ra esperar de IJm lado, tudo para temer do outro. A direita e 0 interior, 0 finito, 0 bem-estar assegtirado e a paz; a esquerda e 0 exterior, 0 infinito hostil e a amea9a. perpetua do mal. Os equivalentes acima por si s6s nos permitiriam supor que 0 Jado direito e 0 elemento masculino sao da mesma natureza, assim como 0 !ado esquerdo e 0 elemento feminino, mas nao 'ficames reduzidos a simples conjecturas neste ponto. Os Maori aplicam os termos tama tane e tama wahine aos dois lados do corpo, termos cuja quase universai extensao ja men cionamos: 0 hamem e composto de duas naturezas, masculina e feminina, sendo a primeira atribuida ao lac') direito e a ultima ao lado esquerdo.(47) Entre os WUlwanga da Austraiia, dois paus sao usados para marcar 0 ritrno durante as cerim6nias: um e chamado de homem e e segurado pela mao direita, en~ quanta que 0 outro. a mU!her, e segurado com a esquerda, 44. Ver G!Il 1876:128,297. 0 hebraico jamin, 0 sansc. da/(shin<i, 0 irlade:i dess significam ao mesmo tempo direita e suI.: ved Schrader 1901 s.v. Him melS<.)egeden. Para os gregos 0 leste e a direita do mundo e 0 oeste a es querda; cr. StobacLJs, fc!ogre, !, 15.6. 45. Esta e a razao pela qual 0 sol e 0 olho direito de Horus e a 1l!3 0 es· querdo.O mesmo na Polinesia (Gill 1876:153). Nas representa<;6es crist5s ·Ja crucifica<;ao 0 sol brilha na regi50 adireita da cruz, onde a nova igreja triuo fa, enquanto a lea i!umina 0 lade do ladr::io impenitente e da 5inagoga caida. Ver i'vlale 1S98:224,229. 46. Ver. Simpson i!lSS: e abaixo. 47. Be3t ~8S3a:i23, 1S82:25; TrCfjfar 1904-506. I IJ I .. 115 114 Naturalmente, e sempre 0 "homem" que bate, a "mulher" que receoe as pancadas; a direita que age, a esquerda que S8 suD mete,(48) Aqui encontramos intimamente combinados 0 privi legio do sexo forte e do lado forte. Indubitavelments, Deus tomoU' ,uma das costelas esquerdas de Adao para criar Eva, pois uma unica e a mesma essencia caracterizam a mulher e o lado esqu,..:rdo do corpo. ~ materia das duas partes de um ser freeo e _lQ.~efeso, algo ambiguo e inquietante, destinado pela natureza a um papel passivo e receptivo e a uma posic;:ao subalterna. Assim. a oposic;:ao entre a direita e a esquerda tern 0 mesmo signiHcado e aplicac;:ao que a serie de contrastes, muito dife rentes mas redutiveis a principios comuns, apresentados pelo universo. 0 poder sagrado, fonte de vida, verdade, beleza, virtude, 0 sol nascence, 0 sexo masculino e - posso acres centar - 0 lado direito, todos estes termos sao intercambia veis, como 0 sao seus contraries. Eles designam, sob muitos aspectos, as mesmas categorias de coisas, uma natureza co mum, a mesma orientac;:50 para um dos dois p610s do mundo mrstico.(50) Pode-se acreditar que uma leve diferenc;a de grau na forc;:a ffsica das duas maos seja suficienteJ'ara expli car uma heterogeneidade tao vigorosa e profunda ( 4. As Fun90es das Duas MaGs As diferentes caracterfsticas da direita e da esquerda deter': minam a diferenc;:a ern posic;:ao e func;:oes que existem entre as duas maos. E bern conhecido que muitos povos primitivos, particularmente os indios da America do Norte, podem conversar sem dizer uma unica palavra, apenas par movimentos da cabec;;a e dos brac;:os. --Nesta Iinguagem cada mao age de acordo com sua natureza. A mao direita representa 0 eu, a esquerda os 48. Ey!mann 1909:376.(Agradec;o a M. Mauss esta referencia), 49, Um mediCO contemporaneo ingenuamente formula a mesma ideia: val' Liersch 1893:45, 50, A tabela dos contrarios, que, de acordo com os pitagoricos, se equi!i bram e constituem a universo, compreendem a finito e 0 infinito, ° rmpar e o par, a direita e a esquerda, 0 macho e a femea. a estavel e 0 mutante, a alto e 0 baixo; vel' Aristoteles, Metafisica, 1,5.: e cf. Zeller 1876:321. A corresponoencia com a tabela que estabeleci e perfeita: as pitag6ricos apfl nas definirllm e deram forma a idei85 populares muito antigas. n[w-eu, os outros.