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Aula 3_2015.2_lesão corporal_periclitação da vida_rixa

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DIREITO PENAL III
PARTE ESPECIAL DO CP
1
AULA 3
LESÕES CORPORAIS. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE. DA RIXA.  (Arts.129 a 137, CP)
I. Lesão corporal – art. 129, CP
- lesão corporal leve.
- lesão corporal qualificada pelo resultado: grave ou gravíssimo.
- lesão corporal seguida de morte – delito preterdoloso.
- lesão corporal privilegiada.
- lesão corporal culposa.
 
II. Da Periclitação da Vida e da Saúde.
- Perigo de contágio venéreo - art.130
- Perigo de contágio de moléstia grave - art. 131
- Perigo para a vida ou a saúde de outrem - art. 132
  - Abandono de incapaz - art. 133
- Exposição e abandono de recém-nascido - art. 134
- Omissão de socorro - art. 135
- Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial - art. 135-A
- Maus tratos - art. 136.
III. Da Rixa – Art. 137, CP
I. Lesão corporal – art. 129, CP
Conceito 
	É a ofensa humana direcionada à integridade corporal ou à saúde de outra pessoa.
	- depende da produção de algum dano no corpo da vítima, interno ou externo.
	
Ex: promessa de morte que provoca perturbações mentais na vítima.
Objeto jurídico
	Tutela-se a integridade corporal e a saúde da pessoa humana. 
 Sujeito ativo	
	Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
Sujeito passivo 
	Qualquer pessoa, porém, em alguns casos exige-se da vítima uma qualidade especial. Ex: art. 129, § 1º, IV. 
 Elemento subjetivo
	Em regra é o dolo, porém, há previsão da modalidade culposa. Ex: art. 129, § 6º.
Consumação e tentativa
	Por se tratar de um crime material, a consumação ocorre com a efetiva lesão à integridade corporal ou à saúde da vítima.
	A tentativa é possível em todas as modalidades de lesão corporal dolosa.
Lesão corporal e consentimento do ofendido
	Natureza jurídica: causa supralegal de exclusão da ilicitude.
	A integridade corporal é um bem disponível, desde que a lesão seja de natureza leve.
Requisitos
	- deve ser prévio à consumação da infração penal;
	- deve ser dado por pessoa capaz;
	- deve recair sobre bem disponível.
Princípio da insignificância
	O fato está tipificado na lei penal (tipicidade formal), porém, não é capaz de lesar ou de oferecer perigo ao bem jurídico. Neste caso, está ausente a tipicidade material.
	É possível ser aplicado na lesão corporal leve e na lesão corporal culposa.
Ex: inexpressiva lesão corporal derivada de acidente de trânsito.
Lesão corporal dolosa
	Subdivide-se em leve, grave, gravíssima e seguida de morte.
1. Lesão corporal leve – art. 129, caput, CP
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano.
(infração penal de menor potencial ofensivo)
	- por ser uma infração penal de menor potencial ofensivo segue o rito da Lei nº 9.099/95;
	- a ação penal é pública condicionada à representação;
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
(Lei nº 9.099/95)
2. Lesão corporal grave – art. 129, § 1º, CP 
	
§ 1º Se resulta: 
        I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
        II - perigo de vida; 
        III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
        IV - aceleração de parto: 
        Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
(infração penal de médio potencial ofensivo)
Análise das qualificadoras
 
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias. 
	- a expressão “ocupações habituais” se refere a qualquer atividade, e não somente ao trabalho da vítima;
	- é irrelevante a idade da vítima (criança ou idosa);
	- a atividade deve ser lícita, pouco importando se moral ou imoral.
II. Perigo de vida.
	- é a possibilidade grave e concreta de a vítima morrer em consequência das lesões sofridas;
	- deve ser comprovado por perícia médica.
	 
