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Direito Civil VI - Direitos Reaisu
Plano de ensino da disciplina: Posse, Propriedade e Direitos de vizinhança.
Provas: P1 e P2: seis objetivas + duas dissertativas.
Nota 3: artigo científico (10 a 20 páginas), tema relacionado a disciplina. Data de entrega: 28/11/24 (Dupla).
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Introdução - 29/09:
1. Direito Privado: direitos patrimoniais pessoais (obrigações, contratos, empresa) e direitos reais
(direito das coisas).
2. Conceito: direito das coisas é o ramo do direito civil que estuda o conteúdo das relações jurídicas
estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas ou determináveis.
- Direito das coisas: complexo de normas que regulamenta as relações dominiais existentes entre a
pessoa humana e as coisas apropriáveis. Há relação de domínio da pessoa (sujeito ativo) sobre a coisa.
- Direitos reais: conjunto de categorias jurídicas relacionadas à propriedade (conteúdo principal do direito
das coisas).
3. Coisa: tudo o que não é humano / tudo o que é corpóreo. Nem todas as coisas são consideradas
bens. Somente às coisas suscetíveis de apropriação. Gênero: bens. Espécie: coisas. Há bens sem
qualquer expressão econômica, mas não há coisas sem economicidade e sem corporeidade.
4. Direitos Reais - Teorias:
a) Teoria Personalista: os direitos reais são relações jurídicas estabelecidas entre pessoas, mas
intermediadas por coisas. A diferença está no sujeito passivo, pois enquanto no direito pessoal, o sujeito
passivo é uma pessoa certa e determinada, no direito real é indeterminada, pois há uma obrigação
passiva universal (respeitar o direito).
b) Teoria Realista Ou Clássica: o direito real constitui um poder imediato que a pessoa exerce sobre a
coisa, com eficácia contra todos (erga omnes).
- A última teoria parece explicar melhor o fenômeno, e não nega a realidade metodológica ao direito das
coisas.
- Há uma forte tendência de contratualização do direito privado, pela forte influência exercida pelo princípio
da autonomia privada.
- Portanto, há contratos no direito das coisas (penhor, hipoteca, compromisso de compra e venda
registrados na matrícula do imóvel passam a ser contratos, não mais direitos reais), o que aproxima da
primeira corrente.
5. Relação jurídica de direito real e de direito obrigacional: Há três distinções entre dois grupos de
direitos patrimoniais:
a) Quanto à eficácia: erga omnes nos direitos reais e relativa nos direitos obrigacionais.
b) Quanto ao objeto: a coisa nos direitos reais e a prestação nos direitos obrigacionais.
- O direito real requer a existência atual da coisa. Já a prestação é um bem incorpóreo, abstrato,
que somente terá existência no mundo fático após seu cumprimento.
c) Quanto ao exercício: nos direitos reais, o titular age direta e imediatamente sobre o bem, satisfazendo
suas necessidades econômicas sem a intervenção de terceiros. Nas obrigações, o titular de crédito
depende necessariamente do devedor para sua satisfação. O credor tem apenas um direito a uma coisa
(jus ad rem), que só é obtida pela atitude do devedor.
6. Nos direitos reais, o bem é meramente o objeto sobre o qual se exercitam as situações jurídicas de
poder e domínio, das quais decorrem as faculdades de usar, gozar e dispor.
7. São situações de subordinação de coisas a pessoas, outorgados para realização pessoal do titular, no
exercício da posição de vantagem sobre o objeto.
8. A relação jurídica pressupõe direitos subjetivos contrapostos a deveres jurídicos recíprocos. Enquanto
a comunidade indeterminada de pessoas exerce o dever genérico de abstenção, compete ao titular do
direito subjetivo a missão de satisfazer o seu interesse, sem sacrificar o interesse coletivo.
- Ou seja, conciliar a estrutura do direito real à sua função social. Nos direitos reais, a pretensão decorre
da ofensa a direitos absolutos.
9. Diferenças entre os direitos reais e os direitos pessoais de cunho patrimonial:
a) 1ª diferença: os direitos reais têm como conteúdo relações jurídicas estabelecidas entre
pessoas e coisas, sem qualquer intermediação de terceiros. Nos direitos pessoais de cunho
patrimonial, o conteúdo é a existência de relações jurídicas estabelecidas entre duas ou mais
pessoas, sendo o conteúdo imediato a prestação.
- Nos direitos reais, há apenas um sujeito ativo determinado, sendo sujeito passivo toda a
coletividade. Nos direitos pessoais, há, em regra, um sujeito ativo, que tem um direito (credor) e
um sujeito passivo, que tem um dever obrigacional (devedor).
b) 2ª diferença: os direitos reais sofrem a incidência fundamental do princípio da publicidade,
diante da importância da tradição e do registro. Nos direitos pessoais patrimoniais, há a
influência do princípio da autonomia privada, de onde surgem os contratos e as obrigações.
c) 3ª diferença: os direitos reais têm eficácia erga omnes (absolutismo). Já os direitos pessoais
patrimoniais têm efeitos inter partes.
- Essa diferença tem sido relativizada: os direitos reais têm sofrido restrições em relação a seus
efeitos (Súmula 308 do STJ) e os direitos pessoais patrimoniais tem sofrido relativização em
face da tutela externa do crédito e da eficácia dos contratos perante terceiros, como precursores
da função social dos contratos (art. 608 do CC).
d) 4ª diferença: enquanto nos direitos reais o rol é taxativo, de acordo com entendimento ainda
majoritário, nos direitos pessoais patrimoniais o rol é exemplificativo (art. 425 CC).
e) 5ª diferença: os direitos reais geram o direito de sequela, respondendo a coisa onde quer que
ela esteja. Os direitos pessoais geram a responsabilidade patrimonial dos bens do devedor
pelo inadimplemento da obrigação (art. 391 CC).
f) 6ª diferença: os direitos reais têm caráter permanente, enquanto os direitos pessoais
patrimoniais têm caráter transitório.
Sujeito titular formal de um direito > Coletividade (ex. proprietário, usufrutuário etc.)
Objeto (coisa): o bem sobre o qual o titular exerce ingerência socioeconômica.
Tabela comparativa entre os direitos reais e obrigacionais:
02/09: Características fundamentais dos direitos reais:
1. Absolutismo: Os direitos reais podem ser classificados como poderes jurídicos, pois concedem ao
titular uma verdadeira situação de dominação sobre um objeto. É oponível erga omnes, acarretando
sujeição universal ao dever de abstenção sobre a prática de qualquer ato capaz de interferir na
atuação do titular sobre o objeto.
Não significa dizer que os direitos reais geram um poder ilimitado a seu titular sobre os bens que estão
sujeitos à sua autoridade. O ordenamento jurídico submete os direitos a uma ponderação de valores.
Como consequência da característica do absolutismo, surge o princípio da publicidade, por excelência
para bens imóveis. Refuta-se a clandestinidade (art. 1227 do CC).
- Situação de domínio: O proprietário exerce relação de domínio sobre o objeto.
- Poder jurídico da coisa: Poder jurídico real do proprietário.
- Erga omnes: direito que produz efeito para toda a coletividade. Atinge a todos.
- Sujeição universal: a coletividade tem o dever de abstenção pelo qual o proprietário é titular. A
coletividade tem o dever de respeitar o direito do titular/proprietário tenha.
- Obs - Não absoluto (Ponderar): todo direito encontra limitações, ou seja, não é absoluto.
- Obs - Publicidade: os direitos reais exigem que dê ciência ampla para a coletividade do direito. Ex:
registro público. Publicidade que é inerente aos direitos reais decorre do absolutismo.
Art. 1227, cc: Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se
adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos ( arts. 1.245 a 1.247 ),
salvo os casos expressos neste Código.
Significa que mesmo que haja um contrato de compra e venda de um imóvel, por exemplo,ou
venda.
- Disposição material: art. 1272, III e IV
- Disposição jurídica: Art. 1911 - total (alienação) ou parcial (ônus real).
8. Reivindicar: o proprietário pode exercer o direito de sequela para tomar a sua coisa para si a
qualquer momento.
9. Propriedade plena: é o direito de você usufruir, gozar, reivindicar e dispor deste mesmo bem da
forma que você quiser e como quiser. Ou seja, quando o proprietário possui todas as faculdades do
domínio.
10. Propriedade limitada ou restrita: uma das faculdades do domínio está com 3º, por exemplo, no
contrato de aluguel, um terceiro está usando e gozando desta casa.
- Neste caso, o proprietário, é chamado de Nuproprietário.
- Domínio útil.
11. Atributos:
- Exclusividade:
- Perpetuidade: trás a ideia que a propriedade é limitada. Ou seja, prega que pode existir o
direito de sequela a qualquer momento, como bem entender. Mas neste caso, deve se
considerar que existe a função social, ou seja, a perpetuidade é limitada, como por exemplo,
uma condição, ou seja, temporalidade, desta forma com a sua disposição, dar-se fim a
perpetuidade.
- Elasticidade: desmembrar o domínio, estender as faculdades do domínio para uma pessoa e
depois retornar para o proprietário.
- Absolutismo: direito erga omnes de defesa da propriedade. Mas deve-se lembrar que há
limitações.
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04/11 - Função Social da propriedade:
1. Função social da propriedade é o limite positivo e negativo da propriedade, no sentido de que não se
pode permitir uma sociedade sem ser funcional, em contrapartida limitando a função social funcional
para aquela propriedade.
- A função social é tratada como o 5º elemento das faculdades do domínio.
- Aproveitamento econômico não é sinônimo de bom desenvolvimento da função social da propriedade.
Pois nada adianta se ter uma bom lucro, onde os funcionários não são registrados ou não recebem um
salário mínimo, por exemplo, ademais, produza lucros é produtiva, mas pratica crimes ambientais.
2. Função Social da Propriedade Urbana (art. 182, cf e art. 1º 10257):
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes
gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir
o bem- estar de seus habitantes.
Art. 1o Na execução da política urbana, de que tratam os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, será aplicado
o previsto nesta Lei.
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem
pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do
bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.
- O objetivo deve ser buscar uma boa distribuição de recursos e riquezas para auxiliar na solução dos
problemas como desigualdade social.
- Obs: Resp. 1.846.075
- Uma propriedade urbana que não cumpre a função social, é aquela que não tem edificação, que não é
utilizada ou que é subutilizada. Configurando-se assim como obrigação propter rem.
- Súmula 623 - STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las
do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
Art. 5o Lei municipal específica para área incluída no plano diretor poderá determinar o parcelamento, a
edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, devendo fixar
as condições e os prazos para implementação da referida obrigação.
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art182
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art183
3. Na falta da função social da propriedade, poderá ser aplicado pelo poder público o art.182, §4º:
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir,
nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que
promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo
Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais.
4. Função social da propriedade rural (art. 186, CF e art. 2º, §1º, ET. ):
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de
exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na
forma prevista nesta Lei.
§ 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, simultaneamente:
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem.
- A propriedade rural deve objetivar 3 elementos: econômico, social e ambiental. Utilizando-se do uso
racional da propriedade, vinculando-a com a legislação trabalhista e ambiental.
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja
cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de
preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja
utilização será definida em lei.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a
ação de desapropriação.
§ 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial
de desapropriação.
§ 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para
atender ao programa de reforma agrária no exercício.
§ 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados
para fins de reforma agrária.
Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações.
Art. 153, §4º, cf (sanção): Compete à União instituir impostos sobre: § 4º O imposto previsto no inciso VI do capu t:
I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas;
II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as explore o proprietário que não possua outro
imóvel;
III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que assim optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do
imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal.
Art. 243 da CF: As propriedades rurais eurbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de
plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma
agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º.
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com
destinação específica, na forma da lei.
5. Síntese:
- Interpretação e conteúdo mínimo:
a) Propriedade - Formal:
- Exclusivo:
- Domínio:
b) Material:
- Destinação:
- Controle:
Art. 1.228, §2º, (abuso de direito) x conflito de normas - Art. 187,cc - Enunciado 49 CJF.
6. Extensão das Faculdades da propriedade:
Art. 1.229, cc - Verticalização do direito de propriedade (até onde vai a propriedade? Até onde é possível
usufruir dela, exceto quando há limitações).
Art. 1.230 - Intergerências:
Art. 1.231, cc - Presunção da propriedade plena e exclusiva de alguém.
Art. 1.232, cc - Frutos e mais produtos da coisa pertencem ao seu proprietário (Os acessórios seguem o
principal). Exceto: convenção.
Art. 1.233, cc - Descoberta, trata da obrigação de fazer (entrega). Equivalente à responsabilidade criminal.
Art. 1236, cc e art 1237, cc: procedimentos da autoridade competente o qual a coisa foi entregue.
Art. 1.234 cc: achádego recompensa.
Art. 1.235, cc: responsabilidade civil
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05/11 - Modos de aquisição da propriedade imobiliária:
1. É dividida em originária e derivada:
- Originária: quando não há transmissão de um sujeito para outro, como ocorre na acessão natural e na
usucapião. O indivíduo, em dado momento, torna-se dono de uma coisa por fazê-la sua, sem que lhe
tenha sido transmitida por alguém, ou porque jamais esteve sob o domínio de outrem. Não há relação
causal entre a propriedade adquirida e o estado jurídico anterior da própria coisa.
- Derivada: é derivada quando resulta de uma relação negocial entre o anterior proprietário e o
adquirente, havendo, pois, uma transmissão do domínio em razão da manifestação de vontade, como no
registro do título translativo e na tradição.
2. Acessões (art. 1248,cc):
Art. 1.248. A acessão pode dar-se: I - por formação de ilhas; II - por aluvião; III - por avulsão; IV - por abandono
de álveo; V - por plantações ou construções.
- Se alguma coisa que não era da minha propriedade, passa a ser, possivelmente era da propriedade de
outra pessoa, assim, pode caber a indenização.
- Acessão natural (incisos I, II, III e IV): fato da natureza vai acabar fazendo que algum pedaço de
propriedade alheia vai acabar aderindo a propriedade.
A. Exemplo - Formação de Ilhas (art. 1.249, cc): se caso ocorra de um rio acabar se formando entre duas ou
mais propriedades, a quem pertence esse rio?
Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos
fronteiros, observadas as regras seguintes:
1º Regra de divisão: I - as que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos
ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas
partes iguais;
2º Regra de divisão: II - as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se acréscimos aos
terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;
3º Regra de divisão: III - as que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos
proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram.
3. Aluvião (art. 1250, cc):
Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das
margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem
indenização.
Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre eles,
na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem.
a) Aluvião pode ser próprio ou impróprio:
- Próprio (a água vem):
- Impróprio (a água vai):
4. Avulsão (art. 1251, cc):
Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono
deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano,
ninguém houver reclamado.
Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou a porção de terra
deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida.
A. Exemplo: parte da propriedade de B se destaca, se juntando com a propriedade de A. Regra: Indenização.
Exceto de passar um ano do destacamento e B não reclamar.
B. Exemplo: acréscimo na propriedade de A retirando parte do acesso de B, por fato humano, não fato natural.
Acessão artificial.
5. Álveo abandonado (art. 1.252,cc):
Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham
indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais se
estendem até o meio do álveo.
- Para decidir, basta um engenheiro traçar uma linha para que se estabeleça a quem pertencerá a
propriedade.
- Neste caso, por haver força da natureza, não caberá indenização para aqueles que foram prejudicadas.
6. Acessões artificiais (art. 1253, cc):
Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até
que se prove o contrário.
- São diferentes das benfeitorias.
Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire
a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé.
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes,
plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé,
plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não
houver acordo.
- É o ato de plantar sementes próprias em terreno alheio. Quem plantou, perde as sementes, a plantação, se
estiver de boa fé, terá indenização.
- Parágrafo único: acessão inversa.
Art. 1.256. Se de ambas as partes houver má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo
ressarcir o valor das acessões.
Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua
presença e sem impugnação sua.
Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as sementes, plantas ou materiais a
quem de boa-fé os empregou em solo alheio.
Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização
devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor.
Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à vigésima
parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o
dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área
remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a
propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder
consideravelmente o dessa parte e nãose puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.
Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a
propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à
construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o
que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.
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11/11/24 - Usucapião
1. Modo originário: a partir do momento em que é reconhecido, a propriedade passa para o novo
proprietário, sem nenhum vício.
2. Aquisição:
- Propriedade, Servidão, Usufruto.
3. Posse prolongada: Tomar a coisa pelo uso:
4. Requisitos pessoais (art. 1.244,cc): se eu estendo pro possuidor as mesmas causas de interrupção
e suspensão da prescrição, significa que, as mesmas causas de interrupções e prescrições também
se aplicam ao usucapião. Ou seja, não é possível usucapiar entre descendentes e ascendentes.
- Artigos que tratam da prescrição, serão aplicados no usucapião.
Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que obstam, suspendem ou
interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião.
5. Requisitos reais de coisas usucapíveis: bens que estão no mercado. Bens públicos não serão
adquiridos por usucapião.
- Súmula 340 - STF: Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens
públicos, não podem ser adquiridos por usucapião.
6. Requisitos formais: presentes em todas as modalidades de usucapião.
- 1º Animus domini: intenção de ser dono, de tomar para si.
Interversio possessiones: ocorre com a mudança do estado da posse.
- 2º Posse mansa e pacífica: posse que não tem resistência. Ou seja, o dono real da casa, não oferece
resistência, com o fato do indivíduo estar ocupando aquela casa.
- 3º Contínua e duradoura: a posse sendo mansa e pacífica, precisa também ser contínua e duradoura,
ou seja, precisa ser a longo prazo, mas vai do caso concreto.
Art. 1.243, cc: O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes,
acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas,
pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.
Enunciado 497: O prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso do processo,
ressalvadas as hipóteses de má-fé processual do autor.
7. Modalidades:
I. Usucapião extraordinária - Art. 1.238, cc: Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem
oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e
boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o
registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver
estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
a) Requisitos formais:
- 15 anos (comum): prazo inicial.
- 10 anos (posse trabalho): pode diminuir, caso seja reconhecida a função social, diminuindo
assim o prazo.
b) Esta modalidade dispensa, justo título e boa fé: pois presume-se que se exerceu a posse por
exercício de 15 é subentendido que o proprietário é o indivíduo, necessitando apenas de
reconhecimento formal.
II. Usucapião ordinária - art. 1.242, cc:
a) Requisitos caput - Formais:
- Justo título:
- Boa fé subjetiva:
- 10 anos:
Enunciado 86 CJF:
b) Requisitos parágrafo único:
- Justo título cancelado:
- Boa fé subjetiva:
- Função social:
- 5 anos:
Enunciado 569 - CJF:
III. Usucapião especial - Art. 183, CF:
- Direito novo não retroage.
a) Requisitos formais: Área urbana não superior 250 m²; Prazo: 5 anos; Objetivo de constituição de
moradia própria/família; Não proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
b) Característica fundamental: pessoalidade, pois o objetivo é vinculado à moradia própria ou a família.
Não é passível de divisão posterior.
c) A accessio possessionis de que trata o art. 1.243, primeira parte, do Código Civil não encontra
aplicabilidade relativamente aos arts. 1.239 e 1.240 do mesmo diploma legal, em face da normatividade
da usucapião constitucional urbano e rural, arts. 183 e 191, respectivamente.
d) A o conflito de entendimentos sobre poder ou não aproveitar o tempo de usucapião de outro proprietário.
Efeitos materiais e processuais da posse:
Frutos:
1. Conceito de frutos e distinção de produtos
Frutos: Bens acessórios que derivam da coisa principal sem diminuir sua substância (art. 95, CC).
Exemplo: um locatário de um imóvel urbano que, no quintal, tem uma mangueira, enquanto vigente o
contrato, é possuidor de boa-fé amparado em justo título, tendo direito às mangas colhidas (percebidas).
Se o contrato for extinto quando as mangas ainda estiverem verdes (pendentes), não podem ser
colhidas, pois são do locador proprietário. Se colhidas ainda verde, devem ser devolvidas, sem prejuízo
de perdas e danos por mau colhimento.
Produtos: Ao serem retirados, diminuem a substância do principal.
Exemplo: Minério extraído de uma mina.
2. Frutos e boa/má-fé do possuidor: O direito aos frutos depende da boa ou má-fé do possuidor:
● Boa-fé:
O possuidor tem direito aos frutos percebidos (separados da coisa principal) enquanto vigente a boa-fé.
Não pode colher frutos pendentes (ainda ligados ao principal) após cessar a boa-fé.
● Má-fé:
O possuidor deve restituir todos os frutos colhidos e percebidos, além de indenizar pelos que deixou de
colher por culpa própria.
Pode ser ressarcido pelas despesas de produção e colheita.
3. Classificação dos frutos
Percebidos: Frutos separados da coisa principal enquanto o possuidor estava de boa-fé.
Pendentes: Frutos ainda ligados à coisa principal no momento em que cessa a boa-fé.
Colhidos com antecipação: Frutos colhidos prematuramente (antes de estarem maduros).
Percipiendos: Frutos que deveriam ter sido colhidos, mas não o foram.
4. Exemplos
Um locatário de boa-fé colhe mangas maduras enquanto o contrato está vigente (percebidos).
Se o contrato termina e as mangas ainda estão verdes (pendentes), ele não pode colhê-las.
Se as mangas verdes forem colhidas, devem ser devolvidas, e pode haver obrigação de indenizar.
5. Responsabilidade por frutos (art. 1215 e 1216, CC)
O possuidor de má-fé responde pelos frutos:
○ Colhidos ou percebidos.
○ Que deixou de colher por culpa.
Ressarcimento: Pode ser reembolsado por despesas de produção e colheita.
6. Produtos e diferença de regime
Produtos não seguem o mesmo regime dos frutos, pois afetam a substância do principal.
Posse de boa-fé: Mesmo assim, há o dever de restituição.
Impossibilidade de restituição: O possuidor deve indenizar perdas e danos, para evitar enriquecimento sem
causa (arts. 884-886, CC).
Benfeitorias:
1. Conceito de Benfeitorias (art. 96, CC): São bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel para
conservá-lo ou melhorar sua utilidade.
Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.
§ 1 o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda
que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
§ 2 o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
§ 3 o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.
Classificação:
Necessárias: Essenciais para a conservação do bem.
Úteis: Aumentam ou facilitam o uso do bem.
Voluptuárias: Mero luxo ou deleite, sem aumentar a utilidade.
2. Distinção entre Benfeitorias e Acessões (art. 97, CC)
Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindosao bem sem a
intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.
Benfeitorias: Complementam um bem já existente, visando conservação, embelezamento ou aproveitamento
(art. 92, CC).
Acessões: Construções ou plantações que têm caráter de novidade, tratadas em regras próprias (arts. 1253 e
seguintes, CC).
3. Direito de Indenização e Retenção (art. 1219, CC):
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem
como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da
coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Possuidor de boa-fé:
Indenização: Direito à indenização por benfeitorias necessárias e úteis. Exemplo: Reforma de telhado
(necessária) ou instalação de grades (útil).
Retenção: Direito de reter o bem até que seja indenizado.
Possuidor de má-fé (art. 1220, CC): Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as
benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as
voluptuárias.
Indenização: Apenas por benfeitorias necessárias.
Sem retenção ou levantamento. Exemplo: Invasor que troca um telhado deteriorado terá direito à
indenização pela troca, mas não poderá reter o imóvel.
4. Levantamento de Benfeitorias Voluptuárias
Boa-fé: Direito de retirar benfeitorias voluptuárias se isso não causar prejuízo ao bem principal. Exemplo: Um
telhado em churrasqueira pode ser removido; uma piscina, não.
Má-fé: Não tem direito ao levantamento de nenhuma benfeitoria.
5. Valor da Indenização (art. 1222, CC): O proprietário que reivindica o bem:
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de
optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.
Possuidor de boa-fé: Indeniza pelo valor atual das benfeitorias.
Possuidor de má-fé: Indeniza pelo valor atual ou custo, conforme for mais vantajoso.
6. Súmulas e Decisões Importantes:
Súmula 335 do STJ: Disciplina o direito de retenção e indenização pelas benfeitorias.
Enunciado n. 81 do CJF: Direito de retenção das benfeitorias úteis e necessárias se aplica também às
acessões.
Exemplos de REsp: 1.316.895, 1.613.645, 1.836.846.
7. Artigos de Lei Citados
Art. 96, CC: Define as benfeitorias e suas classificações.
Art. 97, CC: Distingue benfeitorias de acessões.
Art. 1219, CC: Estabelece o direito à indenização e retenção para possuidor de boa-fé.
Art. 1220, CC: Disciplina os direitos do possuidor de má-fé sobre benfeitorias.
Art. 1222, CC: Define os critérios para indenização de benfeitorias, diferenciando boa-fé e má-fé.
Responsabilidade:
1. Responsabilidade do possuidor de boa-fé (art. 1217 CC):O possuidor de boa-fé só é responsável
por danos à coisa se houver culpa, ou seja, se ele agiu de forma imprudente ou negligente. Exemplo:
um comodatário (quem recebe um bem emprestado) que sofre um roubo à mão armada não é
responsável pela perda do bem, pois não houve culpa ou dolo.
Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der
causa.
2. Responsabilidade do possuidor de má-fé (art. 1218 CC):Aqui, aplica-se uma responsabilidade
objetiva agravada. O verdadeiro dono não precisa provar que o possuidor de má-fé teve culpa, e este
último será responsável mesmo por eventos fora de seu controle (como força maior ou ação de
terceiros). Exemplo: um criminoso que rouba um bem responde por danos, mesmo que algo externo
danifique o bem em sua posse.
Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais,
salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante
3. Benfeitorias e compensação (art. 1221 CC): Se o possuidor de má-fé fizer benfeitorias necessárias
no bem (como reparos essenciais), ele poderá compensar o custo delas com os danos que causou ao
verdadeiro dono. Essa regra evita que uma das partes se beneficie injustamente às custas da outra.
Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da
evicção ainda existirem.
Interditos possessórios:
1. Direito de defesa da posse: O possuidor tem o direito de defender sua posse contra qualquer pessoa, até
mesmo contra o proprietário. Isso ocorre porque a posse está ligada à satisfação de necessidades humanas
fundamentais, como moradia e sustento. A posse tem um papel social importante e não é apenas um
complemento do direito de propriedade.
2. Autonomia entre posse e propriedade: A posse não é apenas uma extensão da propriedade, mas um direito
autônomo com função social. A lei busca proteger especialmente pessoas que, embora não sejam proprietárias,
dependem da posse para sobreviver.
3. Distinção entre ações possessórias e petitórias:
Ações possessórias: Protegem a posse, sem discutir a propriedade (art. 1210, §2º, CC).
Ações petitórias: Tratam da posse relacionada ao direito de propriedade. A propriedade não pode ser
debatida em ações possessórias para evitar sentenças contraditórias.
4. Situações concretas de ações possessórias:
Ameaça à posse: Ação de interdito proibitório.
Turbação (perturbação parcial): Ação de manutenção de posse.
Esbulho (perda da posse): Ação de reintegração de posse.
5. Exceção de usucapião como defesa: Embora a discussão sobre propriedade não seja permitida nas ações
possessórias, a alegação de usucapião pode ser usada para invalidar uma pretensão possessória, desde que
fundamentada no domínio adquirido por longa posse.
6. Proteção ampla da posse: O Código Civil protege qualquer tipo de posse, seja ela direta, indireta, de boa ou
má-fé. Porém, os meros detentores (como empregados ou administradores) normalmente não têm proteção
possessória, salvo situações excepcionais de detenção independente.
7. Flexibilidade das ações possessórias: Devido à complexidade e rapidez com que surgem os conflitos
possessórios, admite-se certa fungibilidade (troca) entre as ações, para que o objetivo de proteger a posse seja
alcançado.
8. Função social da posse: A posse é protegida como um instrumento de justiça social, pois muitas vezes é
exercida por pessoas sem propriedade. Por isso, o Código Civil excluiu a possibilidade de usar a propriedade
como argumento em ações possessórias, salvo em defesa (exemplo: usucapião).
9. Interditos possessórios: Há três ações para proteger a posse:
Interdito proibitório: Quando há ameaça à posse.
Ação de manutenção de posse: Quando há turbação (interferência parcial).
Ação de reintegração de posse: Quando há esbulho (perda total da posse).
Todas essas medidas protegem qualquer tipo de posse, independentemente de ser de boa ou má-fé.
10. Legitimidade para ações possessórias:A legitimidade para propor essas ações é ampla. Mesmo quem
adquiriu a posse de forma injusta pode ter proteção. No entanto, em geral, meros detentores (quem apenas
guarda ou administra o bem) não têm direito à proteção possessória, salvo em casos excepcionais.
11. Fungibilidade das ações possessórias: Na prática, pode haver dificuldade em escolher a ação adequada,
especialmente em situações de conflitos rápidos. Por isso, há uma flexibilidade (fungibilidade) para adaptar a
ação ao caso concreto.
Reintegração de posse:
Características e Requisitos:
1. Natureza do Esbulho: O esbulho ocorre quando o possuidor é privado, total ou parcialmente, do seu
poder sobre o bem.
Exemplos:
- Clandestinidade: Quando alguém altera os limites de um imóvel sem autorização (ex.: mudar divisas).
- Precariedade: Quando uma pessoa, após o término de uma relação contratual que conferiu posse
direta (ex.: contrato de aluguel), se recusa a devolver o imóvel.
2. Comprovação da Posse: Quem busca a reintegração deve demonstrar:
- Que tinha a posse no momento do esbulho.
- A ocorrência do esbulho porato de terceiro.
- A perda da posse.
3. Exceções: Em casos específicos, o proprietário que nunca exerceu posse direta pode mover a ação,
se demonstrar a posse jurídica (ex.: cláusula de constituto possessório, conforme art. 1.204 do Código
Civil).
4. Agressão à Posse e Limitações
Esbulho Judicial: Quando a posse é retirada por ordem judicial (ex.: penhora, sequestro), o meio
adequado de defesa é o embargo de terceiro (art. 674 CPC).
Agressão pelo Poder Público: A reintegração é possível contra o Poder Público, mas exige prévia
audiência do representante da pessoa jurídica, sem concessão de liminar sem ouvir a outra parte (art.
562, parágrafo único, CPC).
- Caso a posse seja perdida e o bem se torne parte de obra pública, a defesa possessória deixa de ser
possível, restando apenas o direito à indenização.
5. Transferência da Posse a Terceiros: Se o esbulhador (A) transfere a posse do bem esbulhado a um
terceiro (C):
- Má-fé de C: O terceiro pode ser incluído na ação se demonstrada sua má-fé.
- Boa-fé de C: Caso o terceiro não tenha conhecimento dos vícios da posse, não poderá ser demandado
por ação possessória. O possuidor originário (B) poderá:
Buscar a posse pela via petitória (caso seja proprietário do bem).
Pleitear indenização contra o esbulhador (A).
- O estado de boa-fé de C deixa de ser relevante se ele adquire a posse após o esbulhador ser citado em
ação judicial.
6. Principais Previsões e Jurisprudências
Enunciado 80 do CJF: Não é possível direcionar demanda possessória contra terceiro possuidor de
boa-fé. Contra ele, cabe apenas ação de natureza real.
Art. 1.212 do Código Civil: O esbulhador transfere posse a terceiros; a responsabilização depende
da boa ou má-fé do terceiro.
7. Conclusão: A reintegração de posse é uma ferramenta fundamental para proteger a posse legítima.
Além de visar a reparação contra esbulhos materiais, ela estabelece limitações, especialmente em
casos envolvendo terceiros de boa-fé ou ações do Poder Público.
Manutenção de Posse: A manutenção de posse é uma ação possessória destinada a proteger o possuidor contra
turbações que dificultam ou incomodam o pleno exercício de sua posse, sem, no entanto, privá-lo dela. Está prevista no
art. 1.210 do Código Civil (CC) e no art. 561 do Código de Processo Civil (CPC).
Características da Turbação
1. O que é turbação? Trata-se de atos que perturbam o uso ou a fruição da posse de forma concreta e efetiva,
criando incômodos ou dificuldades, mas sem retirar completamente o poder de fato sobre o bem.
Exemplos: Um vizinho invadindo parte do terreno para cortar árvores ou plantar algo sem autorização.
Animais entrando em propriedade alheia e causando danos.
2. Distinção de outras agressões à posse:
Manutenção de posse: usada contra turbações já materializadas.
Interdito proibitório: utilizado em situações de justo receio de turbação iminente, antes de sua
concretização.
Reintegração de posse: aplicada quando há esbulho, ou seja, perda total ou parcial da posse.
3. Requisitos para a Manutenção de Posse: Para obter a manutenção de posse, o autor deve provar:
A sua posse: que exerce posse legítima e de boa-fé sobre o bem.
A turbação: a existência de atos que interferem ou dificultam o exercício da posse.
A atualidade da lesão: a turbação deve ser concreta, efetiva e em curso no momento da ação.
4. Prazo para Ajuizamento: O prazo para propor a ação de manutenção de posse segue o regime de ano e dia,
conforme o art. 561 do CPC. O início da contagem depende da natureza dos atos turbativos:
5. Agressões homogêneas (atos repetidos e de mesma natureza):
O prazo é contado a partir do primeiro ato de turbação.
Exemplo: vários dias seguidos de corte de árvores em propriedade vizinha.
6. Agressões heterogêneas (atos de diferentes naturezas): Cada ato gera um prazo independente.
Exemplo: em um dia, o corte de árvores; em outro, o gado invade a propriedade e consome a pastagem.
7. Agressões precedidas por atos preparatórios: O prazo começa a contar a partir da conclusão do ato
turbativo.
Exemplo: no primeiro dia, é adquirida uma motosserra; no segundo, é planejado o corte das árvores; no
terceiro, ocorre o corte efetivo.
8. Conclusão: A manutenção de posse tem o objetivo de preservar o estado de fato do possuidor contra atos que
perturbam sua posse. Ela é uma medida intermediária entre a prevenção (interdito proibitório) e a reparação de
perda de posse (reintegração). A turbação deve ser atual e concreta, e a contagem de prazos varia conforme a
natureza dos atos que causam os incômodos.
Interdito Proibitório
1. Definição: O interdito proibitório é uma ação possessória preventiva, destinada a proteger o possuidor contra
ameaças iminentes de turbação ou esbulho. Previsto no art. 567 do Código de Processo Civil (CPC) e no
art. 1.210 do Código Civil (CC), visa impedir a concretização de atos de violência contra a posse.
2. Características do Interdito Proibitório
Proteção preventiva: Diferentemente da manutenção de posse ou da reintegração de posse, que tratam de
agressões já concretizadas, o interdito proibitório previne uma ameaça futura, mas iminente e real. O objetivo é
evitar a consumação de atos que possam turbar (perturbar) ou esbulhar (privar) o possuidor de sua posse.
3. Requisitos:
Posse legítima e atual: o autor deve comprovar que exerce a posse.
Ameaça séria e objetiva: é necessário demonstrar que há violência iminente, ou seja, uma ameaça
concreta e próxima (não um risco remoto ou incerto).
Pedido de liminar: o possuidor requer ao juiz uma ordem que obrigue o réu a abster-se de praticar os
atos ameaçadores.
4. Funcionamento
Natureza do mandado proibitório:
O juiz pode conceder uma liminar, impondo ao réu a obrigação de não concretizar os atos ameaçados,
sob pena de multa (astreintes) em caso de descumprimento.
A medida é autoexecutável, ou seja, o mandado proibitório já contém força coercitiva para impedir a
violação.
Conversão em outra ação possessória:
Caso a ameaça se materialize em turbação ou esbulho, o interdito proibitório pode ser convertido:
Em manutenção de posse, se houver turbação.
Em reintegração de posse, se houver esbulho.
5. Outras consequências: O réu que descumprir a ordem judicial pode:
Ser condenado ao pagamento de perdas e danos.
Responder criminalmente por desobediência à ordem judicial.
6. Exemplo de Aplicação: Imagine que uma pessoa receba ameaças do vizinho de invadir seu terreno para
construir uma cerca. Nesse caso:
O possuidor pode ajuizar o interdito proibitório, apresentando provas das ameaças (ex.: mensagens ou
testemunhos).
O juiz, ao constatar o perigo iminente, concede uma liminar obrigando o vizinho a não realizar a
invasão, sob pena de multa.
7. Conclusão: O interdito proibitório é uma ferramenta preventiva e essencial para a proteção da posse, evitando
conflitos maiores. Ele exige que o possuidor comprove a ameaça concreta e iminente, e, caso a agressão se
concretize, o interdito pode ser convertido em outra medida possessória, como a reintegração ou manutenção de
posse.
8. Aspectos processuais:
Súmulas
Súmula 228 do STJ: "É inadmissível o pedido de rescisão de contrato verbal de compra e venda de imóvel, com
restituição da posse, sem a prévia notificação do comprador para constituí-lo em mora."
Súmula Vinculante 23 do STF: "A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações
possessórias decorrentes do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada."
Artigos do Código de Processo Civil (CPC):
Art. 554 - Fungibilidade entre as medidas possessórias: "É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o
de condenação em perdas e danos, indenização dos frutos, multa ou penalidade administrativa, além de
requerer medidas assecuratórias."
Art. 555 - Cumulação de pedidos: "Na pendência de ação possessória, é vedado, tanto ao autor como ao réu,
intentar ação de reconhecimento dodomínio, exceto se o pedido for deduzido em face de terceiro."
Art. 556 - Natureza dúplice das ações possessórias: "A sentença que reconhecer o direito à posse poderá
declarar o domínio, se esse for objeto de controvérsia entre as partes."
Art. 557 - Possibilidade de pleito petitório em face de terceiro: "Não obsta à propositura de ação possessória
a alegação de domínio ou de outro direito sobre a coisa."
Art. 558 - Posse nova e posse velha:
○ § 1º: A posse é considerada nova se exercida há menos de ano e dia, e velha, se exercida por período
superior.
○ § 2º: A distinção entre posse nova e velha influencia os critérios para a concessão de liminar.
Art. 559 - Caução real ou fidejussória: "É lícito exigir do autor caução real ou fidejussória para ressarcir o réu
dos prejuízos que venha a sofrer em virtude da liminar."
Art. 562 - Audiência de justificação: "Na pendência de decisão liminar em ações possessórias, o juiz poderá
designar audiência para justificação prévia, ouvindo as partes e outras pessoas indicadas."
Art. 563 - Mandado liminar em posse nova: "Sendo a posse nova, o juiz deferirá liminarmente a manutenção
ou reintegração de posse, salvo se houver necessidade de justificação prévia."
Art. 565 - Mediação em conflitos coletivos de terras: "Em conflitos coletivos pela posse de terras, o juiz
designará audiência de mediação, com a presença dos órgãos responsáveis pela política agrária e fundiária."
Enunciados do CJF:
Enunciado 78 do CJF: "É cabível o pedido de tutela possessória contra particular em caso de ocupação
irregular de imóvel público, independentemente de haver título de domínio."
Enunciado 79 do CJF: "Nas ações possessórias coletivas, o interesse social recomenda a propositura de ações
civis públicas, na forma da legislação pertinente."
Enunciado 238 do CJF: "Nas ações possessórias, a ausência de justo receio de turbação ou esbulho inviabiliza
a concessão de medidas liminares."
Enunciado 220 da Jornada de Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios do CJF: "A mediação é
recomendável em ações possessórias coletivas, sobretudo em conflitos agrários ou urbanos envolvendo
comunidades vulneráveis."
Jurisprudência: REsp 1.416.227 (STJ): Reconhece que, nas ações possessórias, é possível cumular pedidos
petitórios (como a reivindicação do domínio) contra terceiros quando há disputa sobre a propriedade do bem.
Desforço Imediato: O desforço imediato e a legítima defesa da posse são medidas excepcionais permitidas ao
possuidor para proteger ou recuperar sua posse sem necessidade de intervenção judicial imediata. Essas medidas
encontram fundamento no art. 1.210, §1º, do Código Civil (CC). Ambas devem ser praticadas com urgência e
moderação, sob pena de serem consideradas ilegais.
1. Diferenças entre as medidas:
Legítima defesa da posse: Reação contra turbação, ou seja, atos que incomodam ou perturbam a posse, mas
não implicam sua perda.
Desforço imediato: Resposta contra esbulho já consumado, que representa a perda injusta da posse.
2. Requisitos para aplicação:
Imediatidade: A reação deve ocorrer logo após o ato de turbação ou esbulho, sem delongas. A demora invalida
a legitimidade da autotutela.
Proporcionalidade: O possuidor deve limitar suas ações ao indispensável para recuperar a posse, respeitando
a boa-fé, os bons costumes e o fim social do direito (art. 187 do CC).
Apoio de terceiros: É permitido que o possuidor conte com ajuda de empregados, prepostos ou serviçais.
Nesse caso, se ocorrerem danos a terceiros, o empregador ou comitente será responsabilizado de forma
objetiva e indireta, conforme os arts. 932 e 933 do CC.
3. Observações importantes:
A imediatidade deve ser interpretada de forma restritiva, como disposto no Enunciado 495 do CJF, ou seja, a
reação deve ocorrer no momento do fato.
Possuidores indiretos e os representantes da posse (como o fâmulo) também estão autorizados a praticar o
desforço imediato, mesmo na ausência do possuidor direto.
Caso o possuidor permita a consolidação de uma nova situação de posse pelo invasor, como a construção de
uma cerca, perde o direito ao desforço imediato e deve buscar medidas judiciais.
4. Em suma, o desforço imediato é um instrumento excepcional, devendo ser usado de forma moderada,
proporcional e no momento certo, para proteger o equilíbrio entre a autotutela e a ordem jurídica.
6° Semestre: Propriedade
Histórico, Conceito, Estrutura, Atributos E Função Social Da Propriedade:
1. Breve Histórico da Propriedade: Na ideologia liberal, o bem comum seria alcançado pela soma dos
bens individuais, na medida em que todos pudessem alcançar a sua felicidade.
- A liberdade de contratar seria o meio de alcançar tanto a justiça quanto a igualdade econômica, por meio
do acesso de todos à propriedade, antes monopolizada pela nobreza.
- No Brasil, a propriedade privada imobiliária sofreu um longo processo de saída do patrimônio público
para ingresso na esfera privada. O Código Civil de 1916 conferiu prevalência às situações patrimoniais,
com resquícios de um sistema liberal, cujos protagonistas eram o proprietário, o contratante e o marido.
2. Art. 1.228 do Código Civil (CC) - ideia mestra da propriedade: Art. 1.228. O proprietário tem a
faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a
possua ou detenha.
§ 1 o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e
sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora,
a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada
a poluição do ar e das águas.
§ 2 o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam
animados pela intenção de prejudicar outrem.
§ 3 o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou
utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente.
§ 4 o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa
área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e
estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz
de interesse social e econômico relevante.
§ 5 o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o
preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
3. Propriedade, Domínio e Conceito: Tradicionalmente, propriedade e domínio são utilizados como
sinônimos. A palavra "propriedade" seria mais genérica, compreendendo o domínio, que é um direito
de propriedade sobre coisas.
- A doutrina majoritária adota um caminho distinto, propondo uma forma diferenciada de apreciação do
instituto da propriedade e do domínio, com vistas à funcionalização desses modelos.
- A propriedade é uma relação jurídica complexa, que se instrumentaliza pelo domínio. Este, como
substância econômica da propriedade, possibilita ao seu titular o exercício de um feixe de
atributos consubstanciados nas faculdades de usar, gozar, dispor e reivindicar a coisa que lhe
serve de objeto (art. 1.228 do CC).
4. A propriedade é um direito fundamental, protegido no art. 5.º, inc. XXII, da Constituição Federal, mas
que deve atender à função social, em prol de toda a coletividade.
- Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes.
- Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância,a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
- Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: II - propriedade privada; III - função social da propriedade;
5. A propriedade também possui uma dimensão positiva: uma política de conversão de excluídos em cidadãos
proprietários. No século XXI, busca-se garantir tanto o direito de proteção quanto o de acesso à propriedade.
- O Código Civil de 2002 optou por adotar apenas o termo "propriedade", tratando-o como sinônimo de "domínio".
6. Estrutura do Direito de Propriedade: O art. 1.228 do CC/2002 não qualifica a propriedade como
relação jurídica, mas dispõe sobre sua estrutura, relacionando as faculdades inerentes ao domínio:
usar, gozar, dispor de seus bens e reavê-los do poder de quem os possua injustamente.
7. Faculdade de Usar: É a faculdade do proprietário de servir-se da coisa de acordo com a sua
destinação econômica, de forma direta (pessoal) ou indireta (por terceiros).
O direito de uso concede ao titular o acesso aos frutos naturais da coisa (art. 1.412 do CC).
Art. 1.412. O usuário usará da coisa e perceberá os seus frutos, quanto o exigirem as necessidades
suas e de sua família.
Por vezes, a faculdade de usar converte-se em um dever jurídico, como na desapropriação por
interesse social ou na arrecadação pelo Poder Público em caso de abandono (art. 1.276 do CC).
Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em
seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e
passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas
respectivas circunscrições.
8. Faculdade de Gozar: Consiste na exploração econômica da coisa, mediante a extração de frutos
e produtos que ultrapassem a percepção dos simples frutos naturais.
O poder de fruição abrange:
- Frutos industriais: resultantes da transformação pelo homem.
- Frutos civis: rendas oriundas da utilização da coisa por outrem (art. 1.232 do CC).
Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário,
salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem.
a) O poder de fruição é um conceito que carece de uniformidade. Existe, por exemplo, uma substancial
diferença entre a fruição da propriedade por parte de uma pessoa natural e de uma pessoa jurídica.
No primeiro caso, pessoa natural, a fruição é estritamente ligada à imediatidade da situação com o
sujeito físico titular.
Enquanto nas pessoas jurídicas, mais do que fruição, trata-se da utilização do bem nos limites de
suas características institucionais.
9. Faculdade de Dispor: É a faculdade de alterar a substância da coisa, definindo sua destinação,
podendo ser material (ex.: destruição ou abandono) ou jurídica (alienação).
a) Material: Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade: III - por
abandono; IV - por perecimento da coisa;
b) Jurídica: Alienação total: transfere a titularidade a outro, seja onerosa (venda) ou gratuita (doação).
Alienação parcial: institui ônus reais sobre o bem, como hipoteca, mantendo a titularidade
do proprietário.
c) Nem sempre o proprietário terá consigo os plenos poderes de disposição, podendo citar como
exemplo as cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e de incomunicabilidade. Ver art. 1911 CC e
o REsp. 1.631.278:
Art. 1.911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica
impenhorabilidade e incomunicabilidade.
REsp. 1.631.278: É possível o cancelamento da cláusula de inalienabilidade de imóvel após a morte dos
doadores se não houver justa causa para a manutenção da restrição ao direito de propriedade.
10. Faculdade de Reivindicar: Denominado elemento externo ou jurídico da propriedade, consiste na
pretensão do titular de excluir terceiros de ingerências indevidas sobre a coisa, permitindo que o
proprietário mantenha a dominação socioeconômica do bem.
- É a extensão do direito de sequela ao titular da propriedade como forma de recuperação da posse obtida
injustamente por terceiros.
A) A pretensão reivindicatória é de natureza obrigacional, buscando a devolução do bem injustamente
possuído por terceiros. A finalidade é recuperar os poderes dominiais e não reconhecer o direito de
propriedade.
Exemplo: O promissário-comprador sem escritura pode ajuizar ação reivindicatória.
11. Em Síntese: Os quatro elementos da propriedade justificam o acróstico GRUD (gozar, reinvidicar,
usar e dispor). Se uma pessoa detiver todos esses elementos, terá a propriedade plena. Caso
tenha pelo menos um, configura-se a posse.
12. Classificação da Propriedade:
- Propriedade Plena ou Alodial: O proprietário detém todos os elementos de forma unitária, sem direitos
de terceiros sobre o bem.
- Propriedade Limitada ou Restrita: Alguns dos elementos da propriedade passam a ser de outrem,
constituindo-se em direito real sobre coisa alheia (hipoteca, servidão ou usufruto); ou quando a
propriedade for resolúvel, dependente de condição ou termo (art. 1.359 do CC).
Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do termo,
entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo
favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha.
13. Divisões do Direito de Propriedade: Havendo a divisão entre os referidos elementos, o direito de
propriedade é composto de duas partes destacáveis:
- Nua Propriedade: Titularidade do domínio, ao fato de ser proprietário e de ter o bem em
seu nome. Costuma-se dizer que a nua propriedade é aquela despida dos atributos do uso
e da fruição (atributos diretos ou imediatos);
- Domínio Útil: Atributos de usar, gozar e dispor do bem, podendo coexistir com a nua
propriedade em virtude de negócios jurídicos. Por tal divisão, uma pessoa pode ser o titular
(o proprietário) tendo o bem registrado em seu nome ao mesmo tempo em que outra pessoa
possui os atributos de usar, gozar e até dispor daquele bem em virtude de um negócio jurídico.
14. Os atributos da propriedade no ordenamento jurídico brasileiro são fundamentais para compreender a
amplitude e os limites do direito de propriedade.
Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.
Se houver qualquer restrição ao direito de propriedade, cabe a quem alega afastar a presunção
de plenitude e exclusividade, de caráter juris tantum.
15. Exclusividade: A mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneamente a duas ou
mais pessoas, em idêntico lapso temporal, pois o direito do proprietário proíbe que terceiros exerçam
qualquer senhorio sobre a coisa. A exclusividade é um princípio que se dirige ao domínio, pois não
pode haver mais de um domínio sobre o mesmo bem.
- No caso de compropriedade (condomínio) tradicional, não há elisão ao princípio da exclusividade, eis
que, pelo estado de indivisão do bem, cada um dos proprietários detém fração ideal do todo.
Art. 1.314. Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os
direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva
parte ideal, ou gravá-la.
Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem dar posse,
uso ou gozo dela a estranhos, sem o consenso dos outros.
