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FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO PROFESSORAS Me. Daiany Cris Silva Me. Milena Cristina Belançon ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/3259 EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. SILVA, Daiany Cris; BELANÇON, Milena Cristina. Fundamentos Sociológicos e Antropológicos da Educação. Daiany Cris Silva; Milena Cristina Belançon. Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. Reimpresso em 2021. 184p. “Graduação - EaD”. 1. Fundamentos 2. Sociológicos 3. Antropológicos 4. Educação. EaD. I. Título. FICHA CATALOGRÁFICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador(a) de Conteúdo Roney de Carvalho Luiz Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli, Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Arthur Cantareli Silva Design Educacional Jociane Karise Benedett Revisão Textual Meyre A. P. Barbosa Ilustração Produção de Materiais Fotos Shutterstock CDD - 22 ed. 370.1 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-65-5615-224-0 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 DIREÇÃO UNICESUMAR NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie Medeiros Vilela Daros Head de Tecnologia e Planejamento Educacional Tania C. Yoshie Fukushima Head de Recursos Digitais e Multimídias Franklin Portela Correia Gerência de Planejamento e Design Educacional Jislaine Cristina da Silva Gerência de Produção Digital Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Recursos Educacionais Digitais Daniel Fuverki Hey Supervisora de Design Educacional e Curadoria Yasminn T. Tavares Zagonel Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi BOAS-VINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra- balhamos com princípios éticos e profissiona- lismo, não somente para oferecer educação de qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- versão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- sional, emocional e espiritual. Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais (Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Por ano, pro- duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe- cidos pelo MEC como uma instituição de exce- lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa- cionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as neces- sidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter, pelo menos, três virtudes: inovação, coragem e compromis- so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ati- vas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis- são, que é promover a educação de qua- lidade nas diferentes áreas do conheci- mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A Me. Daiany Cris Silva Cientista Social com Mestrado e Licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). É especialista em Estudos Geracionais, realiza pesquisas sobre a participação social e política de jovens e idosos, utilizando como principal abordagem teórica e metodológica a antropologia. Possui experiência com políticas públicas para a juventude, em razão do trabalho realizado no setor responsável por essa temática, na Prefeitura Municipal de Maringá, entre os anos de 2015 a 2017. Atua, desde o ano de 2018, como Professora de Sociologia no Ensino Médio Regular e na Educação de Jovens e Adultos da Rede Básica de Educação do Estado do Paraná. http://lattes.cnpq.br/9836626816148868 Me. Milena Cristina Belançon Mestra em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (2020) e também bacharela (2017) e licenciada (2016) em Ciências Sociais, pela mesma universida- de. Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas em Participação Política (NUPPOL/UEM), possui experiência com pesquisas em políticas públicas para mulheres e realiza, também, pesquisas sobre participação política, repertórios de ação política e mo- vimentos sociais, utilizando como principal abordagem teórica e metodológica a Ciência Política. http://lattes.cnpq.br/6653565063142893 A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS E ANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Seja bem-vindo(a), caro(a) estudante, a discussão sobre os Fundamentos Sociológicos e An- tropológicos da Educação tange conceitos e métodos de pesquisa que produzem interpreta- ções sobre o mundo moderno, por isso, fornecem aparato científico para a prática e didática pedagógica cotidiana. O estudo das sociedades humanas promove o desenvolvimento de concepções atentas às diversas expressões culturais e políticas das relações sociais. E para dimensionar estas dinâmicas, este livro retrata temas centrais de duas das principais áreas das Ciências Sociais: a Sociologia e a Antropologia. O nosso intuito é oferecer um panorama básico sobre teorias, correntes de pensamento e metodologias clássicas e contemporâneas da Sociologia e Antropologia, que contribuem para a orientação e qualificação de profissionais da educação. Para isso, apresentamos, na Unidade 1, o contexto de surgimento das Ciências Sociais como um campo de investigação que emergiu dos processos de transformação social da modernidade. Nas Unidades 2 e 3 abordaremos as correntes de pensamento da Sociologia, ciência que trata das relações humanas e suas instituições sociais. Na primeira, apresentamos o tripé da Sociologia clássica, Émilie Durkheim, Max Weber e Karl Marx, autores que orientaram a disci- plina em sua consolidação e influenciam muitas discussões na atualidade, discussões essas que serão abordadas na unidade posterior, que trata não só da Sociologia contemporânea como da sua difusão no Brasil. Em ambas as unidades buscamos demonstrar a importância das discussões sociológicas para as questões escolares atuais. Nas unidades seguintes, tratamos da Antropologia, ciência que possui como principal objeto de estudo as culturas humanas. Na Unidade 4, buscamos apresentar as principais caracte- rísticas da disciplina, suas diferentes correntes teóricas e seu principal método de pesquisa, a etnografia. Quanto à presença da disciplina no Brasil e suas reflexões sobre temas da sociedade contemporânea, discutimos na Unidade 5, abordando a pluralidade de vivências na urbanidade. Destacamos nessas duas unidades como a antropologia pode contribuir na compreensão da realidade social do ambiente escolar. Esperamos que nossas discussões possam colaborar para a sua formação na prática educacional. Bons Estudos! ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele- mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples. conceituando No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhoros conceitos aprendidos. quadro-resumo Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. explorando ideias Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento! pensando juntos Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno- logia a seu favor. conecte-se Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO 8 TEORIAS SOCIOLÓGICAS COMO INSTRUMENTOS PARA A EDUCAÇÃO 40 73 SOCIOLOGIA E EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE 101 PERSPECTIVAS ANTROPOLÓGICAS COMO INSTRUMENTOS PARA EDUCAÇÃO 137 ANTROPOLOGIA E EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE 173 CONCLUSÃO GERAL 1 INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS e sua relação com a educação PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • As Ciências Sociais como um campo de estudos que emerge de uma sociedade em transformação • Sociologia e Antropologia: produzindo um olhar orientado sobre a vida em sociedade • As ciências sociais e as diretrizes nacio- nais da Educação Básica. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender o surgimento da sociologia como resultado das transformações sociais ocorridas com as Revoluções Industrial e Francesa. Conhecer a perspectiva de Auguste Comte, ao criar a física social para demonstrar sua preocupação em racionalizar as mudanças ocorridas no período • Analisar a Sociologia e a Antropologia como ferramentas de se localizar, socialmente, buscando a compreensão da socieda- de em que vivemos e percebendo a interferência das estruturas sociais na vida cotidiana • Entender a relação das ciências sociais com as diretrizes nacionais de Educação Básica, pontuando em que medida a disciplina pode contribuir para o alcance dos objetivos da política educacional brasileira. PROFESSORAS Me. Daiany Cris Silva Me. Milena Cristina Belançon INTRODUÇÃO Prezado(a) estudante, a sociologia e a antropologia são áreas do saber que estão inclusas na grande área das humanidades, focadas em compreender as diferentes sociedades, suas relações, diversidade, entre tantos outros as- suntos que buscaremos abordar ao longo desta unidade. A educação está presente em todas as sociedades e, por isso, é um objeto de análise muito importante para essas áreas há muito tempo. Eixos de tra- dição clássica e contemporânea buscam responder uma série de questões que ligam sociedade e educação, compreendendo que essas relações se auto alimentam, ou seja, a educação impacta nas práticas sociais, assim como as práticas sociais impactam a educação. Desse modo, pensar a educação na perspectiva sociológica e antropológica, nos faz refletir sobre processos de socialização contidos em sistemas simbólicos e culturais, ou seja, em dimensões das sociedades que organizam e “regularizam” os processos de reprodução da vida, a qual a educação está contida. Para iniciarmos este caminho cujo objetivo é nos aproximar das refle- xões sociológicas e antropológicas da educação, traremos, nesta