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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DOUTOR LEÃO SAMPAIO – UNILEÃO CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL EMANUELA RODRIGUES SILVA O SERVIÇO SOCIAL E A ASSISTÊNCIA SOCIAL: uma análise da construção dos Estudos Socioeconômicos do Centro de Referência de Assistência Social do Bairro Aeroporto em Juazeiro do Norte/CE. Juazeiro do Norte/ CE 2018 2 EMANUELA RODRIGUES SILVA O SERVIÇO SOCIAL E A ASSISTÊNCIA SOCIAL: uma análise da construção dos Estudos Socioeconômicos do Centro de Referência de Assistência Social do Bairro Aeroporto em Juazeiro do Norte/CE. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como pré-requisito para aprovação na disciplina de Estágio Supervisionado II, no Centro Universitário Doutor Leão Sampaio – Unileão. Orientadora: Profª. Ms. Márcia de Sousa Figueiredo Teotônio. Juazeiro do Norte/ CE 2018 3 EMANUELA RODRIGUES SILVA O SERVIÇO SOCIAL E A ASSISTÊNCIA SOCIAL: uma análise da construção dos Estudos Socioeconômicos do Centro de Referência de Assistência Social do Bairro Aeroporto em Juazeiro do Norte/CE. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como pré-requisito para aprovação na disciplina de Estágio Supervisionado II, no Centro Universitário Doutor Leão Sampaio – Unileão. Orientadora: Profª. Ms. Márcia de Sousa Figueiredo Teotônio. Data de aprovação:___/___/___ Banca Examinadora _______________________________________________________ Prof.ª. Ms. Márcia de Sousa Figueiredo Teotônio Orientadora _______________________________________________________ Prof.ª. Esp. Francisca Helaide Mendonça Leite Examinadora 1 _______________________________________________________ Prof. Esp. Pedro Adjedan Davi de Sousa Examinadora 2 4 Este trabalho é dedicado à Deus, à meus amados Maria de Lourdes (in memoriam), Expedito (in memorian), Bernardo e Mário. 5 “Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”. Rosa Luxemburgo 6 AGRADECIMENTOS Posteriormente a tanta luta e a um longo caminho para concluir essa etapa da minha vida, necessito expressar meus agradecimentos àqueles e àquelas que foram rochas nas quais eu me apoiei e a força e amor quando as dificuldades se abateram sobre mim, pois sem ambos talvez eu não teria conseguido. Gostaria de agradecer primeiramente ao Senhor Deus, pelo dom da vida e pela oportunidade que tenho de vivenciar tudo que tenho vivido, por todo amor, fortaleza, compaixão e misericórdia. Agradeço de forma especial e carregada de amor aos meus pais amados, Maria de Lourdes e Expedito, que não se encontram mais entre nós, mas que permanecem vivos em meu coração intensamente. Sou-lhes grata por absolutamente tudo, pela mulher que me tornei e por cada segundo de dedicação e amor que eles me direcionaram. Rendo agradecimentos do mesmo modo ao meu esposo Mário, que tem sido um bom companheiro e ao meu amado filho Bernardo, que desde o ventre me presenteou com uma nova e mais ampla visão da vida e me ensina a cada respiração o quanto o amor é imenso. Agradeço à minha orientadora, Márcia Teotônio, pela paciência e empenho em prol da minha carreira acadêmica e à todos e todas do Centro Universitário Doutor Leão Sampaio por cada contribuição durante essa minha caminhada. Minha sincera gratidão a todos vocês! 7 RESUMO Esta pesquisa objetiva identificar as fundamentações teóricas que norteiam os estudos socioeconômicos construídos por assistentes sociais. Destarte, as discussões transcorreram doravante memórias históricas da Assistência Social no Brasil do assistencialismo ao direito abordando-se os elos e historicidade dessa política com o Serviço Social (Capítulo 1), bem como em referência ao significado dos estudos socioeconômicos para o Serviço Social, sua Instrumentalidade e processo de trabalho (Capítulo 2), finalizando-se na análise e discussão sobre dados levantados sobre as bases teóricas e construção dos estudos socioeconômicos enquanto estratégia interventiva para assistentes sociais (Capítulo 3). A metodologia empregada contemplou a abordagem qualitativa, as pesquisas dos tipos bibliográfica, estudo de campo, explicativa e descritiva, sendo os dados coletados através da aplicação de entrevista semi-estruturada junto a duas assistentes sociais do CRAS Aeroporto em Juazeiro do Norte/ CE, em 09 e 12 de outubro de 2018, sendo a análise dos dados realizada pautando-se no método dialético. Assim, obteve-se: foram explicitadas nesta pesquisa apenas alusões fornecidas pelas participantes sobre o que alguns autores compreendem como sendo a Instrumentalidade do Serviço Social; os estudos socioeconômicos podem ser concebidos como elementos contributivos para os processos de trabalho dos assistentes sociais e como mecanismos estratégicos para as intervenções; a apreensão obtida acerca da elaboração dos estudos socioeconômicos direcionam-se para a articulação das competências, capacidades e os instrumentos que os assistentes sociais dispõem, imbuídos de ética e inteligência; enquanto desafios mencionaram-se principalmente a falta de recursos e a precarização das políticas sociais; foi evidenciada a falta de clareza das assistentes sociais pesquisadas a respeito da corrente teórica que deve ser base para a elaboração de estudos socioeconômicos; e evidenciou-se que os mesmos podem ser vistos como instrumentais estratégicos e significativos para o Serviço Social e para a materialização do seu Projeto Ético-Político. Palavras-chave: Serviço Social. Estudos Socioeconômicos. Correntes Téoricas. 8 ABSTRACT This research aims to identify the theoretical foundations that guide the socioeconomic studies built by social workers. From this point on, the discussions have since passed from the history of Social Assistance in Brazil to legal assistance dealing with the links and historicity of this policy with Social Service (Chapter 1), as well as with reference to the meaning of socioeconomic studies for Social Work, its Instrumentality and work process (Chapter 2), finalizing itself in the analysis and discussion of data collected on the theoretical bases and construction of socioeconomic studies as an intervention strategy for social workers (Chapter 3). The methodology used included the qualitative approach, bibliographic type research, field study, explanatory and descriptive, and the data were collected through the application of a semi-structured interview with two social workers of CRAS Airport in Juazeiro do Norte / CE, in 09 and 12 of October of 2018, being the data analysis carried out according to the dialectical method. Thus, it was obtained: only the references provided by the participants about what some authors understand as the Instrumentality of Social Work were explained in this research; socioeconomic studies can be conceived as contributory elements for the work processes of social workers and as strategic mechanisms for interventions; the apprehension about the elaboration of the socioeconomic studies is directed towards the articulation of the competences, capacities and the instruments that the social workers have, imbued with ethics and intelligence; while challenges were mainly the lack of resources and the precariousness of social policies; it was evidenced the lack of clarity of the social workers surveyed regarding the theoretical current that should be the basis for the elaboration of socioeconomictem sido se dá pelo fato de que esta tem sido confundida como um âmbito meramente do uso de instrumentais, da execução ou aplicação de entrevistas, visitas domiciliares e técnicas que aparentemente são tidas como mecanismos de trabalho desconectados de teorias, ética e outras capacidades inerentes à formação dos assistentes sociais e como intervenções desprovidas de criticidade ou que dispensam o devido preparo profissional. Não obstante, os estudos socioeconômicos não distanciam-se dessa leitura errônea sobre tudo que faz parte da dimensão técnico-operativa. No interior do Serviço Social os estudos socioeconômicos assumem caráter de competência profissional dos assistentes sociais de acordo com o disposto no artigo 4º da Lei nº 8.662/93, Código de Ética dos/as assistentes sociais, em seu item XI que preconiza como competência ―realizar estudos sócio-econômicos com usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades‖ (CFESS, 2012). É cabível analisar que por fazerem parte do rol de competências e não de atribuições privativas o significado dos estudos socioeconômicos para o Serviço Social tem sido confundido como se ele fosse um mero instrumental, porém trata-se de um elemento que faz parte do conjunto de estratégias para a garantia dos direitos dos cidadãos. As possibilidades de intervenção que os estudos socioeconômicos oferecem ao Serviço Social devem ser levadas em consideração ao se perceber que eles são ações profissionais que demonstram o quanto as três dimensões desta profissão devem estar conectadas e utilizadas de forma simultânea. 33 Abordar o tema – estudos socioeconômicos – no âmbito do Serviço Social, remete a pensá-lo, inicialmente, enquanto parte intrínseca das ações profissionais dos assistentes sociais. Afinal de contas o desenvolvimento das ações profissionais pressupõe o conhecimento acurado das condições sociais em que vivem os sujeitos aos quais elas se destinam, sejam indivíduos, grupos ou populações. (MIOTO, 2009, p. 482) Mediante o supracitado observa-se que desvelar a realidade é um produto central que pode ser obtido através dos estudos socioeconômicos, uma vez que em meio à sociedade capitalista conseguir enxergar de forma aprofundada e desalienada os determinantes sociais e econômicos que interferem de forma intensa sobre as vidas dos sujeitos é fundamental para que se possa traçar alternativas para que os sujeitos possam construir formas para enfrentar e superar as expressões da questão social que vivenciam. Sequencialmente à reflexão sobre os estudos socioeconômicos é indispensável apresentar concepções sobre os estudos socioeconômicos. Assim, do ponto de vista conceitual enfatiza-se que Os estudos socioeconômicos/estudos sociais, como toda ação profissional, consistem num conjunto de procedimentos, atos, atividades realizados de forma responsável e consciente. Contêm tanto uma dimensão operativa quanto uma dimensão ética e expressa, no momento em que se realiza a apropriação pelos assistentes sociais dos fundamentos teórico-metodológico e ético-políticos da profissão em determinado momento histórico. (MIOTO, 2009, p. 9) Esse entendimento desenvolvido pela autora mencionada reitera o prisma de que os estudos socioeconômicos são exemplos de ações profissionais que unem as dimensões profissionais e que superam a lógica de uso desse aparato como tão somente técnico- operativo, apontando-o como um mecanismo que articula a mesma às orientações teórico- metodológica e ético-política. Com a adesão à teoria social de Karl Marx os estudos socioeconômicos passaram a ser desenvolvidos sobre uma ótica diferente daquelas em razão do Serviço Social de caso, o que foi possível com os avanços dos debates no interior da profissão que ampliaram a estrutura basilar da dimensão teórico-metodológica e contribuíram para a construção do Projeto Ético Político. Com isso, esses estudos passaram a ser ações importantes no processo de enfrentamento das expressões da questão social e de efetivação dos direitos dos sujeitos tornando-se parte do novo olhar que o Serviço Social passou a contemplar. (MIOTO, 2009) Ao fazer parte de uma nova forma de pensar e concretizar as ações do Serviço Social os estudos dos aspectos sociais e econômicos tornaram-se uma importante ponte para o 34 desvelamento da realidade dos sujeitos e como uma forma de diagnosticar os desdobramentos que o sistema capitalista impõe sobre a realidade e os acontecimentos cotidiano na vida dos sujeitos e como as expressões da questão social têm sido agravadas com o passar dos tempos e com as ocorrentes crises e estratégias de superação das crises capitalistas. Em contrapartida, frente à necessidade de dar respostas imediatas às requisições postas pelo capitalismo e pelas exigências institucionais, os instrumentais do Serviço Social acabam sendo empregados contemplando ações de configurações imediatistas que com muita frequência são tidas como formas de intervenções a serviço do capital. Se muitas das requisições da profissão são de ordem instrumental (em nível de responder às demandas — contraditórias— do capital e do trabalho e em nível de operar modificações imediatas no contexto empírico), exigindo respostas instrumentais, o exercício profissional não se restringe à elas. Com isso queremos afirmar que reconhecer e atender às requisições técnico-instrumentais da profissão não significa ser funcional à manutenção da ordem ou ao projeto burguês. Isto pode vir a ocorrer quando se reduz a intervenção profissional à sua dimensão instrumental. Esta é necessária para garantir a eficácia e eficiência operatória da profissão. Porém, reduzir o fazer profissional à sua dimensão técnico-instrumental significa tornar o Serviço Social meio para o alcance de qualquer finalidade. (GUERRA, 2007, p. 11) O Serviço Social é uma profissão que possui objetivos determinados com clareza no âmbito legal e no ideológico, porém como uma profissão que faz parte do interior da divisão do mundo do trabalho, responder mesmo que parcialmente às requisições capitalistas tornou- se uma rota que possibilita a sobrevivência da profissão ao operar as políticas sociais embora que as intervenções devam ser estratégicas, pois mesmo que a profissão tenha metas estabelecidas é indispensável e essencial que os profissionais tenham clareza e se comprometam a alcançar esses objetivos mesmo sendo necessário ser bastante estratégico e extrapolar os limites impostos pelo Estado e pelo capital que tem apresentado cada vez mais desafios para os assistentes sociais atuarem na perspectiva dos direitos dos quais é possível elencar a escassez de recursos, o sucateamento e a seletividade das políticas sociais, o apadrinhamento ainda muito latente para o emprego dos profissionais, exigências instituições que não correspondem às competências e atribuições profissionais, entre outras. Com as requisições do capitalismo e das instituições novas exigências foram postas para a qualificação profissional dos assistentes sociais devido à demanda urgente de que os espaços sócio ocupacionais possam ser ocupados por profissionais devidamente capacitados. Assim, exige-se desses profissionais capacidades como: 35 [...] o domínio de conhecimento para realizar diagnósticos socioeconômicos de municípios, para leitura e análise dos orçamentos públicos, identificando seus alvos e compromissos, bem como recursos disponíveis para projetar ações; domínio do processo de planejamento; competência no gerenciamento e avaliação de programas e projetos sociais; capacidade de negociação; assessoria e consultoria em determinadas áreas de trabalho; pesquisas, entre outras funções (AMADOR, 2011, p. 351). Para atuar de forma a intervir de forma concreta na vida dossujeitos e superar