	
III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função.
	- debilidade é a diminuição ou o enfraquecimento da capacidade funcional;
	- Ex: Sávio foi agredido no pulmão com socos e pontapés, ocasionando uma diminuição na sua função respiratória. 
Obs: Em caso de órgãos duplos (rins), a perda de somente um deles caracteriza lesão grave pela debilidade permanente. A perda de ambos caracteriza lesão gravíssima.
IV – Aceleração de parto.
	- neste caso o feto nasce antes do período normal, em decorrência da lesão corporal;
	- a pena é aumentada em face do nascimento precoce ser mais perigoso para a criança e para a mãe;
	- exige que o agente tenha conhecimento da gravidez da vítima. 
3. Lesão corporal gravíssima – art. 129, § 2º, CP
	
§ 2° Se resulta: 
        I - Incapacidade permanente para o trabalho; 
        II - enfermidade incurável; 
        III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
        IV - deformidade permanente; 
        V - aborto: 
        Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
(infração penal de elevado potencial ofensivo)
Observações
	- esta nomenclatura é utilizada de forma unânime pela doutrina e jurisprudência;
	- é uma forma de diferenciar as qualificadoras do §1º;
	- é possível a ocorrência de duas qualificadoras ao mesmo tempo. (Ex: perda de membro e deformidade permanente), porém, considera-se crime único.
Análise das qualificadoras
 
I - Incapacidade permanente para o trabalho
	- incapacidade permanente: compreende toda e qualquer incapacidade longa e duradoura, que não permita fixar um limite temporal;
	- relaciona-se com uma atividade remunerada exercida pela vítima;
	- prevalece o entendimento que basta a incapacidade parcial ou relativa. 
Nesse sentido...
	“... sempre será possível, em tese, que o sujeito passivo se dedique a atividade diversa daquela que exercia. Daí a conveniência de se ampliar o âmbito de aplicação da qualificadora, para que compreenda também a incapacidade parcial ou relativa, concernente ao trabalho específico a que se dedicava o ofendido”.
					(Luiz Regis Prado)
Exemplos 
	Onofre, taxista, em decorrência de lesões em uma das pernas após um acidente automobilístico, torna-se permanentemente impossibilitado de dirigir veículo automotor, mas, ainda assim, lhe é possível exercer outro gênero de atividade, como vendedor, mecânico, etc. Nesse caso, não há que se falar em incapacidade permanente para o trabalho.
	Ajamir, cirurgião cardíaco, após sofrer lesões corporais não pode mais desempenhar essa atividade, mas nada impede de ser clínico geral – não incide a qualificadora. 
	Agora, em decorrência das lesões o médico só consegue trabalhar como atendente – incidirá a qualificadora.
II - Enfermidade incurável
	- trata-se de doença que não pode ser eficazmente combatida com os recursos da medicina à época do crime (pode ser do corpo ou da mente);
	- deve ser provada por meio de exame pericial;
	- se houver necessidade de intervenção cirúrgica arriscada e a vítima recusar-se a fazê-la, mesmo assim incidirá a qualificadora.
III – Perda ou inutilização de membro, sentido ou função
	- diferente do § 1º, III, que fala em debilidade, o § 2º, III cuida da perda ou inutilização, circunstância muito mais grave que a primeira;
Obs: Em caso de órgãos duplos (olhos), a perda de somente um deles caracteriza lesão grave pela debilidade. A perda de ambos caracteriza lesão gravíssima.
IV – Deformidade permanente
	- configura-se a lesão gravíssima quando ocorre a modificação duradoura de uma parte do corpo da vítima;
	- a doutrina e jurisprudência majoritárias entendem que essa qualificadora está intimamente ligada a questões estéticas;
	- deve-se atentar para evitar discriminações.
V – Aborto
	- prevalece o entendimento que o aborto deve ter sido provocado culposamente (crime preterdoloso);
	- é obrigatório o conhecimento da gravidez da vítima pelo agente.
4. Lesão corporal seguida de morte
– art. 129, § 3º, CP
        § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: 
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
	- trata-se do único crime autenticamente preterdoloso tipificado pelo CP. 
5. Lesão corporal privilegiada – art. 129, § 4º, CP
                § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
	- trata-se de uma causa de diminuição de pena;
	- aplica-se somente nas lesões dolosas, pois é incompatível com as lesões culposas;
	- valem as mesmas observações feitas no crime de homicídio.
	
