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Adoção Homoparental TCC Psicologia FAJ 2010

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ADOÇÃO HOMOPARENTAL: IMAGINÁRIO DE UM GRUPO DE JOVENS UNIVERSITÁRIOS DO INTERIOR PAULISTA.
Homo-parental adoption: imaginary by a group of students from an university in Sao Paulo. 
Maísa Francisca Ferreira Bueno BAGGINI
Faculdade Jaguariúna.
Simone Aparecida SERAPIÃO
Faculdade Jaguariúna.
Wellington da Cunha FORMIGARI
Faculdade Jaguariúna.
Marcela Casacio FERREIRA TEIXEIRA
Docente da Faculdade de Jaguariúna.
Resumo: A temática da adoção de crianças por casais homossexuais está em ênfase na sociedade. Objetivamos investigar o imaginário coletivo de estudantes universitários sobre o tema. O método adotado foi o psicanalítico com uso de desenhos-estória, realizado a partir de entrevistas individuais. Participaram treze estudantes do interior paulista de 19 a 40 anos. Nos resultados foram suscitados temas como: exclusão da criança adotiva e da sua família, dúvidas sobre essa forma de família, sobre a sexualidade e identidade da criança. Através do imaginário observado podemos considerar certa angústia do que pode surgir a partir destas novas configurações familiares, apontando para a necessidade de um olhar atento às formas da sociedade lidar com as pessoas envolvidas nessas famílias.
Palavras Chave: Homoparentalidade, Família e Adoção.
Abstract: The issue of adoptions by homosexual couples has been discussed more often by the society. We investigated the collective opinion of college students about the topic. The method adopted was  psychoanalytical-story designs, presented in individual interviews. Thirteen students, aged from 19 up to 40-years-old, from the countryside of Sao Paulo were interviewed. The results were raised issues such as exclusion of the adoptive child and his family, questions about this form of family, sexuality and identity of the child. Observed through the imagination we can consider some of the anguish that can arise from these new family configurations, pointing to the need for a closer look at ways society deals with people involved in these families.
Keywords: Homoparenthood, Family and Adoption
Introdução
Atualmente estão surgindo na sociedade ocidental novas formas de família e modelos de família que fugiam à tradição buscando conviver seguindo parâmetros da família clássica. É o caso das famílias homoparentais�: constituídas por um casal homossexual, almejam, por vezes, realizar o desejo da maternidade e paternidade.
Interessa-nos nessa pesquisa investigar um recorte dessa circunstância no Brasil: como os jovens estão percebendo essa situação familiar em especial a adoção por homossexuais? 
Questionar a família ocidental hoje mostra-se diferente de outras épocas, no entanto, atualmente, muito próximo ao que assistíamos na Idade Média, o que baseia a família ainda é o matrimônio, a noção de vida conjugal. 
Algumas opiniões, como a de Nalini (2004), exaltam que o cerne familiar vive inúmeras modificações, já que a tradicional família vive em uma sociedade de consumo exagerado que de certa forma acabou por desconfigurar o núcleo familiar. Para Rodriguez (2009) a família se modificou profundamente: apresentando inúmeras formas, questionando o modelo tradicional e procurando repensar seu sentido. 
Assim, novas configurações se criaram, como as pessoas que vivem sozinhas, os casamentos não convencionais, os re-casamentos com filhos, as mães com filhos gerados fora do casamento e as fertilizações e inseminações artificiais. Segundo Singly (1996 Apud. Uziel, 2002), as configurações familiares atuais são marcadas por: entrada na vida conjugal tardia, aumento de divórcios, logo, uma duração mais curta dos casamentos, famílias recompostas e crianças nascidas fora do casamento. Sem contar, o movimento feminino, resultando na diminuição da exclusão das mulheres na vida social em geral e no mercado de trabalho, modificando sua posição na família. Afinal, como Roudinesco (2003) cita em seus estudos, o gênero não mais é sinônimo de posição de função na família. 