16. Perpetuidade: A propriedade, em regra, possui duração ilimitada, sendo transmitida aos herdeiros
por sucessão. Ela só se extingue pela vontade do proprietário, disposição legal ou perecimento do
bem. (perecimento da coisa, desapropriação ou usucapião).
- É por isso que reputa-se a pretensão reivindicatória comoperpétua, podendo o proprietário usar o
atributo da sequela a qualquer momento.
- Todavia, é inadmissível se cogitar de propriedades imprescritíveis (usucapião). À luz do princípio da
função social da propriedade, em uma concepção dinâmica desse direito, a perpetuidade será colocada
em xeque quando o titular inerte se exime de emprestar ao bem a sua finalidade normal. (art. 187 CC).
- Exceção: Pode haver propriedades temporárias, conforme art. 1.359 do CC:
Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do termo,
entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo
favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha
17. Elasticidade: A propriedade pode sofrer desmembramentos parciais (como usufruto ou hipoteca) sem
que o direito do proprietário deixe de existir.
- Dinâmica: Ela pode expandir-se ou contrair-se, mantendo sua essência enquanto propriedade.
- Diferença: Elasticidade trata da cisão de faculdades dominiais, enquanto exclusividade refere-se à
unidade do domínio.
18. Absolutismo: A propriedade é um direito absoluto no sentido de oponibilidade erga omnes.
- Limitações: Apesar de sua amplitude, ela encontra restrições impostas pela função social (Art. 1.228, §
1º, CC) e por outros direitos fundamentais, como a proteção socioambiental (Art. 225 da CF).
19. Função Social: Introduzida como cláusula geral no CC, a função social é um elemento dinâmico do
direito de propriedade, direcionando-o para o atendimento de interesses coletivos. A função social
impõe limites negativos e positivos, limitadores e impulsionadores em atenção ao direito de
propriedade, incentivando a sua adequada fruição, de modo a evitar que o exercício do domínio se
revele ocioso ou especulativo.
- É princípio básico que incide no próprio conteúdo do direito de propriedade, somando-se às quatro
faculdades conhecidas (usar, gozar, dispor e reivindicar).
- Converte-se em um quinto elemento da propriedade.
“Na contemporaneidade, a função social afastou-se da concepção de limites externos, passando a
integrar os próprios conteúdos da propriedade e da posse”.(...) “a interpretação das normas
infraconstitucionais não pode levar ao equívoco, ainda corrente, da confusão entre função social e
aproveitamento econômico. Pode haver máximo aproveitamento econômico e lesão à função social da
propriedade ou da posse. Na situação concreta, não há função social quando, para a maximização dos
fins econômicos, o titular de imóvel urbano não atende às exigências fundamentais de ordenação da
cidade (CF, art. 182, § 2.º) ou o titular de imóvel rural não promove o aproveitamento racional e
adequado da terra, ou não utiliza os recursos naturais disponíveis, ou não preserva o meio ambiente, ou
não cumpre a legislação trabalhista, ou não promove o bem-estar dos trabalhadores (art. 186 CF). Não
são, portanto, a produtividade ou os fins econômicos que orientam a aplicação da função social da
propriedade ou da posse."
Enunciado 507 CJF: Na aplicação do princípio da função social da propriedade imobiliária rural, deve ser
observada a cláusula aberta do § 1º do art. 1.228 do Código Civil, que, em consonância com o disposto
no art. 5º, inc. XXIII, da Constituição de 1988, permite melhor objetivar a funcionalização mediante
critérios de valoração centrados na primazia do trabalho.
a) Dimensão Urbana e Rural: intervenção limitadora e impulsionadora (dupla intervenção).
Urbana: Deve atender às diretrizes de desenvolvimento sustentável, equidade social e habitacional, redirecionar
os recursos e a riqueza de forma mais justa, combatendo situações de desigualdade econômica e social,
garantindo um desenvolvimento urbano sustentável no qual a proteção aos direitos humanos seja o foco. (Art.
182, CF e Estatuto da Cidade, Lei 10.257/2001).
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme
diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.
Súmula 623 do STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível
cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
A propriedade urbana que não atende a sua função social é aquela que frustra três requisitos
alternativos: a) não estar edificada; b) estar subutilizada e c) não estar sendo utilizada.
Rural: Baseia-se na exploração racional da terra, cumprimento de normas ambientais e trabalhistas, e bem-estar
social (Art. 186 da CF).
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
§ 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, simultaneamente:
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas
famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a
cultivem.
São três elementos: econômico, social e ecológico.
Incumbe igualmente cumprir as obrigações trabalhistas (interesses coletivos) e preservar a esfera ambiental (interesses
difusos) ecologicamente equilibrada.
Surge uma questão emblemática: o art. 185, II, da CF exclui a possibilidade de desapropriação de imóvel rural produtivo
para fins de reforma agrária, o que significa que só poderá haver intervenção na propriedade privada mediante justa
indenização em dinheiro (art. 5º, XXIV, CF).
Posicionamento divergente: a produtividade exige também o cumprimento de regras ambientais e trabalhistas. Deve ser
interpretada a produtividade na ampla acepção de uma propriedade solidária. Ver art. 9º da Lei 8.629/23.
A função social é um conceito maleável que será interpretado pelo magistrado com base na concretude do caso, sempre
preservando o chamado conteúdo essencial mínimo da propriedade.
Isto é, jamais se confundirá a função social da propriedade com socialização da propriedade, pois será respeitada a
exclusividade dos poderes dominiais ao proprietário, imune à ação de terceiros.
A propriedade ainda é formalmente privada, porém materialmente social. É privada na forma e estrutura, pois o domínio
é exclusivo; mas é social na destinação e controle de legitimidade e merecimento. 1
A democracia exige que o Estado contenha sua postura arbitrária em favor da preservação das liberdades econômicas e
civis sem se descurar de conceder garantias de inclusão social para a massa da população, para que as liberdades se
exercitam com autonomia real.
Sobre a função social da propriedade, o julgado brasileiro que merece maiores destaques é o caso da Favela Pullman,
do mesmo modo pronunciado pelo STJ, em que a citada intervenção impulsionadora da função social ficou clara.
A decisão é revolucionária por introduzir a função social no próprio conceito de propriedade. Concluiu-se que quem não
cumpre com essa função social não tem o domínio, não havendo sequer legitimidade ativa para a ação reivindicatória. A
função social ganha um sentido positivo, pois deve ser dada uma utilidade coletiva à coisa.
Superado esse ponto, o art. 1.228, § 2.º, do CC enuncia que: Trata-se da vedação do exercício irregular do direito de
propriedade, do abuso de propriedade ou do ato emulativo civil. O comando legal também acaba por limitar o exercício
da propriedade, que não pode ser abusivo.
A norma,em sua literalidade, apenas menciona o ato abusivo quando o proprietário emulador não obtiver vantagens ou
utilidades.
Deve-se entender que também pode estar configurado o ato emulativo se o proprietário tiver vantagens com o prejuízo
alheio, mesmo que haja mera satisfação pessoal. Para exemplificar, o proprietário de um apartamento, todas as noites,
faz festas em sua unidade, o que causa excesso de barulho, prejudicando os vizinhos. Não interessa se esse
proprietário cobra ou não pelas festas, pois o ato emulativo pode sim estar configurado em ambos os casos.
Frise-se que existe uma aparente contradição entre o art. 187 do CC e o último dispositivo citado:
Isso porque o art. 1.228, § 2.º, do CC faz referência ao dolo para a configuração do abuso de direito de propriedade, ao
mencionar a intenção de prejudicar outrem. Por outro lado, o art. 187 do CC, dispositivo que traça as linhas gerais do
abuso de direito, não faz referência ao dolo ou mesmo à culpa.
Segundo o entendimento majoritário da doutrina, o art. 187 do CC consolida a responsabilidade objetiva. Ver Enunciado
n. 37 do CJF/STJ: A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente
no critério objetivo-finalístico.
Sanando essa contradição, na I Jornada de Direito Civil, aprovou-se o Enunciado doutrinário n. 49: Interpreta-se
restritivamente a regra do art. 1.228, § 2º, do novo Código Civil, em harmonia com o princípio da função social da
propriedade e com o disposto no art. 187. Portanto, deve prevalecer a regra do art. 187 do CC que serve como leme
orientador para os efeitos jurídicos do ato emulativo (responsabilidade objetiva).
● Consequências do descumprimento: Previsão de sanções como IPTU progressivo,
desapropriação-sanção ou até confisco em casos extremos (Art. 243 da CF).
● Jurisprudência: No REsp 75.659/SP (Caso Favela Pullman), o STJ afirmou que a função social integra
o conceito de propriedade, negando a legitimidade ativa do proprietário que não a cumpre.
Extensão das Faculdades da Propriedade
1. O artigo 1.229 do Código Civil (CC) delimita a extensão vertical da propriedade:
Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e
profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por
terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las.
2. De certo, não é a propriedade propriamente dita que se estende sob ou sobre o solo, porém as
faculdades de uso e gozo do bem.
- Aplicando esse último dispositivo, entendeu o Superior Tribunal de Justiça no REsp. 1.256.825
(Informativo 557): O proprietário deve suportar outras ingerências externas ao domínio, caso das
passagens de água e de cabos que interessam ao bem comum.
3. Limites e ingerências externas: O direito de propriedade no Brasil é relativizado pelo interesse social
e pelas exigências da convivência coletiva. Exemplos claros dessa relativização incluem:
- Passagens de água e de cabos que atendem ao interesse público, conforme entendimento
consolidado no Superior Tribunal de Justiça no REsp 1.256.825 (Informativo 557).
- Exploração mineral direta pelo proprietário, conforme o artigo 1.230 do CC, limitada a recursos
imediatamente aplicados na construção civil e sem transformação industrial, observando a legislação
ambiental e o artigo 1.228, §1.º, do CC.
Ex: Ilustrando, o proprietário de um imóvel pode vender a areia que está em sua propriedade, para que
ela seja empregada na construção civil. De qualquer forma, essa extração de areia não pode causar
danos ambientais ou ecológicos.
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os
potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis
especiais.
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego
imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto
em lei especial.
A) Construção no subsolo: Se o subsolo não contiver riquezas minerais, o proprietário pode utilizá-lo
para construção, como porões ou garagens, conforme o artigo 79 do CC, que classifica como bens
imóveis tudo que se incorporar ao solo de forma natural ou artificial.
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.
B) Direitos sobre frutos e produtos: O artigo 1.232 do CC consagra o princípio da gravitação jurídica,
segundo o qual o acessório segue o principal. Assim, o proprietário, em regra, tem direito aos
frutos e produtos da coisa. No entanto, as partes podem estabelecer pactos que afastem esse
princípio.
C) Descoberta de bens e achados: O artigo 1.233 do CC prevê que a descoberta de um bem gera uma
obrigação de entrega ao titular. Ainda:
- Nenhuma pessoa é obrigada a recolher a coisa perdida, mas, recolhendo-a, o descobridor não poderá
dela se apropriar, sob pena de responsabilidade civil.
- A descoberta gera um direito de recompensa (achádego), previsto no art. 1234 CC:
Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma
recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito
com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la.
D) Bens abandonados em relações de consumo: Objetos deixados em estabelecimentos comerciais,
como hotéis ou lavanderias, são tratados com base na relação de consumo. O fornecedor assume a
posição de depositário, sendo necessário observar o prazo para o cliente buscar o bem antes que ele
seja considerado abandonado.
Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor legítimo,
quando tiver procedido com dolo.
Modos de aquisição de propriedade: Os modos de aquisição de propriedade imóvel podem ser classificados em
originários e derivados, de acordo com o Código Civil brasileiro e a doutrina jurídica.
1. Modos Originários: Nestes, o adquirente obtém a propriedade sem vínculo com a situação jurídica do
proprietário anterior. Há uma ruptura na cadeia dominial.
a) Usucapião: Forma originária por excelência. Exige posse mansa, pacífica, contínua e com o decurso de prazos
legais. Extingue ônus reais anteriores ao reconhecimento da propriedade pelo usucapiente.
b) Acessão: modo originário aquisitivo de propriedade em razão do qual o proprietário de um bem passa a adquirir
a titularidade de tudo que a ele se adere. Isto é, pela acessão contínua, uma coisa se une ou se incorpora
materialmente a outra, em estado permanente, por ação humana ou causa natural, e o proprietário da coisa
principal adquire a propriedade da coisa acessória que se lhe uniu ou incorporou.
O fundamento jurídico da acessão repousa na inconveniência de destacar-se o que acede ao principal. O
segundo problema é examinado de forma a, sempre que possível, indenizar o titular desfalcado da propriedade,
em respeito ao princípio que veda o enriquecimento sem causa.
A) Acessão Natural: invariavelmente decorre de um evento da natureza, fato jurídico stricto sensu, cujas
modalidades são a formação de ilhas, a aluvião, a avulsão e o abandono do álveo.
I. Formação de ilhas (art. 1249 CC): O proprietário de terrenos ribeirinhos adquire a propriedade
proporcional de ilhas formadas naturalmente.
1.ª Regra. As ilhas que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos
ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o
álveo em duas partes iguais.
2.ª Regra. As ilhas que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram-se
acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado.
3.ª Regra. As ilhas que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuama
pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituírem.
II. Aluvião (art. 1250 CC): Acréscimos de terra causados pelo movimento lento e natural das águas.
Aluvião própria – é o acréscimo paulatino de terras às margens de um curso de água, de forma lenta e
imperceptível; depósitos naturais ou desvios das águas. Esses acréscimos pertencem aos donos dos
terrenos marginais, seguindo a regra de que o acessório segue o principal. Didaticamente, pode-se dizer
que na aluvião própria a terra vem. Para ilustrar, A tem um rancho à beira de um rio, destinado às suas
pescarias. Aos poucos a sua propriedade vai aumentando, pois um movimento de águas traz terra para
a sua margem.
Aluvião imprópria – as partes descobertas pelo afastamento das águas de um curso são assim
denominadas, hipótese em que a água vai, ou seja, do rio que vai embora. A percebe que adquiriu
propriedade, pois o rio que fazia frente ao seu rancho recuou. Por isso, ele tem um espaço maior para
construir um palanque destinado às suas pescarias
Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros
naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos
donos dos terrenos marginais, sem indenização.
Parágrafo único. O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários
diferentes, dividir-se-á entre eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem.
III. Avulsão (art. 1251 CC): Porção de terra deslocada por força natural violenta, com indenização ao
proprietário original.
Exemplo: Em suma, a regra é a indenização, e não sendo esta paga por quem a deve, caberá uma ação
de obrigação de fazer, inclusive com as medidas de tutela específica, previstas no Código de Processo
Civil, caso da multa ou astreintes.
Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e
se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do
primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado.
Parágrafo único. Recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que se juntou
a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida.
A avulsão só se verifica quando se tratar de uma porção de terra. Demais objetos porventura
destacados de um imóvel e levados por força violenta a outro terreno, sem aderência ao prédio, são
consideradas coisas perdidas, devendo o proprietário restituilas (art. 1233 CC).
Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo
possuidor.
Se o acréscimo for realizado por intervenção humana, adotar-se-ão as regras relativas às acessões
artificiais (art. 1253 CC)
Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo
proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.
IV. Álveo abandonado (art. 1252 CC): Terreno que emerge pela alteração do curso do rio.O raciocínio
jurídico é o mesmo da formação de ilhas, pois é preciso traçar um meridiano no rio, verificando-se quais
as distâncias das margens, estudo que interessa mais à engenharia do que ao Direito. Feito tal cálculo,
será possível verificar quais as proporções ou percentuais das propriedades adquiridas.
Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas
margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo
curso, entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.
B) Acessão Artificial (Construções e Plantações): Acessão resultará de um comportamento humano e
não de um fato da natureza, independemente da avaliação do dado volitivo de o agente ter ou não uma
vontade correspondente ao resultado. Em princípio, é aplicável o princípio de que o acessório segue o
principal, com disposições específicas nos artigos 1253 a 1259 do Código Civil.
Acessões artificiais e benfeitorias são institutos que não se confundem. As benfeitorias são incluídas na classe das
coisas acessórias (art. 96 CC), sendo necessárias, úteis ou voluptuárias. Já as acessões artificiais inserem-se entre
os modos de aquisição da propriedade imobiliária, consistindo em obras que criam coisas novas e distintas,
aderindo à propriedade preexistente. Em comum, sobre benfeitorias e acessões, exercita-se o direito de retenção
pelas melhorias que acarretam à coisa.
Todo o regramento civil das construções e plantações foi encetado para solucionar conflitos entre a situação jurídica
do possuidor do bem imóvel e do proprietário ou, mesmo, titular do imóvel que sofreu construções e plantações. As
construções e as plantações têm natureza acessória, uma vez que constituem bens imóveis por acessão física
artificial, seguindo a sorte do principal. Vejamos as seis regras específicas relativas ao tema:
- 1ª Regra: art. 1254 CC: Exemplo: alguém está guardando, por ato de amizade, cimento de um parente em sua
fazenda. Certo dia, essa pessoa utiliza o cimento e constrói um galpão na propriedade. No caso em questão, o
fazendeiro terá a propriedade do que foi construído, mas por óbvio terá que pagar ao amigo o cimento, sem
prejuízo de outros danos, pois claramente agiu de má-fé. O fazendeiro sabia perfeitamente que o cimento não
era seu, havendo desrespeito à boa-fé subjetiva, surgindo daí a responsabilidade civil, pois a má-fé induz à culpa
Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais
alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por
perdas e danos, se agiu de má-fé.
- 2.ª Regra: art. 1255, caput e parágrafo único CC: Duas são as situações descritas. Primeiro, ilustrando, alguém
está ocupando a casa de um parente que está viajando para o exterior por um ano. Aproveitando a ausência do
familiar, essa pessoa constrói, com material próprio, uma piscina no fundo da casa. O ocupante não terá
qualquer direito, pois agiu de má-fé, já que sabia que a propriedade não seria sua. Se agiu de boa-fé na
construção, como no caso de algo que visava proteger o imóvel de uma destruição, terá direito à indenização.
Como segunda situação, se realizada de boa-fé e a construção ou plantação tiver valor superior ao do imóvel,
aquele que construiu ou plantou adquirirá a propriedade do último, tendo apenas que pagar uma indenização a
ser fixada judicialmente, se não houver acordo entre as partes (art. 1.255, parágrafo único, do CC). Esse último
dispositivo, novidade no atual Código Civil, acaba por considerar como principal a plantação ou a construção,
fazendo com que o terreno o acompanhe, consagração do que se denomina como acessão inversa ou invertida,
o que está de acordo com o princípio da função social da propriedade.
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as
sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele
que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da
indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.
- 3.ª Regra: art. 1256, caput e parágrafo único, CC: Para concretizar, o proprietário de um imóvel deixa que
alguém construa uma piscina com os seus materiais, nos fundos da casa, pensando o último que por isso
poderá adquirir o domínio do bem principal. No caso descrito, há uma má-fé recíproca ou bilateral, pois ambos
pretendem o enriquecimento sem causa. O proprietário da casa ficará com a piscina, mas deverá indenizar o
outro pelos valores gastos com a sua construção. O parágrafo único do art. 1.256 do CC traz ainda uma
presunção relativa de má-fé. Em complemento, conforme o art. 1257 caput e parágrafo único:
Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantaso
comprador só será considerado proprietário quando o título (como a escritura) for devidamente
registrado no cartório. Sem esse registro, o comprador não adquire legalmente o direito de
propriedade sobre o imóvel.
A exceção mencionada no artigo ("salvo os casos expressos neste Código") se refere a
situações específicas previstas no próprio Código Civil, nas quais o registro não é necessário
para a aquisição do direito real, como em alguns casos de usucapião (quando a posse
prolongada de um imóvel leva à sua aquisição).
Em resumo, o artigo reforça a importância do registro público como um mecanismo de
segurança jurídica para garantir que a aquisição ou transmissão de direitos reais sobre imóveis
seja válida e oponível a terceiros.
Direitos reais Direitos obrigacionais
Absoluto (Eficácia Erga Omnes) Relativo (Eficácia Inter Partes)
Atributivo (Um Só Sujeito) Cooperativo (Conjunto De Sujeitos)
Imediatividade Mediatividade
Permanente Transitório
Direito De Sequela Apenas Patrimônio Do Devedor Como Garantia
Numerus Clausus Numerus Apertus
Jus In Re (Direito À Coisa) Jus Ad Rem (Direito A Uma Coisa)
Objeto: A Coisa Objeto: A Prestação
2. Sequela: Decorre do absolutismo dos direitos reais, pois se posso exigir de todos o dever de
abstenção, nada me impede de retirar o bem do poder daquele que viola tal comando. Está
relacionado ao princípio da aderência ou inerência, no sentido de o direito real aderir à coisa e a
perseguir.
- Se o titular de um direito real tem o domínio direto sobre a propriedade, aquele que não respeitar
a sujeição universal, pode deter o direito de sequela.
- Situação de domínio: usar e fruir da coisa em si.
- Decorre do poder absoluto: aquele que não respeita e cumpre, ou se abstém em face da coisa em que
alguém é titular, acaba sofrendo a sequela.
- Exigir de todos o dever de abstenção.
- Princípio da Aderência ou inerência: estabelece um vínculo entre o sujeito e a coisa,
independentemente da colaboração de um sujeito passivo. Persegue a coisa, ou seja, só pode exercer
sequela em face da coisa em si, seja ele móvel e imóvel.
3. Preferência: Presente predominantemente nos direitos de garantia, consiste no privilégio do titular do
direito real em obter o pagamento de um débito com o valor do bem aplicado exclusivamente à sua
satisfação. No caso de concurso de credores, a coisa dada em garantia é subtraída da execução
coletiva, pois o credor real prefere a todos os demais.
A preferência dos direitos reais vem perdendo destaque nos tempos atuais em razão dos privilégios
legais, instituídos em atenção ao interesse público voltado a créditos de grande repercussão social,
como os acidentários, trabalhistas e fiscais. Tais privilégios são direitos obrigacionais que o legislador
acolhe como prioritários para a sociedade (art. 958 do CC).
Art. 958. Os títulos legais de preferência são os privilégios e os direitos reais.
A) Interesse público: Ex: acidentários, trabalhista.
B) Direitos obrigacionais prioritários:
C) Preferência de direito real: apenas afetado o bem, desta forma, se a garantia for o imóvel,
apenas o imóvel será o bem afetado, não os demais bens, como automóveis.
D) Privilégio legal: todo patrimônio devedor. Não tem limitação para o que pode ser atingido do
patrimônio do devedor para saldar essa dívida.
E) Várias hipotecas no mesmo ímovel, o 1º terá a preferência. O 2º não terá mais o direito de
preferência, podendo executar por outros meios para saldar a dívida.
- Privilégio: No direito, o privilégio é uma preferência concedida pela lei a certos credores,
permitindo-lhes receber o pagamento de suas dívidas antes de outros credores. Esse privilégio se
baseia na natureza da dívida, e não necessariamente em um direito real. Um exemplo é o privilégio dos
trabalhadores sobre os salários devidos, que tem prioridade em caso de falência de uma empresa.
- O privilégio pode estar associado a um direito real quando, por exemplo, um credor com garantia real
(como uma hipoteca) tem preferência no recebimento de seu crédito em relação a outros credores.
Nesse caso, o direito real (hipoteca) garante a ele um privilégio no recebimento da dívida, pois o bem
dado em garantia pode ser executado para satisfazer o crédito.
Portanto, o privilégio se refere a uma preferência legal no pagamento de dívidas, enquanto o direito real
envolve o poder direto sobre um bem. Quando combinados, o titular de um direito real (como uma
hipoteca) pode ter um privilégio em relação a outros credores.
Enquanto os privilégios criados pelo direito positivo recaem indistintamente sobre todo o patrimônio do
devedor - exceto os bens impenhoráveis - a preferência de direito real localiza-se apenas no valor dos
bens especificamente afetados para o pagamento da dívida.
Caso haja concurso entre diversos titulares de direitos reais sobre o mesmo bem - por exemplo, várias
hipotecas sobre o mesmo imóvel - aplica-se o brocardo prior tempore potior jure (primeiro no tempo,
melhor no direito), prevalecendo o direito ao crédito por parte daquele que registrou o direito real com
antecedência (art. 1476 do CC).
Art. 1.476. O dono do imóvel hipotecado pode constituir outra hipoteca sobre ele, mediante novo título,
em favor do mesmo ou de outro credor.
- Direitos reais garantia: caso o devedor ofereça o imóvel por exemplo, em garantia para um
financiamento. O banco terá preferência a receber esse imóvel em relação a outros credores.
- Credor direito real preferência dos demais.
- Coisa subtraída exerce coletividade: Por exemplo, bens públicos ou de uso comum, quando subtraídos,
prejudicam não só o proprietário, mas toda a coletividade que se beneficia ou depende daquele
bem. Isso pode ocorrer com bens públicos (como patrimônio cultural, ambiental ou infraestrutural), cuja
subtração ou dano afeta o direito coletivo ao seu uso e desfrute.
