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TCC MULTIPARENTALIDADE: AMPLIAÇÃO DE SEU RECONHECIMENTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
Curso de Direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULTIPARENTALIDADE: AMPLIAÇÃO DE SEU RECONHECIMENTO NO 
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VERÔNICA FIAES PIRES DE AZEREDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Gonçalo 
2020.2 
VERÔNICA FIAES PIRES DE AZEREDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULTIPARENTALIDADE: AMPLIAÇÃO DE SEU RECONHECIMENTO NO 
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo Científico Jurídico apresentado à 
Universidade Estácio de Sá, Curso de Direito, 
como requisito parcial para conclusão da 
disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. 
 
Orientador (a) Prof. (a). Mônica Cavalieri 
Fetzner Areal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Gonçalo 
Campus Alcântara – Alcântara 1 
2020.2 
 
RESUMO 
O presente artigo trata da multiparentalidade e a ampliação de seu reconhecimento no 
ordenamento jurídico brasileiro. Este estudo visa abranger a possibilidade e analisar a respeito 
da ampliação de seu reconhecimento no ordenamento jurídico brasileiro, além de ressaltar 
alguns princípios predominantes no Direito de Família. Verificou-se que o objetivo principal 
deste artigo científico é o reconhecimento de novas entidades familiares, e foram destacadas 
as diversas transformações que todos os moldes familiares vieram sofrendo ao longo dos 
anos. Utilizou-se na produção deste TCC o método da referência bibliográfica científica, bem 
como doutrinas e jurisprudências favoráveis a respeito deste tema. 
 
Palavras-Chaves: Multiparentalidade, Ordenamento Jurídico, Família, Princípios. 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1. Introdução. 2. Desenvolvimento: 2.1. Do conceito histórico de família e sua evolução no 
âmbito jurídico; 2.2. Diferença entre filiação biológica e filiação socioafetiva; 2.3. Dos 
princípios aplicáveis a multiparentalidade; 2.3.1. Princípio da isonomia entre os filhos; 2.3.2. 
Princípio da solidariedade familiar; 2.3.3. Princípio do melhor interesse do menor; 2.4. Dos 
reflexos jurídicos da multiparentalidade no ordenamento jurídico; 3. Conclusão; 4. 
Referências. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
INTRODUÇÃO 
O referido trabalho tem por objetivo a análise da discussão sobre a possibilidade da 
multiparentalidade e analisar a respeito da ampliação de seu reconhecimento no ordenamento 
jurídico brasileiro, tendo como fundamentos as normas vigentes e os princípios norteadores 
do Direito de Família. Sendo assim, para a elaboração da estrutura deste trabalho de 
conclusão foi utilizada uma revisão bibliográfica científica, com citações referenciadas em 
argumentos de juristas inspiradores, dentre eles, Carlos Roberto Gonçalves, Pablo Stolze 
Gagliano, entre outros. 
No primeiro tópico deste artigo científico será apresentado a respeito do conceito 
histórico de família e sua evolução no âmbito jurídico, trazendo as transformações que os 
moldes familiares vêm apresentando ao longo dos anos, especificando alguns tipos de 
estruturas familiares além do acompanhamento do seu desenvolvimento no âmbito social. 
Em seguida uma breve análise, no segundo tópico, da diferença entre filiação 
biológica e filiação socioafetiva, tratando-se da flexibilização do sistema familiar tendo o 
afeto como principal característica para a construção desse vínculo, não podendo haver 
qualquer tipo de distinção entra a família legítima e ilegítima. 
O terceiro capítulo versa a respeito dos princípios aplicáveis a multiparentalidade, 
sendo estes: princípio da isonomia entre os filhos, princípio da solidariedade familiar e 
princípio do melhor interesse do menor, devendo sempre observar que dentre tantos princípios 
englobados no Direito de Família, todos tem como base principal o afeto. 
Quanto a estrutura desta monografia, faz-se necessário salientar que temos como 
último capítulo a análise dos reflexos jurídicos da multiparentalidade no ordenamento 
jurídico, como os tribunais vem se posicionando a respeito deste tema. 
Diante disso, deve ser mencionado que os temas abordados neste artigo científico 
também tem fontes utilizadas de Códigos como a Constituição Federal de 1988, bem como a 
utilização de jurisprudências. 
 
 
2 DESENVOLVIMENTO 
 
2.1 DO CONCEITO HISTÓRICO DE FAMÍLIA E SUA EVOLUÇÃO NO ÂMBITO 
JURÍDICO 
A entidade familiar está diretamente ligada à sociedade, sendo definida como base da 
sociedade, portanto, em se tratando de uma sociedade dinâmica onde mudanças ocorrem o 
5 
 
tempo todo, e nos últimos anos, de forma muito acelerada, as grandes transformações, gera no 
âmbito do conceito familiar novas perspectivas, buscando sempre adaptar-se as novas 
necessidades sociais. 
 
