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INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS 
Odair José Torres de Araújo1 
Apresentação 
Neste texto estudaremos as Ciências Sociais, suas especificidades e método. 
Destacaremos as relações que esse campo estabelece com as outras ciências e a Filosofia. 
Será abordado ainda o debate em torno das Ciências Sociais no que tange a sua 
capacidade de responder às exigências do método científico. Por fim, analisaremos o 
Direito e as implicações epistemológicas de uma ciência jurídica. 
 
I. O Surgimento das Ciências Sociais 
Durante muitos séculos a Filosofia permaneceu como um grande campo do saber. Isso 
não significa que as pessoas anteriormente não faziam matemática, física, medicina, 
história, direito, etc. Ao contrário, muitos filósofos eram, na verdade, matemáticos, 
médicos, ou físicos. 
O que aconteceu é que na Idade Moderna, com o desenvolvimento do método 
experimental muitos desses saberes foram paulatinamente se separando da Filosofia. 
Assim, o mesmo que já havia acontecido com as ciências naturais, passa agora, a partir do 
século XVIII, a acontecer também no campo social. 
- A virtude é natural ou resultante da educação? 
- Homens e mulheres são naturalmente diferentes ou a sociedade é responsável pela 
produção dessas diferenças? 
 
1 Mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília e Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade 
Federal de Goiás. Desde de 2006 é professor de Sociologia e Ciência Política na Universidade Católica de 
Brasília. 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 2 
 
Independente das respostas que possamos oferecer às essas e outras questões do 
gênero, ou até mesmo as ponderações que possamos fazer a respeito das próprias 
questões, há algo que é incontestável: são questões que envolvem a conduta humana. 
Mas o que isso realmente significa? 
As Ciências Sociais surgem num momento de crise da sociedade européia. São as 
manifestações políticas e sociais resultantes de grandes alterações, sobretudo no campo 
econômico, que instigaram estudiosos a colocar o social como objeto de investigação 
científica. 
O professor Carlos Benedito Martins (1983) destaca as revoluções Industrial e Francesa 
como marcantes desse processo, uma vez que elas foram responsáveis por mudanças 
significativas na sociedade européia do período. Seus reflexos, contudo, não se limitaram 
a único momento ou lugar, mais desencadearam uma série de outras mudanças. 
Vamos pensar aqui em alguns temas: 
- Qual a relação entre Revolução Industrial e estrutura familiar? 
- Qual a relação entre criminalidade e Revolução Industrial? 
A resposta para essas perguntas é: pensando na Revolução Industrial sob o prisma da 
evolução tecnológica não conseguimos estabelecer nenhuma relação entre os temas 
postos nas duas questões acima. Ponto final! 
Mas não é tão simples assim. Quando analisamos a Revolução Industrial do ponto de vista 
técnico e econômico vamos destacá-la como grande evento humano que alterou 
positivamente o processo de produção de bens de consumo. 
Acontece que alguns estudiosos do período perceberam que as conseqüências dessa 
revolução não se limitavam à nova tecnologia que se inaugurava, tampouco alterava 
exclusivamente o processo produtivo. 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 3 
 
