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Unidade IV Energia hidroelétrica Energias Renováveis Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria RAFAELA FILOMENA ALVES GUIMARÃES AUTORIA Rafaela Filomena Alves Guimarães Sou graduada em Engenharia Elétrica e mestre em Engenharia Elétrica, ambos pela UNESP – Universidade Estadual Paulista, campus de Ilha Solteira, com uma experiência técnico-profissional na área de Engenharia de mais de 20 anos. Passei por empresas como Telefonica S. A, Combustol Indústria e Comércio Ltda, lecionando disciplinas relacionadas à Engenharia Elétrica há mais de 6 anos. Tenho livros publicados na área de Engenharia Elétrica e de Produção. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por conta disso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de apresentar um novo conceito; NOTA: quando necessárias observações ou complementações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a necessidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido; ACESSE: se for preciso acessar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de autoaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando uma competência for concluída e questões forem explicadas; SUMÁRIO Energia hidroelétrica ................................................................................. 10 História da energia hidrelétrica .................................................................................................................... 10 Aspectos gerais da energia hidrelétrica .............................................................................................. 11 Como funciona a energia hidrelétrica?.................................................................................................14 Legislações e energia hidrelétrica ........................................................................................................... 19 Capacidade de um reservatório ...........................................................22 Importância dos reservatórios......................................................................................................................22 Determinação da capacidade de reservatórios pluviais ....................................................25 Produção de energia elétrica .......................................................................................................................26 Tipos e configurações das usinas ........................................................ 33 Usinas Hidrelétricas ................................................................................................................................................33 Principais componentes da central hidrelétrica .........................................................................35 Tipos de usinas hidrelétricas .........................................................................................................................37 Especificação das turbinas ..............................................................................................................................38 Hidrelétricas no mundo ......................................................................................................................................39 Hidrelétricas no Brasil ............................................................................................................................................41 Usina de Itaipu ..............................................................................................................................................................41 Vantagens e desvantagens da geração hidroelétrica ................44 Usinas Hidrelétricas e seus impactos ...................................................................................................44 Vantagens das hidroelétricas .......................................................................................................................47 Desvantagens relativas às energias hidrelétricas .....................................................................48 Aspectos econômicos sobre a geração hidroelétrica..........................................................53 7 UNIDADE 04 Energias Renováveis 8 INTRODUÇÃO Nesta unidade, vamos estudar hidroelétricas e os itens que devem ser avaliados no projeto de uma usina. A geração de energia, por meio de hidroelétricas, é a matriz energética mais usada no Brasil. Esta geração de energia possui baixo custo operacional, sendo que as usinas, para serem construídas, demandam um alto investimento e demoram muito tempo (o maior tempo de todas as matrizes). Esse tipo de energia já foi considerado quase infinito em países como o Brasil, com abundância de rios. Devido às mudanças nas condições climáticas, os reservatórios têm enfrentado períodos de baixo nível. Em razão das mudanças na conscientização ambiental da população, a aprovação de projetos de usinas com grandes reservatórios tem se tornado cada vez mais difícil. Ainda temos um grande potencial para instalação de hidroelétricos, entretanto, 70% deste potencial se localiza na região Amazônica. Esta forma de energia é considerada a mais barata do mundo e uma grande vantagem competitiva. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Energias Renováveis 9 OBJETIVOS Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar você no alcance dos seguintes objetivos até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar e entender as usinas hidroelétricas e aprender os itens que devem ser considerados em um projeto de usina hidroelétrica. 2. Identificar e entender o funcionamento das usinas hidroelétricas e os tipos de turbinas que transformam a energia potencial da água em energia elétrica. 3. Explicar as vantagens deste sistema de geração assim como seus desafios futuros. 4. Apontar as desvantagens da geração hidroelétrica. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Energias Renováveis 10 Energia hidroelétrica OBJETIVO: As usinas hidroelétricas são regidas pela água, item essencial para a sobrevivência humana. Nosso abastecimento, assim como o dos animais e a agricultura, compete pela preferência no uso da água. Devido às mudanças climáticas, a água vem se tornando um bem precioso. Mais de 60% da nossa energia é proveniente das hidroelétricas que possuem necessidade de serem repotencializadas, porque a maioria delas foi construída há mais de 20 anos, utilizando tecnologias que evoluíram. Seu retrofit (a repotencialização) gerará inúmeros empregos, sem contar que o Brasil ainda possui um potencial de 172GW, dos quais somente 60% foram aproveitados. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! História da energia hidrelétrica Antes que possamos adentrar nos aspectos gerais acerca da energia hidrelétrica, é necessário que primeiro compreendamos de onde ela surgiu, bem como foi implementadapara o consumidor será muito caro, desestimulando o consumo. Este mix é feito tentando equalizar esses dois objetivos conflitantes. O ONS faz o mesmo para todas as usinas em operação no país e todas as matrizes energéticas. Desse modo, o ONS chega a um custo otimizado que remunere adequadamente os investidores e que o consumidor possa arcar. Quando as empresas conseguem gerar mais energia do que a garantida junto ao ONS, elas podem vender o excedente no MAE (Mercado Atacadista de Energia). Esta equação ainda não está considerando um valor mais atrativo para o kWh gerado por energias renováveis do que o mesmo valor para o kWh gerado por combustíveis fósseis. O futuro deste mercado, em tempos de aquecimento global chegando a níveis críticos, é que os países encontrem uma maneira de considerar este valor como uma moeda de troca internacional. Um esboço desta ideia é o mercado de créditos de carbono. As usinas térmicas à biomassa já estão se candidatando e recebendo os créditos graças a seu processo de balanço energético zero. No futuro, as usinas hidroelétricas, solares e eólicas também encontrarão uma maneira Energias Renováveis 54 de se creditar, pois estas tecnologias não contribuem para o efeito estufa quando as usinas são construídas dentro de parâmetros que mitiguem o problema ambiental. A descoberta de novas tecnologias irá auxiliar a expansão do setor hidroelétrico no país. Dominamos a tecnologia da instalação de pequenas centrais hidroelétricas (PCHs), e muitos proprietários de pequenas quedas d’água já perceberam a viabilidade econômica da instalação de uma usina em sua propriedade. O aumento no número de linhas de transmissão também aumentou a viabilidade econômica da instalação de uma PCH devido à diminuição no custo de interconexão desta usina com o sistema de potência. RESUMINDO: Ao longo do presente capítulo, pudemos compreender que a energia hidrelétrica vem da força da água. Esse recurso natural renovável é o incumbido por gerar energia para as usinas. Também aprendemos quais são as principais vantagens e desvantagens relacionadas às usinas hidrelétricas. Entre as suas vantagens, pode-se mencionar que tais usinas possuem baixo custo de produção quando comparadas a outras fontes de energia. Apesar de ser uma modalidade de energia limpa, possui e implica vários estudos para os impactos de caráter ambiental e social. Por isso, entre as suas desvantagens, encontra-se profundas e diversas alterações que podem afetar o meio natural, vegetação, solo e água. Por fim, discutimos acerca dos aspectos econômicos que se relacionam com a geração hidrelétrica. Energias Renováveis 55 REFERÊNCIAS BALFOUR, J.; SHAW. M.; NASH, N. B. Introdução ao Projeto de Sistemas Fotovoltaicos. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2016. BRASILESCOLA. Energia hidroelétrica. [s.d.] Disponível em: https:// brasilescola.uol.com.br/geografia/energia-hidreletrica.htm. Acesso em: 19 jul. 2022. EXPÓSITO GÓMEZ, A., CONEJO, A. J.; CAÑIZARES, C. Sistemas de energia elétrica: análise e operação. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2015. NATUREZA BRASILEIRA. Gerador da usina de Itaipu. [s.d.] Disponível em: https://www.naturezabrasileira.com.br/media/d2bcbeaf- e767-4a50-be43-d26e5fd9aa45-replica-em-tamanho-real-dos-eixos- de-turbina-usados-na-usina-hi?hit_num=15&hits=71&page=1&per_ page=100&prev=aced617e-24af-4cd7-b9fe-3509729b7b98&search=itaipu Acesso em: 19 jul. 2022. REIS, L. B. Geração de energia elétrica. 3. ed. São Paulo: Editora Manole, 2017. STEVENSON JR., W. D. Elementos de análise de sistemas de potência. 2. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1986. TOLMASQUIM, M. T. Energia Renovável: Hidráulica, Biomassa, Eólica, Solar, Oceânica. Rio de Janeiro/RJ:EPE, 2016. ZANETTA JR, L. C. Fundamentos de sistemas elétricos de potência. 1. ed. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2005. Energias Renováveis https://brasilescola.uol.com.br/geografia/energia-hidreletrica.htm https://brasilescola.uol.com.br/geografia/energia-hidreletrica.htm https://www.naturezabrasileira.com.br/media/d2bcbeaf-e767-4a50-be43-d26e5fd9aa45-replica-em-tamanho-real-dos-eixos-de-turbina-usados-na-usina-hi?hit_num=15&hits=71&page=1&per_page=100&prev=aced617e-24af-4cd7-b9fe-3509729b7b98&search=itaipu https://www.naturezabrasileira.com.br/media/d2bcbeaf-e767-4a50-be43-d26e5fd9aa45-replica-em-tamanho-real-dos-eixos-de-turbina-usados-na-usina-hi?hit_num=15&hits=71&page=1&per_page=100&prev=aced617e-24af-4cd7-b9fe-3509729b7b98&search=itaipu https://www.naturezabrasileira.com.br/media/d2bcbeaf-e767-4a50-be43-d26e5fd9aa45-replica-em-tamanho-real-dos-eixos-de-turbina-usados-na-usina-hi?hit_num=15&hits=71&page=1&per_page=100&prev=aced617e-24af-4cd7-b9fe-3509729b7b98&search=itaipu https://www.naturezabrasileira.com.br/media/d2bcbeaf-e767-4a50-be43-d26e5fd9aa45-replica-em-tamanho-real-dos-eixos-de-turbina-usados-na-usina-hi?hit_num=15&hits=71&page=1&per_page=100&prev=aced617e-24af-4cd7-b9fe-3509729b7b98&search=itaipue inserida tanto no mundo quanto no Brasil. No Brasil, a primeira central hidrelétrica começou a operar em 1883, como um afluente do Rio Jequitinhonha, com a intenção de que os serviços de mineração relativos à Diamantina, presentes em Minas Gerais, fossem atendidos. Apenas em 1889 foi instalada a primeira usina de grande porte presente no Brasil, sendo esta localizada em Juiz de Fora, em Minas Gerais. Um outro marco de extrema relevância para o avanço da energia hidrelétrica presente em solo nacional ficou caracterizado por meio da inauguração da Usina de Itaipu, localizada na Foz do Iguaçu; essa instalação ocorreu em 1984. Durante muito tempo, essa barragem ficou denominada e caracterizada como a maior barragem do mundo, sendo Energias Renováveis 11 considerada a líder mundial quando o assunto é a produção de energia limpa e renovável, entre os anos de 1984 a 2020. Aspectos gerais da energia hidrelétrica Em resumo, a energia hidrelétrica é aquela que é produzida a partir da transformação da força da água em energia elétrica. Para que essa transformação aconteça, é necessário que sejam construídas infraestruturas hidráulicas capazes de extrair o máximo do potencial relativo a esse recurso de natureza renovável. Essa é a principal forma de energia utilizada no Brasil e a nível mundial é tida como a terceira fonte de energia mais importante. Diante disso, também é incentivada em decorrência do fato de ser renovável e ser considerada barata quando comparada com outras modalidades relativas à construção de hidrelétricas. Contudo, isso não implica dizer que ela está livre da promoção de impactos ambientais, tendo em vista que pode promover efeitos importantes tanto a nível ambiental quanto social, considerando que pode afetar a vida da população e de todos aqueles que vivem em sua proximidade. Cerca de 16% da energia elétrica é gerada por meio de usinas hidrelétricas, conforme informações colhidas da Agência Internacional de Energia. No Brasil, o abastecimento por meio dessa fonte de energia consiste em cerca de 67% da eletricidade que é gerada no país, levando em consideração os dados apresentados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No início do século XXI, cerca de 90% da matriz elétrica brasileira fazia menção à hidreletricidade. Com o passar do tempo e o avanço das tecnologias e das necessidades atreladas à população, surgiram fontes alternativas de produção de energia, como é o caso da biomassa. Nesse sentido, alguns aspectos importantes aconteceram ao longo da história para que essa diversificação se tornasse possível: • Em 1985 aconteceu a instalação de Angra I, sendo esta a primeira usina nuclear presente no Brasil, sendo que a partir desse momento teve início a sua operação comercial. Energias Renováveis 12 • Já em 1994 foi inaugurada a primeira usina de energia eólica, sendo que esta estava conectada ao Sistema Elétrico Integrado no país. Essa usina localiza-se na cidade de Gouveia, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. • Por fim, salienta-se que em 2011 houve a inauguração da primeira usina solar presente no país, sendo esta localizada no sertão do Ceará. O Brasil é um país propício ao desenvolvimento da produção de energia baseada na força da água. O motivo pelo qual a maior parte da energia se baseia nessa fonte de energia se relaciona ao fato de que o Brasil possui uma rede de drenagem densa banhando o seu território. Dessa forma, estão presentes em sua composição grandes rios, cachoeiras e grandes quedas d’água. As regiões do país que se destacam na presença de rios e quedas d’água e que são imprescindíveis para que a transformação da força de água em energia ocorra por meio do uso das usinas hidrelétricas, é o Sul e o Sudeste do país. Em decorrência disso, nessas regiões estão localizadas a maior quantidade de usinas hidrelétricas brasileiras, estando incumbidas pelo abastecimento do sistema nacional de energia. Mesmo que outras regiões do país, como é o caso do Norte, conte com a presença dos maiores rios localizados no território brasileiro, o relevo desses rios não é o suficiente e nem adequado para que sejam instaladas usinas hidrelétricas que se aproveitem do seu potencial e isso se dá por esses rios serem caracterizados por planícies, ou seja, não existem desníveis e nem declives que aumentem a força da água e tornem possível o processo de instalação e, consequentemente, de geração de energia. Nessa perspectiva, é importante que sejam destacadas algumas das principais vantagens e desvantagens associadas ao uso da energia hidrelétrica. Uma desvantagem relativa a essa produção de energia elétrica decorre do fato de que a construção das usinas hidrelétrica é cara. Ainda que o custo dessa produção de energia não seja elevado, quando se analisa Energias Renováveis 13 o consumidor final, verifica-se que esta é uma fonte de energia barata e que possui um baixo custo até mesmo ao chegar a seu consumidor. Diversos são os fatores que demarcam a importância e a relevância da energia hidrelétrica. Como já mencionado, essa é uma fonte de energia limpa e renovável, que não afeta a atmosfera, já que não emite gases do efeito estufa. A nível mundial, as duas primeiras posições no campo da produção de energia elétrica ainda pertencem à energia não renovável. Portanto, o terceiro lugar ser ocupado por uma fonte de energia renovável indica o quanto ela é importante para a proteção e a manutenção do meio ambiente. Mesmo que traga certas vantagens e promova a proteção do meio ambiente em alguns dos seus aspectos, isso não implica dizer que a energia hidrelétrica só vá trazer benefícios ao meio ambiente, mesmo que de forma indireta, afinal a construção dessas usinas gera prejuízos para flora e para a fauna da região que irão ficar alagadas. Conta como desvantagem a necessidade de que determinadas populações e grupos sejam realocadas com a intenção de que ocorra a construção de usinas, pois como essa implementação pode alagar determinados locais, a permanência da população nesses espaços poderá gerar desastres ambientais e sérios danos para a vida de tais pessoas. Além disso, é responsável por promover fenômenos atrelados ao desmatamento, bem como por promover as mudanças climáticas e por alterar tanto o curso quanto o nível natural dos rios em decorrência da instalação das usinas hidrelétricas. Como essa fonte de energia depende diretamente da água, quando esse recurso natural está enfrentando um período de escassez, como é característico dos períodos de seca, nesses momentos a produção energética irá cair e, consequentemente, haverá o aumento do preço pago e destinado ao último consumidor. Energias Renováveis 14 Como funciona a