(51) Para expressar a ideia de -alto, a mc!io direita e levantada acirna da esquerda, que e mantida horizon tal e im6vel, enquanto que a ideia de baixo e expressa abal xando-se a "mao inferior" abaixo da direita.(52) A mao di reita significa bravura, poder, vir"idade; enquanto que, ao con trario, a mesma mao, voltada para a esquerda e colocada abaixo da mao esquerda, significa, de acordo com 0 contexto, as ideias de morte, destrui9ao e enterro.(53) Estes exemplos caracterfsticos sao suficientes para mostrar que 0 contraste r entre dire ita e esquerda, e as posig6es relativas das maos sao de imporUmcia fundamental na linguagem dos sinais. I As maos sao usadas apenas incidentalmente ni;1 expressao de ideias: elas sao primordial mente instrumentos com os quais 0 homem age sobre os seres e coisas que 0 tircundam. ~ nos diversos campos de atividade humana que precisamos obser varas maos trabalhando. Na devoc;:ao, 0 homem procura acima de tudo comunicar-se com os poderes sagrados, de lYi,)do a mallte-Ios e a aumen 'la-los, e para trazer a ele os beneficios das ac;:6es destes po ,ideres. Apenas a mao direita esta apta para estas relagoes beneHcentes, ja que participa da natureza das coisas e seres sobre as quaiS' os ritos devem agir. as deuses estao a nossa direita, par isso nos voltamos para a direita a fim de rezar.(54) Um lugar sagrado_precisa ser penetrado com 0 pe direito pri meiro.(55) As oferendas sagradas sao apresentadas aos deu ses com a mao direita.(56) E a mao direita que recebe fava res do ceu e os transmite na benc;:ao.(57) Para produzir bans efeitos numa cerim6nia, para abenc;:oar ou consagrar, os hin dus e os celtas dao tres voltas em torno de uma pessoa ou objeto, da esquerda para a direita, como 0 sol, com a lado direito voltado para dentro. Desta maneira elas derramam so bre 0 que esteja encerrado dentro do cfrculo sagrado a virtude 51. Wilson 1891:18-19. 52. fv1allery 1881 :364, 53, Mallery 1881 :414,415,420. Cf. Ouintilianus. Xl, 3.13 em Sittl 1890:358 (sabre a expressao gestual da abominat;:30). 54. Ver Schrader 1901 s.v. Gruss. Cf. Bokhari 1903:153. 55, Bokhari 1903:·J 57, ,'1.0 contrario, lugares assombrados par djinn sao in vadidos com 0 pe esquerdo primeiro. (Lane 1836:308) 56. Ouando a mao esquerda intervem e apenas para srguir e duplrcar a at;:ilo da mao direita (White 1887:197). Com frequencia, ela alnda e m'\l en carada. (Sitt! 1890:51 n. 2,88; Simpson 1896:291) 57. Vel' Genese 48,13. J ____ k ~: 116' e benefica que emana do lado direito. 0 movimento e posi Gao contrarios, em circunstancias similares, seriam sacrllegos e azarentos.(58) Mas a. devog nao consiste inteiramente da adoragao con tiante de deus ao amistosoS. 0 homem gostaria de esquecer esOS DOceres sinistros que enxameiam a sua esquerda, mas nao pocte, pois eies se impoem a sua aten<;:ao pOl' meio dos S8US golpeS mortiferos, pOl' meio de amea<;:as que precisam ser es quivadas e pOl' exigenciaS que precisam ser satisfeitas. Parte consideravel do culto religiosO, e nao a parte menos impor tanle, e devotada a conteI' ou apaziguar os seres malevolentes e raivosos, a banir ou a destruir mas influencias. Neste, reino a a mao esquerda que prevalece: ela esla diretamente ocupa niada com tudo que a demoniaco.(59) Na cerimo Maori que descrevemos e a mao esquerda que se ievanta e depoiss der ruba a vara da morte.(60) Se os espiritos ganancioso das. almas dos mortos tem que S8r aplacados pela oferta de um presente, e a mao esquerda que se indica para realizar este sinistro contato.(61) Em ritos funerarios e no exorcismo,(62) 0 circuito cerimonial e feito "na diregao errada", apresentando se 0 lado esquerdo.(63) Os pecadores sao expUIS06 da Igreja pela porta esquerda. Nao a certo que se deve as vezes \/oltar os poderes destrutivos do lado esquerdo contra os esplritos malevO!OS que geralmente os usam? .._As praticas, magicas proliferam nas fronteiras da Iiturgia reente gular. A mao esquerda esta a vontade aqui: ela e excel em neutralizBf ou anular a ma sorte,(64) mas acima de ·tudo em propagar a morte.