6. Substituição da pena - art. 129, § 5º, CP
	§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: 
        I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; 
        II - se as lesões são recíprocas. 
	- somente é aplicável às lesões corporais leves ;
	- o dispositivo não se confunde com a legítima defesa;
	- pena de multa: art. 49, CP. 	
7. Aumento de pena na lesão corporal dolosa - art. 129, § 7º.
(leve, grave, gravíssima ou seguida de morte)
	§ 7o  Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código.        (Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)
Obs: O § 4º do art. 121 se refere à lesão corporal culposa e dolosa.
8. Lesão corporal culposa - art. 129, § 6º.
§ 6° Se a lesão é culposa:
        Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
	- ao contrário das lesões corporais dolosas, o CP não faz distinção quanto à gravidade das lesões;
	
	- a gravidade das lesões deverá ser levada em conta no momento da fixação da pena pelo juiz;
	- trata-se de crime de menor potencial ofensivo. 
Jurisprudência...
A modalidade de culpa deve ser motivadamente descrita na inicial acusatória, sob pena de inépcia.
	“Lesões corporais culposas. Acidente de veículo. Imputação de culpa na modalidade de imperícia. Mera referência a perda de controle do veículo. Insuficiência. Processo anulado desde a denúncia, inclusive. É inepta a denúncia que, imputando ao réu a prática de lesões corporais culposas, em acidente de veículo, causado por alegada imperícia, não descreve o fato em que esta teria consistido”.
			(STF, HC 86.609/RJ, de 06.06.2006)
Lesão corporal culposa e o Código de Trânsito Brasileiro
	
- neste caso, incide o art. 303 do CTB;
- a pena é mais elevada;
- aplicação do princípio da especialidade.
9. Lesão corporal culposa e perdão judicial – art. 129, § 8º
        § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990)
Art. 121...
        § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
10. Lesão corporal e violência doméstica – art. 129, § 9º.
Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
        § 9o  Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
	- com o aumento da pena máxima para 3 anos, o legislador retirou o delito do rol das infrações de menor potencial ofensivo.
11. Causa de aumento de pena nas lesões graves, gravíssimas e seguidas de morte - art. 129, § 10.
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
12. Pessoa portadora de deficiência e aumento de pena na lesão corporal leve com violência doméstica - art. 129, § 11.
        § 11.  Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)
	- deve tratar-se de pessoa portadora de deficiência e ligada ao autor do crime pelos laços de violência doméstica.
Atualização legislativa
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015.
Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
13. Causa de aumento da pena: agentes públicos – art. 129, § 12. 
	§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços.  (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
II. Da Periclitação da Vida e da Saúde – arts. 130 a 136, CP
	- trata-se de crimes de perigo;
	- não se exige para a consumação do delito a efetiva lesão ao bem jurídico protegido;
	- é suficiente a exposição do bem jurídico a uma probabilidade de dano. 
	
Crimes de perigo
	a) crimes de perigo abstrato – se consumam com a mera prática da conduta, não se exigindo a comprovação da situação de perigo. Ex: tráfico de drogas.
	b) Crimes de perigo concreto – se consumam com a efetiva comprovação da situação de perigo. Ex: incêndio - art. 250, CP.
	c) Crimes de perigo individual – são os que atingem uma pessoa determinada. Ex: arts. 130 a 136, CP.
1. Perigo de contágio venéreo – art. 130, CP
	Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
        § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
        § 2º - Somente se procede mediante representação.
Características
	- trata-se de crime próprio: o agente deve estar infectado pela moléstia venérea;
	- para a consumação do delito não se exige a contaminação da vítima;
	- exemplos de moléstia venérea dados pela medicina: sífilis, gonorreia;
	- AIDS: não é moléstia venérea. Pode ser transmitida por outras formas diversas da relação sexual.
2. Perigo de contágio de moléstia grave – art. 131, CP
	
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
(crime de médio potencial ofensivo)
Características
	- trata-se de crime próprio, pois o agente deve estar contaminado pela moléstia grave; 
	- consuma-se no momento da prática do ato capaz de produzir o contágio – crime formal;
	- o sujeito quer transmitir a outrem a moléstia grave - dolo de dano;
	- admite a suspensão condicional do processo – pena mínima de 1 ano.
	
