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<p>Programa Mais Médicos para o Brasil</p><p>2ª edição</p><p>EIXO 1 | PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DO SUS E DA</p><p>ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE</p><p>Princípios da</p><p>Medicina de Família</p><p>e Comunidade</p><p>MÓDULO 03</p><p>EIXO 1 | PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DO SUS E DA</p><p>ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE</p><p>Princípios da</p><p>medicina de família</p><p>e comunidade</p><p>MÓDULO 03</p><p>Programa Mais Médicos para o Brasil</p><p>Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul (Fiocruz MS)</p><p>Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)</p><p>2023</p><p>2ª edição</p><p>Instituições patrocinadoras:</p><p>Ministério da Saúde</p><p>Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS)</p><p>Secretaria-Executiva da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS)</p><p>Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)</p><p>Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul (Fiocruz MS)</p><p>Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)</p><p>Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo (FapUnifesp)</p><p>Coordenação da UNASUS/UNIFESP</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>B823p</p><p>Brasil. Ministério da Saúde.</p><p>Princípios da medicina de família e comunidade [módulo 3] / Ministério da</p><p>Saúde, Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul, Universidade Federal</p><p>de São Paulo. - 2. ed. - Brasília : Fundação Oswaldo Cruz, 2023.</p><p>Inclui referências.</p><p>45 p. : il., tabs. (Projeto Mais Médicos para o Brasil. Princípios e fundamentos</p><p>do SUS e da atenção primária à saúde ; 1).</p><p>ISBN: 978-65-84901-30-8</p><p>1. Atenção básica. 2. Medicina de família. 3. Sistema Único de Saúde. 4. UNA-</p><p>SUS. I. Título II. Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul. III. Universidade</p><p>Federal de São Paulo. IV. Série.</p><p>CDU 610</p><p>Bibliotecária: Juliana Araújo Gomes de Sousa | CRB1 3349</p><p>Ficha Técnica</p><p>© 2023. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Aberta do SUS. Fundação Oswaldo Cruz.</p><p>Universidade Federal de São Paulo.</p><p>Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação e utilização dessa obra,</p><p>em parte ou em sua totalidade, nos termos da licença para usuário final do Acervo de Recursos</p><p>Educacionais em Saúde (ARES). Deve ser citada a fonte e é vedada a sua utilização comercial.</p><p>Referência bibliográfica</p><p>MINISTÉRIO DA SAÚDE. FIOCRUZ MATO GROSSO DO SUL. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO</p><p>PAULO. Atenção primária à saúde e estratégia de saúde da família: bases históricas, políticas e</p><p>organizacionais [módulo 2]. 2. ed. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Projeto Mais Médicos para o Brasil.</p><p>Eixo 1: Princípios e fundamentos do SUS e da atenção primária à saúde. Brasília: Ministério da</p><p>saúde, 2023. 80 p.</p><p>Ministério da Saúde</p><p>Nísia Trindade Lima | Ministra</p><p>Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS)</p><p>Nésio Fernandes de Medeiros Junior| Secretário</p><p>Departamento de Saúde da Família (DESF)</p><p>Ana Luiza Ferreira Rodrigues Caldas| Diretora</p><p>Coordenação Geral de Provimento Profissional (CGPROP)</p><p>Wellington Mendes Carvalho | Coordenador</p><p>Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)</p><p>Mario Moreira | Presidente</p><p>Secretaria-executiva da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS)</p><p>Maria Fabiana Damásio Passos | Secretária-executiva</p><p>Coordenação de Monitoramento e Avaliação de Projetos e Programas (UNA-SUS)</p><p>Alysson Feliciano Lemos | Coordenador</p><p>Assessoria de Planejamento (UNA-SUS)</p><p>Aline Santos Jacob</p><p>Assessoria Pedagógica (UNA-SUS)</p><p>Márcia Regina Luz</p><p>Sara Shirley Belo Lança</p><p>Revisor Técnico-Científico UNA-SUS</p><p>Paula Zeni Miessa Lawall</p><p>Rodrigo Luciano Bandeira de Lima</p><p>Rodrigo Pastor Alves Pereira</p><p>Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)</p><p>Nelson Sass | Reitor</p><p>Raiane Patricia Severino Assumpção | Vice-Reitora</p><p>Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) | Pró-reitoria de Extensão</p><p>Taiza Stumpp Teixeira | Pró-Reitora</p><p>Coordenação Geral Projeto UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Jorge Harada | Coordenador Geral</p><p>Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo (FapUnifesp)</p><p>Maria José da Silva Fernandes | Diretora Presidente</p><p>Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul (Fiocruz MS)</p><p>Jislaine de Fátima Guilhermino | Diretora</p><p>Coordenação Geral UNA-SUS/Fiocruz MS</p><p>Débora Dupas Gonçalves do Nascimento | Coordenadora Geral</p><p>Coordenação Geral de Garantia dos Atributos para APS</p><p>Amanda Firme Carletto</p><p>Beatriz Zocal da Silva</p><p>Michelle Leite da Silva</p><p>Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul (Fiocruz MS)</p><p>Rua Gabriel Abrão, 92 – Jardim das Nações, Campo Grande/MS</p><p>CEP 79081-746</p><p>Telefone: (67) 3346-7220</p><p>E-mail: educacao.ms@fiocruz.br</p><p>Site: www.matogrossodosul.fiocruz.br</p><p>Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)</p><p>Coordenação da UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Rua Sena Madureira, 1.500 - Vila Mariana, São Paulo/SP</p><p>CEP 04021-001</p><p>Telefone: (11) 3385-4126</p><p>E-mail: secretaria.unasus@unifesp.br</p><p>Créditos</p><p>Revisor Técnico-Científico UNA-SUS</p><p>Carolina Lopes de Lima Reigada</p><p>Liz Ponnet</p><p>Paula Zeni Miessa Lawall</p><p>Rodrigo Luciano Bandeira de Lima</p><p>Rodrigo Pastor Alves Pereira</p><p>Designer Gráfico UNA-SUS</p><p>Claudia Schirmbeck</p><p>Apoio Técnico UNA-SUS</p><p>Acervo de Recursos Educacionais em Saúde (ARES) – UNA-SUS</p><p>Fhillipe de Freitas Campos</p><p>Juliana Araujo Gomes de Sousa</p><p>Tainá Batista de Assis</p><p>Engenheiro de Software UNA-SUS</p><p>José Rodrigo Balzan</p><p>Onivaldo Rosa Júnior</p><p>Desenvolvedor de Moodle UNA-SUS</p><p>Claudio Monteiro</p><p>Jaqueline de Carvalho Queiroz</p><p>Josué de Lacerda Silva</p><p>Luciana Dantas Soares Alves</p><p>Lino Vaz Moniz</p><p>Márcio Batista da Silva</p><p>Rodrigo Mady da Silva</p><p>Coordenador Geral UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Jorge Harada</p><p>Coordenador Adjunto UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Paulo Bandiera Paiva</p><p>Coordenador Acadêmico UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Daniel Almeida Gonçalves</p><p>Coordenação Pedagógica UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Ana Lucia Pereira</p><p>Rita Maria de Lino Tarcia</p><p>Maria Elizabete Salvador Graziosi</p><p>Coordenador de Produção UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Felipe Vieira Pacheco</p><p>Coordenação de Tecnologia da Informação UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Daniel Lico dos Anjos Afonso</p><p>Marlene Sakumoto Akiyama</p><p>Desenvolvedor UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Sidnei de Cerqueira</p><p>Analista de Infraestrutura e Rede UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Rogério Alves Lourenço</p><p>Analistas de Banco de dados e Infraestrutura UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Fernanda Aparecida Sobral</p><p>Marcelo Augusto Leonardeli</p><p>Suporte Técnico UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Yuri Campos Ratao</p><p>Designer Instrucional UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Felipe Vieira Pacheco</p><p>Designer Gráfico UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Aline Maruyama</p><p>Webdesigner UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Lucas Andrioli</p><p>Editor de Audiovisual UNA-SUS/UNIFESP</p><p>Laura Videira</p><p>Coordenador Geral UNA-SUS/Fiocruz MS</p><p>Débora Dupas Gonçalves do Nascimento</p><p>Coordenador Acadêmico UNA-SUS/Fiocruz MS</p><p>Milene da Silva Dantas Silveira</p><p>Coordenador de Produção Pedagógica UNA-SUS/Fiocruz MS</p><p>Sílvia Helena Mendonça de Moraes</p><p>Designer Instrucional Fiocruz MS</p><p>Marcos Paulo dos Santos de Souza</p><p>Coordenador de produção Fiocruz MS</p><p>Janaína Rolan Loureiro</p><p>Desenvolvedores Fiocruz MS</p><p>Janaína Rolan Loureiro</p><p>Leandro Koiti Oguro</p><p>Regina Beretta Mazaro</p><p>Conteudista</p><p>Daniel Almeida Gonçalves</p><p>Gabriela Alves de Oliveira Hidalgo</p><p>Revisor</p><p>Davi Bagnatori Tavares</p><p>Sumário</p><p>Apresentação 10</p><p>Objetivo geral de aprendizagem do módulo 11</p><p>Carga horária de estudo recomendada para este módulo 11</p><p>1. Princípios da medicina de família e comunidade e suas</p><p>competências 12</p><p>Objetivos de aprendizagem 13</p><p>Introdução da unidade 13</p><p>1.2 - Médico de família e comunidade: especialista em gente 18</p><p>1.3 - Princípios da medicina de família e comunidade e</p><p>competências nucleares 19</p><p>1.3.1 - O Médico de Família e Comunidade é um</p><p>clínico qualificado 20</p><p>1.3.2 - A atuação do Médico de Família e Comunidade</p><p>é influenciada pela comunidade 21</p><p>1.3.3 - O Médico de Família e Comunidade é um recurso</p><p>de uma população definida 22</p><p>1.3.4 - A relação médico-pessoa é fundamental para o</p><p>desempenho do Médico de Família e Comunidade 24</p><p>1.3.5 - As competências nucleares da Medicina de Família</p><p>e Comunidade 25</p><p>Fechamento da unidade 29</p><p>2. A abordagem centrada na pessoa, comunicação clínica efetiva,</p><p>abordagem familiar e comunitária e outras ferramentas para a</p><p>prática clínica 30</p><p>Objetivos de aprendizagem 31</p><p>Introdução da unidade 31</p><p>2.1 - Método clínico centrado na pessoa 31</p><p>2.2 - Comunicação clínica efetiva 33</p><p>2.3 - Abordagem familiar e comunitária 34</p><p>2.4 - Mais ferramentas para a prática clínica 35</p><p>2.4.1 - Trabalho em equipe 35</p><p>2.4.2 - Registro clínico orientado por problemas 36</p><p>2.4.3 - Gestão da clínica 36</p><p>2.4.4</p><p>http://lattes.cnpq.br/3012662780540204</p><p>45</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>Programa Mais Médicos para o Brasil</p><p>EIXO 1 | PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DO SUS E