energia hidrelétrica? DEFINIÇÃO: Uma usina hidrelétrica gera energia elétrica através da transformação da energia potencial da água em energia elétrica. Essa transformação ocorre devido às turbinas elétricas, que possibilitam a passagem da água em velocidade (devido à queda d’água) em um caracol, como se fosse uma roda d’água, só que de uma maneira controlada. A cada turbina é conectado um gerador, geralmente uma máquina síncrona, responsável por transformar essa energia mecânica em energia elétrica. Basicamente, uma turbina é definida pela altura da queda d’água e vazão. Escolhemos o local de instalação de uma usina hidrelétrica por alguma cachoeira, desnível ou queda d’água já existente. Essa força potencial é que será a força motriz para movimentar a turbina que estará acoplada ao gerador. A parte onde a água fica represada é chamada de montante. A parte onde a água é despejada pelas comportas é chamada de jusante. Desse modo, o nível de água à montante é sempre mais alto do que o nível de água à jusante. Energias Renováveis 15 Figura 1 – Usina de Itaipu, onde a queda de água é de 118 metros. Fonte: Pixabay.A turbina faz movimentar o gerador, e um sistema de controle de velocidade e vazão faz com que esta velocidade seja constante. Essas regulações juntas são as responsáveis por manter a frequência constante em cada turbina e no sistema elétrico como um todo. A energia mecânica, devido ao fluxo da água, movimenta a turbina. Com a rotação da turbina, onde existem imãs, é criado um campo eletromagnético no estator que possui bobinas de cobre. Este campo magnético faz surgir uma corrente elétrica. A corrente elétrica em um circuito fechado produz uma tensão. Pronto: temos a transformação de energia mecânica em elétrica. Energias Renováveis 16 Figura 2 – Gerador da usina de Itaipu Fonte: Natureza brasileira (2022). No Brasil, as turbinas das principais hidroelétricas (Itaipu, Tucuruí, Ilha Solteira) são do tipo Francis, utilizadas em quedas acima de 60 metros. As turbinas Kaplan assemelham-se a uma hélice de navio e são usadas em quedas inferiores a 60 metros. Elas estão instaladas nas usinas de Jupiá, em Três Lagoas e Três Marias. As turbinas tipo bulbo não eram muito utilizadas até a construção das usinas do Rio Madeira (Santo Antônio e Jirau), onde foram instaladas. Estas turbinas são utilizadas para quedas bastante baixas e trabalham imersas no rio, apresentando a vantagem de requererem uma pequena área de alagamento. As usinas também podem ser classificadas quanto a seus reservatórios em: • Usina a fio d’água – não é utilizada para armazenamento de água, ou seja, a energia elétrica é gerada com a água existente no leito do rio. Esta usina não atua para regularizar as vazões do rio e seu impacto ambiental é menor do que as usinas com reservatório de acumulação. Exemplos de usinas a fio d’água são: Itaipu, Rio Madeira e Belo Monte. Energias Renováveis 17 • As usinas de acumulação, como o próprio nome nos diz, acumulam água na época da chuva para utilizarem no período seco e regulam a vazão do rio. Seu impacto ambiental é maior devido a maior área alagada. Exemplos de usinas de acumulação são: Ilha Solteira e Tucuruí. • Existem também as usinas reversíveis, que podem tanto gerar energia quanto ceder água para um outro reservatório ou para o enchimento de represas que abastecem companhias de fornecimento de água. No Brasil, este tipo de usina não é comum. Temos apenas a usina de Henry Borden (1ª usina instalada no país), que capta água do Rio das Pedras para gerar energia, ou pode enviar a água deste rio para abastecer a represa Billings, na região metropolitana de São Paulo. ACESSE: Assista ao vídeo da construção da usina de Itaipu, disponível aqui . (O Canal National Geographic escolheu as 7 obras de Engenharia mais desafiadoras do mundo e a construção desta usina foi uma das vencedoras). Será possível ver os problemas enfrentados na construção, o erro de Engenharia cometido no projeto (e sua solução) e as dificuldades superadas na construção de uma mega obra. Esta usina é a 2ª maior do mundo. A energia hidrelétrica é resultado da transformação da energia da água em movimento, sendo que esta passa a ser denominada como energia cinética. Todo esse processo acontece através das estruturas que fazem parte da usina hidrelétrica. Nessa perspectiva, as ferramentas de maior importância para esse processo são as turbinas e o gerador (figura 3). Energias Renováveis https://www.youtube.com/watch?v=hCqbPmqNWFo 18 Figura 3 – Gerador e turbinas Fonte: Wikimedia Commons. Por sua vez, os reservatórios das usinas são incumbidos por armazenar uma quantidade expressiva de água, sendo que esta contém aquilo que se denomina como energia potencial gravitacional. Dessa forma, quando a água sair do reservatório, ela irá entrar em alta velocidade, o que terá como resultado a movimentação das pás das turbinas. A partir desse momento, a energia potencial será convertida em energia cinética. Já a transformação de energia cinética em energia elétrica irá acontecer quando o movimento das turbinas acionar os geradores. Em seguida, a água que passou por todos esses processos será redirecionada para o rio por meio do escoadouro. Por sua vez, a eletricidade gerada será conduzida para a rede de distribuição, sendo incumbida pela transmissão Energias Renováveis 19 até o consumidor final, sejam casas, estabelecimentos comerciais, indústrias, entre outros. Legislações e energia hidrelétrica Temos que considerar a grande importância que a energia hidrelétrica exerce para o Brasil e o potencial elétrico que desempenha no âmbito do ordenamento jurídico brasileiro. Nesse sentido, a Lei nº 12.783, de 2013, destaca em seu artigo 1º o seguinte: Art. 1º A partir de 12 de setembro de 2012, as concessões de geração de energia hidrelétrica alcançadas pelo art. 19 da Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995, poderão ser prorrogadas, a critério do poder concedente, uma única vez, pelo prazo de até 30 (trinta) anos, de forma a assegurar a continuidade, a eficiência da prestação do serviço e a modicidade tarifária (BRASIL, 2013). Outra determinação importante e estabelecida por essa legislação, determina que: Art. 2º A outorga de concessão e autorização para aproveitamento de potencial hidráulico maior que 5.000 kW (cinco mil quilowatts) e inferior ou igual a 50.000 kW (cinquenta mil quilowatts), desde que ainda não tenha sido prorrogada e esteja em vigor quando da publicação desta Lei, poderá ser prorrogada a título oneroso, em conformidade com o previsto no § 1º-A. (BRASIL, 2016) Por sua vez, a Lei nº 14.052, de 2020, é a responsável por dispor acerca do risco hidrológico na produção de energia elétrica, bem como por promover mudanças no campo hidrelétrico para que se possam compensar os danos relativos à falta de chuva, tendo em vista que este é um impacto que afeta o abastecimento de energia hidrelétrica, já que precisa da força da água para que possa ocorrer o seu fornecimento. Essa legislação também apresenta disposição acerca do risco hidrológico. Nesses termos, as usinas estão obrigadas a produzir ao menos uma quantidade mínima de energia. Quando esse limite não for atingido, as hidrelétricas irão precisar pagar multa em decorrência do não atendimento dessa determinação. Salienta-se que existem exceções a essa regra, pois as hidrelétricas estarão isentas do pagamento de multa Energias Renováveis 20 quando o não atendimento do limite em questão decorrer de origem “não hidrológica”. Ainda no que se refere à multa em questão, fica determinado que o artigo 16-A da Lei nº 9.427, de 1996, irá vigorar da seguinte forma: Art. 16-A. A interrupção no fornecimento de energia elétrica pela empresa prestadora do serviço público de distribuição de energia elétrica, observado o disposto no § 1º, importa na aplicação de multa em benefício dos usuários finais que forem diretamente prejudicados, na forma do regulamento. § 1º A multa prevista no caput : I - será aplicável quando for superado o valor limite de indicadores de qualidade do serviço prestado; II - não será devida, entre outras situações a serem definidas na forma do regulamento: a) quando a interrupção for causada por falha nas instalações da unidade consumidora; b) em caso de suspensão por inadimplemento do usuário; III - estará sujeita a um valor mínimo e a um valor máximo; IV - poderá ser paga sob a forma de crédito na fatura de energia elétrica ou em espécie, em prazo não superior a 3 (três) meses após o período de apuração; V - não inibe a aplicação de qualquer outra penalidade prevista em lei. § 2º Deverão ser implantadas ferramentas que permitam a auditoria (BRASIL, 2020). Energias Renováveis http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9427cons.htm#art16a 21 RESUMINDO: Ao longo da presente aula, aprendemos que a energia hidrelétrica é aquela que é obtida por meio da força das águas. Essa conversão acontece no interior das usinas hidrelétricas.Nessa perspectiva, também aprendemos que existem vantagens e desvantagens associadas à utilização da energia hidrelétrica, e ainda que esta seja vista como a mais barata quando comparada as demais, e considerada como renovável e limpa, também é capaz de promover impactos tanto a nível ambiental quanto à sociedade. Salienta-se que a