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São estes os princípios do Direito Penal encontrados na Constituição Federal de 1988 1)Dignidade da pessoa humana Não faltam definições para o princípio da dignidade da pessoa humana, inexistindo, no entanto, consenso. Encontram-se vários pontos de contato, suficientes para a compreensão universal do que venha a significar. Trata-se, sem dúvida, de um princípio regente, cuja missão é a preservação do ser humano. Está insculpido no artigo 1º, III, da Constituição Federal, conglobando em si todos os direitos fundamentais, quer sejam os individuais clássicos, quer sejam os de fundo econômico e social. Possui dois prismas: objetivo e subjetivo. Objetivamente, envolve a garantia de um mínimo existencial ao ser humano, atendendo as suas necessidades vitais básicas (moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte, previdência social). Subjetivamente, cuida-se do sentimento de respeitabilidade e autoestima inerentes ao ser humano, desde o nascimento, quando passa a desenvolver sua personalidade, entrelaçando-se em comunidade e merecendo consideração, mormente do Estado. É a base e a meta do Estado Democrático de Direito, não podendo ser contrariado, nem alijado de qualquer cenário. 2) Igualdade ou isonomia: É a obrigação de tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades. No Direito Penal, importa em dizer que as pessoas (nacionais ou estrangeiras) em igual situação devem receber idêntico tratamento jurídico, e aquelas que se encontram em posições diferentes merecem um enquadramento diverso, tanto por parte do legislador como também pelo juiz. 3) Legalidade e anterioridade: Legalidade: consistente no seguinte preceito: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (art. 5º, XXXIX, CF)”. Preceitua a exclusividade da lei para a criação de delitos (e contravenções penais) e cominação de penas, possuindo indiscutível dimensão democrática, pois representa a aceitação pelo povo, representado pelo Congresso Nacional, da opção legislativa no âmbito criminal. É vedada a edição de medida provisória em matéria penal. Possui dois fundamentos, um de natureza jurídica e outro de fundamento https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641860/artigo-1-da-constituicao-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731879/inciso-iii-do-artigo-1-da-constituicao-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1503907193/constituicao-federal-constituicao-da-republica-federativa-do-brasil-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729288/inciso-xxxix-do-artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1503907193/constituicao-federal-constituicao-da-republica-federativa-do-brasil-1988 político. O fundamento jurídico é a taxatividade, certeza ou determinação, pois implica por parte do legislador, a determinação precisa, ainda que mínima do conteúdo do tipo penal e da sanção penal a ser aplicada. O fundamento político é a proteção do ser humano em face do arbítrio do poder de punir do Estado. Enquadra-se entre os direitos fundamentais de 1ª geração. Anterioridade: é o princípio pelo qual uma lei penal incriminadora somente pode ser aplicada a um fato concreto, caso tenha tido origem antes da prática da conduta para a qual se destina. (vide artigo 1º do Código Penal Brasileiro: “Não há crime sem lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação legal). 4) Irretroatividade da lei penal: A garantia da irretroatividade da lei penal gravosa (CP, art. 2º, § único) é encontrada na CF, art. 5º, XL: “a li penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Tratando-se de norma penal mais benéfica, a regra a ser aplicada é a da retroatividade. Isso pode ocorrer em duas situações: (i) o fato não ser mais considerado crime pela lei nova (abolitio criminis); (ii) a lei nova, de alguma forma, beneficia o agente (lex mitior). Portanto, em caso de lei mais benéfica, há retroatividade, quando ela for posterior ao fato, ou há ultratividade, quando a lei for anterior. Tratando-se de crime continuado ou permanente, iniciado na vigência da lei anterior benéfica, o STF editou a súmula 711, segundo a qual “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. 5) Personalidade da pena: Significa que a punição em matéria penal, não deve ultrapassar a pessoa do delinquente. Trata- se de outra conquista do direito penal moderno, impedindo que terceiros inocentes e totalmente alheios ao crime possam pagar pelo que não fizeram, nem contribuíram para que fosse realizado. A família do condenado, por exemplo, não deve ser afetada pelo crime cometido. Está previsto na CF/88, no art. 5º, XLV, que: “nenhuma pena passará da pessoa do condenado”. Isto não significa que não haja possibilidade de garantir à vítima do delito a indenização civil ou que o Estado não possa confiscar o produto do crime – alias, o que o próprio art. 5º, XLV prevê. Outro ponto é que a multa, mesmo que considerada dívida civil, para fins de cobrança, após o trânsito em julgado da decisão condenatória, não pode alcançar os herdeiros do condenado. A personalidade demanda garantias variadas, uma das quais se calca na