DA</p><p>ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE</p><p>REALIZAÇÃO</p><p>Princípios da Medicina de Família e</p><p>Comunidade</p><p>MÓDULO 03</p><p>2ª edição</p><p>Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul (Fiocruz MS)</p><p>Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)</p><p>_heading=h.4d34og8</p><p>_heading=h.2s8eyo1</p><p>_heading=h.17dp8vu</p><p>_heading=h.26in1rg</p><p>_heading=h.lnxbz9</p><p>_heading=h.2jxsxqh</p><p>_heading=h.z337ya</p><p>_heading=h.1y810tw</p><p>Apresentação</p><p>Objetivo geral de aprendizagem do módulo</p><p>Carga horária de estudo recomendada para este módulo</p><p>Princípios da medicina de família e comunidade e suas competências</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Introdução da unidade</p><p>1.2 - Médico de família e comunidade: especialista em gente</p><p>1.3 - Princípios da medicina de família e comunidade e competências nucleares</p><p>1.3.1 - O Médico de Família e Comunidade é um clínico qualificado</p><p>1.3.2 - A atuação do Médico de Família e Comunidade é influenciada pela comunidade</p><p>1.3.3 - O Médico de Família e Comunidade é um recurso de uma população definida</p><p>1.3.4 - A relação médico-pessoa é fundamental para o desempenho do Médico de Família e Comunidade</p><p>1.3.5 - As competências nucleares da Medicina de Família e Comunidade</p><p>Fechamento da unidade</p><p>A abordagem centrada na pessoa, comunicação clínica efetiva, abordagem familiar e comunitária e outras ferramentas para a prática clínica</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Introdução da unidade</p><p>2.1 - Método clínico centrado na pessoa</p><p>2.2 - Comunicação clínica efetiva</p><p>2.3 - Abordagem familiar e comunitária</p><p>2.4 - Mais ferramentas para a prática clínica</p><p>2.4.1 - Trabalho em equipe</p><p>2.4.2 - Registro clínico orientado por problemas</p><p>2.4.3 - Gestão da clínica</p><p>2.4.4 - Prevenção quaternária e os níveis de prevenção</p><p>2.4.5 - Epidemiologia clínica e vigilância em saúde</p><p>Fechamento da unidade</p><p>Encerramento do</p><p>módulo</p><p>Referências</p><p>Biografia dos</p><p>conteudistas</p><p>- Prevenção quaternária e os níveis de prevenção 37</p><p>2.4.5 - Epidemiologia clínica e vigilância em saúde 38</p><p>Fechamento da unidade 40</p><p>Encerramento do módulo 41</p><p>Referências 42</p><p>Biografia dos conteudistas 44</p><p>Apresentação</p><p>Olá, caro profissional-estudante.</p><p>Seja bem-vindo ao módulo 3 - Princípios da Medicina de Família e Comunidade.</p><p>Neste módulo, vamos aprofundar o conhecimento sobre a Medicina de Família e</p><p>Comunidade (MFC).</p><p>Você vai conhecer os princípios dessa especialidade médica e o conjunto de suas</p><p>características e especificidades, o que favorecerá sua compreensão do signifi-</p><p>cado de ser Médico de Família e Comunidade e auxiliará na construção da sua</p><p>identidade ao longo deste curso de especialização. Você também terá a oportu-</p><p>nidade de compreender que a MFC tem uma responsabilidade com a pessoa que</p><p>vai além da doença.</p><p>A assistência nessa especialidade abrange todo o ciclo de vida das pessoas, do</p><p>pré-natal ao fim da vida e tem como premissa o cuidado clinicamente compe-</p><p>tente em que o Médico de Família e Comunidade analisa as múltiplas dimensões</p><p>do indivíduo, considerando a família e o contexto de vida das pessoas, com olhar</p><p>sistêmico e comunitário.</p><p>Neste módulo, você vai estudar, também, as competências nucleares e ferramen-</p><p>tas fundamentais para uma prática abrangente e resolutiva, tendo como referên-</p><p>cia os princípios que regem essa especialidade médica.</p><p>Para organizar o nosso estudo, o módulo 3 foi dividido em duas unidades de ensino:</p><p>1. Princípios da medicina de família e comunidade e suas competências</p><p>2. A abordagem centrada na pessoa, comunicação efetiva, abordagem</p><p>familiar e comunitária e outras ferramentas para a prática clínica</p><p>Vamos caminhar juntos nesse aprendizado desejando que você realize bons estudos.</p><p>OBJETIVO GERAL DE APRENDIZAGEM DO MÓDULO</p><p>Reconhecer possibilidades de reorganização da sua prática profissional de maneira</p><p>a aproximar seu cotidiano dos princípios de família e comunidade, compreendendo</p><p>a importância das competências nucleares da MFC e de suas ferramentas, assim</p><p>como a relação delas com sua rotina de trabalho.</p><p>CARGA HORÁRIA DE ESTUDO RECOMENDADA PARA ESTE MÓDULO</p><p>Para estudar todos os conceitos abordados, bem como trilhar todo o processo</p><p>ativo de aprendizagem, estabelecemos uma carga horária de 15 horas para</p><p>esse módulo.</p><p>Princípios da</p><p>medicina de família</p><p>e comunidade e</p><p>suas competências</p><p>UNIDADE 01</p><p>13</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>• Entender os princípios da Medicina de Família e Comunidade;</p><p>• Conhecer aspectos históricos da Medicina de Família e Comunidade no</p><p>Brasil e em outros países;</p><p>• Reconhecer as competências nucleares da MFC;</p><p>• Demonstrar como as competências nucleares da Medicina de Família e</p><p>Comunidade se relacionam com a prática profissional.</p><p>INTRODUÇÃO DA UNIDADE</p><p>Nesta primeira unidade, vamos contextualizar a história da Medicina de Família e</p><p>Comunidade (MFC) no Brasil e no mundo, além de apresentar os princípios e as</p><p>competências nucleares dessa especialidade, auxiliando-o a compreender a impor-</p><p>tância e a relação desses pressupostos com seu cotidiano de trabalho.</p><p>1.1 - BREVE HISTÓRICO E ORGANIZAÇÃO DA MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNI-</p><p>DADE NO BRASIL E EM OUTROS PAÍSES</p><p>Antes de abordarmos as características e princípios da MFC, é importante que você</p><p>conheça brevemente alguns fatos marcantes que a consolidaram como uma espe-</p><p>cialidade médica. Para além do simples conhecimento dos fatos, procure refletir</p><p>sobre o contexto ideológico em que essa história se construiu. Essa reflexão ajudará</p><p>você a entender, com mais clareza, os princípios que norteiam, não só a especiali-</p><p>dade, mas também nosso próprio sistema de saúde.</p><p>O conhecimento de tal ideário, com suas contradições e sua diversidade de pontos</p><p>de vista, auxiliará também seu entendimento das competências nucleares e da</p><p>forma como as mesmas irão sustentar sua prática na atenção primária.</p><p>Figura 1: Representação de Hipócrates, e a medicina geral em diversos tempos</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>14</p><p>A história desta especialidade se confunde com a própria história da medicina, pois,</p><p>ainda na Grécia Antiga, Hipócrates, na escola médica de Kos, já postulava que “não</p><p>existem doenças, mas sim pacientes”, aproximando-se, desde então, de uma pers-</p><p>pectiva centrada na pessoa.</p><p>Dando um grande salto na história, já no século XVIII e início do XIX, em meio às</p><p>transformações socioculturais e tecnológicas advindas da Revolução Francesa e</p><p>da Revolução Industrial, apareceram os termos family doctor e médico de cabeceira,</p><p>em referência ao médico generalista que provia cuidado nas casas e à beira das</p><p>camas, assim como dava atenção a questões sociofamiliares.</p><p>É interessante, nessa perspectiva, constatar que o século XIX foi um período de</p><p>grande desenvolvimento da prática da medicina geral na Europa e na América do</p><p>Norte, sendo que, até o início do século XX, muitas famílias tinham seus médicos</p><p>que cuidavam de todos os seus membros no decorrer do tempo e atuavam como</p><p>conselheiros, líderes e epidemiologistas locais. Esses profissionais tinham a missão</p><p>de lidar com a maioria dos problemas de saúde existentes nas comunidades, fazendo</p><p>frente às limitações científicas de seu tempo.</p><p>O decorrer do século XX, a seguir, foi marcado por grande evolução técnico-cien-</p><p>títica em geral e em especial no campo da saúde, iniciando-se, com isso, um pro-</p><p>cesso de marcada subdivisão e especialização das áreas de atuação médica, dei-</p><p>xando a abordagem generalista à margem desse processo. Por não atuar com</p><p>órgãos e sistemas orgânicos específicos, tampouco utilizar as modernas tecnolo-</p><p>gias de cuidado, como acontece hoje em dia em áreas como cardiologia e radiolo-</p><p>gia, por exemplo, a medicina geral perdeu prestígio, passando a ser considerada,</p><p>inadequadamente, ultrapassada ou defasada.</p><p>Observe a forma como se construiu, então, uma distorção de conceitos associando</p><p>a modernidade e eficiência das tecnologias à fragmentação do cuidado advinda</p><p>das diferentes especializações.</p><p>Durante um longo período, construiu-se, em decorrência disso, o entendimento</p><p>de que, para a prática da medicina geral, os médicos recém-formados, ainda não</p><p>especializados, estavam aptos, cabendo a prática nas demais áreas aos especialis-</p><p>tas pós-graduados.</p><p>Para reveter esse entendimento distorcido, por volta da década de 40, ocorreram</p><p>movimentos nos EUA e no Reino Unido apontando para a necessidade de pós-gra-</p><p>duação também para atuação na medicina geral. Esses movimentos buscaram</p><p>mostrar a importância de uma abordagem holística dos indivíduos e de suas famí-</p><p>lias. Em 1947, surgiu, em decorrência desses esforços, a primeira associação cien-</p><p>tífica de medicina de família: a American Academy of General Practice.</p><p>Em contraponto a esse viés generalista, a perspectiva de subdivisão das especiali-</p><p>dades médicas seguia ganhando força e, na segunda metade do século XX, a grande</p><p>maioria dos médicos buscava alguma especialização focada em sistemas ou tec-</p><p>nologias, mantendo a prática generalista ainda desprestigiada. Contudo, como o</p><p>foco no cuidado fragmentado distanciou a atuação médica das pessoas do ponto</p><p>15</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>de vista holístico e encareceu os sistemas de saúde, paulatinamente, se começou</p><p>a questionar a ineficiência relativa desse formato de atuação médica.