Essa revolução alterava significativamente o modo e estratégias de vida dos indivíduos e 
suas conseqüências adentraram os lares de milhares de famílias daquela época com 
reflexos importantes até os nossos dias. 
A conduta humana já era sim um objeto que preocupava estudiosos, mas era analisada 
sob o viés da Filosofia. As diferenças entre as culturas eram concebidas como resultantes 
de fatores raciais e/ou climáticos, o que o professor Roque Laraia chama de 
determinismos biológico e geográfico. 
Embora não se possa atribuir a responsabilidade pelo surgimento das Ciências Sociais a 
único estudioso, Saint-Simon (1760-1825) e Auguste Comte (1798-1857) tiveram papel de 
grande relevância nesse processo. 
Não vamos aqui estudar o pensamento desses autores, não é esse o objetivo deste texto. 
Trata-se, tão somente, de situar o surgimento das ciências sociais e para esse fim não 
podemos ignorar o valor desses dois estudiosos. 
Insistimos na idéia já lançada de que a conduta humana não passa a ser objeto de estudo 
somente com o surgimento das ciências sociais. 
Sócrates, quando se perguntava sobre a coragem ou sobre a justiça estava, na verdade, 
lidando com a conduta humana. Não é de pouca importância a classificação que sua 
filosofia recebeu, antropológica, exatamente porque contemplava o homem nas suas 
investigações. 
Contudo, encarar a conduta humana sob a perspectiva científica é tarefa empreendida 
inicialmente por Saint-Simon e Comte, especialmente este último e é por esse motivo que 
se destacam aqui os nomes desses dois pensadores. 
As Ciências Sociais surgem no contexto do século XVIII com a finalidade de responder aos 
dilemas postos pela sociedade capitalista (MARTINS, 1983). As revoluções industrial e 
francesa provocaram significativas alterações na Europa. 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 4 
 
Essas alterações implicaram em mudanças estruturais, inchaço populacional das 
principais cidades num curto espaço de tempo; mudanças comportamentais, alteração 
nas relações familiares em função da entrada da mulher no mercado de trabalho; 
mudanças institucionais, alteração na estrutura do Estado. 
Algumas conseqüências foram mais gravosas: aumento significativo da criminalidade, 
violência, doenças e outras mazelas. Não foi difícil perceber que não se tratavam de 
problemas meramente econômicos ou técnicos. Émile Durkheim (1858-1917) chegou a 
afirmar que a sociedade daquele período estaria passando por um vazio moral. 
Assim, paulatinamente a idéia inicial de Comte de abrir um novo campo nas ciências foi se 
transformando em realidade. Muitos outros estudiosos, ou influenciados pelo seu 
pensamento, ou mostrando idéias inteiramente diferentes, começaram a identificar o 
social como um campo específico da investigação científica. 
 
II. A especificidade dos fenômenos sociais 
A história das Ciências Sociais se confunde com a história da Sociologia. A razão para isso 
é muito simples: no início não havia a divisão dessa ciência em vários ramos. 
Falar do social era falar em Sociologia. Com o passar do tempo foram surgindo outros 
ramos e hoje temos: Antropologia, Ciência Política, além das ciências sociais aplicadas, 
como o próprio Direito e as Relações Internacionais. 
O Direito, por exemplo, não surge na Era Moderna, sua história começa muito antes 
desse período. Contudo, encarar o direito sob uma perspectiva científica, ou criação de 
uma ciência jurídica é tarefa bem mais recente na nossa história. 
O mais importante, no entanto, é saber que as ciências sociais pretendem investigar o 
social sob o viés científico. Mas o que isso significa? O que é o social? 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 5 
 
Social é entendido como os produtos da ação humana, sejam eles de natureza material 
ou simbólica. O social implica em algo que se diferencia do natural ou do biológico, uma 
vez que ele depende da vontade humana para se realizar. Vamos usar alguns exemplos 
para nos ajudar a compreender melhor o significado do social. 
Uma caverna é resultante de um longo processo geológico. Uma casa é um produto 
social. Usar a pele de um animal para se proteger do frio é social, alterar o organismopara melhor se adaptar ao frio é um processo natural. A atração sexual a que estamos 
submetidos é um processo biológico, os diversos métodos que usamos para conquistar 
o(a) parceiro(a) sexual é um processo social. 
Mas o social envolve muito mais do que fazer certas coisas, ou a maneira de se construir 
determinados objetos. O social envolve algo especial: a conduta humana. Os cientistas 
sociais, tais como antropólogos, sociólogos, cientistas jurídicos e cientistas políticos, para 
ficarmos apenas em alguns poucos exemplos, visualizam a conduta humana como dotada 
de especificidades que só se explicam pelo social. 
- Por que as pessoas votam naquele candidato? 
- Por que a norma carece de mecanismo de punição para que tenha eficácia? 
- Por que sociedades distintas produzem respostas diferentes para problemas 
semelhantes? 
As respostas para essas questões apresentam uma singularidade: social. Em outras 
palavras, todas elas lidam com dilemas da conduta humana e que só são respondidas se 
forem levadas em consideração as implicações que a vida social impõe. 
Já se tentou relacionar fenótipo e conduta criminosa. Além desse tipo de relação, outras 
já foram empreendidas, como a tentativa de identificar raças superiores. Todas essas 
tentativas levaram a humanidade a produzir preconceitos e discriminação que resultaram 
em dominação de um grupo sobre o outro ou na justificativa pseudocientífica desse 
domínio. 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 6 
 