I - Principais privilégios legais no Brasil: Privilégio dos créditos trabalhistas, Privilégio dos
créditos alimentares, Privilégio dos créditos fiscais, Privilégio dos credores com garantia real,
Privilégio das despesas processuais, Privilégio de dívidas de fornecedores de insumos
essenciais.
4. Taxatividade: Inseridos em regime de ordem pública, os direitos reais são de enumeração taxativa,
localizados no rol do art. 1225 do CC e em leis especiais diversas (ex. Lei 9.514/97 - alienação
fiduciária de imóveis).
Art. 1.225. São direitos reais:
I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese.
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia;
XII - a concessão de direito real de uso;
XIII - a laje;
XIV - os direitos oriundos da imissão provisória na posse, quando concedida à União, aos Estados, ao
Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entidades delegadas e a respectiva cessão e promessa de
cessão.
A criação de novos direitos reais depende de reserva legislativa. Fora do catálogo legal, exclui-se a
possibilidade da autonomia privada conceber direitos reais que produzam consequências erga omnes.
- Ordem pública: conjunto de normas jurídicas que são consideradas fundamentais para o
funcionamento da sociedade e, portanto, possuem caráter imperativo. Essas normas não podem ser
afastadas ou modificadas pela vontade das partes, pois têm como objetivo proteger o interesse coletivo,
a segurança jurídica e o bem comum, prevalecem sobre acordos privados e são de observância
obrigatória, independentemente da vontade das partes envolvidas em um contrato ou situação jurídica.
- Autonomia privada excluída.
A) Para Rosenvald, Chaves e Braga Netto, a taxatividade imputa ao legislador o monopólio da
edificação de direitos reais e a tipicidade delimita o conteúdo de cada tipo de direito real. Se
houvesse tipicidade, não existiria espaço para ae
construções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez
em sua presença e sem impugnação sua.
Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as sementes, plantas
ou materiais a quem de boa-fé os empregou em solo alheio.
Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo
a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor.
- 4ª Regra: art. 1258, caput, CC: Exemplo: alguém que constrói em sua propriedade uma churrasqueira com
cobertura, que vem a invadir o terreno alheio em percentual não superior a 5% deste. Se a construção foi feita
de boa-fé, ou seja, se o construtor não sabe da invasão, poderá adquirir a parte invadida, desde que a
construção exceda o que se invadiu. Todavia, o construtor deverá indenizar o vizinho pela área que o último
perdeu e por eventual desvalorização do imóvel restante, se for o caso.
Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não
superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido,
se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o
valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé
adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da
construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem
grave prejuízo para a construção.
- 5.ª Regra: art. 1258, parágrafo único, CC: O comando legal está a prever o pagamento de dez vezes as perdas
e danos ao proprietário do imóvel invadido, por parte do invasor de má-fé. Isso se o percentual da invasão for de,
pelo menos, 5% ou um vigésimo da área total invadida. Sendo indenizado aquele que perdeu parte do bem, o
construtor adquire a propriedade do que se invadiu, desde que não seja possível a demolição da parte invasora
e sem que haja prejuízo à construção. Ver Enunciado 318 CJF: O direito à aquisição da propriedade do solo em
favor do construtor de má-fé (art. 1.258, parágrafo único) somente é viável quando, além dos requisitos explícitos
previstos em lei, houver necessidade de proteger terceiros de boafé.
- 6ª Regra: art. 1259 CC: A regra está relacionada com uma invasão por construtor superior a 5%, ou melhor, um
vigésimo. Em uma primeira situação, se a invasão superior a um vigésimo for de boa-fé, o construtor invasor
adquire a propriedade do que foi invadido, mas responde pelas perdas e danos correspondentes ao valor que a
invasão acrescer à sua construção, ao valor da área perdida e ao correspondente à desvalorização da área
remanescente. Em complemento, o dispositivo determina que se a invasão superior a um vigésimo ou 5% tiver
sido de má-fé, o proprietário do imóvel invadido poderá requerer a sua demolição, sendo cabível, do ponto de
vista processual, a ação demolitória. Além disso, poderá pedir as perdas e danos mencionados, em dobro.
Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste,
adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor
que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área
remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos
apurados, que serão devidos em dobro.
Usucapião: modo originário de aquisição de propriedade e de outros direitos reais pela posse prolongada da
coisa, acrescida de demais requisitos legais. Do latim usu capio, ou seja, tomar a coisa pelo uso.
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel,
adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare
por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido
no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
1. Requisitos da Usucapião:
Requisitos pessoais: A citação na ação possessória julgada improcedente não interrompe o prazo
para aquisição da propriedade por usucapião.
Requisitos Reais: Apenas direitos reais sobre coisas usucapíveis podem ser adquiridos por esse
modo originário (ex.: propriedade, servidão, enfiteuse, usufruto, uso e habitação).
- Certos bens são inusucapíveis, como aqueles fora do comércio: terrenos da marinha e seus
acrescidos, as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios em usufruto também são
inusucapíveis.
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.
Súmula 340: Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens
públicos, não podem ser adquiridos por usucapião.
Requisitos Formais: São três os requisitos essenciais:
1° Posse com intenção de dono (animus domini):
- Segundo Savigny, compreende o corpus (domínio fático) e o animus domini (intenção de dono).
- A intenção de dono não existe, em regra, em casos com contratos vigentes (ex.: locação,
comodato, depósito), mas admite-se interversio possessionis em hipóteses excepcionais.
2° Posse mansa e pacífica: Deve ser exercida sem oposição de quem tenha legítimo
interesse. A contestação pelo proprietário anula o requisito da mansidão.
3° Posse contínua e duradoura: Deve ser ininterrupta e cumprir determinado lapso
temporal.
Exceção: Accessio possessionis, que permite a soma de posses sucessivas (art. 1.243 do
CC).
Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes,
acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas,
pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.
Ver Enunciado 497 CJF: O prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso do processo,
ressalvadas as hipóteses de má-fé processual do autor.
2. Modalidades de Usucapião:
a) Usucapião Extraordinária: Art. 1238 do CC.
Usucapião extraordinária regular ou comum: Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem
interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente
de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título
para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Usucapião extraordinária por posse-trabalho: Parágrafo único. O prazo estabelecido neste
artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou
nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.
- Há a usucapião extraordinária regular ou comum (caput) e a usucapião extraordinária
por posse-trabalho (parágrafo único).
Requisitos da extraordinária: Posse mansa, pacífica, ininterrupta, com animus domini, por 15
anos. Redução para 10 anos se o possuidor estabelecer moradia habitual ou realizar
obras/produtividade no imóvel (função social da posse). Não é necessária boa-fé ou justo título.
- Posse: O autor da ação de usucapião deverá demonstrar que efetivamente exercia o poder
fático exclusivo sobre toda a área que deseja adquirir. A posse necessariamente será
acompanhada do animus domini. Consiste no propósito de o usucapiente possuir a coisa como
se esta lhe pertencesse.
- A posse será descontínua quando o possuidor abandonar o poder físico sobre a coisa por prazo
relevante, exceto quando o possuidor desocupar o imóvel por períodos frequentes, mas breves,
que não afetem o seu vínculo com a coisa.
- É possível juntar período anterior de posse para usucapir (art. 1243 CC).
b) Usucapião Ordinária:Art. 1242 e parágrafo único, do CC.
Usucapião ordinária regular ou comum: Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele
que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido,
onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde
que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse
social e econômico.
Requisitos usucapião ordinária regular ou comum: Posse mansa, pacífica e ininterrupta com animus
domini por 10 anos. - Justo título - Boa-fé, no caso a boa-fé subjetiva, existente no campo intencional ou
psicológico (art. 1201 CC).
- Boa-fé é o estado subjetivo de ignorância do possuidor quanto ao vício ou obstáculo que lhe
impede a aquisição da coisa.
- De qualquer forma, exibido o justo título, fica dispensado o possuidor de provar a boa-fé,
cabendo à parte contrária realizar a prova da má-fé do usucapiente. (Justo título é o
instrumento que conduz um possuidor a iludir-se por acreditar que ele lhe outorga a condição de
proprietário.)
- O justo título dispensa a formalidade do registro para fins de usucapião.
Cumpridos três requisitos cumulativos do parágrafo único do mesmo artigo, o prazo será reduzido pela
metade:
a) Justo título de caráter oneroso (ex.: compra e venda, dação em pagamento).
b) Registro do justo título pelo usucapiente, mesmo que cancelado após 5 anos de posse titulada.
c)Boa-fé e posse qualificada pela função social (moradia ou investimentos de interesse
social/econômico).
Outros pontos relevantes:
● A existência de um documento hábil, registrado e cancelado posteriormente (ex.: compromisso de compra e
venda), também é um requisito.
● Enunciado 569 CJF: No caso do art. 1.242, parágrafo único, a usucapião, como matéria de defesa, prescinde do
ajuizamento da ação de usucapião.
● Jurisprudência em Teses/STJ (afirmações):
10: A posse decorrente de contrato de promessa de compra e venda de imóvel não induz usucapião,
salvo se convertida a posse não própria em própria.
6 (Edição 133, 2019): O contrato de promessa de compra e venda constitui justo título apto a ensejar a
aquisição da propriedade por usucapião.
Divergência doutrinária:: Para Tartuce, deveria prevalecer a última, de acordo com o Enunciado n. 86 CJF: A
expressão "justo título" contida nos arts. 1.242 e 1.260 do Código Civil abrange todo e qualquer ato jurídico hábil,
em tese, a transferir a propriedade, independentemente de registro.
c) Usucapião Especial (Urbana): Trata-se de um direito novo que não alcança situações
pretéritas (proteção da segurança jurídica).
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por
cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados,
por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Requisitos:
- Área urbana não superior a 250 m².
- Posse mansa e pacífica por cinco anos ininterruptos, sem oposição, com animus domini.
- O imóvel deve ser destinado à moradia própria ou de sua família (art. 6.º, caput, da CF/1988).
- O adquirente não pode ser proprietário de outro imóvel, rural ou urbano.
- A usucapião especial urbana não pode ser concedida mais de uma vez.
A Pessoalidade da Posse: A pessoalidade da posse é fundamental. Ninguém poderá adquirir
propriedade pela habitação no local por outra pessoa (detentor ou possuidor direto), sob pena
de ferir o desiderato constitucional.
- A usucapião nas modalidades urbana e rural não é viável para pessoas jurídicas, pois
estas não moram, possuem sede.
- Moradia: Pode ser individual, dos cônjuges, companheiros e todos que se encaixam no conceito
amplo de entidade familiar (art. 226, §3º e §4º, CF).
- É vedado o apossamento de áreas superiores a 250 m² para posterior ajuizamento de ações
autônomas de usucapião entre membros de uma mesma família.
Incompatibilidade com acessio possessionis: Parece-nos incompatível com a finalidade social
prevista na CF que o possuidor pretenda beneficiar-se da acessio possessionis. A sucessio possessionis
é permitida, pois o que se defere é a proteção à entidade familiar.
Base legal: Art. 1243 do CC: O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos
antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam
contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé.
Enunciado 317 CJF: A accessio possessionis prevista no art. 1243 do CC não se aplica aos arts. 1239 e
1240 do CC (usucapião constitucional urbano e rural).
Limitações de Área: Será levada em consideração para a imposição do limite de medição
constitucional, não a chamada fração ideal do imóvel, e sim a sua área privativa descrita na
escritura. O raciocínio funda-se no fato de que o direito fundamental de moradia só é exercido
na área privativa. A fração ideal, calculada sobre a área total da unidade, avança sobre partes
do condomínio que são comuns aos demais condôminos.
- Área máxima ocupada: 250 m².
- A limitação refere-se à área de terreno, não à construção.
- Apartamento em zona urbana: É usucapível.
Enunciado 313 CJF: Não é possível usucapir área superior ao limite legal, mesmo que o
pedido restrinja a área.
Enunciado 85 CJF: A expressão "área urbana" abrange imóveis edificados ou não, inclusive
unidades autônomas em condomínios edilícios.
Enunciado 314 CJF: Para o art. 1240 do CC, a fração ideal das áreas comuns não entra no
cálculo da metragem máxima.
STF (RE 260.523): Divergência monocrática do min. Gilmar Mendes.
Vedação à Usucapião Repetida: §2º do art. 183 da CF e §2º do art. 1240 do CC: Impedem a
obtenção de usucapião urbana mais de uma vez.
Plano Diretor: A posse urbana deve atender ao plano diretor para cumprir a função social da
propriedade.
d) Usucapião Urbana Coletiva:
Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área total
dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por
possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam
proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1o O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de
seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.
§ 2o A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a qual
servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis.
§ 3o Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da
dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos,
estabelecendo frações ideais diferenciadas.
§ 4o O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação
favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização
posterior à constituição do condomínio.
§ 5o As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por maioria de
votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, discordantes ou ausentes.
Requisitos: Área urbana, sendo certo que a área total, dividida pelo número de possuidores,
deve ser inferior a 250 m2 por possuidor. - Posse de cinco anos ininterruptos, sem oposição,
com animus domini, não havendo exigência de que a posse seja de boa-fé. - Existênciano
local de um núcleo urbano informal ou de um núcleo urbano informal consolidado. - Aquele que
adquire não pode ser proprietário de outro imóvel – rural ou urbano.
Atualizações Legislativas:
- A nova redação do art. 10 do Estatuto da Cidade enfatiza o limite de 250 m² por possuidor.
- Lei 13.465/17 (art. 11, II e VIII): Destina-se a inserir populações carentes, regularizando
assentamentos informais por meio de urbanização.
Essa modalidade de usucapião se destina a inserir a população carente, ocupante de
assentamentos informais, na cidade legal, regularizando áreas de ocupação coletiva já
consolidada pela via de transformações urbanísticas estruturais.
Acessio Possessionis:
- Permitida expressamente no §1º do art. 10 do Estatuto da Cidade.
- Representa um processo único, tutelando interesses metaindividuais.
Condomínio Necessário:
- Com a emissão da sentença, será formado um condomínio necessário entre os
usucapientes, no bojo do qual cada condômino terá idêntica fração ideal em caráter
indivisível (art. 10, §§2º e 3º do EC). Caso os condôminos deliberem pela divisão de
frações em áreas desiguais, o magistrado homologa a divisão em quinhões
diferenciados, após decretar a usucapião da área como um todo.
Base legal: Art. 10, §§2º e 3º do Estatuto da Cidade.
e) Usucapião Urbana Administrativa: Em determinadas circunstâncias, a usucapião não
resultará do devido processo legal e nem tampouco da intervenção do Ofício do Registro
Imobiliário, porém de um procedimento administrativo (Reurb) conduzido na esfera de cada
municipalidade (Lei 13.465/17), destinado em um primeiro momento a uma legitimação de
posse para fins de regularização fundiária e, em um segundo momento, alcançando-se a
usucapião. Ver art. 26:
O procedimento de usucapião será realizado no âmbito de um procedimento administrativo
(art. 28 e ss. Lei 13.465).
Etapas:
- Legitimação de posse para regularização fundiária.
- Posterior usucapião após cinco anos, perante o registro de imóveis.
Sendo o imóvel localizado em área privada, a subsidiariedade do modelo jurídico da
legitimação da posse é cristalina, pois com a instituição da Reurb, demandando a
notificação dos proprietários, confinantes e terceiros eventualmente interessados, para
fins de impugnação, esse procedimento será suficiente para a aquisição da
propriedade, através da legitimação fundiária, dispensando-se o transcurso do lustro
legal para a usucapião. Ver §2º do art. 25: Quando se tratar de bem público, doravante
a regularização será levada adiante pela legitimação fundiária. O poder público
encaminhará a Certidão de Regularização Fundiária (CRF) para registro imediato da
aquisição.
A extrajudicialidade do procedimento se justifica, dentre outros fundamentos, pela
necessidade de simplificar e desburocratizar os meios de realização da função social da
propriedade e das cidades, e contribui decisivamente para consecução dessas funções.
Subsidiariedade do Modelo Jurídico:
- Quando o imóvel está em área privada, a subsidiariedade da legitimação da posse é
evidente.
- Com a instituição da Reurb, que exige a notificação dos proprietários, confinantes e
terceiros interessados para fins de impugnação, esse procedimento basta para a
aquisição da propriedade por legitimação fundiária, dispensando-se o transcurso do
prazo de cinco anos exigido para usucapião.
- Base legal: §2º do art. 25.
- Em áreas públicas, a regularização ocorre pela legitimação fundiária.
- O poder público encaminha a Certidão de Regularização Fundiária (CRF) para registro
imediato da aquisição.
Extrajudicialidade do Procedimento: Justifica-se pela necessidade de simplificar e
desburocratizar os meios de realização da função social da propriedade e das cidades.
Contribui decisivamente para a concretização dessas funções.
- Cancelamento do título: Ver art. 27 da Lei 13.465: Art. 27. O título de legitimação de
posse poderá ser cancelado pelo poder público emitente quando constatado que as
condições estipuladas nesta Lei deixaram de ser satisfeitas, sem que seja devida
qualquer indenização àquele que irregularmente se beneficiou do instrumento.
f) Usucapião Extrajudicial: Art. 216-A da Lei dos Registros Públicos (LRP), alterada pela Lei
13.465/17.
Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial
de usucapião, que será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da
comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado,
representado por advogado
Caráter Alternativo: O CPC/15 introduziu o modelo de usucapião extrajudicial, afeto ao registro
imobiliário, como alternativa ao processo judicial.
Este procedimento desjudicializado e célere reflete a preocupação do ordenamento jurídico em:
- Garantir o direito do proprietário de excluir não proprietários.
- Permitir o acesso à titularidade pela coletividade de não proprietários.
Materializa-se a função social da posse, sem prejuízo à segurança jurídica.
Simplificação Procedimental: que se vislumbra da representação do usucapiente por um procurador
que instruirá o requerimento com a ata notarial, planta e memorial descritivo, certidões negativas e justo
título ou quaisquer documentos que comprovem a origem, continuidade, natureza e tempo da posse.
Requisitos: Representação do usucapiente por procurador, instrução do requerimento com:
Ata notarial. Planta e memorial descritivo. Certidões negativas. Justo título ou outros
documentos que comprovem origem, continuidade, natureza e tempo da posse.
Processo:
- O registrador autua o pedido, dá ciência aos interessados e decide acolher ou
denegar.
- Rejeição não impede que o interessado ajuíze ação de usucapião pelo rito comum.
Enunciado 117 da II Jornada Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios: O termo final de mediação
extrajudicial constitui título executivo extrajudicial, independentemente da assinatura de testemunhas.
g) Usucapião Rural: Criada na CF/34, manteve-se em legislações posteriores, exceto na CF/67
e EC/69.
Art. 191 da CF e art. 1239 do CC.:
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por
cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta
hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia,
adquirir-lhe-á a propriedade.
- No Direito Agrário, denomina-se usucapião agrário ou agrária.
Requisitos: Área máxima de 50 hectares, localizada em zona rural. Posse ininterrupta por cinco anos,
sem oposição, com animus domini. Uso do imóvel para subsistência ou trabalho (pro labore), como
agricultura, pecuária, extrativismo ou atividade similar. Produtividade da terra decorrente do trabalho da
pessoa ou família.
Restrições: O interessado não pode ser proprietário de outro imóvel, urbano ou rural.
Função Social: Mais intensa que na modalidade urbana, exige a posse com atividade econômica
produtiva. A simples pessoalidade da posse pela moradia não conduz à aquisição da propriedade se não
acompanhada do exercício de uma atividade econômica, rural, industrial ou de mera subsistência. O
objetivo é a consecução de uma política agrícola.
Área máxima: Originalmente limitada a 25 hectares pela Lei 6.969/81, agora é de 50 hectares.
Enunciado 312 CJF: Considera-se o módulo rural e a atividade agrária regional.
Jurisprudência: Possível usucapir áreas menores que o módulo rural regional (REsp. 1.040.296).
Enunciado 594 CJF: Admite-se a usucapião especial rural para áreas inferiores ao módulo rural.
Exceções: Segundo Tartuce, em casos excepcionais, pode-se deferir usucapião para áreas ligeiramente
superiores ao previsto, desde que atendida a função social da posse.
h) Usucapião Indígena: Base legal: Estatuto do Índio (Lei 6.001/1973), art. 33.
Requisitos: Área máxima de 50 hectares. Posse mansa e pacífica por dez anos, exercida por indígena.
i)Usucapião Especial Quilombola: Base legal: Art. 68 do ADCT.
Finalidade: Garantir propriedade a remanescentes das comunidades quilombolas.
- Imóvel é registrado em nome da associação da comunidade, não apenas em usufruto.
- Pode recair sobre bens públicos, diferentemente dos arts. 183 e 191 da CF.
Regulamentação:
Decreto 4.887/03: Procedimentos para reconhecimento, delimitação e titulação das terras
ocupadas por quilombolas.
Art. 2º: Propriedade coletiva garantida como direito titular.
j) Usucapião pró-família: A Lei 12.424/11 inseriu no Código Civil o art. 1.240-A e seu §1º,
instituindo uma questionável modalidade de usucapião: a usucapião especial urbana - ou
pró-moradia. Essa modalidade requer a configuração conjunta de três requisitos:
- Existência de um único imóvel urbano comum: Os cônjuges ou companheiros são
comproprietários (art. 1.314 do CC) e compossuidores (art. 1.199 do CC) de um bem imóvel.
Aquele que exerce a pretensão não pode ostentar a titularidade de qualquer outro imóvel em
território nacional, sendo irrelevante aferir tal circunstância no patrimônio do ex-convivente.
- Abandono do lar por parte de um dos conviventes: Esse é o requisito mais polêmico, pois a
Emenda Constitucional 66/10 revogou normas infraconstitucionais alusivas à separação e suas
causas. Com a nova redação do art. 226, §6º, da Constituição Federal, não apenas são
superados os prazos para o divórcio, mas adota-se o princípio da ruptura em substituição ao
princípio da culpa, preservando-se a vida privada do casal.
- Transcurso do prazo de dois anos a partir do abandono do lar: Esse é o prazo mais breve
de usucapião no direito brasileiro, menor até do que o prazo de três anos para a usucapião de
bens móveis. A usucapião pró-família substitui o requisito do animus domini pelo requisito da
causa da separação. O correto é entender que um dos compossuidores se converte em
possuidor exclusivo e, posteriormente, único proprietário, desde que atendidos todos os
requisitos legais.
- Enunciados Relevantes:
Enunciado 502 CJF: O conceito de posse direta referido no art. 1.240-A do Código Civil não
coincide com a acepção empregada no art. 1.197 do mesmo Código.
Enunciado 500 CJF: Aplica-se o art. 1.240-A às uniões homoafetivas, compreendendo todas as
formas de família ou entidades familiares.
Enunciado 501 CJF: As expressões "ex-cônjuge" e "ex-companheiro", no art. 1.240-A,
correspondem à separação fática, independentemente de divórcio.
Enunciado 595 CJF: O requisito "abandono do lar" deve ser interpretado como abandono
voluntário da posse do imóvel, somado à ausência de tutela da família, sem averiguação de
culpa pelo fim da relação.
Enunciado 664 CJF: O prazo da usucapião do art. 1.240-A só inicia com o fim efetivo da
composse.
Usucapião como Defesa: A Súmula 237 do STF permite que a usucapião seja arguida em defesa nas ações
possessórias e petitórias contra o possuidor que já tenha cumprido o lapso temporal exigido por lei.
1. Pedido Contraposto: Conforme o art. 1.241 do Código Civil, o réu pode formular pedido contraposto
em ações reivindicatórias ou possessórias, obtendo sentença que valerá como título hábil para registro
imobiliário.
2. Reconvenção: Com base no CPC, a reconvenção pode conferir definitividade à usucapião,
dispensando ação autônoma. Diferentemente da defesa, a reconvenção amplia o objeto da lide,
permitindo ao juiz decidir tanto a pretensão do autor quanto a do réu em uma única sentença.
3. Inclusão de Terceiros: O art. 343, §3º, do CPC permite a inclusão de terceiros na relação processual
por meio de reconvenção, possibilitando que a usucapião seja alegada de maneira mais abrangente.
4. Assim, a usucapião pode ser arguida de três maneiras:
- Por ação autônoma;
- Como pedido contraposto na defesa (somente contra o proprietário);
- Por reconvenção, com efeitos erga omnes.
Direito Intertemporal nas Usucapiões Extraordinária e Ordinária: O Código Civil de 2002, em seu capítulo
final intitulado “Das Disposições Finais e Transitórias” (arts. 2.028 a 2.046), apresenta normas para resolver
conflitos de aplicação das normas no tempo.
1. Art. 2.029 do Código Civil: Até dois anos após a entrada em vigor deste Código, os prazos
estabelecidos no parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo único do art. 1.242 serão acrescidos de
dois anos, qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do anterior, Lei n o 3.071, de 1 o de
janeiro de 1916.
- A norma é aplicada aos casos de usucapião extraordinária e ordinária nos quais os prazos são
reduzidos para dez e cinco anos, respectivamente, diante da posse do trabalho. O objetivo é evitar
que o antigo proprietário do bem seja surpreendido pela redução repentina de prazos.
