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DIREITO PENAL III PARTE ESPECIAL DO CP 1 AULA 3 LESÕES CORPORAIS. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE. DA RIXA. (Arts.129 a 137, CP) I. Lesão corporal – art. 129, CP - lesão corporal leve. - lesão corporal qualificada pelo resultado: grave ou gravíssimo. - lesão corporal seguida de morte – delito preterdoloso. - lesão corporal privilegiada. - lesão corporal culposa. II. Da Periclitação da Vida e da Saúde. - Perigo de contágio venéreo - art.130 - Perigo de contágio de moléstia grave - art. 131 - Perigo para a vida ou a saúde de outrem - art. 132 - Abandono de incapaz - art. 133 - Exposição e abandono de recém-nascido - art. 134 - Omissão de socorro - art. 135 - Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial - art. 135-A - Maus tratos - art. 136. III. Da Rixa – Art. 137, CP I. Lesão corporal – art. 129, CP Conceito É a ofensa humana direcionada à integridade corporal ou à saúde de outra pessoa. - depende da produção de algum dano no corpo da vítima, interno ou externo. Ex: promessa de morte que provoca perturbações mentais na vítima. Objeto jurídico Tutela-se a integridade corporal e a saúde da pessoa humana. Sujeito ativo Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Sujeito passivo Qualquer pessoa, porém, em alguns casos exige-se da vítima uma qualidade especial. Ex: art. 129, § 1º, IV. Elemento subjetivo Em regra é o dolo, porém, há previsão da modalidade culposa. Ex: art. 129, § 6º. Consumação e tentativa Por se tratar de um crime material, a consumação ocorre com a efetiva lesão à integridade corporal ou à saúde da vítima. A tentativa é possível em todas as modalidades de lesão corporal dolosa. Lesão corporal e consentimento do ofendido Natureza jurídica: causa supralegal de exclusão da ilicitude. A integridade corporal é um bem disponível, desde que a lesão seja de natureza leve. Requisitos - deve ser prévio à consumação da infração penal; - deve ser dado por pessoa capaz; - deve recair sobre bem disponível. Princípio da insignificância O fato está tipificado na lei penal (tipicidade formal), porém, não é capaz de lesar ou de oferecer perigo ao bem jurídico. Neste caso, está ausente a tipicidade material. É possível ser aplicado na lesão corporal leve e na lesão corporal culposa. Ex: inexpressiva lesão corporal derivada de acidente de trânsito. Lesão corporal dolosa Subdivide-se em leve, grave, gravíssima e seguida de morte. 1. Lesão corporal leve – art. 129, caput, CP Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. (infração penal de menor potencial ofensivo) - por ser uma infração penal de menor potencial ofensivo segue o rito da Lei nº 9.099/95; - a ação penal é pública condicionada à representação; Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas. (Lei nº 9.099/95) 2. Lesão corporal grave – art. 129, § 1º, CP § 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. (infração penal de médio potencial ofensivo) Análise das qualificadoras I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias. - a expressão “ocupações habituais” se refere a qualquer atividade, e não somente ao trabalho da vítima; - é irrelevante a idade da vítima (criança ou idosa); - a atividade deve ser lícita, pouco importando se moral ou imoral. II. Perigo de vida. - é a possibilidade grave e concreta de a vítima morrer em consequência das lesões sofridas; - deve ser comprovado por perícia médica. III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função. - debilidade é a diminuição ou o enfraquecimento da capacidade funcional; - Ex: Sávio foi agredido no pulmão com socos e pontapés, ocasionando uma diminuição na sua função respiratória. Obs: Em caso de órgãos duplos (rins), a perda de somente um deles caracteriza lesão grave pela debilidade permanente. A perda de ambos caracteriza lesão gravíssima. IV – Aceleração de parto. - neste caso o feto nasce antes do período normal, em decorrência da lesão corporal; - a pena é aumentada em face do nascimento precoce ser mais perigoso para a criança e para a mãe; - exige que o agente tenha conhecimento da gravidez da vítima. 