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ECONOMIA INDUSTRIAL Professora Me. Marieli Vieira Google Play App Store C397CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; VIEIRA, Marieli. Economia Industrial. Marieli Vieira. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2019. Reimpresso em 2024. 160 p. “Graduação - EaD”. 1. Economia. 2. Industrial . 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1658-1 CDD - 22 ed. 338.06 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Giovana Costa Alfredo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Coordenador de Conteúdo Silvio César de Castro Designer Educacional Agnaldo Ventura Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Robson Yuiti Saito Qualidade Textual Talita Dias Tomé Ilustração Marta Sayuri Kakitani Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Pró-Reitor de Ensino de EAD Diretoria de Graduação e Pós-graduação Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. CU RR ÍC U LO Professora Me. Marieli Vieira Mestra em Economia com ênfase em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM - 2017) e bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste- 2014). http://lattes.cnpq.br/7670391331199061 SEJA BEM-VINDO(A)! Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! É com muita alegria que apresentamos a você o livro que fará parte da disciplina de Economia Industrial. Este livro tem como objetivo introduzir você ao estudo dos principais conceitos utilizados na economia industrial. Este material é dividido em cinco unidades. Na Unidade I, conheceremos o surgimento da Economia Industrial e aprenderemos alguns conceitos que serão importantes para o desenvolvimento da disciplina, como os conceitos de empresa, indústria, mercado, cadeias e complexos industriais. Vamos aprender, ainda, sobre as relações entre as estru- turas de custo e as economias de escala e escopo. Na Unidade II, concentraremos o ensino sobre as estruturas de mercado, de modo a co- nhecer as características e o comportamento dos mercados nas estruturas de mercado, como a competição perfeita, o monopólio, a competição monopolística e o oligopólio. Na Unidade III, iremos aprender sobre as medidas de concentração de mercado parciais, também chamadas de razões de concentração, sobre as definições a respeito da inova- ção industrial e dos elementos que compõem o processo. Iremos, também, compreen- der o que envolve o modelo estrutura-conduta-desempenho. Na Unidade IV, serão apresentados os conceitos de concorrência real e potencial, e co- nheceremos os mecanismos utilizados nos mercados como forma de impor barreiras à entrada de empresas e também os que se constituem em barreiras à saída. A teoria dos jogos e como são tomadas as decisões estratégicas, assim como a escolha do melhor resultado, também fazem parte dos estudos desta unidade. Na última unidade, vamos focar nas formas de defesa da concorrência e como é feita a regulação econômica, além de conhecermos instrumentos de política industrial e am- biental e como as atividades econômicas são impactadas em cada uma dessas questões APRESENTAÇÃO ECONOMIA INDUSTRIAL APRESENTAÇÃO SUMÁRIO 09 UNIDADE I EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS 15 Introdução 16 Escopo e História da Economia Industrial 20 Natureza, Objetivos e Estrutura da Empresa 26 Conceitos de Indústria e Mercado e Cadeias Produtivas 28 Economias de Escala e Escopo 37 Considerações Finais 42 Referências 43 Gabarito UNIDADE II MODELOS DE CONCORRÊNCIA 47 Introdução 48 Modelo de Competição Perfeita 53 Modelo de Monopólio 56 Modelo de Competição Monopolística 62 Modelos de Oligopólio 66 Considerações Finais 72 Referências 73 Gabarito SUMÁRIOsão muito pequenos, geralmente próximos de zero. Neste mercado, os bens são exclusivos e contam com pouca ou nenhuma rivalidade. Esta característica torna necessária a presença de regulação ou a ope- ração por parte do governo de maneira a tornar o monopólio natural eficiente. Fonte: adaptado de Varian (2003). MODELOS DE CONCORRÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E54 O EQUILÍBRIO DE MONOPÓLIO Esse modelo supõe que apenas uma empresa domine o mercado, de forma que a demanda de mercado é igual à demanda da empresa. O monopólio, por ser a única opção do comprador, tem o poder de determinar o preço de mercado. Esse poder permite que o monopolista obtenha lucros extraordinários, um markup (percentual do preço do produto acima dos custos de produção e distribuição) sobre os custos. A fórmula de fixação de preços de mercado do monopolista depende do custo marginal (CMg) e da elasticidade-preço da demanda (εd): p CMg d� �� �/ /1 1 � Sabendo que a receita marginal (RMg) é igual a: RMg p y p y� � � �� �/ Multiplicamos o segundo termo por (p/p) e colocamos p em evidência: RMg p p l ld d� �� � � �� �1 1 1 1/ /� � O equilíbrio é dado por: RMg CMg= p l l CMgd1 1�� � �/ � p CMg l ld� �� �/ /1 1 � Modelo de Monopólio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 55 Segundo essa condição de maximização de lucros, o monopolista vai ope- rar somente quando for possível estabelecer p > CMg. Maximizando os lucros quando RMg = CMg, o monopolista pode escolher usar a sua capacidade ou expandir. Porém, operar em condições de utilização ótima ou subótima depende inteiramente da demanda e do mercado, pois, devido à entrada de outras empresas bloqueadas, o monopolista não sofre pressões quanto a isso. A operação em grau de utilização ótimo indica o ponto em que o custo médio é mínimo. Operar em grau subótimo indica operar em excesso de capa- cidade. Um mercado pequeno não permite a expansão da produção até o ponto de custo médio mínimo. Quando o mercado for grande, o monopolista vai con- siderar aumentar a sua planta, de maneira que seja possível atender a uma parte maior desse mercado, a depender do tamanho deste. Se operar com a mesma planta, acima da capacidade, o monopolista irá incorrer em custos mais altos. De forma resumida, não existe concorrência que obrigue o monopolista a operar no ponto ótimo, e se ele o fizer, nada garante que ele abra mão do lucro extraordinário. Por este motivo que o lucro do monopolista vai ser sempre maior que o das empresas na concorrência perfeita. A INEFICIÊNCIA DO MONOPÓLIO Em comparação com a concorrência perfeita, o preço do monopólio vai ser maior, e a quantidade produzida, menor, dessa forma, afetando o bem-estar do consumidor, deixando-o em condições inferiores. A condição de equilíbrio do monopólio supõe que os consumidores esta- riam dispostos a pagar por uma unidade do bem mais do que custa produzi-lo. Portanto, existe um potencial de melhoria entre o preço de monopólio e o preço da concorrência perfeita. Esse potencial, essa diferença, corresponde à ineficiência do monopólio, pois a produção é considerada ineficiente quando o consumidor paga por uma unidade adicional exatamente o que custou produzi-la. O monopólio vende unidades adicionais por preços menores, desde que isso não diminua o preço de todas as unidades, e ele faz isso por meio da dis- criminação de preços. MODELOS DE CONCORRÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E56 Discriminação de preços A discriminação de preços é praticada de maneira a extrair o máximo do exce- dente do consumidor e a aumentar a receita total do monopolista. A discriminação de preços - quando os preços praticados pelo monopolista são diferentes para diferentes grupos de consumidores - pode ser praticada de três maneiras, a depender da renda, preferência e localização dos consumidores: 1º grau: cada unidade é vendida a preços diferentes - é chamada discrimina- ção perfeita de preços - pois cada unidade é vendida pelo preço máximo que um consumidor está disposto a pagar. 2º grau: o monopolista vende a preços diferentes de acordo com as quantidades compradas pelos consumidores, ou seja, o preço depende da quantidade. 3º grau: o monopolista vende o produto a preços diferentes de acordo com o grupo de compradores, e todos os integrantes que se encaixam neste grupo pagam o mesmo preço. Esta última é a forma mais comum, que podemos ver sendo aplicadas a idosos ou estudantes, por exemplo. O monopolista estabelece preços mais altos nos mercados com menor elasticidade e preços mais baixos nos mercados menos sensíveis a preços. Dessa forma, o lucro geral é maximizado. MODELO DE COMPETIÇÃO MONOPOLÍSTICA A insatisfação com os modelos de monopólio e da concorrência perfeita fez com que fossem geradas algumas críticas que levaram a um novo modelo de mercado. Esse modelo foi gerado principalmente pelas críticas ao modelo de competição perfeita, e as ineficiências formuladas por Piero Sraffa, em 1926, indicam que: ■ O modelo não explicava vários fatos da realidade. ■ A hipótese do produto homogêneo não se encaixava, pois as empresas se utilizavam de diversas outras formas de fidelizar os consumidores, como marketing e técnicas de vendas. Modelo de Competição Monopolística Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 57 ■ As empresas expandiam sua produção por meio dos retornos crescentes de escala, ao contrário do que indicava o modelo de competição perfeita. A nova estrutura de mercado deveria combinar características do monopólio e da competição perfeita. Sendo assim, desenvolvida por Chamberlim (1933), a competição monopolística consiste na existência de livre entrada de empresas, e a demanda deste mercado possui uma curva negativamente inclinada, e não mais horizontal como na competição perfeita. É possível as empresas obterem lucros econômicos positivos no longo prazo, o que faz com que novas empresas tenham anseio de entrar no mercado, e elas o farão devido ao fato de não haver restrições a isto. Nesta situação, as empresas estarão em equilíbrio de longo prazo. Se elas se deparam com curvas de demanda negativamente inclinadas, elas têm poder de mercado. A principal característica dessa estrutura é a diferenciação de produtos, que se dá de duas maneiras: porque os consumidores pensam que os produtos são diferenciados, ou porque os consumidores preferem produtos diferenciados e estão dispostos a pagar um valor maior por estes. No primeiro, os consumidores são influenciados pelas propagandas e técnicas de vendas, enquanto no segundo, qualidade e aspectos técnicos são a diferença. As empresas da competição monopolística maximizam seus lucros na quan- tidade onde a RMg = CMg, e a sua receita marginal depende do total produzido MODELOS DE CONCORRÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E58 no mercado e também da quantidade produzida pelos seus competidores. Quanto maior o impacto da diferenciação dos produtos, maior a inclinação da curva de demanda, porque os produtos que podem ser considerados substitutos estão mais distantes. Quanto maior a inclinação, maior a diferenciação e maior o poder da empresa de elevar o seu preço acima do custo marginal. Quanto maior a facilidade de entrada de empresas nesse mercado, mais vanta- gens o consumidor tem, pois os preços baixam e a variedade de produtos aumenta. DIFERENCIAÇÃO DE PRODUTOS No mundo em que vivemos, os produtos dificilmente são idênticos e apresen- tam preços iguais, o que deixa os consumidores vulneráveis a pagarem preços maiores, buscando atender às suas preferências ou à sualocalização geográfica. Os produtos podem ser diferenciados de acordo com várias características: especificações técnicas, adaptação, design e estética, desempenho e qualidade, imagem e marca, custo de utilização, formas de comercialização, assistência téc- nica e suporte e financiamento aos usuários. Basta que os consumidores percebam os produtos como diferentes. Eles podem até mesmo ter características idênticas, porém percebidos como distintos pela marca. Esses produtos diferenciados são considerados substitutos imperfeitos, o que faz com que as empresas sejam capazes de estabelecer também preços diferen- ciados, pois se defrontam com um demanda residual inclinada, a qual dá espaço para fixação de preços. O modelo de competição monopolística foi um marco para a Economia Industrial, na qual passaram a ser analisados os aspectos de diferenciação dos produtos e, após este, diversas outras abordagens analisam o efeito da diferen- ciação na dinâmica da estrutura da indústria. Existem setores que têm maior capacidade de desenvolver produtos diferencia- dos, como o setor tecnológico, por exemplo. É maior a capacidade de competição por meio da diferenciação quando os produtos são avaliados em diversas dimensões. Por exemplo, softwares podem ser analisados em diversas dimensões de diferen- ciação e estão sujeitos a vários tipos de usuários que lhes atribuem ganhos de valor. Modelo de Competição Monopolística Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 59 Um produto pode ser diferenciado de dois tipos: horizontal e vertical. Analisados verticalmente, quando um dos produtos apresenta atributos mais desejáveis que o outro, ou seja, a preços iguais, os consumidores irão escolher o melhor produto. Os mercados em que os produtos são diferenciados vertical- mente têm diferenciais de preços elevados. A diferenciação horizontal ocorre quando os produtos não podem ser con- siderados melhores ou piores, pois não se pode ordenar as qualidades deles. O que significa que, em condições de preços iguais, a escolha do consumidor vai depender da sua preferência. A diferenciação de um produto é considerada hori- zontal quando a modificação de um atributo causa aumento da utilidade daquele produto ou diminuição da utilidade de produtos semelhantes. O modelo de Chamberlin foi o primeiro que incorporou a diferenciação de produtos e foi bastante importante para a evolução da ciência econômica, porém sofreu muitas críticas quanto ao seu desvio da realidade. O modelo con- sidera que as empresas, apesar da diferenciação dos produtos, enfrentam custos e demanda homogêneos, o que não se encaixa na realidade, pois se os produtos são considerados diferentes, essas diferenças devem causar impactos sobre os custos, pois é o que se observa. Juntamente a isso, temos a crítica quanto à livre entrada, pois a diferencia- ção de produtos, por si só, causa barreiras à entrada, visto que as empresas que entram no mercado têm de fazer esforços extras para cativar a preferência dos consumidores e reverter o consumo para o seu produto. MODELOS LOCACIONAIS Os modelos locacionais são uma classe de modelos utilizados para analisar o processo de diferenciação na Economia Industrial. Esses modelos utilizam a analogia entre as características de produtos e a localização das lojas para ava- liar os incentivos das empresas para produzirem mercadorias muito ou pouco diferenciadas. Dentro dos modelos locacionais, existem dois modelos: da cidade linear e da cidade circular. MODELOS DE CONCORRÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E60 Modelo da cidade linear Desenvolvido originalmente por Hotteling, em 1929, analisa os incentivos exis- tentes para que duas empresas diferenciem seus produtos, sem considerar o efeito da entrada de novas empresas. Para essa análise, é considerada uma cidade com uma única rua, onde os consumidores estão distribuídos e duas empresas que ofertam o mesmo produto decidem onde vão se localizar. Considerando que os preços das empresas são iguais, os consumidores vão consumir os produtos das empresas que estiverem mais perto das suas residências, sendo aqueles que ficam entre as duas empresas indiferentes entre uma e outra. O gráfico a seguir representa a situação inicial, em que as empresas se localizam nos pontos extremos e buscam se encaminhar ao centro da cidade, aumentando a participação de mercado. a Empresa 1 Empresa 2i b c d Figura 1 - Situação inicial modelo da cidade linear Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002). Depois de vários movimentos, as empresas estão no meio da cidade, onde se encontram em equilíbrio. Aplicando o resultado para a questão da diferenciação de produtos, temos que as empresas têm incentivos a não diferenciar seus pro- dutos, resultado conhecido como princípio da diferenciação mínima. Esse ponto é criticado por outros autores, que desenvolvem modelos con- trários, como D’Aspremont, Gabszewincs e Thisse (1979). Em seu modelo, as empresas também escolhem seus preços e não ficam em equilíbrio se escolhe- rem se localizar na região central da cidade. Assume-se que os consumidores são mais sensíveis à distância e, então, o equilíbrio se dá com as empresas se locali- zando nos extremos da cidade, sendo válido o princípio da máxima diferenciação. Modelo de Competição Monopolística Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 61 Modelo da cidade circular Desenvolvido por Salop, em 1979, este modelo analisa a localização das empre- sas e também os efeitos da entrada de novas empresas na indústria, buscando verificar se o número de variedades geradas pelas empresas é socialmente ótimo. Esse modelo analisa a localização das empresas e a entrada de novas no mer- cado, considerando um espaço circular, de forma que, inicialmente, não existem vantagens de localização entre as empresas. Empresa n Empresa 2 Empresa 11/n 1/n Figura 2 - Cidade circular Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002). O modelo considera que os consumidores adquirem apenas uma quantidade de produto e que podem existir n empresas estabelecidas nesse círculo de períme- tro, a uma distância de 1/n umas das outras. A simetria faz com que os preços sejam iguais e a entrada livre faz com que o número de empresas seja determi- nado pelo lucro nulo. O número de empresas e o preço do ponto de equilíbrio devem ser com- parados com o número de empresas que maximiza o bem-estar social, e vai corresponder a metade do número que surge com livre atuação no mercado. MODELOS DE CONCORRÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E62 MODELOS DE OLIGOPÓLIO A realidade dos mercados é que, com frequência, são compostos por um grande número de vendedores, com alguma influência sobre o preço, situação que conhe- cemos por oligopólio. As variáveis de decisão dos produtores são as quantidades (q) e os preços (p). As decisões de um produtor individual são tomadas considerando as infor- mações que ele tem dos outros produtores e considerando as reações que os outros produtores irão ter. Existem diversas interações estratégicas que podem ocorrer entre essas ações individuais dos produtores. As reações dos produtores rivais em relação à ação de um produtor individual são chamadas variações conjecturais. Quando os pro- dutores atuam em um mercado de produtos homogêneos, a variação conjectural pode ser medida da seguinte forma: v dQ dqi 1 = Enquanto para mercados em que os produtos são heterogêneos e os produtores competem por unidades: v dq dqij j i = Modelos de Oligopólio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98. 63 E se eles competem por preços, a variação conjectural é medida da seguinte forma: v dp dpij j i = Os modelos de concorrência da indústria são definidos a partir do valor atribu- ído pelos produtores à variação conjectural. Para simplificar o entendimento, vamos considerar a existência de um duopólio na economia, em que há apenas duas empresas fabricantes de produtos homogê- neos, o que nos permite captar vários aspectos importantes da interação estratégica. No caso de duas empresas, serão importantes os preços cobrados e as quan- tidades produzidas de cada uma delas. A empresa que estabelece o seu preço primeiro é a líder de preço, e a outra é a seguidora de preço. Com a quantidade, da mesma forma, a primeira a estabelecer é a líder de quantidade, enquanto a segunda é a seguidora de quantidade. Essas interações formam um jogo sequencial. Existe a possibilidade de nenhuma conhecer as escolhas da outra, o que faz com que ocorra um jogo simultâneo de escolha de quantidades e preços. MODELO DE STACKELBERG O caso em que ocorre liderança de quantidade e uma empresa escolhe antes da outra é conhecido como modelo de Stackelberg, em homenagem ao primeiro economista a estudar esse tipo de interação líder-seguidor. Frequentemente utilizado para descrever casos em que há uma empresa dominante, esse modelo entende que as empresas menores esperam a decisão da dominante para depois ajustarem seus produtos. A empresa líder escolhe o seu nível de produção de acordo com a reação que espera de sua seguidora, ou seja, considerando o problema de maximiza- ção de lucro da seguidora. MODELOS DE CONCORRÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E64 REGIME DE COURNOT Homenagem ao matemático francês Augustin Cournot, que foi o primeiro a examinar as consequências do modelo em que a competição se dá pelas quan- tidades, e onde cada produtor deve fazer uma previsão da escolha de produção dos rivais e, com base nessa previsão, irá escolher a quantidade que produzirá. O regime de Cournot é preferido em relação ao regime de concorrência perfeita, pois proporciona às empresas maiores lucros. Com base na previsão, a empresa vai escolher produzir uma quantidade que maximiza os seus lucros e ,para cada expectativa sobre a produção das empresas concorrentes (2), existirá uma escolha ótima por parte da empresa 1: y f ye1 1 2� � � Esta equação nos diz que a escolha ótima da empresa 1 é uma função da expectativa de produção esperada da empresa 2. Devemos procurar, então, um equilíbrio das previsões, em que cada empresa verifica que as suas crenças sobre a outra são verda- deiras. A esta combinação de níveis de produção chamamos de equilíbrio de Cournot. As equações a seguir são utilizadas para encontrarmos o nível de produção ótimo da empresa 1 e da empresa 2: y f y1 1 2 * *� � � y f y2 1 1 * *� � � Portanto, o equilíbrio de Cournot é o par de produções em que as duas curvas de reação se cruzam, e cada empresa não achará lucrativo mudar a sua produção, pois estará produzindo em um nível que maximiza os lucros dada a produção da outra. REGIME DE BERTRAND Outro matemático francês, Joseph Bertrand, formulou o seu trabalho numa resenha do trabalho de Cournot. Nesta abordagem, a competição se dá via pre- ços e cada produtor não espera que as alterações de preços sejam previstas pelas Modelos de Oligopólio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 65 concorrentes. As empresas fixam os preços e esperam que o mercado determine a quantidade vendida, chamamos isso de concorrência de Bertrand. Quando uma empresa fixa o preço, ela precisa prever o preço que será fixado pela outra empresa. Nesse caso, também buscamos um equilíbrio, no qual tere- mos o par de preços correspondente às escolhas que maximizam o lucro de cada empresa dada a escolha feita pela concorrente. Se as empresas atuam em um mercado com produtos homogêneos, o equi- líbrio de Bertrand se dá onde o preço é igual ao custo marginal. Nessa situação, a empresa com menor custo marginal irá monopolizar o mercado, ofertando o produto a qualquer preço (p) menor que o custo marginal da segunda empresa mais eficiente do mercado: ct ≤ pda informação e livre entrada e saída. c) Maximização de lucros e grande número de empresas. d) Perfeita mobilidade de fatores e barreiras anteriores à entrada. 2. O modelo de mercado conhecido como monopólio tem suas hipóteses bási- cas defendidas pelos economistas neoclássicos, que fazem suposições acerca das empresas e do mercado. A respeito desta estrutura de mercado, avalie as seguintes afirmações: I. O monopólio maximiza os lucros produzindo a quantidade correspondente ao ponto em que a receita marginal é igual ao custo marginal. II. Nesse modelo, apenas uma empresa domina o mercado, de forma que a demanda de mercado é a demanda da empresa. III. Os lucros extraordinários obtidos por essas empresa fazem com que novas empresas entrem no mercado. IV. O fato de uma empresa monopolista ser formadora de preços faz com que produtor e consumidor tenham suas condições de bem-estar melhoradas. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas IV está correta. d) Apenas I, II e III estão corretas. 3. A competição monopolística combina características do monopólio e da com- 68 petição perfeita. Assinale verdadeiro (V) ou falso (F) para as afirmativas sobre essa estrutura de mercado: )( A principal característica da competição monopolística é a diferenciação de produtos. )( As empresas em competição monopolística maximizam seus lucros no ponto onde a receita marginal é igual ao custo marginal. )( Nessa estrutura de mercado, as empresas não possuem lucros no longo prazo, de forma que o mercado permanece em equilíbrio no longo prazo. Assinale a alternativa que corresponde à ordem correta das sentenças: a) V, F, F. b) F, F, V. c) V, V, F. d) F, V, F. e) Nenhum das alternativas anteriores está correta. 4. O oligopólio é a estrutura de mercado composta por empresas que possuem uma certa influência sobre os preços. Existem duas variáveis de decisão dos produtores que fazem parte de um oligopólio. Quais são elas e o que é consi- derado para que essas escolhas sejam feitas? 5. O modelo de competição monopolística foi criado a partir da insatisfação com os modelos de monopólio e concorrência perfeita. Quais foram as críticas que levaram à criação desse novo modelo? 