- Há norma semelhante para a desapropriação judicial privada por posse-trabalho, do mesmo modo com
acréscimo de prazo de dois anos (art. 2.030): Art. 2.030. O acréscimo de que trata o artigo antecedente,
será feito nos casos a que se refere o § 4 o do art. 1.228.
2. Art. 2.028 do Código Civil: Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na
data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.
- Para casos de redução de prazos nas usucapiões extraordinária e ordinária, aplica-se o art. 2.028 do
CC. A doutrina e jurisprudência majoritárias entendem que, em situações de redução de prazos de
prescrição: Caso tenha transcorrido menos da metade do prazo anterior, o prazo novo será
contado a partir da entrada em vigor do Código Civil de 2002 (STJ, REsp 905.210/SP).
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L3071.htm
Enunciado n. 564 CJF: Em sentido diverso, este enunciado estabelece que as normas
relativas às usucapiões extraordinária (art. 1.238, caput, CC) e ordinária (art. 1.242, caput, CC),
por beneficiarem o possuidor, têm aplicação imediata. Assim, inexistindo norma de transição
específica, os prazos estabelecidos nos artigos citados incidem diretamente.
3. Crítica ao Enunciado 564: Em posição contrária, defende-se que o art. 2.028 do CC deveria ter
aplicação, pois os prazos de usucapião foram reduzidos pela atual codificação, e o proprietário não
pode ser surpreendido com essa redução.
Registro: O registro pode significar tanto um modo específico de aquisição de propriedade imobiliária quanto o
ato formal que dá publicidade à aquisição por sucessão, usucapião ou acessão.
1. Quando for registrado um título aquisitivo de propriedade (ex. escritura de compra e venda),
alcança-se a condição de proprietário em caráter ex nunc. Todavia, o registro da sentença da
usucapião e do formal de partilha não são fatos aquisitivos do domínio, pois este já foi adquirido,
respectivamente, ao tempo em que se completou a usucapião e no momento da morte (art. 1784 CC).
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários.
- Sem registro não se adquire, inter vivos, a propriedade de bem imóvel (art. 1.245 CC):
Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de
Imóveis.
§ 1 o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do
imóvel.
2. Efeito Constitutivo:
- O registro de títulos aquisitivos de propriedade (ex.: escritura de compra e venda) confere propriedade
em caráter ex nunc.
- O registro de sentença de usucapião ou formal de partilha possui efeito retroativo (ex tunc), pois o
domínio já foi adquirido pelo decurso do prazo ou pela saisine (art. 1.784 CC).
3. Negócio Jurídico Não Registrado: Produz apenas efeitos obrigacionais, com obrigação de
transferir a propriedade (art. 481 CC).
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio
de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.
- O registro gera presunção juristantum de propriedade (art. 1.247 CC): Art. 1.247. Se o teor do
registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule.
4. Atributos do Registro:
Constitutividade: Dá validade perante terceiros aos direitos sobre imóveis, possuem função
constitutiva, declaratória, translativa ou extintiva de direitos sobre bens imóveis, atribuindo
validade a estes títulos perante terceiros, com efeito ex nunc. Nos casos de usucapião e
sucessão, o efeito é ex tunc.
Prioridade: Garante proteção ao primeiro a protocolar o título no Livro de Protocolo do
Registro Imobiliário (arts. 11, 12 e 182 da Lei 6.015/73).
Força Probante: Confere presunção relativa de propriedade, produzindo ele todos os efeitos
legais, enquanto não cancelado, salvo no sistema Torrens, que atribui presunção absoluta.
- O Registro Torrens, de caráter excepcional, gera presunção absoluta de propriedade. Ele
consiste em um especial sistema registrário da propriedade imóvel rural que, mediante sentença
transitada em julgado, confere um direito incontestável a quem o fizer, por se tornar portador de
um certificado que o protege contra ulteriores impugnações. Nenhuma ação poderá atingi-la,
exceto a rescisória.
Continuidade: O registro deve estar ligado ao anterior em uma cadeia ininterrupta de atos
(art. 195 LRP). Não há registro isolado; ele deve manter uma efetiva conexão com os
diversos negócios jurídicos dispositivos que lhe precederam. A continuidade é exceção
em casos de aquisição originária, como desapropriação e usucapião.
Publicidade: Direitos reais, por serem oponíveis erga omnes, exigem publicidade por meio de
registro ou averbação para informar a sociedade sobre a situação jurídica dos bens imóveis.
- A gênese da publicidade se dá pelo ato de registro ou averbação. A ausência de
registro produz duas ordens de consequências: a) entre as partes: o título se resume a
gerar eficácia obrigacional; b) perante terceiros: não se pode exigir o conhecimento
daquilo que não se publica.
Legalidade: A presunção relativa de propriedade em favor de quem registra o título no RGI
(Registro Geral de Imóveis) é derivada do princípio da legalidade. A segurança jurídica para o
adquirente e a aparência de legitimidade frente à sociedade decorrem do exame de legalidade
realizado pelo oficial registrador.
- O registro só terá eficácia se estiver baseado em título que cumpra as exigências legais (art. 188
da LRP).
- Negativa do registro: Se o oficial entender que o título não pode ser registrado, caberá ao
interessado requerer que o oficial suscite dúvida ao juiz competente (art. 198 da LRP).
Caso a dúvida seja julgada procedente, a prenotação será cancelada, permitindo a análise de
eventuais títulos protocolados posteriormente (art. 204 da LRP).
Se a dúvida for julgada improcedente, o oficial deverá realizar o registro, e o termo inicial da
propriedade retroagirá à data da prenotação (art. 1.246 do CC).
Retificação do registro: Quando houver incompatibilidade entre o registro e a
realidade dos fatos, a solução é a retificação do registro (art. 1.247 do CC).
A retificação pode ocorrer:
I - Pela via administrativa (art. 213 da LRP):
Unilateral: promovida de ofício pelo oficial em casos de erro evidente (art. 213,
I, da LRP).
Bilateral: realizada em caso de erros não evidentes, mediante provocação do
interessado e desde que não cause prejuízo a terceiros (art. 213, II, da LRP).
II - Pelo juiz corregedor (art. 213, §6º, da LRP): necessária quando há potencial dano
a terceiros.
III- Pelas vias ordinárias (art. 216 da LRP): aplicável em casos que envolvam disputas
complexas, como ações petitórias ou usucapião.
Especialidade: é a individuação do imóvel objeto do título no registro. Ele deve estar
precisamente descrito e caracterizado como corpo certo, individual e autônomo. (art. 1.247 do
CC).
Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se
retifique ou anule.
Existem três modalidades de retificação registrárias conforme os arts. 212 e 213 da
LRP:
- Administrativa (regra geral): realizada pelo oficial, deslocando a atribuição ordinária da
retificação para a via administrativa.
São duas formas:
a) retificação unilateral: o oficial promoverá de ofício a correção do assento na
presença de erro evidente, dispensando-se notificação ou aquiescência de
confinantes.
b) retificação bilateral: aqui a retificação administrativa apanhará o erro que não
é evidente, desde que inexista potencialidade de dano a terceiros.
- Judicial (através de juiz corregedor): requerida em casos de potencial prejuízo a
terceiros, em face da alteração da descrição de extremas..
- Pelas vias ordinárias - Jurisdicional comum: em casos de litígios complexos que
envolvam direitos reais ou disputas de propriedade, não há como solucionar a questão
fora do devido processo legal.
Distinções Terminológicas
1. Matrícula: A matrícula é o primeiro registro de um imóvel, que particulariza sua descrição e
individualiza a propriedade. Ela não substitui o registro, mas é indispensável para a identificação do
imóvel ao longo de sua existência.
2. Registro: O registro é o ato subsequente à matrícula e fundamenta a transmissão de direitos reais,
como hipoteca ou usufruto. Ele segue uma cadeia causal, vinculando-se à matrícula inicial.
3. Averbação: Consiste na anotação de alterações secundárias que não modificam a essência do
registro, como construções, demolições ou mudanças de estado civil do proprietário. A averbação tem
como função compatibilizar a realidade dos fatos com a realidade cartorária.
Do Registro do Título: O registro do título aquisitivo é a principal forma derivada de aquisição de propriedade
imobiliária (arts. 1.245 a 1.247 do CC). O novo proprietário do bem é responsável pelas dívidas que recaem
sobre a coisa, caso dos tributos.
Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de
Imóveis.
§ 1 o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel.
§ 2 o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo
cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel.
Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial do registro, e este o
prenotar no protocolo.
Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule.
Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé
ou do título do terceiro adquirente.
1. Escritura pública: Serve apenas como formalidade para a validade dos contratos. O registro
imobiliário é o que gera a eficácia e a transferência de propriedade.A escritura pública é lavrada no
Tabelionato de Notas, de qualquer local do País, não importando a localização do imóvel.
2. O registro imobiliário, que se situa no plano da eficácia do contrato, é que gera a aquisição da
propriedade imóvel, e deve ocorrer no Cartório de Registro de Imóveis do local de situação da
coisa.
3. Presunção de propriedade: É relativa no sistema geral, salvo no sistema Torrens, que confere
presunção absoluta de propriedade.
4. Importância da promessa de compra e venda: Para fins do art. 1.245 do CC, a promessa de
compra e venda quitada também pode ser considerada título translativo (Enunciado 87 CJF).
Sucessão Hereditária de bens imóveis:
1. O direito hereditário ou sucessão constitui a forma de transmissão derivada da propriedade que se dá
por ato mortis causa, em que o herdeiro legítimo ou testamentário ocupa o lugar do de cujus em todos
os seus direitos e deveres. Enuncia o art. 1.784 do CC:
- Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários.
2. Não se faz necessária a transcrição no registrode imóveis para que se verifique a transmissão da
propriedade, pois de acordo com o CC/2002 basta a morte para que a propriedade seja transmitida
aos herdeiros.
Modos de aquisição de propriedade móvel: A aquisição da propriedade móvel representa a incorporação dos
direitos de dono em um titular. Se de um lado uma pessoa adquire a propriedade de uma coisa móvel, por
outro lado, outra a perde, concomitantemente.
1. Ocupação: É o modo originário por excelência de aquisição da propriedade móvel, pelo qual alguém
imediatamente se apropria de coisas sem dono, seja porque nunca foram apropriadas (res nullius),
seja porque foram abandonadas pelos seus donos (res derelictae).
- Ver art. 1263 CC: Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não
sendo essa ocupação defesa por lei.
- As coisas abandonadas não se confundem com as coisas perdidas, em que haverá a necessidade de
restituí-la (art. 1233 CC). Já o abandono requer o elemento intencional. Ilustrando, a ocupação está
presente nos casos envolvendo a caça e a pesca.
- Ainda pode ser objeto de ocupação a coisa abandonada por alguém, em virtude da derrelição (res
derelictae). A título de exemplo pode ser citado o caso de alguém que encontra um cão abandonado por
outrem, adquirindo a sua propriedade.
2. Achado de tesouro: O tesouro é o depósito antigo de moedas ou coisas preciosas enterradas ou
ocultas, cujo dono é desconhecido. Ver art. 1264 CC:
Três requisitos concorrentes:
a) ter sido o depósito das preciosidades realizado por obra humana;
b) estar o depósito enterrado ou oculto, tanto em um bem móvel (armário) como bem imóvel;
c) não haver conhecimento de quem seja o proprietário.
O problema do achado do tesouro consiste em saber a quem pertencem os bens encontrados. Algumas
soluções impõem-se:
a) tesouro achado pelo proprietário do terreno, ou em pesquisa que ordenou por meio de prepostos,
a ele pertence; a outro turno, o preposto que foi contratado para a finalidade específica de encontrar o
tesouro só poderá reclamar o que foi avençado, tratando-se de verdadeiro negócio jurídico (art. 1265
CC): 1 Achado do tesouro.
b) caso encontrado por pessoa que não seja proprietária, terá esta direito à metade do tesouro
quando o encontrar casualmente, como uma espécie de recompensa em prol do achador (art. 1264 CC).
c) por último, se o descobridor penetrar no prédio alheio com o propósito deliberado de encontrar
o tesouro, contra a vontade do proprietário, não terá direito a nada, pois não se permite a obtenção de
vantagem quando do esbulho (art. 1265 CC). Se o tesouro for achado em terreno aforado, será dividido
por igual entre o descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja o
descobridor (art. 1.266 do CC)
Errou o legislador ao fazer menção à enfiteuse, cuja instituição está proibida pelo CC/2002 (art. 2.038). O
legislador perdeu a oportunidade de fazer menção a outros direitos reais sobre coisa alheia, caso da superfície,
podendo-se entender pela aplicação da regra por analogia à última categoria.
Não se cogitar de achado do tesouro quando o terceiro prove que a coisa encontrada é de sua propriedade.
As regras destacadas subsumem-se aos casos em que o tesouro é encontrado em propriedade privada. Se for
encontrado em terreno público, por óbvio, será do Estado.
3. Usucapião: Será necessária a satisfação dos pressupostos de direito material à aquisição da titularidade.
a) usucapião ordinária (art. 1260 CC): posse mansa e pacífica, ininterruptamente e sem oposição,
durante três anos, exercida com animus domini, justo título e boa-fé. Ver Enunciado 86 CJF: A
expressão "justo título" contida nos arts. 1.242 e 1.260 do Código Civil abrange todo e qualquer ato
jurídico hábil, em tese, a transferir a propriedade, independentemente de registro.
b) usucapião extraordinária (art. 1261 CC): posse ininterrupta e pacífica com animus domini pelo
decurso do prazo de cinco anos, dispensando-se a aferição do justo título e boa-fé.
Nas duas modalidades também incidem as regras da união de posses, tanto pela acessio como sucessio
possessionis, bem como as causas impeditivas, suspensivas e interruptivas da prescrição extintiva (art. 1262
CC):
Dois são os temas relevantes no particular: O texto aborda dois temas: usucapião sobre o direito de uso de
linha telefônica e sobre automóveis furtados ou roubados. No caso de linhas telefônicas, o direito de uso,
derivado de contrato de adesão, é regulado pelo poder público e pode ser considerado usucapível, pois é
destacável da propriedade. Assim, quem pode adquirir a propriedade por usucapião, também pode adquirir o
direito de uso.
Súmula 193 STJ: O direito de utilização de linha telefônica caracteriza-se como direito real de uso, susceptível,
portanto, de aquisição através de usucapião.
Incontroversa também é a faculdade de usucapir concedida ao terceiro de boa-fé que adquire veículo
proveniente de furto.
Há quem entenda pela admissão da usucapião extraordinária, uma vez que cessa a violência no momento
posterior à prática do ilícito, tendo início a partir daí a contagem do prazo legal.98 Adotando essa posição, a qual
estou filiado, surgiu aresto no ano de 2019 na Corte, a merecer destaque o REsp. 1.637.370:
Controversa, todavia, é a possibilidade de o próprio autor do crime contra o patrimônio usucapir o veículo
subtraído (furto ou roubo). A princípio, a má-fé não gera direito a favor de ninguém. Todavia, duas razões
sustentam a admissibilidade da usucapião pelo ladrão:
a) a usucapião extraordinária de bens imóveis e móveis não pede o requisito da boa-fé;
b) a usucapião proveniente de aquisição violenta da posse é viável no tocante aos bens imóveis e
ao termo inicial da prescrição aquisitiva é o instante da cessação da violência (art. 1208 CC).
Na atualidade, as principais questões da usucapião mobiliária se referem aos veículos, principalmente aos
alienados fiduciariamente e objeto de arrendamento mercantil ou “leasing”. Ilustrando, do STJ.
No que diz respeito ao arrendamento mercantil de veículo, o Superior Tribunal de Justiça admitiu a usucapião
extraordinária mobiliária em hipótese fática em que a dívida correspectiva está prescrita. Ver REsp. 1.528.626:
Por último, sabido que a posse não significa tão somente a apreensão física de um bem, admitida ainda a posse
sobre bens imateriais, intangíveis, tais como os conhecimentos e as inovações tecnológicas, Judith
Martins-Costa conclui pela susceptibilidade da usucapião de ações escriturais em favor daqueles que, no prazo
legalmente cominado à usucapião de coisas móveis, detêm a posse (legitimidade) dessas ações. Ações são
mercadorias, coisas móveis fungíveis, inseridas no regime protetor da posse.
4. Especificação: Partindo para a abordagem das formas derivadas de aquisição da propriedade móvel
– com intermediação pessoal a especificação consiste, conforme art. 1269 CC: Aquele que, trabalhando
em matéria-prima em parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se puder restituir à forma
anterior.
Para ilustrar, há especificação nos casos da escultura em relação à pedra, da pintura em
relação à tela, da poesia em relação ao papel. A modificação é substancial.
Regras fundamentais:
1.ª Regra: art. 1269 CC. Trata-se da norma fundamental da especificação, que se justifica, pois
há uma alteração substancial da coisa, o que faz que, por uma reação física, surja outra. O
trabalho de alteração é considerado principal, enquanto que a matéria-prima é acessória, razão
pela qual a atuação do especificador prevalece. Ressalve-se que, pelo que consta do art. 1.271
do CC, o especificador indenizará o valor da matéria-prima ao seu dono.
Art. 1.269. Aquele que, trabalhando em matéria-prima em parte alheia, obtiver espécie nova,
desta será proprietário, se não se puder restituir à forma anterior.
2.ª Regra: art. 1270 CC: A exemplificar, um escultor encontra umapedra sabão em uma das
ruas de Ouro Preto, elaborando uma linda escultura de um profeta de Aleijadinho. Após
elaborar o trabalho, o escultor (especificador) vem a descobrir que a pedra é de terceiro. Nesse
caso, a escultura será sua, pois agiu de boa-fé. Entretanto, o escultor deverá indenizar o dono
da pedra pelo seu valor, o que veda o enriquecimento sem causa.
Art. 1.270. Se toda a matéria for alheia, e não se puder reduzir à forma precedente, será do
especificador de boa-fé a espécie nova.
3.ª Regra: art. 1270, §1º, CC. Como a má-fé induz à culpa, não poderá o especificador que
age por ela guiado, adquirir a propriedade do produto da transformação. Desse modo, o dono
da coisa nova será o proprietário da matéria-prima. Em complemento, para o caso em que é
impraticável a volta ao estado anterior, consagra o art. 1.271 do CC que:
§ 1 o Sendo praticável a redução, ou quando impraticável, se a espécie nova se obteve de
má-fé, pertencerá ao dono da matéria-prima.
Art. 1.271. Aos prejudicados, nas hipóteses dos arts. 1.269 e 1.270, se ressarcirá o dano que
sofrerem, menos ao especificador de má-fé, no caso do § 1 o do artigo antecedente, quando
irredutível a especificação.
4ª Regra: art. 1270, §2º, CC. Esse excesso considerável deve ser analisado caso a caso,
levando-se em conta o valor de mercado da matéria-prima e a grandiosidade do trabalho
efetuado. Também aqui, pelo que consta do art. 1.271 do CC, o especificador que adquire a
coisa nova deverá indenizar o dono da matéria-prima pelo seu valor.
§ 2 o Em qualquer caso, inclusive o da pintura em relação à tela, da escultura, escritura e outro
qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, a espécie nova será do especificador, se o
seu valor exceder consideravelmente o da matéria-prima.
5. Confusão, Comistão e Adjunção:
Conceitos:
I. Confusão: Mistura de líquidos ou gases, impossível de separar (ex.: água e vinho).
II. Comistão: Mistura de sólidos, impossível de separar (ex.: areia e cimento).
III. Adjunção: Justaposição de objetos, sendo impossível a separação (ex.: tinta em uma parede).
Regras Fundamentais:
1° Regra: Art. 1272, caput CC:
Sempre que possível, deve-se retornar ao estado anterior (status quo ante), desde que isso
não desvalorize os bens misturados.
2° Regra: Art. 1272, §1º CC:
Quando não for possível separar, o valor de cada bem será proporcional ao quinhão de cada
proprietário.
3° Regra: Art. 1273 CC:
Proprietários de boa-fé podem escolher entre dividir os bens ou requerer indenização pelo
valor correspondente. Proprietários de má-fé são penalizados.
4° Regra: Art. 1274 CC:
Quando da mistura resulta um novo bem (ex.: fusão de minerais), aplica-se a regra da
especificação (arts. 1270 e 1271 CC).
Tradição e Sucessão Hereditária de Bens Móveis:
Tradição (Art. 1267 CC/2002):
Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição.
Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto
possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de
terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico.
1. A tradição é o ato de entrega de um bem ao adquirente com a intenção de transferir a
propriedade ou posse.
- Fases da Tradição:
a) Convenção: Acordo entre as partes que fundamenta a transferência.
b) Execução: Entrega material do bem ao adquirente, concretizando a transmissão de
propriedade.
2. A tradição concretiza-se na entrega da coisa materialmente efetivada.
3. Tipos de Tradição:
Real: Entrega física do bem.
Simbólica: Ex.: entrega de chaves.
Ficta: Inclui o constituto possessório (alienante permanece como possuidor direto) e a tradição
brevi manu (adquirente já possui o bem).
4. Venda a non domino (Art. 1268 CC): Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a
propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em
circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono.
- Alguém vende um bem que não é de sua propriedade. A venda é ineficaz, exceto:
a) Em leilões ou estabelecimentos comerciais.
b) Quando o adquirente age de boa-fé.
5. Efeitos Supervenientes (§1º do Art. 1268 CC): Se o alienante adquire a propriedade após a venda,
esta se torna eficaz retroativamente (efeitos ex tunc).
- § 1 o Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se
realizada a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição.
6. Sucessão Hereditária de Bens Móveis (Art. 1784 CC) As regras aplicáveis aos bens móveis
seguem os mesmos princípios da sucessão hereditária de bens imóveis:
- A herança transmite-se automaticamente aos herdeiros legítimos e testamentários no momento da morte
do de cujus.
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários.
Modos de Perda da Propriedade (Imóveis e Móveis)
1. No CC, há o art. 1275, incisos I, II e III, que tratam de formas voluntárias, e os incisos IV e V, de
formas involuntárias:
Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade:
I - por alienação; II - pela renúncia; III - por abandono; - FORMAS VOLUNTÁRIAS
IV - por perecimento da coisa; V - por desapropriação. - FORMAS INVOLUNTÁRIA
- Além dessas formas, a morte do proprietário também resulta na perda de propriedade, e o
casamento sob o regime de comunhão universal pode implicar a perda de bens de um
dos cônjuges que possuía patrimônio antes das núpcias.
- A usucapião e a acessão também são modos de perda da propriedade.
2. Arrematação e Adjudicação: Bens são penhorados e levados a hasta pública (art. 904, II, CPC).
- Arrematação: Uma terceira pessoa adquire os bens.
- Adjudicação: O exequente (credor) incorpora os bens.
- As leis penais também estabelecem casos de perdimento de bens como efeito de condenação
criminal (art. 91, II, b, CP);
- Outro modo: Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento do
termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência, e o proprietário,
em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha.
Alienação
1. Alienação: Negócio jurídico pelo qual o proprietário transfere seu direito sobre a coisa, seja de forma
gratuita (doação) ou onerosa (venda, dação em pagamento, permuta).
- A alienação é sempre voluntária e exige solenidade de escritura pública para ser aperfeiçoada
(art. 108 CC): Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios
jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis
de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.
- A propriedade é perdida pela alienação quando ocorre a tradição (para bens móveis) ou o registro do
título (para bens imóveis, art. 1226 e art. 1227 CC):
Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos
entre vivos, só se adquirem com a tradição.
Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só
se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a
1.247), salvo os casos expressos neste Código.
2. Cláusula de Retrovenda: Excepcionalmente, a alienação pode ocorrer sem o consentimento do titular
atual quando há cláusula de retrovenda, permitindo que o proprietário possa reverter a venda em
circunstâncias específicas.
Renúncia
1. Renúncia: Ato unilateral em que o proprietário declara sua intenção de despojar-se do direito de
propriedade. Não há transferência para outra pessoa, e o bem se torna res nullius (sem dono).- A renúncia exige ato expresso e deve ser formalizada por escritura pública (art. 108 CC).
- Renúncia à herança (art. 1804, parágrafo único, CC): A renúncia à herança acarreta a aquisição
imediata da propriedade pelo novo proprietário.
Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura
da sucessão.
Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à herança.
- Caso a renúncia seja em favor de alguns herdeiros, ela configura uma cessão de herança (art. 1793
CC), sendo translativa (não abdica, mas transfere) e não abdicativa.
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-herdeiro,
pode ser objeto de cessão por escritura pública.
Abandono:
1. Abandono: Ato material de desfazimento da coisa por parte do proprietário, que não deseja mais
ser seu dono.
2. Desuso não configura abandono, a não ser que haja a intenção do proprietário de se desfazer do
bem.
- O art. 1276 CC trata do abandono de imóveis, permitindo sua arrecadação e posterior destinação à
propriedade do Município (se urbano) ou à União Federal (se rural) após três anos de abandono.
Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em
seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e
passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas
respectivas circunscrições.
§ 1 o O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado,
como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize.
§ 2 o Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos
de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.
3. O abandono dispensa a formalidade do registro. Mas a eficácia da perda da propriedade perante a
coletividade só ocorrerá quando a titularidade no RGI for alterada pela inserção do nome de um novo.