os desafios postos para os processos de trabalho dos assistentes sociais faz-se necessário ser um profissional capaz de encontrar alternativas para enfrentá-los e para intervir de maneira a contribuir para que a vida das pessoas possa ter possibilidades de desenvolvimento e superação das problemáticas enfrentadas, uma vez que desvendar a realidade é uma tarefa complexa e que exige muito dos assistentes sociais. Mesmo assimilando que o Serviço Social pode contribuir com a práxis social a própria realidade impõe para seus profissionais uma questão central que torna-se decisiva para que os assistentes sociais consigam compreender a realidade mesmo com a sua complexidade, que é entender sob quais condições existe possibilidade para que se possa construir maneiras de acessos às informações sociais e culturais e aos recursos levando-se em consideração um outro projeto societário. O que por sua vez torna essencial que os assistentes sociais superem as ações paliativas impostas pelo capitalismo (VASCONCELOS, 2002). Essa prerrogativa essencial para o Serviço Social se expressa nos estudos socioeconômicos, embora os mesmos direcionem-se para um outro desafio: apreender a realidade de todos os sujeitos que demandam os serviços dos assistentes sociais em cada instituição que possuem poucos profissionais e um grande número de usuários a serem atendidos. Assim, realizar estudos socioeconômicos para desvendar a realidade de todos os sujeitos atendidos muitas vezes torna-se uma competência que sobrecarrega os assistentes sociais e incide diretamente na seletividade e precarização das políticas sociais e dos direitos. Sendo assim, os estudos socioeconômicos podem ser entendidos como estratégias para o processo de construção de possibilidades para a materialização do Projeto Ético Político do Serviço Social ao passo que é um elemento que torna cabível para os assistentes sociais desvelarem a realidade dos sujeitos estudados e se terem a oportunidade de contribuir para que estes desenvolvam sua autonomia e consigam desenvolver alternativas de superação das expressões da questão social. É relevante para este estudo conceber que os projetos profissionais estão intimamente ligados ―às alterações no sistema de necessidades sociais sobre o qual a profissão opera, às transformações econômicas, históricas e culturais, ao desenvolvimento teórico e prático da 36 própria profissão e, ainda, às mudanças na composição social da categoria‖. (NETTO, 1995, p. 95). Além disso é mister reconhecer que o Projeto Ético Político do Serviço Social é essencialmente político e que A dimensão política do projeto é claramente enunciada: ele se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização do acesso a bens e a serviços relativos às políticas e programas sociais; a ampliação e a consolidação da cidadania são explicitamente postas como garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras. Do ponto de vista estritamente profissional, o projeto implica o compromisso com a competência, que só pode ter como base o aperfeiçoamento intelectual do assistente social. Em especial, o projeto prioriza uma nova relação com os usuários dos serviços oferecidos pelos assistentes sociais: é seu componente elementar o compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população. (NETTO, 2006, p. 145) Nesse sentido, ao realizar estudos socioeconômicos de forma comprometida com a viabilização de direitos, considerando a ética, as teorias e as técnicas necessárias, os assistentes sociais inserem-se em ações cotidianas do seu processo de trabalho que favorecem a materialização do Projeto Ético Político e da própria Instrumentalidade. Compreendendo o estudo socioeconômico como um instrumento que tem por finalidade conhecer com profundidade e de forma crítica uma determinada situação ou expressão da questão social, objeto de intervenção profissional especialmente nos seus aspectos socioeconômicos e culturais, a articulação da vida dos indivíduos singulares com as dimensões estruturais e conjunturais, uma vez que são estas que conformam, se torna possível pelo embasamento teórico que se abre para a totalidade das relações sociais imperantes na sociedade, tornando-se importante a compreensão dos fundamentos que sustentam os estudos socioeconômicos. 37 CAPÍTULO 3 - ROTAS E MÉTODOS EM UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A CONSTRUÇÃO DOS ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS PELOS ASSISTENTES SOCIAIS Este capítulo tem por intuito apresentar, em um primeiro momento, o percurso metodológico empregado na realização desta pesquisa de modo a elencar as etapas que deram subsídios a cada fase deste estudo enunciando conceitos, vantagens para o uso e possíveis percalços enfrentados durante a construção do mesmo. Em seguida, evidenciam-se características referentes ao Centro de Referência da Assistência Social Aeroporto como forma de aprofundar conhecimentos a respeito do local onde a pesquisa foi realizada e do contexto da instituição em que a população pesquisada está inserida. Destarte busca-se refletir acerca das bases teóricas e sobre a construção dos estudos socioeconômicos enquanto estratégias de intervenções empregadas pelos assistentes sociais partindo-se da prerrogativa de que esse instrumental não faz parte do conjunto de atribuições privativas dos assistentes sociais, mas que é uma competência profissional que pode ser empregada de forma contributiva para o exercício profissional e para a concretização das intencionalidades do Serviço Social junto aos seus usuários. 3.1. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA CONSTITUTIVA DA PESQUISA Primordialmente é imprescindível mencionar que o processo metodológico é parti integrante e essencial na realização de pesquisas científicas e por esse motivo faz parte do corpo deste trabalho. Assim, discorre-se sobre suas rotas e métodos empregados. Elucida-se que foi utilizada a abordagem qualitativa que para Minayo (2001), trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Assim, volta-se para os ―aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais‖. (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 32). Esse tipo de abordagem qualitativa tem como vantagens o fato de tornar intuir apreender a totalidade do fenômeno social, além mais do que focalizar conceitos específicos, ela dá maior ênfase à interpretação do objeto, possibilita ao pesquisador ter uma maior aproximação dos fenômenos 38 estudados e não está voltada para o controle do contexto da pesquisa e sim na sua compreensão. (FONSECA, 2002) No tocante aos objetivos metodológicos traçados, foram utilizadas as pesquisas dos tipos descritiva e explicativa. A descritiva é tipificada como aquela que realiza a abordagem dos amplos aspectos que abrange uma sociedade e que tomam por base seguimento como a comunidade, um grupo, uma população, acerca de alguns comportamentos ligados a esses grupos. A pesquisa explicativa explica o porquê das coisas através dos resultados oferecidos e pode ser a continuação de outra descritiva, posto que a identificação de fatores que determinam um fenômeno exige que este esteja suficientemente descrito e detalhado. (GIL, 2007) No que diz respeito aos procedimentos implementados durante a pesquisa, estes foram os tipos de pesquisa bibliográfica e de campo. Fonseca (2002, p. 32), concebe que ―a pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites‖. Trata-se de umaforma de pesquisar de estudos já realizados e publicados para subsidiar a pesquisa em construção em busca de validar as análises e conhecimentos interiorizados nela. Já a pesquisa de campo, em consonância às concepções de Gonsalves (2001, p. 67), tem por objetivo primordial a ―informação diretamente com a população pesquisada. Ela exige do pesquisador um encontro mais direto. Nesse caso, o pesquisador precisa ir ao espaço onde o fenômeno ocorre, ou ocorreu e reunir um conjunto de informações a serem documentadas‖. O instrumento de coletas usado foi entrevista semiestruturada, que foi realizada nos dias 09 e 12 de outubro do ano corrente, com uma população de duas assistentes sociais atuantes no Centro de Referência da Assistência Social Aeroporto. É importante mencionar que a referida instituição possui em sua equipe do Serviço Social três assistentes sociais, todavia não foi possível realizar a entrevista com uma delas devido a motivos de força maior. Assim, as entrevistas deram-se a partir de um roteiro com seis perguntas abertas pertinentes ao assunto cerne deste estudo. De acordo com Triviños (1987), a entrevista semiestruturada é uma técnica para coleta de informações que se baseia em questionamentos básicos que estão vinculados às teorias e às hipóteses que o investigador levanta e ligam-se ao assunto central. Para Tomar (2007), as principais vantagens das entrevistas semiestruturadas são as seguintes: possibilidade de acesso a informação além do que se listou; esclarecer aspectos da entrevista; 39 gera de pontos de vista, orientações e hipóteses para o aprofundamento da investigação e define novas estratégias e outros instrumentos. Sequencialmente realizou-se a análise dos dados coletados a fim de promover a discussão e pormenorizar os resultados. Destaca-se que a mesma deu-se baseada no método dialético, advinda da Teria Social Crítica ou Materialismo Histórico e Dialético de Karl Marx. A dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos quando considerados isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais etc. Por outro lado, como a dialética privilegia as mudanças qualitativas. (GIL, 2007, p. 14) De maneira a finalizar os estudos empreendidos, em um último momento da pesquisa foi realizado o desenvolvimento das considerações finais sobre os resultantes da pesquisa, que fora realizada em observância aos preceitos éticos da pesquisa tendo sido assinado por todos os participantes um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. 3.2. CARACTERIZANDO O CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL AEROPORTO EM JUAZEIRO DO NORTE/CE O Centro de Referência da Assistência Social Aeroporto (CRAS Raimunda Lopes de Araújo) é um equipamento pertencente à Secretaria de Assistência Social de Juazeiro do Norte/ CE e localiza-se na rua Joaquim da Cruz, Vila São Francisco no bairro Aeroporto da referida cidade. Trata-se de uma instituição que faz parte da Coordenação de Proteção Básica do munícipio que tem em sua composição um profissional que assume a coordenação do CRAS juntamente com outros profissionais técnico, a saber, educador social, facilitador social, educadora física, assistente social, psicóloga, vigia e auxiliar de serviços gerais. Os objetivos do CRAS são respectivamente: o atendimento para pessoas através da busca ativa; acolhida; diagnóstico da situação; plano de atendimento; visitas domiciliares; acompanhamento psicossocial e articulação intersetorial; bem como mobilização da sociedade para enfrentamento das situações de violação de direitos. Em relação aos serviços oferecidos, estes são: Acolhimento; Atendimento familiar; Grupos socioeducativos; Oficinas de Inclusão Produtiva; Visitas Domiciliares; Encaminhamentos; Grupos de Convivência; Acompanhamento, orientação e inserção a benefício do BPC Benefício de Proteção Continuada. 40 Para que se possa vislumbrar a estrutura física da instituição em questão apresenta-se abaixo uma figura desse CRAS. Figura 01 – CRAS Raimunda Lopes de Araújo - Aeroporto Fonte: Google Imagens, 2018. 3 O CRAS Aeroporto realiza atividades, as quais elencam-se atividades e palestras com o grupo de gestantes para orientar como as mães devem agir com o bebê que está para chegar, como também oferece oficinas; Programa Famílias Fortes (PFF), cujo objetivo é reduzir os fatores de risco ao uso e abuso de substâncias por adolescentes e construir ou fortalecer os vínculos familiares, entendidos como fatores de proteção contra o uso e abuso de álcool, tabaco e outras drogas; oficinas de cunho educativo e fortalecedor dos vínculos familiares com crianças; Grupo de Mulheres, com o objetivo de oportunizar uma melhor qualidade de vida, através de ações de enfrentamento e estratégias (dinâmicas, grupos de reflexões, roda de conversa, ações sobre o cuidado do corpo e de si mesma, trabalhos com artes e jogos); Grupo de idosos tem como objetivo proporcionar atividades em grupos de convivência às pessoas com 60 anos ou mais, visando à integração a comunidade e evitando o isolamento social e a discriminação. 3 Disponível em: https://www.google.com/search?q=CRAS+AEROPORTO+EM+JUAZEIRO+DO+NORTE&client=firefox- b&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiE_e3dtfzeAhVHf5AKHagVBKgQ_AUIECgD&biw=1366 &bih=613#imgrc=loToFWyFF8kE3M: 41 3.3. OS ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS: BASES TEÓRICAS E CONSTRUÇÃO ENQUANTO ESTRATÉGIA INTERVENTIVA DO ASSISTENTE SOCIAL. O Serviço Social é uma profissão inserida no mundo do trabalho da sociedade capitalista que atua nas expressões da questão social que são oriundas das contradições que emergem das relações sociais decorrentes desse modo de produção e de sociabilização. Para intervir na realidade dos cidadãos que vivenciam essas problemáticas e atuar na garantia dos direitos dos mesmos, os assistentes sociais contam com uma gama de elementos que constituem a Instrumentalidade da profissão e que norteiam as direções para que as intencionalidades presentes no seu Código de Ética e no seu Projeto Ético-Político. As três principais dimensões que norteiam a formação e o fazer profissional dos assistentes sociais são a teórico-metodológica, a técnico-operativa e a ético-política. Esta pesquisa debruça-se sobre um instrumental integrado à dimensão técnico- operativa, mas que insere-se do mesmo modo nas demais dimensões – que devem ser articuladas e não dissociadas -, os Estudos Socioeconômicos, que constituem-se como uma competência dos assistentes sociais e que podem representar-se como estratégico para o exercício profissional dos assistentes sociais. Assim, esta pesquisa foi desenvolvida através da realização de entrevistas com duas assistentes sociais do CRAS Aeroporto, nos dias 09 e 12 de novembro do ano corrente, sendo empregado um roteiro de entrevista semiestruturada contendo 6 perguntas abertas para as participantes pertinentes ao assunto central neste estudo. Destaca-se que em consonância aos preceitos éticos estabelecidos na divulgação de informações relacionadas às entrevistas, utilizam-se as siglas A.S.C.1 e A.S.C.2 para referenciar as falas da primeira assistente social inquerida e da segunda, respectivamente. Inicialmente foi contextualizado com as participantes sobre o fato de o Serviço Social ser uma profissão cuja história desde as protoformas até a institucionalização tem perpassado o ideal caritativo até o reconhecimento das pessoas como sujeitos de direitos que devem ter suas demandas respondidas pelo Estado e em seguida foi questionado sobre como as mesmas percebem que se encontra o Serviço Social nos dias atuais, ao que obteve-se como percepções que “Percebo que nos dias atuais