3. Lesão corporal gravíssima – art. 129, § 2º, CP § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos. (infração penal de elevado potencial ofensivo) Observações - esta nomenclatura é utilizada de forma unânime pela doutrina e jurisprudência; - é uma forma de diferenciar as qualificadoras do §1º; - é possível a ocorrência de duas qualificadoras ao mesmo tempo. (Ex: perda de membro e deformidade permanente), porém, considera-se crime único. Análise das qualificadoras I - Incapacidade permanente para o trabalho - incapacidade permanente: compreende toda e qualquer incapacidade longa e duradoura, que não permita fixar um limite temporal; - relaciona-se com uma atividade remunerada exercida pela vítima; - prevalece o entendimento que basta a incapacidade parcial ou relativa. Nesse sentido... “... sempre será possível, em tese, que o sujeito passivo se dedique a atividade diversa daquela que exercia. Daí a conveniência de se ampliar o âmbito de aplicação da qualificadora, para que compreenda também a incapacidade parcial ou relativa, concernente ao trabalho específico a que se dedicava o ofendido”. (Luiz Regis Prado) Exemplos Onofre, taxista, em decorrência de lesões em uma das pernas após um acidente automobilístico, torna-se permanentemente impossibilitado de dirigir veículo automotor, mas, ainda assim, lhe é possível exercer outro gênero de atividade, como vendedor, mecânico, etc. Nesse caso, não há que se falar em incapacidade permanente para o trabalho. Ajamir, cirurgião cardíaco, após sofrer lesões corporais não pode mais desempenhar essa atividade, mas nada impede de ser clínico geral – não incide a qualificadora. Agora, em decorrência das lesões o médico só consegue trabalhar como atendente – incidirá a qualificadora. II - Enfermidade incurável - trata-se de doença que não pode ser eficazmente combatida com os recursos da medicina à época do crime (pode ser do corpo ou da mente); - deve ser provada por meio de exame pericial; - se houver necessidade de intervenção cirúrgica arriscada e a vítima recusar-se a fazê-la, mesmo assim incidirá a qualificadora. III – Perda ou inutilização de membro, sentido ou função - diferente do § 1º, III, que fala em debilidade, o § 2º, III cuida da perda ou inutilização, circunstância muito mais grave que a primeira; Obs: Em caso de órgãos duplos (olhos), a perda de somente um deles caracteriza lesão grave pela debilidade. A perda de ambos caracteriza lesão gravíssima. IV – Deformidade permanente - configura-se a lesão gravíssima quando ocorre a modificação duradoura de uma parte do corpo da vítima; - a doutrina e jurisprudência majoritárias entendem que essa qualificadora está intimamente ligada a questões estéticas; - deve-se atentar para evitar discriminações. V – Aborto - prevalece o entendimento que o aborto deve ter sido provocado culposamente (crime preterdoloso); - é obrigatório o conhecimento da gravidez da vítima pelo agente. 4. Lesão corporal seguida de morte – art. 129, § 3º, CP § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. - trata-se do único crime autenticamente preterdoloso tipificado pelo CP. 5. Lesão corporal privilegiada – art. 129, § 4º, CP § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. - trata-se de uma causa de diminuição de pena; - aplica-se somente nas lesões dolosas, pois é incompatível com as lesões culposas; - valem as mesmas observações feitas no crime de homicídio. 6. Substituição da pena - art. 129, § 5º, CP § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. - somente é aplicável às lesões corporais leves ; - o dispositivo não se confunde com a legítima defesa; - pena de multa: art. 49, CP. 7. Aumento de pena na lesão corporal dolosa - art. 129, § 7º. (leve, grave, gravíssima ou seguida de morte) § 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012) Obs: O § 4º do art. 121 se refere à lesão corporal culposa e dolosa. 8. Lesão corporal culposa - art. 129, § 6º. § 6° Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano. - ao contrário das lesões corporais dolosas, o CP não faz distinção quanto à gravidade das lesões; - a gravidade das lesões deverá ser levada em conta no momento da fixação da pena pelo juiz; - trata-se de crime de menor potencial ofensivo. Jurisprudência... A modalidade de culpa deve ser motivadamente descrita na inicial acusatória, sob pena de inépcia. “Lesões corporais culposas. Acidente de veículo. Imputação de culpa na modalidade de imperícia. Mera referência a perda de controle do veículo. Insuficiência. Processo anulado desde a denúncia, inclusive. É inepta a denúncia que, imputando ao réu a prática de lesões corporais culposas, em acidente de veículo, causado por alegada imperícia, não descreve o fato em que esta teria consistido”. (STF, HC 86.609/RJ, de 06.06.2006) Lesão corporal culposa e o Código de Trânsito Brasileiro - neste caso, incide o art. 303 do CTB; - a pena é mais elevada; - aplicação do princípio da especialidade. 9. Lesão corporal culposa e perdão judicial – art. 129, § 8º § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990) Art. 121... § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977) 10. Lesão corporal e violência doméstica – art. 129, § 9º. Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. - com o aumento da pena máxima para 3 anos, o legislador retirou o delito do rol das infrações de menor potencial ofensivo. 