unidade, três grandes tópicos que nos farão compreender melhor os fundamentos dessas áreas e em que elas podem ajudar na prática escolar: as ciências sociais como um campo de estudos que emerge de uma sociedade em transformação; sociologia e antropologia, produzindo um olhar orientado sobre a vida em sociedade; e, as ciências sociais e as diretrizes nacionais da Educação Básica. Desse modo, apresentaremos a você um breve histórico do surgimen- to dessas ciências, introduzindo sua aplicabilidade e, também, indicando a relação destas com a educação. Nosso objetivo é que esta unidade possa aproximá-lo da Sociologia e da Antropologia, enxergando, nesse caminho, as possibilidades de moldar-se enquanto profissional da educação. Bons estudos! U N ID A D E 1 10 1 AS CIÊNCIAS SOCIAIS COMO UM CAMPO DE ESTUDOS que emerge de uma sociedade em transformação Prezado(a) aluno(a), buscaremos compreender o surgimento da Sociologia, contex- tualizando-a como resultado de transformações sociais. Para tanto, apresentaremos a perspectiva do autor conhecido como fundador desta ciência, Auguste Comte (1798- 1857), e sua preocupação em racionalizar as mudanças ocorridas neste cenário. Desde já, gostaríamos de pontuar que as Ciências Sociais subdividem-se em três grandes áreas: a sociologia, a antropologia e a ciência política. Porém este grande campo surge com o nome de Sociologia e, posteriormente, é subdivido entre as áreas específicas, em todos eles o conhecimento gerado é sobre a sociedade, porém cada área parte de um viés particular. Desse modo, esta seção trata da sociologia, todavia entendendo que a antropologia também está contida neste histórico. U N IC E SU M A R 11 Tente você, aluno(a), imaginar-se nesse contexto enquanto um artesão independente que vê a chegada das máquinas e todas as mudanças que esse fato acarreta. pensando juntos O século XVIII marcou o mundo por contar com duas grandes Revoluções, a Industrial (1780-1860) e a Francesa (1789-1799). Estas marcaram, definitiva- mente, a instalação da sociedade capitalista e desencadearam acontecimentos que tornaram possível o que entendemos por criação da sociologia. A revolução industrial, iniciada na Inglaterra, modificou os métodos pro- dutivos que, até então, eram, em grande parte, manuais, introduzindo a máqui- na a vapor e seus sucessivos aperfeiçoamentos. Dessa forma, progressivamente, poucas pessoas foram acumulando os novos meios de produção, as máquinas, e convertendo muitas pessoas em seus empregados. Portanto, esse momento concatena a consolidação da so- ciedade capitalista, e disto decorre uma série de mudanças nos costumes e nas instituições até então existentes, sendo necessárias novas formas de organização da vida social. Os artesãos tiveram que se adaptar, pois o seu produto não era mais competitivo tanto pelo trabalho manual despendido quanto pelo tem- po usado na produção. Dessa forma, todo o país se modificou, reunindo a população, até então, predominantemente rural, em grandes cidades no entorno das indústrias. Nessa realidade, mui- tos tiveram suas formas habituais de vida, radi- calmente alteradas tanto pela necessidade de se mudar para a cidade quanto pelas rígidas regras de trabalho impostas, inclusive, às crianças. Com isso, podemos imaginar o quanto essas cidades cresceram, demograficamente, e muito rápido. Este crescimento não foi acompanhado por uma estrutura adequada de moradia e saúde, U N ID A D E 1 12 o que tornou o cenário propício para que as cidades industriais passassem a abrigar altos índices de suicídio, alcoolismo, criminalidade, violência, surtos de epidemia etc. Nos anos seguintes, registraram-se os efeitos desta realidade em manifestações de revolta dos trabalhadores, como a destruição de máquinas, atos de sabotagem e a organização destes operários em associações que enfrentavam os proprietários dos instrumentos de trabalho em busca de melhores condições de vida. Em toda essa efervescência de mudanças e rearranjos, a sociedade passou a ser um problema que precisava ser investigado e analisado. E estas digressões começa- ram a ser feitas por pessoas que desejavam modificar essa realidade caótica. Estas pessoas já estavam fazendo sociologia, ainda que este termo não fosse empregado. Outra circunstância que engrossou o caldo para o surgimento da sociologia foi a mudança que ocorria nas formas de pensamento. Com as mudanças econômicas ocorridas, desde o século XVI, a visão sobrenatural para explicar os fenômenos foi dando lugar ao uso da racionalidade. O desenvolvimento de métodos de ob-servação da natureza fez com que os seres humanos pudessem, cada vez mais, dominá-la e controlá-la. Desse modo, o pensamento filosófico e científico pôde se aprimorar e abrir espaço para o uso da razão, em oposição ao controle teológico. Nessa perspectiva, no século XVIII, destacam-se os pensadores franceses, chamados iluministas. Estes se ocuparam em atacar os fundamentos da socie- dade feudal em busca de uma transformação da sociedade. Em suas análises, os iluministas indicavam que as instituições existentes iam contra a natureza de liberdade e igualdade presente nas pessoas, e, por isso, reivindicavam a liberação do indivíduo de todos os laços sociais tradicionais. Munida desta perspectiva é que a burguesia toma o poder, na França, em 1798, o que ficou conhecido como Revolução Francesa. A partir daí, desenrola-se uma grande mudança de regime, que impactou, também, o modo de organização da sociedade francesa. Toda essa mudança foi objeto de estudos de muitos pen- sadores, que questionaram cada vez mais a ordem e a racionalização. Dessa forma, a sociologia surge com interesses práticos, de propor soluções para os problemas da industrialização e suas consequências, para analisar e discu- tir sobre a “ordem social”. Uma série de pensadores cedeu ao mundo suas digres- sões usadas na formação do saber sociológico, desse modo, não há um criador a quem se endereça a criação dessa ciência, mas, sim, um conjunto destes. Dentre estes, destacamos o filósofo Auguste Comte. U N IC E SU M A R 13 Auguste Comte foi um filósofo francês que viveu entre 1798 e 1857. O autor de- senvolveu a teoria positivista, que consi- dera a ideia de que o conhecimento verda- deiro é dado por meio da experimentação e do aferimento científico. Dessa forma, o que autor chamava de física social (que agora chamamos de sociologia) deveria orientar-se em direção ao conhecimento das leis imutáveis da vida social. Segundo as palavras de Comte, na obra “Conceitos Gerais e Surgimento da Sociologia”: “ Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que são considerados os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é o objetivo de suas pesquisas. Assim, ela se propõe diretamente a explicar, com a maior precisão possível, o grande fenômeno do de- senvolvimento da espécie humana, visto em todas as suas partes essenciais (COMTE, 1972, p. 86). Desse modo, podemos compreender os motivos de Comte chamar essa nova ciência de “física social”, já que ele expressava o desejo de construí-la aos moldes das ciências naturais. Por sugerir este método e molde é que a criação da socio- logia é, muitas vezes, atribuída ao positivismo de Comte, pois foi assim que esta ciência começou a se oficializar. O positivismo é uma corrente teórica que defendia a disciplina e a ordem como fatores essenciais para o progresso social. Nesse sentido, a função do pensamento social deveria ser a de orientar a indústria e a produção, acreditando que o progresso econômico acabaria com os conflitos sociais e traria segurança para as pessoas. Des- sa maneira, a ciência, para os autores dessa corrente, poderia desempenhar a mesma função que a religião desempenhava no período feudal quanto à conservação social. Com isso, compreendemos que a sociologia surgiu num momento de grande expansão do capitalismo e efervescência de conflitos e lutas em que se envolviam U N ID A D E 1 14 A escolha de Comte pela palavra “positiva” para qualificar sua filosofia tinha a intenção de diferenciar da filosofia do século dezoito, que era negativa, ou seja, contestava as institui- ções sociais que ameaçavam a liberdade das pessoas. Desse modo, sua filosofia positiva não possuía caráter destrutivo, apenas de organizador da realidade. Fonte: as autoras. conceituando as classes sociais. Nesse cenário, um conjunto de pensadores faziam duras críticas à modernidade, urbanização, industrialização, ficando conhecidos como “Profe- tas do passado”, pelo apego que mantinham com as instituições feudais, religiosas e aristocráticas. Esses profetas estavam preocupados com a coesão social, a ordem e os valores morais da tradição. Essas ideias influenciaram, também, a forma de pensar dos pioneiros da sociologia, que estavam preocupados com a preservação da nova ordem econômica e política. Comte analisava que as ideias religiosas haviam perdido sua força na condu- ção das pessoas e, por isso, não era mais suficiente para organizar a nova socie- dade. Porém o autor também discordava dos iluministas, pois acreditava que a propagação dessas ideias pela sociedade só traria mais desunião. Segundo Comte (1972), era necessário restabelecer a ordem nas ideias e nos conhecimentos, a partir de uma nova maneira de conhecer a realidade. Para tanto, o autor partia da ciência e de seus avanços em diversas áreas e, principalmente, da visão positiva da realidade, reforçando a necessidade de se analisar a sociedade usando os mesmos métodos das demais ciências. Dessa forma, a sociologia deveria dedicar-se à busca dos