69 Vimos que a presença de regulação por parte do governo pode exercer vários papéis. Um deles é desenvolver mecanismos que incentivem a eficiência das empresas presta- doras de serviço para que os recursos possam ser canalizados para a expansão da in- fraestrutura. Vamos ver algumas formas de regulação dos serviços públicos oferecidos pelas empresas monopolistas. Formas de regulação As empresas monopolistas de serviços públicos apresentam dois tipos de regulação: estru- tural e de condutas. A regulação estrutural aborda as condições de entrada e de saída das firmas nos setores regulados e as medidas para separação vertical de segmentos da presta- ção dos serviços (PINHEIRO; SADDI, 2005). Na separação vertical, o processo de produção de bens e serviços é segmentado em várias etapas, o que permite a atuação de várias empresas nas diferentes fases da cadeia produtiva (JOURAVLEV, 2001a). Já a de condutas regula o com- portamento das empresas dentro do mercado e engloba preços, qualidade e investimentos (JOURAVLEV, 2001b). Como cada setor da infraestrutura apresenta estágios diferentes de desenvolvimento tecnológico e características específicas quanto ao nível de competição em alguns segmentos da prestação dos serviços, os papéis da regulação estrutural e de con- dutas assumem configurações variadas para cada setor. Por exemplo, na energia, a cadeia produtiva é dividida em geração, transmissão e distribuição. Essa condição de desverticaliza- ção permite que na geração várias empresas, inclusive com diferentes matrizes energéticas, concorram para ofertar energia aos distribuidores. Assim, nessa área, assume um papel rele- vante a regulação estrutural que define as condições de participação das firmas no mercado de produção de energia. No entanto, o segmento final desse setor, a distribuição, é mono- pólio natural, onde a regulação de condutas é necessária para simular competição e corrigir falhas de mercado. Ao mesmo tempo, no saneamento básico, as características do setor não permitem competição, seja pela inviabilidade econômica da desverticalização da prestação dos serviços, seja pela falta de mudanças no padrão tecnológico. Há também outros fatores que dificultam a desagregação do saneamento básico, como a geração de economias de escopo em função da verticalização do setor e a dificuldade de tarifação das diversas etapas da produção (JOURAVLEV, 2004). Já para o setor de telecomunicações, a tecnologia viabiliza a competição das empresas para operação dos serviços. Nesse caso, a concorrência originou-se da dinâmica da evo- lução tecnológica e impõe participação efetiva da regulação estrutural nas condições de acesso das empresas ao mercado. De acordo com Jouravlev (2003), a diferença entre o saneamento básico e os setores de telecomunicações e energia, é que a regulação deve se estender a todos os segmentos da prestação dos serviços, em virtude da dificuldade de competição nesses segmentos. Quanto à regulação de condutas, a fixação de preços é a mais relevante, pois interfere diretamente nas condições econômico-financeiras dos serviços regulados. Independentemente do método adotado para regulação de preços, as atividades necessárias para determinação de custos e valoração de ativos são com- plexas e exigem elevada expertise dos reguladores. No Brasil, o principal mecanismo de precificação utilizado é o da taxa de retorno, adotado desde a edição do Decreto nº 70 24.643, de 10 de julho de 1934, que instituiu o Código das Águas (BRASIL, 1934). Com efeito, a principal crítica a esse método diz respeito à possibilidade de sobreinvestimen- to, o que geraria desincentivos para a busca de eficiência pelos prestadores de serviços. Já a regulação da qualidade tem como objetivo fixar condições e parâmetros para a qualidade dos produtos e serviços prestados e, também, verificar o cumprimento dessas disposições. Especificamente em relação aos setores da infraestrutura, a regulação da qualidade dos serviços públicos exige mecanismos diretos e indiretos para acompanha- mento dos parâmetros e indicadores regulados, que demandam recursos humanos e custos elevados. De acordo com Jouravlev (2001b), as regulações de preço e de qualidade são interde- pendentes, pois uma redução da qualidade equivale a um aumento de preços. Entre- tanto, essa abordagem não tem sido compreendida pelos reguladores, provavelmente em decorrência da complexidade da análise da regulação da qualidade com métodos de regulação de preços. Fonte: Júnior (2009). Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR CÓDIGO DE HONRA (2011) Sinopse: Mike (Chris Evans) e Paul (Mark Kassen) são advogados e sócios. O primeiro tem uma vida marcada pelo vício em drogas, já o segundo leva uma vida familiar estável. Os dois aceitam o caso de Vicky Rogers (Vinessa Shaw), uma enfermeira infectada pelo vírus HIV através de uma agulha contaminada. Com a ajuda de um engenheiro, esta mulher desenvolveu um novo tipo de agulha, que se retrai em caso de introdução forçada, mas ninguém comprou a patente da invenção. Mike e Chris decidem levar o caso aos tribunais, enfrentando uma das companhias médicas mais poderosas, defendida por um advogado renomado. REFERÊNCIASREFERÊNCIAS CARLTON, D. W.; PERLOFF, J. M. Modern Industrial Organization. New York: Fores- man Little Brown, 1994. CHAMBERLIN, E. H. The Theory of Monopolist Competition. Cambridge: Harvard University Press, 1933. D’ASPREMOND, C.; GABSSEWICZ, J.; THISSE, J. On Hotelling’s Stability in Competi- tion. 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As variáveis de decisão dos produtores são as quantidades (q) e os preços (p). As decisões de um produtor individual são tomadas considerando as informações que ele tem dos outros produtores e considerando as reações que os outros pro- dutores irão ter. 5. As críticas que deram origem ao modelo de competição monopolística são: o modelo de competição perfeita não explicava vários fatos da realidade; a hipóte- se do produto homogêneo não se encaixava, pois as empresas se utilizavam de diversas outras formas de fidelizar os consumidores, como marketing e técnicas de vendas; e as empresas expandiam sua produção por meio dos retornos cres- centes de escala, ao contrário do que indicava o modelo de competição perfeita. GABARITO U N ID A D E III Professora Me. Marieli Vieira O PARADIGMA ESTRUTURA- CONDUTA-DESEMPENHO Objetivos de Aprendizagem ■ Introduzir as principais medidas de concentração e os méritos relativos. ■ Apresentar as principais definições sobre inovação industrial e os elementos deste processo. ■ Entender o modelo estrutura-conduta e desempenho. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Medidas de concentração ■ Estrutura industrial e inovação ■ Estrutura, conduta e desempenho INTRODUÇÃO Nesta unidade, iremos aprender sobre as medidas de concentração, que apre- sentam noções do comportamento dominante dos agentes em determinados mercados, considerando as participações desses agentes no mercado. As medi- das de concentração auxiliam no conhecimento dos setores que têm poder de mercado significativo. As medidas de concentração são classificadas em parciais ou sumárias, ou como positivas ou normativas. Nesta unidade, nosso objeto de estudo serão as medidas de concentração parciais, onde estudaremos o índice de entropia de Theil e o índice de Hirschman-Herfindahl, também chamadas de razões de con- centração. Vamos ver, ainda, que os índices de concentração precisam atender a alguns requisitos básicos para que sejam considerados bons. No tópico seguinte, a respeito da estrutura industrial e inovação, veremos que as empresas e instituições podem contribuir para o desenvolvimento eco- nômico por meio da introdução de mudanças, sejam elas em métodos, insumos, bens ou serviços. Conheceremos, ainda, cada um dos três estágios do ciclo de inovação: invenção, inovação, imitação. Procura-se saber se as estruturas de mercado em que as empresas estão inse- ridas têm alguma influência na possibilidade de investimento em pesquisa e desenvolvimento e, dessa forma, aumentar as chances de introdução de inovações. Finalizando a unidade, estudaremos os princípios do modelo de Estrutura- Conduta-Desempenho, que surgiu em resposta às discordâncias da economia neoclássica, esse modelo busca explicar o funcionamento do mercado a partir da maximização de lucro e o equilíbrio. No desenvolvimento desse modelo, vere- mos que cada um dos componentes - estrutura, conduta e desempenho - têm uma influência no funcionamento do mercado. O modelo é utilizado na análise de setores considerados importantes economicamente. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 77 O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E78 MEDIDAS DE CONCENTRAÇÃO Olá! Neste tópico, iremos introduzir as principais medidas de concentração que costumam ser utilizadas e discutiremos as suas propriedades. As medidas de concentração são utilizadas para se ter uma ideia da concor- rência de um determinado mercado. Maior a concentração quanto menor o grau de concorrência entre as empresas, e menor a concentração quanto mais empresas disputam o poder de mercado da indústria (KUPFER; HASENCLEVER, 2002). O poder de mercado de uma empresa se relaciona com o controle dos preços de venda do produto. Quanto mais eficiente na produção as empresas são, maior a capa- cidade de competição e elas conseguem dominar uma parcela maior de mercado. Empresas com poder de mercado são capazes de fixar o preço de mercado acima das concorrentes e mantê-lo assim sem ter a sua participação de mercado prejudicada. O poder de mercado é medido pela participação de mercado, que se traduz na razão entre a sua oferta e a oferta total de produtos da indústria. São usadas como medida, também, a capacidade instalada, o PL e o número de emprega- dos, embora isso não reflita necessariamente o poder de mercado. O padrão concorrencial é resultado de vários fatores, como as preferências dos consumidores, a escolha dos níveis de preços ou quantidades ofertadas, e a existência ou não de barreiras à entrada no mercado. O padrão concorrencial contribui de acordo com a maior ou a menor eficiência produtiva e gerencial, conforme os resultados obtidos, para a obtenção de poder de mercado. Medidas de Concentração Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 79 Maior poder de mercado faz com que, devido a maior concentração da pro- dução, sejam causadas desigualdades na repartição de mercado. Porém maiores desigualdades na participação do mercado podem também causar a existência de concentração industrial. As medidas de concentração podem ser classificadas como parciais ou sumá- rias, ou como positivas ou normativas. As medidas de concentração parciais não utilizam dados da totalidade das empresas que atuam na indústria, enquanto as sumárias requerem dados de todas as empresas em operação. As medidas de contração positivas dependem da estrutura aparente do mercado e não do com- portamento dos produtores ou consumidores, enquanto as normativas, além da estrutura aparente, levam em conta esses comportamentos, relacionados às pre- ferências dos consumidores e produtores. As razões de concentração são o principal exemplo das medidas de con- centração parciais, nessa modalidade, veremos um pouco do índice de Hirschman-Herfindahl e da entropia. As razões de concentração de ordem k fornecem a parcela de mercado das k, maiores empresas da indústria. No índice, dado pela fórmula seguinte, utiliza-se comumente k = 4 e k = 8, e quanto maior o índice, maior o poder de mercado exercido pelas k maiores empresas. CR k si i k � � � � � 1 As razões de concentração ignoram as empresas que se classificam abaixo das pri- meiras posições, desde que fusões e aquisições entre elas não alterem a sua posição. Desconsideram, também, as participações dessas empresas menores nas empre- sas maiores, pois não afetam a concentração medida pelo índice. Estas duas falhas fazem com que a razão de concentração tenha dificuldade para ser utilizada como medida do poder de mercado ou mesmo para acompanhar a evolução da estru- tura industrial e, por isso, considera-se as medidas sumárias como mais atraentes. Índice de Hirschman-Herfindahl - HH Esse índice positivo é definido por: HH si i n � � � 2 1 O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de1998. IIIU N I D A D E80 Essa fórmula, elevando cada parcela de mercado ao quadrado, atribui um peso maior às empresas maiores, o que nos traz a interpretação de que quanto maior o índice HH, mais elevada a concentração de mercado e menor a concor- rência entre os produtores. O índice HH varia entre 1/n e 1. O limite inferior decresce à medida que aumenta o número de empresas, enquanto o limite superior está associado ao caso da existência de monopólio, quando uma única empresa atua no mercado. Portanto, o índice não vai necessariamente reduzir com o aumento de empresas. Uma empresa adicional no mercado pode fazer com que a concentração medida pelo índice reduza ou aumente. Índice de entropia de Theil - ET proposto por Theil (1967), o pode ser inter- pretado, para a economia industrial, como uma medida inversa da concentração. A fórmula original foi desenvolvida para o contexto da teoria da informa- ção, e posteriormente, foi adaptada por Braga e Mascolo (1982), substituindo o que era probabilidade de ocorrência pela parcela de mercado da firma: ET s ln si i i n � � � � � � 1 O índice ET vai indicar o conteúdo informacional esperado da ocorrência, cal- culado sobre todas as empresas da indústria. Portanto, esta informação será a média das empresas. Uma mensagem confirmando a ocorrência de um evento vem associada ao grau de surpresa que esse evento vai ocasionar. O grau de surpresa é maior quanto menor a probabilidade de ocorrência, válido para o contrário. Quanto maior a empresa, menor o grau de surpresa associado à mensagem e menor o índice de entropia, assim, maior o grau de concentração na indústria. O limite inferior desse índice corresponde a zero, que indica concentração máxima, que ocorre em caso de existência de monopólio. Para encontrarmos o limite superior, sabemos que ET assume o valor mínimo quando todas as empre- sas são iguais (s1 = 1/n), neste caso, teremos: 0 � � � �ET ln n Medidas de Concentração Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 81 Propriedades básicas dos índices de concentração Considerando o índice de concentração genérico como uma função posi- tiva das distribuições de mercado, Encaoua e Jacquemin (1980) desenvolveram propriedades básicas a serem consideradas para que os índices de concentração sejam considerados bons: ■ Princípio da transferência: se uma empresa maior ocupar a parcela de mercado de uma empresa menor, o índice de concentração irá diminuir. ■ Minimalidade em simetria: o índice deve apresentar valor mínimo quando todas as empresas têm parcelas iguais de mercado. ■ Critério de Lorenz: se duas indústrias possuírem o mesmo número de empresas e as mesmas parcelas de mercado, em que a primeira distribuição domine a segunda, a concentração da primeira será maior que na segunda. ■ Não decrescimento em fusões horizontais: fusões horizontais nunca são benéficas para a concorrência, ou seja, a concentração continua a mesma. ■ Não crescimento em simetria: quando as empresas de uma indústria têm o mesmo tamanho e existe a possibilidade de uma nova empresa entrar, o índice de concentração não aumenta. Os índices HH e ET atendem os cinco requisitos, enquanto as razões de concen- tração não atendem a primeira e a quarta propriedades. O trabalho de Schimidt e Lima (2002) apresenta diferentes medidas de con- centração que são utilizadas por órgãos antitruste de vários países, inclusive o índice de Hirschman-Herfindahl. Para saber mais, acesso: . Fonte: a autora. O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E82 ESTRUTURA INDUSTRIAL E INOVAÇÃO Iniciada por Joseph Schumpeter após a Segunda Guerra Mundial, a Economia da Inovação veio com objetivo de estudar as inovações tecnológicas e organiza- cionais que são feitas pelas empresas para fazerem frente à concorrência. Para Schumpeter (1988), o desenvolvimento econômico vem das mudanças que são iniciadas espontaneamente na vida econômica. A inovação tecnológica tira o sistema econômico do equilíbrio e representa um papel muito importante no desenvolvimento regional e no desenvolvimento de um país. Uma empresa realiza uma inovação quando utiliza métodos ou insumos novos para ela ou quando produz bens ou serviços com mudanças, neste momento, ela realiza mudanças tecnológicas. Além das empresas e das atividades de P&D, as instituições também contri- buem para a inovação nacional, entre elas estão as universidades, os institutos públicos de pesquisa, as agências públicas e privadas e o sistema educacional. A Pesquisa e Desenvolvimento refere-se à pesquisa básica, à aplicada e ao desenvolvimento experimental. A pesquisa básica é o trabalho teórico e experi- mental utilizado para compreender questões da natureza, enquanto a pesquisa aplicada envolve a busca pelo conhecimento que gere finalidades práticas, e o desenvolvimento experimental é a comprovação da viabilidade e do aperfeiço- amento de novos produtos, processos, sistemas ou serviços. Estrutura Industrial e Inovação Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 83 O ciclo da inovação ocorre em três estágios: ■ Invenção: criação de coisas que não existiam anteriormente por meio de novos conhecimentos ou aplicação de conhecimentos já existentes com novas formulações. As invenções geram direitos de propriedade, porém nem todas as invenções vão se transformar em inovações. ■ Inovação: introdução de invenções ou melhorias de processos já existen- tes de produtos e/ou serviços que busquem atender às novas necessidades do usuários. ■ Imitação: introdução de variações que causam a difusão das inovações, porém, sem acrescentar melhorias ou com melhorias incrementais. O modelo de incitação, desenvolvido por Kenneth Arrow, em 1962, é um modelo de análise econômica da inovação que é utilizado para a concorrência pura e para o monopólio. O objetivo principal é descobrir se existem vantagens dessas duas estrutu- ras quanto à motivação ao investimento em Pesquisa e Desenvolvimento, pois, para que uma empresa faça esse investimento, é necessário que os retornos que serão obtidos sejam suficientes para financiar esse processo. O monopólio tem vantagem, pois, devido ao poder de mercado, já garante lucros extraordinários, logo o incentivo a inovação vem do fato de ele conse- guir, com isso, reduzir os custos envolvidos no processo de produção. Enquanto a empresa que atua em modo concorrencial e sem poder de mercado é motivada a aumentar a sua margem de lucros, mesmo que a entrada de empresas imitan- tes seja capaz de reduzir novamente essa margem pouco tempo depois. Independentemente da realização de uma inovação drástica ou não drástica, radical ou incremental, o monopólio tem menor motivação ao investimento em Pesquisa e Desenvolvimento do que as empresas em concorrência perfeita, pois o seu retorno é menor em ambos os casos. Uma versão posterior do modelo de Arrow foi desenvolvida por Dasgupta e Stiglitz (1980), na qual foi feita uma adaptação para utilização em várias formas de concorrência. Esse modelo busca avaliar como a taxa de inovação interage com a estrutura de mercado e o impacto de outras variáveis centrais desta interação. O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E84 Outro modelo de análise da inovação é o modelo de seleção iniciada por Penrose a Alchian nos anos 50, retomada por Winter nos anos 60 e, finalmente, conso- lidada nos anos 80 por Richard Nelson. Considerando que o mercado está em constante evolução, as empresasten- dem a buscar alternativas de atuação no lugar daquelas já existentes, procurando se desenvolver, pois aquelas que param no tempo entram em processo de falência. Visando a este desenvolvimento, as empresas que inovam sem ser imitadas rapidamente e aquelas que imitam rapidamente possuem destaque na indústria. Considerando isso, o modelo leva em consideração as políticas voltadas para a inovação e as políticas voltadas para a imitação. As empresas desenvolvem essas políticas sempre em busca da maximização de lucros. Um investimento a ser realizado em P&D é incerto, pois não se sabe se vai ser bem-sucedido ou não, somente o decorrer dos acontecimentos é que revelarão se a atitude adotada foi bem-sucedida. Quando não houver inovações, a estrutura de mercado é estabelecida pela maneira como as empresas se comportam frente à pesquisa de informações tec- nológicas e às modalidades de difusão dos conhecimentos. Outra suposição do modelo é que a estrutura mais competitiva possui um desempenho médio infe- rior, enquanto a menos competitiva possui uma produtividade mais elevada. ESTRUTURA INDUSTRIAL E MUDANÇA TECNOLÓGICA A questão que se fez ao longo do tempo, dentro da economia industrial, é se existe a possibilidade de algumas estruturas industriais serem mais propensas e mais eficazes no investimento em Pesquisa e Desenvolvimento? O artigo de Dasgupta e Stiglitz (1980) pode ser acessado integralmente no endereço eletrônico: . Fonte: a autora. Estrutura Industrial e Inovação Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 85 Partindo da ideia de Schumpeter (1984), de que a maior frequência de ino- vação está ligada às empresas maiores, alguns estudos empíricos estabeleceram duas proposições independentes: de que a inovação cresce conforme aumenta o tamanho das empresas e de que a inovação cresce quanto mais concentrado o mercado. Vários argumentos foram formulados, tanto para afirmar estas hipóteses como para contrariá-las. Buscando justificar o tamanho da empresa quando se fala em grau de concentração, utiliza-se os recursos próprios das empresas, a existência de economias de escala na tecnologia e as imperfeições no mercado de capitais que levam o financiamento de forma mais fácil até as empresas. Por outro lado, sugere-se as economias de escala, a perda do incentivo ao empreendedorismo ou o aumento da burocratização das atividades. Os investimentos realizados em Pesquisa e Desenvolvimento transformam recursos em conhecimentos, que afetarão diretamente os produtos e processos das empresas. Existem diferentes tipos de indicadores que possibilitam medir os esforços das empresas e a eficácia da aplicação desses recursos. As empresas inovadoras podem analisar seus processos de Pesquisa e Desenvolvimento de maneira incremental e fundamental. A primeira mede a agilidade em explorar o conhecimento existente, a segunda mede a capacidade de criar conhecimento - aquele conhecimento que é novo para a empresa e para o mundo. Na Tabela a seguir podemos ver alguns dos indicadores utilizados em casos de empresas que investem na Pesquisa e Desenvolvimento de novos produtos: Você considera que é possível, nesses casos, a utilização do termo “concen- tração do bem”? O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E86 Tabela 1 - Indicadores financeiros de novos produtos INDICADORES FINANCEIROS Aumento do Market Share devido aos novos produtos. Percentual da receita gerada por novos produtos. Crescimento da receita proveniente de novos produtos. Custo das devoluções provenientes de novos produtos. Gastos com o desenvolvimento de novos produtos. Percentual dos investimentos destinados aos novos produtos. INDICADORES NÃO-FINANCEIROS Nível de satisfação dos clientes pelos novos produtos. Vantagem competitiva devido aos novos produtos. Número de reclamações devido à qualidade do produto. Tempo de desenvolvimento de novos produtos. Número de novos produtos lançados no ano. Número de novos clientes com pedidos de novos produtos. Pontualidade na entrega de novos produtos. Novos produtos sustentáveis. Fonte: adaptado de Nantes (2015). Esses indicadores apresentam também algumas limitações, pois o Manual Frascati registra somente os esforços que são contínuos: ■ São incluídas somente as despesas em P&D, o que pode estar subesti- mando essas despesas, pois os custos com processos de aprendizagem também deveriam ser considerados. ■ A mudança tecnológica também pode ser proveniente de atividades de pesquisa de outras fontes. ■ O número de patentes é a melhor maneira de medir a propensão a ino- var do que a propensão a investir; existem outras formas de transformar tecnologias em ativos rentáveis; e nem todas as patentes se transformam em novos produtos ou processos. Estrutura, Conduta e Desempenho Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 87 ESTRUTURA, CONDUTA E DESEMPENHO O modelo de Estrutura-Conduta-Desempenho (E-C-D) analisa como a orga- nização de mercado afeta as estratégias das empresas e o seu desempenho e é referência quando se trata de análise da concorrência. Os desdobramentos do paradigma E-C-D advêm da insatisfação com a teo- ria neoclássica. Essa teoria neoschumpeteriana busca explicar o comportamento das empresas e o funcionamento do mercado a partir da maximização de lucro e o equilíbrio. Tendo como precursor E. Mason, J. Bain formalizou o modelo em seu livro Industrial Organization, onde estudou cada um dos elementos presentes no paradigma. O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E88 Segundo Bain (1968), a estrutura trata das características de organização das empresas que influenciam a competição e os preços. Uma das variáveis mais importantes é o número de empresas e seu tamanho relativo, variável essa que pode ser conhecida por meio do grau de concentração de mercado, um dos ele- mentos na concorrência nas indústrias. Pode envolver, também, a diferenciação de produtos, integração vertical e diversificação da produção. Além da estrutura de mercado, são consideradas importantes as barreiras à entrada, afetadas pela concorrência e pela concentração. As condutas, que ficam entre a estrutura e o desempenho, são fundamen- tais para a competitividade e pressionam as políticas públicas junto ao governo. Referem-se ao comportamento adotado pelas empresas para se adaptarem aos mercados e melhorarem o desempenho. Porém com a evolução do paradigma, aceitou-se que as condutas também afetam a estrutura - no modelo tradicional, o sentido da causalidade era unidirecional, indo da estrutura para a conduta. Partindo das estratégias das empresas para interação com os consumido- res no mercado, o desempenho é definido pelo retorno econômico e o nível de bem-estar gerado. O modelo ECD inicial tinha algumas falhas, como a falta de importância das condutas das empresas no processo de concorrência e a incapacidade de lidar com a existência de diferenciais de lucratividade entre as empresas em uma mesma indústria, devido às variações nos tamanhos das empresas. Na Figura 1, é possível identificar o que envolve as condições básicas de oferta e demanda, assim como as estruturas de mercado, conduta e desempe- nho nas relações de mercado: Estrutura, Conduta e Desempenho Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 89 CONDIÇÕES BÁSICAS OFERTA Matérias-primas Tecnologia Durabilidade do produto Valor/peso Atitudes comerciais Organização sindical ESTRUTURA DE MERCADO Número de vendedorese compradores Diferenciação do produto Barreiras à entrada Estrutura de custos Integração vertical Diversi�cação CONDUTA Forma de determinação de preços Estratégia de produto Pesquisa e inovação Propaganda Táticas legais DESEMPENHO Produção e e�ciência alocativa Avanço tecnológico Nível de emprego Equidade DEMANDA Elasticidade-preço Taxa de crescimento Substitutos Tipo de comercialização Método de compra Características clínicas e sazonais Figura 1 - Condições básicas do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho. Fonte: adaptado de Scherer e Ross (1990). O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIIU N I D A D E90 A resposta para os problemas do modelo foi a aceitação da existência de cau- salidades menos rígidas, que se expressavam em uma relação interativa entre as variáveis de estrutura, conduta e desempenho. Passou-se a avaliar empirica- mente todos os possíveis feedbacks entre as três categorias. Ou seja, a partir de então, a conduta pode afetar a estrutura e não apenas ser afetada por ela, e afe- tar também as condições básicas. Encerrando esta unidade, desejo bons estudos! Nos vemos na próxima uni- dade, onde iniciaremos os estudos sobre concorrência real e potencial, e também o modelo de preço limite. O modelo E-C-D é utilizado para análise de setores específicos, buscando co- nhecer aspectos de setores com revelada importância econômica no mer- cado brasileiro ou no mercado externo. Seguindo este gênero, o trabalho de Lopes (2016) dá especial atenção ao setor calçadista gaúcho. Acesse o trabalho em: . Fonte: a autora. Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 91 CONSIDERAÇÕES FINAIS As medidas de concentração são utilizadas para conhecer o nível de concorrên- cia do mercado, que será menor quanto maior a concentração de empresas e maior quanto menor a concentração de empresas. No primeiro tópico, estudamos o índice de Hirschman-Herfindahl, que varia entre 1/n e 1, e sua interpretação de que, quanto maior o índice, maior será a con- centração do mercado. Conhecemos também o índice de entropia de Theil, que é uma medida inversa da concentração e nos diz que, quanto menor o índice, maior a concentração e menor a concorrência. Os estágios do ciclo de inovação são a invenção, a inovação e a imitação. A invenção se refere à criação de coisas novas por meio de novos conhecimentos ou novas formulações de conhecimentos já existentes. A inovação corresponde à introdução de invenções e das melhorias de produtos e serviços para atender às necessidades futuras dos usuários e, por último, a imitação é quando as varia- ções de produto são utilizadas difundindo as inovações, mas sem acrescentar melhorias, ou apenas com aperfeiçoamentos. Bain estudou o que significam cada um dos componentes do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho. A estrutura se refere às características da orga- nização das empresas que influenciam nos preços e na competição. As condutas, ficam entre a estrutura e o desempenho, e referem-se ao comportamento das empresas que buscam se adaptar ao mercado e obter um desempenho melhor. O desempenho melhor se traduz em maior retorno econômico e em aumento do nível de bem-estar gerado. O modelo ECD inicial apresentava falhas, como a ausência de importân- cia das condutas para o processo de concorrência e a incapacidade de lidar com diferentes níveis de lucratividade devido às diferenças de tamanho das empre- sas. Com o desenvolvimento do modelo, estas questões foram resolvidas por meio da aceitação de uma relação interativa entre os elementos de Estrutura, Conduta e Desempenho. A partir de então, a conduta pode afetar a estrutura e não somente ser afetada por ela. 92 1. O cálculo das medidas de concentração é feito buscando conhecer o grau de concorrência entre as empresas em determinado mercado. Sobre as medidas de concentração, assinale a alternativa incorreta: a) As razões de concentração são uma das formas de medir a concentração e fornecem a parcela de mercado das x maiores indústrias do mercado. b) O índice de Hirschman-Herfindahl atribui peso maior às maiores empresas e ,quando igual ao limite superior, indica a existência de monopólio. c) Quando o índice de entropia corresponde ao seu limite superior, indica a concentração máxima. d) O índice de Hirschman-Herfindahl atende a todas as propriedades. e) Quanto maior a concentração de mercado, maiores as desigualdades cau- sadas no mercado. 2. As medidas de concentração industrial indicam que, quanto maior a concen- tração, maiores serão as desigualdades na participação do mercado. Como são classificadas as medidas de concentração? 3. Tanto o índice ET, que foi desenvolvido por Henri Theil, quanto o índice HH, desenvolvido por Orris Hirschman e Albert Herfindahl, são medidas de con- centração parciais. Qual a diferença na interpretação da concentração entre o índice de entropia de Theil e o índice de Hirschman-Herfindahl? 4. A inovação pode ser a introdução ou o aperfeiçoamento de novos processos, produtos ou serviços, e o ciclo da inovação ocorre em três estágios. Quais são eles e o que eles envolvem? 5. O modelo ECD analisa como a organização de mercado afeta a maneira como as empresas agem e como o seu desempenho é afetado. O que correspondem cada um dos fatores do modelo Estrutura-Conduta-Desempenho? 93 As medidas de concentração dão ideia da concorrência de um mercado, e as políticas de defesa da concorrência são instrumentos para criar uma economia mais eficiente e inovadora, e também preservar o bem-estar econômico da sociedade. No trecho a seguir veremos alguns indicadores concorrenciais baseados nas variáveis das empresas. “Segundo o relatório elaborado pelo instituto Copenhagem Economics, não há um indi- cador que reflita fidedignamente a intensidade da concorrência, pois esta é um fenôme- no complexo, multidimensional e, especialmente, dinâmico, que tende a ter equilíbrio instável no médio prazo. Por outro lado, cada indicador pode capturar algumas partes dessa complexidade. O objetivo do relatório foi discutir os principais índices que têm sido usados sistematicamente pelas autoridades de países como Estados Unidos, Reino Unido, Holanda e nórdicos (Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia). O estudo elenca em oito grupos de 57 indicadores, tanto de estrutura quando de conduta e desempenho. A Tabela 1 em anexo apresenta esses indicadores que, além da “concentração”, envolvem aspectos tais como: “barreiras à entrada”, “lucro”, “produtividade”, preços”, “inovação”, “qualidade do produto” e “mobilidade”. O relatório sugere, portanto, 31 indicadores considerados mais eficientes e viáveis para avaliar a concorrência, de acordo com dois critérios: (i) o embasamento teórico e (ii) a apli- cação prática. A Tabela 1 a seguir apresenta os 31 indicadores recomendados pela Cope- nhagen Economics e sua categoria de classificação” (OLIVEIRA, 2014, p. 11). Tabela 1 - Indicadores para análise da concorrência TIPO INDICADOR ESPECÍFICO Concentração Percentual de concentração de N firmas. Índice de Hirschmann-Herfindahl (IHH). Razão entre importações e produção. Fatia de mercado das autoridades públicas. Variação na parcela de concentração. Variação no IHH. Barreiras à entra- da Razão capital e custo. Razão de custo de marketing. Razão de desvantagem de custo. Taxa de entrada. Taxa de abandono de consumidores. Taxa de crescimento da indústria. 94 Mobilidade Coeficiente de variância da concentração. Estabilidade da parcela de mercado. Inovação Percentual de P&D de dado custo. Percentual de patentes. Preços Variação de preços dentro de um setor. Paridade do poder de compra. Número de variações de preço. Lucros Retorno dos ativos. Retorno do capital empregado.Retorno do capital investido. Retorno do capital de terceiros. Retorno das vendas. Renda residual bruta. Renda residual líquida. Produtividade Variação na produtividade do trabalho. Dispersão da produtividade do trabalho. Variação na produtividade total dos fatores. Dispersão da produtividade total dos fatores. Qualidade do produto Reclamações dos consumidores. Fonte: adaptado de Olivera (2014, p. 13). Você pode conhecer a metodologia de alguns indicadores da Tabela apresentada por meio do documento completo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica escri- to por Glauco Avelino Sampaio Oliveira (2014). Fonte: a autora. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005) Sinopse: Willy Wonka (Johnny Depp) é o excêntrico dono da maior fábrica de doces do planeta, que decide realizar um concurso mundial para escolher um herdeiro para seu império. Cinco crianças de sorte, entre elas Charlie Bucket (Freddie Highmore), encontram um convite dourado em barras de chocolate Wonka e com isso ganham uma visita guiada pela lendária fábrica de chocolate, que não era visitada por ninguém há 15 anos. Encantado com as maravilhas da fábrica, Charlie fi ca cada vez mais fascinado com a visita. REFERÊNCIASREFERÊNCIAS BAIN, J. S. Industrial organization. New York: John Wiley, 1968. BRAGA, C. H.; MASCOLO, J. L. Mensuração da concentração industrial no Brasil. Pes- quisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 401, ago. 1982. DASGUPTA, P.; STIGLITZ, J. Uncertainty, industrial structure, and the speed of R&D. The Bell Journal of Economics, v. 11, n. 1, p. 1-28, 1980. ENCAOUA, D.; JACQUEMIN, A. Degree of monopoly, Indeces of Concentration and Threat of Entry. International Economic Review, n. 21, p. 87-105, 1980. KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia Industrial: fundamentos teóricos e práti- cas no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002. LOPES, H. C. O Setor Calçadista do Vale dos Sinos/RS: Um Estudo a partir do Modelo Estrutura-Conduta-Desempenho. Revista de Economia, Curitiba, v. 40, n. 3, a. 38, p. 68-90, set./dez. 2014. NANTES, J. F. D. Indicadores de Desempenho em Projetos de Desenvolvimento de Produtos: Estudo de Caso em uma Empresa do Setor Têxtil. In: ENCONTRO NACIO- NAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. 35., 2015, Fortaleza. Anais... Fortaleza: ENE- GEP, 2015. OLIVEIRA, G. A. S. Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Documentos de Trabalho 001/2014: Indicadores de Concorrência. Brasília: CADE, set. 2014. Dispo- nível em: . Acesso em: 19 set. 2018. SCHERER, F.; ROSS, D. Industrial market structure and economic performance. 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As medidas de contração positivas dependem da estrutura aparente do mercado e não do com- portamento dos produtores ou consumidores, enquanto as normativas, além da estrutura aparente, levam em conta esses comportamentos, relacionados às pre- ferências dos consumidores e produtores. 3. O índice de Hirschman-Herfindahl eleva cada parcela de mercado ao quadrado e atribui um peso maior às empresas maiores, o que nos traz a interpretação de que quanto maior o índice HH, mais elevada a concentração de mercado e menor a concorrência entre os produtores. O índice HH varia entre 1/n e 1. O limite inferior decresce à medida que aumenta o número de empresas, enquan- to o limite superior está associado ao caso da existência de monopólio, quando uma única empresa atua no mercado. Já o índice de Theil é uma medida inversa da concentração. O índice ET vai indicar o conteúdo informacional esperado da ocorrência, e a confirmação da ocorrência de um evento vem associada ao grau de surpresa que esse evento vai ocasionar. O grau de surpresa é maior quanto menor a probabilidade de ocorrência, válido para o contrário. Quanto maior a empresa, menor o grau de surpresa associado à mensagem e menor o índice de entropia, assim, maior o grau de concentração na indústria. O limite inferior desse índice corresponde a zero, que indica concentração máxima, indicando a existência de monopólio. 4. Os três estágios são invenção, inovação e imitação. A invenção se refere à criação de coisas que não existiam anteriormente por meio de novos conhecimentos ou aplicação de conhecimentos já existentes com novas formulações. A inovação envolve a introdução de invenções ou melhorias de processos já existentes de produtos e/ou serviços que busquem atender novas às necessidades do usuá- rios. Por último, a imitação diz respeito à introdução de variações que causam a difusão das inovações, porém, sem acrescentar melhorias ou com melhorias incrementais. 5. A estrutura trata das características de organização das empresas que influen- ciam a competição e os preços. As condutas se referem ao comportamento ado- tado pelas empresas para se adaptarem aos mercados e melhorar o desempe- nho. E o desempenho é definido pelo retorno econômico e o nível de bem-estar gerado. U N ID A D E IV Professora Me. Marieli Vieira BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS Objetivos de Aprendizagem ■ Discutir os conceitos de concorrência real e potencial e apresentar o modelo de preço-limite. ■ Apresentar os mecanismos de barreiras à entrada e à saída. ■ Estudar as tomadas de decisões estratégicas. ■ Entender a escolha do melhor resultado. ■ Aprender os conceitos de jogos com comunicação. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Concorrência real e potencial e o modelo de preço limite ■ Barreiras à entrada e barreiras à saída ■ Jogos e decisões estratégicas ■ Estratégias dominantes ■ Ameaças, compromisso e credibilidade INTRODUÇÃO Iniciaremos unidade IV com a discussão entre os conceitos de concorrência real, que é objeto de estudo dos modelos tradicionais, e concorrência potencial, que é estudada pelos clássicos. Os autores clássicos entendem que se as empre- sas apresentam lucros elevados, a tendência é que outras empresas tentem entrar nos mercados para compartilhar desses lucros. Veremos, ainda no primeiro tópico, que, apesar de todas as fontes que impe- dem a livre mobilidade de capital ou a existência de lucros extraordinários serem consideradas barreiras à entrada, existem várias definições operacionais. Na sequ- ência, estudaremos o preço-limite. No segundo tópico, veremos as barreiras à entrada de maneira mais apro- fundada, e conheceremos os quatro elementos que compõem a estrutura das indústrias e que podem se constituir em barreiras: vantagem absoluta de custos, diferenciação dos produtos, existência de economias de escala e a necessidade de capital inicial. Concluindo esse tópico, vamos aprender sobre as barreiras à saída, que envolvem os custos que as empresas enfrentam caso saiam do mer- cado, encerrando sua produção. Seguindo para o terceiro tópico, saberemos que a teoria dos jogos estuda as diversas interações estratégicas entre os agentes econômicos, que chamamos de jogadores. As interações estratégicas podem envolver muitas estratégias e muitos jogadores, podem se tratar de jogos com ou sem manipulaçãode informações. Vamos aprender o que significa um equilíbrio de Nash em um jogo. Durante o quarto tópico, veremos a possibilidade de existência de uma estra- tégia dominante e o que isto implica. Um equilíbrio em um jogo é uma ótima situação, mas, ao mesmo tempo, é muito difícil de ocorrer. Finalmente, ameaças e promessas são ações por parte dos agentes econô- micos que representam compromisso e buscam limitar as escolhas de um ou de outro no futuro, sem a possibilidade de reversão. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 101 BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E102 CONCORRÊNCIA REAL E POTENCIAL E O MODELO DE PREÇO LIMITE A concorrência real é aquela que ocorre em função do número e do tamanho relativo das empresas que formam uma determinada indústria. Enquanto a con- corrência potencial acontece quando as empresas que já fazem parte da indústria competem pelos lucros com as empresas entrantes, ou seja, aquelas que têm potencial para entrar no mercado. A concorrência real é estudada pelos modelos tradicionais, enquanto a con- corrência potencial é estudada pelos clássicos. Segundo os clássicos, se a empresa apresenta lucros elevados, faz sentido que novas empresas busquem entrar nesses mercados para compartilhar desses lucros. Assim como as empresas podem encerrar suas atividades naquele setor, buscando outros setores que sejam mais atraentes. Esta movimentação só acabaria quando os lucros das indústrias estivessem em equilíbrio. Dessa forma, a concorrência é a livre movimentação de capitais e a tendência à equalização das taxas de lucro, e essas interações das empresas entre os mer- cados são a base da teoria geral de preços e da produção. Segundo esta visão, a empresa só poderia obter lucros acima da média por Concorrência Real e Potencial e o Modelo de Preço Limite Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 103 um tempo, pois a movimentação das empresas no mercado e entre os mercados fariam com que os lucros existissem ou não. O tempo de duração desses lucros extraordinários seria o tempo de aumentar a capacidade de produção. Dessa forma, se uma indústria consegue ter lucros extraordinários perma- nentes, significa que, de alguma forma, novas empresas estão impossibilitadas de entrar nesse mercado. Por isto, essas barreiras à entrada sempre constituí- ram um problema para o entendimento do funcionamento dos mercados, que podem ser definidos nos elementos básicos a seguir: ■ Geralmente são empresas que já atuam naquela indústria e se coordenam de modo a impedir a entrada de outras. ■ As empresas potenciais são aquelas que apresentam a capacidade de inves- tir nesse mercado, sendo que as primeiras da fila seriam aquelas com os melhores requisitos. ■ Os incentivos à entrada se relacionam com os ótimos lucros que as empre- sas podem obter em caso de participarem da indústria, desde que esses lucros possam ser obtidos no momento em que comecem as suas atividades. ■ Uma entrada corresponde ao início de atuação de uma nova empresa, portanto, ficam excluídas aquelas que já atuam e aumentam a sua capa- cidade, ou aquelas que compram uma empresa já atuante. ■ Uma saída corresponde ao encerramento das atividades com a desativa- ção da capacidade produtiva, pois, em caso de venda, por exemplo, só haverá transferência da capacidade produtiva. Dentre os vários enfoques existentes na questão das barreiras à entrada, todos eles destacam a questão do longo prazo e da concorrência potencial. Todo fator que impeça a livre mobilidade do capital e possibilite a existência de lucros extra- ordinários no longo prazo se constitui em barreiras à entrada. Quando, nas definições operacionais existem divergências, podemos citar alguns grupos: BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E104 Quadro 1 - Definições de barreiras à entrada Representantes Definições Joe Bain Barreiras à entrada se traduzem condições que permitam às empresas já participantes do mercado praticarem preços acima do competitivo sem atrair novos competidores. J. Stigler Há barreiras quando as empresas entrantes precisam arcar com custos os quais as empresas estabelecidas não precisa- ram arcar. R. Gilbert Há barreiras à entrada caso as empresas já estabelecidas apresentem vantagens comparativas ou diferencial econô- mico frentes às entrantes, como se fosse um “prêmio pela existência”. C. Von Weizsa- cker Consideram que, além dos diferenciais de custos, precisa haver distorções na alocação de recursos do ponto de vista social entre as empresas estabelecidas e as entrantes. Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002, on-line)1. MODELO DE PREÇO LIMITE Para entendermos o modelo de preço limite, vamos visualizar uma indústria em equilíbrio, na qual as empresas possam produzir tanto bens homogêneos quanto diferenciados. Essas empresas utilizam tecnologias que lhes permitem apresen- tar ganhos de escala, ou seja, os custos médios são decrescentes até atingirem o ponto de escala mínima eficiente, quando se tornam constantes. Consideramos que o longo prazo dessa indústria corresponde ao período de pré-entrada e de pós-entrada e, ainda, que a empresa só vai avaliar entrar no mercado se for possível que obtenha os lucros acima da média já no segundo momento, o pós-entrada. Esta hipótese faz parte da ideia de que uma empresa entrante não tem capital financeiro constituído, o que faz com que ela não possa suportar prejuízos de maneira alguma. O que não ocorre quando se trata de empresas com capital já estabelecido em outra indústria, por exemplo. As empresas atuantes no mercado têm duas opções extremas: trabalhar sem- pre com os preços no nível competitivo, de maneira a tornar pouco atrativa a entrada para novas empresas, porém, assim, estariam prejudicando elas próprias, Concorrência Real e Potencial e o Modelo de Preço Limite Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 105 de forma que não obteriam lucro em nenhum dos períodos; ou poderiam estabe- lecer os preços acima do competitivo, de forma que teriam lucros até o segundo período, quando a entrada de novas empresas levaria o preço ao equilíbrio, tor- nando os lucros das indústrias normais. Além dessas duas opções, pode haver ainda uma decisão intermediária, na qual as empresas poderiam trabalhar com preços acima do competitivo, porém não obtendo o lucro máximo. Dessa forma, elas teriam lucros no longo prazo de forma permanente, porém não os lucros extraordinários que tornam a indústria atrativa a empresas entrantes. O preço que possibilita essa situação é conhecido como preço limite. Mas quando esse preço limite seria escolhido pelas empresas? O preço limite seria dependente do preço competitivo de longo prazo e das condições de entrada: P P EL C� �� �1 Nas quais podem ocorrer algumas situações: 1. Quando as empresas já estabelecidas no mercado não têm vantagem sobre as entrantes, ou seja, a entrada no mercado é fácil, pois não existem barreiras. 2. Quando as empresas já estabelecidas têm alguma vantagem e preferem praticar a maximização de lucros no curto prazo, mesmo que isso dure somente até o segundo período. Fazem isso considerando também que as empresas entrantes demorem até materializar os investimentos. Essa situação é descrita pela entrada ineficazmente impedida. 3. Quando as empresas estabelecidas têm vantagem competitiva e buscam praticar o preço limite para barrar novas entradas. Esta decisão depende de os lucros obtidos nos dois períodos serem maiores do que10 UNIDADE III O PARADIGMA ESTRUTURA-CONDUTA-DESEMPENHO 77 Introdução 78 Medidas de Concentração 82 Estrutura Industrial e Inovação 87 Estrutura, Conduta e Desempenho 91 Considerações Finais 96 Referências 97 Gabarito UNIDADE IV BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS 101 Introdução 102 Concorrência Real e Potencial e o Modelo de Preço Limite 106 Barreiras à Entrada e Barreiras à Saída 110 Jogos e Decisões Estratégicas 114 Estratégias Dominantes 118 Ameaças, Compromisso e Credibilidade 121 Considerações Finais 126 Referências 127 Gabarito SUMÁRIO 11 UNIDADE V POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA 131 Introdução 132 Defesa da Concorrência 136 Regulação Econômica 140 Política Industrial 145 Política Ambiental 149 Considerações Finais 153 Referências 154 Gabarito 155 Conclusão U N ID A D E I Professora Me. Marieli Vieira EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Objetivos de Aprendizagem ■ Expor informações sobre o surgimento da Economia Industrial. ■ Analisar a evolução dos conceitos de empresa e as formas assumidas. ■ Refletir sobre os conceitos de Indústria e Mercado e as cadeias e complexos industriais. ■ Entender a relação existente entre as estruturas de custo e as economias de escala e escopo. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Escopo e história da Economia Industrial ■ Natureza, objetivos e estrutura da empresa ■ Conceitos de indústria e mercado e cadeias produtivas ■ Economias de escala e escopo INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta unidade, você irá conhecer um pouco mais acerca do sur- gimento da Economia Industrial e alguns conceitos importantes que nos levam ao seu aprofundamento. É importante conhecermos os desdobramentos da Economia Industrial por meio da visão tradicional e alternativa. A abordagem tradicional, trazida pelos autores neoclássicos, defende que a empresa combina os fatores de produção, resgatando dos autores clássicos a lei dos rendimentos, que relacionam o cresci- mento à produtividade. As escolhas individuais dessas empresas eram baseadas na maximização de lucros. A abordagem alternativa, uma corrente contemporânea, enfatiza a ideia de que a empresa acumula capacidades organizacionais que são transmitidas. O que não implica um comportamento imutável, pois estão sempre suscetíveis à introdução de inovações na busca de melhorias. A partir da ideia de inovação, surge o processo de concorrência na atividade econômica. A concorrência ocorre na busca pela dominância de maior parcela de mercado - definido pela existência de oferta e demanda. O aumento da concorrência leva a incorporação de mercados acima e abaixo das cadeias produtivas, que surgiram com a divisão dos trabalhos e são defini- das como as diversas etapas de transformação dos insumos. Por último, você vai ver porque o comportamento dos custos de curto e longo prazo é considerado, pelos economistas, parte importante do processo decisó- rio das empresas na busca de uma melhor lucratividade e mesmo na alocação de recursos, as fontes de economias de escala reais e economias de escopo e como elas se relacionam com a utilização das plantas das empresas, justificativa para a utilização de economias multiplantas e também quais são os fatores causado- res das deseconomias de escala. Espero que esta unidade seja proveitosa. Bons estudos! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 ESCOPO E HISTÓRIA DA ECONOMIA INDUSTRIAL Também chamada de organização industrial, a disciplina de Economia Industrial surgiu a partir de 1950, na busca de novos métodos para estudar a dinâmica de diversos setores industriais e foi iniciada por autores que estavam insatisfeitos com as justificativas da microeconomia neoclássica. A disciplina foi incluída no currículo mínimo de economia em 1985, quando passou a ser ministrada como disciplina obrigatória e eletiva para os cursos de graduação e pós-graduação. A economia industrial é composta pela abordagem tradicional (mainstream) e pela abordagem alternativa (shumpteriana/institucionalista). Ambas partem de questões comuns sobre o funcionamento das empresas e dos mercados, porém divergem na análise (KUPFER; HASENCLEVER, 2002). A abordagem tradicional foi iniciada pelo trabalho de Joe S. Bain e atingiu a proposta de M. Scherer, conhecida como modelo Estrutura-Conduta- Desempenho, recentemente chamada de Nova Economia Industrial (NEI). Essa abordagem busca a alocação dos recursos escassos considerando o equilíbrio e a maximização dos lucros. A abordagem alternativa é ligada a Joseph Shumpeter e busca estudar a Escopo e História da Economia Industrial Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 dinâmica da criação de riqueza das empresas, que se acredita não resultar do pro- cesso de minimização de custos, mas da capacidade de inovação. Para os autores dessa linha, é obrigatório o entendimento da dinâmica dos setores industriais. Oliver Williamson, que aperfeiçoou a tradição de Ronald Coase, é contri- buinte desta corrente, pois enfatizou a natureza institucional das empresas e buscou explicar as implicações sobre os mercados. ABORDAGEM TRADICIONAL Esta linha é trazida pelos neoclássicos, que consideram as condutas empresariais importantes para as estruturas de mercado. A empresa é a junção do compor- tamento de diversos atores econômicos. É dessa corrente que vêm os principais fundamentos da defesa da concorrência sustentada pelo governo. O modelo de concorrência perfeita é alvo de questionamento devido à realidade econômica, e com os debates, foram surgindo diversas revisões das proposições neoclássicas originais. Foi sob o paradigma do modelo ECD (Estrutura Conduta Desempenho) que a economia industrial se estabeleceu como uma matéria específica da ciên- cia econômica. É consensual a importância da obra de Joe S. Bain na constituição dessa metodologia como ferramenta básica de análise. Na visão tradicional de Bain, hipótese estruturalista básica, as condutas não importavam. Era a estrutura que determinava o desempenho do mercado e este era avaliado de acordo com a taxa de lucro efetiva em relação à taxa ideal em eficiência alocativa - o ótimo de Pareto. A partir das formulações de Bain, que foram se aprofundando, ocorreu a ampliação das variáveis incluídas no esquema analítico original, especialmente quanto aos elementos de conduta, assim como o aumento da realização de pes- quisas empíricas a partir da década de 60. Uma das falhas do modelo ECD inicial era a falta de importância das condutas das empresas no processo de concorrência. A resposta foi a aceitação da existência de causalidades menos rígidas, que se expressavam em uma relação interativa entre as variáveis de estrutura, conduta e desempenho. Passou-se a avaliar empiricamente EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 todos os possíveis feedbacks entre as três categorias e duas alternativas foram busca- das: estudos de caso e soluções matemáticas. Ambas infrutíferas. Os estudos de caso eram muito particulares e pouco generalizáveis, voltando a privilegiar a conduta das empresas - e sua rivalidade - como a principal variável explicativa do funcionamento dos mercados, desconsiderando as suas características técnico-administrativas. Outra falha do paradigma era sua incapacidade de lidar com a existência de diferenciais de lucratividade entre as empresas em uma mesma indústria, devido às variações nos tamanhos das empresas. Não tem porque todas as empresas de uma indústria concentrada partilharemaquele que seria obtido em apenas um período de maximização de lucros. Isto é o que chamamos de entrada eficazmente impedida. 