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INOVAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS Geiza Caruline Costa E-book 2 Neste E-Book: INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������� 3 CICLOS DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA ������������4 AS EQUIPES INOVADORAS E OS CLIENTES DA INOVAÇÃO ������������������������������������12 FOMENTO À INOVAÇÃO ��������������������������������������18 Lei do bem �������������������������������������������������������������������������������18 Novo marco legal de ciência, tecnologia e inovação ������������21 Financiamento da inovação e apoio gerencial ����������������������23 Finep�����������������������������������������������������������������������������������������23 CNPq ����������������������������������������������������������������������������������������25 Embrapii �����������������������������������������������������������������������������������26 Sebrae e Sebraetec �����������������������������������������������������������������27 CONSIDERAÇÕES FINAIS �����������������������������������28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS & CONSULTADAS �������������������������������������������������������29 2 INTRODUÇÃO A inovação tecnológica acontece por uma série de fatores ligados à economia, à cooperação, às equipes de trabalho, à engenharia, aos recursos financeiros, entre outros� Uma palavra-chave no contexto da ino- vação é a descontinuidade, que representa a obso- lescência de uma tecnologia e sua substituição por uma tecnologia nova� Entretanto, o mercado consu- midor tem um papel preponderante na definição da liderança de determinada tecnologia, em detrimento de outras tecnologias� Aqui você irá aprender sobre alguns dos fatores mais importantes, quando o assunto é inovação tecnoló- gica, tais como as barreiras enfrentadas, a identifi- cação de oportunidades e cenários favoráveis, além das medidas de incentivo, fomento e financiamento da inovação no Brasil� SAIBA MAIS Assista à websérie Caminhos da Inovação, dis- ponível em: https://www.desenvolvesp.com.br/ inovacao e no YouTube: https://www.youtube. com/playlist?list=PLRWcQRbm-spevPS7P-ue- fdf8KW9cRw8Z4� 3 CICLOS DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA Estudar sobre os padrões da inovação tecnológica permitirá a você compreender o fenômeno da inova- ção, de modo a ser capaz de identificar os gatilhos para que a inovação aconteça, as limitações encon- tradas por organizações que tendem a inovar em processos ou produtos e superar as adversidades em prol do estabelecimento de uma cultura de inovação� Observe as câmeras fotográficas da figura 1a e da figura 1b. A primeira delas é uma câmera analógica fabricada entre 1958 e 1980� A segunda é uma câ- mera digital, de uma linha de modelos semiprofissio- nais produzidos a partir dos anos 2000� No contexto da evolução das tecnologias, as câmeras fotográfi- cas são icônicas por representarem, ao longo dos séculos, a descontinuidade de uma tecnologia e a substituição por um dispositivo com tecnologia mais moderna� Figura 1: Primeira Câmera fotográfica analógica; Câmera fotográfica digital. Fonte: Alex Andrews, Luis Quinteiro por Pexels� 4 Em relação à fotografia, a descontinuidade ocorreu sucessivas vezes, desde o uso das câmaras escuras do século 18, até o desenvolvimento e populariza- ção de câmeras de alta resolução embutidas nos smartphones� O padrão da evolução tecnológica se repete, é aberto um caminho para o estabelecimento e amadurecimento de novas oportunidades, e então é o fim para algumas tecnologias. De acordo com Freeman (1984), há duas teorias para a indução das inovações: a primeira teoria explica que as inovações acontecem em função de reces- sões econômicas severas e a segunda indica que, em períodos de auge, as tecnologias ficam satura- das, permitindo assim inovações tecnológicas mais radicais� A justificativa para a primeira ideia é que, em tempos de dificuldades, as empresas precisam se reinventar a fim de manter o negócio “de pé”. Como consequên- cia, novos