acontecimentos constantes e repetitivos da natureza. Auguste Comte formulou a lei dos três estados, que, segundo ele, rege o modo de pensar da humanidade. Segundo essa lei, as concepções da história humana passam por três fases: teológica, metafísica e positiva. O estado teológico seria aquele em que as respostas para os fenômenos sociais e naturais são buscadas no sobrenatural, na ação divina, ou seja, sem uso da racionalidade. O estado metafísico seria um estágio de transição entre o estado teológico e o positivo, em que o sobrenatural é substituído por forças abstratas personificadas. Desse modo, a razão começa a se preparar para o exercício científico, mas ainda não está solidificada. Portanto, o estado positivo é o estado científico cujos fenômenos não são mais explicados de forma sobrenatural, mas, sim, pela U N IC E SU M A R 15 Notou alguma familiaridade nestes con- ceitos? Isso mesmo, é do positivismo de Auguste Comte que veio a escrita “Ordem e Progresso”, na bandeira do Brasil. Os ideais positivistas de “evolução organiza- da” impulsionaram a mudança de regime ocorrida com a Proclamação da Repúbli- ca e acabaram por ser homenageados na nova bandeira nacional, que é a que co- nhecemos hoje. explorando Ideias observação e atestação via método. Sendo assim, este seria o último estágio da evolução mental da razão humana. Dessa forma, Comte fundava-se na “ordem” e no “progresso” como agentes de atuação mútua na nova sociedade. Enquanto para ele, os iluministas se preo- cupavam só com a ordem, os revolucionários somente com o progresso, insistia na necessidade de uma ação mútua desses dois fatores. Nesse sentido, podemos concluir que o positivismo foi um movimento intelectual e político que influenciou, fortemente, governos e, também, sistemas educacio- nais, a exemplo da Reforma Educativa Brasileira, de 1891. A Reforma Educativa de 1891 foi impulsionada por Benjamin Constant (1833 – 1891), chefe do Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos – órgão que se ocupava com assuntos educacionais em nível nacional, na época , inspirado em Comte, promoveu uma série de mudanças na tradição do currículo jesuítico. Constant propôs substituir o ensino acadêmico por um conjunto mais amplo de matérias, que incluíam disciplinas científicas, como proposto pelo positivismo. A partir de então, uma série de pensadores se dedicaram cada vez mais a compreender a sociedade e tecer constatações sobre esta, tendo em vista que com o desenvolvimento da sociedade e do pensamento surgia, também, a ne- cessidade de novas explicações e formulações. Como apresentamos até aqui, a Sociologia é resultado das transformações sociais que vivemos entre os séculos XVIII e XIX. A modernização e a industrialização da nossa sociedade trouxeram muitas mudanças para a convivência social,suscitando questões relacionadas às desigualdades sociais, que se tornaram determinantes para influenciar a ma- U N ID A D E 1 16 O indivíduo só pode compreender sua própria experiência e avaliar o seu próprio destino localizando-se dentro de seu período; só pode conhecer suas possibilidades na vida tor- nando-se cônscio das possibilidades de todas as pessoas, nas mesmas circunstâncias que ele. Sob muitos aspectos, é uma missão terrível, sob muitos outros, magnífica. (Wright Mills) pensando juntos neira com que as pessoas se relacionam, coletivamente. Em outras palavras, as relações sociais mudaram e, como consequência disso, a organização política e a forma com que construímos significados sobre a vida em sociedade também se modificaram. Para compreender estas mudanças, as ciências naturais e exatas não seriam suficientes, portanto, sentiu-se a necessidade de criar uma ciência que pensa a coletividade e sua forma de organização, uma Ciência Social. 2 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA: PRODUZINDO UM OLHAR ORIENTADO sobre a vida em sociedade Dizer que é preciso se tornar cônscio, lúcido das nossas próprias possibilidades de vida e de quem nos cerca é a maneira encontrada pelo Sociólogo Wright Mills (1975) para nos provocar a olhar o mundo a nossa volta e compreendê-lo U N IC E SU M A R 17 para além do que já nos acostumamos como preestabelecido, desenvolvendo nossas próprias percepções e, o mais importante, localizando-se dentro de uma sociedade que possui a ordem e a estrutura que precisam ser reveladas a quem vive sob suas influências. Considerando o papel social da Sociologia de construir concepções sobre a forma como funcionamos e nos organizamos, coletivamente, Wright Mills (1975) diria-nos que nos tornar conscientes da sociedade em que vivemos é o passo inicial para que nós e todos que estão à nossa volta compreendamos melhor a própria experiência neste mundo. Por esse motivo é que toda essa contextuali- zação histórica do surgimento da Sociologia como conhecimento científico é essencial, pois, a partir desse movimento, entendemos como as Ciências Sociais se relacionam com a realidade cotidiana. É preciso ter em mente, portanto, assim como discutimos na seção anterior, que a modernidade modificou a maneira como nos relacionamos no nosso dia a dia, deixamos de ser donos do nosso próprio trabalho e passamos a vendê-lo para os donos das fábricas, trocamos os comandados de reis e rainhas, a monar- quia, por uma organização política em que a maior parcela da população possui direito de escolha e influência. O que conhecemos hoje como estado democráti- co, diminui-se a importância dos conhecimentos de senso comum, aqueles que aprendemos com a experiência, ou que ouvimos de familiares e vizinhos, lendas e crendices populares, em favor da ciência, que tomou um lugar de destaque e de razão absoluta. Todas essas mudanças proporcionaram nova maneira de pensar e agir, coletivamente, pois a vida em sociedade já havia se transformado. O desemprego, a fome, os problemas da vida urbana, como a falta de habita- ção para todos(as), são novas questões, a própria urbanização e o surgimento das cidades tornam-se novidade. E a pergunta que insistia em rodear os pensamentos de quem vivia esse momento de grandes transformações sociais era: Como po- demos explicar todos esses acontecimentos? As Ciências Sociais seriam, então, uma possível resposta ou, pelo menos, um campo científico que poderia indicar bons caminhos para se lidar com todas essas situações. Cabe evidenciar que há maior destaque para a Sociologia, pois, como apre- sentamos no tópico anterior, foi esta disciplina que inaugurou os estudos sobre as questões sociais, tendo como seu pioneiro Auguste Comte e sua ciência posi- tivista. Mas como é possível perceber na nossa vivência cotidiana, muitos temas estão presentes na estrutura de uma sociedade, e entre esses temas estão a cultura e a política, dimensões que são tratadas, respectivamente, pela Antropologia e a U N ID A D E 1 18 Ciência Política, campos científicos que desenvolveram teorias e técnicas espe- cíficas para tratar destas temáticas. Para que você, caro(a) aluno(a), compreenda melhor estas subdivisões das Ciências Sociais, trataremos, brevemente, sobre cada uma de suas áreas. “A Sociologia é o estudo da vida e do comportamento social, sobretudo em relação a sistemas sociais, como eles funcionam, como mudam, as consequências que produzem e sua relação complexa com a vida” (JOHNSON, 1997, p. 217). A Sociologia é uma ciência que analisa nossas relações interpessoais: família, relacio- namentos, grupos sociais e nossas relações com a vida pública: escola, trabalho, re- ligião, estado, justiça, entre outros meios sociais com que convivemos, diariamente. Já a Antropologia, definida, essencialmente, como o estudo da humanidade, concentrou-se, inicialmente, em investigar sociedades primitivas, com organiza- ção simples, restritas a ilhas e localizações distantes, que tiveram pouco contato com sociedades ocidentais, e que por serem “qualificadas como ‘simples’, em con- sequência, elas irão permitir a compreensão, como numa situação de laboratório, da organização ‘complexa’ de nossas próprias sociedades” (LAPLANTINE, 2003, p. 8). Desse modo, o estudo antropológico se concentra no entendimento da racionalidade humana em sua coletividade, como a humanidade produz signifi- cados e simbolismos, ou seja, o que é cultura e como ela se constrói. O olhar an- tropológico mostra-nos que, ao conhecer o outro, sociedades distintas da nossa, conhecemos a nossa própria realidade. Quanto à Ciência Política, podemos compreendê-la, mais amplamente, como o conjunto de “estudos sobre os fenômenos e as estruturas políticas, conduzido sistematicamente e com rigor, apoiado num amplo e cuidadoso exame dos fatos expostos com argumentos racionais” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 164). O que isso significa? Estudar os fenômenos e estruturas políticas é verificar tendências de comportamento político, determinados grupos tendem a se identificar com quais posições políticas? Realizar uma leitura orientada sobre dados eleitorais, fazer pesquisas de intenção de votos, mapear as ações do estado, ou avaliar políticas públicas. Este é o âmbito das Ciências Sociais que investiga nossas ações com relação às instâncias de poder, às estruturas políticas do estado e suas instituições. Com essa breve explicação sobre as três áreas das Ciências Sociais, é possível diagnosticar que não há uma divisão bem clara entre uma área e outra, todos os temas se entrelaçam. Isso é muito construtivo para a consolidação das Ciências Sociais como campo de estudos, pois possibilita a produção de um conhecimen- U N IC E SU M A R 19 