a atuação profissional é colocada sobreas exigências das contradições da sociedade capitalista. O Serviço Social está inserido em uma realidade contraditória encontrando em sua prática limites para uma atuação”. (A.S.C.1) 42 “As pessoas ainda interpretam o Serviço Social como uma forma caritativa. A gente tem trabalhado muito isso, essa questão da caridade no caso do CRAS que faz as pessoas interpretarem dessa forma. Os benefícios eventuais, quando a gente trabalha com os benefícios eventuais eles interpretam como uma doação e não como se nós estivéssemos de alguma forma trazendo a eles o que é de direito realmente [...] quando você libera um benefício eventual, a própria pessoa entende como se a gente estivesse fazendo uma doação, como se estivéssemos dando e voltam para procurar a gente perguntando pela assistente social, „aquela que dá a cesta básica‟. Assim, ela continua quer queira, quer não, com essa interpretação [...] Respondendo a sua pergunta, o Serviço Social está vivenciando um momento de retrocesso”. (A.S.C.2) Identifica-se nas falas das entrevistadas o entendimento de que o Serviço Social vivencia na contemporaneidade um processo de retrocesso da profissão, de exigência e de imposição de limites para a atuação profissional. O aumento da demanda e a escassez de verbas levam os profissionais a desempenhar a tarefa de selecionar aqueles que terão acesso ao serviço, através do levantamento de informações sobre a vida dos usuários. Assim coloca-se uma contradição, ainda que os profissionais procuram socializar as informações na perspectiva da universalidade dos Serviços Sociais, na hora de repassar o recurso material, sua ação se pauta num processo de seletividade dos serviços [...] Isso mostra que o direcionamento do discurso profissional não é suficiente para romper a lógica fragmentária dos serviços assistenciais. A perspectiva dos direitos sociais, ainda que seja enfatizada no discurso do profissional que repassa o recurso, é atropelada pela seletividade13 imposta pela instituição (TRINDADE, 2012, p.75). Em contrapartida ao pensamento supramencionado, Piana (2009, p. 102), entende que o contexto atual do processo de trabalho do Serviço Social – voltado para a materialização do Projeto Ético-Político vigente - ―exige que os profissionais, cada vez mais, recriem seu perfil profissional e sua identidade, ultrapassem limites institucionais e superem a ideologia do assistencialismo e avancem nas lutas pelos direitos e pela cidadania‖. O Serviço Social lida nos dias atuais com a realidade posta pela agenda neoliberal e por seus desdobramentos que incidem na precarização das politicas sociais e na recessão de direitos, que interfere diretamente no fazer dos assistentes sociais. Não obstante, ―pensar o Serviço Social na contemporaneidade requer os olhos abertos para o mundo contemporâneo para decifrá-lo e participar de sua recriação‖ (IAMAMOTO, 2010, p. 19), pois enquanto o capitalismo perdurar na sociedade, suas crises e sua lógica pautados na exploração da classe trabalhadora continuarão dando intensificando as expressões da questão social e impondo desafios para que as intervenções dos assistentes sociais sejam voltadas para a garantia de direitos. Isto posto, a urgência de que os assistentes sociais tenham clareza quanto às suas intencionalidades e quanto aos objetivos da profissão se faz indispensável, principalmente 43 como forma própria de resistência da categoria aos avanços capitalistas e no desenvolvimento de mecanismos de emancipação dos sujeitos e de estratégias para superação das recessões. Logo em seguida, inqueriu-se a respeito da compreensão das mesmas sobre a Instrumentalidade do Serviço Social. “Podemos dizer que é um conjunto de instrumentos técnicos que permite ao profissional exercer ações abrangendo as técnicas do conhecimento e possibilitando o atendimento das demandas e dos serviços junto aos órgãos responsáveis”. (A.S.C.1) “Primeiro, para você ser um profissional, para estar na área profissional você precisa ter em mãos a instrumentalidade. Se não tiver os instrumentais em mãos, você não consegue fazer nada porque são esses instrumentais que vão te dar um norte. Se você vai fazer uma visita domiciliar para diagnosticar de vulnerabilidade da família, os riscos e quando você chega lá como é que você vai recordar para você traçar um planejamento, o atendimento, tudo que você viu lá, se você não tem um instrumental?”. (A.S.C.2) Percebe-se nos posicionamentos supracitados apenas alusões ao que alguns autores compreendem como sendo a Instrumentalidade do Serviço Social. Os instrumentos podem ser vistos como técnicas-operacionais necessárias que os assistentes sociais possam realizar suas ações profissionais, objetivando intervir na realidade dos cidadãos. Todavia, o exercício da profissão não se restringe a isto, pois a instrumentalidade também compreende as habilidades e competências que os assistentes sociais adquirem na formação e na prática cotidiana, qualificando os conhecimentos de maneira a torná-los capazes de modificar e transformar a realidade social do sujeito. (BAVARESCO; GOIN, 2016) Reitera-se assim, o dito no capítulo anterior sobre a questão de que ―ao longo do tempo, têm sido observados equívocos no tratamento da dimensão técnico operativa, tanto no que tange à formação quanto no que tange ao exercício profissional‖ (SANTOS; BACKX; GUERRA, 2012, p. 11), pois muitos profissionais ainda não conseguem contemplar a magnitude da Instrumentalidade para além de uma das principais dimensões norteadores. É imprescindível que os assistentes sociais tenham clareza quanto à amplitude na qual a Instrumentalidade do Serviço Social se solidifica para que não a direcionem unilateralmente para seus instrumentais, posto que a mesma se alicerça no conjunto das intencionalidades da profissão e nas dimensões determinadas como meios para alcançar os objetivos profissionais. Sendo assim, mais que utilizar os instrumentais, o emprego da Instrumentalidade do Serviço Social deve alinhar as dimensões teórico-metodológica, ético- 44 política e técnico-operativa à capacidade de leitura da realidade e de uso pautado na autonomia e na consciência crítica dos assistentes sociais, mais ainda, associando estas à capacidade que estes profissionais podem ter de serem estratégicos, de se pautarem em seus conhecimentos e habilidades, terem atitude para concretizar as ações no campo da mediação. Afinal, esta categoria profissional tem seu posicionamento político hegemônico instituído em seu Código de Ética e no Projeto Ético Político, mas por outro lado, por ser uma profissão inserida no mundo do trabalho capitalista como dito anteriormente, é posta sobre as exigências capitalistas institucionais e precisa ser reflexiva e estratégica para mediar os conflitos de interesses, sempre comprometida com a garantia dos direitos. Sequencialmente, as entrevistadas foram questionadas sobre a importância que os estudos socioeconômicos possuem no seu processo de trabalho de ambas enquanto assistente social. “Enquanto profissional de direito, podemos entender que o Serviço Social é uma profissão demandada pela sociedade capitalista. É um trabalhador assalariado, onde estamos vivenciando grandes desafios frente aos valores, onde a precarização atinge também o trabalho do assistente social nos diferentes espaços ocupacionais”. (A.S.C.1) “No caso do CRAS ele é essencial porque ao fazer relatórios o lado socioeconômico é fundamental, principalmente na Assistência que é para quem dela necessita, o que é diferente no SUS que é para todos. Então, se viu que se precisa automaticamente a gente tem que trabalhar e fazer um estudo socioeconômico da família para justamente buscar algo que dê melhorias à família ou ao indivíduo”. (A.S.C.2) É cabível denotar sobre a relevância dos estudossocioeconômicos por eles terem ―por finalidade conhecer com profundidade, e de forma crítica uma determinada situação ou expressão da questão social, objeto da intervenção profissional especialmente nos seus aspectos sócio-econômicos e culturais‖ (FÁVERO, 2004, p. 42), se constituem enquanto um dispositivo benéfico para as intervenções profissionais dos assistentes sociais. É de grande valia ressaltar que os estudos socioeconômicos enquanto instrumental utilizado por assistentes sociais podem ser mecanismos estratégicos e muito contributivos para as intervenções em prol da garantia dos direitos dos cidadãos, mas que os profissionais devem ter muita atenção ao utilizá-los de modo a evitar que estes se tornem práticas puramente instrumentais e desprovidas da visão teleológica e da criticidade na busca pela compreensão da realidade dos sujeitos, pois 45 Ações instrumentais são as ações pragmáticas, imediatistas, que visam a eficácia e eficiência a despeito dos valores e princípios. Nestas ações, muitas vezes, impera a repetição, o espontaneísmo, considerando a necessidade de responder imediatamente às situações existentes. São ações isentas de conteúdo valorativo, na qual a preocupação restringe-se à eficácia dos fins. Estes subsumem a preocupação com a correção dos meios (valores e princípios ético-políticos e civilizatórios). São ações necessárias para responder a um nível da realidade (o do cotidiano) mas são insuficientes para responder as complexas demandas do exercício profissional. (GUERRA, 2007, p. 10) Assim, evidencia-se que no âmbito das políticas sociais e no fazer profissional dos assistentes sociais os estudos socioeconômicos possuem significativa relevância tanto por permitirem o aprofundamento dos conhecimentos sobre a realidade dos sujeitos, quanto pela possibilidade de fundamentar documentos que podem ser empregados como meios de viabilização dos direitos dos cidadãos. Destarte, indagou-se às assistentes sociais participantes sobre a forma como ambas constroem os estudos socioeconômicos que realizam e sobre os principais desafios enfrentados para construí-los. “A construção dos estudos socioeconômicos se dá nas ações profissionais, nas atividades que realizamos, faz parte do nosso cotidiano, do exercício profissional. Grandes desafios são encontrados, principalmente nas redes assistenciais, onde muitas vezes não conseguimos efetivar o direito do usuário”. (A.S.C.1) “A gente constrói a partir de visitas domiciliares, de entrevistas, de diálogos, de observações. Essas são as formas que a gente vai construindo esse estudo socioeconômico. Já na questão dos entraves, dos desafios que a gente encontra, é justamente nos próprios programas que são falhos, as políticas sociais que são falhas. Então, quando elas são falhas, automaticamente elas acabam dando entrave e aí a gente não consegue prosseguir”. (A.S.C.2) Elucida-se que os estudos socioeconômicos são estruturados a partir dos sujeitos e da essência da ação a que eles serão direcionados, tendo formas de abordagens desses sujeitos e instrumentos técnico-operativo que podem ser utilizados. Geralmente são empregados em sua construção abordagens individuais e coletivas (em grupos) ―realizadas através de instrumentos tradicionalmente definidos pela profissão: a entrevista, a observação, a reunião, a visita domiciliar e a análise de documentos referentes à situação‖. (MIOTO, 2009, p. 09) Cabe enfatizar que não se deve definir uma única forma para construção dos estudos socioeconômicos e que os assistentes sociais devem usar a autonomia que lhes compete – de forma comprometida com a defesa e viabilização de direitos – para escolher o melhor caminho para fazê-lo, posto que a própria construção dos instrumentais deve ser pautado na dialética das relações profissional-usuário, pois ―o instrumental é percebido como um 46 conjunto articulado de instrumentos e técnicas, não podendo serem vistos isoladamente, por si sós, de maneira autonomizada, mas como uma unidade dialética‖. (SANTOS; NORONHA, 2010, p. 57) A elaboração dos estudos socioeconômicos deve ser derivada da articulação das competências, capacidades e dos instrumentos que os assistentes sociais dispõem de maneira ética e inteligente, para fomentar a materialização dos direitos dos sujeitos. É inegável que o contexto e a conjuntura histórica atual em que a sociedade se encontra apresentam desafios que permeiam a falta de recursos, a precarização das políticas sociais, a exigência de atuações que não correspondem a competências ou atribuições privativas dos assistentes sociais, a grande demanda para poucos profissionais, entre outros. Além disso, considera-se como um empecilho considerável para a construção dos mesmos, a falta de clareza que muitos assistentes sociais no que diz respeito ao uso da capacidade de atrelar a teoria à prática e fundamentá-los em uma concepção que entende os fenômenos sociais pautando-se na totalidade, na dialética e na historicidade dos sujeitos. Ao passo que as questões das entrevistas foram sequenciadas, as assistentes sociais pesquisadas foram indagadas sobre qual (s) a (s) corrente (s) teórica (s) utilizam para construir os estudos socioeconômicos que realizam no seu cotidiano profissional. “É a corrente da estratégia, é o referencial teórico onde me norteio. Hoje vimos coisas bonitas, mas nem sempre na prática a gente consegue efetivar o que a teoria fala”. (A.S.C.1) “Geralmente a gente utiliza muito a questão de livros, de cartilhas do próprio programa. Depende muito da necessidade. Por exemplo, eu vou fazer um estudo socioeconômico para o INSS, então a base que vou utilizar é a base do INSS”. (A.S.C.2) Desde a implementação do Movimento de Reconceituação 4 do Serviço Social doravante as décadas de 1950 até a contemporaneidade – ao se considerar que este processo não foi interrompido na categoria profissional – algumas correntes teóricas são pertencentes à categoria que posteriormente a esse fenômeno passou a conceber o pluralismo 5 em seu 4 Admite-se a concepção de Reconceituação de acordo com Netto (2001, p. 131), como ―o conjunto de características novas que, no marco das condições da autocracia burguesa, o Serviço Social articulou, à base do rearranjo de suas tradições e da assunção do contributo de tendência do pensamento social contemporâneo, procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática, através de respostas a demandas sociais‖. 5 Conforme Netto (1999, p.102), ―o pluralismo é um elemento factual da vida social e da própria profissão, que deve ser respeitado. Mas este respeito, que não deve ser confundido com uma tolerância liberal para com o ecletismo, não pode inibir a luta de ideias. Pelo contrário, o verdadeiro debate de ideias só pode ter como terreno adequado o pluralismo que, por sua vez, supõe também o respeito às hegemonias legitimamente conquistada‖. 