energia hidrelétrica é a modalidade de energia mais utilizada no Brasil e a terceira mais importante a nível mundial. Além disso, destinamos atenção para alguns dos aspectos gerais acerca do que pode ser compreendido como usinas hidrelétricas e das características atreladas a essas. Energias Renováveis 22 Capacidade de um reservatório OBJETIVO: Neste capítulo, você será capaz de estudar as vantagens deste sistema de geração, assim como seus desafios futuros. Então, vamos lá. Avante! Importância dos reservatórios Considerando o comportamento variável de vazões no rio, pode-se concluir que se nada for feito, apenas uma vazão muito pequena poderia ser usada na geração de energia. Se os aproveitamentos d’água fossem feitos com base unicamente nessa vazão, iriam se tornar, em geral, antieconômicos, pois grande parte da água disponível não seria utilizada. Em muitos casos, é conveniente que se armazene água de forma a permitir o uso mais constante de uma vazão média superior apenas àquela garantida pelo comportamento natural do rio. Isso é feito através de barragens de acumulação que permitem o armazenamento da água para uso em momentos mais convenientes. Tais barragens, obviamente, implicam, por um lado, em aumento de custos, mas por outro, em benefícios advindos do fato de se poder obter uma vazão média mais alta. Figura 4 – Barragens Fonte: Wikimedia Commons. Energias Renováveis 23 Do ponto de vista socioambiental, também podem ocorrer vantagens e desvantagens. Tais custos, benefícios, vantagens e desvantagens, entre outros aspectos, devem fazer parte da avaliação técnico-econômica e socioambiental de cada projeto. A vazão média obtida após a instalação da barragem no rio recebe o nome de vazão regularizada. O processo de armazenamento da água e obtenção da vazão regularizada recebe o nome de regularização do rio. Nesse sentido, cabe destacar que as barragens são de extrema importância, pois são as incumbidas pela formação da água no âmbito da sociedade e da população que se faz presente nesse cenário. Diante desse contexto, as barragens também servem como forma de auxiliar na produção de energia e ao mesmo tempo promover a disponibilidade hídrica presente no local em questão. Dentre outras funções das barragens, encontram-se questões como o amortecimento de cheias. Também é possível que se evitem certas inundações e que sejam promovidas contribuições para o âmbito do lazer e da navegação. As barragens são estruturas que promovem influências para a área em que estão localizadas, bem como para aquelas que estão presentes em suas proximidades rurais e urbanas. Assim como o ecossistema é afetado pelas bacias hidrográficas locais, também será afetado pelas barragens e para a localidade próxima a essa. As barragens são barreiras artificiais em que grandes quantidades de água ficam retidas, sendo estes denominados como reservatórios. Não é de hoje que são utilizadas tais barragens em proveito da sociedade. Assim, desde o início da civilização, são consideradas como fundamentais para o desenvolvimento da humanidade. Além de serem utilizadas com a intenção de combater a água nos períodos mais secos, também são destinadas à utilização de: • Acúmulo hídrico. • Geração de energia, quando vinculadas à hidrelétricas. • Direcionada para o depósito de rejeitos e resíduos. Energias Renováveis 24 • Diversos aproveitamentos podem ser efetuados no mesmo rio, e no caso de hidreletricidade, aproveitamentos de rios diferentes podem ser interligados por meio de rede elétrica. Dessa maneira, dois tipos de aproveitamentos podem ser desenvolvidos: • Aproveitamentos denominados a fio d’água, sem regularização de vazões (embora possam dispor ou não de reservatórios), usando a vazão primária do rio (vazão disponível, sem regularização, entre 90 e 100% do tempo). A energia associada a essa vazão recebe o nome de energia primária. • Aproveitamentos com regularização de vazão, nos quais se associa o nome de energia firme àquela energia que pode ser garantida durante quase todo o tempo. Para os aproveitamentos a fio d’água, a energia firme coincide com a energia primária. Qualquer que seja o tamanho do reservatório ou a finalidade da água acumulada, sua principal função é a de agir como um regulador, visando a regularização da vazão dos cursos d’água ou visando atender às variações da demanda dos usuários. Como a função primordial dos reservatórios é proporcionar acumulação, sua característica mais importante é a capacidade de armazenamento ou volume do reservatório. A capacidade dos reservatórios construídos em terrenos naturais é calculada, em geral, com base na altura máxima de operação do reservatório a partir do levantamento topográfico. Na ausência de bons mapas topográficos, há outros processos menos precisos de cálculo. Obtidos os dados relativos ao reservatório, pode-se traçar a curva Área X Altitude e a curva Capacidade X Altitude, que permite a obtenção da área inundada pelo reservatório em função do nível máximo d’água. Isto é uma parte fundamental no projeto da usina e tem grande importância, pois por meio dela, pode-se ter visualização preliminar de parte dos impactos ambientais e sociais provocados pela obra executada (população deslocada, inundação de áreas históricas e sítios arqueológicos, inundação de belezas naturais). Energias Renováveis 25 O nível normal dos reservatórios é a cota máxima até a qual as águas se elevarão em condições normais de operação. O nível mínimo dos reservatórios é a cota mínima até a qual as águas baixam em condições normais de operação. Em caso de usinas hidrelétricas, esse nível é determinado pelas condições operacionais de melhor rendimento das turbinas. O volume armazenado entre os níveis normal e mínimo é denominado volume útil do reservatório e tem como principais funções a capacidade de acumulação de água para atenuação de cheias. A caudalidade indica a capacidade de água que pode ser fornecida pelo reservatório em determinado período de tempo. Esse período pode variar de um dia (para pequenos reservatórios de distribuição) a um ano (para grandes reservatórios de acumulação). Desse modo, a caudalidade pode ser dada tanto em km³ por ano como em m³ por dia. A caudalidade de um reservatório pode variar a cada ano (ou a cada período) porque depende das vazões de entrada, as denominadas vazões afluentes. É denominada vazão firme a vazão máxima que pode ser garantida durante um período crítico de estiagem, ou, de outro ponto de vista, aquela vazão que pode ser garantida praticamente durante todo um período em que a operação desse aproveitamento não se altera. Considerando- se que os sistemas, assim como as estratégias operativas, evoluem, o valor dessa vazão varia ao longo do período de vida útil do reservatório. Devem-se, portanto, utilizar recursos probabilísticos para determinar o valor da vazão com maior precisão. Determinação da capacidade de reservatórios pluviais Para a determinação da capacidade de reservatórios, deve ser feita uma análise operacional, ou seja, deve-se simular as operações do reservatório durante um certo período. Essa análise pode ser feita apenas em um período de estiagem extrema ou em um período completo, quando se dispõe de mais dados fluviométricos. No primeiro caso, o estudo se restringe apenas à determinação da capacidade suficiente para suportar a seca de projeto; no segundo caso, Energias Renováveis 26 o estudo avalia o volume de água (energia) aproveitável em cada um dos anos. Um estudoainda mais completo pode ser feito para indicar a probabilidade de maior ou menor escassez de água, o que constitui um fator importante no planejamento econômico e na inserção do projeto em um sistema integrado. Produção de energia elétrica O ser humano descobriu, desde épocas imemoriais, que a força da água resultante de um desnível do terreno por onde ela passa, produz uma energia capaz de realizar trabalho, e que este trabalho tanto pode ser destrutivo como construtivo. Assim, desde a construção dos equipamentos mais simples, como o monjolo e a roda d’água, até a tecnologia atual de grandes turbinas hidráulicas, o homem aprendeu a dominar a força da água e a transformá-la para seu benefício. A pequena potência gerada pelo monjolo e pela roda d’água era capaz de produzir trabalho suficiente para a trituração de grãos alimentícios. O desenvolvimento tecnológico ao longo do tempo chegou ao seu auge com a construção de um equipamento, a turbina hidráulica, capaz de transformar a energia cinética e potencial da água em energia mecânica, que é, então, transformada em energia elétrica por meio de geradores elétricos, que nada mais são do que conversores eletromecânicos de energia. Nos dias de hoje, a grande potência que pode ser gerada por uma turbina hidráulica é capaz de abastecer a iluminação e o consumo de cidades inteiras. Como consequência, a potência de um aproveitamento hidrelétrico depende diretamente da magnitude da queda d’água (energia potencial) e da vazão de água passando pela turbina (energia cinética). Essa vazão, medida em metros cúbicos por segundo (m³/s), recebe o nome de vazão turbinada. A análise energética de um aproveitamento hidrelétrico permite verificar que a potência elétrica possível de ser obtida é dada por: P = ηror x g x Q x H Energias Renováveis 27 Em que: • ηror é o rendimento total do conjunto, considerando as perdas em todas as estruturas que estão no circuito hidráulico e equipamentos da usina que estão no circuito de energia. • g é a aceleração da gravidade: 9,81 m/s². • Q é a vazão (m³/s). • H é a queda bruta (m). • P é potência elétrica (kW). O valor da vazão turbinada e suas características ao longo do tempo estão relacionados com o regime fluvial do rio onde se localiza a usina, o tipo de aproveitamento (que pode ser a fio d’água ou com reservatório de regularização), a regularização da vazão (se existente) e com um cenário que considere as outras formas de utilização da água. Se o aproveitamento for totalmente voltado à produção de energia elétrica, toda a vazão regularizada poderá ser turbinada. Já em um aproveitamento que contemple outros usos d’água, como irrigação, navegabilidade e geração de energia elétrica, por exemplo, a vazão turbinada poderá ser apenas parte da vazão regularizada total. Figura 5 – Vazão da água em barragem Fonte: Wikimedia Commnos. Energias Renováveis 28 O regime fluvial natural do rio, que determina a vazão que pode ser utilizada para gerar energia elétrica, é bastante variável, dependendo de diversos fatores, entre eles o regime pluvial da bacia hidrográfica a qual pertence. Nesse contexto, as centrais hidrelétricas podem utilizar apenas a vazão mantida pelo rio a maior parte do tempo, nas centrais denominadas “a fio d’água”, ou a vazão resultante de regularização por meio de reservatórios. Centrais hidrelétricas “a fio d’água” são aquelas que não têm reservatório de acumulação ou cujo reservatório tem capacidade de acumulação insuficiente para que a vazão disponível para as turbinas seja muito diferente da vazão estabelecida pelo regime fluvial. Nessas condições, podem estar situadas as centrais de pequeno porte, tais como mini hidrelétricas (e também micro hidrelétricas) com potências iguais a ou menores que 1MW; parte das pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que são centrais com potência de até 30MW; assim como centrais de grande porte, que utilizam tecnologias específicas, como no caso das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, onde se utilizam turbinas do tipo bulbo. Há também usinas hidrelétricas com reservatório de acumulação, que operam a maior parte do tempo “a fio d’água”, ou seja, sem utilizar sua capacidade de regulação e turbinando a vazão estabelecida pelo projeto, como é o caso da usina de Itaipu. Centrais hidrelétricas que efetuam regularização da vazão, por sua vez, estão associadas à construção de reservatórios que permitem o armazenamento da água e o controle da vazão, e até mesmo a obtenção de uma vazão constante durante certo período. Essa vazão é garantida pelo armazenamento de água durante o período de chuvas, para encher o reservatório, que será esvaziado durante o período de seca (ou de poucas chuvas). O reservatório resulta da construção de uma barragem, cuja altura determina a área inundada pela usina e o volume da água contida no próprio reservatório. O máximo volume teórico efetivo de um reservatório seria aquele que permitisse a obtenção de apenas uma vazão regularizada durante o período de análise, utilizando toda a água que passasse no Energias Renováveis 29 local onde está construída a barragem. Qualquer volume maior que esse máximo teórico não aumentaria a vazão regularizada e seria menos econômico em razão da maior altura da barragem. Na prática, pelos aspectos técnicos e econômicos, na definição da melhor altura da barragem, sempre foram considerados critérios que geralmente resultaram em dimensionamento menor que o correspondente ao maior volume teórico. O aumento da importância dos aspectos sociais e ambientais tem enfatizado ainda mais a importância do compromisso entre a altura da barragem, os limites relacionados com a área inundada e o volume do reservatório, o que tem conduzido a projetos com regularização parcial (diferentes vazões regularizadas em diferentes períodos) e, consequentemente, a menores áreas inundadas e volumes. Além de aspectos sociais e ambientais específicos, o uso múltiplo das águas deve ser considerado no estabelecimento dos limites de área inundada e volume. Além disso, o conjunto possível de vazões regularizadas pode ser avaliado pelo desempenho da usina no sistema elétrico interligado, que permite maior flexibilidade operativa na utilização dos diversos aproveitamentos ao ser usado como “circuito hidráulico virtual”. A região Norte possui um potencial de 111.396MW, dos quais somente 8,9% são aproveitados. Já a região Nordeste possui um potencial de 26.268MW, dos quais só 40,4% são aproveitados. A região Sudeste/ Centro-Oeste possui 78.716MW de potencial hidroelétrico, sendo que 41% é aproveitado face 42.030MW da região Sul, onde são aproveitados 47,8%, conforme pode ser visto na figura 6. Energias Renováveis 30 Figura 6 – Potencial hidroelétrico por região brasileira. Amazônica 57,3 MW A explorar Explorado Toc-Araguaia 22,8 MW Atl. Leste 2,9 MW Atl. Sudeste 9 MW Paraná 42,8 MW Uruguai 14,6 MW Paraguai 2 MW São Francisco 13,7 MW Parnaíba 0,9 MW Atlântico Sul 6,3 MW Fonte: Tolmasquim (2016) | Freepik.. As primeiras centrais hidrelétricas do mundo foram construídas como aproveitamentos de quedas naturais já existentes no curso dos rios onde foram instaladas. No Brasil, o primeiro aproveitamento hidrelétrico para atendimento público, considerado também a primeira central elétrica da América do Sul, denominada Marmelos, foi construída no ano de 1.889 para atendimento da cidade de Juiz de Fora, com a potência de 250KW. Nessa época, a geração de energia elétrica tinha basicamente o objetivo de suprir iluminação residencial e iluminação pública. A energia elétrica para acionamento de motores só ocorreu mais tarde, com o avanço tecnológico. Energias Renováveis 31 No Brasil, o conceito de usina hidrelétrica (UHE) compreende usinas geradoras de energia com mais de 30MW de potência instalada. Usinas compotência entre 3MW e 30MW são consideradas PCHs; usinas com potência inferior a 75kW até 3MW de potência instalada são chamadas de minicentrais hidrelétricas. Essas últimas podem ser utilizadas com geradores do tipo assíncrono, que são máquinas mais acessíveis do ponto de vista econômico, mas que, por motivos técnicos, não podem ser utilizadas em grandes usinas. Conhecer essa classificação é importante, uma vez que as leis e regulamentações existentes, estabelecidas tanto pela Aneel como pelos órgãos e entidades ambientais, seguem essa divisão estabelecida de acordo com a potência instalada. Para a Aneel, um dos pontos mais importantes é o aproveitamento integral das quedas d’água existentes ao longo do rio. Assim, o rio é dividido em quedas d’água aproveitáveis para a construção de usinas, e cada usina aproveita o máximo da queda d’água do seu local de instalação. Com relação aos reservatórios, aqueles de maior porte, associados a maiores problemas socioambientais, são usualmente encontrados nas grandes e médias centrais. Em alguns casos, as PCHs também podem apresentar reservatórios, mas bem menores. Além de possível retirada de água para irrigação, as centrais hidrelétricas contêm vertedouros que permitem extravasar a água acima de certo limite, quando necessário, de forma similar ao “ladrão” da caixa d’água; comportas que propiciam o desvio da água para que ela não passe pelas turbinas; eclusas que facilitam a navegação fluvial; e escadas de peixes que permitem a piracema. Esses melhoramentos contribuíram muito para que o impacto ambiental da instalação de uma hidroelétrica fosse reduzido. A determinação das melhores características de um reservatório depende de diversos fatores, que incluem os apontados anteriormente, relacionados com a hidrologia, o dimensionamento mecânico e elétrico, o desempenho no sistema elétrico interligado, os requisitos ambientais e sociais e os usos múltiplos da água. Energias Renováveis 32 RESUMINDO: Ao longo do presente capítulo, fomos capazes de aprender qual é a relação que se firma entre as barragens e as usinas hidrelétricas. Além disso, aprendemos que a importância das barragens, entre outros motivos, se dá, pois são os incumbidos pela formação dos reservatórios de água para a sociedade, além disso também promovem vantagens para a comunidade que estão presentes e localizadas em sua proximidade. Entre outras contribuições trazidas pelo reservatório, é importante que se mencione que as barragens e, consequentemente, os reservatórios, são capazes de auxiliar e promover o aumento na geração de energia e disponibilidade das condições hídricas de um determinado ambiente. Também estudamos como se dá a produção de energia relacionada a tais reservatórios e quais são os aproveitamentos que derivam dos rios. Energias Renováveis 33 Tipos e configurações das usinas OBJETIVO: Neste capítulo, você será capaz de estudar as vantagens deste sistema de geração, assim como seus desafios futuros. Então, vamos lá. Avante! Usinas Hidrelétricas Em uma central hidrelétrica, a água aciona uma turbina hidráulica que movimenta o rotor de um gerador elétrico para produção de energia elétrica. A água utilizada, identificada pela sua vazão (m³/s), pode ser totalmente liberada pelo aproveitamento – com reservatório de acumulação ou