Quando dissemos, contudo, que alguém tem natureza ruim, por exemplo, estamos, na 
verdade, tentando justificar uma conduta que desaprovamos sob o viés do determinismo 
biológico. Ou seja, embora se trate de conduta humana, resultante de um complexo 
processo de socialização, estamos atribuindo à essa conduta um fator estritamente 
natural. 
Os primeiros cientistas sociais tiveram, então, que enfrentar o problema da conduta 
humana considerando-a como resultante de um processo humano, construído nas 
relações que se estabelece no seio de um determinado grupo e não como processos 
naturais, biológicos ou meramente instintivos. 
Se consideramos apenas nossos instintos, nossas necessidades primárias, ou respostas 
que se traduzem a partir de fatores biológicos ou climáticos, não nos distanciamos em 
nada dos animais. 
Mas dizer que as ciências sociais encaram a conduta humana e suas múltiplas dimensões 
como produto social não diz muita coisa. É preciso ir um pouco além. É preciso entender, 
por exemplo, que nesse processo o homem é resultado de um processo social, visto que 
está inserido numa sociedade e, por isso mesmo, reproduz grande parte dos elementos 
do grupo do qual faz parte, como também é capaz de alterar seu próprio meio. 
Clifford Geertz (1989) nos ajuda a entender a idéia acima a partir de uma metáfora. A 
cultura é um empreendimento humano e a cultura é também produtora do homem. 
Assim, o antropólogo britânico chama a cultura de teia de significados tecida pelo próprio 
homem. 
Talvez o mais difícil na idéia de social seja compreender como somos produto de uma 
coisa, mas também somos produtores dessa mesma coisa. Para entendermos essa idéia 
temos que sair da dimensão meramente individualista. Vamos tentar ilustrar essa idéia a 
partir de um exemplo. 
Nossas avós aprenderam, desde muito pequenas, que as mulheres deveriam ser 
submissas ao homem. Na maioria das vezes, esse processo de formação não era 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 7 
 
empreendido de forma direta: vocês mulheres são submissas aos homens! Não! Não era 
assim que acontecia. 
Uma das formas encontradas e muito bem sucedida se dava através da divisão do 
trabalho e, mais do que isso, através da justificativa dessa divisão. Homens trabalham 
fora de casa, ganham dinheiro e trazem os produtos necessários para manutenção do lar. 
As mulheres ficam em casa, cuidam dos filhos e dos afazeres domésticos. Os homens são 
os provedores materiais. Esse processo, que durou por muitos séculos sem nenhuma 
alteração, permitia a manutenção da submissão da mulher sob três aspectos importantes: 
(1) Não podem trabalhar fora de casa, ficam em casa cuidando da família, logo não 
terão renda e assim manter-se-ão na dependência financeira em relação aos 
homens; 
(2) Tendo em vista que sua função é fundamentalmente doméstica, a educação 
recebida será destinada a esse fim. Até mesmo a formação escolar não deverá se 
estender muito, visto que não há necessidade de capacidade técnica-formal. Isso 
gera dependência, uma vez que dificulta sua entrada no mercado de trabalho em 
função da não qualificação. 
(3) Por fim, temos a ideologia da fragilidade feminina. Essa ideologia é útil porque 
inibe àquelas mulheres que estejam, eventualmente, interessadas em mudar a sua 
condição. 
Hoje é extremamente fácil identificarmos uma sala de aula do ensino superior com um 
número maior de mulheres do que de homens. Da mesma forma, é fácil identificarmos 
mulheres que não estão dispostas a reproduzir aquele modelo de família no qual nossas 
avós se enquadravam, qual seja, homem como provedor material e a mulher submissa e 
responsável pelos afazeres domésticos. 
Embora a luta para sair desse domínio tenha começado antes das nossas avós nascerem, 
vale a pena insistir nesse exemplo, porque ele também revela outro elemento, não 
apenas o da dominação, mas o tempo que essa dominação leva para ser eliminada. 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 8 
 
