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Termodinâmica 7 1Conceito fundamental 1.1 Introdução A termodinâmica é a parte da física que trata da transformação da energia térmica em ener- gia mecânica e vice-versa. Seus princípios di- zem respeito a alguns sistemas bem definidos, normalmente uma quantidade de matéria. Um sistema termodinâmico é aquele que pode interagir com a sua vizinhança, pelo menos de duas maneiras. Uma delas é, necessariamente, transferência de calor. Um exemplo usual é a quantidade de gás contida num cilindro com um pistão. A energia pode ser fornecida a este sis- tema por condução de calor, mas também é possível realizar trabalho mecânico sobre ele, pois o pistão exerce uma força que pode mover o seu ponto de aplicação. As raízes da Termodinâmica firmam-se em problemas essencialmente práticos. Uma má- quina a vapor ou uma turbina a vapor, por exemplo, usam o calor de combustão de car- vão ou de outro combustível para realizar tra- balho mecânico, a fim de movimentar um ge- rador de energia transformada. Essa transfor- mação é feita, portanto, utilizando-se, geral- mente, um fluido chamado fluido operante. O calor, uma forma de energia em trânsito cedida ou recebida pelo fluido operante, pode ser analisado na base de energia mecânica macroscópica, isto é, das energias cinética e potencial de cada molécula do material, mas também é possível desenvolver os princípios da Termodinâmica sob o ponto de vista mi- croscópico. Nesta apostila, evitamos delibe- radamente este desenvolvimento, para enfatizar que os conceitos básicos da Termo- dinâmica podem ser tratados quase que inte- gralmente de forma macroscópica. 1.2 Pressão Considere-se um recipiente cilíndrico, que con- tém um gás ideal, provido de um êmbolo, de área A, que pode deslocar-se sem atrito, quando sub- metido a uma força resultante de intensidade F exercida pelo gás, como mostra a figura seguinte. A pressão que o gás exerce sobre o êmbo- lo é dada por: F p = A 1.3 Propriedade, estado, processo e equilíbrio Propriedade – características MACROS- CÓPICAS de um sistema, como MASSA, VOLUME, ENERGIA, PRESSÃO e TEMPE- RATURA, que não dependem da história do sistema. Uma determinada quantidade (mas- sa, volume, temperatura, etc.) é uma PRO- PRIEDADE, se, e somente se, a mudança de seu valor entre dois estados é independente do processo. Estado – condição do sistema, como des- crito por suas propriedades. Como normalmen- te existem relações entre as propriedades, o ESTADO pode ser caracterizado por um subconjunto de propriedades. Todas as outras propriedades podem ser determinadas em ter- mos desse subconjunto. Processo – mudança de estado devido à alteração de uma ou mais propriedades. Estado estacionário – nenhuma proprie- dade muda com o tempo. Ciclo termodinâmico – seqüência de pro- cessos que começam e terminam em um mes- mo estado. Exemplo: vapor circulando num ciclo de potência. 1.4 O gás ideal O gás ideal pela análise newtoniana é aquele que tem as características mais próxi- mas em um gás perfeito. F A 8 Termodinâmica Grandezas fundamentais de um gás: P = pressão V = volume T = temperatura (kelvin) Lei Geral das Transformações Gasosas A Lei Geral dos Gases estabelece, utili- zando a equação de Clapeyron, uma relação que permite analisar uma transformação qual- quer, ocorrida com um gás perfeito, relacio- nando seu estado inicial e final. 1 1 2 2 1 2 P . V P . V T T = 1.5 Trabalho numa transformação Considere-se um gás ideal contido num recipiente, como no item anterior. O trabalho numa transformação gasosa é aquele realiza- do pela força que o gás aplica no êmbolo mó- vel do recipiente. Quando um gás expande-se, empurra as su- perfícies que o limitam, à medida que estas se movimentam no sentido da expansão. Assim, um gás em expansão sempre realiza um trabalho po- sitivo. Para calcular o trabalho realizado por um sistema termodinâmico durante uma variação de volume, considere o fluido contido no cilindro equipado com um pistão móvel. Numa expansão, o volume aumenta e o gás “realiza trabalho” sobre o meio externo. Gás Ideal O gás ideal é um gás fictício, de compor- tamento regido pelas leis da mecânica newtoniana: nas colisões, não perde energia; as forças de coesão são consideradas nulas; e cada molécula possui volume desprezível. Equação de Clapeyron Esta equação estabelece uma relação en- tre as variáveis de estado (P, V, T) de um gás perfeito. Clapeyron verificou que 1 mol (6,02 . 