(65) "Quando voce bebe com urn nativo (na costa da Guine) voce precisa tomar cuidado com a mao esquerda dele, pois 0 proprio contato de seu polegar esquer ---- 58. Sabre a pradaishina e deasil. vel' Simpson 1896:75,90,183 e especial- mente a monografia de Caland (1898). Tra<;os deste costume sao encontra dos em toda a area indo·europeia. 59. Vel' Platao, Leis. 4,7;721; Cf. Sitt\ 1890:188). 60. Gudgeon 1905:125. 61. Kruyt 1906:259,380 n. 1.62. Martene 1736, 2:82; cf. Middotl7 em Simpson 1896:142. 63. Simpson 1896; Cal and 1898; Jamieson 1808 S.v. widdersinniS. as tel ticeiros apresentam 0 lado esquerdo ao diabo para lhe prestaI' homenagem 64. Best 1904 :76,236; 1905:3: 1901 :98; Goldie 1904:75. 65. Vel' I<aus'ika sutra 47,4 em Calafld 1900:184. 0 sangue extraido de la do esquerdo do carpo provoca a morte (Best 1897:41). Ao contrario, 0 san gue do lado direito da vida. regenera (as ferimentos do Cristo ferido sao' oempre do lado direito). ,117 do com a bebida ialvez seja suficiente para torna-Ia fatal". Oiz-se que todo nativo esconde debaixo de sua unha do po legar esquerdo uma substancia toxica que possu; quase que "'a sutileza devastadora do acido prussico".(66) Este veneno, que e evidt';ntemente imaginario, simboliza perfeitamente os poderes mal :Hicos que jazem no lade esquerdo. E claro que nao se trata aqui de for9a ou fraqueza, habilidade au falta de jeito, mas de fun<;:oes diferentes e incompativeis figadas a naturezas contrarias. Se a mao esquerda e despre zada e humilhada no mundo dos deuses e no dos mortos, ela tern 0 seu reino onde e a senhora e de onde a mao direita e exclufda; mas esta e uma regiao mal afamada. 0 poder da mao esquerda e sempre algo oculto e ilegitimo; inspira terror e repulsa. Seus movimentos sao suspeitos; nos gostarfamos que permanecesse quieta e discreta, escondida nas dobras da vestimenta para que sua influencia corrompedora nao se es palhasse. Como as pessoas no luto, envolvidas pela morte, tem que se cobrir com vaus, negligenciar seus corpos, deixar seu cabelo e suas unhas sem serem cortadas e ela e menos lavada do que a outra.(67) Assim, a crenga numa profunda disparidade entre as duas maos as vezes chega ate a produzir uma assimetria ffsica visivel. Mesmo quando nao e traida por sua aparencia, a mao esquerda ainda permanece sendo a mao ama)digoada. A mao esquerda muito dotada e agil e sinal de uma natureza contraria a ordem corrente, de uma disposiQ80 perversa e diab61ica: toda pessoa canhota a um possivel fei ticeiro, do qual se deve desconfiar justamente.(68) Em con traste, a preponderancia exclusiva da direita e a repugnancia em adquirir 0 que seja da esquerda sao as marcas de uma .alma associada inusitadamente com 0 divino e imune ao que e profano ou impuro: assim sao os santos cristaos que, em I seu bergo, eram tao piedosos que recusavam 0 seio esquerdo "11 de suas maes.(69) E pOI' ISSO que a selegao social favorece 'I os destros e porque a educagao a dirigida no sentido de pa 1:11 Ii ralizar a mao esquerda enquanto se desenvolve a di reita. " 66. Lartigue 1851 :365. 67. Lartigue 1851; Burckhardt 1830:186: Meyer 1873:26,28. 68. Esta e a razao pela qual seres, reais ou imaginarios, que se acredHa possuirem poderes magieos, sao representados comose fossem canhotos este e 0 easo do lI~SO entre os Camchadal e os esquim6s (Erman 1873:35; J. Rile em Wilson 1891 :50). 69. Usener 1896:190-191. Ouando os pitag6ricos cruzavam suas pernas to mavam 0 cuidado de jamais coloear a esquerda em cirna da direita. Plutar .CO, De vir. pud. S. Cf. Bokhi'lri 19C3:75. ---- \ 11~ A vida em sociedade envolve um grande numero de prsticas que, seffl ser Integralmente parte da retigiao, estao estreita mente Hgadas a ela. Se sao as maos direitas que se unem no casamento, se a mao direita presta jL.amento, conclu! con tratos, lorna posse e presta assistencia, e porque e no lado direito do homem que estao os poderes e autoridades que dao peso aOs gest05, e a fon;a pela qual ela exerce seu do minio sobfe as coisas.