Prévia do material em texto
G EO G R A FI A 105Editora Bernoulli O fim do mandato de Reza Pahlevi ocorreu com a Revolução Islâmica, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, que implantou no país um regime teocrático, submetendo os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário à autoridade religiosa, representada na figura do aiatolá. O Governo iraniano aprofundou-se nas leis muçulmanas e distanciou-se politicamente do Ocidente durante o regime do aiatolá Khomeini, que vigorou até a sua morte em 1989. Os momentos mais tensos do período ocorreram durante a longa guerra travada com o vizinho Iraque, apoiado pelos Estados Unidos, entre os anos de 1980 e 1988. Os governos seguintes foram moderados e aproximaram-se do Ocidente ao implantar lentamente reformas liberalizantes, que tinham que passar pelo crivo do Conselho dos Guardiões, que protege o regime. Em 2005, Mahmound Ahmadinejad foi eleito presidente do Irã. Considerado um defensor radical dos valores da Revolução Islâmica, seu governo é marcado pela defesa do programa nuclear iraniano. Ahmadinejad é ultraconservador em questões sociais. Quando foi prefeito de Teerã, capital iraniana, instituiu elevadores separados para homens e mulheres em prédios municipais, proibiu festas mistas e o uso de roupas “não islâmicas”. Fez a sua campanha eleitoral exortando o Irã a resgatar os valores da Revolução Islâmica de 1979. Os setores mais moderados do governo se opuseram à política de Ahmadinejad, pois viram com receio a forma como o presidente conduzia a política e a economia do país. Ahmadinejad foi implacável com os críticos, prendendo dissidentes e fechando os meios de comunicação que se opunham ao Governo. Em 2009, o Irã realizou novas eleições, e o candidato oposicionista Mir Hossein Mousavi, em função do apoio que vinha recebendo da população, tinha potencial de vencer Mahmound Ahmadinejad. Porém, as eleições apontaram o contrário, e Ahmadinejad venceu em primeiro turno com mais de 60% dos votos. Esse fato incitou uma grande onda de violência, e muitos manifestantes inconformados enfrentaram as milícias do governo, alegando fraude nas eleições. A revolta foi reprimida violentamente pelos militares e, embora oficialmente tenha sido declarada a morte de cerca de 20 pessoas, a oposição afirma que morreram mais de 70. Mousavi reivindicou a anulação e a convocação de novas eleições. Ali Khamenei, líder religioso do país, condenou os protestos populares e afirmou que o processo eleitoral foi justo. O Conselho dos Guardiães apenas concordou em promover uma recontagem de votos das urnas consideradas irregulares, porém Ahmadinejad foi reafirmado como vencedor. Nos meses que se seguiram, voltaram a ocorrer embates entre oposicionistas e as forças do governo. As potências ocidentais acusaram o governo iraniano de fazer uso de tecnologia de enriquecimento de urânio com o objetivo de fabricar armas nucleares, embora o país insista em afirmar que sua atividade possui apenas fins pacíficos. Após a eleição de Ahmadinejad em 2005, os atritos quanto a esse fato se tornaram ainda mais sérios. Em 2006, Ahmadinejad declarou que o país já tinha domínio da tecnologia de enriquecer urânio e, em 2007, afirmou que poderia produzir combustível nuclear em escala industrial. IRAQUE A constituição do Iraque enquanto país está diretamente relacionada ao imperialismo britânico do início do século XX, que ajudou o país a se tornar oficialmente independente em 1932. As fronteiras criadas pelos ingleses englobam povos de diferentes nacionalidades e religiões, como os árabes, turcomanos, curdos e armênios. As rivalidades entre grupos étnicos e religiosos, os conflitos territoriais com o Irã e o Kuwait e, por último, a situação de alvo na guerra contra o terrorismo promovida pelos EUA são