3. Perigo para a vida ou saúde de outrem – art. 132, CP
	
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
        Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. 
(infração penal de menor potencial ofensivo)
Características
	- o tipo penal protege a vida e a saúde da pessoa humana;
	- trata-se de um crime de perigo concreto:
exige prova da existência do perigo gerado para a vítima;
	- consuma-se no momento em que ocorre a produção do perigo concreto para a vítima; 
	- é um crime de subsidiariedade expressa: “se o fato não constitui crime mais grave”.
Causa de aumento da pena - § único
	- acrescentado pela Lei nº 9.777/98;
	- visa punir mais severamente os proprietários de veículos que promovem o transporte de trabalhadores sem a necessária segurança;
	- trata-se de um delito de trânsito, situado no CP.
	
Análise do art. 15 do Estatuto do Desarmamento
	- o disparo de arma de fogo em lugar habitado não tipifica tal delito;
	- pelo princípio da especialidade, aplica-se o Estatuto do Desarmamento, cuja pena é mais grave (reclusão de 2 a 4 anos).
4. Abandono de incapaz - art. 133, CP
	
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
        Pena - detenção, de seis meses a três anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
        Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
        Aumento de pena
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
      I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
      II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
     III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
Características
	- o tipo penal protege a vida, a saúde e a segurança da pessoa humana;
	 - trata-se de um crime de perigo concreto: exige prova da existência do perigo gerado para a vítima;
	- essa incapacidade não se confunde com a incapacidade civil (qualquer pessoa que não possa se defender );
	- formas qualificadas: §§ 1º e 2º - crimes preterdolosos.
5. Exposição ou abandono de recém-nascido - art. 134, CP
	
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
        Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
        Pena - detenção, de um a três anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
        Pena - detenção, de dois a seis anos.
Obs: Na prática, as duas condutas descritas se equivalem.
Características
	- é uma figura privilegiada do abandono de incapaz, cometido por motivo de honra; 
	 - trata-se de um crime de perigo concreto: exige prova da existência do perigo gerado para a vítima;
	- é um crime próprio, pois somente pode ser cometido pela mãe que concebeu o filho de maneira desonrosa;
	
	- a prostituta não pode ser sujeito ativo desse delito, respondendo por abandono de incapaz; 
	
	- formas qualificadas: §§ 1º e 2º - crimes preterdolosos.
Divergência doutrinária
	O sujeito ativo é a mãe, que concebeu a criança fora do matrimônio. 
	A doutrina admite que o pai possa ser sujeito ativo do delito. Contudo, autores como Celso Delmanto e Cezar Roberto Bitencourt repelem tal posicionamento sustentando que o delito é crime próprio, pois a lei expressamente se refere a “desonra própria”, somente podendo ser cometido pela mãe, à semelhança do delito de infanticídio.
6. Omissão de socorro - art. 135, CP
	
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
        Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
     Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Características
	- trata-se de crime omissivo próprio (ou puro) – a omissão é descrita pelo próprio tipo penal;
	 - a lei não reserva discricionariedade ao agente: socorre diretamente a vítima ou solicita ajuda à autoridade pública;
	- omissão de socorro e vítima idosa: art. 97 do Estatuto do Idoso;
 	
	- morte instantânea: impede a caracterização do crime (≠ do CTB).
Omissão de socorro e o CTB
	 Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:
        Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave.
        Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves. (dispositivo muito criticado pela doutrina)
7. Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial - art. 135 - A, CP
	
     Art. 135-A.  Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial:  (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
        Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
        
Parágrafo único.  A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. 
Características
	- trata-se de tipo penal questionável, sob o ponto de vista do princípio da intervenção mínima;
	 - além do mais, tal proibição já estava prevista no Resolução Normativa nº 44, da ANS, de 24/jul/2003; 
	- na esfera penal, as condutas do art. 135-A sempre caracterizaram o crime de omissão de socorro; 
	- trata-se de uma lei penal em branco homogênea: atendimento emergencial está definido no art. 35-C, I, da Lei nº 9.656/98;
	- somente pode ser cometido em hospitais particulares.
8. Maus-tratos - art. 136 , CP
	
     Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
        Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
        § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos.
        § 2º - Se resulta a morte:
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
        § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990)
Características
	- trata-se de crime próprio, pois só pode ser cometido por quem tenha autoridade, guarda, ou exerça vigilância sobre a vítima;
	 - além disso, é um crime de forma vinculada: a conduta somente admite os modos de execução previstos na lei;
	- maus-tratos contra idoso: incide o art. 99 do respectivo Estatuto; 
	
	- diferença entre maus-tratos e tortura: aquele é de perigo (dolo de perigo); este é de dano (dolo de dano). 
III. Rixa - art. 137, CP
	Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
        Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
        Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Conceito: É a luta, a contenda entre três ou mais pessoas; briga esta que envolva vias de fato ou violências físicas recíprocas, praticadas por cada um dos contendores contra os demais, generalizadamente.
Características
	- trata-se de um crime de concurso necessário, ou seja, reclama a existência de pelo menos três pessoas; 
	 - a participação na rixa pode ser material ou moral; 
	- por se tratar de crime de perigo, não é necessário que qualquer dos rixosos sofra lesões corporais; 
	
	- é um crime de perigo abstrato (ou presumido), pois a lei presume, de forma absoluta, que
há situação de perigo com a participação na rixa.
REFERÊNCIAS
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial – vol. II. 12 ed. Ver. e atual. – Niterói, RJ: Impetus, 2015.
 MASSON, Cléber. Direito Penal Esquematizado: parte especial – vol. 2. 6 ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. 
- CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial – vol. 2. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
64
EXERCÍCIOS
1. O indivíduo B, com a finalidade de comemorar a vitória de seu time de futebol, passou a disparar “fogos de artifício” de sua residência, que se situa ao lado de um edifício residencial. Ao ser alertado por um de seus amigos sobre o risco de que as explosões poderiam atingir as residências do edifício e que havia algumas janelas abertas, B respondeu que não havia problema porque naquele prédio só moravam torcedores do time rival. Um dos dispositivos disparados explodiu dentro de uma das residências desse edifício e feriu uma criança de 5 anos de idade que ali se encontrava. Com relação à conduta do indivíduo B, é correto afirmar que: 
65
a) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal culposa, em virtude de ter agido com negligência. 
b) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal culposa, em virtude de ter agido com imperícia. 
c) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal dolosa. 
d) o indivíduo B poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal culposa, em virtude de ter agido com imprudência. 
e) o indivíduo B não poderá ser responsabilizado pelo crime de lesão corporal, tendo em vista que o pai da criança lesionada percebeu que as explosões estavam ocorrendo próximo às janelas e não as fechou. 
66
1. RESPOSTA (VUNESP/2015 – PC/CE – Escrivão de Polícia)
Alternativa “c”.
	