Nessa seara, Rolf Madaleno faz importante comentário acerca destas mudanças: 
 
A família matrimonializada, patriarcal, hierarquizada, heteroparental, biológica, 
institucional vista como unidade de produção cedeu lugar para uma família 
pluralizada, democrática, igualitária, hetero ou homoparental, biológica ou 
socioafetiva, construída com base na afetividade e de caráter instrumental.1 
 
 
A definição de família vem passando por uma grande evolução, como podemos 
destacar o Código Civil de 1916 que definia a família como patriarcal e hierarquizada, onde o 
homem era o chefe da entidade familiar e sendo formada somente através do casamento, 
atualmente evidencia-se uma pluralidade de tipos familiares com formações e composições 
totalmente diferentes e específicas, como por exemplo, a família homoafetiva que possui uma 
relação baseada no afeto entre pessoas do mesmo sexo, a união estável que tem como 
característica a convivência pública, contínua e duradoura, dentre outras. 
 
Paulo Nader disserta sobre família: 
 
 
Família consiste em "uma instituição social, composta por mais de uma pessoa 
física, que se irmanam no propósito de desenvolver, entre si, a solidariedade nos 
planos assistencial e da convivência ou simplesmente descendem uma da outra ou de 
um tronco comum.2 
 
 
Vale ressaltar que a evolução do conceito de família traz à tona a valoração do afeto, 
sendo este uma das principais características da família atual. Paulo Lôbo se refere: 
 
A família sofreu profundas mudanças de função, natureza, composição e, 
consequentemente, de concepção, sobretudo após o advento do Estado social, ao 
longo do século XX. No plano constitucional, o Estado, antes ausente, passou a se 
interessar de forma clara pelas relações de família, em suas variáveis manifestações 
sociais. Daí a progressiva tutela constitucional, ampliando o âmbito dos interesses 
protegidos, definindo modelos, nem sempre acompanhados pela rápida evolução 
 
1MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p.36. 
2NADER, Paulo. Curso de Direito Civil. Vol. 5 - Direito de Família. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 
2006, p.3. 
6 
 
social, a qual enquadra novos valores e tendências que se concretizam a despeito da 
lei.3 
 
 
Durante muitos anos na história da sociedade, se tinha uma visão de que a família 
deveria ser conservadora, não era permitido qualquer outro tipo de união familiar, o papel da 
mulher, por exemplo, era de forma geral tanto no aspecto familiar quanto na sociedade era de 
que deveria apenas servir ao marido e cuidar dos filhos, e esse conceito foi se transformando 
com o passar dos tempos, havendo diversas mudanças como, as mulheres passaram a ganhar 
mais espaço no mercado de trabalho e como consequência passou a ter os mesmos direitos 
que seus maridos. 
O casamento era a única opção para se constituir uma família, havendo afeto ou não 
entre os possíveis cônjuges, trazendo consigo um conceito de família totalmente patriarcal, 
sendo indispensável à figura do homem e da mulher para esta união, não sendo permitido 
qualquer outro laço de convívio. 
Sendo assim, podemos destacar a grande importância que a famíliatraz em seu 
conceito histórico e as grandes evoluções e transformações que ela vem sofrendo ao longo dos 
anos, portanto, no tópico a seguir serão apresentadas as principais diferenças da filiação 
biológica e filiação socioafetiva que também fazem parte de uma das espécies familiares que 
o Direito de Família nos traz. 
 
 
2.2 DIFERENÇAS ENTRE FILIAÇÃO BIOLÓGICA E FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA 
Antes de entrarmos na diferença entre filiação biológica e filiação socioafetiva, é 
importante ressaltar o conteúdo histórico referente ao tema. Anteriormente em nosso 
ordenamento jurídico brasileiro faziam-se distinções de tratamento entre os filhos advindos da 
relação matrimonial e da relação fora do casamento. 
 
Carlos Roberto Gonçalves cita: 
 
Filhos legítimos eram os que procediam de justas núpcias. Quando não houvesse 
casamento entre os genitores, denominavam-se ilegítimos e se classificavam, por sua 
vez, em naturais e espúrios. Naturais, quando entre os pais não havia impedimento 
para o casamento. Espúrios, quando a lei proibia a união conjugal dos pais. Estes 
podiam ser adulterinos, se o impedimento resultasse do fato de um deles ou de 
 
3LÔBO, Paulo. Direito Civil-Família. 6. 11 ed. Saraiva. São Paulo, 2011. p.17 
7 
 
ambos serem casados, e incestuosos, se decorresse do parentesco próximo, como 
entre pai e filha ou entre irmão e irmã.4 
 
 
 
Filhos advindos da contração matrimonial eram denominados de filhos legítimos e 
filhos havidos fora do matrimônio eram denominados de filhos ilegítimos, também 
denominados como espúrios e naturais, sendo espúrios quando a legislação proibia a união 
conjugal dos pais e naturais quando não havia impedimento para a consagração do 
matrimônio. 
 
Sobre isso, Maria Berenice Dias expõe uma bela opinião: 
 
 
Negar a existência de prole ilegítima simplesmente beneficiava o genitor e 
prejudicava o filho. Ainda que tivesse sido o pai quem cometera o delito de adultério 
– que à época era crime -, infringindo o dever de fidelidade, o filho era o grande 
perdedor. Singelamente, a lei fazia de conta que ele não existia. Era punido pela 
postura do pai, que se safava dos ônus do poder familiar. E negar reconhecimento ao 
filho é excluir-lhes direitos, é punir quem não tem culpa, é brindar quem infringiu os 
ditames legais. 5 
 
 
Por conta disso, o ordenamento jurídico anterior acabava prejudicando os filhos 
devido a possíveis erros de seus genitores. No entanto, atualmente isso não ocorre mais, 
diante de diversos questionamentos referentes à proibição do reconhecimento dos filhos 
ilegítimos, surgindo diversos princípios que resguarda este direito. 
 
