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DIREITO CIVIL XIV EXAME APOSTILA DE OBRGRIGAÇÕES AULA 02

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OAB XIV EXAME 
Direito Civil 
Cristiano Sobral 
 
1 
Livros Indicados 
Direito Civil Sistematizado 5ª edição. Ed. Gen. 
Direito do Consumidor para Concursos. Ed. 
Saraiva. 
Sai do ócio! Valoriza a tua vida, aproveita os 
tempos hodiernos e busca a cultura que edifica. 
Estuda! Estuda muito mesmo meu amigo e 
amiga. E, a maneira das árvores generosas, 
oferece os teus frutos de amor e humanidade. 
Conte comigo nessa caminhada, pois estou 
certo que sua aprovação será TERMO. Evento 
futuro e certo de acontecer. Um beijo para a 
mulherada e um abraço para a macharada. 
Cris Sobral. 
1. INTRODUÇÃO 
O direito das obrigações é o ramo do Direito Civil 
que se ocupa em estudar a relação jurídica que 
existe entre o devedor e o credor, no qual este 
pode exigir daquele o cumprimento de uma 
prestação, que possivelmente consiste em um 
dar, um fazer ou um não fazer. 
A obrigação tem, portanto, três elementos: 
devedor, credor e vínculo jurídico. O vínculo 
jurídico é a ligação que existe entre o devedor e 
o credor, que é composta por dois elementos: 
débito e responsabilidade. Significa que há duas 
questões ligando devedor e credor: a existência 
de uma dívida (débito) e a possibilidade de 
cobrança judicial em caso de inadimplemento 
(responsabilidade). 
Atenção! Obrigação A obrigação natural é 
aquela em que o vínculo jurídico é formado 
apenas pelo débito, não existindo 
responsabilidade. Existe uma dívida, todavia, se 
não for cumprida a prestação, o credor não tem 
o poder de exigi-la judicialmente. Entretanto, se 
adimplida espontaneamente ou até mesmo por 
engano, não se pode exigir devolução, pois o 
débito existe (art. 882 do CC). É o que 
chamamos de soluti retentio (retenção de 
pagamento). Exemplo de obrigação natural: 
dívida de jogo ou aposta. 
Atenção! A obrigação propter rem (em razão da 
coisa) é direito obrigacional (confrontando 
devedor e credor) e não direito real. Contudo, 
tem uma especificidade: é a obrigação que 
surge em razão da aquisição de um direito real. 
Ao se adquirir um direito real, seu titular assume 
algumas obrigações de devedor perante credor. 
Exemplos: obrigação de pagar condomínio 
quando se adquire o direito de propriedade de 
um apartamento ou o dever que o proprietário 
tem de indenizar o possuidor que realiza 
benfeitorias em seu imóvel, nos termos 
destacados em direitos reais neste livro. 
Como a obrigação propter rem surge por força 
da titularidade de um direito real, acompanha o 
bem se houver transferência dele, isto é, o novo 
titular do direito real a assume. Exemplo: quem 
compra um apartamento assume as obrigações 
de pagar condomínio, até mesmo aquelas que 
estejam em atraso. 
Atenção! A obrigação propter rem não se 
consubstancia apenas no pagamento de valor 
pecuniário. Deve ser uma obrigação 
devedor/credor, porém esta pode ser 
consubstanciada em um dar (dinheiro ou 
qualquer bem), um fazer ou um não fazer. Assim 
sendo, o respeito às limitações dos direitos de 
vizinhança são obrigações propter rem, pois 
consistem em obrigações de não fazer do 
proprietário para respeito a direito de vizinhos. 
2. MODALIDADE DAS OBRIGAÇÕES (arts. 
233 a 285, CC) 
As modalidades de obrigações decorrem de 
dois tipos de classificações: básica e especial. 
Em uma classificação básica, a depender da 
natureza da prestação, a obrigação pode ser de 
três espécies: obrigação de dar, obrigação de 
fazer e obrigação de não fazer. Em uma 
classificação especial, a Legislação Civilista 
trata de mais três classes de modalidades: 
 
 
 
 
 
 
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obrigação alternativa, obrigação divisível ou 
indivisível e obrigação solidária. 
2.1. Obrigação de Dar 
A obrigação de dar é aquela em que a prestação 
do devedor consiste na entrega de um bem. A 
obrigação de dar pode ser de duas naturezas: 
dar coisa certa ou dar coisa incerta. Na 
obrigação de dar coisa certa, o devedor tem a 
prestação de entregar um bem específico. Por 
exemplo, quando alguém vende o cavalo 
campeão de sua fazenda. Já a obrigação de dar 
coisa incerta é aquela em que o devedor 
assume a obrigação de dar um gênero em certa 
quantidade - por exemplo, 
quando alguém vende três cavalos de sua 
fazenda. 
2.1.1. Obrigação de dar coisa certa 
É a obrigação de dar um bem específico, não 
servindo outro de mesma espécie, como 
quando uma pessoa vende o cavalo campeão 
de sua fazenda. Na verdade, há duas categorias 
de obrigação de dar coisa certa: dar e restituir. 
A razão é que quando disponho da obrigação de 
devolver um bem que recebi, não posso impor a 
entrega de outro de mesma espécie. Portanto, 
tenho obrigação de dar coisa certa tanto quando 
preciso entregar um cavalo que vendi quanto 
como sou obrigado a devolver um cavalo que 
me foi emprestado. 
O assunto vem previsto entre os artigos 233 e 
242 da Lei Civil, onde uma única questão é 
tratada: perda ou deterioração do bem depois 
que a obrigação de dar é assumida, mas antes 
da efetiva entrega. Como é obrigação de dar 
coisa certa, não sendo possível a entrega de 
outro bem equivalente, qual é a consequência? 
Quem suporta o prejuízo? As possibilidades são 
muitas, pois pode ser com culpa ou sem culpa 
do devedor, pode ser um dar ou um restituir, 
pode ser perda ou deterioração ou até mesmo 
uma melhora no bem. 
Para tomar ciência de todos os casos previstos 
nos citados artigos, basta conhecer uma regra 
básica, à qual são acrescentadas duas regras 
acessórias lógicas: 
 Regra básica: se o devedor teve culpa na 
perda do bem, a regra sempre será a mesma: 
deverá pagar ao credor o equivalente acrescido 
de perdas e danos. Se o devedor não teve culpa 
na perda do bem, a regra será sempre a mesma: 
res perit domino (a coisa perece para o dono), 
será dele o prejuízo. 
. E quem é o dono? Depende se a obrigação é 
de dar ou de restituir. Na obrigação de dar, antes 
da entrega o dono é o devedor, pois a aquisição 
da propriedade só se dá com a entrega do bem. 
Na obrigação de restituir, o dono é o credor, pois 
ele sempre foi o dono, uma vez só ter 
emprestado para o devedor. 
 Regra acessória 1: desde que, em vez 
da perda, ocorra apenas a deterioração do bem, 
a solução é a mesma, no entanto com uma 
diferença: ele poderá optar entre a solução da 
perda supramencionada ou receber o bem 
deteriorado, abatendo-se o valor da 
deterioração. 
 Regra acessória 2: na hipótese de a 
coisa perecer para o dono, ela também melhora 
para o dono, quer dizer, se, em vez da perda ou 
deterioração, houver uma melhora no bem 
antes da entrega, quem dela se beneficiará será 
o dono. 
Vamos analisar, com base no macete 
apresentado, as regras dos artigos 234 a 242 do 
Código Civil. Qual a consequência da perda, 
deterioração ou melhora do bem antes da 
tradição, no caso da prestação de dar e no caso 
da prestação de restituir? 
a) Prestação de dar, perda do bem, com culpa 
do devedor (art. 234): devedor de um carro por 
tê-lo vendido ao credor, todavia antes da 
entrega o destrói porque provoca um acidente 
com perda total do carro por dirigir embriagado. 
Será devedor no equivalente (devolve o valor 
 
 
 
 
 
 
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recebido ou não o recebe) acrescido de perdas 
e danos. 
b) Prestação de dar, perda do bem, sem culpa 
do devedor (art. 234): devedor de um carro por 
tê-lo vendido ao credor, entretanto antes da 
entrega o carro cai emuma ribanceira por ser 
levado pela correnteza da inundação provocada 
por violenta tempestade. Consequência: 
resolve-se a obrigação, o que significa desfazer 
o negócio. Veja que o dono (devedor do carro) 
sofreu a perda, pois ficou sem o carro e sem o 
dinheiro. 
c) Prestação de dar, deterioração do bem, com 
culpa do devedor (art. 236): devedor de um 
carro por tê-lo vendido ao credor, contudo antes 
da entrega o amassa ao bater por dirigir 
embriagado. O credor poderá escolher entre 
receber o equivalente mais perdas e danos ou 
aceitar o bem no estado em que se acha 
acrescido de perdas e danos, incluindo o 
abatimento do valor em razão da deterioração. 
d) Prestação de dar, deterioração do bem, sem 
culpa do devedor (art. 235): devedor de um 
carro por tê-lo vendido ao credor, porém antes 
da entrega o carro é amassado por bater em um 
poste ao ser levado pela correnteza da 
inundação provocada por violenta tempestade. 
Consequência: credor poderá optar em resolver 
a obrigação (desfazer o negócio) ou aceitar o 
carro amassado, abatendo do seu preço o valor 
perdido pela deterioração. Atente-se que é o 
dono (devedor do carro) que sofre a perda, pois 
ficou sem dinheiro e com o carro amassado ou 
sem o carro pagando pela deterioração. 
e) Prestação de dar, melhora do bem (art. 237): 
devedor de uma fazenda por tê-la vendido ao 
credor, mas antes da entrega o bem se valoriza 
em razão do acréscimo de terra trazido pela 
correnteza das águas (fenômeno chamado de 
avulsão). O vendedor poderá pedir aumento de 
preço, pois é o dono e ele se beneficia com a 
vantagem. Se o comprador não aceitar pagar o 
acréscimo, poderá o vendedor resolver a 
obrigação, quer dizer, desfazer a venda. E se, 
em vez de melhoramento ou acrescido, o bem 
deu frutos? 
Os frutos percebidos ou colhidos antes da 
tradição são do devedor, pois ele ainda é dono 
do bem, no entanto se pendente quando da 
tradição, será do credor, pois o bem acessório 
segue a sorte do bem principal. Assim, se o 
devedor vende uma cadela para entregar tempo 
depois e antes da entrega fica prenha, se na 
época da entrega o filhote já nasceu será do 
vendedor, todavia se estiver na barriga da 
cadela na época da entrega, será do comprador. 
f) Prestação de restituir, perda do bem, com 
culpa do devedor (art. 239): devedor de um 
carro por tê-lo recebido emprestado do credor, 
entretanto antes da entrega o destrói porque 
provoca um acidente de perda total do carro por 
dirigir embriagado. Será devedor no equivalente 
(indeniza o valor do carro) acrescido de perdas 
e danos. 
g) Prestação de restituir, perda do bem, sem 
culpa do devedor (art. 238): devedor de um 
carro por tê-lo em empréstimo do credor, 
contudo, antes da entrega, o carro cai em 
ribanceira levado pela correnteza da inundação 
provocada por uma tempestade. O dono é o 
credor e ele sofre a perda, ou seja, o devedor 
não terá de indenizá-lo da perda do carro. 
 