47 interior apesar de ter o marxismo como corrente teórica norteadora e predominante, mas apreende-se que ―se confrontaram diferentes tendências para a profissão, quer do ponto de vista de seus fundamentos teórico-metodológicos, quer do ponto de vista de sua intervenção social‖. (YAZBEK, 2009, p. 145). Mesmo nos dias atuais o Serviço Social, assim como seu Projeto Ético-Político está alicerçado no desvelamento da realidade através do Materialismo Histórico e Dialético de Karl Marx ou Teoria Social Crítica, que é considerada revolucionária por permitir à esta categoria considerar que para que as expressões da questão social sejam totalmente superadas e deixem de existir, o próprio sistema capitalista deveria ser superado e que a realidade singular e particular de cada sujeito insere na totalidade das relações/reproduções sociais capitalistas no movimento dialético da história, e não encerra-se somente nisso. Sendo importante ressalvar que essa corrente teórica [...] Não é um conjunto de regras formais que se ―aplicam‖ a um objeto que foi recortado para uma investigação determinada nem, menos ainda, um conjunto de regras que o sujeito que pesquisa escolhe, conforme a sua vontade, para ―enquadrar‖ o seu objeto de investigação (NETTO, 2009, p. 684) Recorta-se que nenhuma corrente teórica em si foi mencionada nas falas das entrevistadas para a construção dos estudos socioeconômicos, o que pode ser considerado como uma demonstração de que nem todos os profissionais possuem clareza sobre as teorias que norteiaram e ainda permanecem sendo parte do Serviço Social, tampouco daquela que é hegemônica na profissão, mesmo que estes profissionais expressem o intuito de compreender a realidade dos usuários de maneira aprofundada. O que por sua vez aponta que é mister que os assistentes sociais – mesmo aqueles já formados, considerando-se que a própria formação e capacitação são processos contínuos para profissionais que atuam frente aos fenômenos sociais pautados no Materialismo Dialético e Histórico – busquem dominar as teorias em que se baseiam o Serviço Social, pois mesmo que muitos profissionais consideram a falácia de que teoria e prática são impermeáveis, as mesmas são indissociáveis uma da outra. Finalmente, as assistentes sociais foram indagadas se ambas consideram que os estudos socioeconômicos são instrumentais que contribuem para a materialização do Projeto Ético Político do Serviço Social. “O assistente social pode estabelecer um plano de trabalho construído pelo próprio profissional e pode considerar valores expressos no nosso projeto ético político. Enfim, o assistente social deve estar levando propostas de trabalho, sendo criativo pra a realização do direito da população”. (A.S.C.1) 48 “Sim, com certeza. Os instrumentais são sim. E esses estudos são também, porque se você não consegue fazer todo esse processo automaticamente você não consegue um Projeto Ético-Político social jamais”. (A.S.C. 2) Os estudos socioeconômicos são contributivos para a materialização do Projeto Ético-Político do Serviço Social à medida que ele concretiza as intenções alicerçadas pela profissão no processo de trabalho cotidiano. O que merece destaque é que o projeto profissional não foi construído numa perspectiva meramente corporativa [...] Ainda que abarque a defesa das prerrogativas profissionais e dos trabalhadores especializados, o projeto profissional os ultrapassa, porque é histórico e dotado de caráter ético-político, que eleva esse projeto a uma dimensão de universalidade, a qual subordina, ainda que não embace a dimensão técnico-profissional. Isto porque ele estabelece um norte, quanto a forma de operar o trabalho cotidiano, impregnando-o de interesses da coletividade ou da ―grande política‖, como momento de afirmação da teleologia e da liberdade da práxis social (IAMAMOTO, 2012, p. 227) Como competência profissional dos assistentes sociais os estudos socioeconômicos podem ser vistos como mecanismo de materialização do Serviço Social, posto que o referido projeto profissional toma como base primordialmente os princípios do Código de Ética do/a assistente social e do projeto de formação da ABEPSS embute em si de forma explicita a Teoria Social Crítica marxista que inclui a compreensão da realidade baseando-se na totalidade em busca da emancipação humana. (VASCONCELOS, 2015) Diante de todo o exposto, percebe-se que os estudos socioeconômicos relevam considerável significação para o Serviço Social e que faz parte do processo de trabalho de assistentes sociais, inclusive daqueles inseridos em equipamentos da política de Assistência Social e que mesmo que os profissionais não tenham o devido entendimento sobre correntes teóricas que possam embasar a construção dos mesmos, essas ações devem fazer parte do fazer profissional na busca do desvelamento da realidade dos sujeitos para a materialização dos seus direitos. 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS Mediante todo o exposto no decorrer deste estudo foi possível denotar que o Serviço Social vivencia na contemporaneidade um processo de retrocesso da profissão, de exigência e de imposição de limites para a atuação profissional decorrentes dos ditames do capitalismo que tem engendrado sob a sociedade sua lógica de exploração do trabalho e extração de lucro que ocasionam o desequilíbrio da distribuição da riqueza socialmente produzida e consequentemente a intensificação das expressões da questão social e a precarização das políticas sociais e do sistema de garantia de direitos. Percebe-se que ainda existem na categoria profissional indícios de que alguns profissionais ainda não dominam totalmente tudo que diz respeito à Instrumentalidade do Serviço Social, sendo explicitadas nesta pesquisa apenas alusões fornecidas pelas participantes sobre o que alguns autores compreendem como sendo a Instrumentalidade do Serviço Social. Observa-se a imperiosidade de que os assistentes sociais tenham mais clareza em relação à amplitude na qual a Instrumentalidade do Serviço Social se alicerça para os assistentes sociais não a simplifiquem unilateralmente aos seus instrumentais. Enfatiza-se que foi possível apreender que os estudos socioeconômicos podem ser concebidos como elementos contributivos para os processos de trabalho dos assistentes sociais e que podem ser mecanismos estratégicos para as intervenções em prol da garantia dos direitos dos cidadãos, isto porque corroboram para o aprofundamento dos conhecimentos sobre a realidade dos usuários, bem como fundamentam legalmente documentos utilizados nos processos de viabilização desses direitos. Destarte, salienta-se a apreensão obtida acerca da elaboração dos estudos socioeconômicos que devem articular as competências, capacidades e os instrumentos que os assistentes sociais dispõem, do mesmo modo sendo imbuídos de ética e inteligência por parte dos assistentes sociais. Enquanto desafios vivenciados no processo de construção desses instrumentais derivaram-se elementos inerentes ao contexto social, econômico, político e cultural atual do país, a saber: a falta de recursos; a precarização das políticas sociais; a exigência de atuações que não correspondem a competências ou atribuições privativas dos assistentes sociais; a grande demanda para poucos profissionais; e a falta de clareza que muitos assistentes sociais apresentam no tocante à capacidade de associar teoria à prática e fundamentar os estudos socioeconômicos em uma perspectiva de totalidade pautada na dialética e na historicidade dos sujeitos. 50 Averigua-se que embora seja considerado imprescindível que os profissionais do Serviço Social consigam discernir sobre a corrente teórica que deve nortear a produção dos estudos socioeconômicos construídos pelos mesmos, foi evidenciada a falta de clareza das assistentes sociais pesquisadas a respeito desse assunto específico, tendo sido percebido que as mesmas entendem alguns elementos bases para tal elaboração, mas não nomeiam teorias para tanto. Isto posto, assimila-se que os estudos socioeconômicos evidenciam-se como instrumentais estratégicos e significativos para o Serviço Social e para a materialização do seu Projeto Ético-Político, não somente por fazerem parte do processo de trabalho de assistentes sociais, mas por proporcionarem o desvelamento da realidade dos cidadãos usuários que por sua vez incidem na abertura de possibilidades de intervenções para o enfrentamento/ superação das expressões sociais que os mesmos vivenciam e assim proporcionar a ambos autonomia sob suas vidas e a opção de serem sujeitos emancipados. Conclui-se que a matriz teórica que sustenta o projeto profissionaldo Serviço Social deve orientar a construção dos estudos socioeconômicos que podem se desdobrar em possibilidades para seus demandantes, posto que o uso deste instrumental vai além do atendimento de questões imediatas e ações pragmáticas, ao fazer uso de categorias ontológicas como a mediação e a teleologia que permite uma análise de totalidade da realidade social buscando-se compreender as singularidades individuais através da universalidade sócio-histórica e das particularidades das intervenções, elucidando o real vivenciado no cotidiano dos sujeitos. Ressalta-se que este instrumental se configura como um instrumento de poder que se concretiza a partir do conhecimento científico de uma categoria profissional empenhada na transformação da sociedade juntamente com toda a classe trabalhadora. Assim, reitera-se a relevância deste estudo para os assistentes sociais, comunidade acadêmica e para a sociedade. Frisa-se como percalços para a realização desta pesquisa o empecilho de realizar uma pesquisa como uma amostra maior de profissionais tendo em vista ao espaço de tempo relativamente curto para a produção do trabalho e a indisponibilidade de alguns profissionais, bem como o desafio de abordar de forma o máximo abrangente o assunto central compreendendo-se que este estudo não encerra as questões em torno dos estudos socioeconômicos para os assistentes sociais, mas possui suas contribuições para o aprofundamento dos conhecimentos sobre o emprego destes no processo de trabalho cotidiano dos assistentes sociais atuantes nas políticas sociais na contemporaneidade. 51 REFERÊNCIAS ABEPSS. Lei de Diretrizes Curriculares. Diretrizes gerais para o curso de Serviço Social. Com base no Currículo Mínimo aprovado em Assembleia Geral Extraordinária de 8 de novembro de 1996. Rio de Janeiro: ABEPSS, 1996. AMADOR, J. R. O. 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Brasília: 2009. p. 143-164. 55 APÊNDICE (S) 56 APÊNDICE A CENTRO UNIVERSITÁRIO DOUTOR LEÃO SAMPAIO CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA 01 – O Serviço Social é uma profissão cuja história desde as protoformas até a institucionalização tem perpassado o ideal caritativo até o reconhecimento das pessoas como sujeitos de direitos que devem ter suas demandas respondidas pelo Estado. Como você percebe que se encontra o Serviço Social nos dias atuais? 02 – A respeito da Instrumentalidade do Serviço Social, como você a compreende? 03 – Sobre os estudos socioeconômicos, qual a importância que eles possuem no seu processo de trabalho enquanto assistente social? 04 – Como se dá a construção dos estudos socioeconômicos que você realiza e quais são os principais desafios enfrentados para construí-los? 05 – Qual (s) a (s) corrente (s) teórica (s) que você utiliza para construir os estudos econômicos que realiza no seu cotidiano profissional? 06 – Você considera que os estudos socioeconômicos são instrumentais que contribuem ara a materialização do Projeto Ético Político do Serviço Social? Juazeiro do Norte/CE, ________ de _____________________de_______________. _____________________________________ _____________________________________ Entrevistado (a) Entrevistador (a) 57 ANEXO (S) 58 ANEXO A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezado Sr.(a) A acadêmica do Curso de Graduação em Serviço Social EMANUELA RODRIGUES SILVA, Instituição de ensino CENTRO UNIVERSITÁRIO Dr. LEAO SAMPAIO está realizando a pesquisa intitulada ―O SERVIÇO SOCIAL E A ASSISTÊNCIA SOCIAL: uma análise da construção dos Estudos Socioeconômicos do Centro de Referência de Assistência Social do Bairro Aeroporto em Juazeiro do Norte/CE‖, que tem como objetivo IDENTIFICAR AS FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS QUE NORTEIAM OS ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS CONSTRUÍDOS POR ASSISTENTES SOCIAIS. Para isso, está desenvolvendo um estudo que consta as seguintes etapas: será realizada uma coleta de dados, a mesma ocorrera através da aplicação de uma entrevista semi- estruturada, mantendo a ética e integridade física e moral do participante. A participação na pesquisa será realizada de forma voluntaria e caberá ao Senhor/ Senhora responder as perguntas do questionário. Sua participação consistirá em responder a uma entrevista contendo 06 perguntas sobre o tema proposto. Toda informação que o(a) Sr.(a) nos fornecer será utilizada somente para esta pesquisa. AS RESPOSTAS DAS PERGUNTAS REALIZADAS DURANTE A ENTREVISTA serão confidenciais e o nome do usuário não aparecerá nas CITAÇÕES, FICHAS DE AVALIAÇÃO, ETC, inclusive quando os resultados forem apresentados. Se tiver alguma dúvida a respeito dos objetivos da pesquisa e/ou dos métodos utilizados na mesma, pode procurar; EMANUELA RODRIGUES SILVA ou ligar para :(88) 8845-8055. Se desejar obter informações sobre os seus direitos e os aspectos éticos envolvidos na pesquisa poderá consultar o Comitê de Ética em Pesquisa – UNILEAO CEP 63041-1140 Telefone (2101-1000 e 2101- 1001 ) , Cidade Juazeiro do Norte. Caso esteja de acordo em participar da pesquisa, deve preencher e assinar o Termo de Consentimento Pós-Esclarecido que se segue, recebendo uma cópia do mesmo. Juazeiro do Norte-CE., _______ de ________________ de _____. 59 ANEXO B TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o Sr.(a)___________________________________________________, declara que, após leitura minuciosa do TCLE, teve oportunidade de fazer perguntas, esclarecer dúvidas que foram devidamente explicadas pelo pesquisador, ciente dos procedimentos aos quais será submetido e, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO em participar voluntariamente desta pesquisa. E, por estar de acordo, assina o presente termo. Juazeiro do Norte-CE., _______ de ________________ de _____. _____________________________________________ Assinatura do participante ________________________________________ Assinatura do Pesquisador ________________________________________ Assinatura do Representante legalstudies; and it was evidenced that they can be seen as strategic and significant tools for Social Service and for the materialization of its Ethical-Political Project. Keywords: Social Service. Socioeconomic Studies. Theories Currents. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10 CAPÍTULO 1 - MEMÓRIAS SOBRE O SERVIÇO SOCIAL E A ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL............................................................................................................12 1.1. A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: AS ENTRELINHAS ENTRE O ASSISTENCIALISMO E O DIREITO....................................................................................12 1.2. O SERVIÇO SOCIAL NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: ORIGENS, CONEXÕES E POSSIBILIDADES...................................................................................................................18 CAPÍTULO 2 - A ALIANÇA ENTRE O SERVIÇO SOCIAL E OS ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS..........................................................................................................24 2.1. DESVELAR A REALIDADE PARA MEDIAR: A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL..................................................................................................................24 2.2. OS ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS COMO INSTRUMENTO DE TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS E O PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL....................................................................................................................................31 CAPÍTULO 3 - ROTAS E MÉTODOS EM UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A CONSTRUÇÃO DOS ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS PELOS ASSISTENTES SOCIAIS..................................................................................................................................37 3.1. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA CONSTITUTIVA DA PESQUISA....................37 3.2. CARACTERIZANDO O CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL AEROPORTO EM JUAZEIRO DO NORTE/CE....................................................................39 3.3. OS ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS: BASES TEÓRICAS E CONSTRUÇÃO ENQUANTO ESTRATÉGIA INTERVENTIVA DO ASSISTENTE SOCIAL.....................41 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................49 REFERÊNCIAS......................................................................................................................51 APÊNDICES............................................................................................................................55 ANEXOS..................................................................................................................................57 10 INTRODUÇÃO Os estudos socioeconômicos são instrumentais que fazem parte do arcabouço da Instrumentalidade do Serviço Social enquanto profissão que atua no enfrentamento das expressões da Questão Social emergentes das contradições entre as classes fundamentais da sociedade capitalista. Os mesmos estão inseridos no âmbito das competências profissionais prescritas no Código de Ética dos/ as assistentes sociais. Dada à possibilidade contributiva que os estudos socioeconômicos assumem ao serem utilizados pelos assistentes sociais na busca pela compreensão da vida dos usuários e mediante o fato de que este é um dispositivo legal que valida o acesso dos cidadãos a serviços públicos das políticas sociais, benefícios e programas, investigar as correntes teóricas nas quais esses profissionais têm se baseado para realizar a construção desses instrumentais apresenta-se como algo imperioso para esta categoria profissional. Diante disso este estudo objetiva identificar as fundamentações teóricas que norteiam os estudos socioeconômicos construídos por assistentes sociais, para tanto busca-se apresentar a trajetória do Serviço Social na Assistência Social no Brasil, compreender o Estudo socioeconômico como um instrumento do processo de trabalho articulado ao Projeto Ético- Político dos/as assistentes sociais e analisar as bases teóricas de construção dos Estudos Socioeconômicos como estratégia interventiva assistente social. Escolheu-se esta temática a partir da disciplina de Metodologia do Trabalho Social, componente do curso de Serviço Social, onde foi discutido o conceito, a construção e a utilização dos instrumentais que fazem parte das ações profissionais do/a assistentes sociais e que devem ser manuseados sob o enfoque do Projeto Ético-Político da profissão. Compreendendo o estudo socioeconômico como um instrumento que tem por finalidade conhecer com profundidade e de forma crítica uma determinada situação ou expressão da questão social, objeto de intervenção profissional especialmente nos seus aspectos socioeconômicos e culturais. A articulação da vida dos indivíduos singulares com as dimensões estruturais e conjunturais, uma vez que são estas que conformam, se torna possível pelo embasamento teórico que se abre a totalidade das relações sociais imperantes na sociedade, tornando-se importante a compreensão dos fundamentos que sustentam os estudos socioeconômicos. A metodologia empregada nesta investigação deu-se sob a abordagem qualitativa, utilizando as pesquisas dos tipos bibliográfica, estudo de campo, explicativa e descritiva. Para a coleta de dados empregou-se a entrevista semi-estruturada junto a duas assistentes sociais do 11 referido equipamento de Assistência Social na data 09 e 12 de outubro de 2018. Posteriormente à coleta de dados foi realizada a análise dos dados pautando-se no método dialético para compreensão e discussão sobre os resultados levantados. No primeiro capítulo almeja-se elucidar memórias históricas sobre a constituição da Política de Assistência Social no Brasil desde seus primórdios enquanto prática assistencialista e filantrópica até a conjuntura em que a mesma é instituída enquanto política social e direito daqueles que dela necessitarem. Não obstante, resgata-se as ligações existentes entre o Serviço Social e a Assistência Social, sendo o Serviço Social uma profissão que emerge em um contexto semelhante às origens da Assistência Social e que resguarda elos e possibilidades de intervenção na referida política social. No segundo capítulo almeja-se aprofundar conhecimentos a respeito da Instrumentalidade do Serviço Social. Destarte, direciona-se para uma possível apreensão do que significa a Instrumentalidade para essa profissão e como ela se desdobra elucidando as principais dimensões em que a mesma se baseia e características que a estrutura. Não obstante, posteriormente as explicitações a respeito da Instrumentalidade busca-se a fomentação sobre os aspectos referentes aos estudos socioeconômicos enquanto instrumento técnico-operativo de trabalho dos assistentes sociais, enfatizando-se as possibilidades que os mesmos apresentam para a concretização do Projeto Ético Político do Serviço Social. No terceiro capítulo tem-se por intuito apresentar, em um primeiro momento, o percurso metodológico empregado na realização desta pesquisa de modo. Em seguida, evidenciam-se características referentes ao Centro de Referência da Assistência Social Aeroporto como forma de aprofundar conhecimentos a respeito do local onde a pesquisa foi realizada e do contexto da instituição em que a população pesquisada está inserida. Além disso, busca-se refletir acerca das bases teóricas e sobre a construção dos estudos socioeconômicos enquanto estratégias de intervenções empregadas pelos assistentes sociais. Assim, este estudo debruça-se sobre os Estudos Socioeconômicos elaborados pelos/as Assistentes Sociais do Centro de Referência de Assistência Social - CRAS do Bairro Aeroporto em Juazeiro do Norte/CE como forma de compreensão de aspectosda realidade do processo de trabalho cotidiano do assistentes sociais. 12 CAPÍTULO 1 - MEMÓRIAS SOBRE O SERVIÇO SOCIAL E A ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL Neste capítulo almeja-se elucidar memórias históricas sobre a constituição da Política de Assistência Social no Brasil desde seus primórdios enquanto prática assistencialista e filantrópica até a conjuntura em que a mesma é instituída enquanto política social e direito daqueles que dela necessitarem. Não obstante, resgata-se as ligações existentes entre o Serviço Social e a Assistência Social, sendo o Serviço Social uma profissão que emerge em um contexto semelhante às origens da Assistência Social e que resguarda elos e possibilidades de intervenção na referida política social. 1.1. A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: AS ENTRELINHAS ENTRE O ASSISTENCIALISMO E O DIREITO Ao analisar o movimento histórico que precede a instituição da Política de Assistência Social é cabível perceber que suas origens remetem-se à práticas caritativas, filantrópicas e assistencialistas realizadas principalmente pelas chamadas damas de caridade que eram vinculadas à Igreja Católica e que buscavam auxiliar as pessoas que tinham carências muito grandes e que comprometiam suas vidas. Destaca-se que desde a promulgação da Constituição de 1988, a Assistência Social consolida-se legalmente como direito cidadão que deve ser viabilizado para aqueles que dela necessitarem. É relevante destacar que as ações de assistência são realizações presentes há muito tempo na humanidade e que não fazem parte unicamente da civilização judaico-cristã, nem da sociedade moderna, tampouco da era capitalista. (CARVALHO, 2008). Esse tipo de solidariedade é antigo na vida dos seres humanos e possui raízes na historicidade dos mesmos, embora em tempos de existência dos direitos humanos, o Estado não deve mais praticar ações assistenciais ou benemerentes e sim materializar direitos. Na história da humanidade, a assistência aparece inicialmente com prática de atenção aos pobres, aos doentes, aos miseráveis e aos necessitados, exercida, sobretudo, por grupos religiosos ou filantrópicos. Ela é antes de tudo, um dever de ajuda aos incapazes e destituídos, o que supõe uma concepção de pobreza enquanto algo normal e natural ou fatalidade da vida humana. Isto contribuiu para que, historicamente e durante muito tempo, o direito à Assistência Social fosse substituído por diferentes formas de dominação, marginalização e subalternização da população mais pobre. (OLIVEIRA, 2005, p. 25) 13 É válido analisar que o assistencialismo emerge com direcionamento definido para uma determinada classe social, a classe trabalhadora, que comporta aqueles que não detêm sequer uma parte significativa das riquezas socialmente produzidas e que sofrem com as expressões da questão social 1 . Nessa conjuntura de primeiras formas da política em questão, o Estado não aparece em nenhuma das iniciativas, somente a Igreja Católica. Até a década de 1920 as circunstâncias de pobreza em que a maior parte da população se encontrava não eram vistas como situações de responsabilidade estatal e eram enfrentadas de com aparato policial. Em 1930, com o reconhecimento da Questão Social, as expressões da mesma foram engajadas enquanto problemáticas às quais o Estado deveria apresentar respostas e dessa maneira foi criada no âmbito da Assistência Social o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), que se mostra como primeira iniciativa estatal. O objetivo central desse conselho voltava-se para a avaliação das solicitações de auxílio financeiro que eram solicitados para posteriormente encaminhá-los para o Ministério da Saúde e Educação, sendo estes recursos disponibilizados por instituições assistenciais e caritativas por intermédios de processos decisórios presidenciais. (SCHENA, 2011) Cabe ressaltar que mesmo que essa ação seja de grande valia para a estruturação da Assistência Social como política social, ela ainda não se apresenta como prática determinada enquanto direito. Elucida-se que na conjuntura supradita, o capitalismo estava passando pela crise de 1929, que ocasionou uma grande depressão na economia mundial e claramente afetou o Brasil também. Devido a estas questões a pauperização e problemáticas socioeconômicas se agravaram e as pessoas passaram a ter demandas maiores e cobraram respostas do Estado. Ao se falar em políticas sociais que venham a beneficiar a classe trabalhadora em uma sociedade capitalista e marcada pelas profundas desigualdades como é no Brasil, é preciso compreender que na maior parte dos casos a viabilização de direitos tende a ser uma ação paliativa e não uma intervenção genuinamente voltada para o bem estar daqueles que necessitam ter suas demandas atendidas. Sendo assim, dá-se ênfase à alusão de que o trato às questões cujas problemáticas poderiam ser respondidas através da assistência social por via das políticas sociais 1 De acordo com Carvalho e Iamamoto (2007, p. 77), ―A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão‖. 14 Caracterizou-se mais pela manipulação de verbas e subvenções, como mecanismo de clientelismo político. Sua importância se revela apenas como marco da preocupação do Estado em relação à centralização e organização das obras assistenciais públicas e privadas (IAMAMOTO, CARVALHO, 1985, p. 256). A questão do clientelismo e do ideário que remete as ações da Assistência Social à favores prestados por políticos se constituem em elementos presentes nas origens da Assistência Social e que são latentes ainda na contemporaneidade. Embora tenha sido fundamental haver esse salto inicial para que depois fosse possível a formulação e implementação dessa política social, a ocorrência desses aspectos no início trazem uma herança negativa para a visão da assistência como direito dos cidadãos. Alguns anos mais tarde, precisamente em 1935, foi instituído o Departamento de Assistência Social do Estado, através da lei nº 2.497, sob a presidência de Getúlio Vargas, cuja política social era fortemente assistencialista. Logo no ano seguinte, em 1936, houve a formação do Departamento de Assistência Social do Estado de São Paulo, que contribuiu para a ampliação da formação e da quantidade de profissionais atuantes nesta política, ofertando inclusive um Curso Intensivo de Assistência Social. (CARMONA, 2010) Dando continuidade à construção desses relatos temporais elucida-se o surgimento em 1942 de uma grande instituição para a política central neste estudo, a Legião Brasileira de Assistência (LBA), cuja emersão ocorre com o intuito de promover o apoio da sociedade ao processo de participação do Brasil na guerra que acontecia no momento em questão e suas ações eram voltadas para auxiliar os cidadãos que servissem ao país indo para a guerra, bem como para dar assistência aos seus familiares. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2014). A instituição supracitada faz parte do quadro das grandes instituições emergentes durante a Era Vargas. Durante esse período o Estado sob o capitalismo monopolista passa a desenvolver respostas mais visíveis às demandas da classe trabalhadora, embora que estas ainda permanecessem sendo ações emergenciais e que à longo prazo não provocava grandes transformações nas vidas dos sujeitos, pois ambos tinham suas necessidades urgentes viabilizadas, porém viviam de forma geral em condições de vida não muito favoráveis. Nesse mesmo espaço conjunturalo Brasil estava em pleno processo de industrialização que buscava elevar os lucros capitalistas, mas que para tanto intensificou a exploração da mão de obra dos trabalhadores, que por sua vez ocasionou o agravamento das expressões da questão social. Apreende-se que a LBA ampliou a abrangência da Assistência Social a nível nacional, mas que mesmo com o significativo e indiscutível valor que a mesma representa ela servia prioritariamente aos interesses capitalistas de manutenção de hegemonia 15 através do controle da classe trabalhadora que ao ter algumas de suas necessidades sanadas não permaneciam ativos nas lutas sociais. A época que se segue diz respeito ao momento histórico da Ditadura Militar que compreende o período de 1964-1985, o país viveu um contexto de grandes recessões de direitos e de intensa coerção, repressão e violação dos direitos humanos. Durante o tempo em que tal acontecimento durou as políticas sociais em sua maioria foram privatizadas e a perspectiva assistencialista foi interrompida. Entretanto, próximo ao fim, tal ditadura causou a efervescência dos movimentos e das mobilizações sociais que intensificaram a participação social dos cidadãos e culminou com a promulgação da Constituição Federal de 1988 (CF/88). A CF/88 é considerada um grande marco em relação aos direitos sociais e humanos e acarretou a oficialização da Assistência Social enquanto direito dos cidadãos e dever do Estado. De acordo com a referida Carta Magna, em seu artigo 194 estabelece que ―a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social‖. (BRASIL, 2006, p. 127). A seguridade social compreende um grandioso avanço em termos de legislações de direitos humanos e sociais e é vista mundialmente enquanto um modelo. Especificamente sobre a Assistência Social a CF/88, predispõe em seu artigo 203 que “a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independente da contribuição à seguridade social‖ (BRASIL, 2006, p. 133). Os ganhos obtidos através da promulgação constitucional de 1988 são indiscutíveis e se constituem enquanto abertura para a estruturação de políticas sociais que de fato pudessem viabilizar uma maior qualidade de vida para as pessoas e o enfrentamento efetivo das expressões da questão social. Destarte mesmo com esse grande aparato legal em vigência ainda perdura na Assistência Social o ideário presente nos seus primórdios. Embora tenha composto o tripé constitucional da seguridade social ao lado da saúde e da previdência social, a partir de 1988, a Assistência Social nunca se livrou absolutamente dos ranços conservadores de sua gênese, tais como o assistencialismo, o clientelismo, o primeiro damismo, seu uso como estratégias patrimonialista e o principal: sua materialização como medida de coesão social voltada à manutenção de poder político das ―elite‖ associada a subalternização dos usuários de serviços e bens assistenciais (PAULA, 2013, p. 89) 16 Uma percepção crítica a respeito das circunstâncias que a Assistência Social assumiu após a CF/88 possibilita a apreensão de que a mesma ainda na atualidade não faz uso de seu potencial e não prima unilateralmente pelo bem estar dos cidadãos e pelo enfrentamento das problemáticas vivenciadas por ambos com vistas ao desenvolvimento e emancipação destas pessoas. Porém, mesmo com os resquícios da parte negativa da herança de origem, a formulação de novos instrumentos legais para sistematização dessa política teve continuidade. Saluta-se a criação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), em 07 de dezembro de 1993 sob a lei nº 8.742, que reitera a responsabilidade do Estado no provimento das demandas dos cidadãos garantindo seu acesso aos direitos. A LOAS se institui como legislação com vistas ao estabelecimento de critérios e normas organizacionais, corroborando também para à adição de um Plano de Assistência Social e de um Fundo de Assistência Social. Assim, ressalta-se os objetivos da LOAS presente em seu artigo 2º preconiza I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado de trabalho; a habilitação a reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e a garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. (BRASIL, 1993, p. 9) A organização da LOAS rege-se pelos seguintes princípios: I- supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II- universalização dos direitos sociais; III-respeito à dignidade do cidadão; IV-igualdade de direitos no acesso ao atendimento; V- divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais (BRASIL, 1993) É de grande valia considerar que a lei supramencionada possui um papel preponderante do que tange a sistematização e gestão dessa política, sendo essencial para a sua expansão. É fundamental contextualizar que alguns anos após o estabelecimento da CF/88 houve uma contra resposta do sistema capitalista – que por sua vez não admite uma melhoria e o alcance do bem estar da classe trabalhadora, posto que o cerne do funcionamento desse modo de produção é a exploração e a apropriação da mão de obra trabalhadora e a manutenção da hegemonia da classe burguesa sobre a classe proletariada – que para perdurar sua lógica de dominação, extração do lucro e da riqueza socialmente produzida engendrou a agenda neoliberal, que por sua vez se posicionou enquanto uma 17 grande barreira para a viabilização dos predispostos na CF/88. Tal acontecimento data dos anos 1970 e promoveu a Reforma do Estado brasileiro. Segundo Laurel (2002, p. 167), ―dentro das estratégias concretas da implantação da política social neoliberal estão o corte nos gastos sociais, a privatização, a centralização dos gastos sociais públicos em programas seletivos contra a pobreza e a descentralização‖. Percebe-se que as estratégias neoliberais são claramente postas como empecilhos para a materialização dos direitos especialmente em aqueles em relação à Seguridade Social e aos demais direitos sociais e humanos. Nos conjuntos das orientações indicadas no consenso, inspiradas pelo receituário teórico neoliberal, que teve adoção em quase todos os países do mundo, na década de 1980, estão: a indicação para desestruturação dos sistemas de proteção social vinculados às estruturas estatais e a orientação para que os mesmos passem a ser gestados pela iniciativa privada. (COUTO, 2006, p.145) Pondera-se que frente às profundas transformações decorrentes do neoliberalismo os sistemas de proteção e seguridade social foram abalados e interferiram diretamente nos rumos do desenvolvimento humano das pessoas que não conseguem mais acessar as políticas sociais, postos que elas estão cada vez mais sucateadas, seletivas e com grande carência de recursos e são alcançadas apenas por uma ínfima parte daqueles que precisam delas e que têm direito de ter acesso a elas. Mesmo diante deste cenário de retrocessos em 2004, instituiu-se a Política Nacional de Assistência Social cujo objetivo principal é organizar o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). É crucial ter clareza que a legalização de uma política com abrangência nacional contribuiu demasiadamente para a sistematização da Assistência Social no tocante ao fortalecimento e detalhamento de sua gestão, benefícios, programas e serviços disponibilizados para apopulação. Além disso, no rol de suas contribuições, tal política traz consigo elementos como a descentralização, a municipalização, o princípio democrático e a participação social. Mesmo com esses aspectos consideravelmente positivos, alguns desafios foram postos para o SUAS. A implantação do SUAS exige romper com a fragmentação programática. Exige separar o paralelismo de responsabilidades entre as três esferas de governo. Exige construir referências sobre a totalidade de vulnerabilidades e riscos sociais superando a vertente de análise segregadora em segmentos sociais sem compromisso com a cobertura universal e o alcance da qualidade dos resultados. (SPOSATI, 2004, p.173). 18 É mister ressalvar que ao longo dos anos muitos ganhos foram conquistados em relação à Política de Assistência Social. É indispensável creditar que a contemporaneidade apresenta desafios para a materialização dos direitos sociais e das ações através dessa política, o que deve ser considerado um problema nacional a fazer parte das agendas dos políticos do Brasil como uma meta a ser alcançada, posto que o cenário atual apresenta uma profunda crise para a classe trabalhadora que é maioria em termos de quantidade populacional. Houveram avanços e retrocessos também, mas não se deve ceder à tantas regressões. E mesmo tendo se tornado um direito, a Assistência Social ainda resguarda traços assistencialistas. Mediante os fatos expostos é possível perceber que viabilizar direitos e materializá- los é uma tarefa complexa que deve ser enfrentada cotidianamente por aqueles que atuam na referida política, como é o caso dos assistentes sociais, profissionais do Serviço Social que possuem suas protoformas intimamente ligadas as origens da Assistência Social e que até os dias atuais fazem parte das equipes profissionais que a gestam e que a executam. Sendo assim, estudar e refletir sobre as conexões entre ambas mostra-se bastante proveitoso. 1.2. O SERVIÇO SOCIAL NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: ORIGENS, CONEXÕES E POSSIBILIDADES O Serviço Social é uma categoria profissional que faz parte na contemporaneidade do rol de profissões inseridas no sistema de trabalho capitalista. Trata-se de uma profissão que possui uma história de mais de 80 anos no Brasil, Conselho Federal e Conselhos regionais além do aparato legal, Código de Ética - Lei nº 8.662 de 1993 e o Projeto Ético Político Profissional. Os assistentes sociais atuam no enfrentamento das expressões da questão social, que por sua vez são respondidas pelo Estado através das políticas sociais. Nesse sentido, a profissão intervém principalmente na gestão e execução das políticas sociais (embora também atue no setor privado e no Terceiro Setor 2 ), das quais destaca-se a Assistência Social, política que resguarda conexões antigas com o Serviço Social. 2 Geralmente entendido como o conjunto de Organizações Não Governamentais e instituições privadas sem fins lucrativos e organizado pela Sociedade Civil, retrata conceitos ainda não aprofundados. De acordo com Montaño (2007, p. 54-55), ―Quando os teóricos do ―terceiro setor‖ entendem este conceito como superador da dicotomia público/privado, este é verdadeiramente o ―terceiro‖ setor, após o Estado e o mercado, primeiro e segundo, respectivamente; o desenvolvimento de um ―novo‖ setor que viria dar as respostas que supostamente o Estado já não pode dar e que o mercado não procura dar. Porém, ao considerar o ―terceiro setor‖ como a sociedade civil, 19 É crucial informar que o Serviço Social e a Assistência Social emergiram na mesma conjuntura histórica e os elementos constitutivos da origem de ambas são semelhantes, uma vez que as mesmas em seus primórdios voltavam-se para ações de cunho assistencialista, caritativo, filantrópico, vinculado à Igreja Católica. Suas ascensões podem ser confundidas. Entretanto, concebe-se que a Assistência Social surge como ação a ser realizada e o Serviço Social como executor dessas ações. Para que se possa entender com maior clareza as gêneses da Assistência Social e do Serviço Social é imprescindível situar-se no contexto e nos fatores constituintes do nascimento de ambas. Resgata-se que isto se deu doravante os anos 1930 com o reconhecimento da existência da questão social, elemento central tida como algo proveniente das contradições entre as duas classes principais do sistema capitalista, a classe burguesa e a classe trabalhadora. Enfatiza-se que tal reconhecimento deu-se devido às consequências oriundas da crise mundial de 1929. A crise capitalista de 1929 ocasionou uma queda brusca na capacidade de consumo da população e gerou o agravamento das problemáticas sociais causando a visibilidade das mesmas. Isto posto, houve a necessidade de que algo fosse feito para que a classe trabalhadora pudesse ter possibilidade de encarar essas questões. ―A crise do comércio internacional em 1929 e o movimento de outubro de 1930 representam um marco importante para a sociedade brasileira‖ e são vistos enquanto ―momentos centrais de um processo que leva a uma reorganização das esferas estatal e econômica‖ (IAMAMOTO; CARVALHO, 2014, p. 136). Nesse momento, a classe trabalhadora passou a reivindicar ações que pudessem dar respostas às demandas emergentes da referida crise. E é nesse cenário que a Assistência Social começa a ser praticada e que o Serviço Social inicia sua atuação. É essencial perceber que sob tais circunstâncias a Assistência Social não possuía a concepção de seu acesso como um direito e o Serviço Social não usufruía de nenhuma criticidade ou a visão de atuar como viabilizador de direitos. A palavra de ordem nesse momento é assistencialismo, pois tanto a profissão quanto a política (que ainda não eram instituídos nem ideologicamente e nem legalmente dessa maneira) norteavam-se pelo ideário benemerente e realizavam suas ações direcionados pelos princípios religiosos de caridade da Igreja Católica. historicamente ele deveria aparecer como o ―primeiro‖. Esta falta de rigor só é desimportante para quem não tiver a história como parâmetro da teoria‖. 20 A mobilização do laicado de que se origina o Serviço Social não tem, nem explícita nem implicitamente, um sentido de transformação social. Pelo contrário, a experiência de salvação pessoal será o fundamento dessa internalização, e o apostolado, a extrapolação dessa experiência do plano pessoal para o social. Essa internalização a partir de uma valorização seletiva daquela constelação de valores e critérios éticos e morais, e a generalização para o social de uma experiência particular e subjetiva estão na base de características essenciais do Serviço Social. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2014, p. 244) Destarte, é oportuno perceber que os interesses norteadores das intervenções da Igreja Católica não possuíam como intuito promover mudanças na compreensão de mundo daqueles que eram assistidos de forma assistencialista, pois eram medidas paliativas e de cunho pessoal daqueles que praticam para serem intitulados socialmente como boas pessoas. A prática da ajuda caridosa em nada se aproxima com a perspectiva de direito, principalmente porque não partia do Estado. É pertinente analisar que os interesses da Igreja Católica serviam intrinsecamente aos interesses capitalistas, posto que a filantropia evitava a mobilização popular e a efervescência das lutas de classe e controlava as massas que ao terem suas necessidades sanadas de maneira emergencial não reivindicavam de forma intensa a resolução das problemáticas vivenciadas e consequentemente permaneciam tendo sua mão de obra explorada e extraída pelo capital. Com aformação do Departamento de Assistência Social do Estado de São Paulo, em 1936, além da ampliação da formação e da quantidade de profissionais atuantes nesta política, salienta-se que o Curso Intensivo de Assistência Social promovido por esse departamento era solicitado pelo Estado e formava assistentes sociais como agentes sociais requisitados a intervir na racionalização da assistência e no controle das massas. (CARMONA, 2010) Salienta-se que esse contexto conjuntural se constrói mediante os mandatos do presidente Getúlio Vargas que implementou a industrialização e a ótica desenvolvimentista no país. Como dito anteriormente, é no marco da Era Vargas que são instaladas as primeiras instituições voltadas para a Assistência Social a partir do Estado. Na década seguinte, a partir de 1940 houve a criação das chamadas grandes instituições (consideradas símbolos das ampliações das responsabilidades do Estado frente às expressões da questão social), das quais destaca-se a LBA já mencionada anteriormente, que teve considerável significância para a Assistência Social. Nessa época o capitalismo estava na fase monopolista e logo o Serviço Social foi chamado pelo Estado para intervir no controle da classe trabalhadora, sendo assim, foi institucionalizado. 