A filiação, nesse cenário, carrega grande significância cristalizando necessidades e desejos de constituir família. Lembremos de Ariés (1973) sobre o surgimento do sentimento de família, importante advento na história da sociedade ocidental intimamente vinculado à noção de infância, revelando que a construção da família foi se diversificando conforme as mudanças sociais foram acontecendo, influenciando a visão de homem e sociedade e, portanto e família e filiação.
Como essas mudanças sociais ocorridas em tão pouco tempo abalam a cultura? 
Os homossexuais, por exemplo, antes criticavam a instituição familiar com suas funções demarcadas pela genética e hoje lutam por garantir direitos à maternidade, paternidade e à constituição de família, fazendo-nos rever o imaginário e as representações sociais sobre tais condições (FERREIRA, 2006). 
Segundo Saggese (2007), há um questionamento crescente de um modelo normativo calcado na heterossexualidade, tendo em vista as conquistas obtidas em várias partes do mundo, como a união civil e casamento entre pessoas do mesmo sexo. 
Verifica-se hoje um contingente significativo de uniões conjugais formadas por pares homossexuais que não estão compreendidos na nova definição de família da Constituição Brasileira. Assim na realidade brasileira a união civil de pessoas do mesmo sexo bem como o direito à adoção de crianças ainda não são legitimadas juridicamente (Araujo, 2007). Contudo, mesmo em processo de conquistas, percebemos o tema da adoção por homossexuais como um assunto complexo, que faz divergir especialistas e sociedade em geral. 
Segundo Uziel (2002) há diversos países que tem em sua constituição a união civil homossexual reconhecida, entre eles, dois exemplos importantes: a Holanda que em maio de 2001 regulamentou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, bem como a adoção de crianças; e a Argentina, regulamentando a união civil e a adoção, tornando-se o primeiro país da América latina a ter uma lei federal que permite o casamento homossexual (O Globo, 2010).
Malgrado o movimento cotidiano abarcando casamentos e adoções por homossexuais, interessa-nos pensar como estariam os jovens percebendo essa situação familiar. O objetivo dessa pesquisa é investigar o imaginário coletivo de jovens universitários sobre a adoção de crianças feitas por casais homossexuais, visando com a investigação lançar luz para os olhares da sociedade sobre o tema.
Método
A pesquisa foi realizada em campo, com escolha de sujeitos aleatória, de forma que não foi realizada especificamente em uma instituição. Os participantes constituíram-se por treze estudantes universitários, do interior de São Paulo, dentro de uma faixa etária de 19 a 40 anos. 
Promovemos um contato com eles a partir do nosso próprio círculo social, abordando-os sobre o interesse em participar da pesquisa. Ao concordarem em participar, informamos sobre a necessidade de assinarem um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme pede a resolução 196/96 de ética em pesquisa. Os encontros foram realizados individualmente.
O caminho para a investigação foi delineado fundamentalmente pelo método psicanalítico de investigação. O instrumento utilizado constituiu-se por entrevistas com uso de procedimentos expressivos - representativos, baseado na Técnica de Desenho-estória de Walter Trinca elaborada posteriormente sob a forma “Desenho-estória com tema” por Aiello-Vaisberg (1997), objetivando captar campos não conscientes dos entrevistados.
Ao se iniciar o encontro, realizou-se um rapport, promovendo uma atmosfera agradável para os sujeitos de forma que eles estivessem o mais confortáveis possível. 
Disponibilizou-se ao participante da pesquisa o material a ser usado: papel sulfite branco, borracha, lápis grafite e colorido. Foi explicado como seria o procedimento da pesquisa, por sua vez, dirigido por uma questão norteadora, que segue: Por favor, faça um desenho de uma criança adotada por homossexuais.
Solicitou-se queo pesquisando respondesse a questão norteadora com desenho e então que descrevesse uma estória de sua criação. Enquanto o pesquisando estava realizando este processo, observaram-se aspectos relacionados à postura, às expressões faciais, corporais e verbais do pesquisando. 