Ainda hoje testemunhamos condutas que reproduzem a cultura vivenciada por nossas 
avós! 
Mas afinal em que esse exemplo nos ajuda na compreensão da especificidade das 
ciências sociais? Vamos explorar um pouco mais o exemplo e com isso, acredito, a 
resposta será dada. 
Não é raro encontrarmos mulheres que responsabilizam as próprias mulheres pelo 
machismo. Em parte essas mulheres têm razão, mas apenas em parte. De fato, como 
foram educadas numa sociedade machista, a tendência é reproduzirem o machismo e, 
sob esse ângulo, são elas responsáveis pelo machismo. 
Mas não vamos ignorar que são as mulheres também produto de uma cultura e como tal 
acabam reproduzindo, muitas vezes a contra gosto, ou sem perceber, o próprio 
machismo. 
As mulheres são machistas porque fazem parte de uma sociedade machista e 
reproduzem o machismo porque são machistas! 
Nossa! Repetimos tanto essa palavra que chega até a nos confundir! Sigamos em frente! 
A cultura é um processo social e não individual. Assim, quem a faz são os próprios 
indivíduos na condição de grupo e não individualmente. Por esse motivo, ainda que 
minha avó tenha se recusado a se enquadrar no padrão da sociedade de sua época, sua 
atitude teria poucos resultados. Ela não encontraria muito espaço para fazer valer sua 
contrariedade. 
Acontece que, com o passar dos anos, não apenas a minha avó se manteve incomodada 
com a submissão aos homens, mas muitas outras mulheres começaram a pensar assim 
também e até alguns homens perceberam que a dominação masculina deveria ser 
combatida. 
Esse processo, na medida em que sai de uma condição meramente individual e ganha 
dimensões muito mais amplas, passa a provocar alterações significativas na própria 
sociedade. Não é intenção aqui reproduzir de forma sistemática a revolução feminista. O 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 9 
 
objetivo aqui é outro: é mostrar que a conduta humana é criada por nós e por isso mesmo 
passível de alteração, foi isso que as mulheres perceberam. 
Sendo a condutahumana um produto que não se explica pela própria natureza humana, 
mas pelo social, temos que buscar na fonte da própria sociedade os elementos que nos 
ajudam a compreender esse fenômeno. 
Mas como já foi colocado no início desta aula, os fenômenos relacionados à conduta 
humana já eram objeto de investigação, pelo menos, desde os tempos de Sócrates. O que 
muda, no entanto, com o surgimento das Ciências sociais é a maneira pela qual essa 
conduta será investigada. 
O problema que passaremos a investigar a partir de agora adentra esse campo, trata-se 
do método. Em outras palavras, investigar o social sob o viés científico possui algumas 
implicações, dentre as quais se destaca o método. Como desenvolver a investigação 
científica dos fenômenos sociais? 
 
III. O método das ciências sociais e seus objetivos 
Todo estudante de Direito já ouviu falar em Positivismo. Essa palavra aparece muitas 
vezes durante o curso, mas especialmente em disciplinas propedêuticas, como 
Introdução ao Direito, Sociologia do Direito e História do Direito. 
O que não é muito comum é se investigar as origens dessa palavra ou mesmo o que ela 
realmente significa. Cita-se um estudioso do Direito e o classifica como positivista, 
normalmente para criticar o seu pensamento. 
As vezes a palavra é usada para desaprovar uma determinada idéia: o problema da 
doutrina do Sr. X é que ainda se alimenta do Positivismo! Então, os alunos aprendem que 
Positivismo deve ser uma coisa muito ruim, ou fora de moda, não vale nem a pena perder 
tempo tentando entendê-lo, alguém já fez isso por nós e disse o que realmente ele 
significa. 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 10 
 