h) Prestação de restituir, deterioração do bem, 
com culpa do devedor (art. 240): devedor de um 
carro por tê-lo recebido emprestado do credor, 
porém antes da entrega o amassa ao bater por 
dirigir embriagado. O credor poderá escolher 
entre receber o equivalente mais perdas e 
danos ou aceitar o bem no estado em que se 
acha acrescido de perdas e danos, incluindo o 
abatimento do valor em razão da deterioração. 
i) Prestação de restituir, deterioração do bem, 
sem culpa do devedor (art. 240): devedor de um 
carro por tê-lo recebido emprestado do credor, 
mas antes da entrega o carro é amassado por 
bater em um poste ao ser levado pela 
 
 
 
 
 
 
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correnteza da inundação provocada por violenta 
tempestade. O dono é o credor, que sofrerá a 
perda, pois a lei diz que ele receberá o bem 
deteriorado sem direito de indenização. 
j) Prestação de restituir, melhora do bem (art. 
241 e 242): devedor de uma fazenda por tê-la 
recebida emprestada do credor, no entanto 
antes da entrega o bem se valoriza em razão do 
acréscimo de terra trazido pela correnteza das 
águas (fenômeno chamado de avulsão). Por 
evidente, será do credor o ganho, pois ele é o 
dono do bem, recebendo-o de volta valorizado, 
desobrigado de indenizar. Se para o 
melhoramento ou acréscimo houve trabalho do 
devedor, é benfeitoria, razão pela qual o artigo 
242 da Norma Civilista determina aplicar as 
regras do direito de indenização que - 
o possuidor de boa-fé e de má-fé tem em razão 
das benfeitorias que faz no bem (sobre isso, ver 
o capítulo próprio na parte de direitos reais neste 
livro, quando da abordagem dos efeitos da 
posse). 
2.1.2. Obrigação de dar coisa incerta 
É a obrigação de dar um gênero em certa 
quantidade, como na venda de três cavalos de 
uma fazenda. Em dado momento, os bens a 
serem entregues deverão ser escolhidos, o que 
chamamos de concentração da prestação. A 
quem cabe a escolha? A quem definido no 
contrato. Se nada for dito, a escolha caberá ao 
devedor, que não poderá escolher o pior nem 
ser obrigado a escolher o melhor. 
Feita a escolha, a obrigação de dar coisa incerta 
se transforma em obrigação de dar coisa certa, 
aplicando-se as regras que lhe são próprias. 
Todavia, se antes da escolha o bem se perder 
ou se deteriorar, mesmo que por caso fortuito ou 
motivo de força maior, o devedor não se exime 
de cumprir a prestação, pois o gênero não 
perece, podendo o bem ser substituído por outro 
da mesma espécie para ser entregue ao credor. 
2.2. Obrigação de Fazer 
A obrigação de fazer é aquela em que a 
prestação do devedor consiste na realização de 
uma atividade, como na contratação da 
prestação de um serviço. A obrigação de fazer 
pode ser de dois tipos: personalíssima 
(infungível) ou não personalíssima (fungível). 
Será personalíssima quando só o devedor 
puder cumprir a prestação, como na contratação 
de um pintor famoso para pintura do retrato do 
credor em um quadro. 
Será não personalíssima quando não só o 
devedor, entretanto outra pessoa também puder 
cumprir a prestação, como a contratação de um 
pintor para pintura das paredes de uma casa. 
Por que diferenciar? Se for obrigação 
personalíssima e o devedor se recusa a cumpri-
la ou por sua culpa se tornou impossível, 
responde por perdas e danos. Se for obrigação 
não personalíssima, poderá o credor optar em 
reclamar indenização por perdas e danos ou 
mandar executar as custas do devedor. Como 
isso é feito? Ajuizamento de ação com 
orçamento do serviço, pedindo condenação do 
devedor do fazer a pagar. Contudo, se for 
urgente, poderá o credor mandar executar o fato 
independente de prévia autorização judicial, 
buscando em juízo depois o ressarcimento do 
que foi gasto. 
As obrigações de fazer podem ser classificadas 
em obrigação de meio e de resultado ou de fim. 
Nas obrigações de resultado, o devedor se 
vincula a atingir determinado resultado, sob 
pena de inadimplemento e, consequentemente, 
dever de indenizar perdas e danos. Já na 
obrigação de meio, o devedor não se vincula a 
atingir determinado resultado, mas sim a 
corresponder no meio para atingi-lo, isto é, a 
empregar a diligência na busca do resultado. 
Não responde se o resultado não for atingido, 
apenas se não empregou a diligência 
necessária. 
Um advogado ou um médico tem obrigação de 
meio, enquanto, de acordo com a jurisprudência 
do STJ, o cirurgião plástico, embora seja um 
 
 
 
 
 
 
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médico, tem obrigação de resultado, quando se 
tratar de intervenção meramente estética ou 
embelezadora. 
 No direito pátrio a maioria das 
obrigações contratuais dos profissionais liberais 
é considerada de meio, no qual o resultado 
esperado pelo consumidor não é 
necessariamente alcançado, embora deva ser 
buscado. 
O STJ entende que “a obrigação de meio limita-
se a um dever de desempenho, isto é, há o 
compromisso de agir com desvelo, empregando 
a melhor técnica e perícia para alcançar um 
determinado fim, mas sem se obrigar à 
efetivação do resultado”, sendo suficiente que o 
profissional liberal “atue com diligência e técnica 
necessárias, buscando a obtenção do resultado 
esperado”. São exemplos: o médico que indica 
tratamento para determinada doença não pode 
garantir a cura do paciente; o advogado que 
patrocina uma causa não tem o dever de 
entregar resultado favorável ao cliente. 
Nesses casos, caberá ao consumidor provar 
que houve culpa do profissional. 
 Todavia, há obrigação de resultado onde 
“o contratado se compromete a alcançar um 
resultado específico, que constitui o cerne da 
própria obrigação, sem o que haverá a 
inexecução desta”, ex. o cirurgião plástico que 
realiza procedimento estético. Nessa hipótese, 
haverá inversão do ônus da prova, cabendo ao 
profissional demonstrar que o insucesso se 
deve por culpa exclusiva daquele que o 
contratou. 
Não há previsão na legislação pátria no que 
tange à distinção entre obrigações de resultado 
e de meio, nem mesmo existe consenso na 
doutrina sobre a matéria. Diante da ausência de 
previsão, o STJ tem se posicionado dessa 
forma: 
a) Procedimentos odontológicos, ortodônticos 
em especial, e estéticos: há comprometimento 
do profissional quanto ao resultado; 
b) Fundo de investimento: não fica 
caracterizado defeito na prestação de serviço 
quando o gestor de negócios não garante ganho 
financeiro ao cliente. O profissional contratado 
não assume obrigação de resultado, mas de 
meio – de bem gerir o investimento, na tentativa 
de obter o máximo de lucro. 
c) Perda de prazo por advogado: o profissional 
responde pelos erros de fato e de direito que 
venha a cometer no desempenho de sua 
função, no entanto, ao patrocinar a causa, 
obriga-se a conduzi-la com toda a diligência, 
não se lhe impondo o dever de entregar um 
resultado certo. Desta forma, o fato de o 
advogado perder o prazo para contestar ou 
interpor recurso não resulta na sua automática 
responsabilização civil. 
2.3. Obrigação de não Fazer 
A obrigação de não fazer é uma obrigação a 
uma abstenção, por exemplo, não levantar um 
muro divisório. Se o devedor descumprir a 
obrigação, fazendo o que se obrigou a não 
fazer, deverá indenizar o credor em perdas e 
danos? Nem sempre, pois às vezes se tornou 
impossível, sem culpa do devedor, abster-se do 
ato. Nesse caso, apenas se resolve a obrigação 
(volta ao estado anterior do negócio), não tendo 
que indenizar perdas e danos. 
Exemplo: a pessoa se viu obrigada a levantar o 
muro para impedir que a água invadisse sua 
casa. Se, porém, simplesmente decidiu fazer o 
que se obrigara a não fazer, será condenado a 
indenizar perdas e danos e, se o fizer, consistir 
em uma obra, poderá o credor pedir 
judicialmente para desfazê-la. Se for urgente, 
poderá mandar desfazer independente de 
autorização judicial, buscando em juízo o 
ressarcimento. 
2.4. Obrigações Alternativas 
A obrigação alternativa é aquela que 
compreende duas ou mais prestações, porém 
se extingue com a realização de apenas uma 
delas. Exemplo: obrigação de dar um carro ou 
 