to científico comprometido com a realidade social que, por sua vez, é diversa e dinâmica e, por isso, não pode ser lida por meio de uma única perspectiva. Como o próprio nome dessa disciplina nos diz, nesta seção, daremos mais ênfase à Sociologia e à Antropologia por entender que estes campos científicos proporcionam instrumentos de leitura da realidade social muito profícuos a pro- fissionais da educação, que são pessoas que estão em contato diário com questões emergentes da nossa organização social, além de considerar a grande influência que essas duas disciplinas possuem sobre a construção de teorias educacionais, tema que trataremos com mais profundidade nos capítulos seguintes. Então, quer dizer que a Ciência Política é um campo de estudos dispensável para se pensar a educação? De maneira alguma, lem- bra de quando dissemos que todas as áreas de estudo das Ciências Sociais estão, de certa maneira, interligadas? Pois é, embora a Ciên- cia Política não seja o nosso foco principal, ela fará parte de nossas discussões, dado que não há como discutir educação sem tocar em questões políticas, as próprias diretrizes curri- culares, as legislações e o sistema educacional que fazem parte das estruturas políticas.No entanto esta dimensão macroestrutural não é o principal ponto nesta disciplina, o que nos interessa, no momento, é discutir como utili- zar as Ciências Sociais como ferramenta para atuação prática na política educacional. A produção de conhecimento socio- lógico e antropológico, especificamente, fornecem suporte teórico e metodológico à implementação de políticas educacionais à prática docente e à organização pedagógi- ca, e é esse contexto que buscamos abordar nesta unidade. Sob esta perspectiva, você, caro(a) leitor(a), poderia nos questionar: Como, afinal, a Sociologia e a Antropolo- gia contribuem para a produção deste olhar U N ID A D E 1 20 orientado sobre a vida em sociedade? Ou melhor, o que significa esse olhar orien- tado? Bom, a nossa proposta, aqui, é demonstrar como é possível fazer do conhe- cimento sociológico e antropológico uma ação e fornecer conhecimento básico sobre este campo de estudos, uma das formas de proporcionar meios para que você possa realizar interpretações conscientes sobre a realidade em que vive. São estas interpretações conscientes sobre a realidade que chamamos de olhar orientado pela Sociologia e a Antropologia, que se caracteriza por uma análise atenta ao contexto social em que estamos inseridos. Assim como afirma Florestan Fernandes (FERNANDES apud FORACHI; MARTINS, 2008), o modo de agir, a capacidade de decisão e o julgamento depen- dem do grau de consciência dos indivíduos sobre as ações dos outros ou os efeitos das possíveis alterações da estrutura e do funcionamento das instituições. Desse modo, compreender as relações estabelecidas em seu entorno e possuir o enten- dimento sobre como as instituições sociais e as estruturas políticas desenvolvem interferências sobre a nossa vida cotidiana são conhecimentos que proporcionam mais capacidade de ação efetiva na sociedade e fazem com que um profissional da educação, por exemplo, se depare com problemas sociais e possa interpretá-los de maneira consciente e, por meio de sua análise, tomar decisões fundamentadas. Nosso objetivo é, portanto, nos distanciar do senso comum, dessas leituras preestabelecidas que temos sobre o mundo em que vivemos e que estão a salvo de questionamento, pois temos a plena certeza de que estão corretas por expe- riência. O senso comum pode ser traduzido em frases, como: “sempre pensei dessa forma” ou “eu sempre fiz assim porque é o certo a se fazer”, porém, frases como essas são acompanhadas de ações pouco avaliadas em que o contexto social é desconsiderado. Com toda certeza, nossa experiência pode e deve orientar nossas ações, afi- nal, é no convívio cotidiano que aprendemos muito sobre como nos relacionar, socialmente. No entanto há questões em que a experiência não pode dizer por si mesma a maneira de agir mais conveniente, pois não vivemos em todos os meios sociais existentes e, muito menos, passamos por todas as situações que viver nessa sociedade pode nos proporcionar, o que significa que não podemos ter conhecimento sobre tudo apenas por experiência prévia. Citamos como exemplo a seguinte situação: uma professora possui anos de experiência no ensino privado cuja ênfase do trabalho está no preparo para ves- U N IC E SU M A R 21 tibulares e avaliações seletivas. Essa professora é aprovada em um concurso da rede pública e planeja replicar seu método de ensino no novo local de trabalho. Ao assumir suas turmas em um bairro periférico, percebe que há uma série de defasagens no processo de aprendizagem e entende que isso é resultado da falta de esforço dos alunos(as). Então, a professora decide que é preciso ser mais rígida e cobrar mais empenho dos(as) alunos(as), e o resultado não foi satisfatório. Depois de um tempo maior convivendo com as turmas, após trocar experiências com outros(as) professores(as) de sua área, receber orientações da equipe pedagógica e ao conhecer, realmente, a realidade do colégio em que trabalhava, a professora compreendeu, aos poucos, que a dificuldade de aprendizado dos alunos era con- sequência de fatores externos ao empenho de cada um. Assim, decide rever a sua metodologia de ensino para se adequar à linguagem cotidiana dos(as) discentes, e a nova metodologia surtiu melhor efeito. Percebe que a professora precisou realizar uma análise mais aprofundada sobre a realidade de seu público-alvo? Se esse momento de análise de contexto fosse ignorado, e a professora insistisse em replicar o método de ensino que uti- lizava na rede privada na rede pública, a grande possibilidade é que o processo de ensino e aprendizagem fosse um fracasso, durante todo o ano letivo. Realizar análises sociais é um exercício que aprendemos com os estudos das Ciências Sociais, e utilizar este conhecimento como meio de lidar com situações como a citada anteriormente é extremamente importante para a atuação no meio educacional. Segundo Florestan Fernandes, esse exercício é um elemento típico dos estudos sobre a sociedade: “ Visto que as Ciências Sociais exige de nós, como requisito essencial, um estado de espírito que permite entender a vida em sociedade como estando submetida a uma ordem, produzida pelo próprio concurso das condições, fatores e produtos da vida social (FER- NANDES apud FORACHI; MARTINS, 2008, p. 10-11). Dessa forma, entende-se que compreender qual é a ordem estabelecida e como ela funciona é essencial para que possamos agir de maneira acertada com relação às questões que podem surgir durante a nossa atuação profissional. U N ID A D E 1 22 Toma-se Auguste Comte como referência. Suas indagações correspondiam a questões que não poderiam ser formuladas e respondidas no âmbito do conhecimento do senso comum ou da filosofia pré-científica: O que é ordem social? Como ela se constitui? Como ela se mantém? Como ela se transforma? Em outras palavras, com o aparecimento da Sociologia não só se amplia o sistema das ciências, como se descobrem meios intelectuais plenamente adequados às necessidades de desenvolvimento criador ou construtivo dos modos secularizados de perceber e de explicar o mundo. ( Florestan Fernandes) pensando juntos O destaque nesta perspectiva do sociólogo Florestan Fernandes (2008) dá-se na capacidade das Ciências Sociais de construir concepções de mundo e maneiras de interpretar a realidade. Considerando esta possibilidade que essa ciência no trás, cabe a nós exercitar o desprendimento das nossas concepções de mundo que já estão cristalizadas e preestabelecidas, as de senso comum e construir novas formas de compreender a vida em sociedade. Para que esse exercício seja possível, será preciso relembrar Wright Mills (1975). O sociólogo aponta que o processo de conscientização só é possível quan- do nos disponibilizamos a avaliar a própria experiência. Parece contraditório dizer isso neste momento, pois não deveríamos deixar de lado o senso comum e o conhecimento adquirido por experiência? Em parte sim, principalmente quanto a pré-noções, aquelas que não são questionadas, cotidianamente, e são apenas reproduções inconscientes. Porém a experiência diz respeito, também, a como nos relacionamos com o mundo em que vivemos. Retomemos o caso da professora, por experiência, ela tinha plena certeza de que o método de ensino que foi, comprovadamente, funcional na rede privada, era efetivo, mas, ao tentar replicar os mesmos métodos na rede pública, percebe que o resultado não foi o mesmo. A experiência de anos de ensino na rede privada diria que seu método é que estava correto, portanto, o problema estava na participação dos(as) estudantes que não se empenhavam o suficiente nos estudos. Contudo a sua pré-concepção de que um bom método de ensino poderia ser aplicado com igual resultado em qualquer realidade a impediu de ter bons resultados. Para re- verter esta situação, foi necessário realizar uma avaliação detida sobre a situação. Tendo em vista ocasiões como a dessa professora, é possível perceber que avaliar a própria experiência no sentido queprovoca Wright Mills (1975) é ponderar deci- U N IC E SU M A R 23 sões e agir de maneira consciente. Para aquela professora avaliar a própria experiên- cia, seria preciso admitir que lecionar para jovens de grupos privilegiados é ensinar pessoas que possuem mais intimidade com o conhecimento formal, pois possuem mais acesso à informação e a materiais de ensino de mais qualidade, se comparadas a jovens da rede pública que, junto ao seu histórico escolar, possuem uma série de questões sociais com que precisam lidar, muitas delas intensificadas pela sua condição de classe social e pelas desigualdades sociais que vivenciam, diariamente. Para Mills (1975), este movimento de avaliar a própria experiência, ponderar decisões e agir de maneira consciente, considerando os contextos sociais, chama- -se imaginação sociológica, termo criado pelo autor para conceituar o exercício de questionamento sobre a realidade social. Segundo o sociólogo, para exercitar a imaginação sociológica, é necessário realizar um conjunto de três séries de questões: “ 1) Qual a estrutura dessa sociedade como um todo? Quais seus componentes essenciais, e como se correlacionam? Como difere de outras variedades de ordem social? Dentro dela, qual o sentido de qualquer característica particular para a sua continuação e para a sua transformação? 