(70) Como poderia a mao esquerda " concl aios validos se esta privada de prestlgio e de poder uir espiritu • 58 tem forga apenas para a destrui9ao e a mal? 0 atcasamento contratado com a mao esquerda e uma uniao clan destina e irregular da qual apenas bastardos podem resultar. A esqu e a mao do perjurio, da trai<;ao, da traude.(71) Tal erdacomo acontece com as tormalidades juridicas, tambem as re gras de etiqueta se derivam diretamente da adoragao: os ges tos com as quais noS adoramos os deuses tambem servem para express os sentimentos de respeito e de estima afetuo ar sa que temos uns pelas outros.(72) No cumprimento e na amizade nos oferecemos 0 que temas de melhor, a nossa di reita.(73) a rei leva os emblemas de sua reateza no lado direlto, coloca a sua direita os que ele julga serem mais me recedores' de receber, sem polui-las, as emanag66s de seu lado direito. ~ porque a direita e a esquerda sao realmenie de valor e dignidade diferentes que significa tanto apresentar uma au outra a nossos convidados, de acordo com sua posl <;aD na hierarquia social.(74) Todos estes usos, que parecem ser puras convengoes iloje, sao explicadas e adquirem significado quando relacionadas as cren<;as que Ihes deram origem. O\hem mais de perto 0 profano. Muitos povos primitivos, quando em estado de impureza - durante a luto, par exem plo _ podem nao usar suas maos, particularmente quandoas comem. Eles 'pfecisam ser a\imentados por outras pesso colocando a comida dentro de suas bocas, ou eles apanham 70. Sobre 0 romano manuS, ver Daremberg & Sag1io 1873 S.v manuS Sittl 1890:129,135. Os romano s dedicaram a direita a boa te: em arabe, 0 jUTCl mento e chamado iamin, a direit8 (Welhausen 1897:186). 71. Em persa, "dar a esquerda" significa trair (Piclet 1877,3:2'!7). Gt. Piau tus. Persa, 11,2,44 - furti/iea l;;eva.72. Vel' Schrader 1901 s.v. GruSs; Gaiand 1898:314·5. 73. ct. Sittl 1890:27,31,31 0 .74. Sabre a importancia da direita e da esquerda na iCOnogrClfio crista, vcr Didron 1343:186 e Ma!e 1898:19. ~ ~':';;'''~"'-- -- .......,,;.,; 119 a comida com a boca como cachorros, ja que S9 tocassem a comida com suas maos polufdas enguliriam sua propria mor t6.(75) Neste casa, uma especie de enfermidade mistica afeta ambas as maos e por algum tempo as paralisa. ~ uma proi biC;ao da mesma ordem que se impoe sobre a mao esquerda, mas 8 d...l mesma natureza que a propria mao esquerda na qual a paralisia e permanente. E por isto que frequentemente apenas a mao direita pode ser usada ativamente durante as refeic;oes. Entre as tribos da Nigeria do SUi, e proibido para as mulheres usarem suas maos esquerdas quando cozinham, evidentemente sob a ameac;a de serem acusadas de tentativa de envenenamento e feitigaria.(76) A mao esquerda, como os pari as sabre os quais se impoem todas as tarefas impuras, po de se ocupar apenas de deveres desagradaveis.(77) Estamos longe do santuario aqui, mas 0 dominio dos' conceitos religio sos e tao poderoso que se taz sentir na sala de jantar, na co zinha e mesmo naqueles lugares assombrados por dem6nios que nao ousamos nomear. Parace, entretanto, que existe ao menos uma ordem de ativi dades que escapa influencias misticas, qual seja, as artes e a industria: os diferentes papeis da direita e da esquerda nestas sao considerados inteiramente ligados a causas fisicas e uti litaria5. Mas esta visao nao reconhece 0 carater de tecnic8S na antiguidade: elas estavam impregnadas com religiosidade e dominadas pelo misterio. 