 
 
 
 
 
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uma moto. A quem cabe a escolha de que 
prestação cumprir? Em regra ao devedor, pois a 
obrigação se extingue com ele cumprindo uma 
ou outra prestação. No entanto, o contrato pode 
prever que a escolha cabe ao credor. É o que 
diz o artigo 252 do Diploma Civil, que completa: 
não pode o devedor obrigar o credor a receber 
parte em uma prestação e parte em outra. 
 Atenção! O que ocorre sempre que uma 
ou todas as prestações não puderem ser 
cumpridas? A resposta irá variar se a escolha 
cabia ao devedor ou ao credor. 
a) Impossibilidade de uma das prestações: se a 
escolha couber ao devedor, subsiste a 
obrigação com a outra prestação (art. 253 do 
CC). Mesma solução, se a escolha couber ao 
credor e a impossibilidade se deu sem culpa do 
devedor. Todavia, se por culpa dele, o credor 
poderá exigir a prestação subsistente ou o valor 
em dinheiro da prestação impossibilitada, 
acrescido de perdas e danos (art. 255 do CC). 
Exemplo: devedor de um carro ou uma moto 
destrói a moto ao dirigir embriagado. 
Consequência: se a escolha cabe ao devedor, 
obrigação simples de dar o carro; 
se cabe ao credor, pode cobrar o carro ou o 
valor em dinheiro da moto mais perdas e danos. 
Se a moto foi destruída acidentalmente, mesmo 
cabendo a escolha ao credor, obrigação simples 
de dar o carro. 
b) Impossibilidade de ambas as prestações: 
caso a seleção incumbir ao devedor e este tiver 
culpa, ficará obrigado a pagar o valor da 
prestação que se impossibilitou por último, 
acrescido de perdas e danos (art. 254 do CC). 
Se a escolha couber ao credor e o devedor 
culpado, poderá reclamar o valor de qualquer 
uma delas acrescido de perdas e danos (art. 255 
do CC, in fine). Entretanto, se ambas as 
prestações tornaram-se impossível sem culpa 
do devedor, independe de quem cabe a escolha: 
extinta estará a obrigação, ou melhor, desfeito o 
negócio jurídico (art. 256 do CC). 
2.5. Obrigações divisíveis e Indivisíveis 
Obrigação divisível é aquela em que pode ser 
fracionado o objeto da prestação, o que não é 
possível na obrigação indivisível. Como 
exemplo, a obrigação de dar dinheiro é 
obrigação divisível e a obrigação de dar um 
cavalo é obrigação indivisível. 
Só há importância em determinar a espécie de 
obrigação quando houver pluralidade de 
devedores e/ou credores. Sendo obrigação 
divisível, não há problema, pois cada um exige 
ou é exigido em sua parte (se não for 
determinada a parte que cabe a cada um, 
presume-se dividida em partes iguais). Contudo, 
sendo obrigação indivisível, como cada um 
cobrará ou será cobrado em sua parte, já que o 
objeto não pode ser dividido? 
Havendo mais de um devedor em obrigação 
indivisível, cada um responde por toda a dívida, 
pois não há como fracionar a cobrança. Agora, 
aquele que pagar a dívida, sub-roga-se nos 
direitos do credor perante os demais 
coobrigados (art. 259 do CC). Exemplo: se duas 
pessoas devem um cavalo, qualquer um deles 
pode ser cobrado, porém quem pagar poderá 
cobrar do outro, em dinheiro, metade do valor do 
animal. 
Havendo mais de um credor em obrigação 
indivisível, qualquer um deles poderá cobrar a 
dívida por inteiro, tornando-se devedor perante 
os demais credores nas suas respectivas partes 
em dinheiro (art. 261 do CC). 
2.6. Obrigações Solidárias 
Na pluralidade de credores ou devedores em 
obrigação indivisível, todos são obrigados ou 
têm direito a toda dívida por ser fisicamente 
impossível dividir o objeto da prestação. Mas é 
possível haver obrigação divisível em que todos 
são obrigados ou têm direito a toda a dívida por 
determinação da lei ou da vontade das partes: é 
a obrigação solidária. 
 
 
 
 
 
 
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Idealize dois amigos devendo vinte mil reais a 
um credor. Em tese, cada um devedez mil reais, 
no entanto, se for obrigação solidária, o credor 
pode cobrar toda a dívida de qualquer deles 
(quem paga se sub-roga nos direitos do credor 
perante os demais devedores). Por outro lado, 
se um devedor deve vinte mil reais a dois 
amigos, em tese, deve dez mil reais para cada 
um deles, todavia, se for obrigação solidária, 
qualquer dos credores pode cobrar toda a dívida 
(quem recebe se torna devedor perante os 
demais credores). 
Portanto, haverá solidariedade quando houver 
mais de um devedor ou mais de um credor 
obrigados ou com direito à totalidade da dívida. 
A solidariedade não se presume, resultando 
apenas da lei ou da vontade das partes. A 
solidariedade pode ser ativa ou passiva, a 
depender se a pluralidade está no polo ativo ou 
passivo da obrigação. 
2.6.1. Solidariedade ativa 
É a obrigação em que há mais de um credor, 
cada um deles com direito a toda a dívida. No 
vencimento, qualquer credor pode se antecipar 
e cobrar toda a dívida ou, enquanto nenhum 
deles a reivindicar, o devedor se libera pagando 
a qualquer deles. Quem receber, responde 
perante os demais credores, tornando-se 
devedor nas partes que lhes cabe. 
O mesmo ocorre se um dos credores remitir 
(perdoar) a dívida. Devedor deve trinta mil reais 
a três credores solidários e um deles perdoa 
toda a dívida. Este se tornará devedor de dez 
mil reais a cada um dos demais credores, como 
se ele tivesse se antecipado e cobrado o 
devedor (art. 272 do CC). 
 Atenção! É Há uma diferença quando o 
credor solidário perdoa sua parte. Nesse caso, 
subsiste a solidariedade para os demais 
credores depois de sua parte ser descontada. 
No exemplo mencionado, o devedor continua a 
dever vinte mil reais a dois credores solidários. 
A solidariedade é personalíssima, quer dizer, se 
um dos credores falecer e deixar herdeiros, 
estes não se tornarão credores solidários. 
Significa que cada um de seus herdeiros só 
poderá exigir e receber a quota que 
corresponder ao seu quinhão hereditário. 
Suponha um devedor devendo trinta mil reais a 
três credores solidários, sendo que um deles 
morre deixando dois filhos. Os filhos não 
poderão cobrar os trinta mil, pois não se tornam 
credores solidários. Cada um só poderá cobrar 
a parte que lhe cabe na herança, ou seja, cada 
um só pode cobrar cinco mil reais. 
Entretanto, em dois casos, os herdeiros poderão 
cobrar a dívida toda: se a obrigação for 
indivisível (ex.: o devedor deve um cavalo aos 
três credores solidários) ou, segundo a 
jurisprudência do STJ, se os herdeiros cobrarem 
juntos através do espólio, pois no direito das 
sucessões aprendemos que o espólio se sub-
roga nos direitos do de cujos. 
Nos termos do artigo 271 da Legislação Civilista, 
convertendo-se a prestação em perdas e danos, 
nelas subsistem a solidariedade. Imagine um 
devedor de um carro a três credores solidários, 
contudo o destrói ao dirigir embriagado. Trata-
se de obrigação de dar coisa certa com perda 
do bem por culpa do devedor. Consoante visto, 
torna-se devedor no equivalente acrescido em 
perdas e danos, no que permanecerá havendo 
a solidariedade. 
2.6.2. Solidariedade passiva 
É a obrigação em que há mais de um devedor, 
cada um deles obrigados a toda a dívida. 
Significa que o credor tem direito de exigir de 
qualquer deles o valor total da dívida, porém 
quem pagar se tornará credor dos demais 
devedores nas suas respectivas partes 
(internamente não há solidariedade). Se o 
credor optar cobrar apenas parcialmente de um 
dos devedores solidários, os demais continuam 
obrigados solidariamente pelo resto. 
 
 
 
 
 