</p><p>Como consequência desse questionamento, a prática da medicina geral passou</p><p>gradativamente a ser vista não mais como um conjunto indiferenciado de conhe-</p><p>cimentos, mas sim como uma área de especialização com seu próprio corpo de</p><p>conhecimento. Nessa linha de entendimento, entre as décadas de 1960 e 1970</p><p>surgiu, na Europa e nos EUA, a especialidade em Medicina de Família1.</p><p>Como profissional formado em pleno século XXI, certamente você tem a compre-</p><p>ensão de que essa oposição entre as duas linhas de abordagem é inadequada, por</p><p>ser fruto de uma falsa premissa</p><p>de hierarquização entre elas. No mundo contem-</p><p>porâneo, com o avanço da ciência e com a miríade de conhecimentos e linhas de</p><p>pesquisa na área de saúde e, principalmente com a ressignificação dos conceitos</p><p>de promoção e prevenção em saúde, ambas as abordagens têm seu lugar e res-</p><p>pectivos campos de atuação, por exercerem diferentes funções em uma perspec-</p><p>tiva do cuidado baseada na densidade tecnológica de cada um dos níveis de atenção</p><p>– primária, secundária e terciária –, que se define em uma relação poliárquica, sem</p><p>que um do níveis seja hierarquicamente superior ao outro. Nesse caso o que dis-</p><p>tuigue os níveis é o uso, na APS, de tecnologias leves, ligadas à relação médico/</p><p>paciente, enquanto a atenção primária faz uso de tecnologias duras, que deman-</p><p>dam, por exemplo, aparelhagem sofisticada.</p><p>Um bom exemplo da funcionalidade</p><p>dessa relação poliárquica pode ser</p><p>observado no enfrentamento à pande-</p><p>mia de Covid 19.</p><p>Situações como essas demonstram cla-</p><p>ramente a necessidade de atuação simul-</p><p>tânea das diferentes especialidades</p><p>médicas, sem que qualquer delas seja</p><p>mais relevante que as demais, além de</p><p>demandar a ação integrada dos diferen-</p><p>tes níveis de atenção. Temos, nesse con-</p><p>texto, a necessidade de especialistas em</p><p>infectologia, imunologia e virologia</p><p>dentre outros realizando estudos por</p><p>meio da utilização de sofisticadas tecno-</p><p>logias e pesquisas de ponta, para</p><p>sequenciar o vírus, entender sua forma</p><p>de ação, traçar mapas, criar vacinas e</p><p>medicamentos entre outras linhas de</p><p>ação. Paralelamente, temos o trabalho</p><p>1 Em âmbito internacional, o termo Family Medicine é mais consagrado e, dessa forma foi mantida a tradução médico de</p><p>família e medicina de família para tratar dessa especialidade em outros países, enquanto no Brasil a especialidade médica</p><p>é chamada Medicina de Família e Comunidade.</p><p>Fotos por Freepik.com</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>16</p><p>dos profissionais da atenção primária, recebendo nas UBS as pessoas infectadas</p><p>ou com suspeita de infecção, para tratamento ou indicação de tratamento, con-</p><p>forme a gravidade, na atenção secundária que, por sua vez, conta com outro rol</p><p>de especialistas em pneumologistas, intensivistas, neurologistas, cardiologistas etc.,</p><p>bem como de tecnologias sofisticadas – como respiradores e tomógrafos – para</p><p>diagnóstico e tratamento. Lembrando, ainda, que, com o surgimento das vacinas,</p><p>a atenção primária é também a responsável pela da vacinação.</p><p>Sem a sinergia entre os três níveis de atenção e a ação integrada entre médicos</p><p>generalistas e especialistas, a atuação bem sucedida frente a situações como essa</p><p>seria praticamente impossível.</p><p>REFLEXÃO</p><p>Na trajetória que você acabou de acompanhar, foi relatada oposição</p><p>entre duas linhas de cuidado ao longo da história da medicina: uma</p><p>baseada na visão generalista, outra em defesa da especialização.</p><p>Em quais situações você pode perceber, ainda hoje, essa dicotomia?</p><p>De que forma, você percebe, em nosso sistema de saúde, um caminho</p><p>mais assertivo para essa discussão?</p><p>O que fez você optar por atuar em uma delas e nela aprofundar seus</p><p>estudos?</p><p>Voltando à trajetória da abordagem generalista, destacamos o trabalho do profes-</p><p>sor britânico Ian McWhinney, médico de família, que colaborou com a fundação da</p><p>Medicina de Família no Canadá. Seu trabalho teve influência determinante nesse</p><p>processo porque elaborou o constructo acadêmico para a área, no qual enfatizava</p><p>a importância de ser diferente, chamando a atenção para o valor da prática médica</p><p>generalista, que é a base da Medicina de Família e Comunidade.</p><p>Convidamos você a conhecer um pouco mais o que o Prof. McWhinney enfatizava</p><p>em suas palestras: a importância de ser diferente.</p><p>Neste material, você conhecerá os fundamentos e as ideias que embasaram o desen-</p><p>volvimento e a construção da identidade da Medicina de Família e Comunidade, con-</p><p>solidadas em um dos livros de referência da área: McWHINNEY, Ian Renwick. Manual</p><p>de Medicina de Família e Comunidade. Porto Alegre: ARTMED, 2010. 471 p.</p><p>SAIBA MAIS</p><p>17</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>Continuemos nosso percurso histórico da Medicina de Família e Comunidade, pois</p><p>é importante você conhecer o desenvolvimento dessa especialidade no Brasil.</p><p>Por aqui, podemos considerar que a MFC</p><p>é uma especialidade com reconhecimento</p><p>recente, apesar de ter suas origens na</p><p>década de 1970, quando surgiram as</p><p>primeiras iniciativas de estruturação de</p><p>residências médicas. Não houve uma</p><p>coordenação central nesse processo,</p><p>portanto surgiram movimentos para o</p><p>desenvolvimento de medicina</p><p>comunitária em cidades diferentes.</p><p>Roraima</p><p>Amapá</p><p>Pará Maranhão</p><p>Piauí</p><p>Ceará</p><p>Paraíba</p><p>Pernambuco</p><p>Alagoas</p><p>Sergipe</p><p>Bahia</p><p>Rio Grande</p><p>do Norte</p><p>Amazonas</p><p>Acre</p><p>Rondônia</p><p>Mato Grosso</p><p>Mato Grosso</p><p>do Sul</p><p>Minas Gerais</p><p>Espiríto Santo</p><p>Rio de JaneiroSão Paulo</p><p>Paraná</p><p>Santa Catarina</p><p>Rio Grande do Sul</p><p>Goiás</p><p>Brasília</p><p>Tocantins</p><p>Em Porto Alegre, o Prof. Busnello</p><p>desenvolveu o Centro de Saúde</p><p>Escola Murialdo</p><p>No Rio de Janeiro, o Prof. Ricardo Donato</p><p>estruturou o serviço de Medicina Integral da</p><p>Universidade Estadual do Rio de Janeiro</p><p>Em Pernambuco, especificamente em Vitória</p><p>de Santo Antão, o Prof. Guilherme Abath</p><p>desenvolveu a medicina comunitária.</p><p>1981 1990 2001</p><p>1986 1994 2002</p><p>A Comissão Nacional de</p><p>Residência Médica formalizou os</p><p>Programas de Medicina Geral e</p><p>Comunitária (MGC), termo</p><p>adotado inicialmente no Brasil.</p><p>Essa sociedade se filiou à Confederação</p><p>Ibero-Americana de Medicina Familiar</p><p>(CIMF) e à Organização Mundial de</p><p>Médicos de Família (WONCA).</p><p>Ganhou espaço no SUS com a</p><p>criação do Programa Saúde da</p><p>Família (PSF).</p><p>O nome da especialidade MGC foi alterado para</p><p>Medicina de Família e Comunidade (MFC) por</p><p>um rol de especialistas que pertenciam à</p><p>Sociedade Científica de MGC, que se</p><p>transformou na Sociedade Brasileira de</p><p>Medicina de Família e Comunidade.</p><p>O Conselho Federal de</p><p>Medicina reconheceu a</p><p>especialidade médica.</p><p>1980</p><p>1990</p><p>2000</p><p>2010</p><p>Em Niterói, uma iniciativa de criação de um</p><p>programa de médico de família foi inspirada</p><p>na medicina de Cuba auxiliou a impulsionar e</p><p>valorizar a Medicina de Família e Comunidade,</p><p>Figuras 2 e 3 – Desenvolvimento da Medicina de Família e Comunidade no Brasil</p><p>Você pode observar, assim, que, desde suas origens na década de 1970, com ini-</p><p>ciativas de estruturação de residências médicas, como a do professor Guilherme</p><p>Abath, no Projeto Vitória, que envolvia ações comunitárias integradas a um</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>18</p><p>programa de residência médica, não houve uma coordenação central nesse</p><p>processo, embora a MFC sempre estivesse muito próxima ao desenvolvimento e</p><p>à organização de sistemas nacionais de saúde, por ser o Médico de Família e</p><p>Comunidade profundo conhecedor dos atributos da Atenção Primária à Saúde</p><p>(APS) e fazer parte desses sistemas.</p><p>Apesar de a MGC ter surgido em 1981, durante algum tempo havia pouco mercado</p><p>de trabalho para os profissionais da área. Com a reordenação da APS brasileira</p><p>e valorização da equipe com médicos generalistas, a demanda por especialistas</p><p>nessa área cresceu, tanto no sistema público, como no sistema privado.</p><p>Atualmente, somos mais de 5.000 médicos de família e comunidade no Brasil e</p><p>esse número é insuficiente para a nossa realidade, ao considerarmos as cerca de</p><p>50 mil equipes de Estratégia Saúde da Família existentes em todo o país. É em</p><p>função dessa necessidade, que surgem políticas públicas para formação e provi-</p><p>mento de médicos para a APS, como o atual Programa Mais Médicos para o Brasil.</p><p>Diante desse panorama, você pode verificar que essa especialidade tem seu</p><p>desenvolvimento ao longo dos anos, através de um percurso exitoso em vários</p><p>países e com reconhecimento crescente e promissor no Brasil. Vamos agora</p><p>entender como trabalha esse profissional.</p><p>1.2 - MÉDICO DE FAMÍLIA E COMUNIDADE: ESPECIALISTA EM GENTE</p><p>O Médico de Família e Comunidade é, antes</p><p>de tudo, um especialista para além</p><p>das doenças.</p><p>Muitas vezes ouvimos a pergunta: Mas afinal, o Médico de Família e Comunidade</p><p>é especialista em quê? A melhor resposta a essa questão é: Ele é especialista em</p><p>gente, pois sua atuação é baseada na relação médico-paciente. Como profissio-</p><p>nal ele se especializou em cuidar de pessoas, independentemente de sexo, idade</p><p>ou tipo de problema, oferecendo um cuidado individualizado, para além da</p><p>doença em si.</p><p>No vídeo “Quem é o Médico de Família e Comunidade?” (Fonte: Sociedade</p><p>Brasileira de Medicina de Família e Comunidade - SBMFC), disponível em:</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=HZuU8xbNGNA, você entenderá a</p><p>origem da expressão “Especialista em gente”. O vídeo apresenta as carac-</p><p>terísticas do Médico de Família e Comunidade.