11. Causa de aumento de pena nas lesões graves, gravíssimas e seguidas de morte - art. 129, § 10. § 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) 12. Pessoa portadora de deficiência e aumento de pena na lesão corporal leve com violência doméstica - art. 129, § 11. § 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006) - deve tratar-se de pessoa portadora de deficiência e ligada ao autor do crime pelos laços de violência doméstica. Atualização legislativa Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). 13. Causa de aumento da pena: agentes públicos – art. 129, § 12. § 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) II. Da Periclitação da Vida e da Saúde – arts. 130 a 136, CP - trata-se de crimes de perigo; - não se exige para a consumação do delito a efetiva lesão ao bem jurídico protegido; - é suficiente a exposição do bem jurídico a uma probabilidade de dano. Crimes de perigo a) crimes de perigo abstrato – se consumam com a mera prática da conduta, não se exigindo a comprovação da situação de perigo. Ex: tráfico de drogas. b) Crimes de perigo concreto – se consumam com a efetiva comprovação da situação de perigo. Ex: incêndio - art. 250, CP. c) Crimes de perigo individual – são os que atingem uma pessoa determinada. Ex: arts. 130 a 136, CP. 1. Perigo de contágio venéreo – art. 130, CP Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 2º - Somente se procede mediante representação. Características - trata-se de crime próprio: o agente deve estar infectado pela moléstia venérea; - para a consumação do delito não se exige a contaminação da vítima; - exemplos de moléstia venérea dados pela medicina: sífilis, gonorreia; - AIDS: não é moléstia venérea. Pode ser transmitida por outras formas diversas da relação sexual. 2. Perigo de contágio de moléstia grave – art. 131, CP Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (crime de médio potencial ofensivo) Características - trata-se de crime próprio, pois o agente deve estar contaminado pela moléstia grave; - consuma-se no momento da prática do ato capaz de produzir o contágio – crime formal; - o sujeito quer transmitir a outrem a moléstia grave - dolo de dano; - admite a suspensão condicional do processo – pena mínima de 1 ano. 3. Perigo para a vida ou saúde de outrem – art. 132, CP Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. (infração penal de menor potencial ofensivo) Características - o tipo penal protege a vida e a saúde da pessoa humana; - trata-se de um crime de perigo concreto: exige prova da existência do perigo gerado para a vítima; - consuma-se no momento em que ocorre a produção do perigo concreto para a vítima; - é um crime de subsidiariedade expressa: “se o fato não constitui crime mais grave”. Causa de aumento da pena - § único - acrescentado pela Lei nº 9.777/98; - visa punir mais severamente os proprietários de veículos que promovem o transporte de trabalhadores sem a necessária segurança; - trata-se de um delito de trânsito, situado no CP. Análise do art. 15 do Estatuto do Desarmamento - o disparo de arma de fogo em lugar habitado não tipifica tal delito; - pelo princípio da especialidade, aplica-se o Estatuto do Desarmamento, cuja pena é mais grave (reclusão de 2 a 4 anos). 4. Abandono de incapaz - art. 133, CP Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena - detenção, de seis meses a três anos. § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Aumento de pena § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: I - se o abandono ocorre em lugar ermo; II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003) Características - o tipo penal protege a vida, a saúde e a segurança da pessoa humana; - trata-se de um crime de perigo concreto: exige prova da existência do perigo gerado para a vítima; - essa incapacidade não se confunde com a incapacidade civil (qualquer pessoa que não possa se defender ); - formas qualificadas: §§ 1º e 2º - crimes preterdolosos. 5. Exposição ou abandono de recém-nascido - art. 134, CP Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - detenção, de um a três anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - detenção, de dois a seis anos. Obs: Na prática, as duas condutas descritas se equivalem. Características - é uma figura privilegiada do abandono de incapaz, cometido por motivo de honra; - trata-se de um crime de perigo concreto: exige prova da existência do perigo gerado para a vítima; - é um crime próprio, pois somente pode ser cometido pela mãe que concebeu o filho de maneira desonrosa; - a prostituta não pode ser sujeito ativo desse delito, respondendo por abandono de incapaz; - formas qualificadas: §§ 1º e 2º - crimes preterdolosos. Divergência doutrinária O sujeito ativo é a mãe, que concebeu a criança fora do matrimônio. A doutrina admite que o pai possa ser sujeito ativo do delito. Contudo, autores como Celso Delmanto e Cezar Roberto Bitencourt repelem tal posicionamento sustentando que o delito é crime próprio, pois a lei expressamente se refere a “desonra própria”, somente podendo ser cometido pela mãe, à semelhança do delito de infanticídio. 