 
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Se um dos devedores solidários falecer, a 
solidariedade é transferida aos seus herdeiros? 
Não, pois, como visto, a solidariedade é 
personalíssima. Significa que os herdeiros só 
podem ser cobrados na quota que corresponde 
ao seu quinhão hereditário. Mas há duas 
exceções: se a obrigação for indivisível (ex.: 
devedores solidários devem um cavalo) ou se os 
herdeiros forem cobrados juntos através do 
espólio, pois o direito das sucessões preceitua 
que o espólio se sub-roga nos deveres do de 
cujos. 
 Atenção: A lei dá tratamento 
diferenciado quanto à manutenção da 
solidariedade no que se refere ao pagamento de 
perdas e danos e de juros que podem ser 
irradiados da obrigação, pois nas perdas e 
danos não subsiste a solidariedade. No entanto 
nos juros, sim. 
Se devedores solidários têm obrigação de dar 
um carro e, por culpa de um deles, este é 
destruído, a obrigação se converte no 
pagamento do valor equivalente acrescido de 
perdas e danos. No valor equivalente, todos 
continuam devedores solidários, todavia pelas 
perdas e danos só responde o culpado (art. 279 
do CC). Entretanto, se um dos devedores 
solidários dá causa a acréscimo de juros ao 
valor devido, todos respondem solidariamente 
pelo valor dos juros, pois o pagamento de juros 
é uma obrigação acessória e o acessório segue 
a sorte do principal (art. 280 do CC). 
Atenção! Art. 285 do CC. Em conformidade com 
o que O devedor solidário que paga a dívida 
pode cobrar dos demais devedores a parte que 
lhes cabe (se nada for dito, presume-se dividida 
em partes iguais). Contudo, se a dívida solidária 
interessar exclusivamente a um dos devedores 
solidários, responderá este por toda a dívida 
quando da ação regressiva aos demais 
credores. O exemplo típico é o contrato de 
fiança. Quando há renúncia ao benefício de 
ordem, devedor principal e fiador são devedores 
solidários. 
Se o fiador for cobrado, poderá cobrar em 
regresso do devedor principal não só a metade 
da dívida, mas também sua totalidade, pois é 
uma dívida contraída no seu exclusivo 
interesse. Da mesma maneira, sendo caso de 
mais de um fiador e um deles sendo cobrado 
pela dívida, só terá ação regressiva contra o 
devedor principal na totalidade da dívida, não 
tendo ação contra os demais cofiadores. 
3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES (arts. 
286 a 303, CC) 
Haverá transmissão da obrigação quando 
houver uma substituição subjetiva em seus 
polos, ou seja, uma troca de devedor ou de 
credor. São duas as classes de transmissão das 
obrigações: cessão de crédito e assunção de 
dívida. Na cessão de crédito há uma 
substituição no polo ativo, isto é, há uma troca 
de credores, pois o credor cede a um terceiro o 
seu crédito. 
Na assunção de dívida há uma substituição no 
polo passivo, ou melhor, uma troca de 
devedores, pois um terceiro assume a 
obrigação do devedor. 
3.1. Cessão de Crédito 
A cessão de crédito se caracteriza pela 
substituição no polo ativo da obrigação, 
havendo uma troca de credores em razão da 
alienação, gratuita ou onerosa, de um crédito a 
um terceiro, que se tornará o novo credor da 
obrigação. A lei permite a cessão do crédito 
quando a isso não se opuser a natureza da 
obrigação, a lei ou o acordo das partes. Quem 
cede o crédito é chamado de cedente e quem o 
recebe é chamado de cessionário. 
A cessão do crédito independe da concordância 
do devedor. A lei exige apenas a notificação da 
cessão, para que ele não pague à pessoa 
errada. Caso o devedor não seja notificado e 
pague de boa-fé ao antigo credor, ele estará 
desobrigado, só restando ao verdadeiro credor 
cobrar do cedente, que indevidamente recebeu 
o pagamento. 
 
 
 
 
 
 
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Em regra, o cedente não responde pela 
solvência do devedor, quer dizer,caso o 
cessionário não consiga receber o crédito em 
razão da insolvência do devedor, não poderá 
cobrar a dívida do cedente. Porém, ele 
responderá se vier expresso no contrato. 
Quando o cedente não responde pela solvência 
do devedor, a cessão é chamada de cessão de 
crédito pro soluto; quando o cedente responde 
pela solvência do devedor, é chamada de 
cessão de crédito pro solvendo. 
Embora o cedente, em regra, não responda pela 
solvência do devedor, ele responde pela 
existência do crédito, ou seja, se ceder um 
crédito que não existe, aí sim poderá ser 
cobrado pelo cessionário. O cedente 
responderá pela existência do crédito tendo o 
cedido gratuita ou onerosamente. Se ceder de 
forma onerosa, responderá tendo agido de má-
fé ou até mesmo de boa-fé, pois recebeu pela 
cessão, devolvendo o valor auferido. No 
entanto, na cessão gratuita, como nada recebeu 
em troca, só responderá se tiver procedido de 
má-fé, isto é, se sabia da inexistência do credito 
que cedeu. 
Por fim, na cessão de crédito vigora o princípio 
da oponibilidade das exceções pessoais contra 
terceiros. O que significa isso? Quando o 
cessionário cobrar a dívida do devedor, este 
poderá se defender alegando as defesas 
pessoais que cabiam contra o cedente (art. 294 
do CC). Exemplo: o devedor comprou um carro 
usado do credor, Todavia não vai pagar porque 
apresentou vício redibitório. Justamente o 
credor cedeu o crédito a um terceiro, que é 
quem cobra a dívida. O devedor poderá se 
defender contra o cessionário alegando o vício 
redibitório, mesmo sendo uma defesa pessoal 
contra o cedente. 
3.2. Assunção de Dívida 
A assunção de dívida se caracteriza pela 
substituição no polo passivo da obrigação, 
havendo uma troca de devedores. A lei permite 
que terceiro assuma a dívida do devedor, 
entretanto exige a concordância expressa do 
credor. Contudo, independe de consentimento 
do devedor, podendo a assunção de dívida ser 
por delegação (com consentimento do devedor) 
ou por expromissão (sem consentimento do 
devedor). 
O terceiro que assume a obrigação é chamado 
de assuntor. Quando ele assume a obrigação, o 
devedor primitivo está exonerado, pois deixou 
de ser o devedor. Porém, há um caso em que o 
devedor primitivo não estará exonerado, 
podendo ser cobrado pelo credor: se a cessão 
foi feita a quem insolvente e o credor a aceitou 
por não saber do fato. 
Com a assunção de dívida, salvo consentimento 
expresso do devedor primitivo, estarão extintas 
as garantias dadas por ele, afinal ele não é mais 
o devedor. Se a substituição vier a ser anulada, 
restaura-se o débito do devedor primitivo, com 
todas as garantias que existiam. Exceção: não 
retornarão as garantias dadas por terceiros, por 
exemplo, hipoteca de um bem de terceiro. 
Exceção da exceção: a garantia dada por 
terceiro poderá retornar, caso ele soubesse da 
causa que gerou anulação da substituição. 
Ao ser cobrado pelo credor, o assuntor, como 
novo devedor, poderá alegar qual a categoria de 
defesa? Com efeito, a defesa pode ser de duas 
naturezas: comum ou pessoal. Será comum 
quando for defesa de qualquer pessoa que 
venha a ser cobrado pelo credor (ex.: prescrição 
da dívida). Por outro lado, será defesa pessoal 
quando for exclusiva de uma pessoa (ex.: 
compensação de dívida). O assuntor, ao ser 
cobrado, poderá se valer das defesas comuns 
ou das suas pessoais, não podendo se valer das 
defesas pessoais que cabiam ao devedor 
primitivo (art. 302 do CC). 
4. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS 
OBRIGAÇÕES (arts. 304 a 388, CC) 
O meio normal de extinção da obrigação é o 
devedor cumprir a prestação, o que chamamos 
de pagamento. Repare que o sentido técnico de 
 
 
 
 
 
 
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pagamento difere do seu sentido leigo, pois 
pagamento é coloquialmente usado no sentido 
de dar dinheiro. Pagamento em sentido técnico 
é cumprir a prestação, seja um dar (dinheiro ou 
qualquer outro bem), um fazer ou até um não 
fazer. 
Mas a obrigação pode ser extinta por meios 
anormais, havendo extinção da obrigação de 
uma forma alternativa, de uma forma diferente 
do que o cumprimento da prestação. São as 
formas anormais de extinção da obrigação: 
pagamento em consignação, pagamento com 
sub-rogação, imputação de pagamento, dação 
em pagamento, novação, compensação, 
confusão e remissão. 
4.1. Pagamento 
Pagamento é o meio normal de extinção da 
obrigação, ou melhor, o cumprimento da 
prestação (dar, fazer ou não fazer). A presente 
Lei Civil inicia o tema abordando quem deve 
pagar (chamado de solvens) e a quem se deve 
pagar (chamado de accipiens). 
O Código Civil trata de quem deve pagar, no 
entanto, na verdade, o que se estabelece são 
regras sobre quem pode pagar. A obrigação 
pode ser paga por qualquer pessoa que tenha 
algum tipo de interesse, quer dizer, pelo devedor 
ou por um terceiro. A lei, todavia, estabelece 
consequências diferentes para o pagamento 
sendo feito pelo devedor, por terceiro 
interessado ou por terceiro não interessado. 
Quando se fala em terceiro interessado ou não 
interessado, fala-se em interesse jurídico, pois, 
se o terceiro paga, alguma espécie de interesse 
ele tem. 
O terceiro será interessado quando puder ser 
cobrado pela dívida. Assim, um fiador que paga 
a dívida do afiançado é um terceiro interessado, 
entretanto o pai que paga a dívida de um filho 
maior de idade, embora tenha um interesse 
sentimental, é considerado um terceiro não 
interessado. 
Se o devedor efetuar o pagamento, extinta 
estará a obrigação e ele estará exonerado. Se 
um terceiro pagar, também estará extinta, 
contudo ele poderá reaver o valor pago, embora 
de forma diferente a depender de quem pagou: 
se terceiro interessado, sub-roga-se nos direitos 
do credor; se terceiro não interessado, apenas 
tem direito de reembolso, não se sub-rogando 
nos direitos do credor. Em ambos os casos, o 
terceiro cobra do devedor o que pagou por ele, 
porém diferem porque, ao se sub-rogar nos 
direitos do credor, terá as garantias especiais 
dadas a ele, o que não ocorre no mero direito de 
reembolso. 
 Atenção! Isso ocorrerá se o terceiro 
pagar em seu nome, pois se pagar em nome do 
devedor, é considerado uma mera ajuda, não 
tendo direito de reaver o que pagou. 
A quem se deve pagar? O pagamento deve ser 
feito ao credor ou a quem de direito o 
represente. Se o pagamento foi feito à pessoa 
errada, pagou-se mal e quem paga mal, paga 
duas vezes, pois o verdadeiro credor poderá 
cobrá-lo. Mas em dois casos o pagamento feito 
a um terceiro libera o devedor: se o credor 
confirmar o pagamento ou tanto quanto provar 
ter se revertido ao credor. 
Há um caso em que o pagamento é feito a um 
terceiro e o devedor está liberado, mesmo que 
o credor não confirme nem se prove a reversão 
em seu benefício. É o caso do pagamento feito 
ao chamado credor putativo. Putativo vem de 
putare, que significa crer, acreditar. Haverá 
credor putativo quando se paga de boa-fé a 
quem não é o credor, ou seja, se pagou à 
pessoa errada, no entanto havia motivos para 
acreditar ser ele o credor. Um exemplo já foi 
visto quando da abordagem do tema cessão de 
crédito. Vimos que o devedor não precisa 
concordar, 
todavia deve ser notificado da cessão de crédito 
para saber que o credor mudou. Vimos que se 
não for notificado e de boa-fé pagar ao cedente, 
 