</p><p>Após compreender o panorama histórico da MFC e entender a origem da expres-</p><p>são especialista em gente para o Médico de Família e Comunidade, vamos conhecer</p><p>melhor os princípios dessa especialidade, bem como as competências a ela vincu-</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=HZuU8xbNGNA</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=HZuU8xbNGNA</p><p>19</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>ladas. Você terá a oportunidade de refletir sobre a importância do seu desenvol-</p><p>vimento profissional e, consequentemente, da sua contribuição para o SUS.</p><p>1.3 - PRINCÍPIOS DA MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE E COMPETÊNCIAS</p><p>NUCLEARES</p><p>Como vimos anteriormente, o desenvolvimento da MFC como especialidade médica</p><p>com corpo específico de conhecimento aconteceu no final do século passado. Em</p><p>2005, a WONCA-Europa (World Organization of National Colleges, Academies and Aca-</p><p>demic Associations of General Practitioners / Family Physicians) apresentou as com-</p><p>petências nucleares dessa disciplina acadêmica e, em 2012, as competências nucle-</p><p>ares que norteiam a prática do Médico de Família e Comunidade e serão estudadas</p><p>mais a frente nesta unidade.</p><p>O Médico de Família e Comunidade deve dominar as competências nucleares de</p><p>modo a acumular conhecimento e prática, que o guiarão em ações pautadas por</p><p>quatro princípios fundamentais.</p><p>Assim, sugerimos que você estude atentamente os quatro princípios fundamen-</p><p>tais da especialidade em Medicina de Família e Comunidade apresentados a seguir.</p><p>Refletir sobre eles e incorporá-los à sua prática cotidiana qualificará seu trabalho.</p><p>São os seguintes os princípios:</p><p>O Médico de</p><p>Família e</p><p>Comunidade é um</p><p>clínico qualificado</p><p>A atuação do</p><p>Médico de Família</p><p>e Comunidade é</p><p>influenciada pela</p><p>comunidade</p><p>O Médico de</p><p>Família e</p><p>Comunidade é um</p><p>recurso de uma</p><p>população definida</p><p>A relação</p><p>médico-pessoa é</p><p>fundamental para</p><p>atuação e bom</p><p>desempenho do</p><p>Médico de Família e</p><p>Comunidade</p><p>Esses princípios são importantes para a formação do Médico de Família e Comu-</p><p>nidade e conhecê-los é necessário para compreender melhor o desenvolvimento</p><p>das competências nucleares. A seguir, você irá estudar melhor tais princípios e a</p><p>forma como eles se relacionam com as competências, além de como tais concei-</p><p>tos se aplicam à prática profissional.</p><p>1.3.1 - O Médico de Família e Comunidade é um clínico qualificado</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>20</p><p>O Médico de Família e Comunidade realiza uma abordagem abrangente da saúde</p><p>das pessoas: lida com quaisquer pessoas, sem restrição de sexo, gênero, idade ou</p><p>tipo de problema de saúde. Assim, na</p><p>sua prática clínica, cuidará de crianças,</p><p>adolescentes, adultos e idosos, homens</p><p>e mulheres de diferentes gêneros e</p><p>orientações sexuais, e atenderá a deman-</p><p>das das mais diversas naturezas.</p><p>Essas demandas surgirão nas mais diver-</p><p>sas fases da história natural do adoeci-</p><p>mento, mas especialmente nas fases ini-</p><p>ciais, mais indiferenciadas, com sintomas</p><p>vagos e inespecíficos. Não apenas terá</p><p>que lidar com o diagnóstico e tratamento</p><p>de doenças, como também terá que</p><p>propor atividades preventivas e de pro-</p><p>moção da saúde.</p><p>Para lidar com essa variedade de problemas, o Médico de Família e Comunidade</p><p>precisa desenvolver aptidões clínicas específicas, que incluem:</p><p>MÉDICO DE</p><p>FAMÍLIA E</p><p>COMUNIDADE</p><p>a capacidade de desenvolver</p><p>estratégias de aprimoramento</p><p>contínuo considerando os</p><p>problemas que surgiram ao</p><p>longo de sua carreira</p><p>o raciocínio clínico</p><p>apurado</p><p>o manejo adequado</p><p>da incerteza</p><p>a prática centrada nas</p><p>melhores evidências</p><p>científicas</p><p>a capacidade de lidar</p><p>com problemas ao</p><p>longo do tempo</p><p>Só a partir do domínio de tais aptidões você poderá atingir o grau de resolutividade</p><p>que se espera do profissional dessa área de atuação.</p><p>Esse profissional parte da premissa que cada pessoa é única e vive a sua própria</p><p>experiência de doença, baseada em seus valores, sentimentos, ideias e expectati-</p><p>vas, e que os problemas de saúde trazem um impacto específico na vida de cada</p><p>pessoa. Também sabe que cada pessoa está em permanente relação com seus</p><p>familiares, outras pessoas e com a comunidade na qual está inserida, recebendo</p><p>influência de aspectos sociais, culturais e existenciais.</p><p>Foto por Hush Naidoo Jade Photography |</p><p>Unsplash.com</p><p>21</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>Sendo a experiência com a doença tão individual, é fácil você concluir que o cuidado</p><p>necessário para lidar com ela também deve ser individualizado, o que implica a</p><p>necessidade de promover a autonomia e o empoderamento das pessoas para que</p><p>lidem, cada vez melhor, com os próprios problemas. Dessa forma, apenas uma</p><p>abordagem holística e centrada em cada pessoa permite ao Médico de Família e</p><p>Comunidade prestar cuidados efetivos às pessoas sob sua responsabilidade.</p><p>1.3.2 - A atuação do Médico de Família e Comunidade é influenciada pela</p><p>comunidade</p><p>Com certeza você já aprendeu em seus</p><p>estudos e verificou em sua prática na APS</p><p>que saúde de cada indivíduo está direta-</p><p>mente ligada aos determinantes sociais</p><p>relacionados a essas pessoas, como as</p><p>condições de habitação, saneamento,</p><p>segurança, trabalho, acessibilidade, entre</p><p>outros, e também a questões mais amplas,</p><p>como meio ambiente e cultura, por isso</p><p>o Médico de Família e Comunidade</p><p>precisa estar atento a tudo que acontece</p><p>em sua comunidade. Conhecer bem os</p><p>problemas de saúde mais prevalentes</p><p>possibilita a oferta de cuidados mais efe-</p><p>tivos para um maior número de pessoas,</p><p>uma vez que permite não apenas cuidar dos problemas de saúde quando eles ocorrem,</p><p>mas também se antecipar a esses e desenvolver ações de promoção da saúde e pre-</p><p>venção de doenças.</p><p>Além disso, é preciso considerar que as comunidades dispõem de outros recursos</p><p>que estão relacionados, direta ou indiretamente, à saúde, como estabelecimentos</p><p>de saúde, escolas, centros comunitários, centros de assistência social, instituições</p><p>religiosas, entre outros. Conhecer e se articular com esses diferentes elementos</p><p>do território amplia a capacidade de o Médico de Família e Comunidade atuar sobre</p><p>os determinantes sociais da saúde, aumentando sua resolutividade e o nível de</p><p>saúde da população sob seus cuidados.</p><p>Ao conhecer a comunidade e as condições mais prevalentes, sendo influenciado</p><p>por ela, você terá melhor especificidade ao fazer uma avaliação clínica, tornando-</p><p>-se um clínico melhor qualificado, como vimos no primeiro princípio da Medicina</p><p>de Família e Comunidade.</p><p>Outra característica importante, que está relacionada à qualificação da atuação</p><p>nessa especialidade médica, é a proximidade do Médico de Família e Comunidade</p><p>com as pessoas e a possibilidade de cuidar delas por anos, oferecendo uma atenção</p><p>contínua e longitudinal. Ao cuidar dessa forma ou mesmo ao ter a possibilidade</p><p>Foto por Zach Vessels | Unsplash.com</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>22</p><p>de solicitar retornos breves, o profissional está em uma posição favorável para lidar</p><p>com a incerteza diagnóstica, bem como para conhecer o perfil de adoecimento das</p><p>pessoas da comunidade em que atua, tendendo, assim, a exercer uma prática</p><p>clínica qualificada.</p><p>1.3.3 - O Médico</p><p>de Família e Comunidade é um recurso de uma população</p><p>definida</p><p>O Médico de Família e Comunidade é</p><p>uma referência para as pessoas de sua</p><p>lista de pacientes e para a comunidade</p><p>em que trabalha, independentemente</p><p>da presença ou ausência de doença.</p><p>Já vimos que as ações desse profissional</p><p>são oferecidas não apenas individual-</p><p>mente, mas também coletivamente, e</p><p>buscam não apenas a cura e a reabilita-</p><p>ção, mas também a prevenção de</p><p>doenças e a promoção da saúde. Sendo</p><p>o especialista da atenção primária, ele</p><p>deve contemplar os atributos essenciais</p><p>da APS, que incluem ser o local de pre-</p><p>ferência para o primeiro contato das</p><p>pessoas com o sistema de saúde e ofe-</p><p>recer cuidados abrangentes ao longo do</p><p>tempo. Por isso esse especialista é um</p><p>recurso humano essencial para toda a</p><p>população sob seus cuidados. O acesso aos seus cuidados deve ser amplo, por-</p><p>tanto não pode estar restrito a consultas agendadas, mas deve contemplar deman-</p><p>das não programadas, mesmo que não sejam urgências clínicas. Cada serviço deve</p><p>ser organizado para atender a essas diferentes demandas e oferecer acesso faci-</p><p>litado e adequado às pessoas da comunidade com diferentes necessidades.</p><p>Outro papel importante desse profissional, para a comunidade na qual atua, é o</p><p>de ser o responsável pela utilização criteriosa dos recursos do sistema de saúde.</p><p>Aqui temos mais um atributo essencial da APS: a coordenação do cuidado. Cabe</p><p>ao médico de família e comunidade, como você, que atua em uma UBS, definir</p><p>quando é necessário encaminhar pessoas para outros pontos de cuidado e, ao</p><p>mesmo tempo, coordenar as ofertas de cuidado de cada serviço para ajustá-las ao</p><p>contexto de cada paciente. Ao conhecer as políticas públicas e aspectos epidemio-</p><p>lógicos de sua população, também deverá atuar para que estas políticas sejam vol-</p><p>tadas para a saúde da população e sejam desenvolvidas por gestores públicos.</p><p>Desta forma, pode atuar como um advogado ou sentinela para apoiar a comuni-</p><p>dade na garantia de seus direitos enquanto cidadãos.