os elementos responsáveis pela grande instabilidade política do país nas últimas décadas. Colabora também a riqueza em petróleo, que coloca o país em posição central no jogo de interesses que compõem a geopolítica dos países dominantes. O Iraque foi uma peça importante durante a Guerra Fria. A monarquia, herdeira do poder após o imperialismo e de orientação pró-ocidental, foi deposta num golpe que colocou no poder Abdul Karim Kassem, cuja política contrariou os interesses imperialistas: o Iraque aproximou-se da URSS e da China, passou a disputar com a Arábia a liderança no mundo árabe e decretou leis limitando os interesses estadunidenses e ingleses, restrigindo o lucro da multinacional Iraq Petroleum Company. Karim Kassem foi deposto e assassinado em 1963 por um golpe organizado pela CIA, com a participação de Saddam Hussein. A posterior ascensão de Saddam Hussein ao poder foi acompanhada por um discurso cada vez mais nacionalista, portanto, contrário aos Estados Unidos. Saddam liderou o país em conflitos, na tentativa de conquistar territórios reivindicados pelos iraquianos no Irã (1980-1988) e no Kuwait (1990-1991). Foi deposto e condenado à morte Focos de tensão: Oriente Médio II 106 Coleção Estudo durante a invasão e ocupação imposta no Iraque pelos Estados Unidos e seus aliados a partir de 2003. Sua atuação como ditador foi marcante na repressão à oposição xiita, que é maioria no Iraque (Saddam era árabe e fazia parte da minoria sunita), e às reivindicações de autonomia dos curdos, nação que predomina no norte do território iraquiano. A ocupação do Iraque pelos EUA, que não foi aprovada pela ONU e por outros atores políticos internacionais, teve como pretexto a suposta fabricação de armas químicas e de destruição em massa em território iraquiano, além de acusações de financiamento do terrorismo. Apesar dos resultados obtidos, que não confirmaram as suspeitas de fabricação de armas, a ocupação das tropas norte- americanas colaborou com a instabilidade política do país e provocou um intenso quadro de insegurança no Iraque, fruto da atuação de grupos contrários à ocupação. A situação atual no país é caótica. A violência atinge árabes sunitas, xiitas e curdos (muçulmanos sunitas), provocando milhares de mortes todos os anos. Cotidianamente, ocorrem atentados suicidas, sequestros, saques que atingem alvos distintos, sejam eles jornalistas estrangeiros, soldados da força de ocupação ou mesmo a população civil, qualquer que seja sua etnia ou sua orientação religiosa. O poder instituído pelos norte-americanos não possui legitimidade e não consegue conter a atuação dos grupos armados, adiando a retirada das tropas estrangeiras. Iraque N KUWAIT SÍRIA IRÃ ARÁBIA SAUDITA TURQUIA Mar Cáspio JORDÂNIA 248 km0 5% 60% 15% 20% Árabes xiitas Árabes sunitas Curdos Outros Área mista de árabes sunitas e curdos Área mista de árabes xiitas e sunitas Área pouco povoadaÁrabes sunitas Árabes xiitasCurdos BagdáBagdá Fonte: Enciclopédia Britânica Os curdos Os curdos correspondem à maior etnia sem Estado do mundo, podendo ser encontrados na Turquia, Iraque, Irã, Armênia e Azerbaijão. Porém, os contingentes mais expressivos desse povo encontram-se situados em território turco. São de maioria islâmica e sunita. Desde o início da ocupação do Iraque, os curdos representam a única etnia favorável à presença de militares estrangeiros na região. Embora almejem a criação de um Estado independente, buscam também, na atualidade, preservar o controle que possuem na área situada ao norte do Iraque. Em 1984, quando foi fundado o principal grupo separatista curdo, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), chefiado por Abdullah Ocalan, instalou-se uma grande instabilidade na região, já que os curdos se lançaram em luta armada contra os iraquianos. Durante