Não se trata aqui de ignorar a necessidade de postura crítica diante do conhecimento que 
é objeto de investigação em sala de aula. Acontece que a postura crítica se revela, muitas 
vezes, acrítica, porque simplesmente reproduz discursos já prontos. Os alunos ficam 
impossibilitados de refletir sobre o tema, afinal já se tem uma resposta definitiva! 
Infelizmente essa forma simplória de se classificar o conhecimento não ajuda muito a 
compreendê-lo, ao contrário, muitas vezes gera preconceito sobre determinado autor, 
conceito ou teoria. 
Foi exatamente isso que aconteceu com o Positivismo. Vamos então tentar compreendê-
lo e, mais que isso, identificar o seu valor para as Ciências Sociais em geral e para o 
Direito em particular. 
Os primeiros cientistas sociais enfrentaram o problema do método. A questão é bem mais 
simples do que a resposta. O problema é: analisar o social sob o viés científico. Qual 
método? O método científico! Simples, resposta fácil! 
Não, não é tão simples assim. Vamos explorar a temática para ser melhor compreendida. 
Conforme destacado na aula anterior, a ciência foi erigida sob alguns “cânones”. Seu 
método implica, dentre outros, neutralidade, objetividade e previsibilidade. 
Não precisamos aprofundar a análise para percebermos que há alguns problemas para as 
Ciências Sociais se considerarmos apenas esses três aspectos relacionados à atividade 
científica. 
A função social da propriedade. Trata-se de tema comum no Direito Agrário, por exemplo. 
Agora imagine uma monografia de final de curso feita sobre esse tema por um jovem 
graduando filho de um grande latifundiário que teve as terras do seu pai ocupadas pelo 
Movimento do Sem Terra (MST)! Conseguiu imaginar? 
Será que nosso jovem graduando conseguirá produzir um estudo cientificamente neutro, 
objetivo e capaz de realizar previsões? A resposta é: NÃO! O que não significa que não 
consiga produzir conhecimento válido, isso é uma outra coisa. 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 11 
 
Comte, ao iniciar os caminhos da nova ciência a chamou de física social. Seu objetivo era 
dá aos estudos das ciências sociais o mesmo caráter de precisão e exatidão que se 
encontram nas ciências naturais, tais como a matemática e a própria física. 
Na verdade, via uma superioridade da ciência positiva, uma espécie de coroamento do 
processo evolutivo de desenvolvimento do conhecimento humano. O conhecimento teria 
passado por três estágios: teológico, metafísico e positivo. 
Comte testemunhou um período conturbado da história do ocidente. As transformações 
pelas quais a sociedade européia estava passando repercutiram em todas as esferas da 
vida social, trazendo esperanças de uma sociedade melhor em função do progresso 
científico, mas também provocando temor em função das diversas conseqüências desse 
mesmo progresso. 
Além do progresso científico, não se pode ignorar as alterações políticas, das quais Comte 
é também herdeiro. A própria Revolução Francesa teve no Iluminismo a inspiração 
necessária para elaboração do seu lema. 
O criador do Positivismo, no entanto, não era tão otimista quanto ao ideal iluminista, pelo 
menos no que tange a crítica que aquela forma de pensamento empreendeu contra as 
instituições sociais. 
Comte via no Iluminismo um pensamento ácido, incapaz de propor alterações positivas. A 
palavra Positivismo é, na verdade, uma reação contra o Iluminismo, uma vez que ele 
considerava a Filosofia Iluminista como negativa. 
Assim, o propósito da ciência social produzida por Comte, batizada de Sociologia em 
substituição ao termo Física Social, tinha a função não apenas de explicar os fenômenos 
sociais, mas deveria ir além, deveria ser capaz de desenvolver uma técnica que permitisse 
aos homens de ação (políticos) promoverem as alterações na vida social. 
Talvez um exemplo que nos ajude a compreender o que Comte estava pensando é usar o 
exemplo das políticas públicas. Normalmente a intervenção do Estado numa determinada 
área tem se dado a partir de estudos previamente desenvolvidos. 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 12 
 