 
 
 
 
 
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ele está exonerado e a razãoé simples: pagou 
a credor putativo. 
No que se refere ao objeto do pagamento, este 
será o cumprimento da prestação. O credor não 
é obrigado a aceitar prestação diversa da que 
lhe é devida, ainda que mais valiosa, afirma o 
artigo 313 da Norma Civilista. Ainda que a 
obrigação seja divisível, como dever dinheiro, 
não pode o credor ser obrigado a receber nem 
o devedor ser obrigado a pagar por partes, se 
assim não se ajustou. 
Quem paga tem direito de receber uma prova de 
que pagou. É o que chamamos de quitação. O 
instrumento da quitação é o recibo, que sempre 
pode ser por instrumento particular. Se o credor 
se recusar a dar quitação, o devedor pode 
legitimamente reter o pagamento enquanto não 
lhe for concedida. 
Assim sendo, em regra, quem prova o 
pagamento é o devedor, apresentando o recibo 
admitido como instrumento da quitação. 
Entretanto em três casos haverá presunção de 
pagamento, dispensando o devedor de mostrar 
que pagou. Ocorre que é uma presunção 
relativa, isto é, aquela que admite prova em 
contrário. Dessa forma, sendo um dos casos de 
presunção de pagamento, não se fixa uma 
verdade absoluta de que existiu pagamento, e 
sim uma inversão do ônus da prova, pois o 
devedor não precisa comprovar que pagou, 
contudo o credor pode atestar que o devedor 
não pagou. 
São os três casos de presunção de pagamento: 
a) Art. 322 do CC: quando o pagamento for em 
quotas periódicas, a quitação da última 
estabelece, até em prova em contrário, a 
presunção de estarem solvidas as anteriores; 
b) Art. 323 do CC: sendo a quitação do capital 
sem fazer reserva que os juros não foram 
pagos, estes se presumem pagos; e 
c) Art. 324 do CC: a entrega do título firma 
presunção do pagamento, presunção que pode 
ser elidida no prazo de sessenta dias. 
 Para se efetuar o pagamento, importa 
saber o lugar do cumprimento da obrigação. É 
nesse lugar que se devem reunir credor e 
devedor na data marcada, não podendo o 
devedor oferecer nem o credor exigir o 
cumprimento em lugar diverso. 
No direito comparado, há duas classes de 
obrigação: quérable ou portable. A obrigação 
quérable (chamada no Brasil de quesível) é 
aquela que deve ser cumprida no domicílio do 
devedor e obrigação portable (chamada no 
Brasil de portável) é aquela que deve ser 
cumprida no domicílio do credor. No Brasil, 
conforme previsão do artigo 327 do Diploma 
Civil, em regra as obrigações devem ser 
cumpridas no domicílio do devedor, ou melhor, 
são quesíveis ou quérable. Poderá ser portável 
ou até em outro local a depender da vontade das 
partes, da lei, da natureza da obrigação ou das 
circunstâncias. 
Como exemplo, o artigo 328 da Legislação 
Civilista determina que se o pagamento consistir 
na entrega de um imóvel ou de prestações 
relativas a ele deverá ser cumprido onde situado 
o bem. 
4.2. Pagamento em Consignação 
Consignação de pagamento significa o depósito 
judicial ou em estabelecimento bancário da 
coisa devida, o que a lei equipara a pagamento, 
extinguindo a obrigação. O devedor tem não só 
o dever de pagar, mas também o direito de fazê-
lo para evitar as consequências de sua mora. A 
consignação em pagamento é, portanto, um 
valioso instrumento para o devedor não suportar 
os encargos moratórios. 
Poderá o devedor consignar pagamento 
basicamente quando houver mora do credor ou 
algum risco para o devedor na realização do 
pagamento direto. Nesse sentido, o artigo 335 
da Lei Civil arrola casos de cabimento da 
 
 
 
 
 
 
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consignação em pagamento: se o credor se 
recusar sem justa causa a receber o pagamento 
ou não puder recebê-lo, se o devedor tiver 
dúvida sobre quem é o verdadeiro credor ou se 
o credor for desconhecido, entre outros. 
Feito o depósito, a princípio, suspende a 
incidência dos encargos moratórios, porém o 
devedor deverá propor ação judicial para 
discussão da matéria, podendo o credor 
impugnar o pagamento, pois só exonera o 
devedor se observados os mesmos requisitos 
exigidos para validade do pagamento. Se 
julgado improcedente, o depósito não terá 
efeito. O processo tem procedimento especial 
previsto no CPC. 
4.3. Pagamento com Sub-rogação 
Pagamento com sub-rogação é a operação pela 
qual o crédito se transfere com todos os seus 
acessórios a um terceiro que paga dívida alheia. 
Sub-rogar é substituir, o que significa que 
haverá aqui uma substituição de credor, 
extinguindo a obrigação com relação ao credor 
originário. A ideia é: A deve a B e um terceiro C 
paga essa dívida e agora A deve a C, pois este 
se sub-rogou nos direitos de B. 
Como é uma simples substituição no polo ativo, 
o vínculo se mantém e o novo credor tem todos 
os privilégios e garantias que tinha o credor 
originário (art. 349 do CC). No entanto, é 
possível que um terceiro pague dívida alheia e 
não se sub-rogue nos direitos do credor, caso 
em que terá mero direito de reembolso contra o 
devedor, por não ser um dos casos de 
pagamento com sub-rogação. A diferença é que 
poderá cobrar dele o que pagou, mas sem ter os 
privilégios e garantias do credor originário, pois 
surge um novo vínculo, uma nova obrigação (de 
reembolso), extinguindo a obrigação primitiva. 
A sub-rogação pode ser de duas categorias: 
legal ou convencional, a depender se decorre de 
lei ou da vontade das partes. O Código Civil 
prevê, em seu artigo 346, os casos em que a 
sub-rogação se opera de pleno direito, quer 
dizer, se um terceiro paga a dívida, ele se sub-
roga automaticamente nos direitos do credor 
primitivo, independente da vontade das partes. 
Se a lei não prevê como caso de sub-rogação, 
teria o terceiro mero direito de reembolso, 
todavia as partes poderão prever a sub-
rogação, passando o terceiro a ter os privilégios 
e garantias do credor primitivo, o que não 
existiria no mero direito de reembolso. 
Como exemplo, apresento um caso visto no 
estudo do pagamento. Se terceiro interessado 
paga a dívida do devedor, sub-roga-se 
automaticamente nos direitos do credor, 
mantendo-se os privilégios e as garantias (art. 
346, III, do CC). Se terceiro não interessado 
paga a dívida do devedor, apenas terá direito de 
reembolso, não se sub-rogando nos direitos do 
credor (sem os privilégios e garantias do credor 
originário). Entretanto, se o terceiro não 
interessado pagar a dívida do devedor 
condicionado a sub-rogar-se nos direitos do 
credor, 
haverá pagamento com sub-rogação 
convencional e terá o novo credor os privilégios 
e garantias do credor primitivo (art. 347, II, do 
CC). 
4.4. Novação 
Novação é o meio de extinção da obrigação pelo 
surgimento de uma nova obrigação. A novação 
pode ser de duas naturezas: objetiva ou 
subjetiva. A novação é objetiva quando a nova 
obrigação difere da obrigação anterior pela 
substituição da prestação (ex.: obrigação de dar 
dinheiro transformada em obrigação de fazer ou 
obrigação veiculada em cheque substituída por 
obrigação veiculada em nota promissória). 
A novação será subjetiva quando a nova 
obrigação difere da obrigação anterior pela 
substituição do credor (novação subjetiva ativa) 
ou do devedor (novação subjetiva passiva). 
 Atenção! Qual a diferença entre 
pagamento com sub-rogação e novação 
subjetiva ativa? Em ambos os casos, ocorre a 
 
 
 
 
 
 
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troca do credor, contudo diferem porque no 
pagamento com sub-rogação o vínculo se 
mantém, havendo apenasa substituição de 
credor; enquanto na novação, extingue-se o 
vínculo anterior, surgindo uma nova obrigação 
com um novo vínculo. Consequência: no 
pagamento com sub-rogação se mantém para o 
novo credor os privilégios e as garantias do 
credor primitivo, ao passo que na novação, 
extinguem-se os privilégios e as garantias do 
credor primitivo, não as tendo o novo credor. 
Do exposto acerca da sub-rogação e novação, 
podemos chegar a uma conclusão: quando o 
pagamento é efetuado por um terceiro, seja 
interessado ou não interessado, ele poderá 
reaver do devedor primitivo o que por ele pagou. 
A diferença é que quando o pagamento é feito 
por terceiro interessado, há pagamento com 
sub-rogação, enquanto no pagamento feito por 
terceiro não interessado, há novação, pois se 
extingue o vínculo anterior, surgindo uma nova 
obrigação com um novo vínculo (a obrigação de 
reembolso). 
Por isso, o terceiro interessado terá os 
privilégios e garantias do credor primitivo, porém 
o terceiro não interessado não, a não ser que se 
valha do pagamento com sub-rogação 
convencional, ou seja, condicionando o 
pagamento a sub-rogar-se nos direitos do 
credor. 
4.5. Imputação ao Pagamento 
Se um devedor tem várias dívidas diferentes 
com um credor, no entanto não lhe entrega valor 
suficiente para pagamento de todas, é preciso 
identificar quais as dívidas foram extintas. 
Imputação ao pagamento é a indicação da 
dívida a ser paga quando uma pessoa se 
encontra obrigada por dois ou mais débitos com 
o mesmo credor, sem poder pagar todos eles. 
Constate que imputação ao pagamento não é 
bem um meio de extinção da obrigação, mas 
sim a determinação de que obrigação está 
extinta quando nem todas forem pagas. 
Antes de a lei definir quais obrigações estão 
extintas (imputação legal), as partes têm o direto 
de definir (imputação convencional). Assim, em 
primeiro lugar, quem define é o devedor. No seu 
silêncio, o credor define em quais dá quitação. 
Se nenhum deles definir, a lei definirá, 
estabelecendo a seguinte ordem: (i) primeiro se 
pagam os juros vencidos e só depois o capital; 
(ii) pagamento imputado às dívidas vencidas há 
mais tempo; (iii) se todas vencidas no mesmo 
tempo, a imputação será na mais onerosa 
(maiores juros ou multas); 
(iv) se todas no mesmo tempo e mesmos ônus, 
a lei não dá solução, todavia a jurisprudência diz 
ser de forma proporcional em cada uma das 
obrigações. 
4.6. Dação em Pagamento 
 
