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Parecer jurídico

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PARECER JURÍDICO – FILIAÇÃO SÓCIO-AFETIVA
1 – RELATÓRIO
O presente parecer jurídico diz respeito a responsabilidade do pai em pagar alimentos para o filho menor de idade diante da dúvida da paternidade deste. Ocorre que foi descoberto um relacionamento amoroso da genitora com outro homem próximo a data de concepção do filho, surgindo, assim, indagações do pai registral.
Nesse sentido, se restar comprovada que o menino é fruto do relacionamento extraconjugal da mãe, o pai registral alega que seria prejudicado financeiramente, considerando que o suposto pai biológico em nada contribui com o sustento da criança.
Vale lembrar que o pedido de pensão alimentícia surgiu em consequência de dificuldades financeiras da genitora - após a separação do casal - em manter a qualidade de vida do menor, prezando pelo seu desenvolvimento saudável.
2- FUNDAMENTAÇÃO
Em geral, a partir do nascimento todo indivíduo é inserido numa estrutura social denominada “família”, que possibilita seu desenvolvimento saudável e seguro já que o ser humano não consegue sobreviver de forma autônoma enquanto criança. Por muito tempo a legislação pátria considerava “família” apenas aquela constituída de maneira legítima, ou seja, formada por um casal heterossexual sem impedimentos legais e com filhos comuns. No entanto, com o advento da Constituição Federal de 1988, a família passou a ser aceita de uma maneira extensiva, fundamentando-se nos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da solidariedade.[1: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2011, 356-357 p.]
	Antes do avanço da tecnologia reprodutiva, portanto, os filhos havidos no casamento eram os únicos a serem reconhecidos e a receberem proteção do Estado. Tanto é verdade que legislador optou por desprezar a verdade biológica e gerar uma paternidade jurídica, a qual é estabelecida por presunção que independe da verdade real, conforme se observa nos incisos I e II do artigo 1.597 do Código Civil:[2: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2011, 354 p.][3: BRASIL. Código Civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 16 jun. 2015.]
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;
	No entanto, diante das mudanças na sociedade, o Direito brasileiro observou a necessidade de criar uma modalidade de filiação baseada em parentesco civil de ‘outra origem’ (artigo 1.593 do Código Civil), advinda da relação de afeto entre os indivíduos, que atribui papel secundário à verdade biológica.[4: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2011, 372 p.]
	A filiação afetiva corresponde ao vínculo decorrente da relação sócio-afetiva existente entre filhos e pais, baseada no sentimento existente entre eles, que de acordo com Guilherme Calmon Nogueira da Gama (2003): ‘melhor pai ou mãe nem sempre é aquele que biologicamente ocupa tal lugar, mas a pessoa que exerce tal função, substituindo o vínculo biológico pelo afetivo’.[5: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. A nova filiação: o biodireito e as relações parentais. Renovar: Rio de Janeiro. 2003, p. 482-483.]
Além disso, conforme defende a doutrina contemporânea, a verdadeira paternidade e filiação somente é possível em razão de um ato de vontade, podendo ou não decorrer do fator biológico. Tal orientação vem merecendo atenção por parte de vários sistemas jurídicos que reformaram suas legislações em matéria de filiação com a introdução, por exemplo, da noção da posse de estado de filho.[6: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. A nova filiação: o biodireito e as relações parentais. Renovar: Rio de Janeiro. 2003, p. 483.][7: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. A nova filiação: o biodireito e as relações parentais. Renovar: Rio de Janeiro. 2003, p. 483.]
Com base no melhor interesse da criança, o direito brasileiro entende que o critério sócio-afetivo deve prevalecer para fins de assegurar a primazia da tutela à pessoa dos filhos, no resguardo dos seus direitos fundamentais, notadamente o direito à convivência familiar.[8: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. A nova filiação: o biodireito e as relações parentais. Renovar: Rio de Janeiro. 2003, p. 483.]
	A paternidade sócio-afetiva, portanto, permite ao filho gozar da posse de estado como tal, já que uma vez constituído o esse vínculo, mesmo sem elo biológico, prestigia-se a ligação afetiva. Assim, se após o registro os pais se separarem, não desaparecerá o vínculo de parentalidade nem desconstituirá o registro, pois persistirá a certeza de quem é o pai, mantendo-se a posse se estado de filiação.[9: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2011, 372-373 p.][10: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2011, 373 p.]
	Nesse sentido, o reconhecimento da paternidade ou da maternidade sócio-afetiva produz todos os efeitos pessoais e patrimoniais que lhe são inerentes, conforme o princípio da solidariedade. De acordo com as palavras de Maria Berenice Dias (2011) :[11: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2011, 374 p.][12: DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2011, 374 p.]
O vínculo de filiação sócio-afetiva, que se legitima no interesse do filho, gera o parentesco sócio-afetivo para todos os fins de direito, nos limites da lei civil. Se menor, com fundamento no princípio do melhor interesse da criança e do adolescente; se maior, por força do princípio da dignidade da pessoa humana, que não admite um parentesco restrito ou de “segunda classe”. 
3-CONCLUSÃO
Finalizando sugiro que o consulente busque ajuizar ação de negatória de paternidade, solicitando ainda exame de DNA, considerando que apenas o material genético poderá comprovar, de maneira irrefutável, a paternidade. No entanto, diante do exposto, frisa-se que caso o menor em questão não seja filho biológico do consulente, prevalecerá a paternidade sócio-afetiva. 
Joinville, 10 de junho de 2015.
ADVOGADO
OAB

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