0 que e mais sagrado para 0 ho~ mem primitivQ do que a guerra ou a C&<;:&! Estas implicam na posse de poderes especiais e um estado de santi dade que e difici! adquirir e ainda mais diffcil preservar. A propria arma e uma coisa sagrada, dotada com um poder que pOI' si s6 fazem efetivos os golpes dirigidos ao inimigo. Infeliz do guer reiro que profana sua lan<;:a au espada e dissipa sua virtude! t possivel confiar algo tao precioso a mao esquerda? lsto seria um sacrilegio monstruoso, tanto quanto 0 seria permitir uma mulher entrar no acampamento dos guerreiros, isto e, condena-los a derrct2 e a morte. E 0 lado direito do hornem que se dedica ao deus da gueri'a, e 0 mana do ombro direito que guia a espada ao seu alva, e portanto apenas a mao di 75. Gf. (para os Maori) Best 19058: 199,221, 76. leonard 1905:310. T2mpouco pode a mulher toear 0 seu marido com a mao esquerda. 77. Sobre 0 usa exclusivo da mao esquerda para limpar as aberturas do corpo "abaixo do umbigo'·. vel' Lartigue 1851; Roth 1899:122; Spieth 1906; I: 235; Jacobs 1892:21 (sobre os malaios); Laws of Manu V,132.136; Bokhari 1903:69,7,; Lane 1836:187. -- 120 reita ql!le ira carregar e manei ar a arma.(78) A mao esquer da, entretanto, nao fica desempregada; ela providecia as ne cessidades da vida profana que mesmo uma intensa consa graQao nao pode interromper e as quais a mao dire;ta, estrita mente dedicada a guerra precisa ignorar .(79) Na batalha, sem efetivam participar da a~ao, ela pode parar os golpeS do ilente8dversario: sua natureza a torna apta para a defes , eia e a mao do escudo. -(. A origem das ideias sabre a direita e a esquerda tem frequens temente sido procuradas nos diferentes papeis das duas mao durante a 'batalha, uma diferenga que resulta da estrutura do organismO ou de uma especie de instinto.(80) Esta hipotese, refutada por argumentos decisivos,(81) toma a causa pelo que e efetivam 0 efeito. Nao deixa de ser verdade que as entefungoes guerreiras das duas maos tem algumas vezes reforoes Qado as caracterlsticas ja airibuidas a elas e as rela'i de uma com a outra. consideremos urn povo agricola que pre fere trabalho pacificos a pilhagem e a Conquista e que nUilca sreco as armas exceto na d8fesa: a "mao do escudo" subi rremra na estima popular, enquanto que a "mao da olanga" pardera algo do seu presligio- E este claramente 0 cas ent'" os Zuni, que personifica.m os lados direito e esquerdo do corpo como dois deuS irmaos: 0 primeiro, mais velho, e ref!exivO, sabio ese de iulgamento segura; enquanto que 0 ultimo e impetuOso, impulsivo, e feito para a agao.(82) Gontudo, por mais inte ressante que seja este desenvolvimento secundario, e que mo difica consideravelmentE: os tragos caracteristic09 dos doisa lados, ele nao deve fazer-nos esquecer a significa<;:ao religios prim do contraste entre a direita e a esquerda. eira \ \ \ 78. Best 1902:25; Tregear 1904:332. 80. 1904.79. TregearPor exemplo, Carlyle. citado pOl' Wilson (1891 :15): similarmente Cushingi 1892:290.Um re\ato disto pode ser encontrado em Jackson 1905:'::1,54. Mastra081. argumento mais forte the escapou- ~ muito provavel que. como demons ' ram DenikeI' (1900:316) e Schurtz (1900:352). 0 escudo seja originariO de um bastiio aparado • cuja manipulaC;ao exigi ria uma grande habilid<Jde. Alem do rrnais. muito povos nao conhecem 0 usa do escudo. tais como as M<Jori S(Smith 1892:43; Trege<Jr 1904:316), entre os quais a distinc;:ao entre a direitii e a esquerda e particuiarl11ente acentuada.82. Cushing 1892-, 1883:13. ct. uma curiosa passagem sobre Hermes. u tres vezes grande. em Estobeu, Ee!ogre !, 59; e Brinton 1896:176-7 (sobre oschineses). 121 o que e herdado da arte militar se aplica tambem a outras tecnieas, mas uma valiosa descri9ao dos Maori nos permite ver diretamente 0 que faz a mao direita preponderante na in dustria hun.ana. A descri<;:ao diz respeito a iniciagao de uma jovem no oficio da tecelagem, um acontecimento serio envCilto em misterio e cheio de perigo. A aprendiz senta na presenga do mestre, que e artesao e sacerdote, em frente de dois pos tes enta!hados enfiados no chao formando uma especie de tear rudimentar. No poste direito estao as virtudes sagradas que constituem a arte de tecer e que fazem 0 trabalho efetivo, o poste esquerdo e profano e vazio de qualquer poder. En quanta 0 sacerdote recita suas encantagoes, a aprendiz morde o poste. direito de modo a absorver sua essencia e cOl1sagrar se a sua vocagao. Naturalmente, apenas a mao direita entra em contato com 0 poste sagrado, cUja profana<;:ao seria fatal ao iniciado, e e a mesma mao que carrega 0 fio, tambem sa grado, da esquerda para a direita. Quanto a mao profana, ela pode apenas cooperar humildemente e a disUmcia no trabalho solene que e feito.