Sobre isso, Gagliano e Pamplona explicam a respeito de não ser correta a 
diferenciação no tratamento entre filhos: 
 
 
Não há, pois, mais espaço para a distinção entre família legítima e ilegítima, 
existente na codificação anterior, ou qualquer outra expressão que deprecie ou 
estabeleça tratamento diferenciado entre os membros da família. Isso porque a 
filiação é um fato da vida. Ser filho de alguém independe de vínculo conjugal 
válido, união estável, concubinato ou mesmo relacionamento amoroso adulterino, 
devendo todos os filhos ser tratados da mesma forma.6 
 
 
 
4GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro - Direito de Família. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2011, 
p.319. 
5DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 9ª ed. São Paulo: RT, 2013, pag. 361. 
6GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil vol. 6. 2 ed. São Paulo: 
Saraiva, 2013, p. 619. 
8 
 
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona aduzem: 
 
O parentesco por afinidade, por sua vez, é estabelecido como consequência lógica 
de uma relação de afeto. Assim, o núcleo familiar do cônjuge ou companheiro é 
agregado ao núcleo próprio de seu (sua) parceiro (a) de vida. Vale registrar que o 
vigente Código Civil brasileiro equiparou, como já deveria ter sido feito há tempos, 
a união estável ao casamento, também para o efeito do parentesco por afinidade, o 
que inexistia no sistema codificado anterior. 7 
 
 
Como podemos observar a filiação biológica sempre prevaleceu mais do que a filiação 
socioafetiva, portanto era nítida a discriminação que havia entre os filhos legítimos e 
ilegítimos. Com o decorrer dos anos, e devido às transformações na sociedade, 
automaticamente a nossa legislação brasileira foi se adaptando a realidade, a qual o primeiro 
vínculo de parentesco de filiação socioafetiva se decorreu através da adoção, sem origem 
necessariamente genética, o que já seria um grande avanço histórico, construindo então um 
novo conceito de entidade familiar. O filho é o titular do estado de filiação, enquanto a mãe e 
o pai são titulares do estado de maternidade e paternidade. 
 
Tendo isso em vista, podemos dizer que a filiação biológica ou natural: 
 
 
É aquela que envolve uma relação sexual entre um homem e uma mulher com a 
consequente concepção, pouco importando a sua origem: se ocorreu dentro do 
matrimônio, ou fora do matrimônio, ou entre noivos ou namorados, ou entre meros 
“ficantes” (termo contemporaneamente utilizado que significa aqueles que, 
ocasional e descompromissadamente, decidiram ter momentos de intimidade 
sexual), dos quais resultaram a gravidez e o consequente nascimento de uma 
criança.8 
 
 
E sobre o conceito de filiação socioafetiva temos: 
 
 
A filiação socioafetiva não está lastreada no nascimento (fato biológico), mas em ato 
de vontade, cimentada, cotidianamente, no tratamento e na publicidade, colocando 
em xeque, a um só tempo, a verdade biológica e as presunções jurídicas. 
Socioafetiva é aquela filiação que se constrói a partir de um respeito recíproco, de 
um tratamento em mão-dupla, como pai e filho. Apresenta-se, desse modo, o critério 
socioafetivo de determinação do estado de filho como um tempero ao império da 
genética, representando uma verdadeira biologização da filiação, fazendo com que o 
vínculo paterno-filial não esteja aprisionado somente na transmissão de genes.9 
 
7Ibidem, 2011, p. 647. 
8FUJITA, Jorge Shiguemitsu. Filiação. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2011, p.63. 
9CHAVES, Cristiano; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 6: 
Famílias, p. 611. 
9 
 
 
 
Conclui-se que o ordenamento jurídico anterior visava à proteção do matrimônio, e 
diante de diversas transformações que o Código Civil junto a Constituição Federal trouxe aos 
longos dos anos, hoje a prioridade é a preservação do núcleo familiar, preservação do 
patrimônio da família, trazendo consigo os principais princípios inerentes a este tema que 
veremos nos próximos tópicos deste artigo científico. 
 
2.3 DOS PRINCÍPIOS APLICÁVEIS A MULTIPARENTALIDADE 
 Diante da evolução da sociedade surgiram novos conceitos de família, dentre elas a 
multiparentalidade que não está prevista expressamente no ordenamento jurídico brasileiro, 
no entanto, com uma interpretação extensiva deve-se observar que a multiparentalidade está 
evidente nos princípios previstos na constituição, como princípio da igualdade que prevê que 
todos são iguais perante a lei. O princípio da afetividade traz o afeto como base principal para 
constituir uma família, dentre outros. O direito de família está resguardado por diversos 
princípios, nos próximos tópicos a seguir serão apresentados alguns dos importantes 
princípios que são considerados fundamentais no momento de analisar o caso concreto em 
questão. 
 