</p><p>Foto por Raquel Portugal | Acervo Fundação</p><p>Oswaldo Cruz</p><p>23</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>Além de se responsabilizar pelas pessoas, independentemente da presença ou</p><p>ausência de doenças ou das característas dessas doenças, esse médico deve,</p><p>também, lançar mão das vantagens de oferecer cuidado no decorrer de anos. Por</p><p>conhecer como as pessoas e a família lidam com as adversidades, assim como as</p><p>características do território, e acompanhar o desenvolvimento pessoal, o Médico</p><p>de Família e Comunidade tem uma ampla visão de risco de adoecimento e de poten-</p><p>cialidades, portanto pode propor ações de promoção e prevenção de saúde (pre-</p><p>venção primária, secundária, terciária e quaternária).</p><p>Por muito tempo, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) foram centros de vacinação,</p><p>puericultura e pré-natal, além de cuidar de demandas clínicas controladas em con-</p><p>sultas de rotina agendadas. No entanto, com a implantação da Estratégia Saúde</p><p>da Família e implementação das ações da APS, foi identificada a necessidade do</p><p>cuidado de condições agudas. Por esse motivo, o médico é um recurso para cuidado</p><p>também em condições agudas, intensificando a gestão dos cuidados primários.</p><p>Lidar com as demandas não programadas não é uma tarefa simples e exige de</p><p>você competências específicas e conhecimento sobre as diversas formas de orga-</p><p>nização de processo de trabalho para a prática clínica diária. O desafio é ainda</p><p>maior quando há um número elevado de pessoas cadastradas sob a responsabi-</p><p>lidade da equipe, especialmente se a área for de grande vulnerabilidade socioeco-</p><p>nômica. Assim, o Médico de Família e Comunidade deve ser competente para auxi-</p><p>liar e organizar seu serviço conforme demanda e perfil populacional, bem como</p><p>dominar ferramentas que o auxiliem nessa prática.</p><p>Entre as demandas não programadas, você deve estar atento e organizar seu pro-</p><p>cesso de trabalho para também acolher necessidades de renovação de receitas de</p><p>psicotrópicos e condições clínicas que aumentam de forma sazonal, como dengue,</p><p>síndromes gripais, entre outras. É importante também você reservar horários para</p><p>elaboração e fornecimento de relatórios previdenciários, judiciais e demais docu-</p><p>mentos que envolvam aspectos burocráticos do cuidado em saúde.</p><p>Por exemplo, para lidar com as situações citadas e outras, é necessário que o médico</p><p>seja protagonista da organização do serviço no qual está inserido e utilize ferra-</p><p>mentas específicas, como realizar diagnóstico de demanda, gerir a própria clínica,</p><p>fazer registro orientado por problemas e apoiar a organização das agendas e da</p><p>estrutura de atendimento da demanda espontânea.</p><p>Por ser um recurso de uma população definida, o Médico de Família e Comunidade</p><p>estará em posição privilegiada para reconhecer os recursos necessários e dispo-</p><p>níveis para o cuidado das necessidades da população sob sua responsabilidade.</p><p>É muito importante conhecer as políticas públicas vigentes e estar atento aos pro-</p><p>tocolos clínicos e operacionais necessários para a integração da APS à Rede de</p><p>Atenção à Saúde. Assim o Médico de Família e Comunidade assume a responsabi-</p><p>lidade da coordenação do cuidado no sistema de saúde e mantém postura crítica,</p><p>cuidadosa e individualizada.</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>24</p><p>Exercitar, com a equipe toda, esse olhar para as demandas de sua população pode</p><p>favorecer o processo de trabalho de todos os envolvidos – médico, equipe de enfer-</p><p>magem, agentes comunitários de saúde –, uma vez que enxergar e entender a</p><p>demanda é o primeiro passo para criar um trabalho mais efetivo.</p><p>No entanto, o Médico de Família e Comunidade nunca pode perder de foco a impor-</p><p>tância da qualidade da relação médico-pessoa, que é determinante para a prática</p><p>e que nos remete ao quarto princípio da MFC.</p><p>1.3.4 - A relação médico-pessoa é fun-</p><p>damental para o desempenho do</p><p>Médico de Família e Comunidade</p><p>Vamos estudar agora o último princípio</p><p>da MFC.</p><p>Nessa etapa, é importante você refletir</p><p>sobre a importância de estabelecer uma</p><p>boa relação médico-pessoa permeia</p><p>todos os princípios da MFC. O vínculo</p><p>que os médicos de família e comunidade</p><p>criam com seus pacientes tem potencial</p><p>terapêutico e é essencial para que cada</p><p>pessoa possa ser compreendida em suas</p><p>singularidades. Quanto melhor a relação</p><p>estabelecida com as pessoas, maior é a</p><p>chance de que sejam oferecidos cuida-</p><p>dos abrangentes e holísticos.</p><p>O tempo dedicado a esses cuidados também costuma ser importante, e aqui vemos</p><p>mais uma vez a importância da longitudinalidade. A relação médico-pessoa costuma</p><p>ser, em termos de poder, uma relação assimétrica, em que o médico determina o</p><p>que deve ser feito e a cada pessoa cabe seguir as orientações do profissional. O</p><p>Médico de Família e Comunidade, no entanto, compreende esse desequilíbrio e sabe</p><p>que deve estar atento para não abusar desse poder, pois suas próprias fraquezas</p><p>poderiam afetar os cuidados oferecidos. Assim, ele busca minimizar a assimetria de</p><p>poder investindo na autonomia das pessoas para gerirem seus próprios cuidados.</p><p>É comum que a formação médica aconteça, em grande parte, em contexto hospitalar,</p><p>no qual a autonomia do paciente em decisões relacionadas ao tratamento é mínima.</p><p>A prescrição e a administração de medicamentos nem sempre vêm acompanha-</p><p>das de explicações e, geralmente, não levam em consideração características espe-</p><p>cíficas da pessoa.</p><p>Na assistência à saúde, em um contexto ambulatorial e comunitário, essa situação</p><p>é diferente. O paciente tem autonomia e liberdade para seguir ou não as</p><p>orientações e os tratamentos. Sendo assim, as condutas devem ser compreendi-</p><p>das e compartilhadas sempre que possível, o que é previsto em uma prática médica</p><p>Foto por Gpointstudio | Freepik.com</p><p>25</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>centrada na pessoa. Por meio dessa forma de cuidar, você ajudará as pessoas, res-</p><p>peitando suas expectativas e ideias, além de considerar</p><p>contexto no qual elas</p><p>estão inseridas.</p><p>Esse método clínico e outras ferramentas de abordagem que possibilitam comu-</p><p>nicação efetiva, associados a uma prática clínica competente e ao envolvimento</p><p>com a comunidade, fazem parte da essência da especialidade. As responsabilida-</p><p>des com o indivíduo possibilitam uma relação horizontal propositiva, na qual o</p><p>vínculo entre o médico e a pessoa se torna um importante agente terapêutico.</p><p>Seguindo essa conduta, você poderá intensificar e valorizar a relação médico-pes-</p><p>soa tal como versa este quarto princípio da MFC.</p><p>REFLEXÃO</p><p>Agora que você estudou os quatro princípios da MFC, reflita um</p><p>pouco sobre como você observa ou não no cotidiano de trabalho</p><p>da unidade em que atua.</p><p>O que considera fundamental para ser um clínico qualificado?</p><p>Em quais situações você indentifica que otrabalho de sua equipe</p><p>é influenciado pela comunidade?</p><p>Em que medida você identifica esse trabalho como recurso de uma</p><p>população definida?</p><p>Que aspectos você considera importante implementar para ampliar</p><p>a relação médico-pessoa em sua prática?</p><p>Por conhecer as pessoas no decorrer de suas vidas em momentos</p><p>de doença ou de promoção de saúde, considerando o meio ambiente,</p><p>profissão e relações familiares, o Médico de Família e Comunidade</p><p>está em posição privilegiada para intensificar a relação com a pessoa.</p><p>Isso é determinante para o melhor cuidado de seus pacientes.</p><p>1.3.5 - As competências nucleares da Medicina de Família e Comunidade</p><p>O exercício da especialidade MFC se encontra fundamentado em seus quatro prin-</p><p>cípios, sendo importante que, para sua atuação conforme tais princípios, os médicos</p><p>construam seis competências nucleares.</p><p>Para que você compreenda, plenamente, a importância desse requisito em seu tra-</p><p>balho, é preciso ter em mente que as competências definem-se como capacidade</p><p>de utilizar os conhecimentos adquiridos – tanto formalmente em sua trajetória aca-</p><p>dêmica quanto na prática cotidiana, desde que exercida com atitude reflexiva e crítica,</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>26</p><p>reunidos ao saber fazer e saber ser, demonstrando habilidades específicas, atitude</p><p>proativa e prontidão na tomada de decisões para solução criativa e exitosa de pro-</p><p>blemas. Traduz aquilo que os profissionais devem ser capazes de empreender em</p><p>sua vida profissional como consequência maior de sua trajetória de aprendizagem.</p><p>Habilidades, por sua vez, se traduzem pela capacidade de saber fazer, de dominar</p><p>os meios para realizar uma tarefa. Esse domínio é resultado de prática e aperfei-</p><p>çoamento constantes.</p><p>Tendo isso em mente, as competências nucleares em MFC são, a saber:</p><p>Cuidados centrados na pessoa – a partir da relação médico-pessoa,</p><p>realizar uma prática centrada no paciente e no contexto, considerando a</p><p>continuidade longitudinal.</p><p>Aptidões específicas para resolução de problemas – incluindo na</p><p>atenção e no cuidado os estágios precoces e indiferenciados.</p><p>Gestão de cuidados primários – envolvendo coordenação de cuidado e</p><p>advocacia com vistas a trabalhar pela melhoria de condições de saúde da</p><p>comunidade adscrita.</p><p>Abordagem abrangente – que compreende o atendimento não só aos casos de</p><p>problemas de saúde agudos e crônicos que trazem os usuários a UBS em busca</p><p>de consultas e tratamento, mas também o trabalho em prevenção e promoção</p><p>de saúde e bem-estar, conforme o entendimento que a MFC tem de saúde.</p><p>Orientação comunitária – assumindo a responsabilidade pela saúde da</p><p>comunidade, considerando condições de vulnerabilidade sociais,</p><p>econômicas, epidemiológicas, dentre outras.</p><p>Abordagem holística – considerando o atendimento à saúde</p><p>englobando aspectos físicos, psicológicos, sociais, culturais e existenciais</p><p>e o trabalho em equipes multidisciplinares.