2) Qual a posição dessa sociedade na história humana? Qual a mecânica que a faz modificar-se? Qual é seu lugar no desenvol- vimento da humanidade como um todo, e que sentido tem para esse desenvolvimento? Como qualquer característica particular que examinemos afeta o período histórico em que existe, e como é por ele afetada? Como difere de outros períodos? Quais seus processos característicos de fazer a história? 3) Que variedades de homens predominam nessa sociedade e nesse período? E que variedades irão predominar? De que formas são selecionadas, formadas, liberadas e reprimidas, tornadas sensíveis ou impermeáveis? Que tipos de “natureza humana” se revelam na conduta e caráter que observamos nessa sociedade, nesse período? E qual é o sentido que para a “natureza humana” tem cada uma das características da sociedade que examinamos? (MILLS, 1975, p. 13). Ufa! Quantas questões não é mesmo? Mas calma, o intuito não é responder com- pletamente cada uma dessas questões, o que desejamos é provocar reflexão. Após a leitura de todos esses questionamentos, você se sentiu incentivado a pensar U N ID A D E 1 24 melhor sobre o mundo em que vive? Ou, até mesmo, buscou responder algumas dessas questões? E aquelas perguntas com que você se sentiu inábil para respon- dê-las, provocaram curiosidade sobre suas possíveis respostas? É esse exercício de instigar curiosidades sobre o mundo a nossa volta que buscamos realizar, e é por isso que destacamos, na íntegra, esse conjunto de questões propostas por Mills (1975), para que compreendam o movimento de questionamento à realidade que Cientistas Sociais utilizam para investigar a vida em sociedade. A imaginação sociológica, no entanto, não é uma exclusividade de pesquisa- dores, ela é possível para todas as pessoas que se dispõem a desenvolver a razão a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro de si mesmo (MILLS, 1975). Isso significa que imaginar, sociologicamente, é interpretar os acontecimentos sociais e ter o discernimento sobre como eles influenciam suas próprias decisões, e essa capacidade de inter- pretação é possível para todas as pessoas. Se restringirmos as nossas respostas a cada uma daquela série de questões a um tema central, o sistema capitalista e suas relações econômicas, percebere- mos que cada questão e sua respectiva resposta revelam instâncias da vida em sociedade que podemos sentir em nossa vida cotidiana. Sintetizando de uma maneira muito simplória as possíveis respostas a todo este conjunto de ques- tões propostas por Mills (1975), podemos dizer que vivemos em uma sociedade que passou por um processo de industrialização, o que transformou a maneira de produzir e constituiu o sistema capitalista. As consequências disso em nosso dia a dia podem ser vistas em nossas relações de trabalho, no acesso desigual a direitos básicos. A simplificação é sintomática nos exercícios que realizamos nas ciências sociais pois, nossos modelos sempre serão simplificações grosseiras da realidade (FONSECA, 1999) pela simples impossibilidade de descrever em sua totalidade a realidade social. É notável, quando analisamos o público em geral da educação pública, por exemplo, que possui pouco poder econômico, o que é determinante para muitos comportamentos, principalmente, no processo de ensino-aprendizagem. No caso da professora que citamos anteriormente, muitos diriam que aluno é aluno, não importa de onde é e como é, mas a prática pedagógica demonstra que a realidade possui uma lógica diferente. Isso nos mostra que não é possível planejar uma atuação profissional efetiva se não analisarmos todas as condições de vida de nossos(as) estudantes. Embora todas aquelas três questões sejam reveladoras, em muitos sentidos, uma dimensão específica foi deixada de lado, propositalmente. Como a nossa U N IC E SU M A R 25 organização social difere de outras variedades de ordem social? Essa pergunta está na primeira série de questões proposta por Wright Mills (1975) e revela uma preocupação do autor, que é recorrente a muitos outros autores(as) das Ciências Sociais: quais são as nossas aproximações e nossos distanciamentos com relação a outras sociedades? O que o conhecimento sobre outras estruturas sociais pode revelar sobre a nossa própria organização? A intenção de tratar dessa dimensão de maneira mais aprofundada, separadamente, diz respeito a qual campo de estudos esses questionamentos reflete mais força, a Antropologia, outra área das Ciências Sociais que nos ajudará a orientar o nosso olhar sobre a realidade em que vivemos. Vamos pensar a educação como um processo de comunicação, que, geralmen- te, se constitui, também, como um processo de orientação. Para se comunicar, é necessário ter domínio da língua do outro, saber expressões, se fazer compreensí- vel. Então, imagine você, como podemos desenvolver esses conhecimentos de lin- guagem? Concordamos que conhecer o terreno onde estamos nos comunicando é essencial, certo? Logo, conhecer com quem buscamos conversar é, igualmente, importante. É nesse sentido que a antropologia nos ajuda na atuação educativa: “o sucesso do contato educativo depende do diálogo estabelecido entre o agente e seu interlocutor, e é nessa área de comunicação que o método etnográfico atua” (FONSECA, 1998, p. 59). Etnográfico? O que é isso? Calma. O método etnográfico, mais conhecido como etnografia, “é uma explicação descritiva da vida social e da cultura de um dado sistema social, baseado na ob- servação detalhada do que as pessoas de fato fazem” (JOHNSON, 1997, p. 101). Essa é uma metodologia criada por antropólogos para investigar sociedades não ocidentais. Com a riqueza de detalhes que esta técnica proporciona, é possível realizar análises aprofundadas sobre a organização e o funcionamento das mais variadas sociedades. Ressaltamos, veementemente, que esta tradição da antropologia de estudar sociedades não ocidentais foi inicial. É importante destacar que essa característica de formação da disciplina construiu um modo de conhecimento característico, apoiado na riqueza de detalhes e na construção de percepções sobre o outro. No entanto de acordo com o que afirma Laplantine (2003, p. 12), “se o campo de investigação da antropologia consistisse, apenas, no estudo das sociedades preservadas do contato com o Ocidente, ela se encontraria hoje sem objeto”. Ao se reinventar e expandir seu campo de pesquisa às configurações de nossa própria sociedade, a antropologia contribuiu para que as Ciências Sociais de- senvolvessem uma postura de investigação mediada pela observação direta e U NID A D E 1 26 interação lenta e contínua com pequenos grupos humanos. Este posicionamento metodológico, representado pelo olhar etnográfico, “além de ser um instrumento importante para a compreensão intelectual de nosso mundo, também pode ter uma utilidade prática” (FONSECA, 1998, p. 59) por proporcionar o entendimento da diversidade de vivências humanas. Em contexto escolar, conhecer o método de pesquisa da antropologia, a et- nografia, possibilita a compreensão das diferenças entre os comunicadores no processo de ensino-aprendizagem, professor(a) e aluno(a). Para isso, é preciso realizar um movimento crucial: tornar familiar o que é estranho e tornar estranho o que nos é familiar (FONSECA, 1998). Isso é o que chamamos na antropologia de estranhamento, esta postura motiva-nos a conhecer histórias, maneiras de agir e pensar, que são novas para nós, as quais não temos explicações prévias, ou problematizar situações que parecem possuir soluções evidentes, mas que, com uma análise detida, se mostram de difícil resolução. Por um lado deve haver um movimento de aproximação a ser realizado de maneira cautelosa e atenta, para que todos os novos elementos sejam mapeados e conhecidos. De outro lado, quando se trata do que nos é familiar, o movimento deve ser inverso, um desprendimento de conhecimentos prévios e a busca por maneiras imprevistas de se olhar e compreender uma situação. U N IC E SU M A R 27 A atitude de estranhamento mostra-nos que nada é inato, todas as ações e comportamentos são escolhas culturais, além disso, permite-nos descobrir que: aquilo que tomávamos por natural em nós mesmos é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é infinitamente problemático (LAPLANTINE, 2003). Esse termo é muito utilizado na antropologia, e ele só é possível em razão do contexto de surgimento da disciplina. Contudo o estranhamento é uma das etapas do mé- todo etnográfico, que, segundo a antropóloga Cláudia Fonseca (2003), pode se desdobrar em cinco: “1) Estranhamento; 2) Esquematização; 3) Desconstrução; 4) Comparação e 