(83) 8em duvida, esta divisao de trabalho e relaxada no caso de buscas rnais duras e mais protanas. Permanece contudo sendo verdade que, em regra, tecnicas consistem de colocar em movimento, por delicada manipula <;:ao, forg8s misticas perigosas: apenas a m50 sagrada e efeti va pode tomar 0 risco da iniciativa; se a mao funesta intervem ativamente ela apenas secara a fonte de sucesso e viciara 0 , trabalho que esta sendo realizado.(84) -i.;;:.;,. Assim, de urn extrema a outro do mundo da humanidade, nos lugares sagrados onde 0 devoto encontra seu deus, nos locais malditos onde os pactos diab6licos sao feitos, no trona assim como no banco das testemunhas, na bataiha e na sala de tra balho do tecelao, em qua!quer lugar uma lei imutavel governa as fungoes das duas maos. Nao mais do que 0 profane tern a permissao de l11isturar-se com 0 sagrado, tem a esquerda a permissao de violar a direita. Uma atividade preponderante da mao ruim poderia apenas ser ilegitimo ou execpcional, pois seria 0 tim do homem e de todo 0 resto se 0 profano tivesse algum dia permissao para prevalecer sobre 0 sagrado e a 83. Assim como nao pode ser tocado com a mao esquerda. a paste sagra do tambem nao pode ser surpreendido em sua rosic;iJo vertical a noite ou por um estranho (profano). Ver Best i898b:627,G~" e Tregear 1904:225, que o segue. 84 _ 0 fio usado por um bramane cleve ser tran<;:dUo da esquerda para a r!j reita (cr. acima). se tranl;sdo no outro sentido, ele e consagrado aos ance:; trais e n20 pode ser uStido pelos vivos (Simpson 1896:93). I ----- , 122 \ morta $Obre a vida. A supremacia da mao direita e ao mes \ I ma teiilPO um efeito e uma condir;ao necessaria da ordem queI governa e mantem 0 universo.\ conc!usao5.\ A analise das caracteristicas da direita e da esquerda, e ctf:lS fungoes a elas atribuidas, con1irmaram a tese que a deduyao noS fez. vislumb . A dilerenciar;3.o obrigat6ria entre os ladosrar do corpo e urn casa particular e uma conseqDencia do dua lismo inerente ao pensamento primitivo. Mas as necessida des reHgios que tazem a praerninencia de uma das maos asinevita nao determinam quai del as sera preferida. Como 0 vellado sag e invariavelmente 0 direito e 0 profano 0 es rado qU8(do '? De aco com alguns autores a diferenciagao de direito e rdoesquerclo e inteiramente explicada pe\as regras da orientag3.o religios e d3, adorag3.o ao sol. A POSig8.0 de homem no es a \ pac;;o nao e nem indiferente nem arbitraria. Em suas preces e cerimonias, 0 devoto olha naturalmente para a re~\§.o onde a sol nasce, a fonte de toda a vida. A maior parte das edifi cios sagrados, em diferentes relig i6es, estao voltados para a leste. Dada esta direc;;ao, as partes do corpo sao alas pr6 prias designadas para os pontos cardeais: 0 oeste 8 atras, C sui e a direita,e 0 norte a esquerda. consequentemente, as caraeterlsticas das regi6es ceiestes S8 refletem no corpo hu mana. A luz plena do sol brilha do nOS50 lado direito, en quanta que a sornbra sinistra do norte e projetada a nossa es querda. Considera-se que 0 espetaculo da natureza, 0 con traste entre a luz do dia e as trevas, 0 calor e 0 trio, tenham \ €nsinado ao hornem a distinguir e a opor sua direita e sua \ esquerda.(85) \ Esta expllC3930 se apoi3 ern ideias 10ra de mada sobre con cepgoes naturalistas. 0 mundo externo, com sua luz e sua \ oessambra, enriq\.lece e da prec\sao as nog religiosas que surgem das profundezas da consc'lencia coletiva, mas nao as cria. Seria tacH formular a masma hip6tese ern termos maisa corretos e restringir sua aplicagao ao ponto que nos interess , 85. Ver !v1eyer 1873:27; Jacobs 1892:33. 