6. Omissão de socorro - art. 135, CP Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Características - trata-se de crime omissivo próprio (ou puro) – a omissão é descrita pelo próprio tipo penal; - a lei não reserva discricionariedade ao agente: socorre diretamente a vítima ou solicita ajuda à autoridade pública; - omissão de socorro e vítima idosa: art. 97 do Estatuto do Idoso; - morte instantânea: impede a caracterização do crime (≠ do CTB). Omissão de socorro e o CTB Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave. Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves. (dispositivo muito criticado pela doutrina) 7. Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial - art. 135 - A, CP Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial: (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012). Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. Características - trata-se de tipo penal questionável, sob o ponto de vista do princípio da intervenção mínima; - além do mais, tal proibição já estava prevista no Resolução Normativa nº 44, da ANS, de 24/jul/2003; - na esfera penal, as condutas do art. 135-A sempre caracterizaram o crime de omissão de socorro; - trata-se de uma lei penal em branco homogênea: atendimento emergencial está definido no art. 35-C, I, da Lei nº 9.656/98; - somente pode ser cometido em hospitais particulares. 8. Maus-tratos - art. 136 , CP Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a quatro anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990) Características - trata-se de crime próprio, pois só pode ser cometido por quem tenha autoridade, guarda, ou exerça vigilância sobre a vítima; - além disso, é um crime de forma vinculada: a conduta somente admite os modos de execução previstos na lei; - maus-tratos contra idoso: incide o art. 99 do respectivo Estatuto; - diferença entre maus-tratos e tortura: aquele é de perigo (dolo de perigo); este é de dano (dolo de dano). III. Rixa - art. 137, CP Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. Conceito: É a luta, a contenda entre três ou mais pessoas; briga esta que envolva vias de fato ou violências físicas recíprocas, praticadas por cada um dos contendores contra os demais, generalizadamente. Características - trata-se de um crime de concurso necessário, ou seja, reclama a existência de pelo menos três pessoas; - a participação na rixa pode ser material ou moral; - por se tratar de crime de perigo, não é necessário que qualquer dos rixosos sofra lesões corporais; - é um crime de perigo abstrato (ou presumido), pois a lei presume, de forma absoluta, que há situação de perigo com a participação na rixa. REFERÊNCIAS GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial – vol. II. 12 ed. Ver. e atual. – Niterói, RJ: Impetus, 2015. MASSON, Cléber. Direito Penal Esquematizado: parte especial – vol. 2. 6 ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. - CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial – vol. 2. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 64 EXERCÍCIOS 1. O indivíduo B, com a finalidade de comemorar a vitória de seu time de futebol, passou a disparar “fogos de artifício” de sua residência, que se situa ao lado de um edifício residencial. Ao ser alertado por um de seus amigos sobre o risco de que as explosões poderiam atingir as residências do edifício e que havia algumas janelas abertas, B respondeu que não havia problema porque naquele prédio só moravam torcedores do time rival. Um dos dispositivos disparados explodiu dentro de uma das residências desse edifício e feriu uma criança de 5 anos de idade que ali se encontrava. Com relação à conduta do indivíduo B, é correto afirmar que: 65 a) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal culposa, em virtude de ter agido com negligência. b) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal culposa, em virtude de ter agido com imperícia. c) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal dolosa. d) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal culposa, em virtude de ter agido com imprudência. e) o indivíduo B não poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal, tendo em vista que o pai da criança lesionada percebeu que as explosões estavam ocorrendo próximo às janelas e não as fechou. 66 1. RESPOSTA (VUNESP/2015 – PC/CE – Escrivão de Polícia) Alternativa “c”. 