4. Presunção de Abandono:
Art. 1276, §2º CC: Presume-se o abandono quando não houver cumprimento das obrigações fiscais,
desde que haja fato material de abandono.
A Lei 13.465/17 preservou essa presunção, mas não considera abandono sem evidências materiais.
Perecimento
1. Perecimento: O perecimento é a perda material do objeto, e com isso, a perda do direito de
propriedade. Perecendo o objeto, perece o direito.
§ 1 o Nos casos de perecimento da coisa dada em garantia, esta se sub-rogará na indenização do
seguro, ou no ressarcimento do dano, em benefício do credor, a quem assistirá sobre ela preferência até
seu completo reembolso.
Art. 1425, §1º CC: Em casos de perecimento, o valor da coisa ou sua substituição por outro
bem pode servir como sub-rogação para o credor, evitando a perda do direito.
2. Havendo a substituição da coisa dada em garantia por valor equivalente, evita-se o vencimento
da dívida.
3. Perecimento Jurídico: Embora o objeto não pereça fisicamente, sua situação jurídica pode ser
alterada a ponto de o direito de propriedade ser perdido, especialmente quando a propriedade cumpre
uma função social.
Desapropriação: A desapropriação é um modo originário de aquisição e perda de propriedade
imobiliária. A transferência de patrimônio não se vincula ao título do antigo proprietário, que é
compelido a transmiti-lo ao Poder Público expropriante, por força de ato administrativo formal. Esse
ato decorre da intervenção estatal na propriedade privada. Pode ser realizada pelo Poder Público em
qualquer das três esferas governamentais, ou por delegados, abrangendo qualquer tipo de bem, incluindo
bens públicos (exceto os federais), desde que a desapropriação seja promulgada por entidade governamental
superior.
1. Modalidades de Desapropriação: A desapropriação pode ser classificada em três modalidades
principais:
- Privacidade Pública: Para atender interesses coletivos.
- Necessidade Pública: Por questões urgentes de segurança e salubridade pública.
- Interesse Social: Para fins de reforma agrária.
2. Referências legais: art. 5º, XXIV, CF; art. 182, §4º, CF; art. 243, CF:
Art. 5º, XXIV: “A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade
pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos
previstos nesta Constituição.”
Art. 182, § 4º: “É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no
plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado
ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e
sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.”
Art. 243: “As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas
psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de
colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao
proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observando-se, no que couber, o
disposto no art. 5º.”
3. Processo de Desapropriação: A desapropriação se consuma com o pagamento da indenização,
gerando a transferência do bem. Em casos urgentes, a legislação permite ao expropriante pleitear
posse provisória da área desapropriada, visando à tempestiva satisfação do interesse público.
4. Referência legal: art. 1.228, §§3º, 4º e 5º, CC:
Art. 1.228, §§ 3º, 4º e 5º:
§ 3º: "O proprietário pode ser privado da coisa, se o interesse público assim o exigir, mediante
justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos na Constituição."
§ 4º: "O proprietário também pode ser privado da coisa se ela for indevidamente usada, em
prejuízo do interesse público, ou se houver violação de função social, nos casos e na forma
que a lei determinar."
§ 5º: "No caso do parágrafo anterior, sendo a coisa móvel ou imóvel de valor artístico, histórico
ou cultural, o poder público, preferindo à desapropriação, pode impor sua utilização adequada,
às expensas do proprietário ou possuidor, mediante prestação de caução idônea, se
necessária."
5. Desapropriação Privada: A desapropriação privada ocorre no interesse direto de indivíduos que
ocupam determinada área. Essa modalidade é baseada na posse-trabalho, um conceito aberto que
deve ser avaliado caso a caso.
6. Enunciados Doutrinários Relativos à Desapropriação Privada:
Enunciado 82 CJF: Constitucionalidade da modalidade aquisitiva de propriedade imóvel prevista nos
§§4º e 5º do art. 1.228 do Código Civil.
Enunciado 83 CJF: Os §§4º e 5º do art. 1.228 do CC não se aplicam a ações reivindicatórias
propostas pelo Poder Público.
Enunciado 84 CJF: Defesa baseada no direito de aquisição com fundamento no interesse social deve
ser arguida pelos réus da ação reivindicatória.
Enunciado 240 CJF: A justa indenização não precisa seguir avaliação técnica baseada no mercado
imobiliário, sendo indevidos os juros compensatórios.
Enunciado 310 CJF: Interpretação extensiva do "imóvel reivindicado" para abranger ações
possessórias e petitórias.
7. Usucapião e Bens Públicos: Embora imóveis públicos não sejam usucapíveis (arts. 183, §3º e
191, parágrafo único, CF), existe debate sobre a aplicabilidade da usucapião a bens
dominicais. Enunciado 304 CJF reconhece essa possibilidade, mas tal entendimento é
minoritário.
Abandono de Imóveis: A perda da propriedade por abandono exige processo judicial, respeitando o contraditórioe a
ampla defesa.
- Enunciados Relacionados ao Abandono:
Enunciado 242 CJF: A aplicação do art. 1.276 do CC depende de devido processo legal.
Enunciado 243 CJF: Inadimplemento de ônus fiscais não caracteriza automaticamente abandono, evitando-se
interpretação contrária ao art. 150, IV, CF.
1. Lei 13.465/2017: Essa lei trouxe regras sobre arrecadação de bens vagos. O prazo de cinco anos para
inadimplemento de ônus fiscais cria presunção de abandono (art. 64, §1º), enquanto o prazo de três anos
autoriza a transferência ao Poder Público (art. 65).
2. A Lei 13.465/2017, que trata de regularização fundiária e outros temas, trouxe normas específicas para a
arrecadação de bens vagos pelo Poder Público, detalhadas no art. 64.
3. Art. 64, §1º da Lei 13.465/2017: O artigo estabelece que a não utilização de um bem imóvel e o não
pagamento de tributos por cinco anos consecutivos cria a presunção relativa de abandono. Isso significa
que o imóvel poderá ser considerado abandonado, salvo prova em contrário apresentada pelo proprietário.
4. Conflito aparente com o Código Civil (art. 1.276): O art. 1.276 do Código Civil estabelece que o abandono
de bens imóveis exige a cessação da posse por mais de três anos, com a intenção deliberada do proprietário
de abandonar o bem. Ou seja:
- Prazo do CC (3 anos): Relaciona-se com a transmissão do domínio para o Estado.
- Prazo da Lei 13.465/17 (5 anos): Refere-se à presunção relativa do abandono, baseada na ausência de
pagamento de ônus fiscais.
5. A diferença de prazos pode parecer conflituosa, mas ambos tratam de aspectos distintos do abandono. O
primeiro (5 anos) é um indício de abandono, e o segundo (3 anos) é o prazo necessário para a transferência do
bem ao domínio público.
6. Procedimento administrativo (Art. 64, §2º da Lei 13.465/17): O procedimento de arrecadação de bens vagos
é extrajudicial e conduzido diretamente pelo Poder Público. Esse método evita a judicialização do processo, o
que contraria o entendimento do Enunciado 242 do CJF, segundo o qual a aplicação do art. 1.276 do Código
Civil exige o devido processo legal, garantindo ao proprietário o direito de provar que não houve abandono.
7. §§3º e 4º do Art. 64: Aplica-se a regra de que “quem cala, consente”. Isso significa que, se o proprietário for
notificado e não apresentar defesa ou comprovar posse ativa, presume-se o abandono do imóvel. Essa regra é
uma exceção ao art. 111 do Código Civil, que exige interpretação estrita das declarações de vontade.
8. Diferenças de prazos (3 e 5 anos): Não há conflito real entre os prazos:
5 anos: Prazo para presumir o abandono por inadimplência de ônus fiscais (presunção relativa).
3 anos: Prazo para que o imóvel seja formalmente transferido ao domínio público (requisito material).
9. Art. 65 da Lei 13.465/2017: Esse artigo disciplina o destino dos imóveis arrecadados. Após arrecadado, o bem
poderá ser usado para finalidades de interesse público, como moradia ou outros projetos sociais.
10. Conclusão: A Lei 13.465/2017 modernizou e simplificou o procedimento de arrecadação de bens vagos,
tornando-o mais célere e extrajudicial. Embora possa haver aparente conflito com o Código Civil, os prazos de 3
e 5 anos atendem a finalidades distintas: a presunção do abandono e a transmissão ao domínio estatal. Além
disso, o procedimento da Lei reforça a segurança jurídica ao prever notificação e oportunidade de defesa ao
proprietário.
Direito de vizinhança:
1. O que são Direitos de Vizinhança? Regras que limitam o uso da propriedade para garantir a convivência
harmônica entre vizinhos.
2. Essência: Cada proprietário deve usar sua propriedade sem causar prejuízo à segurança, saúde ou sossego do
vizinho.
3. Base legal: Está no Código Civil (arts. 1.277 a 1.313).
4. Natureza jurídica dos direitos de vizinhança: obrigação propter rem, obrigação que recai diretamente sobre
um bem, independentemente da pessoa que o possua. Ou seja, a obrigação é vinculada ao bem em si, e não ao
sujeito que detém a sua titularidade ou posse.
5. Princípios Gerais
- Uso Normal da Propriedade: É o uso que não prejudica os vizinhos. Qualquer uso anormal (ruído
excessivo, poluição, atividades perigosas) pode ser proibido.
- Limites à Propriedade: O dono não pode fazer tudo que quiser; a liberdade é limitada pelo bem-estar
da coletividade.
6. Tipos de Direitos de Vizinhança
- Gratuitos: Não geram indenização. Exemplo: você recebe águas pluviais de um terreno acima.
- Onerosos: Geram indenização, porque o interesse público prevalece. Exemplo: uma construção
necessária, mas incômoda.
7. Conflitos e Soluções: Uso Anormal da Propriedade: a qualquer utilização do bem que extrapole o uso
normal e acarrete imissão nociva na propriedade ou posse alheia. Exemplo: barulho ou fumaça que
prejudica os vizinhos.
Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências
prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de
propriedade vizinha.
Parágrafo único. Proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização, a localização do
prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas, e os limites ordinários de
tolerância dos moradores da vizinhança.
a) a necessidade de se tomar como medida de prejuízos a aplicação de três requisitos cumulativos (dano lícito e
ato lícito):
homem médio: limite do tolerável encontra-se na média das pessoas
zona do conflito: costumes variam conforme a localização, os usos e costumes das regiões, não se podendo
apurar com o mesmo rigor a normalidade de determinada conduta em zonas industrial e residencial
pré-ocupação: para a doutrina tradicional, os padrões sociais de determinado lugar são definidos pelo morador
que se estabelece precisamente na região. A posição é razoável, mas deve ser avaliada com cuidado para não
conceder aos primeiros moradores uma espécie de alvará de produção de danos pelo uso preexistente,
paralisando a atuação dos novos moradores.
8. Uso normal causando incômodos anormais, mas socialmente necessários: direito do prejudicado à
indenização (dano ilícito e ato lícito): ex. fábrica que gera empregos e pagamento de tributos.
Art. 1.278. O direito a que se refere o artigo antecedente não prevalece quando as interferências forem
justificadas por interesse público, caso em que o proprietário ou o possuidor, causador delas, pagará ao
vizinho indenização cabal.
9. O uso anormal se manifesta reprovável quando o proprietário incomoda a coletividade próxima, sem qualquer
atenuante social. Cabe ao vizinho servir-se de alguns remédios jurídicos:
Remédios Jurídicos: Pedir indenização (art. 186 CC). Ação para parar o problema (obrigação de não
fazer). Ação preventiva para evitar danos futuros (danos coletivos e nítido caráter preventivo - dano
infecto).
10. Casos Específicos:
Árvores Limítrofes:
Se o tronco está na linha divisória, pertence a ambos (mesmo que uma maior parte esteja num dos
lados). Frutos e proventos pertencem a ambos.
Frutos que caem no terreno vizinho pertencem ao dono do terreno onde caíram.
Ramos ou raízes invadindo podem ser cortados pelo vizinho, independente de aviso prévio.
Passagem Forçada:
Quando um terreno não tem acesso à via pública, o dono pode exigir passagem pelo terreno vizinho.
Deve pagar indenização.
Passagem de Cabos e Tubulações no subterrâneo de propriedade privada.: Exemplo: instalação de água
ou luz.
O proprietário deve receber indenização por restrição ao uso do imóvel.
O morador também contará com o direito de exigir que as instalações sejam realizadas da maneira
menos onerosa e mais segura possível. (art. 1.286, parágrafo único, CC).
Se as instalações oferecerem graves riscos de segurança, poderá ser exigida a realização de obras para
promoção da segurança
Águas:
o proprietário ou possuidor de prédio imediatamente inferior é obrigado a receber e escoar as águaspluviais, nascentes ou correntes que naturalmente escorram do superior, sem que isso resulta em
qualquer indenização (direito de vizinhança gratuito);
o morador do prédio inferior não está autorizado a realizar obras que impeçam ou restrinjam o fluxo
normal do escoamento das águas.
11. Direito de tapagem, consiste na faculdade de cercar, murar ou tapar o seu prédio, de acordo com o previsto nas
normas administrativas.
Presunção de compropriedade: Muros, cercas e divisórias entre propriedades são considerados de
propriedade conjunta (condomínio necessário), conforme o parágrafo 1º do art. 1.297. Essa presunção
pode ser derrubada se uma das partes provar que fez as obras às suas próprias custas, sem ajuda da
outra.
Exceção para animais: Quando o objetivo for proteger a propriedade contra animais, mesmo que o
proprietário construa unilateralmente, ele pode ser isento de dividir os custos.
Ação demarcatória: Caso haja dúvida ou conflito sobre os limites entre propriedades, pode-se ajuizar uma
ação demarcatória.
- Essa ação tem duas situações principais:
Incerteza quanto aos limites (art. 1.297); Ausência de limites definidos (art. 1.298).
A) Critérios para solucionar conflitos de limites (art. 1.298):
Título de propriedade: Se houver documentos claros, prevalece a delimitação que eles indicam.
Posse justa: Quando os títulos não forem suficientes, prevalece quem tem a posse legítima.
Divisão equitativa: Se a posse não resolver, o terreno será dividido de forma justa.
Adjudicação: Se não for possível dividir a área, o juiz decidirá quem fica com ela e como será a
compensação.
12. Direito de Construir: Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o
seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois
prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se
proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas.
- Direito: O proprietário pode construir em sua propriedade, mas respeitando: Normas urbanísticas.
Direitos dos vizinhos (ex.: proibição de abrir janelas que invadam a privacidade alheia).
- Limitações: Construções que causem danos ou violem normas podem ser demolidas ou indenizadas.
Função social da propriedade.
O poder público também pode embargar obras irregulares.
Direito de construir e função social: O direito de construir está se tornando cada vez mais vinculado à concessão
municipal, ou seja, à autorização da prefeitura, que regula como o solo pode ser utilizado.
- Atualmente, o proprietário pode construir, mas deve seguir as leis urbanísticas e obter uma licença
para que a construção seja considerada legal.
Regras do Código Civil sobre o direito de construir
Limitações ao direito de construir:
Art. 1.277: O uso da propriedade não pode causar prejuízo à saúde, sossego ou segurança dos
vizinhos.
Abertura de janelas (art. 1.301): Existem restrições para abrir janelas ou terraços que causem invasão
de privacidade, mas há exceções previstas nos parágrafos 1º e 2º.
Proibição de obras prejudiciais: O proprietário pode impedir obras do vizinho que prejudiquem sua
propriedade, seja por meio de:
Ação de obrigação de não fazer (para evitar que a obra continue).
Ação demolitória (para demolir uma obra já feita, com pedido de indenização por danos, art.
1.302).
Construções em paredes divisórias (art. 1.304):
As paredes divisórias (que sustentam construções dos dois lados) têm regras diferentes dos muros,
pois servem como estrutura e vedação.
O vizinho pode construir em uma parede divisória, mas sem prejudicar o outro, conforme o art. 1.308.
Responsabilidade e segurança: O construtor e o dono da obra são responsáveis solidários por danos
causados à propriedade vizinha:
Dono da obra: Responde por danos como uma obrigação vinculada à propriedade.
Construtor: Responde por falhas no serviço, com base no Código de Defesa do Consumidor
(prazo de 5 anos para indenização).
Proteção contra obras irregulares: O prejudicado pode pedir a demolição de construções que violem
normas (art. 1.312).
Em casos específicos, o interesse público pode permitir a entrada temporária em propriedade vizinha
para realizar obras, mas isso não exclui a responsabilidade civil por danos causados (art. 1.313).
Papel do Poder Público: A prefeitura, por meio de seu poder de polícia, pode embargar obras que
desrespeitem as normas administrativas.
13. Conclusão Simples: O direito de construir não é absoluto. Ele deve respeitar normas urbanísticas, direitos dos
vizinhos e a função social da propriedade. Quando há conflitos, o prejudicado pode buscar a Justiça para
proteger seus direitos, podendo até pedir a demolição de construções irregulares. Além disso, tanto o dono da
obra quanto o construtor são responsáveis por danos causados durante a construção.
14. Exemplos de Incômodos e Soluções
- Incômodos Normais (sem direito a reparação): Barulho dentro do limite tolerável.
- Incômodos Anormais (com direito a indenização): Uma fábrica que gera poluição, mas é de interesse
público.
- Incômodos Anormais Sem Justificativa: Uma obra que causa danos e não tem função social. O
vizinho pode pedir cessação ou indenização.
–
1.Classificação da Posse: Direta e Indireta
a)Quanto à Relação Pessoa-Coisa ou ao Desdobramento da Posse (Art. 1.197, CC):
a)Quanto à Presença de Vícios Objetivos (Art. 1.200, CC):
b)Observações Sobre a Posse Injusta:
c)Justa ou Injusta
-Observações:
Com Justo Título ou Sem Justo Título
Observação: Essa classificação está relacionada aos conceitos de ius possidendi (direito à posse derivado da propriedade) e ius possessionis (direito derivado exclusivamente da posse).
Efeitos da Posse:
1. Posse Ad Interdicta:
2. Posse Ad Usucapionem:
Interversão (ou Convalescimento) da Posse:
Aquisição da Posse:
1.Definição Geral (Art. 1.204, CC): A posse é adquirida desde o momento em que se torna possível exercer, em nome próprio, qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
6. Divergência Doutrinária sobre a Cláusula Constituti: Parte da doutrina argumenta que a cláusula constituti vai além do constituto possessório. Ela não apenas converte o adquirente em possuidor sem contato físico com o bem, mas também confere ao alienante a posição de possuidor direto, e não de mero detentor.
Transmissão da Posse: Em relação à transmissão da posse, o art. 1206 do Código Civil prevê que a posse transmite-se aos herdeiros ou ao adquirente, conforme o caso. Isso reflete o princípio da continuidade do caráter da posse, o qual, em regra, mantém os mesmos atributos da sua aquisição. Esse importante regramento também é retirado do art. 1203 do Código Civil.
1.Sucessio Possessionis e Accessio Possessionis: O art. 1207 do Código Civil especializa o princípio da continuidade da posse e apresenta o instituto da união de posses, que se traduz na soma do tempo do atual possuidor com o de seus antecessores. Esse conceito se subdivide em dois modos: sucessio possessionis e accessio possessionis.
2.Sucessio Possessionis: Na sucessio possessionis, não há propriamente uma aquisição da posse, mas sim a passagem de um patrimônio inteiro. Nesse caso, os herdeiros continuam a posse dos bens da herança em caráter indivisível, sub-rogando-se na posição econômica do falecido. Trata-se, portanto, de uma titularização derivada da posse, ou seja, a posse é transmitida de forma integral aos sucessores.
-Cabe destacar que essa regra da transmissão da posse a título universal não se limita à sucessão causa mortis (herança), mas também se aplica a atos inter vivos, como casamento ou incorporação e fusão de pessoas jurídicas.
3.Accessio Possessionis: Já na accessio possessionis, que sempre ocorre por meio de uma relação jurídica inter vivos (como compra e venda), o sucessor singular tem a faculdade de unir sua posse à do antecessor. Nessa situação, oautonomia privada inovar dentro da norma. O
fato de existirem direitos reais típicos (art. 1225 do CC) não elimina a possibilidade de
modelação expansiva de direitos reais já existentes.
B) Tartuce: o rol dos direitos reais é exemplificativo (numerus apertus), pois leis extravagantes
podem criar novos direitos reais. Assim, há uma tipicidade legal dos direitos reais, mas não
uma taxatividade do art. 1.225 do CC (exemplo, a Lei 9.514/97). Obs: tipicidade, não
taxatividade. Autonomia, restrita a função social.
- No tocante à autonomia privada e a inovação dos direitos reais pela vontade humana, Tartuce
entende que encontra limites nas normas cogentes que consagram a função social da
propriedade (art. 5º, XXII e XXIII, CF88 e art. 1.228, §1º, do CC) A valorização da tipicidade
como característica inerente aos direitos reais remete ao ideário do liberal-individualismo
burguês, que pretendia restringir as amarras que podiam ser instituídas em relação aos
próprios bens e impedia, por sua eficácia contra terceiros, a livre circulação da propriedade
privada.
- Portanto, propõe o autor a quebra do princípio da taxatividade, desde que trabalhe dentro dos
limites da tipicidade. Na jurisprudência, o STJ, em 2016, aceitou a possibilidade de ser tratado
como direito real o “time sharing”, sem representar ofensa à taxatividade. Em 2018, a Lei
13.777 regulamentou o instituto da multipropriedade.
- Time Sharing é a denominação utilizada para uma prestação de serviço que pode ser contratada pelo
consumidor e, através de um termo contratual, o contratante ajusta a utilização de uma propriedade em
frações fixas de tempo, sem, contudo, adquirir qualquer direito de propriedade sobre o bem.
5. Outras características: Há, também, a possibilidade de abandono dos direitos reais, por meio da
renúncia a tais direitos, bem como a viabilidade de incorporação da coisa por meio da posse, já que há
a previsão da usucapião como um dos meios de sua aquisição.
- Classificação: a chave para compreender os direitos reais é a propriedade. Assim, temos:
a) propriedade: jus in re propria - é o único direito real originário, de manifestação obrigatória em nosso
sistema jurídico. Detém um caráter complexo em que os atributos de uso, gozo, disposição e
reivindicação reúnem-se.
b) direitos na coisa alheia ou direitos limitados: jus in re aliena - são manifestações facultativas e
derivadas dos direitos reais, pois resultam da decomposição dos diversos poderes jurídicos contidos na
esfera dominial. Na sua vigência convivem com o direito de propriedade, mesmo estando ele
fragmentado. Ex. usufruto, onde o nu-proprietário vêse despido de poderes de uso e gozo da coisa, mas
mantém a faculdade de disposição.
6. O domínio é suscetível de desmembramento em diversos direitos fragmentados. Cada poder do
domínio que é desmembrado culmina por constituir um novo direito real.
Os direitos reais em coisa alheia são de duração temporária, pois a lei não permite que a propriedade
se mantenha fracionada por períodos indefinidos.
Compartimentam-se os direitos reais limitados em três grupos:
a) direitos reais de gozo e fruição: usufruto, servidão, uso e habitação;
b) direitos reais de garantia: penhor, hipoteca e anticrese;
c) direito real à aquisição: promessa de compra e venda.
7. Obrigações propter rem: Estão situadas numa zona intermediária entre os direitos reais e os direitos
patrimoniais (obrigações híbridas ou ambulatórias porque perseguem a coisa onde quer que ela
esteja). Como exemplo, as despesas de condomínio, conforme art. 1345 do CC:
Art. 1.345. O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao
condomínio, inclusive multas e juros moratórios.
- As obrigações propter rem são prestações impostas ao titular de determinado direito real pelo simples
fato de assumir tal condição. Sua particularidade consiste na inerência ao objeto da posição do titular
ativo ou passivo da relação.
- Trata-se de uma situação jurídica de direito das coisas que tem origem normativa. A obrigação propter
rem é fonte não negocial de obrigações. A mera titularidade de um direito real importará a assunção de
obrigações desvinculadas de qualquer manifestação da vontade do sujeito. A obrigação nasce com o
direito real e com ele se extingue.
Por exemplo, STJ, REsp. 1.953.359, Tema 1204: As obrigações ambientais possuem natureza propter
rem, sendo possível exigi-las, à escolha do credor, do proprietário ou possuidor atual, de qualquer dos
anteriores, ou de ambos, ficando isento de responsabilidade o alienante cujo direito real tenha cessado
antes da causação do dano, desde que para ele não tenha concorrido, direta ou indiretamente.
- Porém, é imprescindível conhecer a distinção entre obrigações propter rem e os ônus reais: Enquanto as
obrigações propter rem afetam o titular da coisa ao tempo em que se constitui a obrigação, nos
ônus reais o adquirente posterior se responsabilizará por débitos contraídos pelo titular anterior.
- Ao passo que nas obrigações propter rem o proprietário devedor responde com todo o seu
patrimônio, nos ônus reais só será atingido no limite do valor do bem, pois a garantia real implica
sua responsabilidade por uma dívida de terceiros.