2.3.1 PRINCÍPIO DA ISONOMIA ENTRE OS FILHOS 
O princípio da isonomia entre os filhos trata-se da supremacia da igualdade entre eles, 
alcançando os vínculos de filiação. Como já visto neste artigo científico, a família tem 
priorizado a relação de afetividade, solidariedade e cooperação mútua e a Constituição 
Federal de 1988 tem dado base para eliminar todo e qualquer tipo de discriminação e 
desigualdade entre cônjuges, companheirose filhos. 
 
Nas palavras de Rolf Madaleno: 
 
 
Finalmente, a Carta Federal resgata a dignidade da descendência brasileira, deixando 
de classificar filhos pela maior ou menor pureza das relações sexuais, legais e 
afetivas de seus pais, quando então, os filhos eram vistos e classificados por uma 
escala social e jurídica direcionada a discriminar o descendente e a sua inocência, 
por conta dos equívocos ou pela cupidez de seus pais.10 
 
 
10Idem. Direito de Família: constituição e constatação. [2001?]. Disponível 
em: http://www.rolfmadaleno.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=26&Itemid=39>. 
Acesso em: 18 ago. 2020. 
http://www.rolfmadaleno.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=26&Itemid=39
10 
 
A Constituição Federal veda qualquer tipo de discriminação e desigualdade entre os 
filhos, não existe mais a definição e distinção entre filhos considerados legítimos e ilegítimos, 
sendo resultado do matrimônio ou não, conferindo-lhe os mesmos deveres e direitos. 
 
Nesse momento, Gustavo Tepedino nos diz: 
 
 
Portanto, basta à comunidade formada pelo pai e/ou mãe e um filho biológico ou 
sociológico para que haja uma família, não havendo qualquer necessidade de os pais 
serem casados ou conviventes, ou seja, a família não é oriunda do casamento, da 
união estável ou dos laços sanguíneos, mas também da comunhão de afeto entre pai 
e/ou mãe e filho.11 
 
 
Cumpre salientar que nem o Código Civil e nem a Constituição Federal definem o 
conceito explícito de filiação, podendo ser definida como um vínculo jurídico entre pais e 
filhos, este vínculo atribui aos pais o poder familiar, exercendo obrigações, tendo que criar e 
educar seus filhos, sob guarda e proteção, em condições de igualdade, sem prevalecer nenhum 
dos genitores, prevalecendo sempre os interesses dos filhos. 
 
2.3.2 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR 
 A solidariedade traz uma obrigação para o mundo jurídico conectado a ética e moral, 
determinando que cada ser humano tem o seu dever de cooperação, amparo, ajuda, 
assistência, e principalmente cuidado em relação ao outro ser. Na medida em que a sociedade 
vai crescendo e evoluindo, a importância da solidariedade deve crescer igualmente no sentido 
de todos terem determinada consciência social. Nas palavras de Paulo Luiz Netto Lôbo: 
 
 
A Constituição e o direito da família brasileira são integrados pela onipresença dos 
dois princípios fundamentais e estruturantes: a dignidade da pessoa humana e a 
solidariedade. (…) O macro princípio da solidariedade perpassa transversalmente os 
princípios gerais do direito de família, sem o qual não teriam o colorido que os 
destaca, a saber: o princípio da convivência familiar, o princípio da afetividade, o 
princípio do melhor interesse da criança.12 
 
 
 
11TEPEDINO, Gustavo. Cidadania e os direitos de personalidade. Revista da Escola Superior da 
Magistratura de Sergipe, Sergipe, n. 3, p. 23-44, 2002. 
12LÔBO, Paulo Luiz Netto. O princípio constitucional da solidariedade nas relações de família. In: CONRADO, 
Marcelo (Org.). Direito Privado e Constituição: ensaios para uma recomposição valorativa da pessoa e do 
patrimônio. Curitiba: Juruá, 2009. p. 327. 
11 
 
 A solidariedade trata-se de um sentimento que surge de forma espontânea, nas 
relações de convivências sociais. No mundo atual, o direito deve sempre buscar equilíbrio 
entre as partes, entre os espaços públicos e privados, caracterizando a solidariedade como 
elemento fundamental do direito subjetivo. 
 
Roberto Lisboa aduz que: 
 
 
É importante esclarecer que o afeto deve ser entendido como sendo o vínculo 
emocional que se origina dos sentimentos que ligam os integrantes de uma família e 
que o respeito, por sua vez, deve ser compreendido como o valor que se atribui a um 
determinado parente, respectivamente.13 
 
 
 
Sendo assim, podemos dizer que a solidariedade abrange todas as formas de relação 
jurídica, acima de tudo, as relações familiares, já que no âmbito familiar se desenvolve 
naturalmente os sentimentos de afetividade e respeito. Os genitores que ensinam desde cedo 
para seus filhos, suas proles, os reais valores da vida, de modo que seja também ensinada o 
valor da importância da solidariedade, fazendo com que se transformem em 
pessoaspreocupadas com o bem-estar alheio. 
 