4. Quando as empresas estabelecidas têm uma vantagem competitiva muito grande, as novas empresas têm entradas bloqueadas. Isto acontece quando o preço de maximização de lucros está em uma faixa que não incentiva entradas, o que faz com que essas empresas consigam manter esses lucros permanentemente. BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E106 Alguns mecanismos são capazes de constituir fontes de barreiras à entrada dentro das indústrias: ■ Existência de vantagem absoluta de custos: esta situação ocorre quando o custo médio de longo prazo das empresas que estão entrando no mer- cado é muito maior do que o das empresas que já estão estabelecidas no mercado, independentemente do nível de produção. ■ Existência de preferências dos consumidores: em casos que os consumi- dores são leais ao produtos vendidos pelas empresas já estabelecidas no mercado pode fazer com que as empresas que estão entrando nesse mer- cado tenham que vender seus produtos a preços bem baixos para deslocar as preferências. ■ Existência de significativas economias de escala: quando novas empre- sas ficam impedidas de atuar devido à existência de economias de escala. ■ Existência da necessidade de elevados investimentos iniciais: quando há a necessidade de mobilização elevada de capital para o investimento inicial. BARREIRAS À ENTRADA E BARREIRAS À SAÍDA BARREIRAS À ENTRADA Barreiras para a entrada de empresas em determinados mercados se traduzem basicamente na falta de incentivos à entrada de empresas novas, devido à exis- tência de vantagem competitiva das empresas já estabelecidas. Maiores serão as barreiras à entrada quanto maiores forem as vantagens competitivas. Existem quatro elementos nas estruturas das indústrias que podem constituir barreiras à entrada, os quais veremos a seguir. Barreiras à Entrada e Barreiras à Saída Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 107 Vantagem absoluta de custos Essa vantagem é presente quando os custos das empresas entrantes é superior aos das que já estão estabelecidas no mercado, independentemente do nível de produção para um bem homogêneo. Existem algumas fontes dessas vantagens, como a tecnologia. As empresas atuantes podem ter desenvolvido técnicas de produção mais eficientes ou até mesmo, acumulado aprendizado que expliquem esses diferenciais. Outra fonte pode ser as matérias-primas, as quais a aquisição pelas empresas já estabelecidas é mais favorável. Os recursos naturais são exemplos, as empre- sas estabelecidas exploram uma melhor relação custo-qualidade, podendo fazer uso, também, da mão-de-obra mais qualificada para o processo de produção e impondo altos custos de treinamento às empresas entrantes. Da mesma forma ocorre com o acesso ao capital: empresas já estabelecidas têm melhores avalia- ções e, assim, acesso mais fácil e taxas menores que as entrantes. Contudo, devemos considerar que existem, também, maneiras de anular essas vantagens de custos. Um exemplo disso é quando a empresa que está entrando no mercado é inovadora, nesse caso, ela terá a melhor tecnologia que as empre- sas existentes. As vantagens de custos são consideradas restritas, pois, muitas vezes, se aplicam somente a um grupo limitado de ramos industriais. BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E108 Diferenciação dos produtos De acordo com a ideia de competição real, a existência de diferenciação de pro- dutos implica em algum grau de poder sobre os preços, tornando possível praticar os preços acima do custo marginal sem comprometer completamente a receita. Na competição potencial, a existência de diferenciação implica em barreiras à entrada. Os consumidores podem ter preferências pelas marcas já conhecidas, fazendo com que a diferença no preço praticado pelas empresas entrantes tenha que ser grande para ocorrer uma reavaliação. Dessa forma, as barreiras à entrada vão depender bastante das característi- cas do produto, dos impostos e do esforço de vendas das empresas já existentes. Os economistas, em geral, concordam que essa seja a fonte mais forte das barreiras de entrada, pois são amplas as possibilidades de criação de vantagens - buscando as preferências dos consumidores. A diferenciação e a qualidade do produto fazem parte de um processo muito custoso. Porém a eficácia dessa bar- reira pode ser diminuída quando uma empresa entra em determinada indústria, trazendo consigo marcas conceituadas em outros mercados, isso faz com que a credibilidade seja transferida do mercado original para o novo mercado, efeito esse que chamamos de spill-over, ou transbordamento. Existência de economias de escala Sugerida por Bain (1956), com uma fonte fraca de barreiras à entrada, as con- dições para existência de barreiras de escala são: ■ Escala mínima eficiente considerada na comparação com o tamanho do mercado. ■ Custos médios de produção maiores na escala subótima do que os cus- tos médios mínimos de longo prazo. A existência de economias de escala não impõe necessariamente à empresa entrante nenhum custo o qual a empresa já estabelecida não tenha incorrido. Por este motivo, Stigler (1968) e seus seguidores rejeitam esse tipo de barreiras, Barreiras à Entrada e Barreiras à Saída Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 109 pois se não existe assimetria de custos entre as empresas entrantes e as estabe- lecidas, não há porque a empresa que está entrando no mercado acreditar que haverá uma guerra de preços após a entrada. Necessidade de capital inicial Considerada por Bain (1956) a quarta fonte de barreiras à entrada, a necessidade de capital inicial reflete a dificuldade de financiar grandes volumes de capital quando o investimento inicial requerido é muito alto. Não tendo essa barreira nada a ver com os preços e as lucratividades provocadas pelo aumento da oferta da indústria. A rigor, barreiras de capital não são barreiras, salvo em situações em que haja imperfeições no mercado de capitais, o que gera controvérsias na literatura. Essa questão é, no entanto, intuitiva, devido ao fato de que os altos investimen- tos iniciais são formados por altos custos irrecuperáveis, que irão implicar nas decisões estratégicas das empresas. BARREIRAS À SAÍDA As barreiras à saída envolvem os custos que as empresas incorrem ao sair do mercado, encerrando a sua produção. Esses custos podem envolver desde que- bras de contrato até a perda de investimentos ou custos irrecuperáveis. No final dos anos 80, entrou em foco a teoria da contestabilidade, na qual estrutura e condutas são pouco valorizadas por se considerar que as as condi- ções básicas é que são essenciais ao desempenho dos mercados. Para a teoria da contestabilidade, o mecanismo de equilíbrio se dá na entrada e saída das empresas, pela existência de livre mobilidade. Ou seja, a concorrên- cia é dada pela existência ou não de custos irrecuperáveis para a empresa que está entrando no mercado. A teoria aplica os conceitos de factível e sustentável: uma configuração indus- trial é factível quando todas as empresas atendem a toda a demanda, sem ter prejuízos; uma configuração industrial é sustentável quando é factível e quando BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E110 uma empresa entrante não vá obter lucros com as quantidades e preços que estão vigorando no mercado. Ou seja, quando os custos de entrada são maiores do que seriam as vendas,menos os custos de produção dessa empresa no mercado. Uma configuração não-sustentável é aquela que está em equilíbrio, porém sempre tendendo ao equilíbrio. A exceção ocorre quando as empresas que estão entrando no mercado esperam que as empresas atuantes reduzam os preços para o nível sustentável após a sua entrada, ou seja, após a entrada de uma nova empresa, vai haver um novo equilíbrio, e as empresas já atuantes podem esco- lher baixar os preços para se moverem ao equilíbrio. A condição estrutural suficiente para assegurar a existência de uma confi- guração industrial sustentável é um mercado perfeitamente contestável, que é atingido quando: não existem barreiras à entrada, pois as empresas entrantes têm acesso aos mesmos fatores de produção e às mesmas habilidades; e quando não existem barreiras à saída, não há custos irrecuperáveis, o que indica que os investimentos realizados inicialmente foram completamente recuperados. Essas duas condições permitem uma competição que disciplina as decisões das empresas, pois qualquer sobrepreço cobrado dá oportunidade à entrada lucrativa, possibilitando a empresa entrante sair do mercado sem custos irrecuperáveis e com lucros. Um exemplo dessa competição é o mercado de linhas aéras, pois o investi- mento inicial, o avião, não é um custo irrecuperável, apesar de ser um custo fixo. JOGOS E DECISÕES ESTRATÉGICAS A teoria dos jogos estuda as diversas situações de interações estratégicas dos agentes econômicos, ela lida com a análise geral da interação estratégica e pode ser usada, além de estudar o comportamento econômico, para o estudo de jogos de salão e de negociações políticas. Jogos e Decisões Estratégicas Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 111 As interações estratégicas podem envolver muitas estratégias e muitos jogado- res, porém, buscando simplificar e facilitar o entendimento, trataremos de um jogo simples, entre apenas duas pessoas. Assim, poderemos representar facil- mente o jogo por meio de uma matriz de ganhos. Jogos não cooperativos com informação completa são jogos nos quais a interação estratégica não contempla a manipulação de informações. Quando os jogadores podem observar as ações dos seus concorrentes, os jogos são de infor- mação completa e perfeita. Quando isso não ocorre, os jogos são de informação imperfeita. Podemos caracterizar os jogos de forma extensiva com informação completa, incompleta e estratégica. Veremos cada uma delas no tópico seguinte. EQUILÍBRIO DE NASH O equilíbrio de Nash significa que temos um par de estratégias ótimas. Nesse caso, podemos ter apenas uma escolha ótima de A para a escolha ótima de B. O equilíbrio de Nash se traduz na escolha de A ser a melhor considerando a esco- lha de B, e a escolha de B ser a melhor considerando a escolha de A. O equilíbrio de Nash é um par de expectativas a respeito das escolhas de outra pessoa, e se a escolha da pessoa for revelada, nenhum dos agentes irá que- rer mudar o seu comportamento. BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E112 Quadro 1- Equilíbrio de Nash Esquerda Jogador B Direita Jogador A Alto 2,1 0,0 Baixo 0,0 1,2 Fonte: adaptado de Varian (2003). O equilíbrio de Nash é uma generalização do modelo de Cournot, por meio do qual a empresa maximiza os seus lucros com base no comportamento da empresa concorrente. Apesar do equilíbrio de Nash ter lógica, ele tem alguns problemas: os jogos podem ter mais de um equilíbrio de Nash e há jogos que não têm equilíbrio de Nash. DILEMA DO PRISIONEIRO Um equilíbrio de Nash não leva sempre a um resultado com ótimo de Pareto. No quadro a seguir podemos ver um jogo conhecido como o dilema do prisioneiro. Quadro 2 - Dilema do prisioneiro Jogador B Confessa Nega Jogador A Confessa -3,-3 0,-6 Nega -6,0 -1,-1 Fonte: adaptado de Varian (2003). Na sua configuração original, o dilema do prisioneiro envolve a decisão de dois prisioneiros, comparsas de um crime, de confessar o crime e envolver o outro, ou negar o crime. Os dois prisioneiros eram interrogados separadamente, logo, um não sabia a decisão do outro. Se ambos negassem, passariam apenas um mês na prisão e se ambos confessassem, ambos passariam três meses na prisão. Se apenas um confessasse, ele seria libertado, enquanto o outro passaria seis meses na prisão. Você se lembra o que significa dizer que uma alocação é um ótimo de Pareto? Jogos e Decisões Estratégicas Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 113 No único equilíbrio de Nash, a melhor decisão para cada prisioneiro é confessar, pois independentemente do que o outro jogador faça, estarão na escolha ótima. O dilema do prisioneiro pode ser aplicado a uma gama ampla de questões. Considere o problema de burlar ou não um cartel - substitua o “confessa” por “produzir mais do que a sua quota” e “nega” por “manter a quota original”. Se você acha que a empresa concorrente irá manter a quota ou exceder, então vale a pena você produzir mais que a sua quota em ambas as situações. A utilização do dilema do prisioneiro depende da sua utilização apenas uma vez ou repetidas vezes. Se for jogado apenas uma vez, você estará melhor se bur- lar (“confessar”). Se o jogo for repetido várias vezes, existirão novas possibilidades estratégi- cas para cada jogador, que pode buscar manter uma “reputação”. Essa decisão vai depender se o número de jogadas é finito ou infinito. Se o número de jogadas for definido, na última jogada, os jogadores ten- dem ao equilíbrio da estratégia dominante, pois jogar pela última vez é o mesmo que jogar apenas uma vez. O mesmo ocorre com as jogadas anteriores, pois se não houver meio de impor a cooperação na última rodada, não haverá meio de impor nas jogadas anteriores. Os jogadores cooperam porque esperam que isto leve a mais cooperação no futuro, portanto, deve sempre haver a possibilidade de um jogo futuro para que o comportamento do oponente seja influenciado. Ambas as partes se preocu- pam com os seus ganhos futuros, então a possibilidade de não-cooperação para convencer os jogadores a decidirem pela estratégia eficiente. Podemos saber mais sobre a história e os fundamentos da teoria dos jogos no trabalho de Dias (2004). Lá é possível encontrar definições da teoria dos jogos, dos jogadores, além das regras que delimitam um jogo. É possível identificar diferentes modelos ou tipos de jogos e maneiras de represen- tá-los. Para saber mais, acesse: . Fonte: a autora. BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E114 ESTRATÉGIAS DOMINANTES A existência de uma estratégia dominante implica que existe uma estratégia ótima para cada um dos jogadores, sem importar o que o outro faça. Ou seja, inde- pendentemente da decisão do jogador B, o jogador A obterá um ganho maior se jogar baixo, assim como, independentemente da decisão do jogador A, o joga- dor B obterá um ganho maior se jogar à esquerda. Esta situação pode ser vista na matriz de ganhos de um jogo apresentada a seguir. Quadro 3 - Matriz de ganhos de um jogo Jogador B Esquerda Direita Jogador A Alto 1, 2 0, 1 Baixo 2, 1 1, 0 Fonte: adaptado de Varian (2003). A estratégia dominante é a melhor escolha, independentemente da escolha do outro jogador, então, se houver uma estratégia dominante para cada jogador em um jogo, podemos prever o equilíbrio do jogo. Estratégias Dominantes Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 115 O equilíbrio de um jogo é uma boa situação, porém muitodifícil de ocorrer. O jogo apresentado no Quadro representa o equilíbrio de Nash, que já vimos no tópico anterior. Quadro 4 - Equilíbrio de Nash Jogador B Esquerda Direita Jogador A Alto 2,1 0,0 Baixo 0,0 1,2 Fonte: adaptado de Varian (2003). Em vez da escolha do jogador A ser ótima para todas as escolhas de B, e vice- -versa, podemos ter apenas uma escolha ótima de A para a escolha ótima de B. Portanto, o equilíbrio de Nash, representado no Quadro 4, significa que temos um par de estratégias se a escolha de A for ótima considerando a escolha de B, e se a escolha de B for ótima considerando a escolha de A. Para chegar às estratégias, podemos ter as seguintes situações nas represen- tações dos jogos: • Representação extensiva de jogos com informação completa A representação extensiva dos jogos é feita por meio do diagrama de árvore. A árvore é formada por ramificações que conectam dois pontos denominados “nós”. O primeiro nó representa a raíz da árvore e o início do jogo. Existem nós que não possuem ramificações à frente, estes são chamados de nós terminais. Uma sequência de eventos ocorre por meio das ramificações e são as pos- síveis maneiras dos jogos serem jogados. Como no jogo, a árvore representa as incertezas associadas às possíveis ações que podem ser tomadas pelos jogado- res, que antecedem os ganhos finais. Quando se trata de um jogo com informação completa e perfeita, as ações do jogador 1 são sempre observadas pelo jogador 2, que irá tomar as suas deci- sões baseado nas informações que tiver no momento em que for jogar. Portanto, o jogador sabe em qual nó ele está. As possibilidades de um jogo com infor- mação completa e perfeita são representadas pelo diagrama de árvore a seguir: BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E116 I II1 II2 E E B B e b (1, 1) (3, 2) (2, 4) (4, 3) Figura 1- Forma extensiva de um jogo com informação completa e perfeita Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002, on-line)1. Quando se trata de um jogo com informação completa e imperfeita, as ações de um jogador não são observadas pelo outro, pois existem dificuldades de comu- nicação entre os jogadores. Nesse jogo, os nós de decisão de uma empresa ou outra não podem mais ser distinguidos, pois, na sua vez de jogar, a empresa não tem como saber se está no nó de decisão superior ou inferior. Essa situação é representada no diagrama de árvore abaixo: I II II E E B B E B Figura 2 - Forma extensiva de um jogo com informação completa e imperfeita Fonte: Kupfer e Hasenclever (2002, on-line)1. Estratégias Dominantes Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 117 • Representação estratégica de jogos com informação completa Por meio das informações anteriores a respeito da representação extensiva, pode- mos chegar à representação estratégica. A estratégia é o que determina como a empresa irá agir se encontrando em cada uma das situações/ramificações, em cada um dos conjuntos de informação. Quando a informação é perfeita, a primeira empresa possui apenas uma posição possível. Dessa forma, para a empresa 2, é necessário traçar uma estra- tégia caso chegue a se localizar em qualquer uma das posições. Quando se aplica o caso da informação imperfeita, as empresas escolhem entre uma ou outra alternativa somente e, partindo daí, se dão novamente as mesmas alternativas de escolha. Nesse caso, é importante saber que os jogado- res jogam com vários objetivos a partir de um conjunto de estratégias. Existe também a possibilidade da utilização de estratégias mistas. O seu entendimento é difícil, porém, há justificativas para seu uso, como o fato dos jogadores desejarem que as suas estratégias de jogo sejam dificilmente previstas pelo outro jogador e, para isso, precisam tornar suas escolhas aleatórias. São vários os tipos de estratégias que podem ser assumidas por uma or- ganização: planejada, empreendedora, ideológica, guarda-chuva, processo, desarticulada, consenso e imposta. Fonte: adaptado de Avila (2006). BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E118 AMEAÇAS, COMPROMISSO E CREDIBILIDADE As ameaças ou promessas são ações que representam o compromisso dos agen- tes, visando a restringir ou as suas escolhas ou as escolhas dos adversários no futuro, de maneira que não possam reverter. Segundo Nash (1996), quando um jogador convence o outro a agir conforme sua exigência para que não tenha consequências ruins, o primeiro está realizando uma ameaça contra o outro. O ameaçador cumprir a ameaça não significa neces- sariamente que este seja o seu desejo. Uma ameaça pode ser caracterizada pelas cinco regras a seguir, segundo Searle (1984): ■ Prejudica a ação futura do ameaçador, caso o ameaçado não cumpra com a exigência. ■ A ameaça deve ser feita em casos em que o ameaçado deseje que o ame- açador não a realize. ■ A ameaça será feita em casos em que a ação exigida não seja decorrente dos acontecimentos normais. ■ Quando o ameaçador faz a ameaça, ele está realmente com a intenção de cumpri-la caso as exigências não sejam atendidas. Ameaças, Compromisso e Credibilidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 119 ■ Desde que feita, a ameaça deve ser cumprida pelo ameaçador se as con- dições exigidas não forem cumpridas. Para entendermos mais claramente, vamos visualizar o jogo apresentado no Quadro a seguiur: Quadro 5 - Jogos e comunicação Jogador B Esquerda Direita Jogador A Alto 0, 80 80, 0 Baixo -1, -150 -40, -250 Fonte: adaptado de Luce e Raiffa (1989). As quantidades 0 e 80 correspondem ao equilíbrio das estratégias alto e esquerda, para o jogador A e B, respectivamente. Essa situação pode ocorrer em um jogo em que não haja comunicação e seja jogado apenas uma vez. Se os jogadores puderem se comunicar, o jogador A pode impor um acordo ao jogador B, ameaçando jogar na opção baixo, fazendo, dessa forma, com que se o jogador B se mantenha na posição esquerda ao invés de abrir mão das 80 unidades em seu favor, incorra em um prejuízo de 150. Esse comportamento por parte do jogador B seria impensável, pois, seguindo o princípio da raciona- lidade, qualquer comunicação deveria ser evitada. Caso haja comunicação entre os dois jogadores, a possibilidade da ame- aça existe. Portanto, o jogador B deve evitar entrar em contato com o jogador A para manter a sua possibilidade de ganhos, fazendo um jogo não-cooperativo. Caso o jogador B queira lutar pelo seu resultado de 80, deve levar o jogador A à mesa de negociação, agindo da mesma forma, com uma ameaça. O jogador B pode ameaçar jogar direita caso o jogador A jogue baixo, causando a A um prejuízo de 40. Essa atitude também causaria aumento do seu prejuízo, mais espe- cificamente e para 250. Devido ao prejuízo que causaria a si mesmo caso tomasse essa atitude, a ameaça de B não teria credibilidade em relação a do jogador A. As ameaças obterem os efeitos desejados dependem de que o oponente não perceba qualquer incentivo à mentira por parte do ameaçador. O grau de credi- bilidade dos agentes depende da coincidência dos interesses entre os jogadores e também de uma análise econômica e psicológica destes, pois entra em jogo também a reputação de cada um e sua disposição à preservá-la. BARREIRAS E ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IVU N I D A D E120 Percebemos que cortar a comunicação com os adversários pode ser a melhor atitude para o jogador que tem a vantagem, caso o jogo seja jogado de maneira não-cooperativa. Um dos fatores que contribuem para reforçar a credibilidade das ações é ocusto de realização das ameaças. Quanto maiores os custos e suas consequências, maiores as de chances as ameaças ser em cumpridas. Encerramos aqui mais uma unidade da disciplina de Economia Industrial. Desejo bons estudos e nos vemos na próxima unidade! Existem alguns passos que possibilitam alcançar a credibilidade por parte dos jogadores: • Estabeleça e use sua reputação – com o objetivo de criar credibilidade para comprometimentos incondicionais, ameaças e promessas. • Faça uso de contratos – os contratos ajudam a dar credibilidade aos comprometimentos, e impõem punições no caso de não cumprimento de um compromisso assumido. • Corte a comunicação – é uma maneira bem sucedida de dar credibi- lidade aos comprometimentos, e a uma ação, um caráter verdadeira- mente irreversível. • Queimando as pontes atrás de você (Burning the Bridges Behind You) – a ideia é eliminar as possibilidades de voltar atrás. • Brinkmanship – trata-se de assediar e intimidar o adversário, expondo-o e a si mesmo a um risco dividido, porém considerável. Fonte: Dixit e Nalebuff (1991, apud AZEVEDO; CARVALHO; SILVA, 2002, p. 75). Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 121 CONSIDERAÇÕES FINAIS Encerramos mais uma unidade, agora sabendo que a diferença entre a con- corrência real e a potencial é que a primeira se dá em função do número e do tamanho relativo das empresas, enquanto a segunda se dá por meio da compe- tição pelos lucros das empresas que já fazem parte da indústria com aquelas que estão entrando no mercado. O modelo de preço limite corresponde a uma das estratégias das indústrias que estão estabelecidas no mercado de tentar barrar a entrada de novas empre- sas. Elas podem fazer isso decidindo praticar preços que ficam acima do nível competitivo, mas que não levem a lucros extraordinários no longo prazo, o que tornaria o mercado atraente às novas empresas. Elementos da estrutura das indústrias podem ser usados como barreiras à entrada, como a vantagem absoluta de custos, quando os custos das empresas entrantes são superiores aos daquelas que já fazem parte do mercado. Outro elemento é a diferenciação de produtos, o que dá algum poder às empresas já estabelecidas. E a existência de economias de escala, apesar de ser considerada uma fonte fraca, também gera barreiras à entrada. Por último, a necessidade de capital inicial, em que as empresas entrantes têm dificuldade quando o investi- mento inicial é muito alto. Além de barreiras à entrada, existem também barreiras à saída, que envolvem desde custos de quebra de contratos até a perda de inves- timentos ou custos irrecuperáveis. A teoria dos jogos lida com a interação estratégia e pode ser utilizada para análise de comportamentos econômicos. Existem diversas possibilidades de estra- tégias para os jogadores a depender da ocorrência das situações, da quantidade de jogadas e do nível de informação. Pode haver, em determinados jogos, a exis- tência de estratégias dominantes para ambos os jogadores sem importar o que o outro faça. Finalmente, os jogadores também podem interferir nas decisões dos adversários por meio de promessas ou ameaças, com as quais pretendem fazer com o que o jogo se desenvolva lhe proporcionando vantagens. 