a Guerra Irã-Iraque, em 1988, o exército de Saddam Hussein exterminou milhares de curdos com o uso de armas químicas. Na década de 1990, após a Guerra do Golfo (1990-1991), muitos curdos tentaram fugir do Iraque pelaregião montanhosa situada ao norte do país, na fronteira com a Turquia e o Irã. Em 1995, a Turquia responsabilizou os curdos por ataques terroristas em solo turco e enviou soldados para as montanhas do Iraque com o objetivo de controlar a ação dos separatistas. Em 1999, Abdullah Ocalan, líder do PKK, foi capturado e condenado à morte (em 2002, porém, a condenação mudou para prisão perpétua). Em função disso, ocorreu uma série de atentados na Turquia e na Síria. Em 2001, em função de pressões por parte da União Europeia para que os Direitos Humanos fossem respeitados, o governo da Turquia atendeu a uma reivindicação histórica dos curdos, e o ensino da língua curda foi liberado parcialmente. Com a queda de Saddam, empreendida pelos norte-americanos, os curdos apoiaram as tropas estrangeiras e reforçaram a autonomia territorial na porção setentrional do país. Em meados de 2008, os iraquianos acusaram os turcos de realizarem ataques ao norte do Iraque e exigiriam a retirada dos militares; assim, o exército turco retornou ao país após matar cerca de 240 guerrilheiros curdos. Nos meses que se seguem, os conflitos prosseguiram e ocorreram novas incursões militares, e, com isso, o PKK realizou ataques na Turquia. Em 2009, foi anunciado um plano de paz em que o PKK abria mão da criação do Estado curdo mas reivindicava mudanças constitucionais para aumentar os seus direitos. Porém, isso não aconteceu, ocorrendo divergências e surgindo, assim, uma nova onda de violência. Frente C Módulo 12 G EO G R A FI A 107Editora Bernoulli 62 km0 N ARMÊNIA 2 971 650 1,3% IRÃ 65 397 521 7% IRAQUE 27 499 638 15% - 20% TURQUIA 71 158 647 20% SÍRIA LÍBANO JORDÂNIA ISRAEL ARÁBIA SAUDITA AZERBAIJÃO Zona de população majoritariamente curda Van Mossul Ierevan Bakú Teerã Beirute Tel Aviv Damasco Amã Cisjordânia Bagdá Gaziantep MAR NEGRO M AR M ED IT ER RÂ N EO MAR CÁSPIO Curdistão Faixa de Gaza Jerusalém Curdistão iraquiano 3 500 rebeldes do PKK estão no Norte do Iraque, segundo Ancara 40 mil forças turcas estão nas províncias junto à fronteira com o Iraque População total aproximada População curda aproximada Fonte: Folha Online LEITURA COMPLEMENTAR Texto I Obama anuncia morte de Bin Laden em operação militar Alessandra Corrêa, da BBC Brasil em Washington Quase dez anos depois dos atentados de 11 de setembro, o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou na madrugada desta segunda-feira que forças dos Estados Unidos mataram o fundador e líder da rede Al-Qaeda, Osama Bin Laden. Em um pronunciamento exibido ao vivo pela televisão às 23h35 de domingo em Washington (0h35 de segunda-feira no Brasil), Obama afirmou que Bin Laden foi morto em uma operação comandada pelos Estados Unidos no interior do Paquistão. “Nesta noite, posso relatar ao povo americano e ao mundo que os Estados Unidos conduziram uma operação que matou Osama Bin Laden, o líder da Al-Qaeda, e um terrorista que é responsável pelo assassinato de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes”, disse o presidente americano. “Justiça foi feita”, acrescentou Obama, ao anunciar a morte de Bin Laden no discurso transmitido da Casa Branca. Focos de tensão: Oriente Médio II 108 Coleção Estudo O líder da Al-Qaeda era acusado de comandar dezenas de atentados, incluindo as explosões em duas embaixadas americanas no Leste da África em 1998 e os ataques de 11 de setembro de 2001, que mataram cerca de 3 mil pessoas no World Trade Center, em Nova York, e no Pentágono, em Washington. Bin Laden ocupava o primeiro lugar na lista de criminosos mais procurados pelos Estados Unidos, e