Assim, ao se combater a violência nas escolas, essa ação é precedida de um estudo 
técnico que indique as razões dessa violência, suas peculiaridades e alcance. O estudioso 
promove a investigação e também indica o que pode ser realizado para alteração do 
quadro. 
O homem de ação (político com cargo público) promoverá a ação intervencionista a partir 
do estudo realizado e das indicações produzidas. A esperança é que tal ação, sendo 
resultante de trabalho dessa natureza, possa produzir os efeitos desejados. 
É claro que nem toda ação do Estado se pauta por estudos bem desenvolvidos, é bem 
provável que a maioria dessas ações se dê mesmo por interesses imediatos, muito longe 
da investigação científica sobre o tema que ela foque no momento. 
Contudo, o exemplo nos ajuda a entender o que Comte pretendia. A ciência em si produz 
conhecimento. Pronto! É isso! Mas quando aplica esse conhecimento o transforma numa 
técnica. Para facilitar vamos usar, um outro exemplo. 
Cientistas estão pesquisando sobre um novo vírus, o objetivo é conhecer a estrutura 
desse vírus e como ele se prolifera. Alcançado esse grau de conhecimento, esses 
cientistas desenvolveram uma vacina capaz de combater o vírus. 
Ok! O estudo realizado sobre o vírus é a atividade científica, a vacina é o conhecimento 
científico transformado numa tecnologia, a imunização da população através dessa vacina 
é a intervenção. Essa última atividade depende do poder público, o cientista não tem 
como intervir nesse campo. 
O cientista social, então, deveria produzir conhecimento com o rigor das ciências naturais 
e produzir uma tecnologia social capaz de alterar o quadro social quando usada pelo 
poder público. 
O primeiro problema enfrentado pelo Positivismo comteano foi o do método. Ao 
concebera ciência a partir de um único modelo, o das ciências naturais, Comte se viu 
numa armadilha: ou as ciências sociais reproduzem o método das ciências naturais, ou 
então não poderão ser enquadradas no rol das ciências. 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 13 
 
Se o problema for colocado nesses termos, o resultado pode não apresentar a solução 
desejada. Primeiro, as ciências sociais não conseguem responder às exigências impostas 
pelo método das ciências naturais; segundo, não respondendo às essas exigências deixam 
de ser ciência. 
O que os cientistas posteriores a Comte perceberam foi que: ou se mantinha o projeto 
original do Positivismo e se tentava solucionar os problemas ocasionados por essa 
postura, ou teriam que abandonar o conceito de uma ciência, ou ainda, solução mais 
aceita, as ciências sociais devem ser entendida de um modo diferente. 
Em outras palavras, as ciências naturais se erigiram a partir de alguns procedimentos 
elementares, dentre os quais destacam-se aqui a observação, a experimentação e a 
comparação, além da neutralidade, previsibilidade e objetividade já citados 
anteriormente. 
A experimentação foi vista desde o início como um problema para as ciências sociais. 
Como reproduzir a conduta humana em laboratório? Além de problemas éticos, há que se 
considerar o fator da subjetividade humana envolvido, que tem a capacidade de se 
alternar conforme o experimento se repetisse. 
As tentativas de superar os problemas epistemológicos das ciências sociais renderam um 
número bastante elevado de debates que perdura até os nossos dias. Felizmente, 
atualmente essa temática é colocada num segundo plano e se busca muito realizar as 
atividades de pesquisa nesse campo do saber. 
A solução mais aceita entre os cientistas sociais é que estamos nos referindo mesmo a um 
outro modelo de ciência. Com isso não se abre mão do rigor científico, da necessidade da 
prova e até da busca da neutralidade, embora seja essa bastante difícil de se alcançar, 
mas se tenta garantir o máximo de confiabilidade nos estudo empreendidos. 
As ciências sociais lidam então com um objeto que apresenta as seguintes 
particularidades: 
- é dotado de vontade e subjetividade; 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 14 
 