Súmula 623 do STJ: É lícito convencionar que obrigações propter rem sejam solvidas pelo
possuidor da coisa (negócio jurídico envolvendo o repasse dos encargos condominiais ao
locatário).
- Certamente, o referido acordo é ineficaz em face de terceiros, como a Fazenda Pública Municipal.
Súmula 614 do STJ: A obrigação propter rem não se prende necessariamente ao registro, pois
este apenas se torna imprescindível para a constituição de ônus reais.
- Tema Repetitivo 886:
a) O que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações condominiais não é o registro do
compromisso de venda e compra, mas a relação jurídica material com o imóvel, representada pela
imissão na posse pelo promissário comprador e pela ciência inequívoca do Condomínio acerca da
transação;
b) Havendo compromisso de compra e venda não levado a registro, a responsabilidade pelas despesas
de condomínio pode recair tanto sobre o promitente vendedor quanto sobre o promissário comprador,
dependendo das circunstâncias de cada caso concreto;
c) Se restar comprovado: (i) que o promissário comprador imitira-se na posse; e (ii) o Condomínio teve
ciência inequívoca da transação, afasta-se a legitimidade passiva do promitente vendedor para
responder por despesas condominiais relativas a período em que a posse foi exercida pelo promissário
comprador.
8. Outros conceitos híbridos ou intermediários: Para além das obrigações propter rem, há também o
abuso de direito no exercício de propriedade ou ato emulativo e a posse.
- O abuso de direito no exercício de propriedade ou ato emulativo é retirado do art. 187 do CC e do art.
1228, §2º, do CC, caracterizado como híbrido porque o exercício de um direito real repercute no direito
das obrigações, gerando um dever de indenizar.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de
reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha: § 2º São defesos os
atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados
pela intenção de prejudicar outrem.
- A posse é um direito de natureza especial, que não se enquadra como direito real ou pessoal.
–
16/09: Direitos reais - Classificação:
1. Propriedade (único direito real originário): pois é a única com características de domínio.
- Reúne características de domínio: capacidade de uso, gozo, disposição e de reaver a coisa.
- Os outros direitos reais decorrem da propriedade.
2. Direitos reais coisassucessor adquire a posse com o mesmo caráter com que o antecessor a mantinha. Portanto, se a posse do antecessor era injusta, a posse do sucessor singular também o será.
4.Continuidade da Posse e União de Posses: O sucessor universal (herança legítima) continua, de direito, a posse do seu antecessor. Já ao sucessor singular (como nos casos de compra e venda, doação ou legado), é facultado unir sua posse à do antecessor para efeitos legais. Assim, o primeiro caso caracteriza a continuidade da posse, enquanto o segundo trata da união de posses, ou acessão.
5.Quanto à defesa possessória, tanto o sucessor universal quanto o singular poderão defendê-la, seja por continuidade ou por acessão à posse anterior. Nesse contexto, o Enunciado nº 494 do Conselho da Justiça Federal (CJF) estabelece que a faculdade conferida ao sucessor singular de somar ou não o tempo da posse de seu antecessor não significa que, ao optar por nova contagem, ele estará livre do vício que eventualmente maculava a posse anterior.
6.Mitigação do Princípio da Continuidade: Embora o princípio da continuidade do caráter da posse seja um fundamento relevante, ele não é absoluto, podendo ser mitigado. Essa mitigação está prevista no art. 1208 do Código Civil, o qual trata de presunções relativas.
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação.
§ 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação.
§ 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício.
§ 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária.
Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
1. Conceito de frutos e distinção de produtos
2. Frutos e boa/má-fé do possuidor: O direito aos frutos depende da boa ou má-fé do possuidor:
3. Classificação dos frutos
4. Exemplos
5. Responsabilidade por frutos (art. 1215 e 1216, CC)
6. Produtos e diferença de regime
1.Conceito de Benfeitorias (art. 96, CC): São bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel para conservá-lo ou melhorar sua utilidade.
2.Distinção entre Benfeitorias e Acessões (art. 97, CC)
3.Direito de Indenização e Retenção (art. 1219, CC):
4.Levantamento de Benfeitorias Voluptuárias
5.Valor da Indenização (art. 1222, CC): O proprietário que reivindica o bem:
6.Súmulas e Decisões Importantes:
Interdito Proibitório
Súmulas
1.Diferenças entre as medidas:
2.Requisitos para aplicação:
3.Observações importantes:
Desapropriação: A desapropriação é um modo originário de aquisição e perda de propriedade imobiliária. A transferência de patrimônio não se vincula ao título do antigo proprietário, que é compelido a transmiti-lo ao Poder Público expropriante, por força de ato administrativo formal. Esse ato decorre da intervenção estatal na propriedade privada. Pode ser realizada pelo Poder Público em qualquer das três esferas governamentais, ou por delegados, abrangendo qualquer tipo de bem, incluindo bens públicos (exceto os federais), desde que a desapropriação seja promulgada por entidade governamental superior.
1.Modalidades de Desapropriação: A desapropriação pode ser classificada em três modalidades principais:
-Privacidade Pública: Para atender interesses coletivos.
-Necessidade Pública: Por questões urgentes de segurança e salubridade pública.
-Interesse Social: Para fins de reforma agrária.
7.Usucapião e Bens Públicos: Embora imóveis públicos não sejam usucapíveis (arts. 183, §3º e 191, parágrafo único, CF), existe debate sobre a aplicabilidade da usucapião a bens dominicais. Enunciado 304 CJF reconhece essa possibilidade, mas tal entendimento é minoritário.
-Enunciados Relacionados ao Abandono:
1.Lei 13.465/2017: Essa lei trouxe regras sobre arrecadação de bens vagos. O prazo de cinco anos para inadimplemento de ônus fiscais cria presunção de abandono (art. 64, §1º), enquanto o prazo de três anos autoriza a transferência ao Poder Público (art. 65).
2.A Lei 13.465/2017, que trata de regularização fundiária e outros temas, trouxe normas específicas para a arrecadação de bens vagos pelo Poder Público, detalhadas no art. 64.
3.Art. 64, §1º da Lei 13.465/2017: O artigo estabelece que a não utilização de um bem imóvel e o não pagamento de tributos por cinco anos consecutivos cria a presunção relativa de abandono. Isso significa que o imóvel poderá ser considerado abandonado, salvo prova em contrário apresentada pelo proprietário.
4.Conflito aparente com o Código Civil (art. 1.276): O art. 1.276 do Código Civil estabelece que o abandono de bens imóveis exige a cessação da posse por mais de três anos, com a intenção deliberada do proprietário de abandonar o bem. Ou seja:
9.Art. 65 da Lei 13.465/2017: Esse artigo disciplina o destino dos imóveis arrecadados. Após arrecadado, o bem poderá ser usado para finalidades de interesse público, como moradia ou outros projetos sociais.
10.Conclusão: A Lei 13.465/2017 modernizou e simplificou o procedimento de arrecadação de bens vagos, tornando-o mais célere e extrajudicial. Embora possa haver aparente conflito com o Código Civil, os prazos de 3 e 5 anos atendem a finalidades distintas: a presunção do abandono e a transmissão ao domínio estatal. Além disso, o procedimento da Lei reforça a segurança jurídica ao prever notificação e oportunidade de defesa ao proprietário.
Direito de vizinhança:
1.O que são Direitos de Vizinhança? Regras que limitam o uso da propriedade para garantir a convivência harmônica entre vizinhos.
2.Essência: Cada proprietário deve usar sua propriedade sem causar prejuízo à segurança, saúde ou sossego do vizinho.
3.Base legal: Está no Código Civil (arts. 1.277 a 1.313).
Direito de construir e função social: O direito de construir está se tornando cada vez mais vinculado à concessão municipal, ou seja, à autorização da prefeitura, que regula como o solo pode ser utilizado.alheias: algumas das características do domínio ainda ficam com o proprietário,
desta forma, ainda convive em parte com o direito de propriedade.
- Limitados: não tem o exercício pleno do domínio, apenas algumas características.
- Decomposição de poderes de domínio: convivem com o direito de propriedade fragmentado, não
estando em seu pleno exercício. Ex: Usufruto.
- Temporário:
3. Domínio = poder jurídico: relação/poder jurídico exercido pelo proprietário/titular de direito real tem
sobre a coisa.
a) Desmembrar (cria outros direitos reais), como:
- Gozo/fruição: usufruto, servidão, uso, habitação.
- Garantia: penhor, hipoteca, anticrese.
- Aquisição: promessa de compra e venda.
4. Conceitos híbridos: é chamado assim pois parte tem cunho de direito obrigacional e parte de direito
real.
a) Obrigacionais: Inter partes e prestação (objeto).
b) Reais: Erga omnes e a coisa (objeto).
c) Obrigações propter rem (ambulatórias): obrigações impostas pela lei. Segue a coisa, pois é própria dela.
Desta forma, ser titular da coisa, te faz obrigado as despesas dela, por exemplo, locação de casa em
condomínio, a responsabilidade pelo pagamento do condomínio será de responsabilidade do proprietário,
pois este é titular de direito real.
Súmula 623 - STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível
cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.
5. Ônus reais: direito real colocado sobre a coisa, por exemplo: hipoteca e penhor.
- Vontade do titular do direito real:
- Limitado ao valor do bem: desta forma, só será garantido o valor do bem que foi garantido. Por
exemplo, um imóvel de 200 mil reais. O valor será apenas esse.
6. Obrigações Propter rem para o possuidor (aquele que não é o titular do direito real) não é eficaz
para a súmula 614.
- O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de IPTU e de taxas
referentes ao imóvel alugado nem para repetir indébito desses tributos.
7. Obrigação propter rem, não precisa de registro. (Tema 886):
- a) O que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações condominiais não é o registro
do compromisso de venda e compra, mas a relação jurídica material com o imóvel, representada
pela imissão na posse pelo promissário comprador e pela ciência inequívoca do Condomínio acerca da
transação;
- b) Havendo compromisso de compra e venda não levado a registro, a responsabilidade pelas
despesas de condomínio pode recair tanto sobre o promitente vendedor quanto sobre o
promissário comprador, dependendo das circunstâncias de cada caso concreto;
- c) Se restar comprovado: (i) que o promissário comprador imitira-se na posse; e (ii) o Condomínio teve
ciência inequívoca da transação, afasta-se a legitimidade passiva do promitente vendedor para
responder por despesas condominiais relativas a período em que a posse foi exercida pelo
promissário comprador.
8. Abuso do direito de propriedade: gera lucro
Posse - 19/09
1. Posse é uma questão de fato ou de direito? R: É uma questão de fato que gera consequências
jurídicas.
- Conceito: posse é o domínio fático que a pessoa exerce sobre a coisa
- Tartuce: direito de natureza especial.
2. Teorias justificadoras da posse:
a) Subjetiva: para a posse é preciso ter a coisa e a intenção de ser dono.
- Savigny - Posse: corpus (elemento objetivo ou material - poder físico e de disponibilidade) + animus
(elemento subjetivo - intenção de exercer sobre a coisa o direito de propriedade).
- Poder de direito que a pessoa tem de dispor fisicamente de um bem com a intenção de tê-lo para
si e defendê-lo de terceiros.
- Esta teoria não adotada pelo CC (locatário, comodatário, depositário são possuidores sem animus
domini).
- Posse é um fato na origem e um direito na consequência, pois confere ao possuidor a faculdade de
invocar os interditos possessórios sem qualquer ligação com o direito de propriedade
b) Objetiva: basta o elemento objetiva para ter posse.
- Ihering - Posse: corpus (elemento objetivo - disposição física sobre a coisa) Basta a atitude externa do
possuidor em relação à coisa, agindo com o intuito de explorá-la economicamente.
- É adotada no art. 1.196 CC: Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou
não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
- Possuidor é quem, em seu próprio nome, exterioriza alguma das faculdades da propriedade
(exerce algum dos atributos do domínio).
- Todo proprietário é possuidor, mas nem todo possuidor é proprietário.
3. O código civil adota a teoria objetiva em regra. Mas em relação ao usucapião, adota a subjetiva.
4. Natureza da posse:
- Para a teoria subjetiva: dúplice (fato + direito): em princípio, mera situação fática, porém, certas
condições atribuem a esse fato efeitos de direito pessoal, produzindo consequências jurídicas (ex.
usucapião, ações possessórias).
- Para a teoria objetiva: interesse legítimo (reflexo de propriedade): posse é identificada como um
interesse legítimo, reflexo da tutela à propriedade (direito subjetivo de tutelar a posse porque, de fato, se
está tutelando a propriedade).
a) Sendo a posse um direito subjetivo, é de natureza real ou obrigacional? R: A posse é um
direito de natureza real, e não obrigacional. Isso porque a posse está diretamente relacionada à
relação fática que uma pessoa (posuidor) mantém sobre uma coisa, exercendo poderes de fato
sobre ela, como se fosse o proprietário, embora não necessariamente o seja.** (?)
Em sala de aula: O Direito subjetivo é real ou obrigacional? Existencial. (ver com Luiz).
b) Ihering: posse é de natureza real, pois contém três elementos estruturais (uma coisa como
objeto; uma sujeição direta e imediata do objeto ao titular; eficácia erga omnes) Outros
doutrinadores: posse é de natureza obrigacional:
- Não está no rol dos direitos reais (tipicidade)
- Não é registrada no ofício imobiliário (publicidade - caráter absoluto)
- Legislador assim define no art. 73, §2º, CPC (dispensa participação do cônjuge nas ações
possessórias).
- Art. 1212 CC indica que ao possuidor esbulhado não se autoriza ação de reintegração quando o
poder de fato sobre a coisa encontrar-se com terceiro de boa-fé (limite do direito de sequela).
- Situação topográfica do CC
c) Rosenvald:
- Quando o proprietário é possuidor: posse vista como direito real (art. 1196 CC).
- Quando emanada de contrato de usufruto, penhor, locação etc: posse pode ter relação jurídica
de direito real ou obrigacional. O possuidor é tutelado pela relação jurídica que dá origem ao
direito de posse (não pela situação fática.
- Quando emanada exclusivamente de uma situação fática e existencial: é o caso de
apossamento e ocupação da coisa. Aqui reside a função social da posse, que lhe confere uma
autonomia em face da propriedade, merecedora de tutela.
Função social da posse: Numa sociedade plural, as teorias de Savigny e Ihering não são capazes de explicar o
fenômeno possessório à luz da teoria material dos direitos fundamentais. Pela função social da posse, não
basta ao possuidor comportar-se como proprietário, mas sim como um "bom proprietário".
1. Posse é uma situação de fato, onde uma pessoa (proprietária ou não) exerce sobre uma coisa
atos e poderes ostensivos, conservando-a e defendendo-a, exercitando sobre ela ingerência
econômica.
2. Existem 3 situações: proprietário + possuidor, relação jurídica do contrato, situação fática existencial.
3. Função social da posse:
- Para savigny: a posse é justificada em respeito à paz social e negação à violência (interdição do
exercício arbitrário das próprias razões).
- Para Ihering: a posse é justificada pois possuidor é um aparente proprietário.
- Ambos são elementos externos, apresentam uma perspectiva individualista e patrimonialista, que
encontram proteção à posse em elementosexternos (pacificação e propriedade).
4. Tutela-se a posse como um direito especial pela relevância do direito de possuir, em atenção ao
direito social de moradia (art. 6º, CF) e ao acesso a bens vitais mínimos básicos à dignidade
humana (art. 1º, III, CF).
- Atualmente para justificar a posse: posse de direito especial, direito social moradia, bens vitais mínimos,
dignidade.
- A oponibilidade erga omnes deriva de um atributo extrapatrimonial da proteção da moradia como
local de resguardo da privacidade e de desenvolvimento da personalidade humana.
5. É preciso despatrimonializar e repersonalizar a posse.
- O fundamento da posse precisa estar com o foco na pessoa, não na propriedade.
- Refere-se a uma corrente doutrinária que busca reinterpretar a posse com um foco menos centrado em
seu aspecto econômico e patrimonial, e mais voltado para as relações humanas e sociais que ela
envolve. Essa perspectiva propõe um afastamento da visão tradicional que associa a posse apenas ao
direito de propriedade e aos interesses econômicos, para reconhecer seu valor social e
personalíssimo, priorizando o respeito à função social e à dignidade da pessoa humana.
5. Exemplos de função social da posse: redução de desigualdades sociais, justiça distributiva.
- Um exemplo clássico dessa abordagem é a discussão sobre o direito à moradia em áreas urbanas.
Pessoas que ocupam terrenos ou imóveis abandonados, muitas vezes em situação de extrema
vulnerabilidade social, podem ter sua posse protegida não pela lógica patrimonialista tradicional (que
visaria à reintegração do bem ao proprietário formal), mas sim pela necessidade de proteger o direito à
moradia e garantir condições dignas de vida.
6. Enunciado n. 492 CJF: A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar
o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais
merecedores de tutela
- Art. 1238, p. único, CC: Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir
como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo
requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de
Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10652639/artigo-1238-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10652611/paragrafo-1-artigo-1238-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de
caráter produtivo.
- Art. 1242, p. único, CC: Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e
incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco
anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no
registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele
tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.
- Art. 1228, §4º E 5§, CC: Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o
direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 4º O proprietário
também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse
ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela
houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de
interesse social e econômico relevante. § 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa
indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel
em nome dos possuidores.
7. Objeto da posse: Podem ser objeto da posse apenas coisas corpóreas, que podem ser visualizadas
e tocadas, e que tenham valor econômico. Apenas sobre tais bens é possível exteriorizar um poder
fático, portanto, o que releva é o elemento externo e objetivamente perceptível da destinação
econômica imprimida ao bem (e não tanto o caráter corpóreo). Ex. patentes, softwares etc
a) Coisas corpóreas - Súmula 193 - STJ: O Direito de uso de linha telefônica pode ser adquirido por
usucapião.
b) Bens imateriais? - Súmula 228 - STJ: É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito
autoral.
- Virtualidade de importância econômica, social e jurídica.
- A súmula 228 do STJ apenas indica que há medidas específicas de proteção ao direito autoral
(busca e apreensão, tutelas específicas de obrigação de não fazer para preservar criações
artísticas).
c) Não há posse de bens fora do mercado: porém, não haverá posse sobre coisas postas fora do
comércio, pois insuscetíveis de apropriação. Ex. bens públicos de uso comum e de uso especial (art.
100 CC)
8. Não é possível usucapir bens públicos.
- Mas há a possibilidade de proteger a posse de bem dominical, contra terceiro particular que possa vir a
querer reivindicar a sua posse, por meios de interditos possessórios.
23/09 - Posse continuação:
Art. 1197 CC: Verifica-se quando faculdades que integram o domínio são transferidas para outra pessoa, que
a utilizará em decorrência de uma relação jurídica de direito real (ex. penhor, usufruto) ou obrigacional (ex.
comodato, locação), criando-se uma posse derivada.
1. Desdobramento da posse: divisão da posse direta e indireta.
a) Direta: marcada pela temporariedade (relação jurídica terá termo final) e pela subordinação (limitada ao
âmbito dos poderes dominiais transferidos).
- Ex. locação, pois locatário e locador gozam do bem ao mesmo tempo (proprietário possuidor indireto
recebe aluguéis, frutos civis e inquilino possuidor direto recebe frutos naturais ou industriais). São,
assim, posses paralelas.No exemplo do contrato de locação, a posse direta estará com o locatário, uma
vez que este tem o contato direto com a coisa.
b) Indireta: será o locador, o proprietário da coisa, mas que nesta situação, dispõe de alguns direitos em face
da coisa, para o locatário.O proprietário a conserva mesmo quando temporariamente transfere a outrem o
poder de fato sobre a coisa.
- Ex: Locação.
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10652274/artigo-1242-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10652242/paragrafo-1-artigo-1242-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10653373/artigo-1228-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10653224/paragrafo-4-artigo-1228-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10653176/paragrafo-5-artigo-1228-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
c) A exclusividade é um princípio que se dirige ao domínio, pois não pode haver mais de um domínio sobre o
mesmo bem (só uma pessoa pode usar, fruir e dispor do objeto - domínio uno e indivisível).
d) Logo, quando o desdobramento da posse é consequência de uma relação de direito real: poderes dominiais são
destacados do titular formal da propriedade em favor do titular do direito real de coisa alheia, que exercerá
ingerência sobre a coisa. Porém, quando há desdobramento da posse por relação obrigacional, não há
verdadeira transferência de domínio, mas somente empréstimo das aludidas faculdades.
e) Possuidor direto e indireto defendem autonomamente contra terceiros suas posses por ações possessórias
(litisconsórcio ativo facultativo)
f) O possuidor direto pode defender sua posse mesmo contra o possuidor indireto, em virtude de agressão à sua
posse direta (art. 1197 CC). A recíproca é verdadeira (Enunciado n. 76 CJF: O possuidor direto tem direito de
defender a sua posse contra o indireto, e este, contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo Código Civil).
g) É possíveluma verticalização em vários graus do desdobramento possessório. Ex. caso de sublocação, onde o
sublocatário será possuidor direto e o locatário e o locador serão possuidores indiretos.
h) Enunciado n. 236 CJF: Considera-se possuidor, para todos os efeitos legais, também a coletividade desprovida
de personalidade jurídica.
Composse: presente nas situações onde existem mais de 1 possuidor da coisa, por exemplo, dois irmãos
donos de um imóvel. Situação excepcional consistente na posse comum e de mais de uma pessoa
sobre a mesma coisa que se encontra em estado de indivisão.
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos
possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.
- Características da composse: Pluralidade subjetiva + Coisa indivisa.
- Dois pressupostos: pluralidade de sujeitos + coisa indivisa ou em estado de indivisão
a) Classificação: a composse pode ser pró divisa ou indivisa.
- Composse pro indiviso ou indivisível: compossuidores têm fração ideal da posse, não podendo no
plano fático determinar qual parte é de cada um (ex. dois irmãos têm posse de uma fazenda e ambos
exercem-na sobre todo o imóvel).
- Composse pro diviso ou divisível: cada coompossuidor sabe qual a sua parte, determinável no plano
fático e corpóreo, com uma fração real da posse (ex. dois irmãos têm a composse sobre uma fazenda,
que é dividida ao meio por uma cerca, onde metade dela é plantada por um irmão e a outra, pelo outro).
Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito
real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. § 2º Nas ações
possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de
composse ou de ato por ambos praticado.
b) Diferente do desdobramento da posse: o desdobramento pressupõe posses paralelas em graus
diferenciados e a composse todos são possuidores no mesmo plano.
- Poderá incidir composse na posse direta e também composse na posse indireta Obs: é possível existir
composse em propriedade exclusiva e também posse exclusiva em condomínio.
- Também é possível que um compossuidor ingresse com ação possessória em face de outro
compossuidor.
c) A composse termina com:
- a) quando houver divisão consensual ou judicial da coisa em porções identificáveis.
- b) em caso de concentração de atos possessórios em apenas um dos compossuidores.
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10655137/artigo-1199-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
Detenção: denominado gestor da posse, detentor dependente ou servidor da posse, tem a coisa apenas em
virtude de uma situação de dependência econômica ou de um vínculo de subordinação. Detenção é uma
posse desqualificada pelo ordenamento jurídico.
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva
a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Parágrafo único. Aquele que começou
a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor,
até que prove o contrário.
- O detentor exerce sobre o bem não uma posse própria, mas uma posse em nome de outrem. Detentor
(fâmulo da posse, gestor da posse, servidor da posse) tem a coisa em virtude de uma situação de
dependência econômica ou vínculo de subordinação (mera custódia). Não poderá manejar ações
possessórias, nem alcançar a propriedade pela via da usucapião.
1. Escala de três tipos considerando as situações de poder sobre bens:
a) propriedade: titularidade do direito real.
b) posse: situação subjetiva atribuída àquele que exerce poder fático de ingerência econômica sobre o bem.
c) detenção: o poder fático praticado sobre a coisa é desqualificado pelo sistema jurídico
Existem 4 possibilidades taxativas de detenção:
a) Art. 1198,cc: Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com
outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
Ex: Caso em que se contrata um caseiro, que irá morar no imóvel, esse terá todos os direitos
possessórios, mas não será proprietário. Sua principal característica é a subordinação, pois este é
subordinado do possuidor.
b) Art. 1208, cc: - 1º Parte: Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância (...)
Atos de permissão ou tolerância: situações de complacência, parentesco, hospitalidade permitem
terceiro praticar atos detentivos sobre coisa.
Permissão nasce de autorização expressa do possuidor e a tolerância nasce de autorização tácita.
Ambas caracterizam-se pela transitoriedade e faculdade de supressão a qualquer tempo pelo real
possuidor.
Enquanto na detenção do art. 1198 CC é desinteressada, a detenção do art. 1208, primeira parte, CC é
interessada (envolve interesses econômicos).
c) Art.1208, cc - 2º Parte: (...) assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou
clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade.
Enquanto materialmente existentes, atos de violência ou clandestinidade impedem a aquisição da posse,
configurando ilícitos sobre a coisa (por isso, meros atos de detenção). Só se tornará posse com a
cessação da antijuridicidade das condutas.