não – ou liberada apenas em parte, nos casos em que a geração de energia elétrica é apenas um dos componentes do uso múltiplo da água. A turbina hidráulica efetua a transformação da energia hidráulica em mecânica. Seu funcionamento, conceitualmente, é bastante simples: é o mesmo princípio da roda d’água que, movimentada pela água, faz girar um eixo mecânico. O gerador elétrico tem seu rotor acionado por acoplamento mecânico com a turbina e transforma energia mecânica em elétrica em razão das interações eletromagnéticas ocorridas em seu interior. Em geral, são usados geradores síncronos, porque os sistemas de potência devem operar com frequência fixa (controlada como constante. No Brasil essa frequência é igual a 60 Hz). Para controlar a potência elétrica do conjunto, são usados reguladores: • De tensão, que controlam a tensão nos terminais do gerador, atuando na tensão aplicada (e, portanto, na corrente) no enrolamento do rotor (enrolamento de excitação). • De velocidade, que controlam a frequência por meio da variação de potência, atuando na válvula de entrada de água da turbina. Energias Renováveis 34 Diante do exposto, enfatiza-se que existe uma classificação relativa as usinas hidrelétricas, assim essa classificação decorre em decorrência dos seguintes fatores: • Altura da queda d’água. • Vazão. • Capacidade ou potência instalada. • Barragem. • Reservatório. • Turbina. O relatório pertencente à Agência Nacional de Energia Elétrica e ao Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas, define três alturas relativas à queda d’água, sendo elas: 1. Baixa – até 15 metros. 2. Média – 15 a 150 metros. 3. Alta – superior a 150 metros. Destaca-se que essas medidas servem como média, mas nem todos as entendem como um padrão a ser adotado, por isso são medidas não consensuais. Ainda no que se refere às usinas e ao seu tamanho, destaca-se que o porte da usina será o fator responsável por dispor o tamanho da rede de distribuição incumbido por levar a energia elétrica até os consumidores, então, quanto maior for a usina hidrelétrica, mais chances elas têm de estarem localizadas em canto afastado dos grandes centros urbanos. Assim, para que a energia dessas usinas chegue até tais centros urbanos, é imprescindível que sejam construídas grandes linhas de transmissão e essas irão atravessar estados e poderão causar perdas de energia consideráveis caso tais fatores não sejam atendidos. Energias Renováveis 35 Principais componentes da central hidrelétrica A finalidade de cada um dos principais componentes de uma central hidrelétrica é descrita a seguir. Figura 7 – Componentes de uma usina hidroelétrica. Usina Hidrelétrica Reservatório Canal Duto Rio Cassa de força Gerador Turbina Linha de disribuição de energia Fonte: freepik (editado). As barragens têm como principais finalidades: • Represar a água para captação e desvio. • Elevar o nível d’água para aproveitamento elétrico e navegação. • Represar a água para regularização de vazões e amortecimento de ondas de enchentes. A central hidrelétrica em desvio, como diz o próprio nome, baseia- se no desvio d’água em certo local do rio – associado ao nível de montante, para produção de energia elétrica e retorno d’água ao rio em local com menor altitude – associado ao nível de jusante. De forma geral, tal configuração é mais utilizada para centrais de pequeno porte, as PCHs. Energias Renováveis 36 Esse diagrama apresenta a turbina e o gerador acoplados mecanicamente pelo eixo, no qual se desenvolve a potência mecânica (Pmec). Temos também dois reguladores fundamentais para a operação e o controle da central: o regulador de tensão e o de velocidade (controlador da frequência). Além das usinas a fio d’água e das com reservatórios de regularização de vazões, devem ser citadas as usinas reversíveis. A escolha do melhor tipo de barragem para uma determinada seção é um problema tanto de viabilidade técnica como de custo. A solução técnica depende do relevo, da geologia e do clima. O custo dos vários tipos de barragens depende principalmente da disponibilidade de materiais de construção próximo ao local da obra e da acessibilidade de transportes. Há diferentes tipos de barragens – de gravidade, em arco e de gravidade em arco – cuja avaliação e escolha são efetuadas por meio de considerações técnicas e econômicas, afeitas principalmente à engenharia civil. As grades, antes da entrada no caracol, impedem a queda de peixes no turbilhão do gerador e também é uma inovação tecnológicaque surgiu com a maior conscientização ambiental de preservação da vida dos animais aquáticos. A casa de força são os locais de instalação de turbinas hidráulicas, geradores elétricos, reguladores, painéis e outros equipamentos do sistema elétrico de geração. As configurações das casas de força variam largamente e dependem também do tipo de turbina escolhida. Para que possamos compreender melhor o que são e a importância dos componentes que estão presentes na central hidrelétrica, é comum que termos como represa, barragem e usina sejam tratados de forma igual, porém, cada um deles possui uma realidade específica e um momento mais adequado a ser aplicado. • Barragem – são compreendidas como a infraestrutura presente no campo da obra civil, assim, dentre as suas principais características estão questões como a altura das fundações, o comprimento de coroação e o volume de concreto. Energias Renováveis 37 • Represa – esse é o instrumento incumbido pelo armazenamento de água. A sua real situação irá depender de variáveis como o nível da água e o volume armazenado. • Usina – as usinas são as construções em que se encontram os grupos de geração. Existem duas magnitudes básicas voltadas para a atribuição de uma definição relativa à usina hidrelétrica: a primeira faz menção ao salto e a segunda ao caudal. Tipos de usinas hidrelétricas Existem três tipos principais de usinas hidrelétricas: o primeiro é denominado como usinas a fio d’água; o segundo são as usinas com reservatório e, por fim, há as usinas reversíveis ou de bombeamento. As usinas a fio d’água serão aquelas em que o funcionamento da usina irá se adaptar de forma integral, e a qualquer momento o regime de caudais irá correr pelo fluxo do rio, sem que sejam promovidas alterações nesse âmbito. As usinas hidrelétricas dessa natureza não são dotadas de uma capacidade de caráter significativo de armazenamento, assim, possuem funcionamento contínuo e variável durante o ano. Diante disso, a energia produzida nem sempre será capaz de atender todas as necessidades cabíveis para a demanda elétrica. Já no que faz menção às usinas com reservatório, destacam-se que essas fazem menção a possibilidade do armazenamento de água e o seu funcionamento regular com a intenção de que sejam atendidas as necessidades vinculadas a gestão da demanda. Diante disso, a sua capacidade de armazenamento será obtida por meio das represas que se encontram situadas na usina, assim, dependendo de sua capacidade, estarão presentes aspectos como a sua regulação sazonal, anula e até mesmo hiperanual. Por fim, uma última classificação de usinas hidrelétricas é denominada como usinas reversíveis ou de bombeamento. Tais instalações geram energia ao mesmo tempo em que são capazes de promover o acúmulo de energia elétrica bombeando água para uma represa superior. Energias Renováveis 38 Especificação das turbinas Os quatro tipos de turbinas mais utilizadas em usinas hidroelétricas são a Pelton, a Francis, a Kaplan e a Bulbo. A escolha da turbina depende de dois parâmetros: a queda e a vazão de água. Simplificadamente, podemos dizer que a turbina Pelton é mais utilizada em grandes quedas; por exemplo, na Usina de Henry Borden, que possui uma queda de cerca de 700 metros. A turbina Francis é utilizada em quedas médias, que vão de 40 a 500 metros, como a utilizada na Usina de Ilha Solteira (queda de 41,5 metros). Já a turbina Kaplan é utilizada em quedas baixas, como a Usina de Jupiá, com uma queda de 21,3 metros. Atualmente, para quedas baixas, utiliza-se a turbina Bulbo como as que foram usadas no rio madeira. Estas informações podem ser obtidas diretamente na figura 8. Figura 8 – Faixas de aplicação dos diversos tipos de turbinas. Fonte: ANEEL (2022). A rotação específica da turbina é dada pela seguinte fórmula: Energias Renováveis 39 Em que a rotação é dada em rps (rotações por segundo). • n é a rotação da turbina. • Q é a vazão (m3/s). • H é a queda. • g é a gravidade. Na turbina Pelton, utilizada em grandes quedas, a energia é produzida pela alta velocidade dos jatos de água que incidem tangencialmente sobre suas pás. Conceitualmente, são similares às famosas rodas d’água. As demais turbinas desenvolvem potência pela combinação da ação da pressão constante da água e de sua velocidade. São chamadas de turbina de reação. A escolha e o projeto de uma turbina são pontos muito importantes do desenvolvimento de uma central hidroelétrica. Envolvem análise e estudo de fenômenos relativamente complexos, como desempenho dinâmico da água, turbilhonamento, cavitação (quando a água corrói o material de que é feito a turbina pelo atrito). A principal vantagem das turbinas bulbo que trabalham imersas no rio, deve-se ao fato do alagamento quase não existir, ou seja, ela reduz os impactos ambientais. Hidrelétricas no mundo As hidrelétricas são de extrema importância tanto a nível nacional quanto internacional, tendo em vista que no mundo a energia elétrica produzida pelas usinas hidrelétricas ocupa o terceiro lugar. Nesse contexto, as cinco maiores usinas hidrelétricas presentes no mundo são: 1. Três Gargantas, China (22.500MW) – essa usina demorou 19 anos para ser construída e a sua conclusão aconteceu em 2012, sendo considerada a maior usina hidrelétrica a nível mundial, responsável Energias Renováveis 40 por abastecer nove províncias e duas cidades, estando entre elas, Xangai. 