https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639741/artigo-1-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639706/artigo-2-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10639666/paragrafo-1-artigo-2-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1503907193/constituicao-federal-constituicao-da-republica-federativa-do-brasil-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729247/inciso-xl-do-artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1503907193/constituicao-federal-constituicao-da-republica-federativa-do-brasil-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729058/inciso-xlv-do-artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988 responsabilidade penal pessoal. Do mesmo modo em que se busca preservar o patrimônio, de quem honestamente o ajuntou, trata-se de punir quem o subtrai indevidamente. Assegurar o patrimônio, como um dos direitos individuais, tem duplo aspecto: permite-se a sua formação lícita e pune-se a sua subtração ilícita. É necessário subdividir a consequência da sanção penal em prejudicialidade direta e indireta. De maneira direta, o estabelecimento da pena gera restrições lesivas à liberdade individual do condenado. O cumprimento da pena afeta os direitos individuais, tais como a liberdade de ir e vir ou a livre disposição do patrimônio. De forma indireta, pode produzir lesões a pessoas diversas do sentenciado, mas que convivem com ele ou dele dependem, por exemplo: o convívio familiar, o sustento habitual caso o condenado seja o provedor do lar e outros. O princípio tem por fim exclusivo assegurar que a punição direta do Estado em relação ao indivíduo não se espraie, atingindo terceiros, não participantes do delito. 6) Individualização da pena: O princípio significa que a pena não deve ser padronizada, cabendo a cada delinquente a exata medida punitiva pelo que fez. Não tem sentido igualar os desiguais, sabendo-se, por certo, que a prática de idêntica figura típica não é suficiente para nivelar dois seres humanos. A individualização da pena tem o significado de eleger a justa e adequada sanção penal, quanto ao montante, ao perfile aos efeitos pendentes sobre o sentenciado, tornando-o único e distinto dos demais infratores, ainda que coautores ou mesmo corréus. Sua finalidade e importância é a fuga da padronização da pena, da “mecanizada” ou “computadorizada” aplicação da sanção penal, prescindindo da figura do juiz, como ser pensante, adotando-se em seu lugar qualquer programa ou método que leve à pena preestabelecida, segundo um modelo unificado, empobrecido e, sem dúvida, injusto. Desenvolve-se em três etapas distintas: (i) análise das circunstâncias judiciais; (ii) agravantes e atenuantes; (iii) causas de aumento e diminuição da pena. Assim, deve-se fixar a pena de maneira individualizada, seguindo-se os parâmetros legais, mas estabelecendo a cada um o que lhe é devido. Está insculpido no artigo 5º, XLVI, da CF. 7) Humanidade: Princípio pelo qual apregoa a inconstitucionalidade da criação de tipos penais ou a cominação de penas que violam a incolumidade física ou moral de alguém. Dele resulta a impossibilidade https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729020/inciso-xlvi-do-artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1503907193/constituicao-federal-constituicao-da-republica-federativa-do-brasil-1988 de a pena passar da pessoa do condenado, com a exceção de alguns efeitos extrapenais da condenação, como a obrigação de reparar o dano na esfera civil (art. 5º, XLV da CF). Decorre da dignidade da pessoa humana. Foi com base nesse princípio que o STF declarou inconstitucional o regime integralmente fechado para o cumprimento da pena privativa de liberdade nos crimes hediondos e equiparados, problema superado com a edição da Lei 11.464/07. Também é aplicado na execução de pena. 8) Intervenção mínima: Segundo este princípio, o Direito Penal só deve preocupar-se com a proteção dos bens mais importantes e necessários à vida em sociedade. É um princípio limitador do poder punitivo do Estado, conforme preleciona Munoz Conde: “O poder punitivo dos Estado deve estar regido e limitado pelo princípio da intervenção mínima. O Direito Penal somente deve intervir nos casos de ataques muito graves aos bens jurídicos mais importantes. As perturbações mais leves do ordenamento jurídico são objeto de outros ramos do Direito”. Este princípio (intervenção mínima ou ultima ratio) é o responsável não só pela indicação dos bens de maior relevo que merecem a especial atenção do Direito Penal, mas também, a fazer com que ocorra a chamada descriminalização. O Direito Penal deve interferir o menos possível na vida em sociedade, devendo ser solicitado somente quando os demais ramos do Direito não forem capazes de proteger aqueles bens considerados de maior importância. Roxin assevera que: “a proteção de bens jurídicos não se realiza só mediante o Direito Penal, senão que nessa missão cooperam todo o instrumental do ordenamento jurídico. O Direito Penal é, inclusive, a última dentre todas as medidas protetoras que devem ser consideradas, quer dizer que somente se pode intervir quando falhem outros regulamentos de polícia, as sanções não penais, etc. Po isso se denomina a pena como a “ultima ratio da política social” e se define sua missão como proteção subsidiária de bens jurídicos.” 