5) Sistematização do material em modelos alternativos” (FON- SECA, 1998, p. 66). Abordaremos cada uma dessas fases buscando exemplificar com uma situação do dia a dia da escola. Imagine que você é coordenador(a) pedagógico(a) de uma escola e recebe reclamações de professores das mais diversas áreas sobre o comportamento de um aluno. As reclamações retratam atitudes de agitamento durante as aulas e posturas inconvenientes em momentos inoportunos. Alguns dos(as) docentes, ao tratar sobre o aluno, logo indicam que aquele seria um caso de indisciplina e desrespeito à autoridade e, por isso, o aluno deveria ser tratado com rigor e com as punições devidas. Porém, ao ouvir, atentamente, todos os relatos, você percebeu que existiam indícios de que aquele comportamento possuía outra explicação, menos óbvia, dado que os(as) professores(as) relataram que era caracte- rístico daquele aluno a falta de concentração em uma única atividade, a fácil distração com elementos externos e atrasos no cumprimento de suas tarefas em comparação aos seus colegas. Percebendo essa situação, você, prontamente, buscou mais informações sobre o aluno, conversou, pessoalmente, com ele, consultou outros profissionais sobre a situação e, então, contatou a família para que um laudo médico fosse feito, pois tudo indicava que havia um fator inexplicado que seria determinante para o mau comportamento daquele aluno. A família acatou o pedido e, como resultado da avaliação médica, o aluno foi diagnosticado com hiperatividade, um transtorno neurológico cujas características são: desatenção, agitação e impulsividade, entre outros comportamentos que poderiam ser, facil- mente, confundidos com pura indisciplina e desobediência. O problema, claramente, não poderia ser resolvido apenas com a constatação do qua- dro médico do aluno, ainda seria necessária uma boa orientação de modo a propor mudanças na abordagem pedagógica em sala de aula. U N ID A D E 1 28 Perceba que, nesta situação, foi preciso ativar uma postura de estranhamento com relação às informações que recebeu, assim, houve a necessidade de se refuta- rem as explicações de fácil acesso e analisar a situação com mais afinco. Isso só foi possível, por meio de uma esquematização, um mapeamento das informações que chegaram até você, que, por sua vez, precisaram ser desconstruídas e vistas, por meio de uma nova lente, repensada e analisada, mais detidamente, de acordo com uma nova hipótese, seguido de análise comparativa ao desenvolvimento comum de outros(as) estudantes. Todo este caminho percorrido foi necessário para se compreender que a situação do aluno era, de fato, uma questão de hiperatividade e não poderia ser lida de maneira tão óbvia como indisciplina. Constata-se que, de alguma maneira, todos os passos do método etnográfico foram utilizados nesta situação hipotética, e quanto à última etapa, sistematização do material em modelo alternativo, está aqui, no relato desse caso, que serve como referencial para que se possa analisar situações semelhantes. Uma maneira interessante de sistematizar e referenciar as situações que enfrentamos no dia a dia escolar é a leitura de publicações acadêmicas. Ex- perimente acessar a coletânea de estudos de caso, organizada pelo Departa- mento de Educação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Nesta coleção, há uma série de situações que precisaram contar com uma análise detida do contexto de cada discente. Fonte: as autoras. conecte-se Embora tenhamos traduzido o método etnográfico de maneira prática e apro- ximada ao cotidiano, “a etnografia não é tão aberta, pois faz parte das Ciências Sociais e precisa de enquadramento (político e histórico) do comportamento humano” (FONSECA, 1998, p. 62). Esta objetividade de centrar um método es- pecífico para investigar as maneiras de ser e agir da humanidade em suas diversas expressões culturais é uma das principais características da Antropologia. http://www4.pucminas.br/graduacao/cursos/arquivos/ARE_ARQ_REVIS_ELETR20081205200459.pdf U N IC E SU M A R 29 A disciplina foi criada após o movimento intelectual do século XVIII que tornou a humanidade objeto de estudo científico, tomando o lugar da natureza, porém replicando métodos e técnicas de pesquisa das ciências naturais. Esse é o movimento responsável pelo surgimento do Positivismo de Auguste Comte, citado no início desta unidade. A antropologia, seguindo esse fluxo de mudan- ças no pensamento social, surge com um objeto e um método de investigação específicos: “as sociedades então ditas “primitivas”, ou seja, exteriores às áreas de civilização européias ou norte-americanas (LAPLANTINE, 2003, p. 7 - 8). O encontro com sociedades que possuem formas de organização social com lógicas tão distintas da nossa proporciona às Ciências Humanas como um todo um novo olhar científico, que só foi possível, por meio da história de formação da antropologia como disciplina e sua imersão em sociedades não-ocidentais. Ao possibilitar o entendimento de outras culturas, o debate antropológico permite notar, com a maior proximidade possível, que as formas de compor- tamento e de vida em sociedade que tomávamos todos, espontaneamente, por “inatas (nossas maneiras de andar, dormir, nos encontrar, nos emocionar, come- morar os eventos de nossa existência...) são, na realidade, o produto de escolhas culturais” (LAPLANTINE, 2003, p. 13). Este contexto possibilitou a criação do termo estranhamento sobre o qual discutimos anteriormente. O saber antropológico é, portanto, o conhecimento do plural, da diversidade de escolhas que a humanidade possui. Por meio dessa característica da disciplina, o campo de estudos da educação se motivou a adotar posicionamentos teóricos, também plurais, que consideram a diversidade de vivências que compartilham o espaço escolar. Em um âmbito geral, a Sociologia e a Antropologia contribuem para que os(as)profissionais da educação construam uma atuação profissional contex- tualizada, considerando os diversos âmbitos da vida em sociedade, economia, cultura e política, como elementos determinantes e formadores de seres sociais. Orientar o nosso olhar por meio da Sociologia e a Antropologia é essencial para que a prática na política educacional tenha a análise social como norteadora de suas ações e, por meio disso, possa contextualizar histórias individuais. Em sín- tese, a reflexão que os olhares que essas duas ciências constroem trabalham com uma lente multifuncional, que não isola a individualidade de sua origem social. U N ID A D E 1 30 Buscamos mostrar, na seção anterior, que as Ciências Sociais, como um campo de estudos mais amplo, proporciona, por meio do estudo científico, a produção de um olhar mais orientado sobre a realidade em que vivemos. A sociologia colabora para que sejamos mais curiosos e atentos com relação às explicações sobre como nos organizamos, coletivamente, e a antropologia revela que existem inúmeros signifi- cados para as maneiras de agir, ser e pensar da humanidade, assim como há diversas possibilidades de se estabelecer a convivência social. Essa capacidade de produzir percepções sobre o mundo pode ocasionar um lugar de privilégio a esta ciência na articulação de políticas educacionais, e é sobre este tema que trata esta seção. Segundo do Artigo 205, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988, on-line): “ A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Vista como direito social básico, a educação possuía um papel central no processo de redemocratização do estado brasileiro. No final do século XX, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), que institui a necessidade de orientar os currículos dos sistemas e redes de ensino brasileiras de maneira 3 AS CIÊNCIAS SOCIAIS E AS DIRETRIZES NACIONAIS DA educação básica U N IC E SU M A R 31 uniforme, para que se possa garantir o direito de educação a todos, de maneira igualitária e formativa, foi um importante passo para alcançar esse objetivo de uma educação para o exercício da cidadania e qualificação para o mercado de trabalho. O texto da LDB serviu de amparo para a consolidação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é como se chama o documento que foi desen- volvido para estabelecer competências, habilidades e conhecimentos a serem desenvolvidas nos estudantes brasileiros. O que se destaca no processo de cons- trução das políticas curriculares no Brasil é que ele se deu em um contexto de configuração de nossa Democracia e de disputa de pautas políticas, que versam sobre o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento da população brasileira (SILVA; NETO; VICENTE, 2015). A BNCC, assim como os principais documentos que norteiam o sistema edu- cacional brasileiro, reconhece que a educação tem um compromisso com “a for- mação e o desenvolvimento humano global, em suas dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica” (BNCC, 2018, p. 16). Isso significa que a consolidação das diretrizes curriculares do estado brasileiro segue, em grande medida, os propósitos de desenvolvimento social que foi tão cara ao surgimento da Sociologia, e como consequência, as Ciências Sociais de forma mais abrangen- te. Essa relação pode ser vista, principalmente, no Brasil, quando relacionamos à consolidação das investigações sobre educação e das Ciências Sociais. Segundo Henriques (1998), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu- cacionais Anísio Teixeira (INEP) teve um importante papel na formação de um campo de estudos da educação como uma ciência. Entre as décadas de 50 e 60, Anísio Teixeira, o