De acordo com a linha de raciocínio de Erhard Denninger: 
 
 
Solidariedade significa um vínculo de sentimento racionalmente guiado, limitado e 
autodeterminado que nos compele a oferecer ajuda, enquanto se apoia na similitude 
de certos interesses e objetivos de forma a, não obstante, manter a diferença entre os 
parceiros na solidariedade.14 
 
 
 Com a transformação do Direito de Família no Brasil, deve sempre considerar melhor 
o Princípio da Solidariedade, de modo a represar o individualismo, já que estamos tratando de 
conjunto de pessoas e não o indivíduo por si só. O principal aspecto do princípio da 
solidariedade no Direito de Família é a afetividade que também decorre de um princípio 
fundamental nesse ramo do direito. 
 
13LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil: direito de família e das sucessões. 2. ed. rev. 
atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. 5v, p.45. 
14DENNINGER, Erhard. “Segurança, diversidade e solidariedade” ao invés de “liberdade, igualdade e 
fraternidade”. Revista Brasileira de Estudos Políticos, Belo Horizonte, n. 88, p. 36, dez./2003. 
 
12 
 
 
2.3.3 PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR 
O princípio deste tópico é de uma grande complexidade, uma vez que está diretamente 
ligada a entidade familiar que por sua vez traz uma grande variedade de tipos de famílias e 
meios culturais, por tanto se faz necessário que este princípio tenha um conceito amplo, dando 
assim a oportunidade para as normas se adaptarem ao modelo familiar em questão. 
Em suma, o princípio do melhor interesse do menor visa de maneira absoluta para que 
seja garantido a eles o direito à vida, a saúde, alimentação, lazer, cultura, a dignidade, 
respeito, liberdade, convivência familiar e comunitária. Tais garantias têm suas 
fundamentações na Constituição Federal de 1988 no artigo 227 e no Estatuto da Criança e do 
Adolescente – Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 4º: 
 
 
Art. 227 da CRFB/88: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à 
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade à convivência familiar e comunitária, além de 
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão.15 
 
Art. 4º ECA: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder 
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à 
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária.16 
 
 
A proteção às crianças e adolescentes é de extrema importância pois trata de pessoas 
incapazes de gerir suas próprias vidas, sendo dever da família, Estado e sociedade zelar por 
estes, garantindo assim o pleno desenvolvimento moral, psíquico e social do menor, para que 
eles possam, ao atingir a maturidade, gerenciar suas próprias vidas, e com o pleno 
desenvolvimento garantido possibilitará futuramente uma sociedade mais equilibrada e justa, 
haja vista que as crianças são o futuro da sociedade e toda a forma como eles passaram pelo 
seu processo de formação irá refletir na forma como eles agiram futuramente, sendo assim, 
cuidar e garantir a proteção do melhor interesse do menor nada mais é que cuidar da futura 
sociedade que teremos. 
 
15BRASIL. Constituição Federal de 1988. In: VadeMecum. 23ª Edição. São Paulo: Saraiva. 2018 
16 BRASIL –Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei nº 8.069, de 13 de julho de1990 
13 
 
O menor é visto como cidadão em formação, por tanto, dar-se a obrigação da família, 
Estado e sociedade garantirem este pleno desenvolvimento, permitindo que estes futuramente 
pratiquem seus atos sociais da melhor forma possível. 
 
2.4 DOS REFLEXOS JURÍDICOS DA MULTIPARENTALIDADE NO 
ORDENAMENTO JURÍDICO 
 Como já comentado, devemos destacar mais uma vez as transformações sociais que 
vem acontecendo na sociedade e como isso interviu diretamente na constituição familiar, 
quebrando diversos paradigmas no Direito de Família. Na família atual e contemporânea, o 
afeto é uma circunstância social e psicológica sendo um dever jurídico. 
 
Cassettari entende que a multiparentalidade é viável em diversas situações: 
 
Tais como no caso em que for possível somar a parentalidade biológica e 
socioafetiva, sem que uma exclua a outra, e, ainda, na adoção homoafetiva, ou na 
reprodução medicamente assistida entre casais homossexuais, em que o adotado 
passaria a ter duas mães ou dois pais.17 
 
 
 A multiparentalidade trata-se de um fenômeno contemporâneo, uma vez que é 
caracterizada pelas relações afetivas que são criadas no âmbito familiar, e por esta razão é 
necessário que no ordenamento jurídico haja uma maior flexibilização para que possa 
solucionar os conflitos de interesse. O direito é um conjunto de normas nas quais suas 
definições são mutáveis, o infante não tem a necessidade de escolher entre uma paternidade 
ou outra, hoje é possível o reconhecimento de ambas as paternidades no registro se for da 
vontade da criança. Belmiro Pedro Welter traz importante lição: 
 
 
Essa compreensão do direito de família não será efetivada à margem da 
Constituição, em que não basta compreender as regras, mas, sobretudo, os 
princípios, na medida em que o mundo prático não pode ser dito no todo, nem 
mesmo pela linguagem, sempre sobrando algo por ser dito. O princípio pode 
desnudar a capa de sentido imposta pela lei, que esconde a condição humana 
tridimensional, pois, enquanto a regra abre, o princípio fecha a compreensão do 
texto. Isso quer dizer que a lei não prevalece diante do princípio, sob pena de o 
intérprete incidir em contradição, porque a regra se funda com base em um 
princípio, não podendo sobrepor-se à sua principiologia, sob pena de haver um 
retorno ao positivismo.18 
 