9) Alteridade: O Princípio da Alteridade foi desenvolvido por Claus Roxin, e, em síntese, consiste no comando segundo o qual ninguém pode ser punido por causar mal apenas a si mesmo. Ou seja, https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729058/inciso-xlv-do-artigo-5-da-constituicao-federal-de-1988 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1503907193/constituicao-federal-constituicao-da-republica-federativa-do-brasil-1988 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/94865/lei-11464-07 uma conduta, para ser penalmente relevante, deve transcender seu autor e atingir bem jurídico de outrem. Nesse sentido, é atípica a conduta do agente que pratica autolesão. Ainda, entende alguns que, por força do princípio em comento, o crime de porte de drogas para consumo pessoal, previsto no art. 28 da lei 11.343/2006, é um indiferente penal, pois tem como objeto jurídico a saúde pública, e, em tese, o agente estaria prejudicando a si próprio quando do uso de entorpecente. Ademais, com base no Princípio da Alteridade a doutrina anuncia que é proibida a incriminação de atitude meramente interna do agente, bem como do pensamento ou condutas moralmente censuráveis, incapazes de causar lesão a bem jurídico de terceiro (p.ex., fulano deseja que seu pai morra acidentado, durante uma viajem, para assim ficar com a herança). 10) Culpabilidade: Culpabilidade diz respeito ao juízo de censura, ao juízo de reprovabilidade que se faz sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente. Reprovável ou censurável é aquela conduta levada a efeito pelo agente que, nas condições em que se encontrava, podia agir de outro modo. Segundo Miguel Reale Júnior: “reprova-se o agente por ter optado de tal modo que, sendo-lhe possível atuar de conformidade com o direito, haja preferido agir contrariamente ao exigido pela lei” e continua dizendo que “culpabilidade é um juízo sobre a formação da vontade do agente.Assis Toledo entende que: “Deve-se entender o princípio da culpabilidade como a exigência de um juízo de reprovação jurídica que se apoia sobre a crença – fundada na experiência da vida cotidiana – de que o homem é dada a possibilidade de, em certas circunstâncias, ‘agir de outro modo”. Apesar da divergência entre as denominações imputação pessoal e culpabilidade, sem dúvida alguma esta última é a que predomina entre os doutrinadores. Em que pese não se encontrar no rol dos chamados princípios constitucionais expressos, podendo, noentanto ser extraído do texto constitucional, principalmente do chamado princípio da dignidade da pessoa humana. Possui três sentidos fundamentais: (i) culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime; (ii) culpabilidade como princípio medidor da pena e (iii) culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, ou seja, o da responsabilidade penal sem culpa. Assim, como leciona Gustavo Bruzzone: “quando nos referimos à culpabilidade podemos fazê-lo em diferentes sentidos. Por um lado fazemos referência ao conceito de culpabilidade que se refere à fundamentação da pena em si; somente podemos aplicar uma pena https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868007/artigo-28-da-lei-n-11343-de-23-de-agosto-de-2006 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/95503/lei-de-toxicos-lei-11343-06 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1503907193/constituicao-federal-constituicao-da-republica-federativa-do-brasil-1988 ao autor de um fato típico, antijurídico e culpável. Também nos referimos à culpabilidade em relação ao fundamento para determinação da pena. Não o utilizamos para fundamentar a pena em si, senão para determinar a sua graduação; gravidade, tipo e intensidade. O terceiro conceito caracteriza a culpabilidade como o oposto à responsabilidade pelo resultado” 11) Proporcionalidade: Suas raízes remontam à Antiguidade, entretanto, firmou-se durante o período iluminista, principalmente com a obra Dos Delitos e das Penas, de autoria do Marquês de Beccaria. Beccaria concluiu que “para não ser um ato de violência contra o cidadão, a pena deve ser, de modo essencial, pública, pronta, necessária, a menor das penas aplicável nas circunstâncias referidas, proporcionada ao delito e determinada em lei”. Alberto Silva Franco, dissertando sobre o princípio em tela, aduz: “O princípio da proporcionalidade exige que se faça um juízo de ponderação sobre a relação entre o bem que é lesionado ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que pode alguém ser privado (gravidade da pena). Toda vez que, nessarelação, houver um desequilíbrio acentuado, estabelece-se, em consequência, inaceitável desproporção. O princípio da proporcionalidade rechaça, portanto, o estabelecimento de cominações legais (cominações em abstrato e a imposição de penas (proporcionalidade em concreto) que careçam de relação valorativa com o fato cometido considerado em seu significado global. Tem, em consequência, um duplo destinatário: o poder legislativo e o juiz.” O art. 68 do Código Penal, ao adotar o critério trifásico de aplicação da pena, forneceu ao julgador meios para que pudesse, no caso concreto, individualizar a pena do agente, encontrando, com isso aquela proporcional ao fato cometido. Assim, ponderando que todas as circunstâncias judiciais são favoráveis ao agente, jamais poderá determinar a pena-base na quantidade máxima cominada ao delito por ele cometido, o que levaria, ao final de todas as três fases, a aplicar uma pena desproporcional ao fato praticado. 