21 Foi nesse terreno sócio-histórico de ampliação dos serviços e constituição das grandes instituições estatais e privadas, racionalização, tecnização e especialização das ações profissionais, com o objetivo de aprimorar e aperfeiçoar as formas de controle das mazelas sociais, que o Serviço Social surgiu como uma profissão privilegiada e socialmente legitimada para lidar com a ―questão social‖. (SILVA, 2013, p. 125) Apesar de ter sido institucionalizado sobre bases um tanto diferentes das suas protoformas, após esse marco o Serviço Social passou a ser executor de políticas sociais cujo principal intuito era amenizar as lutas de classes e promover o controle das massas de maneira que estas não pudessem atrapalhar o andamento da máquina capitalista que precisava manter os trabalhadores ajustado à ordem social hegemônica para dar continuidade à lucratividade do sistema. Sequencialmente menciona-se a época ditatorial, ocorrida dos anos 1964 até os anos 1985 que com o grande acontecido galgado gradativamente em seus anos finais (a redemocratização do país) contribuiu para a Assistência Social e foi palco também de uma fundamental transformação no Serviço Social. A redemocratização do país além de propiciar a definição da referida política enquanto direito cidadão, abriu espaço para o Movimento de Reconceituação do Serviço Social no país, que por sua vez permitiu que a categoria profissional questionasse a funcionalidade de suas intervenções e promovesse reflexões, diálogos e tomadas de decisões que viabilizaram grandes avanços. Entendemos por renovação o conjunto de características novas, que no marco das constituições da autocracia burguesa, o Serviço Social articulou, à base do rearranjo de suas tradições (...), procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática, através de respostas a demandas sociais e da sua sistematização, e de valorização teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais. (NETTO, 2005, p. 131) Assim sendo, o Serviço Social se aproximou de novas teorias para superar a sua função como mero executor de políticas sociais, tornando-se uma profissão que tem como teoria norteadora principal a Teoria Social Crítica e o Materialismo Histórico e Dialético de Karl Marx, que admite o pluralismo e assume uma maior criticidade em relação a sua funcionalidade na sociedade. Pondera-se que não houve uma completa ruptura com o tradicionalismo, porém houve a intenção de ruptura que trouxe consigo um novo norte para a profissão e corroborou para o desenvolvimento do Projeto Ético Político do Serviço Social. Aponta-se que ao reconceituar-se enquanto profissão a intervir na realidade de maneira crítica, comprometida, ética e em busca de transformações na vida das pessoas e do desenvolvimento de estratégias que permitam que os sujeitos enfrentem as expressões da 22 questão social que vivenciam o Serviço Social pode contribuir para que a Assistência Social possa ser materializada enquanto direito dos cidadãos. Ao assumir um novo norte profissional essa categoria para a lutar pela superação das desigualdades entre as classes sociais. Entretanto as discussões a respeito das possibilidades de atuação da profissão em questão na Assistência Social trazem à tona um desafio latente vivenciado por ambas: superar a perspectiva assistencialista. É preeminente que os assistentes sociais que atuam na Assistência Social lutem contra a consolidação da ―assistencialização das políticas sociais‖, pois isso pode causar retrocessos tanto na profissão quanto na política. É essencial que estes profissionais distanciem-se do neoconservadorismo e das práticas tradicionalistas e retrógradas. Nesse sentido, são requeridos assistentes sociais que possam estar sempre atualizando o processo de autocrítica no exercício profissional e que permaneça defendendo intransigentemente os direitos dos usuários. (ORTIZ, 2011) No mesmo ano em que foi instituída a LOAS foi preconizado o Código de Ética dos/as Assistentes Sociais, lei nº 8.662, que dispõe sobre os princípios, diretrizes, direitos e deveres dos/as assistentes sociais e dá outras providências. Assim, o processo histórico de estruturação legal de ambos segue linhas de desenvolvimento próximas uma da outra. Outro elemento relevante a ser explicitado está em torno das atribuições e competências regulamentadas que estabelecem os parâmetros de atuações dos assistentes sociais na Assistência Social. Na supramencionada política dentre as atribuições e competências dos assistentes sociais cabe a estes: apreender de maneira crítica os processos que lançam-se nas relações e reproduções sociais numa perspectiva de totalidade; compreender o significado social da profissão e sua trajetória sócio-histórica para que as intervenções sejam efetivadas de acordo com as possibilidades existentes na realidade; analisar a movimentação histórica do Brasil, aprendendo as particularidades do desenvolvimento capitalista no país e as características regionais; identificar as demandas da sociedade e dos usuários, com o intuito de dar respostas para o enfrentamento da Questão Social, sem negar as articulações existentes atualmente entre os setores públicos e privados. (CFESS, 2011) Diante disso, fica evidenciado que a Assistência Social e o Serviço Social abrigam conexões entre si desde suas matrizes originárias e que tais ligações permanecem presentes mesmo na contemporaneidade afinal de contas ambas estão estreitamente vinculadas a um componente central na historicidade das mesmas: a questão social e suas expressões. Desta 23 maneira, por terem como elemento basilar as expressões da questão social enquanto este existir tal política e tal profissão permanecerão resguardando relações. Na contemporaneidade as políticas sociais estão cada vez mais sucateadas, seletivas, excludentes e precarizadas, realidade na qual se insere a Assistência Social. Como profissional que intervém através dessa política os assistentes sociais tem tido que recorrer aos seus aparatos legais e aos seus instrumentais técnico-operativos (sem desvincular-se das dimensões ético-política e teórico-metodológica) para gestar e executar a Assistência. Dentre esses instrumentais sublinha-se nesta pesquisa os estudos socioeconômicos que são um relevante aparato utilizado pelos assistentes sociais para realizar a mediação entre as demandas da classe trabalhadora e os dispostos pelo Estado. Em tal caso, faz-se essencial pormenorizar as contribuições deste instrumental para os assistentes sociais.24 CAPÍTULO 2 - A ALIANÇA ENTRE O SERVIÇO SOCIAL E OS ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS Neste capítulo almeja-se aprofundar conhecimentos a respeito da Instrumentalidade do Serviço Social, que é tida como elemento imprescindível e indissociável do exercício profissional dessa categoria e da práxis social que seus profissionais buscam realizar no cotidiano do processo de trabalho dos assistentes sociais. Destarte, direciona-se para uma possível apreensão do que significa a Instrumentalidade para essa profissão e como ela se desdobra elucidando as principais dimensões em que a mesma se baseia e características que a estrutura. Não obstante, posteriormente as explicitações a respeito da Instrumentalidade busca- se a fomentação sobre os aspectos referentes aos estudos socioeconômicos enquanto instrumento técnico-operativo de trabalho dos assistentes sociais, enfatizando-se as possibilidades que os mesmos apresentam para a concretização do Projeto Ético Político do Serviço Social, uma vez que este último se constitui como um dos principais norteadores da práxis cujo alcance é uma das metas do Serviço Social. 2.1. DESVELAR A REALIDADE PARA MEDIAR: A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL O Serviço Social é uma profissão presente no Brasil há quase um centenário e sua historicidade é marcada por transições e transformações ligadas às diferentes conjunturas históricas e dialéticas ocorridas ao longo dos anos no país e que o fizeram passar de prática caritativa vinculada aos interesses da Igreja Católica à profissão inserida no mercado de trabalho da sociedade capitalista cujo principal empregador é o Estado e o principal âmbito de trabalho é o setor público especificamente através das políticas sociais. Destaca-se que o cerne ou objeto de estudo/trabalho dos assistentes sociais mesmo ainda em seus primórdios até a contemporaneidade são as expressões da questão social. Ao se compreender que o Serviço Social se trata de uma categoria de trabalho, deve-se perceber a imperial necessidade de que o mesmo tenha estrutura, direcionamentos, regulamentações e mecanismos que possibilitem a execução de ações que materializem a prática dos seus profissionais. Isto posto, verifica-se a precisão de que exista no seio dessa profissão o que se chama de Instrumentalidade. 25 A instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio desta capacidade, adquirida no exercício profissional, que os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano. [...] Na medida em que os profissionais utilizam, criam, adequam às condições existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das intencionalidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. (GUERRA, 2007, p. 02) Realizando uma interpretação do supracitado, é possível creditar que a Instrumentalidade do Serviço Social compreende todo o arcabouço que a profissão dispõe para realizar as suas ações e que este não se encerra de forma alguma apenas em ações desconectadas do contexto em que os sujeitos das intervenções estão inseridos. É mister que se perceba que a mesma está presente desde a formação dos assistentes sociais e que ela está intrinsecamente conectada aos acontecimentos conjunturais da sociedade capitalista sendo materializada quando os assistentes sociais se apropriam de conhecimentos que lhes permitam desvelar a realidade dos sujeitos usuários e as expressões da questão social que estes estão vivenciando e a partir disso escolhe de forma autônoma e consciente as estratégias, instrumentos e aparatos que se precisa para intervir na realidade cotidiana dos sujeitos e contribuir para que haja mudanças e que esses sujeitos tenham seus direitos garantidos. Para refletir sobre o significado sociohistórico da Instrumentalidade é de grande valia levar-se em conta a constituição e estrutura das políticas sociais e suas requisições para os assistentes sociais, pois as mesmas apresentam cotidianamente determinações que interferem no dinamismo do exercício profissional. Diante disso salienta-se que ―a natureza (compensatória e residual) e o modo de se expressar das políticas sociais (como questão de natureza técnica, fragmentada, focalista, abstraída de conteúdos econômico-políticos)‖ produzem impactos para a profissão ocasionando dois desafios a serem superados pelos assistentes sociais: a dificuldade dos profissionais apreenderem as políticas sociais numa perspectiva de totalidade, que por sua vez implica em intervenções fragmentadas; a exigência de que os profissionais venham a aderir e adotar procedimentos instrumentais fincados no imediatismo e na manipulação das variáveis (GUERRA, 2007, p. 7-8). O que se traduz enquanto acontecimentos que impedem o alcance daquilo que a profissão se propõe a fazer: intervir na realidade dos sujeitos através das políticas sociais para desenvolver e possibilitar estratégias de enfrentamento e superação das expressões da questão social. Ora, pois, se a Instrumentalidade deve apontar meios para que os objetivos 26 profissionais sejam atingidos ela deveria concentra-se unilateralmente em formas de chegar a esse objetivo, mas como seus profissionais são estão inseridos na sociedade capitalista e não podem desvincular-se totalmente das relações/reproduções capitalistas e de sua égide muito presente através do Estado, muitos profissionais acabam por realizar intervenções que divergem da defesa de direitos e atua mais em prol dos interesses capitalistas. É importante captar que a instrumentalização na sociedade capitalista está condicionada ao fetichismo que está imbricado nas relações sociais e que provocam a apresentação de uma falsa realidade que é alienada e obscurecida e escondida pela ideologia capitalista. Semelhantemente a essas deturpações da realidade presentes na sociedade, no Serviço Social ainda permanece latente visões que promovem a confusão do que se trata concretamente a Instrumentalidade, confundindo-a com os instrumentos de trabalho (LIMA, 2012). Cabe mencionar que essa prática está ainda muito presente em uma profissão que possui a Teoria Social crítica de Karl Marx como principal base teórica, mas que também resguarda o pluralismo e por assim dizer, ainda possui profissionais que atuam de maneira conservadora e tradicionalista e que não conseguem traduzir a realidade de forma crítica e consciente e enveredam suas práticas por caminhos que distanciam-se da garantia de direitos e defesa da classe trabalhadora. Frente a esta imposição de usufruir da Instrumentalidade de maneira a responder primordialmente às demandas da classe trabalhadora e ao mesmo tempo ter que conciliar as requisições do Estado e do capitalismo em meio ao contexto real que emerge das contradições entre capital e trabalho, frisa-se que a Instrumentalidade dispõe de um elemento preponderante e que deve ser indissociável: a mediação. Tratar-se-á aqui da instrumentalidade como uma mediação que permite a passagem das ações meramente instrumentais para o exercício profissional critico e competente. Como mediação, a instrumentalidade permite também o movimento contrário: que as referências teóricas, explicativas da lógica e da dinâmica da sociedade, possam ser remetidas à compreensão das particularidades do exercício profissional e das singularidades do cotidiano. Aqui, a instrumentalidade sendo uma particularidade e como tal, campo de mediação, é o espaço no qual a cultura profissional se movimenta. Da cultura profissional os assistentes sociais recolhem e na instrumentalidade constróem os indicativosteórico-práticos de intervenção imediata, o chamado instrumental-técnico ou as ditas metodologias de ação. (GUERRA, 2007, p. 13) Para realizar a mediação os assistentes sociais dispõem de três dimensões principais que direcionam o fazer profissional e que são basilares e indissociáveis uma da outra, a saber, as mesmas as dimensões: teórico-metodológica (teoria/teorias que fomentam as intervenções 27 através dos conhecimentos adquiridos e apontam formas para realizá-las); ético-política (consciência ética e política dos objetivos da profissão e de seu compromisso com a classe