</p><p>27</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>Como você já deve ter percebido essas competências nucleares estão intima-</p><p>mente relacionadas com outros conceitos já conhecidos por você, presentes</p><p>nos princípios do SUS e nos atributos – essenciais e derivados – da atenção pri-</p><p>mária. Esse relacionamento mostra o quanto a MFC compreende um corpo de</p><p>conhecimentos, valores e linhas de ação coerente, que traduz uma concepção de</p><p>saúde específica.</p><p>Para melhor visualização dessa dinâmica, podemos observar a árvore de compe-</p><p>tências apresentada pela Organização Mundial de Medicina de Família – WONCA</p><p>na Figura 4.</p><p>Figura 4 – As competências nucleares segundo a WONCA-Europa</p><p>Definição Europeia de Medicina Geral e Familiar: Competências Nucleares e</p><p>Características (EURACT/WONCA 2002-2005)</p><p>@ 2004 Swiss College of Primary Care Medicine / U. Grueninger, Adaptação e</p><p>tradução de LF Gomes, 2005</p><p>Tomada de</p><p>decisão baseada</p><p>na incidência e</p><p>prevalência</p><p>Estágios</p><p>precoces e</p><p>indifereciados</p><p>Física, psicológica,</p><p>social, cultural e</p><p>existencial</p><p>Prática</p><p>centrada na</p><p>pessoa e</p><p>contexto</p><p>Problemas de</p><p>saúde agudos e</p><p>crônicos</p><p>Continuidade</p><p>Longitudinalidade</p><p>Responsável</p><p>pela saúde da</p><p>comunidade</p><p>Coordenação</p><p>de Cuidados</p><p>Advocacia</p><p>1º Contato;</p><p>Acesso aberto</p><p>Todos os Problemas</p><p>de Saúde</p><p>Atitute</p><p>Ciência</p><p>Contexto</p><p>Relação</p><p>médico/</p><p>paciente</p><p>Promoção da</p><p>saúde e</p><p>bem-estar</p><p>Abordagem</p><p>holística</p><p>Cuidados</p><p>centrado na</p><p>pessoa</p><p>Aptidões</p><p>específicas para</p><p>a resolução de</p><p>problemas</p><p>Gestão de</p><p>cuidados</p><p>primários</p><p>Orientação</p><p>comunitária</p><p>Abordagem</p><p>abrangente</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>28</p><p>Observe como a árvore se organiza em termos funcionais.</p><p>Em suas raízes, temos, no centro, a ciência – indicando que trabalhamos com medi-</p><p>cina baseada em evidências e com demais saberes científicos como conhecimen-</p><p>tos em gestão, estatística, sociologia, dentre muitos. De um dos lados, a atitude –</p><p>sua e de sua equipe que precisa ser receptiva e proativa no atendimento universal</p><p>e integral e longitudinal. Do outro lado, o contexto – a consciência de que o traba-</p><p>lho compreende a comunidade adscrita ao território em que atuam, pelo qual são</p><p>responsáveis. São essas as bases que alimentam e sustentam a atuação do médico</p><p>de família e comunidade, sem as quais, dificilmente, o trabalho atingirá a resoluti-</p><p>vidade almejada.</p><p>Os galhos compreendem as competências que ora estudamos, por meio das quais</p><p>o trabalho da MFC se propõe a acolher e atender o indivíduo, as famílias e a comu-</p><p>nidade, conhecendo e compreendendo suas características e demandas, e ado-</p><p>tando uma determinada perspectiva do que é saúde e qual é abordagem de ser</p><p>implementada.</p><p>Finalmente, temos as folhas representando as habilidades por meio das quais as</p><p>competências encontram sua forma de atuação, o saber fazer, na prática cotidiana</p><p>de trabalho.</p><p>Por outro lado, também é importante lembrar que, toda árvore que se presa, respira</p><p>através de suas folhas, responsáveis pela fotossíntese. Sua vida e sua produção de</p><p>frutos depende desse processo. Assim, as folhas que representam a prática das</p><p>habilidades, ou seja, sua ação no dia a dia da clínica, em conjunto com sua equipe,</p><p>se realizada com responsabilidade, reflexão e consciência crítica, além de materia-</p><p>lizar as competências/princípios em que se embasam e apresentarem resolubili-</p><p>dade no cuidado das pessoas, famílias e comunidades, retroalimentam o sistema</p><p>de saúde – com informações vitais para a replicação de experiências exitosas, ela-</p><p>boração de novas políticas, correção de rumos na gestão, entre outros.</p><p>Podemos exempificar essa dinâmica, também, com o enfrentamento a pandemia</p><p>de Covid 19. Como a APS é a porta de entrada dos pacientes no sistema, assim</p><p>como é ela a responsável pelo programa de vacinação da população, os dados</p><p>sobre números de infectados, de hospitalizados, de vacinados são fornecidos pela</p><p>atenção primária para que os pesquisadores possam entender os caminhos da</p><p>contaminação, a gestão do sistema possa traçar os rumos do combate a pande-</p><p>mia e os especialistas organizar o atendimento aos pacientes .</p><p>Como você já verificou em seus estudos e deve ter confirmado em sua prática,</p><p>ao</p><p>ser um clínico competente, com prática orientada à comunidade, tornando-se refe-</p><p>rência para uma população definida, o Médico de Família e Comunidade lida com</p><p>muitos tipos de problemas: agudos e crônicos, físicos e psicológicos. Com uma</p><p>prática centrada na pessoa, conhece a realidade sociocultural e existencial dos indi-</p><p>víduos e da comunidade, oferecendo-lhes acesso à assistência em saúde e cuida-</p><p>dos no decorrer do tempo. Tem de lidar com problemas indiferenciados em está-</p><p>gios precoces e com situações avançadas, para os quais pode solicitar apoio da</p><p>29</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>rede especializada, lançando mão do ótimo vínculo com as pessoas e da aptidão</p><p>para lidar com problemas complexos.</p><p>Para o domínio dessas competências e da prática da MFC, é muito importante que</p><p>você conheça as ferramentas de trabalho que serão discutidas a seguir.</p><p>FECHAMENTO DA UNIDADE</p><p>Nessa unidade, você adquiriu domínio sobre os princípios da MFC, conheceu as</p><p>competências nucleares da especialidade e construiu uma base importante da</p><p>identidade que deve ter um Médico de Família e Comunidade.</p><p>Você aprendeu que as ações são propostas com base na competência clínica indi-</p><p>vidual, mas também dependem da atuação da comunidade e da população defi-</p><p>nida, assim como da relação e do vínculo estabelecidos, que são fundamentais</p><p>para uma assistência efetiva. Por não serem definições puramente teóricas, os</p><p>princípios da MFC foram ilustrados em diferentes situações na rotina da APS. Essa</p><p>compreensão servirá de auxílio para você dominar melhor as ferramentas de tra-</p><p>balho do dia a dia do Médico de Família e Comunidade, uma vez que essas com-</p><p>partilham os mesmos princípios em sua origem.</p><p>A abordagem</p><p>centrada na pessoa,</p><p>comunicação</p><p>clínica efetiva,</p><p>abordagem familiar</p><p>e comunitária e</p><p>outras ferramentas</p><p>para a prática clínica</p><p>UNIDADE 02</p><p>31</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM</p><p>• Conhecer os fundamentos básicos das principais ferramentas da MFC;</p><p>• Identificar possibilidades de aplicação das principais ferramentas da MFC</p><p>na prática profissional;</p><p>• Identificar o cuidado centrado na pessoa no cotidiano profissional;</p><p>• Reconhecer a comunicação efetiva como ferramenta relevante para a</p><p>prática profissional;</p><p>• Entender a importância da prática do Médico de Família e Comunidade</p><p>para a abordagem familiar e orientação comunitária.</p><p>INTRODUÇÃO DA UNIDADE</p><p>Na unidade anterior, você aprendeu que os princípios da MFC e as competências</p><p>nucleares possibilitam uma prática médica ampla, considerando tanto a pessoa</p><p>quanto o meio sociofamiliar em que ela vive.</p><p>Nesta é importante avançar no conhecimento e compreender a importância das</p><p>ferramentas da MFC para a prática clínica. As ferramentas fundamentais são:</p><p>• O método clínico centrado na pessoa;</p><p>• A comunicação clínica efetiva;</p><p>• A abordagem familiar e comunitária.</p><p>2.1 - MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA</p><p>É possível que você já tenha atendido alguém e, ao final da consulta, tido a</p><p>impressão de que as orientações não foram entendidas ou, talvez isso só tenha</p><p>ficado claro quando a pessoa voltou na consulta de retorno, sem aderir ao que</p><p>foi proposto. É importante perceber que, muitas vezes, há um distanciamento</p><p>entre o que o médico entende que é melhor para a pessoa e o que ela realmente</p><p>espera do tratamento.</p><p>Ao praticar o método clínico centrado na pessoa, você entenderá que tão impor-</p><p>tante quanto considerar aspectos clínicos para o manejo da doença é abordar a</p><p>experiência de adoecer, as expectativas relacionadas ao cuidado e garantir um</p><p>espaço para a participação ativa do indivíduo no planejamento de condutas. Na</p><p>Figura 5, temos os quatro passos dessa abordagem centrada na pessoa.</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>32</p><p>Figura 5 – Os quatro passos do método clínico centrado na pessoa</p><p>Fonte: Gusso e Lopes (2019)</p><p>PASSO 1</p><p>Explorando saúde,</p><p>doença e a experiência</p><p>da pessoa com a doença</p><p>PASSO 2</p><p>Entendendo a pessoa</p><p>como um todo</p><p>PASSO 3</p><p>Elaborando projeto</p><p>comum de manejo</p><p>dos problemas</p><p>Abordagem centrada na</p><p>pessoa - componentes</p><p>PASSO 4</p><p>Intensificando a relação médico - pessoa</p><p>Ao fazer perguntas abertas no início da consulta e permitir que a</p><p>pessoa expresse suas preocupações, você explora a saúde, a</p><p>doença e a experiência da pessoa ao adoecer (passo 1), além de</p><p>ter mais facilidade para entender a pessoa como um todo (passo</p><p>2) e pactuar com ela um plano de manejo de problemas (passo</p><p>3). A consulta que considera esses passos possibilita a intensifi-</p><p>cação da relação médico-pessoa (passo 4), que vai se construindo</p><p>ao longo da execução dos passos anteriores, sendo característica</p><p>transversal do encontro de cuidado.</p><p>Lembre-se!</p><p>Vamos pensar juntos com base no seguinte exemplo:</p><p>Uma pessoa traz a queixa de dor de cabeça,</p><p>tem a preocupação de ser um câncer e tem</p><p>a expectativa de fazer um exame comple-</p><p>mentar ou de ser encaminhada ao neurolo-</p><p>gista. Se o Médico de Família e Comunidade</p><p>não compreender o que realmente preocupa</p><p>a pessoa, pode não orientar adequadamente</p><p>sobre o que precisa além do tratamento.