122 1. A concorrência real é estudada pelos modelos tradicionais e a concorrência potencial é estudada pelos clássicos. Diferencie uma da outra. 2. A entrada corresponde ao início da atuação de uma nova empresa no merca- do, enquanto a saída corresponde ao encerramento das atividades e desati- vação da capacidade produtiva. O que significa dizer que um mercado possui barreiras à entrada ou barreiras à saída? Dê exemplos. 3. O preço limite pode ser praticado pelas empresas a depender do preço com- petitivo de longo prazo e das condições de entrada no mercado. A respeito do modelo de preço limite, avalie as seguintes afirmativas: I. As empresas estabelecem preços acima do nível competitivo, o que possibi- lita terem lucros extraordinários de forma permanente. II. O preço escolhido pelas empresas fica acima do preço competitivo, mas as empresas não obtêm o lucro máximo. III. A prática do preço limite pode ser usada para barrar a entrada de novas empresas no mercado. IV. Quando o preço limite é praticado, o mercado deixa de ser atrativo para as empresas entrantes. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. 4. Um equilíbrio de Nash significa que temos um par de estratégias ótimas, quando sendo revelada a escolha de um dos jogadores, nenhum deles irá desejar mudar o seu comportamento. Apresente um exemplo de aplicação de um equilíbrio de Nash. 5. A teoria dos jogos envolve diversas situações de interações entre jogadores, como são chamados os agentes econômicos e a utilização de estratégias. Assi- nale a alternativa incorreta a respeito da teoria dos jogos: a) A existência de uma estratégia dominante implica a existência de equilíbrio no jogo. b) Em um jogo com informação perfeitas, os “nós” de decisão de uma empresa não podem ser distinguidos. c) Em um jogo com informação imperfeitas, os jogadores têm dificuldades em se comunicar. d) As ameaças representam compromisso e dependem da credibilidade entre os jogadores 123 A teoria dos jogos estuda diversas interações estratégicas entre os agentes econômicos, que podem envolver muitas estratégias e muitos jogadores. Na Tabela aseguir, podemos ver as características dos tipos de estratégias: Tabela 01 - Características dos tipos de estratégias TIPO DE ESTRATÉGIA PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Planejadas São as estratégias que se originam em planos formais: formu- ladas por uma liderança central, essas estratégias se carac- terizam por intenções precisas e são apoiadas por controles formais para garantir uma implementação livre de surpresas. São as mais deliberadas. Empreendedoras Essas estratégias têm origem na visão central de um único líder e são adaptáveis às novas oportunidades. Amplamente deliberadas. Ideológicas Originadas em crenças comuns, as intenções dessas estraté- gias existem como visão coletiva de todos os agentes e são relativamente imutáveis. Controladas por meio da doutrina- ção e/ou socialização. Mais deliberadas. Guarda-chuvas Originadas nas restrições, há controle parcial das ações organizacionais. São definidos limites estratégicos dentro dos quais outros agentes respondem às suas experiências ou preferências. Deliberadamente emergentes. Processos Originadas no processo, a liderança os aspectos processuais e deixa os aspectos de conteúdo para outros agentes. Delibera- damente emergentes. Desarticuladas Com origem em enclaves e empreendimentos, os agentes ligados de maneira fraca ao restante da organização produ- zem padrões em ações próprias e em ausências de intenções centrais. Organizacionalmente emergentes. Consensos Vindas do consenso, por meio do ajuste mútuo, os agentes convergem sobre o padrões e há ausência de intenções co- muns. Bastante emergentes. Impostas Se originam no ambiente e ditam padrões em ações por meio da imposição. Principalmente emergentes, mas podem se tornar deliberadas. Fonte: adaptado de Avila (2006). O foco da estratégia deliberada é o controle, enquanto da estratégia emergente é o apren- dizado. Segundo o autor, apesar da distinção entre uma e outra - estratégias deliberadas e emergentes - a primeira tende a se tornar a segunda, pois quando a organização percebe uma estratégia emergente, ela pode descartá-la ou incorporá-la à estratégia deliberada. Fonte: Avila (2006). MATERIAL COMPLEMENTAR Estratégia Competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência Michael Porter Editora: Elsevier Sinopse: Estratégia competitiva transformou a teoria, a prática e o ensino da estratégia emtodo o mundo. A análise de Porter da indústria captura a complexidade da competição na indústria com base em cinco forças subjacentes. Ele introduz uma das mais importantes ferramentas competitivas já desenvolvidas - as três estratégias genéricas - custo mais baixo, diferenciação e foco, que estruturam a tarefa do posicionamento estratégico. O autor demonstra como a vantagem competitiva pode ser defi nida em termos de custo relativo e preços relativos, integrando-a, desse modo, diretamente à lucratividade. Além disso, ele apresenta uma nova perspectiva em relação a como o lucro é criado e dividido. As ideias apresentadas neste livro baseiam- se nos fundamentos subjacentes à competição, independentemente das especifi cidades relacionadas à forma como as empresas competem. Teoria dos Jogos Ronaldo Fiani Editora: Elsevier Sinopse: este livro busca difundir os conhecimentos de jogos para todos aqueles que lidam com situação em que estratégias estão presentes de modo importante em sua atividade profi ssional, permitindo-os conhecer como a interação entre indivíduos ou organizações, que agem estrategicamente de acordo com os seus interesses, pode ser estudada objetivamente com métodos matemáticos. Uma Mente Brilhante (2002) Sinopse: John Nash (Russell Crowe) é um gênio da matemática que, aos 21 anos, formulou um teorema que provou sua genialidade e o tornou aclamado no meio onde atuava. Mas aos poucos o belo e arrogante Nash se transforma em um sofrido e atormentado homem, que chega até mesmo a ser diagnosticado como esquizofrênico pelos médicos que o tratam. Porém, após anos de luta para se recuperar, ele consegue retornar à sociedade e acaba sendo premiado com o Nobel. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR A Estratégia do Jogo Steve Bull Editora: Campus Sinopse: os desafi os enfrentados por indivíduos e equipes em todos os setores empresariais são parecidos. As pessoas são desafi adas por longas horas de trabalho, mudanças constantes, adversidades e obstáculos e, frequentemente, por uma pressão assustadora. Confi ança, clareza de pensamento e resiliência são pré-requisitos para o sucesso e elementos que farão a diferença na hora de vencer. Neste livro fácil e refl exivo, Steve Bull desenvolveu um modelo de resistência mental para ser usado no coaching de executivos e equipes corporativas. Testado na prática em uma grande variedade de setores do Reino Unido, Estados Unidos e outros países, este modelo servirá como o caminho mais curto até o sucesso. O Jogo da Imitação (2015) Sinopse: durante a Segunda Guerra Mundial, o governo britânico monta uma equipe que tem por objetivo quebrar o Enigma, o famoso código que os alemães usam para enviar mensagens aos submarinos. Um de seus integrantes é Alan Turing (Benedict Cumberbatch), um matemático de 27 anos estritamente lógico e focado no trabalho, que tem problemas de relacionamento com praticamente todos à sua volta. Não demora muito para que Turing, apesar de sua intransigência, lidere a equipe. Seu grande projeto é construir uma máquina que permita analisar todas as possibilidades de codifi cação do Enigma em apenas 18 horas, de forma que os ingleses conheçam as ordens enviadas antes que elas sejam executadas. Entretanto, para que o projeto dê certo, Turing terá que aprender a trabalhar em equipe e tem Joan Clarke (Keira Knightley) como sua grande incentivadora. REFERÊNCIASREFERÊNCIAS AVILA, S. C. A teoria dos jogos em estratégia. Perspectivas Contemporâneas, v. 1, n. 2, 2006. AZEVEDO, G. M.; CARVALHO, H. F.; SILVA, J. F. Dissuasão de entrada, teoria dos jogos e Michael Porter - Convergências teóricas, diferenças e aplicações à administração estratégica. Caderno de pesquisas em Administração, São Paulo, v. 9, n. 3, jul./set. 2002. Disponível em: . Acesso em: 18 set. 2018. BAIN, J. Barriers to New Competition. Cambridge: Harvard University Press, 1956. DIAS, Henry Paulo. Teoria dos jogos. Global Manager - Faculdade da Serra Gaúcha, Caxias do Sul, v. 4, n. 6, p. 49-56, 2004. KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia Industrial: Elementos Teóricos e Práticas no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2002. LUCE, R. D.; RAIFFA, H. Games and Decisions. New York: Dover, 1989. NASH, J. F. Essays on Game Theory. Cheltenham: Edward Elgar, 1996. SEARLE, J. R. Os Actos de Fala. Tradução de Carlos Vogt. Coimbra: Almedina, 1984. STIGLER, G. J. The Organization of Industry. Homewood: Richard D. Irwin, 1968. 126 GABARITO 127 1. A concorrência real é aquela que ocorre em função do número e do tamanho relativo das empresas que formam uma determinada indústria. Enquanto a con- corrência potencial acontece quando as empresas que já fazem parte da indús- tria competem pelos lucros com as empresas entrantes, ou seja, aquelas que têm potencial para entrar no mercado. 2. Barreiras à entrada significam que, de alguma forma, devido à falta de incenti- vos, novas empresas estão impossibilitadas de entrar no mercado. Barreiras à saída envolvem os custos que empresas incorrem ao sair do mercado. 3. d. 4. O dilema do prisioneiro é um exemplo de equilíbrio de Nash. Este dilema envol- ve a decisão de dois prisioneiros, comparsas de um crime, de confessar o crime e envolver o outro, ou negar o crime. Os dois prisioneiros eram interrogados separadamente, logo um não sabia a decisão do outro. Se ambos negassem, ambos passariam apenas um mês na prisão, e se ambos confessassem, ambos passariam três meses na prisão. Se apenas um confessasse, ele seria libertado, enquanto o outro passaria seis meses na prisão. O único equilíbrio de Nash, a melhor decisão para cada prisioneiro, é confessar, pois independentemente do que o outro jogador faça, estarão na escolha ótima. 5. b. GABARITO U N ID A D E V Professora Me. Marieli Vieira. POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar as características da política de defesa da concorrência. ■ Discutir o conceito de monopólio natural e apresentar as várias formas de regulação. ■ Abordar tópicos sobre a política industrial. ■ Expor razões e instrumentos de política ambiental. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Defesa da concorrência ■ Regulação econômica ■ Política industrial ■ Política ambiental INTRODUÇÃO Esta é a última unidade da disciplina e, nela, vamos saber mais sobre as políti- cas e a regulação dos mercados. Iniciamos a unidade com a defesa da concorrência, política que tem o obje- tivo de garantir a existência de condições de competição nos mercados, fazendo, dessa forma com que exista uma maior eficiência econômica no funcionamento dos mercados. A defesa da concorrência não busca eliminar a existência de poder de mer- cado, mas sim, limitar o poder abusivo que a existência deste causa, podendo ser implementada de duas formas: voltadas às condutas das empresas e voltadas ao caráter estrutural dos mercados. Dando prosseguimento ao conteúdo, veremos a regulação econômica, que pode ser definida como as ações do governo que têm intenção de limitar as esco- lhas dos agentes econômicos. Nos casos de necessidade de regulação econômica, o governo atua por meio de agente reguladores, que são responsáveis pelos dife- rentes setores da economia. A regulação vai além do estabelecimento de tarifas, se estende também à regulação de quantidades, qualidade, segurança do traba- lho e outros. Nossa preocupação, neste tópico, será com a regulação de preços. No terceiro tópico, iremos falar sobre a utilização da política industrial. Há um forte debate entre as diferentes correntes teóricas a respeito da utilização da intervenção para promover as atividades econômicas. Porém, desconsiderando as questões ideológicas, o objetivo da política industrial é promover a atividade pro- dutiva, tentando levar o país em questão a um nível elevado de desenvolvimento. Finalmente, veremos como se desenvolveu a políticaambiental. Política esta que influencia as demais políticas econômicas e que tem crescido em importân- cia, principalmente quando se fala em países industrializados. Cada país possui uma realidade ambiental diferente e diferentes problemas, o que faz com que as medidas adotadas sejam específicas, mas veremos que também existem aspec- tos comuns. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 131 POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E132 DEFESA DA CONCORRÊNCIA A política de defesa da concorrência tem o objetivo de prevenir o mercado e os consumidores das ineficiências causadas pela prática do poder abusivo de mercado. O poder de mercado não é considerado ilegal, apenas limitado o seu exercício abusivo (KUPFER; HASENCLEVER, 2002). A defesa da concorrência pode ser implementada de duas formas: voltada às condutas e voltada ao caráter estrutural. Quando voltada à conduta, são apli- cadas punições às práticas anticompetitivas, de forma que essas restrições do processo concorrencial punem por meio de caráter repressivo. Já as práticas vol- tadas ao caráter estrutural evitam a concentração do domínio de mercado, por meio da prevenção dos atos de concentração. Essas duas formas de defesa da concorrência atingem a natureza horizon- tal e vertical, ou seja, as práticas envolvem empresas de mesmo segmento, que envolvem as empresas dos produtos e as dos seus insumos. A defesa da concorrência busca canalizar as forças de mercado e as estraté- gias das empresas, para evitar que o processo concorrencial seja restringido por agentes que têm esse poder. Isso significa que não age nos resultados, mas sim, nos meios, e é representada pela política antitruste, que busca reprimir práticas que interfiram no processo de concorrência, e as imposições geradas por ela são em forma de abstenções. A política busca defender a concorrência e não os concorrentes ou os consu- midores de maneira direta. Este é um fato importante para deixar claro que atos de repressão à Concorrência Desleal e de Defesa da Concorrência estão em âmbitos de incidência Defesa da Concorrência Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 133 diversa. A defesa da concorrência tem o propósito principal de melhorar as condições de bem-estar da sociedade como um todo. A análise antitruste gira em torno do poder de mercado e dos danos que podem ser causados pelos detentores desse poder. Para identificar a existência do mercado, primeiramente, é necessária a delimitação do mercado e da aná- lise das condições deste. MERCADO RELEVANTE Para análise antitruste e verificação da concentração de mercado, é essencial a delimitação do mercado relevante. Definição esta que deve ser feita caso a caso, iden- tificando os mercados (produto e/ou região) em que atuam os agentes envolvidos. A delimitação é feita por aproximações sucessivas e são avaliadas as reações da demanda, verificando as condições de mercado que tornam provável ou não o exercício do poder de mercado. É verificada a existência de fatores que causam efi- ciências e efeitos anticompetitivos. Se forem identificados os dois, somente serão tomadas atitudes de proibição da conduta se os efeitos competitivos forem maiores. A existência de eficiências que compensam os efeitos líquidos devem ser analisadas caso a caso, pois o que importa em cada caso são os efeitos líquidos. Essa abordagem é chamada de princípio da razoabilidade (rule of reason), prove- niente da jurisprudência americana. Como a lei busca reprimir as ineficiências, ela não será utilizada em casos em que as condutas gerem ganhos de eficiên- cia, e se o fizer, pode causar ineficiências maiores do que as que busca combater. A análise da eficiência deve observar: ■ A existência do risco de prejuízo à competição, provocada por alguma conduta. Se o risco não for verificado, a análise deve ser interrompida. ■ As eficiências que podem ser compensatórias devem ser decorrentes tam- bém das condutas e não de outras fontes. ■ Devem ser comprovadas que essas eficiências não seriam alcançadas de outra forma senão por meio das condutas que afetam o processo concorrencial. POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E134 Quanto às condutas anticompetitivas, costuma-se dividi-las em horizontais e verticais. As horizontais afetam o processo concorrencial em um mesmo mercado, enquanto as verticais afetam compradores e vendedores ao longo da cadeia produtiva. Horizontais As práticas anticompetitivas horizontais envolvem acordos ou concorrência predatória entre concorrentes, buscando aumentar o poder de mercado. A prá- tica de preços predatórios envolve o estabelecimento de preços abaixo do custo médio variável, visando a praticar preços próximos aos níveis de monopólio. Os acordos com efeitos anticompetitivos entre concorrentes podem ser: Cartéis: estabelecimento de preços, quotas de produção e distribuição e divi- são territorial, nos quais, geralmente, não existem benefícios compensatórios. Outros acordos: que envolvem apenas parte do mercado ou são temporários. Acordos de associações profissionais: é feito o tabelamento de preços limi- tando a concorrência entre profissionais. Verticais Entre as condutas anticompetitivas verticais estão: Fixação de preços de revenda: quando o produtor estabelece preços que deve- rão ser praticados pelos distribuidores e revendedores dos seus produtos. Restrições territoriais e da base de clientes: quando o produtor limita a área de distribuição e revenda dos seus produtos. Acordos de exclusividade: envolvem a proibição, por parte do produtor, de os distribuidores e revendedores comercializarem outros produtos que não os seus. Recusa de venda/negociação: quando o fornecedor estabelece condições de negócio para viabilizar os acordos de exclusividade ou a fixação dos preços de revenda. Venda casada: na tentativa de alavancar o poder de mercado, a prática da venda casada consiste na vinculação de venda de produtos, fazendo com Defesa da Concorrência Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 135 que o comprador seja forçado a adquirir um produto que não deseja jun- tamente com aquele que está comprando. Discriminação de preços: prática de preços diferenciados do mesmo pro- duto para diferentes compradores. Para definição do produto ou região em que possa ser exercido o poder de mer- cado, utiliza-se as elasticidades-preço da demanda e as elasticidades-preço da oferta. Os principais ganhos de eficiência causados em atos de concentração de mer- cado são as economias de escala ou escopo, as economias da racionalização e especialização, a utilização do aumento da capacidade, economias em pesquisa e desenvolvimento, tecnologias e eficiência dinâmicas, economias dos custos de transação. Exemplos desses atos são: ■ Quando os concorrentes reais e potenciais se unem para aproveitar econo- mias de escala, baixando os custos e, possivelmente, aumentando os lucros. ■ Quando concorrentes potenciais se unem para desenvolver um novo pro- duto e diminuir os gastos em P&D, porém, isto pode retardar a introdução desse produto no mercado. ■ Quando concorrentes multiproduto se especializam, fornecendo um ao outro os insumos. Reduzem os custos, porém, eliminam a concorrência em qualidade de preços. O texto de Pondé, Fagundes e Possas (1997), de título “Custos de Transação e Polí- tica de Defesa da Concorrência” busca relacionar a teoria dos custos de transação às políticas de defesa da concorrência . Para saber mais sobre as áreas de defesada concorrência e os custos de transação, acesse o texto no endereço eletrôni- co disponível em: . Fonte: a autora. POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E136 REGULAÇÃO ECONÔMICA A regulação econômica envolve qualquer ação do governo buscando limitar a liberdade de escolha dos agentes econômicos, desde regulação de preços, até a regulação de quantidades, de qualidade, da segurança do trabalho e várias outras formas de intervenção. Porém, neste capítulo, vamos nos concentrar na regula- ção de preços e um pouco a respeito da regulação de qualidade. O que se espera é que, em uma economia em concorrência perfeita, o mer- cado forneça estímulos que tornem desnecessária a intervenção do governo. Porém, existem algumas situações em que o mercado não é capaz de direcionar a uma alocação eficiente dos recursos, na qual os custos de oportunidade são minimizados. Uma dessas situações é a presença de externalidades. As externalidades existem quando os benefícios sociais superam os benefí- cios que a empresa tem com a produção, ou quando os custos sociais superam os custos que as empresas têm. Essa situação costuma levar à produção insufi- ciente no primeiro caso e à produção de quantidade excessiva no segundo caso. Quando da existência do monopólio natural de um único produto, os custos são menores em um a empresa do que em duas para uma quantidade x, proprie- dade conhecida como subaditividade: C x C x C xa b c *� � � � � � � �1 2 Esta proposição nos diz exatamente que é mais barato (C representa os custos menores) produzir uma quantidade x em apenas uma unidade (a) que dividir essa produção entre duas unidades (b e c), e a condição para isso é de que existam economias de escala, no caso de um único produto. No caso de múltiplos produtos, a condição de suba- ditividade continua a mesma: C Q Q C Q C Qa x y b x c y, , ,� � � � � � � �0 0 Esta proposição nos diz que é mais barato produzir uma quantidade de cada produto em uma única empresa Regulação Econômica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 137 do que produzir a mesma quantidade dos dois produtos, um em cada empresa diferente. Nesse, caso não são mais as economias de escala que são importantes, mas as economias de escopo, pois, caso não exista economia de escopo, mesmo que se tenha economias de escala em cada produto isoladamente, a proposição não será verdadeira. Caso só existam de escopo, a proposição será verdadeira. FORMAS DE REGULAÇÃO DE PREÇOS Aqui, veremos algumas formas de regular os preços: ■ Regulação por taxa de retorno Aqui, o regulador estabelece tarifas para cada tipo de produto ou serviço da empresa, de forma a garantir uma taxa de retorno que assegure o pros- seguimento das atividades. Este método, por ser complexo e apresentar algumas dificuldades, é ade- quado apenas quando custos e demanda não variem muito dentro de um período curto de tempo, ou seja, quando custos e demanda são relativa- mente estáveis. Além de envolver vários itens de difícil determinação e não incentivar a eficiência. Ao estabelecer uma taxa de retorno acima do valor de mercado, a agên- cia reguladora torna o capital mais barato, de forma que substituirá o trabalho e, assim, será empregada uma quantidade excessiva de capital, resultando na alocação ineficiente de recursos. ■ Preço-teto (price cap) Esta forma de regulação consiste em estabelecer um limite superior de preços, de forma que a empresa regulada não possa passar destes limite. O limite de preços pode ser atribuído para cada preço individualmente ou para a média de preços dos serviços fornecidos pela indústria regulada. Espera-se que um teto de preços favoreça setores que tenham a facilidade na inovação tecnológica. POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E138 ■ Regra de Preço eficiente A efficient component-pricing rule, ou mesmo RCPE, é utilizada em casos em que uma empresa precise utilizar a infraestrutura de uma rival ou que hajam problemas de interconexão. Caso a única maneira de chegar a determinados consumidores envolva, por exemplo, utilizar a estrutura da rival, tendo que pagar um preço de acesso. Esta regra, se aplicada, permite que as empresas mais eficientes permaneçam no mercado, desde que o preço final tenha sido estabele- cido em bases competitivas. A eficiência dessa regra depende da fixação dos preços em níveis concorrenciais. ■ Regra de Ramsey Aqui, os preços dos produtos ou serviços são estabelecidos de forma a mini- mizar as perdas dos consumidores, geradas pela necessidade do monopolista em cobrir os seus custos totais. Uma das soluções para o monopólio multi- produto, a Regra de Ramsey é uma maneira de maximizar o bem-estar da sociedade dada a restrição do lucro econômico do monopolista ser nulo. ■ Tarifa em duas partes A two-part tariff é calculada por meio de uma taxa fixa para o rendimento total, independentemente da venda, e uma taxa por unidade efetivamente utilizada. REGULAÇÃO NA PRÁTICA Dado o surgimento de inúmeras empresas que passaram a se utilizar do mono- pólio natural e da integração de vertical das diversas etapas da cadeia produtiva, passou a ser necessário o poder regulatório. A partir dos anos 30, os Estados Unidos e vários países europeus deram início à utilização dos instrumentos de regulação, que variavam de país para país. Regulação Econômica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 139 Nos anos de 1980, foram realizadas algumas reformas que deram início a uma nova fase de regulação, ocasionadas pelas diversas mudanças organizacio- nais que vinham ocorrendo nos segmentos das indústrias. Foram criados novos órgãos de regulamentação setorial, muito mais complexos, que passaram a regular a indústria conforme algumas missões de regulação, como: ■ Supervisão do poder de mercado e das práticas anticompetitivas. ■ Organização dos novos competidores e promoção da competição. ■ Implantar um novo modo de organização industrial. ■ Defender as regras e administrar os conflitos. ■ Complementar o processo de regulamentação. ■ Estimular a eficiência e a inovação. No Brasil, a regulamentação seguiu os mesmos princípios das experiências internacionais. Direcionadas pela dificuldade de financiamento das empresas governamentais, os capitais privados eliminam os gargalos de crescimento desse setor. As reformas, em nosso país, foram mais visíveis quando da criação das agências reguladoras da eletricidade, telecomunicações, petróleo