2. Itaipu, Brasil e Paraguai (14.000MW) – durante cerca de duas décadas, essa foi considerada a maior usina do mundo, perdendo essa colocação no ano de 2012 para a usina localizada na China. Ela pertence a dois países, por isso é binacional e é a incumbida por atender cerca de 15% da demanda energética presente no país e 93% da relativa ao Paraguai. 3. Xiluodo, China (13.860 MW) – também localizada na China, foi concluída em 2014, e é a responsável por fornecer eletricidade para o leste e para o centro da China. Também atende Sichuan e Yunnan. 4. Belo Monte, Brasil (11.233MW) – a obra de instalação dessa usina contou com a participação da OEC. Diferentemente de Itaipu, essa usina é 100% brasileira e está localizada no Pará. Ela refere-se ao tipo de usina hidrelétrica denominada como fio d’água. Foi construída com a intenção de preservar e garantir a sustentabilidade com o objetivo de que houvesse a redução de qualquer tipo de impacto ambiental. Figura 9 – Usina hidrelétrica de Belo Monte Fonte: Wikimedia Commons. Energias Renováveis 41 5. Guri, Venezuela (10.200MW) – essa usina está localizada na Venezuela e é dotada de 7.426 metros de comprimento e 162 metros de altura. A sua construção teve fim por volta de 1986, sendo esta usina incumbida por todo o abastecimento de energia presente em seu país. Salienta-se que essas não são as únicas usinas hidrelétricas presentes no mundo, mas apenas aquelas que são as maiores a nível mundial e que, portanto, merecem maior destaque. Hidrelétricas no Brasil No Brasil existem diversas usinas hidrelétricas. Nesse sentido, destaca-se que as principais usinas hidrelétricas presentes no território são: 1. Usina hidrelétrica de Itaipu. 2. Usina hidrelétrica de Belo Monte. 3. Usina hidrelétrica São Luíz do Tapajós. 4. Usina hidrelétrica de Tucuruí. 5. Usina hidrelétrica de Santo Antônio. 6. Usina hidrelétrica de Ilha Solteira. 7. Usina hidrelétrica de Jirau. 8. Usina hidrelétrica de Xingó. 9. Usina hidrelétrica de Paulo Afonso IV. 10. Usina hidrelétrica Jatobá. Usina de Itaipu A usina de Itaipu é uma usina binacional, ou seja, pertence ao Brasil e ao Paraguai (50% para cada país). Ela foi construída sobre as cataratas do Iguaçu, na foz do Rio Paraná. O sistema brasileiro utiliza a energia na Energias Renováveis 42 frequência de 60Hz, ao passo que o sistema paraguaio utiliza a frequência de 50Hz no seu sistema de potência. O Brasil compramensalmente quase toda a energia gerada pelo Paraguai (compramos mais de 90% da usina produzida pelos paraguaios). Para podermos utilizar esta energia, precisamos transformar a frequência de 50 para 60Hz. Isto somente pode ser feito através de um elo CC (Corrente Contínua). Figura 10 – Usina hidroelétrica Itaipu Binacional Fonte: Wikimedia Commons. A energia gerada pelo Paraguai em corrente alternada e vendida ao Brasil, é transformada em corrente contínua e transmitida até a subestação de Tijuco Preto (em São Paulo), onde é novamente transformada em corrente alternada, mas agora na frequência de 60Hz, ou seja, nas condições do mercado brasileiro. Este foi somente um dos muitos desafios vencidos no projeto e construção desta usina. Suas dimensões e parâmetros são impressionantes. A usina de Itaipu sozinha alimenta mais de 20% da energia consumida no Brasil. Nas vezes em que ocorreram problemas de geração nesta usina, e ela foi retirada de operação, o Brasil como um todo sentiu a falta de Energias Renováveis 43 energia, pois como o nosso sistema é interligado, nossa reserva técnica não é capaz de suportar a saída de uma fonte tão importante. A China está construindo uma usina maior que Itaipu chamada de três Gargantas, que será a maior usina do mundo. RESUMINDO: Ao longo do presente capítulo, pudemos entender que as usinas hidrelétricas podem ser compreendias como o conjunto de obras e de equipamentos que são utilizados com a intenção de que a energia elétrica seja gerada através do potencial hidráulico pertencente a um rio. Diante disso, destaca-se a existência de dois tipos de reservatório: o relativo à acumulação e aos fios d’água. No que se refere à classificação das usinas hidrelétricas, aprendemos que estas levam em consideração fatores como a altura da queda d’água, a vazão, a capacidade ou a potência instalada. Também são considerados aspectos como a turbina utilizada, a barragem e as características vinculadas ao reservatório. Também aprendemos aspectos importantes acerca da usina de Itaipu. Energias Renováveis 44 Vantagens e desvantagens da geração hidroelétrica OBJETIVO: Neste capítulo, você será capaz de compreender as vantagens e desvantagens da geração hidroelétrica. Então, vamos lá. Avante! Usinas Hidrelétricas e seus impactos As usinas hidroelétricas devem possuir um projeto muito bem estruturado e que englobe as oscilações sazonais de níveis d’água, principalmente para garantir a estabilidade das encostas, evitando escorregamentos ou deslizamentos de terra nas margens dos lagos formados. Também devem ser consideradas as tendências de assoreamento dos reservatórios para que possam ser avaliadas as características do curso d’água e dos materiais e da formação geológica do leito. Com esses dados, devem ser tomadas providências para se evitar o assoreamento das encostas perto da barragem. No projeto também devem ser tomados todos os cuidados para que a navegação não seja afetada, ou deve ser considerada a inclusão de eclusas nas barragens, como existe em várias usinas dos rios Tietê e Paraná (aliás, essas eclusas tornaram os rios navegáveis, obtendo um caminho alternativo para o escoamento da safra). Energias Renováveis 45 Figura 11 – Usina Bariri no Rio Tietê Fonte: Wikimedia Commons. Um exemplo de erro de projeto que não levou estes dados em consideração é a Usina de Ilha Solteira (este nome foi dado porque o projeto não foi bem calculado e na hora da formação do lago sobrou uma ilha na represa). Os locais que serão inundados devem ser analisados rigorosamente. Muitas usinas hidroelétricas inundaram depósitos de argila utilizados como fonte de renda por moradores locais. As águas subterrâneas devem ser analisadas com cuidado, para que não afetem a formação do reservatório. Quando um lago é formado, ocorre a elevação de muitas nascentes e este fato pode afetar produtores agrícolas locais. O impacto ambiental também deve considerar se a área a ser alagada é proveniente de agricultura com o uso intensivo de agrotóxicos, pois estes produtos podem afetar a qualidade da água da represa e causar mortalidade de peixes. Os impactos esperados sobre os solos estão ligados ao conjunto das obras de engenharia, tais como instalação do canteiro de obras, abertura das estradas de serviço, áreas de empréstimo e deposição Energias Renováveis 46 de descartes, estrada de interligação das usinas e finalmente a própria formação da represa. O projeto com maior impacto ambiental foi a construção da usina de Balbina, no Amazonas. Esta usina possui um imenso reservatório; este lago inundou a vegetação da floresta Amazônica, ou seja, as árvores não foram retiradas antes da formação do lago, fazendo com que esta usina emitisse tanto gás metano como uma usina de carvão. Figura 12 – Usina Balbina Fonte: Wikimedia Commons. Deve ser feito um trabalho detalhado de catalogação da flora a ser inundada, para que estas espécies possam ser replantadas em outras áreas, ocorrendo, assim, a preservação do ecossistema local. As comunidades locais que serão inundadas devem ser removidas e indenizadas com valores justos, assim como a usina deve ressarcir as cidades afetadas e construir obras de infraestrutura que melhorem a vida da população local. Geralmente as obras de construção de uma usina hidroelétrica atrai verdadeiras multidões de trabalhadores em busca de novas oportunidades, o que faz com que as cidades próximas a esta usina sofram verdadeiros “booms” populacionais. Energias Renováveis 47 Vantagens das hidroelétricas Certas características das usinas hidroelétricas são muito importantes, pois servem de subsídio para o planejamento de expansão de geração e para a operação adequada dos sistemas de potência. Essa é a razão por dizermos que esta é a forma de energia mais barata do mundo, porque ela pode ser moldada conforme a carga do sistema aumenta. Apesar da produção de energia elétrica poder ser limitada pelos usos múltiplos da água, como por exemplo, irrigação, navegação, controle de inundações e suprimento de água, estas usinas, ao contrário das centrais termoelétricas (que geram energia de uma forma quase estável devido às perdas por calor), podem facilmente: • Aumentar a potência de pico, ampliando a quantidade de água que passa pela turbina. • Aumentar a produção total de energia, realizando