produtos e novos processos são desenvol- vidos� Em contrapartida, a saturação das tecnologias maduras e o surgimento de novas necessidades dos clientes podem resultar em uma vulnerabilidade que possibilita a entrada de outras inovações� Mas você pode se perguntar: por que um produto que está no auge tende a ser substituído por uma tecnologia nova? Quando um projeto atinge seu auge, também chamado de projeto dominante, os lucros se tornam mais acentuados e a inovação é geralmente interrompida� Isso pode acontecer porque, após o processo de inovação, as empresas se concentram 5 em otimizar o processo de produção e distribuição, além de combater os concorrentes contra imitações e preços menores (BURGELMAN; CHRISTENSEN; WHEELWRIGHT, 2012). A dinâmica do ciclo da inovação é apresentada na figura 2. A construção desse modelo foi baseada na competitividade industrial – ele apresenta a taxa de inovações em função do tempo nos espectros do produto e do processo� No estágio inicial, chamado de fase fluida, as empresas buscam desenvolver e consolidar um novo produto, podendo descobrir novas formas de aplicação de avanços científicos, de engenharia, novos dispositivos, algoritmos, ou outros� Chegando à fase transitória é alcançada a estabilização do produto no mercado, as inovações ligadas a esse projeto diminuem e os esforços são direcionados para a melhoria do processo produtivo� A partir desse ponto, na fase madura, a taxa de ino- vação do processo e a taxa de inovação do produto tendem a se aproximar� A inovação do processo está relacionada ao de- senvolvimento de um processo novo ou significa- tivamente aprimorado, o qual deve ter como base a concepção de uma nova tecnologia de produção, de equipamentos associados à produção ou até de softwares novos com impacto nas atividades que suportam a produção (ANPEI, 2013)� 6 Ta xa d e in ov aç õe s Fase Fluida Fase Transitória Fase Madura Tempo Inovação do produto Inovação do processo Figura 2: Padrão de inovação do processo e do produto� Fonte: Utterback (1996) Para explicar a evolução da tecnologia, Foster (1988) elaborou o conceito das Curvas S. A figura 3 apre- senta a primeira Curva S, que indica a existência de uma relação entre o esforço financeiro de uma organização para o desenvolvimento de uma nova tecnologia e seu desempenho, em termos de retorno do investimento� 7 Esforço �nanceiro D es em pe nh o Figura 3: Primeira Curva S de Foster� Fonte: Foster (1988)� Conforme o dispêndio e aporte financeiro em uma nova tecnologia aumentam com o passar o tempo, e a empresa vai superando as barreiras relativas à estabilização do produto no mercado e ao domínio da tecnologia, o retorno financeiro tende a aumentar. Observe na figura 3 que o chamado Desempenho tende a estabilizar, mesmo que o Esforço Financeiro continue aumentando� Isso acontece devido à satu- ração da tecnologia que, em algum momento, pode deixar de gerar resultados crescentes para o negócio� Na segunda Curva S, Foster (1988) incluiu uma nova curva ao gráfico, conforme apresentado na figura 4. Essa é a primeira representação visual que mostra a descontinuidade tecnológica e a abrupta chegada de uma tecnologia concorrente� 8 Descontinuidade tecnológia Antiga tecnológia D es em pe nh o Esforço �nanceiro Nova tecnológia Figura 4: Curvas S de Foster e a descontinuidade� Fonte: Foster (1988) Na figura 4 você pode perceber que, após a antiga tecnologia alcançar a estabilização relacionada tanto ao desempenho quanto ao esforço financeiro, é che- gada uma nova tecnologia, opressora e concorrente, com potencial de substituir a antiga� Essa nova tec- nologia passa por um ciclo semelhante ao percorrido pela tecnologia anterior, contudo, em patamares mais elevados de dispêndio e retorno� É preciso um tem- po para que a tecnologia promissora comprove ser suficientemente boa para condenar a anterior à ob- solescência, no entanto, ela também está suscetível a uma nova descontinuidade tecnológica no futuro�Buscando aplicar as Curvas S à Tecnologia da Informação, vamos refletir um pouco sobre o armaze- namento