</p><p>33</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>Para entender a pessoa como um todo, conforme orientado no passo 2 da abor-</p><p>dagem centrada na pessoa, você deverá desenvolver competências para abordar</p><p>aspectos não apenas físicos utilizando ótima capacidade de escuta e comunicação</p><p>efetiva.</p><p>2.2 - COMUNICAÇÃO CLÍNICA EFETIVA</p><p>Para a prática da abordagem centrada na pessoa, é importante ter em mente que</p><p>uma ótima comunicação será o alicerce da relação com seus pacientes.</p><p>REFLEXÃO</p><p>Analise, agora, a seguinte situação: Após uma consulta individual</p><p>em que você fez todas as orientações cuidadosas que julgou ade-</p><p>quadas, o paciente, antes de sair do consultório, criou coragem e</p><p>fez uma série de perguntas novas.</p><p>Diante dessas perguntas, você avalia que havia abordado todas as</p><p>demandas do paciente?</p><p>Considera, também, que deu a ele, inicialmente, oportunidade de</p><p>expressar tudo o que o levou a procurar assistência na UBS?</p><p>Essa é uma situação que acontece quando o médico não aborda</p><p>todas as demandas e expectativas da pessoa ou quando não dá</p><p>oportunidade que ele expreese todas as suas demandas, angús-</p><p>tias e dúvidas.</p><p>Muitas vezes, o médico não concede</p><p>espaço na consulta para o paciente falar</p><p>sobre a situação que o está angustiando,</p><p>e, ao término do atendimento, ele</p><p>declara suas preocupações. Essa situa-</p><p>ção pode ser desconfortável, pois o</p><p>médico, que achou ter finalizado a con-</p><p>sulta, precisa retomar assuntos impor-</p><p>tantes. Se você estiver atento e lançar</p><p>mão de uma comunicação efetiva, evitará</p><p>que situações como essa aconteçam.</p><p>Também em casos de doenças crônicas,</p><p>que exigem mudança comportamental</p><p>e adesão ao tratamento, a ferramenta Foto por DCStudio | Freepik.com</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>34</p><p>da comunicação e a competência da empatia são fundamentais para motivar a</p><p>pessoa e assim ajudá-la a promover as transformações esperadas.</p><p>Essa comunicação empática é igualmente essencial quando for necessário informar</p><p>ao paciente um diagnóstico de doença infecciosa, uma condição progressiva ou até</p><p>potencialmente letal, sabendo que essa situação irá gerar muita angústia e neces-</p><p>sidade de amparo, pois é o caminho certo para o êxito na abordagem do tema.</p><p>Devemos, dessa forma compreender a comunicação como uma ferramenta ativa</p><p>de cuidado. Como Médico de Família e Comunidade, ao lidar com pessoas em qual-</p><p>quer fase do ciclo de vida, independentemente da presença ou não de doenças ou</p><p>agravos, você precisa desenvolver atitudes empáticas, saber se expressar de maneira</p><p>clara e cordial e, ainda, compreender as mais diversas demandas dos usuários do</p><p>serviço de saúde para ter um bom desempenho.</p><p>2.3 - ABORDAGEM FAMILIAR E COMUNITÁRIA</p><p>Um ótimo cuidado clínico individual envolve um olhar para a pessoa,</p><p>sua família e</p><p>contexto. Vimos que, entre as competências nucleares, há algumas que remetem</p><p>à importância de uma abordagem holística, integral e abrangente.</p><p>Quando o Médico de Família e Comunidade aborda a pessoa como um todo, ele</p><p>atua como o recurso de uma população definida e de forma influenciada pela</p><p>comunidade, lançando mão dos conhecimentos dos determinantes sociais de</p><p>saúde e do olhar sistêmico sobre as pessoas e sobre as pessoas com quem elas</p><p>se relacionam.</p><p>Nessa perspectiva, você deve levar em consideração que muitos problemas de</p><p>saúde no indivíduo sofrem influência da família, sendo o contrário também ver-</p><p>dadeiro, principalmente quando a família é essencial para o apoio no cuidado do</p><p>ente adoecido.</p><p>Foto por Monica Amelia Medeiros da Cunha Lima | Ministério da Saúde</p><p>35</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>Para você entender melhor, podemos citar o exemplo de uma família com um ou</p><p>mais membros portadores de síndrome psicótica. A família exerce papel determi-</p><p>nante no manejo e prevenção de surtos e, em resposta a isso, pessoas com a con-</p><p>dição de saúde controlada trazem tranquilidade para o meio familiar.</p><p>No que diz respeito à abordagem familiar, as visitas domiciliares também são ati-</p><p>vidades que contribuem para o desenvolvimento das competências relacionadas</p><p>a tal linha de atuação e para o melhor conhecimento do território de atuação, oti-</p><p>mizando a orientação comunitária.</p><p>Quanto mais o Médico de Família e Comunidade conhece a comunidade e é influen-</p><p>ciado por ela, quanto mais ele conhece o perfil da população a que atende – os</p><p>riscos aos quais ela está submetida, as queixas mais prevalentes e as característi-</p><p>cas do território –, maior a chance de ele acertar o diagnóstico e o manejo de situ-</p><p>ações comuns em sua rotina de trabalho. Ao incorporar à sua prática clínica a abor-</p><p>dagem familiar e comunitária, você torna seu trabalho mais efetivo.</p><p>2.4 - MAIS FERRAMENTAS PARA A</p><p>PRÁTICA CLÍNICA</p><p>Além das discutidas anteriormente,</p><p>existem diversas ferramentas práticas</p><p>que podem ajudar você a executar o</p><p>papel de Médico de Família e Comuni-</p><p>dade de forma fiel aos princípios da</p><p>especialidade. Vamos analisá-las.</p><p>2.4.1 - Trabalho em equipe</p><p>O trabalho em equipe é primordial para</p><p>o bom desempenho profissional, uma</p><p>vez que a diversidade de visões sobre</p><p>uma mesma questão enriquece qualquer</p><p>processo de trabalho. Trabalhar em</p><p>equipe envolve:</p><p>A negociação diante</p><p>de diferentes pontos</p><p>de vista</p><p>A expressão</p><p>de ideias</p><p>A valorização da</p><p>opinião dos</p><p>membros do grupo</p><p>A habilidade</p><p>de escuta</p><p>Comunicação</p><p>efetiva abrangendo,</p><p>por sua vez</p><p>Autonomia</p><p>relativa de cada</p><p>função</p><p>Horizontalidade</p><p>nas relações de</p><p>trabalho</p><p>Foto por Samuel Bizachi | Ministério da Saúde</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>36</p><p>Os melhores resultados alcançados com o trabalho em equipe se devem ao com-</p><p>partilhamento do mesmo anseio de sucesso pelos membros da equipe. O objetivo</p><p>comum é a mola propulsora que move o grupo e potencializa a soma das melho-</p><p>res competências individuais, mobilizadas para essa finalidade.</p><p>2.4.2 - Registro clínico orientado por problemas</p><p>Para uma comunicação clínica efetiva,</p><p>o prontuário é um fator importante. A</p><p>organização do registro e a condução</p><p>da consulta podem ser centradas na</p><p>pessoa com uso do registro clínico</p><p>orientado por problemas. Essa ferra-</p><p>menta foca no registro, tanto em aspec-</p><p>tos subjetivos quanto em aspectos obje-</p><p>tivos da consulta, seguidos da avaliação</p><p>dos problemas e plano de cuidados</p><p>compartilhado, direcionando ao que a</p><p>pessoa considera prioridade. Esse pro-</p><p>cesso de registro é breve, organizado e</p><p>ideal para o seguimento longitudinal,</p><p>sendo amplamente utilizado no con-</p><p>texto da APS ao redor do mundo.</p><p>2.4.3 - Gestão da clínica</p><p>Foto por SES Santa Catarina</p><p>A gestão da clínica é uma ferramenta desenvolvida para você organizar o processo</p><p>de trabalho da unidade em si, da assistência individual e do serviço à população.</p><p>Foto por rawpixel.com | Freepik.com</p><p>37</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>Para isso, alguns pontos são essenciais como:</p><p>GESTÃO</p><p>DA CLÍNICALidar com a pressão</p><p>assistencial e com a</p><p>gestão do tempo</p><p>Estruturar a agenda de</p><p>assistência sem diminuir</p><p>ou limitar demandas</p><p>essenciais do território</p><p>Conhecer a demanda</p><p>Nesse último caso, nos referimos tanto ao tempo de atendimento quanto ao uso</p><p>do tempo como ferramenta de cuidado, seja pela demora permitida – uso do tempo</p><p>como instrumento de cuidado para que o quadro se defina melhor em situações</p><p>em que há ausência de urgência –, seja pelo watchful waiting – observação atenta</p><p>ao lidar com situações clínicas em que o diagnóstico ou a linha de tratamento</p><p>merecem atenção próxima para confirmação ou adesão ao tratamento, por exemplo.</p><p>2.4.4 - Prevenção quaternária e os níveis de prevenção</p><p>Foto por Freepik.com</p><p>Marc Jamoulle, Médico de Família e Comunidade, usou o termo prevenção quater-</p><p>nária pela primeira vez em 1995, durante conferência WONCA.</p><p>A prevenção quaternária é uma ferramenta que ajuda você a indicar e adotar ações</p><p>curativas e preventivas de maneira proporcional às necessidades e recursos</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>38</p><p>disponíveis, evitando submeter as pessoas a riscos desnecessários por intervenções</p><p>inadequadas. O Médico de Família e Comunidade, munido de informações adequa-</p><p>das do estado clínico do paciente, deve buscar o melhor cuidado para a pessoa.</p><p>Na Figura 6 é possível entender a diferença entre os níveis de prevenção, sendo</p><p>I = prevenção primária, II = secundária, III = terciária e IV = quaternária.</p><p>PONTO DE VISTA DO MÉDICO</p><p>Ausência de doença</p><p>I</p><p>Ação desenvolvida para</p><p>evitar ou eliminar a causa</p><p>de um problema de saúde</p><p>de um indivíduo ou de uma</p><p>população antes do seu</p><p>aparecimento</p><p>(exemplo: imunização).</p><p>II</p><p>Ação levada a cabo para</p><p>prevenir o desenvolvimento de</p><p>um problema de saúde desde</p><p>uma fase inicial em um</p><p>indivíduo ou em uma</p><p>população, encurtando a sua</p><p>evolução e duração (exemplo:</p><p>rastreio da hipertensão).</p><p>IV</p><p>Ação levada a cabo para</p><p>identificar indivíduos ou</p><p>populações em risco de</p><p>tratamento excessivo, afim</p><p>de os proteger de novas</p><p>intervenções médicas</p><p>inapropriadas e de lhes</p><p>sugerir alternativas</p><p>eticamente aceitáveis.</p><p>III</p><p>Ação desenvolvida para reduzir</p><p>o efeito e/ou prevalência de</p><p>problemas crônicos de saúde</p><p>em indivíduos ou populações</p><p>visando a minimização das</p><p>alterações funcionais</p><p>originadas por esse problema</p><p>(exemplo: prevenção das</p><p>complicações da diabetes).