17CASSETTARI, Christiano. Multiparentalidade e parentalidade socioafetiva: efeitos jurídicos. São Paulo: Atlas, 
2014, p.145. 
18WELTER, Belmiro Pedro. Teoria tridimensional do direito de família. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 2009a 
14 
 
 
 
O fenômeno da multiparentalidade é visto com maior frequência no grupo familiar 
onde é composto por padrasto ou madrasta que acabam criando uma relação mais 
aprofundada. Portanto, podemos observar que a justiça brasileira já vem deferindo pedidos de 
sobrenomes da madrasta ou padrasto no registro de nascimento. 
 Para a determinação da multiparentalidade, não há necessariamente critérios para 
reconhecer esta espécie de família, o legislador ou julgador deve se atentar sempre aos 
princípios constitucionais e até mesmo se atentar a legislação. 
 
A Desembargadora Substituta Denise Volpato em acórdão de sua relatoria ensina: 
 
 
Ora, a tendência atual do Direito, e mais especificadamente do Direito de Família, é 
a de gradativamente abandonar as formas jurídicas rígidas e em confronto com a 
realidade social em nome da satisfação da plena liberdade de desenvolvimento dos 
cidadãos no seio social. Assim, com base na Teoria Neoconstitucionalista, a 
interpretação das normas exige um exercício mais apurado do jurista porquanto o 
Direito necessita ser compreendido como uma ferramenta de promoção da dignidade 
humana e integração social, assim, como tal, devem amoldar-se à realidade na qual 
está inserido, e não a desprezar em nome de conceitos arcaicos e superados de célula 
familiar e sociedade. (TJSC, Apelação Cível n. 2011.021277-1, de Jaraguá do Sul, 
rela. Desa. Denise Volpato, j. 14-5-2013).19 
 
 
 
O reconhecimento da múltipla paternidade pode ser requerido por aquele que quer ser 
reconhecido como pai ou mãe de uma criança, ainda que esta já tenha em seu registro um pai 
ou mãe. O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 27 estabelece que: 
 
 
Artigo 27: O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, 
indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus 
herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.20 
 
 
O registro também poderá ser feito quando não há o reconhecimento de uma 
paternidade na certidão de nascimento, através de escritura pública. Para ser reconhecida a 
paternidade de primeira, não há a necessidade de comprovação de vínculo biológico ou afetivo, pois 
 
19BRASIL, Tribunal de Justiça de Santa Catarina. TJSC, Apelação Cível n. 2011.021277-1, de Jaraguá do 
Sul, rela. Desa. Denise Volpato, j. 14-5-2013. https://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24061938/apelacao-
civel-ac-20130313921-sc-2013031392-1-acordao-tjsc/inteiro-teor-24061939?ref=juris-tabs. Acesso em: 
14/08/2020 
20 Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da criança e do adolescente. Brasília, DF, jul. 1990. Acesso 
em:14/08/2020 
https://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24061938/apelacao-civel-ac-20130313921-sc-2013031392-1-acordao-tjsc/inteiro-teor-24061939?ref=juris-tabs
https://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24061938/apelacao-civel-ac-20130313921-sc-2013031392-1-acordao-tjsc/inteiro-teor-24061939?ref=juris-tabs
15 
 
este reconhecimento decorre da lei e dos princípios básicos, mas quando se trata de uma segunda 
paternidade devem ser comprovados os requisitos legais. 
O critério principal para fazer a inclusão do pai ou da mãe afetiva no registro é que a criança 
ou o adolescente os reconheçam como pais, para que possam desempenhar seu papel materno 
ou paterno. O artigo 1606 do Código Civil de 2002 nos traz informações a respeito: 
 
Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver, passando 
aos herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz. 
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão continuá-la, 
salvo se julgado extinto o processo.21 
 
 
 
 Dependendo do contexto social tanto os filhos quanto os pais podem solicitar o 
reconhecimento do fato, requerendo a ação para declarar o vínculo, seja socioafetivo ou 
biológico. A Lei 11.924/2009 foi modificada e por fim reconheceu a socioafetividade, 
viabilizando a inclusão do sobrenome do padrasto ou da madrasta ao nome do enteado. 
 
Art. 1o Esta Lei modifica a Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973 – Lei de 
Registros Públicos, para autorizar o enteado ou a enteada a adotar o nome de família 
do padrasto ou da madrasta, em todo o território nacional.22 
 
 
 
 Insta salientar que a lei não visa apenas à inclusão do sobrenome e sim visa 
questões patrimônicas. A paternidade pode ser exigida por quaisquer pessoas desde que 
preencham as condições de pai ou mãe, aquele que está sempre presente na vida do infante, 
gerando um laço forte entre ambos, atrelando o estado de filiação de forma única. Sendo 
assim, não há impossibilidades ou obstáculos que impeçam a coexistência dos vínculos 
biológicos e afetivos. Renata Nepomuceno trata de forma simples nos dizendo: 
 
Vê-se que a igualdade nas relações paterno-filiais é o caminho mais apropriado para 
garantir um espaço de convivência entre todas as filiações, devendo-se levar em 
consideração que o afeto pode ser encontrado em qualquer relação onde exista a 
verdadeira vontade do pai em exercer sua função paterna na vida do filho, tanto nas 
relações afetivas em si quanto nas relações biológicas.23 
 