as forças americanas tentavam capturá-lo desde antes de 2001. Antes mesmo da confirmação de Obama, centenas de pessoas portando bandeiras americanas já se reuniam em frente à Casa Branca para comemorar a notícia. Detalhes Segundo Obama, a operação que levou à morte de Bin Laden foi autorizada por ele na semana passada, após vários meses de coleta de informações de inteligência. O presidente disse que, em agosto do ano passado, “depois de anos de trabalho meticuloso” da inteligência americana, ele foi informado sobre pistas que poderiam levar a Bin Laden. O presidente disse que manteve diversos encontros com sua equipe de segurança nacional e novas informações indicaram que Bin Laden estaria escondido em um complexo no interior do Paquistão. “Na semana passada, eu decidi que tínhamos informações de inteligência suficientes para agir e autorizei uma operação para capturar Osama Bin Laden e trazê-lo à Justiça”, afirmou. Obama disse que a operação foi conduzida por um “pequeno time de americanos” e não houve civis feridos. “Depois de uma troca de tiros, eles mataram Osama Bin Laden e assumiram a custódia de seu corpo”, afirmou o presidente. Informações posteriores veiculadas pela imprensa americana dizem que o corpo de Bin Laden foi jogado ao mar. EUA “vigilantes” “A morte de Bin Laden marca a realização mais significativa até hoje nos esforços de nossa nação para derrotar a Al-Qaeda”, disse Obama. “No entanto, sua morte não marca o fim dos nossos esforços.” Segundo o presidente americano, a Al-Qaeda deve continuar a tentar realizar novos ataques contra os Estados Unidos. “Precisamos continuar vigilantes, em casa e no exterior”, acrescentou. Obama afirmou ainda que os Estados Unidos “não estão e nunca estarão em guerra contra o Islã”, lembrando que Bin Laden não era um líder muçulmano, e sim um “assassino” de muçulmanos. “Na verdade, a Al-Qaeda massacrou inúmeros muçulmanos em muitos países, incluindo o nosso. Por isso, sua morte deve ser bem recebida por todos os que acreditam na paz e na dignidade humana”, completou. Disponível em: . Acesso em: 02 mai. 2011. Texto II Morte de Bin Laden não significa fim da Al-Qaeda, diz especialista Ahmed Rashid Especialista em Talebã e Paquistão A morte de Osama Bin Laden é um duro golpe para a organização que ele liderava, a Al-Qaeda, mas a rede ainda possui uma grande capacidade de realizar ataques por conta de sua natureza descentralizada. A operação realizada por soldados americanos e paquistaneses na cidade de Abbotabad, nos arredores da capital paquistanesa, Islamabad, eliminou o maior símbolo da Al-Qaeda e o extremista mais procurado do mundo há dez anos. Entretanto, como têm apontado diversos analistas, há tempos Osama Bin Laden não é mais o comandante operacional da Al-Qaeda, responsável direto pelo planejamento dos ataques. Isto cabe ao que será agora alçado ao posto de primeiro da rede, Ayman al-Zawahiri. Expulso do Afeganistão e restringido por ataques de aviões americanos não-tripulados nas áreas tribais do Afeganistão, Bin Laden já estava em uma posição de desvantagem. Mais importante, há anos a Al-Qaeda abandonou um modelo hierárquico altamente centralizado – no qual os líderes supervisionavam diretamente todo o recrutamento, o treinamento e a distribuição das missões – para se transformar em algo muito mais amorfo e impalpável. Hoje, a filosofia da Al-Qaeda é “um homem, uma bomba”. A rede virou uma espécie de “franquia” que também atua através de grupos aliados ou inspirados por sua filosofia. A rede já não precisa de um segundo 11 de Setembro para deixar sua marca. Uma única bomba disposta em qualquer lugar do mundo por um suicida dedicado, desde que inspirado por Bin Laden e seus seguidores, é suficiente para indicar que a rede permanece viva e ativa. Frente C Módulo 12