1023 moléculas) de qualquer gás perfeito, nas CNTP, tinha suas variáveis de estado relacionadas de tal modo que o quociente P . V T é sempre constante, ou seja: P . V R T = . A constante R é denominada constante universal dos gases perfeitos. Seu valor depen- de das unidades de medida adotadas para as variáveis de estado. Caso tomemos 1 mol de oxigênio, ou 1 mol de hidrogênio, ou 1 mol de gás carbônico (todos supostos gases perfeitos), para todos eles, o quociente P . V T será o mesmo e valerá R. Assim, para um número (n) de mols, pode- se dizer que o quociente resulta em n.R. p . V = n . R . T Mistura Gasosa – Lei de Dalton Esta lei estabelece que “a pressão total exercida por uma mistura gasosa é a soma das pressões parciais exercida pelos gases que compõem a mistura”, ou seja: m m A A B B m A B P V P V P V T T T = + VF ∆V F deslocamento do pistão área do pistão ∆S Vi F i FV V V O O> ⇒ ∆ > ⇒ τ > P V K T = Termodinâmica 9 Numa compressão, o volume diminui e o gás “recebe trabalho” do meio externo. 1.6 Transformação qualquer Através do diagrama (P x V), pode-se de- terminar o trabalho associado a um gás numa transformação gasosa qualquer. A área A, assinalada na figura acima, é nume- ricamente igual ao módulo do trabalho. O sinal do trabalho depende do sentido da transformação. Unidades No S.I., o trabalho é medido em J (Joule), sendo 1J = 1 N/m2 3 2 1N 1J . 1m 1Nm m = = Uma outra unidade utilizada é atm.L, em que 1 atm.L = 102 Nm. 1.7 Energia Interna A energia interna (U) de um gás está as- sociada à energia cinética de translação e rota- ção das moléculas. Podem também ser consi- deradas a energia de vibração e a energia po- tencial molecular (atração). Porém, no caso dos gases perfeitos, apenas a energia cinética de translação é considerada. Demonstra-se que a energia interna de um gás perfeito é função exclusiva de sua tempe- ratura (na Lei de Joule para os gases perfei- tos). Para um gás monoatômico, temos que: ∆U depende de T (kelvin) Portanto, a variação da energia interna (∆U) depende unicamente da temperatura ab- soluta (T). Vf ∆V F deslocamento do pistão área do pistão ∆S Vi A τ = P . ∆V P = cte P A A B V F i FV V V O O> ⇒ ∆ → ∆ > ↓ ↓ > ∆ > > ] [ τ Lembrete: (V1/T1) = (V2/T2) Compressão ∆U O sistema recebe calor O si ste m a ce de ca lor Trabalho realizado pelo gás (expansão) Tr ab alh o r ea liz ad o pe lo gá s ( ex pa ns ão ) Q > 0 T > 0 Ti Tf Tf > Ti VfVi A = τ ∆Vnem forneça calor é chamado adiabático. Em qualquer processo adiabático, P i Pf P VfVi VA = τ isoterma Processo Geral Termodinâmica 11 Q = 0, ou seja, não ocorre troca de calor. Pode- se realizar este processo, envolvendo o sistema com uma camada espessa de um isolante tér- mico ou realizando-o rapidamente. A transfe- rência de calor é um processo relativamente len- to, de modo que qualquer processo realizado de maneira suficientemente rápida é praticamen- te adiabático. Aplicando-se a Primeira Lei a um processo adiabático, tem-se que: Para Q = nulo, então, ∆U = trabalho Compressão V zero zero V zeroτ∆ Transformação Cíclica A transformação cíclica corresponde a uma seqüência de transformações na qual o estado termodinâmico final é igual ao estado termodinâmico inicial, como, por exemplo, na transformação A B C D E A. Assim, a variação de energia interna de um sistema, num processo adiabático, é igual em valor absoluto ao trabalho. Se o trabalho τ for negativo, como acontece quando o sistema é comprimido, então, – τ será positivo, U2 será maior do que U1 e a energia do sistema aumentará. Se τ for po- sitivo, como na expansão, a energia inter- na do sistema diminuirá. Um aumento de energia interna é, normalmente, acompa- nhado de um aumento de temperatura e um decréscimo da energia interna, por uma queda de temperatura. A compressão da mistura de vapor de gasolina e ar, que se realiza num motor de expansão à gasolina, constitui um exemplo de um processo aproximadamente adiabá- tico, envolvendo um aumento de tempera- tura. A expansão dos produtos de combus- tão durante a admissão do motor é um pro- cesso aproximadamente adiabático, com decréscimo de temperatura. Os processos adiabáticos representam, assim, um papel importante na Engenharia Mecânica. Q zero Uτ= ⇒ = − ∆ Expansão V zero zero U zeroτ∆ > ⇒ > ⇒ ∆ Ciclo no sentido anti-horário 0τtemperatura, mesmo que energia esteja sendo recebida ou fornecida pelo sistema (RT). 14 Termodinâmica Anotações Ex.: Atmosfera; Grandes massas de água: oceanos, lagos; Grande bloco de cobre (relativo). Kelvin-Planck: É impossível para qual- quer sistema operar em um ciclo termodi- nâmico e fornecer trabalho líquido para sua vizinhança trocando energia na forma de ca- lor com um único reservatório térmico. Comentários a respeito dos enunciados Clausius: mais evidente e de acordo com as experiências de cada um e, assim, mais facil- mente compreendido e aceito. Kelvin-Planck: Embora mais abstrato, propicia um meio eficiente de expressar im- portantes deduções relacionadas com sistemas operando em ciclos termodinâmicos. Sumário 1.6 Transformação qualquer 9 1.7 Energia Interna 9 2 1.ª Lei da Termodinâmica 10 2.1 Introdução 10 2.2 Transformações Gasosas 10 2.2.1 Processo Isobárico 10 2.2.2 Processo Adiabático 10 2.2.3 Processo Isotérmico 11 2.2.4 Processo Isométrico 12 2.2.5 Processo de Estrangulamento 12 3 A 2.ª Lei da Termodinâmica 13 3.1 Introdução 13 3.2 2.ª lei e suas deduções propiciam meios para: 13 4 Máquina Térmica 15 4.1 Introdução 15 4.2 Ciclo de Carnot 15