 
 
21Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código civil. Brasília, DF, jan. 2002. Disponívelem: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>Acesso em: 14/08/2020< 
22 BRASIL. Lei n. 11.924, de 17 de abril de 2009. Artigo 1º. Acesso em: 24 mar. 2020. 
23 CYSNE, Renata Nepomuceno. Os laços afetivos como valor jurídico: na questão da paternidade socioafetiva. 
Belo Horizonte: Del Rey, 2008. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm
16 
 
 Portanto, quando reconhecida a multiparentalidade é importante que seja respeitada 
a dignidade humana de todos, nunca buscando a extinção da genética biológica. Tendo em 
vista a igualdade, não há como estabelecer quem é ‘’ menos pai’’ ou ‘’ menos mãe’’, devendo 
ser considerado que o afeto deve estar presente em qualquer uma das relações. 
 
 Conforme entendimento na doutrina e na jurisprudência é direito fundamental do 
filho em ter o uso do nome do pai ou da mãe, não podendo ser vetado. O nome do filho pode 
ser composto pelo prenome e apelido de família graças ao fenômeno do reconhecimento da 
multiparentalidade, não gerando nenhum conflito com a disposição do ordenamento jurídico. 
Podemos observar a seguir julgados favoráveis ao reconhecimento da multiparentalidade: 
 
RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. SOCIOAFETIVIDADE. ART. 
1.593 DO CÓDIGO CIVIL. PATERNIDADE. MULTIPARENTALIDADE. 
POSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. INDIGNIDADE. AÇÃO AUTÔNOMA. 
ARTS. 1.814 E 1.816 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. 1. Recurso especial interposto 
contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973 
(Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. A eficácia preclusiva da coisa 
julgada exige a tríplice identidade, a saber: mesmas partes, mesma causa de pedir e 
mesmo pedido, o que não é o caso dos autos. 3. Na hipótese, a primeira demanda 
não foi proposta pelo filho, mas por sua genitora, que buscava justamente anular o 
registro de filiação na ação declaratória que não debateu a socioafetividade buscada 
na presente demanda. 4. Não há falar em ilegitimidade das partes no caso dos autos, 
visto que o apontado erro material de grafia foi objeto de retificação. 5. À luz do art. 
1.593 do Código Civil, as instâncias de origem assentaram a posse de estado de 
filho, que consiste no desfrute público e contínuo dessa condição, além do 
preenchimento dos requisitos de afeto, carinho e amor, essenciais à configuração da 
relação socioafetiva de paternidade ao longo da vida, elementos insindicáveis nesta 
instância especial ante o óbice da Súmula nº 7/STJ. 6. A paternidade socioafetiva 
realiza a própria dignidade da pessoa humana por permitir que um indivíduo tenha 
reconhecido seu histórico de vida e a condição social ostentada, valorizando, além 
dos aspectos formais, como a regular adoção, a verdade real dos fatos. 7. O Supremo 
Tribunal Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 898.060, com repercussão 
geral reconhecida, admitiu a coexistência entre as paternidades biológica e a 
socioafetiva, afastando qualquer interpretação apta a ensejar a hierarquização dos 
vínculos. 8. Aquele que atenta contra os princípios basilares de justiça e da moral, 
nas hipóteses taxativamente previstas em lei, fica impedido de receber determinado 
acervo patrimonial por herança. 9. A indignidade deve ser objeto de ação autônoma 
e seus efeitos se restringem aos aspectos pessoais, não atingindo os descendentes do 
herdeiro excluído (arts. 1.814 e 1.816 do Código Civil de 2002). 10. Recurso 
especial não provido. (STJ - REsp: 1704972 CE 2017/0272222-2, Relator: Ministro 
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 09/10/2018, T3 - 
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 15/10/2018, grifo nosso).24 
 
 
 O Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinário nº 898.060 
reconheceu a paternidade socioafetiva, conforme julgado abaixo. A multiparentalidade vem 
 
24SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial nº 1704972 CE (2012/0272222-2). Acesso em: 07 
de jul. 2020. 
17 
 
sendo reconhecida constantemente nos tribunais, indo sempre de acordo com a doutrina e 
princípios basilares, como o princípio do melhor interesse do menor, dignidade da pessoa 
humana, afetividade, dentre outros. 
 