A posse inaugurada no momento superveniente à cessação da violência (agora pacífica) ou da
clandestinidade (agora pública) terá a qualificação de posse injusta (moléstia congênita).
Trata-se de uma detenção autônoma, diferente das outras hipóteses em que há detenção dependente
(meros instrumentos da posse alheia)
Ex: Invasão de um imóvel, só será posse quando cessa o ato de violência. Entretanto essa posse terá
um vício de origem. Enquanto não cessar o ato violento, não será posse, e sim, alienação.
É possível a conversão da detenção dependente ou subordinada em autônoma quando alguém que
atuava em nome alheio (caseiro, por exemplo) pratica atos de violência para excluir do poder de fato
sobre coisa a pessoa a quem antes prestava contas.
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10655205/artigo-1198-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10655179/paragrafo-1-artigo-1198-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
d) Art. 100, cc: Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto
conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Ex: não há possibilidade de exercício de posse sobre bens públicos, quando ocupada a coisa, será
detenção, não posse. São bens fora do comércio, não passíveis de apropriação.
Súmula 619: A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária,
insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.
e) Bens dominicais, esvaziados de finalidade pública, permitem a posse ou apenas detenção?
O critério é funcional: afetação do bem público. Uso comum e especial estão afetados à finalidade
pública, não permitindo ao possuidor o ajuizamento de ações possessórias.
Bens dominicais, porém, desafetados, permitem o manejo pelo particular de ações possessórias contra
o poder público e contra terceiros que ameacem sua posse.
- Decisões do STJ, porém, não reconheciam a posse sobre bens públicos, de qualquer natureza.
Era uma mera detenção de natureza precária.
- Rosenvald entende que, em relação aos bens dominicais, apenas veda um dos efeitos jurídicos
da posse: a usucapião.
- Súmula 619: particular protegido com contrato administrativo de concessão ou permissão de
uso pode manejar ações possessórias na vigência da relação jurídica.
- Art. 1228 CC parte final acrescenta o detentor como legitimado passivo para ação
reivindicatória. No caso de detenção dependente, diante da ilegitimidade do réu, o autor poderá
alterar o polo passivo. No caso de detenção autônoma (violentaou clandestina), deverá o
detentor ser mantido no polo passivo.
Diferença entre situações de apreensão física da coisa pela indagação da aquisição da posse:
a) aquisição do direito de propriedade: novo proprietário tem direito à posse derivada;
b) atuação material sobre o bem por quem não seja proprietário e independente de qualquer
relação jurídica com este: posse originária;
c) pela relação jurídica de direito real ou obrigacional com o proprietário: desdobramento de
posse (direta e indireta).
d) pelo poder material sobre o bem em virtude de relação empregatícia, permissão ou tolerância,
ingresso na coisa com persistência de situação de violência ou clandestinidade, ingresso em
bem público de uso comum ou especial: detenção.
Classificações da Posse:
1. Classificação da Posse: Direta e Indireta
a) Quanto à Relação Pessoa-Coisa ou ao Desdobramento da Posse (Art. 1.197, CC):
- Posse direta ou imediata: é exercida por quem possui a coisa materialmente, com um poder
físico imediato sobre o bem. Exemplo: locatário, depositário, comodatário, usufrutuário.
- Posse indireta ou mediata: é exercida por meio de outra pessoa, geralmente decorrente do
exercício de um direito sobre a coisa, normalmente vinculado à propriedade. Exemplo: locador,
depositante, comodante, nu-proprietário.
2. Relação Entre os Possuidores: Conforme o Enunciado nº 76 do CJF, tanto o possuidor direto
quanto o indireto têm o direito de defender sua posse um contra o outro, bem como contra terceiros. O
artigo 1.197 do Código Civil reforça que essa proteção se aplica reciprocamente.
- Exemplo: Em um contrato de locação em vigor, o locatário (possuidor direto) pode propor ação
de reintegração de posse contra o locador (possuidor indireto) que invadiu o imóvel, mesmo
sendo o proprietário, caso o contrato ainda esteja vigente.
3. Classificação da Posse: Justa ou Injusta
a) Quanto à Presença de Vícios Objetivos (Art. 1.200, CC):
- Posse justa: é aquela que não apresenta os vícios da violência, clandestinidade ou precariedade.
Trata-se de uma posse legítima e regular.
- Posse injusta: quando se estabelece por meio de algum vício, ou se transforma em viciosa
posteriormente. A posse injusta pode ser classificada em:
- Posse violenta: adquirida por meio de força física ou ameaça. O vício da violência é objetivo,
independentemente dos motivos ou de quem sofreu a violência.
- Posse clandestina: obtida às ocultas, sem o conhecimento do possuidor anterior, sem publicidade ou
ostentação. Mesmo que outras pessoas saibam da ocupação, ela permanece clandestina até ser
publicamente reconhecida.
- Posse precária: surge do abuso de confiança, quando o possuidor retém indevidamente a coisa além
do prazo estabelecido no contrato ou acordo. Inicialmente, a posse é legítima, mas se torna injusta
quando o possuidor decide unilateralmente não devolver o bem.
b) Observações Sobre a Posse Injusta:
- A posse injusta é caracterizada pelos vícios da violência, clandestinidade ou precariedade. No entanto,
esses vícios são relativos e não produzem efeitos "erga omnes" (contra todos), sendo oponíveis apenas
por quem sofreu o esbulho.
- A posse violenta ou clandestina pode evoluir para uma posse propriamente dita quando o possuidor
tornar pública sua ocupação.
- Apesar de seus vícios, a posse injusta pode eventualmente resultar em usucapião extraordinária, nos
termos do art. 1.203 do CC, desde que cumpridos os requisitos legais, mesmo sem justo título ou
boa-fé.
c) Justa ou Injusta
- Observação 1: Basta a presença de um dos critérios (violência, clandestinidade ou precariedade) para
que a posse seja caracterizada como injusta.
- Observação 2: Mesmo que a posse seja injusta, ela ainda é considerada posse e pode ser defendida
por ações possessórias contra terceiros, não contra quem foi desapossado.
- Observação 3: Segundo a visão clássica e o art. 1208, segunda parte do CC, as posses injustas por
violência ou clandestinidade podem ser convalidadas, o que não se aplicaria à posse injusta por
precariedade.
d) Justa ou Injusta - Regra Geral: A posse geralmente mantém o mesmo caráter com que foi adquirida (art. 1203
CC – princípio da continuidade do caráter da posse). Contudo, o art. 1208 permite a convalidação da posse
injusta por violência ou clandestinidade após um determinado tempo (um ano e um dia), reconhecendo que os
possuidores nessas condições não têm posse plena para fins jurídicos.
e) Posse Precária: Para a corrente contemporânea (Tartuce), a posse precária também poderia ser convalidada,
desde que haja uma mudança substancial na causa da posse, alinhada à sua função social. O Enunciado 237 do
CJF respalda essa possibilidade ao admitir a "interversio possessionis" (mudança do caráter da posse) quando o
possuidor direto demonstrar um ato claro de oposição ao possuidor indireto, indicando "animus domini" (intenção
de dono).
- Observação 4: Os vícios de violência, clandestinidade e precariedade não afetam diretamente questões
como frutos, benfeitorias ou responsabilidades. Para essas questões, o que importa é se a posse é de
boa-fé ou de má-fé. Contudo, o possuidor com posse injusta não pode adquirir a coisa por usucapião
(art. 1201 CC).
–
Boa-Fé ou Má-Fé: A classificação em boa-fé ou má-fé considera critérios subjetivos, baseados na intenção do
possuidor:
a) Posse de boa-fé: O possuidor ignora os vícios ou obstáculos que impedem a aquisição da coisa, ou possui um
título justo que fundamenta sua posse.
Subdivide-se em:
- Boa-fé real: Quando a convicção do possuidor é fundamentada em elementos objetivos inquestionáveis.
- Boa-fé presumida: Quando o possuidor tem justo título.
b) Posse de má-fé: O possuidor tem conhecimento dos vícios que afetam sua posse, mas ainda assim exerce
domínio sobre a coisa. Mesmo assim, o possuidor de má-fé pode ajuizar ação possessória contra terceiros.
- O art. 1201 CC estabelece que a boa-fé é aquela em que o possuidor ignora os vícios ou obstáculos, e a dúvida
relevante exclui a boa-fé. Assim, o possuidor de boa-fé é aquele que, ao adquirir a posse, não sabia que estava
lesando o direito de outra pessoa.
- Observações:
I. Frutos e Benfeitorias: A classificação entre boa-fé ou má-fé tem efeitos em relação aos frutos e
benfeitorias.
II. Justo título: O Enunciado 302 do CJF admite que pode ser considerado justo título o ato jurídico que
permita a posse ad usucapionem, observado o art. 113 do CC. Exemplos incluem um compromisso de
compra e venda, registrado ou não.
III. Função Social da Posse: O Enunciado 303 do CJF indica que a função social da posse é um fator
relevante para determinar a boa-fé e a existência de justo título, e não necessariamente a existência de
um instrumento formal.
c) Posse justa e de boa-fé deveria ser a regra geral, mas devido à transmissão de vícios de aquisição, é possível
que um possuidor de boa-fé tenha posse injusta se a adquiriu de quem a obteve por violência, clandestinidade
ou precariedade, sem saber da origem ilícita.
Com Justo Título ou Sem Justo Título
1. Quanto à presença de título:
a) Posse com título: situação em que há uma causa representativa da transmissão da posse, como
um documento escrito, um contrato de locação ou de comodato, por exemplo.
b) Posse sem título: situação em que não há uma causa representativa, pelo menos aparente, da
transmissão do domínio fático Exemplo: alguém acha um tesouro, depósito de coisas preciosas, sem a
intenção de fazê-lo. Nesse caso, a posse é qualificada como um ato-fato jurídico, pois não há uma
vontade juridicamente relevante para que exista um ato jurídico.
Observação: Essa classificação está relacionada aos conceitos de ius possidendi (direito à posse
derivado da propriedade) e ius possessionis (direito derivado exclusivamente da posse).
Observação: mantendo relação com a última classificação, surgem os conceitos de ius possidendi e ius
possessionis. O ius possidendi é o direito à posse quedecorre de propriedade; enquanto o ius
possessionis é o direito que decorre exclusivamente da posse. Pode-se dizer que no ius possidendi há
uma posse com título, estribada na propriedade. No ius possessionis, há uma posse sem título, que
existe por si só.
Alguns autores falam em posse natural no caso de posse sem título e em posse civil ou jurídica se
estiver estribada num título determinado.
Posse nova ou posse velha:
1. Quanto ao tempo:
a) posse nova: é a que conta com menos de um ano e um dia, ou seja, é aquela com até um ano.
b) posse velha: é a que conta com pelo menos um ano e um dia, ou seja, com um ano e um dia ou
mais.
Observação: a classificação da posse quanto ao tempo é fundamental para a questão processual
relativa às ações possessórias. Art. 558 CPC:
Efeitos da Posse:
Quantos aos efeitos:
1. Posse Ad Interdicta:
- Definição: Constitui a regra geral de posse, podendo ser defendida por meio de ações possessórias diretas
ou interditos possessórios.
Exemplo: Tanto o locador quanto o locatário podem defender a posse contra uma turbação ou esbulho
praticado por terceiro.
- Características: Esta forma de posse não conduz à usucapião.
2. Posse Ad Usucapionem:
- Definição: Exceção à regra, essa posse se prolonga por determinado tempo previsto em lei e pode levar à
aquisição da propriedade pela usucapião.
- Requisitos:
A posse deve ser mansa, pacífica, contínua e ter uma duração temporal conforme previsto em lei.
Deve ser ininterrupta e com intenção de dono (animus domini, segundo Savigny).
Em regra, requer justo título e boa-fé.
Interversão (ou Convalescimento) da Posse:
1. Conceito: A interversão da posse é a possibilidade de alterar o caráter de uma posse, conforme o art.
1203 do Código Civil.
- Trata-se de uma presunção juris tantum (que admite prova em contrário), pois a norma permite a inversão
da posse.
2. Limitação: A mudança de comportamento do possuidor pode transformar uma posse injusta em
posse justa, mas não pode converter uma posse justa em injusta.
a) Fato de Natureza Jurídica:
- O possuidor pode, por meio de uma relação jurídica (de direito real ou obrigacional), alterar o caráter da
posse, corrigindo eventuais vícios de origem.
Exemplo: Suponha-se que alguém tenha obtido a posse violentamente e posteriormente venha a
adquirir o imóvel por contrato de compra e venda ou, após obter a posse precária, permanece no local
mediante um novo contrato de comodato. Originalmente se deu uma posse injusta, pois contrária à
vontade do possuidor, mas agora resta alterada a razão da posse, que sofre uma espécie de legitimação
superveniente.
b) Fato de Natureza Material: A conversão também pode ocorrer quando há uma manifestação por atos
exteriores prolongados, nos quais o possuidor demonstra a inequívoca intenção de privar o proprietário
do poder de disposição sobre o bem.
3. A Discussão Doutrinária:
Doutrina Tradicional: De acordo com a visão tradicional, a simples mudança de vontade do possuidor não
é suficiente para modificar a natureza da posse.
Visão Contrária: Há discordância em relação a essa posição, com argumentos que defendem a
possibilidade de mudança da natureza da posse mediante determinadas circunstâncias.
- Exemplo Ilustrativo:
I. Locatário após o fim do contrato: Imagine-se um locatário cujo contrato de locação tenha terminado.
Se o locatário insiste em permanecer no imóvel, tornando-se um possuidor precário, o possuidor
esbulhado (locador) teria o direito de propor uma ação de reintegração de posse.
II. Omissão do possuidor esbulhado: Caso o locador não exerça o seu direito por um período
considerável, essa omissão pode gerar uma mudança na natureza da posse, beneficiando o possuidor
precário.
4. Efeitos da Intervenção:
Conversão de posse injusta: A posse inicialmente injusta, pela precariedade, e inapta a gerar
usucapião, pode sofrer o fenômeno da intervenção, quando o possuidor adquire o animus domini
(intenção de dono).
Atos objetivos: A aquisição do animus domini pode ser evidenciada por fatos objetivos, como a
realização de obras (acessões), o pagamento de tributos, e o comportamento de quem age como um
proprietário legítimo. Esses atos demonstram o rompimento de vínculos entre o precário e o antigo
possuidor.
Exemplo de Intervenção:
● Contrato de promessa de compra e venda: Quando o comprador integraliza o pagamento das
prestações, mas o vendedor não outorga a escritura definitiva, o comprador pode pleitear usucapião
ordinária após 5 anos (art. 1242, parágrafo único, CC), desde que prove a moradia ou investimentos
produtivos no imóvel.
● Caso de inadimplência: Se o comprador tornar-se inadimplente e o vendedor não tomar providências
para retirá-lo da posse, essa desídia pode levar à interversão da posse, resultando até mesmo na
usucapião extraordinária decenal (art. 1238, parágrafo único, CC).
5. Enunciado 237 do CJF: O Enunciado n. 237 do Conselho da Justiça Federal estabelece que é cabível a
modificação do título da posse (interversio possessionis) quando o possuidor direto demonstra um ato exterior e
inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto. Esse ato caracteriza a posse com animus domini.
Formas de aquisição, transmissão e perda da posse:
Aquisição da Posse:
1. Definição Geral (Art. 1.204, CC): A posse é adquirida desde o momento em que se torna possível
exercer, em nome próprio, qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
- Trata-se de um conceito aberto, que será preenchido de acordo com o caso concreto.
Exemplos de aquisição de posse: apreensão da coisa, exercício de um direito, disposição da coisa,
entre outros.
2. Formas de Aquisição:
- Origem:
Origem Direta (aquisição originária): Ocorre quando há contato direto entre a pessoa e a coisa.
Exemplo: apreensão de bem móvel quando a coisa não tem dono (res nullius) ou foi abandonada (res
derelictae).
Origem Derivada (aquisição derivada): Há uma intermediação pessoal. O caso mais relevante é a
tradição (entrega da coisa).
3. Tipos de Tradição:
a) Tradição Real: Entrega material e efetiva da coisa.
Exemplo: entrega de um veículo na concessionária em um contrato de compra e venda.
b) Tradição Simbólica: A transferência é representada por um ato simbólico.
Exemplo: a entrega das chaves de um apartamento. É o caso da traditio longa manu, em que a coisa é
colocada à disposição da outra parte (ex.: venda sobre documentos conforme arts. 529 a 532, CC).
c) Tradição Ficta: Ocorre por presunção, sem necessidade de entrega física.
Exemplo: traditio brevi manu, quando o possuidor já possuía em nome alheio e passa a possuir em
nome próprio (ex.: locatário que compra o imóvel). Também acontece no constituto possessório (ou
cláusula constituti), onde o possuidor deixa de possuir em nome próprio e passa a possuir em nome
alheio (ex.: proprietário que vende o imóvel e continua nele como locatário).
4. Outros Aspectos da Aquisição da Posse:
- Art. 1.205, CC: A posse pode ser adquirida por uma pessoa capaz, mas também por seu representante
legal ou convencional (ex.: herdeiro ou mandatário), ou até por terceiro sem mandato, desde que
haja confirmação posterior, com efeitos ex tunc (retroativos).
- Enunciado n. 77 do CJF: A posse de bens móveis e imóveis também pode ser transmitida pelo
constituto possessório.
5. Constituto Possessório: Nesse instituto, ocorre simultaneamente a aquisição e a perda da posse.
Quem possuía em nome próprio, com animus domini, passa a possuir em nome alheio. Embora
mantenha o poder material sobre a coisa, deixa de ser possuidor e passa a ser mero detentor.
- Exemplo: Um proprietário que vende o imóvel e, após a venda, permanece nele como locatário ou
usufrutuário. Nesse caso, a posse plena se converte em posse direta.
6. Divergência Doutrinária sobre a Cláusula Constituti: Parte da doutrina argumenta que a cláusula
constituti vai além do constituto possessório. Ela não apenas converte o adquirenteem possuidor
sem contato físico com o bem, mas também confere ao alienante a posição de possuidor direto, e não
de mero detentor.
7. Aquisição da Posse por Pessoa Jurídica e Entes Despersonalizados: A posse também pode ser
adquirida por:
- Pessoas jurídicas;
- Entes despersonalizados (ex.: espólio, massa falida, condomínio).
- Enunciado n. 236 do CJF: Considera-se possuidora, para todos os efeitos legais, também a
coletividade desprovida de personalidade jurídica.
Transmissão da Posse: Em relação à transmissão da posse, o art. 1206 do Código Civil prevê que a posse transmite-se
aos herdeiros ou ao adquirente, conforme o caso. Isso reflete o princípio da continuidade do caráter da posse, o qual,
em regra, mantém os mesmos atributos da sua aquisição. Esse importante regramento também é retirado do art. 1203
do Código Civil.
1. Sucessio Possessionis e Accessio Possessionis: O art. 1207 do Código Civil especializa o
princípio da continuidade da posse e apresenta o instituto da união de posses, que se traduz na
soma do tempo do atual possuidor com o de seus antecessores. Esse conceito se subdivide em dois
modos: sucessio possessionis e accessio possessionis.
2. Sucessio Possessionis: Na sucessio possessionis, não há propriamente uma aquisição da posse,
mas sim a passagem de um patrimônio inteiro. Nesse caso, os herdeiros continuam a posse dos bens
da herança em caráter indivisível, sub-rogando-se na posição econômica do falecido. Trata-se,
portanto, de uma titularização derivada da posse, ou seja, a posse é transmitida de forma integral aos
sucessores.
- Cabe destacar que essa regra da transmissão da posse a título universal não se limita à sucessão causa
mortis (herança), mas também se aplica a atos inter vivos, como casamento ou incorporação e fusão
de pessoas jurídicas.
3. Accessio Possessionis: Já na accessio possessionis, que sempre ocorre por meio de uma relação
jurídica inter vivos (como compra e venda), o sucessor singular tem a faculdade de unir sua posse à
do antecessor. Nessa situação, o sucessor adquire a posse com o mesmo caráter com que o
antecessor a mantinha. Portanto, se a posse do antecessor era injusta, a posse do sucessor singular
também o será.
4. Continuidade da Posse e União de Posses: O sucessor universal (herança legítima) continua, de
direito, a posse do seu antecessor. Já ao sucessor singular (como nos casos de compra e venda,
doação ou legado), é facultado unir sua posse à do antecessor para efeitos legais. Assim, o primeiro
caso caracteriza a continuidade da posse, enquanto o segundo trata da união de posses, ou acessão.
5. Quanto à defesa possessória, tanto o sucessor universal quanto o singular poderão defendê-la, seja
por continuidade ou por acessão à posse anterior. Nesse contexto, o Enunciado nº 494 do Conselho
da Justiça Federal (CJF) estabelece que a faculdade conferida ao sucessor singular de somar ou não
o tempo da posse de seu antecessor não significa que, ao optar por nova contagem, ele estará livre do
vício que eventualmente maculava a posse anterior.
6. Mitigação do Princípio da Continuidade: Embora o princípio da continuidade do caráter da posse
seja um fundamento relevante, ele não é absoluto, podendo ser mitigado. Essa mitigação está
prevista no art. 1208 do Código Civil, o qual trata de presunções relativas.
- Ainda em relação à transmissão da posse, o art. 1209 do Código Civil determina que a posse de um
imóvel faz presumir, até prova em contrário, a posse das coisas que estiverem dentro dele. Em regra, ao
haver a transmissão do bem imóvel (bem principal), também haverá a transmissão dos bens móveis que
o guarnecem (acessórios), pela aplicação do princípio da gravitação jurídica.
Perda da posse:
1. Quanto à perda da posse, utilizam-se expressões genéricas no art. 1223 CC:
2. Trata-se de rol exemplificativo, como por exemplo o abandono da coisa (derrelição), fazendo surgir a
coisa abandonada (res derelictae); pela tradição, entrega da coisa, que pode ser real, simbólica ou
ficta; pela perda ou destruição da coisa; se a coisa é colocada fora do comércio, ou seja, tratada como
bem inalienável (inconsuntibilidade jurídica conforme art. 86 CC); pela posse de outrem, ainda que
contra a vontade do possuidor, se este não foi manutenido, ou reintegrado à posse, em tempo
competente; pelo constituto possessório ou cláusula constituti, em que a pessoa possuía o bem em
nome próprio e passa a possuir em nome alheio (aquisição e perda da posse, ao mesmo tempo).
3. Por fim, dispõe o art. 1224 CC: Em síntese, se o possuidor não presenciou o momento em que foi
esbulhado, somente haverá a perda da posse se, informado do atentado à posse, não toma as
devidas medidas necessárias ou se sofrer ao violência ao tentar fazê-lo, não procurando outros meios
após essa violência.
4. Trata-se de uma norma que mantém relação com a boa-fé objetiva, particularmente com a perda de
um direito ou de posição jurídica pelo seu não exercício no tempo (supressio). A lei acaba por
presumir que sua posse está perdida, admitindo-se prova em contrário.
5. O possuidor conserva a posse enquanto mantém a situação potestativa de ingerência socioeconômica
sobre o bem da vida. Se não mais evidenciar essa postura, privando-se do poder correspondente ao
exercício da propriedade, perderá a posse.
2º Bimestre - 17/10
Efeitos da Posse - Materiais:
1. Frutos - art. 121, cc:
- Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. Parágrafo
único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de
deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com
antecipação.
a) Frutos Percebidos: fruto pronto para ser colhido. Ex: Manga madura no pé.
b) Frutos Pendentes: frutos que estão no pé, mas não estão prontos para serem colhidos. Ex:
Manga verde.
c) Frutos Percipiendos: frutos estavam prontos para serem colhidos, mas não foram, estavam
maduros e estragaram.
- Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; os
civis reputam-se percebidos dia por dia.
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31/10 - Propriedade.
1. No início a propriedade era vista como um alcance individual, relacionada ao liberalismo.
- O código civil de 1916 era patrimonialista.
2. Propriedade x Domínio, são sinônimos?
- Art. 1228, cc
3. Propriedade é uma relação jurídica complexa, pois ao mesmo tempo que o proprietário tem o
direito de usar, gozar, reaver e dispor de sua propriedade sobre toda a coletividade, tem
também o direito de limitar a propriedade a sua função social.
- Arts: 5º, caput, CF. Art. 170, II e III, Art. 6º
4. Faculdades do domínio: usar, gozar, dispor e reivindicar.
5. Usar: proprietário da coisa a usa de modo que a bem querer, respeitando sua função e limites sociais
impostos para esse uso.
- Este uso pode ser pessoal ou de 3º (usufruto).
- O dever impõe a limitação no exercício ao direito de propriedade (função social).
- Art. 1276, cc: Art. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o
conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como
bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar
nas respectivas circunscrições.
§ 1º O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser arrecadado,
como bem vago, e passar, três anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize.
§ 2º Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo, quando, cessados os atos
de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais.
6. Gozar: é a possibilidade de exploração econômica sobre a coisa.
- Frutos + produtos.
- Art. 1232,cc
7. Dispor: destinação para o bem o qual não o quer mais, seja por meio do abandono, perecimento