de dados em meios magnéticos (como dis- cos rígidos, HD) e porque essas tecnologias resistem por tanto tempo em combate contra a concorrência 9 das memórias flash (como pendrives). O primeiro ponto é que a taxa de melhoria do desempenho de uma tecnologia não é proporcional ao tempo, ou seja, não é porque o tempo passa que a tecnologia me- lhora, mas é correto afirmar que, conforme o esforço de engenharia aumenta sobre determinada tecnolo- gia, seu desempenho tende a melhorar� O segundo ponto está intimamente relacionado ao primeiro e também não é porque o tempo passa que a tecno- logia deteriora e, definitivamente, sucumbirá a uma nova tecnologia� O terceiro ponto está relacionado à mudança incremental, quando são feitas melhorias no desempenho dos componentes construídos para uma tecnologia específica, ou quando são feitos refi- namentos no projeto sob a mesma base tecnológica sem mudanças muito significativas (CHRISTENSEN, 2009)� A figura 5 apresenta o gráfico elaborado para um estudo sobre o impacto do aumento da densidade de área de novas unidades de HDs sobre as recei- tas da empresa� A densidade de área de gravação está ligada à capacidade total de armazenamento de dados de um disco� Desse modo, quanto maior a densidade de área de gravação, maior a capacidade de armazenamento em Gigabytes (GB) ou Terabytes (TB) em um HD. Analisando o gráfico você perceberá que, conforme a densidade de área foi aumentando, maior foi a receita da empresa e, sem dúvida, isso só ocorreu graças às inovações do processo, do produ- to, às mudanças incrementais e, principalmente, ao esforço de engenharia� 10 Receitas industriais cumulativas D en si da de d e ár ea 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 7,0 4,0 2,0 1,0 0,7 0,4 0,2 0,1 400 700 1000 2000 4000 10000 20000 40000 100000 Figura 5: A ação dos esforços de engenharia sobre as recei- tas da indústria de HDs. Fonte: Christensen (2009) Nesta seção, você aprendeu sobre os ciclos da ino- vação e observou como acontece a descontinuidade de uma tecnologia e sua substituição por outra mais nova� A seguir, você entenderá como formar equi- pes para trabalharem com inovação e os tipos de clientes de projetos ou produtos tecnologicamente inovadores� 11 AS EQUIPES INOVADORAS E OS CLIENTES DA INOVAÇÃO O estabelecimento e a disseminação de uma cultura de inovação dentro das organizações passam pela formação de equipes inovadoras, as quais traba- lharão para entender as necessidades do mercado consumidor e o estabelecimento de um plano para a criação de novos projetos� Nesse cenário, foram identificados alguns perfis profissionais que não po- dem faltar dentro das chamadas equipes inovadoras� Esses papéis ou perfis desempenham funções críti- cas dentro dos projetos que podem ser assumidas pela mesma pessoa, desde que ela possua as habi- lidades necessárias. A deficiência de determinados perfis nessas equipes de trabalho pode comprometer o sucesso da equipe e de seus projetos e, provavel- mente, o recrutamento de novos membros não será fácil� A composição de uma equipe inovadora requer a escolha de profissionais para desempenhar funções críticas no processo de inovação, com os cinco per- fis indicados por Roberts e Fusfeld (1980): gerador de ideias, campeão, líder do projeto, comunicador e patrocinador� O gerador de ideias tem um perfil especialista em alguma área de conhecimento, gosta de trabalhar com tarefas inovadoras, geralmente sozinho� Esse profissional deve ter habilidade de abstrair, gerar no- 12 vas ideias e, devido às suas habilidades de solucio- nar problemas, ele deve testar quais das ideias têm potencial para serem executadas� O campeão (ou empreendedor) tem a tendência de aplicar as ideias, é uma pessoa determinada, que assume riscos, consegue recursos e, devido a seu poder de persuasão, convence as outras pessoas da organização sobre a viabilidade das ideias, mesmo sem um perfil técnico. O líder do projeto é a pessoa responsável por coor- denar e motivar a equipe, deve ser capaz de planejar, organizar e conseguir os recursos necessários