67
 2. O crime de lesão corporal seguida de morte caracteriza-se quando:
a) da ação culposa de lesão advém o resultado morte.
b) da conduta resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo.
c) a vítima ou seu precário estado de saúde contribuem para o resultado morte, que era desejado pelo agente.
d) o agente assumiu o risco de produzir o resultado mais grave, embora não o desejasse.
e) o agente, num primeiro momento, deseja lesionar, mas num segundo momento passa a agir para obter o resultado morte.
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 2. RESPOSTA (VUNESP/2013 – PC/SP – Papiloscopista) 	
Alternativa “b”.
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 3. Um policial civil regularmente designado para atuar como responsável pela carceragem de uma Delegacia de Polícia é cientificado por familiares de um preso temporário que este sofre de “diabetes” grave e que necessita de constantes injeções de “insulina” para manter a doença sob controle, sendo-lhe exibido o respectivo laudo médico. O agente público simplesmente ignora esta informação e não a transmite aos seus superiores hierárquicos, mantendo o indivíduo no cárcere sem qualquer assistência médica. Dias depois, o preso é encontrado caído no chão da cela com visíveis sinais tanatológicos, sendo o óbito constatado e a causa mortis apurada como decorrente da ausência de controle glicêmico. No caso em tela o policial civil estará sujeito à responsabilização penal pela prática do crime de:
a) Homicídio. 
b) Omissão de socorro. 
c) Prevaricação. 
d) Tortura. 
e) Abuso de autoridade. 
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 3. RESPOSTA (IBFC/2013 – PC/RJ – Oficial de Cartório) 
Alternativa “a”.
Fundamento: art. 13, § 2º, CP.
Relevância da omissão 
        § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: (aqui nós temos os crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão)
        a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Ex: poder familiar; policial; bombeiro;etc)
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EXERCÍCIOS DO CADERNO
1. CASO CONCRETO
Deyse Neves foi denunciada como incursa no delito tipificado no art. 1º, II, da Lei nº 9.455/97, por ter havido, mediante a utilização de uma escova de cabelo de cabo de madeira e correia de cinto, agredido seu filho Wallace, de três anos de idade. Em juízo, confessou a ré ter tido como motivo das agressões físicas a negativa de seu filho em utilizar o banheiro para a realização de suas necessidades, bem como sua “pirraça” ao fazê-las no chão da sala de casa (fls.132/133). Restadas comprovadas autoria e materialidade das agressões e, consectárias lesões à integridade física da criança, o MP entendeu estarem presentes os elementos configuradores do delito de tortura e não do delito de maus-tratos, previsto no art.136, CP. 
Ante o exposto com base nos estudos realizados sobre o tema, indique, fundamentadamente, a correta tipificação à conduta de Deyse Neves, bem como diferencie os delitos supracitados.
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QUESTÃO OBJETIVA
1. (UNEB - 2014 - DPE-BA - Estágio Jurídico - Defensoria Pública)
 “Uma criança de um 1 ano e 9 meses morreu após ser atropelada pelo próprio pai na zona sul de Porto Alegre, no início da tarde desta segunda-feira (30). Conforme a Polícia Civil, o pai, de 31 anos, estava saindo de ré da garagem de casa e não viu o menino, que foi atingido pelo veículo. O atropelamento aconteceu na Rua Dona Mariana, na Restinga.
 A criança foi encaminhada para o Hospital Moinhos de Vento da Restinga, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. A Delegacia de Trânsito instaurou inquérito para investigar o caso. O pai e um tio da criança, que presenciou o ocorrido, prestaram depoimento durante a tarde”. (ATROPELO. Disponível em: <gaucha.clicrbs.com.br>. Acesso em: 30 dez. 2013).
Na hipótese narrada, o pai da criança responderá criminalmente por: 
 a) lesão corporal seguida de morte. 
 b) lesão corporal seguida de morte, na hipótese preterdolosa. 
 c) homicídio culposo, porém será possível a extinção da punibilidade pelo perdão judicial. 
 d) homicídio culposo, porém será possível a extinção da punibilidade pelo perdão do ofendido. 
 e) homicídio culposo e lesão corporal culposa, porém será possível a extinção da punibilidade pelo perdão do ofendido.
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QUESTÃO OBJETIVA
2)  Sobre os crimes de abandono de incapaz e exposição ou abandono de recém-nascido, analise as assertivas abaixo:
I.	o delito de exposição ou abandono de recém-nascido, em face da pena, admite a transação penal prevista na Lei nº 9.099/95 – Juizados Especiais Criminais.
II.             consumam-se com a efetiva exposição ou abandono, desde que resulte perigo concreto à vida ou à saúde da vítima.
III.            em relação ao sujeito ativo do delito configuram delitos especiais próprios.
IV.           o delito de exposição ou abandono de recém-nascido pode ser praticado por terceiro como forma de auxílio ao pai ou  à mãe, não contudo, pelo terceiro, diretamente, sem a participação do pai ou da mãe.
      Estão certos apenas os itens:
a) I e II.
b) I, II e III.
c) I, III e IV.
d) I e IV.
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