A análise dos dados foi realizada fundamentada no método psicanalítico, a partir de narrativas e do material. Tendo em vista as impressões dos pesquisadores, elaboramos a narrativa do encontro logo após sua realização, descrevendo-o da forma mais fiel e verdadeira possível, não com o objetivo de replicar o acontecido, mas sim de relatar a verdade do encontro, de forma a torná-lo acessível para outros leitores com toda implicação afetivo-emocional possível a ele concernente (FERREIRA, 2006). 
As associações de cada entrevista foram feitas pelos pesquisadores, tecendo as associações e interpretações, de cada encontro com os pesquisandos. Os desenhos foram numerados afim de preservar a identidade dos pesquisandos.
Resultados 
a) Nos encontros, pudemos apreender um imaginário acerca de pais adotivos homossexuais, como aqueles cuidadores que provem alimento, educação, cuidados, tendo a função de “guias”, instrutores, como algo positivo que a sociedade não consegue ver. Como exemplo, um jovem relatou: “Crianças órfãs têm pouca oportunidade do que crianças “normais” tem, por motivos desconhecidos ou até conhecidos pela sociedade. Porém, na sociedade, nem todos querem, ou podem proporcionar a essas crianças, o que toda criança deve ter, uma família, que cuide, alimente, transforme-a em um adulto e guie seu caminho. Uma criança adotada por casais homossexuais não será diferente de qualquer outra criança, tendo pessoas que irão guiá-la, isso é o que a sociedade preconceituosa deveria enxergar pessoas que nada mais nada menos irão amar esta criança.”
b) A partir desse mesmo relato, notamos o aparecimento de outro ponto que marcou a pesquisa com os universitários: a referência ao casamento tradicional na sociedade como “instituição normal”, primordial para guiar o caminho de uma pessoa. Com isso, somos levados a perceber que esses jovens carregam no imaginário uma idéia de que família e casamento são estruturantes do ser humano.
c) Outras produções mostraram a criança adotada por casais homossexuais passível de ter o “psicológico afetado” ou como fonte de questionamento sobre a constituição de sua sexualidade quando criada por uma família não-convencional: “...as crianças adotadas pelos homoparentais, terão, no começo, seu psicológico afetado, mas vendo outras crianças “filhas” de homossexuais se adaptarão mais fácil e poderá passear com seus “pais” e levar um vida normal.”
Além disso, a criança depara-se com o amor incondicional dos pais, sendo que esta relação será permeada pelo preconceito pelos pais diferentes. Aparecem criança e família isoladas, como no exemplo que segue: “O casal homossexual terá um pouco mais de dificuldade para adotar crianças. Porém, o fato de casais homossexuais lutar pela adoção vem se tornando cada vez mais frequente e com o tempo, se um casal homoparental conseguir a adoção, outros casais que se interessam também buscarão a mesma, dessa forma.”
d) Portanto, outro campo se desvela: do preconceito e da exclusão. “Imagine a presente cena, onde um simples passear no parque entre a família, passa por uma roda de amigos, observando a cena entre os amigos surgem comentários e gozações excrachadas a família e direcionada a criança.” 
Desenho 1.
“Este desenho se trata de uma criança adotada por pais do mesmo sexo, a principio ainda não sofre discriminação quanto a diferença dos casais convencionais, pais e mãe.” 
“O desenho representa que não vejo erro algum de pais do mesmo sexo adotarem criança, porque o amor para a criança será incondicional; Haverá preconceito da sociedade para com a criança, pois ela questionará o por que de seus pais serem diferente. Mas cabe a cada pai homo saber trabalhar com esse preconceito que há sociedade ainda tem.” 
“A criança adotada poderá sofrer preconceitos, rejeições e se sentir “deslocada” já que vivemos numa sociedade muito preconceituosa... Foi colocado no desenho a escola e a convivência, onde está criança poderá sofrer preconceito...Foi colocado seu lar para fazer uma reflexão como será o ambiente desta criança, por ser um casal homossexual terá o mesmo afeto de um pai e mãe?” e “O desenho representa uma alegria a essa criança, onde não há julgamentos se o casal são do mesmo sexo, e sim onde 2 almas se juntam pra fazer o bem e dar uma nova esperança a uma vida que antes não era amada.” 