e gás: ■ Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) - criada pela Lei 9.427/1996, que enquanto agência federal de regulação do setor, tem o objetivo regular e fiscalizar as atividades de geração, transmissão, distribuição e comer- cialização de energia elétrica. ■ Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) - criada pela Lei 9.472/1997, reguladora dos serviços de telecomunicações, incluindo a telefonia fixa e celular. ■ Agência Nacional do Petróleo (ANP) - criada pela Lei 9.478/1997, regula- dora das atividades das indústria de petróleo e gás natural. Diferentemente da ANEEL e ANATEL, a ANP não exerce a regulação de preços (JÚNIOR, 2014, on-line)1. POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E140 Temos, ainda, outras agências reguladoras brasileiras: Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Agência Nacional de TransportesAquaviários (ANTAQ), Agência Nacional do Cinema (Ancine). Agência Nacional de Transporte Terrestres (Antt), Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), Agência Nacional de Águas (ANA), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). POLÍTICA INDUSTRIAL A política industrial procura promover a atividade econômica, para que se desenvolva e chegue a estágios superiores de desenvolvimento em um determinado espaço nacio- nal. Conceitualmente, conforme Kupfer e Hasenclever (2002 S. P.), corresponde ao: conjunto de incentivos e regulações associadas a ações públicas, que podem afetar a alocação inter e intra-industrial de recursos, influen- ciando a estrutura produtiva e patrimonial, a conduta e o desempenho dos agentes econômicos em um determinado espaço nacional. Os questionamentos a respeito das relações entre o Estado e o mercado surgem quando o setor privado apresenta deficiências na alocação eficiente dos recursos escassos, assim como as necessidades de desenvolvimento de uma nação quanto à riqueza, à eficiência e ao conhecimento. Sendo que a intervenção deve ser coe- rente como o estágio de desenvolvimento. A agências reguladoras são autarquias autônomas que fazem parte da es- trutura administrativa do Estado. Podemos saber mais sobre a sua origem e criação no endereço eletrônico disponível em: . Fonte: a autora. Política Industrial Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 141 POLÍTICA INDUSTRIAL PELA ÓTICA DAS FALHAS DE MERCADO Segundo a visão neoclássica, a livre mobilidade dos fatores nos mercados compe- titivos faz com que a política industrial, além de desnecessária, seja considerada indesejada. A intervenção do governo seria necessária somente se o mecanismo de preços não fosse capaz de captar os benefícios e custos de oportunidade associados à produção e ao consumo de bens, ou seja, quando ocorrem as falhas de mercado. Somente em casos de falhas de mercado é que os custos da intervenção pública seriam inferiores aos benefícios produzidos. Podemos citar cinco prin- cipais falhas de mercado: ■ Estruturas ou condutas não competitivas: estruturas como monopólio e oligopólio, que são decorrentes das economias de escala. Como as estrutu- ras atuais de mercado são oligopolizadas, a política industrial toma lugar por meio da regulação do poder de mercado das grandes empresas, bus- cando evitar a perda de bem-estar da sociedade. ■ Externalidades: ocorrem quando as decisões dos agentes influenciam nega- tivamente ou positivamente outros agentes. Podemos citar o exemplo da POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E142 poluição como externalidade negativa. Uma empresa pode produzir polui- ção juntamente com seus produtos, o que vai afetar outro setor, causando a ineficiência dos recursos, pois a produção do setor afetado poderá diminuir. ■ Bens públicos: as falhas de mercado podem envolver também o forne- cimento de bens públicos. Os bens públicos possuem as características de não-exclusividade e não-rivalidade, que significam, respectivamente, que o uso do bem público não pode ser atribuído exclusivamente a um único agente econômico; e que o fato de um consumidor a mais se utili- zar do bem público não vai alterar o seu custo. Essas duas características dão margem ao comportamento oportunista denominado free rider, no qual há possibilidade de usar em pagar. ■ Bens de propriedade comum: da mesma forma, os bens de propriedade comum estimulam comportamentos oportunistas, pois, como não são apropriados de maneira individual, as pessoas podem ser incentivadas à falta de cuidado. ■ Diferenças entre preferências intertemporais privadas e públicas: exis- tem quando os agentes privados divergem na opinião de consumir um bem agora ou no futuro. Segundo a perspectiva ortodoxa, a política industrial somente seria utilizada para correção, buscando diminuir os impactos das falhas de mercado. POLÍTICA INDUSTRIAL PELA ÓTICA DESENVOLVIMENTISTA Esta corrente defende a atuação do mercado não somente em situações correti- vas, mas também como um elemento ativo. Em seu entendimento, a intervenção pode ser utilizada de maneira a promover e apoiar a indústria nascente, promo- vendo e sustentando, assim, o desenvolvimento. A intervenção do Estado, buscando o desenvolvimento das forças produti- vas por meio da proteção da indústria, segue duas premissas básicas: os custos de produção altos, inicialmente, tendem a se reduzir conforme é adquirido o aprendizado e, com a diminuição desta desvantagem, a proteção seria temporária. Política Industrial Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 143 Os desenvolvimentistas destacam a importância do capital intelectual e do learning by doing para a obtenção de um processo de emparelhamento (catchin- g-up) aos líderes internacionais. O desafio dessa corrente é a capacidade do Estado em evoluir sua forma de intervenção, adaptando-se às mudanças da indústria, visto que, com o passar do tempo, a indústria amadurece e a intervenção deve ser diminuída para que sejam predominantes as decisões privadas. Política Industrial pela Ótica da Competência para Inovar Nesta ótica, são destacadas as relações entre estrutura de mercado, estratégia empresarial e progresso técnico. Sob este ponto de vista, é rejeitada a ideia de equi- líbrio de mercado, informação perfeita e racionalidade dos agentes. Acredita-se que a competição é o principal movimentador das interações estratégicas e da rivalidade entre os agentes. Para entendermos essa abordagem, existem quatro conceitos-chaves: ■ A competição es dá por meio da inovação tecnológica. ■ São obtidas vantagens no aprendizado por meio das interações entre os agentes econômicos. ■ São definidas estratégias a serem seguidas e os recursos são alocados nas capacitações tecnológicas, as quais buscam eficiência e diferenciação dos produtos. ■ O ambiente e o processo seletivo são importantes, pois neles as melho- res práticas se tornam referência e direcionam a conduta dos agentes econômicos. A argumentação de origem schumpeteriana parte do processo da concorrên- cia pela inovação, que, devido à presença de incertezas, dá espaço à intervenção pública. Nesse sentido, a política industrial e tecnológica dá espaço à política de inovação. A intervenção envolve importantes investimentos e orientação das ações voltadas às instituições que compõem o sistema inovativo local ou nacional: científicas, tecnológicas e de recursos humanos. POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E144 POLÍTICA INDUSTRIAL NA PRÁTICA As políticas industriais podem ser chamadas de horizontais (ou funcionais), quando são pautadas no alcance global e podem ser verticais (ou seletivas), quando buscam fomentar as indústrias e cadeias produtivas. As políticas indus- triais horizontais podem ser executadas por meio de instrumentos de: ■ Repressão das condutas anticompetitivas e controle dos atos de concen- tração dos mercados. ■ Privatizações e controle de preços. ■ Utilização de política tarifária e não tarifária, para prevenir a concorrên- cia desleal. ■ Propriedade intelectual - marcas, patentes e transferência de tecnologias. As políticas industriais horizontais podem ser executadas por incentivos de: ■ Inovação, por meio da promoção da Pesquisa e Desenvolvimento. ■ Ao capital, por meio de estímulos ao financiamento e às exportações e financiamento de importações. ■ Fiscais, para a promoção das atividades industriais. ■ Compras de governo, privilegiando produtores locais. As políticas industriaisverticais privilegiam uma indústria específica. Portanto, o Estado mobiliza alguns dos instrumentos anteriormente citados, de forma a foca- lizar em um conjunto de empresas. Comumente, são direcionadas à indústrias que causam um grande incremento da renda, que concentram grande quantidade de trabalhadores (o que geraria mais renda), indústrias com grande poder de enca- deamento e também indústrias nascentes ou que apresentem retornos de escala. Política Ambiental Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 145 Os países costumam adotar políticas horizontais e verticais simultaneamente, embora a tendência para uma ou outra se altere ao longo do tempo, conforme as condições da economia do país. POLÍTICA AMBIENTAL Estas políticas aplicadas pelo governo buscam reduzir os impactos ambientais causados pelo homem e têm sido, cada vez mais frequente, devido ao aumento da sua importância, principalmente nos países industrializados. Cada país tem seus instrumentos de política ambiental específicos, que são necessários para fazer com que os agentes econômicos adotem atitudes menos agressivas ao meio ambiente, reduzindo a emissão de poluição e a degradação dos recursos naturais. A produção industrial intensiva gera rejeitos em grande quantidade, os quais a natureza não tem dado conta de absorver. Essa poluição causa efeitos negativos ao bem-estar da população, afetando a qualidade dos recursos naturais e a har- monia dos ecossistemas, sem contar que, tendo uma qualidade de vida menor, a população acaba por ocasionar aumentos dos gastos com saúde por parte do governo. A poluição industrial está associada à especialização da economia e à escala de produção. Quanto maior a escala de produção, maiores são as emis- sões de poluentes. A respeito dos problemas de implementação das políticas industriais e tec- nológicas de países que tentam alcançar economias líderes, acesse o traba- lho de Suzigan e Furtado (2010) disponível em: . Fonte: a autora. POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E146 A legislação ambiental passou a evoluir a partir do século XX, de forma que as políticas ambientais são bastante recentes. Devido ao rápido processo de indus- trialização, à falta de estrutura, à acumulação de poluentes e resíduos se deu a necessidade da intervenção buscando regular a conduta dos agentes. SOLUÇÕES ECONÔMICAS Uma das soluções econômicas para os problemas ambientais é a livre nego- ciação, na qual poluidores e vítimas da poluição negociam uma quantidade de poluição aceitável. Ronald Coase argumenta que a solução para os problemas da poluição pode ser a livre negociação entre os envolvidos, que chegariam a um consenso, resultando em uma solução ótima. A hipótese básica é que quanto maior a redução da polui- ção, maior será o custo marginal de abatê-la. Porém, essa negociação, muitas vezes, não é possível, pois não há como reunir muitas vítimas e muitos poluidores, além do fato de que não existe a definição dos direitos de propriedade sobre o ambiente. A livre negociação só é possível em casos particulares, devido ao alto custo da transação, que talvez não compense os ganhos obtidos; aos problemas ambien- tais afetarem bens que não têm direito de propriedade definidos; aos problemas ambientais, muitas vezes, afetarem gerações futuras e não haver um consenso a respeito de quem irá negociar em nome delas. Política Ambiental Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 147 INSTRUMENTOS DE POLÍTICA AMBIENTAL Com o intuito de internalizar as externalidades ambientais, os instrumentos de política ambiental podem ser divididos entre instrumentos de comando-e-con- trole, instrumentos econômicos e instrumentos de comunicação. Os instrumentos de comando-e-controle, ou de regulação direta, compreen- dem controles de produtos e processos ou restrições de atividades, especificações tecnológicas, controle do uso de recursos naturais e padrões de poluição para fon- tes específicas. Esses instrumentos são o controle direto sobre os locais que estão emitindo poluentes e é necessária uma fiscalização contínua por parte dos órgãos reguladores. Envolvem a exigência da utilização de filtros nas chaminés indus- triais, por exemplo, ou, ainda, a fixação de cotas para extração de recursos naturais. Os instrumentos econômicos são também chamados de instrumentos de mer- cado, visam a internalização das externalidades e possuem algumas vantagens em relação aos instrumentos de regulação direta: ■ Permitem a geração de receitas fiscais e tarifárias, por meio das cobran- ças dos órgãos reguladores. ■ Alocam, de maneira mais eficiente, os recursos econômicos à disposição da sociedade, portanto, os custos econômicos à sociedade são menores. ■ Possibilitam o estímulo de tecnologias menos intensivas em bens e ser- viços ambientais por meio da redução da despesa fiscal. ■ Atuam no início do processo de uso desses bens e serviços. ■ Evitam despesas judiciais para aplicação das penalidades. ■ Utilizam taxação progressiva à capacidade de pagamento dos agentes. Quais questões você acha que estão envolvidas quando se fala na falsa cren- ça de que a miséria das pessoas favorece e estimula a degradação ambiental? POLÍTICAS E REGULAÇÃO ECONÔMICA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. VU N I D A D E148 São exemplos desses instrumentos os empréstimos com taxas menores para agen- tes que queiram melhorar o seu desempenho ambiental, por exemplo. Ovs instrumentos de comunicação são utilizados por meio da conscientização dos agentes sobre os diversos impactos ambientais das suas ações, incentivando a busca de soluções. São exemplos a educação ambiental e a divulgação dos bene- fícios para as empresas que respeitam o meio ambiente. O comércio internacional, quanto aos problemas ambientais, causa danos devido ao uso dos produtos e devido aos processos de produção utilizados, que podem ser: ■ Poluição que cruza as fronteiras com outros países, afetando-os negativamente. ■ Prejuízos causados às espécies migratórias, que são recursos comuns e podem estar ameaçados de extinção. ■ Quando a poluição afeta os recursos comuns a todos os países, prejudi- cando o meio ambiente global. ■ Quando os danos ambientais ultrapassam os limites geográficos do país, causando preocupação com o meio ambiente local. Para diminuir esses problemas, alguns países podem se utilizar da imposição de barreiras verdes, nas quais eles restringem as exportações e, consequentemente, a produção, a renda e o emprego. Sousa (2005), em seu trabalho, apresenta a evolução da política ambiental brasileira no século XX e como ela se desenvolveu, considerando marcos im- portantes em todo o mundo. Acesse o artigo no link disponível em: . Fonte: a autora. Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 149 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste estudo, aprendemos que a defesa da concorrência pode ser implemen- tada por meio das condutas, punindo práticas anticompetitivas, e também, por meio de práticas voltadas ao caráter estrutural, as quais evitam a concentração de mercado. A política de defesa da concorrência busca defender a concorrên- cia, evitando danos que podem ser causados aos agentes econômicos em caso da existência de poder de mercado, levando ao aumento do bem-estar da sociedade. As condutas anticompetitivas que são combatidas pela defesa da concor- rência são divididasem horizontais e verticais. As horizontais correspondem a práticas de acordos entre concorrentes para aumentar o poder de mercado. Enquanto as verticais envolvem práticas entre compradores e vendedores ao longo da cadeia produtiva. As regulações econômicas de preços feitas pelo governo podem ser de várias formas: por meio da fixação de tarifas que garantem uma taxa de retorno às empre- sas; da fixação de um limite superior de preços; utilização do preço eficiente; estabelecimento de preços de maneira a minimizar as perdas dos consumidores e a utilização da tarifa em duas partes. No terceiro tópico, abordamos a função da política industrial na atividade econômica. Vimos que os neoclássicos acreditam ser desnecessária a interven- ção do governo por meio da política industrial, a não ser em casos de falhas de mercado. Os desenvolvimentistas defendem a intervenção como um elemento ativo, levando as indústrias ao desenvolvimento e se reduzindo com o passar do tempo. Enquanto os schumpeterianos acreditam que a concorrência se dá pela inovação e que a política industrial dá espaço à política de inovação. Finalmente, vimos que cada país adota instrumentos de política ambien- tal específicos aos seus problemas, buscando reduzir a poluição e a degradação dos recursos naturais. Apesar da legislação ambiental ser recente, existem vários instrumentos de política ambiental que buscam internalizar as externalidades ambientais. 150 1. A lei antitruste de defesa da concorrência reprime o abuso do poder e a elimina- ção da concorrência, buscando combater condutas que interfiram na ordem eco- nômica. Assinale a alternativa que não corresponde às práticas anticompetitivas. a) A proibição, nos cinemas, de entrar com alimentos de fora do estabeleci- mento, de forma que caso você deseje consumir algo, precise adquirir nos guichês do estabelecimento. b) Compra de um refrigerante pelo consumidor na conveniência de um posto onde realizou o abastecimento de seu carro. c) Lanchonetes que atrelam à venda de lanches infantis ao recebimento de brinquedos. d) Financiamento habitacional que deve ser vinculado a seguro adquirido na mesma unidade financiadora. e) Compras de passagens vinculadas à contratação de hotel e serviços de pas- seio pelas agências de viagens. 2. Em que momento se deu o aumento da preocupação com o meio ambiente e quais os instrumentos econômicos utilizados para a diminuição dos problemas ambientais? 3. A política industrial, pela ótica das falhas de mercado, diz respeito à interven- ção do Estado no mercado. Fale sobre a visão neoclássica quanto à política industrial. 4. A abordagem chamada de princípio da razoabilidade (rule of reason) teve ori- gem na jurisprudência americana. O que ela nos diz a respeito da eficiência e da ineficiência? 5. A regulação de preços envolve a intervenção do governo de maneira a limitar as escolhas dos agentes econômicos. Quais são as formas utilizadas pelo go- verno nesse tipo de intervenção? 151 As Agências Reguladoras fiscalizam os serviços públicos que são oferecidos pela iniciati- va privada em determinados setores da economia. A Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária - é uma das agências reguladoras que atua como forma de autarquia do governo e é vinculada ao Ministério da Saúde. Essa agência reguladora atua na regulamentação, no registro e nas autorizações, na fiscalização e no monitoramento de agrotóxicos, alimentos, cosméticos, medicamentos, entre outros itens os quais é necessário o controle sanitário. No assunto agrotóxicos, a agência desenvolve o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), iniciado em 2001, buscando avaliar, de forma contí- nua, os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos vegetais consumidos, indicando a ocorrência de resíduos de agrotóxicos em alimentos (ANVISA, [2018], on-line)2. Quanto aos cosméticos, um exemplo são as orientações sobre alisantes de cabelos. A es- Tes se recomenda, devido à existência de substâncias que são irritantes para a pele, que sejam obrigatoriamente registrados na Anvisa, e é feita, ainda, a recomendação de que substâncias como formol e glutaraldeído não são permitidos como alisantes (ANVISA, [2018], on-line)2. A agência atua também na realização de pesquisa, como em relação aos medicamentoS genéricos, como a explicação contida no trecho a seguir: O medicamento genérico é aquele que contém o(s) mesmo(s) princípio(s) ativo(s), na mesma dose e forma farmacêutica, é administrado pela mes- ma via e com a mesma posologia e indicação terapêutica do medicamen- to de referência, apresentando eficácia e segurança equivalentes à do me- dicamento de referência e podendo, com este, ser intercambiável. A intercambialidade, ou seja, a segura substituição do medicamento de referência pelo seu genérico, é assegurada por testes de equivalência tera- pêutica, que incluem comparação in vitro, através dos estudos de equiva- lência farmacêutica e in vivo, com os estudos de bioequivalência apresen- tados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, [2018], on-line)4. No site da Anvisa, também são disponibilizados, além de serviços às empresas e aos pro- fissionais de saúde, serviços aos consumidores de grande utilidade, como: consulta de drogarias e farmácias, consulta de produtos que são irregulares, consulta de empresas autorizadas e registro de produtos, entre outras informações de medicamentos. Fonte: a autora. MATERIAL COMPLEMENTAR A lei antitruste busca punir práticas anticompetitivas que fazem uso do poder de mercado para restringir a produção e aumentar os preços. No endereço eletrônico indicado é possível consultarmos a Lei Antitruste Brasileira. Web: . A Última Hora (2007) Sinopse: Causadas pela própria humanidade, enchentes, furacões e uma série de tragédias assolam o planeta cotidianamente. O documentário mostra como a Terra chegou a este ponto: de que forma o ecossistema tem sido destruído e, principalmente, o que é possível fazer para reverter este quadro. Entrevistas com mais de 50 renomados cientistas, pensadores e líderes ajudam a esclarecer estas importantes questões e a indicar as alternativas ainda possíveis. Política Industrial Maria Tereza Leme Fleury e Afonso Fleury (Organizadores) Editora: Publifolha Sinopse: a obra traz artigos que discutem em profundidade aspectos importantes da política industrial brasileira, analisando as ações do passado e lançando propostas para o futuro. Os autores deste volume debatem, entre outros temas, critérios e eixos para a formulação de uma política industrial no Brasil e o alinhamento dessa política com os diferentes arranjos produtivos. O livro é organizado pelos professores Afonso Fleury e Maria Tereza Fleury, ambos da Universidade de São Paulo (USP). REFERÊNCIAS 153 KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia Industrial: fundamentos teóricos e práti- cas no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002. PONDÉ, J. L.; FAGUNDES, J.; POSSAS, M. Custos de transação e políticas de defesa da concorrência. Revista de Economia Contemporânea, v. 1, n. 2, p. 115-135, 1997. SUZIGAN, W.; FURTADO, J. Instituições e políticas industriais e tecnológicas: refle- xões a partir da experiência brasileira. Estudos Econômicos. São Paulo, v. 40, n. 1, p. 7-41, 2010. REFERÊNCIAS ON-LINE 1 Em: . Acesso em: 19 set. 2018. 2 Em: . Acesso em: 19 set. 2018. 3 Em: . Acesso em: 19 set. 2018. 