</p><p>As definições já publicadas de prevenção I, II e III são complementadas pela prevenção IV e</p><p>oferecem uma nova visão dos campos de atividade do médico de família.</p><p>Doença</p><p>PO</p><p>N</p><p>TO</p><p>D</p><p>E</p><p>VI</p><p>ST</p><p>A</p><p>D</p><p>O</p><p>P</p><p>AC</p><p>IE</p><p>N</p><p>TE</p><p>Se</p><p>nt</p><p>e-</p><p>se</p><p>d</p><p>oe</p><p>nt</p><p>e</p><p>Se</p><p>nt</p><p>e-</p><p>se</p><p>b</p><p>em</p><p>Figura 6 – Definições de prevenção I, II, III e IV</p><p>Fonte: adaptado de Jamoulle M. Gomes LF. Prevenção Quaternária e</p><p>limites em medicina. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2014;9(31):186-91.</p><p>Disponível em: https://doi.org/10.5712/rbmfc9(31)867</p><p>2.4.5 - Epidemiologia clínica e vigilância em saúde</p><p>Informações epidemiológicas são importantes para ações do Médico de Família e</p><p>Comunidade e da equipe da APS, tanto no âmbito individual como no comunitá-</p><p>rio. A epidemiologia clínica é a aplicação de dados epidemiológicos e estatísticos</p><p>para entender os processos diagnósticos e terapêuticos pelo médico que, como</p><p>você, cuida diretamente de pessoas, auxiliando nas decisões clínicas do cuidado.</p><p>39</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>Ao conhecer a prevalência das doenças e a sensibilidade dos exames diagnósticos,</p><p>por exemplo, é possível ter maior certeza diagnóstica, o que é muito importante</p><p>para sua decisão terapêutica.</p><p>Tendo o domínio epidemiológico, o Médico de Família e Comunidade, além de</p><p>desenvolver melhor o raciocínio clínico, deve lançar mão de estratégias de acom-</p><p>panhamento terapêutico,</p><p>de ações de rastreamento e promoção de saúde por</p><p>meio da vigilância em saúde. Há muitos problemas de saúde – condições, riscos e/</p><p>ou determinantes – que requerem atenção e acompanhamento contínuos por meio</p><p>de articulação entre ações promocionais, preventivas e curativas, possibilitando,</p><p>no território, ações específicas para cuidado individual ou populacional.</p><p>Por ter sua prática influenciada pela comunidade em que atua, você deve se per-</p><p>ceber como uma fonte de apoio e recurso das pessoas e famílias para as quais é</p><p>uma referência. Dessa forma, essas duas ferramentas ajudam-no a definir um</p><p>cuidado voltado à comunidade específica, de acordo com faixa etária, queixas e</p><p>situações clínicas mais prevalentes, e a traçar um plano de ações em saúde condi-</p><p>zente com o território.</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>40</p><p>FECHAMENTO DA UNIDADE</p><p>Ao término desta Unidade, você certamente compreendeu que a prática da MFC é</p><p>abrangente, fascinante e igualmente desafiadora, o que exige do profissional o</p><p>domínio de ferramentas clínicas para o exercício das competências nucleares com</p><p>base nos princípios da especialidade.</p><p>Você se torna um médico mais efetivo ao ampliar sua visão do mundo da pessoa</p><p>cuidada e considerar suas experiências, preocupações, ideias, sentimentos, fami-</p><p>liares e papéis sociais, não se baseando somente nas ações determinadas pelos</p><p>protocolos fixos.</p><p>Você compreendeu que exercer de forma prática os princípios da MFC envolve</p><p>adotar ações de cuidado individuais, familiares e comunitárias, que passam por</p><p>uma comunicação clínica efetiva e prática médica instrumentalizada munida de</p><p>diversas ferramentas, independentemente de a assistência ser no consultório, no</p><p>domicílio ou no território.</p><p>41</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>Nesse módulo, você apreendeu os quatro princípios da MFC, as competências</p><p>nucleares e ferramentas para a prática profissional. Esse conhecimento é muito</p><p>importante para você avançar nas habilidades e atitudes necessárias à prática pro-</p><p>fissional resolutiva na grande gama de assuntos cotidianos para um Médico de</p><p>Família e Comunidade.</p><p>Finalmente, dada a complexidade dessa especialidade, é importante que você tenha</p><p>compreendido que o Médico de Família e Comunidade, por meio dos princípios da</p><p>MFC e de suas competências, e como coordenador do cuidado, é um especialista</p><p>em gente cuja atuação na APS é essencial para uma boa prática médica, contri-</p><p>buindo para a eficiência do Sistema Único de Saúde (SUS).</p><p>Encerramento do</p><p>módulo</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>42</p><p>Referências</p><p>BRANDT, J. A. Grupos Balint: suas especificidades e seus potenciais para uma clínica</p><p>das relações do trabalho. Rev. SPAGESP, Ribeirão Preto, v. 10, n. 1, p. 40-45, jun.</p><p>2009. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi-</p><p>d=S1677-29702009000100007&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 10 jun. 2021.</p><p>BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância à Saúde. Secretaria de Atenção</p><p>à Saúde. Diretrizes Nacionais da Vigilância em Saúde. Brasília, 2010.</p><p>BURTON, J; JACKSON, N. Work-Based Learning in Primary Care. Oxford: Radcli-</p><p>ffe Publishing, 2003. 167 p.</p><p>GRANT, J. Learning needs assessment: assessing the need. BMJ Clinical Research,</p><p>Londres, v. 324, p. 156-159, fev. 2002.</p><p>GUSSO, G.D; LOPES, J.M.C. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2. ed.</p><p>Porto Alegre: Artmed, 2019. 2 v.</p><p>HERBERT, C. The fifth principle: family physicians as advocates. Canadian Family</p><p>Physician, Mississauga, v. 47, p. 2441-2443, dez. 2001. Disponível em: https://www.</p><p>ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2018481/pdf/11785272.pdf. Acesso em: 1 jun.</p><p>2021.</p><p>HEYRMAN, J. European Academy of Teachers in General Practice. Make your</p><p>personal learning plan! Utrecht: European Academy of Teachers in General Practice,</p><p>2004-2007. Disponível em: https://euract.woncaeurope.org/sites/euractdev/files/</p><p>documents/resources/education-training-materials/makeyourownlearningagenda</p><p>manualforaworkshopeuract-cpd-committee-2004-2007.pdf. Acesso em: 6 jun. 2021.</p><p>JAMOULLE, M; GOMES, L.F. Prevenção Quaternária e limites em medicina*,**. Rev</p><p>Bras Med Fam Comunidade [Internet]. 31º de dezembro de 2013 [citado 27º de</p><p>julho de 2021];9(31):186-91. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/</p><p>view/867 Acesso em: 6 jun. 2021.</p><p>LANDSBERG, G.A.P. et al. Análise de demanda em Medicina de Família no Brasil uti-</p><p>lizando a Classificação Internacional de Atenção Primária. Ciênc. Saúde Coletiva,</p><p>Rio de Janeiro, v. 17, n. 11, p. 3025-3036, nov. 2012. Disponível em: http://www.</p><p>scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-812320120011000</p><p>19&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 10 jun. 2021.</p><p>MCWHINNEY, I.R. Manual de Medicina de Família e Comunidade. Porto Alegre:</p><p>ARTMED, 2010. 471 p.</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702009000100007&lng=pt&nrm=iso</p><p>http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702009000100007&lng=pt&nrm=iso</p><p>https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2018481/pdf/11785272.pdf</p><p>https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2018481/pdf/11785272.pdf</p><p>https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/867</p><p>https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/867</p><p>43</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>NORMAN, A.H; TESSER, C.D. Seguindo os passos de McWhinney: da medicina de</p><p>primários à medicina tradicional e complementar. Interface, Botucatu, v. 23, p.</p><p>1-4, set. 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-</p><p>t&pid=S1414-32832019000100284&tlng=en. Acesso em: 9 jun. 2021.</p><p>RAKEL, R; RAKEL, D. Textbook of family medicine. 9. ed. Philadelphia: Saunders,</p><p>2015.</p><p>STEWART, M. et al. Patient-Centered Medicine: Transforming the Clinical Method.</p><p>Thousand Oaks: Sage Publications, 1995.</p><p>WORLD ORGANIZATION OF FAMILY DOCTORS. The European Definition of GP /</p><p>FM. Disponível em: https://www.woncaeurope.org/page/definition-of-general-prac-</p><p>tice-family-medicine. Acesso em: 1 jun. 2021.</p><p>EIXO 01 | MÓDULO 03 Princípios da medicina de família e comunidade</p><p>44</p><p>DANIEL ALMEIDA GONÇALVES</p><p>Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Pau-</p><p>lista de Medicina (1999), Mestrado em Psiquiatria e Psicologia Médica (2009) e Dou-</p><p>torado em Saúde Coletiva (2012) pela Universidade Federal de São Paulo. Atual-</p><p>mente é coordenador pedagógico do curso de Especialização em Saúde da Família/</p><p>UNASUS Unifesp, Médico Técnico Administrativo em Educação do Departamento</p><p>de Medicina Preventiva da UNIFESP/EPM, Preceptor da residência médica de Medi-</p><p>cina de Família e Comunidade da Universidade Federal de São Paulo e Coordena-</p><p>dor de Educação Médica da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medi-</p><p>cina – SPDM/PAIS. Também atua como médico clínico da Prefeitura Municipal de</p><p>São Paulo. Tem experiência na área de Medicina, atuando principalmente nos</p><p>seguintes temas: Medicina de Família, Atenção Primária e Saúde Mental.</p><p>Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/5392203984984554</p><p>GABRIELA ALVES DE OLIVEIRA HIDALGO</p><p>Graduada em Medicina pelo Centro Universitário São Camilo, Médica de Família e</p><p>Comunidade pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e 3º ano de resi-</p><p>dência com área de atuação em Cuidados Paliativos. Técnica Administrativa em</p><p>Educação do Departamento de Medicina Preventiva/UNIFESP, parte da Coordena-</p><p>ção da Residência Medicina de Família e Comunidade (Geral e 3º ano - Área de</p><p>Atuação em Cuidados Paliativos) e Preceptora no Ambulatório de Medicina Geral</p><p>e Familiar (Graduação e Residência). Parte da equipe formadora PROADI-SUS Albert</p><p>Einstein voltada a Cuidados Paliativos e Atenção Primária à Saúde. Gerente Médica</p><p>do Grupo ASAS Health. Mestre em Educação Médica (Tema principal: Currículo</p><p>Baseado em Competências para Medicina de Família e Comunidade).</p><p>Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/3012662780540204</p><p>Biografia dos</p><p>conteudistas</p><p>http://lattes.cnpq.br/5392203984984554</p>