12) Ofensividade ou lesividade: Os princípios da intervenção mínima e da lesividade são como que duas faces da mesma moeda. Se de um lado, a intervenção mínima somente permite a interferência do Direito Penal quando estivermos diante de ataques a bens jurídicos importantes, o princípio da lesividade nos esclarecerá, limitando ainda mais o poder do legislador, quais são as condutas que poderão ser https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631687/artigo-68-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91614/codigo-penal-decreto-lei-2848-40 incriminadas pela lei penal. Possui quatro funções segundo Nilo Batista, quais sejam: (i) proibir a incriminação de uma atitude interna (ninguém pode ser punido por aquilo que pensa ou mesmo por seus sentimentos pessoais); (ii) proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor (autolesão, por exemplo); (iii) proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais (impedir que seja punido pelo o que é, e não pelo o que fez); (iiii) proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico (afastar a incidência de aplicação da lei penal aquelas condutas que, embora desviadas, não afetam qualquer bem jurídico de terceiros). 13) Insignificância: Surgido do Direito Civil, derivado do brocardo de minimus non curat praetor. O Direito Penal não deve se ocupar de assuntos irrelavantes. Incorporado ao Direito Penal pelos estudos de Claus Roxin. Calcado em valores de política criminal, funciona como causa de exclusão da tipicidade, desempenhando uma interpretação restritiva do tipo penal. Para o STF, a mínima ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica constituem os requisitos de ordem objetiva autorizadores da aplicação desse princípio. O valor patrimonial do objeto material não autoriza, por si só, o reconhecimento da criminalidade de bagatela. Exigem-se também requisitos subjetivos, conforme orientação do STJ: “Há que se conjugar a importância do objeto material para a vítima, levando-se em consideração a sua condição econômica, o valor sentimental do bem, como também as circunstâncias e o resultado do crime, tudo de modo a determinar, subjetivamente, se houve relevante lesão”. Com a caracterização desse princípio, opera-se tão somente a tipificade formal, não havendo, entretanto, a tipicidade material. O princípio da insignificância tem força suficiente para descaracterizar, no plano material, a própria tipicidade penal, autorizando inclusive a concessão de ofício de habeas corpus pelo Poder Judiciário. Tem aplicação a qualquer espécie de delito com ele compatível, e não apenas aos crimes contra o patrimônio. Não é admitido sua aplicação nos crimes praticados com emprego de violência à pessoa ou grave ameaça, pois os reflexos daí resultantes não podem ser considerados insignificantes, ainda que a coisa subtraída apresente ínfimo valor econômico, tendo o STJ já decidido no sentido de não ser aplicável ao crime de roubo. 14) Adequação social: O Princípio da Adequação Social, concebido pelo jurista e filósofo do Direito Hans Welzel, versa sobre condutas, que podem ser formalmente tipificadas, porém não são consideradas crimes pelo fato de serem socialmente aceitas e não ferem a Constituição Federal. A adequação social engloba duas vertentes, que se constituem em restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, e estimular o legislador repense os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a proteção sobre aqueles bens cujas condutas já se adaptaram harmonicamente à evolução da sociedade. O Princípio da Adequação Social, por si só, não tem força e autonomia para revogar tipos penais incriminadores, mesmo que o ato seja constantemente praticado, cuja as condutas já não são mais consideradas nocivas à sociedade. Não cabe ao agente, praticante do ato, dizer que o fato se encontra adequado socialmente, à luz do artigo 2º da Lei de Introdução ao Código Civil, uma lei somente pode ser revogada por outra. A Constituição Federal de 1988, no Título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais, capítulo I, erigiu os direitos e deveres individuais coletivos. Neste capítulo também definiu vários princípios constitucionais penais, garantidores de garantias aos cidadãos quando o Estado é obrigado a colocar em prática o jus puniendi, para que não existam arbitrariedades e nem regimes de exceção. Tais princípios são norteadores da atuação Estatal no campo penal, para a garantia de um processo imparcial e justo, afastando qualquer punição exacerbada e desmedida quando da aplicação da pena e garantidor do devido processo legal, amparado no contraditório e na ampla defesa. Fundamentos de um Estado Democrático de Direito. Assim, a observância dos princípios constitucionais penais é de suma importância para a garantia dos direitos fundamentais e para a aplicação da lei penal, sendo pois repetido no Código Penal e nas demais leis, como forma de concretização da Justiça. REFERÊNCIAS Princípios constitucionais. 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