Desenho 2.
e) Surgem associações sobre pais salvadores no sentido de dar amor, educação, vida à criança, geralmente com uma renda estável; um ambiente saudável. Os membros se juntam no sentido de fazer o bem.
Desenho3.
Vejamos uma fala: “João uma criança 3 anos, recolhida pelo Conselho Tutelar e colocada para adoção, felizmente consegue na longa fila ser adotada por um casal... Casal jovem, cheio amor, vida, renda estável e homossexuais, apesar da cultura em que somos inseridos existe o livre arbítrio do país democrático... A adoção deu certo e Joãzinho é visitado periodicamente pela assistência social, que o vê feliz, saudável e bem tratado. 
“Este menino órfão foi adotado por um casal homossexual é uma criança feliz pois agora tem um lar de verdade e pessoas que o amam independentemente da escolha sexual de seus pais.” e “Pode-se observar que está criança é feliz, encontra-se em contato com a natureza, aparenta receber carinho e amor e principalmente tem um lar estruturado, onde recebe educação e aprende que não importa sua raça, religião de opção sexual para ser respeitado e ter personalidade e caráter. Encontrou nessa família um ambiente saudável e feliz.”
Desenho 4.
f) Dúvidas quanto ao tema estão presentes ao longo da pesquisa, seja nos desenhos seja nas narrativas. Exemplo: “É interessante pensar como uma criança se sente em uma família com outra estrutura. No desenho eu coloquei uma criança feliz, mas com dúvidas. Porque?... A partir do momento em que a criança é inserida em um ambiente, como o educacional, inicia-se questionamentos, sobre o modo de estrutura familiar, mas ela não sente vergonha, ou medo, ao contrário de adolescentes. Eu considero que esta criança tem algumas dúvidas sobre isso, tendo que esta não fica abalada. Ela é uma criança como qualquer outra que questiona sobre inúmeras coisas.”
Outro relato nos mostra uma dúvida da forma da educação nessa estrutura familiar: “... nas uniões heterossexuais os filhos também são héteros, claro que alguns desviam, mas e na relação homo como será conduzido a educação sexual da criança?” e “A adoção de crianças por casais homossexuais, não interfere no desenvolvimento, pois depende do carinho, afeto e amor dos pais. Os pais devem sempre contar a realidade para a criança e demonstrar o quanto esta é importante na vida do casal.”
Discussão
No que concerne aos universitários, um campo importante que se apresentou foi um imaginário relativo a pais homossexuais cuidadores e “salvadores”. Como visto nos item “a” e “e”, os casais homossexuais são trazidos ou como possíveis cuidadores das crianças órfãs ou como seus salvadores. Isso indica que, provavelmente, a adoção se mostrou atrelada à condição de relações hierárquicas que colocam os pais como aqueles que estão realizando o bem, salvando a criança de sua desgraça, o que a deixa sem saída e em possivelmente em dívida. Complementando, aparece certa ingenuidade da criança levando-a a idealização do amor pelos pais, fragilizando a condição de ser criança em paralelo com seus direitos, mostrando que impera no imaginário a possibilidade de a criança servir para o narcisismo dos pais ou a condições adversas e sofrer consequências por isso. 
Esses aspectos merecem atenção, pois não aparecem apenas relacionados ao casal homossexual, mas como afirma Ferreira (2006), estão no imaginário de professores de ensino fundamental e médio,apontando para uma representação social enraizada produtora de mais preconceito, mesmo que velado, à criança adotiva. 
No caminho do preconceito, apareceram as fantasias de que a criança adotada por homossexuais terá necessariamente seu psicológico afetado, como visto no item “c” reiterando assim que a psicopatologia aparece mais uma vez numa relação estreita com as formas de compreender os fenômenos, tal como vimos em Machado (1995), Aiello-Vaisberg (1999), Ferreira (2006) e outros, indicando que nossa sociedade recorre a estratégias de explicação dessa ordem, individualizando e psicologizando o problema para assim lidarem com fenômenos humanos não normativos. É interessante pensar que o Outro é preconceituoso quando na verdade somos parte desse outro, que é a nossa sociedade, lugar onde vivemos, alimentamos e compartilhamos cotidianamente o imaginário.