um correto gerenciamento dos reservatórios (o Brasil já faz isto – a água escoada por um reservatório gera energia na próxima usina). Infelizmente, devido às mudanças climáticas, esta vantagem competitiva das hidroelétricas está se esvaindo, porque atualmente a previsão das chuvas está contrariando as previsões históricas, ou seja, o nível dos reservatórios está sendo fortemente afetado pelas mudanças climáticas, dificultando o aumento na produção de energia da forma rápida com que era feita no passado com os reservatórios cheios. As usinas hidroelétricas também providenciam reserva girante para situações de emergência ocorridas no sistema, ou seja, elas que suprem os picos de demanda. Como nossas usinas geram grandes quantidades de energia, elas apresentam economia de escala, ou seja, esse custo marginal do aumento da capacidade de geração é mínimo graças aos lagos que formam a maioria de nossas hidroelétricas. Com a entrada de pequenas centrais de energia, o sistema brasileiro também passou a ter uma maior flexibilidade para mudar rapidamente a quantidade de energia gerada. Elas são acionadas em eventos importantes, como a transmissão de uma final de copa do mundo, as olímpiadas, uma Energias Renováveis 48 final de novela ou em dias muito quentes. Assim, podemos atender essa demanda extra sem maiores complicações. As usinas hidroelétricas garantem a energia firme ao sistema (aquela energia que é pré-contratada com segurança baseada no hábito de consumo anterior do consumidore do aumento de crescimento do país. Como todo o ciclo hidrológico de água doce do mundo é resultado da precipitação e da evaporação das águas dos mares, lagos e rios, o processo dessa transferência de água é melhor supervisionado com a instalação de represas. Antes da instalação das usinas, as cheias dos rios ocorriam sem o controle humano, o que provocava muitas perdas e prejuízos na agricultura e em cidades ribeirinhas. Agora, as pessoas podem ser avisadas e retiradas a tempo caso ocorra uma cheia excessiva, e os ciclos normais de cheias dos rios são amplamente conhecidos e divulgados. Outra vantagem das represas é o constante monitoramento da qualidade da água feito pelas barragens, o que pode detectar eventuais contaminações e problemas, inclusive com a fauna local. Acidentes que demoravam muito tempo para serem percebidos, agora, graças ao monitoramento feito nas barragens, isto ocorre quase que instantaneamente. Desvantagens relativas às energias hidrelétricas Sabemos que diversos são os aspectos relativos às usinas hidrelétricas e que muitos são os benefícios referentes a essa modalidade energética. As usinas hidrelétricas são dotadas de força de produção de energia limpa, assim, as unidades são incumbidas por proteger o meio ambiente em certos aspectos e de promover prejuízo a ele quanto a determinadas temáticas. Nesse sentido, entre algumas das principais desvantagens das usinas hidrelétricas, menciona-se: Energias Renováveis 49 • A população é afetada pela instalação das usinas hidrelétricas, sendo esse um aspecto visto com maior clareza quando se observa grupos tradicionais, principalmente ribeirinhos, indígenas e quilombolas, que se encontram localizados próximos de rios. • Diretamente não emitem gases do efeito estufa, mas de forma indireta, podem promover a intensificação dos gases relativos ao aquecimento global, como é o caso do dióxido de carbono e do metano, e isso ocorre em decorrência da decomposição de matéria orgânica que pode estar vinculada à instalação das usinas hidrelétricas e daquilo que foi afogado por esse mesmo motivo. • Há supressão da vegetação nativa por meio do alagamento de grandes áreas de floresta que são afetadas pela construção das barragens. • Promove o desequilíbrio do ecossistema em razão da transformação das dinâmicas ambientais e das alterações quanto aos seus recursos naturais; tanto o solo quanto o ar e a água são afetados. • Os problemas relativos ao assoreamento dos rios podem ser intensificados. Dessa forma, tanto o fluxo natural da água do rio e dos processos hidrológicos podem ser afetados. • Os animais presentes no local em que as usinas estão sendo instaladas também podem ser afetados. Diferentemente dos humanos que podem se locomover para outras localidades, nem todas as espécies animais podem ser realocadas, por isso pode ser que ocorra a extinção de espécies, sendo que as mais atingidas são aquelas referentes à modificação do fluxo de água dos rios. Energias Renováveis 50 SAIBA MAIS: As hidrelétricas são incumbidas por promover desvantagens em seu cenário de inserção. Como exemplo, podem impulsionar e acelerar o desmatamento indireto na Amazônia. Como prova disso e para ampliar o seu conhecimento, faça a leitura da notícia no link disponível aqui. Nesse sentido, pudemos aprender que a flora e a fauna podem ser severamente afetadas pela introdução das usinas hidrelétricas em determinadas regiões. Focando no quanto esses dois aspectos podem ser atingidos, é necessário que sejam listados alguns dos seus principais problemas, sendo eles: • Destruição da vegetação natural. • Assoreamento dos rios. • Desmoronamento de barreiras. • Extinção de espécies, principalmente as aquáticas. • Destruição e perda da flora e da fauna de natureza nativa. • Alterações na água, quanto aos seus aspectos físicos, como temperatura, oxigenação e pH. • Poluição das águas. • Implantação de barreira física relativa às migrações sazonais de espécies animais. • Promoção da diminuição do sequestro de carbono quanto à vegetação que foi inundada. Já no que faz menção aos principais problemas sociais relativos à construção das hidrelétricas, destaca-se: • Populações precisam se deslocar. Energias Renováveis https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/11/131127_desmatamento_amazonia_hidroeletrica_jf 51 • Áreas relativas à agricultura e pecuária, bem como ao reflorestamento, podem ser inundadas em decorrência da instalação e construção das usinas hidrelétricas. • Os danos podem afetar o patrimônio histórico e cultural. • Aumento de doenças relacionadas à distribuição geográfica. • Incremento de navegação e transporte na bacia de acumulação. • Podem ser gerados danos intangíveis relativos à população, principalmente aos indígenas, quilombolas e até mesmo comunidades tradicionais. • Verifica-se a intensificação das atividades extrativistas localizadas no interior da bacia hidrográfica presentes nos reservatórios. • Danos aos assentamentos urbanos ou rurais que não foram planejados. • Entre outros problemas. Também são promovidos alguns impactos de caráter socioambiental, tanto quanto a construção das hidrelétricas quanto das barragens relacionadas ao desenvolvimento das funções presentes nesse campo. Diante desse contexto, e considerando os danos que a construção de Itaipu promoveu, é importante que se destaque pontos como: • Crescimento da necessidade de mão de obra. Assim, surgem vilarejos que não possuem o que é necessário para uma vida digna, sendo escassos quanto a vias de circulação e saneamento básico. • Promove a extinção de propriedades rurais. • Devastação de matas nativas que são promovidas em decorrência do crescimento das cidades que crescem perto das usinas. Todavia, esses impactos e consequências não podem e não devem ser tratados como impossíveis de serem solucionados, já que existem possibilidades que se adequem a cada uma de suas situações, buscando ao menos diminuir os seus impactos. Energias Renováveis 52 Nesse sentido, uma solução que pode ser implementada consiste na construção de usinas hidrelétricas que façam parte da tipologia de fio d’água, pois essas não precisam de reservatório de água e se configuram por meio de usinas de um tamanho menor. Na prática, podemos citar como exemplo a Usina de Belo Monte. Salienta-se que no futuro, essa pode ser uma tendência a ser seguida e adotada a nível de projetos futuros, pois assim menos danos serão gerados e uma maior área poderá ser preservada; além disso, será destinada uma maior atenção e proteção para a fauna e para a flora. Figura 13 – Usina de Belo Monte Fonte: Wikimedia Commons. Porém, nem tudo é apenas vantagem quando se faz menção a essa modalidade de usina, pois ela faz uso do fluxo de água do rio para gerar movimento para as turbinas; por isso irá depender diretamente das chuvas para a geração de energia. Em decorrência disso, haverá uma maior produção de energia no tempo de energia e uma produção de energia escassa durante os períodos de seca. Energias Renováveis 53 Aspectos econômicos sobre a geração hidroelétrica Nosso sistema elétrico é um misto entre as usinas hidroelétricas construídas há mais de 20 anos (e já amortizadas) e as usinas que foram construídas recentemente (como as do Rio Madeira), que estão iniciando o seu processo de amortização. O Operador Nacional do Sistema (ONS) é o responsável por gerenciar estes interesses divergentes. Se forem acionadas somente as usinas amortizadas, o custo da geração de energia seria mais barato, mas este fato afastaria todos os investidores que têm colocado dinheiro para construir as novas usinas que o nosso país necessita para não corrermos o risco de um novo apagão. Ao contrário, se todas as usinas com obras concluídas recentemente forem acionadas primeiro, o custo da energia