67 2. O crime de lesão corporal seguida de morte caracteriza-se quando: a) da ação culposa de lesão advém o resultado morte. b) da conduta resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo. c) a vítima ou seu precário estado de saúde contribuem para o resultado morte, que era desejado pelo agente. d) o agente assumiu o risco de produzir o resultado mais grave, embora não o desejasse. e) o agente, num primeiro momento, deseja lesionar, mas num segundo momento passa a agir para obter o resultado morte. 68 2. RESPOSTA (VUNESP/2013 – PC/SP – Papiloscopista) Alternativa “b”. 69 3. Um policial civil regularmente designado para atuar como responsável pela carceragem de uma Delegacia de Polícia é cientificado por familiares de um preso temporário que este sofre de “diabetes” grave e que necessita de constantes injeções de “insulina” para manter a doença sob controle, sendo-lhe exibido o respectivo laudo médico. O agente público simplesmente ignora esta informação e não a transmite aos seus superiores hierárquicos, mantendo o indivíduo no cárcere sem qualquer assistência médica. Dias depois, o preso é encontrado caído no chão da cela com visíveis sinais tanatológicos, sendo o óbito constatado e a causa mortis apurada como decorrente da ausência de controle glicêmico. No caso em tela o policial civil estará sujeito à responsabilização penal pela prática do crime de: a) Homicídio. b) Omissão de socorro. c) Prevaricação. d) Tortura. e) Abuso de autoridade. 70 3. RESPOSTA (IBFC/2013 – PC/RJ – Oficial de Cartório) Alternativa “a”. Fundamento: art. 13, § 2º, CP. Relevância da omissão § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: (aqui nós temos os crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão) a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Ex: poder familiar; policial; bombeiro;etc) 71 EXERCÍCIOS DO CADERNO 1. CASO CONCRETO Deyse Neves foi denunciada como incursa no delito tipificado no art. 1º, II, da Lei nº 9.455/97, por ter havido, mediante a utilização de uma escova de cabelo de cabo de madeira e correia de cinto, agredido seu filho Wallace, de três anos de idade. Em juízo, confessou a ré ter tido como motivo das agressões físicas a negativa de seu filho em utilizar o banheiro para a realização de suas necessidades, bem como sua “pirraça” ao fazê-las no chão da sala de casa (fls.132/133). Restadas comprovadas autoria e materialidade das agressões e, consectárias lesões à integridade física da criança, o MP entendeu estarem presentes os elementos configuradores do delito de tortura e não do delito de maus-tratos, previsto no art.136, CP. Ante o exposto com base nos estudos realizados sobre o tema, indique, fundamentadamente, a correta tipificação à conduta de Deyse Neves, bem como diferencie os delitos supracitados. 72 QUESTÃO OBJETIVA 1. (UNEB - 2014 - DPE-BA - Estágio Jurídico - Defensoria Pública) “Uma criança de um 1 ano e 9 meses morreu após ser atropelada pelo próprio pai na zona sul de Porto Alegre, no início da tarde desta segunda-feira (30). Conforme a Polícia Civil, o pai, de 31 anos, estava saindo de ré da garagem de casa e não viu o menino, que foi atingido pelo veículo. O atropelamento aconteceu na Rua Dona Mariana, na Restinga. A criança foi encaminhada para o Hospital Moinhos de Vento da Restinga, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. A Delegacia de Trânsito instaurou inquérito para investigar o caso. O pai e um tio da criança, que presenciou o ocorrido, prestaram depoimento durante a tarde”. (ATROPELO. Disponível em: <gaucha.clicrbs.com.br>. Acesso em: 30 dez. 2013). Na hipótese narrada, o pai da criança responderá criminalmente por: a) lesão corporal seguida de morte. b) lesão corporal seguida de morte, na hipótese preterdolosa. c) homicídio culposo, porém será possível a extinção da punibilidade pelo perdão judicial. d) homicídio culposo, porém será possível a extinção da punibilidade pelo perdão do ofendido. e) homicídio culposo e lesão corporal culposa, porém será possível a extinção da punibilidade pelo perdão do ofendido. 73 QUESTÃO OBJETIVA 2) Sobre os crimes de abandono de incapaz e exposição ou abandono de recém-nascido, analise as assertivas abaixo: I. o delito de exposição ou abandono de recém-nascido, em face da pena, admite a transação penal prevista na Lei nº 9.099/95 – Juizados Especiais Criminais. II. consumam-se com a efetiva exposição ou abandono, desde que resulte perigo concreto à vida ou à saúde da vítima. III. em relação ao sujeito ativo do delito configuram delitos especiais próprios. IV. o delito de exposição ou abandono de recém-nascido pode ser praticado por terceiro como forma de auxílio ao pai ou à mãe, não contudo, pelo terceiro, diretamente, sem a participação do pai ou da mãe. Estão certos apenas os itens: a) I e II. b) I, II e III. c) I, III e IV. d) I e IV. 74
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