para o projeto. Além disso, esse profissional avalia se o projeto está caminhando na direção correta, promo- vendo os necessários alinhamentos entre o objetivo do projeto com as necessidades do negócio� O comunicador provavelmente é a pessoa que tem as maiores habilidades técnicas da equipe, é aces- sível, ajuda os demais colegas do time, coleta as informações necessárias ao projeto e garante que todos os envolvidos tomem conhecimento sobre o que for preciso, assumindo assim um papel de “fonte de informação”. O patrocinador (ou coach) geralmente é a pessoa com maior experiência da equipe, conhece bem a estrutura da empresa e legitima o projeto inovador no contexto da organização� Ele se envolve para ajudar a desenvolver novos talentos dentro das equipes com as quais trabalha, além de contribuir com a tomada de recursos para o projeto� 13 A ausência dessas habilidades (skills) tanto organi- zacionais quanto pessoais dificulta a execução de projetos inovadores, bem como o atingimento dos resultados esperados de projetos em andamento� Além disso, o excesso de burocracia, a falta de um ambiente estimulante e a limitação de recursos pro- duzem um efeito negativo na inovação (MATTOS, 2012)� O impacto da inovação não atinge exclusivamente tecnologias antigas, as empresas, e as equipes� Um ponto fundamental para a determinação de um proje- to dominante, a descontinuidade de uma tecnologia, ou a disrupção causada por uma nova tecnologia estão intimamente ligados aos clientes� Quando uma nova tecnologia chega ao mercado, os clientes decidem assumir o risco de adquirir esses novos produtos ou serviços, ou esperar um pouco pelo amadurecimento das tecnologias inovadoras� Nesse sentido, a forma como os potenciais clientes encaram a chegada de uma inovação tecnológica e o tempo que eles levam para adotá-la estão relacio- nados ao modo de classificar os clientes. No contexto da inovação e das novas tecnologias, há cinco tipos de clientes: os entusiastas, os visioná- rios, os pragmáticos, os conservadores, e os céticos (MOORE, 1991)� A proporção dessas cinco catego- rias, em relação à adoção de novas tecnologias, é apresentada na figura abaixo. 14 Mercado Principal Mercado inicial Abismo Entusia sta s Visi onário s Pragmátic os Conse rva dores Cétic os Figura 6: Adoção de novas tecnologias pelos clientes� Fonte: Adaptado de Moore (2014) A primeira categoria de clientes são os entusiastas das novas tecnologias ou inovadores� São os pri- meiros a adquirirem as novidades tecnológicas, têm prazer em explorar novos produtos e são os primeiros clientes que se dedicam a conhecer e a dominar as novas tecnologias. Esse público é aficionado por tecnologia, adotando-a precocemente, mas corres- ponde a somente 2,5% dos clientes� Os clientes visionários são também chamados de adeptos iniciais� Considerados revolucionários, eles conduzem seu círculo de convivência, ou a empresa em que trabalham, a encerrar um ciclo de consumo de uma tecnologia antiga, servindo de vanguarda para o uso de tecnologias mais recentes� Esse pú- blico entende que as novas tecnologias podem pro- porcionar uma vantagem competitiva drástica e re- presenta 13,5% dos consumidores em geral� Juntos, os clientes visionários e os entusiastas são compo- 15 nentes do chamado “mercado inicial”, um público que aceita pagar mais caro, se arriscar com as novas tecnologias, mas quer ser o primeiro a dominá-las� Os pragmáticos constituem um público interessado em aprimorar os sistemas da empresa em que traba- lha, sem revoluções muito radicais� Eles se diferen- ciam dos visionários e inovadores por se conterem, em relação ao consumo de novas tecnologias, e se- rem cuidadosos em tudo que utilizam� Esse público consiste em 34%dos clientes, é a maioria inicial do mercado principal e prefere adquirir seus produtos da empresa líder de mercado, por se sentir mais con- fiante com ela. Os clientes conservadores aderem às novas tecno- logias de modo mais tardio e custam a acreditar que produtos e serviços inovadores proporcionem ga- nhos expressivos para seu negócio� Além de