4 Em: . Acesso em: 19 set. 2018. REFERÊNCIAS GABARITO 1. b. 2. Quando os danos ambientais ultrapassam os limites geográficos do país é que surge a preocupação com o meio ambiente. Para diminuir esses problemas, al- guns países podem se utilizar da imposição de barreiras verdes, nas quaisos lucros excessivos de maneira igual. Como muitas empresas grandes são diversificadas, foi mais pertinente analisar as grandes empresas e não mais os mercados (indústrias), o que tornou questio- nável o objeto de análise do modelo ECD. O principal questionamento do paradigma foi a endogeneidade: considerando que cada empresa escolhe seu nível de produção de acordo com os custos, as suas demanda e expectativas, o preço de mercado e os produtos para uma indústria em equilíbrio são conjuntamente determinados. Isso implica que o grau de concen- tração e os lucros são variáveis endogenamente e não exista relação de causalidade predefinida. Persistindo a endogeneidade, a ideia de concorrência deveria resolver variáveis mais complexas, e entre estas, estaria a conduta das empresas. A questão da endogeneidade foi o ponto de partida, no início da década de 70, de uma corrente alternativa fundamentada na teoria dos jogos. Nessa corrente, a ideia inicial do ECD foi deixada de lado. Formulou-se um comportamento de equilíbrio das empresas, no qual elas ajustam quantidades, preços e outras vari- áveis, voltando aos modelos de Cournot, Bertrand, Nash ou outros, ligados, aos primórdios, à origem das teorias de oligopólio. Fazendo uma comparação com o modelo ECD, as condições básicas e as condutas são exógenas na teoria dos jogos, enquanto a estrutura e o desempe- nho são as variáveis endógenas. As condutas são baseadas em expectativas e existe a possibilidade de incertezas em relação ao futuro. Apesar das críticas, o modelo ECD fornece ideias e conceitos, resultados empíricos acerca da estrutura e do desempenho no mercado, sendo um guia para a ação política por meio das autoridades regulatórias. Os anos 80, porém, trouxeram questões impossíveis de serem tratadas pelo modelo ECD, devido à sua fragmentação. Escopo e História da Economia Industrial Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 A Abordagem Alternativa Esta estrutura teórica entende que os agentes agem racionalmente e seu compor- tamento é considerado dado, maximizam suas funções de preferências, focando no equilíbrio e excluindo as incertezas. Buscam-se visões evolucionistas do pro- cesso de concorrência, porém as colocações ainda são muito dispersas. A preocupação central é a lógica do processo de inovação e seus impac- tos sobre a atividade econômica. As ideias principais, em torno de instituições, hábitos, regras e sua evolução, buscam facilitar a análise, ao invés de construir um único modelo geral. Com maior ênfase em especificidades, essa abordagem parte das ideias gerais em relação ao homem, às instituições e à natureza evolucionária dos processos econômicos para ideias e teorias específicas, relacionadas com instituições eco- nômicas singulares ou tipos de economia. Se existe teoria geral, ela indica como desenvolver análises específicas de fenômenos também específicos. A questão central é tratar a inovação e, a partir dela, a concorrência, como um processo dependente do tempo, lógico e cronológico. Busca-se tratar vari- áveis dependentes do passado, por isso, é necessário considerar o passado e o futuro, devido às condições de incerteza. Empresas, Mercados e Economia Institucional As relações entre empresas, mercados, instituições e processos são o eixo da Economia Industrial, e seu objetivo é o estudo do funcionamento dos mercados. O desafio e a motivação da disciplina é verificar até que ponto se pode fazer uma generalização da dinâmica de mercado sem que seja feito um resgate histórico. A evolução das tecnologias atribuiu à economia industrial um lugar impor- tante na análise econômica contemporânea. No Brasil, o interesse pelo assunto cresceu nos anos 80 e 90, com a conclusão da matriz industrial e a abertura comercial, respectivamente, e o aumento da concorrência entre as empresas. A concorrência é o fenômeno mais característico das economias capitalis- tas, ao mesmo tempo que é de uma grande complexidade, divergindo bastante entre as formulações teóricas: EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 ■ Tradicional - a concorrência surge como equilíbrio gerado por meio da transformação de todos os agentes em tomadores de preços. Enquanto que, na NEI, a concorrência é como um jogo, no qual as empresas dispu- tam parcelas de um mercado e os lucros mediante alterações de preços, esforço de venda, diferenciação de produtos e outras. ■ Alternativa - a concorrência surge quando cada agente busca se diferenciar para obter ganhos monopólicos, sendo que a inovação é o principal fator gerador. O mercado é o espaço no qual se definem preços e quantidades das mercadorias de acordo com a oferta e a demanda. Cada mercado tem um tipo de concorrên- cia que depende das características estruturais e das condutas praticadas pelas empresas, o que também é alvo de debate entre as correntes. NATUREZA, OBJETIVOS E ESTRUTURA DA EMPRESA A natureza e os objetivos da empresa compõem uma grande diversidade de fato- res dentro da Economia Industrial, que são explicadas por Chandler e Penrose. De acordo com as definição de Chandler (1992), a empresa é uma entidade legal e administrativa, com estabelecimentos de contratos e divisão do traba- lho que, em nome da busca dos lucros, tem sido a representação de economias capitalistas, produzindo bens e serviços e servindo para alocação da produção e distribuição futuras. De maneira a complementar essa definição, Penrose (1959) diz que a empresa não é algo observável fisicamente e é de difícil definição quanto ao que é feito por ela. Dessa forma, cada análise deve considerar as características e definir a empresa de acordo com o próprio interesse. Primeiro, vamos nos concentrar na natureza e nos objetivos e deixar pra depois os conceitos de empresa e quais são realmente os seus objetivos. Vamos nos concentrar em como a economia os retratam. Natureza, Objetivos e Estrutura da Empresa Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 ANTES DA ESCOLA NEOCLÁSSICA A escola neoclássica não definia um órgão como empresa de forma específica, o que era identificado eram as empresas familiares, que não faziam separação entre patrimônio da família e das empresas. Portanto, a empresa, nesta época, identificava-se como empresa capitalista, buscando acumular capital em um ambiente que era competitivo e formado pelo sistema capitalista em expansão. Fica por conta da escola clássica os elementos da teoria da produção, como a lei dos rendimentos, que procurava relacionar a ampliação das atividades eco- nômicas com a produtividade. Assim, Adam Smith propôs que, quanto mais amplo o mercado, maior seria a divisão do trabalho, o que viria a ser mais tarde a lei chamada de rendimentos decrescentes, apontada, também, por Ricardo acerca da agricultura. NA ESCOLA NEOCLÁSSICA A escola neoclássica trouxe para a discussão, na economia, a questão da aloca- ção de recursos escassos em necessidades limitadas, que já era presente na escola clássica, porém agora acompanhada da discussão dos valores das mercadorias. EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 A versão de equilíbrio parcial, de Marshall, vê a empresa como um agente tomador de decisões acerca da produção e do tamanho da planta, juntamente com as entradas e saídas de mercados, o que faz com que as decisões de aplicações de recursos sejam afetadas. As decisões individuais das empresas são tomadas buscando a maximização dos lucros e a maior lucratividade. Assim, a empresa é o local onde se faz a combinação de fatores para pro- dução de produtos, sendo sujeita à lei dos rendimentos, que são a base para os custoseles restringem as exportações e, consequentemente, a produção, a renda e o em- prego. 3. A visão neoclássica considera que a livre mobilidade dos fatores nos mercados competitivos faz com que a política industrial, além de desnecessária, seja con- siderada indesejada. A intervenção do governo seria necessária somente se o mecanismo de preços não fossem capazes de captar os benefícios e custos de oportunidade associados à produção e ao consumo de bens, ou seja, quando ocorrem as falhas de mercado. 4. A abordagem chamada de princípio da razoabilidade (rule of reason) diz que a existência de eficiências que compensam os efeitos líquidos devem ser anali- sadas caso a caso, pois, o que importa, em cada caso, são os efeitos líquidos. Como a lei busca reprimir as ineficiências, ela não será utilizada em casos em que as condutas gerem ganhos de eficiência e, se o fizer, pode causar ineficiências maiores do que as que busca combater. 5. Regulação por taxa de retorno: quando o regulador estabelece tarifas para cada tipo de produto ou serviço da empresa, de forma a garantir uma taxa de retorno que assegure o prosseguimento das atividades; Preço-teto (price cap): essa for- ma de regulação consiste em estabelecer um limite superior de preços, de forma que a empresa regulada não possa passar deste limite; Regra de Preço eficiente: é utilizada em casos em que uma empresa precise utilizar a infraestrutura de uma rival ou que haja problemas de interconexão; Regra de Ramsey: os preços dos produtos ou serviços são estabelecidos de forma a minimizar as perdas dos consumidores geradas pela necessidade do monopolista de cobrir os seus cus- tos totais; e Tarifa em duas partes: é calculada por meio de uma taxa fixa para o rendimento total, independentemente da venda, e uma taxa por unidade efeti- vamente utilizada. GABARITO CONCLUSÃO 155 Caro(a) aluno(a), esperamos ter contribuído com conhecimentos, com a sua forma- ção acadêmica, a sua atuação no mercado de trabalho ou com o gerenciamento da sua própria organização. Enfatizou-se que as organizações são um conjunto de recursos tangíveis, intangíveis e humanos, interdependentes e integrados, que precisam ser orientados por um ou mais objetivos. A Controladoria é uma ciência multidisciplinar em construção que colabora para organização atingir os seus objetivos em curto, médio e longo prazos. Verificou-se que o planejamento estratégico e o planejamento operacional de- vem ser consonantes à missão, à visão e aos valores. Além disso, a missão, a visão e os valores colaboram para a disseminação dos objetivos da organização aos seus funcionários e demais stakeholders. Foi visto que o orçamento é uma previsão anual das entradas e saídas de recursos da organização, produzido em bases sistemáticas e mediante capacidades reais da empresa. A descentralização pode corroborar para a qualidade das tomadas de de- cisão, contudo, ela demanda indicadores adicionais para mensurar o desempenho dos responsáveis pela gestão. A Governança Corporativa, os controles internos e o gerenciamento de riscos são funções e modelos de gestão que corroboram para a organização atingir os seus objetivos, utilizando os recursos tangíveis, intangíveis e humanos com responsa- bilidade. Nada obstante, você constatou a importância de congregar informações financeiras e não financeiras para subsidiar as tomadas de decisão dos gestores. A Controladoria é capaz de proporcionar mudanças estratégicas e identificar novas formas de criar valor nas organizações. Por meio do assessoramento de informa- ções, ela pode corroborar para o alinhamento dos objetivos estratégicos e das ativi- dades da organização. Desejamos boa sorte, muita saúde e sucesso para a conclusão de sua jornada aca- dêmica! CONCLUSÃO ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES 157 ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES 159 ANOTAÇÕESmédio e marginal de curto e longo prazo. Na teoria de equilíbrio geral de Walras, a empresa é vista como os empresários deman- dantes de fatores e como ofertantes no mercado de bens. O lucro extraordinário, que os empresários esperam, é anulado pela concorrência, de forma que não resta ao empresário remuneração excedente além daquela remuneração dos fatores de pro- dução para aqueles que são proprietários. Seu papel de auxiliar na compra e venda de fatores, bens e serviços, de maneira a igualar a oferta e demanda não é remunerado. A compreensão das atividades econômicas e das empresas pode ser apro- fundada por meio da consideração de instituições, inclusive a discussão acerca da natureza da empresa, que é considerada uma organização hierárquica. • Empresas como instituições Para Coase (1937), a empresa é vista como um arranjo institucional o qual esta- belece um vínculo duradouro entre fatores de produção, ou seja, fatores para assumir a tarefa por tempo indeterminado. Portanto, as empresas podem alo- car os recursos de duas formas: pelo mercado e hierárquica, sendo a primeira Você lembra o que compõe a definição de curto prazo? Natureza, Objetivos e Estrutura da Empresa Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 mais flexível. Porém as duas maneiras podem coexistir, pois apresentam vanta- gens, como a economia dos custos de transação. A ineficiência é gerada quando chega ao ponto em que se perde a economia dos custos de transações pela ineficiência gerencial. Dessa forma, a empresa, para Coase (1937), é uma hierarquia que economiza custos de transação e deve ser entendida como um desenvolvimento teórico da abordagem clássica, pois mantém o problema da alocação de recursos e a análise marginal para obtenção do tamanho ótimo. • Outras visões das empresas como instituições Marshall (1920), precursor da expressão capacitações organizacionais, é um dos autores críticos das discussões neoclássicas das empresas. Fundador da vertente neoclássica de análise do equilíbrio parcial, Marshall utilizou a figura de uma empresa idealizada, desenvolvida o suficiente para capa- citações que representem o desenvolvimento geral da indústria e do conjunto de empresas produtoras da mercadoria. Para Marshall (1920), as empresas sobrevivem e se desenvolvem caso tenham um fundador que apresentem soluções aos problemas organizacionais, e técni- cas de produção, comercialização e relacionamentos com os fornecedores. Uma vez que a empresa se mantém e cresce, o fundador precisa resolver os problemas de crescimento, que se faz sobre rendimentos crescentes. Ele explica, ainda, que as maiores empresas se beneficiam dos instrumentos acessíveis às empresas maiores que, juntadas às vantagens dinâmicas referentes à expe- riência e aos conhecimentos acumulados e a uma estrutura organizacional que está em amadurecimento, faz com que quanto maior a empresa, mais competitiva ela seja. Uma empresa que se torna grande não necessariamente monopoliza o mer- cado. Quando as vantagens de tamanho são retidas internamente, de maneira que a gerência seja passada de geração a geração, sem seleção no mercado e sem con- viver em um ambiente em constante mudança fazem com que as boas práticas desenvolvidas anteriormente fiquem no passado e causem a decadência da empresa. EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 • Gerencialistas e Penrose Os gerencialistas não aceitam o processo de maximização de lucros como deter- minante do comportamento das empresas. Consideram um elemento-chave a separação entre o controle e a propriedade, uma característica organizacional que envolve incumbir a função de gerente a alguém que tenha objetivos próprios, nem sempre paralelos aos da empresa. Um gerente profissional, por exemplo, trocaria um lucro maior por um prestígio maior entre o gerentes existentes. Penrose (1959), em sua teoria da empresa, busca reunir e combinar recursos, adquirindo conhecimento e experiência ao longo do tempo, que irão contribuir para o trabalho em equipe e fazer com que a trajetória dessa empresa seja única (o que vai contribuir para que ela tenha o caráter de trabalho em equipe). Em um ambiente hierárquico e com elaboração de estratégias, destaca-se o capital humano que adquire a experiência e busca, de forma ampla, o crescimento da empresa como um todo, abrangendo diversos objetivos. • A visão neoschumpteriana Nesta teoria, a empresa é considerada como um agente que acumula capacidades organizacionais. Para os autores representantes desta corrente, Nelson e Winter, as empresas seguem rotinas que foram adquiridas por meio da experiência e, assim, coordenam as suas atividades. Os conhecimentos são intransferíveis de maneira formal e não bastam mais só os equipamentos e seus manuais, os conhe- cimentos incluem a produção, transmissão e interpretação dos conhecimentos que ocorrem dentro da empresa. As rotinas serem utilizadas como comportamento das empresas não significa que o comportamento delas seja imutável. Quando são introduzidas inovações, as rotinas podem se desenvolver ou ser adotadas novas em lugar das anteriores. Natureza, Objetivos e Estrutura da Empresa Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 ESTRUTURA DA EMPRESA A empresa como instituição busca o crescimento e a acumulação de capital, sendo que a diversificação é uma das principais formas de expansão. Uma empresa diversificada pode apresentar diversas formas de organização interna, classifi- cadas por Williamson (1975) e Chandler (1962) como formato unitário (forma de U) e empresa multidivisional (forma de M). As empresas em formato unitário se organizam para serem funcionais, com- postas por divisões com características particulares que são priorizadas em relação à linha de produtos gerados, e cada divisão se envolve com uma linha de pro- dutos. A dificuldade dessa estrutura é que os recursos são distribuídos entre as divisões por meio da barganha de interesses, o que pode fazer com que se deixe de prestar atenção às oportunidades oferecidas pelos produtos no seu mercado. As empresas em formato multidivisional possuem um sistema organizado de acordo com o produto ou a região geográfica e comportam-se de maneira individualizada. A empresa diversificada é composta por quase empresas, res- ponsáveis pelo atendimento de um único mercado. O formato multidivisional é associado à descentralização produtiva, ou seja, cada quase empresa atua em um espaço próprio. Associado também à concen- tração decisória, os recursos dessas quase empresas são alocados de maneira centralizada. As empresas diversificadas podem se classificar nos seguintes mode- los organizacionais: ■ Empresa multiproduto: é aquela que produz vários bens que são vendidos em mercados diferentes, mas relacionados em sua fabricação, marke- ting e P&D. ■ Empresa verticalmente integrada: quando a empresa atua em vários está- gios da cadeia produtiva, geralmente aproveitando economias de escala para diminuir os custos de produção. ■ Conglomerado gerencial: empresa que está em vários mercados pro- duzindo produtos pouco relacionados entre si. Caracterizada pela capacitação empresarial em comum. EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 ■ Conglomerado financeiro: empresa que está em vários mercados pro- duzindo produtos pouco relacionados entre si. A ligação se dá pelos controles financeiros. ■ Companhia de investimento: é baseada na distribuição dos recursos entre atividades não relacionadas, porém com grande volatilidade. Se as ativida- des não apresentarem o retorno esperado, a empresa poderá retirara-las do seu portfóliode negócios. CONCEITOS DE INDÚSTRIA E MERCADO E CADEIAS PRODUTIVAS No âmbito da concorrência perfeita e do monopólio, o mercado é considerado um espaço abstrato em que oferta e demanda se encontram, adotando uma noção de produto bem definida e distinguida pelos consumidores. Reflete o conjunto de empresas produtoras de uma mercadoria, de forma que a indústria corres- ponde a um mercado. O conceito de indústria assumido pela escola tradicional neoclássica expressa espaços bem delimitados de competição. A crescente diferenciação do produto faz com que seja heterogêneo na visão dos consumidores. Por isso, os esforços competitivos são direcionados ao mer- cado, procurando atender à demanda por produtos substitutos próximos entre si. A indústria é composta pelas empresas que produzem mercadorias que são substitutas próximas, e as fornecem ao mesmo mercado. Quando falamos de mercado, nos referimos às empresas que produzem de forma semelhante diversos produtos que são relacionados entre si, constituindo um grupo de empresas com modos produtivos semelhantes. A delimitação dos mercados e das indústrias não é isolada, nem quanto aos produtos, nem quanto aos objetivos de concorrência e de expansão. É difícil definir um grupo de produtos e quais as empresas que fazem parte do mercado e, dessa forma, da análise de concorrência. Para isso, utiliza-se a definição das cadeias produtivas e complexos industriais, nos quais são privilegiados movi- mentos concorrenciais. Conceitos de Indústria e Mercado e Cadeias Produtivas Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 O aumento da interdependência entre os setores tem surgido pela introdução de novos métodos e novas técnicas de gestão, assim como a generalização e as for- mas de parcerias e cooperação, que representam a necessidade do aumento da eficiência na operação entre os setores, buscando a utilização da produção em escala e escopo, o que ocorreu na Revolução Industrial de fins do século XIX. O aumento da área de concorrência faz com que esta deixe de ser apenas nos mercados imediatos, para incorporar, também, mercados acima e abaixo da cadeia produtiva em que determinada empresa atua. Criadas pelo processo de especialização, as cadeias produtivas surgiram do aumento da divisão do traba- lho e do aumento da dependência entre os agentes econômicos. Cadeia produtiva são as sucessivas etapas pelas quais os insumos passam e vão sendo transformados. É possível que se tenha uma cadeia produtiva empre- sarial, por exemplo, em que cada etapa representa uma empresa. Isto facilita as análises empresariais, de tecnologia e planejamento do desenvolvimento. De maneira agregada, temos as cadeias produtivas setoriais, em que as etapas são os setores econômicos e os intervalos entre eles. As cadeias são concorrentes quando seus produtos finais são direcionados a um mesmo mercado (produtos substitutos) e as cadeias são interdependentes entre si. O nível de desagregação está entre o das cadeias empresariais e seto- riais. São exemplos as cadeias nas quais os produtos têm a mesma função, porém EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 insumos diferentes, como as manilhas de concreto, que estão em uma cadeia, e as manilhas de cerâmica, que estão em outra. De acordo com Castro et al. (1994), a cadeia produtiva é “o conjunto de com- ponentes interativos, incluindo os sistemas produtivos, fornecedores de insumos e serviços, indústrias de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização, além de consumidores finais ”. O autor afirma ainda que as cadeias produtivas buscam suprir as necessidades do consumidor final de alguns produtos. É comum o entrelaçamento entre as cadeias produtivas, se separam ou se juntam, mas não há motivos para acharmos que a teia de cadeias produtivas vá se espalhar de maneira uniforme. Se isso acontecesse, as cadeias produtivas seriam agregadas em blocos, de forma que o valor médio das compras e vendas entre setores de um bloco seja maior que esse valor em outros blocos. Esses blo- cos são chamados de complexos industriais. ECONOMIAS DE ESCALA E ESCOPO Os custos considerados pelos economistas envolvem o processo decisório, por isso são considerados, também, os custos que podem ocorrer no futuro e as manei- ras de reduzir esses custos. Esses custos são os custos de oportunidade, que são equivalentes aos ganhos que poderiam ser obtidos caso o investimento fosse feito em outras oportunidades, e vão indicar se uma atividade deve continuar ou não. Os custos podem ser variáveis, quando aumentam ou diminuem conforme a quantidade produzida, ou podem ser fixos, que são aqueles custos que inde- pendem da quantidade produzida. O artigo de Castro (2001) apresenta mais informações sobre o tema abor- dado neste tópico, as cadeias produtivas. A análise é feita com componen- tes das cadeias produtivas do agronegócio. Para saber mais, acesse o link: . Fonte: a autora. Economias de Escala e Escopo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 A diferenciação entre custos fixos e variáveis só faz sentido no curto prazo, visto que, no longo prazo, todos os custos são ajustáveis. Os custos totais envolvem a soma dos custos fixos e variáveis, portanto, quando a produção cresce, a variação nos custos totais é correspondente ao aumento ocasionado nos custos variáveis. Você lembra quais custos de uma empresa se classificam dentro dos custos fixos? Existem, ainda, os custos irrecuperáveis (sunk costs), que são os recursos empregados na aquisição de ativos que não podem ser revertidos em grau significante, ou seja, ocorre perda total ou parcial de seu valor. Fonte: Kupfer e Hasenclever (2002). EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 CUSTOS DE CURTO E LONGO PRAZO Existem alguns conceitos importantes de custos no curto prazo, como o custo marginal (CMg), custo médio (CMe), custo variável médio (CVMe) e custo fixo médio (CFMe): ■ O CMg é o custo de produzir uma unidade adicional de produto. ■ O CMe é definido pelo custo total dividido pela quantidade produzida. ■ O CVMe é resultado da divisão entre o custo variável e a quantidade produzida. ■ CFMe é a divisão do custo fixo pela quantidade produzida. C(q) Quantidadeq1 q2 CFMe CVMe CMeCMg Figura 1 - Curvas de custo Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002). A CVMe é inicialmente decrescente, até o ponto em que a empresa opera com capacidade ótima, e crescente a partir deste ponto, indicando a queda da pro- dutividade. A curva de CMe é a soma das curvas de CFMe e CVMe, assumindo o mesmo formato da CVMe, refletindo a lei dos rendimentos decrescentes. A curva de CMg também explica a lei dos rendimentos marginais decrescentes, assumindo formato de U. Economias de Escala e Escopo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 Podemos observar que as curvas de CMg e CVMe saem do mesmo ponto, portanto, o custo marginal de produzir uma unidade é igual ao custo variável médio de produzir uma unidade. Uma relação importante entre os custos de curto prazo e que deve ser des- tacada é entre as curvas de até o ponto de custo médio mínimo, ou seja, ele se iguala ao custo médio mínimo. Quanto ao CVMe, o custo marginal é menor que este quando decrescente, e passa a ser superior quando o CVMe é crescente. Quando se pensa no longo prazo, a empresa pode escolher a quantidade de todos os seus fatores de produção, de forma que os custos refletem todas as pos- sibilidadesde produção e orientam os empreendedores à tomada de decisões. Os custos globais variam conforme a escolha dos fatores de produção, o que justifica o estudo da curva de custo médio de longo prazo (CMeLP). Se o CMeLP é reduzido quando a produção é elevada, a empresa apresenta econo- mias de escala. Se ele é constante enquanto a produção aumenta, significa que a empresa apresenta retornos constantes de escala. E se o CMeLP é decrescente conforme aumenta a produção da empresa, esta possui deseconomias de escala. C(q) Quantidadeq EME CMeLP Figura 2 - Curva de custo médio de longo prazo Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002). A curva de CMeLP assume a forma de U, conforme a teoria tradicional, assumindo que as economias de escala existem até o ponto em que o ponto de utilização ótima da planta é atingido. Com a utilização superior à ótima, existirão deseconomias de escala. Esta hipótese é formulada considerando que a planta não é passível de aumen- tar de tamanho. Porém, esse formato não se verifica frequentemente na prática. EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 Alguns autores defendem, ainda, que a curva CMeLP tem formato de L, pois argumenta-se que as deseconomias de escala geradas pelas ineficiências podem ser evitadas com a implantação de métodos modernos de gerência. Mesmo que essas deseconomias aparecessem, elas não seriam significantes se comparadas às economias. C(q) Quantidadeq EME CMeLP Figura 3 - Curva de custo médio de longo prazo em formato de L Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002). Outros autores argumentam, ainda, que, se essas deseconomias fossem signifi- cantes, isso iria acontecer em um nível de produção muito elevado, o que estaria fora da área relevante. Se a curva de CMeLP tivesse mesmo o formato de L, deveria existir um nível de escala mínima da planta para que a empresa seja eficiente, e não somente um único tamanho. Essa escala mínima de eficiência da planta é a produção mínima, ponto a partir do qual o custo médio de longo prazo passa a ser constante. Outra opção alternativa para a curva de CMeLP é uma combinação dessas duas, quando os formatos U e L se misturam. Além das economias e dese- conomias, haveria um segmento plano na curva que representaria os custos constantes por unidade produzida, correspondente à reserva de capacidade pla- nejada pela empresas para que sua operação seja flexível. Economias de Escala e Escopo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 C(q) Quantidadeq1 q2 CMeLP Figura 4 - Curva de custo médio de longo prazo com segmento horizontal Fonte: adaptado de Kupfer e Hasenclever (2002). FONTES DAS ECONOMIAS DE ESCALA Apesar de não haver consenso, razões empíricas nos fazem acreditar que os cus- tos médios de longo prazo são decrescentes e que chega um momento em que as economias de escala se esgotam. As economias de escala estão associadas a dois tipos de fontes, são elas: eco- nomias de escala reais e economias de escala pecuniárias. As economias de escala são reais se o fator explicativo é a redução de fatores produtivos quando a pro- dução aumenta. São consideradas pecuniárias quando o fator explicativo é uma redução no preço do insumo. Analisaremos as fontes de economias de escala reais, que se dividem em estáticas e dinâmicas. EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 Economias de escala estáticas As economias de escala se dividem em quatro e relacionam o custo médio de longo prazo com a quantidade produzida, sem considerar o processo ao longo do tempo. Vejamos cada uma delas a seguir: ■ Ganhos de especialização: ao nível de produto - quanto maior a quantidade de