123· mas ainda iria contra fatos de natureza decisiva.(86} De fato) nao hti nada que nos permita afirmar que as distin~6es apll cadas ao espago sao anteriores as que dizem respeito ao corpo humano. Todos eles tern uma so e a mesma origem, a oposigao entre 0 ~agrado e 0 profano, sendo portanto con 1 cordi:lntes e de muLto apoio, mas nao sao par isso menos in dependentes. Precisamos, portanto, procurar na estrutura do organismo a Iinha divis6ria que dirige 0 fluxo benefico dos I tavores sobrenaturais em diregao do jado direito.(87} II Este ultimo recurso a anatomia nao deveria ser vista como I uma contradigao ou concessao. Urna coisa e explicar a natu reza e a origem de uma forga, outra e determinar 0 ponto ao ~qual se aplica. As leves vantagens ffsicas possufdas pela mao direita sao apenas a ocasiao de uma diferenciagao qua litativa da qual a causa esta al8m do indivfduo, na constitui gao da consciencia coietiva. Uma quase que insignificante Rssimetria corporal e suficiente para virar em urna dir89ao e na outra representag6es contrarias que ja estao completamen 1B formadas. A partir dar, gra9as a plasticidade do organismo, a c03gao 30cial adiclona aos membros opostos e incorpora neles aquelas qualidades de forga e de fraqueza, desterfdade e inercia, que no adu!to parecem surgir espontaneamente da natureza.(88) o desenvolvimento exclusive da mao direita e cOl1siderado, as vezes, cemo um atributo caracteristico do hornem e urn sinal de sua proeminencia moral. Em certo sentido isto e verdade. Por seculos, a paralizagao sistematica do brago esquerdo t8m como outras mutilag6es, expresso a vontade que anima os· hotnellS a fazer 0 sagrado predominar sobre 0 profano, a sa 86. (1) 0 sistema de orienta<;:50 postulado pela teoria. embora muito geraf e prcvavelmente primitivo, esta lange de ser universal; cf. Nissen 1907. (2) /1,s regioes celestiais nao estao caructerizadas uniformemente: por exem· pia, para as indianos e as romanos 0 norte e a regia fausta. habitada por deuses, er:quanto que 0 sui pertence aos mortos.(31 Se as ideias sobre () sol tivessem as fun<;:oes a eias atribufdas, a direita e a esquerda seriam m vertidas entl-e os pO'IOS do hemisferio sui; mas a direita dos australianos fl dos Maori coincide com a nossa. 87. Esta coal(ao e exercida nao apenas na edLiCal(aO propriamente dlta. Illas elll jogos, danps e trabalho que. entre povos primitivos, tem urn carater intensamente ca!eti'lo e ritmico [Bucher 1837). 88. Pode ser ate que a C03y30 r a sele(:;Jo sociai modificaram. a longo pmzo u tipo fisico humano, sc se pudesse provar que a propor<;:2o de canhotos G m1ior entre [lOVOS rJrimitivos que entre civilizacJos. Mas a evidencia e vaga c de pouco peso Cf. Colenso 1868:3113; "Nilson 1891 :3'J e Brinton 1896:175. '124 crWcar os desejos e 0 interesse dos individuos as exigencias sentldas pela consciencia coletiva, e a espiritualizar 0 proprio corpo marcando nele a oposigao de valores e os violentos contrastes do mundo da moralidade. t: porque 0 romem e um ser duplo - homo duplex - que ele possui uma direita e uma esquerda profundamente diferenciadas. I ~.Nao e este 0 lugar para procurara causa e 0 significado desta po!aridade que domina a vida religiosa e se impoe ao proprio corpO. Esta e uma das mais profundas questoes que a cien ciacja relig iao comparativa e da sociolog ia em geral tem que resolver, nao devemos ataca-Ia indiretamente. Talvez tenha mos sido capazes de tl'azer elementos novoS nesta pesquisa. De quatquer modo, nao e sem interesse ver um problema par ticular reduzido a outro que e muito mais gera!. Como os filosofos tem observado com frequencia(89) a distin Gao entre direita e esquerda e um dos artigos essenciais de noss equipamento inteiectual. Parece imposslvel, entao, ex plicaro 0 significado e geneSe desta distingao sem tomar par tido, ao menos implicitamente, de