serem clientes muito exigentes, não se satisfazem com qualquer coisa e se preocupam bastante com os preços� Esses clientes também representam 34% do público em geral� Por fim, os retardatários são os clientes céticos, para os quais as ações de marketing geralmente não são direcionadas, pois eles adquirem as tecnologias so- mente se não houver outra maneira de executar suas tarefas� Essa parcela dos clientes corresponde a 16% do público� O que separa o mercado inicial do mercado principal – conforme demonstrado na figura 6 – é chamado de abismo� Esse abismo é caracterizado pelo grande 16 distanciamento entre os visionários e entusiastas (mais fáceis de serem convencidos), dos pragmáti- cos e conservadores. O grande desafio para as novas tecnologias é superar esse abismo, alcançar a fatia majoritária de clientes para se estabelecer como um produto dominante no mercado. Esse desafio só é superado se a tecnologia resistir à queda expressiva do interesse inicial até que o público principal se sinta confiante em fazer uso destas novas soluções. 17 FOMENTO À INOVAÇÃO A chamada Lei do Bem (nº 11�196/2005) é um dos principais instrumentos de incentivo à inovação no Brasil. Ela oferece incentivos fiscais para empresas inovadoras investirem em processos e produtos inovadores� Entretanto, essa não é a única regula- mentação de fomento à inovação no país, uma vez que existem várias iniciativas nas esferas federal, estaduais e municipais, no âmbito das universidades e das empresas que visam ao estímulo das práticas inovadoras� Neste capítulo, apresentaremos alguns aspectos legais de incentivo à inovação, e você vai conhecer um pouco mais sobre instituições de apoio financeiro e gerencial aos projetos e as empresas inovadoras� Lei do bem A lei federal nº 11�196/2005, regulamentada em 2006 pelo Decreto nº 5�798, apoia as inovações em produ- tos, processos e serviços, os quais são chamados de “inovações tecnológicas”. Essa lei serve como um instrumento de promoção da competitividade da indústria brasileira, estimulando as práticas ino- vadoras e concedendo incentivos fiscais a essas organizações� Em menos de uma década de aplica- ção da Lei do Bem, os investimentos privados em projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) somaram mais de R$ 60 bilhões, sendo que o Governo Federal deixou de arrecadar, graças à re- 18 núncia fiscal, aproximadamente R$ 11,5 bilhões, ou seja, utilizando o dispositivo da referida lei, o Governo deixou de cobrar mais de R$ 11 bilhões de reais, e as empresas investiram mais que cinco vezes esse valor (ANPEI, 2017)� As empresas que podem receber os incentivos fiscais da Lei do Bem devem contar com projetos de concep- ção de produtos ou processos novos de fabricação ou agregação de novas funções a produtos existen- tes com ganho real de qualidade ou de produtividade� As modalidades de incentivos fiscais consistem na redução de impostos, depreciação acelerada ou integral e amortização acelerada� Em linhas gerais, os valores devidos por essas empresas ao Governo Federal são diminuídos, em específico, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) ou a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido)� A de- preciação acelerada ou integral é um mecanismo redutor da base de cálculo do IRPJ e CSLL� A amor- tização acelerada permite a redução de um débito já contraído por uma empresa, à medida que ela faz os pagamentos periódicos, de forma que a redução seja superior à vida útil do bem que teve o pagamento parcelado� A figura 7 apresenta a distribuição por regiões do país das empresas participantes dos incentivos à Lei do Bem, em 2014� Observe que a região sudeste do país concentra a parte majoritária das empresas benefi- ciárias, sendo as 727 empresas correspondentes a 19 60% do total� Do ano de 2006, quando a lei passou a vigorar, até o ano de 2014, quando o relatório foi publicado, a adesão saltou de 130 empresas para 1�206, representando um aumento superior a 900%� MA - 2 PI - 0 AP - 0 CE - 8 RN - 2 PB - 1 PE - 14 AL - 1 SE - 0 BA - 15 AM - 20 PA - 4 AP - 0 RR - 0 