Dação em pagamento é a forma de extinção da 
obrigação através da qual o credor aceita 
receber prestação diversa da que lhe é devida. 
De acordo com o que foi visto, nos termos do 
artigo 313 da Norma Civilista, o credor não é 
obrigado a aceitar prestação diversa da 
contratada, ainda que mais valiosa. Porém, 
nada impede que o credor aceite prestação 
diversa, caso em que haverá extinção da 
obrigação de uma forma anormal, que não pelo 
pagamento, chamada de dação em pagamento. 
Segundo será visto em contratos neste livro, 
evicção é a perda judicial ou até administrativa 
de um bem em razão de vício jurídico anterior à 
alienação. Quem vende não poderia ter vendido 
e quem compra perde para um terceiro, 
buscando do alienante uma indenização. Se o 
devedor dá coisa diversa em pagamento e o 
credor a perde pela evicção, restabelece-se a 
obrigação primitiva, ficando sem efeito a 
quitação dada, ressalvados os direitos de 
terceiro (art. 359 do CC). 
4.7. Compensação 
 
 
 
 
 
 
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Compensação é a forma de extinção das 
obrigações entre duas pessoas que são, ao 
mesmo tempo, credora e devedora uma da 
outra. O meio normal de extinção da obrigação 
é o pagamento, isto é, o cumprimento da 
prestação. Entretanto, quando duas pessoas 
são devedoras e credoras uma da outra, não há 
sentido que os pagamentos sejam feitos para 
extinção das obrigações. Compensam-se as 
dívidas e extintas estão as obrigações até onde 
se compensarem. 
A compensação pode ser de dois tipos: legal ou 
convencional, a depender se decorre da lei ou 
da vontade das partes. A compensação legal se 
dará automaticamente, bastando presentes os 
requisitos legais, quais sejam: reciprocidade das 
obrigações (um deve ao outro e vice versa), 
liquidez e vencimento das prestações e 
envolverem bens fungíveis entre si (não basta 
serem bens fungíveis, devem ser substituíveis 
entre si, ou melhor, homogêneos, por exemplo, 
dinheiro por dinheiro ou saca de café por saca 
de café, não podendo ser dinheiro por saca de 
café). 
Mesmo ausentes tais requisitos, ainda sim 
poderá haver compensação, contudo será 
convencional, por depender da vontade das 
partes. Nada impede, portanto, haver 
compensação de uma dívida vencida com outra 
a termo, com bens infungíveis ou de natureza 
diferente (dinheiro por saca de café), porém será 
compensação convencional, onde o que importa 
é a vontade das partes. 
A reciprocidade é um requisito para a 
compensação legal, quer dizer, devedor deve 
ao credor e vice-versa, mas há uma exceção: 
quando envolver o fiador. O devedor somente 
compensa sua dívida para o credor com a dívida 
do credor contra ele, no entanto o fiador pode 
compensar sua dívida para o credor (é dele 
devedor porque é fiador) com a dívida que o 
credor tem com o afiançado, ou seja, não com 
ele, pois o fiador não é devedor em causa 
própria, todavia mero garantidor de uma dívida 
do afiançado (art. 371 do CC). 
4.8. Confusão e Remissão 
Confusão é a forma de extinção das obrigações 
por reunirem na mesma pessoa a qualidade de 
credor e devedor. Idealize um pai que deve uma 
quantia em dinheiro a seu filho, que é seu único 
herdeiro. Com a morte do pai, o filho assume o 
débito, entretanto ele próprio é o credor, 
gerando extinção da obrigação pela confusão. A 
confusão pode se verificar a respeito de toda a 
dívida (total) ou só de parte dela (parcial). No 
exemplo citado, se são dois filhos, tendo o 
credor um irmão, 
só haverá extinção da obrigação relativa à 
metade da dívida (espólio é devedor de metade 
do valor para o filho credor). 
 Remissão é a forma de extinção da 
obrigação com o perdão da dívida pelo credor. 
 Atenção! Não confundir remissão com 
remição. A causa de extinção da obrigação é a 
remissão, é o ato de remitir, que significa 
perdão, perdoar. Remição ou ato de remir não é 
causa de extinção da obrigação, pois significa 
resgate, resgatar. 
Tanto na confusão quanto na remissão há um 
aspecto importante sobre obrigações solidárias. 
Confusão ou remissão entre credor e um dos 
devedores solidários ou entre o devedor e um 
dos credores solidários: mantém-se a 
solidariedade entre os demais, descontada a 
parte remitida ou da confusão parcial. 
Exemplo: Imagine três devedores solidários em 
trinta mil reais ao pai de um deles (solidariedade 
passiva). Com a morte do pai ou do filho ou se 
o pai perdoar só a dívida do filho, os outros dois 
devedores serão solidários em vinte mil reais. 
Da mesma forma, suponha que um devedor 
deve trinta mil reais a três credores solidários, 
sendo um deles o pai do devedor (solidariedade 
ativa). Com a morte do pai ou do filho ou se o 
pai perdoar só a dívida do filho, os outros dois 
credores serão solidários em vinte mil reais. 
 
 
 
 
 
 
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5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES 
(arts. 389 a 420, CC) 
5.1. Diferença entre Inadimplemento e Mora 
Quando o devedor não cumprea prestação, 
estamos diante do inadimplemento, que pode 
ser de duas espécies: absoluto ou relativo. O 
inadimplemento é absoluto quando a prestação 
não é cumprida e não é mais útil ao credor que 
o devedor a cumpra - por exemplo, contratação 
de cantor para cantar em um casamento que 
não comparece à cerimônia. 
O inadimplemento é relativo quando a prestação 
não é cumprida, contudo ainda é útil ao credor 
que o devedor a cumpra, por exemplo, não 
pagamento de uma dívida em dinheiro no dia do 
vencimento. O inadimplemento absoluto é 
chamado simplesmente de inadimplemento e o 
inadimplemento relativo é chamado de mora. 
 Perceba que a diferença entre 
inadimplemento e mora reside no critério de 
utilidade para o credor. Em ambos os casos, a 
prestação não é cumprida, sendo 
inadimplemento se a prestação não é mais útil 
ao credor e mora se a prestação ainda é útil ao 
credor. 
Por que diferenciar mora e inadimplemento? Se 
o caso é de inadimplemento, como a prestação 
não é mais útil ao credor, a única solução é o 
pagamento de indenização por perdas e danos 
(art. 389 do CC). Por outro lado, se o caso é de 
mora, cabe o que chamamos de purgação ou 
emenda da mora. O que é isso? É cumprir a 
obrigação, porque ainda útil para o credor, 
acrescido dos encargos moratórios. Purga-se a 
mora pagando-se com retardo, acrescido de: 
correção monetária, juros de mora, perdas e 
danos decorrentes da mora e eventual 
honorários de advogado (art. 395 do CC). 
5.2. Mora 
O artigo 394 do Diploma Civil diz que se 
considera em mora o devedor que não efetuar o 
pagamento e o credor que não quiser recebê-lo 
no tempo, lugar e forma que a lei ou a 
convenção estabelecer. Note que há mora não 
apenas quando não se paga no tempo devido, 
mas também se não se paga no lugar e na forma 
devida. Repare que ainda não existe mora só do 
devedor, e sim do credor, que ocorre quando 
este não quiser injustificadamente receber o 
pagamento, 
sendo o pagamento em consignação a solução 
para o devedor se livrar dos encargos da mora. 
Consoante o artigo 395 da Legislação Civilista, 
configurada a mora, o devedor pode purgá-la, 
cumprindo a prestação acrescida dos encargos 
moratórios. Porém, se a prestação tornar-se 
inútil ao credor, este poderá enjeitá-la e pedir 
perdas e danos. A razão é simples: se inútil ao 
credor, deixou de ser mora e se transformou em 
inadimplemento absoluto. 
Como exemplo, imagine uma costureira que 
deixa de entregar o vestido de noiva no prazo 
estipulado. É caso de mora ou inadimplemento? 
Depende. Se ainda não houve a cerimônia, em 
razão de a data marcada lhe ser bastante 
anterior, o caso é de mora; se já houve a 
cerimônia, em razão da data marcada ter sido 
na véspera do casamento, o caso é de 
inadimplemento, caso em que o credor poderá 
rejeitar a coisa e pedir perdas e danos, pois ao 
se tornar inútil a ela, a mora se transformou em 
inadimplemento absoluto. 
Completa a ideia de mora o artigo 396 da Lei 
Civil, que preceitua não incorrer em mora o 
devedor quando não haja fato ou omissão 
imposta a ele. Significa que a mora é o não 
cumprimento culposo da obrigação. Se não há 
culpa, não há mora. Se uma conta do devedor 
só pode ser paga no banco e o vencimento cai 
em um domingo, ao se pagar no dia seguinte, 
não há de se falar em mora, tanto que se paga 
sem encargos moratórios. 
O artigo 397 do Código Civil nos faz perceber 
haver duas naturezas de mora: ex re e ex 
persona. A mora ex re é automática, isto é, é 
 