uma ou de outra das doutri nas tradicionais da origem do conhecimento. Que disputaslfavia antigamente entre os partidarios da distin <;80 inata e os partidarios da experiencial E que elegante choque de argumentos diaieticos! A aplicagao de metodo experimental e sociologico a problemas humanos poe tim neste conflito de afirmartnes dogmaticas e contradit6rias. Os que acreditam na capacidade inata de diferenciar ganharam sua vit6ria: as representa<;oes intelectuais e morais da direita e da esquerda sao verdadeiras categorias, anteriores a toda €xperie individual, ja que estao ligados a propria estrutura nciado pensamento social. Mas os advogados da experiencia tam bem estavam certos, pois nao cabe fa!a!" aqui de instintos imu taveis au de dados metaffsicos absolutos. Estas categorias sao trullcendentes apenas em rel8gao ao \ndivtduo: colocados em seu cenario original, a consciencia coletiva, eles aparecem como fatos da natureza, sujeitos a mUdang8 e dependentes de condigoes complexas. Mesmo que, como parece, os diferentes atributos das duas maos, a desteridade de uma e a inepcia da outra, sao em gran de parte trabalho. da vontade humana, 0 sonho da humanidade 89. Em particular, Hamelin 1907:76. 125 dotada com duas "maos direitas" e visionario. Mas do fato de que a ambidesteridade e possIvel nao S8 pode conc!uir que ela e desejavel; as causas sociais que levaram a diferencia9aO das duas mao~ podem ser permanentes. Entretanto, a evo lugao que agora testemunhamos dificilmente justifica tal visao. ft, tendencia a nivelar 0 valor das duas maos nao e um fato isolado ou anormal em nossa cultura. As ideias religiosas antigas que colocam uma distancia intransponivel entre coisas e seres, e que em particular fundou a preponderancia exclusi va da mao direita, estao hoje em retirada completa. Nem 2 estetica nem a moralidade sofreriam com a re./olu<;:ao de se supor que nao existam vantagens fisicas e tecnicas de peso para a humanidade em permitir Clue a mao esquerda atinja 0.0 menos seu' desenvolvimento completo. A distin<;:ao entre 0 bem e 0 mal, que por muito tempo foi so!idaria com a antitese entre 0 direito e 0 esquerdo, nao desaparecerao de nossa consciencia no momento em que a mao esquerda fizeruma contribui<;:ao mais efetiva ao trabalho e for capaz, ocasional Mente, de tomar 0 lugar da direita. Se a coagao de um ideal mfstico loi capaz por muitos seculos de fazer 0 hornem urn ser unilateral, fisiologicamente mutilado, uma comunidade li gerada e perspicaz se empenhara em desenvolver melhor as energias adormecidas no seu lado esquerdo e no nosso hemis ferio cerebral direito, e em assegurar por urn ~reino apropria do, um desenvolvimento mais harmonioso do organismo. Trad. de Alba ZaJuar ReferfJncias BALDWIN, James Mark (1897). Developpement mental dans I'~nfant et dans la race. Paris. BEST, Elsdon (1897). "Tuhoe Land.' TPNZI 30:33-41. (1898a). 'O,nens and suo perstitious beliefs of the Maoris.' JPS 7:119-36,233-43. (1898b). 'The art of t~ie Whare Pora.' TPNZI 31:625-58. (1901). 'Maori magic.' TPNZ/ 34:69-98. (1902). 'Notes on the art of war as conducted by the Maori of New Zealand.' JPS 11:"11 ... 1,47-75.127-62,219-46. ("i904). 'Notes on the custom of rahui.' JPS 13: 83-3, (1905a). 'Maori eschatology.' TPNZI 38: 148-239, (1905b). "The lore of the Whare-Kohanga (Part 1).' 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Nossos departarnentos de antropologia costurnam dar-se par satisfeitos quando urn colega chega a passar seis meses "no campo". A FUNAI padece com a ca rencia de quadros para a trabalho de base e mal consegue preencher as posir;:6es de chefia nos pastas ja instalados. Mas as agencias de missilo protestante nao parecem ter pro blemas de pessoal - ha sprnpre recursos disponi'lei~ e uma longa lista de candidatos a espera da licenga alicial para fazer mais uma entrada na mata. THE FO,W FOUNDATION !Fundayao FORO}
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