RO - 1 AC - 0 TO - 1 DF - 8 GO - 10 MT - 3 MS - 1 PR - 94 SC - 104 RS - 190 MG - 77 SP - 539 ES - 8 RJ - 103 Figura 7: Distribuição geral das empresas participantes no Ano-Base 2014� Fonte: Adaptado de MCTIC/SETEC (2015) O número expressivo de empresas beneficiárias dos incentivos fiscais da Lei do Bem no estado de São Paulo se justifica principalmente pelo fato de o es- tado contar com o maior número de empresas do Brasil� 20 Novo marco legal de ciência, tecnologia e inovação O Novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação foi regulamentado pelo Decreto nº 9�283, de 2018, o qual regulamenta o incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo brasileiro, para promover a capacitação tecnológica, a autonomia tecnológica, e o desen- volvimento do sistema produtivo nacional e regional (BRASIL, 2018)� A figura 8 apresenta o ecossistema dos principais beneficiários do Novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação� Os Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) públicos e privados são ins- tituições dedicadas ao trabalho com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)� Os ICTs podem estar co- nectados a empresas públicas e privadas para o desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e processos, assim como receber fundos de agências de fomento que incentivam monetariamente a pes- quisa e a inovação tecnológica� 21 Empresas privadas ICT’s públicos ICT’s privados Órgãos da administração pública direta Serviços sociais autônomos (Sebrae) Agência de fomento Figura 8: Entidades beneficiadas pelo Novo Marco Legal. Fonte: Adaptado de Sebrae (s�d�) A normativa do Governo Federal estimula a coopera- ção entre os ICTs e as entidades privadas sem fins lucrativos, permitindo que órgãos ligados à admi- nistração pública, empresas públicas e agências de fomento trabalhem colaborativamente em projetos inovadores� Para iniciativas que requeiram transporte internacional de bens, o Marco Legal simplifica os procedimentos de importação, proporcionando mais facilidade à internacionalização dos ICTs (SEBRAE, s�d�)� 22 Financiamento da inovação e apoio gerencial O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações do Brasil (MCTI) se articula a variadas agências para o oferecimento de recursos financeiros aos projetos de inovação tecnológica como o Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Para atender demandas especiais de crédito, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços também conta com programas de apoio financeiro, incluindo o financiamento da inovação tecnológica, por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)� Finep O Finep tem o papel de financiar a Ciência, Tecnologia e a Inovação (CT&I) no país, como forma de propor- cionar maior competitividade às empresas brasilei- ras no mercado global� Para as empresas que têm o plano de investir em PD&I, o Finep concede crédito mediante a capacidade de pagamento da empresa e a geração de caixa dos resultados de seus projetos (ANPEI, 2013)� A figura 9 apresenta um diagrama contento o por- tfólio de programas de subvenção, investimentos e créditos da instituição para empresas de tamanhos variados (pequenas, médias e grandes empresas) além de startups� 23 Figura 9: Matriz de Programas e Produtos do Finep� Fonte: Finep (s�d�) Alguns dos programas ligados à Tecnologia da Informação são o Programa Centelha,Conecta e IoT� O programa Centelha é executado de modo descen- tralizado, com a articulação institucional de entidades em 21 estados� O objetivo é disseminar a cultura do empreendedorismo inovador mobilizando diversos atores de inovação nos ecossistemas locais, estadu- ais e regionais do país� Os candidatos não precisam ter empresa constituídas e podem iniciar o projeto individualmente� 24 SAIBA MAIS Assista ao vídeo sobre o Programa Centelha, no qual são explicadas as etapas para a candida- tura e concorrência aos recursos financeiros do programa� Disponível em: https://youtu.be/_3Fi_wSNmjU� O programa Finep Conecta visa a promover a coo- peração entre empresas e ICTs