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL 
RECONHECIDA. DIREITO CIVIL E CONSTITUCIONAL. CONFLITO ENTRE 
PATERNIDADES SOCIOAFETIVA E BIOLÓGICA. PARADIGMA DO 
CASAMENTO. SUPERAÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988. EIXO 
CENTRAL DO DIREITO DE FAMÍLIA: DESLOCAMENTO PARA O PLANO 
CONSTITUCIONAL. SOBREPRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA (ART. 1º, 
III, DA CRFB). SUPERAÇÃO DE ÓBICES LEGAIS AO PLENO 
DESENVOLVIMENTO DAS FAMÍLIAS. DIREITO À BUSCA DA 
FELICIDADE. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL IMPLÍCITO. INDIVÍDUO 
COMO CENTRO DO ORDENAMENTO JURÍDICOPOLÍTICO. 
IMPOSSIBILIDADE DE REDUÇÃO DAS REALIDADES FAMILIARES A 
MODELOS PRÉCONCEBIDOS. ATIPICIDADE CONSTITUCIONAL DO 
CONCEITO DE ENTIDADES FAMILIARES. UNIÃO ESTÁVEL (ART. 226, § 
3º, CRFB) E FAMÍLIA MONOPARENTAL (ART. 226, § 4º, CRFB). VEDAÇÃO 
À DISCRIMINAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO ENTRE ESPÉCIES DE FILIAÇÃO 
(ART. 227, § 6º, CRFB). PARENTALIDADE PRESUNTIVA, BIOLÓGICA OU 
AFETIVA. NECESSIDADE DE TUTELA JURÍDICA AMPLA. 
MULTIPLICIDADE DE VÍNCULOS PARENTAIS. RECONHECIMENTO 
CONCOMITANTE. POSSIBILIDADE. PLURIPARENTALIDADE. PRINCÍPIO 
DA PATERNIDADE RESPONSÁVEL (ART. 226, § 7º, CRFB). RECURSO A 
QUE SE NEGA PROVIMENTO. FIXAÇÃO DE TESE PARA APLICAÇÃO A 
CASOS SEMELHANTES.25 
 
 
 
 A multiparentalidade tem seus feitos jurídicos próprios conforme a análise do 
julgado acima, todas as figuras maternas e paternas tem para com seus filhos deveres 
obrigacionais de forma recíprocas, da mesma forma que os filhos devem ter zelo e cuidados 
legal com seus pais. A multiparentalidade independe da sua forma, a convivência familiar 
deve sempre estar amparada a uma boa convivência entre os membros, seja advindo do 
vínculo biológico ou afetivo. E cabe ressaltar que o vínculo sociofetivo não exclui o vínculo 
biológico e vice e versa, ambos tem direitos e deveres de forma igualitária com seus filhos, 
isto inclui no ato do registro de nascimento também, o fato de registrar o pai/mãe socioafetivo 
não exclui o pai/mãe biológico do registro. 
 
 O ministro Luiz Fux frisa no julgado de repercussão geral nº 622 que: “A 
paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento 
do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos 
 
25BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Recurso Extraordinário nº 898.060/SC - Santa Catarina. 
Relator: Ministro Luiz Fux. Julgamento: 15 de março de 2016. Publicado dia 30 de setembro de 2016. Acesso 
em: 12/04/2020. 
18 
 
próprios”26. Deixando evidente que não há diferença e hierarquia entre a 
paternidade/maternidade socioafetiva ou biológica além de ser estabelecido no acórdão que 
também há efeitos patrimoniais independente de vínculo. 
 
 Portanto, conclui-se, que o impacto do reconhecimento da multiparentalidade no 
ordenamento jurídico está sendo extremamente positivo, preservando, garantindo e sendo 
amparado pelos princípios em prol da entidade familiar, dando espaço para diversas 
constituições de família. Tal reconhecimento é reflexo da evolução jurisprudencial que visa 
acompanhar a dinâmica da sociedade, que por sua vez acarreta numa mudança paradigmática 
de valores, direitos e deveres a serem respeitados em nossa sociedade. 
 
 
CONCLUSÃO 
O presente artigo científico abordou a discussão a respeito da multiparentalidade no 
sentido de analisar a respeito da ampliação de seu reconhecimento no ordenamento jurídico 
brasileiro, trazendo ao longo do trabalho as diversas mudanças que o Direito de Família vem 
ocorrendo. O principal ponto deste trabalho está ligado à possibilidade do filho ter em seu 
registro mais de uma mãe ou pai, tendo como analise da questão o vínculo afetivo. 
Entende-seque com o reconhecimento da multiparentalidade passou a ser admitida no 
ordenamento jurídico brasileiro a igualdade nos direitos e deveres para com a família, seja por 
parte dos pais ou por parte dos filhos, sendo os direitos afetivos e biológicos tratados de forma 
igual. 
Como visto neste artigo científico, foram apresentados diversos princípios abrangentes 
no Direito de Família, que serve como principal fundamento no momento do reconhecimento 
deste vínculo familiar juntamente com as normas abrangentes. A multiparentalidade trata-se 
de uma filiação a qual tem a mera necessidade de demonstrar o afeto além da vontade das 
partes, tanto a relação biológica quanto a relação socioafetiva é responsável pelos sentimentos 
recíprocos, como cuidador, amor, carinho, zelo, tendo seu direito de poder ser uma família 
estruturada com conforto e segurança. 
Conclui-se que em suma, medidas existem para que possa resguardar todas as 
entidades familiares, destacando a afetividade como fundamento de tais relações, a qual são 
 
26STF, Recurso Extraordinário 898.060 São Paulo. Disponível em: 
HTTP://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiasStf/anexo/RE898060.pdf Acesso em: 01 de setembro de 
2020 
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiasStf/anexo/RE898060.pdf
19 
 
estabelecidos direitos e deveres igualitariamente para ambas as partes, isso inclui também 
questões como pensão alimentícia, sucessória, dentre outros. Salientando que o vínculo 
afetivo não exime a responsabilidade do vínculo biológico e vice versa, além todos os filhos 
sejam biológicos ou não devem ser tratados da mesma forma sem qualquer distinção. 
 
 
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