Provavelmente, estamos tratando de mecanismos de defesas. Nesse sentido, também devemos destacar o próprio tema da adoção por homossexuais revelando - se um disparador de defesas, afinal, quando nos deparamos com situações novas, que suscitam em nós estranheza e diferença, podemos reagir defensivamente, seja ignorando essas condições novas, seja nos contrapondo sem um fundamento evidente. Foi o caso de algumas narrativas dos itens “a” e “e” que se mostraram artificialmente construídas, como expressões de falso self (Winnicott, 1960). Além disso, ao se fechar ou se defender para o fenômeno, revela-se uma forma de administrá-lo como um problema do outro e não “meu” revelando, assim, uma forma imatura (Winnicott, 2005) da sociedade lidar com suas condutas.
Seguindo essa idéia, pensemos nas dúvidas surgidas sobre a conduta de adoção de crianças por homossexuais. Conforme observamos no item “f” dos resultados, os jovens demonstraram questionamentos sobre as consequências da adoção homoparental de crianças, de modo a expressar uma angústia sobre o futuro das gerações. Tanto sexualidade quanto identidade da criança somam dúvidas sobre como serão formados os indivíduos, em detrimento de sua subjetividade e saúde. Não obstante, pensemos que o tema em si já é gerador de desconforto e dúvida, fazendo surgirem temores acerca da estranheza humana. Dessa forma, podemos dizer que em nossa pesquisa o sujeito coletivo de universitários apresentou um imaginário duvidoso e amedrontado. 
Finalmente, a exclusão apareceu como um forte ponto da pesquisa. A exclusão da família homossexual que aspira adoção aparece com destaque, como no “d” apontando para a possibilidade de essas famílias estarem marginalizadas e sujeitas a olhares desconfiados, bem como suas crianças, frutos do desejo de pais provavelmente excluídos.
Considerações Finais:
Apesar de concebermos um imaginário coletivo dos universitários que evoca disposição emocional para ajudar crianças e se solidarizar com os problemas do abandono e da fila de espera para adoção, foi possível constatar, que o que permeia este imaginário coletivo aproxima-nos do desconhecimento e da imaturidade para o assunto, da dúvida sobre as consequências da adoção por pessoas do mesmo sexo. 
O estranhamento em relação ao diferente mostra-se evidente, defendendo-se para o fenômeno, revelando uma forma de administrá-lo como um problema do outro e não “meu”. Com isso, somos levados a identificar mecanismos de defesa para lidar com a situação, produzindo preconceito e exclusão, apontando para a necessidade de um olhar atento às formas da sociedade lidar com as pessoas envolvidas nessas famílias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FERREIRA, M. C. Encontrando a criança adotiva: um passeio pelo imaginário coletivo de professores à luz da psicanálise. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Psicologia do Centro de Ciências da Vida. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 2006.
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WINICOTT, D. W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Originalmente publicado em 1958). 
Maísa Francisca Ferreira Bueno Baggini.
Estudante do 10º semestre do curso de Psicologia da Faculdade Jaguariúna.
Rua Geraldo Pupo Camargo, 408 - Vila Penha do Rio do Peixe - Itapira – SP: 13971-083.
maisa_baggini@yahoo.com.br
 
Simone Aparecida Serapião.
Estudante do 10º semestre do curso de Psicologia da Faculdade Jaguariúna.
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Wellington da Cunha Formigari
Estudante do 10º semestre do curso de Psicologia da Faculdade Jaguariúna.
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Marcela Casacio Ferreira-Teixeira
Psicanalista. Doutora em Psicologia. Docente da Faculdade de Jaguariúna.
R: José Paulino, 2236- Sala 22 – Ed. Empres. Itapura. Campinas – SP
marcelacasacio@uol.com.br
� Tendo origem na França,o termo homoparentalidade é utilizado para nomear as relações de parentalidade exercidas por homens e mulheres homossexuais (ZAMBRANO, 2006).

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