- é capaz de interferir no olhar do pesquisador; 
- não é objetivo. 
Mas ainda assim, esse mesmo objeto apresenta: 
- regularidades; 
- concretude; 
- o sentido subjetivo pode ser apreendido. 
Estamos falando de conduta humana. Para a pergunta: por que os motoristas param 
quando o sinal está vermelho? Podemos encontrar respostas diferentes e todas corretas, 
porque cada resposta abarca um “pedaço” da realidade analisada. 
O jurista enfatizará a norma: existe uma norma precedida de punição para quem não 
cumpre o que foi estabelecido. Assim, o condutor do veículo, conhecedor dessa norma, 
sabe da necessidade de cumpri-la, sob pena de sofrer alguma sanção. 
O sociólogo dirá: parar no sinal vermelho é regra socialmente aceita e representa um 
meio adequado para organização da vida no trânsito. As pessoas param porque já se 
adaptaram a esse código, incorporaram-no à sua conduta. 
As duas respostas estão corretas, mas nenhum desses dois campos do conhecimento 
poderá apresentar os meios que garantam o cumprimento inequívoco dessa regra social. 
Em outras palavras, se juristas e sociólogos forem questionados sobre o que fazer para 
que todos respeitam a sinalização de trânsito, responderão o que é possível fazer para 
que o número de pessoas que descumprem as regras seja cada vez menor. 
As peculiaridades da conduta humana tiram das ciências sociais a capacidade de uma 
objetividade precisa e inequívoca, conseqüentemente a idéia de leis gerais e de 
previsibilidade. 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 15 
 
Nem por isso os estudos nesse campo do saber são imprecisos, ou não confiáveis. 
Podemos afirmar que jovens em situação de miséria são mais suscetíveis à criminalidade 
em função da situação de fragilidade em que se encontram. Ou ainda, podemos afirmar 
que normas mais simples e objetivas são mais fáceis de serem compreendidas e 
respeitadas do que normas muito complexas. 
Não se trata de uma lei científica, mas são formulações retiradas da investigação social 
que nos ajudam a compreender como funciona a conduta humana e o que podemos fazer 
para enquadrá-la melhor dentro de determinados parâmetros considerados desejados. 
Outro ponto importante, é que as Ciências Sociais, diferentemente das ciências naturais, 
carecem da empiria para comprovação de uma tese. O físico pode realizar seus estudos 
sobre buracos negros sem jamais ter chegado próximo a um e é bom mesmo que fique 
bem distante! 
Um matemático pode provar uma tese a partir de um conjunto de equações. Contudo, 
um jurista, por exemplo, não poderá afirmar que a previsão de saída temporária no natal 
para os apenados incidirá na redução dos conflitos na prisão sem realizar pesquisa a 
respeito. 
Não há uma fórmula matemática que ateste a eficácia dessa medida, o nosso estudioso 
terá, então, que recorrer à empiria. Esse recurso não inviabiliza a possibilidade de o social 
ser investigado sob o viés científico, mas o coloca numa condição especial em relação ao 
objeto das ciências naturais. 
As ciências naturais produzem investigações na busca de leis da natureza ou baseia seus 
estudos em leis já existentes, o que permite formular uma determinada teoria. 
Nas ciências sociais, a inexistência de leis científicas, ou a incapacidade dos cientistas 
sociais formularem essas leis, os obriga a recorrer à pesquisa de campo para 
comprovação das suas teses. 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 16 
 