trabalhadora que devem estar vívida nas ações); técnico-operativa (aparatos legais, instrumentais e regulamentações que aliados à capacidade dos assistentes sociais desvelarem a realidade são escolhidos de forma autônoma para que os mesmos materializem direitos). A competência teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política são requisitos fundamentais que permite ao profissional colocar-se diante das situações com as quais se defronta, vislumbrando com clareza os projetos societários, seus vínculos de classe, e seu próprio processo de trabalho. Os fundamentos históricos, teóricos e metodológicos são necessários para apreender a formação cultural do trabalho profissional e, em particular, as formas de pensar dos assistentes sociais (ABEPSS, 1996, p.7). Nesse sentido o processo de formação dos assistentes sociais tem importância incalculável para os assistentes sociais, principalmente ao se considerar que ele não se encerra ao término das graduações, especializações, mestrados, doutorados e pós-doutorados. Ela faz parte do cotidiano dos profissionais que devem ter um olhar diferenciado e evitar cair na falsa apreensão de que teoria e prática são dicotômicas, pois a teoria fornece a base para que ao se deparar com a realidade das políticas sociais e demais setores em que os assistentes sociais atuam a prática tem alicerces que vislumbrem determinado resultado e não que sejam avulsas e deslocadas do propósito central do Serviço Social. É imprescindível ter clareza de que todas as dimensões do Serviço Social são fundamentais para as práticas profissionais, posto que para intervir de maneira responsável na vida dos sujeitos com vistas ao alcance de transformações que melhorem a vida dos mesmos é essencial compreender as possibilidades de atuação e em que deve consistir as intervenções profissionais. Esta é uma tarefa complexa que demanda profissionais comprometidos e atentos aos princípios norteadores da profissão, mesmo porque entender a realidade pautando- se na totalidade, mas respeitando as singularidades e particularidades das realidades dos sujeitos alvo das ações profissionais além do contexto em que os mesmos estão inseridos requer atenção, clareza, compromisso e uma visão que enxergue a profundidade das relações sociais que está mascarada pelo capital. A leitura hoje predominante da ―prática profissional‖ é de que ela não deve ser considerada ―isoladamente‖, ―em si mesma‖, mas em seus ―condicionantes‖, sejam eles ―internos‖ – os que dependem do desempenho profissional – ou ―externos‖ – determinados pelas circunstâncias sociais nas quais se realiza a prática do assistente social. Os primeiros são geralmente referidos a competências do assistente social como, por exemplo, acionar estratégias e técnicas; a capacidade de leitura da 28 realidade conjuntural, a habilidade no trato das relações humanas, a convivência numa equipe interprofissional etc. os segundos abrangem um conjunto de fatores que não dependem exclusivamente do sujeito profissional, desde as relações de poder institucional, os recursos colocados à disposição para o trabalho pela instituição ou empresa que contrata o assistente social; as políticas sociais específicas, os objetivos e demandas da instituição empregadora, a realidade social da população usuária dos serviços prestados etc. (IAMAMOTO, 2003, p. 94) É inegável que no cotidiano do processo de trabalho os assistentes sociais precisarão empreender a Instrumentalidade de maneira crítica, propositiva e estratégica, tendo em vista que cada espaço sócio ocupacional irá apresentar requisições e exigências que podem ser diferentes de um espaço para o outro, mas que vinculam-se de maneira estrutura às expressões da questão social, aos interesses capitalistas e às lutas de classe, pois as políticas sociais deveriam estar focalizadas em dar respostas às demandas da classe trabalhadora, mas tem sido empregada pelo Estado, principalmente na contemporaneidade, como estratégias capitalista imediatista e paliativa para promover o controle das massas, mesmo com a existência do ideário e das legislações que instituem os cidadãos como sujeitos de direitos. Assim, As estratégias e técnicas de operacionalização devem estar articuladas aos referenciais teórico-críticos, buscando trabalhar situações da realidade como fundamentos da intervenção. As situações são dinâmicas e dizem respeito à relação entre assistente social e usuário frente as questões sociais. As estratégias são, pois, mediações complexas que implicam articulações entre as trajetórias pessoais, os ciclos de vida, as condições sociais dos sujeitos envolvidos para fortalecê-los e contribuir para a solução de seus problemas/questões (ABEPSS, 1996, p.14). Fica evidenciado que a Instrumentalidade do Serviço Social é complexa e se estrutura em vários componentes que estão para muito além de meros instrumentais, pois ela requer profissionais que tenham as devidas competências, que tenham habilidade para utilizá- las no seu processo de trabalho e atitude para empreendê-las de forma crítica e consciente. Não se afirma aqui que as ações imediatas são completamente equívocas, pois existem situações específicas em que elas são necessárias. Porém, elas não devem ser as únicas vias do fazer profissional dos assistentes sociais. Saluta-se a imperiosa urgência em se formar ―um profissional capaz de privilegiar a defesa dos direitos sociais, a ampliação da cidadania e a consolidação da democracia, com uma competência a ser adquirida nas várias dimensões que compõem o agir profissional‖ (SANTOS, 2006, p. 60). Como o Serviço Social atua de forma veementemente atrelada aos contextos conjunturais, que por sua vez também provocam o surgimento de exigências quanto à Instrumentalidade dessa categoria profissional é de grande valia mencionar que a atual 29 conjuntura está sob a égide da agenda neoliberalista que traz consigo uma gama de retrocessos no campo dos direitos sociais, civis e humanos e que interfere negativamente na gestão e execução das políticas sociais devido às suas configurações - precarização, terceirização, privatização, retração do Estado e cortes com o social – que sucateam essas políticas, as torna seletivas e afasta-se do caráter de direito que elas possuem, dificultando a práxis do fazer profissional dos assistentes sociais. Dentre as implicações que o atual estágio capitalista (de crise e recessão de direitos) é possível mencionar duas tendências teóricas com as quais a mesma de defronta: uma pertencente ao neoconservadorismo oriundo das teorias pós-modernas que desemboca a concepção de uma intervenção pautada na fragmentação e na compreensão das práticas profissionais restritas às demandas mercadológicas, que não permitem que os profissionais ultrapassem a superficialidade dos fenômenos sociais; e a outra vincula-se à tradição marxista e fomenta práticas profissionais que possuem foco em uma compreensão da realidade pautada na perspectiva de totalidade, de caráter histórico e ontológico, que possa contemplar a particularidade à universalidade, percebendo também os determinantes objetivos e subjetivos dos fenômenos sociais. (SIMIONATTO, 2009). Reitera-se que a existência de correntes teóricas diferentesuma da outra no interior do Serviço Social é um demonstrativo do caráter pluralista que o mesmo assumiu no processo de sua constituição como se encontra na contemporaneidade e a presença do conservadorismo com outras roupagens ainda é parte integrante da teorização de muitos profissionais. O que não significa dizer que as concepções neoconservadoras estejam em consonância com o projeto profissional da categoria, uma vez que como profissão que defende intransigentemente os direitos dos sujeitos, a justiça, a equidade e a construção de um novo projeto societário (sendo este último pouco defendido no fazer profissional de grande parte dos assistentes sociais) a materialização nas intervenções de teorias tradicionais e conservadoras distancia-se dos objetivos profissionais. Entretanto, enfatiza-se que o neoliberalismo também pode ser constituído enquanto espaço no qual os assistentes sociais podem concretizar a práxis ao passo que a presença do ideário neoconservador pode ser visto como ―âmbito privilegiado do exercício profissional e lugar onde a profissão participa de processos de resistência e constrói alianças estratégicas na direção de outro projeto societário‖ (YASBEK, 2014, p. 678). Ao dispor de seu aporte teórico, da ética e do conjunto de técnicas disponíveis para intervir na realidade das pessoas de forma crítica e a partir do desvelamento da realidade de maneira aprofundada – mesmo em conjunturas marcadas por retrocessos – o Serviço Social 30 corrobora com o fortalecimento de formas de resistência para a profissão e para a classe trabalhadora. Isto posto reflete-se que a Instrumentalidade do Serviço Social está intrinsecamente atrelada ao cotidiano do fazer profissional, posto que é ela quem materializa as ações profissionais dos assistentes sociais e embora parte dela possa estar voltada para a realização de intervenções de cunho imediatista, paliativo e fragmentado, a mesma está imbuída de intencionalidades, instrumentais, aparatos teóricos, capacidades, competências e atribuições que fomentam possibilidades de práxis por esses profissionais. Embora existam equívocos quanto à funcionalidade e ao cerne da Instrumentalidade e seus desdobramentos, para que esta possa ser materializada de maneira condizente ao que o Serviço Social está comprometido a concretizar é valoroso denotar que na contemporaneidade, Requisita-se um profissional culto, crítico e capaz de formular, recriar e avaliar propostas que apontem para a progressiva democratização das relações sociais. Exige-se, para tanto, compromisso éticos-político com os valores democráticos e competência teórico-metodológica na teoria crítica em sua lógica de explicação da vida social. Esses elementos, aliados à pesquisa da realidade, possibilitam decifrar situações particulares com que se defronta o assistente social no seu trabalho, de modo a conectá-los aos processos sociais macroscópicos que as geram e as modificam. Mas, requisita, também, um profissional versado no instrumental técnico-operativo, capaz de potencializar as ações nos níveis de assessoria, planejamento, negociação, pesquisa e ação direta, estimuladora da participação dos sujeitos sociais nas decisões que lhes dizem respeito, na defesa de seus direitos e no acesso aos meios de exercê-los. (IAMAMOTO, 2008, p. 208) Diante disso, fica explicitado que o Serviço Social possui diversos mecanismos e elementos que constituem sua Instrumentalidade e que orientam o processo de trabalho dos assistentes sociais de forma complexa e bem estruturada. A profissão conta com uma sistematização que acompanha os profissionais desde a formação inicial até as ações profissionais e possuem dimensões norteadoras que são indissociáveis uma da outra e que refletem de forma clara no fazer dos assistentes sociais. Este aprofundamento sobre a Instrumentalidade do Serviço Social permite, entre tantas outras coisas, captar a indispensabilidade existente de que os profissionais tenham conhecimentos de tudo que compreende a mesma e de todos os aspectos que a envolve com clareza e criticidade para que cada processo de trabalho dos assistentes sociais não desemboquem em ações que ferem a dinâmica e a essência da profissão sem equívocos desnecessários, posto que não é impossível apreender sobre a Instrumentalidade da categoria, além disso trata-se de um dever e compromisso ético. 31 Dentre os elementos que compõem esta categoria fundamental para o Serviço Social, destacam-se os estudos socioeconômicos, que fazem parte do cotidiano profissional dos assistentes sociais e que ainda possui algumas ambiguidades quanto à suas concepções, funcionalidades, bases e significado para a Instrumentalidade e para os assistentes sociais. Como este elemento – os estudos socioeconômicos – é de suma relevância para os assistentes sociais, estudá-lo mais profundamente é de grande valia para os profissionais. 2.2. OS ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS COMO POSSÍVEL INSTRUMENTO TÉCNICO-OPERATIVO E O PROJETO ÉTICO POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL As percepções em torno dos estudos socioeconômicos pelos assistentes sociais ainda resguardam alguns equívocos, principalmente no que diz respeito ao alcance que ambos possuem para concretizar a práxis desses profissionais. Sua funcionalidade está imbricada diretamente à ação de desvelar a realidade na qual os sujeitos usuários das políticas sociais estão inseridos para que os direitos desses sujeitos possam ser viabilizados. Ressalta-se que para que se possa visualizar os estudos socioeconômicos enquanto instrumentos técnico-operativos empregados no processo de trabalho dos assistentes sociais, compreender do que se trata a dimensão técnico-operativa é imperioso para posteriormente destrinchar concepções sobre esses estudos. Nesse segmento, assimila-se que [...] a dimensão técnico-operativa é constituída dos seguintes elementos: as estratégias e táticas definidas para orientar a ação profissional, os instrumentos, técnicas e habilidades utilizadas pelo profissional, o conhecimento procedimental necessário para a manipulação dos diferentes recursos técnico-operativos, bem como, a orientação teórico-metodológica e ético-política dos agentes profissionais. (SANTOS; SOUZA FILHO; BACKX, 2012, p. 21) Essa concepção famigerada a respeito dessa dimensão contempla a apreensão da mesma para além da noção simplória de que ela abordaria somente os instrumentais e amplia essa percepção ao mencionar que o enfoque técnico-operativo engloba um conjunto de técnicas e habilidades para desenvolver as mesmas articulando esta dimensão com as demais dimensões do Serviço Social, uma vez que reitera-se que elas são inseparáveis, posto que 32 [...] o teórico-metodológico, o ético-político e o técnico-operativo – são fundamentais e complementares entre si. Porém, aprisionados em si mesmos transformam-se em limites que vêm tecendo o cenário de algumas das dificuldades, identificadas pela categoria profissional, que necessitam ser ultrapassadas: o teoricismo, o militantismo e o tecnicismo (IAMAMOTO, 1998, p. 53). Com isso, salienta-se que empreender as dimensões norteadoras do Serviço Social é uma tarefa essencial e inerente aos assistentes sociais para que o Projeto Ético Político – que será estudado mais a frente – possa ser materializado nas ações profissionais. No caso específico da técnico-operativa, ela possibilita o emprego das dimensões ético-política e teórico-metodológica na ação prática cotidiana, por esse motivo, por ter por base a teoria e a ética como orientação para o uso das técnicas. Porém, é preciso ressaltar que ―ao longo do tempo, têm sido observados equívocos no tratamento da dimensão técnico operativa, tanto no que tange à formação quanto no que tange ao exercício profissional‖ (SANTOS; BACKX; GUERRA, 2012, p. 11). Esse deslocamento da verdadeira face técnico-operativa