então diretor do INEP, firmou parcerias com instituições, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), para lançar programas de pesquisa no âmbito educacional. Nesse momento, o INEP enfatizava o objetivo de “aplicar a pesquisa sociológica à po- lítica educacional, dentro de uma perspectiva de uso das Ciências Sociais para a solução dos problemas da educação no Brasil” (HENRIQUES, 1998, p. 83). Caro(a) aluno(a), você se lembra de que pontuamos, na primeira seção, que o movimento positivista, aquele criado por Auguste Comte, o precursor da Socio- logia, influenciou o poder político do Brasil República, contribuindo na reforma educativa de 1891? Qual era mesmo o intuito do positivismo? Conhecer a ordem da sociedade para estabelecer o progresso social, certo? Vejamos, aqui, mais um momento em que a Sociologia é utilizada para buscar o avanço social por meio do conhecimento científico. A postura do INEP, autarquia que, durante o Jusce- U N ID A D E 1 32 lino Kubitschek (JK), manteve-se sob a direção de Anísio Teixeira, fomentava pesquisas educacionais, tinha como objetivo explorar os resultados de pesquisas das ciências sociais sobre a temática para ajustar o sistema educacional às condi- ções existentes e às exigências do desenvolvimento econômico, social e cultural das diversas regiões do nosso país (HENRIQUES, 1998, p. 83). Dessa maneira, o projeto desenvolvimentista de “50 anos em 5” de JK estaria mais próximo. Esse contexto de fomento à consolidação da educação como campo cientí- fico deu-se junto da estruturação das Ciências Sociais no Brasil. Percebe-se esse movimento ao constatar que grandes pesquisadores da área desenvolveram pes- quisas junto ao Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), Florestan Fernandes é um deles (HENRIQUES, 1998). Perceba que buscar o apoio do olhar científico das ciências sociais foi, nes- se contexto de fortalecimento das pesquisas educacionais, primordial para as organizações que estavam à frente deste movimento. Os propósitos do uso de uma ciência como a Sociologia para se pensar as políticas educacionais são es- tratégicos para as estruturas de poder se pensamos no seu uso de uma maneira positivista, avaliando a vida em sociedade para estabelecer formas de regulação social. Em contrapartida, quando a relação entre a educação e as Ciências Sociais é promovida a fim de estabelecer vínculos democráticos, veremos a construção de estratégias que culminam em iniciativas, como a criação da BNCC, que possui valores democráticos e inclusivos. U N IC E SU M A R 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS Estimado(a) aluno(a), nesta unidade, percebemos como as Ciências Sociais, des- de seu surgimento com a corrente positivista, estiveram, intimamente, ligadas com a questão da educação e da busca por conhecimento. Além disso, pudemos conhecer um pouco mais sobre a área da sociologia e da antropologia, produ- zindo reflexões sobre a sociedade e suas instituições. A necessidade de produzir conhecimento sobre o mundo acompanha a hu- manidade desde o seu surgimento, e as mudanças nos modos de produção e nas formas de governo impactam, diretamente, na organização da sociedade e no modo como levamos a vida. Desse modo, essas mudanças geram impacto também na forma como a escola se organiza, como a educação é manipulada pela sociedade e como podemos interpretar esses novos modelos de socialização. Assim, pudemos compreender que a sociologia e a antropologia influenciam à educação e ao mesmo tempo são por ela impactada, fazendo com que os modelos de análise e observação sejam constantemente repensados. O olhar orientado, que a Sociologia e a Antropologia buscam desenvolver, auxiliam, portanto, nas interpretações conscientes sobre a realidade com atenção ao contexto social em que estamos inseridos. Dessa forma, estas áreas contribuem para que os(as) profissionais da educação construam uma atuação profissional contextualizada, ou seja, considerem os diversos âmbitos da vida em sociedade como elementos determinantese formadores de seres sociais. Assim, estas inter- pretações conscientes são essenciais para a prática na política educacional e au- xiliam na construção de uma sociedade mais justa, por meio de suas ferramentas de compreensão da realidade. Nas próximas unidades, vamos nos aprofundar ainda mais nestes campos do conhecimento. Esperamos que você tenha um bom caminho com as teorias sociais e antropológicas. 34 na prática 1. “[...] o desenvolvimento do sistema das ciências se tem processado sob o influxo de duas ordens e fatores. Uma, de natureza especificamente positivo-racional, ligada com as exigências da própria marcha das investigações científicas. Outra, de natu- reza ultracientífica, constituída pelo conjunto de necessidades práticas (econômicas, culturais e sociais), que podem ou precisam ser satisfeitas, de modo direto ou indi- reto, mediante a descoberta ou a utilização de conhecimentos científicos. Algumas disciplinas como Química, emergiram graças à concorrência de fatores das duas ordens. Outras, como a Sociologia, nasceram da conjugação dos efeitos das crises sociais com os da revolução da mentalidade, produzida pelo advento do pensamento científico” (FERNANDES, 2008, p. 10). FERNANDES, F. A herança intelectual da sociologia. In: FORACHI, M. M.; MARTINS, J. de S. Sociologia e Sociedade: leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 2008. A partir da leitura do excerto, analise as afirmativas: I - Apenas os avanços no pensamento científico devem ser considerados quando se trata do desenvolvimento das ciências na modernidade. Fatores de natureza ultracientífica, que possuem relação com a economia, a cultura e o contexto social, não influencia sob o advento científico. II - O campo de estudos das ciências naturais, representado pela Química, é tão influenciado por fatores sociais quanto a Sociologia, assim como, também, se desenvolveram em razão dos avanços do pensamento positivo-racional. III - O autor desconsidera que o surgimento das ciências possa estar relacionado a condições sociais, econômicas e culturais. IV - A Sociologia é uma ciência que emerge das transformações sociais, dessa ma- neira, os efeitos das crises sociais são determinantes para o surgimento desta disciplina. É correto o que se afirma em: a) IV apenas. b) I e III apenas. c) I e IV apenas. d) II e IV apenas. e) I, II, III e IV. 35 na prática 2. “O Positivismo influenciou, de maneira considerável, a sociedade, nos séculos XIX e XX. Tendo em vista que a Educação é uma atividade social, também foi marcada por esta influência. Nas escolas, a influência do positivismo se fez sentir com força, devido à influência da Psicologia e da Sociologia, ciências auxiliares da Educação. O positivismo esteve presente de forma marcante no ideário das escolas e na luta a favor do ensino leigo das ciências e contra a escola tradicional humanista religiosa. O currículo multidisciplinar – fragmentado – é fruto da influência positivista” (ISKAN- DAR; LEAL, 2002, p. 89). ISKANDAR, J. I.; LEAL, M. R. Sobre positivismo e educação. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 3, n. 7, p. 89-94, 2002. Com base no texto apresentado e nos conhecimentos adquiridos, avalie as afirma- ções a seguir: I - O positivismo defendia a ideia de que o ensino nas escolas devia seguir as tra- dições religiosas e os preceitos da fé cristã. II - Segundo o positivismo, o progresso social seria alcançado, por meio da disciplina e da ordem. III - Os pensadores positivistas, que, posteriormente, ficaram conhecidos como fun- dadores da sociologia, acreditavam que a ciência deveria substituir a religião na função de elemento de conservação social. IV - A corrente positivista foi criada a partir de um projeto que buscava mudanças na educação, porém suas ideias foram rechaçadas, e não houve aplicação prática. As afirmações I, II, III e IV são respectivamente: a) V, V, F, F. b) F, V, V, F. c) V, F, V, F. d) F, F, F, V. e) V, F, V, V. 3. “A reflexão do homem sobre o homem e sua sociedade, e a elaboração de um saber são, portanto, tão antigos quanto a humanidade, e se deram tanto na Ásia como na África, na América, na Oceania ou na Europa. Mas o projeto de fundar uma ciência do 36 na prática homem – uma antropologia – e, ao contrário, muito recente. De fato, apenas no final do século XVIII é que começa a se constituir um saber científico (ou pretensamente científico) que toma o homem como objeto de conhecimento, e não mais a natureza; apenas nessa época é que o espírito científico pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem os métodos até então utilizados na área física ou da biologia”. LAPLANTINE, F. Introdução: o campo e a abordagem antropológicos. In: LAPLAN- TINE, F. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. Considerando a leitura do texto apresentado e seus conhecimentos sobre o surgi- mento da Sociologia e Antropologia, considere as afirmações a seguir: I - Tanto na Ásia como na África, na América, na Oceania ou na Europa, desde o século XVIII, os conhecimentos sobre o funcionamento da sociedade são dis- pensáveis. II - O pensamento antropológico permite conhecer e aceitar a diversidade cultural e, por meio do conhecimento das culturas, construir um olhar atento sobre a realidade social em que vivemos. III - O conhecimento sociológico é um possibilitador para que a humanidade conhe- ça melhor a si própria e suas construções coletivas. IV - A Antropologia, assim como a Sociologia, faz parte do movimento na ciência que deixa de lado as explicações sobre a humanidade, por meio exclusivo dos fenômenos naturais. A vida humana, com suas características sociais, políticas e culturais tornam-se objeto científico. V - Não há aplicabilidade prática dos fundamentos teóricos da Sociologia e Antro- pologia na educação. É correto o que se afirma em: a) I, II e III, apenas. b) I, II, III e IV, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) II, III, IV e V, apenas. e) I, II, III, IV e V. 37 na prática 4. Anísio Teixeira (1971) via o sistema educacional como um reflexo da vida social do país. Para ele, as transformações da sociedade eram essenciais às modificações pretendidas para a educação brasileira, desde o início do século XX. A experiência educacional e a vida em coletividade deveriam interagir de modo real para que todos os talentos individuais fossem valorizados. BORTOLOTI, K. F. da S. Anísio Teixeira e as Ciências Sociais. Revista História e Cul- tura, v. 3, n.3, p. 135-154, dez. 2014. Considerando a relação das ciências Sociais com a educação, indique a alternativa correta. a) Não é possível associar as pesquisas sobre educação às Ciências Sociais. b) A experiência educacional e a vida coletiva em sociedade não possuem relação direta. c) Anísio Teixeira acreditava que era preciso dissociar a educação das Ciências Sociais. d) Anísio Teixeira foi um importante articulador da política educacional no Brasil, responsável pela consolidação da educação como uma ciência. Ele acreditava que experiência educacional deve considerar a vida coletiva em sociedade. e) Determinar políticas educacionais com base na realidade social só desvaloriza os talentos individuais. 5. Antonio Paim afirma algo que muito importa ao conhecimento pleno da instau- ração do sistema republicano no Brasil: — A influência política do comtismo, é fenômeno posterior à República. E cita José Veríssimo, para quem muitas das ideias cuja paternidade os positivistas “a posteriori” reclamaram, faziam parte do acervo comum aos espíritos liberais da época em que surgiram. Tais, por exemplo, as idéias relativas ao casamento civil, à separação Igreja-Estado, à federação e ao regime presidencial. LIMA FILHO, A. V. O positivismo e a República. Revista da Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, n. 99. p. 3-33, 2004. Com base no excerto apresentado e seus conhecimentos sobre a correntepositivis- ta, contextualize a influência do positivismo na Proclamação da República brasileira. 38 aprimore-se Se, na experiência de minha formação, que deve ser permanente, começo por aceitar que o formador é o sujeito em relação a quem me considero o objeto por ele formado, me considero como um paciente que recebe os conhecimentos-conteúdos-acumula- dos pelo sujeito que sabe e são a mim transferidos. Nesta forma de compreender e de viver o processo formador, eu, objeto agora, terei a possibilidade, amanhã, de me tornar o falso sujeito da “formação” do futuro objeto de meu ato formador. É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina ensina al- guma coisa a alguém. Por isso é que, do ponto de vista gramatical, o verbo ensinar é um verbo transitivo-relativo. Verbo que pede um objeto direto - alguma coisa - e um objeto indireto - a alguém. Do ponto de vista democrático em que me situo, mas também do ponto de vista da radicalidade metafísica em que me coloco e de que decorre minha compreensão do homem e da mulher como seres históricos e inaca- bados e sobre que se funda a minha inteligência do processo de conhecer, ensinar é algo mais que um verbo transitivo-relativo. Ensinar inexiste sem aprender e vice-ver- sa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobri- ram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível - depois, preciso - traba- lhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar. Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender. Não temo dizer que inexiste validade do ensino de que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado que não foi apreendido não pode realmente aprendido pelo aprendiz Fonte: Freire (2019, p. 24-25). 39 eu recomendo! Antropologia para quem não vai ser Antropólogo Autor: Rafael José Dos Santos Editora: Tomo Editorial Sinopse: neste livro, o autor introduz a Antropologia para aque- les que não se interessam em se tornar profissionais da área, mas que possuem a curiosidade de conhecer a disciplina e suas reflexões sobre a cultura e suas construções humanas. Com uma linguagem acessível, sem pecar com a simplificação das questões complexas do debate antropológico, Rafael José Dos Santos apresenta-nos os principais elementos da Antropologia. livro O que é Sociologia? Autor: Carlos Benedito Martins Editora: Brasiliense Sinopse: o título faz parte da Coleção Primeiros Passos da edito- ra Brasiliense, o selo possui o objetivo de introduzir importantes temas das ciências humanas. Escrito por Carlos Benedito Martins, este livro con- vida-nos a compreender como os diferentes posicionamentos teóricos da Socio- logia podem ser compreendidos, debatendo a dimensão política dessa ciência quanto à sua relação com a sociedade. livro O menino e o mundo Ano: 2014 Sinopse: em busca do pai, um menino deixa a sua casa em uma comunidade distante e se aventura pelo mundo descobrindo uma sociedade dominada por máquinas-bichos e seres estra- nhos. A história toca-nos por se tratar de uma animação que retrata as questões do mundo moderno pelo olhar de uma criança. Por meio de cores e sons muito vivos, a história sensibiliza o nosso olhar sobre a relação, muitas vezes, custosa da humanidade com o mundo do trabalho e a lógica de produção capitalista. filme 2 TEORIAS SOCIOLÓGICAS COMO INSTRUMENTOS para a educação PROFESSORAS Me. Daiany Cris Silva Me. Milena Cristina Belançon PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • A educação enquanto fato social • A racionalização dos processos pedagógicos • Pensando a educação na sociedade de classes. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Compreender a concepção de sociedade para Émile Durkheim, a partir da visão do autor sobre a educação e a importância dos processos educativos na socialização dos indivíduos, tratando a escola enquanto instituição privilegiada de inserção do indivíduo no espaço público • Entender a concepção de sociedade para Max Weber e sua teoria em relação à burocratização da educação moderna, assim como seus ideais da relação entre educação e democracia. Com isso, compreender também a “neutra- lidade” do professor para Weber • Analisar a concepção de sociedade para Karl Marx, compreendendo sua teoria sobre tópicos importantes para a educação, como, estratificação social, o papel da educação na construção da hegemonia e os limites da educação na sociedade capitalista. INTRODUÇÃO Prezado(a) estudante, na unidade anterior, tivemos um primeiro contato com as Ciências Sociais, conhecendo um pouco do surgimento da socio- logia, a sua divisão posterior em antropologia, ciência política e sociolo- gia. Tivemos contato, também, com a teoria positivista, tomando ciência de seu principal autor, Auguste Comte. Nesta unidade, portanto, daremos continuidade na busca pelo conhecimento das teorias sociológicas, desta- cando seus principais autores e enfatizando as contribuições destes para a educação. Tendo em vista que o objeto da Sociologia é a sociedade, temas, como a educação, a escola, os alunos, a prática docente estão contidos nas teorias que aqui estudaremos. Dividimos esta unidade em três tópicos e, em cada um deles, aborda- remos as teorias e as concepções de três autores que são conhecidos como clássicos da Sociologia, ganhando, inclusive, o apelido de “três porquinhos”, são eles: Émile Durkheim, e a teoria do fato social; Max Weber, e sua vi- são sobre a burocracia e racionalidade; e Karl Marx, que desenvolveu seu método crítico ao capitalismo e à sociedade de classes. Estes autores se destacaram por construírem teorias acerca da sociedade moderna que sur- gia com o advento das novas formas de produção e o momento histórico da sociedade, deixando um legado de conhecimento que movimenta as Ciências Sociais até hoje. Muitos estudiosos buscam deduzir da teoria social dos clássicos da sociologia elementos para pensar o processo educativo, e é isso que bus- caremos fazer nesta unidade. Compete a nós, agora, explorar conceitos e concepções que nos auxiliarão a entender ainda mais a relação entre so- ciologia e educação, pontuando sempre a necessidade de se levar em conta o contexto macro social e político. Bons estudos! Esperamos que seja uma boa jornada, vamos lá! U N ID A D E 2 42 1 A EDUCAÇÃO ENQUANTO FATO SOCIAL Estimado(a) estudante, nesta seção, trabalharemos com a perspectiva de Émile Durkheim (1858-1917) sobre a sociedade e a educação. Dessa forma, buscaremos desenhar uma breve biografia do autor para entender o contexto e o local de onde partiam suas análises e teorias. Émile Durkheim nasceu na Alsácia, França, em 1858. Suas obras mais conhe- cidas são “O Suicídio”, “As regras do método sociológico” e “Da divisão do trabalho social”. Durkheim é conhecido como fundador da Sociologia Moderna, e, assim como Auguste Comte, fazia parte da corrente positivista. Émile Durkheim presenciou o nascimento da Terceira República da França, que aconteceu em 1875, após acirradas lutas entre republica- nos e monarquistas. Nesse contexto, a expansão do capitalismo industrial choca-se com uma tomada de consciência cada vez mais aguda das classes operárias, que passaram a se organizar
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