Temos idéias gerais, como as citadas anteriormente, mas elas não nos garantem 
nenhuma precisão. Não se podem ignorar ainda as diferenças culturais que são capazes 
de derrubar muitas previsões realizadas por cientistas sociais. 
Como é, então, que se pode garantir a validade e a confiabilidade nas Ciências Sociais? 
O cientista social consegue responder a essa questão quando define claramente o objeto 
investigado; trabalha com conceitos bem formulados; busca técnicas de investigação que 
respondam adequadamente as suas indagações e expõe todo o procedimento usado para 
realização da pesquisa. 
É claro que há uma série de outros requisitos necessários à validação e confiabilidade dos 
estudos em ciências sociais. O intento aqui é apenas afirmar que esses estudos se 
mantêm qualificados a responder as indagações postas na tentativa de compreensão da 
conduta humana e que não apenas os recursos tradicionalmente usados pelas ciências 
naturais garantem validade. 
Muitas vezes a ciência é usada como substituta da religião. O epistemólogo Chalmers 
(2011) chegou mesmo a chamar a ciência de religião moderna. Talvez até por esse motivo 
os cientistas sociais, inconscientemente, preferiram não abrir mão do termo ciência. 
 
IV. A Ciência Jurídica 
A Ciência Jurídica é uma ciência social aplicada. Seu objetivo, além de investigar o direito 
como campo específico da atividade humana, é indicar caminhos no processo de 
aplicação do conhecimento produzido. 
Da mesma forma que a investigação sobre o caráter de cientificidade foi questionado 
para as ciências sociais em geral, assim também o foi para o Direito em particular. Aqui 
mais uma vez o Positivismo se fez presente. Talvez quem melhor tenha enfrentado essa 
questão seja Hans Kelsen (1999). 
Odair José Torres de Araújo– Introdução às Ciências Sociais 17 
 
O primeiro problema colocado foi o do objeto: qual é o objeto de investigação da ciência 
jurídica? A resposta pareceu simples e rápida: o Direito! O problema, no entanto, está nas 
implicações dessa resposta, ou seja, o que é o Direito? 
A resposta simples gerou uma outra pergunta, cuja resposta é bem mais complexa e 
extensa do que a simplicidade e o tamanho da questão! O próprio Hans Kelsen procurou 
também simplificar a resposta dessa segunda questão, afirmando que o Direito é norma e 
nada mais. 
O problema é que essa resposta não foi facilmente aceita. Há juristas de peso que 
discordam de Kelsen. Reale (2009), por exemplo, afirma que o Direito é fato, valor e 
norma. Atribui assim, uma dimensão social, filosófica e jurídica ao Direito. 
Há ainda os que consideram que a tentativa de enquadrar o direito num sistema lógico a 
fim de torná-lo objeto de uma ciência não é tarefa das mais frutíferas. Perelman (2000), 
por exemplo, criticando o Positivismo jurídico, dá ênfase no aspecto retórico presente no 
Direito. 
A questão que vale a pena ser investigada é: toda essa dificuldade de consenso é apenas 
aparente, ou se realmente ela é dotada de argumentos epistemológicos bem 
formulados? 
A ciência jurídica lida com a particularidade de um evento humano, qual seja a norma 
jurídica. Essa norma possui uma série de implicações e, portanto, aparece com o mesmo 
grau de complexidade do objeto de outras ciências sociais, tal como a Sociologia, a 
Política, a Economia e a Psicologia. 
Sendo assim, investigá-la sob uma perspectiva científica implica usar os recursos 
disponíveis nas ciências sociais que respeitem as peculiaridades desse objeto, mas que 
seja capaz de assegurar o mesmo grau de validade e confiabilidade que se exige em 
qualquer labor científico. 
 
Odair José Torres de Araújo – Introdução às Ciências Sociais 18 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
BRYM, Robert et al. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Thomson 
Learning, 2006. 
CHALMERS, A.F. o que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 2011. 
GEERTZ, Clifford. Interpretação das culturas. São Paulo: LTC, 1989. 
KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 
1993. 
MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1983. 
ORTIZ, Renato. As ciências sociais e a cultura. In: Tempo Social. Revista de Sociologia da 
USP. São Paulo, 14(1): 19-32, maio de 2002. 
PERELMAN, Chaim. Lógica Jurídica. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 
REALE, Miguel. Lições preliminares do Direito. São Paulo: Saraiva, 2009.

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