para aprimorar as empresas nacionais, promover alinhamento dos obje- tivos da Ciência Nacional às demandas empresariais, incentivando investimentos em pesquisa e desen- volvimento de projetos de maior risco tecnológico� O programa Finep IoT tem por objetivo o desenvol- vimento de novos produtos, processos e serviços baseados em tecnologias relacionadas à Internet das Coisas com aplicações na saúde, na indústria, no agronegócio e no desenvolvimento urbano� CNPq O CNPq também conta com um grande portfólio de programas de incentivo a P&D, o Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) e o projeto Cooperação Internacional� O RHAE é o Programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas. Entre 2007 e 2013 o programa incentivou a inserção de mestres e dou- tores em empresas privadas de micro, pequeno e médio portes� 25 O Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia busca promover a inovação e o espírito empreendedor a partir de pesquisa científica aplica- da� Desde sua criação, mais de 200 projetos foram contratados, contando com recursos financeiros, capacitação e a formação de uma rede de coopera- ção multidisciplinar (CNPq, s�d�)� O projeto Cooperação Internacional oferece financia- mento de projetos e conjuntos de pesquisa, como in- tercâmbio científico e tecnológico entre instituições, o que inclui formação e capacitação de brasileiros no exterior, e de estrangeiros no Brasil� Embrapii A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação indus- trial (Embrapii) colabora para a promoção da inova- ção nas empresas, e já apoiou mais de mil projetos no país� As áreas de atuação da Embrapii são mecâ- nica e manufatura, biotecnologia, materiais e quími- ca, e Tecnologias da Informação e Comunicação� A instituição estabelece parcerias estaduais, com as Fundações de Amparo e/ou Apoio à Pesquisa, bem como com o próprio Finep, CNPq, e bancos regionais de desenvolvimento� A Embrapii possui várias unidades espalhadas pelo país, as quais são credenciadas mediante um chama- mento público (semelhante a um edital)� As unidades atuam regionalmente como apoio à indústria local em áreas predeterminadas, de acordo com o arranjo produtivo local� 26 Em 2016, a Embrapii e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) divul- garam as normas para um acordo de cooperação no estado de São Paulo, com o investimento previsto em R$ 40 milhões de reais (FAPESP, 2016)� Sebrae e Sebraetec O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) é uma agência de fomento presente em todos os estados brasileiros, direciona- da ao desenvolvimento de empresas de porte micro e pequenas� O Sebrae conta com uma consultoria tecnológica especializada, chamada Sebraetec, que possibilita o acesso dessas empresas a profissionais e outras empresas ligadas à CT&I na forma de ofici- nas, suporte e aperfeiçoamento tecnológico� Os serviços oferecidos pelo Sebraetec são prefe- rencialmente exercidos de forma coletiva, ou seja, para um grupo de micro e pequenas empresas de determinada região com foco no desenvolvimento de um novo processo, produto ou serviço, gerando o aumento da competitividade baseado no incremento tecnológico� 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo você aprendeu sobre os ciclos de ino- vação e percebeu que os ciclos de Utterback e as Curvas S de Foster não colocam as tecnologias em um ciclo de condenação ao fracasso, pois os esfor- ços de melhoria incremental podem garantir vida longa às tecnologias que se mantiverem no topo, tendo sua presença de mercado preservada, mesmo com fortes oponentes, a exemplo dos discos rígidos e da memória flash. Você também observou o impacto da legislação como forma de incentivar ações inovadoras em empresas, universidades, Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), além do estímulo à cooperação de todos esses agentes� 28 Referências Bibliográficas & Consultadas ALBUQUERQUE, E� da M� e� A apropriabilidade dos frutos do progresso técnico� In: Economia da ino- vação tecnológica. 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