 
 
 
 
 
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aquela que independe de ato do credor para o 
devedor ser constituído em mora (interpelação 
judicial ou extrajudicial, notificação, protesto ou 
citação do devedor). Por sua vez, a mora ex 
persona é aquela que precisa de um dos citados 
atos do credor para o devedor ser constituído 
em mora. Quando a mora é ex re e quando é ex 
persona? 
Há duas classes de obrigações: com dia certo 
de vencimento e sem dia certo de vencimento. 
Quando a obrigação tem um dia certo de 
vencimento, o devedor não precisa ser 
constituído em mora por ato do credor, pois o 
simples não pagamento no vencimento o 
constitui em mora (dies interpellat pro homine, 
ou melhor, o próprio dia interpela o devedor). 
Por outro lado, quando a obrigação não tem dia 
certo de vencimento, o devedor só estará em 
mora se for constituído por ato do credor. 
Assim, quando a obrigação é com dia certo de 
vencimento, a mora é ex re e quando a 
obrigação é sem dia certo de vencimento, a 
mora é ex persona. 
O artigo 398 da Norma Civilista demonstra que 
a mora é ex re quando a obrigação não 
cumprida decorre de ato ilícito. Com efeito, ato 
ilícito civil é causar dano a alguém, gerando ao 
causador o dever de indenizá-lo. Poderíamos 
pensar ser caso de mora ex persona, pois o 
devedor deve ser constituído em mora por um 
ato do credor, propondo ação judicial (citação 
válida constitui o devedor em mora). No entanto, 
tal entendimento é equivocado, pois a lei diz que 
essa mora é automática, independendo de 
qualquer ato do credor. 
O artigo neste momento em análise diz que, nas 
obrigações provenientes de ato ilícito, se 
considera o devedor em mora desde que o 
praticou (a responsabilidade de reparar o dano 
fixada na sentença judicial retroage à data do 
ato para aplicar os efeitos da mora). 
Os artigos 399 e 400 do Diploma Civil trazem 
dois efeitos da mora, um para mora do devedor 
e outro para a mora do credor: 
a) Efeito da mora do devedor (art. 399 do CC): 
o devedor em mora responde pela 
impossibilidade da prestação, ainda que esta se 
dê por caso fortuito ou força maior. Se a 
prestação do devedor se torna impossível sem 
culpa do devedor, simplesmente se resolve a 
obrigação sem qualquer ônus a lhe ser imposto. 
No entanto, se a impossibilidade ocorrer durante 
seu atraso, o devedor ficará obrigado a 
indenizar o credor pela impossibilidade da 
prestação, mesmo que esta tenha se dado por 
caso fortuito ou por força maior. Apenas em dois 
casos, estará desobrigado de indenização: 
quando provar isenção de culpa no seu atraso 
(evidente, pois nesse caso não há mora, pois a 
mora é o não cumprimento culposo da 
obrigação) e se provar que o dano ocorreria 
mesmo se a prestação tivesse sido cumprida no 
tempo, lugar ou forma devida, quer dizer, 
mesmo se não houvesse mora. 
b) Efeito da mora do credor (art. 400 do CC): a 
mora do credor, ou seja, se o credor se recusar 
injustificadamente a receber o pagamento, gera 
três efeitos: (i) retira do devedor isento de dolo 
a responsabilidade pela conservação da coisa 
(só indeniza perda ou deterioração do bem se 
teve dolo, não respondendo se teve culpa stricto 
sensu, isto é, imprudência, negligência ou 
imperícia); (ii) obriga o credor a ressarcir o 
devedor das despesas que teve para conservar 
o bem; 
e (iii) sujeita o credor a receber o bem pela 
estimação mais favorável ao devedor se o seu 
valor oscilar entre o dia estabelecido para o 
pagamento e o da sua efetivação. 
5.3. Responsabilidade Civil Contratual 
Responsabilidade civil é o dever de indenizar 
um prejuízo causado. Existem duas categorias 
de responsabilidade civil: contratual e 
extracontratual. A responsabilidade civil 
 
 
 
 
 
 
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contratual é aquela em que há um contrato entre 
as partes, ou melhor, um contratante não 
cumpre o contrato, causando prejuízo ao outro 
contratante,gerando dever de indenização. A 
responsabilidade civil extracontratual, também 
chamada de aquiliana, 
é aquela em que não existe um contrato entre 
quem causa e quem sofre o dano, como no caso 
de alguém bater no carro de outrem, tendo que 
indenizá-lo. Responsabilidade civil 
extracontratual é tema do capítulo 
responsabilidade civil. Responsabilidade civil 
contratual é estudada aqui em obrigações, pois 
ocorre diante de mora e inadimplemento. 
 
O contratante que não cumpre o contrato será 
civilmente responsabilizado, todavia apenas se 
isso gerar um dano ao outro contratante, pois 
responsabilidade civil é o dever de indenizar um 
dano causado. Em conformidade com o artigo 
402 da Legislação Civilista, o inadimplente 
deverá indenizar não só o dano emergente, mas 
também os lucros cessantes, que são os dois 
tipos de dano material. Dano emergente: 
prejuízo efetivamente experimentado; lucro 
cessante: o que se legitimamente se deixou de 
ganhar. A eles se acrescenta dano moral. 
Diante de inadimplemento, seja absoluto ou 
relativo, quem não cumpre o contrato causando 
dano ao outro contratante deverá indenizá-lo. A 
questão é: a responsabilidade civil contratual é 
subjetiva (depende de culpa) ou objetiva 
(independe de culpa)? 
A responsabilidade civil contratual é subjetiva, 
pois só há mora se o não cumprimento da 
prestação for culposo. Significa que não há 
mora e, portanto, não há responsabilidade civil 
contratual, se não houver culpa do contratante 
em não cumprir a prestação. O mesmo ocorre 
com o inadimplemento absoluto, que pode ser 
culposo (com culpa do devedor) ou fortuito (sem 
culpa do devedor), entretanto, em regra, só 
haverá obrigação de indenizar se o devedor teve 
culpa no inadimplemento. 
Se um cantor é contratado para cantar no 
casamento e propositalmente não aparece na 
cerimônia, será responsabilizado em perdas e 
danos, mas se não cumpriu o contrato porque 
foi sequestrado na véspera, não há de se falar 
em dever indenizatório. 
Atenção! O artigo 393 do CC dispõe que “o 
devedor não responde pelos prejuízos 
resultantes do caso fortuito ou de força maior, se 
expressamente não se houver por eles 
responsabilizado”. Perceba que, conforme visto, 
a responsabilidade civil contratual é subjetiva, 
contudo as partes podem expressamente prever 
no contrato que o inadimplente responderá 
mesmo que não tenha cumprido o contrato por 
caso fortuito ou motivo de força maior, quer 
dizer, sem ter tido culpa, pois caso fortuito ou 
motivo de força maior são situações inevitáveis, 
que o inadimplente não podia impedir, como no 
caso do cantor contratado para cantar em um 
casamento que não cumpre a obrigação por ter 
sido sequestrado na véspera. 
Qual a diferença entre responsabilidade civil 
contratual e responsabilidade civil 
extracontratual subjetiva? Em ambos os casos, 
só há responsabilidade civil diante da existência 
de culpa do devedor, porém na 
responsabilidade civil contratual, a culpa é 
presumida. Mas é uma presunção relativa, ou 
seja, aquela que admite prova em contrário, 
representando, assim, a inversão do ônus da 
prova. Na responsabilidade civil contratual, 
basta ao contratante atestar que o outro não 
cumpriu o contrato. Se este não teve culpa no 
inadimplemento, ele que prove. 
Por outro lado, se é responsabilidade civil 
extracontratual subjetiva, a vítima do dano, ao 
cobrar perdas e danos, deverá comprovar que o 
agressor teve culpa ao causar o dano, pois esta 
não é presumida. 
 
 
 
 
 
 
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Quando se diz que a responsabilidade subjetiva 
exige a culpa, usa-se o termo culpa em sentido 
amplo, isto é, é o dolo ou a culpa em sentido 
restrito (imprudência, negligência ou imperícia). 
A princípio, não há diferença na 
responsabilidade civil contratual se o 
inadimplemento foi por dolo ou por culpa. O 
artigo 404 da Lei Civil diz que não interfere no 
valor da indenização se por dolo ou culpa, pois 
o valor da indenização será o valor do dano 
sofrido. No entanto, a lei consagrou uma 
diferença entre inadimplemento doloso ou 
culposo no negócio jurídico benéfico, ou melhor, 
no contrato gratuito. 
 