produto, maior poderá ser a divisão do trabalho e mais especializados poderão ser os trabalhadores e as máquinas. Quanto mais especializados forem, maiores serão as suas habilidades e maior será a produtividade. ■ Indivisibilidade técnica: ao nível de planta produtiva - nem sempre é pos- sível obter máquinas e equipamentos do tamanho exato para produzir a quantidade necessária. Uma futura expansão pode ser realizada com a utilização dos equipamentos abaixo da sua capacidade total e, assim, os retornos de escala podem ser obtidos com o esgotamento da capacida- des desses equipamentos. ■ Economias geométricas: ao nível de planta produtiva - esta economia de escala cresce decorrente da expansão do tamanho individual das unida- des processadoras, pois o produto tende a ser proporcional ao volume da unidade enquanto os custos são proporcionais à superfície. ■ Economias relacionadas à lei dos grandes números: ao nível da planta produtiva - em caso de aumentos da planta produtiva e aumento da quan- tidade das máquinas, menores serão o pessoal necessário e o estoque de peças para manter o nível de atividade produtiva. Isto é, a possibilidade de problemas técnicos cresce menos que proporcionalmente em relação ao crescimento do maquinário. Economias de escala dinâmicas As economias de escala dinâmica podem se dividir em duas, as quais relacio- nam o custo médio de longo prazo, incorporando a variação com o passar do tempo. São elas: Economias de Escala e Escopo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 ■ Economias de reinício - set up: esta economia de escala é gerada com a uti- lização de máquinas que atuam na produção de diversas etapas do produto final. Essas máquinas, após o encerramento de uma das etapas, devem ser reiniciadas para que possam produzir a próxima etapa. Quanto maior a produção, em maior tempo a máquina poderá trabalhar na mesma regu- lagem, o que irá reduzir os custos do tempo perdido com a reinicialização. ■ Economias de aprendizado: quando um novo produto ou processo começa a ser produzido começa, também, o processo de aprendizagem, que é mais lento no início e se desenvolve conforme a prática e deixa os trabalhado- res mais habilidosos. Portanto, o custo médio do aprendizado diminui conforme aumenta a produção. ECONOMIAS DE ESCOPO As economias de escopo envolvem a produção de dois ou mais produtos com utilização da mesma planta. Nesta forma de produção, os custos não dependem somente da produção do próprio produto, mas também do tamanho da planta. As economias de escopo são definidas pela informação de que produzir con- juntamente os produtos custa menos que produzi-los separadamente, ou seja, a empresa reduz os custos com a diversificação das atividades. Existem três fontes de economias de escopo: ■ Existência de fatores comuns: quando, para a produção de dois bens dife- rentes, é necessária a compra do mesmo fator de produção, que é adquirido uma vez somente. ■ Existência de reserva de capacidade: se existe capacidade ociosa na planta, a empresa tem incentivos para procurar produtos que permitam diversi- ficar a produção utilizando a reserva dessa capacidade. ■ Complementaridades tecnológicas e comerciais: esta fonte de economias de escala existe quando os produtos apresentam similaridades na base técnica ou de mercado. EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 ECONOMIAS AO NÍVEL DA MULTIPLANTA Até este momento, foram consideradas apenas empresas limitadas por uma única planta. Porém, empresas líderes costumam possuir mais de uma planta, e transnacionais são exemplos de empresas que operam nos sistemas multiplantas. Faz sentido supor que essas empresas operem com várias plantas esperando obter a vantagem da economia de escala que não seria possível obter somente por meio de uma planta. As razões para atuação podem ser as seguintes: ■ Economiasde duplicação: derivada da possível adição de capacidade pro- dutiva com o passar do tempo, pois a empresa deve se ajustar à demanda. ■ Custo de transporte: a operação multiplanta seria uma maneira da empresa diminuir os custos de transporte associados à sua operação no mercado. ■ Alcance de especialização ao nível das multiplantas: alcançando a espe- cialização nas multiplantas, a empresa é capaz de obter maior segurança quanto à variação das suas receitas e reduzir os custos de reinício das máquinas que operam em regulagens diferentes. ■ Flexibilização da operação: a maior flexibilidade na operação pode redu- zir os custos quando comparados à operação em uma única planta. DESECONOMIAS DE ESCALA Existem razões para acreditar que as economias de escala não se mantêm inde- finidamente, chegando ao ponto em que a empresa vai enfrentar deseconomias, que podem ser causadas, basicamente, por dois fatores: ■ Custos de transporte: para evitar o aumento dos custos de transporte, a empresa pode se limitar a uma única planta, pois se as vendas cresce- rem muito, será muito maior a necessidade de alcançar os consumidores. ■ Deseconomias gerenciais: uma decaída na eficiência da gerência pode- ria fazer com que a empresa tenha deseconomias gerenciais, podendo ser causada pelo fato de que depois que a empresa atinge o tamanho ótimo, a gerência perde o controle sobre as decisões, ou mesmo pela insegurança quanto ao comportamento da demanda e dos competidores. Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 De conhecimento acerca do surgimento da economia industrial e de alguns conceitos importantes para o seu entendimento, partimos para a próxima uni- dade. Bons estudos! CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, aprendemos que a disciplina de Economia Industrial, introduzida nos estudos de Economia somente em 1985, surgiu dos estudos de setores industriais e sua abordagem é dividida em tradicional e alternativa. Estas duas linhas de estudo partem de questões comuns acerca do funcionamento das empresas e dos mercados. Vimos que cada uma das escolas vê as empresas de maneiras diferentes: saindo da visão da escola clássica, passando para a escola neoclássica com as teorias de Marshall e Walras, Coase e Penrose, e também a empresa na visão neoshumpteriana. Para Marshal, a empresa é um tomador de decisões que busca a maximização de lucros por meio da produção. Na teoria de Walras, a empresa é demandante de fatores de produção e ofertante de bens. Para Coase, a empresa é vista como uma instituição que combina os fatores de produção por um longo período. Penrose defende que a empresa busca adquirir conhecimentos que irão contribuir para o crescimento da empresa, con- trole esse que deve ser feito de maneira separada da propriedade da empresa. Enquanto na visão neoshumpteriana, a empresa adquire conhecimentos com a prática e o seu com- portamento não é necessariamente congelado, as inovações podem existir. Aprendemos, também, o que são cadeias produtivas, que compreendem as etapas em que são transformados os insumos até que estes passem a ser um produto final. Finalizando a unidade, vimos que os custos que são considerados nos proces- sos de decisão podem ser fixos ou variáveis. Os custos fixos ocorrem independentes das quantidades produzidas, enquanto aqueles que são variáveis variam conforme a quantidade produzida. A estrutura de custos determina, por vezes, a estrutura de mercado, pois quanto maiores as economias de escala menor será a quantidade de empresas em um indústria. Os custos podem significar o tamanho das barrei- ras à entrada em determinadas indústrias. 38 1. As abordagens tradicional e alternativa apresentam diferentes visões acerca das empresas e dos mercados na Economia Industrial. Sabendo das caracterís- ticas de cada uma, são feitas as seguintes afirmações: I. A abordagem tradicional teve como pioneiro Joe S. Bain e tem como objeti- vo o estudo da criação de riqueza das empresas. II. Uma das falhas do paradigma estrutura-conduta-desempenho era o fato de não considerarem a conduta da empresa como importante no processo de concorrência. III. A abordagem teórica alternativa tem como questão central a inovação e, partindo dela, a concorrência. IV. A visão tradicional e a visão alternativa consideravam a conduta pouco im- portante para o desempenho de mercado. Assinale a alternativa correta: a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Nenhuma das alternativas anteriores. 2. Segundo as formas de organização interna classificadas por Williamson (1975) e Chandler (1962), uma empresa pode se apresentar em formato unitário (for- ma de U) e empresa multidivisional (forma de M). Caracterize estas duas formas de organização interna. 3. Uma empresa multiproduto é um modelo organizacional de uma empresa di- versificada e se caracteriza pela produção de diversos bens que são vendidos em mercados diferentes, mas têm alguma relação. Apresente um exemplo real de empresa multiproduto . 4. Quando uma empresa busca a máxima utilização dos fatores produtivos asso- ciados ao baixo custo e ao aumento da produção, dizemos que ela está fazen- do uso da economia de escala. Fale sobre as fontes das economias de escala. 5. A cadeia produtiva, basicamente, nos ajuda a entender a história de um produ- to desde quando ele era apenas uma matéria-prima. Defina cadeia produtiva e dê um exemplo. 39 As relações entre empresas e instituições fazem parte do eixo da economia industrial. A preocupação inicial quando se falava de instituições era acerca da estrutura, costumes e demais fatores, assim como com o desenvolvimento de inovações. Nesta leitura, vamos estudar a relação entre as empresas e as instituições na teoria Shumpteriana. O estudo do impacto das instituições sobre a atividade econômica é antigo e envolve a ca- pacidade de geração de inovações no mercado. A teoria Schumpeteriana incorporou o tema na sua agenda de pesquisa e discute com outras escolas, como a Economia Institucional e a Nova Economia Institucional, e agora a Sociologia Econômica, o papel das instituições no processo de inovação. O foco nas instituições revela uma preocupação com a explicação de como o conhecimento é formado na sociedade e ultrapassa os limites teóricos. Nos últimos anos, incorporou-se o uso do conceito de capital social para definir o ambien- te social no qual o conhecimento é gerado. O capital social estabelece as redes de con- tatos entre os indivíduos, disseminando conhecimento tecnológico. Estes dois conceitos serão trabalhados a seguir, dentro das leituras da própria escola de pensamento econômi- co. O Quadro 1 a seguir resume o impacto dos dois ambientes sobre a empresa inovadora. Quadro 1 - Impacto das características setoriais e institucionais sobre o processo de inovação CARACTERÍSTICAS IMPACTOS SOBRE A INOVAÇÃO Instituições formais: Estrutura legal: leis, direito de proprie- dade, contratos etc. Garantem a propriedade do conhecimento e a apro- priação do lucro da inovação. Atores: governo, sistema financeiro, universidades etc. Garantem o funcionamento das regras, geração e disponibilização de recursos para Pesquisa, Desenvol- vimento e Inovação. Instituições informais: costumes, hábitos etc. Impactam o mercado de trabalho (capital humano), a formação de contratos (capital social) e o hábito de consumo (demanda). Capital social formal: Extensão: número de atores, número de pesquisadores em determinada área de conhecimento. Efeito de escala e aumento do conhecimento acu- mulado geram mais inovações. As imitações também podem aumentar. Densidade: volume de conhecimen- to acumulado transmitido entre os atores. Aumento do capital social conduz ao aumento do volume e do impacto das inovações. Capital social informal:Aumento da circulação do conhecimento e aumento do número de inovações. Porém o impacto econô- mico pode ser reduzido porque ocorre também o aumento das imitações. Fonte: adaptado de Steingraber (2013). 40 Mesmo a palavra instituição tendo várias interpretações, segundo a visão Schumpe- teriana, o progresso tecnológico depende da relação entre os atores econômicos e o ambiente social. Buscando desenvolver o aprendizado, a interação dos agentes com o ambiente pode ser resumida como um processo de captação de conhecimento para que sejam geradas inovações. Fonte: Steingraber (2013). Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Freakonomics: O Filme (2010) Sinopse: o documentário, baseado no livro de Steven Levitt e Stephen Dubner, faz uma mistura de economia e cultura para mostrar a aplicação de diversos temas da economia para a sociedade. REFERÊNCIAS CARLTON, D. W.; PERLOFF, J. M. Modern Industrial Organization. New York: Fores- man Little Brown, 1994. CHAMBERLIN, E. H. The Theory of Monopolist Competition. Cambridge: Harvard University Press, 1933. D’ASPREMOND, C.; GABSSEWICZ, J.; THISSE, J. On Hotelling’s Stability in Competi- tion. Econometrica, n.17, p. 10445-1151, 1979. HOTELLING, H. Stability in Competition. Economic Journal, n. 39, p. 41-57, 1929. JUNIOR, G.; CASTRO, A.; SILVA PAGANINI, W. Aspectos conceituais da regulação dos serviços de água e esgoto no Brasil. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 14, n. 1, p. 79-88, 2009. KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia Industrial: fundamentos teóricos e práti- cas no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002. SALOP, S. Monopolistic Competition with Outside Goods. Bell Journal of Economi- cs, n. 10, p. 141-156, 1979. SRAFFA, P. The Laws of Returns under Competitive Conditions. Economic Journal, v. 36, n. 2, p. 535-550, 1926. VARIAN, H. R. Microeconomia: Princípios Básicos. Rio de Janeiro: Campus, 2003. WAQUIL. P. D.; ALVIM, A. M. Acordos Comerciais e o Setor Produtivo de Carne Bovina: estimativas de ganhos para o Mercosul. Revista de Economia e Agronegócio, v. 4, n. 2, 2015. REFERÊNCIAS GABARITO 43 GABARITO 1. b. 2. Diz-se que as empresas em formato unitário organizam-se para serem funcio- nais, compostas por divisões com características particulares que são prioriza- das em relação à linha de produtos gerados e cada divisão se envolve com uma linha de produtos. Já para as empresas em formato multidivisional, significa que possuem um sistema organizado de acordo com o produto ou região geográfica e comportam-se de maneira individual. Responsáveis pelo atendimento de um único mercado, as empresas nesse formato são associadas à descentralização produtiva, ou seja, cada uma atua em um espaço próprio. 3. Um exemplo real de empresa multiproduto é a multinacional Unilever. A Unile- ver atua em setores como alimentação, higiene e beleza. 4. As economias de escala podem ser reais e pecuniárias. As economias de esca- la são reais se o fator explicativo é a redução de fatores produtivos quando a produção aumenta, e pecuniárias quando o fator explicativo é uma redução no preço do insumo. As economias de escala reais se dividem em estáticas e dinâ- micas. As primeiras relacionam o custo médio de longo prazo com a quantidade produzida sem considerar o processo ao longo do tempo, enquanto as segundas relacionam o custo médio de longo prazo incorporando a variação com o passar do tempo. 5. Cadeias produtivas são as etapas seguidas que compreendem a transformação do insumo até este se constituir em produto final. Com o aumento da divisão do trabalho e da dependência entre os agentes econômicos, surgiu o processo de especialização e foram criadas as cadeias produtivas. Um exemplo é a cadeia produtiva da roupa, que envolve desde a produção do algodão para confecção do tecido, passando pelas costureiras, confecção das etiquetas, produção das embalagens nas quais serão entregues, transportadoras, lojas em que são ven- didas, marketing utilizado para sua comercialização. Um único produto final en- volve diversas etapas produtivas. U N ID A D E II Professora Me. Marieli Vieira MODELOS DE CONCORRÊNCIA Objetivos de Aprendizagem ■ Analisar os pontos principais do modelo de competição perfeita. ■ Abordar o comportamento de monopólio e o comportamento monopolista. ■ Definir os conceitos para descrição e análise da concorrência industrial. ■ Introduzir conceitos fundamentais acerca dos modelos de concorrência em oligopólio. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Modelo de competição perfeita ■ Modelo de monopólio ■ Modelo de competição monopolística ■ Modelos de oligopólio INTRODUÇÃO Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta unidade, iremos aprender sobre os modelos básicos de concorrência da teoria neoclássica, competição perfeita e monopólio, além do modelo de competição monopolística e oligopólio. No primeiro tópico, estudaremos o modelo de competição perfeita e as hipóteses básicas que definem esse modelo. Representando o mínimo poder de mercado, as empresas que fazem parte desta estrutura de mercado são toma- doras de preços no mercado. Enquanto o modelo de monopólio representa o contrário, o máximo de poder de mercado de uma empresa. Nesta estrutura de mercado, há somente um produtor e esta empresa é formadora de preços. No segundo tópico deste capítulo, estudaremos o modelo de monopólio e as causas de sua existência segundo os economistas neoclássicos, assim como as inefici- ências causadas. A contestação dos modelos de competição perfeita e do modelo de monopó- lio veio pelo autor Piero Sraffa, que serviu de inspiração para a formulação das hipóteses do modelo de competição monopolística. O modelo de competição monopolística combina características do monopólio e da competição perfeita. No terceiro tópico, conheceremos as características desta estrutura de mercado e como essas características afetam os consumidores. Finalmente, no quarto e último tópico desta unidade, estudaremos o modelo de oligopólio. Esse modelo é mais voltado à realidade dos mercados, na qual existem inúmeros vendedores. Os produtores tomam as decisões de produção baseados na quantidade e nos preços, considerando as decisões de produção dos concorrentes e as reações que estes terão às suas próprias decisões. Existem várias interações estratégicas que podem acontecer por meio dessas variáveis, que serão identificadas por meio do Modelo de Stackelberg, do Regime de Cournot e do Regime de Bertrand, os quais conheceremos as características um a um. Estude com empolgação esta unidade. Boa leitura! MODELOS DE CONCORRÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E48 MODELO DE COMPETIÇÃO PERFEITA O modelo de competição perfeita é uma estrutura de mercado que não prevê alinhamento entre as empresas que fazem parte desse mercado. Este modelo compreende um conjunto de hipóteses básicas que o definem (KUPFER; HASENCLEVER, 2002): ■ Grande número de empresas: esta estrutura é composta de um grande número de empresas que podem ser grandes, porém não possuem poder de mercado. Isso acontece porque, por serem em grande número, dominam uma pequena parte do mercado, vendendo, assim, a pequena proporção de mercadorias correspondente a esse mercado, o que faz com que seu tamanho não tenha importância. ■ Produto homogêneo: as empresas produzem um produto cujas caracte- rísticas e serviços associados são os mesmos para todas. ■ Livre entrada e saída de empresas: não existem barreiras ao movimento das empresas. Se essas barreiras existirem, as empresas ganham o poder de afetar o preço de mercado, pois o número de empresas pode diminuir. ■ Maximização de lucros: este é objetivo principal das empresas, obter remuneração do capitalacima da taxa de mercado, pois é necessário obter a remuneração pelo risco do investimento e pelo custo de oportunidade de optar por esse investimento. A empresa pode obter lucro positivo ou renda econômica, quando as receitas totais forem maiores que os custos totais, e pode obter lucros normais ou nulos, quando as receitas totais forem maiores que os custos totais. Modelo de Competição Perfeita Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 49 ■ Livre circulação da informação: os compradores e vendedores possuem conhecimentos das condições atuais e futuras do mercado, não existindo incerteza quanto ao futuro. ■ Perfeita mobilidade dos fatores: os fatores de produção e o trabalho são livres para se moverem de uma empresa para outra. Os fatores de produ- ção, por não serem monopolizados, e o trabalho, por não gerar custo de aprendizado e por não ser sindicalizado. Nesse modelo, o equilíbrio é atingido quando as condições não se alteram, quando as empresas que o compõem mantêm o equilíbrio. E as empresas estão em equilíbrio quando produzem a quantidade que maximiza o seu lucro. Para saber o ponto da pro- dução em que o lucro é maximizado, é preciso derivar a curva de oferta e demanda. Nesse modelo de mercado, a curva de demanda é horizontal ao preço de mercado - se a empresa fixar um preço maior que aquele do mercado, não irá vender, e se fixar um preço menor que o de mercado, a limitação da quantidade de produção fará com que não obtenha vantagens nesta conduta. Dessa forma, a empresa é tomadora de preços. CURTO PRAZO O custo total (CT) e o custo médio (CMe) refletem a diferença nas condições de curto e longo prazo. No curto prazo, a função de produção reflete a condi- ção de operação pelas proporções variáveis, o que garante que exista um nível de produção além do qual a função de produção opera sob o impacto de retor- nos dos fatores variáveis. A função de produção no curto prazo é a seguinte: y f x k� � �1, Onde: y = quantidade produzida. x1= quantidade do fator de produção 1. k = fator de produção fixo. MODELOS DE CONCORRÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E50 Receita Média (RMe) = RT y/ Receita Marginal (RMg) = ∂ ∂RT y/ Custo Fixo = k w K� �2 Custo Fixo Médio = K y/ Custo Variável = w x1 1× Custo Variável Médio = w x y1 1× / Custo Médio (CMe) = CT y w x K y/ /� � �� �1 1 Custo Marginal (CMg) = � � � � � �� � �CT y w x K y/ /1 1 w1 = preço do fator de produção 1 wk = preço do fator de produção k p = preço de mercado No curto prazo, a condição de primeira ordem para maximização de lucros é RMg = CMg, enquanto a condição de segunda ordem é: � � � � � � � � �2 2 2 2 2 2 0RT y y CT y CT y/ / / O custo marginal corresponde à taxa de variação dos custos quando aumentamos a produção em uma unidade, e o custo médio de cada unidade deve estar abaixo deste quando a tendência for decrescente e acima quando a tendência for crescente. Para que se situe na posição de equilíbrio, a empresa precisa produzir a quan- tidade em que a receita marginal seja igual ao custo marginal, e o custo marginal tem que ser crescente nesse ponto (VARIAN, 2003). No curto prazo, as empresas vão estar em condições de lucros extraordiná- rios ou prejuízos, mas não irão produzir se o preço do produto for menor que o custo variável médio mínimo. Modelo de Competição Perfeita Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 51 LONGO PRAZO No longo prazo, a empresa pode escolher produzir no ponto onde o custo médio seja mínimo, que será igual ao preço. No longo prazo, as empresas vão ter lucros normais, ou iguais a zero, se obtiverem lucros extraordinários, novas empresas serão incentivadas a entrar no mercado, o que vai fazer com que a expectativa dos lucros voltem a ser normais. Caso obtenham prejuízos no longo prazo, algu- mas empresas sairão do mercado, de forma que esta se estabilize no lucro zero. A função de oferta de longo prazo mede a produção ótima, e a diferença entre a oferta de equilíbrio de curto e de longo prazo será o processo de ajusta- mento. A função de produção no longo prazo é a seguinte: y f x x� � �1 2, Onde: y = quantidade produzida. x1 = quantidade do fator de produção 1. x2 = quantidade do fator de produção 2.’ Receita Média (RMe) = RT y/ Receita Marginal (RMg) = ∂ ∂RT y/ Custo Médio (CMe) = CT y w x w x y/ � � � �� �1 1 2 2 Custo Marginal (CMg) = ∂ ∂CT y/ w1 = preço do fator de produção 1 w2 = preço do fator de produção 2 p = preço de mercado No curto prazo a condição de primeira ordem para maximização de lucros é RMg = RMe = p = CMg = CMe mínimo, enquanto a condição de segunda ordem é � � � � �2 2 2 2RT y CT y/ / . No longo prazo, a empresa tem mais chances de fazer ajustes devido às varia- ções de preços e do mercado, o que faz com que a função de oferta seja mais sensível no longo prazo. MODELOS DE CONCORRÊNCIA Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E52 ALOCAÇÃO ÓTIMA DOS RECURSOS O mercado de competição perfeita conduz para a alocação ótima dos recursos, o que é atingido quando: ■ A quantidade produzida está no custo médio mínimo. ■ Os consumidores pagam o preço mínimo, ou o valor do custo de oportunidade. ■ As empresas estão operando em plena capacidade. ■ O lucro das empresas é normal. No longo prazo, todos os mercados alocam os recursos otimamente. De acordo com as preferências dos consumidores, a competição perfeita levará à alocação ótima dos recursos se essas preferências forem refletidas, se não existirem economias de escala em qualquer indústria e se não existir progresso técnico na economia (recursos e tecnolo- gias dados). Nestas condições, os consumidores irão atingir o máximo do bem-estar. O excedente do consumidor visa a medir o benefício deste em trocar certa quan- tidade de um bem para consumir outros bens, esta informação é importante quando o excedente do consumidor varia devido à variação do preço de um bem. Suponha que o preço de um bem aumente e um consumidor passe a consu- mir menos desse bem, passando a pagar mais por cada unidade que ele consome. Isto não significa perda total do bem-estar do consumidor, apenas uma diminui- ção. O excedente do produtor pode ser entendido de forma análoga. Você lembra o que são economias de escala? Modelo de Monopólio Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 53 MODELO DE MONOPÓLIO O monopólio é uma estrutura de mercado na qual há somente um produtor. As quatro hipóteses básicas deste modelo justificam, também, as causas de sua exis- tência, e segundo os economistas neoclássicos, são as seguintes: ■ Um único produtor: que detém propriedade das matérias-primas e das técnicas de produção. ■ Produto sem substitutos próximos: com patentes sobre os produtos ou processos de produção. ■ Barreiras à entrada: alguns monopolistas contam com licença governa- mental para atuar ou imposição de barreiras comerciais. ■ Maximização de lucros: o monopólio maximiza o lucro quando a receita marginal é igual ao custo marginal. Existe, ainda, o caso do monopólio natural, que ocorre quando o mercado não tem condições de ter mais que uma empresa com operação eficiente. O trabalho de Waquil e Alvim (2015) identifica variações nos excedentes do produtor e do consumidor como efeitos dos acordos de livre comércio so- bre os mercados de carne bovina. Verifique os resultados encontrados aces- sando o trabalho no link: . Fonte: a autora. Um monopólio natural consiste em uma situação em que os investimentos são muito altos e os custos variáveis