Nos termos do artigo 392 do Código Civil, se o 
contrato é oneroso, o contratante inadimplente 
responde por não ter cumprido o contrato por 
dolo ou por culpa, todavia, se for um contrato 
benéfico ou gratuito, a parte que não é 
favorecida (aquela que não recebe nada em 
troca) só responde pelo inadimplemento se agiu 
com dolo, quer dizer, não será responsabilizado 
civilmente pelo não cumprimento do contrato 
por culpa em sentido estrito. 
Assim sendo, ao doar um bem, o doador só 
responde pela impossibilidade de entregar a 
coisa doada, caso tenha agido dolosamente, por 
exemplo, se destruiu intencionalmente esse 
bem. Não responderá o doador, se o bem se 
quebrou porque foi negligente ao usá-lo, caso 
em que simplesmente se resolverá a obrigação, 
desfazendo a doação sem qualquer dever 
indenizatório ao doador. Se o contrato for de 
compra e venda e a coisa se perde com culpa 
do devedor, vimos que a solução é dar o 
equivalente acrescido de perdas e danos, 
que será devido tanto no caso de dolo quanto de 
culpa, ou seja, se quebrou propositalmente ou 
se por negligência, pois compra e venda é 
contrato oneroso. 
5.4. Cláusula Penal 
 
De acordo com o que vimos, tanto o 
inadimplemento quanto a mora podem gerar 
responsabilidade civil contratual. Em caso de 
inadimplemento, o contratante deverá indenizar 
o outro em perdas e danos causados pelo não 
cumprimento do contrato e, em caso de mora, o 
devedor poderá purgá-la, cumprindo a 
prestação com retardado, acrescida de perdas e 
danos causados pela mora, correção monetária, 
juros de mora e honorários advocatícios. 
O grande problema na responsabilidade civil 
contratual é provar o valor da indenização, ou 
seja, a extensão do prejuízo causado pelo não 
cumprimento do contrato. Para resolver esse 
problema, a lei traz como solução a cláusula 
penal, que é uma multa prefixando o valor das 
perdas e danos em razão da mora ou do 
inadimplemento. 
Cláusula penal, portanto, é um pacto inserido no 
contrato, impondo multa ao devedor que não 
cumpre ou que retarda o cumprimento da 
prestação. 
Constate que há multa tanto para o caso de 
mora quanto de inadimplemento. Assim, há 
duas espécies de cláusula penal: moratória e 
compensatória. A cláusula penal moratória é 
para prefixar perdas e danos em razão da mora, 
isto é, pelo retardamento no cumprimento da 
obrigação, e a cláusula penal compensatória é 
para prefixar perdas e danos em caso de 
inadimplemento absoluto, ou melhor, pelo não 
cumprimento da prestação. 
Como exemplo, suponhamos um contrato de 
locação, cuja prestação do locatário é pagar, 
durante três anos, mil reais por mês ao locador. 
Se no contrato houver uma multa no valor de 
três meses de aluguel para o caso do locatário 
devolver as chaves antes do fim do contrato, 
será uma cláusula penal compensatória, pois o 
locatário pagará uma multa por não ter cumprido 
sua prestação, pelo menos em parte. Por outro 
lado, se houver no contrato uma multa em razão 
do locatário atrasar o pagamento do aluguel por 
não pagar no dia do vencimento, 
 
 
 
 
 
 
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será uma cláusula penal moratória, pois o 
pagamento da multa é para o retardamento no 
cumprimento da prestação.Atente-se que há duas classes de 
cláusula penal, cada uma com uma finalidade 
específica. A cláusula penal compensatória tem 
a função de compensar o contratante por não ter 
o outro contratante cumprido sua prestação. Já 
a cláusula penal moratória tem a função de 
intimidar, pois o contratante pagará uma multa 
se retardar o cumprimento da prestação. 
O artigo 408 da Norma Civilista demonstra que 
a cláusula penal é uma prefixação de perdas e 
danos e que a responsabilidade civil contratual 
é subjetiva, pois diz que incorre de pleno direito 
na cláusula penal o devedor que culposamente 
deixe de cumprir a obrigação ou que se 
constitua em mora. Significa que, em caso de 
inadimplemento, o outro contratante pode 
executar a multa, independente de confirmar a 
extensão do dano em ação de conhecimento. E 
a lei vai mais longe ainda com o artigo 416 do 
presente Diploma Civil, 
prevendo que sequer é necessário comprovar 
que houve dano, se este foi prefixado no 
contrato. 
Uma questão pode ser levantada: se o prejuízo 
do contratante for maior do que o valor da multa, 
poderá ele cobrar a diferença? A princípio não, 
pois o parágrafo único do artigo 416 da 
Legislação Civilista diz que só poderá cobrar 
eventual valor a mais, se esta possibilidade 
estiver expressa no contrato. Se assim for, 
o valor da multa já é objeto de execução e o 
valor a mais deverá ser provado em ação de 
conhecimento para seguir a execução por título 
executivo judicial. Se não houver permissivo 
contratual, limita-se a executar a multa. 
Há importante diferença na cobrança da 
cláusula penal a depender se compensatória ou 
se moratória (arts. 410 e 411 do CC): no 
inadimplemento, o credor cobra cláusula penal 
compensatória ou o cumprimento da prestação, 
enquanto na mora, 
o credor cobra cumprimento da prestação e 
cláusula penal moratória. 
 No caso da cláusula penal 
compensatória, havendo inadimplemento, esta 
se converterá em alternativa a benefício do 
credor, quer dizer, este poderá escolher entre 
cobrar do contratante inadimplente a multa ou o 
cumprimento da prestação. No exemplo do 
cantor contratado para cantar no casamento, 
diante do não comparecimento à cerimônia, 
o contratante poderá cobrar a multa ou pedir 
para cantar depois, por exemplo, no aniversário 
dele que será na semana seguinte. Sendo 
cláusula penal moratória, sobrevindo mora, o 
credor pode exigir o cumprimento da prestação 
acrescido da multa, pois, se não pagou a dívida 
no dia, o credor a cobrará acrescido da multa 
com os demais encargos moratórios. 
Para fechar o tema, é preciso saber que o juiz 
pode reduzir o valor da cláusula penal 
compensatória em dois casos previsto no artigo 
413 da Lei Civil: 
 
a) Se o valor é manifestamente excessivo: O 
artigo 412 do C estipula um valor máximo da 
cláusula penal compensatória ao afirmar que ela 
não pode exceder o valor da obrigação principal. 
Entretanto, mesmo dentro desse limite, o juiz 
poderá reduzi-la a pedido da parte se 
manifestamente excessivo segundo as 
circunstâncias do caso. 
b) Se a prestação tiver sido cumprida em parte: 
a função da cláusula penal compensatória é 
compensar o contratante pelo fato do outro não 
ter cumprido a prestação. Assim, se este 
cumpre parte da prestação, a compensação 
deve ser apenas da parte não cumprida. 
Exemplo: se o contrato de locação diz que o 
locatário deve pagar multa de três meses de 
 
 
 
 
 
 
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aluguel se devolver as chaves antes do fim do 
contrato, caso ele devolva tendo cumprido 
metade do contrato, não deverá arcar com toda 
a multa, contudo apenas metade dela. 
 
5.5. Arras 
 
Arras significam sinal, ou seja, é aquilo que é 
entregue por um dos contratantes ao outro como 
princípio de pagamento quando da celebração 
do contrato para confirmação do acordo. A 
vantagem do adiantamento de um sinal é validar 
o negócio, pois se houver desistência, aquele 
que desistiu perderá o valor das arras para 
compensar os prejuízos. Se quem deu o sinal 
renunciar, não poderá cobrá-lo de volta; se 
quem o recebeu desistir, 
devolverá o valor em dobro (como recebeu 
arras, a perda efetiva será no valor das arras). 
São duas as naturezas de arras: confirmatória e 
penitenciais. A diferença decorre se no contrato 
existe ou não cláusula de arrependimento. 
 
a) Confirmatórias: quando não houver previsão 
no contrato de direito de arrependimento. É o 
normal, pois as partes celebram um contrato 
não esperando que a outra parte desista. Assim, 
estipulam um valor de sinal a ser pago 
imediatamente para confirmar o negócio. Se 
quem deu arras desistir, perderá o sinal dado, 
porém se quem desistir foi quem recebeu o 
sinal, devolverá o dobro do valor. 
b) Penitenciais: se existir previsão no contrato 
de direito de arrependimento. Qualquer das 
partes terá direito de se arrepender, mas tem um 
preço para isso, ou seja, o valor das arras. Se 
quem desiste deu arras, perderá o sinal dado, 
no entanto se quem desistir foi quem recebeu o 
sinal, devolverá o dobro do valor. 
Ora, tanto nas arras confirmatórias como 
penitenciais, a consequência é a mesma: se 
quem desiste deu arras, perderá o sinal dado, 
todavia se quem desiste foi quem recebeu o 
sinal, devolverá o dobro do valor. Então, 
pergunto: para que diferenciar uma da outra? 
 
Para o caso do prejuízo com a desistência ser 
maior que o valor fixado a título de arras. Se 
forem arras confirmatórias, não há previsão de 
direito de arrependimento e posso cobrar o 
prejuízo que a desistência me acarretar. Como 
já me beneficiei do valor das arras, cobro 
apenas o prejuízo que tive a mais. Entretanto, 
se forem arras penitenciais, há no contrato 
previsão de direito de arrependimento, sendo 
fixado um preço para isso, isto é, o valor de 
arras, não podendo o prejudicado cobrar 
eventual valor a mais que tenha tido de prejuízo 
com a desistência do outro contratante. 
 
Diferença: nas arras confirmatórias (quando não 
há direito de arrependimento), o contratante 
pode cobrar indenização suplementar, enquanto 
não poderá fazê-lo nas arras penitenciais 
(quando há direito de arrependimento), pois se 
fixou um preço para isso. 
 
Vamos treinar? 
 
1- (UEG - 2013 - PC-GO - Delegado de Polícia) 
Questão 84 João e Maria firmaram contrato de 
compra e venda, nos moldes do Código Civil. 
Ficou estipulado, em uma das cláusulas do 
referido contrato, que João pagará a dívida 
perante Maria, mediante a entrega de R$ 
400.000,00 ou um apartamento devidamente 
cientificado nesse valor. Assim, tem-se que: 
a) se todas as prestações estipuladas em 
contrato vierem a se tornar impossíveis, mesmo 
 
 
 
 
 
 
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com culpa do devedor, extinguir-se-á a 
obrigação. 
b) a categoria das obrigações plurais ou 
compostas é formada pelas obrigações 
cumulativas, facultativas e alternativas, no caso 
do exemplo acima, tem-se um exemplo típico da 
modalidade das obrigações facultativas. 
c) de acordo com o exemplo acima, sendo este 
uma obrigação alternativa, de acordo com o 
ordenamento civil atual, em se tratando da 
escolha do objeto, esta cabe ao credor, Maria, 
ou ao sujeito ativo da prestação, se outra coisa 
não se estipulou. 
d) cabe a João promover a escolha, se outra 
coisa não se estipulou, restando irrevogável 
quando a individuação do objeto chega ao 
conhecimento de Maria, salvo

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